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CIVILIZAÇÃO E CULTURA: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS

PARA A COMPREENSÃO DOS PROCESSOS SOCIAIS

João Paulo Pooli


UCS/ ULBRA
jpooli@uol.com.br

Resumo: Esse artigo analisa os conceitos de processo civilizador elaborado pelo


sociólogo Norbert Elias, em relação ao conceito de cultura proposto pelos teóricos do
Cultural Studies ingleses. A partir um breve, mas instigante artigo de um Johan
Goudsblom intitulado: Pensar com Elias ele argumenta que, através das suas pesquisas
sobre a obra de Elias, tende a reconsiderar o conceito de processo de civilização
utilizando esse termo como equivalente dinâmico do conceito de cultura. Propomos
compreender a proximidade desses conceitos, através de uma análise da utilização desses
termos nos estudos elisianos e culturalistas.
Palavras-chave: processo civilizador, cultura, significado

Abstract: This article analyzes the concepts of the civilizing process developed by the
sociologist Norbert Elias, relating to the concept of culture proposed by the British
Cultural Studies' theorists. After a brief but provocative article in a Johan Goudsblom
entitled Think with Elias he argues that through his research on Elias' work, tends to
reconsider the concept of civilizing process using this term as equivalent dynamic of the
concept of culture. We propose to understand the proximity of these concepts through an
analysis of the use of these terms in elisian and culturalist studies.
Keywords: civilizing process, culture, meaning

Johan Goudsblom em um breve, mas instigante artigo intitulado: Pensar com Elias
argumenta que, através das suas pesquisas sobre a obra de Norbert Elias, tende a
reconsiderar o conceito de processo de civilização elaborado por Elias, utilizando esse
termo como equivalente dinâmico do conceito de cultura. Esse artigo analisa a
proximidade desses conceitos, através de uma análise da utilização desses termos nos
estudos elisianos e culturalistas. Essa idéia é inovadora em relação ao conceito de processo
civilizador e concordo inteiramente com Goudsblom nesse aspecto. Porém, me parece que
a processualidade com que se define o conceito elisiano está muito mais próximo do
conceito de cultura, utilizado pelos autores do Centre for Contemporary Cultural Studies,
da Universidade de Birmingham, principalmente através dos referenciais teóricos dos seus
fundadores: Richard Hoggart, Raymond Williams, E. P. Thompson e contemporaneamente
a Stuart Hall.
Goudsblom (1998) afirma com a autoridade de quem conhece profundamente as
teorias de Norbert Elias e seus desdobramentos que:

Em una serie de casos, la teoría de la civilización ya ha sido aplicada con beneficio al


estudio de desarrollos culturales e institucionales específicos, como la sociogénesis del matrimonio
eclesiástico y burgués (Michael Schröter), el surgimiento del desporte y otras formas modernas de
ocio (Elias y Eric Dunning), la formación del oficio de artista (Bram Kempres) y el desarrollo de
diversos sistemas de bienestar como la atención a los ancianos, la educación y la salud (Abram de
Swaan). (p. 60-61)

Goudsblom também propõe uma aproximação de processo civilizador com a


cultura, como conceito vinculando ao campo das ciências sociais em geral, mais
especificamente citando a antropologia de Ruth Benedict. Para ele, esses conceitos estão
relacionados a um conjunto de aprendizados que devemos possuir para poder constituir
uma vida social, e que são transmitidos de geração para geração. São fundamentalmente
comportamentos individuais/sociais impostos e/ou auto-regulados para tornar possível
resolver os problemas dinâmicos que vão se apresentando na vida cotidiana. Para o autor
esse conceito tem uma conotação mais “estática” (p.243), mesmo quando ressalta o caráter
duplo de continuidade e mudança dos processos de civilização.
Aqui não se trata especificamente de fazer uma crítica direta ao pesquisador, mas
há uma questão controversa no seu artigo que diz respeito à comparação que faz em
relação à evolução biológica. Goudsblom argumenta, com precauções, sobre a
probabilidade de que as mutações que ocorrem na sociedade humana sejam semelhantes
aos processos evolucionistas de seleção natural, considerando que a grande maioria das
mutações não se adaptam e desaparecem rapidamente. Por certo, podemos realizar algumas
aproximações teóricas entre aquilo que ocorre no mundo biológico e no mundo social,
porém as mudanças no mundo social provocadas pelo acelerado processo de
desenvolvimento tecnológico, têm ocorrido com uma velocidade nunca imaginada tanto
por Darwin como Norbert Elias. Pode ser que estejamos em um momento histórico onde
essas mutações se adaptem e desapareçam rapidamente.
Não podemos esquecer que os dois principais trabalhos de Norberto Elias, A
Sociedade de Corte e o Processo Civilizador, tomam como referência a formação das
cortes no antigo regime entre os séculos XVII e XVIII, principalmente a corte de Luis
XIV. A sua sociologia de corte é uma sociologia processual, e as transformações que
ocorriam no antigo regime em direção a modernidade eram muito lentas se comparadas às
transformações da contemporaneidade. Aliás, o próprio Elias já havia se dado conta desses
processos alertando que: comparado com os critérios da nossa vida social, o “mundo” do
século XVIII era uma estrutura social extremamente sólida e coerente. Mas tinha uma
textura bastante frouxa, quando o compararmos com o “mundo” do século XVII,
designadamente com a “boa sociedade” do tempo de Luis XIV. (1987: p.53). A inovação
da sociologia processual consiste exatamente em assumir que as sociedades encontram-se
sempre em desenvolvimento e não se movendo através de estágios como teoriza Talcom
Parsons. Goudsblom ao se aproximar, mesmo com o devido cuidado do evolucionismo
pisa em um terreno demasiadamente movediço, aventando inclusive a possibilidade de que
a “capacidade genética de aprender tenha aumentado durante a evolução humana”. (p.244).
A capacidade genética de aprender não esta ligada a evolução humana, mas sim a
cultura. A capacidade de aprender é quase que exclusiva dos neurônios, e eles não se
modificam para melhor (pelo contrário, inclusive ao longo do tempo perdemos neurônios -
apoptose), porém é a rede neuronal que através de infindáveis sinapses 1 realiza novas
combinações, dependendo da forma como interagimos com as coisas a nossa disposição.
Um exemplo disso é uma afirmação oriunda do senso comum de que as crianças de hoje

1
Cada neurônio tem potencial para fazer em torno de 60 mil conexões ou sinapses. Por seu turno, cada
sinapse pode receber até 100 mil impulsos por segundo, o que dá uma idéia da complexidade da estrutura e
do funcionamento das redes neuronais. A partir dessas informações, fica fácil entender por que não há a
menor possibilidade de haver dois cérebros absolutamente iguais, nem do ponto de vista neuroanatômico,
nem do ponto de vista neurofuncional. (ROTTA, Newra T. et alli. Transtornos da Aprendizagem:Abordagem
Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006. p.23)
são mais inteligentes do que as do passado. O que observamos na realidade é que as
infâncias contemporâneas foram transformadas mediante a utilização de um conjunto de
novos artefatos culturais como a utilização de brinquedos e brincadeiras midiáticas,
equipamentos tecnológicos sofisticados, redes comunicacionais digitais, novos padrões
educacionais etc. O que se modificou foi à cultura infantil que possivelmente desenvolveu
nas crianças novas formas de processar e se relacionar com o mundo.
Em relação ao processo de conhecimento Elias continuamente reafirma que os
modelos adotados pelas ciências físico-químicas não são adequados para uma análise dos
homens no mundo social.

Tem-se verificado uma tendência para tornar científicos modos de pensamento e de


expressão usados naquilo que hoje designamos por ciência física, em nítida distinção com o mundo
humano e social. Muitas das descobertas das estruturas químicas e físicas passaram para o estoque
de conceitos e palavras usados quotidianamente na sociedade européia, enraizando-se nela. Muitas
palavras e conceitos cujas formas atuais derivam essencialmente da interpretação de fatos naturais,
foram transferidos indevidamente para a interpretação dos fenômenos humanos e sociais.
Juntamente com as diversas manifestações de pensamento mágico e mítico, contribuem para que se
perpetuem nas ciências humanas muitos modos usuais de discurso e de pensamento totalmente
inadequados a esses domínios. Impedem assim que se desenvolva um modo mais autônomo de falar
e de pensar, mais adequado às particularidades específicas das configurações humanas. [...] Em vez
de palavras e de conceitos marcados pela sua origem mágico-mítica ou vindos das ciências naturais,
a sociologia deverá produzir gradualmente outros conceitos, que sejam mais adequados às
particularidades das representações sociais do homem. (ELIAS, 1980, p. 18)

Toda a sociologia elisiana é vinculada há conceitos dinâmicos em oposição aos


conceitos estáticos das ciências naturais. Esse posicionamento torna muito difícil qualquer
tipo de vinculação metodológica e teórica direta entre as ciências naturais e as ciências
sociais.
Nesse sentido, o conceito de cultura a que se refere Goudsblom é o utilizado pelas
ciências sociais, mas vinculado a antropologia de Ruth Benedict. Embora o livro Padrões
de Cultura seja um clássico do pensamento antropológico, o conceito de cultura utilizado
contempla uma concepção demasiadamente estática de cultura. Para Benedict:

A história da vida individual de cada pessoa é acima de tudo uma acomodação aos padrões
de forma e de medida tradicionalmente transmitidos na sua comunidade de geração para geração.
Desde que o indivíduo vem ao mundo os costumes do ambiente em que nasceu moldam sua
experiência dos factos e a sua conduta. Quando começa a falar ele é o frutozinho da sua cultura, e
quando crescido e capaz de tomar parte das actividades desta, os hábitos dela são os seus hábitos, as
crenças dela, as suas crenças, as incapacidades dela, as suas incapacidades. [...] Nenhum outro
problema social nos cabe mais forçosamente conhecer do que este do papel que o costume
desempenha na formação do indivíduo. (s/d. p.15).

Segundo esse ponto de vista, os costumes do ambiente “moldam” a conduta do


sujeito, sendo ele um frutozinho da sua cultura. O conceito de modelagem é muito
controverso. Elias (1980) ao analisar o conceito de ação social em Weber, argumenta que
sua concepção não é processual, uma vez que considerava haver uma separação entre as
ações sociais e as ações individuais. Para Weber abrir um guarda-chuva para se proteger da
chuva não seria uma ação social, enquanto para Elias seria social pelo fato de somente
certas sociedades fabricam guarda-chuvas. A questão central então não seria a utilização
mecânica de determinado artefato, mas sim a utilização cultural que uma sociedade faz
desse artefato.
No segundo capítulo do livro O Processo Civilizador, Elias parece deixar isso bem
claro, ao escrever sobre a transformação dos costumes medievais a mesa, mais
especificamente no que se refere ao uso da colher para tomar sopa e do garfo e faca para
levar comida a boca. A utilização desses artefatos não era simplesmente uma ação
mecânica do processo de alimentação individual, pelo contrário, aprender essas condutas
significava estar pertencendo a uma estrutura social (cultural) bem definida e diferenciada,
que alterava o nível de consciência e emoções que as pessoas tinham de si mesmo. Não era
simplesmente a modelagem de um novo padrão de conduta, de um costume individual, não
se estava “apenas passando adiante a tradição” (1990, p. 84).

A tendência cada vez maior das pessoas a se observarem e aos demais é um sinal de que
toda a questão do comportamento estava, nessa ocasião, assumindo um novo caráter: as pessoas se
moldavam às outras mais deliberadamente do que na Idade Média. [...] Durante muitos séculos
aproximadamente as mesmas regras, elementares segundo nossos padrões, foram repetidas,
obviamente sem criar hábitos firmes. Neste momento, a situação muda. Aumenta a coação exercida
por uma pessoa sobre a outra e a exigência de “bom comportamento” é colocada mais
enfaticamente. Todos os problemas ligados a comportamento assumem nova importância. (p.91)

Para Elias, podemos concluir que: [...] esse mundo consiste de dois universos
diferentes, um dos quais é caracterizado pela palavra de código “natureza” e o outro pela
de “história” ou “cultura”. (2002, p11), salientando que os modos de existência natural e
social, tal como a existência social e individual são inseparáveis e estão estreitamente
ligados. A questão do significado é que assume uma centralidade nos processos sociais.
Para ele: a constituição dos seres humanos exige que os seus produtos culturais sejam
específicos da sua própria sociedade (p. 7), isso é que tenham significado para as pessoas.

[...] o significado de uma acção para o actor é co-determinada pelo significado que ela
assume para os outros. As relações das pessoas entre si não são aditivas. A sociedade não é um
amontoado de acções individuais comparável a um monte de areia, nem é um formigueiro de
indivíduos programados no sentido de uma cooperação mecânica. Ela assemelha-se antes a uma teia
de pessoas vivas que, sob uma diversidade de formas, são interdependentes. (ELIAS, 2002, p. 51)

É com esse enfoque que Elias defende a concepção de um homem com


“personalidade aberta”, possuindo maior ou menor grau de autonomia em relação às outras
pessoas. O que os liga são as redes de interdependência – as configurações.

O conceito de configuração foi introduzido exatamente porque expressa mais clara e


inequivocadamente o que chamamos de “sociedade” que os atuais instrumentos conceituais de
sociologia, não sendo nem uma abstração de atributos de indivíduos que existem sem uma
sociedade, nem um” sistema” ou” totalidade ‘ para além dos indivíduos, mas a rede de
interdependências por eles formada. (ELIAS, 1990. p, 249).

Segundo Elias a vida conjunta dos seres humanos em grandes ou pequenos grupos é
singular e co-determinado pela transmissão de conhecimentos de uma geração para outra
através do singular no mundo simbólico específico de uma figuração já existente que
servem como sistemas de orientação (Elias, 2006 p.25). A questão central que nos interessa
para este texto é quando Elias afirma que um ser humano singular pode possuir um grau de
liberdade de ação que lhe permita mudar de uma configuração para outra, dependendo é
claro das peculiaridades da configuração em questão (p.27), e que no meu entender está
relacionado diretamente com o conceito de cultura.

Os estudos culturais e a cultura

Os estudos culturais ingleses se preocupam essencialmente com a cultura a partir de


estudos como o de Richard Hoggart sobre a “cultura dos pobres”, que busca compreender a
influencia dos produtos (artefatos) culturais sobre as classes populares. Ele entendia que a
indústria cultural, através dos meios de comunicação (jornais, revistas e rádio), tinha
enorme influencia na formação do estilo de vida das classes populares. Outros
pesquisadores como Raymond Williams e Edward Thompson, seguindo a mesma linha
teórica, pensavam que não se poderia negligenciar a cultura como elemento indispensável
para compreender as relações de poder, uma vez que essas análises, que estavam
confinadas ao campo da economia (marxismo clássico), não respondiam mais as demandas
teóricas do seu tempo. Sem essa inflexão para a cultura ficaria muito difícil compreender
conceitos como o de resistência, dominação, representação, mudança social, ideologia,
gênero, etnia, cultura de massa, assim como sobre o impacto da televisão sobre a
socialização das classes populares.
Para Raymond Williams (2003. p.51-56), cada sujeito aprende um conjunto de
regras através da herança e da cultura, e só podem compreender a realidade se assimilar
essa cultura. Para o autor a cultura tem três dimensões, a primeira a “ideal“ entendendo a
cultura como um estado ou processo de perfeição humana em termos de valores absolutos
ou universais. Em segundo lugar a categoria “documental”, onde a cultura é o conjunto das
obras intelectuais e imaginárias onde se registram de diversos modos o pensamento e a
experiência humana, sendo a cultura então uma atividade crítica. Em terceiro lugar a
definição “social” da cultura entendida como a descrição de um modo determinado de vida
que expressa certos significados e valores, não só na arte e na aprendizagem, mas também
em instituições e nos comportamentos ordinários. Para ele, qualquer teoria apropriada de
cultura deve incluir as três esferas. É necessário, portanto, buscar significados e valores,
buscar o registro da atividade humana criativa não só na arte e no trabalho intelectual, mas
também em instituições e formas de comportamentos.
Entendo que esses três elementos apontados por Williams estão muito próximos do
conceito de processo civilizador principalmente quando Norbert Elias estuda a história dos
costumes nas cortes do século XVII e XVIII. Para ele (1990, p.24):

O conceito de “civilização” referir-se a uma grande variedade de fatos: ao nível da


tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às idéias
religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de habitações ou à maneira como homens e
mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário ou ao modo como
são preparados os alimentos.

A proximidade desses dois conceitos é evidente para esses dois autores,


principalmente quando não privilegiam qualquer elemento em detrimento de outro. O
modo de vida como um todo é que se constitui num campo de análise, que procura
compreender o sistema de significações através das praticas significativas que passam pela
linguagem, pelas artes, pela filosofia, pela moda, pela publicidade, pelos comportamentos,
assim como pelas suas estruturas de poder.
Stuart Hall, sociólogo do Centre for Contemporary Cultural Studies, da
Universidade de Birmingham, também compartilha da concepção de Norbert Elias sobre o
conceito de ação social em relação à produção de significados. Para ele:

Os seres humanos são seres interpretativos, instituidores de sentido. A ação social é


significativa tanto para aqueles que a praticam quanto para os que a observam: não em si mesma,
mas em razão dos muitos e variados sistemas de significado que os seres humanos utilizam para
definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em relação
aos outros. Estes sistemas ou códigos de significado dão sentido às nossas ações. Eles nos permitem
interpretar significativamente as ações alheias. Tomados em seu conjunto, eles constituem nossas
“culturas”. Contribuem para assegurar que toda ação social é “cultural”, que todas as práticas sociais
expressam ou comunicam um significado e, neste sentido, são práticas de significação.
Com isso não se quer dizer que “tudo” é então cultura. No entanto, todas as práticas
sociais dependem e tem relações com o significado – todas as práticas sociais têm uma
dimensão cultural. (p. 13). Esse é o significado da expressão centralidade da cultura a que
Hall se refere. Para ele a cultura penetra em cada “recanto da vida social” mediando todas
as relações, e sendo hoje impossível estudá-la como uma variável secundária.

A dinâmica dos processos sociais

A aproximação entre os conceitos de cultura e civilização tem o objetivo de


procurar compreender a dinâmica e o desenvolvimento dos processos sociais
contemporâneos. Talvez o grande problema que enfrentamos hoje para compreender as
configurações humanas, seja o alto grau de envolvimento a que somos submetidos através
da dinâmica e velocidade de expansão das novas tecnologias. No entender de Elias (1980,
p. 181):

Para compreendermos as configurações humanas, é necessário que tenhamos alcançado um


distanciamento intelectual considerável relativamente à configuração em que participamos, às suas
tendências de mudança, à sua “inevitabilidade” e às forças que certos grupos que se entrecruzam,
mas simultaneamente se opõem, exercem uns sobre os outros.

No entanto, o problema que se impõe é como podemos nos distanciar desses


processos se o potencial de mudança das atuais configurações sociais é muito alto em razão
das transformações tecnológicas? Além do mais, essas transformações implicam em
mudanças estruturais que reconfiguram a produção dos significados. A cultura esta
diretamente vinculada à produção e compartilhamento de significados, e estes regulam e
organizam nossas condutas e práticas auxiliando para o estabelecimento de regras, normas
e convenções que ordenam e governam a vida social (Hall, 1997).
Elias (2006, p. 36) ressalta que a tecnização envolve toda a humanidade,
inicialmente num ritmo mais lento, mas que vai se acelerando a medida que conhece a
natureza inanimada. Para esse processo não há fim a vista, e o processo de civilização (as
culturas) se relaciona com a auto-regulação dos sujeitos a novos padrões tecnológicos.
Cabe ressaltar, como o fez Elias, que os dois processos – civilização e tecnização – estão
interconectados, não podendo ser aventada uma relação de causa e efeito entre eles. Os
avanços tecnológicos provocam as configurações a construir novos modos de vida social, e
também novos níveis de civilização (p.40), e é disso que estou tratando.
Os novos processos de tecnização, principalmente nas áreas da comunicação e
informação, modificam as culturas através de novas produções de significado. As crianças
e jovens são interpelados a se inscrever socialmente nesses processos independente das
criticas que se possam fazer sobre eles. Essa é a característica que movimenta a
contemporaneidade, transformando em alienígenas aqueles que não se inscrevem nas
configurações atuais. Esse é o conteúdo da cultura que institui subjetividades e identidades
sociais destradicionalizadas, e que exige padrões de auto-regulação individuais
diferenciadas.
Os conceitos utilizados por Norbert Elias podem nos auxiliar na compreensão do
mundo atual, mas certamente eles necessitam passar por um aggiornamento, para não
perderem a vitalidade analítica necessária para tornar menos opacos os processos sociais
contemporâneos, aumentando os meios de orientação das pessoas.
Esse artigo buscou uma aproximação entre os conceitos de cultura e processo de
civilização. Essa aproximação teve o objetivo de tentar compreender melhor os atuais
processos sociais na formação das configurações, no contexto das transformações
provocadas pelo desenvolvimento tecnológico, principalmente no que se refere às
tecnologias informacionais e comunicacionais. O avanço acelerado da tecnização modifica
de maneira significativa as culturas, e a velocidade com que essas transformações vêm
ocorrendo indica que esses processos tendem a se aprofundar aumentando a incerteza e
criando maiores dificuldades de orientação e auto-regulação dos indivíduos.

Referências

BENEDICT, Ruth. Padrões de cultura. Lisboa: Livros do Brasil, s/d.


ELIAS, Norbert. A sociedade de corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1987.
____. Escritos & Ensaios; 1: Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006.
____. Introdução à sociologia. Braga: Edições 70, 1980.
____. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
____. O processo civilizador: formação do estado e civilização. Rio de Janeiro: Zahar,
1993.
____. Teoria Simbólica. Oeiras: Celta Editora, 2002.
GOUDSBLOM, Johan. Pensar com Elias. IN: GARRIGOU, Alain; LACROIX, Bernard.
(orgs.) Norbert Elias: a política e a história. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
____. La teoría de la civilización: crítica y perspectiva. IN: WEILER, Vera (comp.).
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HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso
tempo. Educação & Realidade, v. 22, n.2, jul./dez., 1997.
____. The Work of Representation. In: HALL, Stuart. (org.) Representation. Cultural
Representation and Signifyng Practices. London: Sage/Open University, 1997.
WILLIAMS, Raymond. La Larga Revolución. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión,
2003.

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