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Somente no século XIX, em 1844, acontece o início da corrente espiritualista nos Estados
Unidos da América, liderada por Andrew Jackson Davis protagonista de diversos fenômenos
de desdobramento e experiências fora do corpo físico que levou a publicação de um
conjunto de livros conhecidos como Filosofia Harmônica.
Em 1848 houve maior interesse nas manifestações com o caso das irmãs Fox. O fenômeno
ficou conhecido por ruídos, pancadas e movimentos cujas causas eram desconhecidas. Da
América esse fenômeno multiplicou-se por toda Europa, em particular na França onde por
alguns anos pessoas se colocavam em torno de mesas que emitiam ruídos e produziam
movimentos. As mesas girantes, como foram chamadas na época, se tornaram moda e
criaram divertimento nos salões da França.
Em 1854 Hipolite Leon Denizard Rivail, pedagogo e educador, foi convidado a participar de
reuniões onde era estudado o fenômeno das mesas girantes e conheceu o Sr. Baudin,
passando a frequentar as reuniões em sua casa, onde a técnica utilizada não era mais a das
mesas girantes e sim a das cestas escreventes. A partir daí passou a estudar
metodicamente os fenômenos, observando, comparando, analisando e concluindo sobre
todas as experiências de que participava formando um conjunto de mais de cinquenta
cadernos de relatos.
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Em 1859 publicou "O que é o Espiritismo", em 1861, o "Livro dos Médiuns", em 1864 "O
Evangelho Segundo o Espiritismo" , em 1865 "O Céu e o Inferno", e em 1868 "A Gênese".
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Nossos indígenas são peritos na arte de cachimbar e os pajés são verdadeiros mestres
cachimbeiros.
Seja na boca de um Preto Velho ou de um Caboclo, que também usa o charuto para a
mesma finalidade religiosa, o cachimbo possui muitos segredos.
Na Pajelança Cabocla e na Jurema Sagrada, uma variante da Pajelança Indígena, ele é
símbolo do Universo.
Seu forno, onde colocamos ervas misturadas ou simplesmente tabaco, é a imagem da Mãe
Mata - o feminino sagrado. O tubo, por onde a fumaça é aspirada, representa o Pai Céu - o
masculino sagrado.
O cachimbo de um pajé não é mera madeira. Ele é um aliado e uma criatura com alma.
Nos rituais da Pajelança Cabocla e da Jurema o pito recebe um nome mágico. Ele é
lavado com ervas secretas e depois é enterrado numa Lua Cheia especialmente escolhida.
Num ritual fechado para os não iniciados, o cachimbo é retirado do ventre da terra e é
festejado como um novo membro da irmandade.
Como “virou bicho”, no linguajar dos curandeiros da floresta, ele será alimentado, de
tempos em tempos, com sumos vegetais. Também habitará numa toca, lugar escuro e
quieto, onde repousará depois das sessões de cura.
Na calada da noite o cachimbo fala com o pajé e toma a forma de um animal de poder... Ele
está vivo!
Na Pajelança Cabocla o Pai Tabaco possui dois espíritos aliados: a Yawara (onça) e a Yibóia
(Jibóia). A onça é uma emanação da Mãe da Mata e a jibóia é sua filha. Estes dois espíritos
são invocados quando o pajé se enfumaça e canta as palavras certas, que convidam os
aliados a se manifestarem nesse mundo.
O Pajé Avarumã, nosso amigo e mestre, fala que nenhum curandeiro pode usar o tabaco
como recreio! Quem é viciado no tabaco, diz ele, caiu na rede dos espíritos e está cativo.
Uma pessoa viciada é uma escrava da planta, acaba doente e deve prestar conta aos
encantados.
Nenhum iniciado nos saberes da mata pode ser escravo! Afinal, um xamã é um guerreiro...
Cachimbo e tabaco só nos rituais de fé.
Quando armados com o cachimbo, fala o sábio da floresta, nos erguemos como uma árvore
muito alta. Nossa cabeça toca o céu, nossos pés afundam no solo... O coração bate junto
com o da Mãe Terra e por nossas veias corre o sangue verde dos espíritos.
A Pajelança Cabocla possui dois ramos espirituais: o Caminho do Cachimbo (Casa do Fogo e
do Ar) e o Caminho do Maracá (Casa da Terra e da Água). No primeiro ramo, o futuro
guerreiro curandeiro estuda os mistérios do Mundo da Fumaça, onde moram os sonhos e
os aliados. Ele também aprende que o cachimbo está no corpo: o forno é a cabeça e o tubo
é a coluna vertebral.
Outras plantas fumáveis são também utilizadas. As mais comuns, que podemos encontrar
com facilidade e foram reconhecidas pelos curandeiros como amigas espirituais, embora de
origem estrangeira, aqui estão.
Artemísia - chamada de Tabaco de São Pedro: usada na forma de charuto, pó, chá, tintura,
extrato, essência, sumo, banho e até vinho (Vinho de São Pedro). Ela é tônica e vermífuga.
Não deve ser usada em grande quantidade como chá, mas fumada é inofensiva.
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Escarola – conhecida como Tabaco Longa Vida: uma planta fumável bem conhecida e usada
para substituir o tabaco. Empregada como alimento, loção, pó, charuto, loção e cataplasma
por centenas de anos. Ela é nutritiva, depurativa, analgésica e sedante, por isso não deve
ser fumada em grande quantidade. Combinada com um pouco de artemísia obtemos um
boa fonte de fumaça curativa.
Verbena - a preferida pelos Mestres dos Bosques – os curandeiros bruxos de Portugal - que
foram exilados para o Brasil no período colonial. Boa planta para fumar, mas deve ser
misturada com artemísia e tabaco. Uma maravilha para defumar. Ela purifica o ambiente e
destrói os miasmas (energias negativas aglomeradas nos cantos das casas).
Muito ainda podemos contar sobre este instrumento sagrado. É uma pena que alguns
centros de Umbanda estão deixando o cachimbo de lado e adotando o cigarro.
Outros centros estão abandonando a fumaça, seja a do cachimbo ou a do defumador. Isso é
preocupante. O cachimbo e a fumaça sagrada estão no início da história da Umbanda,
desde que o primeiro Preto Velho sentou no seu canto e pediu o querido pito...
Seria triste ver a alegre e perfumada Umbanda parecendo uma melancólica e inodora igreja
evangélica!
Os Orixás na África
O termo “ Oríxá” nos parecera outrora relativamente simples, da maneira como era
definido nas obras de alguns autores que se copiaram uns aos outros sem grande
discernimento, na segunda metade do século passado e nas primeiras décadas deste.
Porém, estudando o assunto com mais profundidade, constatamos que sua natureza é mais
complexa. Léo Frabenius é o primeiro a declarar, em 1910, que a religião dos iorubás tal
como se apresenta atualmente só gradativamente tornou-se homogênea. Sua
uniformidade é o resultado de adaptações e amálgamas progressivos de crenças vindas de
várias direções. Atualmente, setenta anos depois, ainda não há, em todos os pontos do
território chamado Iorubá, um panteão dos orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As
variações locais demonstram que certos orixás, que ocupam uma posição dominante em
alguns lugares, estão totalmente ausentes em outros. O culto de Xangô, que ocupa o
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primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé, onde um deus local, Oramfé, está
em seu lugar com o poder do travão. Oxum, cujo culto é muito marcante na região de Ijexá,
é totalmente ausente na região de Egbá. Iemanjá, que é soberana na região de Egbá, não é
sequer conhecida da região de Ijexá. A posição de todos estes orixás é profundamente
dependente da história da cidade onde figuram como protetores Xangô era, em vida, o
terceiro rei de Oyó. Oxum, em Oxogbô, fez um pacto com Larô, o fundador da dinastia dos
reis locais, e em consequência a água nessa região é sempre abundante. Odudua, fundador
da cidade de Ifé, cujos filhos tornaram-se reis das outras cidades iorubás, conservou um
caráter mais histórico e até mesmo mais político que divino.
A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um
mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um
ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle
sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou,
então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho
com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua
utilização o poder do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se
momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por
ele provocada.
O orixá é uma força pura, asé imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos
incorporando-se em um deles. Esse ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é
chamado seu elégùn, aquele que tem o, privilégio de ser “ montado” por ele. Torna-se o
veículo que permite ao orixá voltar a terra para saudar e receber as provas de respeito de
seus descendentes que o evocaram.
Os elégùn muitas vezes são chamados iyawóòrìxà (iaô), mulher do orixá. Este termo tanto
se aplica aos homens quanto às mulheres e não evoca uma ideia de união ou de posse
carnal, mas a de sujeição e de dependência, como antigamente as mulheres o eram aos
homens.
Conservando sua filiação ao culto do orixá familiar, pode acontecer que um indivíduo deva,
por certas razões que lhe são indicadas pela adivinhação, seguir o culto a uma outra
divindade, a de sua mãe, por exemplo, após a sua morte; ou de qualquer outra que lhe seja
imposta em decorrência de certas situações: doenças, dificuldades na procriação de um
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herdeiro, defesa contra uma ameaça precisa ou imprecisa. Nesses casos, o indivíduo
encontra-se implicado mais diretamente na prática desse culto pessoal.
Uma das características da religião dos orixás é seu espírito de tolerância e a ausência de
todo proselitismo. Isso é compreensível e justificado pelo caráter restrito de cada um
desses cultos aos membros de certas famílias. Como e por que as pessoas poderiam exigir
que um estrangeiro participasse do culto, não tendo nenhuma ligação com os ancestrais em
questão?
Essa definição parece ser uma tentativa de elaboração de um sistema que centraliza o que
era diverso e harmoniza o que era incompatível entre orixás vindos de horizontes muito
diferentes, como sugere Léo Frobenius.
Olódùmarè mora no além, Òrun, traduzido geralmente por “céu”. Mas há ai, sem dúvida
alguma, incompreensão por parte dos pesquisadores, todos formados com a ideia de que
Deus mora no céu.
É no Òrun que habitam os montes, os ará Òrun, que voltam periodicamente ao mundo, ayé,
para se tornarem novamente seres vivos, ará ayé. “ Esses além assemelhar-se a terra,
porém triste e lúgubre” . As almas apressar-se-iam em voltar para a terra, para a mesma
família, da qual alguns membros usam o nome de Babatúndé ou o de Iyátúndé, o que
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significa “ o pai ou a mãe voltou” . Estamos longe do céu paradisíaco e macio dos cristãos e
muçulmanos.
A ideia de que Òrunalém está situado embaixo da terra é comprovada durante as oferendas
aos orixás, quando o sangue dos animais sacrificados é derramado em um buraco cavado
na terra, em frente ao local consagrado ao deus, e os olhares se voltam para o chão e não
para o céu.
Os Orixás viajaram, em seguida, para outras regiões africana, levadas pelos povos no curso
de suas migrações. Se as pessoas formavam um grupo numeroso, o orixá tomava tal
amplitude que englobava o conjunto da família, e alguns Olorixás, sacerdotes do orixá,
asseguravam o culto para todo o grupo. Se alguém se fixa com a sua família restrita à sua
mulher e aos seus filhos, o orixá assumia uma feição mais pessoal. Quando o africano era
transportado para o Brasil, o orixá tomava um caráter individual, ligado à sorte do escravo,
agora separado do seu grupo familiar de origem.
A qualidade das relações entre um indivíduo e o seu orixá é, pois, diferente, caso ele se
encontre na
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alimentares e outras, ligadas ao culto, ligadas ao culto de seu orixá, e, assim agindo, estão
perfeitamente em regra com as suas obrigações.
A relação do candomblé com a cidade pode ser explicada através da situação dos escravos
que ali viviam. Nos centros urbanos havia negros alforriados, escravos de ganho e
domésticos que circulavam com maior frequência e, dessa forma, estreitavam seus laços
com maior facilidade. Em contrapartida, as condições de trabalho mais rígidas e a própria
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Já no século XIX, era possível pontuar a existência de alguns sobrados antigos e casarões
coletivos em que negros livres organizavam pontos de encontro para a realização de seus
cultos. Apesar da existência da repressão imposta pelas autoridades oficiais, o candomblé
dava seus primeiros passos formativos. No ano de 1889, a proclamação da República,
precedida pela Abolição da Escravatura, também contribuiu para que as crenças afro-
brasileiras se expandissem.
Nesta conjuntura inédita, os terreiros de candomblé foram sendo criados e dando forma
aos rituais e crenças que o definiriam. Mais do que isso, também funcionaram como meio
de confraternização e socialização de vários negros que saíam do meio rural visando outras
oportunidades de emprego. Com isso, os terreiros também serviam como lugar de lazer,
solidariedade e manutenção de uma memória coletiva que se mostrou essencial no
surgimento desta rica prática religiosa.
Por Rainer Sousa, graduando em História.
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