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CULTURA1
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Este artigo é o resultado parcial da pesquisa intitulada “A alocação de recursos públicos e a
possibilidade de configuração de um arranjo produtivo da cultura regional”, tendo como
instituição financiadora o Ministério da Cultura – MinC – e como instituição executora o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
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Professor do Curso de Relações Públicas – ênfase em Produção Cultural – da Universidade
Federal do Pampa – UNIPAMPA – campus São Borja, RS, doutorando em Desenvolvimento
Regional, Universidade de Santa Cruz do Sul. tiago.martins@pq.cnpq.br
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Geógrafo, doutorando em Geografia no Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. victorsoliveira@hotmail.com
distribuição, uso, apropriação e consumo. A característica transversal sugere que as
práticas sociais estão entrelaçadas por agentes e instituições, constituindo um sistema
cultural com ações e movimentos, por vezes concomitante, de mãos visíveis e
invisíveis. É nessa ordem que se estabelece uma das premissas que problematiza o
referido estudo: o entrelaçamento constante entre política e economia no campo
institucionalizado da cultura. Assim, o pano de fundo desta problematização é entender
que na produção cultural o Estado pode ser a mão visível que organiza, fomenta e
impulsiona o setor cultural econômico. Ele gera consequências positivas para a
economia e o desenvolvimento local; estabelece relações com a oferta privada e o
consumo público do mercado da cultura; e exerce um efeito de alavancagem sobre as
coletividades territoriais (TOLILA, 2007).
Essa perspectiva destaca o efeito de deslocamento dos gastos públicos,
mobilizando organizações de diferentes coletividades territoriais (outros municípios,
regiões, Estados). Quando há um ganho de escala territorial – região – a confluência
para esse recorte traz consigo fatores que ampliam a dinâmica cultural (identidade,
pertencimento, interação e unidade) e incidem sobre as práticas econômicas. É o que se
quer verifica na configuração da região das Missões no Rio Grande do Sul, objeto de
estudo dessa pesquisa.
Assim, a proposta desse artigo é apresentar os resultados parciais da pesquisa
que objetiva verificar, por meio das ações realizas pelas prefeituras municipais na região
das Missões, o papel das políticas públicas na alavancagem de um arranjo produtivo
da/na cultura regional. Apresenta-se um breve resumo metodológico empreendido
através do levantamento de dados primários oriundos da alocação de recursos públicos
de 25 municípios da região das Missões do Rio Grande do Sul e visualiza-se a relação
entre oferta e demanda de bens e serviços e o deslocamento desses recursos em outros
territórios.
Nessa conjuntura as práticas do Estado na cultura podem ser vistas como ações
intervencionistas em diferentes domínios culturais cujo objetivo é reparar determinadas
falhas ao longo do processo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços
culturais. Ao propor ações nos circuitos culturais o Estado, além de buscar a resolução
dessas “falhas”, realiza um mecanismo de fomento econômico através das “alocações de
recursos dirigidos” (TOLILA, 2007, p. 71). Trata-se do orçamento cultural que se
materializa com o gasto público no setor, gerando em última instância emprego e renda.
Paul Tolila elenca uma série de aspectos que situam a cultura (despesa pública no setor)
e sua contribuição à economia: gera consequências positivas para a economia e o
desenvolvimento regional/local. A justificativa está associada à disponibilização
institucional em termos de impacto direto sobre suas despesas e os salários que
distribui. “A economia local recolhe em geral uma parte muito importante desse total”
(TOLILA, 2007, p. 76); estabelece relações com a oferta privada e o consumo público
do mercado da cultura. Nesse aspecto importa destacar os bens e serviços que não são
culturais, mas que são fundamentais à produção cultural, tal como a prestação de
serviços (sonorização, segurança, alimentação, etc.); exerce um efeito de alavancagem
sobre as coletividades territoriais. Tolila (2007) destaca o efeito de deslocamento dos
gastos públicos, mobilizando organizações de diferentes coletividades territoriais
(outros municípios, regiões, Estados).
Nota-se que a relação entre gastos públicos, enquanto materialização de uma
política do setor, e a economia possuem conexões diretas e intensas em termos de
articulação e efeitos. Sentencia Tolila que a compreensão dessa abordagem terá uma
contribuição determinante para o valor e a condição do debate democrático sobre a
cultura.
Assim, conclusivamente, pode-se dizer que a alocação de recursos públicos na
cultura se comprova como uma ação prática que atua diretamente na oferta de bens e
serviços privados; estabelece uma organização material do setor cultural em atividades
nucleares, relacionadas e de apoio e; tem efeito de alavancagem sobre o conjunto de
empresas e instituições que estão além do município de origem destes recursos.
A analise do ambiente cultura e as ações estatais para fomento do setor tornam-
se pertinente na região das Missões do Rio Grande do Sul – noroeste do Estado –
devido a sua peculiaridade no que tange a ocupação e a diversidade, fator preponderante
ao perceber a cultura como promotora de alavancagem para o desenvolvimento.
Diferentemente de parte significativa do Brasil, o Rio Grande do Sul não foi
ocupado primeiramente pelo litoral. As primeiras incursões europeias4 no Brasil
Meridional foram realizadas pelos padres espanhóis jesuítas, em 1634, com a finalidade
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Anteriormente à ocupação europeia, indígenas habitavam o território do atual Estado do Rio Grande do
Sul, sendo estes o motivo para as primeiras tentativas de ocupação do espaço meridional do Brasil.
de introduzir os índios ao catolicismo, ensinar-lhes técnicas de plantio, criação de gado
e também a leitura e escrita.
Localizados nas proximidades dos Rios Piratini e Jacuí, os grupos indígenas que
estavam organizados em pequenas reduções jesuíticas começaram a sofrer constantes
ataques de bandeirantes que visavam à obtenção da mão de obra indígena para trabalhar
no sudeste do país. Por conta destas interferências, muitas delas violentas, os padres
jesuítas viram-se na necessidade de abandonar as reduções em 16385, deixando no
território do Rio Grande do Sul, entretanto permaneceu uma rica contribuição social e
cultural ainda marcante na história do Estado.
Apesar de ser a primeira região do Estado a ser ocupada, as Missões foi a ultima
a ter um adensamento populacional, fato ocorrido apenas em meados do século XX com
imigrantes alemães e italianos que ocupavam o nordeste e centro do Rio Grande do Sul.
Devido ao pequeno módulo fundiário pertencente a grandes famílias de imigrantes que
fragmentava-se ainda mais por sucessão hereditária, houve a necessidade de migração
para áreas ainda pouco povoadas, em especial a região noroeste.
Esse processo histórico uniu no mesmo território uma diversa raiz cultural,
elemento preponderante para muitos teóricos na valorização da cultura, tanto no seu
aspecto social, quanto no econômico. Para além das relações teóricas, a própria política
nacional de fomento cultural promove a diversidade como aspecto essencial na
promoção de um desenvolvimento que mostra-se alternativo aos grandes circuitos
mercadológicos, tornando-se as Missões uma região que oferece interessante fato
histórico para análise.
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Posteriormente, em 1682, os padres jesuítas retornam ao Estado a serviço da coroa espanhola, fundando
as missões. Sete delas estavam situadas onde atualmente é o Estado do Rio Grande do Sul, outras 23
estavam no Paraguai e na Argentina.
Para acompanhar os gastos públicos na cultura é possível optar por escolher o
“órgão” da prefeitura municipal responsável pelas atividades do setor. Isso pode variar
de acordo com a estrutura institucional. Há prefeituras que possuem a cultura como uma
unidade independente, Secretaria Municipal de Cultura, outras estão vinculadas à
educação ou ao turismo e eventos.
Ao escolher um ano de execução orçamentária é possível visualizar todos os
empenhos realizados pela prefeitura. Na descrição do histórico a prefeitura informa o
motivo da realização da despesa, tal como o exemplo: “Valor que se empenha para
pagamento referente a locação de sala na Avenida Presidente Vargas, nº 2095, para
Exposição dos Trabalhos de conclusão da Oficina de Pintura” (TCE-RS, 2013). Nota-se
que nessas descrições há referência ao produto ou serviço (locação) e ao domínio
cultural (Artes visuais, como a pintura). Por fim, os dados disponíveis ainda
possibilitam verificar, para os casos referentes à pessoa jurídica, qual a atividade
econômica principal (CNAE) e o local (município) do credor. Nesse sentido, vale dizer,
a metodologia da pesquisa versa sobre o tratamento das informações sobre as despesas
orçamentárias dos municípios. Se para os indicadores culturais do IBGE a análise dos
gastos governamentais com a cultura apresenta o padrão de alocação destas despesas, na
presente pesquisa procura-se apontar o perfil desses gastos e os desdobramentos que
estes resultam ao atuarem na difusão, preservação e promoção da cultura no que versa
aos custos de produção de cada atividade cultural.
Assim, para a relação entre política e economia da cultura as informações
disponíveis e o cruzamento destas oferece uma gama razoável de dados públicos. A
organização dessas informações possibilita a criação de variáveis numéricas e nominais
que podem receber tratamento estatístico oportuno para a consecução dos objetivos
estabelecidos na pesquisa. Para os fins metodológicos é preciso ater-se em alguns
pontos: (1) A alocação de recursos públicos está descrita no empenho em moeda
corrente, tendo por premissa o uso daqueles empenhos que efetivamente foram pagos
pela prefeitura; (2) A atividade principal e o município estão associados ao Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica, portanto obedecerá este registro na localização territorial
da empresa e na definição da Classificação Nacional de Atividades Econômicas-Fiscal,
CNAE-Fiscal; (3) A definição dos setores culturais será baseada na categorização
empreendida pelo Ministério da Cultura (SEC, 2011), especialmente associada às
atividades criativas; (4) Para analisar as despesas públicas na cultura nos municípios
formam ordenados os empenhos referentes ao tópico “Cultura”, código “13”, do
Tribunal de Contas do Estado. Assim, busca-se evitar as diferentes estruturas
administrativas empreendidas pelas prefeituras em tela.
Os dados da região
Quadro 01 - Percentual dos gastos em cultura das prefeituras (região Missões) nas vinte
primeiras sub-classes CNAE (2013).
Sub-classe Descrição %
9430800 Atividades de associações de defesa de direitos sociais 13,08
9001999 Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares 10,31
8230001 Serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas 5,84
4399103 Obras de alvenaria 5,66
4120400 Construção de edifícios 5,00
9001906 Atividades de sonorização e de iluminação 4,86
3514000 Distribuição de energia elétrica 2,81
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Informações contidas no relatório parcial da presente pesquisa.
8592903 Ensino de música 2,71
4752100 Comércio varejista especializado de equipamentos de telefonia e comunicação 2,40
4744005 Comércio varejista de materiais de construção 2,39
9312300 Clubes sociais, esportivos e similares 2,26
9499500 Atividades associativas não especificadas anteriormente 2,19
9420100 Atividades de organizações sindicais 2,18
1354500 Fabricação de tecidos especiais, inclusive artefatos 2,12
9001902 Produção musical 1,97
9491000 Atividades de organizações religiosas 1,62
4756300 Comércio varejista especializado de instrumentos musicais e acessórios 1,45
6110801 Serviços de telefonia fixa 1,40
7739099 Aluguel de outras máquinas e equipamentos comerciais e industriais 1,31
1412601 Confecção de peças de vestuário 1,25
Fonte: MARTINS (2014), baseado nos dados do Tribunal de Contas do RS e Receita Federal [s/d].
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O quadro abaixo apresenta uma definição de gastos endógenos e exógenos. Traduz-se
simplificadamente na forma de relacionar o gasto feito pela prefeitura dentro do próprio município
(endógeno) e fora do município (exógeno).
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Foram excluídos os municípios de Dezesseis de Novembro, Eugênio de Castro, Pirapó, Porto Xavier,
Rolador, Sete de Setembro e Ubiretama por não apresentarem despesas significativas em cultura,
conforme dados do Tribunal de Contas do RS para o ano de 2013.
Salvador das Missões 58,9 41,1
São Borja 54,8 45,2
Caibaté 49,1 50,9
Mato Queimado 32,5 67,5
Guarani das Missões 29,0 71,0
Entre-Ijuís 28,9 71,1
Giruá 27,8 72,2
São Paulo das Missões 27,3 72,7
Garruchos 26,5 73,5
Roque Gonzales 21,7 78,3
Itacurubi 19,9 80,1
Bossoroca 14,9 85,1
São Pedro do Butiá 14,3 85,7
Vitória das Missões 3,3 96,7
Fonte: MARTINS (2014), baseado nos dados do Tribunal de Contas do RS e Receita Federal [s/d].
Fonte: MARTINS (2014), baseado nos dados do Tribunal de Contas do RS e Receita Federal [s/d].
Referências