MARCOS 7.24-30 E MATEUS 15.21-28 Marcos 7.24-30 e Mateus 15.21-28 contam, essencialmente, a mesma história.
história. Também o espaço ocupado pela narrativa é
aproximadamente o mesmo, com o registro de Marcos sendo um pouco mais curto, mas só por algumas palavras. Em ambos os relatos, Jesus deixou o lugar onde havia estado – presumivelmente Cafarnaum – e chegou aos arredores de Tiro. Ali, uma mulher gentia, residente nesse distrito, lhe pede ajuda para libertar sua filha, possuída por um demônio. A mãe da criança é muito persistente em seu pedido. Jesus não a atende imediatamente. Ele lhe diz: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Ela responde: “Mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças”. Jesus louva a fé que ela demonstra e concede-lhe o que deseja. Cada um dos evangelistas dá sua própria contribuição para o relato dessa história. Não há, no entanto, nenhum conflito. Cada um usa o seu estilo próprio e registra o que aconteceu de uma maneira que atende à necessidade dos seus leitores. Mateus a chama de mulher cananeia. Os judeus que liam o Evangelho de Mateus tinham ouvido muitas coisas a respeito desse povo iníquo (Gn 12.6; 13.7; 38.2; e veja especialmente Js 9.1ss; 11.3ss). Eles haviam criado muitos problemas nos dias de Josué, e até mesmo mais tarde. O quê? A salvação era também para eles? O relato de Mateus é mais dramático do que o de Marcos. A mulher se dirige a Jesus, chamando-o de “Senhor, filho de Davi”, e pede que tenha compaixão dela. Apesar de ela, desde o início, identificar a sua dor com a da sua filha – “tem compaixão de mim! Minha filha…” – esse processo de identificação aumenta de intensidade, alcançando seu clímax quando a mãe para de falar a respeito da filha e simplesmente diz: “Socorre-me”. De acordo com Mateus, a mulher se dirige a Jesus por três vezes, e, em cada caso, o evangelista reproduz as suas palavras por meio de um discurso direto. Marcos reproduz somente duas das suas falas, e somente uma vez o faz usando o discurso direto. Mateus introduz a presença dos discípulos. Caracteristicamente, eles pedem que Jesus se livre da mulher. Marcos, em seu relato, nunca menciona os discípulos. Mateus diz que, de início, Jesus nem mesmo responde à petição da mulher, mas que, mais tarde, lhe diz: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Pelo fato de sabermos para quem Marcos escreveu o seu Evangelho, não nos surpreende que ele não faça menção a esse detalhe. Marcos dá a sua própria contribuição valiosa. Apesar de não ser um apóstolo, ele tinha, provavelmente, ouvido Pedro contar a história. Para mostrar como Jesus havia se tornado “famoso”, Marcos registra que, apesar de haver chegado na região de Tiro, o Mestre entrou numa casa e procurou evitar que alguém o soubesse. No entanto, “não pôde ocultar-se”. Ele também relata que a mulher era grega, ou seja, uma gentia; uma pessoa de educação pagã e siro-fenícia por raça ou nacionalidade. Esses pequenos detalhes devem ter sido apreciados pelos gentios que leram o Evangelho de Marcos. Esse evangelista também mostra, até mesmo com mais clareza que Mateus, que, quando Jesus comparou a situação da mulher com a dos cachorrinhos, ele não estava fechando completamente a porta da esperança, mas sim, deixando-a entreaberta (veja sobre o v. 27a). Marcos, diferindo também quanto a isso de Mateus, até mesmo informa o que aconteceu depois que a mulher voltou para sua casa: ela “achou a menina sobre a cama, pois o demônio a deixara”. Comentário do NT – Marcos, William Hendriksen, Cultura Cristã, p. 376-377
Revista Nossa Fé – 1º tri 2011 Significados e lições dos