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G. V. Plekhanov
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28/11/2018 Plekhanov: Os Princípios Fundamentais do Marxismo
E por quê? Por múltiplas razões. Uma das mais importantes é que
atualmente se conhece muito mal não só a filosofia hegeliana, sem a qual é difícil
assimilar o método de Marx, mas também a história do materialismo, sem a qual
não é possível ter uma idéia clara da doutrina de Feuerbach, que foi, em filosofia,
o predecessor imediato de Marx, e que forneceu, em considerável medida, a
base filosófica da concepção de mundo de Marx e Engels.
II
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Uma vez fixados sobre a matéria da qual é feita o cérebro, logo chegaremos
a uma visão clara no que concerne igualmente toda outra matéria, no que
concerne à matéria em geral. [3] Em outra parte, ele declara que sua
antropologia, quer dizer, seu humanismo, significa unicamente que Deus, não é
outra coisa que o próprio espírito humano. [4] Esse ponto de vista antropológico,
observa Feuerbach, já não era estranho ao próprio Descartes. [5] Mas o que
significa tudo isto? Significa que Feuerbach tinha tomado "o homem" como ponto
de partida de seus raciocínios filosóficos unicamente porque esperava, partindo
deste ponto, chegar mais cedo ao objetivo, que era dar uma idéia justa da
matéria, em geral, e de suas relações com o espírito. Estamos pois, neste caso,
tratando com um procedimento metodológico cujo valor era condicionado pelas
circunstâncias de tempo e lugar, ou seja, pelos modos de raciocinar habituais aos
eruditos alemães, ou simplesmente aos alemães cultos da época [6], mas que
não dependia absolutamente de qualquer concepção particular do mundo.
Essa concepção das relações entre o ser e o pensamento colocados por Marx
e Engels na base da interpretação materialista da história constitui o resultado
mais importante da crítica ao idealismo hegeliano que, em seus traços principais
foram feita pelo próprio Feuerbach, cujas conclusões podem ser assim
resumidas:
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natureza e sobre o qual ela se apóia. Deus se apresenta como sujeito, a natureza
como atributo. A filosofia, que se emancipou definitivamente das tradições
teológicas, deve suprimir essa falha considerável da filosofia, no fundo exata, de
Espinosa. "Abaixo esta contradição!" exclama Feuerbach. Não Deus "sive
natura", mas "Aut deus aut natura". Aí está a verdade. [13]
Mas não é tudo. O pensar não é a causa do ser, mas sua conseqüência, ou
mais exatamente, sua propriedade. Feuerbach diz: "Folge und Eigenschaft"
(conseqüência e propriedade). Eu sinto e eu penso, de maneira alguma como um
sujeito oposto ao objeto, mas como um sujeito-objeto, como um ser real,
material. E o objeto é para mim, não apenas a coisa que eu sinto, mas também
o fundamento, a condição indispensável de minha sensação. O mundo objetivo
não se encontra apenas fora de mim, ele está também em mim, em minha
própria pele. O homem é só uma parte da natureza, uma parte do ser; eis
porque não há lugar para a contradição entre seu pensamento e seu ser. O
espaço e o tempo não existem apenas para o pensamento. Eles são igualmente
formas do ser. São formas da minha contemplação. Mas eles o são unicamente
porque eu mesmo sou um ser que vive no tempo e no espaço e que só percebo e
sinto porque sou um tal ser. De maneira geral, as leis do ser são ao mesmo
tempo também as leis do pensar.
Marx tem em vista esse pensamento de Feuerbach, quando diz: "A principal
falha do materialismo - aí incluído o de Feuerbach - consistia, até aqui, em que
ele só concebe a realidade, o mundo objetivo e sensível sob a forma do objeto ou
sob a forma da contemplação e não como atividade humana concreta, não como
exercício prático, não subjetivamente". É esta falha do materialismo, diz Marx
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III
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e o objeto, Hobbes está também muito próximo de Espinosa. Mas isto nos levaria
muito longe. E, além disso, não existe nenhuma necessidade premente em fazê-
lo. Será bem mais interessante para o leitor constatar que atualmente todo
naturalista que reflete, por pouco que seja, sobre a questão das relações entre o
pensar e o ser, chega à teoria de sua unidade que encontráramos em Feuerbach.
Quando Huxley escrevia: "Em nossos dias, nenhum daqueles que estão ao
corrente da ciência contemporânea e que conhecem os fatos, pode duvidar que é
necessário buscar as bases da psicologia, na fisiologia do sistema nervoso e que
aquilo que chamamos de atividade do espírito é um complexo de funções
cerebrais" [17], ele exprimia precisamente o que dizia Feuerbach. Só que aí
agregava concepções bem menos claras e por isso pôde tentar aliar sua maneira
de ver ao ceticismo filosófico de Hume [18].
Segundo Forel, cada novo dia traz novas e convincentes provas do fato que a
psicologia e a fisiologia do cérebro são apenas duas formas diferentes de
considerar "uma só e mesma coisa". O leitor não terá esquecido o ponto de vista
idêntico de Feuerbach, citado acima, sobre esta questão. Este ponto de vista,
pode-se completar aqui com a seguinte frase de Feuerbach: "Eu sou para mim
mesmo um objeto psicológico; mas um objeto fisiológico para o outro" [20].
Afinal, a idéia principal de Forel se reduz à tese na qual a consciência é "um
reflexo interior da atividade cerebral" [21]. E isto já é uma concepção puramente
materialista.
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formal, da contradição entre o pensar e o ser. Ele mostra que não há e não pode
haver pensamento independente do homem, quer dizer, do ser real, material. O
pensamento é uma atividade do cérebro. "Mas o cérebro só é um órgão de
pensamento na medida em que está ligado a uma cabeça e a um corpo
humanos" [30].
IV
Quando se diz que Marx e Engels foram durante certo tempo adeptos de
Feuerbach, freqüentemente quer-se dizer com isto, que sua concepção do mundo
se modificou posteriormente e se diferenciou completamente da de Feuerbach. É
também o que pensa K. Diehl, que acha que normalmente se exagera muito a
influência exercida por Feuerbach sobre Marx [32]. Aí está um erro formidável.
Mesmo após ter deixado de seguir Feuerbach, Marx e Engels continuaram a
partilhar de uma parte considerável de seus pontos de vista filosóficos. É isto que
aparece claramente nas teses de Marx sobre Feuerbach. Estas teses não refutam
absolutamente Feuerbach; elas as completam apenas e, sobretudo, exigem que
estas idéias sejam, de forma mais conseqüente que em Feuerbach, aplicadas à
interpretação da realidade que rodeia o homem e, em particular, a interpretação
de sua própria atividade. "Não é o pensar que determina o ser, é o ser que
determina o pensar". Este pensamento que está na base de toda filosofia de
Feuerbach, Marx e Engels o colocam também na base da interpretação
materialista da história. O materialismo de Marx e Engels é uma doutrina bem
mais desenvolvida que o materialismo de Feuerbach. Mas as concepções
materialistas de Marx e Engels se desenvolveram no próprio sentido indicado
pela lógica interna da filosofia de Feuerbach. Eis porque estas concepções e
particularmente seu aspecto filosófico, jamais serão completamente claras para
aquele que não quiser se dar ao trabalho de conhecer a parte considerável da
filosofia de Feuerbach que entrou na concepção do mundo dos fundadores do
socialismo científico. E se vocês virem alguém esforçar-se por encontrar um
"fundamento filosófico" para o materialismo histórico, esteja persuadido que
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existe, no saber deste mortal, apesar de sua profundidade, grande lacuna a este
respeito.
Quando Marx escreveu esta tese, já conhecia não só a direção na qual era
necessário buscar a solução do problema, mas também a própria solução. Em
sua "Introdução à Critica da Filosofia do Direito de Hegel", ele mostrara que as
relações dos homens em sociedade, "as relações jurídicas, assim como as formas
do Estado, não podem ser explicadas nem por si mesmas nem pela chamada
evolução geral do espírito humano; que elas têm suas raízes nas condições
materiais de existência, cujo conjunto foi denominado "sociedade civil" por
Hegel, a exemplo dos ingleses e franceses do século XVIII; que a anatomia da
sociedade civil deve ser buscada em sua "economia".
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Notas:
[1] O livro de VI. Verigo: Marx als Philosoph (Berna e Leipzig, 1904), é consagrado à filosofia de
Marx e Engels. É difícil, todavia, imaginar obra tão insatisfatória.
[2] Ver seu interessante livro: A Alemanha nas vésperas da Revolução de 1848, São Petersburgo,
1906, p. 228-229.
[6] O próprio Feuerbach diz muito bem, que o começo de toda filosofia é determinado pelo
estado precedente do pensamento filosófico.
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[15] "O pensar", diz ele,"é precedido pelo ser; antes de pensar a qualidade, você a sente"
(Oeuvres , II, p. 253).
[16] Ver o artigo intitulado: "Bernstein e o Materialismo" em nossa coletânea Critique de nos
Critiques (Plekhanov, Oeuvres, t. XI)
[19] Ver também o terceiro capítulo de seu livro: l'Âme et le Systême Nerveux. Hygiene et
Pathologie, Paris, 1906.
[22] Ibid., p. 7 e 8.
[23] Ibid.
[25] "O espírito absoluto de Hegel não é outra coisa que o espíritcs abstrato, que o espírito
isolado de si mesmo, o que chamamos o espírito finito, assim como o Ser infinito da teologia não
é outra coisa que o Ser abstrato finito". (Oeuvres, II, p. 263).
[26] La Civilisation Primitive, Paris, 1876, t. II, p. 143. É preciso-observar que Feuerbach teve,
no que se refere a isto, uma intuição-verdadeiramente genial. Ele diz: "O conceito de objeto não
é primitivamente outra coisa que o conceito de um outro 'eu'. Assim, o homem concebe na
infância todos os objetos como seres que agem livre e arbitrariamente; é por isso que o conceito
de objeto nasce, em geral, por intermédio do tu, que é o eu objetivo". Reymond, Lausanne,
1905, p. 414-415
[27] Ver T. Gomperz: Les Penseurs de la Grèce, trad. por Aug. Reymond, Lausanne, 1905, p.
414-415.
[28] Ver seu artigo, intitulado: Die Psycho-physiologische Identitatstheorie als wissenschaftliches
Postulat, na coletânea Festschrift, I.
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Inclusão 22/01/2006
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