RESUMO: O PAPEL DA DIDÁTICA DAS CIÊNCIAS NO CURSO DE MAGISTÉRIO
Para a formação dos professores, as disciplinas de Didática Geral e Didática
Específica tem a finalidade de articular entre as áreas do conhecimento que fazem parte da grade curricular. Em relação a Didática das Ciências, além de integrar os conhecimentos advindos da Didática, ela deve abranger aqueles das Ciências Físicas, Químicas e Biológicas. Como afirmam Delizoicov e Angotti “o tratamento metodológico de ensino-aprendizagem das Ciências Naturais tem sido tão inconsciente, precário e frágil que nem mesmo há uma nomenclatura homogênea para a disciplina.” Assim, o intuito é discutir o papel desta disciplina nos cursos de formação de professores no Magistério de 2º grau a partir de uma experiência real, indicando os principais temas de um programa para a disciplina, os desafios encontrados e sugestões que auxiliem uma prática pedagógica em Didática das Ciências fundamentada na perspectiva crítica. Quando investigada a realidade dos alunos de Magistério do segundo grau, percebe- se que a maioria dos educandos são meninas e quando perguntado o motivo pelo qual decidiram fazer o curso as respostas vão desde a “gostar de crianças”, até a necessidade de entrar logo para o mercado de trabalho, além da identificação com o curso. Muitas alunas tem uma visão “romantizada” da educação primária ou sofrem grande influência da família por terem algum parentesco com professores ou até mesmo para entrarem logo no mercado de trabalho. Porém, muitas destas, ao chegar no curso de Magistério, possuem muitos conceitos errôneos da ciência, deduzindo assim que não precisam “perder tempo” para aprender já que o conteúdo é grande e a carga horária é muito pequena, dando assim continuidade ao que vem acontecendo nas séries iniciais, pois serão estas futuras professoras que estarão reforçando os erros não trabalhados na sua formação. Foram aplicados alguns trabalhos com estas alunas para saber quais eram seus conceitos sobre Ciências. No primeiro trabalho, foram orientadas a fazer um desenho que representasse a Ciência, as principais características dos trabalhos elaborados eram de vidrarias de laboratório, cientista trabalhando sozinho e a constante associação com o meio ambiente e o planeta Terra. Ao associar os desenhos com a explicação verbal das alunas, percebe-se um discurso carregado de uma visão neutra e a-histórica da Ciência, levando as educandas a terem uma percepção da escola como transmissor de conhecimento verdadeiro, deixando de lado a concepção deste espaço como formador de valores. Isso ocorre também pela influência dos professores de Magistério, que reproduzem o modelo transmissor-receptor do conhecimento. O segundo trabalho foi de recorte e colagem de livros e revistas. Neste trabalho, percebe-se a predominância da prática fundamentada pelo livro didático, excessivamente teórica. A opinião das alunas não se apresenta de uma forma crítica e sim vivenciada, sendo que as educandas responsabilizam os próprios professores por essa prática tradicional. A proposta da terceira atividade foi elaborar um plano de aula com temas presentes no currículo de 1ª a 4ª série. Foi feita uma seleção dos temas para serem trabalhados nestas séries, com: dias e noites, estações do ano, seres vivos/seres brutos e queima/combustão. Logo surgiram dúvidas por parte das educandas por não terem conhecimentos básicos sobre os temas propostos. Contudo, constatou-se que um elemento motivador foi introduzido com esta dinâmica, pois aumentou a curiosidade pelos temas, sendo que nas aulas posteriores as alunas estavam ansiosas para aprenderem esses conceitos. Além destes trabalhos, foram aplicadas outras dinâmicas, tais como: representações gráficas e textuais, filmes, excursões, experiências, leitura de textos, palestras, participação em seminários, elaboração e aplicação de pesquisas em campo, entre muitos outros. As alunas também foram convidadas a participarem do Curso de Construção de Módulos do Brincando com a Ciência, oferecido pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST/CNPq. O curso tem uma perspectiva construtivista de ensino e trabalha enfaticamente com a questão das concepções espontâneas. Portanto, o artigo tem por finalidade apresentar algumas propostas para a disciplina de Didática de Ciências com base nos pressupostos teóricos e práticos citados. Considera-se fundamental que a disciplina tenha como preocupação a reflexão sobre o objeto de estudo da Ciência, sobre como ocorre a construção científica e qual sua relação com a sociedade, com o intuito de romper a visão de que a ciência é algo acabado e inquestionável. Acredita-se que essas estratégias possibilitem mudanças conceituais nas alunas, mesmo sabendo que este processo não é simples. Salientamos ainda que uma proposta neste gênero deve sempre buscar articular com as demais didáticas presentes na grade curricular e com as disciplinas científicas, além de outras. Se queremos uma escola diferente, não é mais possível a mesma estrutura tradicional dos cursos de Magistério. Como cita Candau (ibid): “trata-se de questionar a ‘naturalização’ da atual cultura escolar e da escola e atrever-nos a desconstruí-las para poder recriá-las”