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EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

EDUARDO VIDAL CABRAL


eduardo.cabral@sigma1.eng.br

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EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 6

2. INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA 9

2.1 HISTÓRICO 9

2.2 FATORES INFLUENTES NA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA SEGUNDO A


LITERATURA 12

2.2.1 RIGIDEZ RELATIVA ESTRUTURA-SOLO 12

2.2.2 INFLUÊNCIA DA SEQUENCIA CONSTRUTIVA 14

2.2.3 NÚMERO DE PAVIMENTOS DA EDIFICAÇÃO E INFLUÊNCIA DOS PRIMEIROS


PAVIMENTOS 14

2.2.4 PRESENÇA DE CINTAS 15

2.2.5 EFEITO TRIDIMENSIONAL DE PÓRTICO 15

2.2.6 FORMA EM PLANTA A EDIFICAÇÃO 16

2.2.7 INFLUÊNCIA DO TEMPO X MATERIAL DA ESTRUTURA 16

3. EFEITOS MECÂNICOS DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA 18

4. INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA 19

4.1 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS EM PROJETOS DE FUNDAÇÕES 19

4.2 CUSTOS E RISCOS 20

4.3 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO 21

4.4 PLANEJAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS 23

4.5 PROJETO GEOTECNICO 24

4.5.1 PROJETO CONCEITUAL 24

4.5.2 PROJETO BÁSICO 25

4.5.3 PROJETO EXECUTIVO 26

4.6 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE CAMPO 30

4.6.1 MÉTODOS DIRETOS 30

4.6.1.1 SPT (STANDARD PENETRATION TEST) 31

4.7 ENSAIO DE PENETRAÇÃO DE CONE (CPT) 33

4.7.1 DESCRIÇÃO E PROCEDIMENTO DE ENSAIO 34

4.7.2 PIEZOCONE (CPTU) 36

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5. FUNDAÇÃO SUPERFICIAL, PROFUNDA E RADIER ESTAQUEADO 40

6. COEFICIENTE DE REAÇÃO VERTICAL (CRV) – SAPATAS E TUBULÕES 42

6.1 VALORES PADRONIZADOS 43

6.1.1 TIPO DE SOLO 43

6.1.2 SPT – TENSÃO ADMISSÍVEL 44

6.1.3 TIPO DE SOLO – TENSÃO ADMISSÍVEL 45

6.2 ENSAIO DE PLACA 48

6.2.1 TABELA DE TERZAGHI 48

6.2.2 TABELA DE OUTROS AUTORES 49

6.2.3 RESUMO DOS DIVERSOS MÉTODOS – ENSAIOS DE PLACAS 49

7. COEFICIENTE DE REAÇÃO HORIZONTAL (CHR) – SAPATAS E TUBULÕES 52

7.1 SAPATAS 52

7.2 TUBULÕES 52

8. COEFICIENTE DE MOLA NA ROTAÇÃO 54

9. DIRETRIZES PARA CÁLCULO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE DOS SOLOS 56

10. FUNDAÇÃO SUPERFICIAL 57

10.1 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS 57

10.2 RECALQUES 60

10.2.1 CONSIDERAÇÕES QUANTO AOS TIPOS DE RECALQUES 60

10.2.2 MÉTODOS DE PREVISÃO DE RECALQUES EM SOLOS DE COMPRESSIBILIDADE


RÁPIDA 61

11. COEFICIENTE DE REAÇÃO VERTICAL (CRV) - ESTACAS 72

11.1 CONCEITO 72

11.2 APLICAÇÃO PARA A INTERAÇÃO INTEGRADA ESTRUTURA-SOLO 73

12. COEFICIENTE DE RIGIDEZ HORIZONTAL (CHR) - ESTACAS 75

12.1 COEFICIENTE E MÓDULO DE REAÇÃO HORIZONTAL 75

13. FUNDAÇÃO PROFUNDA 79

13.1 CAPACIDADE DE CARGA DE UMA ESTACA 79

13.1.1 MÉTODOS RACIONAIS OU TEÓRICOS 79

13.2 TRANSFERENCIA DE CARGA 89

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13.3 RECALQUE DE FUNDAÇÕES ISOLADAS 92

13.3.1 MÉTODO DE VESIC (1977) 93

13.3.2 MÉTODO DE POULOS E DAVIS 96

13.4 RIGIDEZ DE UMA ESTACA 102

14. EFEITO DE GRUPO 105

14.1 EFEITO DE GRUPO EM TERMOS DE CAPACIDADE DE CARGA 105

14.2 EFEITO DE GRUPO EM TERMOS DE RECALQUE 107

14.2.1 RADIER EQUIVALENTE 108

14.2.2 MÉTODO DO PILAR EQUIVALENTE 114

15. RADIER ESTAQUEADO 116

15.1 EFEITO DO CONTATO RADIER SOLO EM FUNDAÇÕES ESTAQUEADAS 118

15.2 PROJETO EM RADIER ESTAQUEADO 119

15.3 DISTRIBUIÇÃO DE CARGA 120

15.4 RECALQUES EM FUNDAÇÕES ESTAQUEADAS 122

15.4.1 FUNDAÇÕES EQUIVALENTES 122

15.4.2 MÉTODO BASEADO NA TEORIA DA ELASTICIDADE 123

15.5 ABORDAGEM DE RANDOLPH (1994) INDICADA POR POULOS (2001B) 127

16. PREVISÃO DOS RECALQUES POR MEIO DE PROGRAMA COMPUTACIONAL


128

16.1 PROGRAMA AOKI E LOPES (1975) 128

17. APRESENTAÇÃO DE CASO ENVOLVENDO ISE 132

17.1 EDIFICAÇÃO DE 19 PAVIMENTOS EM FUNDAÇÃO DIRETA 132

17.1.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OBRA 132

17.1.2 DADOS ESTRUTURAIS E DAS FUNDAÇÕES 134

17.1.3 MODELO ESTRUTURAL 136

17.1.4 CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS DA REGIÃO 137

17.1.5 LEITURAS DE RECALQUES E ETAPAS CONSTRUTIVAS 140

17.1.6 METODOLOGIA UTILIZADA NAS ANÁLISES 146

17.1.7 ANÁLISES DOS RESULTADOS 147

17.2 EDIFICAÇÃO DE 9 PAVIMENTOS EM FUNDAÇÃO DIRETA 151

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17.2.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OBRA 151

17.2.2 MODELO DA SUPERESTRUTURA 152

17.2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS 153

18. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 159

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1. INTRODUÇÃO

Os projetos estruturais são elaborados, em sua grande maioria, através de análises


numéricas por meio de modelos matemáticos. O dimensionamento das estruturas
através da modelagem numérica considera, na maioria dos casos usuais da prática dos
escritórios de cálculo, apoios indeslocáveis nos modelos matemáticos, desprezando
assim o efeito da interação solo-estrutura. Sabe-se, pela literatura, que a
deformabilidade das fundações pode influenciar na distribuição dos esforços da
superestrutura. Portanto, a análise da interação solo-fundação-superestrutura deve ser
levada em conta no cálculo dos deslocamentos e esforços internos do conjunto
superestrutura / infraestrutura, principalmente em casos especiais. A análise que
considera esses fatores na etapa de projeto é denominada interação solo-estrutura,
conforme descrito por SANTOS, 2016.

O termo interação solo-estrutura é extremamente amplo e envolve uma gama de


situações de obras de engenharia que se encontram em contato ou fazem uso do solo
(estruturas enterradas). Assim, por exemplo, a interação solo-estrutura é adequada e
necessária em diversos projetos como edifícios, pontes, viadutos, estruturas de
contenção, dutos enterrados, túneis, barragens, cais, píer e docas secas, dentre outros.

Figura 1.1 – Sistema estrutura + maciço de solo.

De forma geral, a verificação das seguranças aos estados limites último e de utilização
dos elementos estruturais e o cálculo das cargas verticais atuantes nos elementos de
fundações são efetuados pelo engenheiro projetista estrutural. De posse dessas cargas
e a partir das investigações geotécnicas realizadas, o engenheiro projetista de
fundações determina os elementos de fundação e suas características geométricas.

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Segundo essa prática comum na maioria dos projetos de engenharia, não há relação
entre os dois profissionais projetistas. Porém, sabe-se pela literatura e, de acordo com
os preceitos da norma brasileira atualizada de fundações, NBR 6122 (2010), em seu
item 5.5, que “Em estruturas nas quais a deformabilidade das fundações pode
influenciar na distribuição de esforços, deve-se estudar a interação solo-estrutura ou
fundação – estrutura”, os projetos devem considerar os efeitos das análises da interação
solo x estrutura.

Para o estudo de interação solo-estrutura a compreensão do mecanismo de


transferência de carga para o solo de uma estaca vertical isolada, sujeita a cargas axiais
de compressão, atravessando diferentes camadas de solos que compõem o maciço, é
um passo importante, para o caso de fundações profundas. Esse mecanismo de
transferência de carga para o solo de uma estaca será apresentado nesta apostila.

Como se sabe, os vínculos ou apoios que são considerados nos projetos estruturais
sofrem deslocamentos diversos devido às cargas oriundas da superestrutura. Esses
deslocamentos, quando verticais, são denominados de recalques nas fundações. Os
recalques que ocorrem nos apoios provocam uma redistribuição dos esforços nos
elementos estruturais e, dependendo da sua magnitude, podem causar danos na
superestrutura. O que se observa nas análises e estudos na área de interação solo-
estrutura é que, de forma geral, ocorre uma transferência de carga dos apoios que
tendem a recalcar mais para os que recalcam menos, ou seja, os apoios mais rígidos
tendem a receber mais cargas que os apoios mais flexíveis. Ao observar as análises
que consideram o estudo de interação solo-estrutura verifica-se que os pilares externos
das edificações tendem a ter um acréscimo de carga e os pilares internos um
decréscimo de carga. O acréscimo de carga nos pilares desconsiderado nas análises
simplistas, ou seja, não previstos nesse tipo de análise, pode representar um risco à
estrutura dependendo da magnitude do acréscimo.

Em algumas obras, principalmente com fundações assentes em solos


predominantemente arenosos, o modelo considerado é mais facilmente compreensível
do que em solos mais heterogêneos. Portanto, o comportamento do maciço de solo
pode ser analisado através de uma equação simplificada, a Lei de Hooke (   E ),
que significa que as tensões são diretamente proporcionais às deformações, variando
linearmente, onde E é o módulo de elasticidade de valor constante.

Porém, no caso do maciço de solo contemplar a presença de solo argiloso de


compressibilidade lenta, o modelo visco-elástico tem sido utilizado em estudos de casos
de obra anteriores, com muito bom resultado.
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Figura 1.2 – Casos de Interação solo-estrutura, Chamecki (1969).

Diversas pesquisas demostram que mesmo a utilização de apoios elásticos pode


conduzir a esforços muito diferentes dos esforços considerados com fundação assente
em apoios indeslocáveis. Como citado em GUSMÃO (1990), um dos efeitos provocados
pela interação solo-estrutura é uma redistribuição de esforços nos elementos
estruturais, em especial as cargas nos pilares

Portanto, o desempenho estrutural de um edifício é função da interação entre seus


elementos e o maciço de solo que compõe a fundação, tornando-se necessário,
portanto, prever o comportamento da estrutura sob o aspecto global estrutura x
fundação x solo.

Dentro destes conceitos, torna-se fundamental que o Engenheiro Estrutural tenha


conhecimento sobre os aspectos que envolvem cálculos de recalques e transferências
de carga na fundação. Por este motivo, este material traz uma série de considerações
sobre estes temas.

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2. INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Face à importância do assunto, vários trabalhos têm sido publicados sobre o tema
interação solo-estrutura, atraindo a atenção de grande número de pesquisadores nas
últimas décadas. Entretanto, a interação solo-estrutura ainda não costuma ser
considerada no projeto estrutural pela maioria das empresas projetistas de estruturas e
de fundações. Recentemente, a última versão da ABNT NBR 6122 (2010), em seu
capítulo 5.5, estabelece que “Em estruturas nas quais a deformabilidade das fundações
pode influenciar na distribuição de esforços, deve-se estudar a interação solo-estrutura
ou fundação-estrutura”. Esta recomendação da norma deve contribuir para a mudança
de concepção de projeto no futuro.

2.1 HISTÓRICO

Existem diversos trabalhos que apresentam contribuição ao tema da interação solo-


estrutura, destacando-se o pioneirismo de MEYERHOF (1953), CHAMECKI (1954) e
GOSHY (1978). Trabalhos mais recentes são encontrados, mas a grande maioria
aborda efeitos dinâmicos, provenientes de sismos, não implicando um caráter mais
prático e cotidiano dos Projetistas Estruturais e Geotécnicos.

Mais recentemente, AOKI e CINTRA (2003) resumem o roteiro de análise que se


costuma adotar nos estudos de interação solo x estrutura, cuja concepção se originou
da proposta de CHAMECKI (1954). Neste resumo, AOKI e CINTRA (2003) reconhecem
a existência de duas especialidades que tratam do problema, que são a da engenharia
estrutural e a da mecânica dos solos, sendo o ponto de convergência o cálculo das
cargas nos pilares. Isso decorre do fato de que sem as cargas não se pode prever a
bacia de recalques e sem os recalques não se pode estimar a rigidez das molas da
estrutura. Para resolver esta situação de interdependência procede-se de forma
iterativa, do seguinte modo:

- Inicialmente o engenheiro estrutural calcula as cargas nos pilares, considerando que


as fundações não recalcam;

- A partir destas cargas o engenheiro de fundações calcula os recalques considerando


que a rigidez da estrutura é nula, obtendo a bacia de recalques inicial;

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- O engenheiro estrutural divide as cargas pelos recalques e obtém os coeficientes de


mola iniciais para cada pilar e recalcula as cargas nos pilares considerando a estrutura
sobre apoios elásticos;

- A partir dessas novas cargas o engenheiro de fundações recalcula os recalques


considerando que a rigidez da estrutura é nula, obtendo nova bacia de recalques;

- O engenheiro estrutural reavalia os novos coeficientes de mola a partir desta nova


bacia de recalques, recalcula as cargas nos pilares e as reenvia ao geotécnico.

- O processo é iterativo até que se atinja a convergência desejada.

Vale ressaltar que o procedimento acima é válido apenas para comportamento elástico
linear do solo, o que é uma aproximação válida apenas para solos arenosos e com
comportamento afastado da ruptura. No caso de solos argilosos, o mesmo procedimento
é válido, mas o cálculo do recalque envolve um modelo de solo que contemple não só
o valor de recalque, mas também sua velocidade, o que está relacionado ao coeficiente
de adensamento do solo.

GUSMÃO FILHO (1995) apresenta ilustração do efeito da sequência de construção na


análise de interação, reproduzida na figura 2.1. Afirma que durante a construção a carga
média dos pilares cresce, tendo como consequência o aumento do recalque médio ( S
). No entanto, o aumento da rigidez da superestrutura faz com que haja uma tendência
de uniformização dos recalques, manifestada por uma redução no coeficiente de
variação dos recalques (CV).

Figura 2.1 – Efeito da sequência executiva, GUSMÃO FILHO (1995).

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Diversas pesquisas demostram que mesmo a utilização de apoios elásticos podem


conduzir a esforços muito diferentes dos esforços considerados com fundação assente
em apoios indeslocáveis. Como citado em GUSMÃO (1990), um dos efeitos provocados
pela interação solo-estrutura é uma redistribuição de esforços nos elementos
estruturais, em especial as cargas nos pilares. GUSMÃO (1990) citou também que as
análises teóricas e de casos reais de obras comprovam a importância da consideração
da interação solo-estrutura em projetos de edificações, podendo levar a projetos mais
econômicos e seguros. A Figura 2.2 ilustra, de forma simples, a diferença entre a
elaboração de projetos estrutural e de fundações considerando a interação solo-
estrutura de uma análise convencional.

Figura 2.2 – Elaboração dos projetos estrutural e de fundações (Adaptado de GUSMÂO, 1990)

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2.2 FATORES INFLUENTES NA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA


SEGUNDO A LITERATURA

GUSMÃO (1990) elaborou uma análise dos fatores que influenciam o mecanismo de
interação solo-estrutura em edificações, e a sua repercussão no desempenho das
mesmas. Através da utilização de um modelo proposto por POULOS (1975), que
considera a edificação (superestrutura, infraestrutura e solo onde a fundação está
assente) como um sistema único, fez-se um estudo paramétrico dos principais fatores
influentes na interação solo-estrutura, como a rigidez relativa estrutura-solo; o número
de pavimentos; efeito tridimensional de pórtico. GUSMÃO (1990) apresenta ainda um
banco de dados de diversas obras monitoradas na cidade de Recife para
acompanhamento de recalques. GUSMÃO (1990) observou o aumento dos recalques
absolutos decorrente do aumento das cargas nos pilares. À medida que a construção
progredia, a rigidez da estrutura também aumentava e os recalques tendiam a se
uniformizar ocorrendo assim uma redistribuição de cargas entre os pilares. Sendo
assim, pode-se considerar três fatores importantes influentes na interação solo-
estrutura: rigidez relativa estrutura-solo, número de pavimentos e influência da
sequência construtiva. Há ainda outros três fatores importantes também como: o efeito
das alvenarias na rigidez global da estrutura e o efeito tridimensional de pórtico.

2.2.1 RIGIDEZ RELATIVA ESTRUTURA-SOLO

Análises desenvolvidas por MEYERHOF (1953), GOSHY (1978), BARATA (1986) e


GUSMÃO (1990) mostraram que o desempenho de uma edificação é governado pela
rigidez relativa estrutura x solo e que os recalques total e diferencial máximo diminuem
com o aumento da rigidez relativa estrutura-solo, sendo que os recalques diferenciais
são mais influenciados por essa rigidez do que os recalques totais.

LOPES e GUSMÃO (1991), após analisarem o comportamento de um pórtico modelado


como edifício de concreto armado, apoiado sobre meio elástico, propuseram, segundo
a equação abaixo, o parâmetro rigidez relativa estrutura-solo (Kss) para avaliar, de
forma aproximada, a variação da ordem de grandeza dos recalques.

Ec  I b
K ss 
Es  l 4

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O parâmetro (Kss) definido depende do módulo de elasticidade do material da estrutura


(Ec), do módulo de elasticidade do solo (Es), do momento de inércia da viga típica (Ib)
e do comprimento do vão entre pilares (l), conforme apresentado na equação acima.

LOPES e GUSMÃO (1991) concluíram que, como mostra a Figura 2.2.1, o aumento do
valor da rigidez relativa solo-estrutura (kss) reduz os valores dos recalques, afetando de
modo mais acentuado o recalque diferencial.

Figura 2.2.1 – Recalque versus rigidez relativa estrutura-solo (LOPES e GUSMÃO, 1991)

Sabe-se que a maior parte dos estudos de interação solo-estrutura assume a hipótese
de não haver carregamento durante a construção. Entretanto, a rigidez da estrutura é
influenciada por sua altura. Sendo assim, a sequência construtiva passa a ser
importante na análise das estruturas de edifício que levam em conta a interação solo-
estrutura. Esses autores observaram que, durante a construção, à medida que vai
crescendo o número de pavimentos, ocorre uma tendência à uniformização dos
recalques, devido ao aumento da rigidez da estrutura; porém, essa rigidez não cresce
linearmente com o número de pavimentos.

GUSMÃO FILHO (1995) concluiu que existe uma rigidez limite e que, uma vez atingida
essa rigidez limite nos primeiros pavimentos, o aumento do número de andares não
altera o valor da parcela da carga no apoio, devido à interação solo-estrutura. Terminada
a redistribuição de cargas nos apoios, por efeito da interação solo-estrutura, os
recalques são função apenas do carregamento.

MOURA (1995) afirma que as solicitações nos elementos da superestrutura,


principalmente os momentos fletores nas vigas e nos pilares, originadas pela interação
com o solo, são mais significantes nos primeiros andares e diminuem nos pavimentos
superiores.

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2.2.2 INFLUÊNCIA DA SEQUENCIA CONSTRUTIVA

Conforme descrito no item 2.2.1, durante a construção, à medida que vai crescendo o
número de pavimentos, ocorre uma tendência de uniformização dos recalques, devido
ao aumento da rigidez da estrutura; porém, essa rigidez não cresce linearmente com o
número de pavimentos. Existe uma rigidez limite e, uma vez atingida essa rigidez limite
nos primeiros pavimentos, o aumento no número de pavimentos não altera o valor da
parcela de carga no apoio devido à interação solo-estrutura, ou seja, cessada a
redistribuição de carga por efeito da interação solo-estrutura, os recalques são função
apenas do carregamento.

Figura 2.2.2 – Efeito da sequência de construção nos recalques (GUSMÃO FILHO, 1994)

2.2.3 NÚMERO DE PAVIMENTOS DA EDIFICAÇÃO E INFLUÊNCIA DOS


PRIMEIROS PAVIMENTOS

Conforme já descrito anteriormente, quanto maior o número de pavimentos de uma


estrutura, maior será sua rigidez na direção vertical, porém essa rigidez não cresce
linearmente com o número de pavimentos. Percebe-se uma maior influência dos
primeiros pavimentos que, de acordo com GOSCHY (1978), deve-se ao fato de que
estruturas abertas como painéis comportam-se, segundo planos verticais, como vigas
paredes. Assim sendo, as partes mais baixas da estrutura sofrerão apenas deformações
de flexão (ver figura 2.2.3).

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Figura 2.2.3 – Analogia da viga-parede (GOSCHI, 1978)

2.2.4 PRESENÇA DE CINTAS

GUSMÃO (1990) observou que a presença das cintas contribui na tendência à


uniformização dos recalques e que sua influência diminui à medida que cresce o número
de pavimentos da edificação, a ponto dessa influência, para uma certa estrutura
analisada, ser praticamente desprezível para um número de pavimentos superior a oito.
Isso porque a contribuição da rigidez das cintas na rigidez global da estrutura diminui à
medida que cresce o número de pavimentos da edificação.

2.2.5 EFEITO TRIDIMENSIONAL DE PÓRTICO

A consideração do efeito tridimensional de pórtico resulta em uma maior tendência à


uniformização dos recalques, pois cintas e vigas transversais aumentam a rigidez global
da estrutura.

MOURA (1995 e 1999) mostrou a viabilidade prática de análise de interação solo-


estrutura para um edifício de dezenove andares em concreto armado em um modelo
tridimensional. A adoção do modelo tridimensional permite conhecer o comportamento
estrutural de modo mais realista em termos globais da superestrutura, elemento de
fundação e solo durante a fase de projeto. A análise foi implementada usando-se o
programa automático Módulo Interação acoplado ao Sistema Computacional Edifício. A
autora observou que a deformada de recalque do modelo que considerava a interação
solo-estrutura e ainda a sequência construtiva, andar por andar apresentou, de um

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modo geral, tendência à suavização em decorrência da transferência de cargas dos


apoios que tendem a recalcar mais para os que tendem a recalcar menos.

2.2.6 FORMA EM PLANTA A EDIFICAÇÃO

Resultados de medições de recalques em vários tipos de edificações mostram que


existe uma influência da forma em planta da edificação na tendência à uniformização
dos recalques. De acordo com BARATA (1986), quanto mais próxima de um quadrado
for a planta da edificação, maior será essa tendência. GUSMÃO (1990) ressaltou
também que para um dado terreno de fundação o efeito da forma em planta da
edificação na tendência à uniformização de recalques é mais importante em estruturas
flexíveis.

2.2.7 INFLUÊNCIA DO TEMPO X MATERIAL DA ESTRUTURA

Os comportamentos mais prováveis e os quais pode-se antecipar algum tipo de


previsibilidade, são os seguintes:

# CASO A - ESTRUTURAS INFINITAMENTE RÍGIDAS:

Estruturas infinitamente rígidas apresentam recalques uniformes. Por causa da


tendência do solo deformar mais no centro que as da periferia, devido à continuidade
parcial do solo, a distribuição de pressões de contato nos apoios são menores no centro
e máximos nos cantos externos. Esta distribuição de pressões assemelha-se ao caso
de um corpo infinitamente rígido apoiado em um meio elástico. Os edifícios muito altos
e com fechamento das paredes resistentes trabalhando em conjunto com a estrutura,
podem apresentar comportamento semelhante a este modelo.

# CASO B - ESTRUTURAS PERFEITAMENTE ELÁSTICAS:

Uma estrutura perfeitamente elástica possui a rigidez que não depende da velocidade
da progressão dos recalques, podendo ser mais rápidos ou lentos, não influindo nos
resultados. Os recalques diferenciais obviamente, serão menores que os de rigidez nula
(caso D) e a distribuição varia muito menos durante o processo de recalque. Estruturas
de aço são as que se aproximam a este comportamento.

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# CASO C - ESTRUTURAS “VISCO-ELÁSTICO-PLÁSTICAS”:

Uma estrutura visco elástico-plástica, como a de concreto armado, apresenta rigidez


que depende da velocidade da progressão de recalques diferenciais. Se os recalques
acontecem num curto espaço de tempo, a estrutura tem o comportamento elástico (caso
B), mas se esta progressão é bastante lenta, a estrutura apresenta um comportamento
como um líquido viscoso e tenderá ao caso D. Esta última característica acontece
graças ao fenômeno de fluência do concreto que promove a redistribuição das tensões
nas outras peças de concreto armado menos carregadas, relaxando significativamente
as tensões locais.

# CASO D – ESTRUTURA QUE NÃO APRESENTA RIGIDEZ AOS RECALQUES


DIFERENCIAIS:

Este tipo de estrutura se adapta perfeitamente às deformações do maciço de solo. A


distribuição de pressões de contato não se modifica perante a progressão dos
recalques. As estruturas isostáticas e edifícios de grandes dimensões ao longo do eixo
horizontal são os casos que se aproximam a este tipo de comportamento.

Figura 2.2.4 – Casos de interação solo-estrutura (Chamecki, 1969)

Referência bibliográfica: Manual do Programa TQS – SISES

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3. EFEITOS MECÂNICOS DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Ao se considerar a interação solo-estrutura, o recalque dos apoios provoca uma


redistribuição de carga nos elementos estruturais, ou seja, há uma transferência de
carga dos apoios que tendem a recalcar mais para os que tendem a recalcar menos. De
um modo geral, existe também uma tendência à uniformização dos recalques
diferenciais gerados pela restrição dos movimentos relativos entre os apoios da
estrutura em função da solidariedade entre os elementos da estrutura, conferindo à
mesma uma considerável rigidez.

Figura 3.1 - Efeito da interação solo-estrutura nos recalques e reações de apoio de edificações
(GUSMÃO, 1990)

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4. INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

“A informação solicitada nem sempre é a informação necessária.


A informação necessária nem sempre pode ser obtida.
A informação obtida nem sempre é suficiente.
A informação suficiente nem sempre é economicamente viável”.
Schnaid, 2012.

Qualquer estrutura de engenharia requer o conhecimento das condições do


subsolo, no local em que a obra será construída. Obras que utilizem o solo e/ou
rocha como material de construção também necessitam do conhecimento do
subsolo nas áreas de empréstimo.

Ao contrário de outros materiais comumente utilizados em obras civis (concreto,


aço), solos e/ou rochas são materiais naturais e, em geral, bastante
heterogêneos. Portanto, avaliar as reais condições do subsolo de um
determinado local pode se tornar muito difícil e há uma margem de insegurança
muito grande.

As investigações de campo devem responder às seguintes questões:

 estratigrafia (extensão, profundidade e espessura das camadas)


 profundidade do lençol d’água (avaliar existência de artesianismo)
 profundidade do substrato rochoso
 características estruturais da rocha: juntas, falhas, etc.
 obtenção de amostras para ensaios de laboratório

4.1 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS EM PROJETOS DE FUNDAÇÕES

As informações geotécnicas são indispensáveis à previsão dos custos


associados aos projetos e suas soluções e que, quando bem feitas, minimizam
os riscos e restringem a possibilidade de imprevistos.

Os ensaios disponíveis e mais utilizados atualmente, sobretudo para o caso de


obras de fundações e escavações, são os seguintes: Ensaios do tipo SPT
(Standard Penetration Test), ensaios CPT, ensaios CPTU, Dilatômetros, ensaios
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de Placa, ensaios de Palheta (Vane Test), entre outros. Outros não menos
importantes mas aplicáveis a ocasiões específicas de projeto são: ensaios
sísmicos, resistividade, etc.

4.2 CUSTOS E RISCOS

O ambiente físico, descrito a partir das condições do subsolo, constitui-se em


pré-requisito para projetos geotécnicos seguros e econômicos. No Brasil, os
custos envolvidos na execução de sondagens de reconhecimento normalmente
variam entre 0,2% a 0,5% do custo total de obras convencionais, podendo ser
mais elevado em obras especiais ou em condições adversas do subsolo. As
informações geotécnicas assim obtidas são indispensáveis à previsão dos
custos fixos associados ao Projeto de Fundações

Quanto aos riscos, aspectos relacionados à investigação das características do


subsolo são as causas mais frequentes de problemas de fundações (Milititsky;
Consoli; Schnaid, 2006). A experiência internacional faz referência frequente ao
fato de que o conhecimento geotécnico e o controle de execução são mais
importantes para satisfazer aos requisitos fundamentais de um projeto do que a
precisão dos modelos de cálculo e os coeficientes de segurança adotados.

A prática americana relatada pelo US Army Corps of Engineers (2001) sugere


que:

- Investigação geotécnica e interpretação inadequada de resultados contribuem


para erros de projeto, atrasos no cronograma executivo, custos associados a
alterações construtivas, necessidade de jazidas adicionais para materiais de
empréstimo, impactos ambientais, gastos em remediação pós-construtiva, além
de risco de colapso da estrutura e litígio subsequente.

De forma análoga, a prática inglesa estabelece que (Weltman, Head, 1983):

- Investimentos suficientes devem ser alocados para garantir um programa


geotécnico extensivo, destinado a reduzir custos e minimizar riscos, restringindo
a possibilidade de confrontar o engenheiro com condições geotécnicas
imprevistas que, frequentemente, resultam em atrasos no contrato. Esses
20
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

atrasos podem resultar em custos elevados, muito superiores aos valores que
deveriam ser alocados no programa de investigação.

Reconhecida a importância de caracterizar o subsolo e determinar suas


características geológicas, geotécnicas e geomorfológicas, faz-se necessário
estabelecer a abrangência do programa de investigação, contextualizando-se a
aplicabilidade de cada técnica e os parâmetros de projeto passíveis de obtenção.

4.3 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO

A abrangência de uma campanha de investigação depende de fatores


relacionados às características do meio físico, à complexidade da obra e aos
riscos envolvidos, que, combinados, deverão determinar a estratégia adotada no
projeto. Orientações apresentadas por Peck (1969), de categorizar os programas
de investigações em três métodos, servem de orientação preliminar:

A) Método I: executar uma investigação geotécnica limitada e adotar uma


abordagem conservativa no projeto, com altos fatores de segurança:
B) Método II: executar uma investigação geotécnica limitada e projetar
com recomendações baseadas em prática regional.
C) Método III: executar uma investigação geotécnica detalhada.

Lacasse e Nadim (1994) ressaltam que a previsão do comportamento de


fundações não pode ser feita com exatidão face às variações espaciais das
propriedades do solo, investigação limitada do subsolo, limitação nos modelos
de cálculo, incerteza nos parâmetros do solo e incertezas nas cargas atuantes.
Os citados autores salientam sobre a importância da adoção de enfoques de
projeto racionais e bem documentados que informem e levem em conta as
incertezas na análise dos parâmetros. A análise da confiabilidade permite que
se mapeie e avalie as incertezas.

21
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 4.1 - Fator de segurança e probabilidade de ruptura, Lacasse e Nadim (1994)

Os autores ilustram na Figura 1.1 os resultados da análise de confiabilidade na


estaca mais carregada de uma plataforma offshore, instalada em 1976 e
reanalisada em 1989, após nova investigação geotécnica. Esta figura revela que
um elevado fator de segurança não significa, necessariamente, uma elevada
margem de segurança, em razão da influência das incertezas nos parâmetros
de análise na distribuição probabilística real do fator de segurança.

Os citados autores fazem referência a uma comunicação pessoal de Robert


Olesen, do Det Norske Veritas Research, de que é melhor se estar
“provavelmente correto do que exatamente incorreto”.

Resumidamente, pode-se afirmar que o Método I (Peck, 1969) não é uma boa
alternativa a ser seguida para investigações geotécnicas consistentes.

Estes conceitos foram incorporados a várias normas internacionais, inclusive no


Código Europeu (Eurocode 7, 1997), ao recomendar que a caracterização
geotécnica deve ser precedida de uma classificação preliminar da estrutura,
dividida em três categorias:

A) Categoria I: estruturas simples e de pequeno porte, nas quais o projeto é


baseado em experiência e investigação geotécnica qualitativa;

22
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

B) Categoria II: estruturas convencionais que não evolvem riscos


excepcionais, em condições geotécnicas normais e cargas dentro de
padrões conhecidos.
C) Categoria III: estruturas que não pertencem às categorias I e II, incluindo
estruturas de grande porte associadas a risco elevado, dificuldades
geotécnicas excepcionais, cargas elevadas e eventos sísmicos, entre
outros fatores.

4.4 PLANEJAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS

O planejamento de uma investigação geotécnica deve ser concebido por


engenheiro geotécnico experiente, que possa ponderar os custos e as
características da obra com base nas complexidades geológica e geotécnica do
local da implantação. No que se refere à complexidade da obra, consideram-se
aspectos como: tamanho, cargas, topografia, escavações, rebaixamento do nível
freático, obras vizinhas, canalizações, etc. Aspectos geológico-geotécnicos
referem-se à gênese do solo; geomorfologia; hidrogeologia; sismicidade;
presença de solos moles; colapsíveis ou expansivos; ocorrências de substancias
agressivas, cavidades subterrâneas, entre outros fatores. Familiaridade com
equipamentos, técnicas e procedimentos de ensaios são também requisitos
indispensáveis ao engenheiro responsável pela concepção da campanha de
investigação.

Independentemente da abordagem, projetos geotécnicos de qualquer natureza


são, em geral, executados com base em ensaios de campo, cujas medidas
permitem uma definição satisfatória da estratigrafia do subsolo e uma estimativa
realista das propriedades do comportamento dos materiais envolvidos. Novos e
modernos equipamentos de investigação foram introduzidos nas últimas
décadas, visando ampliar o uso de diferentes tecnologias a diferentes condições
de trabalho.

A Figura 4.2 ilustra o Planejamento de uma Investigação Geotécnica.

23
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 4.2 – Planejamento de Investigações Geotécnicas

4.5 PROJETO GEOTECNICO

Em decorrência da diversidade de equipamentos e procedimentos disponíveis


no mercado brasileiro, o estabelecimento de um plano racional de investigação
constitui-se na etapa crítica do projeto. Conhecimento, experiência, normas e
práticas regionais devem ser consideradas durante o processo de “julgamento
geotécnico” de seleção dos critérios necessários à solução do problema. As
recomendações quanto às etapas que compõem um plano de investigação
racional são listadas a seguir:

4.5.1 PROJETO CONCEITUAL

Alternativas e necessidades destinadas a produzir soluções de engenharia


viáveis técnica e economicamente são atributos de um projeto conceitual.
Constitui-se no primeiro passo do projeto, no qual se definem os princípios
envolvidos com base em pressupostos técnicos e legais.

A escolha da solução adequada para a execução de um projeto deve ser apoiada


em informações preliminares baseadas em:

- Levantamento de escritório para reconhecimento hidrogeológico e geotécnico


da área;

24
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

- Sondagens geotécnicas esparsas para a caracterização do subsolo.

Esta etapa conta com a participação de engenheiros geotécnicos e geólogos e


tem como objetivo:

 Formações geológicas presentes na área de interesse.


 Características do material de cobertura e do perfil de alteração.
 Estruturas geológicas identificáveis ao nível de afloramento (foliação,
fraturas, contatos litológicos, variação textural etc.).
 Hidrologia: surgências d’água e zonas de saturação.
 Feições de movimentação (trincas, degraus, “embarrigamentos”,
abatimentos etc.).
 Interferências antrópicas (cortes, aterros, desorganização da
drenagem, lançamento de águas servidas, acumulação de lixo,
desmatamento etc.).

Nas fases iniciais dos estudos, poderão ser feitos levantamentos topográficos
expeditos, utilizando trena, clinômetro e bússola. Seções transversais podem ser
feitas com auxílio da trena e do nível de mangueira, frequentemente em escala
igual ou superior a 1:500.

4.5.2 PROJETO BÁSICO

O projeto básico (ou anteprojeto) consiste em um conjunto de elementos


necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a
obra ou serviço, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos
preliminares, destinados a assegurar a viabilidade técnica do empreendimento e
seu adequado tratamento ambiental, bem como possibilitar a avaliação do custo
da obra e definição dos métodos e do prazo de execução. Implica o
desenvolvimento de solução técnica concebida na fase de projeto conceitual, de
forma a fornecer uma visão global da obra e a identificar todos os seus elementos
construtivos.

Como requisito fundamental, o projeto básico deve caracterizar todas as


unidades que compõem o meio físico e as propriedades do subsolo dessas
unidades, compatibilizando a investigação com as particularidades da obra;
25
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

presença de materiais compressíveis, fundações submetidas a grandes


carregamentos, existência de obras de arte, taludes e escavações, entre outros.

O nível de abrangência do programa de investigação deve ser definido em


função das características da superestrutura e das condições do subsolo. Em
estruturas convencionais (Categorias I e II do Eurocode 7), quando da ocorrência
de solos resistentes e estáveis, não há necessidade de ensaios SPT ou CPT. Na
ocorrência de solos compressíveis, de baixa resistência, a solução deve ser
produzida com base em informações de diferentes técnicas de ensaio, visando
caracterizar de forma adequada e representativa as características do solo.

4.5.3 PROJETO EXECUTIVO

Segundo a NBR 12722/1992, o projeto executivo consiste na orientação para


análise, cálculo e indicação de métodos de execução dos serviços relacionados
à Mecânica dos Solos e obras de terra, incluindo desmonte e escavação,
rebaixamento do nível freático, aterros, estabilidade de taludes naturais,
estruturas de contenção e ancoragens, drenagem superficial e profunda, e
injeção do terreno. Na engenharia de Fundações, inclui a escolha do tipo de
fundação, cota de assentamento (caso de fundação profunda ou especial), taxas
e cargas admissíveis pelo terreno para as fundações.

Na etapa de projeto executivo, a programação de sondagens deve satisfazer as


exigências mínimas que garantam um reconhecimento detalhado das condições
do subsolo. Normas específicas devem ser observadas para projetos de
diferentes naturezas. Por exemplo, a Norma Brasileira NBR 8036/1983
regulamenta as recomendações quanto ao número, localização e profundidade
de sondagens de simples reconhecimento. Algumas considerações são
reproduzidas nesta apostila, buscando assegurar a realização desses ensaios
como procedimento mínimo a ser adotado em projetos correntes.

O número de sondagens e sua localização em planta dependem do tipo de


estrutura e das características específicas do subsolo, devendo ser alocadas de
forma a resolver técnica e economicamente o problema em estudo. As
sondagens devem ser, no mínimo, uma para cada 200 m² de área de projeção

26
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

do edifício em planta, até 1.200 m² de área. Entre 1.200 m² e 2.400 m², deve-se
fazer uma sondagem para cada 400 m² que excederem aos 1.200 m². Acima de
2.400 m², o número de sondagens deve ser fixado de acordo com a construção,
satisfazendo ao número mínimo de: (a) duas sondagens para área de projeção
em planta do edifício de até 200 m² e (b) três para área entre 200 m² e 400 m².
Em caso de estudos de viabilidade ou de escolha do local, o número de
sondagens deve ser fixado de forma que a distância máxima entre elas seja de
100 m, com um número mínimo de sondagens.

A profundidade atingida das sondagens deve assegurar o reconhecimento das


características do solo solicitado pelos elementos de fundação, fixando-se como
critério a profundidade na qual o acréscimo de pressão no solo, em decorrência
das cargas aplicadas, seja menor que 10% da pressão geostática efetiva. No
caso de ocorrência de rochas de pequenas profundidades é desejável que
alguns furos ultrapassem esta profundidade por meio da ferramenta rotativa com
extração de amostras para caracterização do impenetrável.

Portanto, nem sempre é recomendável e economicamente viável determinar


todas estas informações ambientais em uma única etapa, mas subdividir a
campanha de investigação em três distintas: (a) investigação preliminar, que visa
buscar elementos para elaboração do projeto básico (ou anteprojeto) e orientar
as investigações complementares; (b) investigação complementar, que tem
como objetivo determinar os parâmetros constitutivos necessários ao
dimensionamento da obra; e (c) investigação de verificação, para confirmar as
premissas adotadas em projeto (fase normalmente executada durante a etapa
construtiva e associada a uma campanha de instrumentação).

Um programa de investigação geotécnica bem concebido, que resulte na


avaliação precisa dos parâmetros constitutivos do solo, pode resultar na
otimização da relação custo/benefício da obra. O impacto econômico pode ser
avaliado a partir da proposição de Wright (1969), que condiciona a magnitude do
fator de segurança ao tipo de obra (magnitude do carregamento e possibilidade
de ocorrência de cargas máximas) e ao grau de exploração do subsolo (Tabela
4.1)

27
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 4.1 – Fatores de segurança conforme Wright (1969)

Outra abordagem, segundo Vésic (1975):

Tabela 4.2 – Fatores de segurança conforme Vésic (1975)

Essa mesma filosofia é observada nas normas brasileiras, cujas recomendações


devem ser adotadas em qualquer projeto geotécnico (NBR 6497/1983; NBR
8036/1983; NBR 6484/2001; NBR 6122/2010). A Norma Brasileira de
Fundações, ao discutir fatores de segurança parciais, estabelece que o cálculo
da resistência característica de estacas, por meio de métodos semiempíricos
baseados em ensaios de campo, poderá ser determinado pela expressão:


Rc,K  Mín Rc,cal méd 1; Rc,cal mín  2 
Onde Rc , K é a resistência característica; R 
c , cal méd calculada com base em

valores médios dos parâmetros; Rc , cal mín é a resistência característica calculada

com base em valores mínimos dos parâmetros; e 1 e  2 são fatores de


minoração da resistência (Tabela 1.3), cujos valores poderão ser multiplicados
por 0,9 no caso de execução de ensaios complementares à sondagem a
28
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

percussão. Aplicados os fatores da Tabela 1.3, deverá ser empregado um fator


de segurança global de, no mínimo, 1,4 para determinar a carga admissível.

Tabela 4.3 – Valores dos fatores  1 e  2 para determinação de valores característicos


das resistências calculadas por métodos semiempíricos baseados em ensaios de
campo

Na Tabela 1.3, n é o número de perfis de ensaios por região representativa do


terreno.

As principais normas ABNT aplicáveis constam da Tabela 1.4. As


recomendações da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) se
encontram na Tabela 4.5.

Tabela 4.4 – Normas ABNT de sondagem e amostragem

Tabela 4.5 – Recomendações da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia


(ABGE)
29
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

4.6 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE CAMPO

Os métodos de investigação podem ser classificados como:

i) métodos indiretos a obtenção das informações é feita de forma indireta,


sem retirada de amostra ou visualização do solo. métodos geofísicos

ii) métodos diretos amostras de solo são extraídas ao longo de um


determinado perfil.  sondagens e amostragem

iii) métodos semi-diretos determinação de propriedades físicas ao longo de


um perfil, sem retirada de amostra ou visualização do solo ensaios de campo.

Para Projetos de Fundações, os ensaios mais comuns estão elencados dentro


dos métodos diretos e semi-diretos.

4.6.1 MÉTODOS DIRETOS

Os métodos diretos englobam todas as investigações que possibilitam a


visualização do perfil e retirada de amostra.

Os procedimentos de investigação são bem definidos nas normas ABNT e


ABGE. O projetista deverá definir um programa de investigações em que
constem o número e tipo de sondagens e amostragem.

Os métodos diretos podem ser manuais ou mecânicos, conforme indicado na


Tabela 4.6.

Tabela 4.6 - Tipos de investigação

30
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

4.6.1.1 SPT (STANDARD PENETRATION TEST)

Nem o equipamento nem os procedimentos de escavação foram completamente


padronizados a nível internacional no ensaio SPT. As diferenças existentes
podem ser parcialmente justificadas pelo nível de desenvolvimento e
investimentos de cada país. Porém, mais importantes são as adaptações das
técnicas de escavação às diferentes condições de subsolo.

(Ireland; Moretto; Vargas, 1970)

O Standard Penetration Test (SPT) é, reconhecidamente, a mais popular,


rotineira e econômica ferramenta de investigação geotécnica em praticamente
todo o mundo. Ele serve como indicativo da densidade de solos coesivos, e
mesmo de rochas brandas. Métodos rotineiros de projeto de fundações diretas
e profundas usam sistematicamente os resultados de SPT, especialmente no
Brasil.

O ensaio SPT constitui-se em uma medida de resistência dinâmica conjugada a


uma sondagem de simples reconhecimento. A perfuração é obtida por tradagem
e circulação d’água, utilizando-se um trépano de lavagem como ferramenta de
escavação. Amostras representativas do solo são coletadas a cada metro de
profundidade por meio de amostrador padrão com diâmetro externo de 50 mm.
O procedimento de ensaio consiste na cravação do amostrador no fundo de uma
escavação (revestida ou não), usando-se a queda de peso de 65 kg de uma
altura de 750 mm. O valor NSPT é o número de golpes necessários para fazer o
amostrador penetrar 300 mm, após uma cravação inicial de 150 mm.

As vantagens desse ensaio com relação aos demais são: simplicidade do


equipamento, baixo custo e obtenção de um valor numérico de ensaio que pode
ser relacionado por meio de propostas não sofisticadas, mas diretas, com regras
empíricas de projeto. Apesar das críticas pertinentes que são continuamente
feitas à diversidade de procedimentos utilizados para a execução do ensaio e à
pouca racionalidade de alguns dos métodos de interpretação, esse é o processo
dominante ainda utilizado na prática de Engenharia de Fundações.

31
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 4.3 - Equipamento de Sondagem à percussão

A energia de cravação é um fator determinante no valor do N-SPT. A energia


nominal transferida ao amostrador não é a energia de queda livre teórica
transmitida ao martelo. Há perdas por atrito e pela dinâmica de transmissão de
energia do conjunto.

Foram realizados testes em diferentes condições para se indicar a perda de


energia no sistema e consequentemente para se determinar a eficiência. No
Brasil é comum o uso de sistemas manuais para liberação da queda do martelo.
Com isso aplica-se uma energia da ordem de 82% da energia teórica. Na Europa

32
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

e nos EUA os sistemas são mecanizados e a energia liberada é de


aproximadamente 60%.

Atualmente a pratica internacional sugere normalizar o número de golpes com


base no padrão americano (N60).

𝑁60 × 𝑒𝑓𝐸𝑈𝐴 = 𝑁𝑆𝑃𝑇 × 𝑒𝑓𝐵𝑅

Isto é, se a energia do ensaio for 82% do valor teórico tem-se:

𝑁60 × 0,60 = 𝑁𝑆𝑃𝑇 × 0,82

(𝑁𝑆𝑃𝑇 ×0,82)
𝑁60 = = 1,37 × 𝑁𝑆𝑃𝑇
0,60

Para a estimativa do módulo de elasticidade do solo, recomenda-se que sejam


utilizadas as seguintes correlações (para as areias e argilas):

a) De acordo com Schnaid (2000) para solos argilosos 𝐸 = 2,0 × 𝑁60 .


Com isso,

𝐸 = 2,74 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 (MPa)

b) De acordo com Freitas, Pacheco e Danziger (2012), o módulo de


elasticidade de areias sedimentares pode ser estimado de acordo com
a expressão abaixo.

0,8
𝐸 = 8000 × 𝑁60 (KPa)

Substituindo as expressões, o módulo de elasticidade do solo é calculado


conforme expressão abaixo.

0,8
𝐸 = 8000 × (1,37 × 𝑁𝑠𝑝𝑡 )0,8 ≈ 10291 × 𝑁𝑠𝑝𝑡 (kN/m²)

4.7 ENSAIO DE PENETRAÇÃO DE CONE (CPT)

O ensaio de cone (CPT) foi desenvolvido na década de 30 na Holanda. O cone


é constituído de ponta cônica de 10 cm2 de área de seção transversal

33
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

(correspondente a 36,6mm de diâmetro) e 60º de ângulo de ponta e apoiada em


revestimento cilíndrico de mesmo diâmetro

O ensaio consiste na cravação de uma sonda de realizando-se medidas


contínuas da resistência à penetração do cone (resistência de ponta e atrito
lateral).

O CPT destina-se à obtenção de informações sobre estratigrafia e possibilita a


estimativa de tensões in situ e de propriedades de compressibilidade e
resistência. Esta estimativa é feita através de expressões e correlações, as quais
foram construídas com base em modelos teóricos e ensaios em câmaras.

O ensaio de cone foi introduzido no Brasil na década de 50. Na década de 80,


com o desenvolvimento de recursos eletrônicos, elementos porosos foram
incorporados às sondas de penetração, passando esta nova sonda a ser
denominada piezocone (CPTU).

4.7.1 DESCRIÇÃO E PROCEDIMENTO DE ENSAIO

O procedimento de ensaio consiste em se cravar inicialmente apenas a ponta


cônica ao longo de 4cm, registrando-se a da resistência à penetração da ponta.
Em seguida, a hastes internas são avançadas 4cm e o conjunto ponta +
revestimento é cravado simultaneamente, registrando-se a resistência de ponta
+ atrito lateral. A resistência mobilizada por atrito lateral é obtida por diferença
das 2 leituras.

A norma brasileira NBR 12069 estabelece que em ambas etapas do ensaio


sejam cravados 35,5cm. A velocidade de cravação padrão é de 20mm/s.

O cone mecânico oferece a vantagem de baixo custo e simplicidade de


operação.

Entretanto o ensaio é lento, já que envolve um processo incremental de avanço


independente de cada parte da sonda, possui baixa acurácia, impossibilidade de
atingir altas profundidades e ineficaz em solos moles.

34
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Já o cone elétrico oferece a vantagem de monitoramento contínuo, alta precisão


e repetibilidade e possibilidade de inclusão de sensores para acompanhamento
de temperatura e inclinação. Em solos moles, o cone elétrico pode atingir
profundidades superiores a 100 m sem perder o alinhamento vertical. A Figura
4.4 mostra o cone elétrico e o sistema de aquisição de dados.

Figura 4.4 - Cone elétrico e Sistema de aquisição de dados

Figura 4.5 - Cone elétrico e Sistema de aquisição de dados

As hastes são padronizadas com o mesmo diâmetro da base do cone. O sistema


hidráulico para aplicação do esforço de cravação apresenta capacidade máxima
de 200 kN. No entanto, já recomendações para não exceder 100 kN, para se
evitar problema de flambagem nas hastes ou deformações excessivas nas luvas
de junção das hastes.

35
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

O ensaio requer um dispositivo de reação que pode ser proporcionado pelo peso
próprio do equipamento ou por sistemas especialmente construídos para este
fim.

4.7.2 PIEZOCONE (CPTU)

O piezocone realiza medidas contínuas da resistência de ponta (qc), atrito lateral


(fs) e de poropressão (u) gerados durante a execução do ensaio ou cravação do
piezocone. Elementos de medida de poropressão passaram a ser usados em
cones elétricos na década de 80. A introdução desta informação deu uma nova
dimensão à interpretação dos dados.

A completa saturação é essencial; leituras de poropressão induzidas pela


cravação assim como tempos de dissipação podem ser significativamente
afetados pela presença de ar no sistema.

O elemento poroso pode ser posicionado em diferentes alturas. A Figura 1.6


mostra alguma das posições atualmente adotadas. No início da utilização desses
elementos alguns equipamentos apresentaram medidas no vértice ou face do
cone.

Figura 4.6 - Posição do elemento poroso

A magnitude da poropressão medida no ensaio depende do posicionamento do


elemento poroso na sonda. A posição do elemento poroso interfere na leitura de
poropressão, como mostra a Figura 4.6.

36
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

O projeto mecânico do cone deve garantir que o elemento poroso não seja
solicitado; isto é toda carga é resistida pela ponta cônica e fuste, não há
transferida de carga para região aonde a ponta porosa está posicionada.

A prática atual mais comum é a de monitoramento na posição u2, por apresentar


as seguintes vantagens:

 Melhor posição para corrigir a resistência de ponta


 Possibilidade de correção do atrito lateral
 Menor risco de ser danificado
 Boa sensibilidade de leitura
 Melhor possibilidade de estabelecer correlações empíricas para
estimativa de parâmetros geotécnicos uma vez que, nesta região, o
desenvolvimento de poropressão é governado pelas tensões cisalhantes.

É interessante ressaltar que fisicamente a resistência lateral (fs) não ser negativa
(atrito negativo). Caso isso ocorra, o erro pode estar associado a:

 Influência de variações de temperatura na calibração da célula de carga


 Carregamento lateral devido a inclinação da sonda
 Erro na calibração da célula de carga

Além de qc x prof ou qt x prof e fs x prof, o ensaio fornece ainda os seguintes


parâmetros:

qt   v 0
 Resistencia de ponta normalizada -
 v0
fs
 Resistencia de atrito normalizada -
qt   v 0
u2  u0
 Parâmetro de poropressão - Bq 
qt   v 0
fs
 Relação de atrito - R f 
qc

Onde u0 = poropressão hidrostática, v = tensão vertical de campo; ´v = tensão


vertical efetiva de campo.

37
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 4.7 – Ensaio CPTU – Caracterização geológica

Figura 4.8 - Representação esquemática das leituras feitas em ensaio de campo


(PENNA,2014).

Os ensaios de Cone e SPT se correlacionam através da Tabela 1.9 seguinte.

38
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 4.9 – Correlação direta entre qc x Nspt

Expressão que relaciona os ensaios de Cone e SPT: 𝑞𝑐 = 𝑘 𝑥 𝑁𝑠𝑝𝑡

39
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

5. FUNDAÇÃO SUPERFICIAL, PROFUNDA E RADIER ESTAQUEADO

Conforme descrito por Soares (2003), tradicionalmente os projetos de engenharia são


concebidos para transferir cargas estruturais ao solo através de dois tipos de fundações:
rasas e profundas. As fundações rasas transmitem carga ao solo pelas tensões
distribuídas sob a base de seu elemento estrutural; as fundações profundas transferem
carga ao solo pelo atrito lateral e ponta da estaca, tendo o bloco apenas o papel
estrutural de ligar as estacas.

A abordagem de projeto convencional, que prevalece até hoje, não prevê a associação
dos dois tipos de fundação. Sua escolha é feita com base em critérios técnicos de
capacidade de carga e recalques, sem envolver elementos distintos numa mesma
fundação.

O desenvolvimento dos centros urbanos tem impulsionado a construção civil e a


demanda por um melhor aproveitamento das áreas e recursos disponíveis.

Novos tipos de projetos têm sido explorados na busca de menor custo e melhor critério
técnico, na escolha das fundações.

Uma nova abordagem de projeto, o radier estaqueado, procura a associação dos


elementos radier e estaca numa mesma fundação. Esse novo conceito apresenta
vantagens técnicas e econômicas em relação ao projeto convencional.

A premissa de uso do radier estaqueado é obter vantagem do contato entre o solo e o


bloco. Nesta nova e promissora abordagem, o bloco (radier) pode ser dimensionado,
tanto para aumentar o suporte de carga da fundação, como para reduzir o número de
estacas necessárias no controle de recalques.

Desta forma, identificar o comportamento mecânico de cada tipo de fundação, é parte


fundamental para o correto entendimento do mecanismo de interação solo-estrutura.

O entendimento das diferenças e peculiaridades dos sistemas de fundação existentes


(radier, grupo de estacas e radier estaqueado) é importante, pois permite a
compreensão dos respectivos tipos de comportamento geotécnico, que tem reflexo
direto no comportamento da estrutura integrada à fundação.

De acordo com Bezerra (2003), um sistema de fundação é a associação criada pela


união dos elementos estruturais e o próprio solo que o envolve. Assim como relatado
por Aoki e Cintra (1996) e Cintra e Aoki (1999).

40
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Soares (2011) relata que os tipos de sistemas de fundação variam de acordo com o
elemento estrutural utilizado e sua forma de transmissão de carga ao solo. As
descrições dos sistemas adotados neste trabalho são

 Fundação superficial: elemento de fundação que transmite carga ao terreno,


predominantemente pelas pressões distribuídas sob sua base. Incluem-se as
sapatas, radiers e blocos (NBR 6122/2010);

 Estacas isoladas: elemento de fundação profunda, ou seja, transmite esforços


ao maciço pela sua resistência lateral, de ponta ou a combinação destas. Sua
execução é feita com equipamento ou ferramenta sem descida de operário
(NBR 6122/2010);

 Grupos de estacas: o bloco de coroamento é uma estrutura de volume usada


para transmitir às estacas as cargas de fundação (NBR 6122/2010). Porém
Bezerra (2003),relata que as associações de diversas estacas interligadas por
um bloco de coroamento, geralmente de grande rigidez, que não tem contato
com o solo.

 Radier estaqueado: associações de uma estaca, ou grupo de estacas, com


um elemento de fundação superficial (sapata, radier) ou bloco de coroamento,
com ambas as partes contribuindo na transmissão das cargas ao maciço de
solo.

A diferença entre o radier estaqueado e os grupos convencionais de estaca é que, neste


último, o elemento de ligação bloco de coroamento não está em contato com o solo,
conforme apresentado na Figura 5.1.

Figura 5.1 – Sistema de fundação: (a) Estaca Isolada, (b) grupo de estacas, (c) radier
estaqueado.
41
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

6. COEFICIENTE DE REAÇÃO VERTICAL (CRV) – SAPATAS E


TUBULÕES

Para se considerar a influência do solo junto à fundação, muitos projetistas e uma boa
parte dos programas computacionais disponíveis utilizam a hipótese de Winkler, onde
se estabelece que as pressões aplicadas são proporcionais, em uma relação escalar,
ao recalque mobilizado. Não havendo influência entre o ponto de aplicação desta
pressão com sua vizinhança.

Considerando esta hipótese, se estabelece uma relação discreta (pontual) entre


fundação-solo, mediante a definição de uma constante de mola que representará a
rigidez do maciço. Para isto, é necessário definir o valor de uma constante de mola que
representará a rigidez do maciço. Para isto, é necessário definir o valor de Kv o qual é
denominado Coeficiente de Reação Vertical (CRV). Este é um valor escalar que
representa o coeficiente de rigidez que o solo possui para resistir ao deslocamento
mobilizado por uma pressão imposta. Ele é análogo ao coeficiente de mola, mas não
relacionado a uma força, mas sim a uma pressão (força por área), de acordo com o
exemplo esquemático na figura 6.1.

F: Força;

D: deslocamento;

K: coeficiente de mola (força/comprimento);

P: pressão (força/área);

kv: Coeficiente de Reação Vertical (força/comprimento)

Figura 6.1 – a) Coeficiente de mola, quociente entre força – deslocamento; b) coeficiente de


reação vertical, quociente entre pressão – deslocamento (Referencia: Manual SISES – TQS).

42
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

No caso de Fundações diretas (Sapatas e Tubulões), o Coeficiente de Reação Vertical


(CRV), pode ser obtido de algumas maneiras distintas, dentre as quais, pode-se
destacar:

a) Valores padronizados; b) Ensaio de Placa; e c) Recalque vertical estimado

6.1 VALORES PADRONIZADOS

Conforme detalhado no manual do programa SISES-TQS, vários pesquisadores


apresentam tabelas e ábacos que relacionam o módulo de reação vertical com o tipo de
solo. Estes valores foram obtidos em ensaios in situ em regiões e condições específicas,
conforme podem ser averiguados nas referências bibliográficas disponíveis atualmente.
Assim, os seus valores podem não ser representativos em certas condições, devendo
ficar a critério do profissional o seu uso. Em termos de valores padronizados, três
categorias básicas podem ser destacadas:

A) Tipo de solo;
B) NSPT – Tensão Admissível;
C) Tipo de solo – tensão Admissível.

6.1.1 TIPO DE SOLO

Neste método, os valores do coeficiente de reação vertical (kV), em “FL-3”, são


relacionados ao tipo de solo indicados na Tabela 6.1.1 (Béton Kalender, 1962).

Tabela 6.1.1 – Valores de KV da Tabela de Béton-Kalender (1962)


43
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

6.1.2 SPT – TENSÃO ADMISSÍVEL

Neste método, obtêm-se a média dos valores do SPT compreendidos dentro do bulbo
de pressões, vide figura 6.1.2. Com o valor do número de golpes médio, calcula-se a
tensão admissível pela conhecida relação empírica:

 SOLO  0,20  NSPT MÉDIO (kgf/cm³)

Por meio das Tensões admissíveis estimadas, retira-se da tabela 6.1.2 (Safe, Morrison,
1993), o valor de KV, em kgf/cm³.

Figura 6.1.2 – Exemplificação do cálculo do valor médio do SPT dentro do Bulbo de pressões.

44
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 7.1.2 – Valores de KV – Safe, Morrison (1993)

6.1.3 TIPO DE SOLO – TENSÃO ADMISSÍVEL

Neste método, em função do tipo de solo da camada, retira-se o valor da tensão básica
conforme apresentado na Tabela 4 da NBR 6122:2010, ou na Tabela 6.1.3 desta

45
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

apostila, fazendo as correções de profundidade e de geometria conforme preconiza esta


mesma norma para solos granulares e argilosos.

Com as tensões admissíveis estimadas, retira-se da tabela Safe, Morrison (1993), o


valor de KV em kgf/cm³.

A tabela 6.1.3 adiante, relaciona a descrição do solo e sua tensão admissível.

Para a classificação “Conforme SPT” presente nesta tabela, o seguinte roteiro deve ser
seguido:

- Para a cota de assentamento obtém-se o respectivo valor do SPT;

- Com o valor do SPT e o auxílio da tabela 6.1.4, encontra-se a classificação de


consistência e/ou compacidade;

- A partir da consistência e/ou compacidade tem-se o valor da tensão admissível;

- Com a tensão admissível da tabela 6.1.3, chega-se ao valor do KV.

Tabela 6.1.3 – Valores das Tensões básicas (NBR 6122)

Os valores da tabela de tensões básicas devem ser modificados em função das


dimensões e da profundidade do elemento de fundação, além do tipo de solo, conforme
prescrições da NBR 6122.

46
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 6.1.4 – Relação entre SPT com compacidade e consistência.

a) Prescrição Especial para Solos Granulares

Se o solo abaixo até duas vezes a largura da cota de apoio do elemento de fundação é
do tipo “solo granular e areais”, corrige-se a tensão básica em função de sua largura
(B), de duas maneiras:

A.1) Construções NÃO sensíveis a recalques:

 1,5 
 0   0  1   ( B  2)  2,5   0 (B≤10m)
 8 

A.2) Construções Sensíveis a recalques. Neste caso, torna-se necessário fazer uma
verificação dos efeitos do recalque para o caso de B>2 m, ou manter valores da tabela.

b) Prescrição Especial para Solos Argilosos

Para solos que sejam argilosos, sugere-se reduzir os valores da tabela com a
expressão:

10
 0   0  (Área da fundação≥ 10 m²)
Área da fundação

47
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

A tabela abaixo apresenta um resumo dos principais métodos para cálculo de CRV com
algumas características de cada um, tais como: consideração sobre camadas,
propagação de tensões, associação de camadas, etc.

Tabela 6.1.5 – Resumo de aplicação dos métodos para cálculo de CRV

6.2 ENSAIO DE PLACA

6.2.1 TABELA DE TERZAGHI

Neste método, os valores de KV (kgf/cm³) são relacionados ao tipo de solo fornecido


por Terzaghi (1955) e indicados na tabela 6.2.1. Estes valores foram obtidos no ensaio
de uma placa quadrada de um pé (30 cm), por isso indicados por k30. Deve ser então
corrigido para considerar o efeito de dimensão e forma, conforme indicação nas
correlações abaixo:

 30 
- Para argilas: k V     k 30
B

 B  30 
2

- Para areias: kV     k30


 2B 

Onde B é o menor lado da sapata, em centímetros.

48
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 6.2.1 – Valores de k30 da Tabela Terzaghi (kgf/cm³)

6.2.2 TABELA DE OUTROS AUTORES

Neste método, os valores de kV (kgf/cm³) propostos por outros autores são relacionados
ao tipo de solo. Os valores de k30 são apresentados na tabela 6.2.2 e também devem
ser corrigidos conforme expressões do método anteriormente descrito.

Tabela 6.2.2 - Valores de k30 propostos por outros autores

6.2.3 RESUMO DOS DIVERSOS MÉTODOS – ENSAIOS DE PLACAS

Abaixo é apresentada uma tabela resumindo os diversos métodos para cálculo do


Coeficiente de Reação Vertical com algumas características importantes de cada um,
tais como: consideração de camadas, propagação de tensões, associação de camadas,
grau de dependência do SPT, etc. Esta tabela tem o objetivo de auxiliar a seleção do
método desejado e apresentar o número de variáveis a serem definidas na associação
de camadas da sondagem.

49
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 6.2.3 – Tabela com resumo de avaliação dos diversos métodos

Exemplo: Cálculo do Kv pelos diferentes métodos abordados. Sapara quadrada com base de
1,5 metros. Nível d’água acima da cota de assentamento.

1) Tipos de solo:

Kv extraído direto da tabela Béton Kalender, 1962

𝐾𝑣 = 1,0 𝑎 1,5 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚³

2) SPT – Tensão Admissível:

𝜎𝑆𝑜𝑙𝑜 = 0,20 × 𝑁𝑠𝑝𝑡𝑚é𝑑𝑖𝑜

10 + 8 + 12 + 5
𝑁𝑠𝑝𝑡𝑚é𝑑𝑖𝑜 = = 8,75
4

50
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

𝜎𝑆𝑜𝑙𝑜 = 0,20 × 8,75 = 1,75 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚

Através da Tabela 7.1.2, obtém-se

𝐾𝑣 = 3,55 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚³

3) Tipo de solo – Tensão Admissível:

Para solos Arenoso, temos:

1,5
𝜎`𝑜 = 𝜎𝑜 × [1 + × (𝐵 − 2)] ≤ 2,5 × 𝜎𝑜
8
1,5
𝜎`𝑜 = 0,2 × [1 + × (1,5 − 2)] ≤ 2,5 × 0,2
8

0,18 𝑀𝑃𝑎 ≤ 0,5 𝑀𝑃𝑎

𝜎`𝑜 = 1,8 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚²

Através da Tabela 7.1.2, obtém-se

𝐾𝑣 = 3,64 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚³

4) Ensaio de placa - Terzaghi

Para solos Arenoso, temos:

𝐵 + 30 2 150 + 30 2
𝐾𝑣 = ( ) × 𝐾30 = ( ) × 2,6 =
2×𝐵 2 × 150

𝐾𝑣 = 0,94 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚³

5) Ensaio de placa – Outros autores:

Para solos Arenoso, temos:

𝐵+30 2 150+30 2
𝐾𝑣 = ( 2×𝐵 ) × 𝐾30 = ( 2×150 ) × 6,0 =

𝐾𝑣 = 2,16 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚³

51
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

7. COEFICIENTE DE REAÇÃO HORIZONTAL (CHR) – SAPATAS E


TUBULÕES

7.1 SAPATAS

Para o caso de fundações rasas, a consideração dos deslocamentos devido a forças


horizontais é de difícil equacionamento, pois tem que se levar em conta o coeficiente de
atrito sapata-solo. Trata-se de um problema típico de não-linearidade.

Para grande maioria dos programas, o Coeficiente de Reação Horizontal (CRH) do solo
é estimado como uma parcela do Coeficiente de Reação vertical (CRV).

7.2 TUBULÕES

Para este caso específico, as considerações são similares àquelas com relação às
fundações profundas. Neste sentido, define-se o CRH, que possui a mesma
interpretação física do CRV, mas relativos ao quociente entre as pressões horizontais
(PH) e o seu recalque (dH).

Ou seja, ele fica expresso como:

P 
k H   H 
 dH 

Na literatura, o método um dos métodos mais indicados, é o descrito por Waldemar Tietz
(década de 70), que utiliza um coeficiente de proporcionalidade (m), com unidade FL-4,
que caracteriza a variação do coeficiente horizontal em relação ao tipo do solo. Essa
formulação é originalmente aplicada a tubulões com mais de 1 m de diâmetro. Este
coeficiente depende do tipo de solo, sua consistência ou compacidade e do intervalo do
SPT da sua camada, conforme tabelas 7.2.1 e 7.2.2.

Desta forma, a constante do modelo de Winkler é obtida multiplicando este coeficiente


de proporcionalidade (m) pelo quinhão do comprimento do tubulão, pela profundidade
da camada e pelo diâmetro do fuste, de forma a se escrever para uma camada genérica
i:

k H i  m  z  D  l i

52
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 7.2.1 – Valores de m (tf/m4) para argila.

Tabela 7.2.2 – Valores de m (tf/m4) para areia.

Referência bibliográfica: Manual do TQS-SISES e Tietz (1970).

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EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

8. COEFICIENTE DE MOLA NA ROTAÇÃO

O Coeficiente de Mola na Rotação pode ser calculado da seguinte forma:

M 
M  k    k   
 

Figura 8.1 – Ilustração de Mola na Rotação.

Para aplicação em modelo de mola unitária, calcula-se da seguinte forma:

Com os valore de Kv e com as dimensões das sapatas, é possível estimar os


coeficientes de mola da cada sapata da estrutura.

Os valores de Kz (coeficiente de mola vertical), Krx (coeficiente de mola de rotação em


X) e Kry (coeficiente de mola de rotação em Y) podem ser obtidos por relações entre o
Kv do solo e as propriedades geométricas da sapata:

# Coeficiente de Mola (Rigidez) à rotação (giro em torno de X):

K rx  KV  I X

# Coeficiente de Mola (Rigidez) à rotação (giro em torno de Y):

K ry  KV  I Y

Figura 8.2 – Propriedades geométricas da base da sapata

54
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Exemplo: Cálculo do coeficiente de mola de uma sapata quadrada com base


de 1,5 metros. Parâmetros usados do exemplo anterior para cálculo de Kv.

𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 = 𝐴 × 𝐵 = 1,5 × 1,5 = 2,25 𝑚2 = 22500 𝑐𝑚²

1,5 × 1,5³
𝐼𝑥 = = 0,422 𝑚4 = 4,22 × 107 𝑐𝑚4
12

1,5 × 1,53
𝐼𝑦 = = 0,422 𝑚4 = 4,22 × 107 𝑐𝑚4
12

Utilizando o Kv calculado no exemplo anterior pelo método de Tipo de solo –


Tensão Admissível, temos:

𝑘𝑧 = 3,64 × 22500 = 81900𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚

𝑘𝑟𝑥 = 3,64 × 4,22 × 107 = 15,36𝑘𝑔𝑓. 𝑐𝑚

𝑘𝑟𝑦 = 3,64 × 4,22 × 107 = 15,36 𝑘𝑔𝑓. 𝑐𝑚

55
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

9. DIRETRIZES PARA CÁLCULO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE DOS


SOLOS

Para a estimativa do módulo de elasticidade do solo, recomenda-se que sejam


utilizadas as seguintes correlações (para as areias e argilas):

a) De acordo com Schnaid (2000) para solos argilosos 𝐸 = 2,0 × 𝑁60 .


Com isso,

𝐸 = 2,74 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 (MPa)

b) De acordo com Freitas, Pacheco e Danziger (2012), o módulo de


elasticidade de areias sedimentares pode ser estimado de acordo com
a expressão abaixo.

0,8
𝐸 = 8000 × 𝑁60 (KPa)

Substituindo as expressões, o módulo de elasticidade do solo é calculado


conforme expressão abaixo.

0,8
𝐸 = 8000 × (1,37 × 𝑁𝑠𝑝𝑡 )0,8 ≈ 10291 × 𝑁𝑠𝑝𝑡 (kN/m²)

De acordo com Schnaid (2000) para solos arenosos.

E  2,01 N SPT ,60 Solos Residuais (Siltes Areno-Argilosos)

E  2,4  N SPT ,60 Solos Arenosos (Nspt em torno de 4)

E  3,4  N SPT ,60 Solos Arenosos (Nspt maior que 10)

E  5,6  N SPT ,60 Solos Arenosos (Nspt em torno de 30)

56
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

10. FUNDAÇÃO SUPERFICIAL

Terzaghi (1943) desenvolveu estudo sobre o equilíbrio de forças que agem nas
superfícies de ruptura. Ao combinar conhecimentos da Teoria da Plasticidade
com o cálculo de empuxos passivos, Terzaghi cria sua teoria para capacidade
de carga dos solos (CAPUTO, 1976; VARGAS 1977). A Figura 10.1 mostra
esquema da superfície potencial de ruptura.

Figura 10.1 – Superfície potencial de ruptura (CINTRA, ALBIERO & AOKI, 2003)

A esquematização do problema apresenta três zonas distintas (I; II; III). A zona
I, abaixo da fundação, tem a forma de uma cunha e se desloca verticalmente
quando solicitada; as zonas II e III são zonas de cisalhamento, produzidas pelo
movimento da cunha (CAPUTO, 1976). Nas faces OR e O´R atuam o empuxo
passivo e as forças de coesão.

10.1 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Terzaghi (1943) define dois modos de ruptura do maciço de solo: ruptura geral e
local (Figura 10.2).

57
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 10.2 – Curvas típicas tensão x recalque (CINTRA, ALBIERO & AOKI, 2003)

A curva 1 representa uma ruptura geral do maciço de solo. Ocorre em solos


compactos ou rijos. A ruptura é bem definida e é caracterizada pela abscissa da
tangente vertical à curva.

A curva 2 representa uma ruptura local e ocorre em solos fofos ou moles. Sua
ruptura não é bem definida. Terzaghi arbitra a capacidade de carga como sendo
a abscissa do ponto a partir do qual a curva se torna retilínea.

A capacidade de carga para uma sapata corrida, segundo Terzaghi, é dada pela
equação:

1
 r  c  NC  q  N q     B  N 
2

Os três componentes da equação representam a influência da coesão, atrito e


sobrecarga. Os termos adimensionais Nc, Nq e N são os fatores de capacidade
de carga, determinados através da Figura 10.3. A linha contínua representa solos
de ruptura generalizada e a linha traceja representa os solos de ruptura
localizada.

58
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 10.3 – Tabela para os fatores de capacidade de carga e de Forma

59
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

10.2 RECALQUES

Se o fator de segurança de uma massa de solo é maior do que 3 em relação à


sua plastificação (ruptura), o estado de tensões no interior do solo é
provavelmente semelhante ao estado de tensões computado segundo a
asserção de que o solo é elástico. Assim, nessas condições o estado de tensões
no interior do solo pode ser estimado com base na teoria da elasticidade.

As teorias de problemas de tensões são baseadas na hipótese de que o solo é


homogêneo e isotrópico.

Para determinação dos recalques das fundações é imprescindível o conceito de


distribuições de pressões ao longo da profundidade (isóbaras).

10.2.1 CONSIDERAÇÕES QUANTO AOS TIPOS DE RECALQUES

Várias são as formas de se classificar os recalques para as fundações profundas


(em princípio, válidas tanto para as fundações superficiais como para as
fundações profundas).

Ressalta-se que, conceitualmente, os recalques se dividem em três grupos


distintos:

# Absolutos: recalque de uma fundação, ou ainda, de um ponto de uma


fundação (no caso de uma fundação de grandes dimensões);

# Diferencial: Diferença entre dois recalques absolutos;

# Distorcional: Relação entre o recalque diferencial e a distância


correspondente.

Os recalques muitas vezes levam à ruptura ou em um grau menor


comprometimento, ao rompimento de tubulações, trincas em alvenarias, etc.

Os recalques podem ser rápidos (chamados de imediatos), que demoram horas


ou dias para ocorrer e normalmente cessam ao final da construção, fenômeno
típico de areias e argilas não saturadas.

Já os recalques lentos, podem levar meses ou até mesmo anos após a obra ser
concluída, principalmente quando da ocorrência de argilas saturadas, no qual o
processo de adensamento está por ocorrer.

60
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Como histórico, vale ressaltar que os conceitos acerca dos recalques não eram
aplicados durante a vigência dos “códigos de obra”, mas apenas as verificações
à cerca de pressões admissíveis, o que levou a muitos insucessos no passado.

10.2.2 MÉTODOS DE PREVISÃO DE RECALQUES EM SOLOS DE


COMPRESSIBILIDADE RÁPIDA

Os métodos podem ser de dois tipos: racionais, semi-empíricos e empíricos:

- Teóricos: precisam de um modelo teórico consistente – teoria da elasticidade,


por exemplo;

- Semi-empíricos: modelo teórico consistente é utilizado e os parâmetros são


obtidos com base em correlações com ensaios in situ;

- Empíricos: utilizam diretamente os recalques correlações entre os recalques e


os ensaios in situ.

Há diversas metodologias para estimativas de recalques, dentre as quais


podemos citar:

# Método de Terzaghi-Peck:

Calcula o recalque da fundação a partir dos recalques de uma placa de 1ft x 1ft,
assente à mesma profundidade da fundação e é válido para areias
medianamente compactas a compactas.

S= s1 x (2B/(B+1))^2

para o recalque em “ft”.

# Método de Housel:

Este método toma como base uma série de provas de carga em placas circulares
de diferentes diâmetros, assentes a mesma profundidade que se pretende
instalar as fundações. A partir dos resultados das provas, determina-se os
valores de pressão correspondentes ao recalque admissível desejado.

Este método serviu como base para o método do professor Barata.

61
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

# Método de Barata:

Durante o projeto das fundações da Refinaria Duque de Caxias, da Petrobrás,


ao final da década de 50 e início da década de 60, o então engenheiro da
Geotécnica Fernando E. Barata executou várias provas tríplices de Housel, bem
como vários ensaios de cone (CPT). Foi possível então àquele pesquisador
estabelecer uma metodologia de previsão de recalques associando Teoria de
Elasticidade, a interpretação da prova tríplice de Housel e o ensaio de cone. Tal
metodologia possibilita a previsão dos recalques mesmo na ausência da
realização da prova de carga tríplice de Housel. A expressão para o cálculo dos
recalques, publicada pela primeira vez em Barata (1962), é semelhante a outras
expressões que também se baseiam na Teoria da Elasticidade. O recalque Δh
de uma fundação (placa) assente à profundidade h (anteriormente designada D f)
é dado por:

 h    c 
p
Ez

 B  1 2 

 - Coeficiente de Mindlin;

c - Fator de forma da fundação;

B – Largura da fundação;

 - Coeficiente de Poisson;

P – Pressão aplicada à fundação;

Ez – Módulo de deformação ou módulo de placa;

62
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 10.4 – Isóbaras sob ação do carregamento de uma sobrecarga uniformemente


distribuída na superfície de semi-espaço infinito, homogêneo e isotrópico,
representando carregamento de uma fundação atuando no nível de um dado terreno
(Bowles, 1977).

63
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 10.1 – Valores de α para a estimativa da profundidade atingida pelo bulbo de


pressões (na seção central) de uma fundação de comprimento L e largura B (extraído
de Barata, 1984).

Tabela 10.2 - Fatores de forma a serem empregados no método de Barata (1984)


(admitiu-se que as sapatas podem ser consideradas como fundações rígidas)

Tabela 10.3 – Sugestão de valores de coeficiente de Poisson (Barata, 1983)

Figura 10.5 – Valores de l para fundações circulares7 (Caquot e Kérisel, 1956,


segundo Barata, 1962).

64
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

L/D

Figura 10.6 - Valores de l para fundações retangulares (Fox, 1948, segundo Barata,
1962).

Ez = módulo de deformação (ou módulo de placa), o cerne do método; Barata


correlacionou o valor de Ez com a resistência de ponta do ensaio de cone, qc,
através da expressão.
𝐸𝑧 = 𝑎 . 𝑞𝑐

e o valor do coeficiente a foi designado por Barata como coeficiente de Buisman,


em homenagem ao pesquisador holandês que utilizou expressão semelhante
para a estimativa do módulo edométrico; os valores do coeficiente de Buisman
obtidos e relacionados por Barata (1983) constam da tabela 10.4. Barata (1983)
ressalta que a experiência até aqui existente mostra que o valor de a é sempre
maior que 1,0; as areias e solos arenosos têm os mais baixos valores de a,
enquanto as argilas e solos argilosos apresentam os mais altos.

Os valores de Ez devem ser calculados ao longo de todo o bulbo de pressões,


cuja profundidade pode ser obtida através da tabela 10.1. Caso não se disponha
do ensaio de cone, pode-se empregar uma correlação entre os valores da
resistência de ponta do cone (qc) e o número de golpes (N) do SPT, através da
correlação abaixo.

𝑞𝑐 = 𝐾. 𝑁
Podendo os valores de K ser obtidos na tabela 10.5.
65
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 10.4 - Valores do coeficiente de Buisman (Barata, 1984)

Tabela 10.5 – Valores de K para emprego na correlação entre o ensaio de cone e a


sondagem à percussão (Danziger, 1982).

66
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Assim, uma vez que se disponha apenas de resultados de sondagens à


percussão, deve-se calcular os valores de Ez de metro em metro (pois na
sondagem N é fornecido a cada metro) e definir uma reta cuja tendência de
comportamento represente os pontos na região correspondente ao bulbo.
Pontos muito fora da tendência do conjunto podem ser eliminados da análise.
Uma vez definida esta reta, o valor de Ez a ser empregado na expressão para
cálculo dos recalques corresponde ao meio do bulbo. A figura 10.10 ilustra este
procedimento.

Figura 10.7 – Representação esquemática da obtenção do valor de Ez a ser


empregado na expressão do cálculo de recalques.

# Exemplo de Cálculo de Recalque pelo Método de Barata:

Calcule o recalque de uma sapata quadrada de 2,5 m x 2,5 m, assente à 2 m de


profundidade, com uma carga aplicada de 1344 kN, conforme seção mostrada
na Figura 3.8.

67
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 10.8 – Seção de implantação da Fundação

- Determinação do Ez:

𝐸𝑧 = 𝑎 . 𝐾 . 𝑁𝑠𝑝𝑡

Utilizando as tabelas abaixo, temos:

68
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Calculando-se o Ez para cada metro, ao longo da profundidade do Bulbo (5 m),


tem-se:

Como o bulbo tem profundidade de αB = 2 x 2,5 = 5 m, o valor de Ez no meio do


Bulbo, correspondente à profundidade de 2,50m abaixo da cota de
assentamento da Sapata é de Ez = 10.250 kN/m².

Os demais parâmetros são obtidos por meio de Tabelas e Gráficos.

69
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

70
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

- Para λ:
ℎ 2,0
= = 0,8
√𝐵. 𝐿 √2,5 × 2,5

Utilizando o gráfico abaixo:

λ =0,77
1344
𝑝= = 215,04 𝑘𝑁/𝑚²
2,5 × 2,5
𝑝
∆ℎ = 𝜆𝑐Δ 𝐵(1 − 𝜇 2 )
𝐸𝑧
215,04
∆ℎ = 0,77 × 0,82 × × 2,5(1 − 0,32 ) = 0,030 𝑚 = 30 𝑚𝑚
10.250

71
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

11. COEFICIENTE DE REAÇÃO VERTICAL (CRV) - ESTACAS

11.1 CONCEITO

O CRV (coeficiente de ração vertical) pode ser entendido como rigidez do contato
estaca-solo. Aplica-se no topo da estaca i o carregamento obtido pela resolução de
pórtico espacial, considerando inicialmente como apoiado em base rígida. O CRV da
estaca é a razão entre a carga aplicada Pi no topo da estaca e o deslocamento sofrido
na base da estaca i, que pode ser resolvido pelo modelo de Aoki-Lopes com efeito e
grupo:

Pi
CRVestaca i 
i

Onde Pi é a carga aplicada no topo da estaca e i é o recalque na base da estaca +


deformação elástica do fuste.

A somatória dos coeficientes de reações verticais do fuste e da ponta, deverá resultar


em coeficiente de reação da estaca i:

 CRV
j 1
fuste j , i  CRV ponta,i  CRV geral, i

Onde i=estaca “i” e j=, 1, 2, 3, ..., m (posição) da estaca “i”.

Fisicamente, a expressão acima, pode ser entendida como um conjunto de “molas” que
distribuem ao longo do fuste e na base da estaca, e que estas “molas” representam
proporcionalmente a distribuição de rigidezes do contato estaca-solo segundo a lei de
transferência de cargas.

Figura 11.1 – Representação da estaca


72
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Torna-se importante ressaltar que, este modelo é de entendimento simples em relação


a outros modelos mais sofisticados (métodos dos elementos finitos e contorno),
facilitando sua aplicação. A mola idealizada não é a mola de Winkler, pois: ela varia
conforme o nível de carregamento, inclusive altera a curva quando o carregamento
ultrapassa a resistência lateral PL do fuste. Portanto, a “mola” representa a não-
linearidade do comportamento da estaca.

É importante esclarecer que não existe um coeficiente de mola constante para um


determinado solo. O seu valor depende da interação completa da rigidez da estrutura x
solo. Por exemplo, os coeficientes de mola da fundação de um edifício sobre o solo “A”
não é a mesma se for construído sobre esse mesmo solo um edifício com outra rigidez
(número de pavimentos, arranjos estruturais ou sistema estruturais diferentes).

11.2 APLICAÇÃO PARA A INTERAÇÃO INTEGRADA ESTRUTURA-


SOLO

Pode-se simular a interação estrutura-solo nos seguintes passos:

1 – Através de um programa computacional, calculam-se as reações das estacas


(apoios de bloco de coroamento), inicialmente considerando-os totalmente engastados
(apoio rígido);

2 – Com estas reações, calculam-se os recalques (deslocamentos na ponta da estaca


+ encurtamento do fuste da estaca), considerando os efeitos de grupo pela teoria da
elasticidade. Calculam-se as rigidezes equivalentes, dividindo as forças (reações de
apoio) aplicadas pelos respectivos recalques;

3 – Volta-se na estrutura, substituindo os apoios pelas estacas devidamente


discretizadas até a base;

4 – Aplicam-se aos nós da estrutura da fundação discretizada os CRVs e CRHs através


de vínculos elásticos e representativos da presença do solo;

5 - Resolve-se toda a estrutura integrada (fundação + superestrutura). Os resultados


obtidos já são os resultados finais nos elementos de fundação e nas vigas e pilares do
edifício.

73
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 11.2 – Interação estrutura-solo

A filosofia adotada neste sistema, de acrescentar molas de rigidez equivalente aos nós
dos elementos de fundação discretizados, permite que a estrutura faça a sua adaptação
de acordo com a sua própria rigidez, sem a necessidade de introdução de forças nas
fundações e imposição de deslocamentos nos apoios. Não é um processo de
convergência interativa pois toda a estrutura (super e infra) é resolvida
simultaneamente.

Um dos programas que utilizam este procedimento é o SISES, da TQS.

74
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

12. COEFICIENTE DE RIGIDEZ HORIZONTAL (CHR) - ESTACAS

O CRH (coeficiente de reação horizontal) pode ser entendido como a rigidez do contato
estaca-solo, mas neste caso, ao contrário do CRV, na direção horizontal.

12.1 COEFICIENTE E MÓDULO DE REAÇÃO HORIZONTAL

Para o estudo de estacas submetidas a esforços de tração são frequentemente


utilizados métodos decorrentes do coeficiente de reação horizontal estimado, na grande
maioria dos casos a partir dos resultados de sondagens à percussão (SPT) associadas
à classificação tátil-visual dos solos.

O coeficiente de reação horizontal (kZ) tem como hipótese básica a consideração de que
a pressão atuante na profundidade z é proporcional ao deslocamento sofrido pelo solo:

Z
kZ 
y

Conforme Allonso (1989), essa conceituação, semelhante à hipótese de Winkler,


embora podendo ser aplicada ao caso de vigas horizontais sobre apoios, perde o
sentido quando aplicada à estacas, sendo modernamente utilizado o módulo de reação
horizontal (k). Este módulo é definido como a relação entre a reação do solo, na
profundidade z, e o deslocamento horizontal:

p
k 
y

Para o cálculo do coeficiente de recalque do solo, ou o coeficiente de reação horizontal


do solo, grande parte dos programas comerciais utilizam o modelo conforme o detalhado
por “Waldemar Tietz”, denominado “Modelo SPT/m”, indicado para o caso de estacas
carregadas transversalmente.

Quando uma determinada estaca se desloca no sentido horizontal, o solo exerce sobre
sua superfície lateral bc (reduzida) uma pressão variável com a profundidade.

C Z  m  z(tf / m³)

Onde:
75
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

CZ – “coeficiente de recalque do solo” ou coeficiente de reação horizontal do solo;

m – em (tf/m4) é o coeficiente de proporcionalidade que caracteriza a variação do


coeficiente CZ em relação à qualidade do solo;

z – é a profundidade das respectivas camadas do solo consideradas a partir da


superfície do solo ou do nível da base do bloco.

As tabelas abaixo apresentam os valores típicos de m:

Tabela 12.1 – Valores do coeficiente de proporcionalidade m para solos arenosos

Tabela 12.2 – Valores do coeficiente de proporcionalidade m para solos argilosos

Uma outra forma de se obter o CRH de estacas é por meio da correlação direta com o
o CRV, por meio da aplicação conceitual da Teoria de Wilkler.

Como parte do solo é tracionado, os Modelos de Meio Elásticos Contínuos não


representam adequadamente o comportamento do solo, ao contrário da Hipótese de
Winkler.

76
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 12.1 – Reação do solo contra o deslocamento horizontal da estaca

Figura 12.2 – Reação do solo contra o deslocamento horizontal da estaca

Porém, a hipótese de Winkler não pode ser aplicada para solos que apresentam
variação de rigidez ao longo da profundidade, desta forma, recomenda-se a aplicação
de Tabelas com correções de rigidez baseadas nas dimensões das estacas.

Tabela 12.3 – Valores de K1 para solos arenosos.

Z = Profundidade da Fundação;

B = Largura ou diâmetro da estaca ou tubulão.

77
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Tabela 12.4 – Valores de K1 para solos argilosos.

78
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

13. FUNDAÇÃO PROFUNDA

13.1 CAPACIDADE DE CARGA DE UMA ESTACA

Nos métodos estáticos a capacidade de carga é calculada por fórmulas que


estudam a estaca mobilizando toda a resistência ao cisalhamento estática do
solo, resistência essa obtida em ensaios de laboratório ou “in situ”. Os métodos
estáticos se dividem em:

# Métodos racionais ou teóricos – aqueles que utilizam soluções teóricas de


capacidade de carga e parâmetros do solo e;

# Métodos semi-empíricos – aqueles que se baseiam em ensaios in situ de


penetração (CPT e SPT).

13.1.1 MÉTODOS RACIONAIS OU TEÓRICOS

Relacionam apenas a resistência de ponta ou base.

As primeiras fórmulas teóricas datam do início do século e foram instituídas por


Verendeel, aplicáveis a casos de solos puramente argilosos ou arenosos.

A capacidade de carga na ruptura é dada pela soma de duas parcelas:

Q  Ql  QP  f S  Al   r  AP

Onde:

Ql = resistência lateral por atrito ou adesão ao longo do fuste;

Qp = resistência de ponta;

fs = atrito lateral unitário ou adesão do solo ao elemento estrutural;

Al = área lateral do fuste do elemento estrutural

r = capacidade de carga do solo

Ap = área da seção transversal da base do elemento estrutural.

As parcelas de resistência do elemento isolado de fundação são ilustradas na

Figura 13.1.

79
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.1 - Parcelas de resistência do elemento isolado de fundação profunda


(CINTRA e AOKI, 1999)

O atrito lateral é considerado positivo no trecho de fuste da estaca ao longo do


qual a estaca tende a recalcar mais que o terreno circundante. O atrito lateral é
considerado negativo, no trecho em que o recalque do solo tende a ser maior
que o da estaca.

A NBR 6122/2010 prescreve o fator de segurança global 2 para a determinação


da carga admissível de estacas sem prova de carga. Já Cintra e Aoki (1999)
recomendam utilizar um coeficiente de segurança não inferior a 3 para
capacidade de carga obtida por cálculo teórico.

13.1.1.1 MÉTODO DO CORPO DE ENGENHEIROS DO EXÉRCITO


AMERICANO

O método teórico é utilizado na área offshore, devendo neste caso seguir as


recomendações da API (American Petroleum Institute). Neste item é
apresentado o método utilizado pelo US Corps of Engineers (2005), aplicado às
demais estacas.

Partindo-se da fórmula estática, são apresentados os valores propostos para a


resistência unitária por atrito lateral e pela ponta, inicialmente para as camadas
de solo de comportamento drenado (areias, areias siltosas, argilas após

80
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

dissipação da poropressão gerada pela cravação) e, posteriormente, para as


camadas de solos argilosos com comportamento não drenado.

A - Estacas em solos de comportamento drenado

# Atrito Lateral

O atrito lateral de estacas em solos arenosos varia linearmente com a


profundidade até uma profundidade crítica, Dc, permanecendo constante abaixo
desta profundidade. A profundidade crítica varia entre 10 a 20 diâmetros (ou
largura B), dependendo da densidade relativa da areia, da seguinte forma:

Dc = 10 B, para areias fofas

Dc = 15 B, para areias médias

Dc = 20 B, para areias densas

O atrito lateral unitário é determinado pela seguinte expressão:

𝜏𝑙,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 𝐾 × 𝜎𝑣′ × tan 𝛿

Onde:

σ’v é a tensão efetiva vertical, para D<Dc

σ’v é a tensão efetiva vertical na profundidade crítica Dc, para D>Dc

K é o coeficiente de empuxo lateral, variando de 1,0 a 2,0 para areias, 1,0 para
siltes e 1,0 para argilas.

δ é o ângulo de atrito entre o solo e a estaca, variando segundo a Tabela 13.1.

D é a profundidade considerada.

Tabela 13.1 – Valores de δ

81
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

A resistência total de atrito num certo trecho é dada por:

𝑄𝑙,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 𝜏𝑙,𝑟𝑢𝑝𝑡 × 𝐴𝑠

onde:

As é a área lateral da estaca em contato com o solo.

# Resistência de ponta

A resistência unitária na ponta é calculada como:

𝑞𝑝,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 𝜎′𝑣 × 𝑁𝑞

Onde:

σ’v é a tensão efetiva vertical, para D < Dc

σ’v é a tensão efetiva vertical na profundidade crítica Dc para D > Dc

Os mesmos valores estabelecidos da profundidade crítica para o atrito lateral


são utilizados para o cálculo da resistência de ponta.

O valor de Nq deve ser obtido da Figura 4.3, em função de φ’.

82
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.3 - Fator de capacidade de carga Nq, adaptada de US Corps of Engineers


(2005).

# Estacas em solos coesivos (de comportamento não drenado)

- Atrito lateral

Embora denominado de atrito lateral, a publicação do US Army Corps of


Engineers (2005) ressalta que a resistência é devida à coesão ou adesão da
argila ao fuste da estaca, calculada como na equação abaixo.

𝜏𝑙,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 𝐶𝑎

Onde:

𝐶𝑎 = 𝛼 × 𝑆𝑢

Sendo:

83
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

𝐶𝑎 a adesão entre a argila e a estaca

𝛼 o fator de adesão

Su a resistência não drenada da argila

A resistência lateral total num certo trecho é dada por:

𝑄𝑙,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 𝜏𝑙,𝑟𝑢𝑝𝑡 × 𝐴𝑠

Onde:

As é a área lateral da estaca em contato com o solo.

Os valores de 𝛼, função da resistência não drenada, são obtidos da Figura 13.4.

Figura 13.4 - Valores de α em função de Su, US Corps of Engineers (2005).

Um procedimento alternativo desenvolvido por Semple e Ridgen (1984),


conforme citado pelo US Army Corps of Engineers (2005), consiste na obtenção
dos valores de  que são especialmente aplicados a estacas longas, dados por:

𝛼 = 𝛼1 × 𝛼2

𝜏𝑙,𝑟𝑢𝑝 = 𝛼 × 𝑆𝑢

84
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

com 𝛼1 e 𝛼2 obtidos da Figura 13.5.

Figura 13.5 - Valores de α1e α2 para estacas muito longas, US Corps of Engineers
(2005).

- Resistência de ponta

A resistência de ponta é calculada como:

𝑞𝑝,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 9 × 𝑆𝑢

𝑄𝑝,𝑟𝑢𝑝𝑡 = 𝑞𝑝,𝑟𝑢𝑝𝑡 × 𝐴𝑏

onde:

Ab é a área da ponta

- Estacas em solos estratificados

A publicação do Corpo de Engenheiros do Exército Americano ressalta ainda


que no caso de solos estratificados, os procedimentos de cálculo devem ser
utilizados com base em cada camada. A capacidade de carga na ponta deve ser
determinada a partir das propriedades da camada de solo na ponta. Contudo,
quando camadas mais fracas existirem a profundidades de até cerca de 1,5 m
ou 8 diâmetros abaixo da ponta, o que for maior, a resistência de ponta vai ser
afetada. Torna-se necessário computar este efeito e considerá-lo quando do
85
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

cálculo da resistência de ponta. No cálculo do atrito lateral, a contribuição de


cada camada é computada separadamente, considerando as camadas acima
como sobrecargas e aplicando os fatores de redução apropriados para o tipo de
solo envolvido em cada incremento de profundidade.

13.1.1.2 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS

Semelhantemente às fórmulas estáticas, nos métodos empíricos a capacidade


de carga (carga de ruptura) Qrup da estaca é estimada pela expressão abaixo,
reproduzida abaixo:

Qrupt  Ab  q p , rupt  U   l , rupt  l

Sendo a primeira parcela conhecida por resistência de ponta e a segunda por


atrito lateral.

A diferença entre as fórmulas estáticas e os métodos empíricos é que no caso


das fórmulas estáticas o atrito lateral unitário e a resistência de ponta unitária
(ambos com unidade de tensão) são obtidos através de princípios de Mecânica
dos Solos, tal como no caso de fundações superficiais, como vimos
anteriormente. A principal dificuldade do emprego das fórmulas estáticas
consiste na estimativa dos parâmetros geotécnicos das diversas camadas do
terreno atravessadas pelas estacas com base nas investigações geotécnicas
usuais, no caso do Brasil apenas as sondagens à percussão.

Já os métodos empíricos empregam os valores obtidos nos ensaios de campo


diretamente para a estimativa do atrito lateral unitário e da resistência de ponta
unitária, ou seja, sem passar pelos parâmetros geotécnicos. Pode-se dizer que
esta é uma tendência mundial e, no Brasil, métodos semi-empíricos têm sido
propostos desde o final da década de 70 e início da década de 80.

13.1.1.3 MÉTODO DE AOKI-VELLOSO

O método de Aoki e Velloso (1975) constitui experiência adquirida pelos autores


quando de sua atuação na então Companhia de Estacas Franki. O método surgiu
a partir de correlações entre resultados de provas de carga em estacas,
resultados de ensaios de cone (CPT) e sondagens à percussão. Foram
86
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

empregadas correlações existentes na empresa, desenvolvidas por Costa


Nunes e Fonseca (1959) entre a resistência de ponta do cone qc e o N do SPT

fs
 l ,rupt 
F2

qc
q p , rupt 
F1

onde: qc e fs são a resistência de ponta do cone e atrito lateral unitário na luva


do cone.

F1 e F2 são fatores de correção que levam em conta o efeito de escala, face à


diferença nas dimensões da estaca e do cone, além do efeito de execução de
cada tipo de estaca.

Como o CPT não é realizado na maior parte das obras de fundações, os valores
de qc e fs podem ser substituídos por expresões que correlacionam os
resultados do ensaio de cone com o SPT, como indicado abaixo:

qc  K  N SPT

f S    qc    K  N SPT

O valor de K depende do tipo de solo e o valor de α é mais comumente conhecido


como razão de atrito, relação entre o atrito unitário e a resistência de ponta do
cone, indicados na Tabela 5.2. Cintra e Aoki (2010) lembram que os valores da
Tabela 5.2 foram propostos por Aoki e Velloso (1975) com base em sua
experiência e em valores da literatura.

Cintra e Aoki (2010) esclarecem que algumas publicações trazem novos valores
de K e α, válidos para determinados locais como, por exemplo, a proposição de
Alonso (1980) para os solos da cidade de São Paulo e por Danziger e Velloso
(1986) para os solos do Rio de Janeiro. Cintra e Aoki (2010) consideram que a
tendência do método seja a manutenção de sua formulação geral, mas com
substituição das correlações originais, abrangentes, por correlações regionais,
que tenham validade comprovada.

Cabe mencionar que Souza (2009), bem como Souza et al. (2012), verificaram
que em solos arenosos o valor de K varia também com a compacidade, sendo
87
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

da ordem de 10, como indicado na Tabela 13.2, apenas para as areias fofas, e
inferiores, no caso de areias compactas. Atenção especial deve ser dada quando
da ocorrência de trecho significativo de areia muito compacta que possa levar a
estimativa muito elevada de capacidade de carga.

Os fatores corretivos F1 e F2, dados na Tabela 4.3, foram ajustados por Aoki e
Velloso com inúmeras provas de carga realizadas em vários estados do Brasil.
Cintra e Aoki (2010) esclarecem que quando estas provas de carga não
atingiram a ruptura, os autores utilizaram o método de Van der Veen (1953) para
sua extrapolação.

Tipo de solo k (kgf/cm²) 


Areia 10,0 0,014
Areia siltosa 8,0 0,020
Areia s1lto-argilosa 7,0 0,024
Areia argilosa 6,0 0,030
Areia argilo-siltosa 5,0 0,028
Silte 4,0 0,030
Silte arenoso 5,5 0,022
Silte areno-argiloso 4,5 0,028
Silte argiloso 2,3 0,034
Silte argilo-arenoso 2,5 0,030
Argila 2,0 0,060
Argila arenosa 3,5 0,024
Argila areno-siltosa 3,0 0,028
Argila siltosa 2,2 0,040
Argila silto-arenosa 3,3 0,030
Obs.: 1 kgf/cm²  100 kN/m

Tabela 13.2 - Valores de  e K a serem empregados no método de Aoki e Velloso


(1975).

Valores de
Tipo de estaca
F1 F2
Metálica 1,75 3,5
Pré-moldada 1 + D/0,80 2 F1
Tipo Franki 2,50 5,0

88
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Escavada 3,0 6,0


Raiz, Hélice contínua e
2,0 4,0
Ômega

Tabela 13.3 - Valores F1 e F2.

Alguns valores da Tabela 13.3 são os originais de Aoki e Velloso (1975). No caso
das estacas pré-moldadas, os valores originais de F1 e F2, iguais aos da estaca
metálica, foram alterados por Aoki (1985) de forma a contemplar a diversidade
de diâmetros praticados no mercado. Para estacas escavadas, os valores de F1
e F2 propostos por Aoki e Alonso (1991) acabaram por ser incorporados na
prática. Todavia, as estacas escavadas, quando mantidas com o furo aberto
muito tempo antes de sua concretagem, requerem valores maiores de F 1 e F2
para levar em consideração um maior nível de desconfinamento do solo. Para
estacas do tipo raiz, hélice contínua e ômega, Velloso e Lopes (2010) sugerem
valores de F1 e F2 de 2 e 4, respectivamente, que têm apresentado resultados
razoáveis, ligeiramente conservativos.

13.2 TRANSFERENCIA DE CARGA

A transferência da carga atuante na estaca para o solo adjacente representa um


mecanismo de difícil previsão, uma vez que é afetado pelo comportamento
tensão x deformação x tempo e características de resistência de todos os
elementos do sistema estaca-solo, incluindo os procedimentos de instalação das
estacas. Uma ocorrência que muito influencia a transferência de carga é a
presença de tensões residuais de cravação ou originárias de carregamentos
prévios, como provas de carga efetuadas em estacas de teste.

A determinação da capacidade de carga, parte da premissa de que, por ocasião


da ruptura, a ponta e todos os elementos do fuste mobilizam integralmente a
resistência disponível pelo solo, em todo o trecho de embutimento da estaca. No
entanto, os ensaios realizados quando da instrumentação da estaca ao longo de
seu comprimento indicam que o deslocamento necessário para mobilizar o atrito
lateral e a ponta são muito diferentes. Enquanto o atrito é mobilizado para
deslocamentos de cerca de 10mm, a mobilização integral da ponta se dá para
deslocamentos maiores, em especial para estacas de maior diâmetro. Estes

89
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

deslocamentos chegam a cerca de 8% do diâmetro da ponta para estacas


cravadas e até 30% para as escavadas. Por este motivo, a porcentagem da
carga transferida à ponta em relação à carga aplicada ao topo é muito menor
para a carga de serviço do que por ocasião da ruptura. No caso de estacas
esbeltas, mais deformáveis, em que o deslocamento do topo pode ser bastante
superior ao da ponta, o atrito pode ser mobilizado muito antes nos trechos
superiores do que nos trechos inferiores.

O enfoque analítico apresentado por Vesic (1977) auxilia a compreensão do


mecanismo de transferência, Figura 13.6.

Figura 13.6 - Transferência da carga Q0, aplicada na superfície, ao solo em


profundidade, adaptado de Vesic (1977).

No enfoque analítico, as curvas que definem o atrito local são funções contínuas.
Na prática, nos casos em que se obtém o diagrama de transferência de carga a
partir da instrumentação, os recalques são conhecidos apenas em alguns níveis.
Consequentemente, o esforço normal e o atrito unitário são calculados por
trechos e as curvas de transferência de carga e de atrito unitário obtidas
apresentam-se em degraus.

90
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.7 - Transferência de carga de uma estaca isolada (ALONSO, 1991)

Para a previsão de recalques da estaca isolada pelo método de Vesic (1977),


por exemplo, é necessário se proceder a uma estimativa da parcela de carga
transmitida ao fuste e à ponta para a carga de serviço, ou seja, a transferência
de carga. Como já mencionado, a transferência de carga é um mecanismo de
difícil previsão, uma vez que é afetada pelo comportamento tensão x deformação
x tempo na interação solo x estaca. Na prática, é comum se considerar um
modelo simplificado de cálculo. Como o atrito lateral é mobilizado antes da
resistência na base, somente após boa parte do atrito estar esgotado é que
começa a mobilização da resistência de ponta. Costuma-se admitir na prática,
de forma simplificada, que a reação na base só se inicia após a total mobilização
do atrito lateral. Assim procedendo, o diagrama de transferência de carga vai
depender somente do conhecimento do diagrama de ruptura estaca-solo e da
carga no topo da estaca. Outra alternativa que pode ser adotada é admitir-se
que a distribuição se manifeste apenas num trecho da estaca onde a carga
aplicada iguala o atrito lateral disponível, (Modelo A), ou que esta se distribua ao
longo da estaca, de forma proporcional, como exemplificado no Modelo B da
Figura 13.8.

91
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.8 - Modelo de transferência de carga (Aoki, 1997).

As parcelas de resistência de ponta, Qp,rupt, e de atrito lateral, Ql, rupt, bem como
sua distribuição ao longo do fuste da estaca, podem ser calculadas, na ruptura,
por métodos de capacidade de carga em estacas, como aqueles já vistos
anteriormente.

13.3 RECALQUE DE FUNDAÇÕES ISOLADAS

De acordo com Danziger, 2016, a estimativa de recalques de fundações


profundas baseia-se nos mesmos princípios da estimativa de recalques em
fundações diretas. No entanto, ao executar uma fundação profunda ocorrem
perturbações no maciço de solo adjacente à estaca, bem como mudanças no
1 𝑖=3
1 1
𝑤𝑠 = (∫ 𝑄𝑧 𝑑𝑧) = (∑ 𝑄𝑖 𝑙𝑖 )
𝐸𝐵 𝐴 0 𝐸𝐵 𝐴
𝑖=1

estado de tensões gerado pelas operações de cravação. Vesic (1977) ressalta


que mesmo um maciço de solo inicialmente homogêneo pode ser submetido a
variações bruscas de rigidez, tanto na direção vertical como na horizontal, pelo
menos nas zonas altamente comprimidas no entorno de estacas cravadas. Além
deste aspecto, estacas cravadas (e também estacas escavadas submetidas a

92
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

um carregamento prévio, como ocorre numa prova de carga) podem reter


grandes tensões residuais que podem influenciar de forma significativa as
respostas ao carregamento e às características carga x recalque.

A transferência de carga da estaca ao solo não é conhecida com exatidão, além


de variar com o nível de carregamento. Assim como para a previsão de
capacidade de carga, a situação é ainda mais complexa pelos efeitos da
instalação de estacas adjacentes e possível ação de grupo, fazendo com que a
formulação racional deste problema não seja simples. Por este motivo, neste
capítulo serão apresentadas apenas algumas soluções aproximadas e suas
limitações devem ser lembradas em todas as aplicações.

13.3.1 MÉTODO DE VESIC (1977)

Para efeito de projeto, é conveniente separar o recalque de fundações, no nível


do topo da estaca, em três componentes: recalque devido à deformação axial do
fuste, ws; recalque no nível da ponta, causado pelas cargas transmitidas da
estaca ao solo pela ponta da estaca, wpp; e recalque no nível da ponta da estaca
causado pelas cargas transmitidas ao maciço ao longo do fuste, wps, expressão
abaixo.

w0  ws  wpp  wps

O recalque devido à deformação elástica do fuste da estaca, ws, pode ser


determinado facilmente, se a magnitude e distribuição do atrito lateral são
conhecidos, ou assumidos. O valor de ws pode ser obtido pela fórmula da
resistência dos materiais para deformação axial de uma barra, chegando-se a:

1 𝑖=3
1 1
𝑤𝑠 = (∫ 𝑄𝑧 𝑑𝑧) = (∑ 𝑄𝑖 𝑙𝑖 )
𝐸𝐵 𝐴 0 𝐸𝐵 𝐴
𝑖=1

O recalque elástico também pode ser calculado través da expressão:

𝐿
𝑤𝑠 = (𝑄𝑃 + 𝛼 × 𝑄𝑆 ) ×
𝐴 × 𝐸𝑃

Na expressão acima os valores de Qp e Qs são, respectivamente, a carga de


ponta e carga de atrito lateral transmitida pela estaca ao solo, para o nível de
carregamento considerado, L o comprimento da estaca, A sua seção transversal
e Ep o módulo de elasticidade do material do fuste. A determinação da
93
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

capacidade de carga é estabelecida supondo-se que a estaca se desloca o


suficiente para a mobilização integral de toda a resistência disponível pelo solo.
No entanto, para as cargas de serviço, para as quais se deseja estimar o
comportamento das fundações quanto ao recalque, a mobilização é parcial, e
depende do mecanismo de transferência de carga, que será apresentado
posteriormente. O coeficiente α é um número que depende da distribuição do
atrito lateral ao longo da profundidade. Para distribuições uniformes e
parabólicas, α = 0,5, enquanto se o atrito variar linearmente, seja aumentando,
seja diminuindo com a profundidade, α pode variar de 2/3 a 1/3. Valores de α
ainda menores podem ser observados, principalmente em estacas cravadas, por
conta de tensões residuais. Um valor típico para estacas esbeltas cravadas em
areia, em condições de cravação difíceis, pode ser da ordem de 0,1. Valores
ainda menores podem ser observados no caso de estacas flutuantes longas nas
quais, sob condições de trabalho, somente uma pequena fração do comprimento
do fuste efetivamente transmite o carregamento.

Com base nas equações anteriores, bem como em correlações empíricas


disponíveis entre o módulo de Young do solo Es e a resistência unitária de ponta
para um número expressivo de casos de obra, as seguintes expressões gerais
foram propostas:

Recalque da ponta devido à carga por atrito:

𝑄𝑆 𝐷
𝑊𝑃𝑆 = ( ) ( ) × (1 − 𝜇 2 )𝐼𝑤𝑠
𝑝𝐿 𝐸𝑠

𝐿
Onde; 𝐼𝑤𝑠 = 2 + 0,35 × √𝐷

Recalque da ponta devido à carga da ponta:

𝑄𝑃 𝐷
𝑊𝑃𝑃 = ( ) ( ) × (1 − 𝜇 2 )𝐼𝑤𝑝
𝐴𝑃 𝐸𝑠

Onde; 𝐼𝑤𝑝 = 0,85 (𝑟𝑒𝑐𝑜𝑚𝑒𝑛𝑑𝑎𝑑𝑜)

Nas expressões acima, Qp é a parcela de carga transmitida à ponta e Qs ao fuste


da estaca, mobilizadas no solo em condição de serviço, IWS e IWP são coeficientes
empíricos.

# Exemplo de Cálculo de Recalque pelo Método de Vésic:


94
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Para uma estaca de 13 m de comprimento, faça uma estimativa do recalque da


estaca isolada. Considere, para a estaca isolada, uma carga atuante de 600 kN.

Como o método de Vesic (1977) requer o conhecimento prévio do diagrama de


transferência de carga, será considerada a mobilização plena do atrito e uma
carga de ponta correspondente à diferença entre a carga aplicada no topo e a
carga mobilizada por atrito. O valor aproximado de Ql,rup pelo método de Vesic é
de 500 kN.

O diagrama de esforço normal na estaca é dado pela Figura 13.9.

Figura 13.9. Perfil estratigráfico e diagrama de transferência de carga

As parcelas dos recalques serão calculadas da seguinte forma:

Recalque Elástico:

(𝑄𝑤𝑝 + 𝛼 × 𝑄𝑤𝑠 )𝐿 (100 + 0,33 × 500)13


𝑊𝑆 = = = 1,8 × 10−3 𝑚 = 1,8 𝑚𝑚
𝐴𝑝 𝐸𝑝 0,09 × (21 × 106 )

O valor de L foi tomado como 8m para o cálculo dos recalques geotécnicos uma
vez que, na camada argilosa superficial, a carga transferida por atrito lateral é
muito pequena, tendo sido considerado o trecho de embutimento, para efeito de
transferência do atrito, apenas a camada de areia fina, de z =5 a z = 11 m de
profundidade, e a camada de 2m de solo residual.

95
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Recalque por Atrito Lateral:

𝑄𝑤𝑠 𝐷 500 0,3


𝑊𝑃𝑆 = ( ) ( ) × (1 − 𝜇 2 )𝐼𝑤𝑠 = ( )( ) × (1 − 0,32 ) × 3,81
𝑝𝐿 𝐸𝑠 1,2 × 8 113055
= 4,8 × 10−4 𝑚 = 0,48 𝑚𝑚

𝐿 8
Onde; 𝐼𝑤𝑠 = 2 + 0,35 × √𝐷 = 2 + 0,35 × √0,3 = 3,81

Recalque pela Parcela de Ponta:

𝑄𝑃 𝐷 100 0,3
𝑊𝑃𝑃 = ( ) ( ) × (1 − 𝜇 2 )𝐼𝑤𝑝 = ( )×( ) × (1 − 0,32 ) × 0,85
𝐴𝑃 𝐸𝑠 0,09 113055
= 2,3𝑚𝑚

𝑊0 = 1,8 + 0,48 + 2,3 = 4,58𝑚𝑚

13.3.2 MÉTODO DE POULOS E DAVIS

Conforme descrito por Danziger, 2016, Poulos e Davis (1980) resumem, através
de ábacos, resultados de um procedimento numérico, com base nas equações
de Mindlin (1936), que permite estimar o recalque de uma estaca isolada,
inicialmente suposta como incompressível em um meio elástico semi-infinito e
homogêneo. Em seguida os citados autores aplicam fatores corretivos de forma
a considerar a influência da compressibilidade da estaca, da posição do
indeslocável (interface considerada como rígida), do coeficiente de Poisson e da
heterogeneidade do solo.

Para uma estaca de diâmetro d (ou largura B), embutida num maciço de solo
com módulo de Young Es, carregada por um esforço de compressão Q0, no seu
topo, aqui considerado como z = 0, o recalque, no nível do topo, é obtido por:

Q0  I
w0 
ES  d

sendo I o fator de influência e I0 o fator de influência para uma estaca


incompressível de diâmetro da base dB (ou BB). Q0 é solicitação axial de
compressão em serviço (variável para o problema em análise).

96
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.10 – Modelo admitido por Poulos e Davis (1974).

Na Figura acima, EP é o módulo de elasticidade da estaca e Eb o módulo de


elasticidade do solo na região da ponta da estaca.

Ao se considerar as condições reais de contorno, o valor do fator de influência I


deve ser substituído pelo valor dado pela expressão anterior, que contempla,
respectivamente, os seguintes fatores corretivos:

I  I0  Rk  Rh  Rv  Rb

97
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.11 - Fatores corretivos para cálculo de recalque em estacas isoladas: a)


fator I0, b) Fator Rk, c) fator Rh, d) fator R e e) fator Rb, Poulos e Davis (1974).

98
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Rk, compressibilidade da estaca, onde K é dado pela equação abaixo e R A é a


relação entre a área da seção da estaca e a área da seção integral, de tal forma
que, em seções maciças, RA=1.

EP
k  RA
ES

Rh, presença de camada indeslocável abaixo da ponta da estaca, Figura 13.11.c.

Rν, influência do valor do coeficiente de Poisson, Figura 13.11.d.

Rb, base da estaca em solo menos compressível abaixo da ponta da estaca,


Figura 4.11.e.

Após a retro-análise de algumas provas de carga, Poulos e Davis (1980)


sugerem valores de módulo de Elasticidade do solo e coeficiente de Poisson
para estimativas de recalque a longo prazo, Tabela 13.5.

Determinação do Módulo de Elasticidade do Solo:

Tabela 13.5 - Valores propostos de módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson,


Poulos e Davis.

O método permite também a definição da parcela β da carga aplicada que seria


transferida à base, Qb = βQ0 e a parcela transferida por atrito, Q0-Qb = Qs= (1-
β)Q0, onde β é dado por:

𝛽 = 𝛽1 𝑐𝑘 𝑐𝑏

A parcela 𝛽1, tal como o fator I0, se refere a uma estaca incompressível, e pode
ser obtida pela figura 13.12a, em função de L/d e db/d. Os fatores de correção ck
e cb, tal como os fatores Rk e Rb, levam em conta a compressibilidade da estaca
e a presença de solo mais resistente sob a base da estaca, em relação ao solo
no trecho do fuste. Estes valores podem ser obtidos, respectivamente, nas
figuras 13.12b e 13.12c, em função de L/d, K e Eb/Es, no caso do fator ck.
99
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

1

Figura 13.12 – Fatores corretivos para cálculo de transferência de carga.

Observa-se que enquanto para a estimativa de recalque pelo método de Vesic


há necessidade de se conhecer a transferência da carga ao longo do atrito e da
ponta, que é função do nível de carregamento, no método de Poulos e Davis ela
pode ser obtida com base no próprio método. Destaca-se também que as
expressões estabelecidas por Vesic já consideram, de forma indireta, a
100
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

compressibilidade do solo. Outra observação relevante é que o método de


Poulos e Davis não contempla as diferenças, na estimativa de recalques, das
perturbações no maciço de solo adjacente à estaca e de mudanças no estado
de tensões gerado durante a instalação, ou seja, não contempla a influência do
nível de deslocamento provocado durante a execução.

# Exemplo de Cálculo de Recalque pelo Método de Poulos e Davis:

Para o mesmo exemplo resolvido pelo método de Vesic (item anterior), calcule
o recalque da estaca por Poulos e Davis.

𝑄𝐼
𝑤𝑜 =
𝐸𝑠 𝑑

𝑄 = 600 𝑘𝑁

𝐸𝑠 = 70.000 𝑘𝑁/𝑚2

ν = 0,3, areia compacta, Tabela 13.13

d é a largura, 30 cm

𝐼 = 𝐼1 𝑅𝑘 𝑅ℎ 𝑅𝑣 𝑅𝑏

Com 𝑙⁄𝑑 = 13⁄0,3 = 43 e 𝑑𝑏 = 𝑑, 𝐼1 ≅ 0,05

𝐸𝑝 6
Com 𝐾 = ⁄𝐸 = 21 × 10 ⁄
𝑠 7 × 104 ≅ 300

𝑅𝐾 = 2,2

Com ℎ⁄𝑙 = 16⁄13 ≅ 1,23

𝑅ℎ = 0,82

𝑅𝑣 = 0,94

𝑄𝐼
𝑤𝑜 =
𝐸𝑠 𝑑

600 × 0,05 × 2,2 × 0,82 × 0,94


𝑤𝑜 = = 0,0024 𝑚 = 2,4 𝑚𝑚
7 × 104 × 0,3

Parcela de Ponta:

𝐸𝑏 = 11000𝑘𝑁/𝑚²

101
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

𝐸𝑏 4
⁄𝐸 = 11 × 10 ⁄7 × 104 ≅ 1,8
𝑠

𝛽 = 𝛽1 𝑐𝑘 𝑐𝑏

𝛽 = 0,04 × 0,5 × 1,8 = 0,036

Ou seja, somente cerca de 3,6% de carga é transferida à ponta.

13.4 RIGIDEZ DE UMA ESTACA

A rigidez de uma estaca é a relação entre a carga aplicada e seu deslocamento.


É calculada pela seguinte equação:

P
kP 

Onde:

Kp = rigidez de uma estaca;

P = carga atuante no topo da estaca;

= recalque do topo da estaca para a carga “P”.

O conceito de rigidez é representado graficamente pela curva carga –recalque


da estaca, como ilustrado na Figura 13.13.

Figura 13.13 - Curva de rigidez de uma estaca (SALES, 2000)

Pelo gráfico nota-se que a rigidez é a reta tangente, ou secante à curva, para um
determinado valor de carga.
102
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Poulos (1989) sugere usar gráficos em etapas preliminares de projeto para


cálculo de recalque de estacas isoladas, baseadas na solução de Randolph e
Wroth (1978). Os gráficos mostram a relação entre o recalque, no topo da estaca,
por carga unitária (S/P), e o comprimento da estaca, com diâmetros entre 0,4 e
0,7 m (Figura 13.14 à Figura 13.17).

Figura 13.14 - Recalque estaca cravada em argilas com diâmetro de 0,5 ± 0,1 m
(POULOS, 1989)

103
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 13.15 - Recalque estaca cravada em areias com diâmetro de 0,5 ± 0,1 m
(POULOS, 1989)

Figura 13.16 - Recalque estaca escavada em argilas com diâmetro de 0,6 ± 0,1 m
(POULOS, 1989)

104
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

14. EFEITO DE GRUPO

A Norma Brasileira de Fundações, NBR 6122 (2010) define por efeito de grupo
o processo de interação dos diversos elementos que constituem uma fundação
ao transmitirem ao solo as cargas que lhes são aplicadas. Esta interação carreta
uma superposição de tensões, de tal sorte que o recalque do grupo é, em geral,
diferente daquele do elemento isolado.

O comportamento do grupo de estacas é influenciado pelo método de instalação,


modo de transferência de carga, natureza do maciço de solo, geometria
tridimensional da configuração do grupo, rigidez do bloco de coroamento, rigidez
relativa do bloco, estacas e solo.

Velloso e Lopes (2010) destacam que convencionalmente estuda-se o efeito de


grupo separadamente em termos de capacidade de carga e em termos de
recalques. Embora este capítulo se concentre no cálculo de recalques, onde este
efeito tem maior relevância do ponto de vista prático, um resumo apresentando
o efeito de grupo em termos de capacidade de carga é apresentado inicialmente,
a seguir.

14.1 EFEITO DE GRUPO EM TERMOS DE CAPACIDADE DE CARGA

A capacidade de carga de um grupo de estacas costuma ser relacionada à soma


da capacidade de carga das estacas individuais no grupo através do quociente
entre estes dois valores, conhecido por eficiência do grupo ().

Chellis (1961) apresenta uma comparação entre várias fórmulas empíricas


propostas no passado relacionando a eficiência do grupo ao número de estacas
e seu espaçamento, resultando numa variação sensível na eficiência estimada
para um mesmo grupo pelas diferentes fórmulas. De fato, Terzaghi e Peck
(1967), Moorhouse e Sheenan (1968), Fleming e Thorburn (1983), entre outros,
desaconselham o uso das fórmulas empíricas pela falta de uma base teórica
consistente e de dados de campo que a justifiquem.

Face ao custo envolvido em ensaios de campo, a maior parte dos dados


experimentais disponíveis são em modelos. Ensaios procedidos por Whitaker

105
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

(1957) em estacas executadas em argila indicaram que ocorre uma ruptura em


bloco, com eficiência muito reduzida, para pequenos espaçamentos, inferiores a
2,5 diâmetros. Para espaçamentos maiores (ver figura 5.18), a eficiência do
grupo varia entre 0,7, para espaçamentos relativos de 2,5, até valores unitários
de eficiência, para espaçamentos relativos de 8, figura 14.1.

Figura 14.1 - Eficiência de grupos de estacas em argila, adaptado de Whitaker (1957).

Os ensaios em modelo em areias indicam que se deve esperar eficiências


superiores a 1 e, portanto, a eficiência de projeto pode ser considerada como
sendo unitária.

Um procedimento racional para se estimar a capacidade de carga do grupo é


considerar tanto a soma da capacidade de carga das estacas individualmente
como a capacidade de carga do grupo, como se fora um bloco ou uma fileira de
estacas, determinando-se o modo de ruptura mais crítico, figura 14.2.

Figura 14.2 - Mecanismo de ruptura em grupo de estacas, adaptado de Fleming et al,


1992.

106
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

14.2 EFEITO DE GRUPO EM TERMOS DE RECALQUE

A região de atuação das tensões do grupo de estacas é sempre maior do que a


de uma estaca isolada (figura 14.3) e assim, por efeito da superposição, as
tensões são mais elevadas. Consequentemente, o recalque de um grupo de
estacas para uma carga média por estaca é maior do que o da estaca isolada
sob a mesma carga.

Figura 14.3 - Maciço de solo mobilizado pelo carregamento a) de uma estaca isolada
e b) de um grupo de estacas.

No caso de bloco rígido submetido a um esforço vertical, a carga total aplicada


ao bloco não se distribui uniformemente sobre as estacas do bloco, obrigadas,
neste caso, a sofrerem recalques iguais. Quando o espaçamento entre estacas
é elevado, o modo de transferência de carga não é afetado. Porém, quando o
espaçamento é pequeno, as estacas têm seu modo de transferência afetado e
as estacas periféricas absorvem mais carga do que as estacas internas, como
ilustra a figura 14.4.

107
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 14.4 - Medição de cargas em estacas de um grupo (Whitaker, 1957), adaptado


de Velloso e Lopes (2010).

No caso de bloco flexível, o recalque de cada estaca decorre da carga aplicada


à estaca, admitida como isolada, e da influência das demais estacas do grupo.

Há vários procedimentos propostos para avaliar o efeito de grupo em termos de


recalque, como: métodos empíricos, método do radier equivalente, método da
estaca/pilar equivalente, métodos dos fatores de interação e métodos numéricos.
Os métodos empíricos são sujeitos à falta de um adequado ajuste, uma vez
foram concebidos em função de resultados experimentais pontuais, não sendo
capazes de permitir aplicação em outras situações de depósitos de natureza
distinta. A seguir, será mostrado resumidamente, um dos Métodos de Cálculo de
Recalque para Grupo de Estacas.

14.2.1 RADIER EQUIVALENTE

A abordagem em Radier Equivalente é descrita em muitos textos de engenharia


de fundação, mas há algumas diferenças no procedimento sugerido para reduzir
o grupo a uma radier equivalente. Essa abordagem é simplificadora, entretanto,
pode obter, com determinado grau de precisão, o recalque da fundação.

A profundidade que o radier equivalente situa-se depende da natureza do perfil


do solo, e varia de 2/3 de L para grupos de estacas flutuantes e de L para grupos
de estacas de ponta, em que L é o comprimento da estaca. Supõe-se que a

108
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

pressão vertical é distribuída na proporção 4V:1H para estacas por atrito ou


2V:1H para estacas que penetram em camadas resistentes na região da ponta.
Se as estacas que suportam a carga apoiarem em rocha ou em camada muito
dura, espessa o suficiente, a análise de recalque geotécnico não é necessária.

a) Transferência de carga por atrito lateral, a partir da estaca para o


solo circundante, é realizada considerando-se que a carga é distribuída a
partir do fuste das estacas por atrito lateral com proporção de 4V:1H.

b) Para o caso de estacas parcialmente instaladas em solos com


pouca resistência e parte em solo resistente (atrito lateral), a transferência
de carga por atrito lateral, também é realizada considerando-se que a carga
é distribuída a partir do fuste das estacas com proporção de 1H:4V, no solo
resistente, estando o Radier Equivalente assente a uma profundidade igual
a 2/3 da espessura da camada resistente.

109
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

c) No caso de estacas flutuantes em argila mole, admite-se um


espraiamento das tensões na proporção 2(V):1(H), a partir de uma
profundidade correspondente a 2/3 do comprimento da estaca, até o nível
da ponta, desprezando-se, portanto, a contribuição de resistência nos 2/3
iniciais da estaca.

d) No caso de camada superficial formada por argila mole ou


areia fofa, de espessura menor ou igual a L (comprimento da estaca),
sobrejacente a uma camada muito resistente, porém com presença de
camada fofa logo após a camada resistente do nível da ponta, a
distribuição de carga é realizada pela camada de apoio da ponta na
proporção 2V:1H e, consequentemente, o recalque calculado para
essa situação.

110
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

e) No caso de estacas com comprimento total em solo mole,


porém apoiada diretamente em camada muito resistente e contínua no
nível da ponta (solo residual, alteração de rocha ou rocha), não há
recalque geotécnico, mas apenas a parcela elástica (estrutural).

Tomlinson (1986) apresenta um método de cálculo para radier equivalente,


conforme apresentado na equação abaixo:

i  0  q  B
W
ES

Em que: i e 0 são coeficientes tabelados ou obtidos por ábacos; B é a largura


do radier e Es é o módulo de deformabilidade do solo.

Na equação acima, o coeficiente de Poisson já é assumido como sendo igual a


0,5. Os fatores μi e μ0, que estão relacionados com a geometria do radier
equivalente, a espessura da camada de solo compressível e a relação
comprimento / largura da fundação radier equivalente são mostrados na Figura
5.24.

Os valores dos coeficientes μi e μ0 são apresentados na Figura 14.5,


considerando-se que o módulo de deformabilidade é constante em profundidade.
No entanto, na maioria das formações naturais do solo e da rocha o módulo
aumenta com a profundidade de tal forma que os cálculos para as condições
baseadas em um módulo constante resultam em superestimativa do recalque.

111
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 14.5 – Fatores para o cálculo do recalque imediato médio de uma área
carregada (CHRISTIAN e CARRIER, 1978)

O recalque médio final deverá ser calculado da seguinte forma:

Wmed  WR  W

em que, wR é o recalque do radier e w o recalque elástico das estacas no trecho


acima do radier equivalente.

- Exemplo de Cálculo de Recalque para Grupo de Estacas:

Faça uma estimativa do recalque para o grupo de 4 estacas com carga total de
2400 kN e espaçadas de 0,9 m como mostrado na Figura 4.25. Considere o
mesmo perfil estratigráfico dos exemplos abordados no item 4.3.

112
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Resolução:

Seja agora o grupo de 4 estacas, considerando o método do radier equivalente:

O grupo de 4 estacas com afastamento de 0,9 m apresentaria, em planta, uma


largura de:0,1+0,3+0,9+0,1 = 1,5m, sendo 0,1m a distância da face da estaca à
face do bloco; 0,15x2= 0,3m a distância da face da estaca ao seu centro, para
as 2 estacas de cada linha, e 0,9 a distância entre eixos, como ilustra a Figura
14.6.

Figura 14.6 - Planta do bloco de 4 estacas.

Considerando o caso da figura 5.22 c, o radier equivalente estaria assente à


profundidade z =5+2/3 (8) = 10,3m. A largura do radier, nesta profundidade
seria:1,2 + 2/3 x (8) x ¼ x 2 = 3,9 m.

O recalque no centro de um radier flexível nesta profundidade, pelo método de


Barata (1983) é:

𝜆𝑐𝛥 𝑝𝐵(1 − 𝜈 2 )
𝑤𝑝 =
𝐸𝑧
Para h = 10,3 e B = 3,9 m, λ = 0,88

cΔ= 0,82 e p = 2400/(3,9²) = 157,8 kN/m²

Considerando o mesmo valor de Es proposto por Poulos e Davis, tem-se:

𝜆𝑐𝛥 𝑝𝐵(1 − 𝜈 2 ) 0,88 × 0,82 × 157,8 × 3,9(1 − 0,32 )


𝑤𝑝 = = = 5,8𝑚𝑚
𝐸𝑧 7 × 104

113
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

A este recalque, deve ser somado o deslocamento elástico do fuste da estaca


acima do trecho da base do Radier Equivalente:

𝑤𝑜 = 5,8 + 𝑤𝑠 = 5,8 + 0,54 = 6,34𝑚𝑚

(𝑄𝑤𝑝 + 𝛼 × 𝑄𝑤𝑠 )𝐿 (0 + 0,33 × 300) × 10,3


𝑊𝑆 = = = 5,4 × 10−4 𝑚 = 0,54 𝑚𝑚
𝐴𝑝 𝐸𝑝 0,09 × (21 × 106 )

Onde 300kN na expressão acima é o atrito mobilizado até a profundidade de


10,3 m.

14.2.2 MÉTODO DO PILAR EQUIVALENTE

Existem vários outros métodos para previsão do recalque de grupo de estacas e


muitos deles apresentam resultados realistas. Na prática, para a estimativa do
recalque para grupo de estacas, um procedimento conveniente que pode ser
aplicado é o método “pilar equivalente”, em que a região considerada engloba
solo e estacas como um único elemento.

Figura 14.7 – Substituição do grupo de estacas

114
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Ressalta-se que o método do pilar equivalente não considera a influência do


contato do radier com o solo.

Para Randolph (1994), o método do “pilar equivalente” apresentado na Figura


14.7, o diâmetro equivalente, o recalque e o módulo equivalente podem ser
obtidos de acordo com as equações a seguir:

Deq  2  Ag 

Em que: Ag é a área plana do grupo de estacas como um bloco.

O recalque do “pilar equivalente” (s) pode ser calculado a partir da equação


acima, utilizada para o cálculo de estaca isolada (Randolph e Wroth, 1974):

 0  Deq 2  2  rm 
S  ln  
G  e 
d

 0 - tensão de cisalhamento atuando ao longo da estaca; G – módulo de


cisalhamento do solo; rm – raio efetivo da estaca.

O módulo de Young do “pilar equivalente” (Eeq) é obtido pela equação abaixo:

A 
Eeq  ES  E p  ES   tp 
A 
 g

Em que: Ep = módulo de Young das estacas; Es = módulo de Young médio do


solo penetrado pelas estacas; e Atp – área total da seção das estacas no grupo.

115
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

15. RADIER ESTAQUEADO

O Projeto de Fundações por estacas é geralmente baseado na abordagem de garantia


de capacidade de transferência de toda carga estrutural pelas estacas por meio de um
coeficiente de segurança adequado contra a ruptura por capacidade de carga.

Embora esta abordagem seja demasiadamente conservadora, especialmente nos casos


em que um radier simples é suficiente para garantir um nível de segurança adequado,
é muito comum para engenheiros de muitos países. Portanto, isto pode ser considerado
uma prática. Isto é também é devido ao fato de que muitos códigos locais e normas não
permitem levar em consideração a contribuição do radier.

Projetar as fundações para edifícios altos em áreas urbanas, uma tarefa importante é a
de procurar se atenuar os recalques totais e diferenciais das novas estruturas e edifícios
adjacentes, de modo a garantir a segurança e facilidade de manutenção, especialmente
em longo prazo.

Quando a fundação profunda por estacas é projetada de maneira tradicional, somente


as estacas têm a responsabilidade de distribuir os esforços originários da estrutura para
o solo. Nessa condição, não se considera que o bloco tenha qualquer contato com a
superfície do solo, ou seja, despreza-se a sua parcela de contribuição na capacidade
de carga do conjunto. Neste caso o bloco tem apenas a função de interligar o grupo de
estacas e servir como elo de transição entre as cargas advindas da superestrutura para
as estacas.

Segundo alguns autores, a ruptura do radier estaqueado poderia seguir dois modelos
distintos, quais sejam:

# Ruptura em bloco: para estacas pouco espaçadas, em que a capacidade de


carga total é a capacidade de carga do grupo de estacas mais a capacidade de carga
do radier, considerando somente a área externa de projeção do bloco.

# Ruptura localizada: neste caso, este tipo de ruptura se dá para estacas muito
espaçadas, em que a capacidade de carga total se dá pela capacidade de carga do
radier mais a capacidade de carga do grupo de estacas, com ruptura localizada na base
das estacas.

116
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 15.1.1 – Modelos de ruptura para radier estaqueado; a) Ruptura em bloco e b) Ruptura
localizada (PHUNG, 1993)

A capacidade de carga de uma sapata estaqueada é superior à soma algébrica da


capacidade de carga da sapata isolada e do grupo de estacas, ou seja, há uma inter-
relação entre a fundação superficial com a fundação profunda quando se utiliza o
sistema de sapatas com estacas, de acordo com a equação abaixo:

Qt    Qg    QC

Onde: Qt = capacidade de carga da sapata estaqueada; Qg = capacidade de carga do


grupo de estacas; Qc = capacidade de carga da sapata isolada; α = fator de incremento
de capacidade de carga do grupo devido à interação; β = fator de incremento de
capacidade de carga da sapata devido à presença do grupo de estacas.

Figura 15.1.2 – Fatores de incremento na capacidade de carga das estacas e do bloco devido
à interação bloco/estacas (AKINMUSURU, 1980).

117
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

15.1 EFEITO DO CONTATO RADIER SOLO EM FUNDAÇÕES


ESTAQUEADAS

É importante observar que o elemento de fundação horizontal (radier) que coroa as


estacas pode exercer significativas mudanças no comportamento das fundações
verticais (estacas), caso este elemento esteja em contato com o solo. O bloco/radier
passa também a exercer tensões sobre o solo de fundação, compartilhando com as
estacas na divisão de cargas que antes eram absorvidas apenas pelas estacas no caso
de grupos sem contato bloco/solo. Quando o radier se encontra em contato com o solo
haverá maior interação entre os elementos de fundação (radier e estacas),
proporcionado pela parte do bloco maior capacidade de suporte e prevenção a
recalques.

Um dos benefícios do contato do elemento horizontal (radier) com o solo é promover


uma ruptura do tipo “bloco”, ou seja, o conjunto radier, estacas e solo formam um único
conjunto ou “bloco”.

Alguns pesquisadores, por meio de ensaios em escala real em argila, chegaram à


conclusão que a influência do bloco só é significativa para blocos com estacas
suficientemente espaçadas. Verificaram que, para um espaçamento de 3 entre as
estacas, o bloco (em contato) suporta cerca de 20% da carga última de uma sapata
equivalente de mesmo tamanho.

O elemento de fundação superficial (radier ou bloco) atua como um obstáculo à


transmissão da carga por atrito e, portanto, aumenta a parcela de carga transferida à
ponta da estaca. Com isso, os recalques do grupo dependem da extensão e espessura
da camada compressível localizada abaixo da ponta da estaca, enquanto que, para
estacas isoladas, a influência dessa camada não é significativa.

O aumento da pressão na ponta das estacas sob um radier e consequente redução da


resistência lateral destas pode ser provocado pelo contato do bloco.

O Bulbo de tensões para radiers estaqueados varia em função das características


geométricas do elemento horizontal (radier) e vertical (estaca), conforme apresentado
na Figura 14.1.3.

118
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 14.1.3 – Pequenos e grandes radiers estaqueados

No caso de pequenos radiers estaqueados, o bulbo de tensões se mantém


compreendido ao longo do comprimento das estacas sob o radier. Nos grandes radiers
estaqueados percebe-se que o bulbo excede o comprimento das estacas, dissipando
as tensões em camadas mais profundas do maciço. A influência do bulbo de tensões
varia de acordo com a área em planta que o radier estaqueado possui em contato com
o solo e, portanto, a área de influência exerce influência no seu comportamento.

15.2 PROJETO EM RADIER ESTAQUEADO

Atualmente, nos projetos convencionais de fundações profundas, a utilização do


elemento estrutural e superficial que coroa as estacas de uma edificação tem
desprezada sua contribuição no ganho de resistência ou de segurança no sistema, pois
em seu dimensionamento considera-se apenas a capacidade de carga das estacas
(ponta e lateral), pressupondo, dessa forma, que não haverá capacidade de carga por
contato entre bloco de coroamento e o solo. Entretanto, caso esse elemento esteja em
contato direto com o solo, poderá haver alteração do comportamento no sistema. A
análise do comportamento de uma fundação como um elemento isolado tem deixado de
ser utilizada nos últimos anos, levando a comunidade técnico-científica a estudos mais
abrangentes sobre o sistema de fundação, levando-se em consideração o efeito de
contato do bloco/sapata no comportamento do sistema.

Vale ressaltar que a fundação em radier estaqueado atua como um conjunto composto
por três elementos: radier, estacas e solo base se submetido a uma carga vertical total
estrutural QPR. De acordo com rigidez, o radier distribui a carga para o solo por meio das

119
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

pressões de contato, com uma carga resultante QR, bem assim como sobre n estacas,
com a força resultante QPG:

n
QPR  QR  QPG  QR   Q pile,i
i 1

O coeficiente “pr”, relaciona a somatória de carga nas estacas do radier (QP) com a
carga total aplicada no radier estaqueado (QPR). Se o valor de “pr” for igual a 0 (zero),
trata-se de um radier isolado, sem estacas. Caso este valor seja igual a 1 (um), trata-se
de um grupo de estacas, em que a fundação superficial não tem contato com o solo e
por fim se for um valor entre 0 e 1, implica dizer que o sistema funciona como um radier
estaqueado.

Q pile,i
 pr  i 1

Q PR

Este coeficiente é determinado pela divisão da carga entre as estacas e o radier.

Figura 14.2.1 – Sistemas de Fundações e sua distribuição de cargas. Mandolini (2003).

Resumidamente, todas as fundações atuam como radier estaqueado, exceto nos casos
onde não há contato da laje com o solo, como em estruturas offshores.

15.3 DISTRIBUIÇÃO DE CARGA

A percentagem de carga que o radier distribui diretamente ao solo depende da razão


entre espaçamento e diâmetro (s/d) e da razão de área (Ag/A). “Ag” é a área de projeção
do grupo de estacas e “A” a área total do radier.
120
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

As práticas correntes de Projeto adotam αpr=1. Isto significa considerar um grupo virtual
de estacas em vez de um verdadeiro radier estaqueado conduzindo a um grande
número de estacas, mais ou menos uniformemente distribuído abaixo de toda a área da
fundação e mobilizado abaixo da sua capacidade de carga.

Para grupos de estacas com pequena proporção espaçamento s / d (~ 3 a 4) e


abrangendo toda a área do radier (AG / AR ~ 1, em que AG é a área do grupo de estacas
e AR a área de contato do radier), a porcentagem da carga suportada pelo radier não é
inferior a 20%, e este valor aumenta até 60-70% com o aumento da relação s / d ou
diminuição de AG / AR (MANDOLINI ET AL.,2013).

Figura 14.3.1 – Dados experimentais obtidos por Mandolini et al. (2005)

121
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

15.4 RECALQUES EM FUNDAÇÕES ESTAQUEADAS

A quantificação do recalque em fundações deve ser encarada como fator decisivo no


projeto geotécnico, uma vez que grande parte dos projetos estruturais são concebidos
atribuindo-se recalque zero aos apoios. Essa consideração é distante da realidade dos
projetos geotécnicos que preveem a ocorrência de recalques controlados para que as
fundações possam desempenhar sua função como elemento de reação. Nesse aspecto,
o sistema em radier estaqueado possui maior capacidade de carga em relação às
fundações em grupo de estacas, porém os recalques também podem ser maiores,
dependendo do critério de projeto adotado.

Existem vários métodos de dimensionamento que buscam representar o


comportamento do radier estaqueado, observando-se desde métodos simplificados
como correlações empíricas, ábacos de cálculo, métodos das fundações equivalentes
e métodos baseados na teoria da deformabilidade, até aqueles baseados em Métodos
Computacionais Aproximados, os quais o radier é representado por uma placa e as
estacas por molas, e os Métodos Computacionais Rigorosos como o Método dos
Elementos de Contorno (MEC) e Método dos Elementos Finitos (MEF).

Os métodos de análise do comportamento de radiers estaqueados são complexos


devido ao grande número de fatores envolvidos na interação radier solo-estacas.

Como sugestão aos Projetistas, os métodos apresentados abaixo podem ser utilizados
para uma estimativa preliminar, porém realista dos recalques do Radier Estaqueado:

15.4.1 FUNDAÇÕES EQUIVALENTES

Simplificam o cálculo do radier estaqueado, substituindo-o por um sistema de fundação,


considerado equivalente, a fim de utilizar teorias e correlações estabelecidas.

Randolph (1994) cita o método do radier equivalente, como uma forma tradicional de
cálculo de recalques, de grupos de estacas. O método considera a substituição das
estacas por uma fundação rasa (radier), e o recalque médio é calculado por:

Wmed  WR  W

em que, wR é o recalque do radier e w o recalque elástico das estacas no trecho acima


do radier equivalente.

122
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

O radier é assente a uma profundidade, na camada de suporte, igual a 2/3 de sua


espessura (Figura 16.1.1a), ou no nível de fundo de estacas que trabalham
predominantemente por carga de ponta, Figura 16.1.1b.

Figura 16.1.1 – Radier equivalente (adaptado de RANDOLPH, 1994)

A abordagem em Radier Equivalente é descrita em muitos textos de engenharia de


fundação, mas há algumas diferenças no procedimento sugerido para reduzir o grupo a
uma radier equivalente. Essa abordagem é simplificadora, entretanto, pode obter, com
determinado grau de precisão, o recalque da fundação.

Um outro método, com formulações matemáticas mais rebuscadas e que se baseia nas
rigidezes dos diversos elementos que compõem o Radier Estaqueado, também se
mostra uma opção a ser seguida pelo Projetista e será apresentado na sequência.

15.4.2 MÉTODO BASEADO NA TEORIA DA ELASTICIDADE

O comportamento da curva carga-recalque de um radier estaqueado pode ser avaliada


pelo método de Poulos – Davis - Randolph (PDR), que é uma combinação dos métodos
de Poulos e Davis (1980) e Randolph (1994).

123
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Estes autores apresentam um método simples para cálculo do radier estaqueado cujo
conjunto de estacas seria totalmente mobilizado. Os autores consideram um modelo tri-
linear, para descrever o comportamento da curva carga – recalque do radier
estaqueado, conforme figura 16.2.1.

Figura 16.2.1 - Modelo tri-linear Poulos e Davis (adaptado de POULOS, 2001a)

O recalque do trecho entre a origem e o ponto “A” é calculado pela rigidez do radier
estaqueado, antes da total mobilização das estacas. No trecho AB assume-se que toda
carga excedente ao valor P1 é absorvida pelo radier e, portanto, o recalque seria
calculado como o de um radier isolado. O trecho BC corresponde a uma ruptura
completa, do sistema de fundação.

Os métodos de cálculo simplificado em sua maioria se baseiam na teoria da


deformabilidade para estimativa do recalque médio do conjunto. Randolph (1983)
apresenta um processo simples que considera separadamente a rigidez do grupo de
estacas (KPG) e do radier (KR), e utiliza um fator de interação entre as estacas e o bloco
(αrp). A rigidez do radier estaqueado (KPR) é dada por:

K PG  K r  1  2   rp 
K pr 
 K 
1   rp2   r 
K 
 pg 

A relação entre a carga transferida ao solo pelo bloco (Pr) e a carga total (Pt) é dada
por:

124
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Pr K r  1   rp 
 X
Pt K pg  K r  1  2   rp 

A rigidez da estaca e do bloco podem ser determinadas por processo convencional. O


fator de interação αrp é dado por:

ln rm rc  ln rc r0 
 rp   1
ln rm r0  

Em que:

rm é o raio de influência da estaca (distância radial na qual a deformação


cisalhante é considerada nula; é da ordem de grandeza da estaca);

rc é o raio efetivo do topo (área do topo dividida pelo número de estacas);

r0 é o raio da estaca; e   ln rm r0 

Segundo Clancy e Randolph (1992), ao se aumentar o número de estacas do grupo o


valor do coeficiente αrp tende ao valor constante de 0,8 e independe do espaçamento
entre estacas, comprimento e rigidez relativa, modificando a equação de rigidez da
fundação para a seguinte forma:

K 
1  0,6   r 
k 
K pr   pg   K
 Kr 
pg

1  0,64   
K 
 pg 

A nova equação descreve o método simples denominado PDR, sendo uma combinação
de propostas anteriores de Poulos e Davis (1980) e Randolph (1994).

Da mesma maneira, a relação entre as cargas suportadas pelo topo e pelo grupo de
estacas é expressa por:

Pr 0,2 K
  r
Pt  K  K pg
1  0,8   r 
K 
 pg 

125
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Assim como no método de Randolph (1983), a rigidez da estaca e do bloco (Kr) pode
ser determinada por soluções convencionais. Bezerra e Cunha (2002) citam a solução
de Poulos e Davis para o cálculo da rigidez do bloco rígido:

1,1  ES  L
Kr 
1  S2

Em que: L é o comprimento do radier/bloco e Es o módulo de Young do solo.

Entretanto, se a rigidez do grupo de estacas (KPG) pode ser avaliada por meio da razão
de atrito RS:

n  KS KS
K pg  
RS Rg

Em que: n é o número de estacas; Ks a rigidez axial da estaca (=1/Iw0); Rg = Rs/n é o


fator de redução de grupo. Ks, Rs e Rg podem ser estimadas com o uso de gráficos ou
programas de computador.

As equações de rigidez, a relação entre as cargas e o fator de interação podem ser


usados para desenvolver a curva carga - recalque do radier estaqueado.

Poulos (2001a) assume que a carga de mobilização das estacas corresponde à carga
total aplicada. Dessa forma o ponto P1 do modelo tri-linear, que corresponde à
capacidade de carga das estacas, pode ser determinado por:

Pup
P1 
1 X

Onde:

Pup = capacidade de carga do grupo de estacas;

X = proporção de carga absorvida pelo radier;

Quando as estacas são projetadas somente como redutoras de Recalque, pode-se


indicar aos Projetistas, o Método de Suporte da Reação Constante, desenvolvido
Burland (1995) e detalhado a seguir.

126
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

15.5 ABORDAGEM DE RANDOLPH (1994) INDICADA POR POULOS


(2001B)

Dentre os diversos métodos existentes, o que pode ser considerado mais simples e de
rápida aplicação é a abordagem de Randolph (1994), conforme sugerido por Poulos
(2001b):

WPR  WR  K R K PR

onde:

wpr = recalque do radier estaqueado;

wr = recalque do radier isolado sujeito à toda carga de projeto;

KR= rigidez do radier;

KPR = rigidez do radier estaqueado.

127
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

16. PREVISÃO DOS RECALQUES POR MEIO DE PROGRAMA


COMPUTACIONAL

16.1 PROGRAMA AOKI E LOPES (1975)

Para a previsão de recalques, o método de AOKI e LOPES (1975) costuma ser utilizado,
no qual estimam tensões e recalques no interior do maciço de solo através de um
processo numérico em que as cargas que um conjunto de estacas transmite ao solo são
decompostas em um sistema equivalente de cargas concentradas (figura 17.1.1), cujos
efeitos são superpostos nos pontos em estudo.

Admite-se que a carga na estaca seja dividida numa parcela de ponta, Pb, e outra de
atrito lateral, Pa. Admite-se que o atrito lateral é linearmente distribuído ao longo de
cada trecho, definindo-se F2 como o valor do atrito lateral na profundidade D2 e F1 = ξ
F2 na profundidade D1. A carga na base é suposta uniformemente distribuída (figura
17.1.2).

Figura 17.1.1 – Sistema equivalente de forças concentradas (AOKI e LOPES, 1975).

128
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 17.1.2 – Distribuição da carga ao longo da estaca (AOKI e LOPES, 1975).

As tensões e os deslocamentos verticais produzidos por uma carga concentrada no


interior do semi-espaço infinito, homogêneo, isotrópico e linear elástico podem ser
obtidos pelas equações de MINDLIN (1936). Para isso é preciso conhecer a força
concentrada (P), a profundidade (c) do ponto em estudo (B), as coordenadas (x, y) do
ponto B, a distância horizontal (r) do ponto B ao eixo da estaca, o Módulo de Young e o
Coeficiente de Poisson do meio (figura 17.1.3).

A estaca é definida pelas coordenadas cartesianas (XA, YA, ZA), centro da área da base,
além do raio da base (RB) e do raio do fuste (RS). A base é dividida em n1 x n2 subáreas
iguais, sendo n1 e n2, respectivamente, o número de divisões da circunferência e do raio
(figura 17.1.4).

Figura 17.1.3 – Parâmetros das equações de Mindlin (AOKI e LOPES, 1975).

129
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 17.1.4 – Discretização da base da estaca cilíndrica (AOKI e LOPES, 1975).

A carga de atrito Ps é equivalente a um sistema de forças Pi,k aplicadas no ponto Ii,k, na


profundidade ck (figura 17.1.5).

Figura 17.1.5 – Discretização do fuste da estaca (AOKI e LOPES, 1975).

As equações que descrevem a decomposição das forças, as coordenadas dos diversos


pontos onde se deseja calcular os recalques, bem como outras informações necessárias
para a aplicação das equações de Mindlin são desenvolvidas e detalhadas por AOKI e
LOPES (1975).

Como os perfis de solos na natureza encontram-se em geral estratificados e as


equações de Mindlin admitem apenas um semi-espaço infinito, homogêneo, isotrópico
e linear elástico, AOKI e LOPES (1975) sugerem a adoção do procedimento de
STEINBRENNER (1934).

Para efeito de cálculo, o Módulo de Young e o Coeficiente de Poisson são estimados a


partir de correlações propostas na literatura.
130
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Quanto ao carregamento, o método de AOKI e LOPES (1975) requer o modo de


transferência de carga ao longo do fuste da estaca. É comum se assumir que toda a
capacidade de carga disponível do solo no fuste seja mobilizada antes de iniciada a
mobilização da resistência de ponta. Sendo assim, apenas a parcela da carga de
trabalho que excede o atrito lateral é transmitida à ponta.

Ao recalque previsto do solo deve ser acrescida a parcela referente ao encurtamento


elástico do fuste, considerando-se um Módulo de Young do material da estaca.

O programa é composto por cinco arquivos-base, conforme descrito abaixo:

1) OBRA: arquivo onde constam os dados da obra, tais como local, data, etc.
2) SOLO: arquivo que apresenta os dados relativos ao solo, como número máximo
de camadas, número de camadas de cada perfil de sondagem e, para cada perfil,
a profundidade de cada camada, o módulo de elasticidade e coeficiente de
Poisson para estas camadas de cada perfil.
3) CARGA: este arquivo apresenta os dados referentes às cargas atuantes, como
número de elementos de fundações do grupo, número máximo de diagramas de
atrito, coordenadas X e Y dos pontos que caracterizam a geometria da fundação,
largura e comprimento da fundação, profundidade da base da fundação, carga
na base, número de discretizações dos lados L e B, número de discretizações
do atrito lateral, número de diagramas de atrito lateral, ângulo que o lado L faz
com o eixo X, além de dados relativos ao diagrama de atrito como profundidade
do início e fim de cada diagrama e o atrito por unidade de comprimento.
4) PONTOS: arquivo que apresenta as coordenadas X, Y e Z de cada ponto e o
perfil de sondagem mais próximo a esse ponto.
5) RESULTS: apresenta os resultados dos valores de recalque calculados para
cada ponto.

131
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

17. APRESENTAÇÃO DE CASO ENVOLVENDO ISE

17.1 EDIFICAÇÃO DE 19 PAVIMENTOS EM FUNDAÇÃO DIRETA

17.1.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OBRA

A obra apresentada nesta apostila situa-se no bairro de Icaraí, na cidade de Niterói,


Estado do Rio de Janeiro. A figura 18.1 mostra um esquema da fachada do edifício ao
término da obra. Este edifício também foi estudado por ROSA, 2015.

Figura 19.1 – Fachada da edificação ao término da obra.

Trata-se de um prédio residencial, composto de subsolo, pavimento semi-enterrado,


pavimento térreo, pavimento de uso comum (PUC), seguido de doze pavimentos tipo e
cobertura, com geometria bastante convencional.

132
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

A estrutura do edifício é em concreto armado convencional. Um corte esquemático da


edificação é mostrado na figura 19.2.

Os pilares centrais apresentam, em grande parte, cargas maiores do que os da periferia.


As seções dos pilares são variáveis ao longo do comprimento da peça, sendo as
maiores seções do pavimento PUC para baixo. O PUC é um pavimento de transição,
onde os pilares descarregam em vigas de transição, que se apoiam em outros pilares
com diferente localização.

133
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.2 – Elevação esquemática da edificação.


A fundação apresenta uma particularidade: é mista, sendo parte em fundação profunda,
em estacas metálicas, e parte em fundação direta, em sapatas, conforme pode ser
verificado na planta abaixo.

17.1.2 DADOS ESTRUTURAIS E DAS FUNDAÇÕES

Trata-se de uma edificação em concreto armado, conforme já descrito no item anterior.


A superestrutura é composta por lajes, vigas e pilares. A resistência característica do
concreto para os elementos estruturais é de 35 MPa. A infraestrutura compõe-se de
fundação mista, com parte em estacas metálicas tipo perfil Açominas, e parte em
sapatas, conforme planta 19.3, apresentada na sequência.

134
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.3 – Planta da Fundação da Edificação.

135
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

17.1.3 MODELO ESTRUTURAL

O modelo estrutural elaborado foi do tipo tridimensional, em elementos finitos, através


do programa comercial SAP2000. As vigas e os pilares foram modelados como
elementos de barra, as lajes e a parede estrutural como elementos de placa, conforme
ilustrado na figura 19.4.

Figura 19.4 – Modelo numérico da edificação em estudo.

136
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

17.1.4 CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS DA REGIÃO

Aa figuras 19.5 e 19.6 reproduzem os perfis geotécnicos

Os perfis geotécnicos mostram um terreno de composição uniforme, em planta,


constituído por um trecho de aterro em sua superfície, de espessura de
aproximadamente 0,7 metros em quase todas as sondagens. A seguir, observa-se uma
camada de argila arenosa, com espessuras que variam entre 1 e 2 metros, sobrejacente
a uma camada de areia fina, média e grossa, argilosa com espessura variável entre 5 e
8 metros. Estas duas camadas, por sua vez, estão assentes sobre outra camada de
argila arenosa, com espessura de aproximadamente 2 metros. Finalmente, registra-se
outra camada de areia fina, média e grossa, argilosa, com espessura variável até a
profundidade do impenetrável, onde foram interrompidas as sondagens. O nível d’água
encontra-se a cerca de 2m abaixo do nível do terreno nas sondagens.

137
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

PERFIL GEOTÉCNICO 1

ATERRO ARENO-ARGILOSO ATERRO ARENO-ARGILOSO ATERRO ARENO-ARGILOSO


ARGILA ARENOSA NA
NA NA NA
ARGILA ARENOSA
ARGILA ARENOSA

AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA


POUCO ARGILOSA
AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA
AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA ARGILOSA
ARGILOSA

ARGILA ARENOSA ARGILA ARENOSA


ARGILA ARENOSA

AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA


ARGILOSA ARGILOSA AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA
ARGILOSA

IMPENETRÁVEL IMPENETRÁVEL IMPENETRÁVEL

Figura 19.5 – Perfil Geotécnico “1”

138
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

PERFIL GEOTÉCNICO 2

ATERRO ARENO-ARGILOSO ATERRO ARENO-ARGILOSO ATERRO ARENO-ARGILOSO


ARGILA ARENOSA
NA NA NA NA

AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA


ARGILOSA AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA
ARGILOSA AREIA FINA, MÉDIA E GROSSA
POUCO ARGILOSA

ARGILA ARENOSA
ARGILA ARENOSA
ARGILA ARENOSA

ARGILA ARENOSA
AREIA FINA, MÉDIA AREIA FINA, MÉDIA
E GROSSA ARGILOSA E GROSSA ARGILOSA

AREIA FINA, MÉDIA


E GROSSA ARGILOSA

IMPENETRÁVEL IMPENETRÁVEL IMPENETRÁVEL

Figura 19.6 – Perfil Geotécnico “2”

139
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

17.1.5 LEITURAS DE RECALQUES E ETAPAS CONSTRUTIVAS

A instrumentação de campo da obra apresentada teve como objetivo monitorar os


recalques e deformações dos pilares ao longo do tempo. Foram realizadas medidas em
diversas etapas da construção.

A medida de recalques envolveu a realização de um nivelamento ótico de precisão com


base numa referência de nível profunda, efetuada em pontos fixos da estrutura na qual
pretendia-se medir os deslocamentos verticais.

A figura 19.7, obtida de RUSSO NETO (2005) ilustra, esquematicamente, o arranjo


envolvido na prática das medições.

Para isto, foram instalados pinos de aço inoxidável nos pilares do edifício, no pavimento
do subsolo.

Figura 19.7 – Arranjo esquemático de medida de recalques com nivelamento ótico (adaptado
de Russo Neto, 2005).

A tabela 18.1 resume as datas em que foram efetuadas as medidas de recalques e de


deformações dos pilares, bem como as etapas correspondentes da obra.

Etapa Estágio da obra Data Tempo


(dias)
Início - 01/05/2011 0
((dias)
1a leitura Estrutura concretada até o piso do 4o 19/11/2011 203
pavimento

2a leitura Estrutura concretada até o piso do 5o 03/12/2011 217


pavimento

140
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

3a leitura Estrutura concretada até o piso do 9o 21/01/2012 266


pavimento,
Estrutura
comconcretada atéoo4teto
alvenaria até o da cobertura,
pavimento
4a leitura o
alvenaria até o 10 pavimento, revestimento 05/03/2012 310
até o 2o pavimento

5a leitura Estrutura concluída, alvenaria até o 11o 31/03/2012 336


pavimento

6a leitura Estrutura concluída,até


e revestimento alvenaria concluída e
o 3o pavimento 16/06/2012 413
o
revestimento até o 7 pavimento

Tabela 19.1 – Etapas construtivas x Leituras realizadas.

Etapa 1:

A etapa 1 corresponde à primeira medição, realizada em 19/11/2011, em que a estrutura


estava construída até o 4o pavimento. A figura 19.8 mostra o modelo numérico
equivalente à etapa 1.

Figura 19.8 – Modelo estrutural da 1a etapa construtiva.

141
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Etapa 2:

A etapa 2 corresponde à segunda medição, realizada em 03/12/2011, em que a


estrutura estava construída até o 5o pavimento. A figura 19.9 mostra o modelo numérico
equivalente à etapa 2.

Figura 19.9 – Modelo estrutural da 2a etapa construtiva.

Etapa 3:

A etapa 3 corresponde à terceira medição, realizada em 21/01/2012, em que a estrutura


estava construída até o 9o pavimento, com alvenaria até o 4o pavimento. A figura 19.9
mostra o modelo numérico equivalente à etapa 3. Observa-se que a alvenaria não foi
discretizada no modelo numérico, sendo considerada apenas como carregamento, ou
seja, não foi considerada a contribuição da alvenaria na rigidez da estrutura.

142
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.10 – Modelo estrutural da 3a etapa construtiva.

Etapa 4:

A etapa 4 corresponde à quarta medição, realizada em 05/03/2012, em que a estrutura


estava construída até o teto da cobertura, com alvenaria até o 10o andar e revestimento
até o 2o andar. A figura 19.11 mostra o modelo numérico equivalente à etapa 4.

143
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.11 – Modelo estrutural da 4a etapa construtiva.

Etapa 5:

A etapa 5 corresponde à quinta medição, realizada em 31/03/2012, em que a estrutura


estava pronta, com alvenaria até o 11o andar e revestimento até o 3o andar. A figura
19.12 mostra o modelo numérico equivalente à etapa 5.

144
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.12 – Modelo estrutural da 5a etapa construtiva.

Etapa 6:

A etapa 6 corresponde à sexta medição, realizada em 16/06/2012, em que a estrutura


estava pronta, com alvenaria também pronta e revestimento até o 7o andar. A figura
19.13 mostra o modelo numérico equivalente à etapa 6.

145
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.13 – Modelo estrutural da 6a etapa construtiva.

17.1.6 METODOLOGIA UTILIZADA NAS ANÁLISES

A partir das cargas da fundação, obtidas considerando-se o modelo sobre apoios


indeslocáveis, foram calculados os recalques referentes a cada etapa construtiva
descrita.

O modelo proposto para representar as características do terreno é composto de uma


mola, pois trata-se de um terreno arenoso. Os valores dos coeficientes de rigidez das
molas representativas do modelo foram estimados a partir dos recalques calculados em
cada etapa construtiva, de forma a reproduzirem a compressibilidade da camada de
areia.

146
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Para a estimativa do coeficiente de rigidez das molas representativas do modelo do solo,


partiu-se da definição do coeficiente de recalque K, que é a relação entre a carga atuante
e o recalque, em kN/m.

Os valores do coeficiente de rigidez foram considerados como condição de contorno no


modelo estrutural. Foram feitas, para todas as etapas, várias iterações até a
convergência dos valores de coeficiente de rigidez. Observou-se que os valores
convergiram na 3a iteração.

17.1.7 ANÁLISES DOS RESULTADOS

Foi previsto um modelo estrutural para cada etapa construtiva instrumentada. Com isso,
foi possível comparar, para cada etapa, os recalques medidos com os recalques
calculados a partir das cargas obtidas pelo programa de análise estrutural e os
recalques obtidos do programa concebido através do método de AOKI e LOPES (1975).
Serão apresentadas as curvas de iso-recalques, tanto para o modelo sem contemplar a
interação solo x estrutura, como para o modelo em que se considera a interação.

147
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

A) RECALQUES MEDIDOS X RECALQUES CALCULADOS

25
25

20 20

15 15

10 10

5 5

0
5 10 15 20 25 30 35 40 5 10 15 20 25 30 35 40

a) b)

Figura 19.14 – Curvas iso-recalques da 6º etapa: (a) medidos e (b) calculados, com interação após análise 3.

Uma vez que os recalques medidos se iniciaram após o início da obra, foram reduzidos, dos recalques calculados, os valores correspondentes
àqueles que ocorreriam antes do início da instrumentação. As figuras acima mostram uma boa convergência entre os recalques medidos e os
recalques estimados na interação solo-estrutura, validando a análise de ISE, quer em relação ao modelo estrutural, quer em relação à previsão dos
recalques.

148
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

25 25

20 20

15 15

10 10

5
5

0
0
5 10 15 20 25 30 35 40
5 10 15 20 25 30 35 40
a) b)

Figura 19.15 – Curvas iso-recalques: (a) apoios indeslocáveis e (b) calculados, com interação (6º etapa).

Observa-se de uma maneira geral, o seguinte: maiores recalques são estimados quando da consideração de apoio rígido; mudança na locação
dos maiores recalques, quando se introduz a análise com interação solo x estrutura; mudança pouco significativa no padrão de comportamento das
curvas de iso-recalques quando se passa a um maior refinamento das análises (maior número de iterações), até a convergência dos resultados.

B) CARGAS ESTIMADAS NOS PILARES COM APOIOS RÍGIDOS X CARGAS ESTIMADAS NOS PILARES COM ISE

149
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

25

20

15

10

0
5 10 15 20 25 30 35 40

Figura 19.16 – Relação entre a carga do modelo com interação e do modelo em apoio rígido, para a 3a iteração da 6a etapa de construção.

Os resultados apresentados nessa análise confirmam a tendência de redistribuição das cargas, com a constatação de perda de carga nos pilares
internos e a consequente transferência de carga para os pilares externos, confirmando a importância da análise de interação solo-estrutura em
determinados projetos de engenharia civil.

150
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

17.2 EDIFICAÇÃO DE 9 PAVIMENTOS EM FUNDAÇÃO DIRETA

Para o caso da análise desta edificação foi utilizado o programa SISEs, elaborado pela
TQS, tem como principal objetivo determinar os esforços solicitantes dos elementos
estruturais e da fundação de maneira mais precisa e realista, ao criar um modelo
integrado (Super+Infra) e considerar o efeito do solo como apoio para a fundação.

17.2.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OBRA

Será utilizado como exemplo prático um empreendimento residencial localizado em Vila


Isabel, Rio de Janeiro, composto de um pavimento semienterrado, um pavimento térreo,
4 pavimentos tipo, um pavimento de uso comum (PUC), um pavimento Telhado e Tampa
da Caixa d’água, totalizando 9 níveis estruturais.

Figura 19.17 – Corte esquemático

A superestrutura é composta por vigas, lajes e pilares em concreto armado, com


resistência característica do concreto igual a 35Mpa.

Durante a concepção da estrutura, optou-se pelo emprego de lajes lisas, vigas de bordo
e de fachada nos pavimentos tipo. No piso do térreo foi necessário fazer a transição dos
pilares que seguiriam na lâmina, totalizando 18 vigas de transição.

Após serem realizadas as investigações geotécnicas do local, avaliou-se a possibilidade


de fundação direta. Seria a alternativa mais vantajosa no que diz respeito aos custos,
facilidade e tempo de execução, conforme ilustrado na figura 18.18.

151
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 18.18 – Forma da Fundação

17.2.2 MODELO DA SUPERESTRUTURA

O modelo da superestrutura foi lançado nos sistemas CAD/TQS, que realizam o cálculo
das solicitações dos elementos de vigas, pilar e lajes pelo processo de grelha
equivalente.

O SISE/TQS disponibiliza diversos tipos de elementos de fundação para a modelagem


da fundação, dentre os quais estão as sapatas isoladas e associadas, concebidas no
projeto de fundação do empreendimento em questão. Tais elementos de fundação são
convenientemente discretizados em elementos de barras com uma determinada
dimensão simulando o comportamento de toda a infra e superestrutura. As barras são
conectadas através de nós e o efeito do solo é simulado por meio de vínculos elásticos,
baseados na teoria de Winkler.

Para o completo funcionamento do SISEs, têm-se três diferentes etapas:

 Fornecimento de dados: onde serão fornecidos os critérios de projeto,


lançamento das sondagens e elementos de fundação;
 Processamento de estrutura integrada (super+infraestrutura): envolve a
definição do edifício, ativação do SISEs, lançamento da superestrutura no
modelador, processamento do SISEs e integração da infraestrutura com a
superestrutura.
 Análise dos resultados finais: analisam-se os resultados obtidos nos elementos
de fundação e da superestrutura através do visualizador de pórticos, desenhos
e relatórios gerados.

152
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 18.19 – Modelo 3D da superestrutura

Figura 18.20 – Modelo 3D – Pórtico Espacial

17.2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Processado o modelo integrado, é necessário então fazer novas análises no pórtico e


avaliar os esforços obtidos para cada caso de carregamento nos elementos da fundação

153
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

e da superestrutura e se os mesmos atenderão aos estados limites prescritos pela NBR


6118:2014.

Serão sempre gerados dois pórticos completos: um pórtico com vínculos elásticos
(“molas”) mínimas e o outro pórtico com vínculos elásticos (“molas”) máximos. Essas
molas representativas do solo são geradas considerando os valores dos fatores “mínimo
e máximo”, que deverão ser definidos na etapa de fornecimento dos dados de critérios.

 Esforços nas vigas

Foram escolhidas 3 vigas de transição localizadas no piso do térreo para melhor ilustar
a diferença de esforços de momentos fletores entre os modelos do SISEs (mola máxima
e mola mínima) e de apoios indelocáveis. Abaixo, estão ilustradas e indicadas as vigas
de transição VT2, VT7 e VT10.

Figura 19.21 – Piso do Térreo – Vigas de transição analisadas

É intuitivo pensar que, na grande maioria dos casos, no modelo que considera os apoios
indelocáveis, o momento negativo será sempre maior e o momento positivo menor, se
comparado com os esforços do modelo SISEs.

- Viga VT2:

Figura 19.22 – Pórtico com Molas Mínimas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

154
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.23 – Pórtico com Molas Máximas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.24 – Pórtico com apoios indeslocáveis – Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Como já era esperado, os momentos fletores positivos no modelo SISEs são


consideravelmente maiores se comparados ao modelo com apoio indeslocável.
Observa-se, por exemplo, no ponto de máximo positivo, uma diferença percentual entre
30% a 35% (considerando as molas mínimas e máximas). Já no ponto de máximo
negativo, o momento no modelo indeslocável é relativamente maior, cerca 3 a 5 vezes
maior que os momentos no modelo SISEs.

- Viga VT7:

Figura 19.25 – Pórtico com Molas Mínimas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.26 – Pórtico com Molas Máximas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.27 – Pórtico com apoios indeslocáveis – Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Como já era também esperado, os momentos fletores positivos no modelo SISEs são
maiores. Observa-se que no ponto de máximo positivo, uma diferença percentual entre

155
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

10% a 14% (considerando as molas mínimas e máximas). Já no ponto de máximo


negativo, a diferença percentual fica em torno de 70% a 190%.

- Viga VT10:

Figura 19.28 – Pórtico com Molas Mínimas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.29 – Pórtico com Molas Máximas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.30 – Pórtico com apoios indeslocáveis – Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Observa-se que no ponto de máximo positivo, há um diferença percentual entre 40% a


46%. E no ponto de máximo negativo, e relação chega a ficar em torno de 4 a 7,5 vezes
maior.

No pavimento tipo, foi escolhida uma viga da fachada denominada V12, como ilustra
figura abaixo:

Figura 19.31 – Teto Tipo – Viga V12

156
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.32 – Pórtico com Molas Mínimas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.33 – Pórtico com Molas Máximas - Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Figura 19.34 – Pórtico com apoios indeslocáveis – Diagrama de Momento Fletor My (em tfm)

Por ser uma viga menos solicitada, a diferença de esforços é então bem suave, em torno de 7 a
10% no ponto de máximo positivo e de 6 % no ponto de máximo negativo.

Os valores dos esforços solicitantes acima detalhados ainda estão pendentes de confirmação.

 Recalques

O programa disponibiliza diversas ferramentas de análise que permite ter acesso aos
resultados. Dentre eles, podem-se visualizar gráficos de esforços, envoltórias, recalques
e tensões na fundação, como ilustram as imagens a seguir:

Figura 19.35 – Bacia de recalques mínimos – em cm

157
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Figura 19.36 – Bacia de recalques máximos – em cm

Figura 19.37 – Diagrama de tensões nas sapatas - em kgf/cm²

158
EDUARDO CABRAL – CURSO DE INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

18. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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