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Ficha Informativa 8
O que dizem de Ricardo Reis
«O Dr. Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas
da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre os excessos,
especialmente de realização da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as cousas sem
as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea. Quando reparei em que
estava pensando, vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, e que ia desenvolvendo. Achei-a
bela e calculei interessante se a desenvolvesse segundo princípios que não adopto nem aceito.
Ocorreu-me a ideia de a tornar um neoclassicismo «cientifico»*…+»
Cada qual de nós- opina o Poeta – deve viver a sua própria vida, isolando-se dos outros e
procurando apenas, dentro de uma sobriedade individualista, o que lhe agrada e lhe apraz. Não
deve procurar os prazeres violentos, e não deve fugir às sensações dolorosas que não sejam
extremas. Buscando o mínimo de dor ou *…+, o homem deve provocar sobretudo a calma, a
tranquilidade, abstendo-se do esforço e da actividade útil. *…+
Devemos buscar dar-nos a ilusão da calma, da liberdade, os próprios deuses- sobre que pesa o Ricardo Reis, por
Fado- a não têm; quanto à felicidade, não a pode ter quem está exilado da sua fé e do meio Almada Negreiros
onde a sua alma devia viver; e quanto à calma, quem vive na angústia complexa de hoje, quem
vive sempre à espera da morte, dificilmente pode fingir-se calmo. A obra de Ricardo Reis, profundamente triste, é o
esforço lúcido e indisciplinado para obter uma calma qualquer.»
Texto escrito por Fernando Pessoa/ Frederico Mendes [Considerações sobre a poesia de Ricardo Reis]in Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação,
Edições Ática
« A poesia de Reis *…+ acusa a influência imediata de Horário, o poeta que temperou com a ética estóica a doutrina de Epicuro *…+
Moralistas ambos, tanto Reis como Horácio fundam a sua filosofia prática na reflexão sobre o fluir do tempo, a inanidade dos bens
terrenos, os enganos da Fortuna e a morte *…+.
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3º ano Curso Profissional Técnico de Design
Módulo 9 - Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos
Epicurismo- doutrina baseada num ideal de sabedoria, segundo o qual a felicidade, ou seja, a tranquilidade da alma
(ataraxia) é o objectivo da moral; esta doutrina incita a não temer nem os deuses nem a morte e a procurar os prazeres
simples e naturais da existência
Ricardo Reis
Estoicismo- doutrina moral que propõe regras de vida próprias para alcançar a felicidade e a sabedoria. Caracteriza-se pelo
seu naturalismo manifesto no preceito segundo o qual é necessário ‘ viver em harmonia com a natureza’.
(…)
Ricardo Reis
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Módulo 9 - Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos
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2. A tranquilidade com que o sujeito poético encara a passagem do tempo ( vv.1-3) é comparada a um gesto banal do
quotidiano.
3. A partir da segunda estrofe, o sujeito poético, faz a apologia da ataraxia, isto é, da tranquilidade da alma, preconizada
pelos epicuristas.
a afinidade contextual que se estabelece entre “ não viver” ( v.12)/ “ decorrer” (v.13)/ “ir” (v.30);
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4. Podemos afirmar que esta ode, à semelhança de quase todas as odes de Ricardo Reis tem um carácter moralista.
4.1. Assinala os versos onde o sujeito poético nos exorta/ aconselha a tomar uma atitude.
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Módulo 9 - Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos
De formação clássica, «pagão por carácter», segue Caeiro no amor da vida rústica, junto da Natureza. Mas
enquanto o Mestre, menos culto e complicado, é (ou pretende ser) um homem franco, alegre, Reis é um ressentido,
que sofre e vive o drama da transitoriedade, doendo-lhe o desprezo dos deuses. Afligem-no a imagem antecipada
da Morte e a dureza do Fado. Daí, ele buscar o refúgio de um epicurismo temperado de algum estoicismo, tal como
Horácio, seu modelo literário:
«Abdica
E sê rei de ti próprio»
Lúcido e cauteloso, constrói, para si, uma felicidade relativa, mista de resignação e moderado gozo dos prazeres
que não comprometam a sua liberdade interior. Trata-se de fruir, muito consciente e ponderadamente, as coisas
acessíveis sem demasiado esforço ou risco. Latinizante no vocabulário e na sintaxe, o seu estilo é densamente
trabalhado e revela ainda, muito claramente, o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase
sempre de decassílabos, nas referências mitológicas, na frequência do hipérbato, na contenção e concisão altamente
expressivas e lúcidas.
A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que
a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às
coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.
A concepção dos deuses como um ideal humano;
As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são uma forma de referir a
primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da
subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos;
A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens.
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Módulo 9 - Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos
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Módulo 9 - Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos
CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS
Epicurismo Estoicismo
- busca da felicidade relativa - aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa
- moderação nos prazeres e não fica, nada deixa e nunca regressa.”)
- fuga à dor - indiferença face às paixões e aos males
- ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a - abdicação de lutar
perturbação) - autodisciplina
Horacionismo Paganismo
- carpe diem: vive o momento - crença nos deuses
- crença na civilização da Grécia
- aurea mediocritas: a felicidade possível no
sossego do campo (proximidade de Caeiro) - sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a
Grécia
Culto do Belo, como forma de superar a Neoclassicismo
transitoriedade da vida e dos bens terrenos - poesia construída com base em ideias elevadas
Intelectualização das emoções - Odes (forma métrica por excelência)
Medo da morte
Autodomínio e contenção dos sentimentos
Quase ausência de erotismo, em contraste
com o seu mestre Horácio
CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS
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