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do produto ou do serviço
"Grande foi a inovação introduzi da pelo Código do Consumidor nesta matéria. A ga- I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
rantia assegurada por essa lei é bem mais ampla que aquela prevista no Código Civil U - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompi-
de 1916, o que ficou minorado com a disciplina dos vicios redibitórios no novo Código dos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo
Civil (arts. 441-446). Enquanto os vícios redibitórios pelo Código Civil dizem respeito com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
aos defeitos ocultos da coisa (art. 441), os vícios de qualidade ou de quantidade de bens e
serviços podem ser ocultos ou aparentes." Ill - os produtos que, por qualquer motivo, se revelam inadequados ao fim a que se
destinam."
Importante notar que o art. 24 do Código de Defesa do Consumidor estabelece que a
garantia legal de adequação do produto ou serviço não depende de termo expresso. Além
disso, fica proibida qualquer forma de exoneração do fornecedor a respeito deste dever. 8.1.1.1 Vício aparente ou oculto
Deve o fornecedor cuidar para que seus produtos ou serviços sejam de qualidade sem ví-
cios ou defeitos, sob pena de responder pelos prejuízos experimentados pelo consumidor. o vício de qualidade pode ser aparente ou oculto. Vício aparente pode ser definido
como aquele de fácil constatação pelo consumidor como, por exemplo, uma roupa que
apresenta um defeito na costura ou uma diferença de coloração. Já o vício oculto é aquele
8.1.1 Vício de qualidade do produto de difícil constatação, razão pela qual somente será conhecido pelo consumidor quan-
do este passar a utilizar efetivamente o produto. Podemos citar como exemplo de vício
o vício de qualidade é definido pelo do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor: oculto a hipótese de um defeito no sistema de descongelamento de um refrigerador.
É certo que, dependendo do produto e do vício que apresente, estes podem ser co-
"Art, 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respon- mercializados, desde que o consumidor seja adequadamente informado sobre o respec-
dem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios tivo vício do produto e haja o correspondente abatimento do preço.
ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da É importante observar que todos os produtos inseridos no mercado de consumo
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorren- que não estejam de acordo com as normas técnicas (produtos impróprios) poderão ser
tes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. considerados defeituosos, na hipótese de atingir a incolumidade física do consumidor,
aplicando-se o disposto no art. 12 do Código de Defesa do Consumidor (responsabili-
§ 12 Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha:
dade civil pelo fato do produto).
8.1.1.3 Sanções
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tra-
tar de produto essencial".
feito S:~~~~~~~~!~ ~;í~~o d~~/~adsuotoo't~~ o !orn~cedor o direito de reparar o ~e- Destarte, se o produto for essencial ao consumidor, ou se o vício for extenso, o con-
. . VICIOnao seja sanado no praz I I d
consumIdor exigir, alternativamente, à sua escolha: o ega, po e o sumidor pode optar diretamente por uma das soluções apontadas no § 1º do art. 18, sem
a necessidade de aguardar o fornecedor sanar o vício.
substituição total ou de parte do produto; O legislador não conceitua as expressões produto essencial e vício extenso. Entende-
restituição da quantia paga; mos por produto essencial aquele imprescindível para a sobrevivência e bem-estar do
abatimento proporcional do preço. consumidor razão pela qual não poderia o consumidor aguardar o prazo de 30 dias para
conserto. Atualmente, muitos produtos podem ser considerados essenciais ao nosso
bem-estar como, por exemplo, uma geladeira, um fogão ou um chuveiro.
o Código de Defes'a do Consumidor exige do fornecedor inicial
É evidente que alguns produtos podem gerar discussão quanto a ser ou não pres-
;e~~;!~ :~::~~!t;:g~U o: s:!~~:u;ç:o das peças viciadas~As Ob~ig:~:~ed:~~~:~i~~i~~ cindível ao consumidor. É o caso, por exemplo, do computador, televisão ou aparelho
O
após os 30 dias de comunicaça-o do derfieeÇI't
som~nte poderao ser exigidas do fornecedor celular. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão ligado
o P srstente.
Vencido o prazo da garanti . . d .. ao Ministério da Justiça, através da Nota Técnica nº 62/2010, externou entendimento
Ia e perststin o o VICIO,
o consumidor pode: de que o aparelho móvel celular é produto essencial, razão pela qual o consumidor não
precisa aguardar o prazo para conserto".
exigir a substituição por outro produto;
Este também foi o entendimento externado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Fede-
exigir a devolução imediata da quantia paga; ral: "Direito do Consumidor. Aparelho de telefonia móvel. Defeito. Rescisão contratual.
pleitear o abatimento do preço. Retorno ao status quo ante. Comerciante de produtos. Responsabilidade solidária com
o fabricante. 1. A responsabilidade do fornecedor de produto defeituoso é solidária e
A escolha da sanção é do consumidor ue d decorre diretamente da lei. 2. Não se mostra razoável que o consumidor aguarde por
sem dar qualquer satisfação ao forneced;r: po e optar por qualquer dessas hipóteses trinta dias o conserto de aparelho de telefonia móvel, quando o objeto apresenta defeito
no mesmo dia da compra. 3. A resilição do contrato de compra e venda impõe o retorno
have:~~~~~:i~~~r;~~~~~r~ ~~~st;é~:ei:r;~~i~~ida~ fe ~.ubstituiÇão ~o bem, poderá das partes ao status quo ante, sendo consequência lógica a restituição da integralidade do
mentação ou restituição de eventuais diferenças d:;re~~. rversos, mediante a comple- valor pago pelo adquirente (1ª TRJEDF; ACJ 2007.07.1007534-7, Rel. Min. Sandoval
Oliveira, Dju 08.10.2008).
Em outras situações será impossível para o fornecedor sanar o vício e se enquadra
8.1.1.4 Prazo para sanar o vício perfeitamente no que denominamos de vício extenso. É o exemplo de uma roupa cos-
turada de forma inadequada ou com diferença de coloração. Sendo assim, o consumidor
também poderá escolher, nestas hipóteses, qualquer das opções oferecidas pela lei ime-
dias,~n~:~e~~~~t:~~~;:
nar outro prazo d d -.
J~~~:~~~~~
~;~r~~~~elas sp,:~~ ~o~~~aé dedaté 30 (trin~a)
"po em convencro,
diatamente, sem ter que aguardar o prazo para conserto.
(sete) dias, sendo ~:rt~ ~~: ~:~ :%~~i~~:~i~~:e~~ç~~e~to e oit~nta) dias e infer~or a 7
e não imposta ao consumidor. e prazo eve ser convencionada 8.1.1.5 Produto in natura
Perceba que o vício deve ser sanado I fi dor "
dias" (art 18 § 12). pe o ornece or no prazo máximo de trinta Em se tratando de produto in natura, ou seja, aquele que não sofre processo de in-
" , ou Outro prazo combinado entre as art E d
dustrialização, prevê o Código, no art. 18, § 5º, que será responsável perante o consumi-
~:~~~~~~:;~~~~e~~:~ ~ts~~~:~:a:~rinta dias, don! .re~~·lt.an;~:r~~~,ss~uoe
f~:~;~ dor o fornecedor imediato, exceto quando puder ser claramente identificado o produtor.
aa vi . prazo menor e, ainda SIm, o produto continua
u~rSesednêtarCIO,o consumidor poderá exercer o direito de escolha imediatamente sem Entendemos que esta é a única hipótese em que legislador prevê a exclusão de res-
q Outro prazo ao fornecedor. ' ponsabilidade de todos os fornecedores para manter unicamente a responsabilidade do
2
Pr v ,ainda o § 3 do art 18 . comerciante. Haverá responsabilidade solidária entre o comerciante e o produtor quando
do produto, ou a'devolução ir~ed' ~u~ o consu~mdor pode ~xigir a substituição imediata -.este estiver devidamente identificado.
" I - Ia a a quanna paga, ou, ainda, o abatimento do re o
npr que, em razao da extensão do vício, a substituição das partes viciadas ~uJe; É nesse sentido a lição de José Fernando Simão "o fornecedor imediato será o único
responsável pelo vício, inexistindo solidariedade passiva. A ocorrência desse vício se dá
82 Direito do consumidor • Densa
quando da compra pelo consumidor de produtos a granel, ou seja, feiras livres, mercea-
rias e supermercados nos quais o produto será pesado ou medido na hora da aquisição
pelo consumidor ou preposto do fornecedor" (2003, p. 134).
Responsabilidade
o fornecedor é obrigado a empregar peças novas ou originais, salvo com autorização do ausência de um serviço público essencial sem ter o conhecimento e a chance de efetuar
consumidor. O emprego de peças não originais sem autorização do consumidor constitui' o pagamento.
crime, previsto no art. 70 do Código de Defesa do Consumidor.
Atualmente, muito se discute na doutrina e jurisprudência a respeito da possibilidade 1. Ao consumidor adquirente de produto de consumo durável ou não durável que apresente
de efetuar o corte dos serviços públicos em razão do inadimplemento do consumidor, víciode qualidade ou quantidade que o torne impróprio ou inadequado ao consumo a que se
destina; não sendo o víciosanado no prazo de 30 dias, assegura-se (OAB/CESPE2008. 3):
como, por exemplo, corte no fornecimento de água e luz.
A jurisprudência majoritária externa entendimento no sentido de que o direito à con- a) a substituição imediata do produto por outro de qualquer espécie, em perfeitas condi-
;1
í
tinuidade do serviço público, na forma assegurada ao consumidor no art. 22 e no § 1Q do ções de uso;
art. 6Q do ~ódigo de Defesa do Consumidor, é garantido aos consumidores que efetuam b) a imediata restituição do valor pago, atualizado monetariamente, não cabendo indeni-
os respectivos pagamentos mensais em razão do fornecimento. Destarte, pode haver cor- zação;
te do fornecimento na hipótese de inadimplência das faturas mensais pelo consumidor. c) o abatimento de até 50% do valor pago, em razão do vício apresentado e do inconve-
A continuidade dos serviços públicos traduz o entendimento de que, se já há a re- niente causado pela aquisição de produto defeituoso;
gular prestação de serviços ou se já há possibilidade e necessidade de prestá-los, a Ad- d) convencionarcom o fornecedorum prazo maiorque 30 dias para que o vícioseja sanado.
ministração ou seu agente delegado (concessionário ou permissionário) não pode in-
terromper sua prestação, sem um motivo justo, exceto nas hipóteses de caso fortuito e 2. Acerca da responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor, assinale a opção correta
força maior. Mais ainda, tem o dever de ampliar o fornecimento destes serviços a todos (OAB/CESPE2009. 1):
que deles necessitam. a) É permitida a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue
Nes.te context~, o .art. § 62, 32,
inciso II, da Lei nº 8.987/95 preceitua que "não se a obrigaçãode indenizar.
caract~nza ,d~sco~tmUldade do serviço a sua interrupção, em situação de emergência b) Caso o víciodo produto ou do serviçonão seja sanado no prazo legal,pode o consumi-
ou apos previo aVISO,quando motivada por razões de ordem técnica ou de segurança dor exigiro abatimento proporcional do preço.
das Instalações, ou, ainda, por inadimplemento do usuário, considerado o interesse c) No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsávelperante o consumidor
público", reforçando o entendimento exposto. o fornecedorimediato, mesmo se identificado claramente o produtor.
Cumpre notar que o consumidor deve ser devidamente notificado antes de se efe- d) A ignorânciado fornecedorsobre os víciosde qualidade por inadequaçãodos produtos
tivar o corte da prestação de serviços públicos, para que não seja surpreendido com a e serviçoso exime de responsabilidade.
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3. Uma consumidora adquire, em um shopping, aparelho importado para massagens e após qua-
tro meses de uso é obrigada a submeter-se a intervenção cirúrgica para tratamento de varizes,
moléstia agravada, segundo o médico, pela utilização do referido aparelho. Servindo-se da
ajuda de um tradutor, tomou conhecimento das instruções veiculadas em língua estrangeira
proibindo o seu uso a portadores de varizes. Nesta hipótese (Magistratura/ AL - 2007):
a) somente o shopping responde pelos vícios do produto;
b) somente o importador responde pelos danos causados à saúde da consumidora;
c) o shopping e o importador respondem pelos vícios do produto e pelos danos causados à
saúde da consumidora, em caráter solidário;
d) a responsabilidade é exclusiva do shopping por não ter traduzido a advertência constante
na instrução de Wl'O;
e) a responsabilidade é exclusiva do importador por não ter traduzido a advertência cons-
tante da instrução de uso.
4. Um consumidor adquiriu um celular e tendo constatado, na primeira semana da aquisição, Decadência e prescrição
que o aparelho não "segurava" a carga, foi encaminhado ao serviço de assistência, que pro-
pôs a substituição da placa, para saneamento do vício. Nesta hipótese, tratando-se de defeito
essencial, o consumidor (Magistratura! AL - 2007):
a) deve aceitar o saneamento do vício de qualidade;
b) pode recusar a proposta e exigir a substituição do produto por outro da mesma quali- 9.1 Generalidades
dade, complementando ou restituindo eventual diferença de preço;
c) pode recusar o saneamento do vício e exigir substituição do produto por outro de qual- o direito deve ser exercido dentro de um determinado prazo para que não cause
quer marca, não respondendo por eventual diferença de preço; instabilidade social. A prescrição e a decadência estão fundamentadas na paz social, na
d) não pode desfazer o negócio, nem exigir restituição da quantia paga; tranquilidade da ordem jurídica, isso porque o credor não deve ficar inerte; ao contrá-
e) pode aceitar a proposta, mas deve exigir abatimento proporcional do preço. rio, deve buscar a satisfação de seu direito junto ao devedor, utilizando-se dos meios em
direito admitidos para tanto.
5. Acerca da responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor, assinale a opção correta
Há que se esclarecer que alguns direitos não estão sujeitos a extinção pela prescri-
(OAB/CESPE 2009.1).
ção ou decadência, urna vez que, por sua própria natureza, são incompatíveis com estes
a) É permitida a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue
dois institutos. É o caso do direito à vida, ao nome e à liberdade, que não prescrevem
a obrigação de indenizar.
nem caducam com o passar do tempo. Ao contrário, são direitos inerentes aos homens
b) Caso o vício do produto ou do serviço não seja sanado no prazo legal, pode o consumi-
dor exigir o abatimento proporcional do preço. que não se perdem com o tempo.
c) No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor
o fornecedor imediato, mesmo se identificado claramente o produtor.
d) A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos 9.2 Conceito
e serviços o exime de responsabilidade.
A prescrição, na definição de Clóvis Beviláqua, "é a perda da ação atribuída a um
direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não uso delas, duran-
te um determinado espaço de tempo" (VENOSA, 2004, p. 615). A prescrição não fere o
direito em si mesmo, mas a pretensão à reparação.
Os requisitos para decretação da prescrição são: (a) existência de direito de ação;
, (b) não exercício do direito de ação pelo titular; (c) ausência de fato impeditivo, sus~
-,pensivo ou interruptivo do curso da prescrição. O Código Civil trata das hipóteses de
suspensão e interrupção da prescrição nos arts. 197 a 204, as quais são plenamente apli-
cáveis nas relações de consumo.
88 Direito do consumidor • Densa Decadência e prescrição 89
A decadência pode ser definida como "a extinção do direito pela inércia do titular, Caso o consumidor não exerça, dentro do prazo mencionado, o seu direito de re-
quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício dentro de .... clamar pelos vícios aparentes ou ocultos, poderá ingressar com ação de indenização por
determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício" (VENOSA, 2004, p. 620). perdas e danos materiais e morais dentro do prazo prescricional de 5 (cinco) anos esta-
Assim, na decadência, não se fala na perda do próprio direito de ação, mas na extinção belecido no art. 27 do CDC.
do direito antes que ele se torne efetivo pelo exercício.
Veja, a respeito desse assunto, acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça:
Para o direito civil, não há que se falar em suspensão ou interrupção do prazo deca-
dencial, sendo esta a diferença principal entre os efeitos da prescrição e da decadência. DIREITODO CONSUMIDOR.AÇÃODEINDENIZAÇÃOPORDANOSMATERIAIS
No entanto, veremos a seguir que o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu duas EMORAISDECORRENTESDEVÍCIOSNO SERVIÇO.PRESCRIÇÃO.CINCOANOS.
hipóteses de suspensão de prazo decadencial. INCIDÊNCIADO ART. 27 DO CDe. Escoado o prazo decadencial de 90 (noventa)
dias previsto no art. 26, II, do CDC, não poderá o consumidor exigir do fornecedordo
, serviço as providências previstas no art. 20 do mesmo Diploma - reexecuçãodo ser-
viço, restituição da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço =, porém, a
9.3 Decadência e prescrição no Código de Defesa do Consumidor pretensão de indenizaçãodos danos por ele experimentados pode ser ajuizadadurante
o prazo prescricional de 5 (cinco) anos, porquanto rege a hipótese o art. 27 do COe.
A decadência e a prescrição são tratadas () :ódigo de Defesa do Consumidor nos Recurso especial conhecido e provido (REsp 683809/RS, 4i Turma, ReI. Min. Luís
arts. 26 e 27. O prazo para reclamar por vício do serviço ou do produto é decadencial; já FelipeSalomão, DJe 03.05.2010).
o prazo para reclamar pelo fato do produto ou do serviço é prescricional, conforme ve-
remos nas seções 9.3.1 e 9.3.2.
Saliente-se que os prazos prescricionais e decadenciais no Código de Defesa do Con- Dissemos que os prazos decadenciais, no Direito Civil, não são suspensos nem in-
sumidor são de ordem pública, por força do art. 1º do mesmo diploma legal, razão pela terrornpidos.já o legislador consumerista estabeleceu, no § 2Q, do art. 26, duas hipóteses
qual não podem ser alterados pela vontade das partes. de suspensão de prazo decadencial, constituindo exceção à regra. São elas:
reclamação perante o PROCON, fica obstada a fluência do prazo decadencial; no entanto, de modo que ocorrências que afetem o bem-estar do viajante devem ser classificadas
se houver encaminhamento de oficio por aquele órgão não suspende o prazo decadencial. de defeito na prestação de serviço de transporte de pessoas. Como decorrência lógica,
os contratos de transporte de pessoas ficam sujeitos ao prazo prescricional específico
No que diz respeito à suspensão do prazo decadencial em razão da instauração de do art. 27 do CDC. Deixa de incidir, por ser genérico, o prazo prescricional do Código
inquérito civil, seu fundamento está baseado no fato de que o objetivo do inquérito é Civil (STJ, REsp, 958.833/RS, 3a Turma, ReI. Min. Nancy Andrighi, DJe 25.02.2008).
de servir como instrumento para obtenção de dados para esclarecimento dos fatos, bem
como se estes mesmos fatos infringem ou não norma estabelecida no Código de Defesa No entanto, a questão ora abordada está longe de pacificação doutrinária e juris-
do Consumidor. Sendo assim, é evidente que a suspensão do prazo decadencial é im- prudencial (Veja: STJ, REsp616.069/MA, DJ 14.4.2008 e ADIn RE 297.901-5, ReI. Min.
prescindível, para que o consumidor não seja lesado. Ellen Gracie, D] 31.03.2006).
Há outras hipóteses em que os prazos prescricionais estabelecidos no Código Civil
9.3.2 Prazo prescricionjI- fato do produto ou do serviço deverão ser aplicados justamente por se tratar de norma mais específica. É o caso, por
exemplo, da prescrição decorrente do contrato de seguro, na forma do art. 206, § 1º, do
Código Civil. Embora estejamos diante de uma relação jurídica de consumo, devemos
o prazo prescricional para reclamar o fato do produto ou do serviço é de 5 (cinco) aplicar o prazo prescricional do Código Civil.
anos, na forma do art. 27 do Código de Defesa Consumidor. Este mesmo diploma
legal não estabelece nenhuma hipótese de inte, upção ou suspensão dos prazos pres- Por esta interpretação, o consumidor (segurado) terá prazo de um ano para reque-
cricionais, valendo, portanto, as regras previstas nos arts. 197 a 204 do Código Civil. rer em juízo o recebimento de indenização perante o fornecedor (segurador), prazo este
que deverá ser contado a partir do fato gerador da pretensão (negativa da seguradora
A contagem do prazo prescricional somente terá início se o consumidor tem o co-
em pagar a indenização) ou, no caso de responsabilidade civil, da data que é citado para
nhecimento do dano e de sua autoria. No que diz respeito ao conhecimento do dano, a
responder a ação de indenização proposta por terceiro prejudicado. Já a pretensão do
ressalva do legislador foi deveras importante, uma vez que pode o consumidor ter sido
beneficiário contra o segurador, sobretudo nos seguros de vida, prescreve em três anos,
lesado e não ter-se dado conta do ocorrido. Exemplo disso está na utilização de medi-
tudo conforme o art. 206, § 3º, do Código Civil.
camentos, cujos efeitos danosos somente poderão aparecer após algum tempo de uso.
Ademais, para início da contagem do prazo, o consumidor deve ter conhecimento Encontramos outra discussão quanto ao prazo prescricional nas hipóteses de repe-
tição de indébito. O art. 42, § único do CDC garante aos consumidores o direito a devo-
do autor do ato danoso. Assim, por exemplo, nas hipóteses de responsabilidade civil em
que não se sabe ao certo quem foi o autor do dano causado ao consumidor, não há que lução em dobro da quantia paga, direito esse que poderia ser exercido, em tese, no prazo
se falar em contagem de prazo. de 5 (anos). No entanto, o prazo para pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem
causa, na forma da lei civil é de 3 (três) anos e este é o prazo que vem sendo aplicado
Com a entrada em vigor do novo Código Civil houve certa discussão a respeito dos jurisprudência majoritária gerando, inclusive, a publicação da súmula 412 do Superior
prazos prescricionais. É certo que o art. 206, § 3º, V, do Código Civil, prevê o prazo de Tribunal de Justiça: "A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-
três anos para prescrição da pretensão da reparação civil. No entanto, pelos critérios dê se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil."
interpretação, a lei especial prevalece sobre a lei geral, razão pela qual o prazo de pres-
crição para a reparação de danos na relação de consumo continua sendo de cinco anos,
prevalecendo prazo estipulado no CDC.
9.4 Súmulas aplicáveis
A respeito do assunto, vejamos a interpretação do Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 412 do S1]: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto
"TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PESSOAS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DEFEITO sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil.
NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. PRAZO ART. 27 DO CDC. NOVA
INTERPRETAÇÃO. VÁLIDA A PARTIR DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO CI- Súmula 291 do S1]: A ação de cobrança de parcelas de complementação de apo-
VIL. O CC/16 não disciplinada especificamente o transporte de pessoas e coisas. Até sentadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos.
então, a regulamentação desta atividade era feita por leis esparsas e pelo CCom, que
não traziam dispositivo algum relativo à responsabilidade pelo defeito na prestação do
serviço de transporte de passageiros. Nesse esforço interpretativo, esta Corte firmou Questões
o entendimento de que danos causados ao viajante, em decorrência de acidente de
trânsito, não importavam em defeito na prestação de serviço e, portanto, o prazo pres, '. 1.
Segundo o Código de Defesa do Consumidor (Magistratura - MS/2010):
cricional para ajuizamento da respectiva ação devia respeitar o CC/16, e não o CDC.
Como advento do CC/02, não há mais espaço para discussão. O art. 734 fixa expres- a) o prazo prescricional para o exercício da pretensão de reparação por danos resultantes
samente a responsabilidade objetiva do transportador pelos danos causados às pessoas de fato do produto ou serviço é de 5 (cinco) anos, contados a partir da ocorrência do
por ele transportadadas, o que engloba o dever de garantir a segurança do passageiro, dano, independente do conhecimento da autoria;
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92 Direito do consumidor • Densa Decadência e prescrição 93
b) a contagem do prazo para reclamar por vícios aparentes ou de fácil constatação se inicia a) incorreta, pois a ocorrência de responsabilidade solidária entre a montadora e a conces-
com o conhecimento do dano pelo consumidor e não com a efetiva entrega do produto sionária determina que os prazos devam ser contados em dobro, ou seja, o prazo seria
ou término da execução dos serviços; . de 180 dias;
c) os prazos de 30 (trinta) e 90 (noventa) dias para reclamar de vícios aparentes e de fácil b) incorreta, pois o prazo de garantia no caso de defeito nos produtos duráveis é de 90
constatação em produtos e serviços, duráveis e não duráveis, têm natureza decadencial; dias;
d) tratando-se de vício oculto, o prazo para reclamar por vício do produto ou serviço inicia- c) incorreta, pois a responsabilidade civil do fabricante das motos persiste mesmo após o
se com a entrega da mercadoria, independente da data em que o defeito se exteriorizar vencimento do prazo fixado;
e ficar evidenciado;
d) correta, pois, uma vez feito o aviso do recall e passado o prazo fixado, eventual respon-
e) apenas a instauração de inquérito civil obsta o decurso da decadência para reclamar ví- sabilidade será exclusiva do consumidor;
cios aparentes em produtos e serviços. e) correta, pois, não havendo determinação expressa governamental mandando recolher
os produtos, o recall é uma liberalidade do fabricante, podendo então fixar suas condi-
2. Sobre a responsabilidade .••.
por fato e por vício dos produtos e serviços prevista no Código de ções.
Defesa do Consumidor, é INCORRETO afirmar que (Magistratura - MS(2010):
a) para fins de responsabilidade decorrente de fato do produto, equiparam-se a consumido- 5. Em 1983, a General Motors do Brasil constatou defeito no sistema de freios dos carros Che-
res todas as vítimas do evento danoso, ain . ,ue não integrantes da relação contratual verte fabricados entre 10 e 12 de março de 1982, promovendo a reparação do dano emergente
de consumo; através da chamada dos consumidores para substituição gratuita do produto (cf. reportagem
b) o comerciante é igualmente responsável pelo fato do produto quando o fabricante, o de Quatro Rodas, ano XXlII, n2275) (Procurador do Estado/PR - 2007).
construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; a) Esta prática, conhecida como reml/, está disciplinada pelo Código de Defesa do Con-
c) a ignorância do fornecedor não o exime de responsabilidade por vício de qualidade por sumidor, que impõe ao fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua
inadequação do produto vendido; introdução no mercado do consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apre-
senta, o dever de comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos
d) constatado pelo consumidor vício de qualidade do produto, o fornecedor terá um prazo
máximo de 45 dias para saná-lo: . consumidores, mediante anúncios publicitários.
b) Esta prática tem por fundamento normas de Direito do Consumidor do país onde está
e) não sendo sanado o vício de qualidade no prazo legal, o consumidor pode exigir do
sediada a fornecedora, não constituindo até hoje, no Direito pátrio, norma positivada,
fornecedor, a substituição do produto, a restituição da quantia paga ou o abatimento
por haver sido objeto de veto presidencial.
proporcional do preço.
c) O episódio constituiu mera liberalidade ou extrema precaução da empresa, já que ha-
3. joana adquiriu um aparelho de telefone em loja de eletrodomésticos e, juntamente com o .via sido suscitada apenas a possibilidade de um dano hipotético e não real, própria da
manual de instruções, foi-lhe entregue o termo de garantia do produto, que assegurava ao sociedade de risco em que vivemos.
consumidor um ano de garantia, a contar da efetiva entrega do produto. Cerca de um ano d) Trata-se de obrigação legal imposta pelo Código de Defesa do Consumidor a todos os
e um mês após a data da compra, o aparelho de telefone apresentou comprovadamente um eventuais responsáveis por lesão a interesse difuso por excelência, de que a hipót se
defeito de fabricação. Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta acerca dos descrita é exemplo.
direitos do consumidor (OAB/CESPE 2009.2): e) Trata-se de hipótese de publicidade enganosa, nos termos do art. 37, § lll, do ódlg
a) O prazo para joana reclamar dos vícios do produto é de apenas noventa dias, a partir de Defesa do Consumidor, pois constituiu informação de caráter publicitário int ira
da entrega efetiva do produto, independentemente de prazo de garantia. ou parcialmente falsa que induziu em erro os consumidores a respeito da qualidad do
b) A lei garante a joana a possibilidade de reclamar de eventuais defeitos de fabricação a produto que se revelou defeituoso.
qualquer tempo, desde que devidamente comprovados.
6. No caso dos transportes aéreos, quando há atraso de voos ou questões que envolvem o des-
c) Após o prazo de um ano de garantia conferida pelo fornecedor, joana não poderá alegar
cumprimento da programação de pacote turístico, o Superior Tribunal de Justiça não tem apli-
a existência de qualquer defeito de fabricação.
cado o art. 26, inciso I, do CDC, que dispõe caducar em 30 (trinta) dias o direito de reclamar
d) Joana poderá reclamar eventuais defeitos de fabricação até o prazo de noventa dias após pelos vícios aparentes ou de fácil constatação nos fornecimentos de serviços e de produtos
o final da garantia contratual conferida pelo fornecedor. não duráveis. A opção pela prevalência da regra do art. 205 do Código Civil (prescrição) para
ação de reparação de danos materiais e morais decorrentes de atraso de voo harmoniza-se
4. Um fabricante de motocicletas faz, por decisão própria, um informe na TV - recall -, comu- com o seguinte fundamento teórico (Ministério Público - Goiás/2010):
nicando aos consumidores que determinada série de seu produto apresenta um defeito no
a) Ab-rogação da lei velha pela nova.
sistema de freios. Informa, ainda, que o consumidor tem um prazo de 30 dias para levar a
moto à concessionária que vendeu o produto, findo o qual não se responsabili~ará civilmente. b) Diálogo de coordenação e adaptação sistemática.
c) Diálogo sistemático de complementariedade e subsidiariedade.
Essa comunicação está (Procurador do Estado/SP - 2002): d) Diálogo sistemático de coerência.
94 Direito do consumidor· Densa
Desconsideração da
personalidade jurídica
10.1 Generalidades
A pessoa jurídica é um ente incorpóreo, criado pela lei, podendo ser entendida como
a associação de pessoas com a finalidade de alcançar determinadas tarefas previstas no
contrato social. Percebemos assim que pessoa jurídica tem origem, exatamente, da ne-
cessidade do homem em conjugar esforços, de forma organizada, para a execução de
tarefas mais complexas.
Ensina Venosa (2004, p. 257) que o século XX "foi o século da pessoa jurídica. Des-
de então, pouquíssimas atividades da sociedade são desempenhadas pelo homem como
pessoa natural. A pessoa jurídica, da mais singela à mais complexa, infere e imiscui-se
na vida de cada um, até mesmo na vida privada. Sentimos um crescimento exacerbado
da importância da pessoa jurídica".
Assim, dada a importância da pessoa jurídica em nosso direito, principalmente para
as relações de consumo, o legislador passou a regular de maneira mais int nsa a atividade
das empresas, bem como a impor requisitos a serem cumpridos para a sua constituição.
Demais disso, cabe lembrar que a pessoa jurídica possui personalidade jurídica própria
e existência distinta da dos seus membros. Assim, a pessoa jurídica capaz d assumir
direitos e obrigações na ordem civil, sem atingir diretamente as pessoa qu formam a
sociedade.
De fato, exatamente em razão de a personalidade jurídica da 50 i d s con-
fundir com a pessoa dos sócios, muitas são as possibilidades de fraud s abu ,j qu
este "ente abstrato", muitas vezes, possui capacidade financeira Iírnic de par umir
responsabilidades perante terceiros.
96 Direito do consumidor • Densa Desconsideração da personalidade jurídica 97
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) consiste também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento
na possibilidade de afastamento da autonomia da sociedade, passando os sócios e admi- ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
nistradores a responderem pelos prejuízos causados pela pessoa jurídica. Tem origem § 1º (Vetado.)
no direito inglês e americano, no século XIX, com o caso Salomon & Salomon, em que o
§ 2º As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são
Sr. Salomon instituiu uma sociedade em que ele era o sócio majoritário, cabendo a sua
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste Código.
esposa uma cota mínima, e se valia da sociedade para se eximir de débitos pessoais con-
traídos perante terceiros. § 3º As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis petas obrigações de-
correntes deste Código.
Assim, em princípio, a empresa é responsável perante terceiros pelas consequências
das atividades de seus sócios e administradores, mas pode ser a personalidade desconsi- § 4º As sociedades coligadas só responderão por culpa.
derada para atingir o patrifnônio dos sócios se houver desvio de finalidade ou confusão §. 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua persona-
patrimonial. lidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
A teoria subjetiva da desconsideração da personalidade jurídica, também conhecida consumidores. "
por teoria maior, foi criada por Rolf Serick e tl"17.,dapara o Brasil por Rubens Requião.
Verifica-se, destarte, que a desconsideração da pessoa jurídica está prevista expres-
Utiliza como critério para a desconsideração da personalidade jurídica o desvio da fina-
samente no caput e no § 5º do art. 28. Já os § § 2º a 4º do mesmo artigo, embora inseridos
lidade da pessoa jurídica através de abuso de direito ou fraude à lei.
na seção referente à desconsideração da personalidade jurídica, versam sobre a responsa-
Já a teoria objetiva da desconsideração da personalidade jurídica, ou teoria me- bilidade subsidiária ou solidária das sociedades.
nor, trazida para o Brasil por Fábio Konder Cornparato, adota o critério da confusão
patrimonial para a desconsideração da personalidade jurídica. Por esta teoria, em razão , . Im~or~ant: notar: ainda que a decisão judicial que desconsidera a personalidade ju-
do risco envolvido nas atividades da empresa, a desconsideração da personalidade jurí- rídica nao implica a dissolução da sociedade, mas o seu afastamento momentâneo, para
dica deve ser decretada quando houver prova da insolvência da pessoa jurídica, indepen- aquele caso concreto, para que haja a reparação do dano causado ao consumidor. Ade-
dentemente do elemento subjetivo. mais, caso o juiz decrete a desconsideração da personalidade, o patrimônio atingido será
o do proprietário, do acionista controlador e do sócio majoritário.
O Código de Defesa do Consumidor foi o primeiro diploma legal nacional a prever
a desconsideração da personalidade jurídica no ordenamento pátrio. Outrossim, nas situações em que a personificação da empresa não implicar óbice ao
ressarcimento do consumidor, não há que se falar na disregard doctrine, uma vez que os
Importante notar que a desconsideração da personalidade jurídica é ato excepcio- prejuízos devem ser ressarcidos pela pessoa jurídica e não diretamente pelos seus sócios.
nal e pode ser decretada pelo juiz somente nos casos expressos em lei. Outrossim, a
maioria expressiva da doutrina e da jurisprudência entende que os sócios não precisam
figurar no polo passivo da ação, desde o início do processo de conhecimento, bastando
o requerimento na petição inicial ou no curso do processo para que se desconsidere a 10.3 Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica
personalidade jurídica.
A ~e~consideração da personalidade jurídica será decretada de acordo com a facul-
Veremos a seguir as condições para a desconsideração da personalidade jurídica no
dade do JUIZ, e depende da análise dos seguintes requisitos:
Código de Defesa do Consumidor.
defesa de outros interesses, como os dos demais sócios, ou de responsabilidade civil não tivesse sido esta a intenção da lei, a norma para operacionalizá-Iapoderia ser direta,
fundada em relação de consumo. sem apelo à teoria da desconsideração."
sociedade coligada não poderá ser responsabilizada pelos atos da outra empresa a não
a) foi agasalhada pelo Direito brasileiro e permite que o Juiz desconsidere a pessoa jurídi-
ser que tenha participado do ato, caso em que será solidariamente responsável. ..- ca sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores;
b) foi agasalhada pelo Direito brasileiro, mas a desconsideração não será efetivada quando
Questões houver falência ou estado de insolvência, porque todos os credores devem ser tratados
com igualdade neste caso;
L Nas ações judiciais que tenham por objeto controvérsia regi da pelo Código de Defesa do c) não foi agasalhada pelo Direito brasileiro que, expressamente, distingue a personalidade
Consumidor (Magistratura - MS/2010): jurídica dos sócios da personalidade jurídica da sociedade;
a) as sociedades integrantes do mesmo grupo societário e as sociedades controladas pelo d) foi parcialmente adotada pelo Direito brasileiro e permite ao Juiz dissolver a sociedade,
fornecedor respondem, subsidiariamente, em relação ao fornecedor; determinando sua liquidação, quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de
b) as sociedades consorciadas respondem solidariamente com o fornecedor, pois, de acor- direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
do com a Lei das ~ociedades por Ações, o consórcio não tem personalidade jurídica e contrato social;
as consorciadas assumem obrigações apenas em nome próprio; e) está incorporada ao Direito brasileiro e permite às autoridades administrativas e ao Juiz
c) a desconsideração da personalidade jurídica pode ser determinada pelo juiz apenas a determinar que os efeitos de certas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
pedido do Ministério Público; parriculares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica, se verificado abuso da
~ personalidade jurídica desta pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.
.... d) a desconsideração da personalidade jurídica de sociedade falida, se decretada, não po-
:>
- e)
derá atingir os administradores da sociedade fornecedora;
a desconsideração da personalidade jurídica exige, em todos os casos, a prova da ocor-
4. Segundo o Código de Defesa do Consumidor (Lei nQ 8.078, de 1990), é errado afirmar que
(Magistratura/SP - 1742):
rência de fraude e abuso de poder de controle.
a) a inversão do ônus da prova, a favor do consumidor, se dará quando, a critério do Juiz,
2. Nas ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços (Magistratura - MS/201O): for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordiná-
rias de experiência;
a) não é permitido ao réu requerer o chamamento ao processo de sua seguradora, cabendo .' b) as sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são soli-
'r-
i
a este apenas a posterior ação de regresso no juízo cível visto não tratar-se de relação
de consumo sujeita às regras do CDC; dariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes do Código de Defesa do Consu-
midor;
b) o foro do local do dano é o único competente para o conhecimento da ação;
c) poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica quando, de alguma forma, a sua personali-
c) a inversão do ônus da prova depende da demonstração cabal da hipossuficiência do dade representar obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores;
consumidor no caso concreto, não podendo o juiz fundamentar a sua decisão em regras
ordinárias de experiência; d) as sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorren-
tes do Código de Defesa do Consumidor.
d) se o réu for declarado falido e o síndico confirmar a existência de seguro de responsabi-
lidade, é facultado aos consumidores o ajuizamento de ação de indenização diretamente
contra o segurador, cuja responsabilidade ficará limitada ao valor do seguro contratado;
e) o valor da causa deve ser limitado a 40 (quarenta) salários-mínimos.
manha surgiu uma tese apresentada pelo prof. RolfSerick, da Faculdade de Direito da iJ I
Universidade de Heidelberg, que estuda profundamente a doutrina, tese essa que ad- ,
quiriu notoriedade causando forte influência na Itália e na Espanha. Seu título, tradu-
zido pelo prof. Antonio Pólo, de Barcelona, é bem significativo: 'Aparencia y Realidad
',em Ias Sociedades Mercantiles - EI abuso de derecho por médio de Ia persona jurídica';
Pretende a doutrina penetrar no âmago da sociedade, superando ou desconsiderand~
a personalidade jurídica, para atingir e vincular a responsabilidade do sócio." (Rubens
Requião. Curso de direito comercial. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. vI, p. 390). Pode-se
afirmar que a doutrina acima referida, nas relações de consumo:,;j