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Desmonte da educação: o anti-intelectualismo no governo Bolsonaro – CJT – Centro de Estudos sobre Justiça de Transição 23/05/2019 08*40

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Desmonte da educação: o anti-


intelectualismo no governo Bolsonaro

Desde o início do governo Jair Bolsonaro, o sistema de ensino superior já era apontado como um dos principais eixos que
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passaria por reformas. Em janeiro deste ano, Ricardo Vélez Rodríguez, então Ministro da Educação, afirmou que as
universidades não seriam para todos, mas apenas para uma “elite intelectual”.

Acumulando polêmicas à frente da pasta, Rodríguez foi exonerado do cargo. Em seu lugar, o presidente nomeou Abraham
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Weintraub. Em 30 de abril de 2019, o novo Ministro da Educação anunciou a retenção de 30% das verbas destinadas a três
grandes universidades públicas: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Selecionar categoria

Segundo Weintraub, a medida se justificaria, pois referidas instituições de ensino estariam promovendo “balbúrdia”, isto é,
sediando eventos políticos, manifestações partidárias ou festas inadequadas em suas instalações de modo a gastar “dinheiro
para fazer bagunça e evento ridículo”, tais como: “sem-terra dentro do campus, gente pelada dentro do campus”. Tópicos recentes

Em seguida, a medida foi estendida para todas as universidades e institutos federais de educação do país, ao
argumento de que “o bloqueio de dotação orçamentária foi operacional, técnico e isonômico”, devido ao contingenciamento de Governando por Decretos: Entre
Armas e Sintomas Autoritários
recursos da pasta determinado pelo governo por meio do Decreto nº 9.741/2019.

Na mesma semana (26), o presidente sugeriu que estuda fazer cortes nos investimentos em cursos de humanas nas Desmonte da educação: o anti-
universidades, principalmente em Filosofia e Sociologia, com vistas a “focar em áreas que gerem retorno imediato ao intelectualismo no governo
contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”. Já no dia 08 de maio, foi a vez de as pesquisas de pós-graduação Bolsonaro
financiadas pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) serem afetadas.
Desburocratização ou ataque à
Ainda que tenha prometido investir no ensino básico, o atual corte promovido pelo governo não atinge apenas o ensino
democracia brasileira?
superior: R$ 2,4 bilhões que seriam destinados para programas da educação infantil ao ensino médio foram
bloqueados. Este bloqueio é maior que o das universidade federais, cujo valor é de R$ 2,2 bilhões. Se concretizados, tais Bolsonaro e o “nazismo de
contingenciamentos podem levar o sistema de ensino ao colapso. esquerda”: o que se busca com a
revisão do passado?
Mais do que questões orçamentárias, essas medidas têm um forte conteúdo autoritário.

Bolsonaro e o golpe de 1964:


memória e risco para a democracia.
Anti-intelectualismo como política facista
Na obra “Como o Fascismo Funciona: as políticas do nós e eles” (2018), Jason Stanley aponta diversas daquelas que
poderiam ser políticas fascistas – estratégias que visam à consolidação de uma narrativa que justifica a adoção de uma Arquivos
postura autoritária.

Uma dessas políticas consiste no anti-intelectualismo, ou seja, na promoção de ataques a universidades e a sistemas
maio 2019
educacionais como um todo, de modo a retirar sua credibilidade e desarticular a resistência no meio acadêmico e, via
de consequência, na sociedade. Nesse sentido, o objetivo do anti-intelectualismo é desvalorizar a educação crítica e abril 2019
independente para afastar qualquer contestação que ameace a implementação das pautas ultranacionalistas.

A tentativa de minar a credibilidade de universidades e instituições de ensino se consolida, justamente, na representação março 2019

desses espaços como locais de violência, repressão e baderna – em outras palavras, de “balbúrdia”. Outra afirmação comum
fevereiro 2019
da política fascista é que a universidade só permite a liberdade de expressão quando se trata de discursos de esquerda, ou
seja, “doutrinação”.
agosto 2018
Ainda, verifica-se que certas disciplinas e áreas de estudo, em geral voltadas historicamente ao questionamento do status quo,
como as Humanidades, são alvo da deslegitimação anti-intelectualista, que vai de corte de verbas à perseguição de julho 2018
professores.
junho 2018
No caso Bolsonaro, seu Plano de Governo já contemplava a alusão à existência de uma “forte doutrinação” na educação

https://cjt.ufmg.br/2019/05/09/desmonte-da-educacao-a-anti-intelectualismo-no-governo-bolsonaro/ Página 1 de 3
Desmonte da educação: o anti-intelectualismo no governo Bolsonaro – CJT – Centro de Estudos sobre Justiça de Transição 23/05/2019 08*40

brasileira. Esse tipo de pensamento sustenta a afirmação de Weintraub de que os alunos têm direito de filmar professores em
maio 2018
sala de aula, para além dos cortes de verbas já mencionados.

Os ataques às universidades vêm acompanhados também de uma campanha mais ampla que envolve o ensino abril 2018
básico. Esta campanha tem na figura do educador Paulo Freire seu principal inimigo. O atual governo tem defendido a
necessidade de extinguir o “método Paulo Freire”, ainda que não explique de maneira clara o que entenda por tal método, mas março 2018

deixe antever o combate ao ensino que promova uma visão crítica da realidade na qual o estudante se insere.
agosto 2017
Nesse ensejo, Bolsonaro afirmou que vai retirar de Paulo Freire o título de patrono da Educação brasileira. Ainda que possa
parecer apenas simbólica, tal medida evidencia uma tentativa mais ampla de assentar a educação do país em novas bases
junho 2017
que mais lembram o antigo MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) da ditadura militar, que funcionava como uma
espécie de anticartilha Paulo Freire. maio 2017

O objetivo de todas essas ações de desmonte do ensino público não é obscuro ou mascarado, pelo contrário: o próprio
presidente afirmou que “queremos uma garotada que comece a não se interessar por política”. Contudo, escolas públicas e abril 2017

universidades são local de produção de conhecimento e debate crítico por excelência, visando ao pleno desenvolvimento da
março 2017
pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania, como, aliás, determina a própria Constituição em seu art. 205.

Segundo Stanley, esse desinteresse pela política é terreno fértil para que não haja debate público fundamentado e líderes fevereiro 2017
fascistas manipulem a narrativa, forjando uma realidade a partir da destruição de espaços de informação como as
universidades. O problema dessa realidade paralela é que ela pode vir a legitimar ações ultranacionalistas que, por meio de novembro 2016
um discurso de “nós x eles”, violam direitos de grupos minoritários.
outubro 2016
O ataque às universidades não é prerrogativa brasileira. Na Hungria, Victor Orbán pressionou com diversas medidas a
Universidade Central Europeia, levando a que ela levasse seu campus para a Áustria. Um conhecido jurista polonês, Wojciech
agosto 2016
Sadurski, está enfrentando três processos judiciais movidos pelo governo do partido PiS (Partido Direito e Justiça) a partir de
manifestações políticas críticas publicadas no Twitter. Os governos húngaro e polonês têm sido reiteradamente criticados pela
julho 2016
forma autoritária com que têm se comportado recentemente. Por sua vez, o governo brasileiro pretende estreitar relações com
esses líderes.
junho 2016

maio 2016
Respostas ao desmonte da educação pública
abril 2016
O corte de verbas anunciado foi duramente criticado. No Senado Federal, o Senador Ângelo Coronel (PSD-BA) apresentou
requerimento (REQ-CE 44/2019) à Comissão de Educação, Cultura e Esporte para que o ministro da Educação seja
março 2016
convocado a prestar esclarecimento sobre o bloqueio.

Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Educação estuda a tomada de providências contra o ato praticado por Weintraub. fevereiro 2016
Por sua vez, a deputada Áurea Carolina (Psol-MG), apresentou projeto de decreto legislativo (PDL 215/19) para suspender os
efeitos do Decreto nº 9.741/2019, que contingenciou despesas discricionárias do governo federal e afetou substancialmente o setembro 2015

Ministério da Educação, com bloqueio de R$ 5,840 bilhões.


agosto 2015
Setores da sociedade civil e várias universidades federais se pronunciaram contrariamente à medida, que pode gerar
paralisação de atividades e suspensão de pagamentos de despesas com água, energia elétrica, serviços de limpeza e junho 2015
aquisição de materiais. A Frente Parlamentar de Valorização das Universidades Federais defendeu, em nota, a autonomia e a
liberdade de expressão acadêmica no Brasil. Acadêmicos de todo o mundo também criticaram a pretensão do presidente Jair maio 2015
Bolsonaro de cortar verbas destinadas para os cursos de Ciências Humanas no Brasil.

Foi protocolado um pedido de providências para apuração de eventual prática de improbidade administrativa pelo ministro
Abraham Weintraub, por violação aos princípios que regem o funcionamento da administração pública, bem como impetrados
Português
mandados de segurança por parlamentares e partidos políticos e ajuizada ação direta de inconstitucionalidade perante o
Supremo Tribunal Federal contra a decisão do governo federal de bloquear verbas das universidades e institutos federais de English

educação.

Todas as iniciativas partem da mesma premissa: considerar liberdade de informação, de expressão e de circulação de
conhecimento “balbúrdia” significa impedir o debate público e colocar a democracia em risco e a liberdade acadêmica
(art. 207 da Constituição). O ensino público, básico e superior, não deve ser cerceado, de modo que o corte de verbas constitui
uma tática extremamente prejudicial ao desenvolvimento social, econômico e político do país.

Por Almir Megali Neto [1], João Teófilo [2], Sophia Pires Bastos [3]

Leia mais em:


Professor de Yale e autor de livro sobre o assunto afirma que Bolsonaro usa táticas fascistas

https://cjt.ufmg.br/2019/05/09/desmonte-da-educacao-a-anti-intelectualismo-no-governo-bolsonaro/ Página 2 de 3
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MEC cortará verba de universidade por ‘balbúrdia’ e já enquadra UnB, UFF e UFBA
MEC bloqueia 30% do orçamento de três universidades federais; outras unidades também são atingidas

1 Pesquisador do CJT/UFMG. Mestrando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da UFMG. Bolsista pela
CAPES.

2 Doutorando em História pela Universidade Federal de Minhas Gerais (UFMG. Pesquisador do Laboratório de História do
Tempo Presente (LHTP/UFMG)| https://ufmg.academia.edu/JoãoTeófilo

3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFMG. Pesquisadora do Centro de Estudos sobre Justiça de
Transição (CJT/UFMG). Orientadora da Clínica de Direitos Humanos da UFMG (CdH/UFMG).

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