Semanário dedicado aos interesses portuguezes
Cliina e Oceania
Assignaturas s
Por anno $5.00
Por mez 50
Numero avulso — 20
As assignaturas serão cobradas adeantadamente.
i: amo
k MMk tfHFX.
" 0 Oriente Portuguez," que hoje co-
meça a occnpar um logar humilde nas
lileiras da imprensa jornalística, nasce
em uma época de attribulações para
a sua patria, e alista-se, como simples
soldado voluntário, ao lado dos que
trabalham em conjurar os perigos da
situação.
A sua profissão de fé politica, ao
jurar bandeiras, começa pelo reconhe-
cimento de que essa crise angustiosa,
epie de muito longe vem preparando a
Portugal os desatinos dos seus gover-
nos, só pode vencer-se por meio de re-
médios heroicos. E, para que esses
remédios deixem de ser tão mortaes
como os proprios males a combater, é
absolutamente necessária uma prudên-
cia inquebrantável da parte dos paci-
entes.
Posto á prova de tão duro soffrimen-
to, que chega a assumir proporções de
um verdadeiro martyrio, o povo portu-
guez deve comprehender bem que os
martyres só se tornam credores de
menção honrosa nos registos da his-
toria, quando sabem padecer corn
submissão, com valor e com dignida-
de.
Nem irritar-se, nem succumbir. Re-
signe-se o povo ante a fatalidade dos
factos consummados, mas não julgue
morta a nação, que apenas está atro-
phiada, qual arvore coberta de para-
sitas.
Nem irritar-se, porque a perturba-
ção da ordem publica só podia dar
mais força ao movimento adquirido, fa-
zendo-nos transpor de repente a pe-
quena distancia a que estamos do
abysmo, nem também succumbir, por-
que as esperanças não estão ainda
perdidas de todo, e porque é precisa-
mente da energia popular que d'ora
em deante se ha mister, para que a
moralidade no poder tenha uma senti-
nella de confiança.
Sustentar estas ideias, fazendo que
ellas calem no animo de todos os por-
tuguezes, não é empreza que possa
considerar-se ociosa, nem mesmo n'es-
te cantinho de Portugal, que, por dis-
tante, não sente menos as amarguras
da patria, nem será mais poupado 11a
distribuição dos sacrifícios.
E' a essa transmissão de ideias que
vamos dedicar os nossos esforços, não
por meio de continuas declamações
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Rua dos Prazeres No. 1.
Administrador—A. V. da Silva.
MACAU—26 DE ABRIL DE 1892.
rhetorieas sobre o thema invariável
das desgraças publicas, mas dando um
exemplo de cordura pela nossa pro-
pria placidez em encarar as circum-
stancias, mostrando confiança no futu-
ro por um trabalho assíduo na resolu-
ção dos problemas administrativos e
economicos do paiz, procurando emfim
dar uni formal desmentido aos que sup-
põein esta colonia um encargo para a
nação, e, em nome de um deficit ima-
ginário, requerem que ella seja posta
no mercado.
Fica assim dada uma ideia da nos-
sa missão, da nossa cruz, como disse-
mos em linguagem figurada, por ser
n'este caso a mais propria para signi-
ficar as responsabilidades e os dissa-
bores inherentes á vida jornalística.
Este jornal começa por declarar
muito terminantemente que não se
presta a iusiiitfaçftes^ ou polemicas
pessoaes, nem mesmo na secção dos
communicados. Abre francamente as
suas portas a todos os que dese-
jarem discorrer sobre assumptos de in-
teresse publico, mas não acceita ver-
rinas, nem insultos, nem expressões
ambíguas, que possam ferir individua-
lidades, embora se apresentem como
desforço de provocações feitas cm ou-
tros jornaes.
Ha actos que por sua natureza caem
sob a esphera da imprensa periodica,
e bem se concebe que a sua noticia ou
apreciação possa causar alguns des-
peitos, mas não é menos certo que a
imprensa tem sempre meio de cumprir
a sua missão social, sem tocar na
dignidade e na vida particular dos
cidadãos.
Quem approvar essa especie de
programma, que para ahi fica, honrar-
nos-á muitíssimo com a sua collabora-
ção, e pode vir com confiança, qual-
quer que seja a sua posição 11a socie-
dade, porque nunca os seus escriptos
terão a má companhia de outros, que
não sejam moderados na linguagem e
correctos no pensamento.
Feitas estas declarações, e assegura-
do o nosso firme propósito de manter-
mos a maior imparcialidade nos as-
sumptos de que nos occuparmos, pois
não queremos provocar resentiinentos
justificados em uma injustiça, nem at-
trahir amisades a troco de lizonjas,
concluímos dirigindo um sincero cum-
primento aos nossos collegas, as-
signantes e leitores. \ cias.
da
Annuncios s
Por linha, em caracteres europeus, 5 avos
Menos de 20 linhas $1.00
Eni caracteres chinezes, 1 avo por cada letra.
Repetições, metade do preço.
K°i
k wbstm m "hw-mk-r
Não podendo conformar-nos coin as consi-
derações que fizera o nosso esclarecido col-
lege do Macaense, com respeito ao movimen-
te dos chinas em opposiçáo ao exclusivo do
liu-pun, logo depois que este foi adjudicado
pela fazenda, preparámo'-nos para manifes-
tar as nossas ideias sobre o mesmo assum-
pto, e n'esse sentido escrevemos um artigo,
que devia ter sido publicado nasemaha pas-
sada, se nito surgissem difficuldades que re-
tardaram o apparecimento d'este jornal.
De então para cá derain-se acontecimen-
tos, que nos obrigam a ampliar aquelle ar-
tigo, mas que não alteram no seu fundo as
nossas convicções, e por isso irá na integra.
Dividiremos pois o assumpto em tres
partes, consoante o que pensávamos antes
da gréve, durante a gréve e depois da
gréve, constituindo a primeira parte o ar-
tigo a que nos referimos.
*
* #
14 de abril.
Quando nos disseram, vai para tres se-
manas, que^a adjudicação do exclusivo do
liu-pun dera logar a comicios concorridos,
estes a discursos calorosos e estes a um pa-
cto entre grande numero de chinas pai« se
retirarem de Macau a pouco e pouco, se^l
aquelle exclusivo não fosse abolido, nós de-
mo'-nos por satisfeitos coin esse desafogo
rhetorico—excellente calmante para as fe-
bres populares—e passámos á ordem do dia.
Conhecemos o dragão como extremamen-
te cioso de immunidades. Vão lá tocar-lhe
na arca santa dos seus usos e costumes, só
que seja com a mais simples postura muni-
cipal, e verão como elle levanta logo a ca-
beça para fazer despedidas ao nosso domi-
nio. Mas se a cabeça é tantas vezes Leve,
em compensação o pé é sempre firme.
A ameaça da deserção dos chinas—tão
pertinaz em se reproduzir por palavras,
quanto em se desmentir por obras—tor-
nou-se pois demasiado trivial, para que pos-
sa ainda commover um espirito observa-
dor.
E comtudo o nosso illustrado collega do
Macaense veio ha pouco arvorar uma d'es-
sas ameaças em aviso de salvação publica,
perante o qual aconselha o governo da pro-
víncia a abolir o exclusivo do liu-pun, mes-
mo com sacrifício dos interesses immedia-
tos da fazenda, mesmo com quebra da leal-
dade que a nação deve manter no cumpri-
mento dos seus contractos, mesmo com a
certeza de que mal iria ao prestigio da au-
ctoridade, -uma vez aberto o exemplo de
transigências com a reacção de um punha-
do de indigenas !
Não cremos que o conselho seja seguido,
e folgamos até de ver factos a attestar o
contrario, mas ainda assim lastimamos que
o collega seguisse um caminho errado,
sustentando esperanças chimericas, dando
apoio aos que empregam a pressão como
supposto argumento de força contra a sup-
posta fraqueza do poder, amparando emfim
pretenções que, â falta de ecco, teriam ces-
sado logo ao nascer, sem mais impertinên-
 2 O ORIENTE PORTIJGUEZ-ABRIL 26, 1892
Não estava isto na intenção do Macaense,
fazernos-lhe essa justiça. Se o vemos to-
mado de apprehensões pelo dia de amanhã,
se o vemos prognosticando a tempestade
que ha de converter o nosso bazar em um
deserto de boticas e de mercadorias, o erro
não provem de má fé, mas simplesmente
de não consultar os barómetros mais exa-
ctos, para os quaes tomamos a liberdade de
chamar a sua attenção.
Quer o collega saber se os chinas aban-
donam Macau por causa da adjudicação do
liu-pun ?
Pois bem ; esfregue um pouco os olhos
da memoria, e veja os proprios chinas, dois
ou tres dias depois d'aquella adjudicação,
exactamente no meio da effervescencia a
que ella deu logar, não a ausentarem-se,
mas a comparecerem na arrematação de ou-
tro exclusivo, o da loteria pa-cap-piu, fazen-
do pela sua competência entrar nos cofres
da fazenda um augmento de cinco mil e seis-
centas patacas.
Outro barómetro: o dofantán na Taipa
e Colovane. Antes de ser adjudicado o
liu-pun, ninguém tinha offereeido por aqueí-
le exclusivo um preço que satisfizesse a fa-
zenda. Começa o movimento, rompem os
protestos, delibera-se o abandono de Macau,
—o preço do fantán sobe e o contracto rea-
lisa-se!
Estes dois factos por si sós, esta alta de
fundos a zombar de todos os comícios e de
todas as despedidas ;> bandeira portugueza,
não são bastantes para fazer baquear os ar-
gumentos, os prognósticos e os receios do
Macaense ?
Mas ha mais.
Emquanto se jurava nos pagodes esse
pacto calamitoso, que devia deixar a cidade
sem uma chupa de arroz, parece naturalís-
simo que os arrematantes de outros exclu-
sivos e rendas fiscaes, como são os do fan-
tan em Macau, os do vai-seng, opio cozido,
sal, peixe, carne de porco, etc. etc., fizessem
ao governo representações, tendentes a por
em relevo a enormidade dos perigos que
corriam os seus interesses, assim como os
do lheeouro publico, em presença da emi-
^nente retirada do commercio chinez.
E nada ! . . E' que também elles sabiam,
como os do pa-cap-piu, como os do fantán
na Taipa, como os do proprio liu-pun, que
os freguezes dos seus artigos batiam as
azas para fazerem estrondo, e não para
voarem.
Digam o que disserem, emquanto houver
tão avultados capitães empregados na ex-
ploração dos diversos ramos de commercio
e industria, que a fazenda usa collectar por
meio de uma ligação dos seus interesses
com os dos particulares, o commercio e in-
dustria de Macau, mais ou menos unidds
em todos os seus elos, hão de ter sempre
amarras seguríssimas.
O Macaense foi sem duvida colhido de
improviso pelos clamores e protestos dos
despeitados do liu-pun, pois só assim se ex-
plica o facto de ter o nosso esclarecido
collega acreditado verdadeiros absurdos.
E' na verdade absurdo suppòr que esse
exclusivo, disputado em praça e nem assim
elevado a mais de sete mil oitocentas e dez
patacas, pudesse destruir o grosso de um
trafico mercantil, que orça por alguns vin-
te milhões da mesma moeda.
Outro absurdo é acreditar que os com-
merciantes de Macau, logo que esse capri-
cho se apodere das suas cabeçal, removem
todo o seu negocio para Hongkong, com a
mesma facilidade com que o dizem.
Já o nosso presado collega do Extremo
Oriente destruiu essa illusão, com um laco-
nismo de palavras digno da exactidão da
ideia.
Hongkong está abarrotado de commer-
cio chinez, e este de encargos, de concor-
rência, de mal-estar.
Onde havia de installar-se o trafego de
Macau, na sua invasão total ou parcial, sem
expulsar uma parte equivalente do que já
lá existe 1 E para onde iria a parte expul-
sa, senão para o logar vago onde quer que
elle tivesse ficado ?
As leis do equilíbrio economico haviam
de salvar-nos.
A Lapa e outros pontos da China, relati-'
vãmente insignificantes, sujeitos á auctori-
dade arbitraria dos mandarins, tendo tam-
bém já o que comportam e vivendo mal,
não podem offerecer um refugio ao commer-
cio de Macau. Sustentam-se com as exu-
berancias dos grandes centros, e hão de sim-
plesmente ser ramos d'esses centros.
Temos pressa de concluir, e não nos pa-
rece que haja necessidade de dizer mais.
Se porem não logramos convencer intei-
ramente o collega quanto á futilidade dos
seus receios, só nq^ resta deixal-o a tractos
com um problema um tanto diíficil.
Estando infelizmente já hoje a proprie-
dade de Macau quasi toda nas mãos dos chi-
nas, e propondo-se elles emigrar,—o que se-
rá dos bens de raiz que aqui adquiriram, e
que seguramente "não podem levar comsi-
go 1 . . .
Em conclusão: os chinas ficam e fica o
liu-pun.
O edital do governo da provincia foi um
medicamento de effeito, e até luxuoso de
mais para accessos de tão pouca monta.
A policia não tem tido acréscimo de tra-
balho, e o negocio pode dar-se por concluído,
se o collega voltar os seus conselhos para o
outro lado.
Não cremos que o Macaense tente comba-
ter a nossa incredulidade com a peça tra-
gi-comica da deserção dos chinas do peixe,
representada ha annos em Macau e na La-
pa. Teriainos de correr pressurosos a rei-
vindicar o argumento, que é todo nosso, e
de muito valor, porque traz impresso o cu-
nho de uma experiência assás dura.
Despcdindo-ncs, collega, esperamos que
nos acredite animados do mais sincero
desejo de boa camaradagem jornalística,
não suppondo que viéssemos ao seu encon-
tro pot mero capricho ou má vontade.
E' que ainda hoje, na metrópole, a deser-
ção dos chinas causa terror, e isso faz-nos
mal algumas vezes.
E' que ainda hoje, lá ao longe, se acredi-
tam os mais extraordinários absurdos, á for-
ça de se ignorarem as mais simples verda-
des, com respeito ao regimen das colonias,
e isto provem principalmente das falsas co-
res, com que de cá são viciadas as informa-
ções.
O mal todo está ahi. De resto, temero-
sas em Macau, é muito fácil preparadas,
mas não é mais diíficil destruil-as.
*
21 de abril.
Manifestou-se emfim a gréve geral dos
lojistas chinezes, que hontem de manhã não
abriram as suas boticas.
A deliberação era já ante-hontein conhe-
cida, e foi tomada em uma reunião que te-
ve logar na povoação da Lapa, do territó-
rio chinez.
Não se manifestou ainda, nem é de recei-
ar qualquer alteração da ordem publica,
porque visivelmente os chinas não preten-
dem inedir-se com a força da policia e guar-
nição, e sobre tudo porque não querem pra-
ticar actos prejudiciaes á sua .permanência
em Macau.
Não retiraram as suas mercadorias, não
se despediram das casas arrendadas, não
teem deixado de servir mais ou menos ás
claras os seus freguezes ; querem ficar em
summa.
Muitos dizem que se resolveram a acom-
panhar os outros por mêdo de vinganças
ou simples reparos ; alguns declaram que
só esperam um aviso da policia para terem
pretexto de abrirem as suas lojas ; todos os
que as auctoridades administrativas fize-
ram abrir obedeceram immediatamente, se
bem que passado algum tempo tornassem a
fechar muitos d'elles ; emfim esta tarde,
pelos esforços das auctoridades e seus agen-
tes, estava muito adeantadó o restabeleci-
mento do viver normal, quando o signal de
incêndio, dado pela fortaleza do Monte,
causou pânico aos lojistas, obrigando-os a
collocar novamente as trancas nos seus
porta es.
Foi rebate falso. Para fazer ceder o go-
verno da provincia tem-se espalhado o ter-
ror de incêndios no bazar, dizendo-se que
os piratas não deixarão de aproveitar esse
meio, muito do seu uso, para praticarem
roubos. Não pode porem haver tal receio
dos piratas, que em dias de menor vigilân-
cia não pensam em atacar a cidade, e que
muito menos se aventurariam agora a em-
presas d'essa ordem, quando tudo está bem
policiado no mar e em terra, quando a for-
ça publica está de prevenção, quando era
mais diíficil lançar o fogo, e quasi impossí-
vel commetter os roubos.
Se houver incêndios, só podem attribuir-
se aos grevistas, e, como são elles os que
teem mais a perder com isso, podemos
estar descançados.
Dizem que a companhia de Hongkong fire
communicou que não pagaria indemnisa-
ções por incêndios durante a gróve. Ou-
tros dizem que não houve tal communica-
ção, pois não a receberam em geral os pro-
prietários que teem os seus prédios assegu-
rados n'aquella companhia.
Em nossa opinião, que já manifestámos,
a pavorosa ideia dos incêndios era um ba-
lão de ensaio para fazer capitular a aucto-
ridade superior da provincia.
Não cremos porem que esta ceda a impo-
sições de qualquer natureza, e até nos
consta que, com o voto do conselho do go-
verno, resolveu hoje tomar medidas enér-
gicas e decisivas.
Houve esta tarde uma reunião de chinas
no edifício do seu hospital, com assistência
da auctoridade e de um interprete. Como
tinha sido pedida licença, indicando-se o
fiin pacifico da reunião, o sr. procurador
dos negocios sinicos entendeu muito bem
que não devia ir eorcado de força publica,
pois com ella seguramente afugentaria a
concorrência dos comyierciantes. IIouv&
porem tumulto, que o obrigou a retirar-se
quando já não tinha interprete indo procu-
rar força, com a qual voltou, mas encon-
trando já deserto o local.
Uma força de dez marinheiros conduzi-
da pelo administrador o sr. Pacheco, tinha
já dissolvido o grande ajuntamento, e pelas
ruas viam-se sapatos chinezes, denuncian-
a pressa da fuga.
Mais uma vez a plebe chineza demon-
strou que é valente, quando pode oppôr cem
contra um, ou então por meios traiçoeiros.
Fique pois prevenido o sr. procurador, ao
qual devemos render elogios, por não ter
consentido que disparassem as armas dois
únicos soldados que estavam ao seu lado na
occasião do tumulto, evitando assim der-
ramamento de sangue, e talvez um princi-
pio de matança, que a exaltação dos nossos
soldados podia tornar barbara.
Continuamos a crer que os chinas não
querem sair de Macau, tanto mais que ago-
ra nos dizem terem elles cedido por con-
vénio feito com um particular, e sem exi-
girem que acabe de vez o exclusivo do liu-
pun.
Como a auctoridade não capitula, bem
vai tudo.
Ainda assim a gréve não acabou sem
uma nota para nós desagradável.
O,leal senado publicou esta tarde um
edital exhortando os chinas a desistirem
dos seus intentos, e n'esta parte procedeu
muito bem. Preferiríamos porem que em
tal documento não se fizessem referencias,
nas quaes os chinas podem ver uma espe-
cie de satisfação.
Em confirmação do que anteriormente
pensávamos, vamos resumir os motivos pe-
los quaes acaba a gréve, que apenas durou
dois dias, e ainda assim com interrupções.
A gréve acaba:
lo. Porque é esse o desejo geral dos chi-
nas, sendo os que mais soffrem no seu com-
 O ORIENTE PORTUGUEZ—ABRIL 20, 1892
mercio, e vendo que os generos da primei-
ra necessidade são facilmente abastecidos
pelo governo, muito mais baratos ;
2o. Porque a auctoridade superior não
mostrou a brandura em que alguns acredi-
tavam, e portanto o fim da gréve está frus-
trado ;
3o. Porque a sua prolongaçao começava
a offerecer perigos amanhã, visto niro esta-
rem já em segredo as medidas enérgicas,
com que o governo provincial ia mostrar
aos chinas quanto lhes convém conserva-
rem-se nos limites da lei, para não serem
considerados fóra da lei;
4o. Porque, bem ponderadas as razões
precedentes, houve quem facilitasse aos
grevistas um pretexto qualquer para cede-
rem com algum pretexto, antes de serem
obrigados a ceder por outros meios.
O que se nos offereceu de novidade foi o
facto do poderem os chinas de Macau ir
para a Lapa conspirar contra as leis do nos-
so paiz. Cremos porem que o governo
provincial, de harmonia com o direito das
gentes, e escorado nos princípios de reci-
procidade internacional, conseguirá facil-
mente evitar a repetição de similhantes
abusos, porque as auctoridades chinezas
não podem negar o que já teem obtido,
nem são as que teriam menos a soffrer com
a recusa.
Por ultimo devemos declarar, em home-
nagem á verdade, que a gréve se estendeu,
pela primeira vez ha muitos annos, a todo o
commercio chinez.
Mas também foi a primeira vez em que
um jornal portuguez a precedeu de perto
com a propaganda de que a gréve é licita,
o que é significativo.
Continuaremos no proximo numero, e
então veremos se o mal todo proveio de se
ter creado o exclusivo do liu-pun, ou de
não ter sido adjudicado aos que primeira- j
mente fizeram propostas á fazenda, para
poderem comer o pomo ... da discórdia, e
só depois de vencidos é que protestaram
contra o imposto bftiçado sobre um genero
de primeira necessidade, constituindo-se
em gréve.
Em Macau dão-se coisas muito extraor-
dinárias.
mhm t mm.
Recebemos, ha já algumas semanas, noticias
de Timor, e por ellus folgamos de ver justi-
ficados certos factos, de que na imprensa de
Macau se tem feito, nem sempre com a devi-
da correcção de forma, arma de combate
contra o governador d'aquelle districto.
E' de crêr que também ao governo da
província tenham chegado informações offi-
ciaes, oriundas de fontes competentes, e
que d'ahi resulte estabelecer-se um salutar
accordo com o governo subalterno sobre os
negocios da administração do menino dis-
tricto.
Vamos publicar parte de uma carta que
nos foi dirigida, e que lança a maior luz na
questão das licenças para transito, assim
como em outra que com esta tem a maior
connexão, qual é a da ordem de regresso ás
terras da sua naturalidade, dada a alguns
indígenas.
Antes porem de publicarmos o referido
documento, para o que pedimos vénia ao seu
auctor, seja-nos licito expór em breves
palavras o nosso juizo sobre as accusações
feitas ao sr. Forjaz pelo nosso illustrado
collega da I oz do Crente, sem nos referirmos
em especial ao Macaense, que apenas adhe-
riu.
O primeiro d'estes jornaes tem sido mais
escasso na producção de provas, do que na
severidade de linguagem.
Começa por attribuir ao governador do
districto de Timor o proposito de fazer
guerra á missão, e isto não é de presumir,
nem está demonstrado. Quaes são os fa-
ctos que se adduzem em abono de tal asser-
ção! Diz-se que o governador faltou a
um Te Deum official, que destituiu um
regulo por ser catholico e amigo das mis-
sões, que o governador não reza e o regulo
reza muito, etc. etc.
Com franqueza: similhantes allegações,
mesmo quando provadas, seriam mais de
molde a despertar os odios pessoaes dos fa-
náticos, do que a causar impressão nos es-
píritos despreoccupados.
Nós não acreditamos na guerra do gover-
nador á missão, porque esse facto não se
manifesta aos nossos sentidos ; acreditamos
pelo contrario na guerra feita em nome da
missão ao governador, porque a vemos, e
com profundo sentimento.
Ainda ultimamente a esclarecida reda-
cção da Voz do Crente, interrompendo as pro-
mettidas tréguas, veio recomtnendar como
oiro de lei uma aggressão feita pelo seu
correspondente de Timor á primeira au-
ctoridade do districto.. Qual não é porem
a decepção do leitor, quando examina
essa peça de accusação, sem encontrar
mais que uma ou outra allusão fugitiva,
á mistura com o emprego de alcunhas
ordinárias e com outras pieguices sem
valor !
A vida de Dilly deve ser muito folgada,
para que se torne necessário occupar o
tempo em escrever írioleiras, que só reve-
lam geitos de espionagem e de denuncia.
0 nosso collega, com a incontestável in-
fluencia da sua palavra, pode prestar uin
bom serviço a Timor. Basta para isso re-
comtnendar aos seus correspondentes mais
respeito pela auctoridade e por elles pró-
prios.
Se a Voz do Crente quizer ser justa, leia
o escripto que abaixo publicamos e con-
fronte aquella linguagem coin a dos seus
informadores, decidindo depois em sua con-
scincia se é mais natural que a razão este-
ja do lado dos que aggridem com virulen-
lencia, ou dos que relatam poin serenidade
e cordura.
Para o mesmo confronto chamamos tam-
bém a attenção do sr. governador da pro-
víncia, cujo espirito se deve ter muitas ve-
zes mortificado, pela forma deplorável como
se pretende defender os seus actos, e não
menos pela appropriação extravagante que
d'elles fazem os apaixonados, deturpando a
intenção que os dictou.
A carta do nosso amigo é muito sensata,
e esclarece perfeitamente as principaes
questões de administração, que ultimamen-
te teem dado materia para artigos de fundo
e para providencias officiaes.
Em presença das razões que ahi são pro-
cedenteinente adduzidas, é de esperar que
o sr. governador da província, ouvindo o
chefe d'aquelle districto, estabeleça de
accordo com elle um modus vivendi na ques-
tão das licenças, para evitar attritos fáceis
de prever.
Consta-nos que o sr. Forjaz requereu ao
governo da metrópole uma syndicancia aos
seus actos, julgando-se desprestigiado pelo
seu superior iinmediato, mas se este, como
sinceramente acreditamos, não teve tal in-
tuito, é ainda tempo de se restabelecer a
harmonia, que tão necessária se torna, en-
tre o governo provincial e districtal.
Segue-se a parte da carta a que temos
alludido.
" Se o (sr.) Custodio Borja, já tivesse servido ou
governado ein Timor, com certeza não abuliria as
licenças, que a pratica sempre tem demonstrado de
indispensáveis, c de que todo o individuo se devia
munir, quando tivesse que sair de Dilly para os reinos,
ou vice versa.
Pensa por ventura elle que a sua medida <5 sympa-
thies aos povos de Timor ?
Se o pensa pode desilludir-se. Nem ao povo con-
vém viajar sem licença, nem ao regulo convém que os
seus súbditos vão para onde lhes aprouver.
Os primeiros, porque teem receio de ficar sem cabe-
ça ou serem roubados ; os segundos, porque não teriam
jamais um homem que os auxiliasse nos trabalhos a-
gricolas, donde tiram o seu sustento, finta para pagar
ao governo, etc. etc.
Os únicos a quem a portaria aproveita são os
malfeitores, porque d'hoje em deante poderão estender
3
a sua acção por toda a ilha, sem que ninguém lhes
possa pôr cobro.
Muitas veses os povos do bairro de Bidáu teem vindo
sollicitar do administrador do concelho que lhes pusse
uma rusga á malandragem dos reinos, que infecta o
bairro e circumvisinhanças. O actual administrador
substituto já por varias vezes a tem dado e sempre
d'ella tem colhido resultados. Na ultima, por ser
ainda recente, nos lembra ter-se descoberto uma asso-
ciação dc^malfeitores, que todas as noites vinha exercer
o seu mister na cidade de Dilly, havendo processo
ainda affecto ao poder judicial. Os associados eram
todos de yarios reinos do interior, que, achando o tra-
balho agrícola penoso, vinham dcdicar-se a outro
menos pesado e mais lucrativo.
Normalmente os roubos e assassinatos praticados
em Dilly e seus subúrbios, são commeltidos por gen-
te dos reinos que, não querendo trabalhar, e não se
alimentando de ar, se entrega ao crime.
Acha o governador d'ahi que o direito de liberda-
de individual do cidadão fica coarctado por se exigir
que, antes de seguir viagem para onde lhe aprouver,
peça no cominando respectivo uma licença, que lhe 6
passada gratis em papel commum ?
A nós parcce-nos exactamente o contrario. Sem
licenças é que não ha direito de transito livre para a
gente honesta.
Ver-se-ha quanto a portaria ha de estorvar a boa
administração do districto.
Amanhã vem o regulo do Montael pedir para que
lhe mandem para o sçu reino o povo que está refugia-
do na praça e mais reinos, para se esquivar ao serviço ;
e o governador, mettido na sua cadeira, que tanta 6
hoje a sua amplitude de jurisdicção, diz-lhe :
"Não pode ser, porque a portaria n.° 16 do go-
verno provincial prohibe-o terminantemente ".
E como é natural, o regulo responde : " pois bem;
se o meu reino não dér carregadores e cavallos a qual-
quer funccionario de estado, e não pagar a finta, por
não ter com que o fazer, a responsabilidade não me
deve ser tomada."
Depois vem o regulo de Manatuto sollicitar para
que não seja permittido o transito de todo o estranho
pelo seu reino, para evitar roubos.
O governador responde o que já disse ao outro.
E o pobre D. Matheus, ainda que bem contra á sua
brandura de costumes, diz : " pois bem, senhor, se no
meu reino o povinho lhes cortar a cabeça, a responsa-
bilidade não deve ser tomada a quem lhe não pode dar
providencias."
Isto vai sem commentaries e é verdade,
digam o que disserem. O sr. governador
da província e os jornaes que atacam o sr.
Forjaz teem andado inal informados.
NOTICIAS DIVERSAS.
Expediente.
Distribuímos o Oriente Portuguez á corarau-
nidade portugueza e estrangeira d'esta cidade,
de Hongkong e dos portos da China e Japão, e
pedimos aos cavalheiros que não desejem ser
seus assignantes a fineza de devolver este pri-
meiro numero á redacção do jornal, a fim de po-
ermos regular o numero de exemplares que
evem ser extrahidos.
Mala.
Espera-se na quinta-feira, 28, a mala ameri-
cana, pelo City of Rio de Janeiro.
Fecha na terça-feira, 26, a mala ingleza, pelo
Pekin.
—Recebe o correio correspondências :
Para Singapura, pelo Hespéria, até ás 6.30'
а.m. do dia 28.
Para Yokohama e San Francisco, pelo Ocea-
nic, até ás 6.30 a.m. do dia 28.
Para Nagasaki, Kobe e Yokolrama, pelo Ve-
rona, até ás 6.30 a.m. do dia 29.
Para a Europa, etc., pelo Preussen, até ás
б.30 a.m. do dia 30.
Declaração.
Enviando esta folha a muitos jornaes da me-
trópole, cuja publicação é diaria, pedimos aos
que não quizerem trocar com um semanário, que
ao menos nos enviem os números em que haja
escriptos de interesse directo para o ultramar e
em especial para esta província.
Outra.
Não podendo concluir boje a publicação do
nosso artigo com respeito ao exclusivo do liu-
pun, responderemos no proximo numero ao arti-
go recente do nosso collega do Macaense sobre o
mesmo assumpto.
Fica porem já acceita a sua declaração sobre
os perigos gravíssimos que acaba de correr a co-
lónia, mas somente como lenha para o collega
queimar as suas theorias com respeito ás medi-
das approvadas pelo conselho do governo.
Procissão.
Teve hontem logar, com a solemnidade do cos-
tume, a procissão de N. S. dos Remedios.
 4 O ORIENTE PORTUGUEZ-ABRIL 20, 1802
Anniversario e soiree.
Passou hontera o (lo exmo. sr. Fernando Cel-
ie de Menezes a quem felicitamos.
Por este motivo, com o qual concorreu o do
baptisado de que hoje damos noticia, houve no
palacio do governo soiree muito animada, como
são todas as que alli se dão.
Baptisado.
Pelas duas horas da tarde de 25 do corrente
baptisou-se na egreja de S. Agostinho recebendo
o nome de Maria Fernandes, uma filhinha dos
exmo8. srs. Fernando Celie de Menezes e D. Ma-
ria de Senna Fernandes de Menezes.
Foi madrinha a avó paterna, a exma. sra. D.
Maria Amelia Celie de Borja, esposa de s. exa. o
governador, e padrinho o avô materno, o exmo.
sr. visconde de Senna Fernandes.
Ao baptisado assistiram muitas senhoras e a
maior parte dos cavalheiros que formam a elite
da nossa sociedade.
Desejamos á creança as maiores venturas, e
enviamos a seus paes, avós e mais pessoas das
suas illustrcs famílias os mais sinceros parabéns.
Casamento.
No dia 25 do corrente, pelas 11£ horas da ma-
nha, teve logar na Sé Cathedral o casamento do
exmo. sr. dr. Antonio José Gonçalves Pereira,
muito digno facultativo naval, com a exma. sra.
D. Edith da Silva, interessante filha do exmo.
sr. Pedro Nolasco da Silva.
A ceremonia foi muitissimo concorrida, por-
que os noivos gosam de geraes sympathias n'es-
ta cidade, pelas distinctas qualidades que os re-
commendam.
Desejamos a maior felicidade aos nubentes, e
enviamos-lhes os nossos parabéns assim como a
suas familias.
Fallecinicnto.
Dixou de existir o sr. conselheiro Lopo Vaz,
um dos vultos políticos mais proeminentes do
nosso paiz, pelo seu talento e vigor da sua pala-
vra.
A morte d'este notável estadista foi por isso
muito sentida, principalmente no partido rege-
nerador, de que o sr. Lopo Yaz era um dos mais
fortes esteios.
Outro.
Falleceu repentinamente em Lisboa o sr. con-
selheiro José Maria da Ponte e Horta, antigo go-
vernador da província de Macau.
Desabamento.
Os devotos que assistiam á missa conventual
em S. Lourenço, no domingo passado, correram
um perigo eminente, de que todos felizmente
escaparam, mas não sem passarem por um gran-
de susto.
A concorrência era grande, porque se cele-
brava a novena da N. S. dos Remedios, cuja
festa teve logar no dia seguinte.
Reinava o silencio proprio do local e do acto,
quando se sentiu um ruído causado pela queda
de pedaços de estuque, o que, como é de suppôr,
causou a maior confusão, e fez sair os fieis pre-
cipitadamente. Algum tempo depois desabava
uma parte do tecto acompanhado de vigas, e
seguramente teria feito muitas victimas, se o
povo não tivesse já retirado.
A egreja tinha já sido vistoriada e dada como
em perigo immediato, pelo que se pensava em a
fechar, para entrar em obras.
A parochial da freguezia de S. Lourenço é
agora a egreja de Sto. Agostinho.
Promessa esperançosa.
Lê-se o seguinte no Reporter de 20 de março,
com referencia á sessão da camara dos deputa-
dos, que tivera logar no dia antecedente :
" O SR. Horta e Costa.—Referindo-se á disposição
ultimamente votada pela camara relativamente aos
productos de Macau, pediu que se melhorassem as con-
dições do porto d'esta colonia, de modo a que tal dis-
posição podesse vir a dar o resultado que elle e a ca-
mara desejavam. Justificou largamente o seu pedido,
e rogou ao sr. ministro da marinha que estudasse esse
assumpto, pois que esperava que d'esse estudo haviam
de resultar immediatamente providencias tendentes a
finalisar e a combater o assoriamento, que de anno para
anno ali se torna mais assustador.
Referindo-se ao magnifico trabalho feito sobre este
assumpto pelo sr. Loureiro, declarou que não pedia
que so executassem por completo as obras por elle pro-
jectadas, comquanto reconhecesse a sua utilidade e se
justificasse o seu projecto, sem duvida grandioso, pe-
las circumstaneias prosperas que se davam então 110
paiz e na colonia, o que infelizmente agora não tem
logar.
Declarou que as obras a executar, e que elle jul-
gara indispensáveis, não custariam mais que 400 con-
.tos, e que o orçamento da província permittiria pagar
os encargos do empréstimo feito com tal fim, acrescen-
tando que as dragas a adquirir poderiam ser pagas já Recomposição ministerial.
pelos cofres da província.
Apresentou ainda mais alguns alvitres para facilitar Corria o boato de que logo que fech'em as Ca-
a execução d'estas obras, fundados no contracto actual maras haverá recomposição ministerial, entrando
entre os arrematantes do opio de Macau e Hongkong. para a guerra o sr. Pimentel Pinto, para os ex-
O sr. ministro da marinha prometteu ao il- trangeiroso sr. Hintze Ribeiro e obras publicas o
lustre deputado estudar o assumpto, que voconhecia sr. Franco Castello Branco.
ser importante, julgando que o orçamento da provín-
cia permittiria que se fizessem as obras necessários e Governadores civis.
a que alludira. Que o assumpto, porém, necessitava
estudo serio, que elle teria muito gosto em fazer, não Diz-^p que para governador civil do Porto,
só para satisfazer o illustrc deputado, mas também os irá o sr. J. Azevedo Castello Rranco e não o sr.
seus amigos de Macau, que os tem ali em grande nu- Leopoldo Mourão, e.que para Aveiro irá o sr. dr.
mero." Eduardo Nogueira de Mello e não o sr. dr. An-
Propostas Importantes. tonio Emilio d'Almeida Azevedo.
O sr. Horta e Costa, illustre deputado por es- O regimento indio para Hongkong.
te circulo, apresentou em cortes as seguintes pro- Sabe-se por noticia telegrapliica que o novo re-
postas : gimento de soldados indios para Hongkong lar-
la. —" Proponho que o chá vindo directamente de gou de Bombaim no dia 18 do corrente. E' por-
Macau e acompanhado de um certificado de origem, tanto esperado alli na primeira semana do pro-
que prove que elle é producto da industria d'aquella ximo mez de maio.
colonio, tenha o bonus de 50 por cento nos direitos." O seu pessoal consta de 1:013 homens, inclu-
2a.—" Proponho que todas as mercadorias vindas indo commandante, officiaes europeus e pessoal
directamente de Macau e acompanhadas de um certi- medico em numero de 14, 16 officiaes nativos, 2
ficado de origem, que prove que ellas são productos de officiaes caserneiros, 45 sargentos, e 16 tambo-
qualquer industria d'aquella colonia, tenham o bonus
do 50 por cento uos direitos pautaes." res. O restante, 920 homens, pertencem á filei-
ra.
Como se vô, e como explica o proponente ao O commftndante é o major E. G. Barrow, que
sustentar as suas propostas, a primeira ó com- pertencia ao 7o. regimento d'infanteria da índia
prehendida na segunda, tendo por fim obter, ao Britannica, e que ultimamente era assistente da
menos para o chá, o favor que não quizessem secretaria, militar do governo da mesma ín-
conceder a todos os productos de Macau. dia.
Felizmente a commissão das pautas venceu Consta também que foi elevada ao nume-
as difficuldades oppostas pelo governo, e appro- ro de 441 homens a força d'artilheria asiatica
vou seguinte : d'aquella colonia, passando a ser de 4 compa-
nhias em vez de 2, como tem sido até ao presen-
" Artigo 60.—Todas asmercadorias vindas de Macau
em navio portuguez, e acompanhadas de certificado de te.
origem d'aquella cidade, gosarão, quando despachadas
para consumo nas alfandegas do continente e ilhas ad-
jacentes, do beneficio de 50 por cento nos direitos, de ANNIINCIOS.
que gosam as de mais mercadorias vindas e de produ-
cção propria das outras províncias ultramarinas por-
tuguezas. THE NATIONAL BANK OF CHINA,
§ único. Esta disposição, porem, só começará a
vigorar no lo. de julho de 1892, e sem prejuízo das LIMITED.
convenções internacionaes."
Falta-nos hoje espaço para apreciar as gran- Authorised Capital £1,000,000
des vantagens que de tal medida devem provir a Subscribed Capital £ 500,000
esta colonia, e por isso reservamos o assumpto
para o proximo numero.
Entretanto, quando os jornaes da metrópole, IIEAD OFFICEHONGKONG.
sem distineção de cores politicas, teem feito jus-
tiça ao zelo com que o sr. Horta e Costa defendeu
Court of Directors :—
os interesses do seu circulo, não seremos nós
quem se abstenha de enviar á este cavalheiro D. Gillies, Esq. Chow Tung Shang, Esq.
os nossos louvores. Chan Kit Shan, Esq. W. Wotton, Esq.
C. J. Hirst, Esq. Kwan Hoi Chuen, Esq
Suicídio.
Chief Manager,
Na tarde de 23 do corrente, em Hongkong,
pôz termo á existência, disparando um tiro de GEO. W. F. PL A YF AIR.
revolver na cabeca, o súbdito portuguez Francis-
co Maria Paula Hyndman.
ADVISORY COMMITTEE IN
Não conhecemos as causas d'esta sinistra reso-
lução. O pobre moço que apenas contava 22 LONDON:—
annos, era geralmente estimado, por ser traba- Thomas Carmichael, Esq.—Messrs. Dent,
lhador, modesto, intelligente e bem educado.
Palmer & Co.
Receba a família do finado a expressão da nossa
Jonh Buttery, Esq.—Messrs. John But-
condolência.
Projecto. tery & Co.
Foi approvado pela camara dos deputados o C. B. Stuart-Wortley, Esq., M. P., for
projecto de lei que dispensa ao sr. Elysio Fer- Hallam.
nandes das Neves Tavares, praticante da phar-
Geo. Munro, Manager.
macia lisbonense de Macau, os preparatórios pa-
ra ser admittido ao exame de pharmacia.
Bankers :—
Pena de morte.
Em França foi apresentado á camara dos de- London: The Alliance Bank (Ld.)
putados um projecto de lei, introduzindo no co- Scotland: The Commercial Bank of Scot-
land.
digo penal a pena de morte para os reos de des-
truição de propriedades por meio de substancias SHANGHAI,
explosivas.
C. J. GALLOWAY, Manager.
Velocipcdistas.
Mais três velocipedistas, estudantes de Coim-
bra, acabam de fazer a viagem daquella cidade Amoy—J. Anderson, Manager.
a Vizeu. Um verdadeiro tour de force n'uma
estrada accidentada como é a da Mealhada. Yokohama—D. Fraser, Manager.
Projecto de regulamento.
Parece estar em elaboração um projecto de re- CURRENT ACCOUNTS opened. Mo-
gulamento das relações entre a policia e os mili- ney received on Deposit. Drafts issued.
tares, regulamento cuja necessidade foi ultima- Bills purchased and collected. Advances
mente demonstrada pelo modo porque a policia made on Securities or goods in neutral Go-
procedeu com dois officiaes do exercito.
downs. Usual Bank Agency business un-
Generaes. dertaken.
Interest for 12 months Fixed, 5 per Cent.
O nosso estado maior general cuja composição
devia ser de 9 generaes de divizão e 24 de bri-
gada, tinha em 31 de dezembro 46 officiaes ge- 3 " "3 "
neraes, dos quaes nove estão nas obras publicas CURRENT ACCOUNTS 2 "
(fora do quadro) onde foram promovidos á maior For Rates of Interest for other periods
parte dos postos, como se se achassem no exerci- apply to the Manager.
to.
Obras publicas 9 generaes ! Hongkong 17th February, 1892.
 Semanário <aedicado aos interesses portuguezos da
Assignaturas x
Por anno * _ $5.00
Por raez c.. 50
Numero avulso 20
As assignaturas serão cobradas adeantadaraente.
1.° ANNO
MM im.
Se por um lado reprovamos o procedimen-
to dos que pretendem fazer pressão sobre
a primeira Auctoridade local, no intuito de
a obrigarem a recuar no cumprimento das
leis e ordens emanadas do poder legitimo,
também por outro lado oito desconhecemos
que esta colonia tem sobejas razões de quei-
xa, pelo modo inteiramente desdenhoso
como a metrópole se occupa dos seus inte-
resses.
Nota-se na verdade um grande descon-
tentamento em todas as classes, e nfto ad-
mira que assim aconteça.
Houve tempos verdadeiramente áureos
para as finanças de Macau, tempos em que
teria sido fácil realisar todos os melhora-
mentos reclamados pela colonia, para se
constituir no pé de prosperidade a que ra-
zoavelmente aspira.
Perseguia-a porem já a má sina.
Uma politica de egualdade, mas egualda-
de perante a miséria, não consentia que
c«t-i poeseasito portiiguoza eo-elevftHse .-..•ima
de suas irmãs, ás quaes anno a anno tinha
de enviar os saldos do seu orçamento, para
não deixarem rasto em parte alguma, quan-
do aliás podiam deixar padrões de boa ad-
ministração, se fossem localisados na sua
fonte.
Taes são as recordações que restam á
população macaense do período das vaccas
gordas, e não devem ser gratas, bem se
comprehende.
Escureceram-se depois os horizontes.
Quem podia já pensarem melhoramentos
para Macau, quando nas altas regiões do ul-
tramar tanto se chorava o desastre das re-
ceitas da colonia,—não por ella, mas pelas
outras 1
Todavia o desastre não foi mortal, e em
poucos annos a fazenda da província mos-
tra va-se desaífrontada, constituindo-se mes-
mo na situação definitiva de realisar sal-
dos.
Outra vez começou a pedir-se á metró-
pole que nos desse, não dinheiro, mas ape-
nas uma auctorisação para se proceder ás
obras do porto, que não pode continuar
abandonado ao seu crescente assoriamento,
sem risco de se fechar muito breve á pro-
pria navegação dos juncos.
Mas a fatalidade persegue-nos por todos
os modos.
Comquanto as contas annuaes demons-
trassem um excesso das receitas sobre as
despesas, teimando sempre em accusar o
orçamento de falsario incorrigivel por af-
firmar o contrario, a opinião publica e offi-
cial não se tem mostrado menos teimosa
em acreditar no deficit do orçamento, sem
se importar com o saldo das contas.
E assim é que um notável deputado da
nação propõe em cortes a venda de Macau,
pelo erro vulgar de se considerar esta colo-
nia um encargo para a metrópole !
A proposta do illustre deputado assenta
n'esta parte em um fundamento que não
corresponde á verdade dos factos, e isto ca-
rece de ficar bem acoentuado, para que as
suppostas diffieuldades das finanças provin-
Cliina o Oceania
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Rua dos Prazeres No. 1.
Administk.vdoii--.«HV. da Silva.
MACAU—3 DE MAIJ DE 1892,
ciaes não possam impedir, ou retardar, a
realisaçáo dos melhoramentos que recla-
mamos.
Anima-nos felizmente a certeza de que o
sr. ministro da marinha e ultramar está ao
par das circumstancias do thesouro da pro-
vinda, no qual, segundo a sua declaração,
espera encontrar meios sufficientes para o
custeio das obras e trabalhos a que se tor-
na indispensável proceder quanto antes,
sob pena de se tornar impraticável, com
ruina completa do movimento da importa-
ção e exportação, que é a alma do com-
mercio d'esta cidade, a via principal, quasi
única, das suas relações com o mundo.
Creia s. exa. que não está longe essa
desgraça, se as coisas continuarem entrer
gues á fatalidade das leis naturaes, como
demonstram estudos conscienciosos, feitos
por homens competentes, e já praticamen-
te confirmados pela rude frequência com
que nos últimos tempos os vapores da car-
reira começaram a encalhar nas nossas
aguas.
Esta -ook.--.-' 'Cg .: arcentc ew
; uma época de prosperidade absoluta, mas
também é certo que o seu ooinmercio gosa
de vantagens apreciáveis a par do de ou-
tros portos visinhos, porque as condições
geographicas o favorecem bastante, porque
as nossas leis são suaves, porque se respei-
tam os usos e costumes do indígena, porque
os impostos não são excessivos, e porque a
vida aqui é relativamente barata e tranquil-
la.
Todas estas circumstancias asseguram a
continuação do movimento economico, que
hoje ahi se observa, c admittem mesmo a
possibilidade de considerável progresso,
irias tudo depende da protecção dos poderes
públicos, cuja demora traz em desalento os
que se interessam por esta cidade.
Quando a arte começar a dar-nos o que
a natureza nos tira dia a dia, quando as
obras do porto estiverem em activa execu-
ção, vendo-se em fim convertida em realida-
de essa vehemente esperança, que ha tan-
to tempo tem sido illudida, estamos con-
vencidos de que todas as classes contribu-
intes de Macau hão de prestar-se de boa
vontade a algum sacrifício, porque o pro-
veito directo destruirá reluctancias em pa-
gar, e porque o incentivo dado á riqueza
da colonia ha de revigorar as suas forças
tributarias.
Macau pode e deve pagar mais, quando os
governos lhe impuzerem um augmento de
impostos, eomo compensação de benefícios
já concedidos, mus não einquanto se der a
iniquidade de serem as suas sobras usurpa-
das ás necessidades próprias da provincia,
para se lançarem no sorvedouro geral das
cahoticas finanças ultramarinas, tirando-se
de uma para outras colonias o que seria
bastante para fazer feliz a que paga, e não
é nada para arrancar da miséria as que re-
cebem.
Não faltam a esta cidade razões de quei-
xa pelas innumeras injustiças que tem sof-
frido; e, se ella quizer ouvir o nosso conse-
lho, adoptará como linha de conducta—o
respeito ás ordens emanadas do poder legi-
Annuncios =
Por linha, em caracteres europeus, 5 avos
Menos de 20 linhas $1.00
Em caracteres chinezes, 1 avo por cada letra.
Repetições, metade do preço.
N.° 2
timo, a obediência á auctoridade constituí-
da e o cumprimento da lei, embora dura—,
mas ao mesmo tempo—a colligação de to-
das as classes para representarem energica,
discreta e insistentemente contra vexames
iniquos, de que não se vê a menor compen-
sarão.
Teem subido ao ministério da marinha e
ultramar diversas representações, bem o sa-
bemos, mas nenhuma d'ellas fazia ouvir
os clamores da cidade inteira, e muito pou-
cas se recommendavam por uma linguagem
completamente estreme de vocábulos dema-
siado duros.
Já manifestámos a nossa confiança no
cumprimento da palavra empenhada pelo
actual ministro, com respeito ás obras do
porto de Macau, mas não dissimularemos
ainda assim o receio de que s. exa. nos es-
teja involuntariamente creando uma gran-
de diffiouldade.
Se a estação naval da China continua a
ser paga pelo cofre d'esta provincia, em
breve estarão esgotadas as souimas com que
coutávamos para comma de .uma draga e
para começo dos tiabalhos hydraulicos.
Depois será provavelmente necessário
substituir por meio de um empréstimo as
quantiasjá consumidas, e também é pro-
vável que o governo esteja disposto a rea-
lisar essa pequena operação financeira.
Mas se a má estrella de Macau continuar
a exercer a sua influencia funesta, não per-
mittindo que o ministério se conserve no
governo, podemos esperar de novo minis-
tro a mesma boa vontade ?
N'estes tempos de desvairainentos políti-
cos, em que as pastas são objecto de tanta
cubiça para uns e de tão pouco amor para
outros, o nosso receio nfto pode attribuir-se
a impertinências despropositadas.
Pedimos pois encarecidamente ao sr.
Ferreira do Amaral que ordene quanto an-
tes o começo das obras d'este porto, porque
o começar obriga a oontinuar, pertencendo
assim a maior gloria e gratidão ao inicia-
dor.
mmím mmm
Já noticiámos na semana passada que a
comrnissão das pautas, ao apreciar duas,
propostas apresentadas pelo illustre deputa-
do por este circulo, e depois de renhida
discussão, resolveu approvur o seguinte ar-
tigo de lei:
" Art. Go.—Todas mercadorias vindas de Macau
em navio portuguez, e acompanhadas de certificado de
origem d'uquclla cidade, gosarão, quando despachadas
paru consumo nas alfandegas do continente e ilhas ad-
jacentes, do beneficio de 50 por cento nos direitos, de
que gosnm as demais mercadorias e de producção pro-
pria das outras provincias ultramarinas portuguezas.
§ único. Esta disposição porem só começará a vigo-
rar no lo. de julho de 1802, e sem prejuízo das con-
venções internacionaes."
Não sabemos ainda se esta providencia
está já definitivamente convertida em lei,
mas não nos accommettem receios a tal
respeito, mesmo porque a sociedade de geo-
graphia de Lisboa a dá como approvada em
um officio de congratulação, que dirigiu ao
governo da proviucia, e que vein publica--
 O ORIENTE PORTUGUEZ—MAIO 3, 1892
do no ultimo numero do Boletim official.
Parece-nos que emfim está aberta para
Macau uma era nova e feliz, em que as suas
relações commerciaes com a metrópole po-
dem estreitar-se consideravelmente, com
vantagem reciproca.
Quem conhece o valor dos productos da
China nos mercados da producção, e os
preços pelos quaes elles são expostos á
venda em Lisboa e Porto, fica verdadeira-
mente assombrado com a grande differença
de valor venal, que os mesmos productos
alli attingem.
Isto provem um pouco, quanto a alguns,
de não haver grande concorrência na sua
offerta, constituindo apenas objectos de lu-
xo, mas principalmente, e quanto a todos,
de serem muito sobrecarregados de direi-
tos aduaneiros.
O chá, por exemplo, que é hoje objecto
de consumo geral, mesmo de primeira ne-
cessidade para as classes mais elevadas, pa-
ga por kilo 900 reis, se bem nos recordamos,
o que é muito importante, e para todos as
mais artigos os direitos são elevadíssimos.
Portanto, ficando reduzidos a metade as
despesas inherentes ao despacho nas al-
fandegas, necessariamente a importação
ha de augmentar, porque a maior coinmo-
didade dos preços deve determinar o alar-
gamento do consumo. Mas como a redu-
cção dos direitos a metade está dependen-
te de ser a exportação feita pelo porto de
Macau, claro está que esta colonia pode e
deve vir a ser muito favorecida com a no-
va ordem de coisas.
A clausula de ser portuguez o navio im-
portador é diversamente interpretada, e
até já vimos um jornal do reino considerar
eSsa restricção como equivalente á nega-
ção do beneficio dos 50 por cento.
Nós porem não o entendemos assim, e,
se isso fosse verdade, nem a imprensa em
geral, nem uma corporação tão illustrada,
como é á sociedade de g'eographia, desper-
diçariam tempo em encómios e congratula-
ções por uma coisa sem valor.
A nacionalidade do navio podia realmen-
te prejudicar-nos, porque os capitães por-
tuguezes não se dedicam ainda, tanto quan-
to era para desejar, a empresas de navega-
ção, é não podemos infelizmente alimentar
^ esperanças de ver muito breve estabelecer
carreiras regulares entre o porto de Ma-
cau e o da capital do reino. E' esse o nos-
so desejo, mas a sua realisação afigura-se-
nos bastante demorada.
Tendo pois de con tentar-nos com a na-
vegação estrangeira para continuar a levar
chá e outros productos aos mercados da
metrópole, parece-nos ainda assim que es-
ta colonia vai da mesma forma gosar do be-
neficio resultante da nova lei, visto que re-
salvou muito expressamente as conven-
ções internacionaes.
O tratado de commercio com a Gran-
Bretanha, datado de 3 de julho de 1842 e
confirmado pelo de 9 de julho de 1882,
contem uma disposição, segundo a qual os
navios de qualquer das duas nações encon-
tram nos portos da outra egualdade nos
direitos, quanto aos generos que levam
das colonias de uma para esses portos da
ou ra.
Estas convenções estão denunciadas,
mas vai celebrar-se novo tratado, em que
seguramente apparecerá a mesma clausula,
como ja demonstrou a inefficaz resistência
do governo ao parecer da commissão das
pautas, pois denota influencia ingleza.
Por conseguinte os navios inglezes hão
de conduzir o chá e outros productos de
Macau com as mesmas vantagens que esti-
verem estabelecidas para os navios portu-
guezes, e o mesmo diremos dos navios de
outras nações em idênticas circumstancias.
E' isto o que nos parece mais conforme
áletra e espirito das leis, de modo que, sen-
do já bastante considerável o consumo dos
productos da China na metrópole, temos
esperança de que, ou os navios portugue-
zes ou os estrangeiros, hão de começar a vir
fornecer-se em Macau, por causa do bonus
de 50 por cento, que é muito convidativo.
Esta questão merece bem ser estudada e
discutida, porque é de grande importância
para a colonia, e vamos dar-nos a esse es-
tudo.
O assumpto prende muito estreitamente
com a questão do porto de Macau, mas a
esse respeito nada carecemos de acrescen-
tar ao que em outro logar dizemos.
Registamos com louvor e gratidão o va-
lioso serviço que acabam de prestar-nos o
illustre deputado do circulo, a sociedade de
geographia, a commissão das pautas e todos
os que concorreraK^para que sobre o por-
to de Macau não continuasse a pesar o op-
probrio de ser na metrópole considerado
porto estrangeiro.
MSM 0 "Uffi-HBX."
Ao interrompermos o assumpto no ultimo
numero, dissemos que era muito significa-
tivo o facto de ter a insólita gréve geral
dos chinas coincidido com a defesa do di-
reito da gréve feita por um jornal da loca-
lidade.
Este facto envolve responsabilidade mo-
ral, que o collega de certo assumiu consci-
entemente, e com hombridade bastante
para a sustentar de animo 6ereno, quando
outros jornaes usassem do seu incontestá-
vel direito, chamando-o para esse campo.
Pois bem. Nós estamos convencidos de
que as doutrinas do Macaense podem acar-
retar perigos ao socego e bem-estar d'esta
colonia, não obstante ser a sua indole na-
turalmente pacifica.
No collega domina precisamente a con-
vicção contraria, sem o que é mais que cer-
to ter antes quebrado a penna, dó que con-
vertel-a em instrumento de males para a
sua putaia-, a quakjwta ía-nto-e tanto, que
chega a ser injusto para com os outros,
suppondo o seu amor mais entranhado que
o d'elles. Quem dera que todas as injus-
tiças brotassem de tão santo affecto !
O certo porem é que o collega coinmu-
nicou ao publico, em 7 de abril, terem os
chinas desistido de fazer gréve por causa
do liu-pun, em vista dos bons conselhos que
lhes deram e da sua indole pacata.
O certo porem é que não considerou in-
opportuno sustentar no mesmo artigo a
legalidade das gréves.
O certo porem é que, antes de duas se-
manas, os cominerciantes chinezes, a prin-
cipio dóceis aos bons conselhos, resolveram
constituir-se em gréve geral.
Os factos são estes. Agora as aprecia-
ções.
O collega não teve seguramente intuitos
de promover ou apoiar esta manifestação;
mas diga-nos: ainda não acredita que te-
nha dado força, posto que involuntaria-
mente, aos promotores das deploráveis oc-
correncias que acabava de collocar sob a
égide do direito e da lei 1
Nós estamos persuadidos do contrario,
porque temos os chinas como sufficiente-
mente hábeis e discretos, para não toma-
rem uma resolução tão extraordinariamen-
te grave, sem espiarem a opinião dos vul-
tos da nossa . . . politica, deixe-nos assim
chamar-lhe, e sem aproveitarem, para ven-
cer as resistências que encontrassem entre
os seus, as animadoras theorias de um jor-
nal confiado a cavalheiros illustrados.
Os chinas não lêem jornaes portuguezes,
é verdade, mas teem quem lhes diga o que
n'elles se publica a respeito das suas ques-
tões, e difficilmente se fará acreditar que
desconheciam a opinião do Macaense, quan-
do se constituíram em gréve.
N'uma palavra, as theorias do nosso es-
clarecido collega, divulgadas em tal occa-
siáo, não podiam fazer bem algum e po-
diam fazer algum mal. Que foi um acto
de inadvertência é innegavel, e, se a notá-
mos quando já não havia remedio para
os factos consummados, é porque desejáva-
mos que reflectisse sobre o caso, para lhe
servir de lição no futuro, tanto mais que
estava annunciada nova gréve para 1 de
maio.
#
# #
Vamos agora definir os pontos em que o
collega se collocou de accordo comnosco,
para que se archive e se não toque mais
em tal, podendo ser.
Confessa o Macaense:
1". Que aconselhou o governo da pro-
víncia a abolir o exclusivo do liu-pun, de-
pois de adjudicado ;
2°. Que os chinas estão ligados a Ma-
cau pelo seu interesse e querem aqui per-
manecer—o que justifica a nossa asserção
de que a ameaça da retirada dos chinas,
tantas vezes propalada, é mais fácil de se
traduzir ein palavras do que em obras.
3J. Que os grevistas " apenas encontra-
ram uma tangente aproveitaram-se d'ella e
acabaram com a gréve.
Registado,
#
# #
E' preciso que se note uma circumstan-
cia. Nós não dissemos ainda que o exclu-
sivo do liu-pun deve ser conservado ou
abolido. Havemos de tratar essa questão,
quando tivermos colhido os dados sufficien-
tes.
Não nos convencem porem, e isso dize-
inol-o já, as razões adduzidas pelo collega
para condemnar aquella fonte de receita.
O facto de tributarmos um genero de
consumo não tem corno resultado necessá-
rio retirar-se de Macau a industria e com-
mercio relativos ao mesmo genero. Pode
até influir para que n'esse ramo se estabe-
leça prosperidade, quando ha um arrema-
tante das rendas fiscaes, que tem o exclusi-
vo do fabrico, e que, estando ao abrigo de
competições, produzindo em grande escala,
e'attendendo á melhoria da qualidade, pos-
sa vender mais barato ou mollior, annul lar
no preço a taxa do imposto, adquirir gran-
de «freguezia, pagar á fazenda e ganhar
muito dinheiro.
O collega não mette em linha de conta
que os arrematantes são grandes econo-
mistas, 8aidos das escólas da pratica, que
para muitas coisas são as melhores.
O do liu-pun, como todos os outros, não
ha de querer perder no negocio, e não lhe
faltarão recursos para o explorar por uma
forma vantajosa.
A concorrência de fabricas na Lapa ou
em outro ponto do território chinez não
pode prejudicar muito a cidade de Macau,
porque as circumstancias d'esta localidade
são mais desafogadas incontestavelmente.
Cessará esta vantagem por causa do im-
posto do liu-pun, ou subsistirá ainda, embo-
ra em menor escala 1 E' o que resta pro-
var, e isso deixamos nós ao tempo.
A attitude tomada pelos chinas n'esta
questão não pode servir de padrão seguro
para se aferir a gravidade do mal que se
attribue ao novo exclusivo.
Foi realmente uma colligação geral, mas,
quando se realisou, estava já desvirtuado
por factos muito significativos o seu valor
logico, para poder attribuir-se única, di-
recta e exclusivamente ao facto de se esta-
belecer o exclusivo do liu-pun.
Senão, vejamos.
Quando se publicou o decreto pelo qual
foi creado este exclusivo, publicação que
appareceu nas duas.línguas, portugueza e
sitiica, não se notou o menor abalo nas
classes commerciaes de Macau.
Seguiu-se um longo período de investi-
gações por parte da inspecção de fazenda
provincial, a fim de se fazer um calculo
aproximado, quanto ao preço que rasoa-
velmente poderia toinar-se para base da
adjudicação do exclusivo, e entretanto rei-
nava por toda a parte a mesma indiíferen-
ça, comquanto os estabelecimentos do liu-
pun tivessem sido despertados desde logo
pelo pedido de informações, as quaes pres-
taram.

Depois a arremataçã.0 foi annunciada
duas vezes, porque se gorou a primeira, e
tudo isto levou muito tempo. Em summa,
quando foi adjudicado o exclusivo havia
contra elle algumas representações dirigi-
das ao governo provincial, mas nem estas,
nem os signaes de desgosto que sempre se
notam nos povos, quando está eminente
um tributo vexatório, se tornaram tilo no-
táveis. que merecessem sequer attrahir as
attenções da imprensa local.
Fizeram os seus depósitos os pretenden-
tes do exclusivo, abriu-se a praça, fechou-
se, e só então, i. é, só quando se soube
quem logrou obter o liu-pun, é que se apre-
sentaram alguns chinas a reclamar peran-
te a primeira auctoridade e em seguida
perante o leal senado.
E' por isso que geralmente se attribue a
greve, não ao exclusivo em si, como se
pretende fazer acreditar, mas ao facto de
não ser concedido aos concorrentes de Ma-
cau. Não pode dizer-se que estes concor-
rentes preteridos julgassem mau o liu-pun.
em quanto o pretendiam para si. O certo
porem é que depois entraram na gréve.
Porque 7
Porque depois já era mau, quando esta-
va nas mãos de outro, e nós estamos incli-
nados a pensar que toda a questão provem
d'ahi; mas procedamos ainda a investiga-
ções para emfim nos decidirmos definitiva-
mente.
Foi o exclusivo ou foi a adjudicação a
causa verdadeira do movimento 7 E' ques-
tão que fica de pé.
# gariam com uma transigência do poder,
# *
Ernprasa-nos o Macaense para lhe dizer-
mos quaes são os indivíduos, com excepção
dos nossos collegas na redacção e dos vo-
gues do conselho do governo, que não da-
riam ao sr. governador o conselho de abo-
lir o exclusivo do liu-pun, depois de adju-
dicado.
Vai ser sntisfwito. São as redacções do
Independente, do Extremo Oriente, e ... a do
proprio Macaense, pois até esta se póz de
accordo em que o governo provincial não
devia, por seu prestigio, transigir perante
a gréve, o que equivale a dizer que não de-
via annullar o contrato, como pretendiam
os chinas.
Esta conformidade no voto da imprensa
exprime bem o sentimento da opinião pu-
blica entre a população portugueza.
0 leal senado também não aconselhou o
governo provincial a desistir de pôr em
execução um decreto do governo, á face do
qual, diga-se de passagem, não sabemos
porque se falia tanto na franquia do porto.
O leal senado entende que é um mal para
o município o estabelecimento do liu-pun,
e o que deliberou foi representar contra
elle, no que não só exerce um direito, mas
cumpre um dever.
E já que falíamos n'esta corporação, dei-
xe-nos o collega rectificar o seu artigo, on-
de diz que nós estranhámos ao leal senado
ter dado uma satisfação aos chinas com
o seu edital. Os illustres vereadores sa-
bem ler e entender. Nós dissemos que
preferíamos vêr excluídas do edital algu-
mas referencias que, n'aquella occasião, os
chinas podiam tomar como uma especie de sa-
tisfação.
Não carecemos de dar as razões pelas
quaes assim pensamos, e folgamos agora
de poder affirmar que nem o officio do sr.
governador, nem a promessa do leal senado
em representar contra o exclusivo, servi-
ram de pretexto aos influentes da gréve
para dizerem que só por essas razões cede-
ram. O que nós receiavamos não se veri-
ficou.
*
# #
O Macaense poupou-nos ao trabalho de
defendermos as medidas de rigor que o sr.
governador da província apresentou ao
conselho do governo e que este approvou,
segundo o collega expõe.
Bastam-nos estas palavras do seu artigo ;
" Se a colligação durasse, haveria per*
O ORIENTE PORTUGUEZ—-MAIO 3, 1892 S
turbações da ordem publica, muitas mais meio de se discutir sem quebra do respeito
famílias haviam de retirar-se ( 7 ) e o com- mutuo, ou pelo menos sem que deixe de ser
mercio de Macau ficaria completamente respeitoso um dos polemistas.
arruinado." Traç.ámo'-nos esta linha de procedimento,
Nada mais eloquente para demonstrar a e inútil será toda a provocação, com que se
necessidade e urgência de se pôr termo á intente arrastar-nos para outro caminho.
gréve, por bem ou por mal. Era o caso Se ao Macaense faz sombra esta altura
em que o fim justificava os meios. de plano, para nos egualar basta seguir os
Já vê o collega que, em presença d'esta mesmos passos, para nos exceder basta re-
sua opinião, era inadmissível o seu alvitre frear os ímpetos do seu amor proprio, dei-
de deixar os grevistas entregues ao seu ca- xando funccionar serenamente a intelli-
pricho, até se cançarem. gencia que Deus lhe deu,
Para cançar a força publica, que chega Podemos assegurar ao collega que, na
para manter a ordem, mas não para estar sua longa carreira jornalística,—felizmen-
muitos dias em aturado serviço, sem a ne- te ainda muito distante do occaso—, rarís-
cessária folga, o expediente não era mau. simas vezes ha de ter encontrado antago-*
Em resumo: estamos de accordo, nós e nistas que o tratassem com a mesma urba^
o collega, quando náo em muitas conse- nidade e correcção, de que nós usámos. A
quências, ao menos em quasi todas as pre- paga foi má, mas também estamos quites
missas.
com a consciência, sendo o collega quem
Até mesmo na parte em que o collega tem de arrepender-se.
justifica o seu zelo pelo socego e pelos in- Não conhecemos os motivos pelos quaes
teresses da terra que lhe foi berço, nós não o Macaense tanto se empenha em fazer
podemos deixar de o louvar, com tan to que
crer que temos intuitos de " ayassallar o
náo attribua aos filhos da metrópole menos
pobre (sic) governador."
zelo e dedicação, pelo facto de não terem Pensa o collega, por si proprio, que d'alu
aqui a mesma estabilidade.
pudesse advir-nos alguma vantagem? Se
O zelo vem principalmente da consciên-
o não pensa quanto a si, qual é critério de
cia, e a nossa patria, em toda a parte,
que usa para avaliar as intenções alheias?
é Portugal.
Nós approvámos, ainda assim sem des-
Para que todos possamos viver em paz,
pesa de vocábulos encomiaslicos, a attitu-
tanto os portuguezes como os chinas e os
de do sr. governador na occasião da gréve,
hospedes das diversas nacionalidades, é que
se torna indispensável dar sempre força á porque s, exa. procedeu por forma a satis-
fazer a opinião do publico desapaixonado,
auctoridade e manter o povo em respeito.
e d'isso dá testemunho toda a imprensa
D'outra sorte, os proprios que hoje fol-
portugueza de Macau e Hongkong, incluin-
do o Macaense, no qual ha apenas a desem-
começariam amanhã a notar a falta de uma
coisa muito importante, sem a qual esta- maranhar algumas incoherencias a este
riam constantemente a estremecer pela respeito.
segurança das suas pessoas e propriedades. Mas note o collega que no mesmo nume-,
Cremos ter respondido ás considerações ro do nosso jornal, sobre outro assumpto,
do nosso illustrado collega, salvo na parte I se encontra um artigo, que de modo algum
intratável. pode ser tomado por s. exa. como expres-
são de accordo com todos os seus actos.
Seremos sempre respeitosos para com a
M "MMÍMSB." auctoridade, porque isso é essencial em to-
da a sociedade bem constituída, mas jamais,
Se nós tivéssemos entrado na questão do renunciaremos ao direito de livre aprecia-;
liu-pun com o proposito do fazer guerra ao ção, quanto a assumptos sujeitos á critica da
Macaense, estaríamos a estas horas cantando imprensa.
victoria. Aproveitamos esta occasião para decla-
Se em nosso coração se abrigasse um rarmos terminantemente o seguinte:
sentimento de vingança, estaríamos já bera Quem se julgar offendido ou melindrado ^
vingados do collega, que se apresentou pe- em algum escripto d'este jornal, pode diri-.
rante a opinião publica coino um perfeito gir-se por carta á sua redacção, na certeza
selvagem da imprensa, pela ferocidade da de que todas as explicações lhe serão da-
aggressão, e pelas settas envenenadas, de das.
que se serviu contra nós. Felo facto porem de outro jornal dizer
Confessamos que ha uma grande dese- que nós offendemos um ou outro cavalhei-
gualdade entre dois polemistas, dos quaes ro, uma ou outra corporação, nós não fica-
um argumenta por uma fornia serena e at- remos entendendo que esse cavalheiro, ou
tenciosa, sem empregar uma só palavra corporação, se dá por offendido, nem por-
que possa ferir melindres, ao passo que o tanto nos occuparemos a combater moinhos
outro concentra todas as suas forças no de vento.
campo do descrédito ao adversário, vibran- Fica o collega conhecendo a norma das
do-lhe expressões descortezes, imputando- nossas relações com os outros jornaes, e
lhe infâmias imaginarias, attribuindo-lhe creia que será invariável.
intrigas de bastidores, declamando contra Pelo que fica dito, e muito mais pelo que
falsos amigos e formando uma lista nominal não vê dito, já o Macaense pode convencer-
de cavalheiros, que forçosamente quer dar se de que as suas affrontas não nos desnor-
por offendidos com as mais inoffensivas de- teiam, nem nos provocam a retaliações.
clarações, contidas em um escripto mera- Para seu castigo bastaria o confronto
mente doutrinário e narrativo. curioso dos artigos que publicou nos últi-
A tarefa, pelo lado das difficuldades, é mos números, mas nem isso faremos.
tão desvantajosa para o primeiro, que tem
de combater de luva branca, cingindo-se
aos assumptos de ordem publica, armado r M wmvx"
apenas de princípios e sem ferir com as con-
clusões, quanto coinmoda para o segundo, Já esperávamos uma resposta do nosso es-,
que a cada passo desapparece por uma por- olarecido collega, com respeito ás questões
ta falsa, empurrando para a arena indivi- de Timor, porque uma redacção illustrada
dualidades que o antagonista respeita, e toma sempre a responsabilidade do que es-
que náo devem ser envolvidas na questão. creve, e acceita a discussão franca das suas
Todavia nós consideramo'-nos muito bem opiniões.
na primeira d'estas situações, porque, se Já esperávamos egualmente que a res-;
não agrada aos amadores do epitheto pican- posta fosse concebida em termos dignos e
te e da politica individual, cujo favor repel- cortezes, porque um jornal que sabe discu-
limos, é de certo a que mais convém a um tir, e que usa de boa fé, recebe sempre as
jornal, cujo ponto de mira é o bem publico, visitas dos seus collegas com urbanidade,
o conceito de todas as pessoas illustradas ainda quando vão significar-lhe divergência,
e sérias, a demonstração pratica de que ha de pensar.
i o OR TENTE PORTUGUEZ —MAIO 3, 1892

Collocamo'-nos pois em campo opposto j Não desejando fatigar o collega, conclui- vel, quanto o collega foi minucioso em nomes»
ao da Voz do Crente, acerca de um assumpto, remos dizendo que o nimis probat também sobrenomes, appellidos e até profissões.
E o peior é que isto se dá depois de nós ter-
com a certeza de não irritar o antagonista, está em nosso favor, quanto á repatriação mos jurado não declarar nunca se este ou aquel-
pois só podia dar-se este caso, se o logar dos timores que se refugiam em Dilly. le cavalheiro faz parte da redacção, a não ser a
destinado ao saber e á consciência das dou- Esta cidade "tem tudo a ganhar com o pedido directo dos interessados e por demonstra-
trinas que sustenta, estivesse occupado augmento dos seus moradores." Sim, mas da conveniência.
pelas vaidades d'este mundo. quando não faltem aos trabalhos agrícolas Ahi tem o collega como a melhor boa fé pode
Acceite o nosso illustrado collega a ex- das suas terras. Não cheguemos á conclu- conduzir á peior das situações. O que vale é
pressão do nosso inais vivo reconhecimen- são de que Dilly lucraria em absorver a que nós temos tento na penna . . .
Já que o Macaense mostra tanto desejo de in-
to, pelas palavras amaveis que nos dirige, população de toda a ilha. formar a nosso respeito, pode lá dizer que a lista
e permitta-nos que em poucas linhas nos Est modus in rebus. Deve acceitar-se a está errada. Quem são então os collaborudores
occupemos ainda dos negocios de Timor, immigração, mas também permittir-se a re- do Oriente Portuguez ?
n8o com intuito de prolongar a questão, patriação, segundo as conveniências. Tantos e tantos, que se passam mezes sem
mas para se vêr que não entrámos n'ella Despedindo-nos do nosso presado collega, chegar a vez a alguns.
sem fundamento. temos a declarar que, se o molesta o termo Não fallando nos de fóra, nós contamos coin a
Começamos por concordar com o collega —virulência — , fica 'retirado. cooperação de todos os cavalheiros illustrados
em que " um estylo poderá ser forte para que, sympathisando com a indole do jornal, re-
conhecendo que elle não envergonha ninguém, e
quem vê as cousas por um prisma, em-
NOTICIAS DIVERSAS. sendo dados a discorrer sobre assumptos de in-
quanto que será fraco para quem as vê teresse publico, desejam naturalmente concorrer
por outro." Mala. para a sua sustentação.
Plenamente de necordo, e até folgamos E' vago, não é ? Pois é exacto.
Espera-se na quinta-feira, 5, a mala franceza,
de vêr fallar assim quem pode ser citado pelo Sydney. Elogio
como auctoridade. Deixe-nos porem acres- Recebe o correio correspondências para Yoko- O Boletim official traz um elogio aos comman-
centar que também ha prismas que enga- hama e San Francisco, pelo City of Rio de Ja- dantes das foiças, officiaes e praças, ás auçtorU
nam, e nós não affirmamos, mas suspeita- neiro, até ás 6.30 a.m. do dia 10. dades administrativas e a outros funccionarios
mos, que o collega está vendo algumas Agradecimento. públicos pelo modo como cumpriram o seu de-
coisas por um d'esses prismas. Vamos a ver durante a gréve.
Ao nosso illustrado collega do Independente Merecido.
exemplos. agradecemos o cordial acolhimento que nos fez,
A Voz do Crente allegou factos com que e a que procuraremos corresponder com provas Venda de 3Iacau.
não nos conformámos, e agora dá-se por de boa camaradagem. Um correspondente do Daily Press de Hong-
Ao Macaense agradecemos também, com o kong commuuica a este jornal que o tsung-ly-
satisfeita, dizendo-nos :—" negar não é pro- yamên de Pekim pensa em comprar Macau, ou
var." Mas a prova não incumbe a quem mesmo proposito, o seu cumprimento, mas sal- pelo menos em propor um arrendamento a longo
affirma factos, a não ser que estejam inver- va a redacção. praso, para não despertar susceptibilidades.
tidas as regras da dialetica. Aos cavalheiros que por cartas ou verbalmen-
Qual será a quantia em que o governo chi noz
te nos teem dirigido palavras animadoras, con-
O collega é que tem por dever provar o signamos aqu a expressão do uosso reconheci- avalia a recuperação de Macau ?
que assevera, quanto á paga das licenças mento. Deve ser curioso isso.
e do seu visto pelas auctoridades, assim Anniversaries. Desmentido.
como quanto aos actos pouco patrióticos, Fiz -ram annos : O sr. conselheiro Agostinho Guilherme Roma-
que attribue ao governador de Timor. No dia 1, o sr. Demétrio Cinatti, distincto e no, nosso consul em Hongkong, sempre muito
Se accusa esta auctoridade e não exhibe zeloso consul de Portugal em Cantão. solicito em velar pelos interesses e bom credito
No dia 2 : do paiz que representa, obteve do Daily Press
provas, applica-se a regra—auclore non pro- um desmentido aos boatos de que Portugal in-
bante reus absolvitur. A exma. sra. D. Maria Fernandes de Mene-
zes, esposa do sr. Fernando Celie de Menezes ; tenta alienar Macau ou outras colónias. Fez
Ao testemunho dos seus correspondentes l,elu
À exma. sra. D. Casimira M. da Silva Mar- - Declarações.
oppomos nós o dos nossos, e como o con-
ques ; Relatando os acontecimentos de 20 e 21 de
fronto dos depoimentos é necessário para o O sr. Augusto Os :qr Marques. abril, escrevemos ;
descobrimento da verdade, foi por isso que A s. exas. e s as exmas. familias os nossos pa- " Dizem que a companhia do Hongkong fire commu-
nós pedimos ao collega a benevolência de rabéns. nicou que não pagaria indemnisaçâo por incêndios du-
se dar a esse confronto. Enlace. rante a gréve. Outros dizem que não houve tal com-
Alem d'isso, se arbitrariamente«se exigia Noticiamos com sincero jubilo o enlace matri- munienção, pois não a receberam em geral os proprie-
um emolumento pelas licenças de transito, monial de dois distinctissimos ornamentos da tários que trem os seus prédios assegurados n'aquella
o processo mais curial era accusar ao go- nossa sociedade, os exmos. srs. José Antonio companhia."
A noticia é rigorosamente exacta, porque uns
vernador do distrieto os subalternos que Arantes Pedroso Junior, digno official da auna- diziam que sim, outros que não.
assim abusavam, e de modo algum accusar da, e D. Amalia d'Albuquerque e Castro Fel- A final de contas tinham razão os que affir-
o proprio governador. ner, gentil e sympathica filha de exmo. major
Julio Luiz Felner. mavam, porque houve uma comniunicação,
Mas passemos adeante. Unidos ha muito por um santo amor, foram á também a tinham os que negavam, porque nun-
O collega não acha sério dizer-se que a sé cathedral, pelas 11£ horas da manha de 2 do ca se podia suppôr que a companhia avisasse
abolição das licenças só aproveita aos mal- corrente', unir-se perante o altar, servindo de pa- só um, despresando tantissimos outros.
feitores, porque taes creaturas nunca se for- drinhos s. exa. o governador, sr. Custodio de Occupámo'-nos do facto, porque, ter.do no
Borja, e capitão do porto, sr. Alves Branco. mesmo artigo manifestado a opinião de que não
neceram de licenças.
Apezar de não correrem cartões de convite, os havia fundamento para se espalhar o terror dos
A razão é contraproducente. Por isso incêndios, podia alguém atalhar-nos com o argu-
mesmo que os malfeitores nunca se muni- amigos do noivo e da familia da noiva eram em mento d'aquelle aviso terrorista. Fechámos
ram de licenças é que ellas devem tornar- grande numero, havendo muitas senhoras, e no- pois a porta a esse argumento, mencionando os
tando-se no aspecto de todos os traços d'essa ale-
se obrigatórias, para haver um distinctivo gria intima, que sentem as boas almas ao pre- boatos e fazendo sentir que em geral os proprie-
entre as pessoas honestas e os crimiôosos. sencearem a felicidade alheia. tários não receberam communicação.
Dispensadas as licenças, a nenhum estra- Os noivos retiraram para Hongkong no vapor Mais abaixo, relatando as occorrencias do hos-
nho pode perguntar-se por ellas e os cri- das 2 horas, indo passar no Victoria Peak os pital chinez, dissemos que, havendo tumulto, o
primeiros dias da lua de mel. sr. procurador dos negocios sinicos " foi obriga-
minosos folgam com isso. do a retirar-se, quando já não tinha interpre-
Sendo porem exigidas, quando apparece Desejando-lhes todas as venturas de que são
dignos, enviamos-lhes os nossosparabens, nos te ... "
uru individuo desconhecido, exige-se-lhe o Não dissemos que fugiu a auctoridade, ou o
quaes écornprehendidb o nosso amigo, o sr. Fel-
passe, e fica preso, não o apresentando, ner, e sua exma. esposa. interprete. O que nos afirmaram é que o sr. pro-
como suspeito de malfeitor, até que depois curador quiz de dentro fallar aos chinas, e não o
se averigue o contrario. A nossa redacção. fez por não ter alli quem interpretasse.
Os malfeitores nunca se forneceram de O Macaense houve por bem dar informações, Nada mais natural do que, ao abrigarem-se
precedidas de um " Dizem," quanto aos redacto- contra tão inesperada aggressão, iicasse o procu-
licenças. Logo ellas eram úteis, porque
res do nosso jornal, e formou uma lista dos se- rador separado do interprete. Mas, para mos-
eram a salvaguarda da gente boa, e agora trarmos que nem mesmo considerávamos covar-
guintes nomes :
todos se confundem, coin grave risco mes- dia <a fuga de quatro ou cinco homens, na maior
" Sr. dr. Antonio Marques d'Oliveira, juiz de direi-
mo para os bons, por lhes faltar o docu- to d'esta comarca. parte desarmados, ante centenas ou milhares do
mento abonatorio. Sr. João Gregorio Duarte Ferreira, secretario par- apedrejadores, nós diremos que, se lá estivésse-
Mas diz mais o collega : ticular de s. exa. sr. governador. mos, seriamos o primeiro a dar o exemplo, ju-
"As licenças só se passam onde ha auctoridades Sr. capitão Eduardo Lourenço, inspector do mate- rando voltar em breve.
portuguesas; ora como a maior parte de Timor não rial de guerra. Fizemos bem sentir que a covardia estava da
tem taes auctoridades, quem impede os malfeitores de Sr. Ignacio Cabral da Costa Pessoa, major do ba- parte dos que, vendo-se na proporção de cem
andarem livremente pelo interior da ilha ? Quod nimis talhão nacional." contra um, aggrediram traiçoeiramente os pou-
probat, nihil probat O collega ha de permittir-nos uma correcção cos portuguezes presentes. Quem assim se ex-
Tudo isto nos serve, e até o latim. amigável pela leviandade que commetteu. prime não podia imputar covardia a estes últi-
O que se vê é que, com auctoridades e Pois não viu que aquelles cavalheiros são to- mos, por se resguardarem das pedradas, juntan-
com as licenças, os malfeitores podem ser dos funccionarios do estado, e alguns d'elles até do-se em um só sitio, separando-se, ou mesmo
professores do seminario-lyceu, ficando por isso fugindo.
impedidos de transitar livremente. Fazemos estas declarações para mostrarmos
expostos a incommodos, se o jornal desagiadar
E não é mesmo licito argumentar com o com .exemplos que nos attribuem intuitos de
ao sr. ministro, ao sr. governador, ou ao sr. rei-
que se passa 110 território onde não ha tor do seminário, e se s. exas. por uma aberração ferir personalidades, sem razão alguma, e só por
auctoridades portuguezas ; a questão das li- da justiça, aliás improvável, forem intoleran- um proposito, ou por se interpretarem inconse-
cenças não tem ahi applicação, quer se exi- j tes P ! quentemente as nossas palavras, do que não te-
jam, quer não exijam. A indiscrição torna-se tanto mais imperdoá- mos culpa.