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Resumo
Considerando-se que a comunicação significa “tornar comum” e que as empresas
valorizam cada vez mais equipes de trabalho que produzam significado compartilháveis
entre seus componentes, desenvolvemos estudo de caso sobre as estratégias
comunicativas adotadas pelo personagem Patch Adams em cena do filme "Patch
Adams, o amor é contagiante" (Universal, 1998). Nesta, Patch facilita o processo de
comunicação que se estabelece entre cinco pacientes de um hospital psiquiátrico,
sugerindo que não há limite racional que nos impeça de nos comunicarmos pela
linguagem, se somos capazes de contextualizar os jogos de linguagem dos quais
participamos. Partiremos portanto, de alguns pressupostos sobre a lógica simbólica de
validação do significado das palavras estabelecida pela Filosofia da Linguagem. Nesta o
aspecto idealista da realidade dos significados das palavras foi reduzido a nossa
experiência psicológica.
A seguir comentaremos aspectos de seus desdobramentos na noção de lógica consensual
levantada pelos estudos pragmáticos de Wittgenstein, quem chama atenção para as
regras que trazemos para os jogos que por vezes nos impedem de ver o óbvio de
significação temporal. Finalmente argumentaremos sobre a importância da percepção do
contexto como ato interpretativo facilitador da interação pela linguagem na medida em
que esta além de nos permitir reconhecer as regras que trazemos, nos facilita agir sobre
o real. Acreditamos que estas colocações aplicadas à análise da referida cena possam
propiciar momentos de reflexão sobre o potencial comunicativo dos jogos de linguagens
contextuais.
Considerações
Lógica e Referência
Wittgenstein aponta mais um limite imposto pela linguagem, colocando que “os
aspectos para nós mais importantes das coisas estão ocultos pela sua simplicidade e
trivialidade. (Podemos não notá-los, por tê-los sempre diante dos olhos.)” (Wittgenstein,
1991: 129). A obviedade neste caso estaria relacionada à falta de clareza quanto ao que
representa os nossos pressupostos e o que é posto em contexto.
Lógica e Consenso
quando examinamos o que se deve dizer e quando se deve fazê-lo, que palavras
devemos usar em determinadas situações, não estamos examinando simplesmente
palavras (ou seus “significados”, seja lá o que isto for) mas sobretudo a realidade sobre
a qual falamos ao usar estas palavras – usamos uma consciência mais aguçada das
Ao colocar como condição sine qua non para o sucesso dos atos de fala, o
aspecto convencional, focaliza a estratégia de reconhecimento de contexto a partir da
noção de intencionalidade do emissor. Apesar de para o autor o ato de fala só poder ser
considerado total em uma situação específica representando o único fenômeno real que
possam ser elucidados, a ênfase dada na força de emissão da mensagem pelo sujeito, sua
forma de ação sobre o real, deixa em aberto, como no caso de Wittgenstein, a
possibilidade do consenso poder ser atingido a partir de ações interpretativas do
receptor.
Segundo Aidar (1996) Habermas na teoria da ação comunicativa, por sua vez,
metaforiza a linguagem como abrigo e suporte a que o homem recorre para realizar suas
comunicações cotidianas, “veiculando pretensões de validez que podem ser submetidas
à crítica. O suporte é a possibilidade de compreender nas vias de auto-reflexão” (Aidar:
1996:.213).
a intenção está inserida na situação, nos hábitos humanos e nas instituições. Se não
existisse técnica de jogar xadrez, eu não poderia ter a intenção de jogar xadrez. Desde
que tenho antecipadamente a intenção da forma da frase, isto só é possível pelo fato de
eu poder falar esta língua. (Wittgenstein, 1991: 338)
o lugar em que falante e ouvinte vão um ao encontro do outro; em que podem colocar-
se reciprocamente a pretensão de que suas emissões concordam com o mundo (com o
mundo objetivo, com o mundo subjetivo e com o mundo social); e em que podem
criticar e exibir os fundamentos dessas pretensões de validez, resolver suas dissensões e
chegar a um acordo (Habermas, 1981, apud Aidar, 1996: 58).
Pode, desta forma, agir socialmente a partir dos nossos atos lingüísticos sob dois
aspectos: o racional teleológico, que praticamos para atingir nossas metas de uma
maneira, nas palavras do autor, “estrategizante”, “instrumentalizante” e “coisificante”; e
o comunicativo, no qual compartilhamos o significado comum da situação na qual nos
encontramos com os demais participantes da ação, buscando o entendimento em recorte
de tempo e espaço contextuais.
P1 – É apertado.
M – Mais alguém?
P1 – Apertado!
(Todos riem)
M – É catatônico.
P2 – É, talvez.
(Rudy ri)
PA – Talvez saiba mais do que a gente pensa. Com licença. Beenie, onde fica o
céu?
(Todos riem)
PA – Acertou!
M – Basta, Hunter!
(Todos riem)
PA – Certo.
(Todos riem)
M – Pare!
(Todos riem)
(Todos riem)
(O médico sai)
(Todos riem)
PA – Beenie!
PA – Quem se masturba?
Considerações finais
Faz-se também necessária a reflexão sobre até que ponto a lógica que utilizamos
ao interagirmos pela linguagem verbal não é fruto de nossa “forma de vida” ou de
“mundo vivido” que acabam por caracterizar os pressupostos interpretativos que
trazemos para os jogos de linguagem dos quais participamos. Desta forma, os nossos
hábitos interpretativos podem curiosamente constituir-se em mote de
descontextualização de interação de nossos atos de fala. Aspecto que acaba por
desencadear ruídos comunicativos entre nós e nossos interlocutores.
Se pararmos para refletir sobre os fatores que não nos permitem aceitar a lógica
do Outro, teremos condições de assumir o aspecto real dos fatos que estão sendo postos
no jogo, privilegiando o espaço e o tempo da interação, situação essa representada pela
cena do filme Patch Adams, o amor é contagiante que ilustra algumas das
possibilidades de estratégia comunicativa que vêem sendo adotadas em trabalhos de
apoio, realizados por voluntários da comunicação a pacientes hospitalizados.
Grupos como Fábrica do Riso e Doutores da Alegria, entre tantos, provam que
questões sobre comunicação e suas estratégias podem começar a ser vivenciadas a partir
do reconhecimento do contexto como tempo e espaço real de negociação de produção
de sentido. Fazendo, assim, valer à pena o objetivo da comunicação, que é o de “tornar
comum” os jogos que se estabelecem entre os participantes.
Referências Bibliográficas