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Patch Adams em contexto: Um estudo de caso comunicativo

Dra. Mariza de Fátima Reis


Universidade Presbiteriana Mackenzie-Brasil

Resumo
Considerando-se que a comunicação significa “tornar comum” e que as empresas
valorizam cada vez mais equipes de trabalho que produzam significado compartilháveis
entre seus componentes, desenvolvemos estudo de caso sobre as estratégias
comunicativas adotadas pelo personagem Patch Adams em cena do filme "Patch
Adams, o amor é contagiante" (Universal, 1998). Nesta, Patch facilita o processo de
comunicação que se estabelece entre cinco pacientes de um hospital psiquiátrico,
sugerindo que não há limite racional que nos impeça de nos comunicarmos pela
linguagem, se somos capazes de contextualizar os jogos de linguagem dos quais
participamos. Partiremos portanto, de alguns pressupostos sobre a lógica simbólica de
validação do significado das palavras estabelecida pela Filosofia da Linguagem. Nesta o
aspecto idealista da realidade dos significados das palavras foi reduzido a nossa
experiência psicológica.
A seguir comentaremos aspectos de seus desdobramentos na noção de lógica consensual
levantada pelos estudos pragmáticos de Wittgenstein, quem chama atenção para as
regras que trazemos para os jogos que por vezes nos impedem de ver o óbvio de
significação temporal. Finalmente argumentaremos sobre a importância da percepção do
contexto como ato interpretativo facilitador da interação pela linguagem na medida em
que esta além de nos permitir reconhecer as regras que trazemos, nos facilita agir sobre
o real. Acreditamos que estas colocações aplicadas à análise da referida cena possam
propiciar momentos de reflexão sobre o potencial comunicativo dos jogos de linguagens
contextuais.

Considerações

Considerando-se que a comunicação significa “tornar comum” e que as


empresas valorizam cada vez mais equipes de trabalho que produzam significado
compartilháveis entre seus componentes, desenvolvemos estudo de caso sobre as
estratégias comunicativas adotadas pelo personagem Patch Adams em cena do filme
Patch Adams, o amor é contagiante. Nesta, Patch facilita o processo de comunicação
que se estabelece entre cinco pacientes de um hospital psiquiátrico, sugerindo que não
há limite racional que nos impeça de nos comunicar pela linguagem, se somos capazes
de contextualizar os jogos de linguagem dos quais participamos. Partiremos de
pressupostos sobre a lógica, de validação do significado das palavras estabelecida pela
Filosofia da Linguagem, para a seguir comentarmos aspectos de seus desdobramentos

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nas noções de contexto, interpretação e ação por intermédio da comunicação, como
mote de otimização de interação pela linguagem. Acreditamos que estas colocações
aplicadas à análise da referida cena possam propiciar momentos de reflexão sobre o
potencial comunicativo que o agir.

Lógica e Referência

No século XIX, os filósofos analíticos da Escola de Oxford questionaram o


binarismo verdade /falsidade do conhecimento e entendimento do mundo pelo sujeito,
sob uma concepção realista. Segundo Marcondes (2000) estas análises visavam
esclarecer alguns elementos pelos quais nossas experiências se articulam por intermédio
da linguagem, não mais através de um método especulativo, mas a partir da análise da
forma lógica das sentenças pelas quais expressamos as nossas crenças e opiniões.

Este movimento da Filosofia da Linguagem pode ser considerado como uma


reação ao idealismo absoluto, que pressupõe a identificação da realidade com a
totalidade e a necessidade da consciência de reconhecer-se como parte do Absoluto.
Característica que reduz a realidade a nossa experiência psicológica empírica.

Desta forma, a investigação filosófica passa a focalizar aspectos que elucidam a


forma como produzimos significado por intermédio da linguagem. Questões sobre a
consciência dão lugar a questões da linguagem, deslocando a atenção dos filósofos para
a análise das sentenças. Nestas, busca-se as suas formas lógicas de representação de
mundo e conseqüentemente são revisitados aspectos epistemológicos de teoria de
conhecimento e de percepção de mundo.

Primeiramente, estabeleceu-se uma forma lógica para o conhecimento, chamada


de Lógica Simbólica, fruto de analogias com conceitos de funções matemáticas,
portanto abstratas e externas ao sujeito. Esta abordagem pressupunha que as
proposições, formulações lingüísticas por intermédio das quais emitimos juízo sobre o
nosso “observar” do mundo constituía- se de sujeito e predicado e fundamentavam-se
em regras gramaticais que corroboravam os conceito binários de sentido e referência
para as sentenças analisadas.

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Investigações sobre o sentido das proposições eram procedidas a partir da
objetivação da referência da frase ao objeto por ela descrito, não considerando o
contexto, situação espaço-temporal na qual a linguagem foi utilizada. O valor de
verdade, o referente de uma frase era estabelecido por intermédio do consenso entre os
que dele se utilizavam. Noção exemplificada atualmente pelo amplo reconhecimento
dos aspectos simbólicos dos personagens de Walt Disney, que apesar de não serem
reais, assumem um valor de verdade compartilhado por todo o Ocidente.

A validação do referente no quadro da teoria lingüística geral seria tarefa da


Semântica que relacionaria o significado das palavras a sua utilização no mundo real,
passando o aspecto simbólico do signo a ser investigado pela Semiologia, que se
propunha a normatizar a vida do signo na sociedade, exemplificado pelos estudos de
roupas e costumes de uma determinada comunidade interpretativa.

Esta lacuna sobre a noção do sentido implícita na linguagem como mote de


validação não preenchida pela Lingüística passou a ser investigada pelos filósofos
analíticos. Wittgenstein, em sua fase do Tratactus Lógico-Philosophicus (2001), propõe
a existência de uma linguagem logicamente perfeita, externa ao sujeito. Nesta, o
filósofo procurava provar por intermédio das estruturas das proposições, que a
linguagem teria como função a representação dos fatos que independeriam da
observação do sujeito. E considerou os termos da consciência intencional psicologistas,
afastando o estudo epistemológico da linguagem lógica do Tractatus, por julgar que
estes pressupunham os limites do mundo a nós impostos pela linguagem. A fim de não
entrar no aspecto psicológico do sensível, cria-se a noção de projeção, que seria o
contato imagético que procedemos em nosso espírito ao ouvirmos a palavra.

Na fase das Investigações Filosóficas, Wittgenstein (1991) desloca a análise


objetiva do uso das sentenças para ações comunicativas do cotidiano dos falantes, as
quais tratou como jogos de linguagens. Aventou a hipótese desses jogos se
estabelecerem além do código lingüístico utilizado pelos falantes, à medida em que sua
concretização implicaria em signos não lingüísticos que também os compunham, tais
como as atitudes e as formas de comportamento dos agentes que deles participassem.
Este olhar sugere que a validação dos significados das sentenças se sujeite às regras dos
jogos, dependendo do consenso que estabelecemos ao jogarmos.

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Considerando-se que os atos comunicativos acontecem a partir de uma relação
interna a nós, em processo intersubjetivo de construção de significados, o conceito de
projeção durante a interação comunicativa representaria as nossas formas de vida,
hábitos interpretativos inerentes a lógica interpretativa que utilizamos durante o jogo.

Assim, o sentido que produzimos não se originaria de uma realidade exterior à


própria linguagem, mas no uso que fazemos dela em contextos específicos. As
possibilidades de malogros pela linguagem se justificariam pela tendência que temos de
utilizar a linguagem presos às suas regras normativas, característica que nos impede de
analisar nossos atos comunicativos de uma forma panorâmica, contextual.

O reconhecimento do contexto como recorte espaço-temporal no qual a ação


comunicativa interpessoal se instala, nos permitiria desta forma contatar nossas
características interpretativas, os pressupostos que trazemos para o jogo, os quais, por
vezes, nos impedem de reconhecer as possibilidades de negociarmos os significados
contextualmente, à medida em que ele se constrói em interação com os nossos
interlocutores.

Wittgenstein aponta mais um limite imposto pela linguagem, colocando que “os
aspectos para nós mais importantes das coisas estão ocultos pela sua simplicidade e
trivialidade. (Podemos não notá-los, por tê-los sempre diante dos olhos.)” (Wittgenstein,
1991: 129). A obviedade neste caso estaria relacionada à falta de clareza quanto ao que
representa os nossos pressupostos e o que é posto em contexto.

Lógica e Consenso

Expandindo os estudos sobre sentido e linguagem, Austin (1962) também


filósofo analítico de Oxford, desenvolve a corrente que mais tarde viria a ser conhecida
como Filosofia da Linguagem Ordinária, traduzido de Ordinary Language Philosophy,
que literalmente significa linguagem comum do cotidiano. Estabelece a teoria dos Atos
de Fala que, ao nosso ver, complementa o interesse de Wittgenstein em decodificar os
jogos, sob aspectos epistemológicos considerando-se a passagem:

quando examinamos o que se deve dizer e quando se deve fazê-lo, que palavras
devemos usar em determinadas situações, não estamos examinando simplesmente
palavras (ou seus “significados”, seja lá o que isto for) mas sobretudo a realidade sobre
a qual falamos ao usar estas palavras – usamos uma consciência mais aguçada das

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palavras para aguçar nossa percepção [...] dos fenômenos (Austin, apud Marcondes,
2000:.17).

Acrescenta à análise empírica do estudo semântico do signo a análise pragmática


do signo em ação e tira definitivamente a problemática da linguagem do aspecto
metafísico, trazendo-a para o cotidiano. Pela primeira vez na história dos estudos da
linguagem, a proposição é analisada pelo seu aspecto de validade e não mais de
veracidade, já que o aspecto pragmático do ato de fala depende do caráter convencional
do contexto.

Distingue os enunciados constativos, analisados pela lógica simbólica, os quais


descrevem episódios, relatam fatos, informam, dos enunciados performativos, em
primeira pessoa, por intermédio dos quais fazemos alguma coisa. Desta forma, segundo
o filósofo quando /Eu prometo X.../ efetivamente prometo, não relato, assumo portanto
um compromisso, diferentemente do relato na terceira pessoa, quando é dito /Ele
promete.../..

O constativo e o performativo são considerados complementares,


considerandose o exemplo de promessas implícitas como na proposição /Virei amanhã/,
em que se subtende /Prometo que virei amanhã/.

Os atos de fala foram divididos em três categorias: ato locucionário,


identificável estruturalmente com uma determinada língua, suas regras e convenções
fonéticas, sintáticas e semânticas, cujas funções são as de referir e predicar; ato
ilocucionário, seqüência de palavras com fim convencional específico; e o ato
perlocucionário, o efeito que a intenção do ato ilocucionário provoca no receptor.

Em seus estudos fica claro o objetivo de estabelecer parâmetros comunicativos


que também normatizem regras de uso da linguagem como a gramática, o contexto
social e cultural, os paradigmas, os valores e a racionalidade da comunidade que pratica
os jogos. É apresentado como máxima dos atos de fala, o compromisso assumido pelos
falantes de atingirem consenso para que a interação tenha sucesso.

Quando isto acontece, automaticamente procede-se à contextualização. Esta


pode ser exemplificada por intermédio dos exemplos do batismo do navio e da
cerimônia de casamento, cuja condição de validade depende do consenso estabelecido

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por uma determinada comunidade. Ao prever alguns casos em que possa haver
estiolamento da linguagem, chamados de atos infelizes, os tributa à falta de sinceridade
e não cumprimento das regras, aspecto que demonstra o caráter moral de sua teoria.

Ao colocar como condição sine qua non para o sucesso dos atos de fala, o
aspecto convencional, focaliza a estratégia de reconhecimento de contexto a partir da
noção de intencionalidade do emissor. Apesar de para o autor o ato de fala só poder ser
considerado total em uma situação específica representando o único fenômeno real que
possam ser elucidados, a ênfase dada na força de emissão da mensagem pelo sujeito, sua
forma de ação sobre o real, deixa em aberto, como no caso de Wittgenstein, a
possibilidade do consenso poder ser atingido a partir de ações interpretativas do
receptor.

Segundo Aidar (1996) Habermas na teoria da ação comunicativa, por sua vez,
metaforiza a linguagem como abrigo e suporte a que o homem recorre para realizar suas
comunicações cotidianas, “veiculando pretensões de validez que podem ser submetidas
à crítica. O suporte é a possibilidade de compreender nas vias de auto-reflexão” (Aidar:
1996:.213).

É durante o ato interpretativo que podemos contatar a estruturação de nossos


pressupostos de fundo, nossa lógica, crenças, familiaridades e habilidades. Esta
subjetivação da interpretação expande a noção de Wittgenstein de que

a intenção está inserida na situação, nos hábitos humanos e nas instituições. Se não
existisse técnica de jogar xadrez, eu não poderia ter a intenção de jogar xadrez. Desde
que tenho antecipadamente a intenção da forma da frase, isto só é possível pelo fato de
eu poder falar esta língua. (Wittgenstein, 1991: 338)

Lógica, Interpretação e Ação

Ao dominarmos as situações através de atos comunicativos seriamos capazes de


recriarmos nossos horizontes que tendemos a projetar na validação do contexto que se
efetiva a partir de nossos hábitos interpretativos que Habermas chamou de “mundo
vivido”, analogamente às formas de vida de Wittgenstein, o qual refletiria a nossa
arquitetura.

O processo de construção da arquitetura do mundo vivido se dá a partir de três


tipos de experiência: a experiência técnico-prática que se estabelece a partir de fatos

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externos a nós; a experiência prático-moral, desenvolvida na vida em sociedade; e a
expressiva, que é fruto da nossa relação com nosso mundo interno. A proposta é de que
por intermédio do reconhecimento do mundo vivido em contexto de interação, o ato
comunicativo torna-se emancipatório, à medida em que o mundo vivido é

o lugar em que falante e ouvinte vão um ao encontro do outro; em que podem colocar-
se reciprocamente a pretensão de que suas emissões concordam com o mundo (com o
mundo objetivo, com o mundo subjetivo e com o mundo social); e em que podem
criticar e exibir os fundamentos dessas pretensões de validez, resolver suas dissensões e
chegar a um acordo (Habermas, 1981, apud Aidar, 1996: 58).

Pode, desta forma, agir socialmente a partir dos nossos atos lingüísticos sob dois
aspectos: o racional teleológico, que praticamos para atingir nossas metas de uma
maneira, nas palavras do autor, “estrategizante”, “instrumentalizante” e “coisificante”; e
o comunicativo, no qual compartilhamos o significado comum da situação na qual nos
encontramos com os demais participantes da ação, buscando o entendimento em recorte
de tempo e espaço contextuais.

Segundo Marcondes (2000), o objetivo da abordagem de competência


comunicativa de Habermas é reconstruir o sistema de regras, segundo as quais os
falantes produzem ou geram situações possíveis de discurso, colocando o consenso
atingido pela intersubjetividade como noção de situação ideal de discurso, análoga ao
conceito de sucesso dos atos de fala de Austin.

Desta forma, é destacada a possibilidade dos estudos sobre a lógica da


linguagem reinterpretar não só o que é dito, mas também a situação na qual os atos de
fala se concretizam, como precondição para a eficácia da comunicação. Característica
que sugere a prática de diálogos abertos, portanto transparentes e libertadores das
lógicas interpretativas pré-estabelecidas.

Aidar (1996) relaciona as experiências comunicativas, que constroem nosso


mundo vivido, à forma como validamos os atos de fala em contexto. Aponta que o ato
comunicativo assume em padrões de Habermas três parâmetros interpretativos de
“mundo vivido” que se interdependem durante o processo. Primeiramente, existe a
pretensão de verdade do enunciado, ao se tratar de uma atitude objetiva do locutor, que
pode intervir na ação comunicativa de modo eficaz como observador neutro, garantindo
algo sobre o estado de fato de aspecto do mundo objetivo. Em seguida, há a tendência

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de assumirmos uma atitude de conformidade em relação às normas que o possibilitam
cumprir as expectativas generalizadas de comportamento do grupo que pertencemos,
cuja pretensão é a retidão normativa. O último parâmetro de ação interpretativa seria
aquele no qual pretende-se alcançar a veracidade a partir do fato de expressarmos e
apresentarmos algo de nosso mundo interior, ao qual teríamos um acesso privilegiado,
para um público que nos ouve.

Noções sobre referência, lógica interpretativa, forma de vida e mundo vivido


demonstram a evolução de teorias de Filosofia da Linguagem que foram desenvolvidas
ao longo do século passado, as quais procuram estabelecer parâmetros de análise sobre a
forma como o sujeito olha o objeto durante a sua experiência interpretativa. Optamos
por analisar cena do filme Patch Adams, o amor é contagiante – produção Blue Wolf-
Farrell/Minoff-Bungalow, 1998, Universal Studios –, justamente pelo fato deste
levantar questões sobre eficácia de comunicação na área hospitalar que acreditamos
possam ser desdobradas para qualquer outra situação de interação humana pela
linguagem.

a) Descrição da cena: personagem Patch Adams participa de terapia de grupo


sob orientação de um psiquiatra. (M). Neste se encontram; Rudy (R), Bennie (B),
paciente catatônico que mantém o braço direito levantado todo o tempo da cena e mais
dois pacientes (P1), (P2).

b) Transcrição dos atos de fala:

(Estão todos tensos)

P1 – Por que aqui? Está apertado.

M – Estamos aqui para que Rudy possa participar.

P1 – É apertado.

M – Mais alguém?

P1 – Apertado!

PA – Ele tem uma pergunta.

(Todos riem)

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M – Acha engraçado caçoar dos outros?

PA – Talvez ele tenha uma dúvida. Está vivo.

M – É catatônico.

PA – Tem um cérebro, talvez queira participar.

R – Talvez tenha uma pergunta.

(Os demais se interessam)

P2 – É, talvez.

P1 – Talvez saiba por que estamos apertados.

(Rudy ri)

PA – Talvez saiba mais do que a gente pensa. Com licença. Beenie, onde fica o
céu?

(Todos riem)

PA – Acertou!

M – Basta, Hunter!

PA – Qual é a altura de Wilt Chamberlain?

(Todos riem)

PA – Certo.

Rudy – Onde está o teto?

(Todos riem)

M – Pare!

P2 – Onde os pássaros voam?

(Todos riem)

PA – Como saúda Hitler?

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P1 – Como Hitler saúda?

(Todos riem)

(O médico sai)

PA – Quem ganha um concurso de encarar? Beenie!

(Todos riem)

Rudy – Quem soltou um peido?

PA – Beenie!

PA – Quem se masturba?

(Todos levantam a mão e riem)

PA – Como um árbitro maneta indica um gol? Tchau, Beenie.

(Os pacientes são retirados do quarto)

R – A sessão foi muito boa!

(PA e R riem juntos)

A ação se inicia com um dos pacientes questionando a escolha daquele espaço


para o encontro, por considerá-lo pequeno O psiquiatra responde explicando que a
escolha deve-se à Rudy. Ao mesmo tempo que responsabiliza Rudy pelo desconforto da
situação, não valida a questão posta pelo paciente, descontextualizando a sua fala. O
paciente insiste na colocação de que o espaço é pequeno e o médico não lhe responde,
descontextualiza novamente a mensagem e coloca outra pergunta. O ambiente fica
tenso, os participantes demonstram inquietação, considerando-se que não houve
interação à medida em que a construção de sentido dos fatos que se apresentavam a
partir do mundo vivido dos pacientes não eram respondidos pelo médico, profissional
pressupostamente responsável pela condução dos atos de fala que se estabelecem em
jogos de linguagem terapêuticos. Patch age comunicativamente e amplia as
possibilidades de construção de significados intersubjetivos ao utilizar o braço
estendido de Bennie, colocando ao psiquiatra que este gesto significa que ele tem uma

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pergunta a fazer, portanto incluindo Bennie no contexto. O médico não compartilha o
sentido produzido pela colocação de Patch.

Entretanto, o jogo de linguagem não-verbal de Patch, que aproveita um signo


não-lingüístico, em contexto, desloca a atenção do malogro dos atos de fala do
psiquiatra e provoca reações de interação entre os demais, que passam a utilizar o
significado deste fato não-lingüístico como referência comum para interagirem com
Bennie, que valida os jogos mantendo o braço erguido. Patch ao assumir uma visão
panorâmica da situação, estabelece novas regras de racionalidade em contexto a ponto
de envolver os demais pacientes positivamente por intermédio de expressões verbais e
não verbais. A interação por intermédio de atos de fala verbais dos pacientes sugerem
que estes ao fazerem perguntas, se utilizam do aspecto performativo de seus enunciados
para continuar se comunicando contextualmente com Bennie. Rudy pergunta à Bennie
onde está o teto e o gesto de Bennie indica a direção do teto. P2 quer saber onde os
pássaros voam e o mesmo gesto aponta o céu. Patch pergunta quem se masturba e todos
se solidarizam com Benny e levantam as mãos,num gesto de afirmação que demonstra o
consenso atingido. Sob padrões analíticos de referência do significado, se estes atos de
fala não estivessem em contexto, não produziriam sentido apesar de provarem ter
estabelecido interação entre os participantes. Patch, apesar de transgredir o caráter
convencional de uma terapia psiquiátrica, agiu por intermédio de uma estratégia de jogo
que expressou com sucesso a sua intenção de que todos interagissem por intermédio dos
fatos que se apresentavam. Seus atos foram legitimados tanto na sua emissão das
mensagens, quanto na interpretação das mesmas pelos participantes. A atitude objetiva
de Patch em intervir de uma forma eficaz na terapia de grupo ilustra a proposta de teoria
crítica social pelo Agir Comunicativo de Habermas.

Considerações finais

Questões sobre o referente, valor de verdade, dos significados produzidos pela


linguagem verbal, exaustivamente analisados tanto pelas teorias estruturalistas quanto
analíticas provam ser insuficientes, quando nos propomos a interagir em contexto.

Entendemos que para atingirmos consenso no cotidiano de nossas interações


comunicativas, quer pessoal, quer profissional, seja necessário irmos além do

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reconhecimento de aspectos de intencionalidade da fala do Outro, como proposto pela
pragmática e das regras de valores sociais, estabelecidas por estudos culturais.

Faz-se também necessária a reflexão sobre até que ponto a lógica que utilizamos
ao interagirmos pela linguagem verbal não é fruto de nossa “forma de vida” ou de
“mundo vivido” que acabam por caracterizar os pressupostos interpretativos que
trazemos para os jogos de linguagem dos quais participamos. Desta forma, os nossos
hábitos interpretativos podem curiosamente constituir-se em mote de
descontextualização de interação de nossos atos de fala. Aspecto que acaba por
desencadear ruídos comunicativos entre nós e nossos interlocutores.

Se pararmos para refletir sobre os fatores que não nos permitem aceitar a lógica
do Outro, teremos condições de assumir o aspecto real dos fatos que estão sendo postos
no jogo, privilegiando o espaço e o tempo da interação, situação essa representada pela
cena do filme Patch Adams, o amor é contagiante que ilustra algumas das
possibilidades de estratégia comunicativa que vêem sendo adotadas em trabalhos de
apoio, realizados por voluntários da comunicação a pacientes hospitalizados.

Grupos como Fábrica do Riso e Doutores da Alegria, entre tantos, provam que
questões sobre comunicação e suas estratégias podem começar a ser vivenciadas a partir
do reconhecimento do contexto como tempo e espaço real de negociação de produção
de sentido. Fazendo, assim, valer à pena o objetivo da comunicação, que é o de “tornar
comum” os jogos que se estabelecem entre os participantes.

Referências Bibliográficas

AIDAR, J. L. P. Brecha na Comunicação: Habermas, o Outro, Lacan. São Paulo:


Hacker, 1996.
MARCONDES, D. Filosofia, Linguagem e Comunicação. São Paulo: Cortez, 2000.
WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Série Os Pensadores. 5 ed. São Paulo:
Nova Cultural, 1991.
_____. Tractatus Lógico-Philosophicus.. 3 ed. São Paulo: EDUSP, 2001.

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