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15/07/2019
Número: 0007876-93.2017.8.07.0016
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 4ª Turma Cível
Órgão julgador: Gabinete do Des. Arnoldo Camanho de Assis
Última distribuição : 09/05/2019
Valor da causa: R$ 35.980,80
Relator: ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS
Processo referência: 0007876-93.2017.8.07.0016
Assuntos: Exoneração
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
MAYA LIMA FROTA (APELANTE)
JESSICA DA ROSA MAGALHAES (ADVOGADO)
DANIELA PEON TAMANINI ROSALES (ADVOGADO)
ALEXANDRE FROTA DE ANDRADE (APELADO)
ALINE FERNANDA PEREIRA KFOURI (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
9768372 05/07/2019 Acórdão Acórdão
17:47
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Acórdão Nº 1183547
EMENTA
1. Se as provas juntadas aos autos são suficientes para firmar a convicção do magistrado acerca da matéria
posta em juízo, não há que se falar em cerceamento de defesa, em face da não realização de audiência de
instrução, com a oitiva de testemunhas.
2. Fixados os alimentos em favor do filho e, tendo este atingido a maioridade civil, surge para o
alimentante a possibilidade de exoneração do encargo alimentar, desde que o alimentando deles não mais
necessite, ou o alimentante não mais os possa prover, por alterações em suas possibilidades
supervenientes à sentença que fixou os alimentos.
3. Ausentes elementos que comprovem a redução da capacidade financeira do alimentante, bem como que
o alimentando não necessita mais dos alimentos, pois ainda cursa o ensino médio e não se inseriu no
mercado de trabalho, tendo em conta, ainda, que a pensão alimentícia anteriormente estabelecida
mostra-se razóavel, não há que se falar em exoneração da prestação alimentícia, sequer em sua redução.
4. Apelo provido.
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios, ARNOLDO CAMANHO - Relator, SÉRGIO ROCHA - 1º Vogal e JAMES EDUARDO
OLIVEIRA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO, em
proferir a seguinte decisão: DAR PROVIMENTO AO RECURSO, UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
Cuida-se de recurso de apelação interposto por M. L. F. em face de sentença proferida pela MMª Juíza da
3ª Vara de Família de Brasília, que julgou procedente o pedido de exoneração dos alimentos prestados por
seu genitor, condenando-o ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes
fixados em R$ 1.000,00 (mil reais), restando suspensa a sua exigibilidade, nos termos do art. 98, § 3°, do
CPC.
Em suas razões, o apelante suscita preliminar de cerceamento de defesa por ausência de oportunidade de
produção de prova testemunhal. No mérito, aduz que apenas alcançar a maioridade não é motivo
suficiente para a exoneração do dever alimentar, principalmente quando o filho permanece em processo
de formação intelectual por meio de seus estudos, havendo apenas a inversão do ônus da prova, em que
passa para este a obrigação de demonstrar a sua necessidade dos alimentos, que deixa de ser presumida.
Argumenta que o advento da maioridade extingue o poder familiar, mas não determina o fim da obrigação
alimentar, que passa a ser pautada na relação de parentesco, porquanto demonstrada a existência do
binômio necessidade/possibilidade. Afirma que necessita dos alimentos, já que se encontra matriculado
no ensino médio e não possui meios para prover o seu próprio sustento, acrescentando que a possibilidade
do genitor de prestá-los é patente, visto que, além de ator, atualmente é deputado federal. Alega que se
mudou para a Bélgica para acompanhar a sua genitora, bem como em razão do “bullying” que sofria no
Brasil, já que seu pai é famoso e sempre o ofendia em entrevistas que prestava na mídia, e que, apesar de
estar tentando iniciar uma carreira de modelo, esta ainda não se concretizou e, muito menos, lhe trouxe
rendimentos ou condições para sua mantença, até porque sequer tem visto ou autorização para o trabalho
no país que se encontra. Requer a cassação do decisum ou a sua reforma, para que seja julgado
improcedente o pedido de exoneração de alimentos. Subsidiariamente, pede a redução da obrigação
alimentícia para o valor correspondente a vinte por cento (20%) do salário mínimo.
É o relatório.
Ab initio, no que diz respeito ao alegado cerceamento de defesa, não merece prosperar o pleito de
realização de audiência de instrução a fim de serem ouvidas as testemunhas arroladas.
Extrai-se da documentação acostada aos autos que o processo foi devidamente instruído com provas
documentais.
De mais a mais, se o Juízo a quo considerou o conjunto probatório suficiente para o deslinde da
controvérsia, correta sua decisão, por ser o destinatário da prova, com base nos arts. 370 e 371, do CPC.
Cabe relembrar que o julgamento antecipado da lide, quando já se encontram nos autos elementos
suficientes para a formação do convencimento do julgador, é mais do que uma mera faculdade judicial,
constituindo, propriamente, um dever do magistrado.
É certo que a obrigação de prestar alimentos entre ascendentes e descendentes, decorrente do poder
familiar, termina com a maioridade civil do alimentando. Todavia, o só fato de o filho ter atingido a
maioridade civil não tem o condão de excluir seu genitor do dever de prestar-lhe alimentos, com base na
relação de parentesco, consoante disposto no art. 1.694, do CC.
A Lei Civil prevê que os alimentos são devidos “quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los,
sem desfalque do necessário ao seu sustento” (art. 1.695, do CC).
Assim, para que o alimentante se exonere do dever de prestar alimentos ao filho, é imprescindível que
demonstre que o alimentando possui condições de manter o seu próprio sustento, ou restar evidenciada a
impossibilidade de fornecê-los, em consonância com o binômio necessidade/possibilidade, disposto no §
1º do art. 1.694, do supracitado diploma legal.
Nesse sentido, Washington de Barros Monteiro leciona que “na fixação dos alimentos equacionam-se,
portanto, dois fatores: as necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante. Trata-se,
evidentemente, de mera questão de fato, a apreciar-se em cada caso, não se perdendo de vista que
alimentos não se concedem ad utilitatem, mas ad necessitatem”[1].
Das provas produzidas nos autos, é possível auferir a condição financeira do recorrido, visto que se trata
de deputado federal. Além disso, este não logrou êxito em demonstrar que a pensão de três vírgula dois
(3,2) salários mínimos pode prejudicar a sua subsistência. Desse modo, verifica-se presente a
possibilidade do genitor de arcar com a pensão alimentícia.
Por outro lado, apesar de as necessidades do requerido não terem sido exaustivamente comprovadas, os
gastos por ele declarados mostram-se razóaveis frente às suas demandas, se observadas a sua idade (vinte
anos) e condição social. Registre-se, por oportuno, ser possível chegar a tal conclusão, por força da
necessária aplicação das regras de experiência comum, subministradas pela observação do que
ordinariamente acontece (art. 375, do CPC).
De mais a mais, embora o alimentando tenha obtido a maioridade civil, encontra-se cursando o nível
médio (ID nº 8555218). Ora, se o que se busca com a manutenção dos alimentos após a maioridade, no
caso de o alimentando estar cursando a graduação, é evitar o desamparo durante a formação escolar para
propiciar uma melhor colocação no mercado de trabalho, a situação do estudante que sequer concluiu o
ensino médio deve ser acolhida como justificativa apta a garantir a manutenção dos alimentos mesmo
após a maioridade civil.
1. À luz dos artigos 1.694 e 1.695 do Código Civil, pode o descendente, amparado na
relação de parentesco e na solidariedade familiar, reivindicar a continuidade do pagamento
de prestação alimentícia, antes lastreada no poder familiar, após alcançada a maioridade
civil, quando demonstrada a frequência regular em entidade de ensino e a insuficiência de
meios para prover o próprio sustento.
(...)
3. Tendo o filho atingido a maioridade, cessa o dever do genitor de prestar alimentos com
base no poder familiar, porém, persiste o encargo trazido nos artigos 1.694 e 1.696 do
Código Civil, fundado no parentesco.
Com efeito, estando ausentes elementos que permitam inferir que houve a redução da capacidade
financeira do alimentante, bem como que o alimentando não necessita mais dos alimentos, tendo em
conta, ainda, que a pensão alimentícia anteriormente estabelecida, no valor três vírgula dois (3,2) salários
mínimos, mostra-se razoável diante dos rendimentos do genitor, não há que se falar em exoneração da
prestação alimentícia, sequer em sua redução.
Vejam-se, a esse propósito, as ementas dos julgados dessa egrégia Corte de Justiça:
1. É cediço que a maioridade civil, por si só, não conduz à extinção do dever de alimentar do genitor,
notadamente se persistir a necessidade da prestação em decorrência da incapacidade de autossustento
do alimentando, cuja obrigação passa a ser fundada no parentesco, nos termos do Art. 1.694 do CC.
1. Amaioridade civil não tem o condão de, automaticamente, tornar o alimentando plenamente capaz de
prover o seu sustento, pois apesar de cessar o pátrio poder, não significa que o filho não continue
dependendo dos pais.
Por fim, considerando o provimento do recurso, inverto o ônus da sucumbência, devendo o apelado arcar
com as custas processuais e com os honorários advocatícios.
É como voto.
[1] In Curso de Direito Civil, 29ª ed., Ed. Saraiva, 1992, v.2, p. 288/292.
DECISÃO