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3.4. A Fisiocracia:
autores e idéias principais
Características da escola
● grupo de pensadores franceses, conhecidos
como “os economistas” (filósofos economistas)
- foram os primeiros a formar uma doutrina,
verdadeira escola de pensamento econômico,
com corpo teórico sólido e compartilhado
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● 1756 a 1776, França, carreira meteórica
- início: publicação dos verbetes Rendeiros e
Grãos de autoria de Quesnay
- término: queda de Turgot do Ministério das
Finanças e publicação de “A Riqueza das Nações”
de Adam Smith
● Fisiocracia = governo da natureza
- denominação de fisiocratas (1768): publicação
de “Fisiocracia, ou constituição essencial do
governo mais vantajoso para o gênero humano”
(du Pont de Nemours)
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- Fisiocracia: é a ciência do governo da vida
social, que descobre suas leis naturais e indica a
conduta econômica do governo e das classes,
para o aumento da riqueza e o alcance da
prosperidade
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● reformadores sociais
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Principais idéias econômicas
● idéia de ordem natural e combate ao mercantilismo
- crítica ao mercantilismo, por ser
“uma política que abandona a agricultura para
pensar apenas em estimular a indústria e o
comércio com o exterior, uma política que deixa
nomeadamente afundarem-se os preços dos
produtos agrícolas proibindo a livre circulação dos
cereais, o que é a causa da miséria dos
camponeses e da estagnação dos campos”
(Quesnay)
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● orientação liberal, propagandistas do laissez-
faire, laissez-passer = liberdade de negócios
interna e livre comércio exterior
● papel do Estado:
- remover barreiras ao comércio livre, prover infra-
estrutura, estradas, pontes, canais e drenagens,
indo ao encontro da fisiologia social;
- defesa e segurança da vida e da propriedade
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● somente a agricultura cria valor e gera excedente
- conceito de trabalho produtivo
- conceito central: excedente econômico, produto
líquido, produit net
“Os trabalhos da agricultura indenizam despesas,
pagam a mão-de-obra do cultivo, dão ganhos aos
agricultores e produzem ainda rendimentos dos
bens de raiz. Os que compram os artefactos da
indústria pagam as despesas, a mão-de-obra e o
ganho dos mercadores; mas estes artefactos não
produzem qualquer rendimento para além disso”
(Quesnay)
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- a “verdadeira produção”:
“Dai ao cozinheiro uma medida de ervilhas, para
que vo-las prepare para o jantar; ele mandá-las-á
para a mesa bem cozidas e temperadas; pelo
contrária, dai esta mesma medida ao hortelão, para
que as confie à terra; ele vos devolverá, em devido
tempo, pelo menos o quádruplo da medida
recebida. Eis a verdadeira e única produção”
(Ferdinando Paoleti, [Itália], 1772)
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● indústria, comércio e profissões são úteis, mas
estéreis; o valor de sua produção é apenas igual
aos custos de salário e de insumos
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● defesa do imposto único
● defesa da acumulação
- oposição ao consumo de luxo, em benefício da
acumulação (aumentar os adiantamentos
fundiários, primitivos e anuais)
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Principais autores
Precursores
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- publicou Dissertation de la nature des richesses,
de l'argent et des tributs, où l'on découvre la
fausse idée qui règne dans le monde à l'égard de
ces trois articles, (1704)
- Traité de la nature, culture, commerce et intérêt
des grains, 1707.
- Causes de la rareté de l'argent, 1707.
- pai da Fisiocracia, avô da escola liberal francesa
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● Sébastien Le Prestre, Seigneur de Vauban
(1633-1707)
- marechal, plano tributário contra isenções
- estigmatizou o luxo, as dívidas públicas, o
privilégio
- ambos foram denunciados e desonrados por
suas proposições liberais
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Boisguilbert Vauban
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Membros e simpatizantes da Fisiocracia
● Vincent de Gournay (1712-1759)
- tradutor de Cantillon,
pregação pelo laissez-
faire contra práticas
medievais e
burocráticas
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● Abade Nicolas Baudeau (1730-1792)
● Mercier de la Rivière (1720-94)
● Guillaume François Le Trosne (1728-80)
● Victor Riquetti de Mireabeau, ou
Marquês de Mirabeau (o velho) (1715-1789)
- população e atividade agrícola fazem a riqueza
da nação
- publica Filosofia rural (1763) e A teoria do
imposto (1760)
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● François Quesnay (1694-1774)
- filho de proprietário de terras, educado para ser
médico; em 1748 (54 anos) torna-se médico
ordinário do rei
- 1756 publica o primeiro estudo econômico sobre
Rendeiros na Enciclopédia
- autor do Quadro Econômico, 1758, 1759, 1766
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● Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781)
- Ministro das Finanças (1774-1776), aplicou alguns
conceitos fisiocratas, porém não é um seguidor
estrito de Quesnay
- figura de maior importância política e de espírito
mais amadurecido que os fisiocratas da “seita” de
Quesnay
- publica Reflexões sobre a formação e a
distribuição da riqueza (1769-70)
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● análise do valor, sem teoria consistente
- dualismo entre valor (subjetivo) e preço (valor de
troca)
- "valeur estimative" (valor estimativo) dá origem ao
valor de troca, chamado de "valeur appréciative",
determinado pela média dos valores estimativos dos
que participavam da troca
- os valores não são fixados pelos custos de
produção
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● compreensão do capital e do juro
- dependente de oferta e demanda por fundos (e não
da quantidade de dinheiro)
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● Pierre Samuel du Pont de Nemours (1739-1817)
- publicista, divulgador
- serviu à corte com Turgot; seu livro deu nome à
escola Fisiocracia, ou constituição essencial do
governo mais vantajoso para o gênero humano
(1768); Da origem e progresso de uma ciência nova
- apóia a Revolução Francesa, migra para EUA, atua
no governo revolucionário, retorna para servir a
Napoleão
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3.5. François Quesnay e
o “Quadro Econômico”
Idéias de Quesnay
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● advogava o ensino da “ordem natural”
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Apresentação do Quadro Econômico
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● versão analisada: 1766 (3ª), “Análise da fórmula
aritmética do Quadro Econômico”, Jornal da
Agricultura, do Comércio e das Finanças
● um grande reino
- extensão = França, com população suposta ser o
dobro (30 milhões) da estimativa real
- inteiramente cultivado com os melhores métodos
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● valores transacionados com preços constantes
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● classe produtiva: arrendatários (empresário
agrícola) e assalariados, outros trabalhadores
agrícolas
“faz renascer [pelo cultivo] as riquezas anuais da
nação, efetua os adiantamentos das despesas com
os trabalhos da agricultura e paga as rendas dos
proprietários; englobam-se nessa classe todos os
trabalhos e despesas feitas na agricultura, até a
venda dos produtos em primeira mão”
- classe cujo trabalho gera excedente sobre os
custos de produção e reproduz a riqueza anual
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- originalmente faz adiantamentos primitivos no
valor de 5 vezes os adiantamentos anuais (2 bi x 5
= 10 bi)
- vivem do resultado da produção agrícola
(produto = 5 bi), após o pagamento do aluguel
(renda = 2 bi) e reposição das sementes (1 bi),
destinando 1/5 para sua subsistência (salários do
trabalho) e 1/5 (a título de juros dos
adiantamentos primitivos que remuneram o
empresário) para compra de obras junto à classe
estéril
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● classe proprietária: o soberano, a nobreza
proprietária e o clero
- proprietária de bens de raiz, que propiciam o
crescimento das riquezas, também assemelha-se
a classe capitalista (responsável pelos
adiantamentos fundiários)
- excedente é um dom da natureza, da terra; é
natural que a classe proprietária o detenha
- vivem do produto líquido do cultivo da terra, que
devem gastar em produtos de subsistência (1 bi
junto à classe produtiva) e obras (1 bi junto à
classe estéril)
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● classe estéril: cidadãos ocupados com outros
serviços e trabalhos não-agrícolas (comerciantes,
manufatureiros e seus trabalhadores)
- corresponde à cidade; comércio e manufaturas
- prestam serviços úteis, mas não geram
excedente, só transformam insumos e agregam o
valor de seu trabalho (subsistência e salários
superiores)
- vivem graças as despesas das outras classes,
que garantem a manutenção de seu fundo original
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● Valor Bruto do produto agrícola = 5 bilhões
- divisão do produto agrícola, que está com a
classe produtiva:
- retém 2 bi
1 bi sementes para o ano seguinte
1 bi subsistência da classe produtora e animais
- vende 3 bi
2 bi para classe estéril (mat.prima e alimentos)
1 bi para classe proprietária (alimentos)
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● Produto Líquido
produção ( – ) custos ( = ) produto líquido
(excedente econômico)
● custos iguais a:
- salários da classe produtiva (1 bi) e despesas
com matérias-primas (sementes) (1 bi) =
adiantamentos anuais
- juros dos arrendatários que organizam o cultivo
(1 bi)
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Transações realizadas pelas classes
● classe produtiva:
vende 3 bi (1 c. proprietária, 2 c. estéril)
retém 2 bi (venda = compra, internas à classe)
compra 1 bi (c. estéril)
paga 2 bi (c. proprietária)
- detém um fundo circulante total de 3 bi
“entradas da classe produtiva” = custos totais
1 bi salários (subsistência) + 1 bi matéria-prima
(sementes) + 1 bi juros (sobre o capital fixo)
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● classe proprietária:
recebe 2 bi (renda da terra, da c. produtiva)
compra 2 bi (1 c. produtiva, 1 c. estéril)
● classe estéril:
recebe 2 bi de vendas
(1 c. produtiva, 1 c. proprietária)
compra 2 bi (2 c. produtiva)
- subsiste com pagamento sucessivo da
retribuição do seu trabalho (subsistência); nada
produz, apenas consome 1 bi e transforma 1 bi
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● resumo de Quesnay:
“No total dos 5 bi, repartido primeiramente entre a classe
produtiva e classe dos proprietários, sendo gasto anualmente
em uma ordem regular que assegura perpetuamente a mesma
reprodução anual, há 1 bi que é gasto pelos proprietários em
compras à classe produtiva e 1 bi em compras à classe estéril;
a classe produtiva, que vende 3 bi em produtos às duas outras
classes, destina 2 bi ao pagamento da renda e gasta 1 bi em
compras à classe estéril; esta recebe, pois, 2 bi empregados
em comprar da classe produtiva bens para a subsistência de
seus agentes e matérias-primas para suas obras; e a classe
produtiva gasta, ela própria, 2 bi anualmente em produtos, o
que completa a despesa ou consumo total dos 5 bi de
reprodução anual.”
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Adiantamentos anuais e entradas totais da classe
produtiva
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● juros
- rendimento dos arrendatários que trabalham no
cultivo, com sua inteligência; remunera os
adiantamentos primitivos (capital fixo)
- forma reservas para reposição e manutenção
das riquezas de exploração (capital circulante),
reposições diárias desse fundo
● Quadro analítico
dotações iniciais e finais; receitas e despesas;
custos e valor da produção; [consumo pessoal e
consumo produtivo]
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Interpretação e discussão do Quadro
● sobre as classes:
- heterogeneidade interna
- erros em Napoleoni: classe produtiva seria de
trabalhadores (não há rendeiros) e classe
proprietária seria capitalista
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● questão tributária
- Quadro pressupõe que o cultivador não paga
outras contribuições (diretas ou indiretas) além da
renda
- naquelas condições de reprodução, os impostos
deveriam ser de 2/7 do produto líquido (572 mi),
os dízimos 1/7 (286 mi), restando 4/7 para os
proprietários (1,144 bi)
- Quesnay: não há forma de imposto que gere
renda tão grande sem provocar declínio na
produção
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- por que os impostos aplicados sobre outras
fontes (que não o produto líquido) afetam as
fontes criadoras de riqueza:
- cobrados sobre os cultivadores, retirados de
seus adiantamentos, reduziriam produção
- cobrados sobre a classe estéril, compram menos
dos cultivadores, diminuindo suas disponibilidades
para gastar produtivamente; ou classe estéril
eleva preços
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● medida da produtividade total do sistema :
= VBP / K circulante
- no Quadro, alcança 250% (5/2), segundo
Quesnay [essa medida é confusa]
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- é considerado na soma das despesas (ainda que
seja renda na acepção moderna), mas não
compõe os adiantamentos anuais
● excedente no Quadro = 2 bi
= produto líquido = Renda da terra
- como o juro representa remuneração do capital,
a que fazem jus os empreendedores
(arrendatários) por seu esforço e risco, fisiocratas
são precursores da teoria neoclássica moderna
(habilidade empresarial)
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● descobertas científicas implicadas no Quadro:
- instrumento teórico que permite entender as
relações econômicas entre as classes dentro do
sistema (distribuição da produção e da renda)
- considera as classes sociais em conexão com
um esquema de reprodução da economia
(especifica condições de reprodução; proporções
entre setores e parcelas do produto)
- estabelece a conexão entre produção e
circulação; sua dependência recíproca, sua
continuidade necessária
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- mérito de considerar o capital (adiantamentos)
para entender a (re)produção da riqueza anual;
problema principal era reconstituir o capital
adiantado com vista à produção
- clara compreensão do conceito de capital (valor
que frutifica) e da subordinação do crescimento
econômico à acumulação de capital
- proporções necessárias: se as classes gastarem
suas receitas na forma especificada das
despesas, os ciclos de reprodução (circulação)
repetem-se indefinidamente
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● no Quadro há teoria nova (e transcendental)
- sistema teórico com alto nível de generalidade
- simplificação do Quadro é uma extraordinária
realização do pensamento
- subordinou a intervenção nas questões
concretas a um elevado grau de abstração,
resultado de ter banhado a apreciação dos fatos
correntes (renda, preços, tributação) na filosofia
do iluminismo (aplicando preceitos de investigação
das ciências da natureza à trama das relações
comerciais) (Coutinho)
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● acumulação
- o Quadro não contempla a acumulação, a
economia está em estado estacionário,
reprodução total = produto agrícola anual
- entretanto, a condição técnica ideal deveria ser
alcançada pelo aumento dos adiantamentos
(fundiários, primitivos e anuais)
- produto líquido pode ser usado para consumo ou
acumulado (preparar novas terras, compra de
mais sementes e meios de subsistência)
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● expõem uma teoria do desenvolvimento
econômico
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● Distribuição da produção e do produto nacional
(acepção moderna) considerando 2 setores
VBP agrícola = CI + VAB
5 = 1 + 4
(sementes) + (1 sal, 1 juro, 2 renda)
somente a renda da terra é excedente econômico
VBP urbano = CI + VAB
2 = 1 + 1
(mat-prima) + (sal)
não há excedente econômico
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VBP total = CI + VAB
7 = 2 (sem., mat-pri) + 5 (2 sal, 1 juro, 2 renda)
- a renda nacional é = 5 bi
[nota: VAB corresponde ao PNB ≡ RNB ≡ DNB]
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● contabilidade a 3 setores: se considerarmos que
a contrapartida da renda da terra é o serviço útil
da terra (Philips), a classe proprietária forma um
setor
c. produtiva: VBP (5) = CI (3) + VAB (2)
c. proprietária: VBP (2) = CI (0) + VAB (2)
c. estéril: VBP (2) = CI (1) + VAB (1)
total: VBP (9) = CI (4) + VAB (5)
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● Quadro é precursor da matriz de contabilidade
social e da análise de insumo-produto (e do fluxo
circular da renda?)
- interpretação do Quadro com base nos modelos
de Leontief dá origem a uma matriz de transações
(contabilidade social)
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?
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● comparação com o fluxo circular da renda:
- no fluxo, não há: classes sociais (proprietários de
fatores); excedente econômico (todas as rendas
são recompensas por contribuições dos fatores
para a formação do produto); e bens
intermediários (é um fluxo de produto e não de
produção)
● teoria do valor de troca está presente, baseada
nos custos de produção
● quais são os “erros”?
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● pressupõe produtividade exclusiva do trabalho
agrícola (dom natural da terra)
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● problemas de consistência interna:
- natureza dos juros: é remuneração do trabalho
empresarial, é rendimento de adiantamentos
primitivos, é custo ou valor adicionado?
- há um conflito entre conceito de produto líquido
(limitado à renda da terra = 2 bi) e medida da
produtividade do sistema
- destino dos juros fica ambíguo: comprado em
obras da classe estéril ou fundo de reposição do
capital circulante? (ambos?)
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● proposição no sentido da naturalização da vida
social (ou das relações econômicas fundamentais)
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