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públicas da educação e as práticas reais das escolas e salas de aula. Como não se
formam há décadas, rigorosamente falando, pedagogos de profissão e
pesquisadores na área do ensino, as políticas educacionais e boa parte das
pesquisas ignoram a realidade das salas de aula. É incômodo ler nas conclusões de
Gatti e Nunes (2009, p. 55) sobre os cursos de licenciatura em pedagogia que “a
escola, enquanto instituição social e de ensino, é elemento quase ausente nas
ementas” e, com isso, a formação profissional não é integrada ao contexto concreto
em que o profissional-professor irá atuar. Não surpreende que os temas da escola e
do ensino nas políticas educacionais estejam praticamente por conta de
organizações mantidas pelos reformadores empresariais da educação (Freitas,
2011), em que executivos e economistas passam a monitorar questões pedagógico-
didáticas.
Por outro lado, é forçoso admitir que em boa parte dos cursos de formação
de professores persiste a didática prescritiva e instrumental acompanhada de uma
pedagogia com conteúdos e métodos tradicionais (Libâneo, 2010b), num contexto
em que as questões de ensino-aprendizagem se cercam de complexidade cada vez
maior, exigindo revisões, atualizações, relações com outros campos de
investigação. Além disso, não está fora de propósito o alerta feito em recentes
estudos de que a produção acadêmica na área da educação parece não estar
chegando aos professores da educação básica e nem levando a mudanças
significativas na formação inicial e continuada (Gatti; Nunes, 2009; Gatti; Barretto;
André, 2011; Libâneo, 2010b), portanto, afetando pouco o campo disciplinar e
profissional.
2010a; Marandino, 2011; Veiga, 2011). Há grupos com pesquisas voltadas para a
sala de aula em temas como metodologias de ensino de alfabetização e de
disciplinas, ensino e contextos socioculturais, ensino em ambientes virtuais,
educação infantil, aprendizagem e interações discursivas.
O processo didático [...] tem seu centro no encontro formativo do aluno com a
matéria de ensino. [...] Todo ensino eficiente é mais do que mera transmissão de
material e exercitação de habilidades. Deve conduzir ao encontro formativo
com os conteúdos didáticos indicando, assim, ao aluno o caminho da
autoformação e, finalmente, despertar nele a aspiração cultural que repercutirá
através de toda a vida, para além da escola (Id., p. 23). Grifos do autor
Com base nessa formulação teórica, se conclui que a didática se define como
um campo científico interdisciplinar cujo objeto é o ensino orientado para a
aprendizagem e cujo propósito é prover a organização adequada da atividade de
ensino e aprendizagem com vistas ao desenvolvimento de capacidades intelectuais
e formação da personalidade integral dos alunos. Em sua natureza, a didática
oferece as condições e os modos de mediação da relação dos alunos com os objetos
de conhecimento, com vistas à apropriação e internalização da experiência social e
histórica da humanidade expressa nos conteúdos científicos e artísticos. A didática
é uma disciplina pedagógica, ou seja, um ramo da pedagogia, ao lado de outras
disciplinas como a teoria da educação, a teoria da organização escolar, a teoria da
escola, psicologia educacional. Pode ser entendida como uma disciplina unitária
que abarca em seu campo teórico-investigativo a didática básica (que compreende
a teoria do ensino e as características do ensino-aprendizagem em seu conjunto) e
as didáticas disciplinares que, em articulação com a didática básica, estuda as
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Por sua vez, Pimenta escreve que o objeto de estudo da didática é o ensino
em situação, “em que a aprendizagem é a intencionalidade almejada e na qual os
sujeitos imediatamente envolvidos (professor e aluno) e suas ações (o trabalho
com o conhecimento) são estudados nas suas determinações histórico-sociais”
(1997, p. 63). A superação da fragmentação mencionada depende do
reconhecimento do caráter social do ensino em que está presente a
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