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“AS TRÊS IRMÃS” DE ANTON TCHEKHOV: realismo e inação1

Pablo Fabricio da Conceição2


RESUMO
Analisa o texto de Anton Tchekhov, “As Três Irmãs”, partindo de uma perspectiva histórica-
social, onde o realismo passa a representar, de forma não idealizada, os problemas decorrentes
da crescente industrialização. No gênero teatral os autores tratavam dos dramas da burguesia,
às vezes discutindo seus problemas cotidianos, às vezes denunciando um vazio premente, sendo
o caso da peça em questão, isto apresentado como conclusão desta análise.

Palavras-chaves: Anton Tchekhov; Realismo; Revolução Industrial; Teatro Moderno.

ABSTRACT
Analyzes Anton Chekhov’s "The Three Sisters", from a historical-social perspective, where
realism represents, not idealized form, problems arising from growing industrialization. In
theatrical genre, authors addressed the bourgeois dramas, sometimes discussing their daily
problems, sometimes denouncing an urgent empty, and is the case of piece in question, this
presented as completion of the review.

Keywords: Anton Tchekhov; Realism; Industrial Revolution; Modern Theatre.

“Compreender os tempos e sua realidade significa


também ver o homem em sua vida quotidiana, em seu
meio ambiente e seus compromissos sociais. Como
afirmou Alexandre Dumas Filho, era tarefa do teatro
realista desnudar o abuso social, discutir o
relacionamento entre o indivíduo e a sociedade e,
tanto no sentido quanto em outro mais elevado,
mostrar-se como um théâtre utile (teatro útil)”.
MARGOT BERTHOLD

1
Artigo feito como requisito para aquisição de nota na disciplina História e Historiografia do Teatro, ministrada
pelo Prof. Dr. Paulo Roberto Vieira de Melo.
2
Licenciado em Educação Artística, Especialista em Educação Infantil, Professor do Instituto Federal de
Alagoas/Campus Piranhas e Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Artes. CV
http://lattes.cnpq.br/3425482451006743
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Introdução

Após as Revoluções Industriais, foi difícil controlar o crescente avanço tecnológico


do Mundo Ocidental, com isso a técnica sofreu várias mudanças ao longo do século XIX. Ao
lado das mudanças técnicas, obviamente, muitas mudanças sociais, nem sempre positivas.
Socialmente, houve um êxodo rural com consequente inchaço das zonas urbanas, o que traria
péssimas condições de moradia. As condições de trabalho dos operários industriais, e de tantos
outros setores econômicos que emergiram, eram precaríssimas. Este fato teve grande
repercussão entre os intelectuais – entre eles, os artistas – que procuraram entender as mudanças
que estavam acontecendo.
Esses fatos acabaram por propiciar a formação de movimentos contestadores do
sistema industrial que avançava, por exemplo, os quebradores de máquinas3.
De outro lado – com a intensificação da exploração do trabalho operário, da
urbanização desenfreada e sem planejamentos, das epidemias provocadas pelo acúmulo de
populações nos grandes centros sem infraestrutura –, as fábricas ficavam cada vez mais
poderosas e determinantes de um processo irreversível.
Contrabalanceando, o desenvolvimento industrial, a fabricação em série ou
estandardização da produção, foi uma das causas, talvez a principal, da profunda mudança
verificada na mentalidade europeia, caracterizada pelo maior espírito científico do homem
europeu. Com isto, era preciso que, assim como na ciência, a arte também levantasse sua voz
nesse tempo de transformações radicais.

Realismo

O movimento realista teve como marco a rejeição de dois quadros do artista francês
Gustave Courbet na Mostra Universal de Paris, a o que ele responde construindo um pavilhão
próprio onde, na entrada, escreveu Le Realism.
Há quem o considere o movimento realista um espelho da cultura da época, a
princípio eclético com forte dose de romantismo, depois retintamente positivista, num tempo
em que a burguesia, chegada ao poder, se consolida e se travam as primeiras lutas sociais, vindo
mudar as relações do homem com seu próprio mundo. Um exemplo prático é dado por

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Denominado Ludismo, era um movimento que se voltava contra o processo de mecanização das fábricas. Ficaram
famosos pelo seu modus operandis, onde invadiam as fábricas e quebravam as máquinas alegando que essas
tiravam o emprego dos homens.
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Gombrich (2000, p. 500), quando diz que: “A Revolução Industrial começou a destruir as
próprias tradições do sólido artesanato: o trabalho manual cedia lugar à produção mecânica, a
oficina cedia passo à fábrica”. Outras formas de criar deveriam ser inventadas.
O realismo na arte considerava, portanto, como objeto de estudo a própria
sociedade, preferindo, principalmente nas artes visuais, a representação de situações cotidianas
de lavradores e operários. A coragem de representar aspectos grosseiros da vida foi valorizada,
tendo Littré definido o realismo como um tipo de apego a representar, sem ideais, a natureza.
Neste sentido, o teatro moderno, realista em sua essência, não acompanhou os
passos das artes visuais, preferindo se ater, ainda, aos dramas de casaca, o drama pequeno-
burguês. Que, assim como a vida operária, também denunciava um dos efeitos da crescente
modernização e especialização do mundo do trabalho, o homem estava cada vez mais solitário.
E afastado de sua terra há um sentimento maior de solidão e apego. Para tanto, a cena francesa
assistiu ao abandono progressivo do argumento histórico e ao uso cada vez mais raro dos versos,
aspectos que cederam lugar ao pitoresco do mundo contemporâneo e à prosa do cotidiano.
O artista realista instituiu uma nova estética, privilegiando a representação do
homem e da sociedade, sem idealizações, mas com a exatidão do efeito real reproduzido no
palco pelo reconhecimento psicológico e ideológico de fenômenos já familiares ao espectador.
Vê-se, muito marcadamente, essas características na dramaturgia analisada, de
Anton Tchekhov.

Tchekhov: vida e obra

De origem humilde, Tchekhov (1860 – 1904), assim como seu avô, foi servo até os
nove anos. Filho de um comerciante, nunca perdoou seu pai pela educação severa que recebera,
tendo sido espancado, segundo Gassner (2001, p. 186): “‘Em minha infância’, escreveu mais
tarde, ‘não tive infância’, e a infelicidade de crianças aparece com frequência em seus contos”.
Já na faculdade começou, sob pseudônimos, a colaborar com jornais satíricos,
obtendo êxito para sustentar a família, onde produzia histórias farsescas, para, logo após, iniciar
sua produção mais conhecida.
Interessante citar que ele se afasta dos conceitos clássico e romântico da tragédia,
posto não ser o resultado do choque entre indivíduos mas do atrito. O mais trágico numa vida
comum é que esta vai sendo desgastada e empobrecida. Sendo a pior a tragédia da vida cotidiana
onde: “A vontade é atrofiada, os nervos são destemperados, o cérebro é confundido e a vida
simplesmente vai ficando mais e mais depauperada” (GASSNER, 2001, p. 189)
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Dentre seus textos, pode-se citar: Ivanov (1887); O urso (1888); O pedido de
casamento; O casamento (1889); O aniversário; confirmando uma produção acelerada. Somente
em 1896 inicia a produção de seus principais textos com A Gaivota, um fracasso encenado pelo
Teatro Imperial de São Petersburgo, chamada pelos críticos não apenas de má, como também
absurda. Em 1899, Tio Vânia, que consolidou a aliança com o Teatro de Arte de Moscou.
Depois, em 1901, As Três Irmãs e em 1904, O Jardim das Cerejeiras, sobre esta Gassner (2001,
p. 197) diz:
Tchekhov lamenta o desaparecimento de uma forma de vida que tinha muito encanto
e beleza, um mundo que acima de tudo consistia em comoventes seres humanos. Ao
mesmo tempo sabe que a nova ordem é dura e pragmática. Entretanto, reconhece o
fato de que a vida deve prosseguir e de que há um poder limpador em sua inevitável
abrasão. O produtivo mundo de amanhã é parido a cada golpe dos machados que
derrubam as árvores do cerejal.

Parece que os personagens do autor estão sempre em busca de algo que foi perdido.
O solo, a inocência, os objetivos perdidos, num mundo de homens cada vez mais
individualistas, algo seria necessário para reencontrar o equilíbrio.

As três irmãs

Três irmãs – Irina, Macha e Olga vivem a monotonia do dia-a-dia em uma província
da Rússia, juntamente com o irmão Andrei. Seu pai líder de uma brigada é enviado para esta
cidade de guarnição no oeste da Rússia, indo todos com ele. A peça começa um ano após a
morte do pai, com Andrei como burocrata, trabalhando de secretário na administração da
província, Macha casada com um pedagogo, Olga trabalhando como professora e Irina como
telegrafista.
Andrei é o único que traz expectativas para as irmãs de voltarem à Moscou,
sonhando com uma carreira de professor universitário, mas acaba degenerando ao casar com
Natacha que se demonstra uma mulher mesquinha e acaba por trair o marido, que, sem mais
expectativas, assume com orgulho o poso de membro do conselho municipal.
Com isso, as três irmãs acabam por afundar mais e mais nessa cidadezinha. Olga
fica discretamente em segundo plano encorajando as irmãs e progredindo na carreira à qual está
presa. Macha se torna amante de um velho amigo do pai, Vershinin, que é casado com uma
megera e não pode deixá-la por causa dos filhos. Irina aceita se casar com o Barão Tusenbach,
que renuncia a patente militar, como forma de abandonar a províonvicia, mas esse morre em
duelo.
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A peça é em quatro atos, divididos da seguinte maneira: no primeiro e no segundo


ato personagens entram e saem da sala dos Prosorov, no terceiro ato dá-se o incêndio as cenas
dão-se no quarto de Olga e Irina e no quarto ato os personagens se deslocam no “velho jardim
dos Prosorov”.
O conflito dessa peça talvez seja um conflito interno do ser humano consigo
próprio, mesmo porque, segundo Szondi (2001) não há ação dramática, justificando um conflito
interno, que é a necessidade da volta à capital russa, tão almejada pelos irmãos Prosorov desde
o início da peça até o seu fim. Um grito desesperado que os leva ao ostracismo e à volta
constante ao passado “glorioso” e ao futuro utópico.
O período retratado remonta à Rússia dessa época, onde os trabalhadores rurais
viviam em extrema miséria e pobreza, pagando altos impostos para manter a base do sistema
czarista de Nicolau II. O czar governava a Rússia de forma absolutista, ou seja, concentrava
poderes em suas mãos não abrindo espaço para a democracia. Mesmo os trabalhadores urbanos,
que desfrutavam os poucos empregos da fraca indústria russa, viviam descontentes com o
governo do czar.
As falas das irmãs e dos personagens de As Três Irmãs não se referem ao seu drama
particular, acabam por representar um impulso geral, buscando unir as energias que almejavam
a liberação da velha Rússia.
“Toda a obra de Tchekhov está baseada em um senso agudo do social e na conexão
inevitável daquilo que uma época menos honesta, mas mais complacente, chama de fatos
‘públicos’ e ‘privados’.” (SZONDI, 2001, p.192).

Uma análise

Como diria Szondi (2001) os personagens vivem aqui sob o signo da renúncia, a
modorra toma conta do ambiente, sendo que a vida é nada mais do que o passar de dias
enfadonhos onde os sonhos são relegados ao nível utópico, inalcançável. O passado sempre
vem à tona para lembrar que a vida não é aquilo que se esperou tornando-se, o único motivo
para continuar vivendo a esperança de atingir metas de um passado presentificado, o que leva
a uma viagem à inação, “o ‘drama’ passa a consistir precisamente na falta de acontecimentos”,
e há um esvaziamento dos diálogos chegando esses a se tornarem monólogos paralelos
(SZONDI, 2001), tais monólogos podem ser encontrados em outros dramaturgos como Ibsen
ou Hauptmann.
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Existe, em Tchekhov, uma desdramatização das peças, pois é na inação e não na


ação que consiste o “drama” de seus protagonistas, não havendo curva dramática.
O que se vê, relacionado ao período em que a arte se encontrava, é o drama de
casaca, onde a “burguesia” é de certa forma representada de maneira tão real que se pode
comparar suas vidas com o tédio cotidiano, mas também, a necessidade latente de reclamar
algo, de expor os desejos de uma Rússia em estagnação, não há mais os rompantes, as cores
vivas e exageradas do romantismo, não há uma idealização da vida, apesar de haver o
positivismo encontrado nos autores realistas.

Referências
BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2004.

GASSNER, John. Mestres do teatro II. São Paulo: Perspectiva, 2001.

GOMBRICH, Ernst. História da arte. São Paulo: LTC, 2000.

SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno: 1850-1950. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

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