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Responsabilidade civil pelo vício

do produto ou do serviço

Divide o Código de Defesa do Consumidor a responsabilidade pelo vício do produ-


to e a responsabilidade pelo vício do serviço. Os vícios do produto por qualidade estão
disciplinados nos art. 18 e os vícios do produto por quantidade estão disciplinados no
art. 19 do Código de Defesa do Consumidor. Já a responsabilidade por vício do serviço
está disposta nos arts. 20 e 21 do mesmo diploma legal.

qualidade (art. 18)


Produto (arts. 18 e 19)
Vício 1 quantidade (art, 19)
Serviço (arts. 20 e 21)

8.1 Vício do produto

O vício do produto o torna impróprio ao consumo, produz a desvalia, a diminui-


ção do valor e frustra a expectativa do consumidor, mas sem colocá-lo em risco. Caso o
produto inserido no mercado de consumo apresente vícios, deve o fornecedor ressarcir
o consumidor pelos prejuízos causados, lembrando que o Código de Defesa do Consu-
midor adotou a teoria da responsabilidade objetiva, razão pela qual o consumidor não
precisa provar a culpa do fornecedor para o recebimento da indenização.
__Cabe esclarecer que não se trata aqui do vício redibitório previsto nos arts. 441 a 446
do Código Civil em vigor. Aliás, para esclarecimento deste tema vejamos a manifestação
de Sérgio Cavalieri Filho (2005, p. 520):
78 Direito do consumidor • Densa Responsabilidade civil pelo vício do produto ou do serviço 79

"Grande foi a inovação introduzi da pelo Código do Consumidor nesta matéria. A ga- I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
rantia assegurada por essa lei é bem mais ampla que aquela prevista no Código Civil U - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompi-
de 1916, o que ficou minorado com a disciplina dos vicios redibitórios no novo Código dos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo
Civil (arts. 441-446). Enquanto os vícios redibitórios pelo Código Civil dizem respeito com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
aos defeitos ocultos da coisa (art. 441), os vícios de qualidade ou de quantidade de bens e
serviços podem ser ocultos ou aparentes." Ill - os produtos que, por qualquer motivo, se revelam inadequados ao fim a que se
destinam."
Importante notar que o art. 24 do Código de Defesa do Consumidor estabelece que a
garantia legal de adequação do produto ou serviço não depende de termo expresso. Além
disso, fica proibida qualquer forma de exoneração do fornecedor a respeito deste dever. 8.1.1.1 Vício aparente ou oculto
Deve o fornecedor cuidar para que seus produtos ou serviços sejam de qualidade sem ví-
cios ou defeitos, sob pena de responder pelos prejuízos experimentados pelo consumidor. o vício de qualidade pode ser aparente ou oculto. Vício aparente pode ser definido
como aquele de fácil constatação pelo consumidor como, por exemplo, uma roupa que
apresenta um defeito na costura ou uma diferença de coloração. Já o vício oculto é aquele
8.1.1 Vício de qualidade do produto de difícil constatação, razão pela qual somente será conhecido pelo consumidor quan-
do este passar a utilizar efetivamente o produto. Podemos citar como exemplo de vício
o vício de qualidade é definido pelo do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor: oculto a hipótese de um defeito no sistema de descongelamento de um refrigerador.
É certo que, dependendo do produto e do vício que apresente, estes podem ser co-
"Art, 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respon- mercializados, desde que o consumidor seja adequadamente informado sobre o respec-
dem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios tivo vício do produto e haja o correspondente abatimento do preço.
ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da É importante observar que todos os produtos inseridos no mercado de consumo
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorren- que não estejam de acordo com as normas técnicas (produtos impróprios) poderão ser
tes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. considerados defeituosos, na hipótese de atingir a incolumidade física do consumidor,
aplicando-se o disposto no art. 12 do Código de Defesa do Consumidor (responsabili-
§ 12 Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha:
dade civil pelo fato do produto).

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;


U - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo 8.1.1.2 Responsáveis pela reparação
de eventuais perdas e danos; .
III - o abatimento proporcional do preço. o art. 18 do Código de Defesa do Consumidor determina que os responsáveis pela
reparação dos vícios dos produtos são todos os fornecedores, coobrigados e solidariamen-
§ 2º Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no pa-
te responsáveis. Sendo assim, todos os partícipes da cadeia produtiva são considerados
rágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias.
responsáveis diretos pelo vício do produto, razão pela qual pode o consumidor escolher
Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado,
por meio de manifestação expressa do consumidor.
qualquer destes para a reparação do vício do produto.

§ 32 O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 12 deste artigo


Prevê ainda o mencionado dispositivo a solidariedade entre os fornecedores, poden-
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder do o consumidor exercitar ação de reparação de danos contra um fornecedor ou contra
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se todos os envolvidos na cadeia produtiva.
tratar de produto essencial. Questão a ser discutida é se o comerciante responde pelos vícios de qualidade do
§ 42 Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1 deste artigo, e não
2 produto. Parte expressiva da doutrina e da jurisprudência externa entendimento de que
sendo possível a substituição do bem, poderá haver·substituição por outro de espé- há responsabilidade do comerciante, tendo em vista a responsabilidade solidária entre
cie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual todos os fornecedores, não havendo qualquer ressalva quanto ao comerciante (Veja: STJ,
diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos U e III do § 12 deste artigo. REsp 142042/RS; STJ, REsp 414986/SC; STJ, Resp 402356/MA).
§ 52 No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o con- Ademais, na cadeia dos coobrigados, o comerciante eventualmente responsabiliza-
sumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. do pelos danos causados por vício no produto terá ação de regresso contra o fabricante
§ 62 São impróprios ao uso e consumo: ou o causador direto do dano.
80 Direito do consumidor • Densa
Responsabilidade civil pelo vício do produto ou do serviço 81

8.1.1.3 Sanções
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tra-
tar de produto essencial".
feito S:~~~~~~~~!~ ~;í~~o d~~/~adsuotoo't~~ o !orn~cedor o direito de reparar o ~e- Destarte, se o produto for essencial ao consumidor, ou se o vício for extenso, o con-
. . VICIOnao seja sanado no praz I I d
consumIdor exigir, alternativamente, à sua escolha: o ega, po e o sumidor pode optar diretamente por uma das soluções apontadas no § 1º do art. 18, sem
a necessidade de aguardar o fornecedor sanar o vício.
substituição total ou de parte do produto; O legislador não conceitua as expressões produto essencial e vício extenso. Entende-
restituição da quantia paga; mos por produto essencial aquele imprescindível para a sobrevivência e bem-estar do
abatimento proporcional do preço. consumidor razão pela qual não poderia o consumidor aguardar o prazo de 30 dias para
conserto. Atualmente, muitos produtos podem ser considerados essenciais ao nosso
bem-estar como, por exemplo, uma geladeira, um fogão ou um chuveiro.
o Código de Defes'a do Consumidor exige do fornecedor inicial
É evidente que alguns produtos podem gerar discussão quanto a ser ou não pres-
;e~~;!~ :~::~~!t;:g~U o: s:!~~:u;ç:o das peças viciadas~As Ob~ig:~:~ed:~~~:~i~~i~~ cindível ao consumidor. É o caso, por exemplo, do computador, televisão ou aparelho
O
após os 30 dias de comunicaça-o do derfieeÇI't
som~nte poderao ser exigidas do fornecedor celular. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão ligado
o P srstente.
Vencido o prazo da garanti . . d .. ao Ministério da Justiça, através da Nota Técnica nº 62/2010, externou entendimento
Ia e perststin o o VICIO,
o consumidor pode: de que o aparelho móvel celular é produto essencial, razão pela qual o consumidor não
precisa aguardar o prazo para conserto".
exigir a substituição por outro produto;
Este também foi o entendimento externado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Fede-
exigir a devolução imediata da quantia paga; ral: "Direito do Consumidor. Aparelho de telefonia móvel. Defeito. Rescisão contratual.
pleitear o abatimento do preço. Retorno ao status quo ante. Comerciante de produtos. Responsabilidade solidária com
o fabricante. 1. A responsabilidade do fornecedor de produto defeituoso é solidária e
A escolha da sanção é do consumidor ue d decorre diretamente da lei. 2. Não se mostra razoável que o consumidor aguarde por
sem dar qualquer satisfação ao forneced;r: po e optar por qualquer dessas hipóteses trinta dias o conserto de aparelho de telefonia móvel, quando o objeto apresenta defeito
no mesmo dia da compra. 3. A resilição do contrato de compra e venda impõe o retorno
have:~~~~~:i~~~r;~~~~~r~ ~~~st;é~:ei:r;~~i~~ida~ fe ~.ubstituiÇão ~o bem, poderá das partes ao status quo ante, sendo consequência lógica a restituição da integralidade do
mentação ou restituição de eventuais diferenças d:;re~~. rversos, mediante a comple- valor pago pelo adquirente (1ª TRJEDF; ACJ 2007.07.1007534-7, Rel. Min. Sandoval
Oliveira, Dju 08.10.2008).
Em outras situações será impossível para o fornecedor sanar o vício e se enquadra
8.1.1.4 Prazo para sanar o vício perfeitamente no que denominamos de vício extenso. É o exemplo de uma roupa cos-
turada de forma inadequada ou com diferença de coloração. Sendo assim, o consumidor
também poderá escolher, nestas hipóteses, qualquer das opções oferecidas pela lei ime-
dias,~n~:~e~~~~t:~~~;:
nar outro prazo d d -.
J~~~:~~~~~
~;~r~~~~elas sp,:~~ ~o~~~aé dedaté 30 (trin~a)
"po em convencro,
diatamente, sem ter que aguardar o prazo para conserto.

(sete) dias, sendo ~:rt~ ~~: ~:~ :%~~i~~:~i~~:e~~ç~~e~to e oit~nta) dias e infer~or a 7
e não imposta ao consumidor. e prazo eve ser convencionada 8.1.1.5 Produto in natura
Perceba que o vício deve ser sanado I fi dor "
dias" (art 18 § 12). pe o ornece or no prazo máximo de trinta Em se tratando de produto in natura, ou seja, aquele que não sofre processo de in-
" , ou Outro prazo combinado entre as art E d
dustrialização, prevê o Código, no art. 18, § 5º, que será responsável perante o consumi-
~:~~~~~~:;~~~~e~~:~ ~ts~~~:~:a:~rinta dias, don! .re~~·lt.an;~:r~~~,ss~uoe
f~:~;~ dor o fornecedor imediato, exceto quando puder ser claramente identificado o produtor.
aa vi . prazo menor e, ainda SIm, o produto continua
u~rSesednêtarCIO,o consumidor poderá exercer o direito de escolha imediatamente sem Entendemos que esta é a única hipótese em que legislador prevê a exclusão de res-
q Outro prazo ao fornecedor. ' ponsabilidade de todos os fornecedores para manter unicamente a responsabilidade do
2
Pr v ,ainda o § 3 do art 18 . comerciante. Haverá responsabilidade solidária entre o comerciante e o produtor quando
do produto, ou a'devolução ir~ed' ~u~ o consu~mdor pode ~xigir a substituição imediata -.este estiver devidamente identificado.
" I - Ia a a quanna paga, ou, ainda, o abatimento do re o
npr que, em razao da extensão do vício, a substituição das partes viciadas ~uJe; É nesse sentido a lição de José Fernando Simão "o fornecedor imediato será o único
responsável pelo vício, inexistindo solidariedade passiva. A ocorrência desse vício se dá
82 Direito do consumidor • Densa

quando da compra pelo consumidor de produtos a granel, ou seja, feiras livres, mercea-
rias e supermercados nos quais o produto será pesado ou medido na hora da aquisição
pelo consumidor ou preposto do fornecedor" (2003, p. 134).
Responsabilidade

o abatimento proporcional do preço;


a complementação do peso ou medida;
civil pelo vício do produto ou do serviço 83
I
a substituição do produto por outro da mesma espécie;
a restituição da quantia paga (atualizada e acrescida de perdas e danos);
8.1.2 Vício de quantidade do produto
a substituição do produto por outro de espécie, marca ou modelos diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço.
o vício de quantidade do produto está disciplinado no art. 19 do Código de Defesa
do Consumidor, que assim determina: ' Ressalte-se que não há prazo assinalado para o fornecedor sanar os ~cios do produ-
to, sendo certo que ele deve, imediatamente, cumprir a decisão do consumidor, de acordo
"Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do com as alternativas oferecidas pelo legislador. .
produto sempre que, respeitadas as variaçõesdecorrentes de sua natureza, seu conte-
údo líquido for inferior às indicaçõesconstantes do recipiente, da embalagem,rotu-
lagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente
e à sua escolha: 8.2 Vícios do serviço

r - o abatimento proporcionaldo preço;


Os vícios do serviço estão previstos no art. 20 do Código de Defesa do Consumidor:
II - complementaçãodo peso ou medida;
Ill - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem "Art. 20. O fornecedor de serviçosresponde pelos vícios de qualidadeque os tornem
os aludidos vícios; impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim comopor aqueles dec~r:e.n-
tes da disparidade com as indicaçõesconstantes da oferta ou mensagem publicitária,
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
de eventuais perdas e danos.
I - a reexecuçãodos serviços,sem custo adicionale quando cabível;
§ 1º Aplica-sea este artigo o disposto no § 4º do artigo anterior.
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo
§ 2º O fornecedorimediato será responsávelquando fizer a pesagem ou a mediçãoe o de eventuais perdas e danos;
instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais."
III - o abatimento proporcionaldo preço.
Destarte, sempre que houver divergência de peso, tamanho ou volume do produto § 1º A reexecuçãodos serviçospoderá ser confiadaa terceiros devidamentecapacita-
em relação às indicações constantes no recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem dos, por conta e risco do fornecedor.
publicitária, isso gera a obrigação de o fornecedor ressarcir os prejuízos experimentados § 2º São impróprios os serviçosque se mostrem inadequados para os fins que razo-
pelo consumidor.
avelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regula-
É possível, contudo, que ocorram variações inerentes à natureza do produto, sem mentares de prestabilidade."
que se configure vício de quantidade do produto. Ademais, sempre que o produto apre-
sentar quantidade menor do que aquela adquirida pelo consumidor, os fornecedores Os serviços serão considerados viciados sempre que se apresentarem inadequados
respondem solidariamente pelos prejuízos causados ao consumidor. para os fins que deles se esperam ou não atenderem às normas regulamentares para a
prestação dos serviços.
Prevê ainda o § 2º do art. 19 a responsabilização do fornecedor imediato, qual seja,
o comerciante, se a divergência resultar de medição ou pesagem por ele realizadas ou se Diante do vício de qualidade do serviço, pode o consumidor, alternativamente e à
o instrumento utilizado para medição ou pesagem não tiver sido aferido oficialmente. sua escolha, exigir:

a sua reexecução, sem custo adicional;


8.1.2.1 Sanções
a imeditata restituição da quantia paga;
abatimento do preço.
As sanções para o vício de quantidade estão previstas nos incisos I a IV e § 1Q do
art. 19 do Código de Defesa do Consumidor, cabendo exclusivamente ao consumidor Permite o Código que a reexecução do serviço seja feita por terceiro, sempre por co?ta
exigir alternativamente:
e risco do fornecedor. Em se tratando de serviços de reparo, de revisão ou de rnanutençao,
84 Direito do consumidor • Densa Responsabilidade civil pelo vício do produto ou do serviço 85

o fornecedor é obrigado a empregar peças novas ou originais, salvo com autorização do ausência de um serviço público essencial sem ter o conhecimento e a chance de efetuar
consumidor. O emprego de peças não originais sem autorização do consumidor constitui' o pagamento.
crime, previsto no art. 70 do Código de Defesa do Consumidor.

8.4 Ignorância do fornecedor sobre os vícios dos produtos e serviços


8.3 Pessoa jurídica de direito público
Prevê o art. 23 do Código de Defesa do Consumidor que "a ignorância do fornece-
Já analisamos na seção 2.2.2 a relação jurídica de consumo em que o Código de dor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime
Defesa do Consumidor enquadra, expressamente, a pessoa jurídica de direito público de responsabilidade".
como fornecedora. Esse dispositivo é completado pelo art. 22, que engloba, além dos
órgãos públicos, as empresas concessionárias e permissionárias de serviço público com Sem dúvida, o legislador baseou-se no princípio da boa-fé objetiva para a inserção
fornecedores de serviço. deste dispositivo legal, em consonância com o disposto no inciso III do art. 4º do mes-
mo diploma legal.
Em outras palavras, as pessoas jurídicas de direito público (c~'ntralizadas ou des-
centralizadas) podem figurar no polo passivo relação de consumo, como fornecedo- O legislador impõe às partes o dever de manter o mínimo de confiança e lealdade,
ras de serviço. Desta forma, o Estado, assim como o particular, responde pelos serviços antes, durante e após o cumprimento.da obrigação. Os fornecedores devem tomar todos
que presta ao consumidor e está sujeito a todas as determinações do Código de Defesa os cuidados necessários ao inserir seus produtos no mercado de consumo, evitando o
do Consumidor. elemento surpresa, tanto na fase de informação, quanto na de execução, e até mesmo na
Assim preceitua o art, 22 do Código de Defesa do Consumidor: fase posterior, gerando o dever de indenizar mesmo que não tenha conhecimento dos
vícios intrínsecos do produto.
"Art. 22. Os órgãospúblicos,por si ou suas empresas,concessionárias,permissionárias
ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer servicos
adequados, eficientes,seguros e, quanto aos essenciais, contínuos." . Questões

Atualmente, muito se discute na doutrina e jurisprudência a respeito da possibilidade 1. Ao consumidor adquirente de produto de consumo durável ou não durável que apresente
de efetuar o corte dos serviços públicos em razão do inadimplemento do consumidor, víciode qualidade ou quantidade que o torne impróprio ou inadequado ao consumo a que se
destina; não sendo o víciosanado no prazo de 30 dias, assegura-se (OAB/CESPE2008. 3):
como, por exemplo, corte no fornecimento de água e luz.
A jurisprudência majoritária externa entendimento no sentido de que o direito à con- a) a substituição imediata do produto por outro de qualquer espécie, em perfeitas condi-
;1
í
tinuidade do serviço público, na forma assegurada ao consumidor no art. 22 e no § 1Q do ções de uso;
art. 6Q do ~ódigo de Defesa do Consumidor, é garantido aos consumidores que efetuam b) a imediata restituição do valor pago, atualizado monetariamente, não cabendo indeni-
os respectivos pagamentos mensais em razão do fornecimento. Destarte, pode haver cor- zação;
te do fornecimento na hipótese de inadimplência das faturas mensais pelo consumidor. c) o abatimento de até 50% do valor pago, em razão do vício apresentado e do inconve-
A continuidade dos serviços públicos traduz o entendimento de que, se já há a re- niente causado pela aquisição de produto defeituoso;
gular prestação de serviços ou se já há possibilidade e necessidade de prestá-los, a Ad- d) convencionarcom o fornecedorum prazo maiorque 30 dias para que o vícioseja sanado.
ministração ou seu agente delegado (concessionário ou permissionário) não pode in-
terromper sua prestação, sem um motivo justo, exceto nas hipóteses de caso fortuito e 2. Acerca da responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor, assinale a opção correta
força maior. Mais ainda, tem o dever de ampliar o fornecimento destes serviços a todos (OAB/CESPE2009. 1):
que deles necessitam. a) É permitida a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue
Nes.te context~, o .art. § 62, 32,
inciso II, da Lei nº 8.987/95 preceitua que "não se a obrigaçãode indenizar.
caract~nza ,d~sco~tmUldade do serviço a sua interrupção, em situação de emergência b) Caso o víciodo produto ou do serviçonão seja sanado no prazo legal,pode o consumi-
ou apos previo aVISO,quando motivada por razões de ordem técnica ou de segurança dor exigiro abatimento proporcional do preço.
das Instalações, ou, ainda, por inadimplemento do usuário, considerado o interesse c) No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsávelperante o consumidor
público", reforçando o entendimento exposto. o fornecedorimediato, mesmo se identificado claramente o produtor.
Cumpre notar que o consumidor deve ser devidamente notificado antes de se efe- d) A ignorânciado fornecedorsobre os víciosde qualidade por inadequaçãodos produtos
tivar o corte da prestação de serviços públicos, para que não seja surpreendido com a e serviçoso exime de responsabilidade.
1!1!1
"

8 Direito do consumidor • Densa

3. Uma consumidora adquire, em um shopping, aparelho importado para massagens e após qua-
tro meses de uso é obrigada a submeter-se a intervenção cirúrgica para tratamento de varizes,
moléstia agravada, segundo o médico, pela utilização do referido aparelho. Servindo-se da
ajuda de um tradutor, tomou conhecimento das instruções veiculadas em língua estrangeira
proibindo o seu uso a portadores de varizes. Nesta hipótese (Magistratura/ AL - 2007):
a) somente o shopping responde pelos vícios do produto;
b) somente o importador responde pelos danos causados à saúde da consumidora;
c) o shopping e o importador respondem pelos vícios do produto e pelos danos causados à
saúde da consumidora, em caráter solidário;
d) a responsabilidade é exclusiva do shopping por não ter traduzido a advertência constante
na instrução de Wl'O;
e) a responsabilidade é exclusiva do importador por não ter traduzido a advertência cons-
tante da instrução de uso.

4. Um consumidor adquiriu um celular e tendo constatado, na primeira semana da aquisição, Decadência e prescrição
que o aparelho não "segurava" a carga, foi encaminhado ao serviço de assistência, que pro-
pôs a substituição da placa, para saneamento do vício. Nesta hipótese, tratando-se de defeito
essencial, o consumidor (Magistratura! AL - 2007):
a) deve aceitar o saneamento do vício de qualidade;
b) pode recusar a proposta e exigir a substituição do produto por outro da mesma quali- 9.1 Generalidades
dade, complementando ou restituindo eventual diferença de preço;
c) pode recusar o saneamento do vício e exigir substituição do produto por outro de qual- o direito deve ser exercido dentro de um determinado prazo para que não cause
quer marca, não respondendo por eventual diferença de preço; instabilidade social. A prescrição e a decadência estão fundamentadas na paz social, na
d) não pode desfazer o negócio, nem exigir restituição da quantia paga; tranquilidade da ordem jurídica, isso porque o credor não deve ficar inerte; ao contrá-
e) pode aceitar a proposta, mas deve exigir abatimento proporcional do preço. rio, deve buscar a satisfação de seu direito junto ao devedor, utilizando-se dos meios em
direito admitidos para tanto.
5. Acerca da responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor, assinale a opção correta
Há que se esclarecer que alguns direitos não estão sujeitos a extinção pela prescri-
(OAB/CESPE 2009.1).
ção ou decadência, urna vez que, por sua própria natureza, são incompatíveis com estes
a) É permitida a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue
dois institutos. É o caso do direito à vida, ao nome e à liberdade, que não prescrevem
a obrigação de indenizar.
nem caducam com o passar do tempo. Ao contrário, são direitos inerentes aos homens
b) Caso o vício do produto ou do serviço não seja sanado no prazo legal, pode o consumi-
dor exigir o abatimento proporcional do preço. que não se perdem com o tempo.
c) No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor
o fornecedor imediato, mesmo se identificado claramente o produtor.
d) A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos 9.2 Conceito
e serviços o exime de responsabilidade.
A prescrição, na definição de Clóvis Beviláqua, "é a perda da ação atribuída a um
direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não uso delas, duran-
te um determinado espaço de tempo" (VENOSA, 2004, p. 615). A prescrição não fere o
direito em si mesmo, mas a pretensão à reparação.
Os requisitos para decretação da prescrição são: (a) existência de direito de ação;
, (b) não exercício do direito de ação pelo titular; (c) ausência de fato impeditivo, sus~
-,pensivo ou interruptivo do curso da prescrição. O Código Civil trata das hipóteses de
suspensão e interrupção da prescrição nos arts. 197 a 204, as quais são plenamente apli-
cáveis nas relações de consumo.
88 Direito do consumidor • Densa Decadência e prescrição 89

A decadência pode ser definida como "a extinção do direito pela inércia do titular, Caso o consumidor não exerça, dentro do prazo mencionado, o seu direito de re-
quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício dentro de .... clamar pelos vícios aparentes ou ocultos, poderá ingressar com ação de indenização por
determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício" (VENOSA, 2004, p. 620). perdas e danos materiais e morais dentro do prazo prescricional de 5 (cinco) anos esta-
Assim, na decadência, não se fala na perda do próprio direito de ação, mas na extinção belecido no art. 27 do CDC.
do direito antes que ele se torne efetivo pelo exercício.
Veja, a respeito desse assunto, acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça:
Para o direito civil, não há que se falar em suspensão ou interrupção do prazo deca-
dencial, sendo esta a diferença principal entre os efeitos da prescrição e da decadência. DIREITODO CONSUMIDOR.AÇÃODEINDENIZAÇÃOPORDANOSMATERIAIS
No entanto, veremos a seguir que o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu duas EMORAISDECORRENTESDEVÍCIOSNO SERVIÇO.PRESCRIÇÃO.CINCOANOS.
hipóteses de suspensão de prazo decadencial. INCIDÊNCIADO ART. 27 DO CDe. Escoado o prazo decadencial de 90 (noventa)
dias previsto no art. 26, II, do CDC, não poderá o consumidor exigir do fornecedordo
, serviço as providências previstas no art. 20 do mesmo Diploma - reexecuçãodo ser-
viço, restituição da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço =, porém, a
9.3 Decadência e prescrição no Código de Defesa do Consumidor pretensão de indenizaçãodos danos por ele experimentados pode ser ajuizadadurante
o prazo prescricional de 5 (cinco) anos, porquanto rege a hipótese o art. 27 do COe.
A decadência e a prescrição são tratadas () :ódigo de Defesa do Consumidor nos Recurso especial conhecido e provido (REsp 683809/RS, 4i Turma, ReI. Min. Luís
arts. 26 e 27. O prazo para reclamar por vício do serviço ou do produto é decadencial; já FelipeSalomão, DJe 03.05.2010).
o prazo para reclamar pelo fato do produto ou do serviço é prescricional, conforme ve-
remos nas seções 9.3.1 e 9.3.2.
Saliente-se que os prazos prescricionais e decadenciais no Código de Defesa do Con- Dissemos que os prazos decadenciais, no Direito Civil, não são suspensos nem in-
sumidor são de ordem pública, por força do art. 1º do mesmo diploma legal, razão pela terrornpidos.já o legislador consumerista estabeleceu, no § 2Q, do art. 26, duas hipóteses
qual não podem ser alterados pela vontade das partes. de suspensão de prazo decadencial, constituindo exceção à regra. São elas:

a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o forne-


9.3.1 Prazo decadencial- vício do produto ou serviço
cedor, contando a suspensão do prazo da data da reclamação ao fornecedor
até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma
O art. 26 do Código de Defesa do Consumidor determina que o direito do consumi- inequívoca (art. 26, § 2º, I);
dor para reclamar dos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
a instauração de inquérito civil, até seu encerramento (art. 26, § 2º, Il).

30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não


Na hipótese de reclamação do consumidor perante o fornecedor, o prazo decaden-
duráveis;
cial é suspenso, desde a entrega da reclamação, comprovada mediante recibo ou através
90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos de notificação judicial ou extrajudicial.
duráveis.
Suponha que o consumidor compre um automóvel, bem de consumo durável, que
apresente vício oculto somente 10 (dez) meses após a compra. Nesse caso, tem o con-
Cumpre fazer distinção entre vício aparente e vício oculto. O primeiro é o vício de fácil sumidor o prazo de 90 (noventa) dias, a partir da revelação do defeito oculto, para fazer
constatação; já o segundo é aquele que não se visualiza de pronto, de difícil constatação, reclamação por escrito ao fornecedor. Se o consumidor faz notificação extrajudicial de
ocorrendo, geralmente, em fase mais avançada do consumo. Não se trata de vício oriundo 5 (cinco) dias após a descoberta do vício, o prazo fica suspenso até que a montadora
de desgaste natural pela utilização do produto, mas problemas de fabricação ou produção. informe ao consumidor a respeito do conserto do veículo. Se a resposta da montadora
Para ambos os casos, o prazo é decadencial; o que diferencia é o termo inicial para, for negativa, o consumidor terá mais 85 (oitenta e cinco) dias para ingressar com ação
contagem. Os prazos iniciam-se a partir da entrega efetiva do produto ou do término da em juizo, requerendo o conserto do veículo, bem como as perdas e danos, se for o caso.
execução dos serviços. A tradição se opera no momento em que o consumidor tenha re- No mesmo exemplo, caso o fornecedor ofereça resposta afirmativa no sentido de
cebido o produto e tenha condições de verificar a ocorrência de possível vício. \consertar o veículo, o prazo continuaria suspenso, até o efetivo conserto e entrega ao
Na hipótese de vício aparente, o prazo decadencial é contado a partir da data do re-: consumidor.
cebimento do produto ou do término do serviço. Já na hipótese de vício oculto, o prazo é Há alguma discussão doutrinária sobre se a reclamação do consumidor perante o
contado a partir da data em que ele se evidencia. PR~CON obsta a decadência. Para a doutrina majoritária, quando o consumidor faz
90 Direito do consumidor • Densa Decadência e prescrição 91

reclamação perante o PROCON, fica obstada a fluência do prazo decadencial; no entanto, de modo que ocorrências que afetem o bem-estar do viajante devem ser classificadas
se houver encaminhamento de oficio por aquele órgão não suspende o prazo decadencial. de defeito na prestação de serviço de transporte de pessoas. Como decorrência lógica,
os contratos de transporte de pessoas ficam sujeitos ao prazo prescricional específico
No que diz respeito à suspensão do prazo decadencial em razão da instauração de do art. 27 do CDC. Deixa de incidir, por ser genérico, o prazo prescricional do Código
inquérito civil, seu fundamento está baseado no fato de que o objetivo do inquérito é Civil (STJ, REsp, 958.833/RS, 3a Turma, ReI. Min. Nancy Andrighi, DJe 25.02.2008).
de servir como instrumento para obtenção de dados para esclarecimento dos fatos, bem
como se estes mesmos fatos infringem ou não norma estabelecida no Código de Defesa No entanto, a questão ora abordada está longe de pacificação doutrinária e juris-
do Consumidor. Sendo assim, é evidente que a suspensão do prazo decadencial é im- prudencial (Veja: STJ, REsp616.069/MA, DJ 14.4.2008 e ADIn RE 297.901-5, ReI. Min.
prescindível, para que o consumidor não seja lesado. Ellen Gracie, D] 31.03.2006).
Há outras hipóteses em que os prazos prescricionais estabelecidos no Código Civil
9.3.2 Prazo prescricionjI- fato do produto ou do serviço deverão ser aplicados justamente por se tratar de norma mais específica. É o caso, por
exemplo, da prescrição decorrente do contrato de seguro, na forma do art. 206, § 1º, do
Código Civil. Embora estejamos diante de uma relação jurídica de consumo, devemos
o prazo prescricional para reclamar o fato do produto ou do serviço é de 5 (cinco) aplicar o prazo prescricional do Código Civil.
anos, na forma do art. 27 do Código de Defesa Consumidor. Este mesmo diploma
legal não estabelece nenhuma hipótese de inte, upção ou suspensão dos prazos pres- Por esta interpretação, o consumidor (segurado) terá prazo de um ano para reque-
cricionais, valendo, portanto, as regras previstas nos arts. 197 a 204 do Código Civil. rer em juízo o recebimento de indenização perante o fornecedor (segurador), prazo este
que deverá ser contado a partir do fato gerador da pretensão (negativa da seguradora
A contagem do prazo prescricional somente terá início se o consumidor tem o co-
em pagar a indenização) ou, no caso de responsabilidade civil, da data que é citado para
nhecimento do dano e de sua autoria. No que diz respeito ao conhecimento do dano, a
responder a ação de indenização proposta por terceiro prejudicado. Já a pretensão do
ressalva do legislador foi deveras importante, uma vez que pode o consumidor ter sido
beneficiário contra o segurador, sobretudo nos seguros de vida, prescreve em três anos,
lesado e não ter-se dado conta do ocorrido. Exemplo disso está na utilização de medi-
tudo conforme o art. 206, § 3º, do Código Civil.
camentos, cujos efeitos danosos somente poderão aparecer após algum tempo de uso.
Ademais, para início da contagem do prazo, o consumidor deve ter conhecimento Encontramos outra discussão quanto ao prazo prescricional nas hipóteses de repe-
tição de indébito. O art. 42, § único do CDC garante aos consumidores o direito a devo-
do autor do ato danoso. Assim, por exemplo, nas hipóteses de responsabilidade civil em
que não se sabe ao certo quem foi o autor do dano causado ao consumidor, não há que lução em dobro da quantia paga, direito esse que poderia ser exercido, em tese, no prazo
se falar em contagem de prazo. de 5 (anos). No entanto, o prazo para pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem
causa, na forma da lei civil é de 3 (três) anos e este é o prazo que vem sendo aplicado
Com a entrada em vigor do novo Código Civil houve certa discussão a respeito dos jurisprudência majoritária gerando, inclusive, a publicação da súmula 412 do Superior
prazos prescricionais. É certo que o art. 206, § 3º, V, do Código Civil, prevê o prazo de Tribunal de Justiça: "A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-
três anos para prescrição da pretensão da reparação civil. No entanto, pelos critérios dê se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil."
interpretação, a lei especial prevalece sobre a lei geral, razão pela qual o prazo de pres-
crição para a reparação de danos na relação de consumo continua sendo de cinco anos,
prevalecendo prazo estipulado no CDC.
9.4 Súmulas aplicáveis
A respeito do assunto, vejamos a interpretação do Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 412 do S1]: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto
"TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PESSOAS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DEFEITO sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil.
NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. PRAZO ART. 27 DO CDC. NOVA
INTERPRETAÇÃO. VÁLIDA A PARTIR DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO CI- Súmula 291 do S1]: A ação de cobrança de parcelas de complementação de apo-
VIL. O CC/16 não disciplinada especificamente o transporte de pessoas e coisas. Até sentadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos.
então, a regulamentação desta atividade era feita por leis esparsas e pelo CCom, que
não traziam dispositivo algum relativo à responsabilidade pelo defeito na prestação do
serviço de transporte de passageiros. Nesse esforço interpretativo, esta Corte firmou Questões
o entendimento de que danos causados ao viajante, em decorrência de acidente de
trânsito, não importavam em defeito na prestação de serviço e, portanto, o prazo pres, '. 1.
Segundo o Código de Defesa do Consumidor (Magistratura - MS/2010):
cricional para ajuizamento da respectiva ação devia respeitar o CC/16, e não o CDC.
Como advento do CC/02, não há mais espaço para discussão. O art. 734 fixa expres- a) o prazo prescricional para o exercício da pretensão de reparação por danos resultantes
samente a responsabilidade objetiva do transportador pelos danos causados às pessoas de fato do produto ou serviço é de 5 (cinco) anos, contados a partir da ocorrência do
por ele transportadadas, o que engloba o dever de garantir a segurança do passageiro, dano, independente do conhecimento da autoria;

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92 Direito do consumidor • Densa Decadência e prescrição 93

b) a contagem do prazo para reclamar por vícios aparentes ou de fácil constatação se inicia a) incorreta, pois a ocorrência de responsabilidade solidária entre a montadora e a conces-
com o conhecimento do dano pelo consumidor e não com a efetiva entrega do produto sionária determina que os prazos devam ser contados em dobro, ou seja, o prazo seria
ou término da execução dos serviços; . de 180 dias;
c) os prazos de 30 (trinta) e 90 (noventa) dias para reclamar de vícios aparentes e de fácil b) incorreta, pois o prazo de garantia no caso de defeito nos produtos duráveis é de 90
constatação em produtos e serviços, duráveis e não duráveis, têm natureza decadencial; dias;
d) tratando-se de vício oculto, o prazo para reclamar por vício do produto ou serviço inicia- c) incorreta, pois a responsabilidade civil do fabricante das motos persiste mesmo após o
se com a entrega da mercadoria, independente da data em que o defeito se exteriorizar vencimento do prazo fixado;
e ficar evidenciado;
d) correta, pois, uma vez feito o aviso do recall e passado o prazo fixado, eventual respon-
e) apenas a instauração de inquérito civil obsta o decurso da decadência para reclamar ví- sabilidade será exclusiva do consumidor;
cios aparentes em produtos e serviços. e) correta, pois, não havendo determinação expressa governamental mandando recolher
os produtos, o recall é uma liberalidade do fabricante, podendo então fixar suas condi-
2. Sobre a responsabilidade .••.
por fato e por vício dos produtos e serviços prevista no Código de ções.
Defesa do Consumidor, é INCORRETO afirmar que (Magistratura - MS(2010):
a) para fins de responsabilidade decorrente de fato do produto, equiparam-se a consumido- 5. Em 1983, a General Motors do Brasil constatou defeito no sistema de freios dos carros Che-
res todas as vítimas do evento danoso, ain . ,ue não integrantes da relação contratual verte fabricados entre 10 e 12 de março de 1982, promovendo a reparação do dano emergente
de consumo; através da chamada dos consumidores para substituição gratuita do produto (cf. reportagem
b) o comerciante é igualmente responsável pelo fato do produto quando o fabricante, o de Quatro Rodas, ano XXlII, n2275) (Procurador do Estado/PR - 2007).
construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; a) Esta prática, conhecida como reml/, está disciplinada pelo Código de Defesa do Con-
c) a ignorância do fornecedor não o exime de responsabilidade por vício de qualidade por sumidor, que impõe ao fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua
inadequação do produto vendido; introdução no mercado do consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apre-
senta, o dever de comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos
d) constatado pelo consumidor vício de qualidade do produto, o fornecedor terá um prazo
máximo de 45 dias para saná-lo: . consumidores, mediante anúncios publicitários.
b) Esta prática tem por fundamento normas de Direito do Consumidor do país onde está
e) não sendo sanado o vício de qualidade no prazo legal, o consumidor pode exigir do
sediada a fornecedora, não constituindo até hoje, no Direito pátrio, norma positivada,
fornecedor, a substituição do produto, a restituição da quantia paga ou o abatimento
por haver sido objeto de veto presidencial.
proporcional do preço.
c) O episódio constituiu mera liberalidade ou extrema precaução da empresa, já que ha-
3. joana adquiriu um aparelho de telefone em loja de eletrodomésticos e, juntamente com o .via sido suscitada apenas a possibilidade de um dano hipotético e não real, própria da
manual de instruções, foi-lhe entregue o termo de garantia do produto, que assegurava ao sociedade de risco em que vivemos.
consumidor um ano de garantia, a contar da efetiva entrega do produto. Cerca de um ano d) Trata-se de obrigação legal imposta pelo Código de Defesa do Consumidor a todos os
e um mês após a data da compra, o aparelho de telefone apresentou comprovadamente um eventuais responsáveis por lesão a interesse difuso por excelência, de que a hipót se
defeito de fabricação. Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta acerca dos descrita é exemplo.
direitos do consumidor (OAB/CESPE 2009.2): e) Trata-se de hipótese de publicidade enganosa, nos termos do art. 37, § lll, do ódlg
a) O prazo para joana reclamar dos vícios do produto é de apenas noventa dias, a partir de Defesa do Consumidor, pois constituiu informação de caráter publicitário int ira
da entrega efetiva do produto, independentemente de prazo de garantia. ou parcialmente falsa que induziu em erro os consumidores a respeito da qualidad do
b) A lei garante a joana a possibilidade de reclamar de eventuais defeitos de fabricação a produto que se revelou defeituoso.
qualquer tempo, desde que devidamente comprovados.
6. No caso dos transportes aéreos, quando há atraso de voos ou questões que envolvem o des-
c) Após o prazo de um ano de garantia conferida pelo fornecedor, joana não poderá alegar
cumprimento da programação de pacote turístico, o Superior Tribunal de Justiça não tem apli-
a existência de qualquer defeito de fabricação.
cado o art. 26, inciso I, do CDC, que dispõe caducar em 30 (trinta) dias o direito de reclamar
d) Joana poderá reclamar eventuais defeitos de fabricação até o prazo de noventa dias após pelos vícios aparentes ou de fácil constatação nos fornecimentos de serviços e de produtos
o final da garantia contratual conferida pelo fornecedor. não duráveis. A opção pela prevalência da regra do art. 205 do Código Civil (prescrição) para
ação de reparação de danos materiais e morais decorrentes de atraso de voo harmoniza-se
4. Um fabricante de motocicletas faz, por decisão própria, um informe na TV - recall -, comu- com o seguinte fundamento teórico (Ministério Público - Goiás/2010):
nicando aos consumidores que determinada série de seu produto apresenta um defeito no
a) Ab-rogação da lei velha pela nova.
sistema de freios. Informa, ainda, que o consumidor tem um prazo de 30 dias para levar a
moto à concessionária que vendeu o produto, findo o qual não se responsabili~ará civilmente. b) Diálogo de coordenação e adaptação sistemática.
c) Diálogo sistemático de complementariedade e subsidiariedade.
Essa comunicação está (Procurador do Estado/SP - 2002): d) Diálogo sistemático de coerência.
94 Direito do consumidor· Densa

7. n rm ,dir ito de reclamar pelos vícios aparentes caduca em (183ª Magistratura!


SP-201l):
a) trinta dias, tracando-se de produto durável;
b) sessenta dias, tratando-se de fornecimento de serviço durável;
c) sessenta dias, tratando-se de produto durável;
d) noventa dias, tratando-se de produto durável;
e) noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço não durável.

Desconsideração da
personalidade jurídica

10.1 Generalidades

A pessoa jurídica é um ente incorpóreo, criado pela lei, podendo ser entendida como
a associação de pessoas com a finalidade de alcançar determinadas tarefas previstas no
contrato social. Percebemos assim que pessoa jurídica tem origem, exatamente, da ne-
cessidade do homem em conjugar esforços, de forma organizada, para a execução de
tarefas mais complexas.
Ensina Venosa (2004, p. 257) que o século XX "foi o século da pessoa jurídica. Des-
de então, pouquíssimas atividades da sociedade são desempenhadas pelo homem como
pessoa natural. A pessoa jurídica, da mais singela à mais complexa, infere e imiscui-se
na vida de cada um, até mesmo na vida privada. Sentimos um crescimento exacerbado
da importância da pessoa jurídica".
Assim, dada a importância da pessoa jurídica em nosso direito, principalmente para
as relações de consumo, o legislador passou a regular de maneira mais int nsa a atividade
das empresas, bem como a impor requisitos a serem cumpridos para a sua constituição.
Demais disso, cabe lembrar que a pessoa jurídica possui personalidade jurídica própria
e existência distinta da dos seus membros. Assim, a pessoa jurídica capaz d assumir
direitos e obrigações na ordem civil, sem atingir diretamente as pessoa qu formam a
sociedade.
De fato, exatamente em razão de a personalidade jurídica da 50 i d s con-
fundir com a pessoa dos sócios, muitas são as possibilidades de fraud s abu ,j qu
este "ente abstrato", muitas vezes, possui capacidade financeira Iírnic de par umir
responsabilidades perante terceiros.
96 Direito do consumidor • Densa Desconsideração da personalidade jurídica 97

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) consiste também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento
na possibilidade de afastamento da autonomia da sociedade, passando os sócios e admi- ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
nistradores a responderem pelos prejuízos causados pela pessoa jurídica. Tem origem § 1º (Vetado.)
no direito inglês e americano, no século XIX, com o caso Salomon & Salomon, em que o
§ 2º As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são
Sr. Salomon instituiu uma sociedade em que ele era o sócio majoritário, cabendo a sua
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste Código.
esposa uma cota mínima, e se valia da sociedade para se eximir de débitos pessoais con-
traídos perante terceiros. § 3º As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis petas obrigações de-
correntes deste Código.
Assim, em princípio, a empresa é responsável perante terceiros pelas consequências
das atividades de seus sócios e administradores, mas pode ser a personalidade desconsi- § 4º As sociedades coligadas só responderão por culpa.
derada para atingir o patrifnônio dos sócios se houver desvio de finalidade ou confusão §. 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua persona-
patrimonial. lidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
A teoria subjetiva da desconsideração da personalidade jurídica, também conhecida consumidores. "
por teoria maior, foi criada por Rolf Serick e tl"17.,dapara o Brasil por Rubens Requião.
Verifica-se, destarte, que a desconsideração da pessoa jurídica está prevista expres-
Utiliza como critério para a desconsideração da personalidade jurídica o desvio da fina-
samente no caput e no § 5º do art. 28. Já os § § 2º a 4º do mesmo artigo, embora inseridos
lidade da pessoa jurídica através de abuso de direito ou fraude à lei.
na seção referente à desconsideração da personalidade jurídica, versam sobre a responsa-
Já a teoria objetiva da desconsideração da personalidade jurídica, ou teoria me- bilidade subsidiária ou solidária das sociedades.
nor, trazida para o Brasil por Fábio Konder Cornparato, adota o critério da confusão
patrimonial para a desconsideração da personalidade jurídica. Por esta teoria, em razão , . Im~or~ant: notar: ainda que a decisão judicial que desconsidera a personalidade ju-
do risco envolvido nas atividades da empresa, a desconsideração da personalidade jurí- rídica nao implica a dissolução da sociedade, mas o seu afastamento momentâneo, para
dica deve ser decretada quando houver prova da insolvência da pessoa jurídica, indepen- aquele caso concreto, para que haja a reparação do dano causado ao consumidor. Ade-
dentemente do elemento subjetivo. mais, caso o juiz decrete a desconsideração da personalidade, o patrimônio atingido será
o do proprietário, do acionista controlador e do sócio majoritário.
O Código de Defesa do Consumidor foi o primeiro diploma legal nacional a prever
a desconsideração da personalidade jurídica no ordenamento pátrio. Outrossim, nas situações em que a personificação da empresa não implicar óbice ao
ressarcimento do consumidor, não há que se falar na disregard doctrine, uma vez que os
Importante notar que a desconsideração da personalidade jurídica é ato excepcio- prejuízos devem ser ressarcidos pela pessoa jurídica e não diretamente pelos seus sócios.
nal e pode ser decretada pelo juiz somente nos casos expressos em lei. Outrossim, a
maioria expressiva da doutrina e da jurisprudência entende que os sócios não precisam
figurar no polo passivo da ação, desde o início do processo de conhecimento, bastando
o requerimento na petição inicial ou no curso do processo para que se desconsidere a 10.3 Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica
personalidade jurídica.
A ~e~consideração da personalidade jurídica será decretada de acordo com a facul-
Veremos a seguir as condições para a desconsideração da personalidade jurídica no
dade do JUIZ, e depende da análise dos seguintes requisitos:
Código de Defesa do Consumidor.

lesão ao patrimônio do consumidor;


patrimônio da pessoa jurídica insuficiente;
I
10.2 Desconsideração da personalidade jurídica no Código de Defesa do
Consumidor prática de atos fraudulentos ou encerramento das atividades da empresa. 1

O Código de Defesa do Consumidor acolheu direta e expressamente a disregard


10.3.1 Lesão ao patrimônio do consumidor
I
doctrine, protegendoo consumidor, parte vulnerável da relação jurídica. O art. 28 desse
diploma legal assim determina: 1
A lesão ao patrimônio do consumidor é requisito essencial para a desconsideração
"Art, 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,
da s~ciedade, uma vez que toda a prática abusiva ou ilícita que cause prejuízo ao con- I
em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da surnidor deve ser reparada. Consequenternente, não é possível a desconsideração da
lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração . personalidade com fundamento no Código de Defesa do Consumidor na aplicação em 1
8 Direito do consumidor • Densa Descons ider ação da personalidade jurídica 99

defesa de outros interesses, como os dos demais sócios, ou de responsabilidade civil não tivesse sido esta a intenção da lei, a norma para operacionalizá-Iapoderia ser direta,
fundada em relação de consumo. sem apelo à teoria da desconsideração."

Destarte, a desconsideração da personalidade jurídica será decretada, a critério do


10.3.2 Patrimônio da pessoa jurídica insuficiente juiz, quando houver obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados ao consumi-
dor, além dos requisitos já estudados na seções 10.3.1, 10.3.2 e 10.3.3, a saber: lesão ao
A incapacidade da pessoa jurídica para reparar o dano também é requisito essencial, patrimônio do consumidor, patrimônio da pessoa jurídica insuficiente, prática de atos
uma vez que, se a sociedade possui capacidade financeira para ressarcir o consumidor, fraudulentos ou encerramento das atividades da empresa.
não há razão para aplicar a desconsideração da personalidade jurídica.

10.5 Responsabilidade de grupos societários e sociedades controladas


10.3.3 Prática de atos ffa.udulentos ou encerramento das atividades da empresa
o § 2º do art. 28 do Código de Defesa do Consumidor prevê responsabilidade sub-
Por atos fraudulentos, devemos entender o excesso de poder, abuso de direito, in- sidiária das sociedades integrantes de grupos societários e sociedades controladas. Não
fração à lei, infração ao contrato social, falência ,,..,.razão da má gestão.
se trata propriamente de desconsideração, mas de hipótese legal de responsabilização
A expressão abuso de direito designa um ato jurídico de objeto lícito, mas cujo exer- de terceiro.
cício, levado a efeito sem a devida regularidade, acarreta um resultado que se considera
Tal dispositivo prevê que as obrigações perante o consumidor sejam quitadas pela
ilícito.
sociedade que tenha maior respaldo patrirnonial, ainda que tenha sido firmada com
orno vimos, ao atribuir personalidade a entes abstratos formados por grupos de a sociedade de menor respaldo financeiro, bastando ligação societária para ocorrer a
p S5 as, o Dir ito não s6 assegura que seus atos praticados sejam isolados dos entes responsabilização.
qu c mpõem a pessoa jurídica, como também impede que esses se desviem de seu re-
gular ex rcício. Parte da doutrina entende que o consumidor não pode ajuizar ação diretamente
contra as demais empresas que compõem o grupo societário. Para outros doutrinadores,
Ao praticar ato contrário a sua função social, a pessoa jurídica deve sujeitar-se à no entanto, basta a prova da impossibilidade de ressarcimento pela empresa principal
obrigação de reparar as consequências de seu ato abusivo. Assim, cumpre ao Judiciário obrigada, para, já inicialmente, demandar a sociedade com responsabilidade subsidiária.
aplicar a teoria da desconsideração sempre que a pessoa jurídica usar abusivamente seu
direito à personificação, de modo a causar dano ao consumidor.

10.6 Responsabilidade das sociedades consorciadas


10.4 Obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados ao consumidor
Embora a Lei nQ 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas), no § 1Q do art. 278, não
estabeleça a responsabilidade solidária entre as empresas consorciadas, o Código de De-
O § 5Q do art. 28 prevê a desconsideração da personalidade jurídica nas hipóteses
fesa do Consumidor institui regra diversa no art. 28, § 3Q, de maneira que existe a soli-
em que ocorre obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados ao consumidor. No
dariedade entre as empresas consorciadas nas relações de consumo no que diz respeito
"entanto, este dispositivo deve ser interpretado à luz do disposto no caput do art. 28.
às obrigações que são objeto do consórcio face ao consumidor.
Explica Fábio Ulhoa Coelho (1999, p. 51):

"Essainterpretaçãoliteral, no entanto, não pode preval.ecerpor três razões.Emprimeiro


lugar,porquecontrariaos fundamentosteóricosda desconsideração.Comomencionado, 10.7 Responsabilidade das sociedades coligadas
a disregard doctrine representa um aperfeiçoamentodo instituto da pessoajurídica, e não
a sua negação.Assim, ela só pode ter a sua autonomia patrimonial desprezada para a o § 4º do art. 28 do Código de Defesa do Consumidor estabelece a responsabilida-
coibiçãode fraudes ou abuso de direito. A simples insatisfaçãodo credor não autoriza, de das sociedades coligadas. As sociedades coligadas são regidas pelo art. 243, § 12, da
por si só, a desconsideração,conformeassenta a doutrina na formulaçãomaior da teo- Lei das Sociedades Anônimas e conservam sua autonomia, respondendo pelos prejuízos
ria. Em segundo lugar,porque tal exegeseliteral tomaria letra morta o caput do mesmo causados aos consumidores mediante a comprovação da culpa no evento danoso.
art. 28 do CDC, que circunscreve algumas hipóteses autorizadoras do superamento
da personalidadejurídica. Em terceiro lugar, porque essa interpretação equivaleria à Há sociedades coligadas sempre que uma sociedade participa do capital social
liminação do instituto da pessoa jurídica no campo do direito do consumidor, e, se da outra, com 10% (dez por cento) ou mais, sem assumir o controle. Assim, sendo a
Q

100 Direito do consumidor • Densa


Desconsideração da personalidade jurídica 101

sociedade coligada não poderá ser responsabilizada pelos atos da outra empresa a não
a) foi agasalhada pelo Direito brasileiro e permite que o Juiz desconsidere a pessoa jurídi-
ser que tenha participado do ato, caso em que será solidariamente responsável. ..- ca sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores;
b) foi agasalhada pelo Direito brasileiro, mas a desconsideração não será efetivada quando
Questões houver falência ou estado de insolvência, porque todos os credores devem ser tratados
com igualdade neste caso;
L Nas ações judiciais que tenham por objeto controvérsia regi da pelo Código de Defesa do c) não foi agasalhada pelo Direito brasileiro que, expressamente, distingue a personalidade
Consumidor (Magistratura - MS/2010): jurídica dos sócios da personalidade jurídica da sociedade;
a) as sociedades integrantes do mesmo grupo societário e as sociedades controladas pelo d) foi parcialmente adotada pelo Direito brasileiro e permite ao Juiz dissolver a sociedade,
fornecedor respondem, subsidiariamente, em relação ao fornecedor; determinando sua liquidação, quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de
b) as sociedades consorciadas respondem solidariamente com o fornecedor, pois, de acor- direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
do com a Lei das ~ociedades por Ações, o consórcio não tem personalidade jurídica e contrato social;
as consorciadas assumem obrigações apenas em nome próprio; e) está incorporada ao Direito brasileiro e permite às autoridades administrativas e ao Juiz
c) a desconsideração da personalidade jurídica pode ser determinada pelo juiz apenas a determinar que os efeitos de certas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
pedido do Ministério Público; parriculares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica, se verificado abuso da
~ personalidade jurídica desta pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.
.... d) a desconsideração da personalidade jurídica de sociedade falida, se decretada, não po-
:>
- e)
derá atingir os administradores da sociedade fornecedora;
a desconsideração da personalidade jurídica exige, em todos os casos, a prova da ocor-
4. Segundo o Código de Defesa do Consumidor (Lei nQ 8.078, de 1990), é errado afirmar que
(Magistratura/SP - 1742):
rência de fraude e abuso de poder de controle.
a) a inversão do ônus da prova, a favor do consumidor, se dará quando, a critério do Juiz,
2. Nas ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços (Magistratura - MS/201O): for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordiná-
rias de experiência;
a) não é permitido ao réu requerer o chamamento ao processo de sua seguradora, cabendo .' b) as sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são soli-
'r-
i
a este apenas a posterior ação de regresso no juízo cível visto não tratar-se de relação
de consumo sujeita às regras do CDC; dariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes do Código de Defesa do Consu-
midor;
b) o foro do local do dano é o único competente para o conhecimento da ação;
c) poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica quando, de alguma forma, a sua personali-
c) a inversão do ônus da prova depende da demonstração cabal da hipossuficiência do dade representar obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores;
consumidor no caso concreto, não podendo o juiz fundamentar a sua decisão em regras
ordinárias de experiência; d) as sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorren-
tes do Código de Defesa do Consumidor.
d) se o réu for declarado falido e o síndico confirmar a existência de seguro de responsabi-
lidade, é facultado aos consumidores o ajuizamento de ação de indenização diretamente
contra o segurador, cuja responsabilidade ficará limitada ao valor do seguro contratado;
e) o valor da causa deve ser limitado a 40 (quarenta) salários-mínimos.

3. (Magistratura/ AL - 2007) "Mesmo nos países em que se reconhece a personalidade


jurídica apenas às sociedades de capitais surgiu, há muito, uma doutrina que visa, em
certos casos, a desconsiderar a personalidade jurídica, isto é, não considerar os efeitos da
personalidade, para atingir a responsabilidade dos sócios. Por isso também é conhecida
por doutrina da penetração. Esboçadas nas jurisprudências inglesa e norte-americana,
é conhecida no Direito Comercial como a doutrina do Disregard of Legal Entity. Na Ale- .;

manha surgiu uma tese apresentada pelo prof. RolfSerick, da Faculdade de Direito da iJ I

Universidade de Heidelberg, que estuda profundamente a doutrina, tese essa que ad- ,
quiriu notoriedade causando forte influência na Itália e na Espanha. Seu título, tradu-
zido pelo prof. Antonio Pólo, de Barcelona, é bem significativo: 'Aparencia y Realidad
',em Ias Sociedades Mercantiles - EI abuso de derecho por médio de Ia persona jurídica';
Pretende a doutrina penetrar no âmago da sociedade, superando ou desconsiderand~
a personalidade jurídica, para atingir e vincular a responsabilidade do sócio." (Rubens
Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. vI, p. 390). Pode-se
afirmar que a doutrina acima referida, nas relações de consumo:,;j

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