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Animais têm consciência: trate-os como iguais

Galinhas sentem empatia. Elefantes ficam deprimidos. Raposas vermelhas sentem a


falta dos amigos. E todos sentem dor. Então qual é a diferença entre mim, você e eles?

Disclaimer: Essa matéria faz parte do Arquivo da Revista Superinteressante, e pode


conter dados muito antigos que podem não condizer mais com a atualidade.

Marc Bekoff*

Em julho deste ano, um grupo de cientistas reunidos na Universidade de Cambridge


proclamou que humanos não são os únicos seres conscientes. "Animais não-humanos
como mamíferos e aves, e vários outros, incluindo o polvo, também possuem as
faculdades neurológicas que geram consciência", declarou o grupo, na chamada
Declaração de Cambridge. Minha primeira reação foi de total incredulidade. Nós
realmente precisávamos de um anúncio para definir algo tão óbvio?

Todo mundo sabe que os animais têm consciência. Eles percebem e entendem seu
entorno. E muitos, entre eles golfinhos, elefantes e alguns pássaros, são inclusive auto-
conscientes. Eles possuem um certo senso de si. Ok, pode ser que um cachorro não
saiba quem é do mesmo jeito que eu e você sabemos quem somos. Mas o ponto é:
mesmo que não saibam quem são, eles têm consciência de sua própria dor. Foi o que
aconteceu comigo quando tive um acidente de bicicleta: bati a cabeça e tive amnésia.
Quando o médico me perguntou como me sentia, eu disse: "Estou sentindo muita dor".
E quando ele perguntou quem eu era, respondi: "Não lembro meu nome." Da mesma
forma, é errado fazer um animal sofrer só porque ele pode não saber quem é.

Os pesquisadores descobriram mais do que isso. Sabemos, por exemplo, que ratos e
galinhas sentem empatia. Eles conseguem se colocar no lugar dos bichos ao redor e
sentem pena ao vê-los sofrer. Elefantes vivenciam alegria, luto e depressão. Lamentam
a perda dos amigos, assim como os cães, chimpanzés e raposas vermelhas. Os polvos
foram protegidos de pesquisas invasivas no Reino Unido bem antes dos chimpanzés,
pois os cientistas já haviam reconhecido que eles são conscientes e sentem dor. Hoje
muita gente ainda não quer admitir esses fatos científicos, pois terão de mudar a forma
como tratam os animais. Na verdade, temos de tratar todos os animais da mesma forma,
com compaixão e empatia - sejam eles os "animais humanos" como nós, sejam todas as
outras espécies.

Não estou falando apenas dos abatedouros - embora seja óbvio que, se houvessem mais
vegetarianos no mundo, menos animais sofreriam. Estima-se que 25 milhões de ratos,
pássaros, peixes e outros animais sejam usados todo ano em experimentos de
laboratório. Muitos passam por um sofrimento terrível durante os testes e a maioria
sofre "eutanásia" - são mortos - depois. As pessoas justificam atitudes assim dizendo
que vão ajudar os humanos. No entanto, mais de 90% das drogas que funcionam em
animais não têm o mesmo efeito em nós. Menos de 10% delas nos ajudam de fato.
Além disso, já existem formas de pesquisa que não maltratam os animais. Em lugar de
gotejar xampu nos olhos de coelhos imobilizados, por exemplo, podemos usar modelos
de computador para simular a ação do produto sem dano algum. Portanto, não se trata
apenas de um desperdício de animais; é um desperdício de tempo e dinheiro que
poderiam ser investidos em outras alternativas.
Por isso, concluí que devemos aplaudir a Declaração de Cambridge. Ela não traz nada
de novo, mas mostra que cientistas famosos finalmente admitem que animais têm
consciência. A declaração é mais uma prova de que devemos tratar os animais com todo
o respeito. E reconhecer que eles não querem sentir dor, do mesmo jeito que nós não
queremos. Seria perigoso fazer esse tipo de distinção. Todos os animais devem ser
tratados como indivíduos. Ainda vai levar tempo para que isso aconteça. Mas a boa
notícia é que cada vez mais pessoas aderem a essa ideia.

* Marc Bekoff é professor de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do


Colorado, EUA. É autor de O Manifesto dos Animais, entre outros livros. Em
depoimento a Eduardo Szklarz.

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