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COMO EU ESCREVO

Informações prévias:

 A entrevista será publicada no site do projeto. Não há prazo nem limite para as

respostas. (As entrevistas mais longas costumam ser as mais compartilhadas.)

 O como eu escrevo não está ligado a nenhuma instituição. Ele surgiu para ajudar

jovens escritores e pós-graduandos como eu, que sofrem para escrever.

 Se você for escritor não-acadêmico, considere o final da nona questão como: "O

que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?"

Roteiro de perguntas:

1. Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Sim. Escrevo pela manhã bem cedo, no geral, duas horas antes de bater o ponto

no trabalho. Volto a escrever no horário do almoço. À noite, costumo apenas

revisar o que escrevi. Isso nos dias úteis de semana. Aos sábados, é comum que

eu acorde cedo e escreva até o meio-dia. Já o domingo, utilizo para revisar tudo e

reescrever. Note que, em um país onde um escritor não consegue viver de sua

escrita, sua rotina precisa se adequar à rotina do trabalho que tem para pagar as

contas. Comigo não é diferente. Por exemplo, já fui supervisor de Call Center de

uma equipe da madrugada e, nessa época, escrevia quando chegava em casa, de

três horas da manhã até amanhecer, de modo que ter uma rotina é essencial ao

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escritor, uma espécie de trincheira pela qual se esgueirar enquanto as bombas

explodem no mundo.

2. Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de

preparação para a escrita?

De manhã, sem dúvida. É a hora em que a cabeça está mais descansada e o mundo

ainda não nos deprimiu o suficiente com sua longa marcha rumo à derrota dos

nossos sonhos. Quanto ao ritual de preparação, não tenho nenhum, salvo o de reler

o que escrevi no dia anterior e seguir adiante. Mas tenho uma mania: ficar

balançando uma caneta Bic em uma das mãos. É uma espécie de “tique” que trago

da infância, época em que quase fui diagnosticado como autista. Esse movimento

repetitivo me desliga do mundo e atiça minha imaginação. Não me pergunte o

porquê que eu não sei. Só sei que precisa ser uma caneta Bic, e com tampa, por

causa do comprimento.

3. Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem

uma meta de escrita diária?

Em períodos concentrados, todos os dias, geralmente pela manhã. Tenho TOC, o

que me impede (para o bem e para o mal) de ser dispersivo. Já a meta de escrita

diária, varia conforme a urgência do projeto. Posso dizer que o mínimo aceitável

para mim são duas páginas em Word preenchidas com Times New Roman fonte

12, parágrafo um e meio. Duas páginas nesses moldes, e considero o dia

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produtivo. Claro que tem dias em que o mundo nos engole, então, tento compensar

no dia seguinte, para manter a régua da produção e ranger menos os dentes à noite.

4. Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes,

é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

Não tenho dificuldade em começar. Funciono bem com uma rotina e, quando me

sento para escrever, essa passagem da pesquisa para a escrita se dá de modo quase

automático. Tenho vários argumentos anotados e decidir por um significa que a

ideia já tomou uma forma mais ou menos definida. Claro que, no decorrer do

trabalho (escrever um romance pode levar meses ou anos) essa ideia pode ser

abandonada ou reaproveitada de uma maneira melhor. Mas esse é o ritmo que a

própria escrita impõe a si mesma. É o processo propriamente dito. O ideal é ter

sempre um ponto de partida e, ao mesmo tempo, estar sempre disposto a

abandoná-lo (para reescrevê-lo melhor) a qualquer altura do processo.

5. Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não

corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Não tenho travas para escrever. O que me falta é tempo suficiente. Se você chama

de “trava” o fato de chegar em um determinado ponto e não saber mais como ir

adiante, resolvo isso partindo para outro livro e deixando o anterior “à espera”.

Funciona bem porque me impede de perder um tempo precioso e me leva a acabar

escrevendo dois livros ao mesmo tempo. Nesse caso, o que chamamos de “trava”

muitas vezes é o próprio texto pedindo um tempo de “maturação”. Já a

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procrastinação, depende do fator que a aciona. O que noto nos meus

contemporâneos é que ela, muitas vezes, está ligada ao tempo que ficamos nas

redes sociais. Isso é facilmente resolvido retirando os aplicativos do celular e

estipulando um tempo máximo para permanecer, por exemplo, no Facebook.

Quanto ao medo de não corresponder às expectativas e à ansiedade de trabalhar

em projetos longos, acredito que os dois se complementam e, por isso, podem ser

resolvidos do mesmo jeito. O ideal é estabelecer um parâmetro de qualidade no

próprio texto. Atingido esse parâmetro, essa meta, matamos esses dois coelhos

com um só golpe.

6. Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você

mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Enquanto eu não publicar, o inédito sempre estará passível de revisão, de modo

que o texto nunca está pronto, a não ser quando é publicado. Isso não significa

que ele está pronto; significa que você não pode mais corrigi-lo, salvo no caso de

uma segunda edição. Publicar um livro é desistir de melhorá-lo; é confessar que a

última versão é a que mais se aproxima do que você verdadeiramente esperava

dele. Quanto à outra pergunta, sim, mostro meus inéditos para minha esposa, a

poeta Adriane Garcia, que tem carta branca para cortar e mexer neles o quanto

quiser. Ela é o meu superego. Nada do que escrevo está bom até que ela diga que

está. Antes dela, eu só contava com a sorte (isso é, com o acaso).

7. Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à

mão ou no computador?

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É ótima. Desde que pude ter um computador pessoal, escrevo diretamente na tela.

Na verdade, nunca gostei de escrever à mão, pois tenho uma letra horrível. Além

disso, o Word é uma ótima ferramenta de edição, imprescindível para quem não

dispõe de tanto tempo para escrever.

8. De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se

manter criativo?

Vivo anotando ideias, tenho para mais de cinquenta argumentos de livros. Só que

minhas ideias não surgem do nada: elas vêm da própria realidade – algo que

alguém fala, notícias que leio, livros ou filmes que me abrem novas possibilidades

narrativas. Para me manter criativo, cultivo o hábito da escuta e da atenção. Gosto

de ouvir as pessoas e procuro jamais julgar ninguém. Procuro alimentar a empatia

também, imaginando o que faria se colocado em determinadas situações que ouço

falar. Exemplo: meu livro que ganhou o Prêmio Barco a Vapor (O Cometa é um

Sol que Não Deu Certo) teve origem naquela terrível fotografia do garotinho

refugiado sírio que morreu afogado. Escrevê-lo foi uma maneira de tentar

entender o que aconteceu ali.

9. O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que

você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?

Depois de anos escrevendo, você aprende a fazer mais e melhor em menos tempo.

Assim, mudou que, agora, não cometo mais os mesmos erros, nem me prendo

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mais a problemas que não são problemas de fato. Ganhei traquejo, aprendi os

atalhos, a distinguir os problemas reais, e agora chego mais rápido às soluções

que, antes, demoraria mais tempo para atingir. E se pudesse voltar atrás, diria a

mim mesmo: escreva para as crianças, os jovens, e para o cinema. Deixe a

literatura dita “adulta” e sua meia dúzia de leitores para a batalha campal dos

neuróticos iletrados.

10. Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você

gostaria de ler e ele ainda não existe?

Tenho dezenas de projetos que ainda não comecei. Mas uma coisa é certa: hoje,

eles envolvem mais a literatura infanto-juvenil e o cinema do que tudo. O motivo

é bem simples: quero continuar a escrever, mas, de agora em diante, tendo o

suporte de um mercado e de uma indústria que escoem o que produzo sem a

necessidade de eu ter que “aparecer” para isso. Em outras palavras: espero poder

em breve não precisar mais ter contato com o barulho e o amadorismo das redes

sociais, onde o escritor é forçado a se manter visível e fazendo malabarismos para

vender seus livros. Quero escrever, apenas isso, e vender aquilo que escrevo para

canais de escoamento mais profissionais. É o meu projeto futuro de manutenção

da minha própria sanidade. Quanto à segunda pergunta, ela parte da falsa premissa

de que escrevemos porque queremos ler um livro que ainda não existe. A verdade

é que todos os livros já existem. Escrever é só uma maneira de contar de outro

modo uma história que já foi contada inúmeras vezes.

Pedidos finais:

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 Você poderia anexar uma foto sua para a publicação?

 Como você prefere ser identificado? (Exemplo: José Nunes de Cerqueira Neto é

doutorando em direito na Universidade de Brasília.)

Tadeu Sarmento é escritor.

 Você teria sugestões de nomes para futuras entrevistas?

André Ricardo Aguiar. diariodebordo@gmail.com

André de Leones. alleones@gmail.com

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