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TUTELA PROVISÓRIA
ESPIRITO SANTO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS1
Fonte: www.cpcnovo.com.br
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Para se ter uma plena compreensão das tutelas provisórias, necessário se faz
compreender a sua classificação quanto ao momento em que são requeridas:
antecedente ou incidental e a sua justificativa: urgência e evidência.
A novidade legislativa visou dar cabo aos antigos processos cautelares que já
assumiam verdadeiro status de satisfação e não cautela. As tutelas provisórias vieram
para permitir que antes mesmo de ser proposto o processo principal o autor pudesse
ver garantido o futuro provimento do seu pleito ou a satisfação da pretensão do direito
material. O que distingui em regra os institutos é o momento em que são aplicados,
antes, no mesmo momento ou após a ser postulado o pedido principal.
Fonte: cdn01.justificando.cartacapital.com.br
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Requisitos para a concessão da tutela provisória
Art. 300 - A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciam a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado
útil do processo.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
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de urgência, em caráter antecedente ou incidental, é necessário que os efeitos da
decisão - e não a decisão propriamente dita - possam ser revertidos.
Tutela de Evidência
Eis aqui uma inovação que em nada se assemelha a qualquer outro dispositivo
legal do antigo CPC.
O caput do artigo 311 do CPC/15, bem como seus incisos, demonstram os
requisitos para a concessão da tutela de evidência. Diferente das tutelas provisórias
de urgência, as tutelas de evidência serão concedidas independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo.
Será concedida a tutela de evidência em conformidade com o artigo 300
quando ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou manifesto propósito
protelatório da parte e quando o direito só puder ser comprovado via prova
documental, havendo tese firmada em I.R.D.R ou Sumula Vinculante.
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Se no curso do processo de conhecimento, no qual se discute a propriedade
de um automóvel, ou mesmo antes da instauração do processo, houver fundado
receio de que o réu venha a danificá-lo, pode o autor pleitear o sequestro do bem. A
medida que decreta a apreensão do bem litigioso, por si só, não vai garantir o direito
do autor, mas apenas a efetividade do processo se ele sair vencedor, o que em última
análise significa proteção ou acautelamento do direito substancial. Embora um dos
requisitos da tutela cautelar se refira ao perigo ao resultado útil do processo, a
referibilidade sempre será o direito material afirmado pela parte requerente.
Fonte: uniesp.edu.br
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Os nomes desapareceram do novo CPC, uma vez que não há requisito específico
para esta ou aquela medida – todas serão concedidas com base no poder geral de
cautela –, mas a tutela permanece. As medidas cautelares típicas (nominadas) não
mais se encontram regulamentadas no novo CPC. Contudo, permite-se que o juiz,
com base no poder geral de cautela, defira a tutela adequada para acautelar o direito
a ser certificado no processo de conhecimento ou realizado por meio do processo de
execução ou na fase do cumprimento da sentença. Em caráter exemplificativo, o art.
301 do novo Código elenca o arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de
protesto contra alienação para assegurar o direito afirmado no processo, mas
qualquer outra medida útil a tal finalidade pode ser concedida. A necessidade de
acautelamento do direito posto em juízo determinará a natureza da tutela a ser
deferida.
Arresto é a medida de apreensão de bens que tem por fim garantir futura
execução por quantia certa. Ele incide sobre bens indeterminados e seu efeito
principal é a afetação do bem apreendido enquanto a decisão não for modificada ou
revogada. Se, por exemplo, um determinado credor perceber que seu devedor está
ocultando ou dilapidando o patrimônio para fraudar eventual execução, pode pleitear
a tutela de urgência através do arresto de tantos bens quanto bastem para garantir a
futura execução por quantia certa. Vale lembrar que a medida também pode ser
pleiteada no bojo da execução.
Por outro lado, o sequestro é medida que visa garantir execução para a entrega
de coisa, ou seja, sua incidência é sobre bens determinados. Exemplo: autor e réu
disputam a propriedade de um automóvel em ação reivindicatória. Qualquer uma das
partes pode requerer o sequestro desse bem, a fim de garantir a completa realização
do direito. Evidentemente que a parte que tem a posse do bem não vai se interessar
por requerer o sequestro.
Para o deferimento da medida, que pode ser antecedente ou incidental, é
necessário que o juiz se convença de que, sobre o bem objeto da ação (futura ou em
trâmite) tenha-se estabelecido, direta ou indiretamente, uma relação de disputa entre
as partes da demanda.
O arrolamento de bens, por sua vez, tem a finalidade de conservar bens sobre
os quais incide o interesse do requerente da medida, como, por exemplo, do cônjuge
para resguardar sua meação na partilha; do herdeiro em relação aos bens da herança;
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do sócio em relação aos bens sociais etc. Tal conservação se faz com o arrolamento,
ou seja, com a “listagem” dos bens e seu depósito, que pode recair sobre a pessoa
do possuidor.
Distingue-se o arrolamento das medidas de arresto e sequestro. No arresto,
faz-se a constrição de bens indeterminados, bastantes para garantir futura execução
por quantia certa. No sequestro, a constrição recai sobre bem determinado que esteja
sendo objeto de disputa ou que venha a ser disputado. Já no arrolamento, a constrição
incide sobre bens indeterminados, não litigiosos, com o exclusivo intuito de conservá-
los, até a resolução de demanda que com eles se relaciona.
Fonte: blog.una.br
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ciência da pretensão do requerente. A publicidade dessa medida servirá para evitar
futura alegação de boa-fé por parte do adquirente do imóvel objeto do protesto.
Para melhor compreensão acerca dessa medida que, ressalte-se, não é nova
em nosso ordenamento, vejamos trecho do posicionamento do Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do REsp nº. 1.229.449/MG, de relatoria da Ministra Nancy
Andrighi:
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TUTELA PROVISÓRIA NO NOVO CPC: PANORAMA GERAL2
Fonte: abrilexame.files.wordpress.com
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caráter antecedente, o Código previu regras distintas para uma e outra, no que tange
ao ônus de formulação de pedido principal, depois de efetivada a medida urgente.
Uma vez efetivada a tutela cautelar em caráter antecedente, o autor fica
incumbido de formular o pedido principal no prazo de trinta dias, sob pena de cessação
de eficácia da medida (arts. 308 e 309, I). Caso cessada a eficácia da tutela cautelar,
é vedada a renovação do pedido, salvo por fundamento diverso (art. 309, parágrafo
único).
Já se a tutela urgente deferida em caráter preparatório for antecipada, o autor
tem ônus de complementar sua argumentação e confirmar o pedido de tutela final em
quinze dias, ou em outro maior que o juiz lhe der, sob pena de extinção do processo
sem julgamento de mérito (art. 303, §§ 1º, I, e 2º).
Aí já se tem clara diferença no regime das duas providências urgentes, quando
pleiteadas em caráter preparatório. Mas a distinção vai bem mais longe.
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Câmara dos Deputados, passou-se a prever que apenas a tutela antecipada
preparatória seria apta a estabilizar-se.
A razão de se limitar a estabilização à tutela antecipada é facilmente
identificável: não há sentido em se manter por tempo indeterminado uma providência
meramente conservativa, que é o que se tem com a tutela cautelar. Mas os
inconvenientes dessa distinção de regimes também são facilmente previsíveis: haverá
o recrudescimento das disputas classificatórias entre tutela cautelar e tutela
antecipada, com o propósito de se afastar ou obter a estabilização.
Na tentativa de diminuir tais disputas, o parágrafo único do art. 305 prevê que
o juiz, ao considerar que uma tutela pleiteada em caráter antecedente como “cautelar”
tem natureza antecipatória, deverá determinar seu processamento em conformidade
com as regras do art. 303 (que poderão conduzir à estabilização). O CPC/15, a
exemplo do que fazia o CPC/73 no art. 273, § 7º, disse menos do que devia, pois tal
controle deve ocorrer também na hipótese inversa: ao deparar-se com um pedido de
tutela antecipada antecedente que a rigor tem natureza cautelar, o juiz deverá também
corrigir o processamento da medida, de modo a excluir-lhe a possibilidade de
estabilização. Mas há ainda problemas a resolver: (i) não havendo tal controle prévio
pelo juiz, o pedido de tutela urgente antecedente processado pela via incorreta
submeter-se-á aos efeitos jurídicos dessa via? (ii) havendo o controle prévio pelo juiz,
o entendimento por ele adotado é passível de posterior rediscussão (inclusive e
especialmente se já tiver havido a estabilização)? Esses questões serão enfrentadas
num próximo texto.
Técnica monitória
Fonte: www.fucamp.edu.br
BIBLIOGRAFIA
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BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado. São Paulo:
Saraiva, 2015.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. v3. 27ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2014.
16
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; SANTOS, Evaristo
Aragão; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; SATO, Priscila Kei; VASCONCELOS, Rita
de Cássia de. Novo CPC Urgente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
LEITURA COMPLEMENTAR
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
THEODORO JUNIOR aduz que “as medidas cautelares não têm um fim em si
mesmas, já que toda a sua eficácia opera em relação a outras providências que hão
de advir em outro processo” (2010, p. 488).
Denota-se que o processo cautelar é dependente do processo principal,
podendo ser instaurado no curso ou antes dele, sendo-lhe apensado, porém, o
legislador de 2015 repensou essa dependência e unificou os processos.
No novo código não há mais um processo cautelar destinado a prestar apenas
a tutela cautelar, unificou-se o procedimento e dentro do mesmo processo as partes
podem pedir tanto a tutela de urgência ou de evidência, quanto a tutela final, seja de
caráter antecedente ou incidental.
O doutrinador MARINONI faz crítica ao Código de 2015 por conservar a
expressão tutela provisória, ainda que tenha aplicado as “técnicas antecipatórias
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como meio de distribuição isonômica do ônus do tempo no processo, ligando-se tanto
à urgência como à evidência” (2015, p. 306). Segundo o doutrinador a terminologia
conservada “obscurece a relação entre técnica processual e tutela do direito, turvando
os pressupostos que são necessários para prestar diferentes tutelas mediante a
técnica antecipatória” (2015, p. 306).
Com todas as inovações trazidas, denota-se que os conceitos balizares foram
mantidos, permanecendo a tutela antecipatória como aquela que proporciona a
realização de um direito, e a tutela cautelar aquela que assegura que o direito da parte
eventualmente e futuramente tenha condições de ocorrer.
O CPC de 2015 trouxe em seu Livro V as denominadas tutelas provisórias, que
englobam as tutelas de urgência e as tutelas de evidência, agrupando as tutelas do
gênero satisfativo com as cautelares.
Disciplinou no parágrafo único do artigo 294 que ambas as tutelas podem ser
cautelar ou antecipada, concedidas em caráter antecedente ou incidental no processo,
sendo neste último caso prescindível o pagamento de custas e naquele conservada a
competência do juiz competente para conceder a tutela definitiva. Preservou-se o
princípio da demanda (artigos 2º e 141), não podendo o Juiz conceder a tutela
provisória de ofício, mas, fundamentando na estrutura cooperativa do novo Código
(artigo 6º), pode consultar a parte se há interesse, ao perceber que é possível tutelá-
la provisoriamente.
Manteve-se o caráter precário da tutela, podendo ser a qualquer tempo, no
processo, revogada ou modificada (artigo 296), porém ratificou a necessidade de
fundamentação do juízo.
O novo CPC ressaltou em diversos dispositivos a necessidade da
fundamentação das decisões prolatadas, aplicável também às tutelas provisórias.
Nessa nova temática, o julgador obrigatoriamente tem que enfrentar todos os
fundamentos arguidos pelas partes (artigo 489, § 1º, IV), tanto em decisões
interlocutórias, como em sentenças e acórdãos, conforme disposto no artigo 489, o
qual em seu parágrafo primeiro arrola os defeitos da fundamentação.
O artigo 297 do Novo Código de Processo Civil, com base no Poder Geral de
Cautela, possibilita ao juiz determinar, incidentalmente no processo, as medidas que
julgar necessárias para efetivação da tutela provisória, assim como previsto no artigo
798 do Código vigente. Para MARINONI “afasta-se de um sistema de técnica
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executiva rígida e avizinha-se a um sistema de técnica maleável” (2015, p. 309),
visando a efetividade do processo. Ressalva-se ao previsto no referido artigo as
execuções contra a Fazenda Pública.
Passa-se a analisar, separadamente, o procedimento a ser adotado na vigência
do Código de Processo Civil de 2015, nas tutelas provisórias.
2 DA TUTELA DE URGÊNCIA
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em detrimento de decisões puramente formais para causa (artigo 317, CPC) (...) há
fungibilidade entre as tutelas que podem ser obtidas mediante a técnica antecipatória”
(2015, 308), assim, estende-se à todas as tutelas provisórias.
Inova o CPC de 2015 na tutela de urgência quando exige a garantia do juízo,
conforme § 1º do artigo 300, dispensável em casos de hipossuficiência da parte e
quando o direito é desde logo muito provável, ficando ao crivo do julgador.
O CPC de 1973 trazia a possibilidade de responsabilidade em caso de uso
indevido do processo apenas nas ações cautelares, já o novo CPC prevê a
responsabilização da parte por eventuais danos à parte contrária que a efetivação da
tutela de urgência causar (art. 302), sendo unificado os regimes, aplicando-se a tutela
cautelar e a tutela antecipatória, e a indenização prevista será liquidada nos mesmos
autos. Ressalta-se que tal responsabilidade pode ser objetiva, bastando a
demonstração do nexo causal entre a concessão da tutela e o prejuízo suportado pela
parte, não se discutindo culpa.
Defende o doutrinador MARINONI a responsabilidade subjetiva nos casos dos
incisos I (sentença de improcedência) e IV (reconhecimento de decadência ou
prescrição) do artigo 302, pois se a “tutela provisória é necessária e devida, conforme
a apreciação sumaria do juízo, torná-la posteriormente indevida e atribuir
responsabilidade objetiva pela sua fruição implica ignorar efetiva existência da decisão
que anteriormente a concedeu” (2015, p. 314).
Para doutrinador, ao conceder a tutela o juiz analisou seus requisitos, conheceu
da ação, não podendo posteriormente ignorá-los e imputar a parte responsabilidade
objetiva.
Os procedimentos iniciais de ambas possuem os mesmos requisitos, um
regime jurídico único, ensejando celeridade processual, dispensando a propositura de
um novo processo e dispêndio de novas custas, possibilitando que as tutelas
provisórias sejam pleiteadas e concedidas na própria ação principal.
Outra inovação verificada é a estabilidade dos efeitos da tutela concedida
antecipadamente, tornando estável a decisão se o réu, citado, não interpõe Agravo de
Instrumento (recurso cabível contra decisão interlocutória, a qual, nos termos do § 2º,
do artigo 203 é aquela que não põe fim ao processo), autorizando a extinção do
processo liminarmente.
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O § 6º do artigo 304 dispõe que a decisão que extingue o processo quando o
réu, devidamente citado, não interpõe o recurso cabível, não faz coisa julgada
material, pois inexiste cognição exauriente, porém, não influi na estabilidade dos
respectivos efeitos.
O parágrafo 2º do artigo 300 dispõe que a tutela pode ser concedida
liminarmente, ou seja, inaudita altera parte, segundo MARINONI quando “o tempo ou
a atuação da parte contrária for capaz de frustrar a efetividade da tutela sumária”
(2015, p. 313), ou após justificação prévia, ou seja, após intimada a parte contraria a
se manifestar exclusivamente sobre o pedido de tutela de urgência. Segundo o
doutrinador “nada obsta que a tutela de urgência seja concedida em qualquer
momento do procedimento, inclusive na sentença” (2015, p. 313).
3 DA TUTELA DE EVIDÊNCIA
O novo CPC trata da tutela de evidência em seu artigo 311, dispondo que para
a sua concessão é necessária a evidência do direito, de forma contundente a formar
um juízo de cognição sumária, independente do periculum in mora e do risco ao
resultado útil do processo. Foram elencada 4 (quatro) hipótese de concessão: i) abuso
do direito de defesa ou manifesto proposito protelatório; ii) quando comprovada
através de prova documental fundamentada em precedentes ou sumula vinculante; iii)
pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito e iiii) inicial instruída com prova documental incontestável.
A tutela a ser concedida é pautada na incontestabilidade do direito da parte
autora, ou seja, o juiz a concederá de forma provisória considerando a incontroversa
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do direito disputado, reduzindo os efeitos do tempo despendido no trâmite normal do
processo, afinal, não merece suportá-lo o autor que antecipadamente desincumbiu-se
a contento do ônus probatório.
Algo que ocasionou bastante discussão e que foi alvo de críticas dos
doutrinadores, foi em relação à inovação da estabilidade das tutelas provisórias, o que
não se pode confundir com a coisa julgada.
A estabilidade da tutela ocorre quando o réu não se manifesta visando
exaurimento da cognição, sendo ela por tempo indeterminado.
Sobre a estabilidade das tutelas provisório, ensina MARINONI que:
Apenas a tutela provisória satisfativa fundada na urgência pode ser
automatizada e estabilizada. A tutela da evidência não pode ser autonomizada e, por
conseguinte, estabilizada. A tutela cautelar, embora possa ser autonomizada, não
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pode ser estabilizada – dada obviamente a referibilidade que lhe é inerente” (2015, p.
315 - 316).
Para desconstituir a estabilidade da tutela, o legislador empregou a técnica do
contraditório eventual, invertendo a iniciativa para o debate, podendo qualquer das
partes, no prazo de dois anos, propor ação com intuito de rever, reformar ou invalidar
a tutela estabilizada, denominada por MARINONI de “ação exauriente”, prevista no §
2º do artigo 304.
Assim determinou-se que a referida ação visa exaurir a cognição, ou seja,
passa-se da cognição sumária para a cognição exauriente da matéria.
O parágrafo 4º do artigo 304 do novo CPC traz a obrigatoriedade da ação
exauriente ser instruída com a ação antecedente, na qual foi concedida a tutela, pois,
conforme alhures, aquela ação é uma continuação do debate iniciado nesta.
O doutrinador MARINONI ao comentar o artigo 304, entende que, embora haja
previsão expressa apenas do réu opor-se a tutela concedida através da interposição
de agravo de instrumento, entende ser cabível também opor-se pela contestação ou
pelo intento de comparecimento em audiência de conciliação ou de mediação, desde
que no mesmo prazo para interposição do agravo, pois, para ele “tem-se que entender
que a manifestação do réu no primeiro grau de jurisdição serve tanto quanto a
interposição do recurso para evitar a estabilização dos efeitos da tutela” (2015, p. 317).
O parágrafo 6º do artigo 304 determina que a decisão que concede a tutela não
faz coisa julgada, somente ficará estabilizada e só será afastada por decisão proferida
na ação exauriente.
A questão levantada por MARINONI foi em relação à força da estabilidade após
decorrido o prazo para propositura da ação exauriente, ora, se o legislador vinculou a
afastabilidade da estabilidade à propositura da ação exauriente, se decorrido seu
prazo decadencial, certamente a estabilidade torna-se indiscutível e imutável, o que
nos termos do artigo 502 do CPC, identifica-se com o conceito de coisa julgada
material.
O doutrinador sobrepesa a constitucionalidade do instituto, para ele
O que é de duvidosa legitimidade constitucional é equiparar os efeitos do
procedimento comum – realizado em contraditório, com ampla defesa e direito à prova
– com os efeitos de um procedimento cuja sumariedade formal e material é
extremamente acentuada.
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(...) a estabilização da tutela antecipada antecedente não pode adquirir a
autoridade da coisa julgada – que é peculiar aos procedimentos de cognição
exauriente. Passado o prazo de dois anos, continua sendo possível o
exaurimento da cognição até que os prazos previstos no direito material para
a estabilização das situações jurídicas atuem sobre a esfera jurídica das
partes (por exemplo, a prescrição, a decadência e a supressio). Em resumo:
o direito à adequada cognição da lide constitui corolário do direito ao processo
justo e determina a inafastabilidade da ação exauriente para formação da
coisa julgada. Fora daí há ofensa ao direito fundamental ao processo justo
pelo próprio legislador infraconstitucional incumbido de densificá-lo. (2015, p.
318)
5 CONCLUSÃO
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assoberbamento do judiciário, pois na prática atual, verificava-se em muitos casos o
uso indevido das ações cautelares, as quais sobrecarregavam o judiciário, e quando
concedidas, assegurando o direito clamado, seu beneficiário não promove a ação
principal defendendo seu suposto direito, o que se faz questionar se realmente existe.
Exemplo comum são as exibições de contratos bancários, das quais muitas encerram-
se com a sua apresentação, o que possivelmente poderia ter o mesmo deslinde na
via administrativa, já que não há direitos a serem discutidos.
Impõe-se um ônus maior ao réu de defender-se dos pedidos de tutela
provisória, principalmente pela previsibilidade da estabilidade dos efeitos da tutela,
mas cotejando os procedimentos, as inovações trazem maior segurança jurídica às
partes.
REFERÊNCIA
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil
Comentado e Legislação Extravagante. 10 ed., São Paulo: Revista dos tribunais,
2007.
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