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Arqueologia Cognitiva – É um ramo da Arqueologia, utilizado na interpretação pré-

histórica, direcionada a compreensão da origem e evolução do comportamento do


gênero Homo, partindo dos vestígios, dos dados encontrados no registro arqueológico.
No geral, as análises destes dados fornecem resultados, sendo que as dificuldades estão
concentradas no por que da sua realização em determinado lugar e como se
desenvolveu, além de se estabelecer uma relação entre tais vestígios e dados com as
capacidades cognitivas dos seus criadores. Para se realizar tal análise, utilizam-se
recursos de ciências relacionadas com o comportamento humano no presente
(Psicologia, Neurologia, Biologia Evolutiva, Antropologia Social, Lingüística, dentre
outras) e as relacionar com a Arqueologia, de forma interdisciplinar e metodológica.

Desenvolvimento Histórico e Metodológico – No momento inicial dos estudos


científicos relacionados a Pré-História, os hominídeos não eram totalmente estudados
em suas capacidades cognitivas e sua evolução e diferenciação era derivada da própria
evolução natural, onde os mecanismos de adaptação proporcionavam as capacidades
cognitivas, de formas específicas em cada espécie humana, manifestando-se em formas
culturais e se acreditava ainda numa evolução neurológica ou adaptação ecológica
(TRIGGER, 1989). Com o passar do tempo, os dados paleoantropológicos e
arqueológicos passaram a apresentar algumas lacunas explanatórias e com o advento de
outras ciências (Antropologia Sociocultural, Neurologia, Psicologia, etc.), novas
abordagens metodológicas eram utilizadas para a compreensão do comportamento
humano. Neste caminho, a contribuição da Antropologia Sociocultural foi de grande
importância, construindo conceitos sobre este comportamento e sua relação com a
Arqueologia (p. e. Turner, 1983; Geertz, 1987; Reinoso, 1987; Álvarez, 2005; Bartra,
2006; Ramírez, 2009). Com isso, o desenvolvimento histórico da Arqueologia
Cognitiva tem três correntes metodológicas principais, nas quais a maioria dos
autores está interessada nela, embora com certas ressalvas sobre sua localização teórico-
metodológica.

Processualismo ou Nova Arqueologia – Com os estudos de Renfrew, que se baseavam


na compreensão mental dos criadores dos artefatos com o intuito de compreender o seu
desenvolvimento mental, teve início a atividade acadêmica da Arqueologia Cognitiva
(Renfrew, 1982, 1993; Renfrew & Zubrow, 1994). Na época, tais estudos eram vistos
como “especulativos” e foram relegados, sendo considerados uma “paleopsicologia”
(Binford, 1965), porém isso não impediu o avanço nos estudos de relacionar o modo de
vida paleolítica e a inteligência do hominídeo do período, por meio dos vestígios
arqueológicos encontrados nos sítios (Johnson, 2000; Shaw & Jameson, 2002).

A princípio, consideravam que o cognitivo humano era um subsistema cultural similar


aos subsistemas econômicos ou políticos estudados pela Nova Arqueologia, até que a
compreensão do tecnológico e econômico seria melhorada por meio de uma perspectiva
cognitiva (Flannery & Marcus, 1976, Johnson, 2000), quando consideramos que
pensamento e ação (enquanto comportamento arqueológico) são processos inseparáveis
(Renfrew & Bahn, 2007). Com isso, elaboraram-se teorias gerais sobre a origem e
desenvolvimento do pensamento humano, priorizando a existência de uma razão
universal dentro dos processos cognitivos e um positivismo em suas conclusões, onde a
análise procurava compreender os processos cognitivos no conhecimento da realidade
vivida, através de estudos ligados ao fenômeno da cognição; assumiu-se também que os
símbolos relacionados a qualquer grupo humano teriam sempre a mesma ordem de
racionalidade, ao descobrir significados que pertençam à realidade comum a todos eles
(Hernando, 1999).

Autores sem Teorias Gerais e os Aspectos Gerais da Conduta Humana – Na


complexidade de seu início e desenvolvimento desigual, onde não havia conceitos ou
tendências claras, alguns arqueólogos expressaram sua preocupação com os aspectos
cognitivos relacionados a vários problemas arqueológicos, mas não elaboraram modelos
teóricos de amplo alcance. Com Kent Flannery e Joyce Marcus (1976), buscaram-se
relações funcionais entre o sistema ideológico (cognitivo) e os subsistemas culturais,
vinculando-os a compatibilidade de ligar tais temas a subsistência e assentamento.
Nesse contexto geral, recentemente Aura Letícia Ponce de León (2002) expressou a
necessidade de um trabalho multidisciplinar (Antropologia Física e Social, Biologia,
Geologia e Arqueologia), com o intuito de alcançar um método que relacione as
habilidades cognitivas com os dados do registro arqueológico. Para ela, a encefalização
evolutiva seria a causa do surgimento de novas capacidades cognitivas (abstração e
simbolização), onde a linguagem articulada seria fundamental para a aprendizagem e
transmissão da experiência da espécie.

Estudos Sobre Tecnologia Lítica – Existem estudos que buscam relacionar a criação e
evolução de ferramentas de pedra com a necessidade de ter uma linguagem, indicando
que ambos os processos teriam uma base cognitiva comum. Com Glyn Isaac (1986)
estabeleceu-se uma relação entre os modelos cognitivos e a fabricação de ferramentas
líticas, pois a simetria bilateral das ferramentas e a sua preparação nucleica pelo Homo
Habilis demonstravam uma certa padronização, a qual seria impossível sem a utilização
de uma comunicação, de uma linguagem única. Thomas Wynn (1985) estabeleceu um
avanço tecnológico-complexual das ferramentas líticas paralelo ao desenvolvimento
cognitivo humano, em consoante com os estudos de Piaget (1952), que analisava o
desenvolvimento das mãos de crianças ao nascer e a relação psicológica do fato.
Recentemente, Núria Geribàs, Marina Mosquera e Josep Maria Vergès (2010)
estudaram o paralelismo entre o desenvolvimento tecnológico e o aumento das
habilidades cognitivas de seus criadores, ocorrendo ao longo do desenvolvimento
evolutivo.

A Conduta Simbólica – Com Alexander Marshack (1972, 1990), o simbolismo e a


origem da arte paleolítica foram relacionados com a necessidade linguística. Para ele, o
surgimento da linguagem foi tardio, sendo reconhecível pela evidência comportamental
dos seres humanos, especialmente pelo surgimento de comportamentos dotados de
simbolismo, como ferramentas e ossos com possíveis gravuras elementares. Durante o
início do Paleolítico Superior, desenvolveu-se uma linguagem articulada, elaborada para
ilustrar e se relacionar com um mundo simbólico que estava em franco
desenvolvimento. Por outro lado, Robert Bednarik (2008) indica que a evolução
(gradual e adaptativa) foi desenvolvida a partir da seleção das alterações anatômicas e
neuronais que favoreceram o uso e desenvolvimento da linguagem, cognição e
simbolismo. A ontogenia recapitula a filogenia e neste caso podem ser vistas
semelhanças entre o desenvolvimento da criança (com caráter inato na língua) e da
espécie humana. A arte, sua simbolização e a linguagem necessária para sua criação
começam com o gênero Homo, aumentando progressivamente com a evolução.

A Linguagem no Comportamento Humano – O estudo da linguagem no


comportamento humano é relacionada diretamente com a cultura paleolítica e a
Paleoneurologia procura conhecer a relação entre as habilidades cognitivas humanas e
os aspectos comportamentais por meio das impressões que o cérebro deixa na superfície
interna do crânio (moldes endocranianos). Durante as décadas de 1960-70, são
realizados estudos dedicados ao desenvolvimento de áreas corticais relacionadas a
produção de linguagem e desenvolvimento tecnológico (Holloway, 1983, Tobias, 1998).
Recentemente, estudos sobre a correlação das variações evolutivas do cérebro e os
avanços comportamentais foram destacados (Bruner & alii, 2011), onde os mesmos
estão relacionados ao conceito evolutivo em que cada mudança morfológica deve ter
uma melhora comportamental correspondente, o que permitiria superar as pressões da
seleção natural. De acordo com estes conceitos evolutivos, os novos vestígios humanos
eram analisados para que neles se identificassem os sinais que as estruturas corporais
moles deixam nos ossos, a fim de tentar demonstrar a possibilidade de uma linguagem
(por exemplo, na área de Broca, parte do cérebro humano responsável pela expressão da
linguagem e nela estão inseridos os programas motores da fala). Para tanto, além do
estudo dos moldes intracranianos, foram analisadas todas as áreas anatômicas que
podem estar relacionadas à capacidade produtiva de uma linguagem articulada,
desenvolvendo-se modelos de situação laríngea, analisados em sua anatomia de base
cranial (Laitman & Reidenberg, 1998, Lieberman & alii, 1992), estudos sobre a relação
entre o diâmetro do canal medular (volume medular) e a capacidade de vocalização
(capacidade pulmonar) em hominídeos (Walker & Leakey, 1993), no tamanho dos
canais ósseos através dos quais o nervo hipoglosso passa (controlador da mobilidade da
língua) nos crânios de humanos e macacos recentes (Kay & alii, 1998). A evolução
moderna do osso hioide (da laringe) poderia indicar uma capacidade ampla de
articulação sonora, como é o caso do homem de Neandertal encontrado em Kebara
(Israel) e o sistema de receptores auditivos do Homo Heidelbergensis, onde foi
comprovado que sua frequência auditiva foi muito semelhante à do ser humano atual
(Martínez & Arsuaga, 2009). Estes dados parecem indicar que se percebe uma
correspondência funcional co-evolutiva entre as características fisiológicas do sistema
acústico e do sistema vocal, o que indicaria a existência de uma linguagem nesse
hominídeo (Martínez & Arsuaga, 2009). No entanto, esses estudos têm um valor
limitado, uma vez que indicam apenas a capacidade dos hominídeos para produzir sons,
mas não a existência de um pensamento simbólico desenvolvido, além de sua
funcionalidade correta sempre ter sido discutida. Outros autores indicam a necessidade
de uma linguagem com características modernas para explicar o comportamento do
Paleolítico Superior, pois para explicar esse comportamento deve haver um
deslocamento cognitivo (conceitos temporais e espaciais mais desenvolvidos que o
simples aqui e agora). Tal linguagem seria desenvolvida a partir de uma protolinguagem
menos elaborada.
Assim, modelos adaptativos e demográficos para o início do Paleolítico Superior são
expostos (Whallon, 1989). Paul Mellars (1989) e neles se observa uma mudança radical
no comportamento da transição para o Paleolítico Superior, onde as mudanças
cognitivas presentes estavam relacionadas à cultura adquirida, pois enquanto não
existam dados que comprovem totalmente essa mudança evolutiva consoante a cultura
ou do comportamento e ele acredita que uma linguagem mais complexa, dotada de
deslocamento cognitivo espaço-temporal é mais indicada para apontar o
desenvolvimento cognitivo e simbólico visto no Paleolítico Superior.

Os estudos Multidisciplinares – Devido a enorme complexidade do tema, mais


estudos foram necessários, e Andrew Lock & Charles R. Peters (1996) elaboraram um
manual multidisciplinar sobre o simbolismo cognitivo, dotado de vários temas
específicos (paleoantropologia, sistemas socioculturais, ontogenia e simbolismo),
porque estes são desenvolvidos por vários autores.

Teorias Sobre Cognição no Passado - Merlin Donald (1931) – Foi um dos primeiros
a propor uma abordagem geral sobre a cognição humana, com teorias de várias ciências
(Antropologia, Arqueologia, Psicologia Cognitiva, Linguística e Neurologia) e nela a
cultura material desempenha um papel ativo na formulação e comunicação de processos
cognitivos, estabelecendo um esquema sucessivo de evoluções, amparadas no
desenvolvimento mental e o armazenamento de informações (evolução dos modos de
representação), no qual as mudanças cognitivas possibilitam um novo nível de
consciência, relacionado ao processo evolutivo assimilado nas áreas corticais do
hipotálamo e cerebelo (associação). Atualmente, uma parcela da memória episódica dos
primatas fornece uma “consciência episódica”, que lhes fornece pouca capacidade para
memórias voluntárias e seletivas, independentemente dos sinais ambientais que
estimulam a recordação, tendo uso muito limitado de tempo e espaço (deslocamento
cognitivo). Com este tipo de consciência, limitada em sua expressão (gestos,
mimetismo, sinais etc.), você não pode criar modelos de ação consciente, mas pode
aprendê-los com grande esforço. A simetria das ferramentas é perpetuada porque é
assim que as ferramentas são feitas, sendo um estilo característico do grupo (unidade
social), assimilando-o ao Homo Habilis (4-2 m.a.). Assim, três mudanças ocorrem: a
primeira, é vista na simetria das ferramentas líticas, como indicativo de representação
intencional, demonstrando aprendizado ou repetição, como um gerador de representação
intencional da comunicação em gestos e mímica (mimese como pré-adaptação à
linguagem), o que lhes permitiria desenvolver relações sociais, normas de grupo,
emoções, logística e tecnologia. Foi adquirida ainda uma consciência mimética que
permite uma certa contemplação do passado e do futuro, juntamente com a abstração, a
capacidade de desenvolver um conceito que identifique um objeto ou evento específico.
Está relacionado com o Homo Erectus (2 000 000 a. - 300 000 a.). A segunda mudança
apareceu com o desenvolvimento de uma linguagem (300 000 - 150 000 BP) com
criação lexical, simbólica e gramatical, originando uma consciência mítica. A
linguagem significava a inovação de um simbolismo muito mais rico do que as
metáforas diretas da mimese (assim como os primeiros adornos) e com ela você poderia
comunicar e transmitir mais e melhor os conceitos criados, mesmo dependendo do
contexto. O desenvolvimento da linguagem e de novos conceitos com múltiplas
interconexões geraram o desenvolvimento de mitos, arte paleolítica e um grande
desenvolvimento cultural (história, relações humanas e divinas, etc.). Na terceira,
desenvolveu-se uma consciência teórica, oriunda dos avanços tecnológicos e da escrita,
derivada do armazenamento “extra-memória”, expandindo-se gradualmente esta
capacidade, pois antes havia uma limitação ao que poderia ser armazenado/lembrado.
Poderia ser produzido pela plasticidade neuronal do cérebro humano, uma vez que as
novas e extensivas áreas terciárias associativas originaram mecanismos para criar e
governar novos sistemas de armazenamento externo (linguagem, escrita, etc.), de base
social e não biológica (epigenética). Já com o Homo Sapiens, houve uma evolução
cognitiva e cultural, apoiada nas formas de memória externa (símbolos visuais)
permanente) e uma nova arquitetura de memória de trabalho. A marca da mente
moderna é a constante integração e reelaboração de experiências através de múltiplas
formas de representar a informação, pois a última forma é a memória externa que
adiciona e aprimora a memória operacional de natureza biológica, adquirindo
conhecimentos simbólicos de fora para dentro, de modo que a linguagem e os símbolos
são essencialmente fenômenos atuais, principalmente das redes sociais. Colin Renfrew
(1982, 1993) – Foi o pioneiro na compilação dos estudos simbólicos e cognitivos como
uma Arqueologia Cognitiva propriamente dita. Ele procura reconhecer as características
do comportamento inteligente através de restos materiais e estudos interdisciplinares,
correlacionando com dados de Psicologia, Etologia, Inteligência Artificial,
Neurociências e Arqueologia. Para Renfrew, a Arqueologia Cognitiva tem como
objetivo buscar o significado que os símbolos e representações tiveram para aqueles que
os idealizaram e realizaram. Para isso, indica três aspectos principais: o primeiro,
ressalta a natureza do comportamento inteligente, onde desenvolvem-se métodos para
reconhecer tal comportamento no registro arqueológico e os procedimentos para realizar
inferências sobre tal, a partir dos dados arqueológicos. Ele dá grande importância ao
símbolo (simbolismo), já que seu uso é um dos indicadores mais claros do
funcionamento da mente e portanto, a busca pelo significado dos símbolos e suas
representações adquire um papel significativo na condução da pesquisa arqueológica,
estabelecido pelo “paradoxo sapiente”, relacionado a lacuna entre a criação evolutiva de
nossa espécie e a aparência posterior de um comportamento simbólico, pois para o
autor, as habilidades cognitivas foram estabelecidas evolutivamente há mais de 60.000
anos (talvez 200.000 anos), mas os comportamentos do nosso cérebro não foram
estabelecidos até muito mais tarde (10.000 anos atrás), então sua aparência tem aspectos
de emergência comportamental. A base neurológica evolucional cognitiva humana não
se baseia em uma especificação de modulação mental neurológica ou inata, mas em uma
modulação neurológica (plasticidade neuronal e ensino) motivados por características
ambientais. Nosso cérebro se adaptaria às condições do meio, com base na socialização
da experiência compartilhada, facilitando o desenvolvimento de fatores cognitivos
emergentes da mente humana. Assim, a linguagem simbólica é essencial para que a
humanidade atingisse seu desenvolvimento cultural característico (Renfrew, 2008).
Steven Mithen (1998) – Para ele, as condições e características que propiciaram a
evolução e estruturação da mente humana são estudadas, por meio de um trabalho
interdisciplinar com dados da Psicologia Evolutiva, Neurologia, Primatologia, Biologia
Evolutiva, Arqueologia, Etologia e Lingüística. Ele entende que é impossível
compreender a mente humana sem conhecer seu processo de evolução, bem como a
importância da Psicologia para sua realização e por isso escolhe uma psicologia
evolucionista, comprometida com um darwinismo tradicional, obviando a possibilidade
da existência de outros mecanismos de mudança corporal (genes reguladores,
embriologia, etc.). A evolução moldou de forma gradativa e seletiva o pensamento
humano; para o autor, foram moldados módulos neuronais, que abrigam diferentes
inteligências (social, técnica, história natural, linguagem), que atuaram inicialmente de
forma independente, unindo-se por meio da linguagem no final do processo evolutivo
com os humanos anatomicamente modernos. O ambiente social e a linguagem
permitiram a evolução cultural e o desenvolvimento cognitivo humano e a linguagem
foi o elo entre as diferentes inteligências: social (gestão das relações interpessoais),
técnica (manipulação dos objetos), histórico-natural (compreensão das relações causa-
efeito), alcance da fluidez cognitiva entre todos eles e o comportamento moderno do
Homo Sapiens. Tal fluidez começou há cerca de 200.000 anos e abriu as portas para a
língua, alcançando seu máximo de 60.000 BP. Essa linguagem surgiu quando o grupo
social começou a se tornar mais numeroso e complexo.

Problemas Teóricos e Práticos da Arqueologia Cognitiva - O desenvolvimento de


estudos cognitivos na Arqueologia constitui um processo teórico de grande
complexidade, onde a prioridade é a elaboração de um método adequado para o seu
campo de abordagem (Renfrew, 2008) e que o mesmo reúna todas as virtudes das
correntes históricas e tentando evitar seus problemas. Há três objetivos que são
perseguidos: escolha do método, disciplinas a serem empregadas, maneira de relacioná-
las.

Escolha do Método - A maioria dos arqueólogos processualistas desenvolveu amplas


teorias gerais sobre o comportamento humano, mas a problemática reside na aplicação
dos seus conceitos gerais às particularidades contextuais de cada local, bem como na
explicação de problemas arqueológicos concretos em seus aspectos do como e porquê
de sua produção, naquele momento e lugar. A crítica se concentra no aspecto um tanto
especulativo de seu conteúdo, e uma certa falta de objetividade em refletir conceitos e
modos de pensar do pesquisador (Hernando, 1999). Para os pós-processuais, a
dificuldade reside nos seus estudos contextuais, uma vez que são escassas as
metodologias que combinem os campos de atuação; isso limita gradativamente o seu
desenvolvimento teórico e prático na Arqueologia Cognitiva. No campo do
Estruturalismo, sempre se tentou fazer avaliações gerais (características
procedimentais), aplicadas aos dados particulares de cada sítio (pós-processo e valores),
por meio das características formais de sua teoria, o que pode ser interessante na
tentativa de estudar objetivamente as realidades dos aspectos comportamentais do
passado (Hernando, 1999). No entanto, poucos resultados foram obtidos enquanto
corrente metodológica, devido ao enorme estudo de assuntos muito variados em
Linguística, Gramática, Psicologia, etc., e estes com uma relação complexa entre si, e de
todos com a Arqueologia (Leroi-Gourhan, 1965; Wynn, 1985), embora seu principal
problema tenha sido o desconhecimento das estruturas básicas e gerais (psicológicas e
neurológicas: psicobiológicas) que regulam o comportamento humano, bem como suas
características evolutivas e sua relação com o meio em que viveram. Caso haja um
desenvolvimento psicobiológico apropriado, um modelo teórico comum a todos os seres
humanos poderia ser desenvolvido, mas independente dos aspectos particulares da
cultura, coisa que as diferentes populações humanas tiveram em seu tempo e espaço
precisos. A única coisa comum a todos os humanos seria os fatores estruturais do nosso
gênero, com as diferentes capacidades de cada espécie humana. As características do
comportamento humano relacionadas (Biologia Evolutiva, Neurologia, Antropologia
Social, Psicologia, Lingüística e Sociologia), devidamente inter-relacionadas,
ofereceriam um panorama facilmente identificável com um estruturalismo funcional,
isto é, com a base funcional sobre a qual nosso pensamento e comportamento se
desenvolveram, tendo uma base comum no gênero Homo. No entanto, a maneira pela
qual esta percepção e processamento da realidade levou a construção cultural
(econômica, tecnológica, social e simbólica), se deu de maneira diferenciada nos grupos
humanos que conhecemos e sua realização, e a base psicobiológica comum aos gêneros
humanos dependeu da interação de múltiplos fatores que, por sua vez, atuam de formas
e intensidades diferentes. Em suma, a percepção da natureza (sentidos) e seu
processamento (sistema nervoso) foram os mesmos para todos os componentes da
mesma espécie, mas cada grupo humano criaria uma estrutura social e pessoal diferente,
dependente de sua natureza e da sua complexidade socioeconômica própria (Hernando,
1999). O estruturalismo, com um conhecimento adequado da psicobiologia humana,
pode ser o método mais apropriado nesse tipo de estudo cognitivo.

Ciências e Correntes Teóricas Adequadas Para o Estudo Cognitivo – As ciências


que forem utilizadas para a análise cognitiva devem ter relação com o comportamento
humano, porém deve-se ter em mente que elas foram desenvolvidas com suas
peculiaridades, assim como a Arqueologia. Desta forma, podem advir dúvidas e teorias
diversas na relação dos seus postulados e seu uso, dentro da interdisciplinaridade que
queira canalizar suas conclusões teóricas. Ciências Psicobiológicas - O comportamento
humano é resultante das habilidades cognitivas de seus criadores, portanto, seu estudo
necessita de algum conhecimento das ciências relacionadas à cognição humana
(Neurologia, Psicologia, Genética e Biologia Evolutiva). Da Biologia Evolutiva,
analisa-se as características morfológicas que ocorreram nos processos evolutivos, pois
a partir delas, a cultura humana pode ser explicada. Dentro dela, alguns pesquisadores
seguem o conceito de uma evolução progressiva e adaptável, que representa uma
vantagem adaptativa que a torna seletivamente geracional. Enquanto outros, seguindo
mais os critérios dos equilíbrios pontuados, acham que as mudanças podem ser mais
rápidas, e nem todas devem ser a princípio, vantajosas. O conjunto de mudanças
ocorridas nos grupos devem ser consideradas como valores adaptativos e considerar
cada um não como um indivíduo isolado e sim como membro de uma sociedade, um
grupo relacional. Este direcionamento engloba os conceitos evolutivos de caráter
exaptativo (como sendo a utilização de uma estrutura ou característica para uma função
diferente daquela para a qual foi desenvolvida através da seleção natural), onde para a
Psicologia, seria um tipo de emergência cognitiva. Assim, depois de uma evolução
neurológica e, portanto, cognitiva, as mudanças comportamentais nem sempre
aparecem, mas depois, e dependendo das características ambientais, ocorreriam. No
entanto, ambas as possibilidades evolutivas podem ocorrer independentemente ou em
conjunto, o que deve ser estudado com os dados do registro arqueológico e
paleontológico. Com a Genética, houve uma enorme contribuição, pois se possibilitou o
acesso a informações sobre populações humanas que dificilmente poderiam ter sido
obtidas por outros meios. Exemplos de cronologias baseadas nos relógios moleculares
do DNA mitocondrial, ou o desenvolvimento de sequências de DNA de neandertais e
humanos modernos, podem nos dar uma ideia do seu alcance. A Neurologia atual
concebe o cérebro como um órgão dinâmico e funcional, dependente de informações
externas para se configurar de forma definitiva, assim como se manter funcional. Ao
nascermos, é imaturo, mas sua organização funcional (cognitiva e simbólica) depende
de mecanismos qualitativos de estímulo que recebe. Tais mecanismos se correlacionam
com o modelo evolucionário de exaptação e/ou surgimento cognitivo e explicam, em
certa medida, as características do desenvolvimento cultural humano. Na Psicologia,
existem orientações teóricas divergentes, pois a P. Evolutiva contempla a evolução lenta
e seletiva, captando os processos de desenvolvimento de caráter, enquanto que a P.
Cognitiva, está relacionada ao processamento de informação pelo cérebro humano
(Belinchón & alii, 1992), mergulhando em maior profundidade nos processos
exaptativos e emergentes, com um papel maior nas condições ambientais e dependendo
das condições ambientais, dependendo da interdisciplinaridade, há uma conexão com a
Neurologia, Arqueologia e Ciências Sociais. Ciências Sociais – Diante da natureza
social dos seres humanos, faz-se necessária a utilização da Antropologia Social, da
Sociologia e da Demografia para explicar seu desenvolvimento cognitivo e cultural.
Essas ciências sempre foram utilizadas no estudo das relações humanas, tendo especial
importância na explicação da evolução cultural, afetando todos os aspectos
(desenvolvimento psicológico, linguístico, sociocultural etc.). Linguagem – Por
depender do aspecto social, tem necessidade de possuir um meio adequado de
comunicação entre os grupos, por isso a Linguística é incluída na A. Cognitiva,
especialmente na sua relação com a Psicologia, a Neurologia e as Ciências Sociais, não
se limitando aos aspectos puramente linguísticos da articulação sonora (fala). Todos
concordam com a importância que a linguagem teve na evolução cultural humana, mas
não na forma e no momento em que foi iniciada e atuada. Alguns apoiam o surgimento
precoce da linguagem, juntamente com os primeiros fósseis humanos (Falk, 1992,
Tobias, 1998). Registro Arqueológico – Deve ser considerado como um marcador dos
eventos ocorridos em tempos pretéritos, pois indicam o local e o momento das
mudanças no comportamento humano. Caso hajam novas descobertas e os dados
arqueológicos forem alterados, o método desenvolvido a partir das ciências anteriores
deve ter flexibilidade teórica suficiente para poder continuar respondendo às questões
do novo registro arqueológico.

Interdisciplinaridade Científica - O uso de conceitos interdisciplinares deve ter como


condição metodológica a falta de oposição teórica entre as ciências utilizadas, sendo o
acordo teórico uma condição essencial. Nesse sentido, a aceitação de uma ou outra
orientação metodológica dentro de uma disciplina acadêmica, deixará de depender do
critério particular do pesquisador, mas de sua adaptação aos conceitos teóricos dos
demais e de todos eles entre si, o que diminui a subjetividade substancialmente
científica. Por não haver um critério único nos estudos da cognição pretérita, deve-se
procurar saber o que é caracteristicamente atual (vestígio arqueológico), qual ciência ele
“usa” e se tem correlação com critérios evolutivos interdisciplinares (genético,
psicobiológico, social e linguístico).

Estruturalismo Interdisciplinar na Arqueologia Cognitiva – Tem as características


mais adequadas para o desenvolvimento da A. Cognitiva, em consoante com as ciências
já relacionadas. Influência do Meio e o Desenvolvimento Cognitivo – A adaptação
ambiental como mecanismo de evolução cultural é o principal axioma dos
processualistas (D'Errico & Stringer, 2011). Entretanto, dois critérios gerais podem ser
estabelecidos sobre as formas de iniciação e desenvolvimento da cultura; aqueles que
dão mais importância à dependência genética, e aqueles que se baseiam mais na
influência ambiental. No segundo contexto, vários critérios científicos indicam que o
desenvolvimento do comportamento dependeu não só das habilidades cognitivas de
seus autores, mas também das características ambientais (socioculturais, demográficas,
linguísticas, etc.) nas quais ele viveu, sendo aquelas que configuraram seu
desenvolvimento. O processamento de informações, alvo da Psicologia Cognitiva,
indica que qualquer déficit de interação social ocasiona uma deterioração cognitiva em
seus aspectos emocionais, racionais e linguísticos. Dento do seu campo de análise, a
Neurologia provou que a formação de redes neurais depende da quantidade e qualidade
dos estímulos sensoriais que o cérebro recebe desde o nascimento e passando pelos
períodos críticos. A aceitação da importância ambiental no desenvolvimento cognitivo e
cultural implica em uma correlação interdisciplinar teórica com outras disciplinas. Os
conceitos neurológicos de imaturidade ao nascer, plasticidade neurológica, período
crítico (fases de desenvolvimento) e modo particular de estruturar redes neurais
dependendo da intensidade e qualidade dos estímulos que recebe, são congruentes com
as características comportamentais do paradoxo sapiente de Renfrew. Estruturalismo
Funcional (Rivera, 2004) – Com a elaboração de um estruturalismo funcional e
interdisciplinar baseado na realidade psicobiológica do ser humano, tenta-se superar as
limitações do estruturalismo como metodologia explicativa. Para isso, o que é comum a
todos os seres humanos é usado, assim como as características psicobiológicas do nosso
gênero, que podem ser aplicadas tanto aos seres humanos atuais quanto àqueles que
desenvolveram as culturas paleolíticas. Diante disso, a união interdisciplinar das
ciências utilizadas segue o seguinte padrão: Conceitos Evolutivos: A evolução é
entendida como um fenômeno multifatorial de grande complexidade, onde os
mecanismos de produção da mudança morfológica são consequência da ação conjunta
de diversos fatores, e o funcionamento diferente dos genes estruturais e reguladores e da
própria embriogênese produzem mudanças relativamente rápidas em várias áreas do
corpo. Características Neurológicas: O grande desenvolvimento evolutivo das áreas
de associação terciária, a plasticidade do sistema nervoso e a constante interação com o
ambiente são fundamentais para o desenvolvimento pós-natal humano. A partir da
interação cérebro-ambiente, uma organização funcional (maturação neurológica)
característica de cada indivíduo (organização psicológica) é produzida. Organização
Psicológica: A abordagem da psicologia cognitiva (processamento de informação)
concebe o cérebro humano como um sistema neurológico capaz de receber, processar,
armazenar e recuperar a informação que chega através dos seus sentidos e a
funcionalidade das habilidades cognitivas é responsável pelo comportamento humano.
Dividem-se em Capacidades Cognitivas Primárias, aquelas responsáveis pelo
aumento evolutivo e quantitativo nas áreas de associação do córtex cerebral, são inatas e
se manifestam com o desenvolvimento neurológico simples, porém dependem de
características ambientais - memória, funções executivas, atenção, motivação,
criatividade, raciocínio, percepção, etc. - quanto do uso que delas é feito. As
Capacidades Cognitivas Emergentes seriam derivadas da consequência de um
aumento evolutivo qualitativo e seu desenvolvimento é realizado através da influência
do ambiente cultural, surgindo novas capacidades (consciência reflexiva, elaborado
simbolismo, etc.). Considerações Sociológicas: O comportamento e a linguagem são
criações sociais que os seres humanos geraram a partir das suas capacidades evolutivas
e por meio delas, as inter-relações entre os componentes de um grupo específico entre
os outros, porém as características socioculturais adequadas para a produção e
sobrevivência do desenvolvimento cognitivo humano devem ter ser sido criadas
anteriormente.

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