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ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA
SALVADOR
2011
NATASHA ILSE ROTHBUCHER THOMAS
SALVADOR
2011
2
NATASHA ILSE ROTHBUCHER THOMAS
Banca Examinadora
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Professor. Dr. Ricardo Fernandes Carvalho por tudo que me
proporcionou ao longo do tempo deste trabalho. É difícil expressar em poucas
palavras minha gratidão pelas oportunidades dadas a mim para que eu pudesse
crescer e me realizar profissionalmente e por todas as horas dedicadas em
orientações não apenas de trabalho, mas sobre a vida em geral. Um grande
professor, pesquisador e amigo, muito obrigada! Muito obrigada pela paciência,
apoio, inspiração, amizade e seu fantástico senso de humor!
À minha co-orientadora Professora Dra. Nadia Mamede José pelas orientações, amizade
e apoio contínuo.
À CAPES pelo apoio financeiro através do PROCAD.
À FAPESB pelo apoio financeiro.
Ao Professor Newton, pela ajuda ena medição da densidade das fibras.
Ao Professor Dr. Callum Hill e a Edinburgh Napier University, Escócia por ter dado a
oportunidade de fazer este intercâmbio tão valoroso, permitindo fazer ensaios de
medição de sorção de vapor dinâmico fortalecendo meu conhecimento e
compreensão do tema estudado, além da amizade, paciência e orientações.
À Professa Silvana Mattedi pela disponibilização do laboratório e amizade.
Ao Manuel e Paulo, Ana Ricl, George, Danilo, Geise, Gleidson, Raigenis, Cleidiene e
GECIM pela colaboração em vários momentos.
As pessoas de Capim Grosso e Caldeirão Grande pelo fornecimento das fibras de licuri.
À Elekeiroz pelo fornecimento da resina poliéster ortoftálica.
Aos amigos e companheiros de trabalho pela força, compreensão e paciência nos mais
variados momentos: Livia Andrade de Freitas pela amizade, sempre me ajudando
andar pelo caminho certo, Luana Oliveira pelos vários momentos de alegria, Beto,
Maurício, Didi, Angela, Claudia, Horacio, Livia Valente, Carla, Cris, Milena,
Ulisse e todos os meus amigas aqui no Brasil e pelos demais países do mundo.
À minha família por ter me dada a força profunda, equilíbrio espiritual e emocional,
bom senso, autoconfiança, cultura, conhecimentos e todas as ferramentas
necessárias para que eu possa vencer os desafios da vida que vem me enfrentar.
Ao deus pela luz, energia e vida.
4
PUBLICAÇÕES
5
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................20
1.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................24
1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................24
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................26
2.1. Compósitos ..........................................................................................................26
2.2. Desempenho mecânico dos compósitos e mecanismos de falha .........................32
2.3. Processamento dos Compósitos...........................................................................35
2.4. Tecidos de fibra....................................................................................................37
2.5. Poliésteres ............................................................................................................41
2.6. Fibras Naturais.....................................................................................................43
2.7. O Licuri (Syagrus Coronata) ...............................................................................48
2.8. Índice de Cristalinidade de fibras vegetais ..........................................................53
2.9. Estrutura Química - Transformada de Fourier (FTIR) ........................................55
2.10. Comportamento térmico de fibras vegetais .........................................................58
2.11. Propriedades Higroscópicas ................................................................................62
2.12. Comportamento mecânico de fibras naturais ......................................................70
2.13. Interface entre a fibra e matriz .............................................................................73
2.14. Método de pull-out para avaliação da aderência interfacial ................................74
2.15. Tratamentos Superficiais .....................................................................................77
2.16. Índice de Cristalinidade de fibras vegetais ..........................................................83
2.17. Estrutura Química de fibras vegetais ...................................................................84
2.18. Comportamento Térmico de fibras vegetais ........................................................86
2.19. Propriedades Higroscópicas de fibras vegetais ...................................................87
2.20. Morfologia Superficial de fibras vegetais ...........................................................89
2.21. Propriedades Mecânicas de fibras vegetais .........................................................91
2.22. Influência de Tratamentos Superficiais no Desempenho Mecânico de
Compósitos reforçados com fibras vegetais ..................................................95
2.23. Seleção de Tratamentos Superficiais para Compósitos reforçados com fibras
vegetais ..........................................................................................................99
3. MATERIAIS E MÉTODOS ...........................................................................101
3.1.1. Reforço - Fibras de Licuri (Syagrus Coronata) .................................................102
3.1.2. Tratamento das fibras ........................................................................................103
3.1.3. Tecidos de fibras de licuri ..................................................................................106
3.1.4. Matriz - Resina Termofixa de Poliéster Insaturada............................................108
6
3.1.5. Processamento dos Compósitos.........................................................................109
3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS FIBRAS ............................................................112
3.2.1. Composição química das fibras pelo Método de Van Soest (1965) ..................112
3.2.2. Densidade por picnometria a gás hélio ..............................................................113
3.2.3. Índice de Cristalinidade - Difração Raios - X (DRX) .......................................114
3.2.4. Estrutura Química - Espectroscopia de Infravermelho......................................114
3.2.5. Caracterização térmica - TGA ...........................................................................115
3.2.6. Caracterização térmica - Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)............115
3.2.7. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ....................................................116
3.2.8. Caracterização das Propriedades Higroscópicas ...............................................116
3.2.9. Caracterização Mecânica das Fibras - Ensaio de Tração ...................................118
3.3. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPÓSITOS ...............................................120
3.3.1. Ensaio de Tração................................................................................................120
3.3.2. CARACTERIZAÇÃO DA INTERFACE FIBRA-MATRIX ............................121
3.3.3. Ensaio de Arrancamento “Pull-Out”..................................................................121
3.3.4. Caracterização dos modos de fratura dos compósitos e aderência interfacial ...123
4. RESULTADOS E ANÁLISE...........................................................................124
4.1. CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS FIBRAS...............................124
4.1.1. Composição Bioquímica....................................................................................124
4.1.2. Densidade das fibras por picnometria a gás Hélio.............................................127
4.1.3. Índice de Cristalinidade .....................................................................................129
4.1.4. Estrutura Química (FTIR)..................................................................................135
4.1.5. Caracterização térmica (TGA)...........................................................................138
4.1.6. Caracterização térmica (DSC) ...........................................................................148
4.1.7. Morfologia Superficial.......................................................................................152
4.1.8. DVS analise das Propriedades Higroscópicas ...................................................156
4.1.9. Caracterização Mecânica das Fibras..................................................................175
4.2. COMPÓSITOS ................................................................................................194
4.2.1. Ensaio de Pull-out..............................................................................................194
4.2.2. Propriedades mecânicas a tração dos compósitos .............................................201
4.2.3. Analise da aderência interfacial e modos de fratura ..........................................206
5. CONCLUSÕES ...............................................................................................217
6. REFERENCIAS ..............................................................................................220
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Classificação dos compósitos 26
Figura 2: Compósitos reforçados com fibras a) alinhadas e contínuas, b) 27
aleatórias e discontíniuas, c) alinhadas e descontínuas
Figura 3: Transmissão de carga entre a fibra e matriz 28
Figura 4: Diagrama esquemático da curva de tensão versas deformação 33
Figura 5: Diagrama esquemático dos mecanismos de falha em compósitos 35
Figura 6: Arranjos de tecidos a) tramados b) trançados e c) tricotados 38
Figura 7: Diagrama esquemático dos diferentes tecidos tramados 38
Figura 8: Esquema do arranjo dos tecidos tramados 39
Figura 9: Diagrama esquemático do grupo ester ligado aos grupos radicais 43
Figura 10: Esquema da estrutura da fibro-célula 44
Figura 11 Estrutura de cellulose 46
Figura 12: Estrutura da hemicelulose 46
Figura 13 Estrutura de lignina 47
Figura 14: O licuri (Syagrus Coronata) e o coco. 49
Figura 15: Separação da epiderme 50
Figura 16 a) Calotas da fibro-célula, b) Fração de uma fibra técnica 51
Figura 17: Aspecto do lúmen e da parede celular da fibro-célula do licuri 51
Figura 18: Morfologia da fibra técnica no sentido longitudinal 52
Figura 19: Morfologia da fibra técnica no sentido longitudinal 52
Figura 20: Difractograma de raios - X para celulose microcristalina 54
Figura 21: Espectros dos três principais constituintes de fibras vegetais 58
Figura 22: Curvas de pirólise de hemicelulose, celulose e lignina por TGA 60
Figura 23 Curvas de DSC de hemicelulose, celulose e lignina 61
Figura 24: Isotérma típica para materiais celulósicos e lignocelulósicos 64
Figura 25: Isotérma típica obtida pelo aparelho DVS. 67
Figura 26: Teor de umidade em função de tempo para um dado RH constante 68
Figura 27: Comportamento mecânico de algumas fibra vegetais 71
Figura 28: Curva típica de força versus deslocamento para o ensaio de pull- 75
out
Figura 29: Modelo esquemático de modificação de fibras 78
Figura 30: Esquema da interação da fibra lignocelulósica com tratamento 80
NaOH
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 31: Esquema do tratamento de acetilação e a reação com fibras naturais 82
Figura 32: Fibro-células da fibra de licuri tratada com 0,75% NaOH (24horas) 89
Figura 33: a) Folhas verdes de licuri (RICL, 2010), b) folha da fibra de licuri, 103
c) processo de extração das fibras técnicas com pente, d) fibras
técnicas.
Figura 34: Fluxograma do preparo das fibras, tratamentos alcalinos e 105
tratamento térmico
Figura 35: Fluxograma do tratamento com acetilação 106
Figura 36: Tear de pente para produção dos tecidos 107
Figura 37: a) Tecido de fibra de licuri, b) tecidos tratados, c) algodão no 108
urdume, d) aspecto ampliado do tecido
Figura 38: Laminação dos compósitos com rolete, b) compósitos após cura, c) 111
aspecto da superfície do compósito reforçado com tecido de licuri.
Figura 39: Fluxograma da analise composição química por método Van Soest. 113
Figura 40: Diagrama esquemático do aparelho de sorção dinâmico de vapor 117
Figura 41: Imagem tirada do aparelho DVS no Timber Engineering 118
Laboratory, Edinburgh Napier University, Escócia.
Figura 42: Esquema do ensaio de tração das fibras individuais. 118
Figura 43: Corpos de prova segurado na garra e montagem do extensômetro. 121
Figura 44: Esquema representante do ensaio de pull-out 122
Figura 45: a) Molde de papelão e vidro com fibras individuais enchidos com 123
resina, e pressionadas com grampos; b) corpos de prova.
Figura 46: Seção longitudinal da fibra técnica de licuri 127
Figura 47: Difractogramas de Raios - X das fibras in natura e mercerizadas 130
Figura 48: Intensidade dos picos cristalinos nos diferentes planos 131
cristalográficos das amostras in natura e mercerizadas
Figura 49: Difractogramas das fibras mercerizadas (0,75%), acetiladas e in 132
natura
Figura 50: Intensidade dos picos cristalinos das fibras in natura e acetiladas 133
Figura 51: Difractogramas das fibras com tratamento térmico e in natura 134
Figura 52: Intensidade dos picos nos planos cristalográficos das fibras tratadas 135
termicamente e in natura
Figura 53: Espectros de infravermelho das fibras in natura e tratados com 136
NaOH
Figura 54: Espectros de infravermelho das fibras de licuri in natura e 137
acetiladas.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 55: Espectros de Infravermelho das fibras in natura e tratamento 138
térmico.
Figura 56: Curvas de TGA das fibras in natura e mercerizadas 139
Figura 57: Curvas de DTG das fibras in natura e mercerizadas 140
Figura 58: Temperatura de degradação máxima da hemicelulose e celulose 141
Figura 59: Curvas de TGA e DTG sobrepostas das amostras in natura e 142
mercerizadas
Figura 60: Termogravimetria (TGA) das fibras in natura 144
Figura 61: DTG das fibras in natura e acetiladas 144
Figura 62: DTG das fibras in natura e acetiladas 145
Figura 63: Termogravimetria (TGA) das fibras in natura e com tratamento 147
térmico
Figura 64: DTG das fibras in natura e com tratamento tarmac 147
Figura 65: TGA e DTG sobrepostos das fibras acetiladas e com tratamento 148
térmico
Figura 66: DSC de fibras in natura e tratadas com NaOH em várias 149
concentrates
Figura 67: DSC curvas ampliadas das amostras tratadas 150
Figura 68: DSC das fibras in natura e fibras com tratamento térmico 151
Figura 69: DSC das fibras in natura e fibras acetiladas 151
Figura 70: DSC curvas em escala maior das amostras acetiladas. 152
Figura 71 Superfície das fibras de licuri in natura e mercerizadas 153
Figura 72: Vista longitudinal da fibra técnica in natura e mercerizadas. 154
Figura 73 Vista longitudinal da fibra técnica in natura e acetiladas. 155
Figura 74: Vista longitudinal da fibra in natura e acetiladas 156
Figura 75: Seção longitudinal da fibra técnica tratada térmicamente. 156
Figura 76 Isotérmas de absorção e desorção das fibras tratadas. 158
Figura 77: Isotérmas de absorção e desorção das fibras in natura e 158
mercerizadas
Figura 78: Isotérmas de absorção e desorção das fibras mercerizadas e 159
acetiladas.
Figura 79: Isotérmas de absorção e desorção das fibras in natura, e tratamento 159
térmico.
Figura 80: Histerese de absorção e desorção das fibras in natura e 162
mercerizadas.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 81: Histerese das fibras in natura, mercerizadas e acetiladas. 162
Figura 82: Histerese de absorção e desorção das fibras in natura e 163
mercerizadas.
Figura 83 Isotérmas em função de tempo das fibras mercerizadas. 165
Figura 84: Isotérmas em função de tempo das fibras tratadas termicamente 166
Figura 85: Isotérmas em função de tempo das fibras acetiladas 166
Figura 86: Absorção dinâmica de umidade para RH de 5% fibras in natura 167
Figura 87: Comparação entre as isotérmas de absorção e desorção 168
experimentais com isotérmas utilizando o modelo PEK para
diferentes fibras tratadas.
Figura 88: Curvas de absorção decomposto em PEK processo lento e rápido 169
em diferentes incrementos de umidade relativa das fibras in natura.
Figura 89: Incrementos no teor de umidade dos dois processos cinéticos em 170
função de umidade relativa atmosfera das fibras in natura.
Figura 90: Comparação do tempo característico do processo de absorção 171
rápido e lento.
Figura 91: Taxa de sorção em função de umidade relativa das fibras in natura. 172
Figura 92: Comparação da taxa de sorção em função de umidade relativa 173
entre as diferentes amostras tratadas e as fibras in natura.
Figura 93: Taxa de sorção decomposto em PEK processo cinético lento e 174
processo cinético rápido em função de umidade relativa para as
diferentes amostras tratadas
Figura 94: Curvas típicas de tração versas deformação das fibras mercerizadas 175
Figura 95: Resistência mecânica das fibras de licuri tratadas e in natura 177
Figura 96: Módulo de Elasticidade das fibras de licuri tratadas e in natura 177
Figura 97: Deformação Específica das fibras de licuri mercerizadas e in 177
natura
Figura 98: Modo de fratura típico das fibras técnicas mediante ensaio de 181
tração.
Figura 99: Energia de deformação até ruptura das fibras mercerizadas. 182
Figura 100: Resistência específica (kN.mm/g) das fibras mercerizadas e in 183
natura
Figura 101: Curvas de força - deformação das fibras acetiladas 185
Figura 102: Resistência das fibras tratadas (0,75% NaOH + acetilação) e in 186
natura
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 103: Módulo de elasticidade das fibras de licuri (0,75% NaOH + 186
Acetiladas)
Figura 104: Deformação Específica das fibras tratadas e in natura 186
Figura 105: Energia de deformação (kJ) até ruptura das fibras tratadas. 188
Figura 106: Resistência específica (kN.mm/g) das fibras acetiladas e in natura 189
Figura 107: Curvas de força versas deformação das fibras in natura e 190
tratamento térmico
Figura 108: Curvas de força versus deslocamento do ensaio pull-out 196
Figura 109: Superfície de uma fibra in natura molhada com a resina poliéster 197
Figura 110: Buraco deixado pela fibra após arrancamento do poliéster 198
Figura 111: Marcas da epiderme impressas na poliéster na superfície interna do 198
buraco deixado pela fibra após arrancamento
Figura 112: Aspecto da fibra arrancada e partida com camada de poliéster na 199
superfície
Figura 113: Aspecto da extremidade da fibra arrancada e seção não uniforme e 200
circular
Figura 114: Fratura na fibra arrancada e camada de resina poliéster na 200
superfície
Figura 115: Resina envolta dos filamentos (fibro-células) arrancadas do corpo 200
de prova
Figura 116: Comparação da resistência mecânica dos compósitos. 202
Figura 117: Comparação do módulo de elasticidade dos compósitos 202
Figura 118: Curvas típicas de tensão versas deformação específica dos 208
compósitos
Figura 119: Interface fibra - matriz do compósitos 209
Figura 120: Modos de fratura dos compósitos com fibras in natura 211
Figura 121: Modos de fratura dos compósitos com fibras mercerizadas 211
Figura 122: Modos de fratura dos compósitos com fibras tratadas termicamente 211
Figura 123: Modos de fratura dos compósitos com fibras acetiladas 212
Figura 124: Superfícies de fratura dos compósitos 214
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Classificação e exemplos de fibras vegetais. 43
Tabela 2: Composição química das fibras mais comuns e da fibra de licuri 48
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 26: EMC, Histerese e propriedades físico-químicas e mecânicas das 163
fibras.
Tabela 27: Propriedades mecânicas das fibras de licuri in natura e 176
mercerizadas
Tabela 28: Analise estatística da resistência das fibras mercerizadas 178
Tabela 29: Analise estatística de E das fibras mercerizadas (nível de confiança 179
de 95%)
Tabela 30: Propriedades mecânicas e físicas em função dos tratamentos 180
Tabela 31: Comparação das propriedades mecânicas em função de tempo de 182
imersão do tratamento alcalino.
Tabela 32: Energia de deformação das fibras mercerizadas 183
Tabela 33: Analise estatística da Resistência Específica das fibras 184
mercerizadas
Tabela 34: Quadro resumo das propriedades mecânicas das fibras acetiladas 185
Tabela 35: Analise estatística da resistência das fibras acetiladas 187
Tabela 36: Analise estatística do módulo de elasticidade das fibras acetiladas 187
Tabela 37: Resistência, módulo de elasticidade, índice de cristalinidade e 188
densidade
Tabela 38: Energia de deformação e teor de lignina das fibras tratadas 189
Tabela 39: Analise estatística da Resistência Específica das fibras acetiladas 190
Tabela 40: Analise estatística da resistência das fibras com tratamento térmico 191
Tabela 41: Analise estatística do módulo de elasticidade das fibras tratadas 191
termicamente
Tabela 42: Analise estatística da resistência específica das fibras com 191
tratamento térmico
Tabela 43: Comparação das propriedades mecânicas e físicas do tratamento 192
térmico
Tabela 44: Quadro resumo das propriedades mecânicas das diferentes 193
tratamentos
Tabela 45: Analise qualitativa do ensaio de pull-out 194
Tabela 46: Resistência interfacial em função de comprimento embutido 196
Tabela 47: Quadro resumo das propriedades mecânicas dos compósitos 201
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 48: Analise estatística da resistência dos compósitos (nível de 203
confiança de 95%)
Tabela 49: Analise estatística da E dos compósitos (nível de confiança de 203
95%)
Tabela 50: Comparação da Resistência das fibras com a resistência dos 204
compósitos
Tabela 51: Comparação de módulo de elasticidade entre as fibras e os 205
compósitos
Tabela 52: Cálculo de E dos compósitos usando regra das misturas (min e 206
max)
Tabela 53: Cálculo do parâmetro K dos compósitos em função de tratamento 207
Tabela 54: Comparação de E dos compósitos com tratamento térmico e 215
acetilação
Tabela 55: Comparação da resistência dos compósitos acetilados e tratamento 215
térmico.
Tabela 56: Comparação dos compósitos com outros sistemas fibra/matriz (in 218
natura)
15
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SUBSCRITOS
m: Matrix
f: Fibras
c: Compósitos
T: Transversal
L: Longitudinal
16
SÍMBOLOS
De: Diâmetro equivalente
E: Módulo de elasticidade
G: Módulo à torção
F: Força
I: Momento de inércia
D: Diâmetro
Lf: Comprimento das fibras
Lc: Comprimento crítico das fibras
σf : Resistência a tração da fibra
σmax: Resistência
Vf: Fração volumétrica
δ - Deformação
η1: Coeficiente que depende da orientação das fibras
η2: Coeficiente que depende do comprimento das fibras e do comprimento crítico
ε: Deformações específicas
τc: Tensão interfacial de cisalhamento
λ: Coeficiente de forma
Ic: Índice de cristalinidade
I: Intensidade
m: Massa
t: Tempo característico
t1: Tempo característico referente processo cinético rápido
t2: Tempo característico referente processo cinético lento
U: Energia de deformação
γ: Energia superficial
ρ: Massa específica / densidade
N : tamanho de amostra
F calc : teste de fisher
t tab: t-student tabelado
t calc: t-student calculate
s: Parede celular
17
RESUMO
18
ABSTRACT
The substitution of synthetic fibers with natural fibers in composite materials has
become an extremely attractive alternative as they are renewable, biodegradable, low
cost materials that are abundantly available and have a cleaner production process, and
offer other advantages such as low specific weight and good mechanical and thermal
properties. Consequently, there has been a large increase in studies with natural fibers
such as sisal, piassava and licuri among other cellulosic fibers. In this work, a new
composite material was developed using an unsaturated polyester resin reinforced with
woven unidirectional licuri fibers. The main objective was to investigate the influence
of treatments on the interfacial adhesion of the fibre matrix system. Treatments were
selected using environmental and economic criteria. The effects of varying
concentrations of alkali treatments, a joint mercerization and acetylation treatment and
heat treatment on the morphology, bio - chemical composition, physical structure and
physical, chemical and mechanical behavior of the individual fibers were investigated.
Results show that the alkali treatment in all concentrations did not change the Young’s
modulus and only the 0,75% NaOH treatment increased the mechanical strength. Heat
treatment increased the modulus of elasticity whilst the joint mercerization and
acetylation treatment reduced the hydrophilic nature of the fibers which improved the
consequent wetting of the fibres by the polyester resin. The acetylation treatment did not
modify the modulus of elasticity but the stronger treatment did however, reduce the
mechanical strength of individual fibers. The structural laminates using two layers of
unidirectional fabrics with fibres aligned parallel to tensile loading were processed
using the hand lay-up technique. A factor K was used to compare the fibre efficiency
and measure the influence of fibre treatments on the interfacial adhesion between the
fibres and matrix. Results show that all treatments increased the fiber efficiency
compared with untreated fiber textile composites. The joint mercerization and
acetylation treatment showed the highest interfacial compatibility, followed by the
mercerization treatment and finally the heat treatment. All composites showed brittle
failure modes, with varying degrees of fiber de-bonding, matrix shear failure and fibre
pullout. Finally, considering both environmental and economic criteria and the
mechanical performance of the composites, the heat treatment offered the best set of
results in this work.
19
1. INTRODUÇÃO
20
emitido na atmosfera, entre 20 e 50% do consumo total dos recursos naturais e ainda
50% dos resíduos sólidos gerados (SENAI, 2007; GHAVAMI, 2009). Estas estatísticas
apenas enfatizam sua inegável responsabilidade no que diz respeito ao seu enorme
potencial na contribuição para o desenvolvimento sustentável, e, se não enfrentar o
desafio, na ameaça a toda a existência humana (BERGE, 2001). Desta forma, se requere
buscar alternativas através do desenvolvimento de novas tecnologias e materiais
abordando a concepção do ciclo de vida de materiais visando sempre minimizar o
consumo e as emissões de carbono, o uso de energia e matérias primas e outros recursos
naturais além de diminuir a emissão de poluentes ao longo a totalidade da vida do
material desde o berço até o túmulo.
A celulose como material é utilizada pelo mundo natural na formação de plantas
e árvores, e inicialmente pelo homem na fabricação de velas de barco, cordas, roupas e
coberturas, sendo estes apenas alguns exemplos (EICHHORN et al. 2001). O uso de
fibras naturais como agentes de reforço em compósitos têm sua origem na época do
Antigo Egito, em tijolos de barro reforçados com palha para a construção. No entanto,
os grandes avanços na engenharia de compósitos reforçados com fibras foram
conduzidos nas primeiras décadas do século XX, em que se destaca o trabalho do
pioneiro Norman de Brugne em 1937. De Brugne desenvolveu um produto conhecido
como Cord Aerolite fabricado com tecidos de algodão impregnados sob pressão com
uma resina fenol-formaldeído que poderia alcançar resistências elevadas. Logo em
seguida, surgiu o material Gordon Aerolite que empregava lamelas de fibras de linho
contínuas e unidirecionais deitadas em sentidos perpendiculares e impregnadas com a
mesma resina, que poderia obter dimensões e propriedades mecânicas ainda superiores.
O Gordon Aerolite teve três aplicações verdadeiras e marcantes na indústria aerospacial,
substituindo o alumínio para fabricação do avião de cauda do treinador Miles Magister,
a longarina experimental de um Bombardeiro Blenheim e na fuselagem para o avião
“Spitfire”. Entretanto, as pesquisas em compósitos reforçados com fibras naturais foram
quase abandonadas no final da década de 1940 com a introdução de fibras sintéticas
como as fibras de vidro e carbono (HILL e HUGHES, 2010).
Os materiais compósitos tem recebidos grande interesse e atenção pela
comunidade científica e industria devido ao seu elevado desempenho mecânico e baixo
peso específico, além de serem facilmente moldados em formas de ampla versatilidade
21
(PAIVA e FROLLINI, 2000). Como consequência os compósitos reforçados com fibras
têm substituídos às ligas metálicas em múltiplos componentes na indústria aeronáutica,
automotiva e naval e no decorrer dos últimos 35 anos os materiais compósitos se
formaram uma grande classe de materiais na construção civil (RICL, 2010). No Brasil,
a produção de compósitos em 2007 foi estimada a 145 000 toneladas, no qual 30%
foram destinados à construção civil e, no mesmo ano a produção internacional foi de 1
620 000 toneladas das quais, 45% tiveram aplicações na construção (ABMACO, 2008).
Atualmente a utilização de compósitos poliméricos em edificações está em forte
expansão e estão substituindo o aço inoxidável principalmente em aplicações de
saneamento. Aplicações de compósitos de poliésteres na construção civil incluem;
revestimentos, telhas, folhas de dossel, banheiras, sanitários, tanques, reservatórios,
cúpulas, janelas, calhas, tábuas e adesivos (IRFAN, 1998; SMITH et al, 2002).
No entanto, em decorrência da primeira crise de petróleo nos anos 1970’s e as
consequentes pressões para reduzir a dependência de produtos derivados de petróleo e
compromissos para reduzir as emissões de CO2 conforme o protocolo do Kyoto, o
interesse em utilizar fibras naturais voltou a seguir seus passos adiantes (HILL et al.
2010). A substituição de fibras sintéticas por fibras naturais em materiais compósitos
vem sendo uma alternativa atraente, por serem recursos renováveis e disponíveis em
abundância, biodegradáveis e de baixo custo por terem uma produção mais limpa e
outras vantagens devido a sua baixa densidade e propriedades mecânicas e térmicas.
Além do mais, plantas quebram o dióxido de carbono em oxigênio e quando utilizados
em materiais de construção, atuam como um armazenador de carbono, reduzindo assim
o efeito estufa (BERGE, 2001). Consequentemente, houve um grande aumento nos
estudos com fibras naturais bem como as fibras de sisal, juta, coco, abacaxi, rami,
cânhamo, fibras de madeira e da bananeira, piaçava, curauá, bagaço de cana entre outras
fibras celulósicas. O aproveitamento de recursos renováveis disponíveis no biomassa na
fabricação de compósitos oferece diversas oportunidades sócio-econômicas
principalmente em países como Brasil, onde milhões de pessoas vivem em condições
inadequadas de saúde, moradia e carentes de saneamento básico(GHAVAMI, 2009).
Adicionalmente, a agregação de valor econômico as fibras vegetais pode encorajar e
contribuir para a fixação dos produtores rurais nas plantações em campo, evitando a
22
migração indesejada para as cidades e o consequente empobrecimento da maioria da
população (D’ALMEIDA, 2009).
Esta pesquisa propõe incorporar especificamente a fibra técnica da folha do
Licuri, (Syagrus Coronata), uma palmeira nativa do semi-árido da Bahia. O l i c u r i s e
adapta bem as regiões secas que apresentam várias limitações para a agricultura, e
portanto, são regiões que apresentam um baixíssimo índice de desenvolvimento. Apesar
da grande importância e potencial econômica, a comercialização da syagrus coronata é
ainda pouco explorada (CREPALDI et al. 2004; MEC, 2006).
Desta forma, o desenvolvimento de um novo material compósito com matriz de
poliéster insaturado reforçada com fibras do licuri, um recurso renovável e
biodegradável pode contribuir pela valorização da palmeira, gerando renda e emprego,
resultando numa melhoria na qualidade de vida das comunidades das regiões semi-
áridas, principalmente no sertão da Bahia. Além do mais, a fabricação de componentes
para a construção civil incorporando fibras naturais poderá atender as demandas
crescentes de novas materiais de baixa energia incorporada no mercado. Se fabricados
em proximidade dos locais de produção de licuri, materiais regionais poderão ser
obtidos, reduzindo custos de transporte e consumo de energia, gerando então outros
benefícios sócio-econômicos e ambientais para as regiões produtores do licurizeiro.
23
1.1. OBJETIVO GERAL
24
lay up). Para modificação superficial das fibras de licuri utilizou-se 3 tratamentos
diferentes; um tratamento alcalino com soluções de hidróxido de sódio (NaOH) em
diferentes concentrações, (0,4%, 0,75%, 1,5%, 4% e 5% p/p) para 1 hora de imersão, o
tratamento conjunto mercerização + acetilação (ácido acético glacial, seguido por ácido
acético anidrido catalisado com ácido sulfúrico (H2SO4) variando o tempo de reação de
0,5h e 1h); o tratamento térmico (fibras imersas em água destilada mantida à 80ºC para
1h) e fibras in natura como o grupo controle.
A investigação dos efeitos de diversos tratamentos superficiais sobre o
comportamento físico-químico e mecânico de fibras vegetais, aderência interfacial
fibra-matriz e o comportamento mecânico do compósito de poliéster reforçado por
tecidos de fibras de licuri proposta nesta trabalho contribuirá aos conhecimentos
científicos sobre a compatibilização entre fibras vegetais e poliésteres e ainda fornecerá
resultados quantitativos e qualitativos para avaliação do potencial deste novo material
no mercado para desenvolvimento em novas aplicações, como telhados, vasos
sanitários, tanques reservatórios e outros componentes para a construção civil e a
industria automotiva.
Este pesquisa é constituída por 7 capítulos; 1) a introdução e os objetivos; 2) o
referencial teórico e a revisão bibliográfica da literatura, associando resultados e
pesquisas sobre compósitos e polímeros com ênfase em poliésteres, fibras e a zona de
transição das tensões e deformações, e tratamentos superficiais, levantados a partir de
artigos, livros, capítulos, dissertações e teses disponíveis no portal capes e outros meios
eletrônicos; capítulo 3 descreve os materiais e métodos utilizados para alcançar os
objetivos, bem como as caracterizações para realização dos estudos do novo material;
capítulo 4 apresenta os resultados e discussão, capítulo 5 apresenta as conclusões,
capítulo 6 as publicações realizadas e previstas e finalmente no capítulo 8 são
apresentadas as referencias bibliográficas.
25
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Compósitos
Compósitos
Partículas Partículas
Grandes Pequenas Fibras curtas Fibras longas Laminados Sanduíche
26
‚
#
#
#
#
#
#
#
#
# 0 ;# 5#
Fonte: Callister (2002)
L)(/%N#H0..2+/%*,#
Figura 2.Compósitos reforçados com fibras (a) alinhadas e continuas, (b)
aleatórias e descontinuas, (c) alinhadas e descontínuas
Ec = Ef Vf + Em Vm Equação 1
Onde:
Ec = módulo de elasticidade do compósito;
Ef = módulo de elasticidade da fibra;
Em = módulo de elasticidade da matriz;
Vf = fração volumétrica de fibras;
Vm = fração volumétrica da matriz.
27
A maioria da carga aplicada aos compósitos é suportada pelas fibras e portanto, o
comportamento mecânico do compósito também depende do grau de transmissão das
tensões e deformações para as fibras pela fase matriz, que depende da ligação interfacial
entre as duas fases (CALLISTER, 2002). Esta ligação interfacial é influenciada pelo
comprimento e diâmetro das fibras além de fenômenos físicos e químicos que podem
ocorrer entre as superfícies dos materiais constituintes. Estes fenômenos podem ser
classificados como: ligações primárias, ligações secundárias e interligações mecânicas.
As ligações primárias são ligações formadas por reações químicas sendo elas as ligações
iônicas e covalentes, enquanto as ligações secundárias (também conhecidas como
ligações físicas) ocorrem, por exemplo, entre as diferentes moléculas polares, que
incluem as ligações de Van der Waals e as ligações de hidrogênio. Finalmente, as
ligações mecânicas são aquelas provocadas por ancoragem mecânica ou por atrito.
Enquanto estas ligações podem funcionar isoladamente, geralmente ocorre mais que um
dos fenômenos em conjunto, todas as quais são importantes na efetiva adesão entre as
duas fases e dependem da estrutura física e química, bem como a polaridade e as
tensões superficiais de cada um dos componentes na interface. Figura 3 mostra um
diagrama esquemático da transmissão de carga entre a matriz e fibra (Callister, 2002).
σ Matriz
Fibra
σ
λ= L/D Equação 2
28
Segundo Carvalho (2005), se λ for menor que 100, as fibras são consideradas como
fibras curtas e se λ for maior que 100, as fibras são consideradas como fibras longas. O
coeficiente de forma descreve as características geométricas das fibras e assim, tem
forte influencia nas propriedades mecânicas dos compósitos. Quanto maior o coeficiente
de forma, quanto maior será a área de contato entre a fibra e matriz e maior a aderência
interfacial. Desta forma, para um volume de fibras constante e considerando um
diâmetro constante pode-se deduzir, quanto maior o comprimento da fibra, maior será a
interação entre a fibra e matriz e, portanto, maior será o grau de transferência da carga
aplicada. Ou, considerando um comprimento fixo, quanto menor o diâmetro das fibras,
maior será o coeficiente de forma, ou seja, maior será a área superficial de contato e
melhor a respectiva eficiência como reforço, resultando teoricamente, em melhores
propriedades mecânicas (RAZERA, 2006). No entanto, quanto maior a relação de
forma, mais difícil serão as condições de processamento (ROWELL et al. 2000;
CARVALHO, 2005).
As fibras industrializadas possuem diâmetros muito pequenos justamente para
aumentar a área superficial que será em contato com a matriz e são manufaturadas cada
vez menores, resultando em aumentos significativos no comportamento mecânico dos
compósitos. Já no emprego de fibras naturais, alguns tratamentos superficiais são
utilizados para diminuir o diâmetro e consequentemente aumentar este coeficiente de
forma.
Existe ainda, um tamanho mínimo de fibra para que haja um aumento efetivo da
resistência mecânica, conhecido neste contexto como comprimento critico (Lc). Este
comprimento crítico depende do diâmetro (D) e resistência à tração da fibra (σuf), e a
força de ligação entre a fibra e matriz (τc) ou a tensão limite de escoamento cisalhante
da matriz (o que for menor) conforme a Equação 3 abaixo (CALLISTER, 2002);
29
• L < Lc: As fibras são arrancadas da matriz, (efeito “pull-out”) pois a tensão não
atinge a resistência da fibra, um valor suficiente para fraturar as fibras ou
rupturar a matriz.
• L > Lc: O maior comprimento permite o desenvolvimento de tensões ao longo da
integridade da fibra e a tensão máxima acontece na região central onde poderá
ocorrer a fratura eventual da fibra.
O comprimento crítico depende tanto da fibra quanto da matriz, além das características
superficiais presentes na interface, e, portanto o comprimento crítico deve ser
determinado para cada sistema fibra e matriz (OLIVEIRA, 2008).
Vários autores têm investigado a influência da proporção volumétrica, (Vf) sobre
o comportamento mecânico dos compósitos. Joseph et al. (1996), investigaram a
influência de comprimento e proporção volumétrica de fibras de sisal em matrizes
termofixas bem como a resina epóxi, polímeros fenólicos e poliésteres através de
ensaios de tração, flexão e impacto. Fibras curtas foram avaliadas com comprimentos
(Cf) entre 5 mm e 30 mm variando as proporções volumétricas (Vf) de 5% á 55%. Para
compósitos de poliéster reforçados com fibras de sisal, obteve-se maior resistência a
tração e flexão com comprimentos de fibra entre 15 e 20 mm. Com comprimentos
acima de 20mm houve uma queda na resistência dos compósitos. Em termos da
proporção volumétrica (Vf), obteve-se melhores resultados com (Vf) de 30-35%,
registrando também uma caída na resistência tanto a tração quanto a flexão. Já o
desempenho mecânico durante o ensaio de impacto foi otimizado com uma proporção
volumétrica (Vf) igual a 40%. Atribui-se a redução na resistência nos compósitos com
teores de fibras (Vf) e comprimentos maiores que os valores ótimos ao contato formado
entre as fibras adjacentes durante a impregnação com a resina, que impede que a matriz
transfira as cargas para as fibras.
Kiran et al. (2007) investigaram a resistência a tração dos compósitos
confeccionados com um poliéster termofixo reforçados com fibras curtas de sisal,
banana e cânhamo variando o comprimento de fibra entre 10mm e 70mm com
intervalos de 10mm e a proporção volumétrica de fibra (Vf) = 1 á 70%. Observou-se
que a resistência a tração aumentou conforme o aumento do comprimento de fibra e
proporção volumétrica, tanto para as fibras de sisal quanto para as fibras de banana e
30
cânhamo, até um comprimento de fibra máximo de 30 mm, acima do qual houve uma
redução na resistência. Os resultados mostraram uma tendência semelhante para a
proporção volumétrica das fibras de sisal, banana e cânhamo, onde se obteve maior
resistência com proporções volumétricas (Vf) de 54%, 51% e 54% respectivamente.
Atribui-se a redução na resistência dos compósitos com proporções volumétricas de
fibras acima dos valores ótimos à menor presença da matriz, reduzindo o molhamento
das fibras e o conseqüente transferência das cargas aplicadas as fibras. Os compósitos
com (Vf) menor que os valores ótimos, as cargas são distribuídas para mais fibras que
são mais bem aderidas a matriz, resultando em resistência maior.
Mohanty et al. (2000) incorporou fibras curtas de juta em compósitos de
poliéster variando o teor de fibra (Vf) de 20 a 55%. Resultados mostraram que com
teores de 20 a 32% houve um aumento tanto na resistência a tração quanto a flexão.
Porém, com (Vf) acima de 32% uma grande redução na resistência em ambos os ensaios
foi registrada devido a maior quantidade de extremidades de fibras, que são pontos onde
ocorre a propagação de trincas que levam os compósitos a falha prematura.
Silva et al. (2009) comparou as propriedades mecânicas a tração de compósitos
reforçados com fibras de sisal curtas, fibras longas e tecidos bi-direcionais incorporadas
numa matrix de resina de poliuretano com fração volumétrica de fibras (Vf) de
aproximadamente 22%. Os compósitos com fibras longas obtiveram uma resistência
mecânica a tração no sentido paralelo as fibras 260% maior que as fibras curtas e 275%
maior que os tecidos bi-direcionais. O módulo de elasticidade dos compósitos
reforçados com fibras longas foi 150% maior que os compósitos com fibras curtas e
200% maior que os compósitos com tecidos bi-direcionais. Desta forma, para obter
melhorias significativas no desempenho mecânico de compósitos deve - se usar fibras
longas e contínuas (Callister, 2002).
Observa-se freqüentemente que o aumento no desempenho mecânico é
relativamente mínimo devido ao uso e aproveitamento inefectivo das propriedades
intrínsecas das fibras como agentes de reforço, atribuído principalmente pelo uso de
comprimentos subcríticos da fibra, diâmetros grandes, defeitos naturais decorrentes a
não uniformidade de fibras naturais além de outras propriedades das fibras que não
favorecem uma aderência interfacial suficiente, inibindo assim, a transferência efetiva
das tensões máximas às fibras pela matriz (BARKOULA et al. 2010).
31
São inúmeros, os trabalhos publicadas na literatura empregando fibras curtas
como reforço, enquanto os registros de trabalhos utilizando fibras longas ou tecidos são
mais escassos. Há ainda, pesquisadores que acreditam que o futuro dos compósitos
reforçados com fibras naturais, se reside na utilização de tecidos de fibras longas e
contínuas com alinhamento unidirecional, onde o volume e comprimento das fibras é
otimizado a fim de explorar plenamente as propriedades de resistência e rigidez das
fibras naturais (HILL e HUGHES, 2010). Os trabalhos de alguns pesquisadores e
grupos de pesquisa investigando compósitos reforçados com tecidos técnicos de fibras
unidirecionais, também dominados como compósitos estruturais, laminados ou
compósitos avançados, tem demonstrados resultados promissores inclusive para
aplicações de alto desempenho (HILL e HUGHES, 2010; BARKOULA et al. 2010;
RONG et al. 2001; RODRIGUEZ et al. 2008; CARVALHO, 2005; CERCHIARO,
2010, GOUTINESS, et al. 2006). Assim, pode se concluir que o uso de fibras curtas
como reforço se limita as aplicações não estruturais onde as fibras tendem a ser
utilizadas como “enchimento” ou “carga” com objetivo principal de reduzir os custos do
compósito por utilizar menos material na fase matriz proporcionando um melhor
aproveitamento de materiais a partir de fontes renováveis e biodegradáveis e que sejam
menos abrasivos, além de reduzir a massa específica entre outros benefícios sócio-
econômicos e ambientais.
32
Ec = η1 η 2 Ef Vf + Em Vm Equação 4
σc Falha
σm Matriz Matriz
Estágio
II
εf εm εf εm
33
O processo de deformação progressiva até a ruptura total do compósito é
identificado por 2 principais estágios. Durante as deformações iniciais (Estágio I),
ambos os materiais se deformam elasticamente e quando as deformações do compósito
passam pelo limite de escoamento da matriz, a matriz entra na regime de deformações
plásticas (Estágio II) enquanto as fibras continuam a se deformar elasticamente. A falha
do compósito tem seu início quando as fibras começam a fraturar que ocorre nas
deformações correspondendo ao limite de resistência das fibras (εf). O processo de
ruptura das fibras começa nas seções das fibras menos resistentes. Porém, nem todas as
fibras fraturam no mesmo tempo devido a grande variabilidade nas propriedades. Na
medida em que as tensões aumentam, novas fibras vão sendo fraturadas. Além do mais,
devido a ductilidade da matriz, mesmo sofrendo deformações plásticas e ocorrendo a
fratura contínua das fibras, a matriz ainda se encontra intacta e as fibras fraturadas são
mantidas no seu interior. Assim, a matriz é ainda capaz de redistribuir as tensões
progressivas para as demais fibras enquanto as fibras fraturadas são ainda capazes de
suportar cargas reduzidas até ocorrer o conseqüente colapso total do compósito. Logo, o
comportamento dos compósitos em deformações próximas a ruptura são quase que
exclusivamente influenciadas pelo comportamento das fibras (CARVALHO, 2005). No
entanto, como anteriormente citado, este mecanismo de falha ocorre geralmente quando
há uma perfeita aderência entre as duas fases. Segundo Agarwal et al. (2006) os
mecanismos de ruptura dos compósitos podem ser descritos por 3 diferentes modos,
sendo as outras possibilidades de fratura provocadas ou por ruptura da interface fibra -
matriz ou por falha provocada por cisalhamento da matriz.
A falha frágil com a ruptura da interface fibra - matriz, ocorre quando a adesão
entre as superfícies é insuficiente para resistir as tensões de cisalhamento nesta região e
assim as fibras são desassociadas a matriz seguido pelo arrancamento das mesmas. A
superfície de fratura deste modo de fratura é mais rugosa que a da fratura frágil (para a
situação de interface perfeita) pois as extremidades das fibras arrancadas da matriz são
expostas como também são expostas os respectivos vazios dentro da matriz na parte
aposta da amostra a partir do qual as fibras foram arrancadas.
Finalmente na falha frágil com ruptura da interface fibra - matriz e cisalhamento
da matriz, o processo de falha é decorrente da matriz não ser suficientemente resistente
34
às tensões de cisalhamento presente na interface e então o processo de ruptura se
propaga através da matriz.
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Fonte: Oliveira (2008)
Figura 5.Diagrama esquemático dos mecanismos de falha em compósitos
35
Características como a viscosidade da resina, o arranjo e a proporção
volumétrica das fibras, o método de aplicação da resina, processos auxiliares como o
uso de vácuo e pressão, a temperatura (para acelerar ou retardar o processo de cura), o
formato das formas entre outras, são variáveis dos materiais e do processamento que
influenciam o comportamento e as propriedades do compósito final, todas as quais
interagem mutuamente (CARVALHO, 2005). Outras características específicas dos
materiais compostos também devem ser consideradas, as propriedades da resina que
mais interferem são; o tempo de cura ou “tempo de gel”, a liberação de gases voláteis e
a viscosidade, enquanto o comprimento, a seção transversal, teor de fibra e umidade da
fibra são fatores influentes da fibra.
Segundo Carvalho (2005), existem diversos métodos de processamento dos
compósitos sendo eles classificados como moldes abertos ou compressão em moldes
fechados, por pistola, em câmera de pressão, por centrifugação, em matrizes
combinadas, por injeção, por laminação contínua, enrolamento de filamentos, em
câmara de vácuo e finalmente por moldagem manual também conhecido como “hand-
lay up”.
Assim, por questões econômicas, o arranjo do reforço (se as fibras são curtas ou
longas, aleatoriamente distribuídas ou unidirecionais), a forma e a finalidade do
compósito são fatores fundamentais na determinação do método de conformação.
Fibras curtas podem ser alinhadas ou aleatoriamente distribuídas e geralmente
são obtidas pelo corte das fibra longas. A conformação destes compósitos é comumente
feita por meio de extrusão ou injeção, onde a resina, geralmente aquecida e fundida ao
estado sólido, e as fibras passam por dutos e orifícios para posterior preenchimento dos
moldes. Já, para fibras longas ou tecidos, sua configuração geométrica impede sua
passagem por tais dutos e orifícios. Assim, a moldagem manual (também chamada
como laminação manual), é um método muito utilizado na conformação de compósitos
reforçados com fibras de vidro e tecidos.
A laminação manual envolve a aplicação de tecidos e a resina catalisada em
lâminas sobre um molde aberto. Antes da conformação, utiliza-se um desmoldante
aplicada diretamente sobre a placa de vidro para facilitar separação do produto final. As
fibras são colocadas sobre uma película de resina e depois molhadas com uma camada
de resina usando um pincel ou rolo de lã. Uma vez completamente molhadas, aplica-se
36
uma nova camada de fibras e então, espalha se outra camada de resina. Assim, através
deste método, é possível repetir o procedimento para obter espessuras desejadas
conforme os requisitos de desempenho mecânico. Com o auxilio de um rolete as bolhas
de ar são removidas, como também são eliminadas as más acomodações de fibra e
excesso de resina, promovendo assim, melhor homogeneidade consequente resistência
do produto final. Além do mais, através deste método é possível alternar a orientação
das diferentes camadas de fibras, no sentido longitudinal e transversal para obter
compósitos bi-direcionais e, portanto, obter propriedades mais isotrópicas
(CARVALHO, 2005; CERCHIARO, 2010). No entanto, as fibras longas podem causar
agrupamentos durante processamento resultando em áreas com concentrações maiores
de fibras ou em áreas com excesso de matriz provocando uma redução na eficiência do
compósito. Assim, os compósitos com fibras longas exigem cuidados durante o
processamento (RAZERA, 2006 e CARVALHO, 2005). Finalmente, este método, tem
se como principais vantagens, o baixo custo por não precisar altos investimentos para
compra de equipamentos caros e ainda não necessitar uma mão de obra qualificada,
ambos os quais são fatores determinantes para que a fabricação de peças e produtos
finais possa ser realizada nas regiões de produção de fibras naturais, regiões que
geralmente apresentam uma baixa índice de desenvolvimento, uma baixa nível de
escolaridade e fundos limitados.
A distribuição das fibras na matriz impõe grande influência nas propriedades dos
compósitos, principalmente quando se deseja obter compósitos com finalidade
estrutural (CARVALHO, 2005). As fibras contínuas podem ser reproduzidas em várias
formas geométricas, e quando entrelaçadas as opções de tecidos técnicos são diversas. O
arranjo das fibras depende do angulo entre os fios transversais e os fios longitudinais, o
espaçamento entre os arranjos, o numero de fibras para cada fio e a razão do numero de
fios em cada direção, (HULL E CLYNE, 2007). São três principais arranjos de tecidos,
sendo eles os tecidos tramados, os tecidos trançados e os tecidos tricotados conforme
apresentado em Figura 6.
37
! ! !
G/K! G8K! G1K!
!"#$%&'("))%*+,'%$'-./'012234
!567*-'2/'' Fonte: Gommers et al. (1998).
8**-#9"+':%'$%;5:"+'7*:5:"+0-4,'$*-#<-:"+0=4'%'$*5;"$-:"+0;4/'
Figura 6. Arranjos de tecidos a) tramados b) trançados e c) tricotados
38
Os tecidos unidirecionais utilizam arranjos de fios em uma única direção,
mantidos unidos na direção longitudinal por uma quantidade menor de fios transversais
(CARVALHO, 2005) e são utilizados em aplicações estruturais principalmente quando
as tensões aplicadas são conhecidas, onde é conveniente alinhar os fios na direção das
tensões garantindo assim, melhor otimização das propriedades das fibras. Neste arranjo,
os fios da trama são contornados ao redor o urdume numa formal sigmoidal, ou seja,
uma vez por baixo e uma vez por cima alternando assim por diante conforme Figura 8.
39
Cerchiaro (2010) desenvolveu um tecido com fibras de sisal para reforçar uma
matriz de poliéster termofixa utilizando o método de laminação manual, comparando
seu comportamento com compósitos de fibras de vidro. Com intuito de aumentar a
proporção de fibras no compósito e diminuir a presença de vazios encontrados em
trabalhos anteriores (Carvalho, 2005) e manter uma espessura uniforme, desenvolveu-se
um tecido unidirecional com um tear de pente, utilizando mechas (fios) de 15 fibras de
sisal na trama e linhas de algodão no urdume com 1cm de espaçamento entre uma e
outra. Teve-se como principal vantagem a possibilidade de obter comprimentos
infinitos, restritos apenas pelo tear manual. Os compósitos foram laminados com duas
camadas de resina poliéster e duas de tecidos de fibra deitados variando a orientação dos
tecidos em sentidos perpendiculares [0,90] para obter compósitos multidirecionais, em
duas laminas orientadas em direção paralela ao carregamento axial [0,0] para obter
compósitos unidirecionais e finalmente duas laminas perpendiculares [90,90]. Avaliou-
se o comportamento mecânico a tração e flexão no qual obteve-se melhor desempenho
com as duas laminas direcionadas paralelamente ao carregamento axial [0,0] que
apresentou uma resistência a tração de 25,05MPa e módulo de elasticidade de 2,71GPa.
Os compósitos com os dois tecidos perpedinculares ao carregamento apresentaram uma
resistência de 4,19MPa e módulo de elasticidade de 0,388GPa, valores inferiores aos do
polímero puro. Finalmente os compósitos com tecidos dispostos na orientação [0,90]
obteve-se uma resistência de 22,49 MPa e módulo de elasticidade de 2,06GPa. Os
compósitos reforçados com fibras de vidro apresentaram uma resistência 6 vezes maior
que os compósitos reforçados com fibras de sisal alinhadas paralelamente ao
carregamento [0,0]. O trabalho de Cerchiaro (2010) demonstrou a viabilidade da
substuição de fibras de vidro por fibras de sisal em compósitos com resina poliéster
confecionados pelo método de moldagem manual. Os compósitos reforçados com fibras
vidro apresentaram uma resistência média de 197,4 MPa e módulo de elasticidade de
16,3 GPa. Conclui-se ainda que a confeção dos tecidos unidirecionais de fibras de sisal
facilitou a fabricação dos compósitos, pois as fibras permanecem alinhadas e retas ao
longo do comprimento da trama permitindo melhor aproveitamento das propriedades
mecânicas. Finalmente, o resultante tecido apresenta uma epessura fina que permite a
fabricação de laminados compactos que possam ser moldados para se adequar as
necessidades geométircas dos moldes em peças mais complexas.
40
2.5. Poliésteres
41
Os termofixos são mais resistentes ao calor, ataques químicas, fatigue e
geralmente tem um desempenho mecânico mais elevado. Assim, geralmente se utiliza as
resinas termofixas reforçadas com fibras para componentes estruturais e os compósitos
termoplásticos para componentes não estruturais (PAIVA E FROLLINI, 2000; JOSEPH
et al. 2000; TANOBE et al. 2002; CALLISTER, 2002). Mais especificamente, as
resinas poliésteres insaturadas são tradicionalmente reforçadas com fibras de vidro
contínuas e têm aplicações em peças automotivas, cascos de barcos, paneis estruturais,
dutos, tanques, canos, equipamentos esportivos entre outros (PAIVA E FROLLINI,
2000; IRFAN, 1998). Por terem rápido ganho de resistência, resistência contra abrasão,
corrosão e calor, resistência química, e resistência de compressão e impacto, os
poliésteres instaurados são extremamente úteis na construção. Economicamente as
resinas poliésteres insaturadas têm um custo menor quando comparada com a resina
epóxi (IRFAN, 1998).
As propriedades de poliésteres são uma função da estrutura molecular e razão
dos ácidos e gliçol que depende do peso molecular (quantidade de átomos de carbono) e
tipo de grupo funcional e a distribuição das unidades repetidas, das ligações entre elas,
da cristalinidade (ordem entre as cadeias poliméricas) e da plasticidade (CALLISTER,
2002).
Finalmente os poliésteres insaturados são esteres complexos formados pela
condensação de um álcool (glicol) e um ácido formando assim o grupo ester (mero) que
se repete ao longo da cadeia principal. A depender do ácido utilizado as resinas
poliésteres podem ser ortoftálicas, tereftálicas, isoftálicas ou bisfenólicas entre outras.
A resina ortoftálica é a resina mais comum, e tem na sua composição o ácido ftálico ou
seu anidrido. Esta resina possui grande potencial para se adequar situações variadas e é
recomendada para usos em laminados reforçados com fibras de vidro desde que não seja
necessário uma grande resistência contra umidade ou ataques químicos (ELEKEIROZ
LTD; CERCHIARO, 2010). Assim, as resinas ortoftálicas têm menor custo e são usadas
em aplicações mais básicas e menos nobres. Figura 9 mostra uma estrutura típica de um
mero poliéster ortoftálica que apresenta características polares proporcionadas pela
presença de grupos carbonílas. Esta polaridade pode promover melhor compatibilidade
com fibras vegetais que são materiais de natureza polar.
42
Figura 9. Diagrama esquemático do grupo ester ligado aos grupos radicais
As fibras naturais são subdividas conforme sua origem e podem ser extraídas de
plantas, animais ou minerais. Entre estas, as fibras provenientes de plantas (fibras
vegetais) ganharam grande destaque como agentes de reforço principalmente em
compósitos com matrizes poliméricas. As características de fibras vegetais variam
substancialmente entre os diversos tipos de planta vegetal, entre a mesma espécie de
planta e ainda entre a mesma planta a depender da parte da planta em que as fibras são
extraídas. Outros fatores como a idade da planta, a época de colheita das fibras, e o tipo
e teor de umidade do solo em que a planta foi cultivada também exercem forte
influência nas propriedades das fibras vegetais (JOSEPH et al. 2000; ROWELL et al.
2008; MOHANTY et al. 2000).
A depender da planta, as fibras vegetais podem ser extraídas do caule, do fruto,
da folha ou da semente. Tabela 1 apresenta a classificação das fibras vegetais conforme
sua origem anatômica.
43
As fibras vegetais podem ser consideradas como materiais compósitos ocorrendo
naturalmente (JOHN E THOMAS, 2008), composto principalmente por
macromoléculas polares - celulose, lignina e hemicelulose. Uma fibra individual
(denominada de fibra técnica) é constituída por feixes de fibras celulares ou fibro-
células alinhadas ao longo do eixo principal da fibra técnica (RICL, 2010). Geralmente,
cada fibro-célula é composto por uma parede celular constituída por quatro paredes
cilíndricas também alinhadas no sentido longitudinal que são mantidas juntas por
lignina (Figura 10). Assim, a parede celular é composta por uma parede primária, três
paredes secundárias (a parede secundária (S1), a parede secundária (S2), e a parede
secundária (S3)) e o lúmen.
Fonte:
Figura 1. Estrutura de uma fibra vegetal. A imagem de MEV Silva
se refere et al (2009)
à fibra
Figura 10.Esquema da estrutura da fibro-célula
44
Cada parede cilíndrica é formada por microfibrilas formadas por cadeias compridas de
moléculas de celulose organizadas num arranjo espiral nas paredes secundárias e
organizadas numa rede desordenada na parede primária. Estas microfibrilas cristalinas
de celulose são conectadas por uma matriz amorfa de lignina e hemicelulose,
constituindo assim, os três principais compostos químicos estruturais de fibras vegetais.
A orientação das microfibrilas de celulose e a razão entre a celulose e a hemicelulose/
lignina vária entre as diferentes paredes cilíndricas e ainda se diferenciam a depender do
tipo de fibra vegetal (BLEDSKI E GASSAN, 1999).
O ângulo médio formado entre as microfibrilas e o eixo da fibro-célula é
conhecido como o ângulo espiral da célula e tem influencia nas propriedades mecânicas
de fibras vegetais. Segundo Ricl (2010), quanto menor o ângulo espiral, maior o
comprimento das microfibrilas e, portanto, maior será sua ordem cristalina.
A celulose é um polímero linear de glucano cuja cadeia comprida é formada por
unidades repetidas de D-glucopyranose (glicose) unidas por ligações 1,4-β-glucosídicas.
O grau de polimerização (GP) de celulose é definida pela quantidade de unidades de
glicose por cadeia de celulose. Para a celulose encontrada na natureza, (alfa celulose) o
GP é de aproximadamente 10.000. Cada unidade de repetição de glicose contém três
grupos hidroxílos (Figura 11). Estes grupos hidroxílos formam ligações de hidrogênio
com grande facilidade e assim exercem papel importante em direcionar o
empacotamento cristalino além de governar as propriedades físicas da celulose (JOHN
E THOMAS, 2008). A associação linear destas cadeias de celulose resulta na formação
de fios conhecidos como microfibrilas de celulose que compõem a unidade estrutural
básica da parede celular da planta. Estas microfibrilas possuem uma estrutura cristalina
com regiões cristalinas) ou “cristalitos” formadas por cadeias de celulose ordenadas e
regiões amorfas (cadeias compridas de celulose menos ordenadas). As microfibrilas
possuem espessuras de ordem 10 - 3nm e são indefinidamente compridas contendo 2 -
30.000 moléculas de celulose na seção transversal com um centro predominante
cristalino (EICHHORN et al. 2001). Ao se aumentar a densidade de empacotamento das
cadeias de celulose (microfibrilas) regiões mais cristalinas são formadas. A estrutura
cristalina de celulose natural e celulose regenerada é conhecido como celulose I e
celulose II respectivamente. Em celulose I as cadeias dentro da unidade celular são
paralelamente conformadas, enquanto na celulose II estas cadeias se encontram em
45
conformação anti-paralela. A celulose é o principal constituinte cristalino em fibras
vegetais. Assim a resistência mecânica de fibras vegetais é atribuída pela presença da
celulose (PAIVA E FROLLINI, 2000; JOSEPH et al. 2000; ROWELL et al. 2008;
MOHANTY et al. 2000). Celulose possui resistência contra alcalinos fortes, porém é
facilmente hidrolizada por ácidos em açucares solúveis em água. A celulose possui
baixa reatividade com anidridos (TSERKI et al. 2005.)
46
A holocelulose é um termo dado para a combinação dos polímeros de celulose e de
hemicelulose contando por 65-75% do peso da planta seca (PAIVA E FROLLINI, 2000;
JOSEPH et al. 2000; MOHANTY et al. 2000).
A lignina é um composto fenólico com estrutura tridimensional extremamente
complexa de anéis aromáticos e componentes alifáticos, resistente a degradação por ser
insolúvel na maioria dos solventes, possui diversos grupos funcionais como os grupos
hidroxilas, carbonílas, carboxílas, e metoxilas. As ligações entre as unidades de lignina
são predominadas por ligações éteres. Cada unidade de lignina pode conter com cinco
grupos hidroxílos e cinco grupos metoxílas (Figura 13). Este polímero possui elevado
peso molecular, é altamente ramificada e totalmente amorfo, encontrada principalmente
nas paredes secundárias da fibro-célula e entre as fibro-células. A lignina atua como
matriz aderindo a celulose e a hemicelulose. Sua capacidade como agente cimentício é
ampliada pela presença de ligações covalentes entre os constituintes da celulose e da
hemicelulose. A lignina é hidrofóbica e responsável pela rigidez de fibras vegetais
(PAIVA E FROLLINI, 2000; JOSEPH et al. 2000; ROWELL et al. 2008; MOHANTY
et al. 2000). A lignina é solúvel em alcalinos e facilmente oxidada, porém não
hidrolizada por ácidos.
47
Fibras vegetais também possuem pequenas quantidades de componentes não
estruturais como as pectinas, ceras e gorduras (não solúveis em água) que possam ser
extraídas com soluções orgânicas. Estes constituintes influenciam a molhabilidade, a
morfologia superficial, as características de adesão e a flexibilidade de fibras vegetais.
Assim, a estrutura, ângulo microfibrilar, as dimensões do fibro-célula, os
defeitos e a composição química são as variáveis mais importantes que determinam as
propriedades de fibras naturais. Acredita-se que a resistência mecânica e módulo de
elasticidade aumentam com conteúdo de celulose, e ainda, quanto menor o ângulo
espiral maior será a rigidez e resultante resistência mecânica.
Tabela 2 apresenta a composição química e o ângulo espiral de algumas fibras
vegetais comuns na literatura.
1) Ricl (2010); 2) Bledski e Gassan (1999); 3) Agrela (2009); 4) d’Almeida et al. (2006)
48
extensão de 969.589,4km2 (MIN, 2005 apud RICL, 2010) desde o norte de Minas
Gerais e Espírito Santo, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia (DRUMOND, 2007). O estado da Bahia possui quinze
gêneros entre as subfamílias Coryophoideae, Calanoideae e Arecoideae, e segundo
Drumond (2007) é o estado com maior concentração de licurizeiros.
O licuri se adapta bem as regiões secas, floresce e frutifica por um longo período
do ano. A longa tradição de utilizar as diversas partes do licuri continua fortemente
instalada nas regiões sertanejas sendo a principal fonte de renda dos habitantes da
caatinga. Utilizam-se a fruta para produção de óleos e sabão e sua amêndoa para
produção de cocadas, licores e leite além de ser usada em vários pratos típicos da
culinária nordestina (CREPALDI, 2004). A cera é extraída da folha para móveis, pintura
de automóveis, graxa para sapatos e na fabricação de papel carbono. Já, as folhas são
aproveitadas na produção de produtos utilitários e artesanatos como chapéus, sacolas,
cestas, esteiras e vassouras. As folhas trituradas são usadas como ração animal. Nas
construções rurais as folhas inteiras são usadas em coberturas, paredes e portas
(DRUMOND, 2007).
49
folha é composta de segmentos foliares unidos à raque, que chega até 3 metros de
comprimento. Cada segmento foliar possui uma nervura central e duas laminas pelas
laterais composto por duas camadas de células; a epiderme que é um tecido de
revestimento na parte externa superior (adaxial) e inferior (abaxial) e a hipoderme
(camadas internas). Ambas as epidermes são cobertas por uma camada cerosa mais
conhecida como a cutícula. Segundo Machado (1958) apud Ricl (2010), o feixe de
fibras é encontrado sob a hipoderme adaxial. O processo de extração das fibras técnicas
envolve primeiramente, remoção da nervura central de cada segmento foliar. As
epidermes das duas laminas resultantes são separadas (Figura 15), uma das quais
contém as fibras técnicas no sentido longitudinal e a outra lamina que não as possui é
dispensada. As fibras técnicas são extraídas por meio de desfibramento das epidermes
que foram separadas anteriormente e secas ao sol (RICL, 2010).
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Figura 15.Separação da epiderme
Imagens obtidas por Ricl (2010) usando o MEV apresentam a estrutura interna
da fibra técnica, a partir do qual estabeleceu-se uma nomenclatura para as fibras de
licuri. Figuras 16 a) e b) mostram o aspecto de uma fração de uma fibra técnica
composta por calotas contendo feixes de fibro-células agrupadas e unidas à epiderme.
50
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Figura 16.a) Calotas de fibro-célula, b) Fração de uma fibra técnica
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FONTE: Ricl (2010)
Figura 17. Aspecto do lúmen e da parede celular da fibro-célula do licuri.
Segundo Carvalho (2005), uma das grandes dificuldades nos estudos em fibras
naturais é o cálculo da área transversal da fibra técnica e as fibro-células. Apesar de não
apresentarem áreas circulares uniformes, considera-se que as fibras possuam seções
circulares, e assim, a largura é denominado como o “diâmetro equivalente”.
As paredes das células que compõem a epiderme contém cutina, um polímero
ceroso constituído de omega-hidroxi ácidos e seus derivativos, interligados por ligações
51
esteres, formando assim polímeros naturais. Logo abaixo da epiderme estão as células
parênquimas (mesofilo) posicionadas em sentido perpendicular as calotas contendo os
feixes de fibro-células, ou seja, no sentido perpendicular à fibra técnica, conforme
apresentada em Figura 18.
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Figura 18. Morfologia da fibra técnica no sentido longitudinal
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Figura 19.Morfologia da fibra técnica no sentido longitudinal
52
Após efetuar uma classificação das dimensões de comprimento e diâmetro, Ricl
(2010) conclui que as fibro-células do licuri são curtas com comprimento média (L) de
1,222 mm com diâmetro média do fibro-célula de 45,5 ± 6,2 µm, sendo então
classificadas como fibras possuindo grandes diâmetros quando comparadas com outras
fibras naturais. Ricl (2010) calculou o coeficiente de flexibilidade (0,27%) o que indica
uma fibra de parede celular espessa e lúmen com diâmetro pequeno. Assim, são
consideradas como uma fibra de menor flacidez com menor grau de achatamento e
fibras resistentes ao impacto. A fração parede alta (relação entre diâmetro da fibro-
célula, diâmetro do lúmen e espessura de parede celular) foi calculada de 72,92 a
78,8%, o que indica fibras de resistência mecânica elevada (RICL, 2010).
53
ramificações. Segundo Ricl (2010) plantas celulósicas podem conter com regiões de até
80% de cristalinidade. Logo, quanto maior a presença de constituintes amorfos como a
lignina e hemicelulose, menor será a cristalinidade da amostra. Figura 21 apresenta
uma difractograma para a celulose microcristalina. Fibras naturais podem apresentar
três picos distintos nos ângulos de Braga (2θ) aproximadamente iguais a 22,3°; 15,9° e
34,6°.
!
Fonte: MELO, 2007 apud RICL, 2010
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Figura 20.Difractograma de raios - X para celulose microcristalina
Segundo Spinacé et al. (2009) estes picos são características do cristal polimorfo da
celulose I. O pico à 2θ = 15,9 º corresponde ao plano cristalográfico (101) e (101’), o
pico à 2θ = 22,3º corresponde ao plano (002) e o pico à 2θ = 34,6º corresponde ao plano
cristalográfico (040) ou (023). Quanto mais a presença de constituintes amorfos (lignina
e hemicelulose), menos definido (mais grossa) e menos intensos os picos. Quando fibras
lignocelulósicas têm alto teor de celulose cristalina, alguns pesquisadores têm
observado dois picos bem definidos à 2θ = 15,2º e 2θ = 16,6º correspondendo aos
planos cristalográficos (101) e (101’) respectivamente (PICKERING et al. 2007) e
quando há uma presença maior de constituintes amorfos observa-se apenas um pico
entre um ângulo de Braag 2θ entre 15 e 16º. O índice de cristalinidade é dado pelo
método empírico proposto por Segal (Equação 5) abaixo (TSERKI et al. 2005;
BECKERMANN E PICKERING, 2009).
54
ðI 002 $ I am Þ Equação 5
CIð%Þ ¼ % 100
I 002
FIBRA Índice de
Nome Científico Fonte
Cristalinidade
Licuri Syagrus Coronata 66 [1]
Piaçava Attalea funifera 62 [2]
Cânhamo Cannabis sativa 79,9 [3]
Linho linum usitatissimum 86,1 [3]
Madeira 65,1 [3]
Sisal Agave sisilana 72,2 [4]
Coco Cocos nucifera 44 [5]
Banana Musa indica 55 [5]
Juta Corchorus capsularis 50 [5]
[1] Ricl (2011); [2] Miranda (2011); [3] Tserki et al. (2005); [4] Sydenstricker et al.
(2003); [5] Razera (2006)
55
Os átomos em materiais formam uma estrutura tridimensional com distancias de
ligação química e ângulos de ligação definidos e têm ainda, uma simetria molecular
determinada em estados de vibração normais e constantes. Uma vibração normal pode
ser na forma de estiramento de ligação, deformação angular e torção. Uma molécula
linear com N átomos apresenta 3N-6 vibrações normais (a soma de 3 translações e 3
rotações ao longo dos 3 eixos) e moléculas não lineares apresentam 3N-5 vibrações.
Esta técnica permite identificar as atividades destas vibrações, a estrutura molecular e a
simetria da molécula pelas bandas vibracionais. A maioria das frequências vibracionais
fundamentais ocorrem na região média entre 400-1800 cm-1 que é a região de impressão
digital do espectro de infravermelho e que corresponde as transições vibracionais entre
o nível de energia vibracional fundamental (v = 0) e o primeiro nível vibracional
excitado (v = 1) (CANAVAROLO, 2007).
O espectrômetro por transformada de Fourier (FTIR) possuí uma fonte de
radiação infravermelha, um interferômetro Michelson, um compartimento de amostra e
um detetor de radiação infravermelha. O interferômetro de Michelson é composto por
um divisor de feixes, um espelho fixo e um espelho móvel. A fonte IR emite a radiação
continua e quando incidir no divisor de feixes, cada radiação com comprimentos
determinados de onda é submetido aos fenômenos de interferência. Obtém-se um
interferograma completo quando o espelho móvel realizar o deslocamento total que
corresponde a uma varredura espectral. O FTIR recebe o interferograma e utiliza o
computador para efetuar a operação transformada de Fourier para obter o espectro IR,
mostrando o perfil espectral de intensidade versas numero de ondas. Ao deslocar o
espelho móvel, a intensidade de um determinado comprimento de onda é afetada pela
ocorrência dos fenômenos de interferência construtiva e destrutiva do interferômetro.
Assim, é sempre necessário obter um espectro natural de referência (sem amostra), para
fornecer informações do aparelho e do ambiente, pois o espectro do feixe único da
amostra conterá todas as informações da amostra mais as informações da referência. É
então necessário calcular a razão entre o espectro da amostra e a referência para obter o
espectro IR da amostra em (%T) ou absorvência versus número de ondas. Amostras
devem ser trituradas em pó com tamanho de partícula menor que 2µm para reduzir o
espalhamento da radiação IR (CANAVAROLO, 2007).
56
A interpretação de espectros das moléculas simples pode ser feita pela atribuição
das frequências vibracionais fundamentais com as vibrações normais da molécula,
através da analise das coordenadas normais. Os grupos funcionais típicos e o número de
onda com os possíveis compostos presentes em fibras vegetais estão listados na Tabela
4.
57
O-O na região 1270 cm-1 e C-O-(H) na região 1050cm-1. Segundo Yang (2007) a
celulose apresenta maior presença de absorções de OH e C-O, enquanto a hemicelulose
apresenta mais C=O compostos (Figura 21). Já a lignina parece ser rica em compostos
contendo metoxi-O-CH3, C-O-C e C = C na região 1830 - 730 cm-1.
Absorvância
Lignina
Celulose
Hemicelulose
Nº de Ondas (cm-1)
Fonte: Yang (2007)
Figura 21.Espectros dos três principais constituintes de fibras vegetais
58
temperatura num ambiente inerte ou na presença de ar, oxigênio ou hidrogênio e o
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) para medir a diferença de energia
fornecida ou retirada das amostra em relação á uma referência durante o processo de
decomposição.
Estudos anteriores mostram que a pirólise de biomassa pode ser dividida em
quatro fases distintas, sendo elas; a evaporação de umidade, a decomposição do
hemicelulose, a decomposição da celulose e finalmente a decomposição da lignina.
Estudos também mostram que a pirólise de qualquer biomassa pode ser considerada
como a superposição dos três principais constituintes (YANG et al. 2006). Cada um
destes principais constituintes apresentam um comportamento térmico distinto. A
hemicelulose começa se decompor facilmente, em temperaturas mais baixas, com maior
perda de massa entre as temperaturas de 220ºC e 315ºC. A temperatura em que ocorre a
maior taxa de perda de massa é de 268ºC, e mesmo em temperaturas de 900ºC a
hemicelulose apresenta uma massa residual de 20%. Segundo Yang et al. (2007) a
decomposição em baixas temperaturas está relacionada a estrutura amorfa da
hemicelulose, sendo rica em ramificações que são facilmente removidas da cadeia
principal. Já Deepa et al. (2011) atribui a baixa estabilidade térmica da hemicelulose à
presença de grupos acetis. Quando submetido a calor, a hemicelulose se - decompõe
num processo exotérmico que se acredita é provavelmente devido ao processo de
carbonização confirmada pela maior presença de resíduos em temperaturas acima de
900ºC (YANG et al. 2007).
Já a celulose começa a se decompor em temperaturas pouco mais elevadas, na
faixa de 315-400ºC. A taxa de perda de massa máxima ocorre na temperatura de 355ºC.
Em temperaturas acima de 400ºC Yang et al. (2007) observou que a celulose tinha se
pirolisada quase que completamente, com pouco resíduo sólido sobrando (6,5%) na
temperatura de 900ºC. Como visto, a celulose é um polímero composto por cadeias
longas de glicose sem ramificações, e possui uma estrutura forte e em boa ordem. Estes
fatores contribuem para sua alta estabilidade térmica. Diferente a hemicelulose e a
lignina, a celulose se decompõe num processo endotérmico. Segundo Yang et al. (2007)
a decomposição endotérmica é atribuída pelas reações de desvolatilização rápida,
resultando em poucos resíduos sólidos sobrando depois de ser submetida as
temperaturas acima de 600ºC. Segundo Martin et al. (2010) e Martins e Joekes (2003),
59
um quarto pico pode aparecer no gráfico da DTG numa temperatura de
aproximadamente 500ºC que está relacionado à degradação oxidativa dos resíduos
carbonizados da celulose.
Entre os três constituintes, a lignina é o constituinte que se decompõe com mais
dificuldade. A decomposição da lignina ocorre mais lentamente desde 100ºC até 900ºC
com uma taxa de perda de massa de 0,14 wt%/ºC. Após completar o processo de
pirólise, a lignina apresenta 45,7% de resíduos sólidos. Acredita-se que o processo lento
de degradação é atribuído pelas grandes quantidades de anéis aromáticos dentro da
estrutura molecular da lignina, que possui várias ramificações e diversas ligações
químicas que se rompem ao longo de uma faixa de temperatura ampla. Semelhante a
hemicelulose, a lignina se decompõe num processo exotérmico devido novamente ao
processo de carbonização resultando em maiores quantidades de resíduo sólido numa
temperatura de 900ºC (YANG et al. 2007). Figura 22 apresenta as curvas de
termogravimetria da hemicelulose, celulose e a lignina e sua derivada (DTG) e Figura
23 apresenta as curvas DSC mostrando o fluxo de calor em função de temperatura dos
três principais constituintes.
hemicellulose
hemicelulose 3.0
100 C)
celulose
cellulose
o
(wt.%/ºC)
lignina 2.5
(wt.%/
lignin
80
2.0
(wt.%)
massa
rate
60
%)
1.5
loss de
Mass(wt.
Taxa de perda
40
Massa
1.0
Mass
20 0.5
0 0.0
0 200 400 600 800
o
Temperatura (ºC)
Temperature ( C)
Fonte: Yang et al. (2007)
Figura 22.Curvas de pirólise de hemicelulose, celulose e lignina por TGA
60
1.0 hemicellulose
hemicelulose
cellulose
celulose Exotérmico
exothermal
0.5 lignin
lignina
DSC(µv/mg)
0.0
-0.5
endothermal
Endotérmico
-1.0
-1.5
Sisal 250
Piaçava 225
Lufa 250
Juta 282
Linho 330
Licuri 250
61
2.11. Propriedades Higroscópicas
62
Tabela 6: Principais componentes e relação com a umidade
63
Desorção do ponto de saturação
Absorção
64
A natureza sigmoidal das isotérmas tem sido analisada por diversos modelos
numéricos entre os quais se destacam o Hailwood Horrobin (H-H), o GAB (Gugenhein-
Anderson-de Boer), o BET (Brunauer, Emmet, Teller) e o PEK (Modelo Cinético
Exponencial Paralelo) (BESSADOK et al. 2008; HILL et al. 2009; 2010; 2011; XIE et
al. 2011). Estes modelos providenciam informações úteis para entender melhor a
interação entre as moléculas de água e os constituintes celulósicos (BESSADOK, 2008).
Uma característica comumente encontrada na literatura sobre fibras naturais e a
madeira é a histerese apresentada entre as curvas de absorção e desorção das isotérmas
e provém de materiais com alta microporosidade (HILL et al. 2009). O fenômeno de
histerese está relacionado à capacidade de deformação da matriz quando responde ao
ingresso e egresso de moléculas de água por dentro ou por fora do material (LU E
PIGNATELLO apud Xie et al. 2011). Quando a parede celular de uma fibra vegetal
absorve umidade a parede celular incha. As moléculas de água exercem pressão na
parede celular. Quando se remove a água, a parede celular retrata. Este processo de
retração se deve não apenas às forças capilares agindo na parede celular, mas também à
presença de lignina, o constituinte que confere a rigidez. Quanto menos elástico, maior
dificuldade as microcapilares teriam em expandir e retratar e maior a consequente
histerese. Assim, fibras ricas em lignina também apresentam maior laços de histerese
quando comparadas com fibras ricas em polissacarídeos. A rigidez poderia também ser
ligada a densidade de ligações cruzadas na matriz entre a lignina e hemicelulose. Há
uma discussão na literatura em relação ao fenômeno da histerese e sua causa que, a
depender do modelo numérico adotado, diferentes explicações foram atribuídas
(BESSADOK et al. 2008; HILL et al. 2009; 2010; 2011; XIE et al. 2011). Durante o
processo de absorção, o volume livre (espaço livre dentro da parede celular não ocupado
por macromoleculas ou micromoleculas) é maior quando comparado com o volume
livre durante o processo de desorção. Além do mais, a absorção de água para dentro de
um material ocorre quando a substância está inicialmente seca e prossegue a preencher
as microcapilares da parede celular em pequenos incrementos pelas camadas de água
absorvidas. Já a desorção ocorre a partir da meniscos da superfície da água nos
microcapilares da parede celular. Portanto, os dois processos acontecem em ambientes
físicos diferentes. Outro fato de se considerar que pode atribuir ao fenômeno de
histerese está relacionado as mudanças no ângulo de contato entre a água absorvida e
65
superfície interna do material, uma vez que no processo de desorção as superfícies já
estariam molhadas. Pode se considerar ainda, que a absorção está associada com uma
expansão das superfícies da matrix devido à inchação que resulta na exposição de novos
sítios de grupos OH acessíveis. Já a desorção ocorre numa matriz anteriormente enchida
com os grupos OH já associados com as moléculas de água.
Um método preciso de analisar o comportamento de sorção de fibras vegetais é
por meio de um aparelho de sorção de vapor dinâmico, DVS (Dynamic Vapor Sorption
Apparatus, Surface measurement Systems Ltd, London, United Kingdom). Este método
determina as isotérmas em temperaturas diferentes ao longo de várias faixas de umidade
relativa predeterminadas e produz dados altamente reproduzíveis (Xie, 2009). Assim, o
comportamento de sorção de vapor de água é determinado em função de temperatura,
umidade relativa do ambiente e tempo. O aparelho consiste em duas panelas de medição
(uma para a referência e outra para a amostra) suspendidas por arames dos braços de um
microbalança ultra sensível Chan que é capaz de medir mudanças em massa até uma
parte em dez milhões. A porta amostra, a porta referência e o microbalança estão
localizados dentro de uma câmara que fica num gabinete controlado por um termostato.
Passa - se um fluxo de nitrogênio contendo uma quantidade predeterminada de vapor de
água pela câmara para manter a umidade relativa determinada constante.
Cada corrida começa a uma umidade relativa (RH) igual a 0% e aumenta com
incrementos de 5% até uma umidade relativa máxima de 95% e depois volta no sentido
reverso em incrementos de 5% para 0% (RH) novamente. O instrumento mantém a
amostra a uma determinada RH constante até a amostra estabelecer o teor de umidade
de equilíbrio (EMC) (HILL et al. 2009). Como critério, define - se este ponto quando a
mudança na massa por minuto (dm/dt) da amostra atinge 0.002% e mantém-se neste
valor por 10 minutos. A partir deste momento, o aparelho automaticamente aumenta a
umidade relativa para o próxima degrau. Dados são recordados a cada 20 segundos. O
aparelho utiliza sondas localizadas em proximidade a porta amostra e a panela contendo
a referência para medir a umidade relativa e a temperatura da câmara, fornecendo
medidas diretas destes parâmetros. O teor de umidade é calculado pelo aparelho DVS
que está conectado a um computador utilizando Equação (6) abaixo, onde MC é o teor
de umidade, m1 é a massa da amostra seca e m2 é a massa da amostra na umidade de
equilíbrio numa determinada umidade relativa.
66
m2 " m1 Equação 6
MC ¼ # 100
m1
m "m
Figura 25 apresenta uma isotérma típica fornecida pelo aparelho DVS que mostra a
variação de teor de umidade da amostra (MC) em função de umidade relativa do
ambiente (RH) e tempo.
Tempo (minutos)
67
Onde
- MC - Teor de umidade da amostra depois de um tempo (t) de exposição a uma
umidade relativa de ambiente (RH) constante
- MC0 - teor de umidade da amostra a tempo zero
Este modelo é composto por dois termos exponenciais que representam um processo
rápido MC1 [1 - exp-t/t1] e um processo lento MC2 [1 - exp -t/t2] tendo tempos
característicos t1, e t2 respectivamente. Os termos MC1, MC2 são os teores de umidade a
um tempo infinito associados com o processo rápido e lento respectivamente.
Para analisar os cinéticos do processo de sorção das fibras até alcançar o teor de
umidade de equilíbrio, curvas individuais são obtidas para cada incremento de umidade
relativa (RH). Assim, curvas são traçadas com teor de umidade (MC) versus tempo para
uma dada umidade relativa (RH) conforme mostrado em Figura 26. Tempo zero
corresponde ao ponto em que a mudança no incremento de umidade relativa (RH)
ocorre. Como a mudança na umidade relativa no aparelho não ocorre instantaneamente
os primeiros três dados são removidos. Os dados das curvas cinéticas são então
ajustados com o modelo PEK (Equação 7) utilizando a função “Expassoc” no software
Origin, (Original, Northampton, MA, USA), e os parâmetros PEK: MC0, MC1, MC2, t1,
e t2 são determinados.
Umidade Relativa (%)
Umidade Relativa
Teor de Umidade
Tempo (Minutos)
Fonte: Hill et al. (2009)
Figura 26. Teor de umidade em função de tempo para um dado RH constante
68
Ao somar o teor de umidade no tempo zero (MC0) com o teor de umidade relacionado
com o processo rápido (MC1) e processo lento (MC2), é possível determinar o teor de
umidade de equilíbrio teórico num dado umidade relativa conforme Equação 8, e
isotérmas teóricas podem ser reproduzidas.
EMCsMC0qMC1qMC2 Equação 8
69
celulose cristalina, baixo teor de polissacarídeos amorfos (hemicelulose) e zero
conteúdo fenólico (constituintes como a lignina). A acessibilidade dos grupos OH é
baixo é assim, explica os baixos teores de umidade. Outros estudos mostram que o
tempo de corrida da isotérma (começando numa umidade relativa atmosfera de 0% indo
até 95% e voltando novamente para 0%) é maior para fibras que possuem maior teor de
lignina (XIE et al. 2010).
70
filamentos seguido de um reajuste da fibra técnica para as tensões aplicadas durante
carregamento. Já fibras de piaçava, coco e abacaxi apresentam uma curva com região
visco - elástica (SYMINGTON et al. 2007; MIRANDA, 2011; AQUINO et al. 2003;
RICL, 2010). Figura 27 apresenta as curvas de tensão - deformação de algumas fibras
na literatura (SYMINGTON et al. 2009).
500
400
300
Jute: E-28 GPa (+/- 8.3)
Juta
Lit: E-19.3 GPa (+7.5/-12.5)
200
100
Coco
Coir: E–2.66 GPa (+/- 1.76)
Lit: E-4.15 GPa (+/- 1.85/-1.35)
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
A relação linear entre a tensão (σ) e deformação específica (ε), é dada pela lei de
Hooke (GARCIA, 2001). O tangente (σ/ε) ou “módulo de elasticidade”, fornece uma
indicação da rigidez do material e depende principalmente das forças de ligação entre os
átomos. Em fibras vegetais a lignina é o principal constituinte que lhes confere rigidez.
Quanto maior o módulo de elasticidade, menor a deformação elástica. Na região
plástica, as deformações são permanentes e irreversíveis.
Durante o processo de carregamento, as deformações induzem aumentos no
nível de energia do material. Esta energia absorvida pelo material conhecido como
“energia de deformação” ou “trabalho interno” é igual ao trabalho externo realizado
pela carga durante o processo de carregamento que é calculado pelo produto da força
aplicada pelo deslocamento (GERE, 2001). O cálculo presuma que não haja perda ou
ganho de energia externa na forma de calor. Calcula-se a energia de deformação das
71
fibras durante o ensaio de tração até ruptura somando a derivada (dF/dδ) de cada ponto
na curva conforme Equação 9 abaixo onde δ - deformação e F - força aplicada.
δ
(J) Equação 9
U = W =∫ 0 F.dδ
72
Tabela 7: Propriedades físicas e mecânicas de algumas fibras naturais e sintéticas.
Deformação
FIBRA Densidade Resistência E
específica à Fonte
(g/cm3) MPa GPa
Ruptura
Piaçava 1,05 135 ± 38 6,1 3,4 [1]
Curauá 81 - 315 5-8 2-4 [2]
Juta 1,3 393 - 773 13 1,5 - 1,6 [3]
Sisal 1,5 350 ± 7 12,8 6-7 [4]
Banana 1,35 550 ± 6,7 20 5-6 [4]
Abacaxi 1,53 413 ± 8 4,2 3-4 [4]
Linho 1,5 345 - 1035 27,6 2,7 - 3,2 [5]
Juta 1,3 393 - 773 26,5 1,5 - 1,8
Coco 1,2 175 27,6 30
Algodão 1,5-1,6 287 - 597 5,5 -12,6 7-8 [5]
Vidro 2,5 2500 ± 8 56 - 72 3-4 [5]
Carbono 1,4 4000 230 - 240 1,4 -1,8 [4]
Licuri 1,46 544,3 ± 292,3 8,4 ± 3,4 3,3 ± 0,8 [6]
(1) Miranda, 2011, (2) Spinacé et al. 2008, (3) Bledski e Gassan, 1999, (4) Idicula et al. 2006, (5)
Eichhorn et al. (2001), (6) Ricl, 2010.
73
As ligações mecânicas incluem os efeitos de ancoragem e atrito devido às
irregularidades nas superfícies. Quanto maior a rugosidade da superfície, maior será a
área de contato e maior será a eficiência da ligação. Dificilmente encontra-se este tipo
de ligação funcionando isoladamente, pois em geral necessita-se de outro mecanismo
para complementar.
As ligações físicas são provocadas pelas interações físicas entre as moléculas dos
diferentes materiais, bem como as ligações secundárias (Van der Waals). Estas ligações
são decorrentes as interações entre as moléculas polares e as ligações de hidrogênio
que ocorrem quando uma superfície carregada eletricamente positivamente se uni com
outra carregada eletricamente negativamente, causando assim uma atração eletrostática
entre elas. Estas interações ocorrem em curtas distancias de ordem atômica.
As ligações químicas envolvem uniões formadas por reações entre os átomos das
moléculas que constitui a estrutura básica do material, bem como as ligações covalentes
e iônicas. Estas ligações são as mais fortes e assim necessitam uma energia maior para
serem rompidas. Portanto, uma ligação química na região interfacial num compósito é
formada entre um grupo químico da superfície do reforço com um grupo química da
superfície da matriz. As ligações químicas podem ser provocadas pelo uso de um agente
de acoplamento (MATEUS, 1995 apud RAZERA, 2006).
As ligações em geral são susceptíveis a mudanças durante as várias etapas da
produção dos compósitos e ainda durante sua vida útil. As ligações podem variar entre
os diferentes sistemas de fibra e matriz e são influenciadas pela presença de
contaminantes sólidos e gasosos (RAZERA, 2006).
74
Entretanto, como o ensaio utiliza fibras técnicas individuais, o processo de fratura não
reflete a fratura do compósito, mas sim, oferece uma indicação sobre a adesão
interfacial entre fibras naturais e compósitos. Figura 28 apresenta uma curva típica de
força versus deslocamento, onde são identificados três componentes distintos
correspondendo as diferentes etapas durante o processo de pull-out. A letra F se refere à
forca aplicada, Fd a força crítica marcando o início de descolamento ou “fibre
debonding” e Fmax corresponde a carga máxima. Durante a primeira etapa
(carregamentos entre 0 e Fd) a curva representa o comportamento linear - elástico do
sistema fibra - matriz quando a interface fibra - matriz ainda se encontra unida.
Descolamento
Início da trinca
Região linear-elástica
FORÇA
Deslizamento
DESLOCAMENTO
Fonte: Li et al. (2009)
Figura 28.Curva típica de força versus deslocamento para o ensaio de pull-out.
Durante a segunda etapa após descolagem inicial, a descolagem ocorre por meio de
propagação de uma trinca ao longo do comprimento da fibra embutida (carregamentos
entre Fd e Fmax). A carga aplicada continua aumentando devido à adesão restando da
parte intacta da interface e a presença de forças friccionais entre a fibra e a matriz. Após,
a carga máxima (Fmax), a propagação da trinca se torna instável e a fibra inteira se
descola completamente. A terceira etapa ocorre após descolagem completa e a carga
restante se deve as interações friccionais entre a fibra e matriz (Fb). A fibra é deslocada
até arrancamento total. Calcula-se a tensão de aderência (τ) através de Equação (10),
onde D é o diâmetro da fibra e L é o comprimento de fibra embutida (LI et al. 2009).
75
O ensaio de pull-out permite calcular o comprimento crítico do sistema fibra -
matriz sob analise por meio de Equação 3 anteriormente descrita. Espera-se que na
medida em que se aumentar o comprimento embutida da fibra os respectivos valores da
resistência interfacial de cisalhamento vão se aproximando a resistência da fibra. Assim,
ao se traçar as médias da força máxima onde ocorre o início do descolamento interfacial
(para cada amostra contendo comprimentos embutidos iguais), a força de descolamento
irá chegar num patamar a partir do qual se determina o comprimento crítico. Ao
carregar as fibras longitudinalmente, a distribuição das tensões ao longo da fibra não é
linear. Assim, as tensões de cisalhamento são maiores nas extremidades e mínimo no
meio. Portanto, é importante utilizar as fibras com comprimentos maiores que seu
comprimento mínimo para melhor aproveitamento da propriedades mecânicas das
fibras. Cerchiaro (2010) efetuou ensaios de arrancamento usando uma fibra individual
de sisal inserida num bloco de resina poliéster, cujas medidas foram determinadas em
função das garras da máquina de ensaio. Selecionou-se as maiores fibras com um
diâmetro médio de 0,066 mm2 ± 0,005. Ensaiou-se inicialmente corpos de prova com
um comprimento embutido de 10mm e reduzindo o comprimento em incrementos de
1mm. Para fibras embutidas entre 4 e 6mm, em 80% dos ensaios ocorreu arrancamento
da fibra, obtendo uma tensão de aderência média de 2,47 ± 1,22 MPa. Tabela 8
apresenta o comprimento crítico de algumas fibras inseridas em diferentes matrizes e a
tensão de aderência.
76
2.15. Tratamentos Superficiais
77
consequentemente, o coeficiente de forma (L/D), além de provocar mudanças na
densidade, molhabilidade, energia superficial, porosidade e polaridade, resultando em
ligações mecânicas e físicas superiores. Exemplos de métodos físicos são: estiramento,
tratamento térmico, corona e mercerização (BLEDSKI e GASSAN, 1999). As
modificações químicas podem ativar os grupos hidroxílas advindas da celulose e
hemicelulose e os sítios de instauração da lignina, ou introduzir novos meios que podem
ancorar efetivamente com a matriz, resultando em reações locais na zona interfacial
(ROWELL et al. 1997; JOSEPH et al. 2000; LI et al. 2000; MOHANTY et al. 2000;
BLEDSKI e GASSAN, 1999). Figura 29 mostra os efeitos provocados pelas
modificações físicas e químicas.
G4X.05%1]#
#
#
/0(-%#
/0(-%#
# c'20/05%>?'#/X105%#
#
#
# .%,-0F#
.%,-0F#
#
#
#
/0(-%# c'20/05%>?'#
# G4X.05%# /0(-%#
#
#
.%,-0F# .%,-0F##
#
FONTE: Joseph
^PY$_Q#`aRabKLLI#et et al.
al+#"***# (2000)
Figura 29.Modelo esquemático de modificação de fibras.
78
rugosidade provocando uma ancoragem mecânica superior. A mercerização pode
desagregar as fibro-células uma a outra, também conhecido como fibrilização axial. A
fibrilização resulta em fibras com diâmetros menores e assim aumenta a coeficiente de
forma e a área superficial das fibras para posterior molhamento pela matriz
(OLIVEIRA, 2008). Por ser solúvel em alcalinos, a mercerização pode remover parte da
hemicelulose. Vários pesquisadores têm registrados a remoção do hemicelulose e
remoção parcial da lignina, que podem influir na resistência mecânica (RICL, 2010;
JOSEPH et al. 2000; LI et al. 2000; PAIVA, 2000; D’ALMEIDA et al. 2006). Segundo
Bledski e Gassan (1999), quando a hemicelulose é removida, a região interfibrilar se
torna mais densa e menos rígida, o que facilita o rearranjo das microfibrilas de celulose
ao longo do eixo longitudinal e paralela ao carregamento axial. Assim, quando uma
fibra vegetal é estirada, o ângulo espiral das microfibrilas de celulose diminui,
resultando em melhor compartilhamento de carga, um desenvolvimento superior de
tensões ao longo da fibra e assim, maior módulo de elasticidade. A lignina é pouco
sensível a mercerização, mas ao se remover parte da lignina, se espera que a lamela do
meio entre as fibro-células se torna mais plástica e homogêneo devido à eliminação dos
microvazios. A mercerização pode aumentar o índice de cristalinidade que se deve
principalmente pela remoção dos constituintes cimentícios (a lignina e a hemicelulose)
resultando em melhor empacotamento das microfibrilas cristalinos de celulose (RICL,
2010; SYDENSTRICKER et al. 2002; TANOBE et al. 2002; e BLEDSKI E GASSAN,
1999). Segundo Rodriguez et al. (2007) a mercerização pode provocar aumentos na
densidade devido ao consequente colapso da estrutura celular, e ainda aumenta o
número de grupos hidroxílos livres na superfície, favorecendo a adesão resinas de
poliéster e vinil-esteres. A mercerização pode favorecer a formação de novas ligações
de hidrogênio entre as cadeias de celulose devido a remoção parcial do hemicelulose
que comumente separa estas cadeias. No entanto, tratamentos mais intensos podem
produzir inchação e ainda reduzir as propriedades mecânicas (RODRIGUEZ et al. 2007
e RICL, 2010). Ao se remover a hemicelulose que é o principal constituinte responsável
pela sorção de umidade, alguns pesquisadores tem registrados uma redução nas
propriedades higroscópicas das fibras (SYMINGTON et al. 2009).
Segundo Ricl (2010) e Oliveira (2008) o tratamento alcalino pode provocar
modificações químicas através de reações do tipo ácido/base entre o elemento sódio do
79
NaOH e os grupos OH presentes na superfície de fibras lignocelulósicas formando a
celulose sódica (Figura 30) que se deve ao fato que a maioria dos grupos OH são
hidroxilas alcoólicas (ácidos fracos). Otimização do tratamento resulta em propriedades
mecânicas melhores e diminui as características higroscópicas das fibras (BLEDSKI, E
GASSAN, 1999).
OPQ>%%
f/ f- f/
/0 / 0 /01%
f/ f- f/
+ 1%/0
/0 / 0 /01%
80
expondo as fibro-células. Spinacé et al. (2009) registraram uma redução nas
propriedades mecânicas das fibras de curauá, aumentos na hidrofobicidade além de uma
superfície mais rugosa após o tratamento.
Os agentes de acoplamento (silanos e os derivados) são utilizados com
frequência quando dois materiais são incompatíveis. Por introduzir um terceiro material,
com propriedades intermediárias, utilizando os mecanismos de agentes de acoplamento
é possível aumentar a compatibilidade entre dois materiais (BLEDSKI E GASSAN,
1999). Os silanos são moleculares bi-funcionais, pelo qual, um grupo reage com os
grupos funcionais presentes na parede célula das fibras enquanto o segundo pode
interagir com a matriz. Portanto estes agentes podem interagir quimicamente ou
fisicamente entre os dois constituintes do compósito resultando em ligações covalentes.
Por terem grupos reativos alquilas, os silanos podem também acoplar quimicamente as
duas fases por promover ligações secundárias como Van der Waals (CARVALHO, 2005;
JOSEPH et al. 2000; LI et al. 2000; MOHANTY et al. 2000; TONOBE et al. 2002).
O acetilação é um método de modificação superficial bastante atraente para
redução das propriedades higroscópicas, sendo uma das reações mais estudadas em
materiais lignocelulósicos. Segundo Zafeiropoulos et al. (2002) a celulose acetato foi
descoberta em 1865 e produtos de celulose parcialmente acetilados foram
comercializados como as fibras de ceda acetedas (acetate rayon fibres) e plásticos de
celulose acetada no início de século XX. O princípio deste método envolve a reação dos
grupos hidroxílas (OH) das fibras com grupos acetílos (CH3CO-). A reação resulta na
esterificação completa dos três hidroxílas do anidrido-D-glicose quando efetuado na
fase homogênea (quando a celulose é dissolvida), porém no caso de fibras vegetais e
madeira que são mateiras heterogêneos, produtos podem ser não uniformes.
Normalmente se utiliza primeiro um solvente como benzeno ou ácido acético glacial
que tem função de inchacar as fibras para melhorar a acessibilidade dos grupos OH para
posterior reação com o anidrido acético ou acéticloro (ZAFEIROPOULOS et al. 2002).
A reação é comumente catalisada por bases ou ácidos invés de calor, como pirídeo,
ácido sulfúrico, potássio ou acetato de sódio. Porém, a maioria podem causar hidrólise
da celulose resultando na danificação das fibras, além de serem tóxicos. Geralmente os
grupos hidroxílas das fibras que reagem com o reagente são pertinentes à lignina, a
hemicelulose e a celulose amorfa, pois os grupos hidroxílas nas regiões cristalinas são
81
intimamente empacotadas e unidos por ligações de hidrogênio que impedem a difusão
do reagente e assim não são acessíveis pela reagente (ZAFEIROPOULOS et al. 2002;
TSERKI et al. 2005). Além de acelerar a reação, o catalisador pode melhorar o acesso
dos grupos acetilas aos grupos hidroxílos. Sem o uso de um solvente, o ácido tem
acesso a apenas alguns dos grupos hidroxílas na parede celular. Figura 31 mostra uma
possível reação entre as fibras naturais e o reagente com acetilação.
O
100°C / 3h. O
C CH3
Fibre OH + Fibre O C CH3
O
C CH3
+ CH3COOH
O
82
inicial e para melhor expor os grupos funcionais com os grupos OH. Assim, o
tratamento alcalino aumenta a rugosidade e a quantidade de celulose exposta na
superfície, aumentando o número possível de pontos de reação com o silano (ou outro
agente de acoplamento) que fará a ponte de aderência entre as fibras e a matriz.
83
da celulose ocorre primeiramente nas regiões amorfas e prossegue em taxas diferentes.
O reagente ataca as extremidades das cadeias nas superfícies dos cristalitos pois não
consegue entrar nas regiões cristalinas, que resulta na abertura de algumas cadeias
celulósicas unidas por ligações de hidrogênio. Como consequência, novas regiões
amorfas são formadas. O reagente propaga por dentro das novas regiões amorfas
produzindo então mais regiões amorfas e assim por diante.
Spinacé et al. (2009) investigou os efeitos de tratamentos com água quente
(80ºC para 1hora), hipoclorito de sódio (ácido) e plasma de oxigênio na cristalinidade
de fibras de curauá. O tratamento com água quente e ácido aumentaram o índice de
cristalinidade por 28% e 29% respectivamente enquanto o tratamento com plasma de
oxigênio diminuiu-lo. O aumento na cristalinidade foi consequência da remoção parcial
dos constituintes amorfos, e possível rearranjo das regiões cristalinas (microfibrilas de
celulose) numa forma mais cristalina.
84
Taha (2007) registrou resultados semelhantes ao estudar os efeitos de
mercerização em diferentes concentrações sobre fibras de tamareira. Observou-se
aumentos nos picos a 3360 cm-1 conforme aumenta a intensidade de tratamento. Estes
picos são referentes a vibração de estiramento dos grupos O-H. Atribuiu-se o aumento
no grupos OH devido a quebra das ligações de hidrogênio nos grupos hidroxílos da
celulose. O desaparecimento dos picos em 1730 cm-1 (correspondendo a vibração de
estiramento do C=O do ácido carboxílicos e/ou grupos esteres encontrados em ácidos
graxos) confirmaram a remoção das impurezas superficiais que também resulta na
maior exposição dos grupos hidroxílas envolvidos na estrutura celulósica da fibra. Desta
forma, foi indicado que o tratamento alcalino é um processo de de-esterificação. Picos a
1380 cm-1 correspondendo os componentes da lignina reduziram ligeiramente. Picos a
1660 cm-1 correspondendo água absorvida se tornou mais distinto conforme aumentar
tempo e intensidade de mercerização, confirmando assim maior conteúdo de grupos
hidroxílos livres e prontos para reagir.
O acetilação é um processo que envolve a reação de esterificação em que os
grupos hidroxílos são substituídos por grupos acetílos pela formação de ligações esteres.
Este processo é altamente afetado por tempo de reação. Assim, o conteúdo de grupos
esteres aumenta conforme tempo de reação até chegar num patamar. Segundo Tserki
(2005), este patamar depende do tipo de material lignocelulósico. Para fibras de linho e
cânhamo este patamar é alcançado num tempo de aproximadamente 120 minutos. Já
para fibras de madeira o tempo é maior. Segundo Tserki (2005), o conteúdo de grupos
esteres aumenta por 100% entre um tempo de reação de 30 minutos e 120 minutos, pois
quanto maior o tempo de reação, mais inchadas as fibras se tornam, e assim, mais
acessíveis os sítios de reação ficam. Acima de 120 minutos não houve mais aumentos
no conteúdo de grupos esteres. A reatividade do acético anidrido é maior com a lignina,
e então o hemicelulose e finalmente a celulose. Grupos funcionais esteres (C=C-COOO-
R) absorvem na região de 1750-1720 cm-1 (IBRAHIM et al. 2010). Assim, confirmação
do processo de esterificação das fibras é atribuído pela presença de bandas na
1750-1720 cm-1. Na medida em que o tempo de reação prossegue, o conteúdo dos
grupos acéticos aumenta, e assim, é revelada pelo aumento na intensidade do pico a
1740 cm-1.(CYRAS et al. 2009). Alguns pesquisadores calculam a razão entre as
85
intensidades dos picos à 1740 cm-1. (C=O) e a 1430 cm-1 (CH2) para confirmar a
eficiência do processo de acetilação (CYRAS et al. 2009).
86
estabilidade térmica. O pico devido a degradação durante carbonização desaparece
confirmando que as fibras acetiladas são degradadas pela volatilização e não contribuem
para a formação de cinzas.
Tratamentos com água quente, hipoclorito de sódio e plasma de oxigênio não
mudaram a estabilidade térmica de fibras de curauá, embora o tratamento com água
quente aumentou a temperatura de degradação do pico máximo por 10ºC no DTA
referente a degradação da celulose.
87
Portanto, os grupos hidroxílas responsáveis pela natureza hidrófila das fibras são
substituídas deixando a parede celular mais hidrofóbica.
Martins e Joekes (2003) comparou os efeitos de tratamentos de mercerização e
acetilação sobre as propriedades higroscópicas de fibras de sisal. O tratamento alcalino
aumentou ligeiramente o teor de umidade das fibras enquanto a presença de umidade
nas fibras com tratamento conjunto de mercerização e acetilação foi reduzida
substancialmente quando comparadas com as fibras in natura e mercerizadas.
Taha et al. (2007) efetuou estudos sobre o comportamento de absorção de
umidade em fibras de tamareira segundo diferentes tratamentos alcalinos, registrando
que a mercerização não provocou mudanças significativas.
Spinacé et al. (2009) investigou as propriedades higroscópicas de fibras de curauá
segundo tratamentos com água quente (80ºC), hipoclorito de sódio e plasma de
oxigênio. Todos os tratamentos diminuíram a presença de umidade nas fibras quando
comparadas com as fibras in natura.
Tserki et al. (2005) investigou os efeitos de acetilação em fibras de linho,
cânhamo e madeira. O teor de umidade de equilíbrio foi reduzido em todas as fibras
devido ao tratamento. Observou-se que a eficiência dos tratamentos em reduzir a
presença de umidade seguiu uma tendência conforme aumentar tempo de reação do
tratamento.
Bledski e Gassan (1999) registrou uma redução no teor de umidade de equilíbrio
de fibras quando aumentou o conteúdo dos grupos acetílas, notando que a adição de
anidrido acético pode, além de reduzir a quantidade de grupos hidroxílas, introduzir
grupos mais volumosos na cadeia principal da fibras, resultando no impedimento de
movimento entre as cadeias poliméricas da celulose, e assim, aumenta a rigidez das
fibras (Cyras et al. 2004).
Resultados citados por Bessadok et al. (2008) utilizando anidrido acético
mostraram a redução na energia de superfície e aumentos na hidrofobicidade das fibras.
Entretanto, Bledski e Gasssan (1999) registrou que a acetilação aumentou a energia
superficial por 40% quando comparadas com as amostras tratadas termicamente.
Estudos efetuados por Rowell (1995) sobre os efeitos de intensidade de acetilação
sobre o teor de umidade de equilíbrio em várias fibras vegetais, mostram que na medida
em que se aumenta o tempo de reação, há uma consequente redução na presença de
88
umidade. Além do mais, como visto, a reação durante acetilação envolve na maioria, os
grupos hidroxílos pertinentes a lignina e hemicelulose. Desta forma, acredita-se que o
controle da sensibilidade a umidade ocorre pela lignina e hemicelulose na parede
celular, e assim, não reduz o processo de sorção de umidade pela celulose.
! !
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Fonte: RICL (2010)
Figura 32.Fibro-células da fibra de licuri tratada com 0,75% NaOH (24horas)
89
Silva et al. (2009) comparou a morfologia superficial entre fibras de sisal in
natura com fibras mercerizadas. Observou-se que o tratamento alcalino removeu as
células parênquimas que se encontravam envolta às fibras in natura além dos resíduos
aderidos as fibras, deixando a superfície mais limpa e expondo as fibro-células.
Pickering et al. (2007) comparou a superfície de fibras de cânhamo in natura com
fibras mercerizadas. A mercerização reduziu o diâmetro das fibras, removeu parte dos
polissacarídeos da lignina, pectinas e hemicelulose deixando as fibras mais limpas e
rigosas.
Cyras et al. (2003) estudou os efeitos de mercerização e acetilação sobre a
morfologia superficial de fibras de sisal, onde a mercerização provocou colapso da
estrutura celular das fibras. Já acetilação deixou a fibras com um aspecto morfológico
plastificado, atribuído pela incorporação dos grupos acetílos nas fibro-células. Ambos
os tratamentos reduziram o diâmetro das fibras.
Tserki et al. (2005) também observou que a superfície das fibras acetiladas obteve
um aspecto mais liso quando comparado com o grupo controle, que foi atribuído pela
remoção das substâncias cerosas e a substituição dos grupos hidroxílos por grupos
acetílos.
Estudos efetuados por Zafeiropoulos et al. (2002) da morfologia superficial de
fibras de linho in natura e acetiladas mostram que o tratamento removeu
completamente a camada cerosa por decascação deixando a superfície mais lisa. Num
estudo semelhante, Martins e Joekes (2002) registrou a remoção das células
parênquimas pela mercerização e observou a formação de uma camada de acetato de
celulose na superfície de fibras de sisal após o tratamento com mercerização seguido
por acetilação devido ao incorporação de grupos acetílos durante a reação.
90
2.15.6.Propriedades Mecânicas de fibras vegetais
91
uma rede de lignina-celulose com resistência elevado. Afirmou-se que o tratamento
alcalino reduz o ângulo espiral das microfibrilas de celulose que aumenta como
consequência a resistência, e ainda causa fibrilização das fibras em fibras com maior
coeficiente de aspecto, com fibras de menor diâmetro. Fibras in natura possuem
hemicelulose dispersa na região interfibrilar que ajudam separar as fibro-células uma da
outra, deixando - as sempre em estado de tensão. Assim, quando se remove o
hemicelulose com a mercerização, as tensões internas são libertadas e as fibro-células se
tornam mais capazes de serem compactadas mais intimamente. Já a redução da
resistência provocada pelos tratamentos mais intensos poderia ser decorrente a criação
de vazios dentro da estrutura da fibra acompanhado por inchação, devido a dissolução
dos componentes em meios alcalinos, resultando numa queda na densidade linear e as
propriedades mecânicas. A remoção dos constituintes amorfos, deixa a estrutura
cristalina mais lábil e assim, aumenta a deformação específica à ruptura. Os tratamentos
mais intensos reduziram o módulo de elasticidade, contrário ao que se espera, que foi
atribuído pela remoção da hemicelulose. Taha et al. (2007) notou que a extração de
hemicelulose reduz o diâmetro de fibras, e assim requere menos força e uma redução no
módulo de elasticidade. Por outro lado, a remoção da hemicelulose permite o rearranjo
das fibro-células numa forma mais compacta que aumenta a resistência da fibra e
módulo de elasticidade. Entretanto, se não houver rearranjo destes fibro-células durante
tratamento, elas terão que se posicionar durante o ensaio de tração, que poderia fornecer
resultados falsos sobre o módulo de elasticidade durante a fase inicial do ensaio. Assim,
são dois fenômenos opostos em que o efeito predominante poderia não ser facilmente
identificado. Vale ressaltar que nenhum dos tratamentos removeram a lignina das fibras.
Cyras et al. (2007) investigou os efeitos de tratamentos alcalinos e acetilação
sobre as propriedades mecânicas em fibras de sisal. Variou-se tempo de imersão para
ambos os tratamentos de 1h, 3 h, 24h e 48h. Os tratamento alcalinos aumentaram o
módulo de elasticidade e resistência conforme aumentar intensidade de tratamento
acompanhado por uma redução na deformação específica, devido o melhor
empacotamento das microfibrilas de celulose e aumento no grau de orientação
molecular decorrente a remoção parcial da lignina, pectinas e hemicelulose. Os
tratamentos com acetilação reduziram tanto o módulo de elasticidade quanto a
resistência das fibras quando comparadas com as fibras in natura e aumentaram a
92
deformação específica a ruptura. O tratamento com acetilação substitui os grupos
hidroxílas com grupos acetílas que reduz a concentração OH. Desta forma, a presença
de grupos mais volumosos na estrutura final, acaba impedindo a mobilidade segmental,
mudando por consequência a orientação das cadeias de celulose e aumentando a rigidez
da cadeia principal da celulose. O aumento na deformação específica estaria relacionado
à morfologia plastificada provocado pelo tratamento.
Martins e Joekes (2002) investigou a influência de mercerização e o tratamento
conjunto de mercerização e acetilação sobre as propriedades mecânicas de fibras de
sisal. Estatisticamente, a mercerização em ambas as concentrações (5% NaOH e 10%
NaOH) não mudou a resistência mecânica ou o módulo de elasticidade. O tratamento
conjunto reduziu ligeiramente a resistência e o módulos de elasticidade das fibras
quando comparadas com o grupo controle. A deformação específica a ruptura reduziu de
4% para 3% para todos os tratamentos.
Spinacé et al. (2009) estudou as propriedades mecânicas de fibras de curauá
segundo tratamentos com água quente (80ºC para 1hora), hipoclorito de sódio e plasmo
de oxigênio. Todos os tratamentos diminuíram a resistência a tração e módulo de
elasticidade. Entretanto, ao se considerar o error experimental, pode se concluir que os
tratamentos com hipoclorito de sódio e plasma de oxigênio não mudaram as
propriedades mecânicas. O tratamento com água quente aumentou a deformação
específica a ruptura.
Tabela 9 apresenta um quadro resumo dos diferentes tratamentos, métodos de
aplicação, custo e os efeitos sobre as propriedades físicas, químicas e mecânicas de
fibras vegetais levantado a partir da revisão bibliográfica.
Resultados mostram que a depender da concentração, temperatura, tempo de
tratamento e seu método de aplicação, os efeitos podem ser variados e dependem
principalmente da composição química que varia consideravelmente entre cada espécie
de planta. Alguns tratamentos mais intensos resultam em efeitos não desejáveis como
danificação da estrutura interna das fibras.
93
Tabela 9: Resumo dos tratamentos superficiais.
[1] Santiago e Selvam (2007); [2] Spinacé et al. (2009); [3] Hill et al. (2000); [4]
Taha et al. (2007).
94
2.16. Influência de Tratamentos Superficiais no Desempenho
Mecânico de Compósitos reforçados com fibras vegetais
95
resultando num aumento na resistência a tração das fibras devido ao aumento na
cristalinidade. Comparou-se o comportamento mecânico dos compósitos com
tratamento silano e mercerização registrando melhor resistência com a mercerização.
Mishra et al. (2002) investigou os efeitos de diversos tratamentos em fibras de
sisal e abacaxi incorporadas em matrizes de poliéster. Primeiramente, lavou-se as fibras
com uma 2% solução de detergente á 70°C para 1h. As fibras foram lavadas com água
distilada e secas á 70°C. As fibras de sisal foram então imersas numa mistura 1:2 de
étanol e benzeno por 72 horas á 50°C, seguido por lavagem em água e secagem, tirar a
camada serosa da superfície das fibras. Após esta preparação, comparou-se os efeitos na
resistência a tração e flexão dos seguintes tratamentos; Mercerização (5% NaOH para
1h á 30°C); tratamento acrilonitrila (AN), (as fibras refluídas com acrilonitrila e acetona
e piridína numa temperatura de 60-70°C por 2 h, seguido por uma lavagem com ácido
acético e acetona); acetilização (ácido acético glacial para 1h á 30°C, e então decantadas
seguido por imersão em 50 ml de acético anidrido contendo uma gota de H2SO4 (ácido
sulfúrico) concentrado por 5 minutos; branqueamento (cloreto de sódio á 75°C por 2h
lavadas em água decloretada com 2% solução de sulfato de sódio por 15 minutos em
temperatura ambiente); e o ultimo tratamento, a copolimerização de enxerto utilizando
acrilonitrila e Cu2+-IO4 como iniciador numa temperatura de 40°C em meio aquoso, em
fibras de sisal tratadas anteriormente com 5% NaOH. Todas as amostras foram
posteriormente lavadas e secadas em vácuo. Resultados mostraram que o tratamento
alcalino obteve melhores resultados a resistência a tração, e então o tratamento com
acetilação. O acetilação também apresentou maior resistência a flexão.
Martins e Joekes (2003) investigou fibras de sisal incorporadas em compósitos
de borracha reciclada segundo tratamentos com mercerização e acetilação. As fibras
foram lavadas em água destilada a 80°C para 1h. Para tratamento NaOH, variou-se
concentração de solução; 5% e 10% além da temperatura de aplicação de 26°C, 50°C e
80°C, para 1h, 3h e 5h. Após mercerização as fibras foram neutralizadas com ácido
acético, lavadas e secas. Para acetilação, as fibras foram imersas em ácido acético
glacial para 1h a temperatura ambiente seguido por imersão em acético anidrido
contendo 20 gotas de ácido sulfúrico concentrado (H2SO4) para 5 minutos. As fibras
foram neutralizadas e secas em microondas por 15 minutos. Resultados mostraram que
a mercerização removeu a lignina da fibra, e embora não houvesse mudanças
96
significativas físicas, químicas ou mecânicas das fibras individuais, quando
incorporadas no compósito com proporção volumétrica de 5% de fibra, as fibras
mercerizadas e depois acetiladas obtiveram melhor resistência a tração.
Hill et al. (2000) comparou os tratamentos de silano, titanato e acetilação em
fibras de coco e fibras de dendê para incorporação em compósitos de poliéster. Para
acetilação tratou-se os tecidos de fibras com acético anidrido num reator de 3L que foi
colocado num banho de óleo aquecido à 100ºC para 30 minutos conectado a um
condensador de refluxo. Depois, os tecidos foram retirados do reator com acético
anidrido e colocados em outro reator contendo acetona para 3h para remover o reagente
não reagido e resíduos. Os tecidos modificados foram secos em estufa a 105ºC para 12h.
Para o tratamento com silano impregnou-se os tecidos por vácuo numa solução de 5%
p/p g-methacryloxy propyl trimethoxy silano em metanol por 30 minutos. Os tecidos
foram imersos na mesma solução por mais 24 h a temperatura ambiente. Após retirar,
deixou-se evaporar o solvente para posterior secagem a 100ºC para 5h. Para o
tratamento com titanato, os tecidos foram impregnados por vácuo com uma solução de
5% neopentil (dial-lil)oxitri(dioctil) pirophosfato titanato em tolueno por 30 minutos e
então deixados na mesma solução por mais 24 horas a temperatura ambiente, e secos em
estufa a 75ºC para 12 horas. Investigou-se a aderência interfacial por meio do ensaio de
pull-out, registrando aumentos na resistência interfacial de cisalhamento entre a matriz
de reinas poliéster e fibras tratadas com acetilação em todas suas concentrações. Nos
ensaios de tração, não houve mudanças significativas devido ao tratamento com silano
enquanto a acetilação aumentou a resistência e módulo de elasticidade, tanto para as
fibras de coco quanto para fibras de dendê. O tratamento com titanato diminuiu todas as
propriedades mecânicas.
Jannah et al. (2009) investigou os efeitos de mercerização e ácido acrílico em
fibras de banana incorporadas numa matriz de poliéster. Variou-se a concentração do
tratamento alcalino de 1, 3 e 5% num tempo fixo de 1 hora e a concentração do ácido
acrílico (AA) também de 1, 3 e 5% p/p para 1 hora. Para ambos os tratamentos, a
concentração de 1% apresentou maior resistência a tração e módulo de elasticidade
devido à remoção da lignina e hemicelulose. As propriedades higroscópicas diminuíram
e observou-se maior rugosidade nas fibras, que atribuíram para melhora aderência
interfacial. Entre os dois tratamentos, o comportamento mecânico a flexão e impacto
97
dos compósitos foi melhor com tratamento AA. Ambos os tratamentos diminuíram
absorção de umidade dos compósitos.
Sydenstricker et al. (2002) comparou os efeitos de tratamentos com silanos e
hidróxido de sódio em fibras de sisal incorporadas em matriz de poliéster variando a
concentração do NaOH entre 0.25, 0.5, 1, 2, 5 e 10 % para 1 hora e a concentração do
silano N-isopropil-acrilamido de 1, 2 e 3% para um tempo de reação de 1 hora. A
mercerização aumentou a resistência mecânica, a estabilidade térmica e a cristalinidade,
diminuiu a densidade, absorção de umidade e o conteúdo de lignina das fibras, além de
aumentar a aderência interfacial entre a fibra e matriz. Otimização foi com o tratamento
de 2% NaOH e 2% acrilamido. Entre os dois tratamentos a concentração de 2% NaOH
foi melhor que o agente de acoplamento acrilamido. O tratamento mais intenso (10%
NaOH) reduziu propriedades mecânicas dos compósitos.
Bessadok et al. (2008) investigou os efeitos de diferentes tratamentos em fibras
de sisal e lufa inseridos em matrizes de poliéster utilizando o tratamento NaOH e silano.
Variou-se a concentração da solução NaOH de 0,25, 0,5, 1, 2, 5 e 10,0% (1h) e a
concentração do silano 2-metil-propil-aclimada de 1, 2 e 3% para 1 hora. O tratamento
alcalino diminui a densidade, teor de umidade e resistência mecânica do sisal, além de
aumentar a cristalinidade e rugosidade. Maior resistência mecânica do compósito foi
com sisal tratada com 2% NaOH. Já o tratamento com silano aumentou a resistência
mecânica do sisal (valor ótimo 3%), aumentou cristalinidade e rugosidade e diminuiu o
teor de umidade e densidade das fibras. Contrario a mercerização, o silano diminui a
resistência mecânica dos compósitos. Resultados citados por Bessadok et al. (2009)
utilizando anidrido acético em fibras de sisal mostraram aumentos no módulo de
elasticidade dos compósitos de poliéster.
Resultados mostram que a depender da concentração, temperatura, tempo de
tratamento e seu método de aplicação, os efeitos podem ser variados. Os métodos de
processamento do compósito têm influencia direta na aderência fibra/matriz e devem ser
considerados durante a sua avaliação. É importante lembrar que as fibras naturais
apresentam imperfeições e diversidade nas propriedades químicas e físicas e por ser um
produto da natureza, os resultados podem apresentar grandes desvios padrões.
98
2.17. Seleção de Tratamentos Superficiais para Compósitos reforçados
com fibras vegetais
Ambientais
Produção de Resíduos (PR)
Consumo de energia (CE)
Toxidade (Tx)
Econômicos
Disponibilidade de Recursos (C)
Tempo de aplicação (T)
Investimento de capital (I)
99
modificação química com acetilação se destaca por ter menos custo e não necessitar
investimento alto para montar um laboratório para efetuar tais tratamentos. A água
quente apresenta ter efeitos desejáveis além de ser simples, barato e ter mínimo impacto
ambiental. Os silanos mostram efeitos diversificados e muitas vezes não significativos
podendo não apresentar benefícios vantajosos considerando o custo alto e método mais
difícil de aplicação.
Deste modo, para fibras de licuri reforçando uma matriz de poliéster,
destacaram-se os tratamentos alcalinos, água quente e acetilação, por apresentarem
resultados desejáveis além de serem economicamente viáveis e menos agressivos ao
meio ambiente. Como visto, tratamento em excesso pode promover danificação em
fibras e reduzir as propriedades mecânicas. Assim, faz-se necessário investigar
tratamentos em diferentes proporções para obter as condições ótimas e assim determinar
a intensidade adequada para posterior aplicação em compósitos.
100
3. MATERIAIS E MÉTODOS
101
os ensaios de tração, e o método pull-out em conjunto com o MEV. A última etapa
avaliou o desempenho mecânico dos compósitos reforçados com tecidos de fibras de
licuri segundo os quatro níveis de tratamentos para determinar seu potencial ou não,
como um novo material com aplicações estruturais na construção civil. A partir da
resistência mecânica, o módulo de elasticidade e ainda, os critérios ambientais e
econômicas dos diferentes tratamentos anteriormente estabelecidos, determinou-se o
tratamento que melhor se adequada para o conjunto de poliéster e tecidos de fibras de
licuri para a fabricação de compósitos estruturais pelo método de laminação manual
(hand-lay up).
102
a b
!!!!!!!!
! !!$%&'()!*+,!-./)0!12345)06!7.(8.0!!! !!!!!!!!$%&'
c d
Figura 33.a) Folhas verdes de licuri (RICL, 2010); b) folha da fibra de licuri; c)
extração das fibras técnicas com pente; d) fibras técnicas.
TRATAMENTOS ALCALINOS
As fibras de licuri in natura, previamente secas e pesadas foram mergulhadas numa
solução de hidróxido de sódio mantidas a temperatura ambiente (25ºC) por um período
de 1h variando a concentração de 0,4%, 0,75%, 1,5%, 4% e 5% p/p. Foi utilizada 16g
de fibras para uma solução de 500ml. As fibras foram retiradas e lavadas em água
destilada até pH original da água (7), para garantir remoção das impurezas e residual
alcalino do tratamento. As fibras foram secas em estufa a 100°C ± 0,5°C, até peso
constante. Utilizou-se uma balança analítica com 4 dígitos de precisão.
103
TRATAMENTO TÉRMICO
Utilizou - se 16 gramas de fibras in natura previamente secas. As fibras foram imersas
em 500ml de água destilada mantida a 80ºC para 1 hora. As fibras foram novamente
secas em estufa a 100°C ± 0,5°C até peso constante. Denominou-se esta amostra como
tratamento térmico ou simplesmente “térmico”. Figura 34 apresenta uma fluxograma
descrevendo as etapas envolvidas nos diferentes tratamentos alcalinos e o tratamento
térmico.
104
Extração das fibras técnicas
TRATAMENTOS
Não tratadas
Temperatura ambiente, sem agitação
In Natura
FIM
105
Mercerização (1h)
106
maximizar a quantidade de fibras de licuri no sentido paralelo ao carregamento axial de
tensões, como visto na revisão bibliográfica. As fibras da trama foram agrupadas em
mechas de 15 fibras, valor determinado para uniformizar e otimizar as condições de
processamento dos compósitos e tecidos utilizando fibras contínuas (CERCHIARO,
2010). Manteve-se o espaçamento do urdume (distância entre as linhas de algodão) em
0,5 cm conforme Figura 37 (c). Utilizou-se tesouras para remover as raspas das fibras
que se encontravam penetrando por fora do alinhamento do tecido na superfície (figura
37 (d)) para evitar possíveis problemas que poderiam vir a acontecer durante o
processamento dos compósitos prejudicando assim o acabamento além do desempenho
mecânico. O excesso das fibras e imperfeições dos arremates dos tecidos foram
cuidadosamente cotados, garantindo o alinhamento das fibras e homogeneidade dos
tecidos. Os tecidos foram pesados utilizando uma balança analítica com precisão de 4
casas digitais. Figura 37 (a) apresenta um tecido antes da remoção dos arremates e
figura 37 (b) apresenta os diferentes tecidos das fibras de licuri in natura e segundo os
tratamentos com mercerização, tratamento térmico e acetilação do lado esquerdo a
direito respectivamente.
107
a) b)
c) d)
Figura 37. a) Tecido de fibra de licuri, b) tecidos tratados, c) algodão no urdume, d)
aspecto ampliado do tecido.
108
Tabela 10:Propriedades da resina poliéster instaurada
109
aproximadamente 1mm de álcool desmoldante em líquido. O desmoldante foi deixado
em temperatura ambiente 40 minutos para garantir secagem completa. A resina poliéster
foi catalisada utilizando peróxido de metl etil cetona (MEKP) numa proporção de 2%
em peso da resina para iniciar o processo de cura. Os bi - componentes do poliéster
foram misturadas para garantir homogeneidade e ainda em tal forma que evita a
formação de bolinhas de ar dentro da mistura. O tempo de moldagem foi limitado pelo
tempo de gel do poliéster (aproximadamente 30 minutos) e a cura total leva
aproximadamente 120 minutos a numa temperatura de 30º (ambiente) (Cerchiaro,
2010). Aplicou-se uma camada de resina com pincel de 2 polegadas diretamente na
placa de vidro com desmoldante devidamente seca, seguida por uma camada de tecido.
Aplicou-se novamente uma camada de resina e então uma segunda camada de tecido
alinhado na mesma direção do tecido da primeira camada, ou seja, duas camadas de
resina e duas camadas de tecido em camadas alternadas (00,00) formando assim um
laminado com tecidos de fibras alinhadas no sentido paralelo ao carregamento axial.
Passou-se um rolete de 10 mm de diâmetro sobre o laminado (Figura 38.a) até remoção
total das bolhas de ar do compósito, e ainda assegurar molhamento completo das fibras,
garantir uma espessura uniforme de compósito e retirar o excesso da resina. Deixou-se
os compósitos para um tempo de 24 horas em temperatura ambiente, tempo suficiente
para permitir cura total da resina (Cerchiaro, 2010). Os compósitos foram
confecionados para minimizar a quantidade de resina poliéster e então maximizar a
quantidade de fibras, otimizando assim as propriedades mecânicas das fibras e ainda
reduzindo o custo final do compósito, visto os elevados custos da resina em comparação
ao custo das fibras de licuri (Cerchiaro, 2010).
Após a cura total, os compósitos foram separados do molde e posteriormente
pesados. Calculou-se a proporção volumétrica de fibras (Vf) a partir de Equação 11
abaixo, onde (w) refere-se a massa, e (ρ) à massa específica e os índices (f) e (m) à fibra
e matriz respectivamente.
Vf = wf.ρf Equação 11
wf.ρf + wm.ρm
Fonte: HULL E CLYNE (1990)
110
Os corpos de prova foram recortados das placas laminadas do compósito
utilizando uma serra de mão, em tamanhos de 25,4 mm x 254 mm com espessura
mínima de 3mm, sendo esses, medidas estabelecidas pela norma ASTM 3039. As placas
de laminados dos compósitos reforçado com os tecidos in natura, mercerizados, térmico
e acetilados estão apresentadas em figura 38 (b) em ordem de baixo para cima
respectivamente. Figura 38 (c) apresenta o aspecto do compósito reforçado tecidos de
licuri após cura.
a) b)
c)
Figura 38. a) Laminação dos compósitos com rolete, b) compósitos após cura, c)
aspecto da superfície do compósito reforçado com tecido de licuri.
111
3.6. CARACTERIZAÇÃO DAS FIBRAS
3.6.1. Composição química das fibras pelo Método de Van Soest (1965)
112
S10*0'!!
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39.Fluxograma da analise composição química por método Van Soest.
Fonte: Ricl (2010)
113
Ultrapycnomter 1000, marca Quantachrome para medir 6 repetições com erro de
0,018% com amostras devidamente secas.
Durante a medição da densidade foi observado o seguinte: Ao obter as medidas
de densidade, observou-se a necessidade de estabelecer uma quantidade de amostra com
quantidade suficiente para obter resultados estáveis, maximizar a confiabilidade e
diminuir o erro. Assim para eliminar o possível erro decorrente as variações entre a
massa das amostras, foi estabelecida uma quantidade mínima que fosse mantida para
cálculo da densidade e assim, permitir comparação entre os resultados. Portanto,
utilizou-se uma quantidade constante anteriormente pesada de 1,90 ± 0,20g para cada
amostra. Figura 39 apresenta imagens do equipamento ULTRAPYCNOMETER 1000
utilizado com permissão do laboratório de Petrofísica do Instituto de Geociências da
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
114
reações formadas entre os reagentes e os grupos funcionais presentes na superfície das
fibras (CANAVAROLO, 2007).
As amostras foram trituradas em pó (tamanho partícula < 2µm) para reduzir o
espalhamento da radiação IR e misturadas em pastilhas com KBr (CANAVAROLO,
2007). Os espectros foram obtidos usando um espectrômetro Marca BOMEM, modelo
ABB BOMEM MB SERIES, na região de 400 a 4000 cm-1 com 32 varreduras.
115
3.6.7. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
116
aparelho determina os isotérmos de sorção á temperaturas diferentes utilizando uma
faixa de valores preestabelecidos de Umidade Relativa (RH).
Controle de fluxo
de massa 1 Porta Porta
amostra referênça
Fluxo de gás
seco regulado
Controle de fluxo
Sondas de temperatura
de massa 2
e umidade
117
Figura 41. Imagem tirada do aparelho DVS no Timber Engineering
Laboratory, Edinburgh Napier University, Escócia.
3 cm
Cola
Aba de papel
amostra (l = 3cm)
118
A preparação dos corpos de prova e procedimentos de ensaio de tração foram de
acordo com ASTM D 3822 - 96 para fibras (Standard Test Method for Tensile
Properties of Single Textile Fibers) a 25°C± 2°C. As fibras individuais foram pesadas e
então coladas nas abas de papel previamente cotadas com dimensões conforme a norma.
Utilizou-se uma maquina de ensaio universal EMIC DL 2000 (figura 24), nas seguintes
condições de ensaio: Célula de Carga modelo SV com capacidade de 500N, resolução
de leitura de 0,1N; velocidade de ensaio de 3mm/min. e velocidade de retorno de
200mm/min; limite de forca de 450N e limite de deformação de 200 mm; empregando
três casas decimais; gráfico com o eixo Y medindo tensão (MPa) e eixo X medindo a
deformação especifica (%). Foram ensaiados 15-20 corpos de prova por amostra,
considerado como quantidade adequada para um nível de confiança de 95% e
Coeficiente de Variança (CV) de 20% para materiais naturais.
Calculou-se o módulo de elasticidade a partir da região linear do gráfico. Como
critério utilizou-se a região linear entre a tensão a deformação específica de 0,005% e a
deformação especifica correspondendo a primeira ruptura no gráfico. Calculou-se a área
média (A) das fibras individuais utilizando equação 12 que depende da massa (M), o
comprimento (L) e das medidas da massa específica (ρ).
A = M . ( ρ . L)-1 Equação 12
119
3.7. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPÓSITOS
Neste ensaio, corpos de prova são sujeitos a uma carga perpendicular a seção
transversal até ruptura (paralela ao alinhamento das fibras). A deformação específica foi
determinada utilizando um extensômetro. O tamanho de corpo de prova foi de acordo
com a norma ASTM 3039 cotados a partir das placas laminadas com as seguintes
dimensões; comprimento de 254mm, largura de 25mm e a espessura mínima de 3mm.
Utilizou-se uma máquina de ensaio universal EMIC DL 2000 (Figura 43), nas seguintes
condições de ensaio: Célula de Carga modelo SV com capacidade de 2 toneladas,
velocidade de ensaio de 2mm/min. e velocidade de retorno de 200mm/min; limite de
forca de 18000N empregando três casas decimais; gráfico com o eixo Y medindo tensão
(MPa) e eixo X, deformação especifica (%). Ensaiou-se 6 corpos de prova para cada
amostra. Figura 43 mostra a montagem do corpo de prova com o extensômetro. Para
evitar escorregamento entre o corpo de prova e as garras da máquina, utilizou-se lixas
no. 60 cotadas e colocadas ao redor das duas extremidades do corpo de prova (apenas a
parte do corpo de prova que fica em contato com as garras). Calculou-se a área
transversal do corpo de prova em 3 posições igualmente separadas (3 cm das duas
extremidades e no centro) utilizando um paquímetro com precisão de 0,001 mm. O
módulo de elasticidade foi calculado a partir da região linear da curva de tensão versus
deformação. Todos os resultados foram sujeitos aos cálculos de estatística, testes de
Dixon, Fischer e Cochran, t-student e comparados com resultados na literatura.
120
Figura 43.Corpos de prova segurado na garra e montagem do extensômetro.
121
tensão de cisalhamento. Os moldes (duas folias de papelão) foram colocados entre as
duas placas de vidro e uma fibra técnica anteriormente pesada foi cuidadosamente
posicionada entre as duas folias de papelão com o comprimento embutido
cuidadosamente medido com o auxilio de um microscópio e paquímetro. A fibra foi
colada ao molde de papelão usando fita crepe. Cada molde cabia 4 corpos de prova.
Manteve-se os moldes de papelão, as fibras técnicas e as placas de vidro presas um a
outro com o uso de grampos (figura 45.a). Preparou-se a resina poliéster conforme
descrita na seção (3.5) “Processamento dos Compósitos” da metodologia deste trabalho.
Aplicou-se a resina poliéster entre as placas de vidro e no espaço livre dos moldes de
papelão com uma seringa. A aplicação da resina requere bastante cuidados para não
molhar as fibras na parte que fica acima do bloco de resina (parte da fibra que não esteja
embutida no molde), e assim fornecer resultados errados. Preparou-se 20 corpos de
prova para cada comprimento embutido, para as fibras in natura.
)
cápsula simulando a
matriz polimérica
u u
fibra
L
comprimento embutido )(a)
122
embutida quando apertar as garras. Manteve - se a distância livre entre as garras à
20mm. Aplicou-se uma carga de tração à fibra até seu arrancamento completa da matriz.
Este ensaio mede a tensão de cisalhamento interfacial entre a fibra e matriz.
Teve-se como objetivo, determinar primeiramente o comprimento crítico das
fibras in natura conforme descrito no trabalho de Aquino et al. (2003). O comprimento
crítico seria utilizado para posterior analise da resistência interfacial de cisalhamento
dos diferentes tratamentos para permitir uma comparação da aderência interfacial entre
os tratamentos e assim a compatibilidade entre a fibra e matriz.
a) b)
Figura 45.a) Molde de papelão e vidro com fibras individuais preenchidos com
resina e pressionadas com grampos; b) corpos de prova.
123
4. RESULTADOS E ANÁLISE
As fibras de licuri in natura são compostos por 88,8% de componentes estruturais sendo
estes, a celulose, a hemicelulose e a lignina. Mais especificamente, são constituídas por
49,9% celulose, 27,8% hemicelulose, 11,1% lignina e de 11,2% de componentes não
estruturais como as gorduras, ceras, proteínas, pectinas e alguns carboidratos e outras
impurezas. O tratamento alcalino em todas suas concentrações removeu parte da
hemicelulose, aumentando o conseqüente teor de celulose. A remoção parcial da
hemicelulose segue uma tendência conforme intensidade do tratamento até a
concentração de solução de 4% NaOH reduzindo o teor por 45%. Observe-se que a
proporção de hemicelulose da amostra tratada com 5% NaOH aumentou em relação as
outras amostras e ainda, que a proporção de celulose diminui nos tratamentos mais
intensos (1,5% NaOH e 4% NaOH). O tratamento mais fraco (0,4% NaOH) reduz a
proporção de lignina por 13,5%. Observa-se que a proporção de lignina oscila (reduz e
124
aumenta, reduz e aumenta) com os tratamentos mais intensos, concluindo que os
tratamentos alcalinos não foram efetivos em remover a lignina. Resultados semelhantes
foram registrados (TAHA et al. 2007)
Espera-se que os tratamentos alcalinos irão remover as impurezas presentes nas
superfícies e parte da hemicelulose por ser solúvel em soda caustica aumentando o teor
proporcional de celulose. As fibras técnicas são constituídas por feixes de fibro-células
unidas principalmente por uma matrix de lignina e hemicelulose agrupados em calotas.
Cada fibro-célula é composto por 4 paredes celulares contendo microfibrilas de celulose
cercadas também por lignina e hemicelulose. A hemicelulose encontra-se em maior
concentração na parede primária, ou seja, a parede externa mais exposta aos ataques dos
tratamentos superficiais. Uma vez retirada os constituintes que unem as calotas e então
as fibro-células, o conteúdo proporcional dos constituintes bioquímicos terá novos
valores relativos. Na medida em que a intensidade dos tratamentos aumenta, parte da
hemicelulose na parede primária do fibro-célula começa a ser removida, seguido pela
parede secundária (S1) e assim por diante, explicando assim, os aumentos nas
proporções de hemicelulose e lignina dos tratamentos mais intensos.
A composição bioquímica das fibras in natura deste trabalho apresenta um teor
de celulose de 49,9% um valor consideravelmente menor que o teor de celulose das
fibras de licuri in natura igual a 68,1%, determinada por RICL (2010). O conteúdo de
componentes estruturais (FDN) foi de 94,6% um valor bastante maior que o FDN
determinado neste trabalho 88,8%. Isso poderia ser atribuído pelo método de extração
das fibras técnicas. Neste trabalho, as fibras de licuri foram adquiridas em segmentos
foliares ainda com epiderme, porém com a nervura central removida. A epiderme não
foi removida durante a extração das fibras técnicas. Portanto é possível uma maior
presença destes tecidos não estruturais nas fibras utilizadas neste trabalho, explicando
assim, menor teor de celulose e outros componentes estruturais. Apesar de virem da
mesma região, como visto, há uma grande variabilidade na composição bioquímica de
fibras vegetais, mesmo dentro da mesma espécie e dentro da mesma planta.
A variação na composição bioquímica das fibras de licuri em função do
tratamento térmico está apresentada em Tabela 13. O tratamento térmico reduziu o teor
de hemicelulose por 27,3%, aumentou o teor de celulose por 5% e aumentou o teor de
125
lignina por 11,7%, ou seja, removeu a hemicelulose, mas não removeu nem a lignina ou
a celulose.
126
4.1.2. Densidade das fibras por picnometria a gás Hélio
Tabela 15: Densidade das fibras de licuri tratadas com soluções de Hidróxido de Soda
In natura 4% NaOH
Figura 46.Seção longitudinal da fibra técnica de licuri
127
Pela analise da composição bioquímica (tabela 11), observa-se que o teor de
hemicelulose aumentou, para a amostra tratada com 5% NaOH (o tratamento mais
intenso), contrário aos demais intensidades de tratamento alcalino. A densidade desta
amostra também baixou.
Ricl (2010) efetuou um estudo comparativo entre as diferentes metodologias
para medir a densidade. Determinou-se a densidade de fibras de licuri in natura e
tratadas com 0,75% e 1,5% NaOH para 24 horas, utilizando picnometria a gás hélio,
picnometria em meio aquoso e com hexano. Obteve-se resultados semelhantes
utilizando picnometria a gás hélio, registrando um aumento na densidade provocado
pelos tratamentos de 1,46 g/cm3 para as fibras in natura que subiu para 1,52 g/cm3 para
as fibras tratadas com NaOH 0,75% imersas por 24h. O tratamento mais intenso de
1,5% NaOH (imersão de 24 horas) reduziu a densidade para 1,5 g/cm3.
O tratamento térmico também aumentou a densidade das fibras quando
comparada com a amostra in natura, provavelmente provocado pelas mesmas razões
atribuídas para os tratamentos alcalinos.
Resultados mostram que o tratamento com acetilação diminui a densidade das
fibras previamente mercerizadas com uma solução de 0,75% p/p NaOH conforme o
aumento no tempo de reação da acetilação (Tabela 16) mas, a densidade das amostras
acetiladas continua maior que a densidade das fibras in natura. A menor densidade
poderia ser atribuída pela incorporação de grupos funcionais mais volumosos ao
substituir os grupos hidroxílas com grupos acetilas.
128
Tabela 17:Comparação da densidade das fibras de licuri com outras fibras
129
Figura 47.Difractogramas de Raios - X das fibras in natura e mercerizadas
130
Figura 48. Intensidade dos picos cristalinos nos diferentes planos cristalográficos das
amostras in natura e mercerizadas
131
resultados apresentados em Tabela 18 confirmam que há uma correlação entre o índice
de cristalinidade e teor de celulose.
Tabela 18: Índice de cristalinidade e teor de celulose das fibras in natura e mercerizadas
I I I I IC (%) Cellulose
2θ=22,3º 2θ=15,9º 2θ=34,6º 2θ=18,2º (eq.5) (%)
Observa-se a partir de Figura 49 que o tratamento com acetilação para os dois tempos
de reação diminuiu a intensidade dos picos à 2θ = 22,3° e 15,9° e 34,6º das fibras
anteriormente mercerizadas. As intensidades dos picos estão apresentadas em Figura 50
onde se observa uma redução na cristalinidade.
132
Figura 50.Intensidade dos picos cristalinos das amostras in natura e acetiladas
133
mudança significativa no índice de cristalinidade conforme aumenta o tempo de reação
do ácido acético glacial.
Tabela 19: Índice de cristalinidade e teor de celulose das fibras in natura e acetiladas
I I I IC (%) Celulose
2θ=22,3º 2θ=15,9º 2θ=18,2º (eq.5) (%)
In natura 1112 496 368 67 50
0,75% NaOH 1282 560 356 72 57
0,75% NaOH + A 0,5 h 1012 456 336 67 57
0,75% NaOH + A 1h 810 406 262 68 57
134
Figura 52. Intensidade dos picos cristalinos das fibras tratadas termicamente e in natura.
I I I I IC (%) Celulose
2θ=22,3º 2θ=15,9º 2θ=34,6º 2θ=18,2º (eq.5) (%)
In natura 1112 496 362 368 67 50
Térmica 1107 562 270 371 66 52
135
hemicelulose e lignina) e ácidos. Observaram-se aumentos na intensidade destas bandas
referente aos grupos hidroxílas (OH) conforme aumento nas intensidades dos
tratamentos alcalinos (Figura 53), que se deve provavelmente à remoção parcial da
hemicelulose expondo por conseqüência maior concentração de grupos hidroxílas
(CYRAS et al. 2009). Na região de 2800-2900 cm-1 observaram-se dois picos, que
correspondem aos grupos CH e CH2 advindos de polissacarídeos. Na Figura 53
observou-se que a intensidade da banda na absorção de 1730 cm-1 diminui com os
tratamentos alcalinos. Segundo Cyras et al. (2009) estas bandas são advindas dos
grupos carbonilas (C=O) advindos da hemicelulose e as pectinas (SPINACE et al.
2008). Observou-se um pico a 1250 cm-1 atribuída a modos de vibração de grupamentos
C-O presentes na lignina. O pico a 1650 cm-1 é referente ao estiramento do C=C do anel
aromático da lignina. Outros picos aparecem à 1360 e 1320 cm-1 devido aos grupos
álcoois da celulose (SPINACÉ et al. 2009). Todos os espectros apresentaram picos na
região 1050-1170 referente a estiramento do C-O-C e associação dos grupos OH e
estiramento e deformação do C-OH à 1170-1080 cm-1 principalmente da celulose
(TROEDEC et al. 2008; CYRAS et al. 2009; YANG et al. 2007; IBRAHIM et al.
2010).
Figura 53. Espectros de infravermelho das fibras in natura e tratados com NaOH
136
Os espectros das fibras acetiladas estão apresentados em Figuras 54. Observa-se
o aparecimento de absorções nas regiões 1740 cm-1 e 1240 cm-1 atribuída pelos grupos
C=O e C-O do ester, confirmando assim, a reação entre os grupos acetílos do reagente
com os grupos hidroxílos da fibra (BESSADOK et al. 2008; IBRAHIM et al. 2010;
CYRAS et al. 2009; SPINACÉ et al. 2009).
137
Figura 55. Espectros de Infravermelho das fibras in natura e tratamento térmico.
138
Figura 56. Curvas de TGA das fibras in natura e mercerizadas
139
o segundo entre 230-345ºC referente a decomposição da hemicelulose e o terceiro entre
346-420ºC devido a decomposição da celulose (YANG et al. 2007).
Fica evidenciada mudanças distintas nas intensidades destes três picos das amostras
com tratamentos mais fortes e ainda o aparecimento de um quarto pico numa
temperatura de aproximadamente 500ºC nas amostras tratadas com 4% e 5% NaOH
provavelmente devido à degradação oxidativa dos resíduos carbonizados da celulose
(MARTIN et al. 2010; MARTINS E JOEKES, 2003).
Tabela 21: Estabilidade térmica e massa residual das fibras in natura e mercerizadas
140
Para melhor visualizar estas mudanças, a Figura 58 apresenta as curvas afastadas
uma a outra e a intensidade máxima dos picos que corresponde a temperatura em que
ocorre a velocidade máxima de degradação da hemicelulose e a celulose está
identificada. Na medida em que se aumenta a intensidade do tratamento alcalino, o pico
que corresponde a degradação da hemicelulose gradualmente desaparece, que confirma
novamente a remoção parcial da mesma. O pico referente a evaporação de umidade
aumenta conforme intensidade de tratamento, o que indica um maior teor de umidade
quando comparada com as fibras in natura. Isso se deve provavelmente a maior
presença de grupos hidroxílas na superfície, conforme evidenciada pela analise FTIR.
Observa-se que houve uma pequena variação na temperatura em que ocorre a
velocidade máxima de degradação tanto para o pico referente a hemicelulose quanto o
pico correspondendo a celulose.
141
As curvas de TGA e DTG estão apresentadas sobrepostas para cada amostra
mercerizada (Figura 59) para quantificar a perda de massa em função dos picos do DTG
que correspondem a hemicelulose e a celulose. A temperatura de inicio e fim de cada
pico do DTG foi utilizado para determinar a perda de massa.
142
celulose, e assim, contribui parcialmente para a perda de massa dos picos referentes a
degradação de hemicelulose e celulose. Após a temperatura de 420ºC, presumem-se que
a maioria da decomposição da hemicelulose e celulose tenha ocorrido (na região do
pirólise ativo) e em temperaturas acima de aproximadamente 420ºC imagina-se que o
processo de carbonização começa.
Pirólise Ativo
A Região de
d
Pico 1
Pico 2 Pico 3 Carbonizaç
Carbonização
Perda de Perda de Perda de Perda de
Temp. Temp. Temp.
Massa Massa Massa Massa
(ºC) (ºC) (ºC)
(%) (%) (%) (%)
In natura 6 232-345 19 346-420 48 421-600 9
143
Figura 60. Termogravimetria (TGA) das fibras in natura e acetiladas
DTG
144
Figura 62. DTG das fibras in natura e acetiladas
Pirólise
P irólise Ativo
A Região de
d
Pico 1
Pico 2 Pico 3 Carbonizaç
Carbonização
Perda de Perda de Perda de Perda de
Temp. Temp. Temp.
Massa Massa Massa Massa
(ºC) (ºC) (ºC)
(%) (%) (%) (%)
In natura 6 232-345 19 346-420 48 421-600 9
0,75% NaOH
4 234-333 16 334-422 49 423-600 12
+A0,5h
0,75% NaOH
6 236-335 17 336-422 49 423-600 11
+A1h
Térmico 4 242-357 20 358-428 47 429-600 12
145
O acetilação reduziu ligeiramente a massa residual das fibras na temperatura de 600ºC.
Como visto na analise da composição química, os tratamentos com acetilação reduziram
marginalmente o teor de hemicelulose e aumentaram o teor de lignina.
146
Figura 63.Termogravimetria (TGA) das fibras in natura e com tratamento térmico
147
Figura 65.TGA e DTG sobrepostos das fibras acetiladas e com tratamento térmico
148
constituintes (hemicelulose, celulose e lignina) sobrepostas um ao outro e, portanto, os
eventos térmicos se apresentam menos nitidamente. Ao analisar as curvas apresentadas
na Figura 66, pode se deduzir que o segundo pico exotérmico na faixa de 300-315
refere-se a degradação da hemicelulose que, na medida em que se aumenta a intensidade
do tratamento, a intensidade do pico diminui até desaparecer, que está em concordância
com o TGA e analise bioquímica.
Figura 66. DSC de fibras in natura e tratadas com NaOH em várias concentrações
Para visualizar os eventos da celulose e lignina aumentou-se a escala das curvas e estão
apresentadas na Figura 67. A partir de figura 67, observa-se o aparecimento de outros
picos endotérmicos na faixa de temperatura de 330-471ºC referentes a degradação da
celulose (MARTIN et al. 2010; YANG et al. 2007).
149
Figura 67.DSC curvas ampliadas das amostras tratadas
150
Figura 68. DSC das fibras in natura e fibras com tratamento térmica
Os tratamentos com acetilação reduziram a presença de água (figura 69). Não houve
outras mudanças significativas entre as amostras previamente mercerizadas e as
amostras acetiladas que está em concordância com o TGA, DTG e analise bioquímica.
151
Para visualizar os eventos térmicos da celulose e lignina nas amostras acetiladas,
aumentou-se a escala das curvas (Figura 70), a partir da qual, observa-se o aparecimento
de outros picos endotérmicos na faixa de temperatura de 330-471ºC referentes
novamente a degradação da celulose (MARTIN et al. 2010; YANG et al. 2007).
152
a) In natura b) 0,4% NaOH
Figura 71.f apresenta a superficie da fibra de licuri tratada com 5% NaOH para
24 horas. Ao comparar a superfície da amostra tratada com 5% NaOH para 1 hora com a
amostra tratada com 5% NaOH para 24 horas, observa-se que a forma ondulada das
células parênquimas quase desaparece com o maior tempo de imersão na solução,
deixando a superfície menos volumosa. Isso se deve provavelmente ao colapso das
células parênquimas e dissolução parcial da epiderme devido ao longo tempo de
153
imersão na solução alcalina, deixando a superfície mais limpa, lisa e aparentemente com
menos presença da epiderme.
Figura 72 a) mostra as células parênquimas posicionadas em sentido
perpendicular as calotas contendo as fibro-células cercada pela epiderme. Comparação
entre as imagens 72 a) b) e c) da secção longitudinal da fibra técnica mostram que os
tratamentos alcalinos mais intensos retiraram parte do constituinte cimentício resultando
no colapaso parcial das células parênquimas e maior empacotamento das mesmas.
Observa-se a ausência das células parênquimas decorrente o tratamento mais intenso e
uma superfície mais lisa.
a) In natura b) In natura
c) 4% NaOH d) 5% NaOH
Figura 72.Vista longitudinal da fibra técnica in natura e mercerizadas.
O topologia superficial das fibras de licuri segundo acetilação está apresentada nas
Figuras 73 e 74. Observa-se uma morfologia plastificada provavelmente devido a
presença dos grupos acetilas inseridos pelo tratamento. Cyras et al. (2009) observou
154
efeitos semelhantes decorrente o tratamento com acetilação em fibras de sisal. Atribui-
se a incorporação intensa dos grupos acetilas nas fibras como principal motivo.
a) 4% NaOH d) Acetilação
155
c) 4% NaOH f) Acetilação
Figura 74. Vista longitudinal da fibra in natura e acetiladas.
156
in natura e tratadas com uma solução alcalino de 0,75% NaOH e 4% NaOH, o
tratamento conjunto de 0,75% NaOH + Acetilação e tratadas termicamente estão
apresentados na Figura 76. Observa-se que todas as amostras estudadas apresentaram
isotérmas de absorção e desorção na forma sigmoidal, do tipo clássico II conforme a
classificação IUPAC. A presença de umidade numa dada umidade relativa atmosférica
variou consideravelmente entre as diferentes amostras, além de apresentarem diferenças
no grau de histerese exibido. Para melhor visualizar os efeitos dos tratamentos sobre o
comportamento de sorção, as isotérmas são apresentadas sobrepostas para os
tratamentos alcalinos (Figura 77), o tratamento conjunto 0,75% NaOH + acetilação com
fibras mercerizadas (0,75% NaOH) e in natura (Figura 78) e o tratamento térmico com
o controle (Figura 79).
157
Figura 76.Isotérmas de absorção e desorção das fibras tratadas.
158
Observa-se que o tratamento com acetilação reduziu a presença de umidade ao
longo todos os incrementos de umidade relativa da atmosfera quando comparada com as
fibras previamente mercerizadas (Figura 78) e o tratamento térmico aumentou as
natureza hidrófila quando comparadas com as fibras in natura.
Figura 79. Isotérmas de absorção e desorção das fibras in natura, e tratamento térmico.
159
removê-la, os grupos hidroxílas da lignina e celulose que estavam em ligação com a
hemicelulose, são expostos, aumentando assim, o número de sítios de grupos OH
acessíveis pelas moléculas de água. A mercerização pode ainda contribuir para inchação
da parede celular resultando no possível rearranjo das microfibrilas de celulose
aumentando por consequência a capacidade da parede celular acomodar as moléculas de
água. Os espectros de FTIR confirmam a maior presença de grupos hidroxílas nas
amostras tratadas com mercerização. Resultados semelhantes foram registrados por
Martins et al. (2002) e Taha et al. (2007). O mesmo fenômeno pode está responsável
pelo aumento no teor de umidade de equilíbrio das fibras tratadas termicamente. Já o
tratamento conjunto de mercerização + acetilação diminuiu a natureza hidrófila
conforme esperado, pois o acetilação envolve a substituição dos grupos hidroxílas com
grupos acetílas, aumentando a consequente hidrofobicidade das fibras. Estes resultados
estão em concordância com outros trabalhos encontrados na literatura (Tserki et al.
2005; Spinacé et al. 2009; Bessadok et al. 2009)
A Tabela 25 apresenta os valores de umidade de equilíbrio para as diferentes
umidades relativas atmosféricas. Observa-se que na faixa de umidade relativa entre 0%
e 25% houve pouca mudança no teor de umidade de equilíbrio entre os diferentes
tratamentos. As mudanças começam a se evidenciar a partir da umidade relativa de 30%
sendo a maior diferença nas faixas de umidade relativa mais altas, ao se aproximar o
ponto de saturação. Estas diferenças são mais distintas inclusive para os tratamentos
alcalinos, na faixa de umidade relativa entre 60% e 95% onde o teor de umidade do
tratamento com 4% NaOH foi mais elevado que o tratamento com 0,75% NaOH. O teor
de umidade de equilíbrio das fibras de licuri in natura à uma umidade relativa
atmosférica de 95% é de 20,7%, e 23,6% e 24,5% para as fibras tratadas com 0,75%
NaOH e 4% NaOH respectivamente. O teor de umidade das fibras tratadas
termicamente aumentou de 20,7% para 22,1%. Já o teor de umidade de equilíbrio das
fibras acetiladas reduziu de 23,6% para as fibras previamente mercerizadas para 21,7%.
A redução nas propriedades higroscópicas devido ao tratamento com acetilação poderia
favorecer uma melhor aderência interfacial fibra - matriz.
160
Tabela 25: Valores de EMC durante absorção
EM (%)
EMC
AMOSTRA
15% RH 30% RH 50% RH 60%RH 70% RH 80%RH 95% RH
Natura 2,34 3,93 5,95 7,10 8,54 10,95 20,69
0,75% NaOH 2,47 4,31 6,66 8,05 9,72 12,28 23,63
4% NaOH 2,42 4,32 6,79 8,23 9,95 12,57 24,45
0,75%+A1h 2,32 4,00 6,16 7,47 9,02 16,35 21,71
Térmica 2,32 4,09 6,36 7,70 9,28 11,58 22,14
161
Figura 80. Histerese de absorção e desorção das fibras in natura e mercerizadas.
162
Figura 82. Histerese de absorção e desorção das fibras in natura e mercerizadas.
EMC EMC
RH (%) da
Histerese (abs) à (des) à Celulose Lignina IC E
AMOSTRA histerese
Max. histerese histerese % % % GPa
máx
máxima máxima
163
A partir de tabela 26 observa-se que a histerese máxima das diferentes amostras sempre
ocorre quando o teor de umidade das fibras está na faixa de 74,4%-79,9%, mesmo que a
umidade relativa atmosférica onde ocorre histerese máxima seja inicialmente
modificada de 75% para a amostra in natura para 80% para as amostras tratadas
independente do tipo de tratamento (os tratamentos alcalinos, o acetilação ou o
tratamento térmico).
Observa-se uma correlação entre histerese e o índice de cristalinidade. Quanto
maior o índice de cristalinidade maior a histerese. O índice de cristalinidade também
está relacionado à rigidez de um material, onde os valores para o módulo de elasticidade
seguem a mesma tendência com o índice de cristalinidade e histerese com a exceção do
tratamento térmico. A resposta da amostra à uma mudança de umidade relativa dentro
da câmara do equipamento (DVS) produziu uma curva asimtóptica, de teor de umidade
com tempo, ao se aproximar o teor de umidade de equilíbrio após um tempo infinito de
exposição. As curvas do processo cinético de sorção estão apresentadas nas Figuras 83,
84 e 85. Observa-se que todos os tratamentos aumentaram substancialmente o tempo de
corrida para completar o processo de sorção do isotérmo, exceto o tratamento com
acetilação. Além do mais, o tempo para completar o ciclo de desorção é maior que o
tempo para completar o ciclo de absorção para todas as amostras, ressaltando a falta de
simetria entre a absorção e desorção que poderia estar relacionadas mesmo fenômeno
que a histerese (XIE et al. 2011) e, portanto, sua origem está relacionado ao
comportamento micromecânico da parede celular na presença de umidade. Entre os
tratamentos alcalinos, a maior intensidade de tratamento (4% NaOH) levou mais tempo
que o tratamento mais fraco (0,75% NaOH). A variação no tempo total de corrida
depende da capacidade de sorção do material, e a maior capacidade de absorção de
umidade levaria um tempo maior para percorrer a corrida completa desde uma umidade
relativa atmosfera de 0% até 95% e para 0% novamente (XIE et al. 2011). Segundo Xie
et al (2011), além de massa da amostra, a geometria da celulose pode também influir no
tempo de corrida para alcançar o teor de umidade de equilíbrio.
164
Figura 83. Isotérmas em função de tempo das fibras mercerizadas.
165
Figura 84. Isotérmas em função de tempo das fibras tratadas termicamente
A partir de Figura 85 observa-se que o tratamento com acetilação não mudou o tempo
de corrida para completar o ciclo de absorção, mas reduziu o tempo durante desorção
além de diminuir a presença de umidade quando comparado com a amostra previamente
mercerizada com 0,75% NaOH, conforme esperado.
166
Como visto na revisão bibliográfica, o comportamento de sorção de fibras
vegetais pode ser precisamente descrito utilizando o modelo numérico, Cinético
Exponencial Paralelo, PEK (Parallel Exponencial Kinetics model). O modelo PEK
permite analisar as cinéticas do processo de sorção de fibras vegetais e decompõe o
processo de sorção de uma amostra ao se aproximar o teor de umidade de equilíbrio
num processo cinético lento e um processo cinético rápido. Figura 86 apresenta uma
curva para o processo dinâmico de absorção da amostra in natura para uma umidade
relativa atmosfera de 5% e os respectivos parâmetros do modelo numérico PEK obtidos
com a função ExpAssoc do programa ORIGIN. Todos as curvas apresentaram valores
de R2 acima de 0,98 confirmando a correlação forte entre as curvas experimentais e o
modelo numérico PEK.
Para validar o modelo PEK, isotérmas foram reproduzidas utilizando os valores teóricos
para o teor de umidade de equilíbrio MC0 calculados utilizando os parâmetros PEK para
o processo cinético rápido e processo cinético lento (MC1) e (MC2) respectivamente. As
isotérmas obtidas a partir dos parâmetros PEK foram colocadas sobrepostas as
isotérmas experimentais e estão apresentadas na Figura 87. Observa-se a precisão dos
resultados entre os parâmetros PEK com os valores de teor de umidade de equilíbrio
(EMC) experimentais. Além do mais, o modelo PEK produziu isotérmas de absorção e
167
desorção na forma sigmoidal, do tipo clássico II conforme a classificação IUPAC e
reproduz ainda a histerese entre as curvas.
168
As curvas de absorção dinâmica e as respectivas curvas decompostas no
processo cinético rápido e processo cinético lento para a amostra in natura em
diferentes umidades relativas atmosféricas estão apresentadas na Figura 88.
169
Quando as fibras são expostas à umidades relativas atmosferas mais baixas, o processo
de absorção é dominado pelo processo cinético rápido, este processo sendo responsável
pela maior proporção de teor de umidade. Na medida em que a umidade relativa
atmosférica aumenta, o processo de absorção começa a ser denominado pelo processo
cinético lento. Ou seja, em umidades atmosféricas relativas acima de 60% observa-se
que a maior proporção do teor de umidade pertence o processo cinético lento e ao
chegar a ponto de saturação na umidade relativa de 95%, o processo de absorção de
umidade é quase que completamente denominado pelo processo lento. Isso é
demonstrado pelo maior teor de umidade da curva cinética lenta.
O incremento no teor de umidade de equilíbrio para os processos cinéticos
rápidos e lentos durante absorção e desorção em função de umidade relativa do
atmosfera para as fibras in natura está apresentado na Figura 89.
Figura 89. Incrementos no teor de umidade dos dois processos cinéticos em função
da umidade relativa atmosférica das fibras in natura.
Observa-se que para umidades relativas baixas e até RH 60% não houve mudanças
significativas no incremento de teor de umidade da entre cada umidade relativa
atmosfera tanto no processo cinético rápido quanto o processo cinético lento. No
entanto, a partir da umidade relativa atmosférica de 70% o incremento no teor de
umidade aumenta significativamente para o processo cinético lento durante absorção,
170
como evidenciado pelos gráficos na Figura 88. O tempo característico (t1) e (t2)
necessário parar alcançar o teor de umidade de equilíbrio para o processo cinético
rápido e o processo cinético lento respectivamente em cada incremento de umidade
relativa está apresentado na Figura 90. Podemos observar que em umidades relativas
atmosféricas altas (acima de 70%) o tempo característico (t1) relacionado ao processo de
absorção cinética rápida aumenta ligeiramente para as fibras in natura. Esta mesma
tendência é observada com o tempo característico (t2) relacionado ao processo de
absorção cinética lenta aumenta, porém há um acréscimo contínuo no tempo
característico ao longo de toda a corrida da isotérma desde as umidades relativas
atmosféricas baixas até umidades relativas altas.
171
Figura 91.Taxa de sorção em função de umidade relativa das fibras in natura.
172
Figura 92. Taxa de sorção em função de umidade relativa das diferentes amostras
tratadas e as fibras in natura.
Figura 93 apresenta os efeitos dos tratamentos sobre as taxas de sorção para os dois
processo cinéticos em função de umidade relativa atmosférica, onde as siglas MC1 e
MC2 referem-se aos processos cinéticos rápidos e lentos respectivamente. Analisando o
processo cinético rápido, observa-se que os tratamentos alcalinos e térmico reduziram a
taxa de sorção de umidade para umidades relativas atmosféricas baixas e até RH 65%.
Para umidades relativas maiores (RH) entre 65% e 90% as taxas de sorção se
aproximam os valores das fibras in natura. Já o tratamento com acetilação aumentou a
taxa de sorção das fibras previamente mercerizadas em RH entre 0% e 45%. Para
umidades relativas acima de 45% o tratamento com acetilação reduziu a taxa de sorção
quando comparada com as fibras previamente mercerizadas e para umidades relativas
acima de 45% o tratamento aumenta a taxa de sorção.
Durante desorção para o processo cinético rápido o mesmo efeito foi encontrado,
porém no sentido contrário. Os tratamentos alcalinos e tratamento térmico reduziram a
taxa de sorção ao longo todas as faixas de umidade relativa atmosfera, enquanto o
tratamento com acetilação reduziu a taxa de sorção das fibras previamente mercerizadas
na faixa de umidade relativa atmosfera de 90% até 40%. Para umidades relativas
atmosferas menores (0 - 40%) a taxa de sorção foi maior que as fibras previamente
mercerizadas. Observa-se ainda que os tratamentos influenciam na taxa de sorção
durante o processo cinético lento tanto durante absorção quanto desorção apenas em
faixas de umidade relativa baixas e altas. Para umidades relativas entre
aproximadamente 25% e 60% não há diferenças na taxa de sorção entre as diferentes
173
amostras tratadas, ou seja, os tratamentos superficiais influenciam a taxa de sorção para
umidade relativas entre 0-25% e 65-95%.
Figura 93. Taxa de sorção decomposto em PEK processos cinéticos lentos e rápidos em
função de RH para as diferentes amostras tratadas
174
4.1.9. Caracterização Mecânica das Fibras
TRATAMENTOS ALCALINOS
Os efeitos dos diferentes tratamentos sobre as propriedades mecânicas foram
investigados mediante ensaios de tração. As curvas típicas de tensão/deformação da
fibra técnica de licuri segundo os tratamentos alcalinos em diferentes concentrações
estão apresentadas em Figura 94. Pelas curvas obtidas, observe-se que as fibras
apresentam uma região linear elástica até a tensão máxima sem região de escoamento,
característica de materiais frágeis. Segundo Callister (2002) os materiais que
apresentam uma deformação específica à ruptura menos que 5% são caracterizados
como materiais frágeis. Desta maneira, as fibras de licuri podem ser classificadas como
fibras possuindo modo de fratura frágil semelhante as fibras de sisal, juta e linho
(SYMINGTON et al. 2009) e outros trabalhos com fibras de licuri (RICL, 2010).
Observou-se ainda a presença de pequenas caídas na curva de algumas fibras técnicas,
devido a ruptura dos filamentos (RICL, 2010; SYMINGTON et al. 2009).
175
Um quadro resumo das propriedades mecânicas tratadas com soluções alcalinas em
diferentes concentrações está apresentado na Tabela 27.
Deformação Resistência E
AMOSTRA
Específica (%) MPa GPa
176
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