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ISSN: 2448-2900
Seminário Regional de Pesquisa e Inovação em Segurança Pública (1.: 2015: Florianópolis, SC).
Anais do I Seminário Regional de Pesquisa e Inovação em Segurança Pública, 20 e 21 out.
em Florianópolis, SC. / coordenação Jorge Eduardo Tasca, Augusto César da Silva, Elaine
Aparecida Teixeira Pereira, Florianópolis, PMSC, 2015.
ISSN: 2448-2900
1. Segurança pública. 2. Pesquisa. 3. Inovação. 4. Polícia Militar (SC). I. Tasca, Jorge
Eduardo II. Silva, Augusto César da. III. Pereira, Elaine Aparecida Teixeira. IV. Título.
CDD – 363.2
COMITÊ CIENTÍFICO
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EQUIPE DE TRABALHO DO ISEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO
EM SEGURANÇA PÚBLICA: OS 50 ANOS DO CENTRO DE ENSINO DA POLÍCIA
MILITAR DE SANTA CATARINA
COORDENAÇÃO DO EVENTO
ORGANIZAÇÃO DO EVENTO
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SUMÁRIO
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ATENÇÃO AO DIRIGIR: DETERMINAÇÃO LEGAL
OU OPÇÃO PELA VIDA?
RESUMO: Segundo o IPEA (BRASIL, 2015, p. 11), mais de 32% dos acidentes
de trânsito ocorridos nas rodovias federais brasileiras têm como causa a
falta de atenção. Este trabalho visa alertar os órgãos e os condutores sobre a
importância de se analisar as causas das ocorrências de acidentes, podendo
melhor direcionar esforços estatais. O estudo foi dividido em: introdução,
dados estatísticos, classificação dos acidentes, causa dos acidentes, análise e
considerações finais. Verificou-se a necessidade de desenvolver campanhas
educativas voltadas à condução atenciosa de veículos automotores, bem como
maior fiscalização para que os ditames legais afetos à área sejam obedecidos.
Estudar os acidentes de trânsito permite identificar pontos a serem abordados
em ações dos órgãos de trânsito, promovendo a tão almejada segurança viária.
1 INTRODUÇÃO
Há anos, os estudiosos que se dedicam à área de trânsito vêm afirmando que a expres-
siva maioria dos acidentes de trânsito no Brasil ocorre por conta das ações irresponsáveis do
homem, quando na direção de veículo automotor. Rozestratem (1988, p. 8) afirmava: “peça de
maior importância no sistema de trânsito, o homem é o subsistema mais complexo, no qual há
muitos fatores em jogo. Por isso é a maior fonte de acidentes”.
O autor Waldyr de Abreu (1989, p. 9) indica essa (ir)responsabilidade com percentuais:
“as melhores estatísticas estão demonstrando que mais de 60 a 80% dos acidentes de trânsito
ocorrem por conta de erros dos motoristas, embora não raro em concurso com a estrada e o
veículo inseguros”.
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A atenção é fundamental para quem se encontra no trânsito, como vemos nas pala-
vras de Rozestraten (1988, p. 22): “tanto o motorista quanto o pedestre devem estar atentos ou
vigilantes e em busca de estímulos que podem ser importantes para seu comportamento no
trânsito”.
A necessidade da atenção no trânsito é reforçada por Santos (2007, p. 15), quando com-
para a condução nos mais diversos tipos de transporte:
O autor faz a afirmação quando observa que em todos os outros meios de transporte –
trem, avião e navios – existem outras pessoas, equipes e mesmo sistemas de monitoramento que
auxiliam na condução, enquanto a condução do veículo automotor em vias terrestres abertas à
circulação é feita somente pelo motorista.
O mais interessante nesse contexto é que mesmo o condutor sabendo que está no trân-
sito com parcos recursos para lhe auxiliar, ainda ignora alguns dos elementos de ajuda, como a
sinalização de trânsito, a qual deixa de dispensara atenção necessária para vê-la, interpretá-la e
aplicá-la na condução de seu veículo.
Biavattie Martins (2007, p. 36) apontam para a necessidade de as pessoas passarem a
assumir a responsabilidade pelo trânsito e pelos transtornos que causam:
Em vez de continuar dizendo que todo acidente é “um acidente”, a gente deveria
começar a ir atrás das responsabilidades, ou das irresponsabilidades, de cada um. E
descobriríamos que o tal acidente não teve uma causa apenas. Pelo contrário, a maior
parte dos acidentes nas cidades e estradas acontece pela combinação de várias coisas
em um momento decisivo, e muitas delas estão ligadas a uma ação humana.
2 DADOS ESTATÍSTICOS
A Polícia Rodoviária Federal – PRF – cataloga as informações de acidentes de trânsito
ocorridos nas rodovias federais de todo o território nacional. Porém, para que seja possível uma
análise mais aproximada, entende-se por bem promover a busca de informações referentes ao
Estado de Santa Catarina.
Além dessa delimitação do escopo, ainda se junta à necessidade da determinação tem-
poral da busca. Para isso, utilizaram-se dados dos meses de janeiro, fevereiro e março dos anos
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de 2014 e de 2015, período no qual o fluxo de veículos no território catarinense aumenta con-
sideravelmente, em virtude da temporada de verão e da presença de turistas de diversas regiões
brasileiras, bem como de países vizinhos, como Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. Na mes-
ma esteira, foram utilizados dados de dois anos diversos e consecutivos para determinar que são
constantes ou que ocorrem com periodicidade.
Assim, apresentam-se dois quadros com as primeiras informações estatísticas:
Tabela 1: Total de Acidentes ocorridos em Santa Catarina – 1º trimestre
Ranvier Feitosa Aragão (2011, p. 106) tem definição um pouco diversa para caracteri-
zar um acidente de trânsito ou de tráfego:
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Essa última definição é um pouco mais complexa, porém, talvez seja a mais interes-
sante para o presente estudo, pois bem caracteriza um acidente de trânsito e algumas de suas
nuances, já que leva em consideração que um acidente pode ser previsível, muito embora seja
inevitável do ponto de vista da segurança imposta pelos órgãos de trânsito.
Ocorrido o acidente, há necessidade de se realizar o levantamento do local, para que
possam ser registradas todas as informações referentes ao evento. Assim, temos:
Aqui surge uma informação que pode ser importante para o presente estudo, uma vez
que nem todos os acidentes são devidamente registrados junto aos órgãos de trânsito, existindo
a chamada subnotificação, ou seja, aqueles acidentes que sequer chegam ao conhecimento das
autoridades. Nas palavras de Biavatti e Martins (2007, p. 35), “um carro que bate em outro num
cruzamento, mas só quebra um farol, não é contado como acidente, porque raramente alguém
registra isso”.
Não há como se precisar o quantitativo dessa subnotificação. Dessa feita, fica ainda
mais claro o alcance da pesquisa, pois serão considerados os atendimentos de ocorrências de
acidente de trânsito que foram devidamente registrados pela Polícia Rodoviária Federal.
Assim, temos os tipos de acidentes, os quais, segundo a PRF (BRASIL, PRF, 2015a, p.
11), podem ser:
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- Tombamento;
- Colisão:
Transversal;
Com objeto estático;
Com objeto móvel;
Frontal;
Lateral;
Traseira;
- Engavetamento;
- Derramamento de carga;
- Incêndio;
- Queda de ocupante de veículo;
- Saída de pista;
- Danos eventuais.
Como se vê, a lista é grande e tenta deixar bem claro o tipo de acidente ocorrido, divi-
dindo aqueles que são considerados mais comuns, ou seja, aqueles que mais ocorrem, de uma
forma que facilite a sua identificação logo pelo nome.
Mas como é que o Policial Rodoviário Federal, na ocasião do atendimento da ocorrên-
cia de acidente de trânsito define o tipo de acidente? Essa determinação vem descrita no próprio
manual, quando determina:
38. O tipo será determinado conforme a dinâmica do acidente. O policial deverá colher
todas as informações referentes ao caso: as diretamente acessíveis no local, as recebidas
dos participantes e das testemunhas, se houver, e as decorrentes dos vestígios materiais
encontrados. Ele deverá também observar detalhadamente as sedes de impacto das
unidades de tráfego envolvidas, a conformação dos danos e orientação das avarias,
quanto às direções longitudinal e transversal (BRASIL, PRF, 2015a, p. 11).
- Fator Humano;
- Fator Veículo;
- Fator Via;
- Fator Meio Ambiente (BRASIL, PRF, 2015a, p. 13).
Essa informação, segundo consta no Manual da PRF, servirá apenas para fins estatísti-
cos, não sendo apresentado no Boletim do Acidente de Trânsito, que é entregue aos envolvidos
em acidente. No entanto, segue aqui mais uma forma de se fazer juntar acidentes pelas seme-
lhanças dos prováveis fatores que contribuíram para o acidente de trânsito.
Já no Capítulo IV do Manual da PRF (BRASIL, PRF, 2015a, p. 14) temos relacionadas
as Causas Presumíveis dos acidentes de trânsito, como sendo:
- Animais na Pista;
- Defeito mecânico em veículo;
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- Defeito na Via;
- Desobediência à sinalização;
- Dormindo;
- Falta de atenção à condução;
- Falta de atenção do pedestre;
- Ingestão de álcool;
- Ingestão de substâncias psicoativas;
- Não guardar distância de segurança;
- Ultrapassagem indevida;
- Velocidade incompatível;
- Pista escorregadia;
- Obstáculo estático sobre a via;
- Carga mal acondicionada;
- Avaria no pneu;
- Deficiência ou não acionamento do sistema de iluminação/ sinalização do veículo;
- Sinalização insuficiente ou inadequada na via;
- Restrição de visibilidade;
- Fenômenos da natureza;
- Mal súbito.
Com isso entende-se que fica clara a forma como são catalogadas as informações refe-
rentes aos acidentes de trânsito por parte dos integrantes da Polícia Rodoviária Federal, órgão
que faz parte do Sistema Nacional de Trânsito, segundo consta no art. 7º, V combinado com o
art. 20, ambos do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997).
Registre-se que esse é o órgão que atende aos acidentes em todas as rodovias federais,
sejam elas da administração própria do Governo Federal ou mesmo aquelas que se encontram
sob concessão.
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Como se vê, determinar a causa do acidente não é ação simples. Trata-se de um exer-
cício bastante complexo que, além do conhecimento técnico, é necessária a preparação prática
do agente que efetivamente estará no local do acidente, para que possa verificar e interpretar as
marcas e “rastros” deixados no local.
3 ANÁLISE
Fazer uma avaliação dos dados disponibilizados pela Polícia Rodoviária Federal é im-
prescindível para que se possa entender a importância do estudo, bem como enfatizar o quanto
o fator humano, no que diz respeito à necessidade de atenção, interfere e dá causa aos acidentes
de trânsito.
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Assim, voltar-se-á aos dados dos acidentes de trânsito, só que agora de uma forma mais
complexa, para que possam ficar mais claras essas premissas.
Tabela 4: Acidentes ocorridos em Santa Catarina por tipo – 1º trimestre
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A pesquisa feita junto à Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina nos dois períodos
de estudos enumerou as dez principais causas de acidentes de trânsito, e numa décima primeira
colocou as “outras”, de menos importância em termos de número.
A segunda ocorrência de maior volume é a de “não guardar distância de segurança”,
sendo essa responsável por 616 (12,8% do total) acidentes no primeiro trimestre de 2014 e por
560 (13,1% do total), no mesmo período de 2015. Da mesma forma que a anterior, manteve os
percentuais do total de acidentes em valores muito parecidos.
A terceira maior causa de acidentes de trânsito nas rodovias federais que cortam o
território catarinense é a “velocidade incompatível”. No primeiro trimestre de 2014 foram 500
(10,3% do total) acidentes e no mesmo período de 2015 foram 395, ou seja, 9,2% do total das
ocorrências. Essa causa teve uma redução um pouco mais significativa.
Isso significa dizer que somente a causa “falta de atenção” é responsável por quase a
metade do total de acidentes de trânsito ocorridos nas rodovias federais de Santa Catarina nos
períodos sob análise. A soma de todas as demais nove causas (foi excluída a causa ‘outras’ por
ser indeterminada e ser a soma de várias) de acidentes de trânsito, enumeradas pela PRF de SC
no levantamento estatístico efetuado dá conta de 43,9% do total de acidentes em 2014 e 44,8%
em 2015.
Esse percentual não é diferente dos dados estatísticos apresentados pelo IPEA (BRA-
SIL, IPEA, 2015, p. 11), em recente pesquisa divulgada, quando aponta que a principal causa
desses acidentes, apurada pela PRF em todo o Brasil no ano de 2014, foi a “falta de atenção”,
sendo responsável por 32,6% do total registrado em todas as rodovias federais, como pode ser
verificado no gráfico abaixo.
Gráfico 1: Causa dos acidentes de trânsito no Brasil no ano de 2014 (em %)
É certo apontar que Santa Catarina está um pouco acima da média nacional, uma vez
que registrou 41,3% dos acidentes como sendo pela “falta de atenção à condução”, enquanto a
média nacional ficou em 32,6% do total de acidentes.
Não há como se ignorar os números apresentados, uma vez que demonstram o quanto
os condutores estão faltando com a atenção ao dirigir seus veículos.
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Esses estímulos acionam grande parte dos sentidos do homem, como: visão, audição,
tato, sentido estado-cinestésico e a cinestesia. (ROZESTRATEN, 1988, p. 18 e 19).
Como se vê, o condutor de veículos possui uma enorme gama de estímulos para que
possa conduzir com segurança.
Além disso, esse condutor passa a juntar outras fontes de informações à sua condução,
como sugere o próprio manual da Polícia Rodoviária Federal (2015a, p. 14), passando a falar ao
celular, manuseando equipamentos que não estão ligados à necessidade de condução veicular,
conversando com passageiros, realizando manobras inadequadas, manuseio errôneo do veículo
ou até mesmo de não observar os retrovisores, errar percurso, entre vários outros que poderiam
aqui ser elencados.
Isso leva a compreender que o condutor de veículo não pode acrescentar mais fontes de
informações e mais equipamentos ao veículo, os quais possam gerar estímulos distrativos para
o ato de dirigir.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo visou a levantar dados estatísticos junto à 8ª Superintendência de Polícia Ro-
doviária Federal, que tem como área de atuação o Estado de Santa Catarina. Neste estudo, veri-
ficou-se que a causa responsável por mais de 40% dos acidentes de trânsito em Santa Catarina,
no primeiro trimestre de 2014 e de 2015, é a “falta de atenção à condução” de veículo automotor.
Com base no Manual de Atendimentos de Acidentes da PRF, foram mostrados os con-
ceitos e definições utilizados para se chegar aos dados apresentados, convalidando assim os
números apresentados e permitindo uma análise mais acurada, chegando-se às seguintes con-
clusões:
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REFERÊNCIAS
ABREU, Waldyr de. Direção defensiva integral: a segurança ao seu alcance – motorista,
motociclista, ciclista ou pedestre. 2. ed. Rio de Janeiro – RJ: Interciência, 1989.
ARAGÃO, Ranvier Feitosa. Acidentes de trânsito: análise da prova pericial. 5. ed. Campinas –
SP: Millennium, 2011.
BIAVATI, Eduardo; MARTINS, Heloisa. Rota de colisão: a cidade, o trânsito e você. São Paulo
– SP: Berlendis&Vetecchia, 2007.
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SANTOS, Cirlano Martins dos. Não se envolva em acidentes de trânsito. Brasília – DF: ASOF,
2007.
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O EMPREGO DA ARMA DE FOGO NA
ABORDAGEM POLICIAL
1 INTRODUÇÃO
A Polícia Militar, como órgão de Segurança Pública, é a instituição responsável pelo
cumprimento da missão constitucional de preservação da ordem pública, tendo seus efetivos
empregados para promover a proteção da sociedade, sendo submetidos, frequentemente, ao
enfrentamento físico, psicológico e bélico contra a criminalidade que segue crescente em nossa
sociedade.
Nesta missão diária, poderá haver situações extremas em que a agressão sofrida pelo
policial militar, somente poderá ser neutralizada por intermédio do emprego da força letal. Pe-
rante esse risco, realizam-se abordagens utilizando a arma em punho.
É nesse quesito que se delineia a situação problema do presente artigo, pautada nos
seguintes questionamentos: o emprego da arma em punho durante a abordagem policial militar
1 Major da PMSC, Bel. Em Segurança Pública, Esp. em Gestão de Segurança Pública (UDESC), Mestre Eng. Civil
(UFSC), Doutorando em Arquitetura e Urbanismo (UFSC). Contato: miguel.pmsc@gmail.com
2 Cel. PMSC, Doutor em Direito pela UNISUL. Contato: depaula.giovani@gmail.com
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é realmente necessário, sendo uma questão de legítima defesa, amparado pela técnica e pela lei?
Ou esse emprego é uma praxe anacrônica, que estaria infringindo a lei sendo na verdade um
constrangimento ilegal e de abuso de autoridade?
Diante das perguntas de pesquisa expostas, têm-se como objetivo geral, verificar a ne-
cessidade e a real justificativa para o emprego da arma em punho durante a abordagem policial
militar. Para isso, foram realizados testes no sentido de comparar o emprego da arma no coldre
ao seu uso em punho.
As polícias devem assegurar o exercício pleno dos direitos e da cidadania e, para isso,
existem situações restritas que as leis autorizam o uso legal da força pela polícia. O emprego da
força, contudo, em nenhum momento poderá exceder os limites previstos, devendo respeitar os
princípios da legalidade, proporcionalidade, conveniência e necessidade. Os encarregados da
aplicação da lei somente recorrerão ao uso da força quando todos os outros meios para atingir
o objetivo legítimo tenham falhado, podendo ser o uso da força justificado quando comparado
ao objetivo legítimo.
Tendo em vista que as resistências e agressões existem nas mais variadas formas e graus
de intensidade, o policial terá que adequar a sua reação de forma proporcional e necessária, até
que cesse a agressão à vítima, não podendo em momento algum valer-se da força desproporcional
ou ilegítima. Observa-se o quanto complexa é a conduta policial, que como medida extrema e em
nome de uma vida, o policial poderá retirar a vida de outrem, através do emprego da força letal
2 A CONDUTA POLICIAL
Nas últimas décadas a atividade policial ficou cada vez mais difícil, entre outras razões
à profissionalização dos marginais, que cada vez mais contam com armas e equipamentos de
ponta, mais sofisticados que os da própria polícia.O aumento da violência, o desrespeito cres-
cente pela vida humana e a desestruturação familiar, tem tornado a atividade policial cada vez
mais arriscada, elevando-se o potencial de uso da força letal. (PAIXÃO, 2006).
O emprego de armas de fogo é uma medida grave em virtude de seus efeitos, contudo,
devem ser utilizados pelos agentes encarregados de aplicar a lei somente quando a circunstância
o exigir, para que possam manter ou restabelecer a ordem pública violada. (ROSA, 2006).
Segundo o autor, a utilização de armas de fogo exige dos policiais preparo técnico e
profissional, evitando-se assim, que pessoas inocentes sejam vítimas da repressão do Estado, que
deve estar voltada apenas contra àqueles que se dedicam à prática de delitos.
Nas palavras de Rosa (2006):
Os agentes responsáveis pela segurança pública, devem atuar com cautela ao utilizarem
a força representada pelo uso de arma de fogo ou outros instrumentos destinados à
preservação da ordem e de uso restrito das forças policiais. O uso das armas contra
as pessoas por parte dos agentes do Estado ou das entidades públicas constitui a mais
grave das medidas de coação direta, tanto por seus efeitos virtuais, normalmente
irreparáveis se não é por via indenizatória, como pelo grande problema de limites que
suscita dentro de um Estado que proclama entre seus direitos fundamentais, isto é,
fundamento da ordem política e da paz social, o direito de todos à vida e à integridade
física e moral. (p. 01).
Sírio (2007, p. 23) afirma ser abuso de autoridade qualquer ato de poder que atente
contra:
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O autor afirma ainda que autoridade é toda pessoa que exerce cargo, emprego ou fun-
ção pública de natureza civil ou militar, mesmo que transitoriamente e sem remuneração.
Não obstante, a lei expressamente se refere a abuso de autoridade, do que abuso de
poder. Neste sentido Santos (2003, p. 17) afirma que:
Dessa forma, no tocante a atividade policial, ao fazer o uso da arma de fogo de forma
descabida, ilegal ou até ameaçadora, tolhendo direitos, incorreria na prática do policial militar
o ato abusivo ou de abuso de poder.
No Brasil, a violência policial é um tipo relativamente raro no universo dos casos de
violência e um acontecimento relativamente raro no universo das interações entre policiais e
não-policiais. A violência policial, principalmente quando os responsáveis não são identificados
e punidos, é percebida como um sintoma de problemas graves de organização e funcionamen-
to das polícias. Esses problemas, se não forem solucionados particularmente em democracias
emergentes como o Brasil, podem gerar problemas políticos, sociais e econômicos sérios e po-
dendo contribuir para a desestabilização de governos e de regimes democráticos.
Também, não podemos deixar de citar o estrito cumprimento de dever legal, que só
será “estrito” se corresponder à real vontade da ordem jurídica, o que pressupõe a observância
dos direitos fundamentais, tanto pelo legislador quanto por quem executa o dever imposto em
lei. Assim, por estrito cumprimento de dever legal é preciso entender a qualidade do compor-
tamento que corresponde não ao mero sentido formal ou literal da lei, mas à sua interpretação
conformada aos princípios e fundamentos do sistema constitucional.
A pessoa investida do dever legal de agir tem que verificar, em primeiro lugar, qual
o verdadeiro comando que lhe cabe executar, conjugado a lei que o prevê com o conjunto da
ordem normativa e, em especial, os preceitos constitucionais consagradores dos direitos funda-
mentais do homem. Em segundo lugar, deve atuar utilizando-se apenas dos meios compatíveis
com o resguardo daquele núcleo de direitos invioláveis.
De acordo com o Art. 25 do Código Penal Brasileiro “entende-se em legítima defesa
quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminen-
te, a direito seu ou de outrem”. (BRASIL, 2007).
Relativamente ao fundamento da legítima defesa, Capez (2004, p. 270), afirma que “o
Estado não tem condições de oferecer proteção aos cidadãos em todos os lugares e momentos,
logo, permite que se defendam quando não houver outro meio”.
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Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Lima (2005) destaca que o emprego da força, com fins de atingir os objetivos legítimos
de aplicação da lei, deve ser considerado uma medida extrema. De acordo com o artigo 9º dos
Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo (ONU, 2007), os encarrega-
dos de aplicar a lei não usarão força letal contra indivíduos, exceto:
Art. 9 – [...] em caso de legítima defesa, defesa de terceiros contra perigo iminente
de morte ou lesão grave, para prevenir um crime particularmente grave que ameace
vidas humanas, para proceder à detenção de pessoa que represente essa ameaça e
que resista à autoridade, ou impedir a sua fuga, e somente quando medidas menos
extremas se mostrem insuficientes para alcançarem aqueles objetivos. Em qualquer
caso, só devem recorrer intencionalmente à utilização letal de armas de fogo quando
isso seja estritamente indispensável para proteger vidas humanas.
De acordo com o artigo exposto acima e com base nos ensinamentos de Lima (2006),
percebe-se que o uso letal intencional de força, somente poderá ser realizado em situações em
que forem estritamente inevitáveis para proteção a vida.
O policial, ao julgar necessário o emprego de arma fogo, de acordo com o artigo 10 dos
Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo (ONU, 2007), deverá respei-
tar certos procedimentos, sendo eles:
Art. 10 – [...] identificar-se como tal e fazer uma advertência clara da sua intenção
de utilizarem armas de fogo, deixando um prazo suficiente para que o aviso possa
ser respeitado, exceto se esse modo de proceder colocar indevidamente em risco a
segurança daqueles responsáveis, implicar um perigo de morte ou lesão grave para
outras pessoas ou se mostrar manifestamente inadequado ou inútil, tendo em conta as
circunstâncias do caso.
Conforme Rover (2005) e com fundamento no artigo 5º dos Princípios Básicos sobre
a Utilização da Força e de Armas de Fogo, sempre que o uso legítimo da força ou de armas de
fogo for indispensável, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem, entre outras
medidas, (ONU, 2007):
Art. 5º - [...] a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à
gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar; b) Esforçar-se por reduzirem
ao mínimo os danos e lesões e respeitarem e preservarem a vida humana; c) Assegurar
a prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou afetadas, tão
rapidamente quanto possível; d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou
pessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
3 METODOLOGIA
O presente estudo relativo ao emprego da arma de fogo em punho durante as aborda-
gens policial militar fundamentou-se no método indutivo associado à técnica bibliográfica e
ao método de pesquisa exploratória. Essa pesquisa tem abordagem quantitativa, devido ao fato
de ter sido mapeado o perfil de um grupo de pessoas, baseando-se em características que elas
têm em comum, em específico, a relação entre distância e eficiência da reação do policial, para
realização da análise de dados.
A análise dos dados se dá de forma descritiva, visando a identificação, registro e análise
das características, bem como a verificação dos fatores ou variáveis que relacionam-se com o
fenômeno, para uma posterior apresentação das causas e efeitos do objeto de estudo em questão.
Para a realização desta pesquisa foi aplicado um teste prático, organizado em dois mo-
mentos com o público-alvo, para medir a relação entre a distância de um ataque de arma branca
e a reação efetiva do policial militar, qualificando-a entre “sobreviveu”, “morreu”, ou “ferido”.
No primeiro momento o policia deveria estar com a arma travada no coldre, e por conseguinte,
com o mesmo travado. Em um segundo momento a estratégia era utilizar a arma na posição de
pronto-baixa (em punho). Escolheu-se pela arma branca devido a sua fácil disponibilidade e ao
mesmo tempo, letalidade.
3.1 AMOSTRAGEM
Considerando que o efetivo total da Polícia Militar de Santa Catarina é de aproximada-
mente 10.800 policiais militares, a amostra escolhida para realização da pesquisa foi de X% do
total com base no referencial X que aborda. Desejando-se um nível de confiabilidade em torno
de 98% (noventa e oito por centro), aceitando erro máximo de 5% (cinco por cento). Resulta
que o tamanho da população amostra mínima é de 517 Policiais Militares. (CAMPOS, 2014).
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Diante disso, foi selecionado 5% (cinco por cento) do efetivo da cada RPM, de forma
que tivéssemos uma amostra equitativa e homogênea de cada região do estado, o que, por fim,
resultou em um total de 561 Policiais Militares pesquisados.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
4 ANÁLISE
Para realizar a análise dos dados obtidos com o teste prático organizou-se as distâncias
obtidas com a simulação de um ataque de arma branca e reação efetiva do policial militar em
um quadro, conforme apresentado a seguir:
Quadro 1: Relação entre distância X ataque de arma branca e reação efetiva do policial militar.
Para facilitar a compreensão, elencamos duas categorias para análise: a primeira com o
emprego da arma no coldre em relação a reação policial militar e o uso da arma em punho e seu
respectivo efeito na ação militar.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Na distância de 4 metros, houve 60% de mortes. Índice que sedimenta ser esta a distân-
cia limite em que mais da metade dos policiais militares possui a maior probabilidade de morrer,
logo a distância letal é de 4,5 metros.
Temos na distancia de 3 metros, uma situação onde ¾ dos policiais morreram. Situação
crítica, inclusive por ser esta a distância da maioria das abordagens policiais.
Na distância de 2 metros o quadro apresenta-se ainda pior, pois cerca de de 90% dos
policiais testados morreram.
A distância de 1 metro apresenta o triste quadro de 100% de mortes. Isso significa que
nesta distância, nenhum dos policiais pesquisados tem probabilidade de sobreviver a um ataque
letal com arma branca, estando ele com arma no coldre.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Nesse gráfico com o porte da arma em punho, em que o policial reage a uma agressão
letal com arma branca, é bem diferente do gráfico no qual ele está com a arma no coldre.
De imediato percebe-se que entre 5 a 10 metros não houve mortes de policiais milita-
res, pois ela ocorria apena até a distância de 4 metros.
Em 3 metros percebe-se que em torno de 8% dos policiais morreram em decorrência
da suposta agressão ao policial. Trata-se de uma distância crítica, pois, é basicamente nessa dis-
tância que realizamos a abordagem, iniciando pela verbalização.
Por fim, ao comparar o uso da arma no coldre e da arma em punho na abordagem
policial militar, constata-se que a proximidade na distância de 1 metro apresentou aproxima-
damente 54% de mortes com a arma em punho, já com a arma no coldre resultou em 100% das
mortes. Logo, a arma em punho alcançou uma probabilidade muito maior de vida.
5 CONCLUSÃO
O poder de polícia apresenta como um de seus atributos a coercibilidade, caracterizada
por legalizar o uso da força pelo policial em situações em que o cidadão infrator agredir fisica-
mente ou ameaçar a vida da vítima ou do policial militar. Para tanto, torna-se fundamental que
a ação policial esteja dentro dos limites legais, respeitando-se os princípios delimitadores do uso
da força, quais sejam: legalidade, necessidade, oportunidade e conveniência, agindo de forma
proporcional ao objetivo almejado, atentando-se para o emprego escalonado da força.
Por muito tempo, o termo Direitos Humanos foi considerado antagônico ao termo
Segurança Pública, contudo, cada vez mais se percebe a necessidade da atividade policial nor-
tear-se pelos princípios dos Direitos Humanos, valorizando-se a vida, a dignidade humana e a
harmonia individual e coletiva. Os Direitos Humanos constituem-se em ferramentas indispen-
sáveis para o bom funcionamento das polícias, desenvolvendo-se, por meios dos seus princí-
27
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
pios, um modelo padrão de polícia, voltada ao atendimento das necessidades básicas do cidadão
agressor, cidadão vítima e do próprio policial militar.
Apesar da maioria das ocorrências serem resolvidas com base na verbalização, pode-
rão surgir situações em que o policial utilizará da força representada pelo emprego de armas de
fogo para o restabelecimento da ordem e da paz social, constituindo em uma medida grave em
virtude dos efeitos causados.
Nesse sentido, o uso de armas de fogo nunca deve ser considerado uma rotina, sendo
autorizado somente quando todos os demais recursos tiverem falhado, objetivando-se exclu-
sivamente a proteção de vidas. Cabe ao policial a decisão extrema de disparar a arma, consti-
tuindo-se em uma escolha pessoal, decorrente da avaliação do grau de risco e da intensidade da
agressão. Não é uma escolha fácil de ser adotada, surgindo inúmeras dúvidas referentes ao que
é certo e errado, atirar ou não atirar.
Com relação aos testes realizados na presente pesquisa, Nessa análise foi realizado um
tratamento estatístico verificado de modo descritivo, em relação às porcentagens, médias e pro-
porções, com o objetivo de elaborar uma curva de letalidade. A partir desta curva, buscamos
identificar quando a arma branca ultrapassa a probabilidade não letal e atinge a probabilidade
de letalidade, justificando, assim, o emprego de força letal na atuação policial. Destaca-se o dado
referente à distância de 1 metro, no qual 100% dos policias que estavam com a arma no coldre
morreram. Quando comparado ao teste em que os policiais estavam à 1 metro do agressor, com
a arma em punho, o resultado de mortes foi de 53,65%, sendo inferior em relação à arma no
coldre. O que apresenta uma probabilidade de legítima defesa bastante relevante.
Outra informação importante que foi encontrada com os testes está relacionada à dis-
tância entre 4 e 5 metros. Nessa distância há uma probabilidade de 50 % de morte dos policiais,
ou seja, mais de 50% dos policiais possuem a probabilidade de ser uma vítima de agressão letal
com arma branca. Logo, a distância letal é de 4,5 metros. Trata-se de uma informação importan-
te, pois é a distância na qual se inicia a maioria das abordagens policiais militares.
Cabe destacar que as armas brancas, podem ser letais. Logo, quando caracterizado o
potencial de letalidade nos casos de legítima defesa, caberá o uso de arma de fogo como ato
extremo por parte do policial militar, que dentro do critério proporcionalidade seria o correlato
letal do policial ao instrumento letal utilizado pelo agressor.
Apesar deste grau de letalidade depender de alguns fatores, os testes realizados nesta pes-
quisa apresentam que na distância de 4,5 metros existe uma probabilidade acima de 50% de chan-
ce dos policias morrerem, se estiverem com arma no coldre e se foram agredidos de forma letal.
Em análise ao exposto na presente pesquisa, concluiu-se que sempre irá depender da
situação e do contexto da abordagem policial. Porém, nos casos de legítima defesa, os testes
indicaram que a arma em punho apresenta uma probabilidade maior de proteção da vida e da
integridade física na execução da missão policial.
Por fim, visto a letalidade da agressão da arma branca, nas distâncias inferiores à 5
metros, reforça-se ainda mais a necessidade da abordagem policial, mesmo nas ocorrências de
arma branca, ser realizadas com o emprego da arma em punho.
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Oficiais – CAO. Ceará, 2003.
29
A ANDRAGOGIA NO APRIMORAMENTO
DIDÁTICO DAS INSTRUÇÕES POLICIAIS
MILITARES
1 INTRODUÇÃO
A Polícia Militar do Estado de Santa Catarina vem ao longo dos anos formando e apri-
morando seus profissionais com currículos que atendam às diretrizes emanadas da Secretaria
Nacional de Segurança Pública. E diante da atual conjuntura social é primordial entender a res-
ponsabilidade de atualizar e contextualizar o policial militar em sua formação, especialização ou
revitalização em um ensino dinâmico e sistemático, abrangente em seus objetivos, conectando
às diferentes realidades socioculturais, sendo multifacetado em seus métodos e processos.
Neste sentido, entende-se que a instrução tradicionalmente aplicada e excessivamente
ortodoxa, pode não atender, em sua plenitude, às constantes necessidades de conhecimento
para enfrentamento da realidade profissional a qual o policial militar vivencia.
Considerando que as instruções nas instituições policias militares, possuem como ca-
racterística primordial o ensino voltado ao adulto, aborda-se nesta pesquisa, o tema andragogia,
delimitado para o aprimoramento didático voltado à instrução policial militar, adotando a Polí-
30
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
cia Militar de Santa Catarina como referência de estudo, visando a valorização dos conhecimen-
tos profissionais e uma melhor interação ao contexto social atual.
Tem-se como objetivo geral analisar os mecanismos de aprimoramento didático da
educação andragógica, especificamente voltados às instruções aplicadas aos policiais militares,
estejam eles em formação, revitalização ou aperfeiçoamento ao longo da carreira. Para isso,
verificam-se as didáticas atualmente utilizadas na corporação, juntamente com a análise de apli-
cação da educação andragógica e sua contribuição para o aprimoramento das instruções volta-
das aos adultos, averiguando a adequação da metodologia ao aperfeiçoamento profissional do
professor policial militar.
2 METODOLOGIA
No desenvolvimento do presente estudo adotou-se uma abordagem dedutiva, com a
finalidade de desenvolver uma pesquisa pura; tendo seu nível de pesquisa classificado como
explicativo e utilizando como procedimento para a coleta de dados a pesquisa bibliográfica.
O método de abordagem dedutivo, de acordo com Severino (2007), é o método no qual
através da observação de um princípio geral são deduzidos os fatos singulares, ou seja, partindo
de uma visão geral para uma premissa específica.
A partir do método desenvolveu-se uma pesquisa pura, de ordem intelectual que per-
mite uma visão ampla para o aprimoramento das instruções policiais militares a partir da meto-
dologia andragógica. Como nível de pesquisa utilizada o explicativo, aquele que procura expli-
car a razão da realidade, ou seja, identificar os fatores (GIL, 2007).
Visando atingir o objetivo do estudo, para o desenvolvimento teórico utilizamos como
procedimentos para a coleta de dados a pesquisa bibliográfica “desenvolvida com base em mate-
rial já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”, conforme conceitua
Gil (1996).
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na literatura pesquisada para o desenvolvimento deste artigo, há uma grande profu-
são a respeito de conceitos de educação, andragogia, treinamento e instrução. A interpretação
conceitual dos temas, principalmente quando inter-relacionados, é bastante diversificada, não
existindo uma doutrina filosófica única, mas uma vasta orientação calçada em experiências na
área, propulsadas por autores e especialistas dos temas. Buscamos, neste sentido, definições con-
ceituais cotidianas que facilitam uma interpretação mais clara sobre os temas.
Torna-se evidente que “as transformações contemporâneas contribuíram para consoli-
dar o entendimento da educação como fenômeno plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares,
institucionalizado ou não, sob várias modalidades”. (LIBÂNEO, 1998, p. 18). Para o autor “o
processo educativo afirma que o ser humano se desenvolve tanto biológica como psiquicamente
na interação com o ambiente numa inter-relação constante entre fatores internos e externos”.
(Ibid., p. 69).
Neste sentido, Brandão (1998) defende o valor da relação ensino e aprendizagem no
desenvolvimento pessoal do indivíduo e, como resultado, o desenvolvimento social, afinal o
homem está conexo ao meio ao seu redor e é capaz de modificá-lo. Segundo o autor:
31
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único
lugar em que ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única
prática, e o professor profissional não é seu único praticante (BRANDÃO, 1998, p. 7-9).
o processo adquirido no dia a dia, perceptível por todos, alterando nossas ideias,
sentimentos, comportamentos e pensamentos. O ensino poderá ser adquirido, ou
não, através da educação, que possui características formais e positivas dentro de um
contexto metodológico (NÉRICI, 1972, p. 36).
Por tal motivo, é relevante destacar o ensino como prática social específica, que aconte-
ce a partir do processo de educação tanto de maneira informal ou formal, segundo Rios (2005).
Na compreensão de Boog (1994), a educação refere-se ao processo pelo qual o indi-
víduo adquire compreensão do mundo, bem como capacidade para lidar com problemas. En-
quanto instrução define os processos formais institucionalizados através dos quais a educação
é ministrada até a adoção de uma profissão, o treinamento indica a educação específica, que,
conduzida na escola ou não, antes ou durante o trabalho, ajuda a pessoa a desempenhar bem
suas atividades profissionais.
O treinamento de forma geral possui o mesmo significado de adestramento, mas tec-
nicamente existe uma diferenciação no que tange a adestramento, termo técnico utilizado por
instituições policiais, e treinamento utilizado pelas corporações em geral.
Na doutrina policial militar adestramento (BRASIL, 1983, Dec. Fed. n° 88.777) é a ati-
vidade designada a exercitar o policial militar, individualmente e em equipe, desenvolvendo
lhe a habilidade para o desempenho de tarefas para as quais já recebeu a adequada instrução,
objetivando seu emprego individual ou enquadrado e propiciando ampliar a operacionalidade
da corporação.
Treinamento (BOOG, 1994, p. 02) “é o procedimento que tem como objetivo específico
a padronização de tarefas e melhorar a performance profissional”. O treinamento proporciona
às pessoas a ampliação da capacidade de adquirir novos conhecimentos, tornando-as hábeis nas
suas funções, conscientes daquilo que venham a fazer, resolutos nos objetos a serem atingidos.
Nas corporações policiais militares, o treinamento ajuda a manter padrões de qualida-
de, pois envolve uma mudança de comportamento no policial militar, permitindo o desenvolvi-
mento e a renovação do potencial humano, com o propósito de levá-lo a alcançar seus objetivos.
Podemos afirmar que as atividades de treinamento objetivam não só uma transmissão
de informações, mas também modificações de atitudes comportamentais além do desenvolvi-
mento de habilidades, visando habilitar o profissional ao melhor desempenho de sua função;
obtendo por fim um desenvolvimento conceitual que visa a obter conhecimento de contextos
institucionais e gerais, propiciando desenvolver a compreensão do que está fazendo e sua parti-
cipação no contexto geral.
A orientação da aprendizagem, de acordo com Turra (1993, p. 124) tem como “propó-
sito fundamental, modificar o comportamento do aluno. Tal propósito leva, necessariamente,
a uma tomada de decisão sobre a natureza da mudança que se pretende realizada” e a figura
do professor é responsável pela organização, direção e controle das condições do processo de
aprendizagem.
Além disto, Turra afirma que os alunos diferem entre si:
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Pedagogia Andragogia
Necessidade de Os aprendentes apenas necessitam de Os adultos têm necessidade de conhecer o
Saber saber que devem aprender aquilo que motivo pelo qual devem aprender antes de se
o professor lhes ensina comprometerem com a aprendizagem
Conceito de O professor tem do aprendente a Conscientização, por parte do adulto, da
Si imagem de um ser dependente. É esta responsabilidade de suas decisões e de sua vida.
dependência que marca, também, a Torna-se necessário que sejam encarados como
autoimagem daquele que aprende indivíduos capazes de se auto gerirem
Papel da A experiência do aprendente é Adultos portadores de experiências que os
experiência considerada de pouca utilidade. distingue das crianças e jovens. A educação
Dá-se a importância da experiência de adultos deve centrar-se nos processos de
do professor ou dos materiais aprendizagem face aos processos mais coletivos
pedagógicos de outras etapas evolutivas
Vontade de A disposição para aprender aquilo Os adultos têm a intenção de iniciar o processo
Aprender que o professor ensina tem como de aprendizagem desde que compreendam a sua
fundamento critérios e objetivos utilidade para determinadas situações da vida
internos à lógica escolar, isto é, a
finalidade de obter êxito e progredir,
em termos escolares
Orientação da Aprendizagem encarada com Aprendizagem encarada como resolução de
aprendizagem um processo de aquisição de problemas e tarefas da vida cotidiana
conhecimentos. Lógica centrada nos
conteúdos
Motivação Motivação para aprendizagem Motivação para a aprendizagem também
extrínseca ao sujeito (classificações extrínseca (promoção profissional, melhor salário,
escolares, pressões familiares, etc.), mas principalmente intrínseca (autoestima,
apreciações do professor) satisfação profissional, qualidade de vida)
Fonte: www.repositorio.ul.pt
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Fonte: www.periodicos.udesc.br
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
É por isso que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar é um verbo transitivo-
relativo. Verbo que pede um objeto direto e um objeto indireto. Do ponto de vista
democrático [...], ensinar é algo mais que um verbo transitivo-relativo. Ensinar
inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente,
mulheres e homens descobriram que era possível ensinar (FREIRE, 2010, p. 23-24).
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Fonte: www.andragogia.com.br
3. A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; por isto, o centro da
metodologia da educação do adulto é a análise das experiências.
4. Adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por isto, o papel do
professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos e não apenas
transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
5. As diferenças individuais entre pessoas crescem com a idade; por isto, a educação de
adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem
(LINDEMAN, 1926, apud MORAIS, 2007).
O ensino policial militar tem como diferencial possuir disciplinas que tenham o refe-
rencial teórico, mas que necessitam de simulações práticas para consolidar os conhecimentos,
os erros devem ser cometidos durante as instruções, sejam elas treinamentos específicos ou na
própria instrução geral de tropa. Nestas, o policial aluno deve ter clareza do que o professor está
repassando e compartilhar sua bagagem de experiências. O processo consiste numa via de mão
dupla de ensinamentos.
A partir desta óptica, Garcia nos remete a eficiência no ensinamento:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o crescimento dos índices de violência, a sociedade anseia por investimentos em
Segurança Pública, dentre eles a relevância na formação dos seus agentes. Por tal motivo, é ne-
cessário entender a responsabilidade de atualizar e contextualizar o policial militar, bem como
reconhecer a importância do processo de ensino nos cursos policiais, pautado em uma didática
adequada.
A partir dessa premissa, o desenvolvimento desse estudo adotou como tema a andra-
gogia, com o intuito de analisar os mecanismos de aprimoramento didático das instruções no
âmbito da Polícia Militar de Santa Catarina, fazendo uso da metodologia andragógica como
ferramenta de aprendizagem.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
REFERÊNCIAS
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TURRA, C. M. G. et al. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Editora Sagra
Luzzatto, 1993.
40
CONSTRUINDO COMUNIDADES SEGURAS:
ESTRATÉGIAS PARA UMA INTERVENÇÃO
TÉCNICA DA POLÍCIA MILITAR EM ESPAÇOS
URBANOS
1 INTRODUÇÃO
A violência encontra-se presente na contemporaneidade. A necessidade de proteção tem
refletido nas diversas formas de utilização do espaço e transformando todo o desenho urbano.
Sobressalta-se que, até o presente momento, um modelo incompleto de prevenção à
criminalidade urbana, sem se considerar as chagas trazidas pelo atual desenho urbano, princi-
1 2º Tenente da Polícia Militar de Santa Catarina. Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE. Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Uniderp – Anhanguera.
2 Major da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. Graduado no Curso de Formação de Oficiais pela
Academia da Polícia Militar de Santa Catarina - APMT. Especialista em Administração de Segurança Pública pela
Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Mestre e Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
2 DESENVOLVIMENTO
Construir um labor policial capaz de abarcar aspectos e situações que, aliados as téc-
nicas já consolidadas, se tornem instrumentos efetivos no enfrentamento à criminalidade é um
clamor eminente.
A busca incessante em alicerçar uma ação mais completa e consciente sobre as causas
da criminalidade e desordem, inovar e oportunizar o planejamento de espaços construídos,
relevar necessidades e modificar a percepção da prevenção criminal, são primordiais na cons-
trução do ideal de segurança pública. Assim, alguns conceitos e técnicas acerca da prevenção do
crime através do desenho urbano passarão a ser analisados.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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Vale a ressalva de que hoje não se fala somente em acessibilidade, mas em mobilidade,
pois a movimentação de pessoas deve traduzir qualidade, levando as pessoas a se relacionarem
de maneira a estreitarem relações e, de igual modo, zelarem pelas vias de acesso urbano. (OLI-
VEIRA; SILVEIRA, 2012).
Para Amaro (2005), a acessibilidade é medida pelo grau de iluminação e pelo grau de
visibilidade presentes no ambiente. Nessa linha de raciocínio, a iluminação é a grande protago-
nista. Um ambiente bem iluminado é fundamental para realizar as atividades cotidianas e com
segurança. Desse modo, a presença de luz artificial à noite traz consigo a percepção de segu-
rança, já que propicia ampla visualização, inibindo a ação do delinquente, facilitando ainda as
relações interpessoais. Fato esse, imprescindível no novo conceito de mobilidade urbana, tendo
em vista os baixos índices de criminalidade onde a iluminação está presente.
Cores e temperatura também são questões determinantes, pois tratam de fatores que
alteram o comportamento humano, na própria maneira de agir e na percepção que circunda na
mente das pessoas. Como, por exemplo, luzes vermelhas que inquietam as pessoas e as excitam
a realizar mais atividades, pois se entende que o vermelho age inconscientemente aumentando
pressão sanguínea, a respiração e o piscar de olhos. Já o azul teria efeito contrário, trazendo
consigo a percepção de paz e tranquilidade. O calor potencializa a agressividade, sendo que o
ambiente mais frio tende a agir inversamente, acalentando os exaltados. (AMARO, 2005).
A visibilidade, de igual modo, interfere diretamente na atividade criminosa e essen-
cialmente na decisão do criminoso. A ausência de visibilidade torna um alvo extremamente
vulnerável, haja vista o efeito de ocultação da atividade delitiva. (BONDARUK, 2007).
O paisagismo também é útil para o reforço territorial, delimitando as áreas de lazer,
como passeios e pontos turísticos, aumentando a vigilância natural, podendo ser constituído
como barreira natural ou como um complemento às barreiras artificiais existentes. Vale ressaltar,
entretanto, que o mau uso desse cria um aspecto de ausência de manutenção do espaço, provo-
cando o aglomero de desordeiros e servindo de “habitat” para delinquentes, quando combinado
a pouca iluminação, acaba por facilitar a ocultação da prática criminosa. (SIQUEIRA, 2013).
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pedir bolsões de criminalidade e desordens sociais sobre espaços urbanos constituídos, torna-se
primordial para o enfrentamento do problema, até então, considerado insolúvel.
3 Folheto sobre prevenção criminal através do desenho urbano em comércio foi desenvolvido pelo Conseg-Centro
da Cidade de Florianópolis em parceria com diversas entidades e o patrocínio da Secretaria de Segurança Pública
- https://drive.google.com/file/d/0B_egqlNitj_JTjhpZDNPX1h3RHM/view.
4 Versão portuguesa foi traduzida em 18/02/2013 sendo-lhe concedida a nomenclatura de “Prevenção Criminal
Através do Espaço Construído - Guia de Boas Práticas” - http://www.veilig-ontwerp-beheer.nl/publicaties/cpted-
prevencao-criminal-atraves-do-espaco-construido-guia-de-boas-praticas.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
3 CONCLUSÃO
A arquitetura contra o crime se desvela como estratégia importante para atingir tais
objetivos, realizada de maneira integrada com a comunidade na busca pela solução efetiva dos
problemas de segurança pública.
Nesse sentido, a missão constitucional da polícia ostensiva e de preservação da ordem
pública demanda da Polícia Militar uma atuação preventiva contra desordens urbanas que le-
vam a criminalidade.
Diante do exposto nesse trabalho, a Polícia Militar torna-se apta a influenciar direta-
mente no desenho urbano. Obtém-se o reconhecimento institucional na questão, bem como há
um aumento da discricionariedade na atuação policial militar, visando uma melhor resolução dos
problemas de insegurança e desordens, que hoje fogem do campo de intervenção da Instituição.
Estratégias já consolidadas de policiamento ostensivo, empregadas de forma isolada,
têm demonstrado alcance limitado, não atendendo a crescente demanda criminal existente,
logo, novas estratégias no enfrentamento do crime devem ser criadas, sempre na busca eficaz da
ordem pública.
O desenho urbano contra o crime torna-se ferramenta relevante e efetiva para a cons-
trução desse ideário de segurança pública, sendo sua aplicabilidade prática construída nas três
estratégias de intervenção propostas neste trabalho, indeléveis para aplicação desta técnica de
prevenção criminal.
REFERÊNCIAS
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rbeur/article/ view/207/191>. Acesso em: 20 fev. 2015.
53
A MEDIAÇÃO POLICIAL NAS AÇÕES DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE: O CASO PROJETO
HABITACIONAL FLORESTA I E II
1 INTRODUÇÃO
O foco das Polícias Militares no Brasil, com a recente discriminação da filosofia de
Polícia Comunitária traz em seu escopo como principal objetivo a proximidade da comunidade
com a polícia, aumentando o índice de credibilidade da instituição principalmente quanto à
expectativa de aumento da sensação de segurança por parte da sociedade.
1 Cap PMRO. Especialista em Segurança Pública e Direitos Humanos (UNIR). Gabinete do Vice-Governador,
Casa Militar do Governo do Estado de Rondônia. E-mail: marcelopmro@hotmail.com.
2 Oficial CSLI. Professor Doutor Programa de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social (DEEE/
CCE/UFSC). Union Corps Saint Lazarus International. E-mail: wagnerluiz@mandic.com.br.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Dentro deste contexto a figura do Policial Militar como elo entre a sociedade e o estado
reveste-se de especial importância, uma vez que é o responsável, em grande parte, pelo sucesso
de políticas públicas de segurança a partir de sua capacidade de liderança, iniciativa e interação
com a comunidade.
A prática da mediação policial requer daqueles incumbidos desse processo, uma capa-
cidade impar de diálogo, carisma, credibilidade e o apoio do comando para que as negociações
que as negociações tenham êxito.
A mediação que trata este trabalho se refere a uma invasão de terras do município de
Porto Velho – RO, cuja comunidade é formada por uma população extremamente carente em
todos os aspectos. Nela foram encontradas famílias numa total miséria, comerciantes oportunis-
tas lado a lado com delinquentes profissionais, indiferentes à problemática social o que por si só
já é um estopim para desencadear um conflito com perdas irreparáveis.
2 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
É possível afirmar que a mediação é uma das formas possíveis de se lidar com um
conflito, por meio da qual um terceiro, mediador ou mediadora, a partir do momento em que
as partes solicitam ou aceitam a intervenção, ajuda as pessoas a se comunicarem melhor, a ne-
gociarem e, se possível, a chegarem a um acordo.
Em seu livro “Mediação Familiar”, a psicóloga Stella Breitman e a advogada Alice Porto
fazem uma interessante análise sobre os diversos conceitos de mediação. Uma das definições
mais abrangentes é de Almeida (1998) citada por Breitman e Porto (2001, p. 46):
55
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Percebeu-se em leituras realizadas para a elaboração deste texto que existem teóricos
que enfatizam a resolução de conflitos, então, a mediação seria uma forma de resolução de
conflitos, a proposta de ajustes entre as partes, de tal forma que a mediação teria como objetivo
principal o acordo.
Existem ainda autores que ressaltam a comunicação; logo, a Mediação seria um meio
de proporcionar uma melhor comunicação entre as pessoas em conflito, outros salientam a
transformação, de maneira que a mediação transformativa é mais enfatizada, não importando
se as pessoas chegam a um acordo ou não.
É possível perceber-se que o processo de mediação é complexo, podendo comportar os
conceitos de “resolução de conflitos” (ou gestão de conflitos), “acordo”, “comunicação”, “transfor-
mação” etc. e não deve ser visto, porém, de forma simplista, atado a apenas um desses conceitos.
No Brasil a Lei que regulamenta o uso de alternativa de resolução de conflitos é a de
número 9307/96 (BRASIL, 1996), também conhecida como Lei Marco Maciel. onde prevê, entre
outras, a atuação de uma terceira pessoa como Mediador, que tem o papel de estabelecer um
clima favorável devendo agir de maneira imparcial.
Percebe-se na leitura do documento a recomendação, de modo enfático, que o mediador
deve ser qualificado para conduzir o processo de forma sigilosa, permitindo aos conflitantes to-
mar decisões por si mesmo para que encontrem uma solução duradoura e mutuamente aceitável.
A polícia comunitária é uma nova parceria entre a população e a polícia, buscando, aci-
ma de tudo, uma conscientização popular acerca da responsabilidade social de cada indivíduo e
ainda do comprometimento de ambas as partes na solução de problemas e na busca de melhoria
da qualidade de vida da comunidade.
O modelo adotado na prestação de serviços de polícia comunitária objetiva assegurar
maior legitimidade social para o desenvolvimento do seu trabalho e a adesão da população
como parceira na prevenção de delitos (MARCINEIRO, 2009, p. 104).
Aliado à proposta de aproximar os agentes de segurança pública e a população, os
centros de mediação nasceram destinados a auxiliar a resolução de conflitos sociais frutos da
convivência de pessoas que têm vínculos afetivos e relações continuadas (familiares, vizinhos,
amigos) e que, quando mal administrados, podem gerar atos de violência e crime.
Nossa sociedade está acostumada a resolver os conflitos de maneira adversária, ou seja,
vendo o outro como um oponente, um adversário, por tanto sempre se procura formas de reso-
lução do conflito com esse cenário de adversidade.
A ideia da mediação ligada aos agentes da segurança pública é inovadora porque, além
de contribuir para aproximá-los da população, contribui para as atividades do policiamento
comunitário, na medida em que pode bem administrar diversos conflitos sociais e auxiliar no
desenvolvimento da cultura da paz.
Geralmente os policiais se encontram ante ao conflito em um grau bastante elevado,
ocorrendo na maioria das vezes agressões físicas e verbais – situação esta enfrentada diversas
vezes no cotidiano profissional deste pesquisador. A mediação é uma alternativa para se buscar a
satisfação dos dois lados conflitantes, apontando valores diferentes dentro de um diálogo aberto.
O caminho não é eliminar o conflito, mas percebê-lo como uma oportunidade de me-
lhorar – o mundo de hoje necessita dos conflitos, pois são eles que revelam as situações injustas
de nossa sociedade. A missão não é eliminá-lo, mas transformar a maneira com que o resol-
vemos. Deve-se coibir as soluções destrutivas e violentas, buscando orientar os envolvidos de
maneira positiva e construtiva, utilizando as ferramentas da mediação.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), do Movimento dos Pequenos Agri-
cultores (MPA), do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e do Movimento de Liber-
tação dos Sem-Terra (MLST).
Há de se considerar que, em meio a famílias sérias que buscam um pedaço de terra para
sua subsistência, existem oportunistas, que vêm no movimento uma possibilidade para se tirar
proveito da situação.
Esta manifestação pode ser percebida, por exemplo, em diversos casos como quando
logo após a conquista do lote, acontece a venda e o retorno ao movimento em busca de um novo,
seja pela manipulação das massas por políticos, transformando o movimento em uma força
política utilizada sempre que houver o interesse particular deste ou daquele partido (FERNAN-
DES, 2006, p. 45).
O caso mais contundente em Rondônia, um conflito armado sem precedentes no esta-
do, conhecido como “O Massacre de Corumbiara”, ocorrido em nove de agosto de 1995, na área
da fazenda Santa Elina no município de Corumbiara, vitimou policiais militares e trabalhadores
sem terra, gerando um cenário de violência que desencadeia sequelas até os dias de hoje.
Existem atualmente centenas de pontos de conflitos agrários espalhados pelo país, en-
volvendo uma infinidade de agentes e de seus interesses, são terras indígenas invadidas por
posseiros, grileiros, garimpeiros e madeireiros, fazendas, produtivas e improdutivas invadidas
por famílias sem terra e uma série de assentamentos nas estradas próximos a propriedades que
podem ser invadidas a qualquer momento gerando a tensão de um confronto iminente (STÉ-
DILE, 1997, p. 91).
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
lias, porém sua ocupação gera uma cobertura expressiva por parte da mídia dando “holofotes”
aos manifestantes.
61
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
No mês de setembro de 2014 a Polícia Militar foi requisitada para auxiliar o oficial de jus-
tiça no cumprimento de mandado de reintegração de posse, cumprindo liminar nº. 208741/2014
expedida pela Juíza de Direito Inês Moreira da Costa da 1ª Vara de Fazenda Pública.
Tal pedido foi encaminhado ao Coordenador Regional de Policiamento I que despa-
chou ao comandante do 1º Batalhão da Capital para que iniciasse os procedimentos de levanta-
mentos para o devido cumprimento, levando em conta a existência de 250 famílias ocupantes.
Durante os levantamentos foi solicitada a participação da Companhia de Operações
Especiais (COE) para prestar apoio na ação, atuando como tropa de reserva em ações de choque
durante a reintegração. O oficial de Operações daquela unidade buscou fundamentação sobre as
questões sociais envolvidas no cumprimento do mandado, passando a uma visão humanista de
atendimento aos preceitos constitucionais de preservação da ordem pública e reconhecimento
da mediação como forma de resolução pacífica de conflitos.
Uma vez de posse das informações básicas que acercavam da operação, o Oficial pas-
sou a atuar por ordem verbal do Comandante Geral da Polícia Militar em reuniões e audiências
sempre contando com a participação de representantes de vários órgãos.
Entre eles pode-se destacar com maior frequência o executivo Municipal e Estadual
(Secretarias de Assistência Social Estadual (SEAS) e Municipal (SEMAS), Secretaria Municipal
de Urbanismo e Defesa Civil), Defensoria Pública Estadual e Ministério Público Federal.
Todos os órgãos oficiais citados estavam envolvidos no processo de reintegração de
posse dos empreendimentos Floresta I e II e, posteriormente, abasteceram de informações a
Juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública, juíza titular da ação, oferecendo subsídios para a elaboração
do documento final em busca da resolução do conflito.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar neste trabalho que uma atitude eficaz no início do conflito tende a
evitar uma situação de violência. Através da Mediação Policial, propõe-se adotar práticas de
conversação nas atividades do dia a dia, preservando a Ordem Pública da Polícia Militar, onde
esta instituição deve ter a Mediação como foco.
O Governo do Estado de Rondônia, em busca da promoção da paz, investiu na capaci-
tação de seus Policiais Militares e demais profissionais da Segurança Pública através do curso de
62
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Mediação Policial, realizado em 2014 na cidade de Villa Real, na Espanha, onde os profissionais
atuaram na mediação com a comunidade e a primeira experiência para a aplicação da Mediação
Policial foi o caso Projeto Habitacional Floresta I e II.
A aplicação da mediação permitirá a possibilidade de melhor compreensão e trata-
mento dos conflitos sociais a fim de evitar um método mais agressivo, além de promover um
novo conceito de segurança pública, priorizando o diálogo e a democracia nos conflitos, e não
o sistema penal.
Assim, a população que almeja paz social na Polícia Militar terá suas necessidades
atendidas através dessas ações proativas, inovando as técnicas de controle social com modelos
de preservação da dignidade e direitos humanos.
Este trabalho sinaliza para a figura do mediador como um agente promotor da paz,
dialogando com as partes do conflito de forma neutra e oferecendo espaço para cada um exercer
a cidadania de forma igualitária.
Mostrou-se necessária a intervenção da Polícia Militar neste processo, para conheci-
mento e conclusões das causas e acontecimentos dos fatos que chegaram ao seu conhecimento,
dando poder ao cidadão de se apropriar de seus direitos e de sua condição de responsável pela
solução do conflito existente.
Por meio da Mediação Policial, espera-se que diminuam os casos de incidência crimi-
nal. Proporcionar o diálogo entre as partes, antes de gerar uma ocorrência dos conflitos, traz
benefícios futuros ao Estado, como economia de gastos públicos e redução da violência.
Conclui-se assim, a necessidade de capacitar os profissionais da Polícia Militar com
tecnologias para a constituição da paz social. Valorizá-los e aliá-los a novas técnicas de resolução
de conflitos é fundamental para atender todas as demandas da Polícia Militar, ultrapassando os
desafios e implantando a justiça social, colaborando para toda a segurança pública.
De acordo com os objetivos do presente trabalho, ficou nítido que a mediação policial
é um método essencial para construção da paz social, diminuindo a criminalidade, bem como
os gastos, preservando a sociedade e permitindo maior comunicação entre a comunidade e a
Polícia Militar.
REFERÊNCIAS
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Interamericano de Direitos Humanos ao Brasil In Anais do 7º Encontro Anual da ANDHEP
– Direitos Humanos, Democracia e Diversidade. Curitiba: UFPR, 23 a 25 de maio de 2012.
Disponível no site: http://www.andhep.org.br/anais/arquivos/VIIencontro/gt11.pdf. Acesso: 20
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ARANHA, Hialey Carvalho (2011). A ocupação das propriedades rurais improdutivas – análise
das ações de ocupação dos trabalhadores rurais sem terra e a questão agrária no Brasil In Jus
navigandi, set 2013. Disponível no site: http://jus.com.br/artigos/25323[...]5#ixzz3XaomH5WL.
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BRASIL (1996). Lei Nº 9307 de 23 set 1996 – Dispõe sobre arbitragem. Disponível no site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm. Acesso: 20 mar 2015.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_5_.shtm.
Acesso: 20 mar 2015.
BREITMAN, Stella; PORTO, Alice C. Mediação familiar: uma intervenção em busca da paz.
Porto Alegre: Criação Humana, 2001.
HOLANDA, Ana Paula Araújo de. Mediação e arbitragem: Um caminho para o acesso à
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HOUAISS, Dicionário. Novo dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 2009, 1636 p.
RIBEIRO, Ruy Pedro Baratz. O Papel do Mediador In Revista Resultado, Ano II, nº. 12 –
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SALES, Lilia Maia de Morais Et al (2009). Segurança Pública, mediação de conflitos e Polícia
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STÉDILE, João Pedro. Questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997, 211 p. 104.
64
PROCESSOS DE INOVAÇÃO: ESTUDO DE CASO
NA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
Rodrigo Kraemer
João Artur de Souza
1 INTRODUÇÃO
Além dos conceitos formais de inovação, os estudos apontam diversas formas de enten-
dimento e abordagens. Embora seja recorrente a necessidade das organizações de implementa-
rem inovação para melhorar processos, produtos e estruturas, as dificuldades de implementação
aumentam quando se procura estabelecer em organizações públicas e mais ainda em institui-
ções muito avessas à mudança, como é o caso das instituições de segurança pública.
O artigo pretende evidenciar o entendimento de gestores sobre os processos inovativos
que ocorreram dentro de uma instituição policial brasileira. Essa instituição passou por um mo-
mento de grande mudança no início da década de 2010, com a mudança da direção-geral que
provocou uma alteração na maioria das chefias do nível estratégico e na totalidade das chefias
de nível tático. Essas mudanças alteraram o rumo que a instituição estava tomando e podem ter
provocado um ambiente favorável a mudanças mais profundas e propício à inovação.
Para realizar o estudo, foram feitas entrevistas para verificar a percepção de gestores so-
bre os processos que estão relacionados a tecnologia, estrutura e processos internos, financeiro,
65
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
2 DISCUSSÃO TEÓRICA
O conceito de inovação é usualmente apresentado de forma ampla e diversa, engloban-
do vários aspectos, mas, em geral, é associado diretamente à inovação tecnológica. Schumpeter
(1988, p.62) informa que a inovação, diferentemente da invenção, está intimamente associada à
ideia de aplicação. Assim, se a invenção é algo mais teórica ou abstrata, a inovação se utiliza da
invenção e a coloca em prática, criando um novo produto, processo ou serviço.
A inovação é apresentada no Manual de Oslo através de quatro tipos: inovação de pro-
duto, inovação de processo, inovação de marketing e inovação organizacional (OCDE, 2005,
p.23). A inovação pode ser vista como a implementação de um novo produto ou serviço, mas
também pode ser vista como um “processo de várias etapas por meio do qual as organizações
transformam ideias em produtos novos/melhorados, serviços ou processos, a fim de avançar,
competir e diferenciar-se com sucesso em seu mercado” (BAREGHEH et al., 2009, p. 1334).
Para Tidd et al. (2008, p.55) a inovação é um processo e enquanto processo deve ser gerido, ou
seja, deve haver pensamento estratégico baseado em ações organizacionais para que alcance
resultados inovadores.
A inovação é analisada como objeto de estudo no setor privado, mas quando se traba-
lha com o setor público, algumas características precisam ser consideradas. Segundo Andrade e
Klering (2006, p. 82), a inovação no setor público possui um caráter muito mais amplo e diverso,
pois “a inovação não envolveria apenas o contexto econômico, ditado pelo mercado, mas tam-
bém um contexto político-institucional no qual deve ser considerada a capacidade de ação dos
atores envolvidos”. Assim, um dos fatores dificultadores para a inovação em organizações são
as mentalidades voltadas para manutenção do status quo e da estabilidade, comum em grandes
corporações, especialmente as públicas (MICHAELIDES, 2011, p.117)
Se inovar no setor público envolve outras peculiaridades, essa questão se torna ainda
mais desafiadora quando se envolve instituições de segurança pública. De acordo com Rolim
(2007, p. 33),
Em poucas áreas, como nas políticas de segurança pública, os espaços para a inovação
são tão estreitos e o apego à tradição tão consolidado. Lidamos, então, especificamente
nesta área, com uma resistência incomum à inovação, que constitui, em si mesma,
parte do problema a ser enfrentado.
Nesse sentido, estando em uma área com apego à tradição tão consolidado, a inovação
pode não encontrar um ambiente favorável à sua implementação. As barreiras internas podem
ser de diferentes naturezas, mas um ambiente com apego à tradição, a cultura organizacional
pode influenciar negativamente, necessitando recorrer a mudanças mais amplas para possibili-
tar a inovação, pois de acordo com Andrade; Klering (2006, p.84),
[...] inovações no setor público devem considerar e incorporar, tanto quanto possível,
mudanças de caráter estratégico, estrutural, tecnológico, humano, cultural, político e
de controle, visando desta forma produzir impactos e desenvolvimentos sociais mais
fortes e mais amplos.
66
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Assim, mudança organizacional não pode ser considerada uma inovação, mas pode
trazer consequências relevantes, como criar um ambiente propício para a inovação. Mesmo que
algo novo já tenha sido utilizado em outro local, a partir do momento que começa a utilizar
isso torna uma inovação para a instituição, pois a inovação está nos olhos de quem vê (TIDD;
BESSANT; PAVITT, 2008, p. 32). Dentro desse viés e para entender melhor esse processo é ne-
cessário conhecer as percepções dos agentes que estão presentes nesse campo.
3 METODOLOGIA
A instituição analisada foi a Polícia Rodoviária Federal - PRF, administração direta do
Poder Executivo vinculada ao Ministério da Justiça, com a missão de garantir segurança com ci-
dadania nas rodovias federais e áreas de interesse da União (PRF, 2014). Com a sede em Brasília,
possui cerca de 10 mil policiais, 26 Superintendências nos estados e 151 delegacias espalhadas
pelo Brasil. Possui ainda mais de 400 Unidades Operacionais e abrange mais de 70 mil quilôme-
tros de rodovias sob circunscrição. A PRF possui uma estrutura de cargos única, o que propicia
uma alternância de poder não presente em outras instituições policiais, que são divididas em ao
menos duas classes de servidores, seja entre agentes e delegados nas polícias civis ou federal ou
entre praças e oficiais nas polícias militares (SOARES, 2013, p.3).
Para realizar o estudo, foram realizadas entrevistas com gestores sobre os processos que
estão relacionados a inovação nos três níveis de gestão, estratégico, tático e operacional. O entre-
vistado do nível estratégico é um gestor do Escritório de Projetos Estratégicos, o entrevistado do
nível tático é um servidor que já assumiu o cargo de Superintendente, e o entrevistado do nível
operacional é um servidor que já chefiou grupos operacionais e equipes especializadas.
O questionário encontra-se em anexo, foi adaptado de Costa (2015) e foi respondido
presencialmente (nível tático e operacional) e a distância (nível estratégico). Em todos os casos
foram explicados o motivo do estudo, ao que se propunha, e realizadas perguntas através dos
seguintes eixos: tecnologia, estrutura e processos internos, financeiro, ambiente externo, gestão
do conhecimento, talentos humanos e liderança. O material obtido foi analisado buscando con-
figurar percepções das ações implementadas e ações que poderiam ser desenvolvidas.
4 RESULTADOS
A análise das respostas trouxe as seguintes percepções, divididas em grandes eixos:
Tecnologia
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
que não se interligavam. Esse cenário teria mudado com algumas conexões, mas ainda há muito
passivo para se alterar.
Financeiro
Ambiente externo
Com relação aos relacionamentos externos, existem parcerias com Universidades, mas
ainda é de forma incipiente e para projetos bem específicos. Foi mostrado como exemplo a par-
ceria coma UFRN para o desenvolvimento de sistemas de gestão e com o IFSC para a instituição
de um curso específico, além da parceira com o SENAI para o desenvolvimento de tecidos para
um novo padrão de uniformes. No geral, parceiros externos contribuem pouco com a inovação.
A instituição escuta seus clientes principalmente pela ouvidoria e redes sociais, mas também
realiza uma pesquisa nacional de percepção de segurança nas rodovias federais.
Gestão do conhecimento
Talentos Humanos
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
tratégico (PRF, 2014). Foi afirmado em todos os níveis que existe uma grande liberdade para
o efetivo opinar sobre as estratégias utilizadas pela instituição, e existem vários mecanismos
informais de troca, como redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, onde são instituí-
dos grupos sobre assuntos diversos que conversam entre si. Foi observado que existem vários
exemplos de projetos estratégicos que nasceram de forma emergente (botton-up), porém não
há recompensas à inovação aos servidores que propõe projetos ou ideias inovadoras. Apesar de
existir uma Academia Nacional que promove a educação corporativa, os cursos promovidos não
focam no desenvolvimento de competências necessárias à inovação.
Liderança
A inovação está presente no discurso das lideranças que a contempla como um de seus
valores principais, e está presente também em ações, como o EPE e o planejamento de implan-
tação de uma área específica sobre inovação em um futuro próximo. Foi apontado também que
o serviço público possui obstáculos estruturais à inovação e não estimula a flexibilidade, sendo
referenciado que o direito administrativo brasileiro possui barreiras que desestimulam a inova-
ção devido aos riscos inerentes que esse processo possui e, quando há riscos, estes precisam ser
meticulosamente calculados. O estilo de gestão estimula a criatividade, porém essa afirmação
foi maior quanto maior foi o nível de gestão do entrevistado.
5 DISCUSSÃO
As mudanças ocorridas na instituição promoveram um ambiente propício à inovação,
possibilitando a introdução de elementos necessários que incentivam esse processo, como a
gestão de novos projetos e o desenvolvimento de uma boa infraestrutura tecnológica, apesar de
essa não ser adequadamente direcionada à inovação e ao compartilhamento de conhecimento.
A criação do EPE propiciou maior controle pela alta gestão sobre os custos, prazos e
entregas, possibilitando uma gestão mais madura dos projetos. Esse modelo deve se espalhar
também para o nível tático ao se estabelecer nas Superintendências, propiciando um amadure-
cimento nos projetos locais.
A utilização de recursos provenientes de outras fontes que não o orçamento geral in-
dica que a instituição começou a procurar outras fontes de financiar a inovação, porém ainda
não estabeleceu o caminho do dinheiro com instituições públicas de fomento ou mesmo com
parcerias com a iniciativa privada.
Se existem parcerias com universidades, estas são realizadas com objeto muito especí-
fico e ainda não de forma sistêmica. No geral os parceiros contribuem pouco com a inovação.
O conhecimento é gerido de forma setorial e, embora tenha sido criado um portal in-
terno de informações, ele é ainda pouco estruturado para o compartilhamento e disseminação
do conhecimento. O fato apresentado da instituição ser espalhada pelo território e a distância
dos servidores não deveria ser um fato inibidor pelo fato da TI estar bem desenvolvida na insti-
tuição. Se o problema não está na tecnologia, ele deve estar na gestão do conhecimento, faltando
ainda observar melhor os principais processos de gestão do conhecimento organizacional como
a criação, armazenamento/recuperação, transferência e aplicação de conhecimentos, direcio-
nando a TI e a utilizando com ferramenta para a gestão.
Há, também, muita troca de informações através de aplicativos e sistemas externos à
instituição, como redes sociais e sistemas de mensagens, criando redes informais de colabora-
69
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
ção. Porém, devido a utilização de informações sigilosas em uma instituição policial, deve haver
uma preocupação com o sigilo das informações, pois não há muito controle quando utilizado
em sistemas externos e gratuitos.
Embora o concurso público provoque um engessamento na seleção, o perfil do servi-
dor poderia ser melhor trabalhado na busca de um perfil mais inovador e criativo, valorizando,
por exemplo, a experiência anterior. Porém, o perfil da instituição, com carreira civil e estrutura
funcional de cargo única propicia uma horizontalidade que facilita a criatividade, a discussão
e exposição de ideias e críticas. Isso pode ser observado na afirmação de que vários projetos
estratégicos iniciaram de forma emergente (botton-up), faltando apenas instituir uma forma
de recompensar a proposição de inovações. A gestão participativa que está presente no plano
estratégico da instituição parece funcionar, mesmo sem ter definição clara dos procedimentos
dessa participação. Mas o estilo de gestão estimula a criatividade somente nos níveis mais altos
de gestão, evidenciando que há entraves não identificados nos níveis mais baixos.
O discurso sobre mudanças está fortemente presente nas lideranças e é incentivado
apesar das barreiras provenientes do direito administrativo. A criação do EPE parece ser o gran-
de fator que propiciou maior da profissionalização da gestão de projetos inovadores.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste processo de análise, foram detectadas as barreiras apontadas, assim como obs-
táculos e como os processos tem evoluído e como poderiam se tornar mais dinâmicos e ino-
vadores. Ficou evidenciada a influência percebida das lideranças no andamento dos processos
inovativos e como essas atitudes tem evoluído os trabalhos realizados. Ainda, evidencia-se a
tecnologia como ponto a ser destinado mais atenção, pois a atuação exige confrontação com a
formação de competências necessárias para promover gestão adequada conjuntamente com a
inovação e sustentabilidade.
Como resultado final, a percepção observada indica que mudanças ocorreram e que
propiciaram a criação de um ambiente favorável à inovação. Esse é um passo importante, pois
mostra que uma cultura de inovação está sendo gerida em um processo que é de longo prazo.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, J. A.; KLERING, L. R. Inovação na Gestão Pública: compreensão do conceito a
partir da teoria e da prática. In: JACOBI, Pedro Roberto; PINHO, José Antonio (Org.). Inovação
no campo da gestão pública local: novos desafios, novos patamares. Rio de Janeiro: FGV
Editora, 2006.
70
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
PRF – Polícia Rodoviária Federal (BRASIL). Portaria nº 28, de 12 de fevereiro de 2014. Institui
o Plano Estratégico da Polícia Rodoviária Federal para o período 2013-2020. Brasília, 2014.
TIDD, J.; BESSANT, J.; PAVITT, K. Gestão da Inovação. 3. Ed. – Porto Alegre: Bookman, 2008.
ANEXO
Questionário guia realizado nas entrevistas adaptado de Costa (2015)
Tecnologia
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Financeiro
Ambiente Externo
Gestão do Conhecimento
Talentos Humanos
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Liderança
O discurso dos dirigentes contempla a inovação como um dos seus valores principais?
O estilo de gestão estimula a criatividade?
A liderança facilita o processo de inovação mesmo que tenha que remover obstáculos
gerenciais?
A liderança reconhece e pratica o fato que ser inovador significa poder mudar (ser fle-
xível) quando surgem novas informações e oportunidades?
A liderança tem consciência que o processo de inovação possui riscos e mesmo assim
está disposta a incentivá-lo?
73
VEÍCULOS AÉREOS NÃO TRIPULADOS:
POSSIBILIDADES DE EMPREGO NO CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA
1 INTRODUÇÃO
Despontando no cenário mundial, surge o Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), em
inglês Unmanned Aerial Vehicle (UAV), uma aeronave que não necessita de profissional embar-
cado para pilotá-la com modo de operação remoto, autônomo ou com uma combinação dos
dois (DE PAULA, 2012). Este é um equipamento com múltiplas capacidades que teve sua ori-
gem no meio militar, entretanto, vem sendo empregado de modo bastante abrangente no meio
civil. Segundo Gomes et al. (2014), o uso de um VANT está cada vez mais comum devido ao seu
baixo custo e pela possibilidade da realização de tarefas onde a presença humana poderia ser
dispensável, arriscada ou até mesmo impossível.
74
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Para Chaves (2012), de acordo com Departamento de Defesa Americano, VANT é uma
aeronave que não transporta um operador humano e é capaz de voar por controle remoto ou de
forma autônoma. Oliveira (2005) complementa que o VANT é uma plataforma de baixo custo
operacional e que pode ter controle remoto ou seguir um plano de vôo já previamente estabe-
lecido, sendo capaz de executar diversas atividades, como monitoramento, vigilância, reconhe-
cimento tático, mapeamento dentre outras, conforme os tipos de equipamentos instalados no
VANT.
Revelam-se, portanto, como ideais para operações longas que expõem a tripulação a
fadiga extrema ou em que há risco para o piloto, tanto à saúde quanto risco de morte – no
caso, caracterizadas como operações 3D: dull (enfadonhas), dirty (sujas) e dangerous (perigosas)
(MENDES; FADEL, 2009). Entre essa operações 3D estão: os sobrevôos em áreas radioativas,
de baixa altitude, principalmente de noite e operações que requerem muitas horas de duração
(CHAVES, 2012).
O tema inovação tecnológica se articula intimamente com a atividade de bombeiros,
pois existem inúmeros equipamentos que surgiram e revolucionaram a forma como os bom-
beiros desempenham suas missões no atendimento as pessoas, possibilitando mais eficiência e
melhoria nos atendimentos e seus tempos de resposta. Nesse contexto, vem ganhando destaque
um dos segmentos de atuação dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), aqueles específicos
para combate a incêndios, especialmente, na Espanha (ADDATI; LANCE, 2014).
Diante do exposto, essa investigação sobre o uso dos VANTs no Brasil e em outros paí-
ses, busca analisar em que áreas de atuação do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina
(CBMSC) eles poderão ser empregados a fim de melhorar a prestação de serviços à sociedade.
Essa pesquisa é descritiva de cunho bibliográfico e baseia-se em revisão de materiais científicos
publicados na área, como livros, artigos, monografias, dissertações, teses etc. Também fazem
parte das fontes de consulta algumas notícias importantes veiculadas em meios de comunicação.
Diante da problemática exposta, buscou-se uma abordagem qualitativa, pois segundo Minayo
(2007), esta responde a questões particulares tendo um nível de realidade que não se pode ou
não se deveria quantificar. Nesse caso, o objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser
traduzido em números e indicadores quantitativos.
2 RESULTADOS
As principais áreas de emprego dos VANTs atualmente buscam a obtenção de imagens
e vídeos aéreos, monitoramento e vigilância, inspeção de estruturas, busca e resgate, gestão de
emergências e mapeamento de terrenos (ADDATI; LANCE, 2014).
Austin (2010), no livro Unmanned Aircraft Systems: UAV Design, Development and
Deployment, elenca como áreas de utilização de VANT e possíveis agentes utilizadores: Polí-
cia, Guarda Costeira, Bombeiros (em incêndios, procura de pessoas perdidas, busca e resgate,
monitoramento de áreas, gerenciamento de eventos, monitoramento e vigilância de enchentes,
fotografia aérea), filmagens e vídeos, vigilância, serviços meteorológicos, investigação etc.
Nos Estados Unidos (EUA) os VANTs já foram empregados em ações de busca e sal-
vamento, por exemplo, dos sobreviventes na cidade de Nova Orleans, destruída pelo furacão
Katrina em agosto de 2005. Nessa oportunidade, os VANTs estavam equipados com câmeras,
GPS e sensores infravermelhos que permitiram o monitoramento das áreas devastadas pelo fe-
nômeno, possibilitando a orientação das equipes de salvamento por meio dos destroços (SAN-
TOS apud ALMEIDA; MIRANDA NETO, 2009).
75
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 108. O Corpo de Bombeiros Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva
do Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao
Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além das outras
atribuições estabelecidas em lei:
76
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
77
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
informações preliminares e com a suspeita de um possível ataque cardíaco, despacha tanto uma
unidade de atendimento como o VANT com o desfibrilador até o local (DELFT, 2014).
Ao chegar primeiro no local o VANT, a central informa da sua chegada ao solicitante
que pega o VANT e leva ele até o paciente, então, através de uma câmera no equipamento com
conexão pela internet o atendente da central de informações analisa o que está acontecendo no
local e explica, pelo alto-falante do VANT, ao solicitante o que ele deve fazer como, por exemplo,
abrir a camisa do paciente, colocar os eletrodos e deixar o equipamento fazer o resto. Minutos
depois, com a chegada da equipe de atendimento no local, esta faz os demais procedimentos
necessários e o transporte do paciente até uma unidade hospitalar (DELFT, 2014).
De acordo com os estudos realizados pelos idealizadores da Delft, o VANT pode levar
o desfibrilador em até um minuto a cada 12km percorridos, ou seja, é capaz de prover um aten-
dimento dentro de 10 minutos (percorrendo aproximadamente 100km de distância) e, assim,
aumentar as chances de sobrevivência do paciente que sofreu ataque cardíaco de 8% (oito por
cento) até 80% (oitenta por cento) (DELFT, 2014). Outro destaque desse VANT é que, pela in-
formação de localização, a central traça a rota de vôo e faz com que chegue de forma autônoma
até o local. Ele possui também um alto-falante, o atendente da central pode acalmar as pessoas
ao redor, o que auxiliará a criar um clima de tranquilidade naquele espaço. E, ainda, com a capa-
cidade de transportar uma carga útil de até 4kg, poderá levar itens de assistência médica, como
para primeiros socorros (DELFT, 2014).
Outro modelo de VANT, já em utilização nos EUA, é o SkyProwler, que foi projetado
para transportar e fazer a entrega de kits de emergências médicas ou qualquer outro tipo de
carga. Com o custo de $50 (cinquenta dólares), o VANT, que pode atingir uma velocidade de
100km/h, leva metade do tempo resposta de uma ambulância, e pode acessar locais isolados que
uma viatura terrestre normal não conseguiria chegar, com autonomia para voar até 64 quilôme-
tros de distância (KROSSBLADE, 2015). É um modelo que combina asa fixa com asas giratórias,
usando estas para pousos e decolagens verticais e as fixas para voar em velocidades mais rápidas.
Também é equipado com câmeras e com um compartimento de carga onde se transporta o que
for necessário para o atendimento de pessoas, sejam suprimentos médicos, alimentares ou o
que for necessário (KROSSBLADE, 2015). Esses são apenas 2 (dois) exemplos de VANTs, mas
existem outros protótipos e modelos no mercado, com essas funcionalidades.
78
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
da-vidas quando iniciam o deslocamento para efetivarem um resgate (CROWE, 2015). Existem
diversos modelos, do tipo multirrotor, carregam diferentes tipos de boias e quantidade diferente
delas também. Ressalta-se, todavia, que os VANTs para salvamento aquático devem ser utili-
zados em conjunto com o serviço de guarda-vidas, uma vez que o VANT pode levar de forma
rápida à vítima um instrumento de flutuação, acalmando-a até que o guarda-vidas chegue para
efetuar o restante do resgate, com o devido atendimento pré-hospitalar.
79
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
zar pessoas perdidas (MORTIMER, 2011). O referido VANT tem a capacidade de identificar, por
exemplo, silhuetas humanas embaixo de copas densas de árvores ou em florestas, o que o torna
um grande aliado para a gestão e coordenação de operações de emergência (MORTIMER, 2011).
Existe, ainda, um VANT denominado Gimball, da empresa Flyability, que foi desen-
volvido especialmente para conseguir adentrar em espaços confinados e voar muito próximo
de pessoas sem risco de ferimentos, já se demonstrando altamente eficaz em missões de resgate.
Este protótipo ganhou, inclusive, o prêmio de um milhão de dólares por suas características
inovadores e por apresentar benefícios para a humanidade. Seu funcionamento é simples, o
VANT é envolto em uma espécie de jaula protetora, em forma circular, que protege a aeronave
e permite, também, que ela possa colidir com obstáculos sem perder a estabilidade de seu vôo
(DRONESFORGOOD, 2015).
80
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
2.7 DESASTRES
Os VANTs são equipamentos capazes de realizar monitoramento e mapeamento de
grandes áreas de forma mais rápida e precisa, inclusive é capaz de antever possíveis desastres
(AVAIRFILMS, 2013). Doherty e Rudol (2007) afirmam que encontrar vítimas em um cenário
pós-desastre é um dos principais objetivos das operações desenvolvidas nesses cenários e que o
uso de robôs, como os VANTs, pode auxiliar no progresso dessas ações de exploração dos locais
devastados. Longhitano (2010) destaca também que a maioria dos acidentes necessita de uma
vistoria inicial emergencial que, podem trazer riscos e dificuldades à equipe envolvida no aten-
dimento, por isso os VANTs teriam papel fundamental e poderiam acessar locais de acesso com-
plexo, obtendo imagens e vídeos que ajudariam na avaliação do cenário de forma breve e segura.
Devido à importância desse tema, já em 2013 foram realizados testes com VANTs no
cenário de desastre da região de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, que havia sofrido com
deslizamentos e enchentes. Com base nisso se verificou que os VANTs foram os únicos a atingir
todos os pontos de interesse estipulados pelo centro de comando, pois em certas áreas nenhuma
equipe conseguiu acesso, mesmo após a estiagem das chuvas fortes.
Constatou-se que os melhores modelos para serem utilizados em desastres seriam os
de asas giratórias (multirrotores), pois são mais fáceis de manusear, tem boa autonomia e velo-
cidade de voo, não necessitam de pista para decolar e aterrizar, sendo mais práticos e versáteis.
Como acessórios de vôo, utilizou-se uma bússola digital, controlador de altitude, GPS, sistema
de piloto automático para voo com rotas programadas e câmera (ALBUQUERQUE; LUCENA;
CAMPOS, 2014).
Faria e Costa (2015), afirmam que a tecnologia dos VANTs multirrotores possuem es-
pecificações apropriadas para o sucesso em uma operação de fiscalização de danos ambientais,
o que serve para redução do tempo de elaboração do planejamento operacional da gestão do de-
sastre e suas missões. Também ressaltam o baixo custo do equipamento e de sua utilização, sen-
do uma ferramenta eficaz e eficiente. Os autores destacam que seria uma ferramenta de auxílio
na gestão dos recursos humanos, pois possibilitaria melhor utilização de equipes e identificaria
as prioridades de atendimento.
Como acessórios básicos para cumprimento de missões em cenários de desastre, se-
ria apenas necessário um computador de bordo, um GPS e uma câmera de alta definição que
obteria imagens e vídeos armazenados no sistema da aeronave, assim, posteriormente, no seu
retorno para a base, as informações seriam analisadas e processadas oferecendo referências para
o planejamento das ações (FARIA; COSTA, 2015).
Percebe-se que, já no Brasil, o uso ou a intenção de se usar VANTs em desastre já existe,
entretanto, os órgãos e agências têm muito que investir e avançar, pois no exterior, o VANT já
tem larga utilização nesses ambientes, como se observou nas recentes inundações de 2015 que
atingiram o estado americano do Texas (MCFARLAN, 2015) e nas de 2013 que atingiram a re-
gião de Uttarakhand na Índia (DRONESFORGOOD, 2014).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao estudar as diferentes formas pelas quais um VANT pode ser utilizado ao redor do
mundo, verificou-se que essa tecnologia já é amplamente utilizada por bombeiros em outros
países, inclusive por alguns bombeiros brasileiros em situações ainda pontuais, como no Espí-
rito Santo e Rio de Janeiro. Pode-se notar, portanto, uma vasta aplicabilidade dos VANTs nas
81
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
diversas áreas de atuação do CBMSC, baseado em aeronaves já existentes e utilizadas para tais
finalidades, sendo esta uma ferramenta de grande destaque tendo em vista as inovações e con-
tribuições para a melhoria dos serviços prestados em situações de emergências.
Conclui-se que os VANTs têm conquistado reconhecimento mundial, diante das ino-
vações e melhorias conferidas nos serviços prestados pelos bombeiros. Nesse sentido, conforme
benefícios de seu emprego comprovados por outras corporações, identifica-se sua aplicabilidade
para o corpo de bombeiros, principalmente no cumprimento das missões 3D. Portanto, essa
tecnologia qualificaria o desempenho da atividade das instituições, assim como responderia
demandas sociais vinculadas com as áreas de atuação do CBMSC.
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VANTS DE USO CIVIL. Buenos Aires: Ucema, 2014. (Documentos de Trabajo). Disponível
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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STONE, Jeff. Drone Helps Firefighters Save Stranded Rafters; DJI Phantom 3 Carried Life
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SUASNEWS. Unmanned Aerial systems – Urban Firefighting’s nest tool? 2013. Disponível em:
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next-tool/>. Acesso em: 14 jun. 2015.
WIMMER, Thompson. Unmanned systems Forest Fire Applications. 2014. Disponível em:
<http://www.thompsonwimmer.com/assets/unmanned_systems_forest_fire_application_
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85
AVALIAÇÃO DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
DE SARGENTOS 2014 -1 MODALIDADE
EAD COM O CURSO 2013-1 MODALIDADE
PRESENCIAL
1 INTRODUÇÃO
O interesse por este tema deve-se ao fato de que o curso de Aperfeiçoamento de Sar-
gentos na PMSC têm um número elevado de horas/aulas e não traz nenhuma titulação acadê-
mica ao policial que o conclui. Outro assunto importante é o crescimento dos cursos na mo-
dalidade da Educação a Distância – EaD nas organizações da PMSC. Estes cursos vêm sendo
potencializados por diversos fatores: economia, comparado com tradicional; não há limitações
geográficas; e a importância crescente da aprendizagem continuada. O curso de aperfeiçoamen-
to de Sargentos (CAS), que é um requisito para a progressão na carreira de um 2º Sargento da
Polícia Militar de Santa Catarina, passou a ser online a partir de 2013. A metodologia utilizada
na investigação foi o estudo de caso, delineando-se, assim, uma pesquisa quanti-qualitativa,
respeitando-se os princípios científicos que as orientam. Como instrumento de coleta de dados,
utilizou-se os planos de ensino dos CAS. Para tanto, realizou-se um levantamento do desenvol-
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 10. Por qualquer dos critérios, ressalvados os casos previstos em lei, a promoção
a 2º Sargento, 1º Sargento e Subtenente, somente poderá ser processada quando o
candidato satisfizer os seguintes requisitos:
Até 2013 o CAS era ministrado na modalidade presencial. O aluno tinha que se deslo-
car até Florianópolis, no CEPM, para realizar o Curso, que tinha duração de quatro meses. Este
deslocamento gerava muito transtorno e despesas para o policial realizar o curso.
Com o advento do CAS na modalidade EaD, no ano de 2014, a situação passa a gerar
menos transtorno e despesas para os alunos. Com exceção da primeira semana, que é presen-
cial, o aluno do CAS não precisa se ausentar de sua Organização Policial Militar (OPM) nem
sofrer mais por ter que se separar de sua família. Com isso, percebe-se que há um ganho para a
corporação e para o policial.
Há que ressaltar que na modalidade a distância, os policiais precisam de um alto grau
de maturidade, autonomia, objetivos claros e pontuais. Paralelamente a isso, a instituição, para
atuar com a Educação a Distância, também precisa de clareza no que diz respeito a alguns as-
pectos tais como a missão, as metas e os objetivos a serem atingidos. É aí que entra em cena o
planejamento e a gestão estratégica.
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Educação a Distância - EAD é uma forma de ensino que amplia a dimensão espaço-
temporal da escola, democratiza o acesso à educação e possibilita a autoaprendizagem,
com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados
em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e
veiculados por diferentes meios de comunicação.
89
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Ética: ter uma postura que respeite os valores definidos pela instituição e pela socieda-
de, sendo um referencial para seus subordinados;
90
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
“Os alunos até meio do curso estiveram perdidos, pois seus questionamentos
dificilmente eram respondidos, disciplinas e notas sumiram da tela deixando todos
apavorados, mas do meio do curso em diante tivemos um melhor rendimento do
planejamento inicial”.
“Gostei da forma que foi disponibilizado porem deveria haver alguns ajustes como por
exemplo as matérias já encerradas deveriam ser dispostas separado das em andamento
pois misturadas como estão confundem podendo o acadêmico por descuido deixar
passar uma prova, e se estiver separado tem-se a certeza do que foi feito e do que esta
pendente”.
“No âmbito geral foi muito bom, mas tenho certeza que pode melhorar principalmente
no que tange a plataforma propriamente dita e suas ferramentas.O sistema travou
várias vezes e ficamos esperando a solução técnica.Fora isso, os outros quesitos estão
dentro do aceitável para um curso E.A.D.”.
“Melhor o cursos nestes mondem, pois o policial participa do curso e não sai do seu
local de trabalho”.
“Os alunos até meio do curso estiveram perdidos pois seus questionamentos
dificilmente eram respondidos, disciplinas e notas sumiram da tela deixando todos
apavorados, mas do meio do curso em diante tivemos um melhor rendimento do
planejamento inicial”.
“Gostei da forma que foi disponibilizado porem deveria haver alguns ajustes como por
exemplo as matérias já encerradas deveriam ser dispostas separado das em andamento
pois misturadas como estão confundem podendo o acadêmico por descuido deixar
passar uma prova, e se estiver separado tem-se a certeza do que foi feito e do que esta
pendente”.
“O curso é uma inovação no modelo que foi apresentado (EaD). Acredito ser
importante essa modalidade. No geral o curso foi bem organizado e planejado, porém
o contato com o secretário e monitor do curso ficou prejudicado. Parece que durante
o curso foi concedido férias ao secretário e não foi deixado ninguém nessa função
durante esse período”.
Com relação aos relatos dos Sargentos-alunos na questão acima, extrai-se que num
primeiro momento, no início do curso, ocorreram alguns problemas técnicos na inserção de
disciplinas e notas, porém no decorrer do curso os ajustes foram realizados.
Outro relato interessante é que o CAS na modalidade EaD é um avanço para a PMSC e
superou as expectativas. Além de ser uma inovação, trouxe o benefício de o aluno não precisar
ausentar-se de sua OPM nem afastar-se de sua família.
92
I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Outro importante dado é o fato de que o Centro de Ensino da Policia Militar (CEPM)
é uma Instituição de Ensino Superior (IES), nesse sentido o Curso de Aperfeiçoamento de Sar-
gentos (CAS) poderia dar a titulação de pós-graduação em segurança pública.
Segue abaixo a grade curricular do CAS EaD, comparando com o CAS Presencial ob-
serva-se uma grande mudança com relação a quantidade de disciplinas e também com a carga
horária.
Tabela 2: Grade Curricular Cas Ead 2014
Nesta tabela observa-se que ocorreu uma diminuição da quantidade de hora/ aula se
comparada com a grade curricular do CAS Presencial. Percebe-se então, uma melhoria no pla-
nejamento do curso que para dar continuidade na ideia da titulação de especialista precisaria
passar por alguns ajustes no tocante às disciplinas e um aumento na carga horária, pois como já
foi relatado anteriormente por lei são necessárias 360h/a.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo o desenvolvimento da educação na PMSC, o CAS teve início no ano de 1970.
Em 2012 o Curso de Formação de Soldados, adequa-se às exigências do Ministério da Justiça.
Continuando no desenvolvimento, outro passo importante foi dado em 2009 quando, através da
Lei Complementar nº 454, passou a ser exigido nível superior para ingressar na PMSC. Em 2012
são desenvolvidas as Normas Gerais de Ensino – NGE. Após 40 anos de evolução chegamos ao
ponto de exigir nível superior para ingressar na carreira militar, e neste viés, em 2012 o Con-
selho Estadual de Educação (CEE) reconheceu o Centro de Ensino da Polícia Militar de Santa
Catarina (CEPM) como uma instituição de ensino superior, juntamente com o credenciamento
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
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I SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
REFERÊNCIA
BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.
LÉVY, Pierre. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São Paulo: Editora
34, 2001.
95
GEOTECNOLOGIAS COMO FERRAMENTAS
AUXILIARES NA FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL
Camile Sothe1
1 INTRODUÇÃO
A preocupação com o meio ambiente na sociedade contemporânea é crescente. A cons-
cientização a respeito da necessidade de repensar a relação dos seres humanos com o planeta
tem se refletido na elaboração de ordenamentos jurídicos cada vez mais complexos, que buscam
não só reparar erros passados, mas prevenir erros futuros. Um exemplo disto no ordenamento
jurídico brasileiro é o artigo 225 da Constituição Federal e a Lei Federal n° 9.605/1998 (Lei dos
Crimes Ambientais). A fiscalização e combate a crimes e infrações ambientais, previstos neste
arcabouço legal, é uma das missões constitucionais da Polícia Militar Ambiental.
Neste contexto, metodologias embasadas na aplicação de geotecnologias têm se apre-
sentado como alternativa viável para reduzir os custos e tempo gasto com trabalhos em campo,
otimizando o período hábil de fiscalização do cumprimento da legislação ambiental. O avanço
tecnológico sem precedentes, a enorme disponibilidade de dados de sensores remotos, bases
1 Mestra em Engenharia Florestal pela UDESC, soldado na Polícia Militar Ambiental de Tijucas: Rua Coronel
Conceição, nº 870, Centro, Tijucas-SC. E-mail: camilesothe@yahoo.com.br
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cartográficas e softwares livres, possibilitam cada vez mais reunir, processar e entender melhor
as informações ambientais de forma integrada.
Muitos trabalhos mostram como geotecnologias podem auxiliar no trabalho de órgãos
ambientais, em atividades de fiscalização, monitoramento, análise histórica dos fatos, planeja-
mento das atividades operacionais, dentre outros. No âmbito internacional, Kelly e Kelly (2014)
fazem uma revisão de 61 estudos que utilizaram Sensoriamento Remoto na identificação de
crimes, dentre eles, os crimes ambientais. Brilis et al. (2000), forneceram uma visão geral do
uso de fotografia aérea, mapeamento topográfico e fotogrametria em ações de fiscalização am-
biental da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América (EUA). Segundo
eles, a visualização das relações espaciais entre características naturais e antrópicas pode ser o
escopo da investigação ambiental e fornece registros históricos de mudanças das condições de
determinado local. Brilis (2000) mostrou a importância do Sistema de Informação Geográfica
(SIG) e do Sistema de Posicionamento Global (GPS) na Agência de Proteção Ambiental dos
EUA. Segundo o autor, o SIG apresenta diversas aplicações para a Agência, como mensurações
remotas (comprimento e área, por exemplo), reclassificação de atributos (combinando informa-
ções de dados de diferentes camadas para determinar, por exemplo, tipos de solo em parcelas de
terra adquiridas por diferentes pessoas), cobertura topológica (para determinar fronteiras em
comum ou subdividir unidades de mapas baseados em feições de outras camadas), operações
de conectividade (para determinar a rota mais curta ao longo de uma rede de trabalho) e análise
de superfície.
No Brasil, Caldas et al. (2009) descrevem três exemplos do uso de Sensoriamento Re-
moto com imagens dos satélites CBERS e Landsat na perícia criminal federal no estado do Pa-
raná: determinação da época de ocorrência de desmatamento, incêndios florestais no Parque
Nacional da Ilha Grande e constatação de cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta.
Da mesma forma, Alves e Russo (2011), mostraram uma análise multitemporal de imagens
Landsat-5 como ferramenta para a elaboração de laudo pericial em desflorestamento, incêndio
florestal e implantação de pastagens, próximo à divisa entre os estados de Rondônia, Amazonas
e Mato Grosso, no Parque Nacional dos Campos Amazônicos. Caixeta (2009) utilizou imagens
de satélite e ferramentas SIG para monitorar Área de Preservação Permanente (APP) ao longo
do Ribeirão Anicuns em Goiânia. Segundo o autor, na maioria dos casos, é possível determinar
os locais onde as APPs não estão sendo respeitadas, reduzindo custos e dando maior agilidade
ao serviço dos órgãos ambientais.
No âmbito estadual, Trauczinsky (2013) afirmou que a maioria dos exames periciais
relativos a crimes ambientais no estado de Santa Catarina (SC) utiliza produtos ópticos de sen-
soriamento remoto (fotografias aéreas e imagens orbitais) como ferramenta para ilustrar, qua-
lificar, mensurar e situar o dano dentro de um contexto histórico. Lima (2013), concluiu que as
medições remotas realizadas sobre a ortoimagens oriundas do levantamento aerofotogramé-
trico de SC e de imagens do satélite GeoEye ortorretificadas são equivalentes as medições rea-
lizadas em campo. Sothe (2015) mostrou cinco metodologias, utilizando diferentes softwares
livres, para classificação digital automática de ortoimagens, com intuito de classificar o estádio
sucessional da vegetação do estado. O objetivo foi mostrar formas alternativas de fazer a classi-
ficação da vegetação de forma a otimizar os dispendiosos inventários florestais em campo feitos
pela PMA.
O uso efetivo de alguns dados, como as imagens de satélite, na fiscalização de crimes
ambientais em SC encontra algumas limitações, como a resolução espacial das imagens. Dife-
rente do Bioma Amazônia, por exemplo, em que ocorrem desmatamentos em extensas áreas,
possíveis de serem detectados em imagens de menor resolução espacial, SC possui intervenções
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2 MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se imagens disponíveis no software Google Earth, versão Pro, que, desde 2015,
também é gratuito. As imagens das duas áreas de estudo foram georreferenciadas no software livre
QGIS 2.8.2, utilizando-se como base cartográfica o arquivo shape de municípios do IBGE.
O primeiro caso apresentado foi o levantamento do número de construções provenien-
tes de uma ocupação irregular de APP, margem de um curso d’água com 2 m de largura, em
Balneário Camboriú. Primeiramente, foi percorrida a área afetada com um GPS portátil, mar-
cando-se as coordenadas de cada edificação do local e do percurso do curso d’água. Estes pontos
foram lançados no QGIS 2.8.2. Neste aplicativo, usou-se a ferramenta buffer2 para estabelecer
uma faixa de 30 m ao lado norte do curso d’água, e, desta forma, verificar quais das edificações
estavam dentro da faixa de APP.
O segundo caso envolve a fiscalização de um local alguns anos após o crime ambiental
de desmatamento. Como procedimento de praxe dentro da PMA-SC, o Auto de Infração Am-
biental (AIA) lavrado gera um procedimento administrativo. Após algum tempo, é solicitado
ao agente ambiental autuante retornar ao local, a fim de verificar se o infrator cumpriu o que
foi acordado no Termo de Compromisso (esfera administrativa). Como exemplo do uso das
geotecnologias neste contexto, foi verificado a situação atual de uma área de 3 ha desmatada
em 2011 no município de Camboriú, buscando-se as coordenadas geográficas da ocorrência no
processo administrativo. As coordenadas foram colocadas no Google Earth e, através da opção
“visualizar imagens históricas”, foi possível verificar o estado atual da vegetação no local.
O terceiro caso compreendeu a verificação dos locais de maior incidência de crimes
ambientais na região da unidade da PMA de Tijucas. Esta unidade abrange os municípios de
duas Mesorregiões de SC: Vale do Itajaí (Balneário Camboriú, Camboriú, Itapema, Porto Belo
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e Bombinhas) e Grande Florianópolis (Canelinha, Major Gercino, Nova Trento, Porto Belo, São
João Batista e Tijucas).
No sistema de Gestão de Acompanhamento de Infrações Ambientais (GAIA), foram
levantadas as coordenadas geográficas dos locais em que foram lavrados os AIAs entre os anos
de 2010 e 2014. Para análise espacial dos dados, a planilha do Excel foi importada no Sistema
de Informação Geográfica QGIS 2.8.2. Com o campo relativo às coordenadas geodésicas, foi
possível plotar os locais de infração para o mapa usado como referência. Para a visualização dos
principais locais de ocorrência de crimes ambientais, as denominadas “zonas quentes”, foram
elaborados mapas de densidade do tipo cluster (agrupamento). A análise de cluster depende da
proximidade dos pontos que representam os incidentes. Em geral, primeiramente o programa
estabelece um ponto de partida arbitrário, definido como “semente”. O sistema encontra o dado
estatisticamente mais afastado da semente e faz dele a segunda semente, dividindo os dados em
dois grupos. São então calculadas as distâncias a partir de cada semente até outros pontos, e os
clusters baseados na nova semente são desenvolvidos de modo que as somas das distâncias den-
tro do cluster sejam minimizadas. Atribuiu-se um raio de 20 km para elaboração dos clusters, ou
seja, foram agregados os pontos que estivessem na proximidade de até 20 km do ponto central
do cluster.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 mostra uma ocorrência ambiental de ocupação irregular de APP no mu-
nicípio de Balneário Camboriú. Em um período de três meses várias construções foram feitas
na margem de um curso d’água. Foi possível constatar que, das 135 edificações construídas
recentemente no local, 55 estavam dentro da APP. Destaca-se que se trata de área urbana não
consolidada conforme a legislação vigente, tendo em vista a intervenção ter ocorrido após 22 de
julho de 2008.
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A Figura 2 mostra a evolução temporal das imagens de uma área autuada por supressão
de vegetação nativa no ano de 2011, no município de Camboriú. Consta no processo adminis-
trativo do caso que o autuado destruiu o local com intuito de realizar plantio de espécie exótica,
eucalipto. Verificando-se as imagens posteriores a data da autuação, percebe-se que não foi rea-
lizada a recuperação do local com vegetação nativa, conforme esperado, mas sim, o plantio de
eucalipto, que era a intenção inicial do autuado.
Figura 2. Monitoramento de local após desmatamento, com imagens Google Earth: an-
tes do dano em 2010 (a); logo após o dano em 2011 (b); imagem de 2015, com o eucalipto esta-
belecido na área afetada (c).
O mapa de cluster (Figura 3) mostra os focos das infrações ambientais constatadas no
período estudado na unidade da PMA de Tijucas. Percebe-se que o maior número de ocorrên-
cias concentradas (em vermelho) está nos municípios de Camboriú, Nova Trento e São João
Batista. Um dos focos de ocorrências no município de Porto Belo refere-se ao atendimento da
requisição do Ministério Público Estadual no ano de 2013, que gerou 23 AIAs lavrados em um
único dia.
Este tipo de mapeamento permite a análise espacial das ocorrências criminais poden-
do-se direcionar o foco de atuação do órgão para as chamadas “zonas quentes”, ou seja, nos
locais em que os crimes ambientais são mais frequentes. Segundo Lang e Blaschke (2009), a aná-
lise espacial apoiada em SIG objetiva fundamentalmente gerar novas informações, o que se dá
por meio da manipulação e integração com camadas de dados já existentes. Essa nova geração
de informações serve para tomar decisões referentes a áreas.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou sucintamente três formas de como o Google Earth e o QGIS
podem auxiliar nas atividades de fiscalização da PMA. Estes programas auxiliaram a levantar o
número de construções irregulares em APP, monitoramento temporal de área objeto de autua-
ção, o que possibilita a verificação do cumprimento do Termo de Compromisso pelo autuado,
além da geração de mapas de incidência criminal. Essas informações são de extrema importân-
cia na tipificação e cominação das penas ao fim do processo administrativo, além de possibilitar
direcionar o foco de atuação da Polícia Ambiental.
O uso de geotecnologias só tende a aumentar. Farias e Costa (2015), apresentaram um
estudo sobre as aplicabilidades de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT- drones) no trabalho
da PMA. Dentre elas, os autores citaram o policiamento ostensivo preventivo de baixo custo
operacional, já que evitaria que patrulhas terrestres e/ou aquáticas se deslocassem por áreas de
difícil acesso; a capacidade de resistência às intempéries climáticas, fatores que muitas das vezes
limitam a atuação do convencional monitoramento aéreo realizado pelas aeronaves do Batalhão
de Aviação da Polícia Militar; além dos sobrevoos milimetricamente precisos, gerando mapas
georreferenciados do local monitorado.
Ressalta-se, no entanto, a importância do trabalho de campo executado com a finali-
dade de verificar informações interpretadas nas imagens de satélite, e obter maior precisão na
localização dos fatos verificados.
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REFERÊNCIAS
ALVES, R. A. L.; RUSSO, D. Análise multitemporal de imagens LANDSAT 5 no apoio a
confecção de laudo pericial da Polícia Federal sobre desflorestamento. In: Simpósio Brasileiro
de Sensoriamento Remoto, 15., 2011, Curitiba. Anais... . Curitiba: INPE, 2011. p. 2959 - 2966.
BRILIS, G. M. Remote Sensing Tools Assist in Environmental Forensics: Part II- Digital Tools.
Journal of Environmental Forensics, n. 2, p. 1-7, 2001.
FARIAS, R. R.; COSTA, M. E. A inserção dos veículos aéreos não tripuláveis (drones) como
tecnologia de monitoramento no combate ao dano ambiental. Revista Ordem Pública, v. 8, n.
1, jan./jul., 2015.
KELLY, B. A.; KELLY, N. M. Validating the Remotely Sensed Geography of Crime: A Review of
Emerging Issues. Remote Sens. v. 6, p. 12723-12751, 2014.
LANG, S.; BLASCHKE, S. L. Análise da Paisagem com SIG. Oficina de textos: São Paulo, 2009.
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