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LITERATURA

Manifestações Literárias nos


“Descobrimentos”: Literatura dos Viajantes e
dos Jesuítas
Literatura de Cronistas Viajantes nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas
Carta de Pero Vaz de Caminha a D. Manuel I vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o
rosto.”[...]
A célebre “Carta do Achamento do Brasil” foi escrita
por Pero Vaz de Caminha em Porto Seguro, entre 26 Construções comparativas que vão além da linguagem
de abril e 2 de maio de 1500. Enquanto o restante da burocrática dos documentos oficiais:
armada seguiu para a Índia, o navio de Gaspar de “E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima daquela
tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha
Lemos foi despachado por Cabral para Lisboa, ao fim
(que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa
da estadia no Brasil. Por meio dele, a carta chegou ao terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua
seu destinatário. Das mãos de dom Manuel I, passou à como ela. Nenhum deles era fanado, mas, todos assim como
secretaria de Estado como documento secreto, pois se nós.”
queria evitar que chegasse aos espanhóis a notícia do Interpretações do imaginário europeu que
descobrimento. impulsionam a exploração da terra:
“Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas
dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e
depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a
terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como
se dariam ouro por aquilo.
Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de
acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que
nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal
de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para
o castiçal como se lá também houvesse prata.”[...]

Marcas de uma antropologia ideologicamente


orientada e de interesses do dominador:

Análise Linguística
O documento tem valor literário por descrever com
riqueza de detalhes e diversidade de imagens o
contato com os nativos e demonstrar a visão cultural
impressa pelos descobridores. Com a intenção de
informar ao rei o descobrimento e apresentar-lhe o
que aqui se encontrou, o estilo do autor é claro e “Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse
marcado pela objetividade, como convém a quem e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece,
escreve um relatório. não têm, nem entendem em nenhuma crença.
Mas o texto acaba sendo mais do que isso, pois o E portanto, se os degredados, que aqui hão de ficar aprenderem
escrivão não se comportou como um simples bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a
santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer
burocrata. Sua linguagem nunca é seca ou mesquinha. em nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga,
Pelo contrário, Caminha se dá o direito de ser bem- porque, certo, esta gente é boa e de boa simplicidade. E imprimir-
humorado, fazendo até trocadilhos e brincadeiras ao se-á ligeiramente neles qualquer cunho, que lhes quiserem dar. E
comparar o corpo das índias com o das mulheres pois Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e bons rostos,
portuguesas. como a bons homens, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem
causa.”
Descrições de aspectos físicos dos nativos:
O pedido que Caminha faz no último parágrafo da
“A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de
bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem Carta é muitas vezes tido como a primeira tentativa de

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nepotismo em território brasileiro. O que se verifica é
que, na verdade, Caminha apelou a D. Manuel para José de Anchieta (1534 - 1597)
que libertasse do cárcere o seu genro, casado com sua Nascido em 1534 na ilha de Tenerife, Canárias, o
filha Isabel, preso por assalto e agressão . Eis o trecho padre da Companhia de Jesus veio para o Brasil em
final no qual o cronista faz o pedido: 1553 e fundou, no ano seguinte, um colégio na região
da então cidade de São Paulo. Faleceu na atual cidade
“E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em de Anchieta, litoral do Espírito Santo, em 1597.
outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé
ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular branco"), Anchieta deixou suas obras divididas entre
mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro poemas, peças de teatro, sermões e, claro, na
-- o que d'Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa
elaboração de uma gramática que facilitasse o ensino
Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-
feira, 1º dia de maio de 1500." e o aprendizado da religião pelos indígenas. Seus
poemas, carregados de subjetividade, mostram um
Anchieta empenhado no louvor à religião católica, na
Literatura Jesuítica ou busca pelo consolo das adversidades da vida que é
encontrado apenas por meio da entrega e do amor

de Catequese divino e, claro, na vida dos santos.

A Produção Dramática
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o
Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de
Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi,
português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que
preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã.
PRIMEIRA MISSA NO BRASIL - VICTOR M EIRELES Anchieta intentou conciliar os valores católicos com os
símbolos primitivos dos habitantes da terra e com
Os impérios ibéricos continham em sua expansão uma aspectos da nova realidade americana. O sagrado
profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista- europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso
mercantil associavam um certo ideal religioso e significasse contradição, pois as ideias que triunfavam
salvacionista. Por essa razão, dezenas de religiosos nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A
acompanhavam as expedições a fim de converter os liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o
gentios. teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo
Como consequência da Contrarreforma, chegam, em coreográfico, a cor, o som.
1549, os primeiros jesuítas ao Brasil. Incumbidos de
catequizar os índios e de instalar o ensino público no
país, fundaram os primeiros colégios, que foram,
durante muito tempo, a única atividade intelectual
existente na colônia.
Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro de
caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas,
e produziram documentos que informavam aos
superiores na Europa o andamento dos trabalhos.
O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos
pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos
brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro.
Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua
tupi, utilizando-a como veículo de expressão. Os
índios não eram apenas espectadores das peças
teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores.

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Para isso
com os índios convivi.
Vêm os tais padres agora
com regras fora de hora
pra que duvidem de mim.
Lei de Deus que não vigora.

Pois aqui
tem meu ajudante-mor,
diabo bem requeimado,
meu bom colaborador:
grande Aimbirê, perversor
dos homens, regimentado.
Fragmento da fala de Guaixará In.: ANCHIETA, J. Auto representado
na Festa de São Lourenço. Disponível em: www.nead.unama.br

A Produção Lírica
A obra do padre Anchieta também merece
destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com
finalidade catequética, também elaborou poemas que
apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os
Quem é forte como eu? poemas mais conhecidos de José de Anchieta são: “Do
Como eu, conceituado? Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo,
Sou diabo bem assado. um trecho deste último poema:
A fama me precedeu;
Guaixará sou chamado.

Meu sistema é o bem viver.


Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido

Boa medida é beber


cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
F IGURA TELA DE BENEDITO CALIXTO DE JESUS (1853-1927),
a vida, e se recomenda A NCHIETA ESCREVENDO SEUS POEMAS NA AREIA
a quem queira aproveitar.
Cordeirinha linda,
A moçada beberrona Como folga o povo,
trago bem conceituada. Porque vossa vinda
Valente é quem se embriaga Lhe dá lume novo!
e todo o cauim entorna,
Cordeirinha santa,
e à luta então se consagra.
De Jesus querida,
Vossa santa vida
Quem bom costume é bailar!
O Diabo espanta.
Adornar-se, andar pintado,
Por isso vos canta
tingir pernas, empenado
Com prazer o povo,
fumar e curandeirar,
Porque vossa vinda
andar de negro pintado.
Lhe dá lume novo.
Andar matando de fúria, Nossa culpa escura
amancebar-se, comer Fugirá depressa,
um ao outro, e ainda ser Pois vossa cabeça
espião, prender Tapuia, Vem com luz tão pura.
desonesto a honra perder. Vossa formosura

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Honra é do povo, Lhe dais lume novo.
Porque vossa vinda Vós sois cordeirinha
Lhe dá lume novo. De Jesus Formoso;
Virginal cabeça, Mas o vosso Esposo
Pela fé cortada, já vos fez Rainha.
Com vossa chegada
Já ninguém pereça; Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
Vinde mui depressa pois com vossa vinda,
Ajudar o povo, Lhe dais trigo novo.
Pois com vossa vinda
índios em procissão no auto encenado aos índios na Festa
Exercício de são Lourenço e
E dali avistamos homens que andavam pela praia. (...) a) Os meninos índios representam o processo de
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas aculturação em sua concretude mais visível, como produto
vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. final de todo um empreendimento do qual participaram
Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia
Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles de Jesus.
os depuseram. b) A presença dos meninos índios representa uma síntese
CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta. 1500 perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar
01. Os cronistas português destacavam-se nas grandes de literatura informativa.
navegações por sua escrita e a finalidade a qual ela c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua
tinha. O texto acima onde é descrito o primeiro própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias
contato dos índios com os portugueses caracteriza-se praticadas pelos pajés.
como d) Os meninos índios são figura alegóricas cuja construção
a) um diário pessoal tratando da recepção hostil que como personagens atende a todos os requintes da
os descobridores portugueses tiveram logo que dramaturgia renascentista.
aportaram na costa brasileira. e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos
b) uma narrativa ficcional acerca da vinda da Família contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem
Real ao Brasil devido à ameaça de invasão do território libertar-se tão logo seja possível.
português pelas tropas napoleônicas.
c) um documento histórico relatando o primeiro Texto I
contato entre os colonizadores portugueses e os Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles;
nativos brasileiros, posteriormente chamados de e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que
índios. viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos
d) uma sátira bem-humorada descrevendo os e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que
costumes dos portugueses recém-chegados ao Brasil todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa
e as dificuldades de adaptação à nova terra. que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-
e) uma narrativa épica sobre o encontro da esquadra dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas
de Vasco da Gama com os habitantes nativos de que muito agradavam.
Melinde, na costa oeste do Continente Africano. CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto
Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
Dos vícios já desligados Texto II
nos pajés não crendo mais,
nem suas danças rituais,
nem seus mágicos cuidados. (...)
Pelo terrível que és,
Já que os demônios te temem,
nas ocas onde se escondem
vem calcá-los sob os pés,
pra que as almas não nos queimem.
ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [tradução e
adaptação de Walmir Ayala] Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110
02. Como parte da obra deixada pelos padres da
Companhia de Jesus e a literatura catequética produzida
no Brasil do século XVI, assinale a afirmativa verdadeira,
considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos

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NÓBREGA, Padre Manuel da.
Sobre o luto dos índios na colônia.
Obs: vianda - qualquer espécie de alimento, comida,
quitute.

04. Escrito no Brasil colonial pelo jesuíta Manuel de


Nobrega, um dos primeiros a iniciar o processo de
catequização dos índios na região, o texto acima
a) pertence a um conjunto de documentos da
tradição histórico-literária brasileira, cujo objetivo
principal era apresentar à metrópole as
características da colônia recém-descoberta.
b) já antecipa, pelo tom grandiloquente de sua
linguagem, a concepção idealizadora que os
românticos brasileiros tiveram do indígena.
c) é exemplo de produção tipicamente literária, em
que o imaginário renascentista transfigura os
dados de uma realidade objetiva.
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre d) é exemplo característico do estilo árcade, na
tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. medida em que valoriza poeticamente o “bom
Acesso em: 12 jun. 2013. selvagem”, motivo recorrente na literatura
03. Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a brasileira do século XVIII.
carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari e) insere-se num gênero literário específico,
retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da introduzido nas terras americanas por padres jesuítas
leitura dos textos, constata-se que com o objetivo de catequizar os indígenas brasileiros.
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa
uma das primeiras manifestações artísticas dos A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato
portugueses em terras brasileiras e preocupa-se sobre a terra que viria a ser chamada de Brasil. Ali,
apenas com a estética literária. percebe-se não apenas a curiosidade do europeu pelo
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com nativo, mas também seu pasmo diante da exuberância
corpos pintados, cuja grande significação é a da natureza da nova terra, que, hoje em dia, já se
afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação encontra degradada em muitos dos locais avistados
de uma linguagem moderna. por Caminha.
c) a carta, como testemunho histórico-político,
mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir.
e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação
dos nativos. Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta
d) as duas produções, embora usem linguagens que mais contra o sul vimos, até outra ponta que
diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma contra o norte vem, de que nós deste ponto temos
função social e artística. vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte
e) a pintura e a carta de Caminha são e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em
manifestações de grupos étnicos diferentes, algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas,
produzidas em um mesmo momentos histórico, outras brancas; e a terra por cima é toda chã e muito
retratando a colonização. cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo
praia redonda, muito chã e muito formosa.
01
Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito
sepultura pratos, 02cheios de viandas, e uma rede (...) grande, porque a estender d’olhos não podíamos ver
mui bem lavada. Isto, porque crêem, 03segundo dizem, senão terra com arvoredos, que nos parecia muito
que depois que morrem tornam a comer e descansar longa.
04
sobre a sepultura. Deitam-nos em covas redondas, e, Nela até agora não pudemos saber que haja
se são principais, 05fazem-lhes uma choça de palma. ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro;
Não têm conhecimento de glória 06nem inferno, nem o vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares,
somente dizem que depois de morrer vão descansar a assim frios e temperados como os de Entre-Douro e
07
um bom lugar. (...) Qualquer cristão, que entre em Minho, porque neste tempo de agora os achávamos
suas casas, dãolhe 08a comer do que têm, e uma rede como os de lá.
lavada em que durma. São castas 09as mulheres a seus As águas são muitas e infindas. E em tal
maridos. maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo
dará nela, por causa das águas que tem.

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e) a natureza farta e bela é o cenário onde ocorrem os
CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de encontros amorosos do eu lírico.
Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6.
Esse texto do século XVI reflete um momento de
05. Esse fragmento apresenta-se como um texto expansão portuguesa por vias marítimas, o que
a) descritivo, uma vez que Caminha ocupa-se em dar demandava a apropriação de alguns gêneros
um retrato objetivo da terra descoberta, abordando discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa
suas características físicas e potencialidades de produção é a Carta de Caminha a D. Manuel.
exploração. Considere a seguinte parte dessa carta:
b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma
narração da viagem de Pedro Álvares Cabral e sua Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja
frota até o Brasil, relatando, numa sucessão de ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons
eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada dos ares assim frios e temperados como os de Entre-
portugueses até sua partida. Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal
c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-
apresentar elementos que justifiquem a exploração á nela tudo por bem das águas que tem, porém o
da terra descoberta, os quais se pautam pela melhor fruto que nela se pode fazer me parece que
confiabilidade e abrangência de suas observações. será salvar esta gente e esta deve ser a principal
d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da semente que vossa alteza em ela deve lançar.
terra por Caminha mostra a subjetividade de seu
relato, carregado de emotividade, o que confere à 07. Assinale a alternativa em que as palavras grifadas
“Carta” seu caráter especificamente literário. estão empregadas em sentido conotativo.
e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...
sequencial dos elementos físicos da terra b) Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é
descoberta serve para dar suporte à ideia defendida graciosa que querendo-a aproveitar...
por Caminha de exploração do novo território. c) ...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por
bem das águas que tem...
Leia um trecho do poema Ilha da Maré, do escritor d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece
brasileiro Manuel Botelho de Oliveira. que será salvar esta gente...
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza
E, tratando das próprias, os coqueiros, em ela deve lançar.
galhardos e frondosos
criam cocos gostosos; TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
e andou tão liberal a natureza TEXTO I
que lhes deu por grandeza,
não só para bebida, mas sustento, A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe,
o néctar doce, o cândido alimento. foi segunda-feira, 9 de março. [...] E domingo, 22 do
De várias cores são os cajus belos, dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos,
uns são vermelhos, outros amarelos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor,
e como vários são nas várias cores, da ilha de S. Nicolau [...]. E assim seguimos nosso
também se mostram vários nos sabores; caminho por este mar de longo, até que, terça-feira
e criam a castanha, das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de
que é melhor que a de França, Itália, Espanha. abril, estando da 8dita ilha obra de 660 léguas,
segundo os pilotos diziam, 1topamos alguns sinais de
(COHN, Sergio. Poesia.br Rio de Janeiro: Azougue, terra, os quais eram muita quantidade de 5ervas
2012.) compridas, a que os 4mareantes chamam 6botelho [...].
E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a
06. Podemos relacionar os versos desse poema ao que chamam 7fura-buxos. Neste dia, a horas de
Quinhentismo Nacional, pois véspera, 2houvemos vista de terra!
9
a) o eu lírico repudia a presença de colonizadores Primeiramente dum grande monte, mui alto
portugueses em nossa terra. e redondo [...]; ao monte alto o capitão pôs o nome de
3
b) a fauna e a flora tropicais são descritas de maneira O Monte Pascoal, e à terra, A Terra de Vera Cruz.
minuciosa e idealizada. Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal
c) o poeta enriqueceu devido à exportação de
produtos brasileiros para a metrópole. TEXTO II
d) a exuberância e a diversidade da natureza tropical A descoberta
são exaltadas pelo poeta.

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Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava Páscoa Barroco
Topamos aves
E houvemos vista de terra
Oswald de Andrade, “Pero Vaz Caminha”

08. Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto I.


a) No contexto em que se inserem, as expressões
"topamos alguns sinais de terra" (ref. 1) "e
houvemos vista de terra" (ref. 2) têm o mesmo
sentido: "enxergamos o continente americano".
b) As nomeações referidas na carta - "O Monte
Pascoal" e "A Terra de Vera Cruz" (ref. 3) - refletem
valores ideológicos da cultura portuguesa.
c) "Os mareantes" (ref. 4), por influência da cultura
indígena, apelidaram as "ervas compridas" (ref. 5) um grupo de musicistas por volta de 1635.
"de botelho" (ref. 6) e as aves de "fura-buxos" (ref. Contexto histórico
7). A arte barroca estendeu-se por todo o século
d) A expressão "dita ilha" (ref. 8) indica que os XVII e pelas primeiras décadas do XVIII. Surgiu em
navegantes portugueses confundiram a Ilha de Roma e aos poucos se espalhou por toda a Europa e
S.Nicolau com o Brasil. América Latina. O barroco assumiu diversas
e) Embora se apresente em linguagem objetiva, o características ao longo de seu tempo e, mais que um
trecho da carta revela, devido ao excesso de estilo artístico, era um estilo de vida. Nasceu em
adjetivações (ref. 9, por exemplo), a euforia dos decorrência da crise do Renascimento, ocasionada,
portugueses ao descobrirem o tão sonhado principalmente, pelas fortes divergências religiosas e
"Eldorado". imposições do catolicismo e pelas dificuldades
econômicas decorrentes do declínio do comércio com
09. Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto I. o Oriente.
a) Trata-se de documento histórico que inaugura, em
Portugal, um novo gênero literário: a literatura
epistolar.
b) Exemplifica a literatura produzida pelos jesuítas
brasileiros na colônia e que teve como objetivo
principal a catequese do silvícola.
c) Apesar de não ter natureza especificamente
artística, interessa à história da literatura brasileira
na medida em que espelha a linguagem e a
respectiva visão de mundo que nos legaram os
primeiros colonizadores.
d) Pertence à chamada crônica histórica, produzida no
Brasil durante a época colonial com objetivos
políticos: criar a imagem de um país soberano, DETALHE, TETO DA IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE
emancipado, em condições de rivalizar com a ASSIS, EM OURO PRETO, MG
metrópole. Todo o rebuscamento presente na arte e
e) É um dos exemplos de registros oficiais escritos por literatura barroca é reflexo dos conflitos dualistas
historiadores brasileiros durante o século XVII, nos entre o terreno e o celestial, o homem
quais se observam, como característica literária, (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o pecado e
traços do estilo barroco. o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo
presente no período renascentista. É uma expressão
artística da profunda crise ideológica e da
multiplicidade de estados de espírito do homem
seiscentista, marcado pelo pessimismo, desequilíbrio,
angústia existencial.
O porquê de tal comportamento pode ser
encontrado nas profundas modificações que
alteraram a ordem social vigente, ate então, imposta
pela Igreja Católica no século XVI. A reforma
Protestante foi responsável pela ruptura da unidade da

31
Igreja Católica, abalando seus alicerces e retorcido, substituindo a unidade geométrica
possibilitando ao homem o início da desmistificação e o equilíbrio da arte renascentista.
dos dogmas religiosos. Como resposta à ousadia α Acentuado contraste de claro-escuro
Protestante, temos a Contrarreforma que buscava (expressão dos sentimentos) - era um recurso
reafirmar o poder da Igreja no mundo. Paralelamente, que visava a intensificar a sensação de
o Renascimento divulgava valores humanos como profundidade.
sustentadores da era moderna marcada pela ambição α Realista, abrangendo todas as camadas
do homem, racionalismo, capitalismo. sociais.
Nesse estilo predomina uma atmosfera mística, α Escolha de cenas no seu momento de maior
temerosa em relação ao castigo divino e ao mesmo intensidade dramática.
tempo tentadora, proporcionando ao homem um α A luz não aparece por um meio natural, mas
estado de confusão mental que não permite o sim projetada para guiar o olhar do
equilíbrio e o racionalismo como maneira de encarar a observador até o acontecimento principal da
realidade. Temos, então, um espírito confuso, obra.
duvidoso, obscuro, disforme e místico. Evidenciando o
ser humano em plena crise existencial, em constante Michelangelo Merisi da Caravaggio
estado de sofrimento.
Pérola Deformada: O termo original provém de
"pérola irregular, deformada ou imperfeita",
designando coisa muito rebuscada ou excessivamente
enfeitada. Inicialmente pejorativo, o barroco é um
estilo que é bastante visível na pintura, na escultura,
arquitetura, música, literatura e artes decorativas
brasileira de séculos passados.

Pintura Barroca: características


Veja o contraponto artístico entre uma obra do
Renascimento e outra do Barroco, ambas produzidas
em contexto romano.
CARAVAGGIO,"DAVI E GOLIAS" ÓLEO SOBRE TELA,
1599-1600, 110X91 CM. MUSEO DEL PRADO,
MADRID
Caravaggio (1571 – 1610) foi um pintor italiano,
identificado como um artista barroco, estilo do qual foi
o primeiro grande representante. Após vários anos de
trabalho, Caravaggio andou de cidade em cidade
servindo vários senhores importantes. É um
OBRA RENASCENTISTA : LEONARDO DA VINCI: “A trabalhador incansável, porém orgulhoso, teimoso e
ÚLTIMO CEIA" 1495-1497. REFEITÓRIO DE SANTA sempre disposto a participar de discussões e a
MARIA DELLE GRAZIE (MILANO) envolver-se em brigas, o que torna difícil conviver com
ele.
Exceto em suas primeiras obras, Caravaggio pintou
fundamentalmente temas religiosos. No entanto,
foram várias as vezes em que as suas pinturas feriam
as susceptibilidades dos seus clientes. Nos seus
quadros, em vez de adoptar nas suas pinturas belas
figuras etéreas, delicadas, para representar
acontecimentos e personagens da Bíblia, preferia
escolher por entre o povo, modelos humanos tais
como prostitutas, crianças de ruas e mendigos, que
posavam como personagens para as suas obras.
Caravaggio procurou a realidade palpável e concreta
OBRA BARROCA: CARAVAGGIO: "VOCAÇÃO DE SÃO
da representação. Utilizou como modelos figuras
MATEUS" 1599-1600. ÓLEO SOBRE TELA , 322 × 340 humanas, sem qualquer receio de representar a feiura,
CM ROMA, SAN LUIGI DEI FRANCESI a deformidade em cenas provocadoras, características
α Composição simétrica, em diagonal - que se essas que distinguem as suas obras. Dos efeitos que
revela num estilo grandioso, monumental, Caravaggio dava aos quadros, originou-se o

32
Tenebrismo, em que os tons terrosos contrastam com
os fortes pontos de luz.

LA DIVINA PASTORA, BERNINI .

Barroco Mineiro: Aleijadinho


Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,
nasceu em 29 de agosto de 1730 em Vila Rica (atual
Ouro Preto). É considerado um dos maiores artistas
barrocos do Brasil e suas esculturas e obras de
arquitetura encantaram a sociedade brasileira do
século XVIII.
CARAVAGGIO: “CRUCIFICAÇÃO DE SÃO PEDRO" 1600-
O artista usava em suas obras, madeira e pedra-sabão
1601 ÓLEO SOBRE TELA, SANTA MARIA DEL POPOLO,
(matéria-prima brasileira), além de misturar diversos
ROMA estilos barrocos (rococó e estilos clássico e gótico).
Sua existência é cercada por controvérsias.
Muitos estudiosos acreditam que ele não existiu e que
foi , na verdade, uma invenção do governo de Getúlio
Vargas.
Aos 40 anos, ficou doente. Ninguém sabe ao certo o
que o houve, mas especula-se que teve lepra e foi por
causa da doença que recebeu o famoso apelido.
Aos poucos, foi perdendo o movimento das
mãos e dos pés e para trabalhar pedia ao seu ajudante
para amarrar as ferramentas no seu braço. Mesmo
assim, continuou trabalhando em igrejas e altares de
Minas Gerais.
CARAVAGGIO: "JUDITE E HOLOFERNE" 1599, ÓLEO
SOBRE TELA 144 × 195 CM, GALERIA NACIONAL DE
ARTE ANTIGA, ROMA.

Escultura Barroca: características


A escultura barroca caracterizou-se pela ideia
de grande atividade e movimento. Esta impressão foi
criada pela combinação cuidadosa de massa e espaço,
e o recurso a novos materiais, tais como estuque e
gesso. Foram especialmente imaginativas as
esculturas barrocas alemã e austríaca. Na Itália, Gian
Lourenzo Bernini executou fontes e retábulos de
altares, Os escultores do barroco brasileiro usaram ALEIJADINHO, CENA DO CARREGAMENTO DA CRUZ, NA
quase sempre como material de trabalho a madeira e
VIA SACRA DE CONGONHAS
a pedra-sabão - abundante na região mineira -
criando belíssimos púlpitos, talhas em altares-mores,
pedestais, nichos, pias batismais e imagens.
Por vários motivos, o clímax do desenho
barroco pode ser visto na criação de vastos jardins,
como os do palácio de Versalhes, onde o homem
parecia ser o controlador absoluto da natureza. Os
jardins barrocos realçaram o lado dramático do uso da
água em cascatas, fontes e canais.

33
INTERIOR DA IGREJA DE SANTO ALEXANDRE, BELÉM
(PA).

Barroco na Literatura
Características da Estética Barroca:
 Conflito entre corpo e alma
O Renascimento definiu-se pela valorização
IGREJA DE BOM JESUS DE MATOZINHOS, EM do profano, pondo em voga o gosto pelas
CONGONHAS DO CAMPO (MG). satisfações mundanas. Os intelectuais barrocos,
no entanto, não alcançam tranquilidade agindo
Arquitetura Barroca
de acordo com essa filosofia. A influência da
Considerando que o Renascimento contou com a
Contrarreforma fez com que houvesse oposição
riqueza e o poder dos tribunais italianos e era uma
mistura de forças seculares e religiosas, o Barroco foi, entre os ideais de vida eterna em contraposição
pelo menos inicialmente, diretamente ligada à Contra- com a vida terrena e do espírito em
Reforma, um movimento dentro da Igreja Católica a contraposição à carne. Na visão barroca, não há
reformar-se, em resposta para a Reforma Protestante. possibilidade de conciliar essas antíteses: ou se
A arquitetura barroca e seus enfeites eram por outro vive a vida sensualmente, ou se foge dos gozos
lado mais acessíveis para as emoções e, por outro humanos e se alcança a eternidade. A tensão de
lado, uma declaração visível da riqueza e do poder da elementos contrários causa no artista uma
Igreja. O novo estilo manifestou-se, em particular, no profunda angústia: após arrojar-se nos prazeres
contexto das novas ordens religiosas, como os jesuítas
mais radicais, ele se sente culpado e busca o
que visam melhorar a piedade popular.
perdão divino. Assim, ora ajoelha-se diante de
Deus, ora celebra as delícias da vida.
 O tema da passagem do tempo
O homem barroco assume consciência
integral no que se refere à fugacidade da vida
humana (efemeridade): o tempo, veloz e
avassalador, tudo destrói em sua passagem. Por
outro lado, diante das coisas transitórias
(instabilidade), surge a contradição: vivê-las,
antes que terminem, ou renunciar ao passageiro
e entregar-se à eternidade?
 Forma tumultuosa
O estilo barroco apresenta forma
IGREJA DE REPRESENTAÇÃO BARROCA NA CIDADE DE
conturbada, decorrente da tensão causada pela
BRAGA, PORTUGAL.
oposição entre os princípios renascentistas e a
ética cristã. Daí a frequente utilização de

34
antíteses, paradoxos e inversões, estabelecendo Vista por fora é pouco apetecida
uma forma contraditória, dilemática. Além disso, Porque aos olhos por feia é parecida;
a utilização de interrogações revela as incertezas Porém, dentro habitada
do homem barroco frente ao seu período e a É muito bela, muito desejada,
inversão de frases a sua tentativa na conciliação
É como a concha tosca e deslustrosa,
dos elementos opostos.
Que dentro cria a pérola formosa.
 Cultismo e conceptismo
Paradoxo: corresponde à união de duas ideias
O cultismo caracteriza-se pelo uso de
contrárias num só pensamento. Opõe-se ao
linguagem rebuscada, culta, extravagante, repleta
racionalismo da arte renascentista. Veja a estrofe
de jogos de palavras e do emprego abusivo de
a seguir, de Gregório de Matos:
figuras de estilo, como a metáfora e a hipérbole.
Veja um exemplo de poesia cultista: Ardor em firme Coração nascido;
Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora pranto por belos olhos derramado;
das Maravilhas, A quem infiéis despedaçaram incêndio em mares de água disfarçado;
O todo sem a parte não é todo; rio de neve em fogo convertido.
A parte sem o todo não é parte; Hipérbole: traduz ideia de grandiosidade, pompa.
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Veja mais um exemplo de Gregório de Matos:
Não se diga que é parte, sendo o todo.
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
(Gregório de Matos)
Já o conceptismo, que ocorre Rosa, que da manhã lisonjeada,
principalmente na prosa, é marcado pelo jogo de Púrpuras mil, com ambição dourada,
ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio Airosa rompe, arrasta presumida.
lógico, nacionalista, que utiliza uma retórica Prosopopeia: personificação de seres inanimados
aprimorada. A organização da frase obedece a para dinamizar a realidade. Observe um trecho
uma ordem rigorosa, com o intuito de convencer escrito pelo Padre Antonio Vieira:
e ensinar. Veja um exemplo de prosa conceptista: No diamante agradou-me o forte, no
Para um homem se ver a si mesmo são cedro o incorruptível, na águia o
necessárias três coisas: olhos, espelho e sublime, no Leão o generoso, no Sol o
luz. Se tem espelho e é cego, não se excesso de Luz.
pode ver por falta de olhos; se tem Barroco Brasileiro
espelhos e olhos, e é de noite, não se O Barroco foi introduzido no Brasil por
pode ver por falta de luz. Logo, há intermédio dos jesuítas. Inicialmente, no final do
século XVI, tratava-se de um movimento apenas
mister¹ luz, há mister espelho e há
destinado à catequização. A partir do século XVII,
mister olhos.
o Barroco passa a se expandir para os centros de
(Pe. Antônio Vieira) produção açucareira, especialmente na Bahia, por
¹mister: necessidade de, precisão. meio das igrejas. Assim, a função da igreja era
Figuras de Linguagem no Barroco ensinar o caminho da religiosidade e da moral a
As figuras de estilo mais comuns nos textos uma população que vivia desregradamente.
barrocos reforçam a tentativa de apreender a Nos séculos XVII e XVIII não havia ainda
realidade por meio dos sentidos. Observe: condições para a formação de uma consciência
Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se literária brasileira. A vida social no país era
como exemplo o trecho a seguir, escrito por organizada em função de pequenos núcleos
Gregório de Matos: econômicos, não existindo efetivamente um
Se és fogo, como passas brandamente? público leitor para as obras literárias, o que só
Se és neve, como queimas com porfia? viria a ocorrer no século XIX. Por esse motivo,
Antítese: reflete a contradição do homem fala-se apenas em autores brasileiros com
barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o características barrocas, influenciados por fontes
escritor vê em quase tudo. Observe a seguir o estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas que
trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é não chegaram a constituir um movimento
descrita uma ilha, salientando-se seus elementos propriamente dito. Nesse contexto, merecem
contrastantes: destaque a poesia de Gregório de Matos
Guerra e a prosa do padre Antônio

35
Vieira representada pelos seus sermões. consciência nítida do pecado e a busca do
Didaticamente, o Barroco brasileiro tem seu perdão. Ao lado de momentos de verdadeiro
marco inicial em 1601, com a publicação do arrependimento, muitas vezes o tema religioso
poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira. utilizado como simples pretexto para o exercício
poético, desenvolvendo engenhosos jogos de
Gregório de Matos Guerra: o Boca do Inferno (1633- imagens e conceitos.
1696) As ideias de Deus e do pecado, ao mesmo
tempo que se opõem, são complementares.
Embora Deus detenha o poder da condenado da
alma, est sempre disposto ao perdão, por sua
misericórdia e bondade; da deriva Sua maior
glória.
Pequei, Senhor, mas não porque hei
pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
“Com Gregório de Matos, o Barroco se
tropicaliza, come banana, grita palavrões e põe Se basta a vos irar tanto um pecado,
os pés no chão brasileiro.” A abrandar-nos sobeja um só gemido,
José de Nicola. Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Gregório de Matos Guerra nasceu em
Salvador (BA) e morreu em Recife (PE). Estudou Se uma ovelha perdida, e já cobrada
no colégio dos jesuítas e formou-se em Direito Glória tal, e prazer tão repentino
em Coimbra (Portugal). Recebeu o apelido de vos deu, como afirmais na Sacra História:
Boca do Inferno, graças a sua irreverente obra
satírica. Firmou-se como o primeiro poeta Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
brasileiro: cultivou a poesia lírica, satírica, erótica Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
e religiosa. O que se conhece de sua obra é fruto Perder na vossa ovelha a vossa glória.
de inúmeras pesquisas, pois Gregório não Soneto ao Nosso Senhor. Guerra, Gregório
publicou seus poemas em vida. Por essa razão, há De Matos.
dúvidas quanto à autenticidade de muitos textos Antologia poética. L&PM, São Paulo.
que lhe são atribuídos. Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
Essa diversidade de caminhos percorridos É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
pela inspiração vate baiano explica-se acima de Delinqüido vos tenho, e ofendido,
tudo pela riqueza, talento literário e ao fim, pela Ofendido vos tem minha maldade.
estética Barroca que lhe serviu de pano de fundo.
irreverente como poeta ao chocar valores e a Maldade, que encaminha à vaidade,
falsa moral da sociedade baiana de seu tempo Vaidade, que todo me há vencido;
teve um comportamento considerado Vencido quero ver-me, e arrependido,
indecoroso, irreverente como poeta lírico, porque Arrependido a tanta enormidade.
seguia e ao mesmo tempo quebrava os modelos
europeus, como poeta satírico empregou um Arrependido estou de coração,
vocabulário de baixo calão denunciando as De coração vos busco, dai-me os braços,
contradições e falsidades da sociedade baiana, Abraços, que me rendem vossa luz.
ignorando o poder das autoridades políticas e
religiosas. Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pertendo em tais abraços,
A poesia lírico- religiosa: Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
Expressa a cosmovisão barroca: a A Nosso
insignificância do homem perante Deus, a Senhor Jesus

36
Christo com actos meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca
de arrependimento do Inferno", por satirizar seus desafetos.
e suspiros de amor. Que me quer o Brasil, que me persegue?
Guerra, Gregório Que me querem pasguates, que me
De Matos. invejam?
Antologia poética. Não veem, que os entendidos me
L&PM, São Paulo cortejam,
E que os Nobres, é gente que me segue?
A poesia lírico- amorosa:
Em sua produção lírica, Gregório de Matos Com o seu ódio a canalha, que consegue?
se mostra um poeta angustiado em face à vida, à Com sua inveja os néscios que motejam?
religião e ao amor. A sua poesia é firmemente Se quando os néscios por meu mal
marcada pela característica barroca do contraste, mourejam,
ou seja, o dualismo amoroso carneXespirito que Fazem os sábios, que a meu mal me
leva normalmente a um sentimento de culpa no entregue.
plano espiritual. A noção de pecado vem
fortemente marcada nos poemas que enfocam a Isto posto, ignorantes, e canalha
mulher como anjo, mas como causa a desventura, Se ficam por canalha, e ignorantes
acaba sendo identificada com demônio. Essa No rol das bostas a roerem palha.
poesia revela ideologia católica contrarreformista
confundindo sedução mística com a sedução E se os senhores nobres, e elegantes
carnal, daí a maioria dos sonetos dedicados à Não querem que o soneto vá de valha,
mulher apresentam o conflito do eu-poético. Não vá, que tem terríveis consoantes.
Ó tu do meu amor fiel traslado Desempulha-se o poeta da
Mariposa entre as chamas consumida, canalha perseguidora contra os homens
Pois se à força do ardor perdes a vida, sábios, cantando benevolência aos
A violência do fogo me há prostrado. nobres. Guerra, Gregório De Matos.
Antologia poética. L&PM, São Paulo.
Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida, Que falta nesta
No fogo, que exalou, morro abrasado. cidade?.....................................Verdade
Que mais por sua desonra.................................Honra
Ambos de firme anelando chamas, Falta mais que se lhe
Tu a vida deixas, eu a morte imploro ponha...............................Vergonha.
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.
O demo a viver se exponha,
Mas ai! que a diferença entre nós choro, por mais que a fama a exalta,
Pois acabando tu ao fogo, que amas, numa cidade, onde falta
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro. Verdade, Honra, Vergonha.
Solitário em seu mesmo quarto à vista da luz.
Guerra, Gregório De Matos. Quem a pôs neste
Antologia poética. L&PM, São Paulo. socrócio?...............................Negócio
A poesia satírica: Quem causa tal
Gregório de Matos é amplamente perdição?...................................Ambição
conhecido por suas críticas à situação econômica E o maior desta loucura?....................................Usura.
da Bahia, especialmente de Salvador, graças à
expansão econômica chegando a fazer, inclusive, Notável desventura
uma crítica ao então governador da Bahia de um povo néscio, e sandeu,
Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, que não sabe, que o perdeu
suas críticas à Igreja e a religiosidade presente Negócio, Ambição, Usura.
naquele momento. Essa atitude de subversão por

37
Quais são os seus doces Não se ocupam em
objetos?......................Pretos disputas?....................................Putas.
Tem outros bens mais
maciços?..................................Mestiços Com palavras dissolutas
Quais destes lhe são mais gratos? me concluís na verdade,
........................Mulatos. que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.
Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal, O açúcar já se
que estima por cabedal acabou?.............................................Baixou
Pretos, Mestiços, Mulatos. E o dinheiro se
extinguiu?........................................Subiu
Quem faz os círios Logo já
mesquinhos?.............................Meirinhos convalesceu?................................................Morreu.
Quem faz as farinhas
tardas?..................................Guardas À Bahia (Balsas [grifo meu]) aconteceu
Quem as tem nos o que a um doente acontece,
aposentos?..................................Sargentos. cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando, A Câmara não acode?.............................................Não
porque os vão atravessando pode
Meirinhos, Guardas, Sargentos, Pois não tem todo o
poder?....................................Não quer
E que justiça a resguarda? É que o governo convence?...................................Não
....................................Bastarda vence.
É grátis
distribuída?..............................................Vendida Quem haverá que tal pense,
Quem tem, que a todos que uma Câmara tão nobre
assusta?............................Injusta. por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que EL-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça Exercícios
Bastarda, Vendida, Injusta. Que falta nesta cidade? Verdade.
Que mais por sua desonra? Honra.
Que vai pela Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
clerezia?..............................................Simonia
E pelo membros da
Igreja?.......................................Inveja O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Cuidei, que mais se lhe
Numa cidade onde falta
punha?..................................Unha.
Verdade, honra, vergonha.
MATOS, G. Antologia poética. L&PM, São Paulo.
Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé 01. Pode-se reconhecer nos versos acima, de
o que se pratica, é Gregório de Matos,
Simonia, Inveja, Unha. a) o caráter do jogo verbal próprio da poesia
religiosa do século XVI, sustentando piedosa
E nos Frades há lamentação pela falta de fé do gentio.
manqueiras?...................................Freiras b) o estilo pedagógico da poesia neoclássica, por
Em que ocupam os meio da qual o poeta se investe das funções de
serões?......................................Sermões um autêntico moralizador.

38
c) o caráter de jogo verbal próprio do estilo A) do emprego de materiais oriundos da Europa e da
barroco, a serviço de uma crítica, em tom de sátira, interpretação realista dos objetos representados.
do perfil moral da cidade da Bahia. B) do uso de recursos materiais disponíveis no local e
d) o caráter do jogo verbal próprio do estilo da interpretação formal com características próprias.
C) da utilização de recursos materiais vindos da Europa
barroco, a serviço da expressão lírica do
e da homogeneização e linearidade representacional.
arrependimento do poeta pecador.
D) da observação e da cópia detalhada do objeto
e) o estilo pedagógico da poesia neoclássica,
representado e do emprego de materiais disponíveis
sustentando em tom lírico as reflexões do poeta sobre
na região.
o perfil da cidade da Bahia.
E) da utilização de materiais disponíveis no Brasil
Quando Deus redimiu da tirania
e da interpretação idealizada e linear dos objetos
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido, representados.
Páscoa ficou da redenção o dia
“Toda a cidade derrota
Páscoa de flores, dia de alegria, Esta fome universal;
Àquele povo foi tão afligido Uns dão a culpa total à câmara, outros à frota.
O dia, em que por Deus foi redimido; A frota tudo abarrota
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. Dentro de escotilhões
A carne, o peixe, os feijões-
Pois mandado pela alta Majestade
E se a câmara olha, e si
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Porque ainda farta ate aqui,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Ponto em boca”
Quem pode ser senão um verdadeiro MATOS, G. Antologia poética. L&PM, São Paulo.
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro. 04. Sobre a leitura desta estrofe, pertencente ao
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório poeta barroco Gregório de Matos, mostra que a
de Matos. São Paulo: Globo, 2006. sátira do autor
A) traduz crítica à mestiçagem da sociedade
02. Com uma elaboração de linguagem e uma visão de baiana da segunda metade do século XVII.
mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto B) mostra o descaso das autoridades com a sorte
de Gregório de Matos apresenta temática expressa
do povo.
por
C) revela a face mais erótica da poesia do Boca do
A) visão cética sobre as relações sociais.
B) preocupação com a identidade brasileira. inferno.
C) crítica velada à forma de governo vigente. D) demonstra uma posição de confronto do
D) reflexão sobre os dogmas do cristianismo. poeta com o poder religioso da qual já fizera
E) questionamento das práticas pagãs na Bahia. parte.
E) apresenta um vocabulário que contempla
Síntese entre erudito e popular vocábulos de origem indígena e africana.
Na região mineira, a separação entre cultura popular (as
artes mecânicas) e erudita (as artes liberais) é marcada
pela elite colonial, que tem como exemplo os valores
europeus, e o grupo popular, formado pela fusão de
várias culturas: portugueses aventureiros ou
degredados, negros e índios. Aleijadinho, unindo as
sofisticações da arte erudita ao entendimento do
artífice popular, consegue fazer essa síntese
característica desse momento único na história da arte
brasileira: o barroco colonial.
MAJORA, C. BrHistória, n. 3, mar. 2007 (adaptado).
03. No século XVIII, a arte brasileira, mais
especificamente a de Minas Gerais, apresentava a
valorização da técnica e um estilo próprio, incluindo a
escolha dos materiais. Artistas como Aleijadinho e
Mestre Ataíde têm suas obras caracterizadas por
peculiaridades que são identificadas por meio

39
BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São perder na vossa ovelha a vossa glória.
Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. GUERRA, Gregório de Matos. Obras poética Rio de
Janeiro: Record: 1990.
05. Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes
nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil 06. Durante o período colonial brasileiro, as principais
tem forte influência do rococó europeu e está manifestações artísticas, populares ou eruditas, foram,
representada aqui por um dos profetas do pátio do assim como nos demais aspectos da vida cotidiana,
Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas marcadas pela influência da religiosidade. Nesse
(MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. sentido, com base na análise da presença da
Profundamente religiosa, sua obra revela religiosidade na obra de Aleijadinho e Gregório de
a) liberdade, representando a vida de mineiros à Matos sabe-se que
procura da salvação. a) Ambas são modelos da arte barroca, uma vez que
b) credibilidade, atendendo a encomendas dos se inspiram em ideias clássicos de equilíbrio
nobres de Minas Gerais. estético e simetria formal oriundos da tradição
c) simplicidade, demonstrando compromisso com a greco-romana.
contemplação do divino. b) A presença da temática religiosa em ambos deve-
d) personalidade, modelando uma imagem sacra com se à influência protestante holandesa na região da
feições populares. Bahia e de Minas Gerais.
e) singularidade, esculpindo personalidades do c) No trecho do poema, tem-se a expressão de um
reinado nas obras divinas. pecador que, embora creia em Deus, não tem
certeza de que obterá o perdão divino.
Texto I d) A pobreza estética da obra de Aleijadinho e Matos
deriva da censura promovida pela Santa Inquisição
às obras artísticas no Brasil.
e) A religiosidade de Gregório de Matos é marcada
pela dualidade e oposição entre sagrado e profano,
quando que na escultura de Aleijadinho há marcas
do grotesco por referir a dramaticidade religiosa e
o lado profano da humanidade.

A Christo S. N. Crucificado estando o poeta na última


hora de sua vida.
Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.
ALEIJADINHO, Cristo do carregamento da Cruz.
Enciclopédia Barsa, 1998 Neste lance, por ser o derradeiro,
Texto II Pois vejo a minh vida anoitecer,
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, É, meu Jesus, a hora de se ver
de vossa alta clemência me despido; A brandura de um Pai manso Cordeiro.
porque quanto mais tenho delinquido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
Se basta a vos irar tanto um pecado, E não o vosso amor, que é infinito.
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido, Esta razão me obriga a confiar,
vos tem para o perdão lisonjeado. Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
GUERRA, Gregório de Matos. Obras poética Rio de Janeiro: Record:
Se uma orelha perdida e já cobrada, 1990.
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história, 07. No poema, como em vários outros da lírica
religiosa de Gregório de Matos, o poeta explora
eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, algumas ambiguidades inerentes à doutrina católica.
cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Assinale a alternativa correta quanto à presença dessa
característica no poema.

40
a) O eu-lírico manifesta sua desconformidade com a a) inversões da sintaxe corrente, como em "Com
doutrina católica, protestando contra o fato de ter de sua língua, ao nobre o vil decepa" e "Quem menos
viver na "lei de Deus" (primeira estrofe). falar pode".
b) O eu-lírico confia no perdão divino, escudado no b) conflito entre os universos do profano e do
argumento de que o pecado, por maior que seja, é sagrado, como se vê na oposição "Quem dinheiro
finito, enquanto o amor de Deus é, necessariamente, tiver" e "pode ser Papa".
infinito (terceira e quarta estrofes). c) metáforas raras e desusadas, como no verso
c) O eu-lírico, descontente com a própria sorte, é experimental "a Musa topa/Em apa, epa, ipa, opa,
cético quanto à possibilidade de que Jesus interceda, upa".
no momento crucial de sua morte, em seu favor d) contraste entre os pólos de antíteses violentas,
(segunda estrofe). como "língua" X "decepa" e "menos falar" X "mais
d) O eu-lírico argumenta em favor de si mesmo ao increpa".
recordar que a razão o leva a acreditar em Deus, mas e) imagens que exploram os elementos mais
a emoção, em conflito, leva-o a descrer e a pecar, efêmeros e diáfanos da natureza, como "flor e "tulipa".
e) O eu-lírico é irônico ao considerar "santa" a lei de
Deus, e afirma que, apesar dela, morrerá fiel aos seus Uma só natureza nos foi dada;
próprios princípios (primeira estrofe).
Não criou Deus os naturais diversos;
Texto para as próximas 2 questões: Um só Adão criou, e esse de nada.
As cousas do mundo Todos somos ruins, todos perversos,
Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Só nos distingue o vício e a virtude
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; De que uns são comensais, outros
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
adversos.
O velhaco maior sempre tem capa.
MATOS, G. Antologia poética. L&PM,
Mostra o patife da nobreza o mapa: São Paulo.
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa; 10. A partir do texto pode-se concluir que:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. a) a opção entre o bem e o mal resulta do livre-
arbítrio e não da Providência divina.
A flor baixa se inculca por tulipa; b por obra divina, os homens são
Bengala hoje na mão, ontem garlopa. substancialmente diversos e por isso seguem
Mais isento se mostra o que mais chupa. caminhos distintos.
c) os elementos negativos do homem advêm de
Para a tropa do trapo vazo a tripa
sua origem: o nada.
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa. d) Deus fez os homens dotados de consciência
GUERRA, Gregório de Matos. Seleção de Obras para que pudessem distinguir o vício da virtude.
Poéticas. S/D e) somente a virtude pode eliminar a
perversidade que caracteriza a natureza humana.

Texto para as próximas 2 questões:


Soneto
08. Típico representante do Barroco e com particular Ardor em firme coração nascido;
habilidade em satirizar a Bahia de seu tempo bem Pranto por belos olhos derramado;
como os homens e os vícios universais, Gregório de Incêndio em mares de água disfarçado;
Matos nos versos, deixa evidente que Rio de neve em fogo convertido:
a) uma pessoa se torna desprezível pela ação do
nobre. Tu, que em um peito abrasas escondido;
b) o honesto é quem mais aparenta ser desonesto. Tu que em um rosto corres desatado:
c) geralmente a riqueza decorre de ações ilícitas. Quando fogo, em cristais aprisionado;
d) as injúrias, em geral, eliminam as injustiças. Quando cristal em chamas derretido.
e) o vil e o rico são vítimas de severas injustiças.
Se és fogo como passas brandamente,
09. A alternativa que melhor exprime as características Se és neve, como queimas com porfia?
da poesia de Gregório de Matos, representante do Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
barroco brasileiro, encontradas no poema transcrito, é
a que destaca a presença de Pois para temperar a tirania,

41
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria. 13. Rococó é o nome de um estilo que esteve em
(In: WISNICK, José Miguel (org.). Gregório deMatos. moda no século XVIII e que desenvolveu algumas das
Poemas Escolhidos. São Paulo: Cultrix,1997, p. 218) tendências do Barroco.
Assinale a afirmativa que corresponde ao sentido da
11.Sobre o poema de Gregório de Matos, é correto frase: “Alguém já disse que o rococó é o barroco que
afirmar que é marcado pelo(a) não soube onde parar.” ( linha 1)
a) comparação, figura central da estética a) Visto que o Barroco se caracterizou pelo uso
barroca, uma vez que possibilitava ao poeta utilizar de efeitos contrastantes, bem como pela
sempre a natureza para ilustrar os temas de sua complexidade da forma, bizarria, bombasticidade e
poética. muitas vezes ambigüidade calculada, tudo isto o
b) ironia, recurso abundantemente utilizado por separou do Rococó.
Gregório de Matos em seus poemas satíricos que b) Porque o Rococó é um estilo ornamental da
criticavam, sobretudo, figuras políticas de sua época. época de Luís XV (França) tipificado pela assimetria,
c) paradoxo, figura das mais utilizadas na caracterizado pelo uso exagerado de floreados e
estética barroca, que, no poema, confronta e funde motivos naturalistas (conchas, palmas etc.), a frase
opostos, tematizando a paixão em oposição ao enfatiza que este sucede ao Barroco.
refreamento. c) Como o Barroco é exagerado, extravagante e
d) invocação, figura utilizada pelo poeta barroco irregular, a frase significa que era um estilo mais
para imprecar contra os deuses e para demonstrar-se bizarro, bombástico e ambíguo do que o Rococó,
dilacerado e angustiado no mundo. destacando que este antecede àquele outro estilo.
e) Pontuação, recurso explorado no Barroco, que d) Como o Barroco, estilo de época do século
evidencia a alegria do eu lírico, ao tematizar a paixão XVII, se caracterizou pela tendência ao trabalho
que o consome por alguém inacessível. extensivo e complexo de criação de jogos de palavras
e idéias, a frase implica que o Rococó levou ao exagero
12. O uso de antíteses e paradoxos, conforme se essa tendência.
demonstra nos versos acima, é uma das características e) Já que o Barroco era exagerado, extravagante,
do barroco denominada: irregular e prevaleceu do fim do século XVI ao fim do
a) racionalismo século XVIII, isto teve como efeito o surgimento do
b) idealização da realidade Renascimento no Brasil.
c) preocupação formal
d) culto do contraste 14. Gregório de Matos Guerra apresenta, ao lado de
e) bucolismo versos líricos amorosos e religiosos, versos de uma
forte postura crítica diante dos fatos ocorridos na
Bahia do século XVII. Nestes poemas, a ironia corrosiva
do poeta expõe os hábitos hipócritas da sociedade da
época. Neles invadiu a vida privada dos cidadãos
baianos, mesmo a dos grupos de mais prestígio,
apurando fatos, investigando, esquadrinhando a
moral e costumes daquela sociedade imortalizando
Alguém já disse que o rococó é o barroco que não seu discurso denunciador como o “Boca do Inferno”.
soube onde parar. Todos os estilos correm o risco de Com base nesta afirmação, marque a alternativa que
descambar para o excesso, e saber o ponto em que demonstra claramente o discurso irônico de Gregório
começa o excesso é difícil, como acertar o ponto do de Matos.
pudim. Quando é que o discurso político deixa de ser
democrático e fica populista, ou passa de populista a a) Do Prado mais ameno a flor mais pura,
demagógico? Qual o parâmetro para distinguir um Que em fragrâncias o alento há desatado
estilo lírico de um estilo preciosista, o sensível do Hoje a fortuna insípida há roubado.
piegas, o experimental do meramente pretensioso ou b) Filhós, fatias, sonhos, mal-assadas
– seguindo-se a máxima do Mário Quintana, segundo Galinhas, porco, vaca, e mais carneiro,
a qual estilo é uma dificuldade de expressão – do Os perus em poder do Pasteleiro,
simplesmente incapaz? Muitos escritores novos dizem c) A Deus vão pensamento, a Deus cuidado,
que seu maior problema é saber por onde começar. Que eu te mando de casa despedido
Não é. O maior problema de quem escreve (ou Porque sendo de uns olhos bem nascidos.
compõe, ou interpreta, ou, principalmente, discursa) é d) O Fidalgo de solar
saber onde parar. se dá por envergonhado
Fragmento de “Robinho e o paradoxo”, Veríssimo, O de um tostão pedir prestado
Globo, 1/07/07

42
para o ventre sustentar: é o cenário no qual o homem, em essência “Bom
diz, que antes o quer furtar Selvagem” de Rosseau pode encontrar a
por manter a negra honra harmonia, paz, equilíbrio e simplicidade.
e)Que és terra homem, e em terra hás de
[tornar-te,
te lembra hoje Deus por sua Igreja.

Arcadismo

OS PASTORES ÁRCADES, DE NICOLAS POUSSIN


A Arcádia era a região da Grécia onde pastores e
poetas chefiados pelo deus Pan, dedicavam-se à
poesia e ao pastoreio, vivendo em, harmonia
perfeita com a natureza. A Arcádia simbolizava o
ideal de vida. No século XVIII o termo Arcádia
designava também as academias literárias que
A AMAMENTAÇÃO DE JÚPITER, DE NICOLAS POUSSIN
foram criadas na Europa.

Contexto Histórico
Características gerais
O Arcadismo, também conhecido como
 Bucolismo:a natureza campestre, os pastores,
Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento
a paisagem, o clima ameno do campo, dão ao
que compreende a produção literária brasileira na
poema um teor bucólico.
segunda metade do século XVIII. O nome faz
 Pastoralismo: os autores adotavam
referência à Arcádia, região do sul da Grécia que,
pseudônimos pastoris, inspirados na Arcadia
por sua vez, foi nomeada em referência ao
grega. Assumiam identidade de pastores na
semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).
tentativa de expressar sentimentos universais.
Denota-se, logo de início, as referências à
 Contenção amorosa: o sentimento é dosado,
mitologia grega que perpassa o movimento.
regrado, equilibrado.
Profundas mudanças no contexto histórico
 Convencionalismo amoroso: o que mais
mundial caracterizam o período, tais como a
importava ao poeta árcade era seguir a
ascenção do Iluminismo, que pressupunha o
convenção, fazer poemas de amor como
racionalismo, o progresso e as ciências. O
faziam os clássicos e não expressar os
movimento tem características reformistas, pois
sentimentos.
seu intuito era o de dar novos ares às artes e ao
 Verossimilhança: reagindo contra a falta de
ensino, aos hábitos e atitudes da época. A
logica do Barroco, o árcade procura dizer em
aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se
seus poemas coisas que sejam semelhantes à
e dar lugar a uma nova organização econômica
verdade. Não é permitido o uso da imaginação
liderada pelo pensamento burguês.
desenfreada.
Ao passo que os textos produzidos no período
 Objetivismo: linguagem direta, clara e simples.
convencionado de Quinhentismo sofreram
 Mitologia: uso do nome de divindades greco-
influência direta de Portugal e aqueles
romanas para embelezar os versos.
produzidos durante o Barroco, da cultura
 Racionalismo: a razão deve controlar os
espanhola, os do Arcadismo, por sua vez, foram
excessos do sentimento.
influenciados pela cultura francesa devido aos
 Estoicismo: o caráter inabalável e indestrutível
acontecimentos movidos pela burguesia que
do homem.
sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental).
 Epicurismo: o homem nasceu para viver feliz,
O arcadismo expressou um ideal de vida inverso
ser bem tratado e gozar dos prazeres terrenos,
ao contexto histórico/social. A vida feliz so seria
mas sem excessos.
alcançada longe dos centros urbanos. A natureza

43
 Arte pagã: não fala do deus cristão, e sim dos aprazível, sagrado, onde o homem poderia
deuses mitológicos. encontrar equilíbrio e paz interior.

 Máximas latinas:refletindo a influência da


antiguidade clássica, o arcadismo retoma
valores e os princípios que regem a
supremacia do equilíbrio, da tranquilidade, do
conhecimento, através das máximas latinas,
ratificando assim, a proposta da visão árcade.
 Fugereurbem (fuga da cidade): refletindo a
influência da antiguidade clássica o
fugereurbem do poeta latino Horácio
reforça a vida bucólica numa clara oposição
à vida urbana.
 InutiliaTruncat (cortar as inutilidades): Arcadismo em Portugal.
entende-se como inutilidade o luxo O arcadismo iniciouno país em 1756 quando
materialista. Segundo este ideal o homem Antônio Dinis Cruz e Silva fundou a
deveria sobreviver somente com aquilo arcádialusitana segundo o modelo da arcádia
realmente necessário à vida, dispensando italiana criada em 1690. Esse locais eram
qualquer tipo de extravagancia. Quanto a destinados ao encontro de poetas, escritores e
linguagem observa-se uma reação à arte intelectuais.
barroca com seus exageros, por isso os
versos da poesia árcade são mais simples Manuel Maria Barbosa
em sua construção. du Bocage
 Carpe diem (aproveita o dia): é o desejo de Foi poeta
aproveitar a vida intensamente desfrutando português(1765-1805).
dos bens proporcionados pela natureza. O mais importante
Outro elemento presente nesse tema é a poeta português do
figura feminina que recebe do homem o século XVIII. O grande
convite amoroso para uma perfeita poeta do Arcadismo
realização de vida bucólica. de Portugal. Sua
 Aurea Mediocritas (vida medíocre poesia individualista e
materialmente, mas rica em realizações): pessoal já era uma
“No desdobramento de sua utopia, os antecipação do que
árcades pregavam de acordo com Horacio, seria a poesia romântica do século XIX.
“aurea mediocritas” como tema literário e Bocage nasceu em Setúbal, Portugal, no dia 15 de
principio moral: a dourada existência setembro de 1765. Filho de José Luís Soares de
transcorrida sem sobressaltos, sem Barbosa, juiz de fora e ouvidor, e de Mariana
ambições de gloria ou de fortuna. E a Joaquina Xavier l'HedoisLustoffdu Bocage,
poesia deveria espelhar, em versos simples, descendente de família da Normandia, região
curtos e populares, o anseio da histórica do noroeste da frança.
simplicidade existencial. Enfim, a fusão do Com 14 anos de idade, assentou praça na
Homem e a Natureza, expressa numa forma Marinha. Em 1786 esteve no Brasil. Nesse mesmo
onde a naturalidade do ritmo poético ano viajou para o Oriente, permanecendo na
refletisse um viver tranquilo em face da Índia como guarda-marinha. Desertou da
placidez campestre: a respiração verbal Marinha e passou a viver uma vida errante e
corresponderia “a dos pulmões oxigenados boêmia.
pelo ar puro dos campos”. Em 1790, voltou à Lisboa. Iniciou sua atividade
Massaud Moisés. literária, seguindo a moda do Arcadismo,
 Locusamoenus (local ameno) : os arcades escrevendo poesias que falam de pastores,
viam a natureza como um lugar ameno, pastoras e ovelhas, observa-se também a
utilização da mitologia clássica. O próprio nome

44
do movimento, foi tirado de Arcádia, região da Já se afastou de nós o Inverno agreste,
Grécia onde, segundo a mitologia, pastores e Envolto nos seus húmidos vapores,
pastoras levavam uma vida inocente e feliz, em A fértil Primavera, a mãe das flores,
contato com a natureza. O prado ameno de boninas veste.
Bocage chegou a participar de uma espécie de
Varrendo os ares, o subtil Nordeste,
associação de poetas chamada Nova Arcádia,
Os torna azuis; as aves de mil cores,
com o pseudônimo de Elmano Sadino. Com o Adejam entre Zéfiros e Amores,
tempo abandonou a poesia artificial e começou a E toma o fresco Tejo a cor celeste.
falar do seu mundo interior, de seus dramas
amorosos e existenciais, numa linguagem que Vem, ó Marília, vem lograr comigo,
encontrou grande receptividade entre os leitores destes alegres campos a beleza,
daquela época e dos séculos seguintes, sendo o Destas copadas árvores o abrigo.
poeta mais lido em Portugal.
Sua obra é muitas vezes classificada de Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo,
transitória. Surgiu no momento marcado por
Notando as perfeições da Natureza!
grandes transformações na Europa, decorrente
da Revolução Francesa e do florescimento do
Romantismo. Sua poesia individualista pessoal já Ó Retrato da Morte, ó Noite Amiga
era uma antecipação do que seria a poesia Ó retrato da morte, ó noite amiga
romântica do século XIX. Bocage é um dos Por cuja escuridão suspiro há tanto!
maiores sonetistas líricos da literatura Calada testemunha do meu pranto,
portuguesa, junto com Camões e Antero de De meus desgostos secretária antiga!
Quental. Escreveu todos os gêneros literários de
seu tempo: idílios, odes, canções, epístolas e Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
fábulas.
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Acusado de satirizar o clero e a nobreza, foi
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:
processado e preso pela inquisição. Deixou fama
de poeta satírico e, com o tempo, seu nome E vós, ó cortesãos da escuridade,
tornou-se sinônimo de contador de histórias Fantasmas vagos, mochos piadores,
picantes e obscenas. Durante o período que Inimigos, como eu, da claridade!
esteve preso, passou traduzindo autores
franceses e latinos. Em bandos acudi aos meus clamores;
Manuel Maria Barbosa du Bocage faleceu em Quero a vossa medonha sociedade,
Lisboa, Portugal, no dia 21 de dezembro de 1805. Quero fartar meu coração de horrores.
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Olha, Marília, as flautas dos pastores Sonho
Que bem que soam, como estão cadentes! De suspirar em vão já fatigado,
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Dando trégua a meus males eu dormia;
Os Zéfiros brincar por entre flores? Eis que junto de mim sonhei que via
Vê como ali beijando-se os Amores Da Morte o gesto lívido e mirrado:
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes, Curva fouce no punho descarnado
As vagas borboletas de mil cores. Sustentava a cruel, e me dizia:
"Eu venho terminar tua agonia;
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folgas a abelhinha pára,
Morre, não penes mais, ó desgraçado!"
Ora nos ares sussurando gira:
Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que alegre campo! Que amanhã tão Que armado de cruentos passadores
clara! Aparece, e lhe diz com voz irada:
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara "Emprega noutro objecto teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Já se afastou de nós o Inverno agreste Para vítima só de meus furores."

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A brutalidade dos métodos
Incultas produções da mocidade administrativos e a derrama de impostos
“Incultas produções da mocidade determinada pelos lusitanos acabaram por gerar
Exponho a vossos olhos, ó leitores; o primeiro grande movimento de caráter
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade; revolucionário no Brasil: a Inconfidência Mineira.
Que elas buscam piedade, e não louvores; Dela participaram pessoas de diferentes
segmentos da sociedade: comerciantes, clérigos,
Ponderai da Fortuna a variedade
estudantes, militares, artesãos, médicos,
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade, advogados, professores, que tramavam a
A curta duração dos seus favores; insurreição contra a tirania portuguesa. Dentre
elas estiveram vários de nossos poetas: Cláudio
E se entre versos mil de sentimento Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga,
Encontrardes alguns, cuja aparência Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga.
Indique festival contentamento, Às características árcades somou-se a
consciência política, que deu ao Arcadismo
Crede, ó mortais, que foram com violência brasileiro um aspecto singular. A visão crítica da
Escritos pela mão do Fingimento,
situação do país e a valorização do elemento
Cantados pela voz da Dependência."
indígena revelam a preocupação em buscar uma
Arcadismo no Brasil (1768-1836) identidade brasileira para nossa literatura, ainda
que as características neoclássicas estivessem
bem evidentes.
Dentre os autores árcades brasileiros
destacam-se Cláudio Manuel da costa, Tomás
Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, Frei Santa Rita
Durão.

Tomás Antônio Gonzaga (1744 – 1810)

TIRADENTES ESQUARTEJADO (PEDRO AMÉRICO, 1893)


O Arcadismo, também conhecido como Poeta árcade que viveu entre o final do
Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento século XVIII e o início do século XIX. Nasceu na
que compreende a produção literária brasileira na cidade de Porto em Portugal no ano de 1744 e
segunda metade do século XVIII. O nome faz veio para o Brasil em 1749, quando tinha apenas
referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, quatro anos. Anos mais tarde, o poeta retorna
por sua vez, foi nomeada em referência ao para Portugal para estudar Direito na Faculdade
semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto). de Leis em Coimbra, cidade onde exerce cargos
Obras, de Cláudio Manuel da Costa, livro de magistratura. Intentando uma cátedra na
publicado em 1768, marca o início do Arcadismo Universidade de Coimbra, defende a tese
em nosso país. Essa escola se estabeleceu intitulada Tratado de Direito Natural, dedicada
durante um momento particularmente delicado ao Marquês de Pombal.
da História brasileira. O despotismo da Retorna ao Brasil em 1782 para a então
colonização portuguesa gerava cada vez mais cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas
descontentamento em nossa sociedade. O início Gerais, sendo nomeado ouvidor e juiz. No mesmo
do ciclo da mineração acirrou ainda mais os ano, conheceu Maria Doroteia Joaquina de Seixas
ânimos do espírito explorador que regia a Brandão, jovem de apenas dezesseis anos, a qual
colonização do Brasil por Portugal. inspirou a composição do conjunto de poemas

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intitulados Marília de Dirceu sob o pseudônimo Fanfarrão Minésio. Na realidade, Santiago seria
pastoril de Dirceu. Vila Rica e, seu governador, Luís da Cunha
No ano de 1788, pede Maria Doroteia em Meneses (então governador de Minas Gerais).
casamento, porém, a família da jovem, muito Além disso, endereça as cartas para Doroteu, que
tradicional, inicialmente se opôs ao matrimônio e era, na realidade, o também poeta árcade Claudio
só mudou de opinião com o passar do tempo. Manuel da Costa.
Tomás Antônio Gonzaga também ficou
famoso por sua atuação na Conjuração Mineira, Marília de Dirceu.
no ano de 1789, na qual vários intelectuais e Parte I
pessoas influentes se insurgiram contra a Lira I
monarquia portuguesa e lutavam pela
independência da colônia. Eu, Marília, não sou algum vaqueiro
Prestes a se casar com Marília, Gonzaga é Que viva de guardar alheio gado,
preso pelo envolvimento na Conjuração e, na De tosco trato, d’expressões grosseiro,
cela, escreve grande parte de Marília de Dirceu. O Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
poeta havia começado a obra dedicada à Maria Tenho próprio casal, e nele assisto;
Doroteia ainda antes de ir para a prisão e dá Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
seguimento da mesma enquanto estivera no Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
cárcere, o que explica a mudança drástica de tom E mais as finas lãs, de que me visto.
no decorrer dos poemas. Graças, Marília bela,
No ano de 1792 é exilado em Graças à minha estrela!
Moçambique a fim de cumprir sua pena. Naquele
país, hospeda-se na casa de um rico comerciante Eu vi o meu semblante numa fonte,
de escravos e, no ano de 1793 contrai matrimônio Dos anos inda não está cortado;
com a filha dele, Juliana de Souza Mascarenhas, Os pastores, que habitam este monte,
com quem tem dois filhos. Falece no ano de 1810. Respeitam o poder do meu cajado.
Após o exílio na África, é editada a Com tal destreza toco a sanfoninha,
primeira parte da obra Marília de Dirceu. Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Publicado inicialmente em três partes nos anos Ao som dela concerto a voz celeste
de 1792, 1799 e 1812 (a última após a morte do Nem canto letra, que não seja minha.
poeta). Nessa obra, Gonzaga é um pastor Graças, Marília bela,
abastado que vive os idílios da vida no campo e Graças à minha estrela!
canta para sua amada Marília e a natureza ao seu
redor. Inicialmente, o poeta escreve sobre temas PARTE II
como o amor, a felicidade, a vida com sua amada Lira I
e os sonhos de uma família. Como assinala o
Já não cinjo de louro a minha testa;
crítico José de Nicola, Gonzaga discorre sobre os
Nem sonoras canções o Deus me inspira:
temas sempre sob uma postura patriarcalista,
Ah! que nem me resta
defendendo também a tradição e a propriedade, Uma já quebrada,
além disso, o crítico chama atenção para o caráter Mal sonora Lira!
da obra que, embora receba o nome da amada,
em momento algum mostra a voz da mesma. Mas neste mesmo estado, em que me vejo,
Portanto, o conjunto de poemas pode ser Pede, Marília, Amor que vá cantar-te:
considerado um monólogo, em que apenas o Cumpro o seu desejo;
poeta expressa seus sentimentos. Na prisão, há a E ao que resta supra
mudança de tom em Marília de Dirceu e o poeta A paixão, e a arte.
passa a refletir sobre justiça e sobre seu destino.
A fumaça, Marília, da candeia,
Antes de ir para a prisão, Gonzaga escreve
Que a molhada parede ou suja, ou pinta,
uma série de poemas satíricos em forma de Bem que tosca, e feia,
correspondência sob o título de Cartas Chilenas. Agora me pode
Nelas, Critilo, um habitante de Santiago do Chile, Ministrar a tinta.
critica os mandos e desmandos do governador

47
Aos mais preparos o discurso apronta: Faz, que gire sem norte a minha ideia”
Ele me diz, que faça do pé de uma Cláudio Manuel da Costa
Má laranja ponta,
E dele me sirva Cláudio Manuel da costa
Em lugar de pluma.
(1729-1789)
Nasceu na cidade de Ribeirão do Carmo (hoje
Perder as úteis horas não, não devo;
Mariana), em Minas Gerais, no ano de 1729. Aos vinte
Verás, Marília, uma ideia nova:
anos foi a Portugal para estudar Direito na faculdade
Sim, eu já te escrevo,
de Coimbra, dividindo as obrigações do curso com a
Do que esta alma dita
produção literária. Depois de terminada a faculdade,
Quando amor aprova.
retorna ao Brasil onde exerce a função de advogado
na então cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto).
PARTE III
Em Minas Gerais ajudou a fundar a Arcádia
Lira I
Ultramarina com os poetas Manuel Inácio da Silva,
Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga entre
outros poetas e intelectuais. Adotou, no ano de 1773,
Convidou-me a ver seu Templo
o pseudônimo de Glauceste Satúrnio, sob o qual
O cego Cupido um dia;
escreveu a maioria de suas poesias.
Encheu-se de gosto o peito,
Inspirados pelo pensamento iluminista, os
Fiz deste Deus um conceito,
integrantes da Arcádia desenvolveram uma
Como dele não fazia.
conspiração política contra o governador da capitania,
culminando na Conjuração Mineira. Por essa época,
Aqui vejo descorados
sua poesia adquire um tom político e o poeta se
Os terníssimos amantes,
mostra preocupado com diversas questões políticas e
Entre as cadeias gemerem;
sociais. O movimento levou seus membros à prisão,
Vejo nas piras arderem
sob acusação de lesa-majestade, isto é, de traição ao
As entranhas palpitantes.
rei de Portugal.
Por seu envolvimento na Conjuração Mineira,
A quem amas, quanto avistas
o poeta foi encontrado morto em sua cela no ano de
(Diz Cupido) não aterra;
1789. Na época, as autoridades disseram que ele havia
Quem quer cingir o loureiro
se suicidado, mas hoje se sabe que ele foi assassinado.
Também vai sofrer primeiro
Anos mais tarde, ao final do século XIX, como
Todo o trabalho da guerra.
homenagem, Cláudio Manuel da Costa foi escolhido o
Patrono da cadeira de número oito da Academia
Contudo, que te dilates
Brasileira de Letras.
Neste sítio não convenho;
Deixa a estância lastimosa,
Cláudio Manuel da Costa é considerado o primeiro
Vem ver a sala formosa
poeta do movimento árcade brasileiro, embora ainda
Aonde o meu sólio tenho.
apresente características barrocas em toda a sua obra,
principalmente no que diz respeito aos estilos cultista
Entre noutro grande Templo;
e conceptista utilizados, compondo poemas perfeitos
Que perspectiva tão grata!
na forma e na linguagem. Por isso, se costuma dizer
Tudo quanto nele vejo
que Cláudio Manuel da é um poeta de transição entre
Passa além do meu desejo,
o barroco e o arcadismo. Além disso, seus poemas têm
E o discurso me arrebata.
influência dos versos camonianos.
O início do movimento árcade na literatura
brasileira tem como marco a publicação de sua
coletânea de poemas intitulada Obras (1768).
Diferentemente da produção poética anterior, Cláudio
Manuel prioriza o retrato da natureza como um local
de refúgio dos problemas da vida urbana, onde o
poeta/pastor pode desfrutar da vida rural.
Seus temas giram em torno de reflexões morais e
das contradições da vida, além de ter escrito um
poema épico, Vila Rica, no qual exalta o bandeirantes,
“Eu só, tendo de penas a alma cheia, exploradores do interior do país além da fundação da
Não tenho que esperar; que meu cuidado cidade de mesmo nome.

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Irás a divertir-te na floresta,
Onde estou! Este sítio desconheço. Sustentada, Marília, no meu braço;
Onde estou! Este sítio desconheço: Aqui descansarei a quente sesta,
Quem fez tão diferente aquele prado! Dormindo um leve sono em teu regaço;
Tudo outra natureza tem tomado; Enquanto a luta jogam os pastores,
E em contemplá- lo tímido esmoreço. E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço Nos troncos gravarei os teus louvores.
De estar a ela um dia reclinado: Graças, Marília bela,
Ale em vale um monte esta mudado: Graças à minha estrela!”
Quanto pode dos anos o progresso! (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In:
Literatura comentada. São Paulo: Abril Cultural, 1980).
Arvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpetua a primavera: 01. É correto afirmar sobre as estrofes:
Nem troncos vejo agora decadentes. a)Ilustram não só preferências temáticas do
Arcadismo, como o ideal de vida simples, o herói que
Eu me engano: a região esta não era: se faz pela honradez e pelo trabalho, mas também o
Mas que venho a estranhar, se estão presentes, sentimento de transitoriedade da vida, que arrasta o
Meus males, com que tudo degenera! poeta ao carpe diem (aproveitar a vida) horaciano.
b)Representam os temas do bucolismo, do fugere
urbem (fuga da cidade), da áurea mediocritas
Se sou pobre pastor, se não governo. (existência dentro da mediania), mas fogem do
Se sou pobre pastor, se não governo, convencionalismo arcádico da linguagem simples, o
Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes; que torna o poema artificial.
Se em frio, calma, e chuvas inclementes c)Apresentam a fina ironia de Gonzaga, o que liga o
Passo o verao, outono, estio, inverno; poema às Cartas Chilenas, escritas pelo autor, depois
que estava preso, para ridicularizar o Visconde de
Nem por isso trocara o abrigo terno Barbacena, feroz inimigo dos Inconfidentes.
Desta choça, em que vivo, coas enchentes d)Reiteram o nome de Marília nos estribilhos, mas, ao
Dessa grande fortuna: assaz presentes contrário do que pode parecer, esse recurso não
Tenho as paixões desse tormento eterno. imprime musicalidade ao texto, serve para enaltecer a
mulher, vista, naquele momento, como elemento
Adorar as traições, amar o engano, angélico e divinal, o que faz a poética de Gonzaga
Ouvir dos lastimosos o gemido, preceder o Romantismo.
Passar aflito o dia, o mês, e o ano; e)Ilustram tópicos preferenciais do Arcadismo, como o
locus amoenus (lugar ameno), o ideal de vida simples,
Seja embora prazer; que a meu ouvido a pintura de cenas pastoris, e revelam os valores da
soa melhor a voz do desengano, classe burguesa, de então, presentes na preocupação
Que da torpe lisonja o infame ruído econômica que o pastor enuncia.

Exercícios Liberdade, onde estás? Quem te demora?


Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Tomás Antônio Gonzaga escreveu Marília de Dirceu, Porque (triste de mim!), porque não raia
um dos mais conhecidos poemas de nosso Arcadismo. Já na esfera de Lísia* a tua aurora?
Leia duas estrofes da Lira I, da primeira parte do
poema. Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaia
Que viva de guardar alheio gado, Despotismo feroz, que nos devora!
De tosco trato, d`expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado. Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Tenho próprio casal e nele assisto; Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; E em fingir, por temor, empenha estudo.
Das brancas ovelhinhas tiro o leite
E mais as finas lãs, de que me visto. Movam nossos grilhões tua piedade;
Graças, Marília bela, Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Graças à minha estrela! Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!
(Bocage)

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Lísia = Portugal e)revela ser um poeta neoclássico por excelência,
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa tanto no domínio da técnica do verso, quanto no
Através dos Textos. respeito total das convenções literárias da sua época,
São Paulo: Cultrix, 2006,p.239 particularmente a imitação dos clássicos greco-latinos.
02. A leitura do soneto bocageano permite afirmar que
há entre a subjetividade do poeta e as questões sociais Texto I
de Portugal uma ampla interação comunicativa. Amor é fogo que arde sem se ver;
Marque a alternativa que comprova este comentário. É ferida que dói e não se sente;
a)O eu-lírico pede ao país que tenha, como ele, É um contentamento descontente;
paciência para suportar o despotismo. É dor que desatina sem doer.
b)A pátria personificada que desmaia, é comparável ao
eu-lírico frio e mudo. É um não querer mais que bem querer;
c)O despotismo é a redenção muito esperada pelo eu- É solitário andar por entre a gente;
lírico e pela sociedade portuguesa. É nunca contentar-se de contente;
d)A saudade é representada no poema pelas imagens É cuidar que se ganha em se perder;
do cárcere e do poeta preso por grilhões. (Camões)
e)O eu-lírico e a pátria celebram a chegada da
liberdade como um sol que surge no horizonte. Texto II
Amor é fogo? Ou é cadente lágrima?
Leia o soneto de Bocage, abaixo transcrito: Pois eu naufrago em mar de labaredas
Que lambem o sangue e a flor da pele acendem
Importuna Razão, não me persigas; Quando o rubor me vem à tona d’água.
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
E como arde, ai, como arde, Amor,
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Quando a ferida dói porque se sente,
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas:
E o mover dos meus olhos sob a casca
Se acusas os mortais, e os não obrigas, Vê muito bem o que devia não ver.
Se (conhecendo o mal) não dás a cura, (Ilka Brunhilde Laurito)
Deixa-me apreciar minha loucura,
04. Assinale a alternativa correta.
Importuna Razão, não me persigas.
a)O texto I, com sua regularidade formal, recupera do
É teu fim, teu projeto encher de pejo texto II o rígido padrão da estética clássica.
Esta alma, frágil vítima daquela b)Os dois textos, ao negarem uma concepção carnal
Que, injusta e vária, noutros laços vejo: do amor, enaltecem o platonismo amoroso.
c)O texto I e o texto II são convergentes no que se
Queres que fuja de Marília bela, refere à concepção do sentimento amoroso.
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo d)O texto II contesta o texto I no que se refere ao
É carpir, delirar, morrer por ela. ponto de vista sobre o amor.
(BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Obras de Bocage. Porto: Lello e)Os dois textos convergem quanto à forma e à
& Irmão, 1968, p. 172.)
linguagem, mas divergem quanto ao conteúdo.
mitigar - amansar, abrandar
pejo - vergonha, pudor
“Torno a ver-vos, ó montes; o destino (verso 1)
carpir - sofrer, chorar
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
03. No soneto acima, o poeta
Pelo traje da Corte, rico e fino. (verso 4)
a)dirige-se à Razão, prometendo seguir seus sábios
conselhos para domar a lei do Amor.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
b)utiliza imagens da estética neoclássica, visto que
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
obedece cegamente à Razão, em vez de ceder ao
Vendo correr os míseros vaqueiros (verso 7)
impulso da loucura.
Atrás de seu cansado desatino.
c)mostra-se um legítimo precursor da estética
romântica ao expressar claramente o desejo de que a
Se o bem desta choupana pode tanto,
emoção vença a razão.
Que chega a ter mais preço, e mais valia (verso 10)
d)continua preso às características do Arcadismo,
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
principalmente no que diz respeito à presença de
imagens da mitologia e à contenção de sentimentos
Aqui descanse a louca fantasia,
ditada pelo racionalismo.
E o que até agora se tornava em pranto (verso 13)
Se converta em afetos de alegria.”

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Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: PROENÇA FILHO,
inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9. Domício (Org.). "A poesia dos Inconfidentes". Rio de Janeiro:
Aguilar, 1966. Lira I, p. 573.)
05. Considerando o soneto de Cláudio Manoel da
06. Em relação aos textos acima, é correto afirmar:
Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo
a)Ambos os textos expressam a idéia de que o
brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação
sentimento amoroso pode ser preservado mesmo
entre o poema e o
depois da morte, conforme atestam os versos "ser-
momento histórico de sua produção.
me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira
rio" e "Quem quiser ser feliz nos seus amores/ Siga os
estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou
exemplos que nos deram estes".
seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e
b)Ambos os textos expressam a representação de uma
fino”.
natureza idealizada, conforme retratam os versos "E se
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como
antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro
núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada
sombrio" e "Na campa, rodeada de ciprestes".
pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo
c)Ambos os textos expressam uma visão do amor
urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da
impossível, conforme retratam os versos "Quer
Colônia.
gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio" e
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é
"Quem quiser ser feliz nos seus amores/ Siga os
elemento estético do Arcadismo que evidencia a
exemplos que nos deram estes".
preocupação do poeta árcade em realizar uma
d)Ambos os textos apresentam linguagem rebuscada,
representação literária realista da vida nacional.
que reflete homens em conflito consigo mesmos,
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a
devido aos valores mundanos e espirituais neles
“Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que
inseridos.
reproduz a condição histórica paradoxalmente
e)Ambos os textos expressam um sentimento de
vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
tristeza e de desespero em relação à morte, como se
e) A realidade de atraso social, político e econômico
lê nos versos "Quer gozemos, quer não gozemos,
do Brasil Colônia está representada esteticamente no
passamos como o rio" e "Quem quiser ser feliz nos
poema pela referência, na última estrofe, à
seus amores/ Siga os exemplos que nos deram estes".
transformação do pranto em alegria.
"Basta senhor, porque roubo em uma barca sou
Texto 1
ladrão, e vós que roubais em uma armada sois
"Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
imperador? Assim é. Roubar pouco é culpa, roubar
casarmo-nos
muito é grandeza. O ladrão que furta para comer, não
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos
vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que
como o rio.
levam de que eu trato, são os outros... ladrões de
Mais vale passar silenciosamente
maior calibre e mais alta esfera...Os outros ladrões
E sem desassossegos grandes.
roubam um homem, estes roubam cidades e reinos, os
[...]
outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro
nem perigo; os outros se furtam são enforcados, e o
sombrio,
bucolismo estes furtam e enforcam."
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
(Pe. Antonio Vieira. "Sermão do bom ladrão".)
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim
- à beira-rio, "Que havemos de esperar, Marília bela ?
Pagã triste e com flores no regaço." Que vão passando os florescentes dias?
(PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965. p.
As glórias que vêm tarde já vêm frias;
257 - sob o heterônimo de Ricardo Reis.)
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
óbolo: esmola
Ah! Não, minha Marília,
Texto 2
Aproveite-se o tempo, antes que faça
"Depois que nos ferir a mão da morte,
O estrago de roubar ao corpo as forças
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
E ao semblante a graça.
Nossos corpos terão, terão a sorte (Tomás Antônio Gonzaga. "Lira XIV")
De consumir os dous a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes, 07. Sobre a obra desses autores, analise as afirmativas
Lerão estas palavras os Pastores: a seguir.
'Quem quiser ser feliz nos seus amores, a)A obra de Gonzaga é exemplar do Arcadismo. O
Siga os exemplos que nos deram estes'.” tema dos versos acima é o "carpe diem" (gozar a vida

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presente), escrito numa linguagem complexa, cheia de Várias juras proferi,
contradições ideológicas, própria do Arcadismo. Missa inteira nunca ouvi ...;
b)Repleta de ousadias sintáticas e vocabulares, a Gregório de Matos
linguagem arcádica, no poema de Gonzaga,
diferencia-se da linguagem rebuscada, usada pelo Texto II
Romantismo.
c)O texto de Vieira, sendo Barroco, está pleno de Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
metáforas, de linguagem figurada, de termos E a boca, com prazer o mais jucundo,
inusitados e eruditos, sendo de difícil compreensão. Apalpar-lhe de neve os dois pimpolhos:
d)Vieira adota a tendência barroca conceptista que
leva para o texto o predomínio das idéias, do Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
raciocínio, da lógica, procurando adequar os textos Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
religiosos à realidade circundante. É este o maior gosto que há no mundo.
e)O texto de Pe. Antonio Vieira é exemplar do Bocage
Realismo, visto que expressa os defeitos humanos,
quando fala sobre roubo, de maneira explícita e Jucundo: alegre
comum. Ditoso: feliz
Folho: tecido com pregas ou franzido, para enfeitar
Os árcades, no Brasil, assimilaram as idéias vestuário
neoclássicas européias, muitas vezes, reinterpretando,
cada um ao seu estilo, a realidade sociopolítica e 09. Considerando os versos do texto I, assinale a
cultural do país, como se observa no seguinte alternativa correta.
fragmento das "Cartas Chilenas": a) Gregório de Matos, por submeter-se aos
Pretende, Doroteu, o nosso chefe padrões estéticos barrocos, afastou-se da tradição
erguer uma cadeia majestosa, poética satírica que marcou o século XVI.
que possa escurecer a velha fama b) Gregório de Matos revela, em seus sonetos,
da torre de Babel e mais dos grandes, comportamento religioso idêntico àquele manifestado
custosos edifícios que fizeram, por Anchieta em sua lírica renascentista.
para sepulcros seus, os reis do Egito. c) Típico representante da cultura teocêntrica no
Talvez, prezado amigo, que imagine Brasil, Gregório de Matos nega os valores
que neste monumento se conserve, antropocêntricos do Renascimento, endossando os
eterna a sua glória, bem que os povos, princípios da Contra-Reforma.
ingratos, não consagrem ricos bustos d) A poesia satírica de Gregório de Matos, ao
nem montadas estátuas ao seu nome. lado da poesia lírico-amorosa e religiosa, compõe uma
Desiste, louco chefe, dessa empresa: expressão literária multifacetada, reflexo dos
um soberbo edifício levantado contrastes ideológicos que marcaram o século XVII.
sobre ossos de inocentes, construído e) Gregório de Matos foi o divulgador, aqui no
com lágrimas dos pobres, nunca serve Brasil, da mais alta expressão da lírica trovadoresca ao
de glória ao seu autor, mas sim de opróbrio. produzir não só cantigas satíricas, como também
(GONZAGA, Tomás Antônio. "Cartas chilenas". In: COSTA, Cláudio
cantigas de amor e de amigo.
M. da; GONZAGA, Tomás A.; PEIXOTO, Alvarenga. "A poesia dos
inconfidentes". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 814.)

08. Sobre o excerto e a escola literária a que pertence,


analise as afirmativas a seguir. Gabarito – Literatura de 1500
a)Valorização do ideal da vida cheia de dualismo e 1. C 06. D
agitação. 2. A 07. E
b)Tendência ao discurso em forma de diálogo do eu 3. C 08. B
poético com a mulher amada, que o rejeita. 4. A 09.C
c)Utilização de linguagem elegante, rebuscada e 5. A
artificial.
d)Intenções didáticas, expressas no tom de denúncia e Gabarito – Barroco
sátira. 1.C 8.C
e)Caracterização do poeta como um pintor de 2.C 9.A
emoções e não de situações. 3.B 10.D
4.B 11.C
Texto I 5.D 12.D
Bem não Vos amo, confesso, 6.E 13.D

52
7.B 14.D

Gabarito – Arcadismo
1.E 6.A
2.B 7.D
3.C 8.D
4.D 9.D
5.B

Anotações

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