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JESUS HOMEM
Semelhante a nós
A relação dos sofrimentos de Deus com os sofrimentos do homem
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Pr. Silas Carvalho
JESUS HOMEM
semelhante a nós
A relação dos sofrimentos de Deus com os
sofrimentos do homem
1ª Edição
São Paulo
2018
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JESUS HOMEM
semelhante a nós
1ª Edição em Português © 2018 Editora Vida
Pura – Novembro de 2018.
Todos os direitos em língua portuguesa
reservados.
1ª Impressão – Novembro de 2018
Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida sob qualquer
forma ou meio, ou armazenada em base de
dados ou sistema de recuperação, sem
autorização prévia por escrito da Editora Vida
Pura.
Coordenação editorial: Sid Marques
Supervisão Editorial: Filipe Bentle
Revisão: Sid Marques
Diagramação: Sid Marques
Design de Capa: Carlos Gonçalves
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Dedico a todos aqueles que de alguma forma estão
passando pelo Vale do Cedron a caminho do escuro
jardim.
7
Agradeço a Deus por permitir, pela sua graça, que meu
ministério ainda exista.
A minha esposa, pela força nas crises.
Em particular, ao Filipe Bentle, por fazer real na minha
vida as palavras do Rei Salomão: "[...] há amigos mais
chegados do que um irmão."
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Sumário
Prefácio....................................................................................11
Introdução...............................................................13
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
O Cálice........................................................................................... 97
Capítulo 6
9
Capítulo 7
Capítulo 8
Conclusão
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PREFÁCIO
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ser tão sofisticado, é algo que sai de um coração desejoso
de contribuir de alguma forma para o crescimento da
Igreja.
Se esse escrito abençoar a vida de quem se encorajar a
ler, então estarei grato ao meu Deus por Ele aceitar meus
cinco pães e dois peixinhos. Que Ele, por sua abundante
graça, possa transformar essa humilde refeição em um
banquete no deserto para a sua vida. A Ele a glória e a
nós edificação.
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Introdução
“O Verbo de Deus se fez homem para que o homem
receba a filiação divina... pois, como poderíamos
participar da eternidade e imortalidade se, antes, não se
tivesse feito como nós O Eterno e imortal? De modo
que, nossa corruptibilidade fosse absorvida por sua
incorruptibilidade, e nossa mortalidade por sua
imortalidade”.
Irineu de Lyon
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Uma antiga tradição que remonta ao II século,
corrobora com essa ideia quando descreve um embate
entre o apóstolo João e um famoso mestre gnóstico de
Éfeso chamado Cerinto. Essas visões estranhas da pessoa
de Cristo já causavam uma grande perturbação para a
igreja primitiva. Roger Olson escreve sobre um encontro
que o apóstolo teve com esse herege:
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absorveu a natureza humana. Esses ataques contra a
humanidade de Cristo foram seguidos por ataques contra
a sua divindade. Os ebionitas já diziam que Jesus fora um
profeta extraordinário, pois se identificava com os pobres
e miseráveis, mas não era Deus. Os adocionistas, por
outro lado diziam que Jesus homem foi tão submisso ao
Pai, que Ele o adotou como Cristo e lhe deu uma posição
exaltada e divina. Ário, um diácono de Alexandria causou
um grande estrago no cristianismo primitivo, ao ponto de
quase todo Império Romano, cristão na época, se tornar
ariano. Foi preciso Atanásio, praticamente sozinho em seu
tempo, se levantar para destruir as ideias arianas que
diziam que Jesus não passava de uma criatura.
Por causa dessas inúmeras visões divergentes
quanto a cristologia, se tornou uma necessidade para a
igreja “entender”, aceitar e guardar o mistério tanto da
divindade, como da humanidade de nosso Senhor numa
pessoa única, e essa necessidade se torna evidente desde
o princípio do pensamento cristão. Não foi por acaso que
João escreveu esses dois testemunhos de nosso Senhor.
Havia, e ainda há uma batalha sendo travada contra a
humanidade e a divindade do Jesus histórico, e esse
debate ainda se torna imprescindível em nossos dias.
A Formulação da Doutrina
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diretrizes seguras quanto à união das duas naturezas na
pessoa de Jesus. Com a morte de João, o último apóstolo,
ficou a cargo de seus sucessores guardarem e manterem
o bom depósito da fé. A igreja vivia novos contextos, com
novas controvérsias que precisavam ser definidas ou
consolidadas.
Devemos notar que nos dias que sucederam aos
apóstolos não havia uma unidade quanto à autoridade, a
ortodoxia e nem mesmo com as escrituras. O cânon, a
Bíblia que temos hoje, ainda estava em aberto e havia a
necessidade da autenticidade dos livros que se diziam
inspirados por Deus. Era uma grande dificuldade diante da
igreja recém-nascida, e os escritos inspirados às vezes
traziam mais confusão do que união. Era preciso lideres
preparados e capacitados por Deus para definir esse
debate de suma importância para a “jovem” fé evangélica.
As doutrinas fundamentais do evangelho de Cristo
surgiram debaixo do fogo da desconfiança quanto à
pessoa de Jesus, e os desafios enfrentados pelos
primeiros pensadores foram imensos. As heresias foram o
motor que fez com que esses grandes homens surgissem
e, a ironia desse fato é que o próprio gnosticismo, a
principal heresia do II século, contribuiu para o avanço da
igreja. A ortodoxia, que significa o ensino correto, estava
ganhando forma e se solidificando por causa dos falsos
ensinos que se multiplicavam naqueles dias.
Se hoje, com toda a herança teológica que temos,
os lobos têm disseminado o engano em nosso meio,
imagine no segundo século quando não havia nada
estabelecido, apenas os escritos inspirados, não inspirados
e heréticos espalhados por todos os lados. Rejeitar esses
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homens e o que eles escreveram por não querer se
esforçar um pouco para entendê-los, é uma desprezível
atitude que a igreja pode tomar. É um pecado de
ingratidão pelo grande esforço exigido por eles em um
contexto totalmente contrário e intolerante.
O Pensar Correto
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de erros e heresias com respeito à pessoa de Cristo. Há
uma ânsia por desfazer aquilo que, por tantas lutas, foi
firmado como verdade teológica. Cristo deixou de ser o
Deus encarnado para se tornar um grande profeta, ou um
excelente professor, ou ainda um grande mestre, ou por
fim, um acurado psicólogo. São pensamentos liberais que
destronam o Deus Homem de sua posição de glória. É a
contemporânea abordagem simpática e amiga do
“homem” Jesus que andou entre nós.
C.S Lewis por muitos anos relutou contra essa ideia
da divindade do Jesus humano. Era inconcebível para um
pensador moderno acreditar em contos míticos de uma
mitologia barata. Mas com o passar do tempo, aquele
Servo sofredor capturou o coração do mais relutante dos
ateus. Diante dos ataques contra o Deus homem em
quem ele cria com todo o seu coração, escreveu:
18
paternalismo estúpido sobre ele ter sido um grande
mestre. Ele não nos deixou essa opção. Ele sequer teve
essa intenção... Quanto a mim, parece óbvio que ele
não era lunático, nem perverso e, consequentemente,
por mais estranho, chocante e questionável que pareça,
eu tenho aceito a visão de que ele era Deus”.
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Capítulo 1
Martinho Lutero
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ganhando forma e força dentro do movimento cristão. A
carta aos Colossenses de Paulo e os escritos de João são
um forte ataque ao pensamento herético que perturbava
a jovem igreja. E o docetismo não agiu de modo
diferente.
A Doutrina da Aparência
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adorar um homem, isto é, Jesus, e não o Deus
verdadeiro. E ele dizia:
Roger Olson
O Exclusivismo Gnóstico
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alguns trapos cristãos para cobrir a nudez do paganismo”.
A sua base teológica não estava presente nos escritos dos
profetas e, muito menos nas palavras de Cristo e dos
apóstolos. Esses “conhecimentos melhores e mais
abundantes” que eles professavam, eram disfarçados com
uma linguagem cristã, porém esvaziada de seu conteúdo.
Todos os movimentos oriundos do gnosticismo
diziam ter alcançado um conhecimento especial e
exclusivo de como alcançar a salvação. O evangelho, com
essa atitude exclusivista, corria um sério risco de se tornar
uma religião de mistério e, esse mistério estava limitado a
somente alguns privilegiados que tiveram uma revelação
especial de Deus. Eles se colocavam como o porta voz de
uma revelação salvífica única, recebido não por intermédio
dos apóstolos, mas numa relação direta com o Ser
Supremo, e por isso, o conhecimento que tinham era um
conhecimento que somente eles possuíam. “O gnosticismo
era uma forma diferente de evangelho de salvação, com
uma ideia diferente da condição humana, para qual a
salvação é a solução, e uma ideia diferente da própria
solução”.
Sabemos que o evangelho realmente é um
mistério, mas um mistério revelado. “O que os olhos não
viram, nem ouvidos ouviram e nem jamais penetrou o
coração humano” (agora vêm à parte esquecida de muitos
que leem esse texto), o Espírito revelou a igreja. (I Co.
2:9,10). Esse mistério foi dado de uma vez aos apóstolos
e profetas, e esses, juntamente com todo o corpo, são os
conhecedores e mantenedores do propósito de Deus, não
um grupo específico. Se você tem o Espírito Santo você
tem a unção, e não precisa de um “conhecimento” novo e
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especial da parte de Deus sobre a salvação ou qualquer
outra coisa.
É importante compreender que a noção de unção
que João usa nesse texto não se refere a um dom, ou a
uma experiência mística destinada a um grupo específico.
O que o apóstolo tem em mente quando escreve essas
palavras é a pessoa do Espírito Santo que todos os que
nasceram de novo possuem. A sua intenção era destruir o
orgulho espiritual causado por um partidarismo eletivo
que já era comum em seus dias. “Nós não somos uma
minoria esotérica iluminada, como os hereges pretendiam
ser”. Era praticamente esse pensamento que dominava a
mente do apóstolo ao escrever as suas cartas.
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humanidade e divindade do Senhor na pessoa de Jesus. O
que foi crido por todos, em todos os lugares e em todos
os tempos foi se definindo pouco a pouco com o passar
dos anos e dependendo das circunstâncias. Essas
definições tinham como base os escritos dos pais da igreja
que eram integralmente coerentes com a Bíblia.
Percebemos essa firmeza bíblica e teológica na conclusão
que os bispos escreveram sobre o debate da união
hipostática em Jesus. Ela dizia:
A Encenação da Encarnação
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Deus. Mas para a maioria dos gnósticos pelo menos, o
redentor celestial que entrou em Jesus no seu batismo por
João no rio Jordão, deixou-o antes que morresse na cruz”.
Era o mesmo que dizer que no princípio havia uma
pessoa que se chamava Jesus e era humano. No batismo
foi possuído pelo Cristo com uma natureza divina. Mas
logo foi abandonado na crucificação, restando, assim,
somente a parte humana que morreu na cruz sem a parte
divina. Eram duas pessoas distintas e duas naturezas
distintas. Realmente era uma confusão sem definição,
pois, as várias correntes não tinham um pensamento
comum.
O Despertar da Igreja
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simplesmente se defendendo. E o porquê esses homens
se arriscaram para preservar a verdade do evangelho,
deve nos levar a humildade e gratidão pelos seus
esforços. O seu intuito “foi por amor a salvação”. Eles se
arriscaram diante de um império hostil para que você e
eu, que nascemos no longínquo século 20 e 21, ouvissem
a pureza do evangelho e cresse na pessoa verdadeira de
Cristo. Sem a verdade não há salvação.
O Senhor nos disse que ao conhecermos a verdade,
ela nos libertaria. (Jo 8:32) Se a verdade fosse corrompida
no passar dos anos por causa da inércia desses líderes,
algo que certamente aconteceria, e se não houvesse uma
resposta teológica por parte desses homens, a salvação
seria impossível, pois, a verdade estaria enterrada nos
escombros da história. Como somos ingratos a esses
homens, como somos ingratos ao pensamento teológico.
Os Ecos do Docetismo
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cosmos. Desses primeiros conceitos podemos ver os ecos
nos pensadores futuros.
Marcião baseou o seu cânon tendo como princípio
esse pensamento de dois deuses, o do Antigo testamento,
Jeová, um deus inferior que criou esse universo por inveja
e nos colocou nesse mundo, e o deus do Novo
testamento, que foi revelado como o pai de Cristo Jesus,
o verdadeiro deus que veio desfazer as obras do primeiro.
Um é vingativo e exige justiça, o outro é amoroso e
perdoador. Então, quando Marcião se deparava com esse
mundo cheio de pecados, violência e dor, não podia
conceber que ele fosse criação do Deus supremo, Pai de
Jesus Cristo. A conclusão que flui desse pensamento é
que o Filho de Deus jamais poderia ter encarnado na
mesma forma que os homens são constituídos, pois eles
são criação de Jeová, o deus inferior.
Mas recentemente temos o movimento chamado
deísmo, com a ideia de um Deus ausente que deu corda a
esse mundo e foi-se para outro lugar. O universo se
movimenta por conta própria sem intervenção e direção
de um Deus atuante na sua história. Não há interação
entre o criador e a criatura. As leis naturais do universo
fazem com que tudo se movimente no mundo. “Deus é
um fazendeiro que não se importa com seu campo. Ou
mesmo como um exemplo muito usado para definir a
cosmovisão deísta: Deus é como um relojoeiro que deu
corda no relógio por ele feito e o deixou para funcionar,
sem se interessar em intervir.” São pensamentos tão
elaborados que os seus resquícios se fazem ouvir muitos
séculos depois.
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Alguns estudiosos da igreja disseram que o
gnosticismo se assemelhava a hidra de Lerna, um monstro
mitológico que tinha um corpo de dragão e cabeças de
serpentes. Quando algum defensor da ortodoxia lhe
desferia um golpe contra a sua cabeça e atingia uma das
serpentes, prontamente outras duas surgiam em seu
lugar. Essa figura usada para se referir ao gnosticismo
significava o grau de dificuldade de se combater às várias
ramificações desse movimento contra a verdade
evangélica.
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Esse pai da igreja se levantou ferozmente contra
esse movimento cristológico com uma proposição de
defesa bem simples: “Aquilo que Cristo não assumiu, Ele
não salvou.’’ Essa proposição de Irineu foi seguida por
Gregório de Nazianzo que afirmou que “aquilo que não é
assumido não é redimido”. E mais recentemente vemos os
ecos da antiga visão cristológica nos escritos de
Bonhoeffer que escreveu: “Se Jesus Cristo não é Deus
verdadeiro como nos poderia ajudar? Se não é homem
verdadeiro como nos poderia ajudar?’’.
Claro que estamos simplificando o debate, porque
Irineu se aprofundou no pensamento filosófico gnóstico
destruindo, por esse meio, as próprias ideias desse
movimento. E o ponto central da derrocada gnóstica teve
como base a sua teoria sobre a redenção de Cristo.
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último Adão que é registrado tanto em Romanos, como
em sua primeira carta a igreja em Corinto:
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Seguindo essa ideia, Irineu introduz um termo no
pensamento teológico que ficaria conhecido como
“recapitulação”. Toda a vida de nosso Senhor, dizia ele,
foi uma “recapitulação’ de tudo aquilo que Adão passou e
deveria ter passado. Em sua visão, Adão foi a cabeça da
primeira raça e representava todos aqueles que seriam
sua descendência. Quando Adão, a cabeça, pecou, o
corpo, toda a humanidade, pecou juntamente com ele.
Assim como adão nos escravizou e nos corrompeu em sua
transgressão, Cristo seria o novo Adão, ou o último, a
cabeça de uma nova raça, que representaria uma nova
humanidade através de sua encarnação, nos libertaria de
nossas prisões e compartilharia de sua própria natureza
àqueles que cressem.
Cristo, em obediência a Deus, foi fiel onde o
primeiro homem foi infiel. Onde Adão falhou, Cristo
triunfou. Mas esse triunfo de Cristo não foi com uma
aparência humana. Ele era homem, ou o “protoplasma”,
como dizia Irineu, assim como Adão, ao ser tentado, era.
Se o nosso Senhor não assumiu esse corpo que temos,
então tudo o que estamos vivendo se torna a encenação
da redenção. Tudo não passa de uma história sem graça,
daqueles que iludidamente pensaram estar redimidos.
Aquilo que o nosso Senhor não experimentou, não salvou.
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Em outras palavras, o que Irineu queria dizer é que
Jesus nasceu como homem, cresceu como homem, foi
tentado como homem, morreu como homem e ressuscitou
como homem. Tudo em sua vida foi a mais verdadeira
expressão da humanidade, e foi expressando a sua
verdadeira humanidade que ele venceu satanás. É através
dessa vitória que o novo homem deixa de ser alma
vivente, escravizado pelo diabo, para se tornar espírito
vivificante, guiado pelo Espírito.
Essa ideia de recapitulação em Irineu também
aparece no escrito de Paulo aos Efésios. Por toda a carta
temos esse pensamento fluindo da mente inspirada do
apóstolo:
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Mas Deus em sua maravilhosa graça nos escolheu
Nele antes do mundo ser formado, para nos tornar o
corpo daquele que convergiu todas as coisas a si próprio,
sejam celestiais ou terrenas. É isso o que está escrito em
Efésios 1:10
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mulher. Dessa forma a nova Cabeça (Cristo) não estava
incluída na aliança das obras, e por isso não fez parte no
pecado da primeira cabeça (Adão). O Deus encarnado
estava livre da culpa do pecado porque não era semente
de José. “Adão de alguma forma misteriosa renasceu de
Maria na humanidade de Jesus Cristo”, como dizia Irineu.
Um novo homem havia nascido. O último Adão havia se
encarnado com uma natureza santa, livre da corrupção do
pecado.
Essa concepção de Jesus em santidade é um
mistério. Não podemos explicar com profundidade como
esse fato se deu, mas devemos crer com todas as nossas
forças que a gravidez e nascimento do Senhor foram
reais. A encarnação não destituiu Jesus Cristo de sua
divindade, e não a corrompeu pela sua humanidade.
Diante desse maravilhoso mistério devemos cantar como
cantava a igreja medieval juntamente com Lutero:
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“O erro, com efeito, não se mostra como ele é para não
ficar evidente quando se descobre. Adornando-se
fraudulentamente de plausibilidade, apresenta-se diante
dos mais ignorantes, justamente por essa aparência
exterior - é até ridículo dizer - como mais verdadeiro do
que a própria verdade”.
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principalmente ao morrer na cruz, a sua divindade estava
ausente nessa ação. As duas naturezas nunca agiram
independentemente. Seus atos eram sempre atos da
humanidade e divindade.
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de Cristo preservando, dessa forma, o mistério que
envolve essa verdade. É um mistério e deve permanecer
um mistério. Esse é o caminho mais seguro para
trilharmos.
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Capítulo 2
O Primeiro homem
“Senhor, tu nos criaste para ti e inquieto é o nosso
coração até que encontre descanso em ti. A casa da
minha alma é pequena demais, para que te possa
abrigar. Amplia-a. Ela é defeituosa e decrépita. Quem
mais eu poderia invocar, a não ser a ti?”
Aurelius Augustinus
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Imagem e Semelhança de Deus
Franklin Ferreira
42
Deus criou e a valorizar o que ele é. Todas essas belezas
naturais fruto da criação ou da inspiração do homem,
fazem parte daquilo que Deus disse que era bom, e
admirá-lo e desfrutá-lo era a mais pura expressão de
gratidão para glória do criador.
43
Mas quando contemplamos a criação, passamos a
entender, como Franklin Ferreira diz:
44
ter depois de sua criação. Não sabemos quanto tempo se
passou entre a criação de Adão e a formação de Eva. Mas
as palavras de Deus são bem reveladoras quanto a essa
necessidade, “não é bom que o homem esteja só”. Gn
2.18
Dessa única frase podemos extrair algumas
questões que envolvem o que estamos estudando. Alguns
pensadores conjecturam sobre a reação de Adão quando
nomeou cada animal, percebendo que todos eles tinham
uma que lhes correspondia. A Bíblia não diz claramente
que o primeiro homem sentiu alguma necessidade diante
dessa nomeação, mas nos diz que Deus viu que ele estava
só. Com base nessa afirmação podemos ser criativos nas
especulações com respeito a essa fala e atitude divina.
A imagem e semelhança de Deus também
carregam em seu significado a questão da comunhão. O
Criador de Adão é um Ser relacional. O Deus Trino por
toda a eternidade se satisfez em sua própria relação de
intimidade. O amor para existir tem que ter um objeto
para amar. Sem uma pessoa para que o outro expresse o
amor, seria impossível Deus existir. A sua natureza é
amor, e se o amor para existir tem que ser expresso,
Deus tinha que ser plural. Sem Eles não haveria Ele. O
amor mostra a necessidade de Deus ser trino.
Foi nessa relação íntima entre as pessoas da
trindade que o homem foi criado e convidado a participar
dessa comunhão. Adão, em sua curta existência sempre
se satisfez em Deus, mas por mais que Adão se
esforçasse para satisfazê-lo, Deus em sua autossuficiência
não poderia ser surpreendido. Ao testemunhar a relação
completa e suficiente entre o Deus Trino, Adão
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necessitava expressar aquilo que via. A visão da grandeza
do amor de Deus precisa ser compartilhada, e o homem
sentiu falta de algo que pudesse ser alvo do amor que
Deus lhe compartilhara.
Todos nós fomos criados pelo amor para amar. A
falta de alguém semelhante a sua finitude e necessidade
de completude geraram a solidão original em Adão. Não
se achava uma auxiliadora que lhe correspondesse. Ele
era inferior Àquele que o criou e superior às criaturas que
Deus lhe subordinou. O primeiro Homem olhava para cima
e via a distância entre ele e o Seu Criador. Olhava para os
lados e via a incompatibilidade entre ele e a criação. O
que essa realidade causou em sua mente foi
extremamente doloroso.
Adão estava se sentindo sozinho. Talvez a sua
tristeza na solidão em que estava vivendo fosse visível.
Talvez a angustia tenha tomado o seu coração naquele
jardim. Talvez Adão seja o primeiro ser a experimentar
uma noite escura da alma. Será que pensar dessa forma,
seria ir além das palavras que o próprio Deus descreveu
do estado do primeiro homem? O Senhor percebeu algo
em Adão que o levou a tomar tal atitude. Esse estado
emocional e psicológico que o primeiro homem estava
vivendo no jardim aconteceu antes da queda. E isso é de
muita importância para entendermos o que é o homem.
Adão foi o único ser criado que ao entardecer desfrutava
da presença do criador todos os dias. Ele tinha o seu
coração preenchido pela presença de Deus. Quando
Agostinho expressou a sua necessidade de comunhão
dizendo “fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração
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anda inquieto enquanto não descansar em ti”, esses
versos não se faziam real na experiência de Adão.
No entanto, ele sentiu falta de algo. Essas palavras
realmente soam de uma forma estranha. Parece um
absurdo pensar como alguém pode sentir necessidade
diante daquilo que é o tudo. Porém, todas essas
expressões humanas que Adão provavelmente sentiu, foi
colocado nele pelo próprio Deus. E o mais incrível disso
tudo é que os sentimentos de solidão, tristeza e vazio,
estavam sendo experimentado por Adão, mesmo antes da
queda. Essas expressões são reações intrínsecas ao ser
humano. Estavam presentes nele desde o princípio. Não é
pecado e nem fruto do pecado ser o que somos. A queda
não produziu esses sentimentos, potencializou, mas não é
a origem ou causa.
Realmente a solidão traz consequências
destruidoras para o ser humano. Se a falta de comunhão
entre iguais cobra o seu preço, imagina com aquele que é
a razão de nossa existência. Sentir o que provavelmente
Adão sentiu antes do pecado é ser aquilo que Deus se
alegrou em criar e dizer que era muito bom. O problema
se encontra, e isso deve estar bem claro para nós, no que
nos tornamos quando esses sentimentos se apoderam do
controle de nossas vidas. É nesse fato que mora o
problema.
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mas todo o universo. Apesar de o homem ter transgredido
a lei de Deus no jardim e pecado terrivelmente, a Imago
Dei permaneceu nele de certa forma. Ela não foi
totalmente aniquilada com a queda, embora tenha sido
terrivelmente deformada. Essa imagem de Deus estava
ferida, mas é através da salvação por Cristo que essa
imagem e semelhança é renovada. Em Romanos 5.14,
Paulo escreve algo muito profundo sobre essa questão
que estamos estudando:
48
“Diante de Deus há dois homens, Adão e Jesus Cristo, e
todos os outros homens estão pendurados nos cinturões
deles dois.”
Franklin Ferreira
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Porém, quando lemos Filipenses 2.7, Paulo
escrevendo sobre o esvaziamento do filho de Deus, usa
uma expressão parecida:
50
tabernáculo terreno era uma cópia de um tabernáculo
celestial.
51
perfeito seria. Principalmente o corpo, a matéria que tanto
era desprezada pelos filósofos e gnósticos, tem uma
crucial importância nos propósitos de Deus.
Todo o homem é valoroso para Ele, mesmo após a
corrupção do pecado. E a razão é que o Criador tinha em
mente aquele que havia de vir. Toda a constituição
humana, até aquela que é potencializada nas aflições, é
comum ao homem porque Deus o criou assim, e através
da regeneração e santificação pelo Espírito Santo esse
mesmo homem retorna, passo a passo, a imagem e
semelhança daquilo que ele era e seria no princípio.
A IMPORTÂNCIA DO CORPO
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imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está
escrita: tragada foi à morte pela vitória.”
53
restaurado à imagem daquilo que Deus sempre desejou
em seu coração. O triunfo deste seria o triunfo daqueles
no seu devido tempo. Esse era o pensamento de Irineu,
que “concebia a salvação como a transformação dos seres
humanos em participantes da natureza divina”. (2 Pe 1:4)
O PREÇO
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Isso mostra o valor do que somos. Somos o que
Cristo seria, e seremos o que Cristo É. Aleluia! Somos
almas viventes hoje, mas seremos por completo espírito
vivificante amanhã. No entanto, o problema é que nos
apegamos à divindade do Deus homem e nos esquecemos
de sua humanidade. Por causa das fraquezas humanas e
as consequências do pecado, nos agarramos à perfeição
divina ansiando por ela, tentando nos esquecer das
experiências amargas que temos aqui. Queremos ser o
que seremos, antes de manifestar no que somos aquilo
que seremos. O desejo de Deus é que manifestemos em
nossa carne mortal o que está destinado a nós. Ele deseja
que sejamos transformados de glória em glória à imagem
de seu Filho enquanto estivermos nesse corpo terreno.
Tudo começa aqui, não lá. A glorificação é o fim, a
conclusão e o resultado daquilo que se iniciou no tempo.
É na fraqueza humana que a glória se inicia. É na
presença do que é fraco que o eterno peso de glória se
acumula. Foi assim com o nosso Senhor e não será
diferente para nós.
55
56
Capítulo 3
57
tomou para si. A encarnação lhe trouxe um corpo real
que poderia não somente ser visto e ouvido, mas
também tocado, e que veio a ser passível de sofrimento,
morte e ressurreição”.
58
na mesma posição em que o nosso Senhor se encontrou.
Com certeza Deus levará todos os seus filhos a um
encontro com Ele naquele escuro jardim. Quando por fim,
experimentamos o que foi comum a Cristo e ao outro,
então a nossa percepção do evangelho mudará, e só
mudará quando a experiência do outro se torna a nossa
experiência. Elvis Presley cantava uma linda canção que
nos ajuda a pensar no que está se descrito aqui.
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redenção do homem. E foi isso o que aconteceu. Tudo era
real na vida de Jesus.
Muitos simplificam a obra de Cristo tendo todo o
seu foco na morte de cruz. Se partimos da ideia que o
Senhor era o nosso representante federal, toda a
experiência de vida que Ele passou fazia parte da obra de
redenção. Não é uma mera coincidência que o nosso
Senhor estava naquele jardim na hora mais escura da
noite. Ele estava na mesma posição que Adão esteve no
princípio. O autor de Hebreus nos relata que o Senhor foi
tentado em todas as coisas à nossa semelhança, e isso
inclui Adão. (Hb.4.15) Havia uma opressão demoníaca
quase que insustentável no Getsêmani. O último Adão
estava sendo terrivelmente tentado a não ser obediente a
vontade de Deus. Devemos entender que Jesus crescia
em graça e conhecimento diante do Pai em todos os
momentos de sua vida. Ele, como nosso representante,
tinha que cumprir tudo aquilo que nós, como escravos do
pecado e do diabo, não conseguíamos cumprir. O nosso
Senhor foi fiel da mais tenra idade até a sua maturidade,
sendo sujeito aos poderes do mal, mas sem ser derrotado
por ele.
60
chegando à maturidade sendo fiel na obscuridade. Ele
derrotou o nosso inimigo na tentação no deserto, vivendo
um ministério fiel a vontade do Pai e o derrotou naquele
jardim, em meio a angustia, aflição e dor. A vitória de
nosso Senhor se estende até a ressurreição e ascensão.
Ela é muito mais do que “simplesmente” o calvário. Cristo
venceu como homem, experimentando todas as coisas
como homem, em todas as fases de sua curta vida.
Franklin Ferreira comentando sobre a pessoa única de
Cristo usa um pensamento de Irineu sobre a necessidade
de todos os atos do Deus encarnado ser verdadeiramente
humano:
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amadurecia, e esse amadurecimento foi debaixo da
tentação da antiga serpente e das aflições desse mundo
caído. O Pai entregou o Filho para ser provado em toda a
sua vida, e foi debaixo do poder do maligno, se fazendo
como um dos descendentes de Adão, que Jesus se saiu
vencedor. Ele se tornou uma oferta de cereais, antes de
se tornar uma oferta de expiação, vivendo toda uma vida
santa e submissa a vontade do Pai.
A EMPATIA DE JESUS
62
“Ele é em todos os sentidos um ser humano, feitura de
Deus. Quando assumiu a humanidade, o invisível se fez
visível, o incompreensível se fez compreensível, o
impassível se sujeitou ao sofrimento e o verbo se fez
carne”.
O QUE É O HOMEM?
63
homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste
um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste
de glória e de honra.”
Salmos 8:3-5
64
homem, mas um anjo. Não sabemos os pormenores do
surgimento dessa doutrina, mas estava clara a rejeição da
humanidade de Jesus. O autor toma o salmo 8 para
refutar essa ideia e diz, resumidamente, que o Cristo não
é anjo, mas algo menor. Ele era homem.
O ESVAZIAMENTO DE DEUS
65
Olhando o texto, o que se apresenta é que uma conclusão
ainda está para ser realizada. Apesar de o Senhor ter feito
uma ferida mortal na cabeça da antiga serpente, o papel
de esmagá-la será obra de seu corpo, o homem coletivo,
que foi resgatado por seu sacrifício, tendo sido lhe
comunicado a sua própria natureza. E o autor descreve
que foi pelo sofrimento que o Senhor obteve a glória. É
realmente estranho quando o Senhor que glorifica o faz
mediante as aflições de seu Servo, mas a intenção de
Deus é sublime. Aquele que enfrentou a morte, o fez
representando a todos os que creriam nele e foi através
de seus sofrimentos que o Filho de Deus pode
compartilhar de sua glória aos seus irmãos, ele se tornou
o autor de nossa salvação através de seu corpo ferido.
Com certeza Irineu se deleitou nessas palavras que
o autor de Hebreus compartilhou com a igreja, falo isso
porque, na sua visão de redenção, fica claro o quanto ele
se aproxima desses escritos quando descreve o caminho e
a meta da salvação daqueles que foram acorrentados pelo
diabo por causa da queda do homem.
66
Deus nunca mudou o seu propósito. Um homem
desfaria as obras de satanás, e o homem veio a essa terra
e o desfez.
HOMEM DE DORES
67
termos fortes para descrever o sofrimento que Ele
passaria:
O CONTEXTO DE ISAIAS 53
68
próprio dia. A resposta dos judeus quanto a essa
informação de Jesus é estranha:
João 8:57
69
dizia que apesar de Jesus ter tido nobre nascimento a
partir do Pai altíssimo e ter experimentado uma geração
igualmente proeminente de Maria, o Senhor seria um
homem sem beleza e sujeito ao sofrimento. Clemente,
seguindo o mesmo raciocínio de Irineu, dizia que Jesus
era fisicamente desprovido de beleza. Muito mais do que
um sinal de nascença, esse mundo foi cruel com o nosso
Senhor. O seu próprio ministério foi exercido por um alto
preço físico. Tertuliano combatendo os judeus escreve:
70
AS CONSEQUENCIAS AO REJEITAR A HUMANIDADE
DE CRISTO
71
pelo sofrimento que ele derrotou o nosso inimigo. E diante
disso, o autor de Hebreus finaliza esse ponto com essas
palavras:
72
Cristo foi dotado, em sua encarnação de todo aspecto
humano, seja ele biológico, sentimental, racional, volitiva
e espiritual. E podemos ver que após a sua ressurreição,
esse mesmo aspecto estava presente nEle. (Lc 24: 36-43)
Se o Senhor não assumiu a integralidade do que
somos, as consequencias são terríveis e irreparáveis para
aqueles que creem. E o autor de Hebreus enumera essas
consequencias:
73
Sexto. Se o Senhor não se tornou homem, tendo sido
tentado em todas as coisas como os homens são, então,
como resultado Ele não pode compreender o que
passamos em nossas noites escuras e, assim, não pode
nos socorrer em nossas aflições
74
Capítulo 4
Anônimo
75
“[...] E era noite.”
João 13:30b
76
coração. Nossos inimigos nunca nos trairão. “Eles não
podem nos ferir, mas os amigos sim”. E Judas estava com
o Senhor durante muito tempo. Ele ouviu os seus sermões
e contemplou milagres e maravilhas. Ele foi enviado às
ovelhas perdidas de Israel e vizinhanças operando
prodígios no seu Nome. Ele participou das alegrias e
tristezas daquele rico ministério. E na vida de Jesus, as
histórias se repetem dando um novo significado. O
lamento do rei Davi no salmo 41:9, estava se ouvindo
novamente em Jerusalém:
77
brevemente por seus fiéis amigos, o Senhor de Davi
estava cruzando o Cedron para adentrar o Getsêmani,
sentindo o que o rei havia sentido.
É de nos fazer estremecer quando compreendemos
que nos últimos dias será proeminente e abundante a dor
da traição. As trevas da noite estarão presentes por todas
as partes. Em outras palavras, nos últimos dias esse
terrível ato da maldade humana será abundante,
principalmente dentro da igreja. A apostasia nos dias
finais será marcada pela falsidade religiosa. Aquele que
traiu Davi era o mesmo que tinha comunhão com ele na
casa de Deus. O “espírito” de Judas atuará de uma forma
assustadora na igreja. Jesus havia previsto essa dura
realidade quando alertou os seus discípulos dizendo:
78
de Guanabara. São poucos exemplos de uma multidão
inumerável de irmãos que sentiram o que muitos de nós
sentiremos. Porém, o problema se agrava quando a nossa
experiência é fruto da traição de verdadeiros irmãos.
Spurgeon já nos alertava no século 19 dizendo “prepare-
se para quando o seu mais querido irmão o trair.”
Lembro-me de uma situação embaraçosa enquanto
estava no seminário. O nosso professor, pastor de uma
igreja na localidade, estava sendo transferido, após
muitos anos de ministério, para outra cidade. O
relacionamento entre igreja e pastor estava passando por
sérios problemas. No concílio que resolveria essa situação
constrangedora, um amigo de ministério que ele confiava
e pensava que o defenderia, se calou diante das
acusações contra esse pastor. Eu não sabia a causa e nem
as circunstâncias daquele problema, mas eu vi o quanto
aquele homem estava destruído. Ainda hoje penso sobre
a dor na alma que ele sentia. A angustia era quase
palpável naquela sala de aula. A dor da traição o estava
esmagando naquele dia.
Madame Guyon, que sofreu uma duradoura e
silenciosa provação, passou por sentimentos de traição
que tornaram as suas feridas ainda mais dolorosas. Ela
disse uma vez que “Quando Deus quer quebrar um dos
seus servos, Ele permite que os seus amigos mais íntimos
o tratem como se você fosse um verdadeiro inimigo”.
Sem dúvida essa é uma das piores dores que os
filhos de Deus poderão passar em suas vidas. E o Senhor
passaria pelas duas situações. Ele seria traído por um
falso discípulo e pelos verdadeiros discípulos. A dor se
intensifica mais quando somos pegos de surpresa por
79
aqueles que menos esperamos. Mas diante da experiência
de Cristo podemos perceber que nem o privilégio de saber
antecipadamente quem o trairia, não minimizou a sua
angustia.
80
e levantada com um gozo interno, a dor do corpo quase
é esquecida. A alma conquista ao corpo. Por outro lado,
a dor da alma é a causa de dor corpórea. A natureza
inferior se harmoniza com a natureza superior. O
principal sofrimento de nosso Senhor estava em Sua
alma. Os sofrimentos de Sua alma eram a alma de Seus
sofrimentos. “Quem suportará ao ânimo angustiado?” A
dor de espírito é a pior das dores, a tristeza de coração
é o ápice das aflições. Que todos aqueles que
conheceram alguma vez a depressão do espírito, o
abatimento e a escuridão mental, confirmem a verdade
do que eu digo!”
81
segue o Príncipe de Maquiavel, lerá e seguirá o evangelho
de Jesus Cristo. Eles são incompatíveis.
Nada mais humano do que experimentar a dor da
traição. E o que os evangelhos nos descrevem, é uma dor
profundamente arrasadora que Jesus estava passando. A
reação sincera e verdadeira do Senhor o torna tão
humano como aqueles que estavam com ele no jardim. A
sua angustia o aproximou ainda mais de seus amigos. Ele
precisava, como um de nós, do cuidado espiritual e
emocional daqueles que o seguiram por todo o seu
ministério. E sua humanidade estava tão intensamente
sendo vivida, que foi preciso um beijo para diferenciá-lo
dos demais. É realmente frustrante quando esperamos
gestos de carinho pra aliviar a nossa dor, e o que nos
deparamos é com a falsidade humana.
Que Deus nos livre de toda a obra maligna, como
disse Paulo diante da maldade de Alexandre, de odiar
aqueles que nos traem. Precisamos ver a Mão de nosso
Deus nessas experiências dolorosas. H. L Roush escreve:
82
isto é, aos que são chamados conforme o seu
propósito”.
O SALMO MESSIÂNICO
83
bondade e cuidado sem ter a certeza se Ele estaria
presente.
Se analisarmos o salmo 23, o rei Davi está se
referindo não a um rebanho, mas somente a uma ovelha.
Os cristãos foram condicionados a enxergarem esse salmo
do ponto de vista do cuidado pastoral de Deus aos que
creem em Jesus. O Senhor tem cuidado do seu rebanho.
Essa forma de interpretar essa passagem é verdadeira,
mas se olharmos no prisma de que Davi não falava dele
mesmo e nem de nós, mas do Messias, toda a nossa
percepção mudará.
Após a ressurreição, quando o Senhor se apresenta
no meio dos discípulos, os seus olhos são abertos com
respeito a tudo o que as escrituras testificavam de Jesus.
Em Lucas 24:44 algo revelador é nos dito pelo Senhor:
84
não estavam abertos para enxergar o que estava sendo
revelado para ele naquele momento de adoração. Assim
como os demais profetas, Davi ainda era míope com
respeito à profundidade do que escrevia.
O Pastor tinha um íntimo relacionamento com a sua
ovelha. Ele era o seu Bom Pastor e a ovelha lhe pertencia.
Todo o seu cuidado, zelo e proteção tinham como
propósito o amadurecimento daquele frágil animalzinho. O
que temos que ter em mente é que a ovelha desse Bom
Pastor tinha como o fim, o sacrifício de expiação. Todo o
cuidado que o Pastor tinha por ela era para que a
perfeição a caracterizasse. A ovelha tinha que chegar a
idade de 1 ano sem nenhum defeito, mancha ou mácula.
(Êx. 12:5). Toda a vida da ovelha teve o cuidado especial
do Bom Pastor para que ela fosse uma vítima do sacrifício
de expiação. Parece assustador, mas era o que sempre
acontecia em Israel. Um cordeirinho era separado,
cuidado e preparado com todo o amor para ser uma
vítima inocente pelo povo.
A confiança caracterizava aquele relacionamento. O
Senhor era o Bom Pastor que nada lhe deixava faltar,
declara a ovelha. Ela descansou por toda a sua vida em
verdes pastos e em águas tranquilas. O amor ao Seu
nome era quem a guiava retamente. O Pastor sempre a
acompanhava, sempre estava presente. O seu cajado a
consolava. Mas a ovelha deveria andar por caminhos
tenebrosos. Esse era o seu destino. Ela foi enviada há um
lugar hostil. O próprio Pastor havia preparado uma mesa
para ela perante os seus adversários. E diante daquela
inocente ovelha havia um cálice transbordante para ser
tomado. Ali estava um banquete divino preparado para o
85
Cordeiro Santo. O próprio Senhor havia dito que a sua
comida e a sua bebida era fazer a vontade de Deus. E ali
estava a vontade de Deus diante dele na presença de
seus inimigos. (Jo 4:31-33). Uma parte desse salmo diz
assim:
Salmo 23:4
86
Getsêmani. Era claro que ele estava passando pelo vale
da sombra da morte. O Salmo 23 estava sendo vivido pelo
verdadeiro cordeiro pascal. O Senhor estava
experimentando a mais profunda crise que todos os
homens podem experimentar. Talvez, diante de toda
aquela experiência esse salmo tenha vindo a sua mente
naquele momento, mas não sabemos. Porém, o que
sabemos é que a sensação de terror não era estranha
para Ele. O mais profundo que o homem pode se
encontrar nesse vale, Jesus entrou. Ele se tornou íntimo
de nossa dor para ser o nosso consolador.
Esse salmo é um dos mais conhecidos da Bíblia. Por
muito tempo ele tem sido um lugar de refúgio para os
filhos de Deus que sofrem. Scrogie disse “que com esse
salmo milhares tem vivido, e na fé dele milhares têm
morrido”. Em nossas noites escuras o Abba, o nosso Bom
Pastor, está presente e nos responde, por mais difícil que
pareça, quando o clamamos. Mas quando olhamos para a
experiência de Jesus naquele jardim, não houve o mesmo
privilégio que nós temos quando passamos por aflições. O
abandono se inicia no jardim e culminaria no calvário. Dali
para frente, o Senhor caminharia por fé, pois o seu Pai
não mais estaria com Ele.
O CLAMOR
87
a experiência do Senhor naquele jardim. Nessa passagem,
o autor de Hebreus escreve:
Hebreus 5:7
88
Nessa interpretação, Arno vai além das demais
visões com respeito a esse texto. Situando essa passagem
na experiência de Jesus no jardim, a angustia do Senhor
era por um temor presente, não futuro. Mas é difícil
compreender aquela situação como um pedido para que
Ele não fosse morto ali. Apesar de o Senhor estar
experimentando o gosto da morte por causa da dor e
aflição, pensar, além disso, creio que seja um erro.
Porém, está claro nesse texto de Hebreus 5:7 que Jesus
teve a sua súplica respondida, no entanto, o que não está
tão claro é se essa passagem se refere ao Getsêmani.
Partindo do fato que tenha uma referência àquele
acontecimento no jardim, a resposta do Pai parece está
mais ligada à ressurreição do Senhor. Jesus teve certeza
que o seu Pai não o deixaria na morte, mas não teve
resposta quanto ao cálice. Mas se, esse texto se refere ao
cálice, o silêncio do Pai foi uma resposta clara ao filho.
Então o pedido de Jesus foi ouvido, e Ele entendeu que o
cálice não seria retirado.
O HORROR AGONIZANTE
89
prontamente pelo Filho sem titubear, foi um não. Não era
possível ter a recompensa de seu penoso trabalho sem
experimentar o cálice. E o que importava para Jesus
naquele momento não era o seu bem-estar, mas a
obediência a vontade do Pai.
Como foi focado anteriormente, o nosso Senhor
não se encarnou tendo em si mesmo a obediência
totalmente cumprida. Por mais misterioso que possa ser o
autor de Hebreus deixa bem claro que Ele aprendeu a ser
obediente. E o que se torna evidente nesse relato é que
Jesus não a obteve sem esforço. Foi através de uma
extrema disciplina no sofrimento que Ele se tornou
submisso. Essa obediência o conduziu até aquele jardim.
Para que Ele se tornasse a ovelha perfeita do Salmo 23,
ele tinha que passar por essa provação. Hughes escreve
que “seus sofrimentos tanto testaram quanto,
vitoriosamente suportados, atestaram Sua perfeição, livre
de fracasso e de derrota.” Tanto na questão do sacrifício
perfeito como na questão de ser o Sumo Sacerdote
perfeito precisa da perfeita obediência. E o cálice era
necessário para que isso se concretizasse.
O silêncio é um claro aviso que Cristo estava sendo
abandonado no jardim na situação de maior fraqueza de
sua vida. Poucos teólogos se arriscam a escrever que foi
ali que a ira de Deus começou a ser derramada sobre
Cristo. O Mais próximo que podemos ter de uma
afirmação é de Louis Berkhof que comentando sobre a
extensão da morte de Cristo disse que:
90
intensiva, e não extensivamente, quando agonizou no
jardim e quando bradou na cruz, “Deus meu, Deus meu,
por que me desamparastes? “. Num curto período de
tempo, Ele suportou a ira infinita contra o pecado até o
fim e saiu vitorioso”.
91
colocando uma condicional em suas palavras, sugere que
poderia ser possível Ele ter tomado outro caminho. Porém
se isso fosse feito nada mudaria com respeito à ordem do
universo. O Deus Triuno estaria onde sempre esteve em
toda a eternidade, mas em algum ponto da criação
haveria um sinal de desarmonia à sua perfeição. Satanás
reinaria ainda em sua soberba, desafiando a multiforme
sabedoria divina. E nós estaríamos arrastando as nossas
correntes, escravizados pelo príncipe deste mundo,
revelando uma natureza monstruosa que nos foi
compartilhada por Adão e sem nenhuma perspectiva de
salvação. O Cristo estaria em casa, e toda a humanidade
no inferno. Como escreve Malcolm Tolbert:
92
caminho, beber totalmente o que continha naquele cálice.
Por amor, Ele se deu para o sacrifício. Ele se deixou
morrer. Ninguém o havia tocado em todo o seu ministério,
porque ele era o Senhor da vida. Foi uma ação livre e
espontânea de Jesus. Havia a vontade do pai, mas havia a
decisão do Filho. E o que pesava para Ele naquele jardim
era a justiça ferida de seu Pai. A sua justiça clamava por
pagamento, o seu propósito clamava por cumprimento, e
as nossas misérias clamavam por empatia. O que está em
primazia na mente de Jesus não é o pecador em primeiro
plano, mas o seu Pai. Jesus estava abrindo mão de sua
vontade para que a vontade de Deus fosse cumprida, e
esse é o significado da noite escura.
A TRANSFIGURAÇÃO
93
nosso senhor, Ele já havia cumprido toda a vontade de
Deus”.
A transfiguração é o descortinar da vida perfeita de
Jesus Cristo em toda a vontade do Pai até aquele
momento. O segundo Adão havia sido fiel ao seu Deus.
Em contraste com a vida vazia que o homem vivia após a
queda, a sua vida estava cheia de glória. A verdadeira
humanidade havia florescido. Jesus estava plenamente
amadurecido. Mas ele decidiu ir além quando deu o
primeiro passo na descida daquele monte. Da glória para
cruz. Era a glória de seu Pai que foi o motor que fez o
Senhor descer até o jardim.
94
fazer que nos esquivemos diante da morte; porém,
certamente no caso de nosso Senhor essa causa natural
não podia gerar esses resultados tão especialmente
dolorosos. Se nós que somos uns pobres covardes não
suamos grandes gotas de sangue, por que então
causava tal terror nele? Não é honroso para nosso
Senhor que o imaginemos menos valente que seus
próprios discípulos, no entanto, temos visto triunfantes
a alguns dos santos mais frágeis diante do prospecto da
partida.”
95
96
Capítulo 5
O Cálice
“Meu Pai, se for possível, afasta de mim esse cálice;
contudo não seja como eu quero, mas sim como tu
queres”.
Jesus Cristo
97
primitiva que testemunharam diante do fogo, das feras,
da espada, e o homem de dores no Getsêmani. Não se
ouve da boca desses homens e mulheres a oração para
que, se possível, o cálice lhes fosse tirado. Alguns
questionam se realmente Jesus está na galeria de
mártires. Carson, tanto em seu comentário de João, como
de Mateus, afirma que Jesus não foi um deles devido ao
seu sofrimento único e morte única. Porém, Afirma
Carson, a intrepidez daqueles que morreram por Cristo foi
devido à força que a morte e ressurreição de Jesus lhes
concederam. É aqui que toda a comparação deve ser
retirada. A morte de Jesus se diferencia em muito da
morte de todos os mártires da história, pelo simples fato
do que estava envolvido em questão.
Jesus estava sozinho. Em sua adoração silenciosa,
Ele não teve a energia divina que acompanharia as suas
testemunhas por todo mundo, como é descrito em Atos
1:8. Por isso a aparente fraqueza na reação de nosso
Senhor diante da morte tem que ser entendida por outro
ângulo. Ao estudar essa passagem bíblica, o caminho que
devemos seguir é que algo maior do que à simples morte
pela tortura de cruz, estava envolvida nessa experiência
de Cristo.
O VINHO AMARGO
98
“Acaso não haveria de beber o cálice que o Pai me
deu?”
João 18:11
99
14:10 nos dá um vislumbre daquilo que Jesus teve que
tomar:
100
“Não foi o pensamento do intenso sofrimento físico que
fez que seu suor caísse como gotas de sangue. Em vez
disso, sua santa alma encolheu-se com a chegada
daquilo que Ele mais abominava: o pecado. Como Paulo
explicou: “Aquele [Cristo] que não conheceu pecado, o
fez [Deus] pecado [Ele] por nós, para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus”
II Co 5:21.
101
justiça divina. Sim, respondemos. Era necessário um alto
preço pago para resolver o problema da queda. A
necessidade da morte do próprio Deus, nos revela o
tamanho de nosso pecado e o quanto ele é desprezível.
A justiça de Deus não permitia que essa situação
fosse deixada de lado. O seu caráter santo exigia que um
sacrifício fosse feito. Mas Deus é amor e Ele queria
expressar a sua natureza para a sua criação. O amor de
Deus entra em ação quando aquele que estipulou o
pagamento para a paz, se tornou o sacrifício que traz a
paz. Ele poderia nos obrigar a assumir a punição,
demonstrando dessa forma a sua justiça, mas não
revelaria o seu amor. Ou ignorar as nossas ofensas
demonstrando, dessa forma o seu amor, mas sacrificando
a sua justiça. Era uma situação realmente difícil de
resolver. Quando, porém, o cobrador se torna o pagador,
tanto a justiça como o amor são reveladas por Deus.
E a Lei que Deus deu a Moisés? Não seria ela uma forma
de pagamento pelas nossas ofensas? É triste quando nos
deparamos com pessoas que tentam, com seus trapos
imundos, oferecer um sacrifício manco, imperfeito e
maculado como pagamento de seus pecados.
A Lei divina só serviu para nos provar o quanto
somos maus e o quanto estamos longe desse Justo Deus.
A sua justiça vindicava por pagamento e nós não
tínhamos nenhuma condição de quitar a dívida que nosso
Pai Adão nos deixou como herança. Mas pela nossa
arrogância pensávamos que podíamos pagá-la. Deus nos
deu a Lei para arrancar de nossos lábios toda a presunção
de nosso ego demoníaco. A cruz é a prova de nossa
vergonhosa falha. O homem pecou, e o homem tinha que
102
resolver esse problema. E o resultado dessa dívida, que
não caduca, é que nos tornamos alvos da ira de Deus.
Nunca houve uma real possibilidade de o homem acabar
com esse débito. Deus sabia disso, mas o homem não.
Sim, era preciso um homem para resolver essa questão,
porém, não poderia ser um como nós.
Anselmo, diante do problema que a expiação propõe
afirmou de forma tremenda como esse mistério é
resolvido por Deus.
103
do Pai. Aquela doce presença não estaria com Ele, mas
contra ele em ira e juízo.
O que o nosso Senhor assumiu ao tomar daquela
bebida amarga é incomparavelmente maior do que a
doçura de ser, por amor a Deus, um mártir de Cristo.
Agora conseguimos entender a diferença entre o sacrifício
de Jesus e dos demais que o seguiram. Na morte de
Estevão, o primeiro após Cristo, havia a contemplação do
Pai e o testemunho do Filho em fortalecimento daquele
servo. Mas com Cristo, o que haveria era um silêncio
misturado com juízo.
A SEPARAÇÃO
104
O Senhor estava experimentando a dor do inferno.
Nós pensamos que o inferno é tão horrendo por causa do
fogo que não se apaga, trazendo uma visão de sofrimento
constante. Contudo, não é o fogo que torna o inferno
terrível, mas ser separado de um Deus amoroso. Era algo
realmente horrível o que Jesus assumiu por amor. Nada
justificava aquela situação que Ele estava passando. Ele
era inocente. E o seu clamor visava essa consequência, e
não a morte e sofrimento em si.
Porém, a fraqueza se tornou em força. A reação de
Jesus, após a resposta de seu Pai é de impressionar. Suas
próprias palavras a Pedro naquele ato insano e
desesperado de um assassino demonstram a rocha que é
o nosso Jesus. Se o Senhor tivesse que beber do cálice,
ele beberia até o último gole, e ninguém o impediria de
fazê-lo. E assim o fez. Ele preferiu experimentar toda a
aflição da alma que esse ato traria, não por amor a nós
em primeiro lugar, mas por amor ao seu Pai. Foi esse
amor que o motivou a seguir por aquele caminho. Foi
esse amor que o fortaleceu. Foi esse amor que O fez
decidir pela vontade do Pai. A fé de nosso Senhor no Bom
Pastor o fez crer que a sua presença em amor estaria com
Ele no vale da sombra da morte, quando na verdade não
estaria.
Ali estava o mediador entre Deus e a humanidade. E essa
mediação carregava o peso do pecado e o seu
pagamento. Deus estava vindo até nós por intermédio de
seu Filho. Calvino escreve que “o Filho de Deus se tornou
Filho do Homem e recebeu o que é nosso de tal maneira
que Ele nos transferiu o que era seu, fazendo com que o
que era seu por natureza se tornasse o que era nosso”.
105
Aquilo que o nosso Senhor assumiu o tornou capaz de
compartilhar aquilo que ele era. Aleluia!
Eis a diferença entre os mártires e o Senhor dos
mártires. A desobediência foi derrotada pela obediência de
uma forma única, perfeita e perpétua. A oferta foi
oferecida pelo nosso Sumo Sacerdote perfeito e foi aceita
por um Deus apaziguado. O débito foi quitado. O Pai foi
satisfeito. Cristo foi glorificado e nós fomos aproximados
pelo sangue vivo e real de Jesus Cristo.
106
Capítulo 6
A Prensa
Anônimo
107
situações que o nosso Senhor viveu, a sua caminhada e
experiências são etapas que cada seguidor do cordeiro
terá que passar até a glória futura. O que aconteceu
naquela noite no Getsêmani, teve um forte significado na
vida do Senhor e também terá em nossa vida.
É interessante notar que o nome Getsêmani é
prensa de azeite. O fato de Jesus estar ali naquele
momento foi minuciosamente arranjado por Deus. A vida
que o Senhor viveu frutificou em abundância. Ele era
como um cacho de azeitonas em uma vigorosa oliveira.
Mas Deus teve que lançá-lo ao chão, pois o fruto em si,
sem o trabalhar do agricultor para nada serve.
Naquele jardim havia uma plantação de azeitonas
e, com certeza, havia naquele lugar uma prensa de azeite.
Dia após dia, homens desenvolviam o seu trabalho
recolhendo o fruto maduro para que o tesouro liquido de
Israel fosse adquirido. Através da pressão das pedras de
moinho, o óleo que consagraria os sacerdotes, que
alimentaria a nação, que iluminaria o povo e que o
purificaria de suas imundícies era produzido através da
pressão do esmagar. O valioso óleo só flui quando a
azeitona é esmagada na prensa. Não há azeite sem o
esmagar, e não haveria o derramar do Espírito sem a
pressão.
O processo do esmagar estava em curso na vida de
Cristo. Todo o peso esmagador da ira divina e do assumir
os nossos pecados estava sendo colocado sobre Ele. Era
necessário esse doloroso processo para que aquilo que
era valioso fluísse para a vida de outros. Se o Senhor
evitasse o Getsêmani, Ele ficaria só. A luz do mundo
haveria de ir embora. Estaríamos em densas trevas
108
novamente. Mas ele se deu para que nós usufruíssemos
de seu sacrifício. Sem santidade não há fruto. Sem fruto
não há o fluir do azeite. E sem o esmagar não há poder.
Se não há poder não há testemunho. A vida cristã é um
processo a ser seguido e vivido.
Realmente é difícil passar pelo lagar de azeite. A
dor da pressão nos faz estremecer. A angústia nos faz
fugir da vontade de Deus. A cruz não nos traz prazer, mas
dor. E a dor sempre traz consigo a tristeza. Quando o
Senhor estava debaixo da pressão no jardim, a tristeza o
apanhou de uma forma aterradora. Isso também se dará
conosco. Sentiremos o esmagar da prensa. Mas como diz
Watchman Nee, “está tudo bem nos sentirmos
contristados, mas também devemos considerar aquilo, (a
prensa), como motivo de gozo. Sentir é uma coisa, mas
considerar é outra. Podemos não ter gozo, mas podemos
considerar como sendo motivo de gozo”.
O MOTIVO DA PRENSA
109
por apenas sofrer. Ele age com uma meta. Sempre o seu
mover é com um propósito em mente. Se Ele permite que
soframos é porque deseja que participemos de sua
santidade. Essa é a benção da pressão.
Tudo o que é de valor que a igreja produziu em
toda a sua história é fruto direto da pressão do lagar do
azeite. Avivamentos se iniciaram pela pressão. Grandes
homens surgiram pelo esmagar da azeitona. Os mais
valiosos livros foram frutos dessas noites escuras da alma.
As mais poderosas pregações foram pregadas debaixo da
prensa. As orações mais fortes já feitas saíram de lábios
que sabem o que é estar debaixo do esmagar do Senhor.
Os maiores frutos da igreja advêm da benção da pressão.
Sem ela nada teria sido produzido. O lagar nos prepara
para algo maior. Ministérios surgiram e surgem da noite
escura da alma.
110
circunstâncias que cercam os filhos de Deus são
provenientes de sua mão. Ele nos guia para a prensa para
extrair de nós aquilo que é valioso. É somente dessa
forma que Ele pode nos usar. Mas logo que a prensa
começa a ser girada sobre nós, reagimos de forma
adversa. Nós queremos que nossa vontade seja feita e
não a dele.
Watchman Nee
111
caminho até a estatura de varão perfeito tem que ser
trilhado. Atalhos são apenas distrações que nos atrasam
em nosso caminho para a “cidade celestial.”
Brainerd sabia disso muito bem. Apesar de toda
uma vida sendo esmagado pela depressão e pelo
sofrimento de uma terrível doença, a sua resoluta
perseverança em continuar a carreira, sem se importar
com o preço a ser pago, o fazia dizer: “Oh que eu nunca
perca tempo na minha jornada espiritual”. Quanto tempo
temos perdido em nossa carreira cristã por não aceitar a
Mão do Senhor sobre nós. Quando Cristão, o personagem
do livro “O Peregrino” estava subindo o monte da
dificuldade através do caminho estreito, resoluto diante
das aflições ele disse “É melhor seguir o caminho certo,
apesar de difícil, do que o errado, apesar de fácil, onde o
fim é a desgraça.”
Como somos fracos quando nos encontramos em
situações adversas. Necessitamos de um espírito resoluto
nessas horas, o poder do Getsêmani que nos possibilita
enxergar o resultado do fruto esmagado e não olhar para
o meio como isso se dá.
112
esmagados para que o fluir do Espírito Santo seja
derramado sobre esse mundo. Somente quando o espírito
dos servos de Deus “é liberado é que pecadores podem
nascer de novo e pessoas salvas podem ser
estabelecidas”, dizia Watchman Nee.
Isso não significa que não haverá lutas contra o
desânimo, ao contrário. O autor de Hebreus diante dessa
realidade consola a igreja sofredora dizendo para que eles
“fortalecessem as mãos enfraquecidas e os joelhos
vacilantes,” (Hb 12:12), pois sabia o quanto era difícil
passar pelo lagar.
A NECESSIDADE DA PRENSA
113
o fim esmagá-lo. Porém, como é difícil entender que todas
as circunstâncias adversas são medidas pela mão de Deus
para o nosso bem. Crer nessa verdade gloriosa de um
Deus soberano, e deixar que o Espírito Santo aja sem
restrição, é a maior benção que o servo pode fazer a si
mesmo, a igreja e a esse mundo caído.
Devemos notar que o esmagar do Senhor teve
como propósito o abraçar a vontade do Pai. Deus o moeu
para que o Filho aprendesse a amar ainda mais o que o
Pai desejava. Pode parecer algo ruim o modo de Deus agir
na vida de seus servos. Mas através da vida de Cristo
podemos ver o quanto tudo cooperou para o seu próprio
bem. Todos nós somos levados a mesma situação que
Jesus esteve: a minha vontade ou a vontade do Pai? O
Senhor te levará por toda a sua vida a decisões como
essa. Decisões que esmagarão o seu eu dolorosamente. O
Getsêmani é necessário para a vida dos seguidores do
Cordeiro, e a sua experiência nos fará deixar de lado o
confiar em si mesmo. A benção não é ser livrado da
prensa, mas estar dentro dela. Ter uma vida tranquila
nesse mundo não é bom para os filhos de Deus. A
pressão exercida na disciplina do Pai é a prova essencial
de que somos os seus filhos e que estamos sendo
transformados à sua imagem. Essa é a operação da
prensa, essa é a operação da cruz.
114
sua obra em vão: Deus é sempre o seu próprio
intérprete, E Ele o tornará claro”.
William Cowper
115
116
Capítulo 7
Conformidade Ao Cordeiro
Anônimo
117
é o céu, mas sim a sua antecipação. Deste lado do
paraíso, a graça nos assegura, contudo não nos cura
definitivamente”.
Não precisamos ir muito longe para vermos essa
terrível verdade diante de nós. Paulo experimentou a
providência carrancuda de Deus em todo o seu ministério,
mesmo diante da fidelidade e zelo à obra de Cristo. Se
chegarmos à conclusão que o evangelho nos livrará de
todos os males, principalmente por causa de nossa
fidelidade, seremos obrigados a desconfiar do que Paulo
foi e fez. Cristo nunca nos prometeu uma caminhada livre
dos espinhos e do ardor do sol. Uma vida tranquila nunca
foi uma proposta do evangelho. O que está prometido
para os servos de Cristo é uma graça fortalecedora diante
das montanhas que se levantam em sua peregrinação.
C. S. Lewis certa vez foi interpelado por
trabalhadores de uma empresa na Inglaterra. A pergunta
daqueles homens já demonstrava no século passado o
tipo de ser humano que estava surgindo nesses últimos
dias. Eles perguntaram:
118
“Qual das religiões do mundo confere a seus seguidores
maior felicidade? Enquanto dura, a religião da
autoadoração é a melhor. Tenho um velho conhecido já
com seus 80 anos de idade, que vive uma vida de
inquebrantável egoísmo e autoadoração e é, mais ou
menos, lamento dizer, um dos homens mais felizes que
conheço. Do ponto de vista moral, é muito difícil. Eu não
estou abordando o assunto segundo esse ponto de
vista. Como vocês talvez saibam, não fui sempre cristão.
Não me tornei religioso em busca da felicidade. Eu
sempre soube que uma garrafa de vinho do Porto me
daria isso. Se você quiser uma religião que te faça feliz,
eu não recomendo o cristianismo. Tenho certeza que
deve haver algum produto americano no mercado que
lhe será de maior utilidade, mas não tenho como lhe
ajudar nisso.”
119
ARMAI-VOS DO MESMO PENSAMENTO
120
“Mas alegre-se à medida que participam dos sofrimentos
de Cristo, para que também, quando a sua glória for
revelada, vocês exultem com grande alegria.”
I Pedro 4:12,13
121
que ser identificado com o nome de alguém, é ser
identificado com a própria pessoa, então as coisas
mudam. Nós seremos perseguidos pelo simples fato do
nosso nome estar associado ao nome de Cristo. Quando a
Alemanha se tornou antissemita, todos os judeus,
independente de classe social, gênero e idade eram
perseguidos inocentemente só porque eram judeus.
Naqueles dias de Pedro, o simples fato de alguém ser
cristão já era motivo de hostilidade, perseguição e morte.
Se coloque na pessoa de um judeu na Alemanha nazista,
quando a noite dos cristais deu início a uma perseguição
cruel e sistemática, que você entenderá o que era ser um
cristão nos dias de Pedro.
Quantas humilhações nos esperam se realmente
formos seguidores do Cordeiro. Quantas difamações até o
matadouro. Quantos escárnios diante da multidão. Mas
não se envergonhem, diz Pedro. Sofrer como um cristão é
estar disposto a morrer para o pecado, para si mesmo e
se possível até fisicamente. O nosso mundo ocidental é
pacífico com a igreja e a nossa luta hoje é principalmente
contra o nosso pior inimigo: nós mesmos. A cruz acabará
com o velho homem, mas não sem um grande custo
envolvido. Ali está o cálice, mas há também a nossa
vontade. Ali está a vida de Cristo, mas também a vida da
alma. E diante dessa dura condição o Senhor nos dirige
essas palavras:
122
por amor de mim e de minha causa, e então seguir-me
e continuar seguindo-me como meu discípulo”.
A CRUZ IRREVOGÁVEL
123
mundo”. Que mente carnal poderia entender as palavras
desse servo sofredor?
OLHOS CELESTIAIS
O CHAMAMENTO À CRUZ
124
quando Jesus falou de cruz, creio que seria muito
esclarecedor para nós. Talvez os discípulos não levassem
a sério o que o Senhor dizia naquele momento. Era o
princípio da revelação da cruz, e não havia muita clareza
no ensino de Jesus.
No entanto, quando chegamos a Mateus 16, as
palavras do Senhor se tornam mais graves. Antes, não se
falava explicitamente sobre a morte do Cristo, mas depois
da revelação de Pedro, o Senhor começou a mostrar aos
seus discípulos o que estava para acontecer ao Cordeiro.
Estava claro para aqueles homens que viviam debaixo do
jugo romano, que o contexto das palavras de Jesus era
sobre morte. Todos eles já tinham visto um moribundo
agonizando naquele madeiro. Com certeza foi esse o fato
que despertou aquela reação de Pedro dizendo aquelas
temerosas palavras: “isso jamais te acontecerá.” Mateus
16:22
A revelação de Pedro carregava o peso tanto da
divindade de Jesus como da sua humanidade. O Deus
homem tinha uma missão. Palavras que parecem ser tão
simples naquela declaração do discípulo se demonstraram
tão profundas para todos. Se ele é o Cristo, o seu destino
era a cruz. As profecias direcionavam para esse caminho.
Essa ideia de morrer é rejeitada pelo mundo com
todas as suas forças. Ele clama por vida e a nossa alma
responde para que vivamos. Quando o discípulo assustado
disse que “aquilo jamais aconteceria” com Jesus, na
verdade era o mundo, na voz de seu príncipe, juntamente
com a alma de Pedro, que estava clamando naquele
momento. A nossa alma deseja por esse mundo caído e
as concupiscências que ele oferece. A alma não quer se
125
desligar dele. E o chamamento de Cristo é para que
rejeitemos tudo o que nos é oferecido e nos apeguemos a
ele. Somente quando isso acontece é que nos tornamos
dignos do Senhor.
Porém, essa vida de rejeição traz consequências
amargas para a nossa alma. Deus usa a cruz para selar o
divórcio entre nós e o mundo. O evangelho rasgará o
antigo contrato e nos libertará do antigo amo. As
consequências da cruz, e a nossa fidelidade nelas, nos
provam e provam ao mundo que somos dignos por Cristo.
Há um preço a ser pago por aqueles que amam o Senhor.
Ser digno de Cristo e digno por Cristo requer a
conformidade ao cordeiro. É segui-lo aonde quer que Ele
vá. E aonde o nosso Senhor nos conduz é onde os antigos
ecos de Pedro se fazem ouvir em nossos ouvidos: “isso
jamais lhe acontecerá.”
A FACE SORRIDENTE
126
Se a providência divina planejou a vida de Cristo do
começo ao fim, por que ela não seria atuante na nossa
vida? Sei que é uma questão difícil aceitar que um Deus
de amor planeje uma terrível doença, uma profunda
perda, uma violenta depressão e uma morte cruel para os
seus. Mas é a conclusão que devemos chegar se o nosso
Deus realmente é o feitor da história. Se a nossa vida é a
conformidade ao cordeiro, e percebendo que a vida do
cordeiro foi minuciosamente arquitetada por um Deus
soberano, a conclusão que devemos chegar é que nossas
vidas também foram minuciosamente planejadas por Ele.
É por isso que situações de nossas vidas se tornam
em cruz para nós. Podemos nos torturar nos porquês
Deus permitiu essas coisas, e isso não nos levará a lugar
nenhum. Ou erguer os nossos olhos e contemplar a sua
face sorridente por detrás de uma providência carrancuda.
José resume bem essa forma misteriosa de Deus se
mover na vida de seus filhos. Ele disse que o mal
planejado contra ele, Deus o tornou em bem. (Gn 50:20)
É verdade que o Senhor permitiu que satanás afligisse
aquele jovem hebreu, mas todos os seus sofrimentos
foram transformados em força e glória no futuro. Como
dizia Lutero, “Deus choca os seus melhores ovos debaixo
das asas de satanás”. Deus age de formas misteriosas,
mas elas nunca são desastrosas. Deus detém o controle
de todo o universo em suas mãos, e o que nos faz pensar
que ele perderia o controle de nossa história?
127
UMA REALIDADE PESSOAL
128
ajudar uma pessoa a se preparar para o sofrimento? Ou
pior, prepará-la para a morte? Se soubermos como
sofrer bem, e se sentirmos que “morrer é lucro” por
causa de Jesus, então saberemos como viver bem.
Saberemos como sorrir – não me refiro a rir com piadas,
mais a sorrir do futuro.”
129
aflição. Fazer a vontade de Deus acima de um bem-estar
pessoal, é a mais elevada forma de fé que nós podemos
testemunhar nesse mundo. A vontade de Deus é absoluta,
e se ela requer que nos assentemos à mesa perante os
nossos inimigos, a nossa disposição deve ser a mesma
que a do nosso Senhor: “Não beberei eu, do cálice que o
Pai me deu?” (Jo 18:11)
130
Capítulo 8
Watchman Nee
131
testemunho de suas obras. Líderes nativos eram
levantados trazendo uma nova perspectiva do evangelho
num mundo que se dividia entre nobres e plebeus. Talvez
esse fato tenha sido o ponto principal da rejeição desse
movimento evangélico. Como Deus poderia estar visitando
os gentios? Mas todos os estrangeiros que estiveram em
comunhão com aquela jovem igreja na China reconheciam
o doce nardo que estava sendo derramado naquela
nação.
Apesar de algumas lutas e dificuldades sofridas pelo
pequeno rebanho, tudo caminhava para que uma nação
se rendesse aos pés de Cristo. Como disseram aqueles
dois jovens morávios, “o cordeiro logo receberia a
recompensa de seus sofrimentos”. O Pai havia dado as
nações por herança ao seu Filho, e a China estava sendo
oferecida a Ele por aqueles simples irmãos.
John Bunyan disse uma vez que “em alguns países,
às arvores crescem, mas não produzem frutos, pois não
há inverno ali”. Porém, na china os frutos eram
abundantes. Havia conversões em massa. Deus operava
grandes sinais no meio deles. A palavra estava sendo
propagada sem impedimento algum, e um novo e
refrescante soprar do Espírito Santo sobre sua palavra
estava sendo renovada na China. Havia realmente um
poderoso avivamento sendo derramado entre os irmãos
naquele país. Mas as formas misteriosas de Deus agir é,
muitas das vezes, incompreensíveis para uma mente finita
como a nossa. As belas flores da primavera da igreja na
china estavam sendo ameaçadas por um longo inverno
que se despontava no horizonte.
132
Nee Shu-Tsu, seu nome de infância, um dos
fundadores do pequeno rebanho, era um jovem brilhante
em sua capacidade intelectual. Apesar de sua rebeldia nos
tempos de escola, Nee sempre se sobressaía entre seus
colegas figurando constantemente em primeiro lugar da
classe. Essa notoriedade lhe garantia grande sucesso no
futuro. Ele era inteligente, podemos dizer até genial para
os padrões da época. Tudo ia bem, até Nee se encontrar
com o Senhor.
Assim como muitos, ele era um dos mais relutantes
ateus de sua época. Ele não cria no evangelho e nem em
seu poder transformador. Na verdade, ele era um
zombador dos pregadores que anunciavam a salvação em
Cristo. Mas isso não impedia com que Watchman fosse
alvo das orações de sua mãe, já convertida ao Senhor.
De acordo com seu testemunho, no dia 29 de abril
de 1920, aos dezoito anos, enquanto lutava para “decidir”
se cria ou não no Senhor, ele tentou orar, e viu a
magnitude dos seus pecados, e a realidade da eficácia de
Jesus como salvador. Ele que antes zombava das pessoas
que tinham crido em Jesus, teve uma experiência que veio
a mudar toda a sua vida. Aquele jovem convertido tinha
um caráter impressionante. Ele tomaria a decisão de se
entregar totalmente ao Senhor, àquele que faz exigência
total de seus servos.
Watchman teve a convicção que Deus o chamara
para ser o seu cooperador na obra, e o novo convertido
havia se transformado numa “atalaia” de Deus em sua
geração. Aquilo que era vil para aquele jovem, se tornou
em sagrado pouco tempo depois. Ele se tornou um
pregador do evangelho entre seus colegas de escola. A
133
Bíblia era a sua amiga inseparável, mesmo na sala de
aula. Essa atitude trouxe muitas zombarias para àquele
jovem cristão, lhe rendendo o apelido de “depósito de
Bíblias”. Mas logo ele colheria seus frutos. Essa paixão
pela palavra de Deus, o fez adquirir um rico depósito das
riquezas de Cristo. Watchman havia decidido ler 19
capítulos no novo testamento todos os dias. Apesar de
não ter cursado nenhuma escola teológica, a sua
capacidade de compreensão e discernimento dos escritos
bíblicos e dos livros espirituais eram fenomenais. Em sua
juventude, o jovem pregador estava rodeado dos
melhores livros cristãos, tendo uma coleção de 3000
livros.
Nee era firme quando dizia “que se um homem não
testemunhar pelo Senhor durante o primeiro impacto de
sua fé, ele provavelmente jamais dará um testemunho em
toda a sua vida”. Ele sabia do poder sedutor e paralisante
que esse mundo desferia contra os novos convertidos.
Esse jovem promissor tinha abandonado tudo por causa
da obra de Cristo e estava se alimentando da palavra de
Deus todos os dias de sua vida. Nee dizia que “os cristãos
mais jovens devem laborar na palavra de Deus para que,
quando crescerem, possam receber a nutrição que ele
proporciona e suprir outros com as riquezas que ela
contém”. Ele já achava que a sua geração era fraca com
respeito ao estudo da palavra, por isso a sua esperança se
encontrava nos jovens. Assim ele cria, e assim ele o fez.
134
A PRIMEIRA DURA PROVAÇÃO
“Senhor, farei algo por ti. Se quiser que leve suas boas
novas às tribos que ainda não foram alcançadas,
inclusive no Tibete, estou disposto a ir; mas não posso
fazer isto que me pede.”
135
Charity seria a sua esposa, mas Deus tinha que tratar
profundamente com o coração do seu servo naquele
momento. Por fim, vendo Nee à falta de interesse de
Charity pelo Senhor, entendeu o preço que deveria ser
pago se ele quisesse ser usado por Deus. Cheio de
tristeza em seu coração, Nee desistiu de pensar naquela
que ocupava a sua mente. Foi para o seu quarto e
entregou o assunto ao seu Senhor, e nessas
circunstâncias, ele escreveu um lindo poema chamado
“amor ilimitado”.
136
A DEDICAÇÃO
137
quando as chamas estão a separar a ferrugem do que é
precioso. Aquele jovem poderia se rebelar contra a
vontade do Senhor em suas noites escuras, mas ele
preferiu amá-lo mais do que a si mesmo. O seu
testemunho é forte diante das aflições: “Os arranjos de
Deus são perfeitos. Ele sabe que tipo de sofrimento cada
um precisa. Quando Deus em sua sabedoria os faz chegar
a nós, porque vê que precisamos deles, regozijemo-nos e
procuremos ver o Senhor neles”, dizia Watchman.
Por toda a sua vida, um espinho na carne sempre o
seguiu. Ele sofria de tuberculose. Um dia, enquanto
esperava o resultado dos exames, ouvira seu médico
dizer: “Pobre sujeito; veja só isso! Lembra-se do último
caso que tivemos com um quadro semelhante a este?
Dentro de seis meses estava morto”. Aquela situação o
abateu profundamente. Uma agonia mental estava
afligindo aquele pobre servo do Senhor. As densas trevas
estavam se apoderando dele naquele momento. Como
disse um dos seus biógrafos. “Tinha tido tantos planos,
tantas esperanças de grandes coisas. Agora Deus lhe dizia
que não”.
Os efeitos depressivos da doença perturbavam a
sua mente. No mais profundo do jardim escuro da sua
alma, vozes interiores o relembravam do futuro brilhante
que teria se não houvesse desistido de tudo por Cristo.
Até o seu ministério próspero havia sido jogado fora e
para quê? O que você ganhou com isso? Deus te
responde às vezes, mais outras ele fica em silêncio.
Watchman começava a se comparar com outro colega de
ministério que tinham sido abençoado poderosamente por
Deus. Essas vozes diziam: “ele parece um cristão tão feliz,
138
tão satisfeito, tão convicto. E você assim? Dê uma olhada
para si mesmo?” Os ataques do inferno caiam de uma
forma esmagadora sobre o abatido servo de Deus.
Aquilo que começara como uma leve dor no peito
se transformara em uma angustia sem fim. Eram febres à
tarde e transpirações a noite que não o deixava dormir. O
ministério da palavra era desenvolvido por um extremo
esforço de sua parte que o debilitava ainda mais. Anos
mais tarde, abatido e sofrendo pelas consequências da
tuberculose em seu franzino corpo, Nee teve um encontro
com o antigo professor que, vendo o seu estado físico,
ficou alarmado pela situação deprimente que aquele
jovem brilhante dos tempos da escola se encontrava. Em
suas próprias palavras ele descreve aquele triste
encontro:
139
direito na escola, perguntando: "Ainda se encontra
nestas condições, sem êxito, sem progresso, sem
qualquer coisa que possa mostrar?”.
Mas naquele mesmo momento — e tenho que
reconhecer que foi a primeira vez em toda a minha vida
que isto aconteceu — conheci realmente o que significa
ter o "Espírito da glória" repousando sobre mim. Só
pensar que eu pudesse derramar a minha vida por amor
do meu Senhor inundou a minha alma de glória.
Nada menos do que o próprio Espírito da glória pairava
então sobre mim. Pude olhar para cima e, sem reservas,
dizer: "Senhor, eu louvo o Teu nome! Isto é a melhor
coisa possível; é a carreira acertada que eu escolhi!" Ao
meu professor, parecia um desperdício total eu dedicar
a minha vida ao serviço do Senhor; mas é justamente
isto que o Evangelho faz — nos leva a avaliar de
maneira certa o valor do nosso Senhor.”
140
estava esmagando para que o óleo precioso fosse
produzido. No leito de enfermidade, quando Nee orava ao
Senhor, recebeu três palavras que o levou a agarrá-las
pela fé e se levantar para ser usado ainda mais por Deus:
141
jovens.” A benção da pressão estava sendo operada na
vida de Watchman Nee e hoje podemos ver o quanto ele
produziu para a salvação de almas e fortalecimento da
igreja.
O MINISTÉRIO NA ADVERSIDADE
142
insultos morais contra Nee em um jornal de alcance
nacional usando um chinês erudito. E se isso não
bastasse, folhetos contendo depreciações contra
Watchman era distribuído nos círculos cristãos. O gosto
da maledicência experimentado por ele fora demais
amargoso. Uma testemunha disse que aquilo que ele
havia lido nesses folhetos era tão vil que após queimá-lo
sentiu uma necessidade de tomar banho. Nee mergulhou
numa profunda depressão retirando-se para o seu quarto
se isolando de todos.
Entretanto, várias experiências alentadoras viriam
para tirar-lhe desse estado. O refrigério de Deus era
derramado sobre o seu servo através de amigos que,
naquela hora de angustia, não estavam sendo negligentes
em seu cuidado para com o abatido Nee. Diferente das
atitudes daqueles três discípulos com Cristo, os seus
amigos o ajudaram na dura opressão da noite escura. “O
que importa o que dizem?”, disse uma de suas amigas.
“Nenhuma arma forjada prosperará contra ti, toda língua
que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás”, disse
outra irmã.
A vida de Watchman sempre esteve cercada de
duras críticas injustas. Ele foi atacado fortemente pelas
missões estrangeiras que trabalhavam na China. Fora
acusado de heresia e de fomentar dissensões. Esses
ataques vindos de irmãos na fé o fizeram sofrer ainda
mais. Um missionário reconhecido na China, resolveu
criticá-lo publicamente o acusando de “atrair multidões de
discípulos a si mesmo”, ao se auto intitular apóstolo.
Diante desse problema, outro chinês escreveu um folheto
dizendo que “Watchman tinha acesso a um constante
143
fluxo de fundos estrangeiros com os quais sustentava seu
trabalho e atacava até mesmo sua integridade no uso
desses fundos”. E as críticas só se multiplicavam sobre
ele. O que vale notar nesses casos de difamação é que
tudo era feito de uma forma pública e de nível nacional.
Um provérbio chinês era invocado nessa situação em que
Nee se encontrava constantemente: “Aquele que levanta
a cabeça acima das cabeças dos outros, mais cedo ou
mais tarde será decapitado”. E como esse provérbio se fez
real no ministério de Nee. Ele viveu a realidade que Paulo
escreve em 2 Timóteo 3:12, “todos aqueles quanto
querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos”.
Diante dessas situações, Nee preferia sair perdendo
a se defender das acusações. A dignidade dos irmãos
acusadores estava acima de sua própria dignidade. E
reprimindo esses sentimentos, retirou-se da cidade onde
vivia e se afastou do ministério da pregação. Um amigo o
encontrou em profunda depressão novamente e o ajudou
naquela hora de dificuldade. Essas circunstâncias eram
constantes na vida desse servo de Deus, e como um
homem comum, ele sentia o esmagar dos sentimentos
feridos pelos ataques de nosso inimigo. É principalmente
com aqueles que se colocam debaixo da vontade de Deus,
o amando mais do que a si mesmo, que maledicências,
injurias, dores, aflições, traições serão colocadas em seu
caminho. Mas Deus os fortalecerá, e, assim como Nee,
todos os que se encontram debaixo da prensa devem
louvar àquele que é soberano sobre a sua situação.
144
A NOSSA MALIDICÊNCIA
145
preparada, assim como seus líderes, para o que estava
por vir.
146
Na última noite voltaram a rogar a Nee que não
retornasse. "Se voltar, pode significar o fim", disseram-
lhe. Mas Nee tinha recebido um telegrama dos anciões de
Xangai informando-lhe de seus muitos problemas e
rogando-lhe que voltasse o quanto antes possível. Mesmo
assim, os irmãos insistiram pela última vez a que não
retornasse. Nee exclamou: "Não tenho cuidado da minha
vida! Se a casa está caindo e meus filhos estão dentro,
devo sustentá-la até com a minha cabeça se for
necessário".
O que predissera seus cooperadores, acontecera a
Nee. O governo comunista o prendeu na Manchúria em
1952, o acusando de ser espião dos estrangeiros, “o tigre
capitalista à margem da lei, que tinha cometido os cinco
crimes especificados contra a corrupção no comércio.”
Falsas acusações vinham de todos os lados sobre ele:
espionagem, capitalista ilegal, traidor da nação, o lacaio
dos imperialistas, vagabundo dissoluto, efeminado sem
vergonha, indiscriminado, devasso antirrevolucionário e
adúltero desavergonhado. Aproveitando essas acusações
contra Nee, o governo disseminou uma propaganda
nacional cruel e destruidora no seu diário de libertação
nesses termos:
147
donativo era apresentado, desde um humilde
trabalhador que tirava a camisa e a jaquetinha do seu
filho em choro. No andar de baixo, para a qual se
estendia o receptáculo, o rótulo era diferente: “Para a
obra da contrarrevolução”. Aqui, da extremidade do
funil, uma corrente de ouro e prata, relógios e joias e
donativos de dinheiro fluíam para os pés do admirado
Nee To-Sheng, que se punha à vontade com uma
prostituta sentada no seu colo”.
148
15 anos de prisão, com reforma mediante trabalhos
forçados, a partir de 12 de abril de 1952.” Porém,
Watchman sofreu longos 20 anos numa prisão comunista
na China. Ele poderia ter sido solto 5 anos antes, mais o
cruel e injusto sistema de Mao Tse-Tung negou esse
privilégio ao já idoso obreiro de Cristo.
Quantas privações. Quantas noites mal dormidas.
Quantas dores por causa das enfermidades. Quantas
batalhas contra o desânimo e desesperança. Quantas
perdas. Quantas traições. Quantas angústias naquela cela
fria e apertada o já ancião sofreu sozinho. Em seus
últimos dias de vida pesava apenas 45 quilos. Valeu
realmente a pena todo esse sofrimento pelo evangelho? A
sua esposa sofrera um acidente e veio a falecer, e Nee
recebe na prisão essa amarga notícia. Imagine a dor na
alma daquele debilitado servo do Senhor. Mas diante de
toda essa aflição, um preso estrangeiro de outro pavilhão
testemunhava cânticos que quebravam o silêncio
desafiando a opressão maligna. Esses cânticos vinham da
cela daquele idoso prisioneiro. Eram hinos compostos pelo
próprio Nee, misturados com textos bíblicos que se fazia
ouvir naquela prisão comunista. Letras como essas
saíssem de seus lábios:
149
A longa jornada estará findando”.
O SACRIFICIO DE LIBAÇÃO
150
presença do Senhor. Morreu sozinho. Longe da igreja, de
sua família, de seus amigos, de sua amada Charity, e de
sua preciosa Bíblia.
Watchman fora cremado e suas cinzas foram entregues a
sua sobrinha, que o enterrou ao lado de sua esposa. Um
tempo antes, Nee havia escrito uma carta que dizia que,
mesmo diante de tanta restrição, sofrimento e dor
descobriu o segredo da alegria. Aquela alegria que
ninguém poderá nos tirar. Antes de sua sobrinha partir,
um funcionário do campo mostrou-lhe um papel que tinha
encontrado debaixo do travesseiro daquele idoso
prisioneiro. Várias linhas escritas com palavras de letras
grandes, escritas com mãos trêmulas. O papel dizia:
PALAVRAS PROFÉTICAS
151
Mas os céus festejaram quando as portas se abriram para
que aquele amado servo do Senhor entrasse na glória.
Ele, como muitos outros, são daqueles que, na última
parte do desfile de honra dos soldados vencedores da
guerra, surgem diante da plateia. Deram tudo o que
puderam para estabelecer o reino de seu Senhor. Foram
duramente feridos por amor. Totalmente esmagados pela
pressão. Ficaram firmes nas tentações da noite escura da
alma. Carregam em seus corpos as marcas da dura guerra
e são recebidos com dupla honra, pois alcançaram uma
superior ressurreição.
152
Conclusão
A Glória Futura
153
de nossos irmãos do passado e do presente, o sentimento
de solidão, abandono e confusão serão comuns quando
estivermos cruzando o Cedron a caminho do Getsêmani.
Como será difícil para os filhos de Deus estarem sendo
esmagados pela pressão de um Deus amoroso. Mas é
preciso. Jó conhecia a Deus por ouvir falar. Somente
quando a noite escura o alcançou que ele pôde
contemplar a beleza da face do Criador e dizer que, agora
os seus olhos o contemplavam.
Watchman Nee disse que “aquele que sobe a cruz
e se recusa a beber o vinho com fel é aquele que conhece
o Senhor”. Seremos tentados a nos entorpecer para que
as nossas dores sejam aliviadas. Os antigos ídolos nos
seduzirão novamente quando estivermos debaixo da
pedra de moinho. Cristo se recusou a suavizar a realidade
daquela situação. Ele sabia que a glória resultaria da
totalidade das experiências que o Pai lhe reservou. Era
para um bem maior que Ele suportou a duras provações.
Paulo dizia que “os nossos sofrimentos leves e
momentâneas estão produzindo para nós uma glória
eterna que pesa mais do que todos eles.” (I Cor.4:17).
Meu querido leitor sei que é difícil aceitar essas
palavras quando o fogo de Deus está nos provando. O
que faremos então? Recolheremos a nossa mão diante da
chama? Com essa atitude preservaremos a nossa alma.
Mas nós continuaremos os mesmos e Deus ainda será um
estranho.
A palavra desperdício significa dar mais do que é
necessário. O mundo lhe dirá que sua vida tem sido
desperdiçada por uma coisa inútil. Ele o levará a
transformar as pedras em pães para uma satisfação
154
rápida lhe trazendo um alivio momentâneo. Ele lhe
conduzirá ao pináculo e lhe mostrará o que você está
perdendo cometendo a loucura de se consagrar a Deus.
Ele lhe mostrará que o prazer e a felicidade é a razão de
nossa existência. Na verdade, desperdício é rejeitar a
disciplina de Deus por causa de uma satisfação
passageira.
Olhando para a vida de Moisés, que desperdício
seria para o mundo se ele preferisse desfrutar os prazeres
do pecado por algum tempo, rejeitando, por amor de
Cristo, ser desonrado com tal atitude. Que desperdício
seria para a igreja, se Bunyan se recusasse a sofrer numa
prisão por causa da pureza do evangelho. Que desperdício
seria para nós, se Watchman Nee escutasse as palavras
do mundo na voz de seu professor e abandonasse o seu
ministério. Quantos Demas têm na história da igreja que,
amando o presente século, abandonaram o Senhor.
Quando lemos as biografias dos heróis da fé em
Hebreus 11, todos, sem exceção, tinham certeza daquilo
que esperavam e a prova das coisas que não podiam ver.
Seus sofrimentos não foram em vão. Uma riqueza maior
do que tudo aquilo que esse mundo pode oferecer estava
sendo preparada para eles em Cristo. Eles contemplavam
a recompensa de suas provações. Em toda noite escura
da alma haverá uma manhã de ressurreição. A vida
desperdiçada será seguida por uma vida ganha. Tudo o
que você perdeu para esse mundo será restituído em
glória no presente e muito mais no futuro.
Jim Elliot, missionário na floresta amazônica,
desperdiçou a sua vida juntamente com outros quatro
amigos para alcançar um grupo indígena violento que
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nunca haviam tido contato com a civilização. Com a idade
de 29 anos, Elliot e seus colegas foram violentamente
mortos pelos índios huaoranis. Esse grande homem de
Deus tinha um lema e por ele vivia. Ele dizia que “aquele
que dá o que não pode manter, para ganhar o que não
pode perder, não é um tolo”. O interessante na vida desse
jovem é o fato de David Brainerd ser aquele que o
inspirou a ter sua vida consumida por Cristo, não
importando se ela seria longa ou não.
Muitos desses homens e mulheres não viram o
resultado de seus sofrimentos. Davi ajuntou material para
que seu filho, debaixo de um tempo de paz, construísse o
templo. Ele não viu o resultado de suas batalhas e
cicatrizes advindo delas. Mas Deus o honrou. Assim
também com esses servos. Muitos deles nem os seus
nomes sabemos. Muitos que estão enterrados nos
escombros da história reivindicam, diante do Pai, a honra
que lhes é devida. E o Pai e o Cordeiro aguardam
pacientemente o dia em que todos dobrarão os joelhos
diante de sua glória, e ao seu lado, em lugar de honra e
destaque, estarão aqueles que estabeleceram o reino de
Deus e do seu Cristo sobre uma terra hostil e cruel
através da esmagadora pressão das circunstâncias. A
igreja colhe os frutos produzidos por Cristo, Brainerd,
Bunyan, Elliot, Watchman Nee e tantos outros que
sofreram calados no longo inverno em que eles se
encontraram.
Hoje podemos enxergar mais longe porque o
resultado da prensa que foi produzido em noites de
escuras experiências nas vidas desses servos foi
dispensado a nós. Os azeites produzidos por essas
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azeitonas nos iluminam nas nossas noites escuras. Era
preciso tudo aquilo que eles passaram? Olhando nesse
momento para o passado, e contemplando o grande
número de testemunhas que através da noite escura de
Cristo foram produzidos para o bem da igreja e deste
mundo, podemos dizer que sim! Contemplando a China de
hoje, não há igreja que cresça mais nesse mundo do que
aquela igreja sofredora. Foi através de uma linhagem
sucessora de homens em provações, apresentando-se à
Cristo como oferta de libação, que esse mundo pode obter
os seus maiores tesouros. Eram considerados como
escória, o lixo do mundo. Mas na verdade o mundo que
não era digno deles.
Agora, será que é preciso nós passarmos por todas essas
experiências que eles passaram? Sem dúvida é preciso.
Como disse Bunyan, “em alguns países, ás arvores
crescem, mas não produzem frutos, pois não há inverno
ali”.
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UM HINO CHINÊS
Autor desconhecido
158
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