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1. Introdução
Carboidratos, ou sacarídeos, são componentes encontrados com abundância na
natureza, estando presente em todos os seres vivos. São usualmente divididos em
monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos (VOET e VOET, 2013).
Os polissacarídeos são biopolímeros compostos por monossacarídeos unidos por
ligações glicosídicas que se diferenciam pelo tipo de ligação, pela quantidade de unidades
monossacarídicas, bem como, pela ramificação de suas cadeias e os carbonos de ramificação
(NELSON e COX, 2011; VOET e VOET, 2013)
Esses biopolímeros compõe uma parcela grande da biomassa dos fungos, por volta
de 75% da parede celular das hifas. A quitina e os exopolissacarídeos representam a maioria
desses polissacarídeos (BARRETO-BERGTER et al , 2014). A principal função destes
compostos na parede celular dos fungos é auxiliar na conservação da sua rigidez e integridade
(BAUERMEISTER et al., 2010).
Polissacarídeos sintetizados dentro de células de fungos e excretados para o meio
extracelular, são chamados de exopolissacarídeos (CORRADI DA SILVA et al., 2006;
CUSTÓDIO, 2017; FONSECA, 2017; MAHAPATRA e BANERJEE, 2013; SOMENSI, 2014).
Eles podem ser extraídos da parede celular de leveduras, micélios fúngicos e corpos de
frutificação de fungos, além da possibilidade da produção deste componente em cultivo
submerso (SOMENSI, 2014).
Os fungos do gênero Pleurotus constituem um grupo de fungos com elevado valor
nutricional e propriedades terapêuticas, com diversas aplicações ambientais e biotecnológicas
(COHEN et al., 2002).
Os exopolissacarídeos vêm despertando interesse de pesquisadores, pois possuem
atividade sobre o sistema imunológico, atuando como modificadores a resposta biológica
(SOMENSI, 2014), com destaque para as ações antitumorais (CHAVES et al., 2014;
DALONSO et al., 2010; FONSECA, 2017; ZONG et al., 2012), antioxidantes (TAKAHASHI et
al., 2017; MAHAPATRA e BANERJEE, 2013; WASSER, 2014) e anti-inflamatórias (CORRADI
DA SILVA et al., 2006; MENG et al., 2016; SILVEIRA, 2015; SMIDERLE et al., 2008).
Por conta destas propriedades e outras já relatadas, os exopolissacarídeos
demonstram uma gama de aplicações farmacológicas, que são um atrativo econômico para
esse produto. Isso incentiva o desenvolvimento de pesquisas científicas, a fim de encontrar
métodos eficientes e viáveis para a produção e extração desses componentes.
Tradicionalmente, os exopolissacarídeos são obtidos dos corpos frutíferos de fungos,
por meio de extrações com soluções polares e apolares podendo ser conduzido a altas
temperaturas (SILVEIRA, 2015; SMIDERLE et al., 2008; SYNYTSYA et al., 2009). A produção
de copos frutíferos é feita por cultivo sólido, necessitando de uma grande área de produção e
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muito tempo (aproximadamente 60 dias) (SILVEIRA, 2015) para obter corpos frutíferos que
tem, em sua composição, cerca de 90% de água (FURLANI e GODOY, 2007).
Neste contexto, o cultivo submerso é mais vantajoso para a produção de
exopolissacarídeos, pois necessita de um espaço menor para produção de massa micelial e
exopolissacarídeos, e também proporciona um controle maior sobre parâmetros de processo
como pH, temperatura e agitação (CUSTÓDIO, 2017; SMIDERLE et al., 2011). Além disso, o
tempo de cultivo é menor, a reprodutibilidade é melhor e o processo oferece uma garantia
maior de condução estéril (SILVEIRA, 2015).
Com o intuito de identificar as melhores condições para a produtividade de
exopolissacarídeos, o presente trabalho visa avaliar a cinética de produção deste composto
utilizando o fungo Pleurotus sajor-caju em biorreator de mistura completa em processo em
batelada.
2. Metodologia
2.1 Micro-organismo e manutenção
Foi utilizado o fungo Pleurotus sajor-caju obtido da Coleção de Culturas de
Basidiomicetos do Instituto de Botânica da Universidade de São Paulo (USP) sob código CCB
019 nos experimentos. A linhagem foi mantida em meio TDA (Trigo Dextrose Ágar), em placa
de Petri, sob refrigeração (4 ºC) (FURLAN et al., 1997).
O meio TDA foi elaborado com 20 g de dextrose, 15 g de ágar e 1 L de extrato de trigo,
que foi obtido pelo cozimento de grãos de trigo em água, na proporção de 1:2 (grãos de
trigo:água, m/v), por 10 minutos. O meio foi esterilizado em autoclave a 121 °C e vertido em
placas de Petri, em cabine de segurança biológica de fluxo laminar (Veco, VLFS-18). Após
esfriar, as placas foram seladas e incubadas em estufa a 30 °C por 5 dias para verificar
possíveis contaminações. As placas livres de contaminações foram inoculadas, no centro da
placa, com um disco (~12 mm de diâmetro) de ágar contendo micélio de P. sajor-caju,
proveniente da placa de manutenção do fungo previamente preparada. As placas foram
incubadas em estufa a 30 °C por 7 dias.
Onde:
Pf representa a concentração final de exopolissacarídeos (g/L), ao final do cultivo;
P0 representa a concentração inicial de exopolissacarídeos (g/L);
Sf representa a concentração final de glicose (g/L), ao final do cultivo;
S0 representa a concentração inicial de glicose (g/L).
Também foi calculado o fator de conversão de glicose em biomassa (YX/S) conforme
equação 2.
(𝑋𝑓 −𝑋0)∗100
𝑌𝑋 = (2)
𝑆
𝑆0−𝑆𝑓
Onde:
Xf representa a concentração final de biomassa (g/L), ao final do cultivo;
X0 representa a concentração inicial de biomassa (g/L).
3. Resultados e Discussão
Após a execução dos procedimentos descritos na metodologia, foram obtidos os
resultados para os valores das concentrações de glicose, biomassa e exopolissacarídeos em
relação ao tempo de cultivo. Com estes resultados foi possível construir as curvas cinéticas
de concentração de biomassa, produção de exopolissacarídeos e consumo de glicose
utilizando meio POL modificado para crescimento do fungo Pleurotus sajor-caju em biorreator
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(figura 1).
De acordo com Schimidell et al. (2001), a cinética que representa o cultivo estudado
(figura 1) pode ser descrita como do tipo 2 em relação a classificação de Gaden, na qual a
geração de exopolissacarídeo está parcialmente associada com o crescimento de biomassa,
visto que a concentração de produto passa a diminuir após determinado tempo, enquanto a
concentração de biomassa continua em uma tendência crescente.
Na figura 1, observa-se que o tempo ótimo para a produção de exopolissacarídeos foi
em 280 horas de cultivo, quando foi obtido uma concentração máxima de exopolissacarídeos
de 16,8 g/L. Após este tempo, ocorreu uma diminuição drástica da concentração de
exopolisscarídeo, que pode estar associada a baixa concentração de glicose (substrato), que
em 280 h era de 18 g/L e em 310 h restava 3,9 g/L. O tempo de 280 horas de cultivo também
pode ser considerado o marco do início da fase estacionária no crescimento celular do fungo,
pois a sua curva de crescimento apresenta um perfil de estagnação após este período.
O mesmo perfil foi observado na curva cinética apresentada no trabalho de Assis et
al. (2013), que utilizaram P. sajor-caju, meio POL modificado com extrato de levedura e
concentração incial de glicose de 20 g/L e valor de pH de 4,0. Ao final do cultivo, a
concentração de exopolissacarídeos passa a diminuir, enquanto a concentração de biomassa
fúngica continua em uma tendência crescente.
composto de 20 g/L de glicose, 2,0 g/L de peptona, 2,0 g/L de extrato de levedura, 1,0 g/L de
K2HPO4, 0,46 g/L de KH2PO4 e 0,5 g/L de MgSO4.7H2O, conduzido em pH de 5,5, as curvas
cinéticas apresentaram classificação do tipo 1, pois a geração de produto está associada ao
crescimento microbiano (SCHIMIDELL et al., 2001).
Com os dados obtidos neste trabalho foram calculados os parâmetros cinéticos para
os fatores de conversão de exopolissacarídeos e biomassa (YP/S e YX/S, respectivamente),
produtividade máxima e total (QPmáx e QP, respectivamente), o rendimento mássico máximo e
total para a produção de exopolissacarídeo (tabela 1).
Observando os resultados obtidos (tabela 1), o fator de conversão de glicose em
exopolissacarídeos com relação ao tempo total de cultivo foi de 5,7%, valor baixo pois o
cálculo desta variável considera as concentrações de produto final e inicial, tendo em vista a
queda significativa de concentração de exopolissacarídeos.
Porém, se utilizar como tempo final do cultivo o tempo onde a concentração de
exopolissacarídeo foi máxima (280 h), o valor de fator de conversão de glicose em
exopolissacarídeo aumenta para 46,8%. Para o fator de conversão de glicose em biomassa o
valor observado foi de 32,3% e se considerar-se o tempo final como 280 h (onde a
concentração de exopolissacarídeo foi máxima) o valor atinge 45,3%. Quando foram
avaliadas as produtividades total e máxima em exopolissacarídeo, obteve-se os valores de
14,5 mg/L.h e 60 mg/L.h.
de carbono.
Tabela 3 – Comparação de meios para o fator de conversão de fonte de carbono em
exopolissacarídeo
Autor pH Concentração Inicial de Meio Utilizado YP/S
Fonte de Carbono (g/L) (%)
Assis et al. (2013) 4,0 20 Meio POL com extrato 4,0
(P. sajor-caju) (Glicose) de levedura
Chaves et al. (2014) 4,0 40 Meio POL com extrato 6,0
(P. ostreatus ) (Glicose com Reposição) de levedura
Duobin et al. (2013) 6,0 60 Triptona, NaCl e de 19,12
(P. Geesteranus) (Maltose) KH2PO4
Maftoun et al. (2013) 5,5 20 Meio POL com extrato 9,9
(P. ostreatus ) (Glicose) de levedura
Shen et al. (2013) 5,0 60 Extrato de soja, 7,30
(P. Pulmonarius) (Xilose) KH2PO4 e MgSO4
Resultados obtidos 4,5 50 Meio POL sem extrato 5,70 (Final)
Observando os resultados obtidos percebe-se que o meio de cultivo proposto por este
trabalho possui uma produtividade máxima de exopolissacarídeo e o fator de conversão de
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4. Conclusão
O presente trabalho avaliou a cinética de produção de exopolissacarídeo utilizando o
fungo Pleurotus sajor-caju em biorreator com processo em batelada, obtendo valores
superiores aos melhores resultados para os parâmetros de fator de conversão de glicose em
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Referências
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