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O CEDENTE NA DUPLICATA MERCANTIL

Nos Tabelionatos de Protesto de Títulos onde a apresentação dos títulos e documentos


representativos de dívidas ainda se dá através de papéis, e não de forma eletrônica (envio de
informações via internet ou por meio de disquetes), é comum a apresentação de duplicatas
mercantis onde figuram, de um lado, o sacado (devedor) e, de outro, o sacador (o emitente,
que é o vendedor da mercadoria e ao mesmo tempo o credor originário).

Normalmente, quando há endosso mandato, o apresentante é, via de regra, uma instituição


financeira, competindo a esta tão-somente realizar o serviço de cobrança, mas não lhe
outorgando a posição de titular do crédito, diferentemente do que ocorre com o endosso
translativo.

Convém esclarecer que o padrão das indicações de duplicatas mercantis utilizado pelas
instituições financeiras faz constar, ainda, a pessoa do cedente. Problemas não existem
quando esta pessoa se confunde com a do sacador. Outrossim, há casos em que a pessoa do
cedente não coincide com a do sacador e aí pode começar a ser gerada certa insegurança. Isto
porque é necessário que se saiba (i) quem é esta pessoa estranha à relação que deu causa à
emissão do referido título de crédito – o cedente, e (ii) se houve alteração na titularidade do
crédito?

Procurando suscitar a questão para discussão, mas não encerrá-la, realizam-se as seguintes
ponderações:

1ª. PRINCÍPIO DA LITERALIDADE: Este princípio está previsto no art. 887 do Código
Civil e significa que só tem valor o que consta do título e tudo o que dele consta tem um
significado.

Para melhor situar a matéria, vale-se dos ensinamentos de OLIVEIRA 1, o qual afirma que a
literalidade tem a ver com a forma do título, da adequação à forma legal, considerada como o
ponto máximo atingido pelo formalismo dentro do direito. Para o renomado jurista, a
literalidade importa em caracterizar como título de crédito o documento adequado ao modelo
legal. Ao revés, a ausência de um requisito essencial o desnatura e lhe retira a condição de
cambial, não passando de mero princípio de prova, não ensejando o exercício do direito
creditício por si só.

Ainda, por literalidade compreende-se que o direito que emana da cártula tem seu conteúdo e
seu limite estabelecidos no que dela consta expressamente, nem mais, nem menos. Isto serve
para dar segurança aos envolvidos no título e a terceiros. Assim, a todos aqueles a quem o
título for apresentado poderá ser dado conhecer da relação creditícia.

Através desta idéia, constata-se que o Tabelião de Protesto, no momento em que verifica os
requisitos do título a ele apresentado, precisa definir, também, quem é o obrigado pelo
cumprimento da obrigação (devedor) e quem é o beneficiado (credor).

Neste caso, nas duplicatas mercantis onde consta como sacador uma pessoa e como cedente
outra, é preciso que se defina, com precisão, quem é o credor. Pondera-se que a Lei das
1
OLIVEIRA, Jorge Alcibíades Perrone de. Títulos de crédito: doutrina e jurisprudência. Vol. 1, 2. ed. rev. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 20.
Duplicatas (Lei nº 5.474/68) não prevê a figura do cedente. De conseqüência, apenas a
aposição desta pessoa no título não tem o condão de alterar a relação creditícia original,
continuando a serem considerados o sacado como o devedor, e o sacador como o credor e isto
deverá ser levado em consideração no momento do cancelamento do protesto.

2ª. ENDOSSO: Cabe, aqui, esclarecer que a principal forma de transferência do crédito
representado por uma duplicata mercantil é o endosso, aliás, a mais usual, e que ocorre pela
simples aposição da assinatura do sacador no verso do título, se em branco, ou até mesmo no
anverso, se em preto.

É permitido o endosso de duplicatas porque são títulos de crédito à ordem (art. 2º, §1º, VII da
Lei nº 5.474/68 c/c arts. 910 ao 920, do Código Civil). Logo, se efetivamente ocorreu a
transferência do crédito, da duplicata (original) apresentada no Tabelionato de Protesto de
Títulos deverá constar o endosso, ou, se apresentada por indicação, que conste referência ao
endossou ou à figura do endossatário, mas não a do cedente. Não é possível, porém, equiparar
o endossatário ao cedente, porque não há definição legal ou normativa neste sentido.

3ª. CESSÃO DE CRÉDITO: Outra forma através da qual alguém transfere um crédito para
outrém é a cessão de crédito, a qual está prevista nos arts. 286 e seguintes do Código Civil.
Ocorre que, para que este negócio jurídico tenha eficácia perante terceiros, e torna-se
fundamental esta eficácia para que seja levado ao protesto, uma vez que dele será gerada
publicidade erga omnes, é necessária a observância do art. 288 do Código Civil, que exige ou
a escritura pública, ou o instrumento particular que contenha a indicação do lugar onde foi
feita a cessão, a qualificação do cedente e do cessionário, a data e o objetivo do negócio e as
assinaturas das partes. Observa-se que o art. 288 não exigiu o registro do instrumento da
cessão no Registro de Títulos e Documentos (art. 127, I da Lei nº 6.015/73) para que a
eficácia seja gerada perante terceiros, mas apenas a existência de um contrato formal.

Desta forma, se se pretender considerar o cedente de uma duplicata mercantil como o


verdadeiro credor, mas não a pessoa do sacador, será imperioso comprovar ao Tabelião de
Protesto de Títulos a observância da formalidade prevista no art. 288 do Código Civil.

É sabido que nas indicações de duplicatas mercantis as instituições financeiras inserem o


cedente porque, em não raras vezes, é ele que leva o título para cobrança, tendo-o negociado
anteriormente com o sacador. Todavia, se esta negociação não observou algumas das formas
previstas – endosso ou cessão de crédito – não se terá transmitido o crédito, não sendo
possível considerar o cedente como o credor. O agir em sentido contrário significa a não
observância da legislação, o que pode ensejar responsabilização pela imperícia.

Importa destacar as diferenças entre o endosso e a cessão. No magistério de OLIVEIRA 2, O


endosso é unilateral; a cessão é bilateral; o endosso confere direito autônomos; a cessão,
apenas direitos derivados; o endosso só se faz mediante declaração na própria letra(ou no
alongamento, mas de qualquer forma unido ao título), e a cessão pode ser realizada do
mesmo modo que qualquer contrato.

Com isso, dos instrumentos de protestos lavrados, de duplicatas mercantis que apresentem
estas características (sacador uma pessoa e cedente outra), salvo melhor juízo, não é correto
fazer constar como credor a pessoa do cedente. Sugere-se que, nestes casos, se faça constar

2
Op. cit., p. 88.
que o credor originário é o sacador, e que o cedente é a pessoa indicada no título (apenas
indicar o seu nome ou denominação), mas sem declarar que o credor é o cedente. Assim, o
registro do protesto informará a mesma coisa que o título, ou seja, o cedente será apenas o
cedente. O que ele representa somente o apresentante ou o sacador poderão afirmar e, se for o
caso, comprovar através do endosso ou da cessão de crédito.

Apresentadas duplicatas mercantis contendo as referências citadas, sugere-se aos Tabeliães de


Protesto de Títulos, que solicitem os esclarecimentos devidos. Isto é salutar prevendo o
momento do cancelamento do protesto, pois poderão ser evitadas discussões futuras se o
Tabelião agiu, ou não, corretamente.

Realiza-se este comentário porque alguns Tabelionatos de Protesto fazem constar do


instrumento de protesto o cedente como o credor e exigem que, nestes casos, o devedor
necessite comprovar tanto a anuência do sacador como a do cedente - embora seja apenas um
o titular do crédito - , o que pode provocar, em tese, um dano ao devedor, pois, tendo a
anuência do (verdadeiro) credor, não há motivos para que a quitação regular não opere efeitos
imediatos e enseje o cancelamento do protesto. De outro lado, a realização do cancelamento
do protesto com base numa quitação irregular, dada por quem não tinha o crédito, também
pode gerar problemas para o Tabelião, porque poderá ter de satisfazer o crédito do
(verdadeiro) credor que viu o protesto ser cancelado sem ter tido satisfeito o seu crédito.

Conclui-se afirmando que não é correta a exigência da obtenção de anuência de quem não seja
efetivamente o credor, fazendo com que se exija o prévio conhecimento de quem é
efetivamente esta pessoa. Ressalta-se que, pela lei, o credor de uma duplicata mercantil só
pode ser ou o sacador, ou o endossatário, ou o cessionário.

Campinas do Sul-RS, 17 de janeiro de 2008.

Tiago Machado Burtet


Tabelião de Protesto de Títulos

BIBLIOGRAFIA

OLIVEIRA, Jorge Alcebíades Perrone de. Títulos de Crédito: doutrina e jurisprudência. Vol.
1. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996.

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