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Apelação Cível - Turma Espec.

III - Administrativo e Cível


Nº CNJ : 0018168-42.2004.4.02.5101 (2004.51.01.018168-7)
RELATOR : Desembargadora Federal VERA LÚCIA LIMA
CAARJ - CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DO ESTADO DO RIO
APELANTE :
DE JANEIRO
ADVOGADO : VICTOR HUGO NOGUEIRA MACHADO
APELADO : CONCEICAO DE MARIA COSTA HOMEM FROES
ADVOGADO : LUCIA HELENA OUVERNEI BRAZ DE MATOS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (00181684220044025101)
   
E M E N T A

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PLANO DE SAÚDE. CAARJ.


REAJUSTE POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. CONTRATO ANTERIOR AO
ESTATUTO DO IDOSO. CLÁUSULA ABUSIVA. NULIDADE DE CLÁUSULA.
RECURSO DESPROVIDO.
- Cinge-se a controvérsia ao exame da ocorrência de possível
abusividade e nulidade de cláusula contratual que prevê o
reajuste de mensalidade por faixa etária de plano de saúde,
contratado anteriormente à edição do Estatuto do Idoso (Lei
10.741/2003).
- A presente demanda não se encontra submetida ao duplo grau
obrigatório, tendo em vista a aplicação do §2º, do art. 475,
do CPC.
- Discute-se, na espécie, a legalidade da cláusula 15,
parágrafos 3 e 4º, do contrato firmado pela autora (fl. 15
verso), que prevê o reajuste automático de 70,31%, ao se
atingir 60 (sessenta) anos de idade.
- A questão referente ao aumento da mensalidade por faixa
etária nos planos de saúde encontra-se disposta nos arts. 15
e 16 da Lei 9.656/98, com redação dada pela Medida Provisória
nº 2.177-44 de 24/08/2001.
- No caso, a autora celebrou o contrato em julho de 2002,
sendo certo que, quando do implemento do reajuste, em outubro
de 2003, ainda não contava com 10 (dez) anos de participação
no plano de saúde, razão pela qual afigura-se inaplicável, à
espécie, a exceção prevista no art. 15 da Lei nº 9.656/98.
- De outro lado, importa considerar que, com o advento do
Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), cujo art. 15, §3º, veda
expressamente a discriminação do idoso nos planos de saúde

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pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade,
houve a edição, pela ANS, da Resolução Normativa nº 63/2003.
- Portanto, a própria ANS estabeleceu como última faixa
etária para aumento dos planos de saúde a idade de 59 anos,
de modo a respeitar o disposto no Estatuto do Idoso.
- No que tange aos contratos celebrados no interregno entre a
Lei nº 9.656/98 e a Lei nº 10.741/03, como na hipótese dos
autos, a Terceira e a Quarta Turmas do STJ já se pronunciaram
no sentido de que o Estatuto do Idoso, por se tratar de norma
de ordem pública, deve ser aplicado a todos os contratos de
plano de saúde, inclusive àqueles firmados antes de seu
advento.
- No que concerne ao valor das prestações, insta salientar
que seu reajuste não pode ser feito de forma livre e
aleatória – ainda que exista previsão contratual nesse
sentido – sob pena de legitimar-se a iniquidade e a
unilateralidade das alterações contratuais, agravadas pela
própria natureza adesiva do contrato celebrado entre as
partes. A vedação não encontra respaldo apenas no Código de
Defesa do Consumidor (Art. 51. São nulas de pleno direito,
entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV -
estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; Art. 54, caput -
Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem
que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente
seu conteúdo"), que prevê o equilíbrio contratual entre
consumidor e fornecedor, mas também no Código Civil, que
alude às cláusulas potestativas em seu artigo 122 ("Art. 122.
São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à
lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições
defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio
jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes
").
- Sendo assim, haja vista que a ré deve seguir as regras

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impostas pela ANS e pela legislação pertinente, não lhe é
conferida autonomia para reajustar livremente o valor das
prestações mensais de seus associados, devendo ater-se ao
limite de 11,75% fixado pela Resolução Normativa 74/2004 da
ANS, bem como às normas cogentes previstas na Lei 8.078/90
(CDC).
- Diante de tal quadro, tem-se por abusiva a cláusula 15,
parágrafos 3º e 4º, do contrato de fls. 14/16, na parte em
que estabeleceu reajuste de 70,31% às mensalidades devidas
pela autora quanto completasse 60(sessenta) anos de idade.
- Recurso da CAARJ desprovido.
 
A C Ó R D Ã O

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima


indicadas:
Decide a Oitava Turma Especializada do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento ao
recurso, nos termos do relatório e voto constantes dos autos,
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Rio de Janeiro, de de 2015 (data do julgamento)

Desembargadora Federal VERA
  LUCIA LIMA
Relatora
 
 
 
 

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0018168-42.2004.4.02.5101 (2004.51.01.018168-7)
RELATOR : Desembargadora Federal VERA LÚCIA LIMA
CAARJ - CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DO ESTADO DO RIO
APELANTE :
DE JANEIRO
ADVOGADO : VICTOR HUGO NOGUEIRA MACHADO
APELADO : CONCEICAO DE MARIA COSTA HOMEM FROES
ADVOGADO : LUCIA HELENA OUVERNEI BRAZ DE MATOS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (00181684220044025101)
 
RELATÓRIO
 
A Desembargadora Federal VERA LÚCIA LIMA DA SILVA (Relatora): Trata-se de 
recurso de apelação interposto pela CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – CAARJ, alvejando sentença que julgou procedente, em
parte, o pedido autoral, para condenar a ré "a observar o limite de 11,75% no reajuste das
prestações, conforme estabelecido pela ANS, bem como para restituir, através de
devolução simples ou compensação nas cobranças futuras, quando cabível, os valores
referentes a julho de 2004 e meses subsequentes que tenham sido pagos a maior", ao
fundamento de que "não importa qual seja a natureza jurídica da CAARJ, se celebra com
seus associados contratos de plano de saúde, submete-se à Agência Nacional de Sáude e,
por conseguinte, há de respeitar ao percentual de reajuste de 11,75% legitimamente
estabelecido pela Resolução Normativa 74/2004 da ANS" e que "são nulos de pleno direito
todos os reajustes realizados pela CAARJ, em valor superior ao permitido pela Agência
Nacional de Sáude, devendo tais reajustes ser limitados aos índices permitidos pela ANS
no período". Correção monetária de acordo com a Tabela de Precatórios da Justiça Federal
e juros de mora em 1% (um por cento) ao mês a partir da citação. Ademais, condenou a ré
ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor
total da condenação.
 
   
Recurso de apelação interposto pela CAARJ, às fls. 187/193, pugnado pela reforma da
sentença, ao argumento de que “está devidamente comprovada a legalidade de todos os
atos praticados pela Recorrente, principalmente, no tocante ao reajuste por mudança de
faixa etária, conforme previsão contratual" e que "o contrato foi firmado sem qualquer
 vício de consentimento ou de forma, logo, não há porque não ser cumprido".
 
  Sem contrarrazões.
   
Em parecer de fl. 204, o Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do
recurso.

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  É o relatório.
 

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0018168-42.2004.4.02.5101 (2004.51.01.018168-7)
RELATOR : Desembargadora Federal VERA LÚCIA LIMA
CAARJ - CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DO ESTADO DO RIO
APELANTE :
DE JANEIRO
ADVOGADO : VICTOR HUGO NOGUEIRA MACHADO
APELADO : CONCEICAO DE MARIA COSTA HOMEM FROES
ADVOGADO : LUCIA HELENA OUVERNEI BRAZ DE MATOS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (00181684220044025101)
VOTO

A Desembargadora Federal VERA LÚCIA LIMA DA SILVA (Relatora): Consoante


já relatado, cinge-se a controvérsia ao exame da ocorrência de possível abusividade e
nulidade de cláusula contratual que prevê o reajuste de mensalidade por faixa etária de
plano de saúde, contratado anteriormente à edição do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003).

Inicialmente, cumpre ressaltar que a presente demanda não se encontra submetida ao


duplo grau obrigatório, tendo em vista a aplicação do §2º, do art. 475, do CPC.

No mérito, verifica-se que não merece prosperar o recurso de apelação interposto pela
CAARJ, senão vejamos.

Discute-se, na espécie, a legalidade da cláusula 15, parágrafos 3 e 4º, do contrato


firmado pela autora (fl. 15 verso), que prevê o reajuste automático de 70,31%, ao se atingir
60 (sessenta) anos de idade.

A questão referente ao aumento da mensalidade por faixa etária nos planos de saúde
encontra-se disposta nos arts. 15 e 16 da Lei 9.656/98, com redação dada pela Medida
Provisória nº 2.177-44 de 24/08/2001. É ler:
"Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas
nos contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1º. do art. 1º
desta Lei, em razão da idade do consumidor, somente poderá ocorrer
caso estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e os
percentuais de reajustes incidentes em cada uma delas, conforme
normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto no art. 35-E.
Parágrafo único. É vedada a variação a que alude o caput para
consumidores com mais de sessenta anos de idade, que participarem
dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art.1º, ou sucessores,
há mais de dez anos.

Art. 16. Dos contratos, regulamentos ou condições gerais dos produtos


de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei devem constar

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dispositivos que indiquem com clareza:
I – as condições de admissão;
II – o início da vigência;
III – os períodos de carência para consultas, internações,
procedimentos e exames;
IV – as faixas etárias e os percentuais a que alude o caput do art. 15."

Especificando os referidos dispositivos legais, eis o regramento da ANS então vigente,


a Resolução CONSU nº. 6/98:
"Art. 1º Para efeito do disposto no artigo 15 de Lei 9.656/98, as
variações das contraprestações pecuniárias em razão da idade do
usuário e de seus dependentes, obrigatoriamente, deverão ser
estabelecidas nos contratos de planos ou seguros privados a
assistência à saúde, observando-se o máximo de 07 (sete) faixas,
conforme discriminação abaixo:
I - 0 (zero) a 17 (dezessete) anos de idade;
II - 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos de idade:
III - 30 (trinta) a 39 (trinta e nove) anos de idade;
IV - 40 (quarenta) a 49 (quarenta e nove) anos de idade;
V - 50 (cinqüenta) a 59 (cinqüenta e nove) anos de idade;
VI - 60 (sessenta) a 69 (sessenta e nove) anos de idade;
VII- 70 (setenta) anos de idade ou mais.

Art. 2º As operadoras de planos e seguros privados de assistência à


saúde poderão adotar por critérios próprios os valores e fatores de
acréscimos das contraprestações entre as faixas etárias, desde que o
valor fixado para a faixa etária prevista no inciso VII do art.1° desta
Resolução, não seja superior a seis vezes o valor da faixa etária
prevista no inciso I do art. 1° desta Resolução.
§ 1º A variação de valor na contraprestação pecuniária não poderá
atingir o usuário com mais de 60 (sessenta) anos de idade, que
participa do um plano ou seguro há mais de 10 (dez) anos, conforme
estabelecido na Lei n° 9.656/98.
§ 2º A contagem do prazo estabelecido no parágrafo anterior deverá
considerar cumulativamente os períodos de dois ou mais planos ou
seguros, quando sucessivos e ininterruptos, numa mesma operadora,
independentemente de eventual alteração em sua denominação social,
controle empresarial, ou na sua administração, desde que
caracterizada a sucessão."

No caso, a autora celebrou o contrato em julho de 2002, sendo certo que, quando do
implemento do reajuste, em outubro de 2003, ainda não contava com 10 (dez) anos de
participação no plano de saúde, razão pela qual afigura-se inaplicável, à espécie, a exceção
prevista no art. 15 da Lei nº 9.656/98.

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De outro lado, importa considerar que, com o advento do Estatuto do Idoso (Lei
10.741/2003), cujo art. 15, §3º, veda expressamente a discriminação do idoso nos planos de
saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade, houve a edição, pela ANS,
da Resolução Normativa nº 63/2003, verbis:
Art. 2º Deverão ser adotadas dez faixas etárias, observando-se a
seguinte tabela:
I - 0 (zero) a 18 (dezoito) anos;
II - 19 (dezenove) a 23 (vinte e três) anos;
III - 24 (vinte e quatro) a 28 (vinte e oito) anos;
IV - 29 (vinte e nove) a 33 (trinta e três) anos;
V - 34 (trinta e quatro) a 38 (trinta e oito) anos;
VI - 39 (trinta e nove) a 43 (quarenta e três) anos;
VII - 44 (quarenta e quatro) a 48 (quarenta e oito) anos;
VIII - 49 (quarenta e nove) a 53 (cinqüenta e três) anos;
IX - 54 (cinquenta e quatro) a 58 (cinquenta e oito) anos;
X - 59 (cinquenta e nove) anos ou mais.

Portanto, a própria ANS estabeleceu como última faixa etária para aumento dos planos
de saúde a idade de 59 anos, de modo a respeitar o disposto no Estatuto do Idoso.

No que tange aos contratos celebrados no interregno entre a Lei nº 9.656/98 e a Lei nº
10.741/03, como na hipótese dos autos, a Terceira e a Quarta Turmas do STJ já se
pronunciaram no sentido de que o Estatuto do Idoso, por se tratar de norma de ordem
pública, deve ser aplicado a todos os contratos de plano de saúde, inclusive àqueles
firmados antes de seu advento.

Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM
FUNÇÃO DE MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. CONTRATO
CELEBRADO ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DO ESTATUTO
DO IDOSO. NULIDADE DE CLÁUSULA.
1.- É nula a cláusula de contrato de plano de saúde que prevê reajuste
de mensalidade baseado exclusivamente na mudança de faixa etária,
ainda que se trate de contrato firmado antes da vigência do Estatuto do
Idoso, porquanto, sendo norma de ordem pública, tem ela aplicação
imediata, não havendo que se falar em retroatividade da lei para
afastar os reajustes ocorridos antes de sua vigência, e sim em vedação
à discriminação em razão da idade.
2.- Ademais, o art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor
permite reconhecer a abusividade da cláusula, por constituir obstáculo
à continuidade da contratação pelo beneficiário, devendo a

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administradora do plano de saúde demonstrar a proporcionalidade
entre a nova mensalidade e o potencial aumento de utilização dos
serviços, ou seja, provar a ocorrência de desequilíbrio ao contrato de
maneira a justificar o reajuste.
3.- Agravo Regimental improvido.
(STJ, Agravo Regimental no Recurso Especial 1.324.344, Terceira
Turma, Relator Ministro Sidnei Beneti, Publicado no DJE em
01/04/2013)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PLANO DE


SAÚDE. REAJUSTE DE MENSALIDADES EM RAZÃO DE
MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. VEDAÇÃO. PRECEDENTES.
DECISÃO AGRAVADA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS.
1. Deve ser declarada a abusividade e consequente nulidade de
cláusula contratual que prevê reajuste de mensalidade de plano de
saúde calcada exclusivamente na mudança de faixa etária. Veda-se a
discriminação do idoso em razão da idade, nos termos do art. 15, § 3º,
do Estatuto do Idoso, o que impede especificamente o reajuste das
mensalidades dos planos de saúde que se derem por mudança de faixa
etária. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
2. Da leitura das razões expendidas na petição de agravo regimental
não se extrai argumentação relevante apta a afastar os fundamentos do
julgado ora recorrido. Destarte, deve a decisão ser mantida por seus
próprios e jurídicos fundamentos.
3. Agravo regimental desprovido".
(STJ, Recurso Especial 533.539, Quarta Turma, Relator Ministro
Fernando Gonçalves, Publicado no DJE em 08/03/2010)

Ademais, cumpre destacar que os contratantes do plano de saúde oferecido pela ré se


enquadram na definição de consumidor, prevista no artigo 2º do CDC, uma vez que os
representados na presente ação se manifestam a condição de destinatários finais do serviço
oferecido. Por outro lado, muito embora a ré afirme sua qualidade de entidade de direito
publico sem fins lucrativos, é certo que a mesma, ao operar planos de saúde e ser
remunerada pelo serviço que oferece, se enquadra na definição de fornecedor imposta pelo
artigo 3º do mesmo diploma legal.

No que tange ao valor das prestações, insta salientar que seu reajuste não pode ser
feito de forma livre e aleatória – ainda que exista previsão contratual nesse sentido – sob
pena de legitimar-se a iniquidade e a unilateralidade das alterações contratuais, agravadas
pela própria natureza adesiva do contrato celebrado entre as partes. A vedação não encontra
respaldo apenas no Código de Defesa do Consumidor (Art. 51 - São nulas de pleno direito,

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entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que: (...) IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade; Art. 54, caput - Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor
de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo"), que prevê o equilíbrio contratual entre consumidor e
fornecedor, mas também no Código Civil, que alude às cláusulas potestativas em seu artigo
122 ("Art. 122 - São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de
todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes").

Sendo assim, haja vista que a ré deve seguir as regras impostas pela ANS e pela
legislação pertinente, não lhe é conferida autonomia para reajustar livremente o valor das
prestações mensais de seus associados, devendo ater-se ao limite de 11,75% fixado pela
Resolução Normativa 74/2004 da ANS, bem como às normas cogentes previstas na Lei
8.078/90 (CDC).

Nesse sentido, trago à colação alguns precedentes jurisprudenciais:

“ADMINISTRATIVO. CAARJ. REAJUSTE DE MENSALIDADES.


CONTRATOS. PLANO DE SAÚDE PLASC/CAARJ. CLÁUSULA
INVÁLIDA.CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 1. A
questão de fundo versa sobre os aumentos da contraprestação do plano
de assistência médico-hospitalar, sem prévia autorização da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 2. O fato de a ré prestar
assistência à saúde aos seus associados e dependentes a torna
submissa às normas que regem o setor de saúde suplementar (Lei nº
9.656/98). 3. Não importa qual seja a natureza jurídica da CAARJ. Se
celebra com seus associados contratos de plano de saúde, submete-se
à Agência Nacional de Saúde e, por conseguinte, há de respeitar o
percentual de reajuste de 11,75%, legitimamente estabelecido pela
Resolução Normativa 74/2004 da ANS. 4. A PLASC/CAARJ é uma
operadora de planos de saúde, devendo ser tratada como tal, uma vez
que a questão em tela se situa no plano da relação contratual entre a
operadora (prestadora de serviços) e os contratantes (consumidores).
É o que se depreende da leitura dos artigos 2o. e 3o. do Código de
Defesa do Consumidor, não se podendo afastar a tese de que a
CAARJ é autêntico fornecedor, à luz do art. 3o. da Lei Consumerista.
5. Apelação desprovida. Sentença confirmada."
(AC 517392, Desembargadora Federal Maria Alice Paim Lyard, Sexta
Turma Especializada, julgado em 23/08/2011, DJ 29/08/2011, págs.

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106/107).

"ADMINISTRATIVO. CAARJ. REAJUSTE DE MENSALIDADES.


CONTRATOS. PLANO DE SAÚDE PLASC/CAARJ. CLÁUSULA
INVÁLIDA.CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
LEGITIMIDADE SINDICATO.
- Cuida-se de ação ordinária, com pedido de antecipação de tutela,
ajuizada pelo SINDICATO DOS ADVOGADOS DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO, objetivando a declaração de abusividade do
reajuste mensalidades do plano de saúde administrado pela Ré, a
fixação do índice de reajuste em 11,75%, e a condenação da Ré à
repetição do indébito e à reparação pelos danos morais.
- Improsperável o recurso.
- Destarte, a uma, porque o Supremo Tribunal Federal, em diversos
precedentes, asseverou que “os sindicatos têm legitimidade processual
para atuar em defesa de todos e quaisquer direitos subjetivos
individuais e coletivos dos integrantes da categoria por ele
representado” (STF RE 197029 DJ 16/02/07, RE 193503, RE 193579,
RE 208983, RE 214668); a duas, porque como sinalou, com
propriedade, o Ministério Público Federal, junto ao juízo a quo “ No
mérito, a ré alega possuir personalidade jurídica de natureza pública,
e que, apesar de “operar plano de assistência à saúde”, conforme
preconiza a Lei no. 9656/98, que regulamenta a atuação das
operadoras, não se sujeitaria às suas normas, bem como às da
Agência Nacional de Saúde (ANS), em razão da sua
natureza.Primeiramente, sabe-se que existe controvérsia na doutrina
acerca da natureza jurídica da OAB e, conseqüentemente, da Caixa
de Assistência dos Advogados, por ser esta órgão daquela (art.45, IV,
da Lei no. 8906/94).(...)Logo, não importa qual seja a natureza
jurídica da CAARJ, se celebra com seus associados contratos de
plano de saúde, submete-se à Agência nacional de Saúde e, por
conseguinte, há de respeitar ao percentual de reajuste de 11,75%,
legitimamente estabelecido pela Resolução Normativa 74/2004 da
ANS.Ainda que se pudesse admitir a esdrúxula tese de que a CAARJ
estaria fora da esfera da atribuição da ANS, coisa que se admite
apenas pelo gosto da argumentação, não há como aceitar o fato de
sequer se sujeitar às regras do Código de Defesa do Consumidor.A
PLASC/CAARJ é uma operadora de planos de saúde, devendo ser
tratada como tal, uma vez que a questão em tela se situa no plano da
relação contratual entre a operadora (prestadora de serviços) e os
contratantes (consumidores). É o que se depreende da leitura dos
artigos 2o. e 3o. do Código de Defesa do Consumidor. (...) não se
pode afastar a tese de que a CAARJ é autêntico fornecedor, à luz do
art.3o. da Lei Consumerista. (...) Assim, não basta haver uma
previsão contratual possibilitando o reajuste das mensalidades para

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que isso seja feito de forma aleatória. A unilateralidade,
característica dessa espécie, pode, e, quase sempre é exatamente o
que ocorre, ocasionar certos abusos por parte de quem estabelece as
regras, às quais adere o contratante. Mesmo que, a despeito de todas
as considerações acima, não se admite a aplicação da disciplina do
diploma consumerista ao caso em análise, cabe ressaltar que, num
contrato civil é inválida cláusula que deixa apenas a um dos
contratantes unilateralmente, afixação do preço ou do reajuste das
prestações. Essa cláusula seria inválida em qualquer contrato,
independentemente de ser ou não ser relação de consumo.(...)Por fim,
também entende o Ministério Público que a ré se submete às normas
cogentes da Lei no. 9.656/98, que dispõe sobre os planos e seguros
privados de assistência à saúde (...)” o que atraí, ipso jure a
normatividade, repudiada pela recorrente; a três, porque sendo norma
de ordem pública, tem incidência imediata nas relações, como na
hipótese de trato sucessivo (STJ V.G. Resp 331860, DJ 05/08/02); e a
quatro, porque inobservada a legislação de regência quaisquer
reajustes se mostram ilegítimos, o que deságua no desprovimento do
recurso.
-Remessa necessária e recurso, conhecidos e desprovidos.
(AC 200451010140004, Desembargadora Federal Poul Erik Dyrlund,
Oitava Turma Especializada, julgado em 05/06/2007, DJ 15/06/2007)

Ressalte-se que, em precedente desta Egrégia Corte (Sétima Turma Especializada),


adotando o posionamento firme do STJ, entendeu pela abusividade de cláusula de reajuste
que previa aumento de 34,19% ao contratante que alcançar 70 (setenta) anos de idade, in
verbis:
PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM FUNÇÃO DE MUDANÇA
DE FAIXA ETÁRIA. CONTRATO CELEBRADO
ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DO ESTATUTO DO IDOSO.
NULIDADE DE CLÁUSULA. PRESCRIÇÃO. 1. A relação entre as
partes não deriva de contrato de seguro, mas de plano de saúde. Uma
vez que inexiste previsão específica a respeito do prazo prescricional a
ser adotado, deveria ser considerado o de 10 (dez) anos, nos termos do
art. 205 do CC. No entanto, como a autora restringiu sua pretensão
recursal à aplicação do prazo quinquenal, ao mesmo deve-se limitar
este julgado. 2. A "jurisprudência do STJ considera abusiva cláusula
contratual que prevê reajuste de mensalidade de plano de saúde em
decorrência de mudança de faixa etária do segurado". (STJ, AgRg no
AREsp 202013, Quarta Turma, Relator Ministro Antônio Carlos
Ferreira, Publicado no DJE em 26/03/2013). 3. A repetição em dobro
do indébito, prevista no artigo 42, parágrafo único, do CDC,
pressupõe a existência de pagamento indevido e má-fé do credor, o
que não ocorreu no caso concreto. 4. No que tange à indenização por

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danos morais, o Juízo a quo acertadamente reconheceu o
descabimento da pretensão autoral. A autora foi incapaz de provar ter
sofrido consequência, que não patrimonial, do aumento imposto
contratualmente. 5. Em vez de impugnar a reciprocidade de
sucumbência reconhecida em sentença, a recorrente se insurge com a
forma de fixação de honorários, sendo certo que os mesmos sequer
foram estabelecidos, razão pela qual revela-se descabida a pretensão
recursal. 6. Apelação da autora conhecida e parcialmente provida.
Recurso adesivo e apelação dos réus conhecidos e desprovidos.
(AC 201151010063129, Rel: Desembargador Federal José Antônio
Neiva; Sétima Turma Especializada, DJe 31/05/2013)

Diante de tal quadro, tem-se por abusiva a cláusula 15, parágrafos 3º e 4º, do contrato
de fls. 14/16, na parte em que estabeleceu reajuste de 70,31% às mensalidades devidas pela
autora quanto completasse 60 (sessenta) anos de idade.

Na mesma linha de entendimento, como bem salientado pela Magistrada de piso, "
não importa qual seja a natureza jurídica da CAARJ, se celebra com seus associados
contratos de plano de saúde, submete-se à Agência Nacional de Sáude e, por conseguinte,
há de respeitar ao percentual de reajuste de 11,75% legitimamente estabelecido pela
Resolução Normativa 74/2004 da ANS (...). são nulos de pleno direito todos os reajustes
realizados pela CAARJ, em valor superior ao permitido pela Agência Nacional de Sáude,
devendo tais reajustes ser limitados aos índices permitidos pela ANS no período".

Por tais fundamentos, NEGO PROVIMENTO ao recurso da CAARJ.

É como voto.

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