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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
FUNDAMENTOS SOBRE A
PSICANÁLISE LACANIANA

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
FUNDAMENTOS SOBRE A
PSICANÁLISE LACANIANA

MÓDULO III

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou
distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do
conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências
Bibliográficas.

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MÓDULO III

7 AS CLÍNICAS: ESTRUTURALISTA E BORROMEANA

FIGURA 19

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

Neste módulo, abordaremos sobre as clínicas lacanianas:


estruturalistas e borromeanas. Estas duas abordagens são importantes para
diferenciar as neuroses das psicoses.

7.1 A CLÍNICA ESTRUTURALISTA

a) Teoria freudiana

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Para a Psicanálise, o delírio e a alucinação psicótica encerram uma
significação para o sujeito, assim como a fala, sonhos, chistes, sintomas e atos
falhos para o neurótico. Conforme Coutinho (2005), o comportamento do
psicótico é expresso por meio de maneirismo e estereotipias. Para o autor, o
louco tem uma forma própria de razão que é expressa em atos e palavras que
seriam a chave para interpretação.
As psicoses significam uma severa falência das operações defensivas.
Os estados: neurótico e psicótico se diferem em termos quantitativos e não
qualitativos. A neurose é uma tentativa de adaptação à realidade, enquanto,
para a psicose é a perda total da realidade. O mecanismo de defesa da
neurose é o recalque e o da psicose é a foraclusão, ou seja, aquilo que está
fora da consciência.
“Na psicose acontece uma ruptura entre o ego e a realidade, ficando o
ego sob o domínio do id, isto é, dos impulsos”. (BOCK; TEXEIRA, 1999, p.
352). O psicótico nega a realidade e constrói outra, não há uma adaptação
como no caso do neurótico. A falha na função paterna não permite a
construção da relação Eu-Outro. O psicótico apresenta um sentimento de
rejeição e de vazio psíquico. Ele percebe a realidade de maneira hostil, por isso
responde com hostilidade.

b) Teoria lacaniana

Na concepção lacaniana, o diferencial entre neurose e psicose se


estabelece por meio da denominação “O nome do pai” – Lei. “O nome do pai é
quem limita e ordena o funcionamento da cadeia de significantes, ou seja, faz o
corte e promove o surgimento da castração simbólica do sujeito”. (LACAN,
1955-56, p. 585). A lei está presente na neurose, entretanto na psicose não se
estabelece a lei.
A função paterna é fora concluída, não há simbolização da separação
do sujeito em relação ao Outro. O que importa é a linguagem presente nesta
estrutura que pode ou não funcionar como forma de suplência da metáfora
paterna.

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A ausência da metáfora paterna e a abolição da lei simbólica mantêm
o sujeito à margem da castração e sem acesso ao significante fálico.
A falta deste significante na cadeia impede a entrada do sujeito na
linguagem, com seus delírios e alucinações, marcas das psicoses.
(LACET, 2004; COUTINHO, 2005, p. 51).

No Seminário sobre as psicoses, Lacan (1955-56) descreve os fatores


provenientes da psicose: “(...) há uma relação especial do psicótico com a
linguagem que determina o sujeito. O psicótico é um testemunho aberto do
inconsciente e a psicanálise, neste sentido, legitima o discurso delirante”.
(LACAN, 1955-56, apud MEYER, 2008, p. 306).
No Seminário sobre Le Sinthome (1975), Lacan se refere à condição
parasita da palavra e da linguagem. Ele assinala que todo ser humano, ou seja,
todo ser que está mergulhado na linguagem, é de certa forma, vítima da
condição parasitária da palavra.
Lacan (1975-76) diz:

A questão é mais saber por que é que um homem, dito normal, não
percebe que a palavra é um parasita? Que a palavra é uma
cobertura. Que a palavra é a forma de câncer pela qual o ser humano
é afetado. (LACAN, 1975, p. 95).

Esta afirmação nos coloca diante da diferença que marca a relação do


sujeito na psicose com a linguagem, encontrando-se no lugar de refém de sua
condição parasitária, invadido por ela, manipulado por ela. (MEYER, 2008, p.
308).

7.2 A CLÍNICA BORROMEANA “O SINTOMA”

Lacan propõe um nó de três elos – real, simbólico e imaginário –, que


representam a estrutura subjetiva. No entanto, com a falha nesta estrutura,
Lacan conclui a necessidade de atribuir um quarto elemento. Este quarto
elemento tem a função de sintoma que funciona em suplência ao significante
nome-do-pai. Lacan (1975, p. 134) afirma que o sintoma é “a maneira como
cada um goza”. Ele toma o sintoma neurótico como uma função da metáfora,

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estruturado a partir do significante primordial – NP. A falha no significante
primordial implica a constituição da estrutura psicótica.
A neurose está vinculada a uma solução subjetiva, enquanto na
estrutura da psicose deve ser verificado cada caso separadamente, pois cada
indivíduo desenvolve a sua própria solução modulada aos três registos. As
possibilidades de saída funcionarão como tratamento da psicose.
O nó borromeano é considerado como uma ferramenta da clínica.
Neste sentido, os registros psíquicos permitem pensar os efeitos subjetivos, ao
mesmo tempo sobre o significante e o gozo, a partir de sucessivos e diferentes
cortes realizados pelo analista.

8 ESTRUTURAS CLÍNICAS: NEUROSE, PSICOSE E PERVERSÃO

8.1 CONCEITO DE NEUROSE

FIGURA 20

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

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A neurose define-se como: “sintomas, distúrbios do comportamento,
das ideias e dos sentimentos advindos de um conflito psíquico”. (BOCK;
TEXEIRA, 1999, p. 351).

8.2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS NEURÓTICOS

As principais síndromes neuróticas podem ser descritas e classificadas


da seguinte forma: transtorno de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC) e histeria.

8.2.1 Transtorno de Pânico

a) Conceito de transtorno de pânico

O transtorno do pânico corresponde a uma manifestação de medo que


surge sem aviso e sem nenhum motivo aparente. Segundo o DSM-IV (1995), o
transtorno de pânico é caraterizado por ataques de pânico inesperados e
recorrentes, acerca do qual o indivíduo se sente constantemente ameaçado.

b) Sintomas do ataque de pânico

De acordo com DSM-IV (1995), os ataques de pânico são


caraterizados pelos principais sintomas:
Físicos: palpitação, taquicardia, sudorese, tremores ou abalos, asfixia,
fôlego curto, dor ou desconforto no peito, náusea ou desconforto abdominal,
tontura, sensação de desmaio, calafrios.
Emocionais: medo de morrer, sensação de vazio (angústia),
desamparo, terror, medo de perder o controle, sensação de estranheza, medo
em geral.

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Vale ressaltar que a distinção entre sintomas físicos e psíquicos não é
rígida e frequentemente se apresentam inter-relacionados.

c) Origem do transtorno de pânico

Vários fatores estão associados à origem do transtorno de pânico.


Fatores hereditários, assim como alterações nas substâncias químicas que
existem no cérebro e que são responsáveis pela transmissão de impulsos
nervosos entre uma célula e outra.
Esse transtorno pode aparecer na infância ou ser precipitado na vida
adulta, por fatores de origem emocional. O medo pode ser entendido como
reação de alarme. Em situações normais, o indivíduo reage fugindo e
defendendo-se da ameaça. As reações fisiológicas são: batimento cardíaco
acelerado, sudorese, tensão muscular, tremores. Estas reações são respostas
adaptativas normais.
Entretanto, a mesma reação de alarme pode ser desencadeada de
uma forma repentina em determinadas situações onde não existe perigo,
geralmente uma interpretação distorcida da realidade. As reações de medo são
as mesmas, podendo chegar ao pânico. O indivíduo que apresenta o
diagnóstico de pânico evita determinadas situações que provoca desconforto
ou ansiedade.

d) Critério de diagnóstico

Devemos considerar alguns critérios para diagnosticar o transtorno de


pânico. Um episódio de ataque de pânico isolado não preenche os requisitos, é
necessário que os ataques sejam recorrentes e não precipitados por uma
situação. É possível que o transtorno de pânico seja confundido com outras
doenças orgânicas ou psiquiátricas, por isso é necessário estabelecer um
diagnóstico diferencial.

e) Tratamento

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O fator primordial no início do tratamento é a redução dos ataques de
pânico com uso dos medicamentos. O conhecimento pelo paciente de sua
doença, evolução, efeitos dos medicamentos são necessários. É importante
também que o paciente seja acompanhado por um psicoterapeuta para que o
tratamento seja mais eficiente.

8.2.2 Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

a) Conceito de transtorno obsessivo-compulsivo

O transtorno obsessivo-compulsivo se divide em dois subtipos: ideias


obsessivas e comportamentos compulsivos. É comum encontrar no indivíduo
tanto a obsessão quanto a compulsão. O DSM-IV (2005) categoriza os
transtornos obsessivo-compulsivo em transtornos de ansiedade.

b) Sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo

O transtorno obsessivo caracteriza-se por ideias, pensamentos,


fantasias ou imagens persistentes, que surgem de forma recorrente na
consciência e como algo que invade a consciência. “Já nas síndromes
compulsivas predominam os comportamentos e rituais repetitivos como, por
exemplo, lavar as mãos inúmeras vezes”. (DALGALARRONDO, 2000, p. 197).
Os comportamentos compulsivos podem surgir também como forma de cumprir
regras rígidas.

c) Tratamento

O tratamento do TOC consiste utilizar medicamentos antidepressivos


inibidores da recaptação de serotonina. Além de medicamentos também
existem algumas técnicas psicoterápicas que podem ajudar o paciente.

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8.2.3 Histeria

a) Conceito de histeria

A histeria é caraterizada pela conversão de impulsos inaceitáveis


reprimidos no inconsciente; não aparenta nenhuma lesão no sistema
neuromotor e é acompanhada de instabilidade emocional.

b) Classificação da histeria

Dalgalarrondo (2000) classifica a histeria como: de conversão e


dissociativa. Na histeria de conversão os sintomas e perturbações corporais
são muito variados: paralisias, anestesias, analgesias e afonias. Enquanto na
histeria dissociativa ocorrem alterações na consciência, amnésias e
alucinações.
Podemos apontar diversos traços da síndrome da histérica como:
teatralidade, exibicionismo, sedução, simulação, frieza emocional e dissociação
defensiva sexual.

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8.3 CONCEITO DE PSICOSE

FIGURA 21

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

“As síndromes psicóticas caracterizam por sintomas típicos como:


alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamento bizarro”.
(DALGALARRONDO, 2000, p. 201).

8.3.1 Caraterísticas e Sintomas Típicos da Psicose

Os principais sintomas da psicose são descritos como:


 Eu fragmentado.
 Percepção narcísica.
 Foraclusão (mecanismo de defesa).
 Alucinações (alteração sensorial e perceptiva).
 Delírios (alteração do pensamento).
 Confusão mental.

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 Despersonalização (relação de estranheza em relação a si mesmo
e ao seu corpo).

8.3.2 Classificação da Psicose

As psicoses podem ser descritas e classificadas da seguinte forma:


paranoide, esquizofrenia, transtorno bipolar, melancolia e depressão.

8.3.2.1 Paranoide

a) Conceito de paranoide

A paranoide pode ser definida como uma psicose crônica, caraterizada


por delírios, enfraquecimento intelectual, delírios de ciúmes, de perseguição, de
grandeza.

b) Características da paranoide

As principais caraterísticas da paranoide são descritas como:


 Recusa qualquer elemento acidental às manifestações psíquicas
do outro.
 Ponto de fixação: fase anal, regressão, narcísico e componente
sexual.
 Retração da libido com a regressão do eu.
 Princípio da realidade é ignorado no delírio.
 O sentimento de culpa dá lugar à desconfiança.

c) Classificação da paranoide

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A paranoide é classificada segundo o DSM-IV (1995) como: transtorno
delirante e transtorno da personalidade paranoide. O transtorno delirante é
caraterizado por delírios sistematizados, alucinações e prejuízo do
funcionamento da personalidade, enquanto o transtorno da personalidade
paranoide é descrito como a desconfiança e suspeita em relação aos outros.

d) A paranoide como um mecanismo de repressão

Freud (1911) explica que na paranoide, por exemplo, o processo de


repressão passa por três fases: a fixação, a repressão propriamente dita e o
retorno do reprimido. O retorno do reprimido toma seu impulso justamente do
ponto de fixação, regredindo o desenvolvimento da libido a esse ponto. Freud
(1911, p. 95) lembra que: “a maioria dos casos de paranoide exibe traço de
megalomania. Na paranoide, a libido vincula-se ao ego e é utilizada para o
engrandecimento deste”.

8.3.2.2 Esquizofrenia

a) Conceito de esquizofrenia

A esquizofrenia possui dois termos que são: skheizein = divisão,


separar e phrên ou phrénos = pensamento. Assim, considera-se a
esquizofrenia como “uma fenda ou cisão do pensamento ou ainda pensamento
dissociativo”. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 189).
A esquizofrenia é a mais importante das psicoses. Bock & Texeira
(1999, p. 352) a definem como:

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O afastamento da realidade. O indivíduo entra num processo de
centramento em si mesmo, no seu mundo interior, ficando,
progressivamente entregue às próprias fantasias. Manifestações
incoerentes ou desagregação do pensamento, das ações e da
afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados. A
caraterística fundamental da esquizofrenia é seu quadro progressivo,
que leva a uma deterioração intelectual e afetiva.

Segundo Organização Mundial da Saúde – CID.10 (1999), a


esquizofrenia é uma doença mental que atinge aproximadamente 1% da
população mundial. O transtorno altera o comportamento do indivíduo,
podendo levá-lo a alucinações (principalmente auditivas), delírios, perda
emocional, falta de noção da realidade, o que acaba gerando preconceito e
exclusão social.

b) Características da esquizofrenia

As principais caraterísticas da esquizofrenia podem ser descritas como:


 Dissociação da vida psíquica.
 Narcisismo: ele é o centro do universo “o senhor da certeza”.
 Neologismo: criar ou dar sentido a palavras que não existem.
 Negação e rejeição: mecanismos de defesa.
 Dificuldades sexuais: o corpo fica em evidência para possíveis
mutilações.
 Dificuldade de construir uma nova identidade.
 Alienação: alucinações, delírios e dificuldade de entrar em contato
com a realidade.
 Discurso desorganizado, desconexo e empobrecido.
 Distúrbio do pensamento: as ideias não são organizadas de
maneira lógica, exemplo, agitação, catatonia.
 Comportamento bizarro.
 Falha na capacidade de simbolização.
 Embotamento afetivo: diminuição da capacidade de expressar as
emoções.

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Segundo o DSM-IV (1995) os sintomas de (1 a 5) devem estar
presentes com duração significativa, por período de pelo menos um mês. Os
principais são: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento
catatônico, sintomas negativos (embotamento afetivo, alogia, avolição),
disfunções sociais no trabalho e/ou estudo, denotando perdas nas habilidades
interpessoais e produtivas.
As alucinações relacionadas à esquizofrenia podem envolver qualquer
sentido, são percepções falsas ou distorcidas que parecem ser reais. Elas são
frequentemente persistentes como, por exemplo, alucinações de vozes que
dizem o que o sujeito deve ou não fazer. As alucinações auditivas aparecem
em primeiro lugar.
Holmes (1997, p. 5) explica que as alucinações são experiências sem
fundamento na realidade. “O indivíduo vê, ouve, sente coisas que não estão
presentes. Normalmente, as coisas que ouvem dizem respeito ao
comportamento, com ordens, conselhos e comentários”.
Além dos sentidos afetados, o indivíduo também pode vivenciar
transtornos na percepção e na fala. O sujeito pode ter um discurso
completamente desconexo da realidade. As palavras, ideias e expressões
aparecem desorganizadas, sem sentido. O indivíduo com diagnóstico de
esquizofrenia leve e com uma inteligência normal, pode apresentar um discurso
que parece ser coerente, mas em algum momento ele expõe palavras que não
fazem sentido com a realidade.
De maneira geral, a esquizofrenia manifesta sintomas que são fáceis
de reconhecer e identificar. Podem ser agudos, crônicos ou de aparição
intermitente. Vale ressaltar que, em alguns casos, um indivíduo normal pode
demostrar uma repentina manifestação de sintomas esquizofrênicos, sem por
isso, ser uma pessoa esquizofrênica.
É importante considerar também a cultura, pois nem todos os países
consideram a ideia de esquizofrenia como patologia ou doença. Os delírios e
alucinações são manifestações que ligam o sujeito a outros atos contextos, que
muitas vezes são vivenciados em cultos a deuses, espíritos ou forças ocultas.

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c) Tipos de esquizofrenia

O DSM-IV (1995) inclui três subtipos de esquizofrenia: paranoide,


catatônica e desorganizada ou hebefrenia.
 Tipo paranoide: caracterizam-se pela presença de delírios,
alucinações, no entanto, o indivíduo com o diagnóstico de
esquizofrenia paranoide não apresenta distúrbios cognitivos,
comportamentais e nem sintomas negativos.
 Tipo catatônico: é caraterizada por ações perturbadoras, como
excitação extrema, postura ou caretas bizarras, ou ficar
totalmente imobilizado.
 Tipo desorganizado ou hebefrenia: caracterizam-se por fala e
comportamentos gravemente desorganizados. Os delírios e as
alucinações estão presentes de forma desorganizada.
E, por fim, a esquizofrenia que não se enquadra em nenhuma dos
subtipos anteriormente citados. O tipo de esquizofrenia indefinida que é comum
em indivíduos que apresentam combinações de sintomas positivos e negativos
do transtorno.

d) Origem da esquizofrenia

Usualmente, a doença se inicia com episódio agudo, caracterizando


por manifestações psicomotoras. As causas da esquizofrenia são ainda
desconhecidas. Porém, há consenso em atribuir a desorganização da
personalidade, verificada na esquizofrenia, à interação de variáveis culturais,
psicológicas e biológicas, entre as quais se destacam as de natureza
genéticas.

e) Tratamento

O desenvolvimento de várias medicações e intervenções psicossociais


tem melhorado a perspectiva de muitos pacientes com o diagnóstico de

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esquizofrenia. Os medicamentos utilizados para tratar a esquizofrenia são
conhecidos como agentes antipsicóticos, também chamados tranquilizantes
maiores ou neurolépticos. Estes medicamentos reduzem de forma significativa
os sintomas do transtorno. Porém, seus efeitos colaterais podem ser similares
à produção de sintomas da doença de Parkinson.
Acompanhamento e intervenções psicossociais podem ajudar os
pacientes e seus familiares a aprenderem a controlar o transtorno, reduzindo
os delírios e as perturbações.
Estes são os quatros componentes principais do tratamento da
esquizofrenia:

 Medicamentos para aliviar sintomas e prevenir recaídas.


 Sessões de psicoterapia: que têm como objetivos reduzir e aliviar
sintomas negativos, prevenir recaídas, melhorar as habilidades
sociais do paciente e fornecer estratégias de tratamento.
 Educação e intervenções psicossociais para ajudar os pacientes e
seus familiares a solucionar problemas, lidar com a doença e
ajudar a prevenir recaídas.
 Reabilitação social para ajudar os pacientes a se reintegrarem na
sociedade.

A medicação associada à terapia leva a um melhor resultado do que


qualquer tratamento isolado. Os medicamentos são necessários, mas nunca
suficientes, enquanto há uma melhora na reabilitação social pelo uso da
terapia.

8.3.2.3 Transtorno bipolar

a) Conceito de transtorno bipolar

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O transtorno bipolar é também conhecido como transtorno ou distúrbio
do humor.

É caraterizado por oscilações de humor, uma tendência de cura


espontânea e recaída, bem como por um início em que parece não
haver acontecimento ambiental precipitador. Os pacientes com este
transtorno não costumam apresentar todos os sinais e sintomas de
mania ou depressão, mas em alguns episódios da doença
apresentam pelo menos alguns deles em graus de intensidade
variado de leve a grave. (MARTIN, 1977, p. 34).

O mesmo autor enfatiza que os pacientes com episódios depressivos


repetidos são muito mais comuns do que pacientes que sentem apenas
episódios maníacos ou pacientes que oscilam entre reações maníacas e
depressivas. Por isso, os erros de diagnóstico são tão frequentes neste quadro.
É preciso investigar ao decorrer da história de vida do indivíduo se existe algum
episódio maníaco e não apenas tomar a depressão como um único sintoma.
De acordo com o DSM-IV (1995), o transtorno bipolar é caraterizado
por um período de tempo mínimo de uma semana, durante o qual são
satisfeitos os critérios tanto para episódio maníaco quanto episódio depressivo
maior, durante quase todos os dias. O indivíduo apresenta uma rápida
alternância do humor (tristeza, irritabilidade, euforia) acompanhada dos
sintomas de um episódio maníaco e de episódio depressivo maior.

b) Sintomas do transtorno bipolar

Os principais sintomas do transtorno bipolar podem ser descritos como:

Agitação, insônia, desregulação do apetite, aspectos psicóticos e


comportamento suicida. A perturbação deve ser suficientemente
grave para causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou
ocupacional ou exigir a hospitalização, ou é marcada pela presença
de sintomas psicóticos. (DSM-IV, 1995, p. 358).

De acordo com Organização Mundial de Saúde CID-10 (1999), a


característica principal desse transtorno é a alteração do humor, quer seja para
o ciclo depressivo, com ou sem ansiedade, ou para o ciclo eufórico ou exaltado
– elação, hipomania, mania. Nas duas possibilidades, a alternância do humor

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pode levar a um prejuízo nas atividades desempenhadas e na qualidade de
vida.
Conforme Hilty (1999, p. 201), “aproximadamente 25% dos pacientes
com o transtorno bipolar tentam suicídio em alguma etapa de suas vidas e,
destes, cerca de 11% completam este intento”. No quadro de depressão,
percebe-se uma disposição elevada para o suicídio. Quando o indivíduo se
encontra no ciclo depressivo a probabilidade de ele pensar em si matar é muito
maior. Neste caso, os profissionais e familiares devem estar prevenidos para
qualquer tentativa de suicídio.

c) Classificação do transtorno bipolar

O DSM IV (1995) divide o transtorno bipolar em: transtorno bipolar tipo


I, transtorno bipolar tipo II e transtorno ciclotímico (ciclotimia). Vejamos cada
um:

O transtorno bipolar tipo I se apresenta como um curso clínico


caraterizado pela ocorrência de um ou mais episódios maníacos ou episódios
mistos. Já o transtorno bipolar tipo II é marcado pela ocorrência de um ou mais
episódios depressivos maiores, acompanhados de pelo menos um episódio
hipomaníaco. Os indivíduos com transtorno bipolar tipo II podem não ver os
episódios hipomaníacos como patológicos, embora outras pessoas possam
sentir-se perturbadas pelo comportamento errático do indivíduo.
A caraterística essencial do transtorno ciclotímico é uma perturbação
crônica e flutuante do humor, envolvendo numerosos períodos de sintomas
hipomaníacos e numerosos períodos de sintomas depressivos.

d) Mania, hipomania e depressão

Segundo Moreno (2005), a mania afeta o humor e as funções


vegetativas, tais como: sono, cognição, psicomotricidade e nível de energia. O
principal sintoma da mania é um estado de humor elevado e expansivo,

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eufórico ou irritante. A pessoa pode se sentir com uma alegria contagiante ou
uma irritação agressiva. É possível que o indivíduo acometido de mania
apresente alguns sintomas como: sentimento de grandiosidade, gastos
exagerados, aumento da atividade motora e sexual, distração, falta de
conhecimento sobre a seu quadro de humor e envolvimento por atividades
perigosas.
A hipomania é um estado semelhante à mania, porém em um grau
mais leve. Já a depressão patológica é um dos sintomas principais do
transtorno bipolar. A sua origem está relacionada a fatores afetivos que são
pouco compreendidos pelo indivíduo e seus familiares.

e) Tratamento

Ao diagnosticar um paciente com transtorno bipolar, é preciso levar em


consideração a frequência e intervalos dos episódios. Embora o tratamento
com medicamento seja o mais indicado, ainda há muitos pacientes que
permanecem sintomáticos. Muitos autores sugerem que deva ser associado à
medicação com a psicoterapia.
O medicamento utilizado no tratamento do transtorno bipolar é o lítio,
uma substância capaz de diminuir os sintomas maníacos e depressivos do
paciente. O lítio age exatamente nos ciclos de mania e depressão, prevenindo
as recaídas. No entanto, com qualquer outro medicamento, o lítio também
apresenta seus efeitos colaterais.
É importante que seja feito um acompanhamento laboratorial para
verificar os níveis de lítio no sague do paciente. Quando o nível de lítio no
sangue é muito baixo, os sintomas maníacos permanecem, mas quando os
níveis são elevados pode ocorre à intoxicação.
Normalmente, muitos psiquiatras acompanham os níveis de lítio e a
recuperação após o seu uso, além de introduzir a Psicoterapia como um
recurso eficaz para a estabilização da bipolaridade.

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8.3.2.4 Melancolia

FIGURA 22

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

a) Conceito de melancolia

A melancolia é uma síndrome depressiva, advinda da psicose


maníaco-depressiva. As principais caraterísticas da melancolia são: a
ansiedade e agitação, incluindo sintomas de depressão.

b) Caraterísticas e sintomas da melancolia

Os principais sintomas da melancolia são descritos como: tristeza


irremediável, dor moral, tristeza vital, inibição da atividade geral do organismo,
alteração dos diversos ritmos biológicos, diminuição da autoestima,
autorrecriminação, culpa e punição.

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c) Luto e melancolia

FIGURA 23

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

No texto “Luto e melancolia”, Freud (1917, apud DRUBSCKY, 2008 p.


4) descreve o processo subsequente à perda do objeto.

(...) a perda do objeto pode ocorrer de duas formas muitos parecidas:


o luto ou a melancolia. Com a perda do objeto o indivíduo se
interessa por tudo à sua volta, restringindo seu campo de atividade.
Na melancolia há diminuição da autoestima e autorrecriminação. Na
melancolia a perda do objeto resulta na identificação com este e, ao
invés da libido, desloca para outro objeto, retorna para o eu. Assim, o
eu se torna vazio, ocorre a perda do eu identificado narcisicamente
com o objeto perdido.

O luto é entendido na concepção freudiana como um estado de


depressão proveniente da perda de um ente querido. O processo de luto faz
com que o ego se retraia diante das possibilidades, mas é só por um período.
Logo o indivíduo adota um novo objeto de referência. Já na melancolia, o
processo é definido como um sentimento impotência, de sofrimento e fraqueza.
É comum perceber no processo melancólico a incapacidade de recuperação do
indivíduo. A identificação é no objeto perdido. O ego torna-se frágil e não
consegue deslocar para nenhum objeto.

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O melancólico nem sempre chora pelo objeto perdido, mas uma perda
de referência e de sentido da vida. De acordo com Silva (2003), existem duas
explicações possíveis para a reação doentia de luto:

A primeira tem a ver com o próprio perfil psicológico da pessoa, sua


maior ou menor tendência a deprimir-se e a perda, nesse caso, seria
apenas o desencadeante de um quadro que, mais dia, menos dia, iria
desabrochar por si mesmo ou a pretexto de outra perda qualquer. A
segunda tem a ver com o sentimento de culpa que se alimenta com
relação a quem morreu. Este, advindo da sensação consciente ou
inconsciente de não ter amado o falecido, de não ter feito por ele,
enquanto vivo, tudo o que merecia, de ter sido injusto, mau ou tê-lo
ofendido, é o pano de fundo do luto anormal ou patológico, podendo
ser causa, até, de doenças orgânicas. (SILVA, 2003, p. 141).

O perfil psicológico do indivíduo é o que vai determinar a antecipação


do quadro patológico. Na teoria psicanalítica, a predisposição patológica advém
de um conjunto de acontecimentos que produz no indivíduo um estado
depressivo. Ao contrário da melancolia, no luto não há uma predisposição
patológica.

8.3.2.5 Depressão

a) Conceito de depressão

É uma síndrome crônica caraterizada pelo rebaixamento emocional e


físico. A depressão está ligada à psicose maníaco-depressiva.

b) Sintomas da depressão

O sintoma da depressão maior divide-se em: emocional,


comportamental, cognitivo e físico.
 Sintomas emocionais: sentimento de tristeza, desânimo, impotência,
ideias de culpa, sentimento de vazio.

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85
 Sintomas comportamentais: aspecto negligenciado, lentidão nos
gestos e movimentos, agitação, fala e gestos lentos, faz menos
contato visual (olha para baixo), sorri com menos frequência,
episódios de choro, perda de interesse ou prazer em atividades
usuais, incluindo sexo, autoexclusão de atividades sociais.
 Sintomas cognitivos: dificuldade para pensar, desatenção,
pessimismo, pensamento suicida e preocupação com aspectos
ligados à morte.
 Sintomas orgânicos: insônia, perda de apetite, inquietação,
constipação intestinal ou diarreia, náuseas, sensação de opressão
no peito, sensação de falta de ar, dores nas costas, dores crônicas,
diminuição do interesse sexual, sentimento geral de ansiedade e
perda de energia física e mental.

c) Classificação da depressão

Os principais tipos de depressão podem ser descritos como:


 Depressão menor: o indivíduo apresenta de dois a quatro sintomas
por duas semanas ou mais.
 Distimia: o indivíduo apresenta de três a qatro sintomas, incluindo
estado deprimido, durante dois anos no mínimo.
 Depressão maior: o indivíduo apresenta de cinco ou mais sintomas
por duas semanas ou mais, incluindo estado deprimido.

d) Origem da depressão

A causa ou origem da depressão está relacionada a diversos fatores, a


saber: episódios anteriores de depressão, doenças crônicas, medicação
inadequada, perdas financeiras, diminuição das relações humanas, estresse,
dependência de droga e morte na família.

e) Tratamento

AN02FREV001/REV 4.0

86
A medicação pode ajudar a aliviar determinados sintomas da
depressão, mas não cura o problema subjacente. Neste sentido, as sessões de
terapia podem contribuir para acelerar o processo de recuperação do paciente.

8.3.3 Perversão ou Perversidade

“Premissa básica da estrutura perversa: os fins justificam os meios”.


(MAQUIAVEL, 1998, p. 93). Podemos ter uma pessoa com uma estrutura
perversa e ela não estar ligada a nenhum ato de perversidade. O masoquista
(aquele indivíduo que gosta de sofrer), não produz dor em ninguém, a não ser
nele mesmo.
Ao invés de enfatizar uma estrutura perversa, talvez devêssemos
referir a uma sociedade perversa, em que todos nós praticamos perversidade,
mas não estamos ligados a uma estrutura perversa. A estrutura perversa é
menos específica do que a neurose e a psicose; as duas estruturas são mais
bem delimitadas em termos clínicos.
É importante considerar que o sintoma no perverso não causa
sofrimento, mas sim prazer. Na estrutura perversa o sintoma é a sensação de
triunfo. O indivíduo não procura ajuda psicoterapêutica em função dos
sintomas, mas das perdas significativas advindas da própria estrutura.
O sintoma funciona como um lugar defensivo e só começa a ruir
quando o sujeito sente-se intensamente ameaçado, ou seja, quando começam
a surgir efeitos indesejados. O mecanismo de defesa do perverso é a recusa.
Recusar significa que parte do eu reconhece a realidade e a outra a recusa, ou
seja, são duas ações opostas presentes na perversão que implicam uma
clivagem do eu.
No caso da perversão sexual, a recusa não está ligada apenas ao
sintoma sexual, mas a toda a existência do sujeito que está marcada pela
divisão do ego (eu). Este se divide, se cliva, dando origem a duas ações
opostas, uma aceita a realidade, o que falta: limite, valores, princípios, relações
sociais, e a outra a recusa: um mecanismo de defesa. A recusa funciona como

AN02FREV001/REV 4.0

87
obstrução do recalque, da confusão entre os papéis sexuais, o
desaparecimento das diferenças, limites e normas, pois a função paterna é
presente, mas enfraquecida. O perverso reconhece a lei do pai, mas a infringe.
A transgressão das leis é fator predominante na dinâmica da perversão.
É justamente por conhecer a lei que o perverso recusa. O que vale não
é a lei do pai ou acordo social, é a própria lei do perverso. Por isso, é muito
comum que perverso trate o outro como objeto à sua disposição. O grande
desafio da clínica lacaniana é desestruturar o sintoma para que o sujeito
perverso perca essa sensação de trinfo, de prepotência, de gozo. Apesar de
não haver cura para a perversão e seu tratamento ser difícil, muitos
psicanalistas conseguem estabilizar este quadro patológico.

8.3.4 Caraterísticas e Sintomas da Perversão

Os principais sintomas da perversão são descritos como: 1) THE BEST


(o melhor), 2) Manipulação, chantagem, sedução excessiva e impulsividade 3)
Mentiras, 4) Transgressão das normas e regras, 5) Práticas sexuais
consideradas como desvio, 6) Intencionalidade, 7) Objeto cúmplice, 8) Jogos
psicóticos, 9) Desejo de poder e status, 10) Ausência de sentimento de culpa,
11) Fantasias inconscientes, abandono e rejeição, 12) Recusa (mecanismo de
defesa), 13) Psiquismo primitivo, 14) Sensação de mundo hostil e 15) Agressão
a si mesmo (alcoolismo e toxicomania).

8.3.5 Classificação da Perversão

A estrutura perversa se divide em dois grandes grupos:

 Sociais: psicopatia, toxicomania e alcoolismo.

AN02FREV001/REV 4.0

88
 Sexuais: exibicionismo, voyeurismo, sadismo, masoquismo,
sadomasoquismo, fetichismo e pedofilia.

Neste módulo não aprofundaremos nos quadros patológicos, apenas


na psicopatia e na toxicomania.

8.3.5.1 Psicopatia

a) Conceito de psicopatia:

Neto (2006) conceitua a psicopatia como: “(...) uma maneira de ser no


mundo (...) um ser sem culpa ou remorso pelas suas atitudes que ferem,
matam ou fazem o outro sofrer”. (NETO, 2006, p. 71). Segundo o Dicionário
Aurélio, o termo psicopatia refere-se a “um estado patológico caraterizado por
desvios, sobretudo caracterológicos, que acarretam comportamentos
antissociais”. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2003, p. 1661).

b) Terminologia e classificação

A classificação da Organização Mundial de Saúde (1999) refere-se a


um distúrbio da personalidade, com predominância de manifestações
sociopáticas ou associais.

Distúrbios da personalidade caraterizados pela inobservância das


obrigações sociais, indiferenças para outrem, violência impulsiva ou
fria insensibilidade. Há um grande desvio entre o comportamento e as
normas sociais estabelecidas. O comportamento é pouco modificado
pela experiência, inclusive as sanções. Os sujeitos desse tipo são
frequentemente não afetivos e podem ser anormalmente agressivos
ou irrefletidos. Toleram mal as frustrações, acusam os outros ou
fornecem explicações enganosas para os atos que os colocam em
conflito com a sociedade.

AN02FREV001/REV 4.0

89
Segundo o DSM-IV, a característica essencial do Transtorno de
Personalidade Antissocial “é um padrão invasivo de desrespeito e violação dos
direitos dos outros, que inicia na infância ou começo da adolescência e
continua na idade adulta”. (DSM-IV,1995, p. 608).
Os indivíduos com o diagnóstico de transtorno de personalidade
antissocial apresentam um comportamento que parece ser adequado diante da
sociedade, mas na verdade é apenas uma forma de teatralismo. Quando se
percebem ameaçados demostram sua insensibilidade e cinismo. Tratam o
outro com indiferença e são incapazes de sentir remoço ou culpa.
São características expostas no DSM-VI (1995):

(...) eles podem ter uma autoestima enfatuada e arrogante (por ex.,
achar que um trabalho comum não está à sua altura, ou ter uma
preocupação realista com seus problemas atuais ou seu futuro) e
podem ser excessivamente opiniáticos, autossuficientes ou vaidosos.
Eles podem exibir um encanto superficial e não sincero, ser bastante
volúveis e ter facilidade com as palavras (por ex., usar termos
técnicos ou jargão capazes de impressionar alguém não familiarizado
com o assunto. (DSM-VI, 1995, p. 609-610).

O indivíduo com o diagnóstico antissocial poderá ter um inteligência


acima da média, mas o seu comportamento é completamente desviante. Ele
usa a inteligência para a prática de atos que extrapolam a moralidade e boa
conduta. Utiliza de expressões que comovem as pessoas com o propósito de
tirar alguma vantagem. A patologia não está associada à baixa renda
financeira.
Segundo Neto (2006, p. 69), “os sujeitos podem ser altamente
sedutores no meio em que vivem e normalmente mostram seus instintos em
atos, podendo ser em forma de homicídios, estupros, sabotagem, torturas,
entre outros”. De fato, a criminalidade poderá estar vinculada à prática
criminosa do psicopata, mas, no entanto, nem todo criminoso possui essa
predisposição patológica.

AN02FREV001/REV 4.0

90
É perceptível que muitos indivíduos com características anômalas
são atraídos pela política e por cargos de comando em instituições
governamentais, policiais, penais, ou as ditas de recuperação para
menores infratores ou usuários de drogas. Aliás, é comum
encontrar estupradores ou abusadores sexuais trabalhando em
serviços de assistência social, em organizações religiosas ou
grupos como escoteiros e escolinhas de esportes diversos. Em
comum, os locais listados têm a características de proporcionar
canais legais para a corrupção, o abuso do poder e para a prática
de atos que infligem dor e que possibilitam uso da força e da
sedução contra terceiros. Tudo com acentuado grau de
impunidade. (NETO, 2006, p. 73).

O indivíduo com o distúrbio da personalidade antissocial poderá ocupar


um cargo elevado dentro da empresa, mas usa dessa posição para humilhar e
insultar o outro. É bastante comum o psicopata tratar o outro como objeto de
manipulação.

8.3.5.2 Toxicomania

FIGURA 24

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

a) Conceito de toxicomania

AN02FREV001/REV 4.0

91
De acordo com Organização Mundial de Saúde (1999), a toxicomania
pode ser entendida como: um estado de intoxicação periódica ou crônica,
nocivo ao indivíduo e à sociedade, causada pelo uso repetido de uma droga. A
droga é qualquer substância que, introduzida no organismo, modifica alguma
função, além de causar dependência física e psicológica. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE, 1999).
De acordo com Lima (1997, p. 92), a droga pode ser entendida como:

Substância psicoativa que, quando absorvida pelo organismo por


diferentes vias (oral, endovenosa e inalada), altera o funcionamento
do Sistema Nervoso Central (SNC). Essas alterações provocam
mudanças no estado de consciência e no senso de percepção do
usuário, uma vez que a droga pode atuar como depressora,
estimulante ou perturbadora do SNC.

A toxicomania e a dependência são palavras que estão intimamente


ligadas. A toxicomania é definida pela noção de dependência, que seria um
estado psíquico alterado. A droga pode provocar mudanças no comportamento
e outras reações, que abrangem sempre um impulso para o seu uso contínuo,
a fim de achar novos efeitos psíquicos e algumas vezes evitar sentimentos
indesejáveis.
Hockenbury (2003) ressalta dois tipos de dependência: dependência
física, quando o corpo se adapta fisiologicamente a uma droga. A dependência
psicológica corresponde a um estado de mal-estar e desconforto que surge
quando o dependente interrompe o uso de uma droga. Os sintomas mais
comuns são ansiedade, sensação de vazio, dificuldade de concentração, mas
pode variar de pessoa para pessoa.
Essas definições incluem a noção de tolerância, que significa que
quantidades cada vez maiores de uma droga são necessárias para produzir o
efeito original desejado. Para as pessoas que são fisicamente dependentes de
uma droga, a abstinência produzirá a “síndrome de abstinência”, que são
reações físicas desagradáveis devido à ausência da substância acrescidas de
um desejo incontrolável de consumo.
Os sintomas da síndrome de abstinência são amenizados quando a
droga é consumida novamente. Nos dependentes de tóxicos, a abstinência

AN02FREV001/REV 4.0

92
pode ocasionar desde um simples tremor nas mãos a náuseas, vômitos e até
um quadro de abstinência mais grave denominado delirium tremens, com risco
de morte em alguns casos. O delirium tremens pode ser entendido como uma
psicose provocada pela interrupção do uso e abuso de drogas.
Normalmente, as drogas influenciam as atividades do sistema nervoso
central – SNC, alterando as transmissões sinápticas entre os neurônios. As
drogas podem aumentar ou diminuir o número de neurotransmissores ou
mesmo bloquear, copiar ou influenciar os seus efeitos.
Em contraste com o uso de drogas, o abuso refere-se ao uso
recorrente de drogas que resulta na desintegração das funções sociais e
psicológicas. O abuso de drogas é qualquer forma de utilização de drogas que
implique em efeitos nocivos. Há dois tipos de drogas: as lícitas, que são
aquelas legalmente produzidas e comercializadas (álcool, tabaco,
medicamentos, inalantes, solventes), sendo que a venda de alguns
medicamentos é controlada, pois há risco de causar dependência física e
psíquica.
As ilícitas que são aquelas substâncias cuja comercialização é proibida
por provocar altíssimo risco de causar dependência física e psíquica (cocaína,
maconha, crack, etc.).

b) Tipos de drogas

Conforme Hockenbury (2003), as drogas psicoativas são substâncias


químicas que podem alterar a estimulação, o humor, o pensamento, a
sensação e a percepção. Podem ser agrupadas em quatro categorias tais
como:

 Depressores: drogas que funcionam como sedativos ou inibidores


da atividade cerebral.
 Opiáceos: drogas que são quimicamente semelhantes à morfina,
reduzem a dor e produzem euforia.
 Estimulantes: drogas que estimulam ou excitam a atividade
cerebral.

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93
 Alucinógenos: drogas que produzem distorções nas percepções
sensoriais.

c) A droga como causa do gozo

O gozo deixa de ter sentido quando a destruição vai além do


organismo. Quando a sedução à droga já não é a mesma o sujeito perde a
liberdade e vira escravo do seu próprio vício. Na opinião de Almeida (2007, p.
1), a droga aparece justamente como uma tentativa de encobrir uma falta.

Ao se drogar, o sujeito já está imerso num discurso adoecido, em que


a vida é uma droga, em que o gozo é primordial e pelo qual o sujeito
rompe quaisquer laços afetivos. Seu afeto, por dizer, está no gozo, na
ilusória sensação de completude que a droga pode vir a propiciar. Em
condição, o fazer se sobrepõe ao dizer e o corpo é o ponto por onde
flui esse fazer.

Para o indivíduo, o prazer do uso da droga supera qualquer outro


prazer da vida. O jovem se vê num discurso empobrecido, fragmentado e
doentio, em que a aprovação do grupo é o que prevalece. É comum ver o
jovem participar de rituais de gangs como: experimentar drogas ou praticar atos
de vandalismo para se sentir aceito no grupo.
As drogas são tão cobiçadas que passam a ter sentido de valor. O
jovem substitui uma produção de sentido por outra, ou seja, supre os prazeres
da vida pelo gozo da droga. A droga torna-se um refúgio de prazer para o
jovem. No entanto, a sensação de gozo vai diminuindo com o tempo. Para
encobrir esta falta, o jovem busca substâncias mais fortes, mesmo os efeitos
não sendo tão prazerosos.
Outro fator que pode induzir o jovem ao uso da droga é a incapacidade
de lidar com as frustrações. Principalmente aqueles que sempre tiveram tudo e
nunca passaram por frustrações ou perdas significativas, acabam recorrendo
às drogas. A justificativa para o seu uso é encobrir a sensação de vazio e
desespero. No entanto, as drogas não resolvem nada, pelo contrário, quando
passam os seus efeitos, o conflito continua ali enraizado.

d) Como é vista a toxicomania na psicanálise lacaniana?

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94
“Uma das soluções para evitar o infortúnio da relação com o outro é o
método de intoxicação. Ou seja, a escolha de uma substância como objeto, a
partir do qual se evitaria toda problemática da relação”. (FREUD, 1930, p. 86).
A clínica psicanalítica reconhece o problema da relação com o outro a partir de
certo grau de crença na fantasia. Diferente disso, a toxicomania é:

O tratamento do mal-estar do desejo [da insaciedade do desejo] pelo


método químico da intoxicação caracteriza-se, então, como uma
técnica de limitação do ideal de felicidade suprema e inacessível, em
que esta dimensão do gozo ilimitado é parte integrante e constitutiva.
(SANTIAGO, 2001, p. 108).

O indivíduo elimina os objetos de desejo e a busca da felicidade. O


sujeito faz um atalho para a satisfação, via do corpo, não se envolvendo com o
substrato que a vida em sociedade oferece, para lidar com as questões frente à
falta, prevalecendo um ato de substituição, que evita lidar com o insuportável
da relação com a sociedade.
“O ato toxicômano pode ser referenciado como uma técnica do corpo
cuja particularidade reside em uma tentativa de recuperação do gozo que não
passa pelo corpo do outro como objeto sexual”. (SANTIAGO, 2001, p. 170).
Segundo Miller (1995, p. 17), “não podemos em nenhum caso fazer da droga
uma causa de desejo. No máximo, podemos fazer dela uma causa de gozo”.
Dessa forma, o gozo é entendido na Psicanálise como algo que extrapola o
prazer e se constitui como uma satisfação da pulsão, prevalecendo a
destrutividade do próprio corpo.

e) Os efeitos da droga no sistema nervoso central

No sistema nervoso central (SNC) a droga age na transmissão


sináptica, afetando a produção de neurotransmissores. Quando há uma
diminuição de neurotransmissores no cérebro, o indivíduo passa a ter uma
tendência mais depressiva, quando há um aumento nessa proporção, pode
ocasionar uma possível esquizofrenia. Um exemplo de droga é a cocaína que
bloqueia a receptação de dopamina e causa sintomas de esquizofrenia.

AN02FREV001/REV 4.0

95
Apesar do usuário de droga ser classificado como um perverso social,
é possível que ele desenvolva a psicose. O quadro psicótico pode ser também
desencadeado pelo uso contínuo das drogas. É bastante comum o usuário
apresentar surtos esquizofrênicos, como alucinações, delírios e prejuízo nas
funções psíquicas.
Quando o indivíduo faz uso da droga, o seu estado neuronal se
assemelha a uma patologia, que pode ser: a esquizofrenia ou mesmo a
depressão. O que vai determinar esta semelhança é justamente o tipo de droga
utilizado pelo indivíduo.
As drogas psicoativas podem ser classificadas em três grupos, de
acordo com as atividades que exercem no sistema nervoso central1. No
primeiro grupo encontram-se as drogas que diminuem a atividade cerebral, ou
seja, deprimem o funcionamento do sistema nervoso. São conhecidas como
depressoras ou psicolépticas, e incluem o álcool, soníferos e ansiolíticos.
No segundo grupo encontram-se as drogas que aumentam a atividade
cerebral. O indivíduo se sente em um estado de alerta e potencialmente mais
ativo. Estas drogas são conhecidas como estimulantes ou psicoanalépticos:
cafeína, coca, nicotina, anfetaminas, cocaína e até mesmo alguns tipos de
chás.
Por último, temos as drogas perturbadoras ou psicodélicas, que
alteram significativamente as atividades cerebrais: a maconha, LSD e a
mescalina. Neste grupo o usuário tem uma perda nas funções psíquicas e no
organismo. Ele já não consegue pensar, memorizar ou perceber com clareza o
meio em que vive.

f) Tratamento da toxicomania

Existem diversos modelos de ajuda para os dependentes químicos, a


saber: internação, tratamento farmacológico, grupos de autoajuda, como

1
Adaptações do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Departamento
de psicobiologia UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo.

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96
Alcoólicos Anônimos, psicoterapia, entre outros. A internação é a primeira
medida a ser tomada para a reabilitação do dependente, pois a instituição
oferece programas especialmente para esta finalidade. A desintoxicação é o
primeiro passo para o tratamento da dependência. A grande maioria das
clínicas inicia com o processo de desintoxicação para, em seguida, começar a
trabalhar as causas da dependência e evitar a reincidência.
Em relação ao tratamento farmacológico, a utilização de intervenções
farmacológicas não apenas são estratégicas válidas e disponíveis, como
muitas vezes salvam a vida de usuários em determinadas condições. É
importante ressaltar a utilização de medicação: o efeito potencial que consiste
em diminuir o consumo, reduzindo o desejo pela droga, e as considerações de
segurança, que se referem ao potencial do medicamento, causam
consequências danosas para o paciente.
Outra indicação comum farmacológica é a redução de sintomas de
abstinência quando da interrupção do consumo de drogas. Estes sintomas,
quando não são controlados, o indivíduo voltar ao uso. A psicoterapia é
indicada para todos os tipos de usuários, pois atua nos valores pessoais, nos
conflitos internos e modifica a postura do indivíduo em relação à droga.
Dentre os grupos de ajuda, o mais conhecido é o Narcótico Anônimo –
NA. Trata-se de uma associação comunitária de usuários de drogas em
tratamento que se baseia em uma série de atividades pessoais conhecidas
com “os dozes passos”. Neste grupo os dependentes partilham suas vivências
e expectativas diante do tratamento. O único requisito para se tornar um
associado do NA é o desejo de se tratar.

g) A função do analista lacaniano no tratamento da toxicomania

É importante considerar também a psicoterapia: o acolhimento, no


sentido de criar um espaço para uma escuta permanente. De acordo com
Olienenstein (1989), em uma primeira etapa há o acolhimento e o diálogo. O
acolhimento não é um lugar, tampouco se trata de um primeiro momento de
encontro, nem um gesto único, nem a incumbência de uma pessoa

AN02FREV001/REV 4.0

97
determinada. O acolhimento é uma função operatória. Deve-se também
trabalhar a resistência, a fim de que se favoreça a adesão do cliente; trabalhar
os jogos psicóticos no qual o Outro é tratado como cúmplice. As atitudes de
competição, principalmente em relação ao analista, acabam se voltando contra
o próprio paciente.
Outro passo é fazer com o paciente tome consciência de que o uso da
droga é uma ilusão, pois esta não irá ser eficaz para preencher os vazios
existentes. É importante eliminar o sintoma da compulsão. A função do analista
é separar o sujeito de seu objeto de desejo, “a droga”, estabelecendo limites. O
sujeito deve aderir ao preceito de dizer “não” e essa posição implica em
recusar esse objeto. O analista deve fazer a substituição desse objeto “droga”
por outras situações que dão prazer ao paciente.

8.4 O ANALISTA LACANIANO FRENTE À CLÍNICA DA PSICOSE

FIGURA 25

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

A psicanálise é contra o uso indiscriminado de medicamentos em


pacientes psicóticos, uma vez que este alivia os sintomas, mas não trata o
sofrimento. O analista lacaniano tem um papel fundamental no processo de

AN02FREV001/REV 4.0

98
ajuda, na estabilização do quadro psicótico, na reabilitação e reintegração do
paciente na sociedade. Outro aspecto que não devemos deixar de considerar é
que o analista deve suprir a função “metáfora paterna” que o psicótico nunca
conseguiu elaborar. Essa substituição que o paciente poderá alcançar é
denominada “suplência”.
A presença do analista lacaniano é muito importante para reconstruir a
função paterna, o que falta no psicótico – lei, limite, valores, princípios, relações
sociais. O analista vai ajudar o paciente a se transformar em sujeito. Muitos
estudiosos afirmam que a psicose não tem cura, mas o psicanalista lacaniano
acredita nas chances de cura, que dependem da maneira como o delírio e a
alucinação se manifestam; uma vez traduzidos, restabelecem a verdade do
sujeito. Do ponto de vista clínico, enquanto a causa da patologia não for
desvendada por intermédio da análise, ela voltará a se instalar.
Coutinho (2005) salienta que o delírio, tentativa de interpretação desse
processo de fragmentação feita pelo psicótico e, portanto, possibilidade de
reestruturação psíquica e de eventual cura, não deveria ser abolida
completamente com medicamentos, sob a ótica da Psicanálise.
Acredita-se que o maior erro é tomar o sintoma como doença e
somente procurar tratá-lo. Neste sentido, a psicanálise lacaniana se mostra
mais eficiente. Considerando que a falta da lei é a condição necessária para
que a psicose se instale novamente, mas a realização da metáfora paterna
exercida pelo analista é fundamental para o alcance da cura.

8.5 O PROCESSO PSICANALÍTICO LACANIANO

8.5.1 O Setting Psicanalítico

O setting psicanalítico segue algumas fases no seu processo, a saber:


 Acolhimento e vínculo terapêutico.

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99
 Entrevista inicial.
 Escuta diferenciada.
 Ética e sigilo nas informações.
 Anamnese e diagnóstico estrutural.
 Esclarecimento da abordagem psicanalítica lacaniana.
 Objetivos e estratégias de tratamento.
 Acompanhamento psicoterapêutico.
 Estabilização do quadro patológico e, dependendo da patologia,
encaminhamento do paciente para tratamento médico.

Os benefícios da abordagem psicanalítica confirmam a importância do


conhecimento do método para a construção do setting terapêutico, em que
acolhimento, escuta e vínculo se fazem necessários.

8.5.2 O Diagnóstico Estrutural

O diagnóstico descritivo de sinais e sintomas é realizado pela clínica


médica. Os transtornos são definidos pelos diferentes conjuntos de sintomas
apresentados pelo paciente. O objetivo é tentar classificar o transtorno de uma
forma mais precisa, para que possa ser compartilhado pelas diferentes
abordagens.
A psicanálise lacaniana faz uso do diagnóstico estrutural e não do
diagnóstico descritivo. Sempre parte-se da relação estabelecida pelo sujeito
com a linguagem, para que seja possível pensar em um diagnóstico.
A identificação do sintoma não garante nenhuma estrutura específica.
O que está em jogo na estrutura? As estratégias utilizadas pelo sujeito na
construção da patologia. Essas estratégias raramente são observadas pelo
médico. O analista lacaniano consegue identificar estas estratégias por meio da
“escuta diferenciada”.

AN02FREV001/REV 4.0

100
Para o diagnóstico estrutural, a escuta diferenciada é imprescindível, já
que é no discurso do sujeito que o analista vai identificar as estratégias
utilizadas pelo paciente na construção do sintoma. É por meio da fala que o
sujeito articula a sua história e demonstra o seu desejo.
O sintoma obsessivo dentro de um quadro psicótico pode ter a função
de evitar um surto, de impedir que o sujeito entre em crise. De modo que, se o
analista elimina o sintoma obsessivo, o sujeito entra em crise. Identificar uma
estrutura não é tarefa fácil, nem imediata. É uma tarefa que exige um
posicionamento ético e uma disponibilidade para escuta.
É importante destacar que a estratégia não é uma relação lógica de
causa e efeito. Até porque os sintomas são oriundos de múltiplas origens. É
importante considerar também as questões subjetivas, antes de inserir o sujeito
qualquer estrutura.
Há diferentes esferas envolvidas na produção do sintoma, o que
importa para a psicanálise é saber como esse sujeito se organizou. E o analista
lacaniano vai retirar a possibilidade de adoecimento dentro de cada estrutura.
O sintoma é o modo como o sujeito manifesta o seu sofrimento. As estruturas
neurose, psicose e perversão são três maneiras distintas de o sujeito se
constituir.
Dentro de cada estrutura o sujeito tem uma produção aguda de
sintomas. A identidade do sintoma não é igual à identidade da estrutura. O
indivíduo pode apresentar qualquer sintoma dentro das estruturas. Dessa
forma, as respostas é que vão direcionar o diagnóstico.

AN02FREV001/REV 4.0

101
8.6 A TRANSFERÊNCIA NA CONCEPÇÃO LACANIANA

FIGURA 26

FONTE: Banco de imagens da Office Microsoft, 2012.

Lacan apresenta um conceito fundamental para falar de transferência,


conceito denominado “sujeito suposto saber”. “O paciente supõe que o analista
saiba sobre o sofrimento e para obter esse saber ele tenta um jogo de sedução
imaginária, descobrir o desejo do analista”. (D'AVILA LOURENCO, 2005, p.
148). “O que constitui a transferência, a partir de sua estrutura no sujeito, é a
ilusão fundamental, estrutural, de que seu saber, o saber do inconsciente, já
está todo constituído pelo psicanalista”. (MILLER, 1987, p. 77).
Miller (1987) ressalta que podemos identificar no texto freudiano o
conceito suposto saber de Lacan, quando Freud destaca as condições para o
início de uma análise. Em “Sobre o início do tratamento” (1980-1913), Freud
adverte que devemos alertar o paciente desde o início para a regra
fundamental da análise, que consiste em manter um discurso que se afasta de
uma conversa comum, pela livre associação de ideias.
“A crença no inconsciente que o analista inaugura aqui é fundamental
para que haja a experiência analítica, pela qual o sujeito consente na posição
do analista como Outro”. (MILLER, 1987, p. 77). Para Lacan, “o pacto inicial se
dá mediante o estabelecimento do sujeito suposto saber, que implica em
consentir na construção do saber inconsciente, ainda que o sujeito se deixe

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levar pela dimensão imaginária deste pacto pelo analista”. (MILLER, 1987,p.
87).

A formulação de uma disparidade subjetiva, que se destaca em “O


seminário livro 8: a transferência”, e toda a sua argumentação acerca
da metáfora do amor produzida pela transferência, já demarcam um
terreno distinto da relação intersubjetiva. Definir a transferência,
ocorrendo a partir da suposição de saber, destaca ainda mais a
concepção de um sujeito a partir da linguagem, definindo no intervalo
significante. Essa retomada radicaliza o sujeito definido por um
significante, como a proposição de uma suposição. Não é o sujeito
que supõe, por ser suposto por um significante, que assim o
representa (ou não) para outro significante. (LACAN, 1960)

Em relação ao manejo, inicialmente o “sujeito suposto saber” abre


espaço para as manifestações inconscientes do paciente. O analista pontua,
interpreta, incita a elaboração a partir do que é verbalizado pelo paciente.
Existe um saber inconsciente do sujeito, que somente será elaborado a partir
da fala. A análise é a construção de um saber sobre si, sobre o próprio
inconsciente. Esse saber não é dado, mas construído na relação analítica.

8.7 O MÉTODO PSICANALÍTICO LACANIANO

Miller (1997) enumera três níveis relativos ao método psicanalítico


lacaniano, a saber: avaliação clínica, em que o analista faz o diagnóstico para
efeito de direção do tratamento; a localização subjetiva, da qual está
desvinculado do diagnóstico, e é onde a enunciação é considerada como um
operador prático. E o terceiro tempo, que é a análise propriamente dita, que
seria a introdução ao inconsciente.
Em se tratando de questões metodológicas, Miller (1997, p. 236),
ressalta que:
(...) não basta passar da dimensão do fato para dimensão do dito. Há
que se questionar qual o lugar do anunciante frente ao enunciado, o
que levará este Sujeito a perceber a verdade ou não em seu dito, e
que o importante é questionar a posição tomada por quem fala em
relação aos próprios ditos e a partir dos ditos localizar o dizer do
sujeito”.

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Para o referido autor, as questões técnicas e práticas estão atreladas
às questões éticas por um motivo muito claro: a análise dirige-se ao sujeito e a
categoria de sujeito não é técnica e, sim, a ética. Vai muito além de ir dos fatos
aos ditos.

FIM DO MÓDULO III

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