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Reference: Gonçalves, O. F.*, Carvalho, S.*, Leite, J.* (2007).

Emotional Spectrum: From


recognition to Forecast of affective state. Psiquiatria Clínica, 28, 109-116. (title translated from
Portuguese)

Espectro Emocional: Do reconhecimento à previsão dos Estados

afectivos

Autores: Óscar Gonçalves1; Sandra Carvalho2; Jorge Leite2

2007

Resumo

Neste artigo procuramos dar conta de um programa de estimulação

emocional que temos vindo a desenvolver no Laboratório de

Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho, voltado para o enriquecimento

e reabilitação emocional em diferentes doenças neuropsiquiátricas.

O nosso programa procura contemplar os vários componentes do

espectro emocional (reconhecimento, expressão, regulação e previsão

emocional) através do desenvolvimento de exercícios que lidam quer com os

componentes bottom-up, quer top-down do processamento emocional, para um

leque variado de emoções (emoções primárias e secundárias) tendo como alvo

o espectro de continuidade que vai desde as perturbações psiquiátricas às

doenças neurológicas.

O desenvolvimento do programa possui uma dupla vertente, a de

intervenção (no sentido de reabilitação e estimulação), mas também no sentido

de investigação, onde estudos actualmente em curso, procuram identificar os

marcadores neurobiológicos (neuroimagiológicos; neurofisiológicos e

neurobioquímicos) subsequentes a estas tarefas emocionais e das suas

alterações nos diferentes quadros nosológicos. O esclarecimento destes

1 – Professor Catedrático do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho;


2 – Alunos de Doutoramento do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho;
A correspondência para este artigo deverá ser enviada para goncalves@iep.uminho.pt
mecanismos permitirá no futuro uma maior precisão e intencionalidade do

trabalho clínico na estimulação emocional quer de doentes neurológicos quer

de doentes psiquiátricos.

1 – Professor Catedrático do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho;


2 – Alunos de Doutoramento do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho;
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Introdução

A produção científica acerca da estimulação emocional tem sido

desproporcionalmente escassa em relação à importância reconhecida deste

tema no tratamento das perturbações neuropsiquiátricas. O termo

“enriquecimento emocional” remete-nos a um solitário artigo de Vogel (1968)

acerca do trabalho com crianças portadoras de atraso mental.

É hoje reconhecido que a emoção representa uma relação triádica entre

respostas emocionais (fisiológicas e corporais), a emergência de sentimentos

(resposta cerebral de atribuição de significado quer ao estímulo

desencadeador, quer à resposta ao mesmo) e o conjunto das acções

comportamentais.

Damásio (1994), na sua teoria dos marcadores somáticos, defende a

existência de um mapeamento a nível do Sistema Nervoso Central

transformando as estruturas e estados corporais em representações iniciais,

para posteriormente possibilitar o reconhecimento desse tipo de padrões

específicos. Portanto para ter sentimentos, um organismo, a par de um corpo,

necessita de uma forma de organizar essas representações, tendo ainda a

capacidade de criar os próprios estados corporais, evocativos do sentimento

face a um determinado estímulo. Por exemplo, na Directed Facial Action Task

(cf Ekman, 2007) a activação das emoções, através da activação muscular das

regiões da face, encontra-se associada a alterações a nível fisiológico (e.g.

Boiten, 1996, Davidson, Ekman, Saron, Senulis & Friesen 1990; Ekman &

Davidson, 1993; Ekman, Davidson & Friesen 1990; Levenson, Ekman &

Friesen 1990).

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Damásio (1994) propõe a região do córtex ventromedial como o

integrador destes marcadores, sendo que lesões nesta região conduzem a

falhas na regulação do comportamento emocional. Diversos estudos têm

suportado esta hipótese (e.g. Bechara, Damásio, Damásio & Anderson, 1994;

Bechara, Damásio, Tranel & Damásio, 1996, 1997).

De um ponto de vista neuropsicológico, tendo em conta as afecções

específicas, Starratt (2006) propõe uma divisão dos défices emocionais em três

componentes básicos: percepção, expressão e experiência da emoção.

Na percepção, lesões focalizadas nas regiões posteriores do hemisfério

direito, têm vindo a ser associadas com défices na percepção de expressão

facial, prosódica ou lexical. Lesões nas regiões anteriores do hemisfério direito

têm vindo a ser associadas a dificuldades na expressão emocional, quer em

situações onde tal é solicitado directamente, quer em situações espontâneas

desde que estruturadas (e.g. embotamento afectivo em situação de entrevista

semi-estruturada). Em situações não estruturadas, lesões focalizadas (e.g.

AVC, tumores) encontram-se associadas a diminuição da expressividade, se a

afecção for na região frontal dorsolateral e expressão exagerada nas regiões

orbitofrontais. É também conhecida a “masked face”, ou seja a rigidez muscular

facial e ausência de expressão na doença de Parkinson; a apatia, indiferença e

surtos de raiva na doença de Huntington; a expressão superficial na doença de

Alzheimer; e surtos de medo, ansiedade ou mais raramente, de riso na

epilepsia do lobo temporal.

Na experiência da emoção, os aspectos mais comuns passam pela

disrrupção no estado de humor. São particularmente exemplificativos a este

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nível as alterações psiquiátricas, desde as perturbações do humor aos

distúrbios de ansiedade.

Às componentes de percepção, expressão e experiência emocional,

conviria acrescentarmos a dimensão de “previsão emocional”. No seu termo

original - affective forecast – este conceito remete-nos para as previsões que

fazemos acerca da qualidade e intensidade das nossas emoções face a um

acontecimento antecipado (Wilson & Gilbert, 2005). Tem-se verificado existir

um viés de sobreestimação do impacto futuro em termos de duração e

intensidade dos nossos estados afectivos. Embora não existam estudos até à

data, não será fácil adivinhar que numa grande diversidade de perturbações

neurológicas e psiquiátricas poderemos ter alterações significativas desta

capacidade de previsão que irão desde a incapacidade de antecipação

emocional em alguns síndromes frontais até à sobrevalorização da intensidade

e duração de emoções negativas nos quadros depressivos.

A Estimulação Emocional

Como é largamente reconhecido as alterações deste vários

componentes do espectro emocional pode estar presente numa grande

variedade de perturbações neurológicas e psiquiátricas, resultando daí a

necessidade de desenvolvimento de programas terapêuticos voltados para a

estimulação e reabilitação dos diferentes componentes do espectro emocional.

Recentemente, Levenson (2007) apresentou um programa para

reabilitação de pacientes com défices neurológicos (e.g. lesões orbitofrontais,

danos cerebrais congénitos (Síndrome de Moebius) e doenças

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neurodegenerativas (Alzheimer). Neste programa são igualmente considerados

3 processos a nível de emocionalidade: reactividade (duração, intensidade e

tipo de resposta), regulação (influência do próprio nas emoções, como as

expressa e experiencia) e a compreensão emocional (se estão ou não a sentir

emoções, da emoção específica que estão a sentir ou inclusive das normas

culturais aplicáveis à situação em particular). O autor propõe como forma de

elicitação emocional o uso de filmes, slides, revivência emocional, canto,

interacção diádica e inclusive formas de startle reflex (acústico e de

pestanejar).

A desvantagem do programa de Levenson resulta de integrar

unicamente um grupo limitado de componentes do espectro emocional e estar

preferencialmente voltado para as perturbações de foro neurológico.

O programa aqui apresentado apresenta várias características que

importa sublinhar.

Alvo – Em primeiro lugar, quanto ao alvo, o programa visa as alterações

do espectro emocional presentes tanto em perturbações neurológicas quanto

psiquiátricas, partindo do princípio que há um eixo de continuidade entre as

disfunções dos quadros nosológicos e psiquiátricos.

Abrangência – Em segundo lugar, o programa encontra-se estruturado

para um trabalho a 2 níveis: a nível das emoções básicas (alegria, tristeza,

medo, ira, nojo e menos consensual, a surpresa) e a nível de emoções

complexas (e.g. ciúme, vergonha).

Espectro Emocional – Em terceiro lugar o programa organiza-se à volta

daquilo que consideramos ser as quatro componentes centrais do espectro

emocional: reconhecimento, expressão, regulação e previsão emocional.

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A Figura 1 procura sintetizar as características essenciais do programa e

como diferentes perturbações neurológicas poderão estar associados a défices

em cada um dos componentes do espectro emocional. Ainda que, de um modo

geral, os quadros neurológicos evidenciem desde logo mais alterações ao nível

do Reconhecimento e Expressão Emocional e os quadros psiquiátricos mais ao

nível das componentes de regulação e previsão, a verdade é que poderemos

encontrar exemplos de alterações ao nível de cada um dos componentes para

síndromes quer neurológicos quer psiquiátricos, ainda que evidenciando graus

distintos de défice.

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Figura 1. Características do Programa de Estimulação Cognitiva da

Universidade do Minho

Estudos actualmente em cursos nos nosso laboratório procuram

caracterizar neuropsicofisiologicamente as dificuldades evidenciadas em

diferentes quadros nosológicos neuropsiquiátricos para cada um dos

componentes do espectro emocional.

Como vimos, em termos dos componentes do espectro emocional, o

programa encontra-se subdividido, como ilustrado na figura 2, em quatro

componentes:

1. Reconhecimento - definida enquanto a capacidade de identificar e

discriminar em uma variedade de emoções primárias e secundárias,

através da observação de pessoas (ex: faces, posturas) e contextos;

2. Expressão – entendida enquanto a capacidade de exprimir uma

variedade de emoções primárias e secundárias;

3. Regulação – concebida como a capacidade de inibir, diminuir, potenciar

ou alterar uma variedade de emoções primárias e secundárias;

4. Previsão – Finalmente, a capacidade de antecipar o tipo, a intensidade

e a duração de respostas emocionais a acontecimentos futuros.

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Figura 2. Os componentes dos Espectro Emocional

O programa possui uma estrutura modular, para aplicação independente

ou co-dependente, baseado nas necessidades específicas aferidas. Como

qualquer programa de estimulação possui uma estrutura hierárquica, onde os

exercícios vão sendo construídos, variando a ambiguidade dos estímulos, o

número de alternativas de resposta, o número de elementos a considerar, o

tempo, entre outros.

Exemplos de Exercícios Emocionais

A Figura 3 apresenta, de um modo esquemático, a variedade de exercícios que

podem ser realizados para cada um dos componentes do espectro emocional.

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Figura 3. Distribuição dos Exercícios de Estimulação Emocional

Daremos aqui unicamente de alguns exemplos de exercícios típicos realizados.

Reconhecimento Emocional

O módulo de reconhecimento visa estimular as capacidades de

identificação da emocionalidade através de reconhecimento emocional em

faces, de posturas corporais associadas às emoções, ou recorrendo a imagens

e vinhetas de situações sociais mais alargadas). Ao paciente, são-lhe sempre

dadas várias alternativas de resposta, e em determinadas situações, para além

do estímulo em si, é feita a contextualização do mesmo, através de breves

trechos escritos, que podem ser lidos pelo paciente, ou serão apresentados

verbalmente por quem administra. Para além de se proceder à repetição dos

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estímulos, são criados estímulos específicos que servem continuamente de

treino para correcção dos erros de desempenho, uma vez que após as

explicações iniciais e demonstrações, indicam sempre as pistas mais

importantes, para de modo associativo, se potenciar o reconhecimento

emocional. O programa não contempla apenas a modalidade visual, prevendo

também a intervenção a nível auditiva, nomeadamente a nível linguístico e na

percepção de prosódia.

Figura 4 – exemplos de reconhecimento com pistas para falhas

Expressão Emocional

O módulo de expressão emocional pretende estimular a activação de

estados emocionais seja por canais de expressão motórica (ex. expressão

facial), neurovegetativa ou linguística. Uma das formas que tem sido utilizada

com maior eficácia na activação da expressão emocional é através de

pequenos videoclips (cf. Rottenberg, Ray & Gross, 2007).

No entanto, as formas de expressão motórica através do treino de

expressividade facial (cf Ekman, 2007) treino de posturas corporais ou ainda

aumento da expressividade neurovegetativa através do biofeedback constituem

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talvez as modos mais eficazes de elicitar a expressão emocional numa

perspectiva bottom-up através da elicitação dos respectivos marcadores

somáticos (Damásio, 1994).

Instruções, como as seguintes podem ser utilizadas em pacientes com

elevados défices na expressão emocional, tais como pacientes do espectro

autista:

“Levante as bochechas; se for difícil tente fechar os olhos um pouco.

Separe os lábios e deixe os cantos dos lábios surgir (instrução para

alegria – partindo das instruções de Ekman, 2007).”

A activação autonómica visa as componentes mais periféricas da

activação emocional e revela-se particularmente útil quando conjugada com o

reconhecimento do estado emocional. Poderá ser utilizada, a título de exemplo,

no espectro de perturbações somatoformes, onde a interpretação errada de

sensações autonómicas leva frequentemente à queixa somática. Actualmente,

no nosso laboratório isto torna-se possível através do sistema BioDreams (cf.

Soares et al., 2002), onde em simultâneo se registam alterações na frequência

cardíaca, resposta electrodérmica e registo de vídeo, procedendo-se à

activação e desactivação destas componentes, com o reconhecimento por

parte do paciente.

Finalmente, sob um ponto vista top-down” podemos ainda produzir

diferentes tipos e graus de estimulação emocional através da reevocação

mnésica autobiográfica de episódios de elevada carga emocional. Um dos

procedimentos passa pela utilização de uma fotografia auto-referenciada (e.g.

de familiares) estimulando a construção imagética da experiência no aqui e

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agora, identificação e reevocação da experiência corporal e codificação da

respectiva emoção.

Regulação Emocional

No módulo de regulação emocional pretende-se criar uma série de

exercícios que estimulem a capacidade do paciente de inibir, diminuir,

potenciar ou alterar uma variedade de emoções primárias e/ou secundárias.

Para a inibição emocional foram criadas uma série de tarefas em que se

pretende que o paciente iniba uma resposta emocional, elicitada por imagens,

vídeos, sons ou palavras. Por exemplo, é dada ao paciente uma tarefa

marcadamente de funcionamento executivo (variável em termos de

complexidade), a executar sobre um fundo emocional – e.g. na aracnofobia

podemos propor uma tarefa sobre um fundo com aranha (ver fig. 5). Os fundos

são manipulados em função da resposta emocional que se pretende inibir ou

diminuir. Ou seja, neste tipo de exercícios estimulamos o paciente na

capacidade de inibir uma reacção emocional ao estímulo fóbico, realizando

uma tarefa específica.

Figura 1 - Nesta tarefa específica o paciente deve memorizar o seguimento das

setas (que surgem automaticamente na tela), baseando-se na cor das estrelas.

Posteriormente as estrelas surgem posicionadas de forma diferente e o

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objectivo passa por solicitar que o paciente as una seguindo a ordem

anteriormente apresentada. Nas duas situações mantêm-se o fundo emocional

fóbico, variando a imagem elicitadora da fobia, diminuindo-se assim os efeitos

de habituação ao estímulo em particular.

Neste tipo de tarefas parte-se de um princípio básico de que,

estimulando o paciente na capacidade de descentração no estímulo fóbico,

realizando outras tarefas, enfrentando, concomitantemente, o estímulo fóbico,

de uma forma graduada e hierarquizada, sendo estabelecido previamente com

o paciente, o desconforto subjectivo causado.

Noutra variante deste tipo de exercícios podemos manipular o fundo

(emocional) e propor ao paciente uma tarefa de memória operatória. Por

exemplo, fazemos apresentações de cerca de 10 palavras neutras

(emparelhadas por categoria) sobre fundo emocional e solicitamos a posterior

evocação. Este tipo de exercícios pode ser aplicado a pacientes com

Perturbação Obsessivo-Compulsiva, tornando o fundo emocional em estímulo

tematicamente relacionado com os conteúdos das obsessões/compulsões)

(fig.6). Com este tipo de exercícios pretende-se a manipulação simultânea de

duas variáveis importantes – exposição ao estímulo fóbico e prevenção da

ritualização. Outras situações comuns passam por Stroops modificados,

relacionados directamente com o tema fóbico.

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Figura 2 – exposição com prevenção de ritualização para um obsessivo-

compulsivo cuja temática predominante é a contaminação

Nas tarefas de esbatimento e de figura fundo promove-se a substituição

de algo que é perturbador por uma condição mais neutra através de um

processo de desfocalização onde se promove a substituição de uma figura em

destaque, por um fundo rico em detalhes mas não perturbador, alterando-se o

foco atencional.

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Figura 7 – Vão surgindo em diferentes pontos do ecrã palavras

elicitadoras da emoção que procuramos regular sob um fundo neutro para o

qual é requerida a atenção do sujeito

Nas tarefas de reavaliação cognitiva pretende-se a diminuição da

emocionalidade através de um treino de contextualização de pistas, ou seja o

estímulo activador de emocionalidade negativa é acompanhado de um contexto

(e.g. uma imagem que envolve um homicídio sangrento é acompanhada de

uma pista – são actores e o sangue é a fingir).

Previsão Emocional

A previsão emocional baseia-se no termo projecção dos estados

afectivos no futuro, bem como na aferição das correspondentes durações e

intensidades.

A construção de um quadro geral, subordinado a um tema, torna-se o

protótipo para uma narrativa. Onde um determinado evento é analisado tendo

em conta a emocionalidade futura, explorados outros eventos que podem

influenciar o evento que, por si só, poderá ter assumido toda a variabilidade da

emocionalidade (e.g. uma dada situação social, tal como uma festa para um

fóbico social).

Outra estratégia passa pela mobilização das competências do paciente

para lidar com acontecimentos futuros (e.g. redução da dissonância,

racionalização motivada, atribuições úteis ao próprio, auto-afirmação e ilusões

positivas), ou seja activar o seu sistema “imunitário” para confrontar os estados

de afecto negativos. Um erro comum de previsão emocional consiste na

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sobreestimação das componentes negativas (e catastróficas), que poderá ser

reduzida através de reenquadramento cognitivo.

Outra possibilidade consiste no treino de indução de acontecimentos

positivos, acompanhada da prevenção dos esforços de significação (a procura

dos porquê), que habitualmente conduzem à redução da durabilidade dos

acontecimentos emocionais positivos.

Conclusão

Neste artigo procuramos dar conta de um programa de estimulação

emocional que temos vindo a desenvolver no Laboratório de

Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho, voltado para o enriquecimento

e reabilitação emocional em diferentes doenças neuropsiquiátricas. Com efeito,

os múltiplos programas de reabilitação e estimulação cognitiva e

neuropsicológico, só muita raramente fazem referência à componente

emocional e, quando o fazem, estas referências são geralmente vagas e pouco

fundamentadas no conhecimento neuropsicofisiológico do processamento

emocional. O nosso programa procura contemplar os vários componentes do

espectro emocional (reconhecimento, expressão, regulação e previsão

emocional) desenvolvendo exercícios lidando quer com os componentes

bottom-up quer top-down do processamento emocional, para um leque variado

de emoções (emoções primárias e secundárias) tendo como alvo o espectro de

continuidade que vai desde as perturbações psiquiátricas às doenças

neurológicas.

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Estudos actualmente em curso procuram identificar os marcadores

neurobiológicos (neuroimagiológicos; neurofisiológicos e neurobioquímicos)

subsequentes a estas tarefas emocionais e das suas alterações nos diferentes

quadros nosológicos. O esclarecimento destes mecanismos permitirá no futuro

uma maior precisão e intencionalidade do trabalho clínica na estimulação

emocional quer de doentes neurológicos quer de doentes psiquiátricos.

Referências

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