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FICHAMENTO Direito Processual Civil

Tópico: Jurisdição: órgãos, princípios e limites. A jurisdição no Estado de Direito. (tópico 1a)
Bibliografia utilizada: Humberto Theodoro Jr.

1. A jurisdição é o poder dado ao Estado de fazer atuar a regra jurídica que, por força
do direito vigente, disciplina uma determinada situação jurídica conflituosa. É
uma das mais caras funções do Estado, que se coloca entre as partes em conflito
para, de forma imparcial, oferecer a melhor solução jurídica a esse conflito.
2. A jurisdição só atua em casos concretos de conflitos de interesses (lides ou
litígios) e sempre mediante provocação dos interessados.
3. Não são todos os conflitos de interesse que podem ser solvidos pela atividade
jurisdicional (ou jurisdição), mas apenas aqueles definidos como lides ou litígios.
A lide é uma condição para propositura de uma ação e, assim, para fazer mover a
jurisdição. Sem lide não existe interesse processual e a jurisdição não atua. Na
clássica formulação de Carnelutti, a lide é “um conflito de interesses qualificado
por uma pretensão resistida”. Cabe ao juiz, assim, atuar no impasse caracterizado
pela pretensão de alguém a um bem da vida e a resistência de outro a propiciar
esse bem: esse impasse é o conflito de interesses que chamamos de litígio e que é
uma das condições para o exercício da jurisdição.
4. Interesse e pretensão são dois elementos importantes do conceito de lide de
Carnelutti. Interesse, ele dirá, é a “posição favorável para a satisfação de uma
necessidade” e pretensão é a exigência de uma parte de subordinação de um
interesse alheio a um interesse próprio. O locador tem interesse no imóvel de que
é o proprietário, pois por meio dele satisfaz a necessidade de renda. O locatário
tem interesse no imóvel de que é o possuidor, pois por meio dele satisfaz a
necessidade de habitação. Quando o locatário não paga um mês de aluguel nasce
uma pretensão do locador em receber esse valor. O locador pode cobrar esse valor
extrajudicialmente mas sem que isso seja o suficiente para o locatário cumprir sua
obrigação contratual: temos aqui o caso de uma pretensão (a do locador de receber
o aluguel) resistida pelo locatário, que não entrega ao locador a pecúnia
correspondente ao aluguel. Essa pretensão resistida consiste numa lide.
5. Como a justiça pelas próprias mãos está vedada, a solução da lide passa pela
atividade jurisdicional. O Estado tem não apenas o poder de dizer o direito (juris-
dição), mas também o dever de fazê-lo. A jurisdição, mais do que um poder do
Estado é, assim, uma função sua (ou um poder-dever), a de declarar e realizar a
vontade da lei (no sentido amplo de vontade do direito e não no sentido restrito
de vontade da letra fria da lei) em casos litigiosos concretos.
6. O processo é uma técnica (um meio, portanto) cujo fim é dar “tutela” (isto é,
defesa) aos direitos. Como técnica, o processo é instrumental e não pode ser
autonomizado do direito material: antes, ele serve à realização dos direitos, essa é
mesma a sua razão de ser. Se são várias as necessidades de proteção (tutela) dos
direitos materiais, devem ser igualmente várias as técnicas processuais de
proteção desses direitos: aos desafios da necessidade de proteção devem
corresponder técnicas adequadas.
7. A jurisdição é um atividade estatal secundária, uma vez que, por meio dela, o
Estado realiza uma atividade que deveria ser exercida primariamente, de forma
pacífica e espontânea, pelos sujeitos que se envolveram numa lide. É instrumental
porque é uma técnica (um meio) que visa dar atuação práticas às regras do direito.
É declarativa e executiva, no sentido de que ela fita declarar um direito ou executar
uma pretensão resistida e não a produzir normas de direito genéricas e abstratas.
Não é fonte de direito, exceto num sentido bem restrito que é aquele que considera
que as sentenças são normas jurídicas concretas. Mais recentemente, com uma
aproximação de nosso direito a certos elementos do sistema do common law, tem
sido conferida à atividade jurisdicional, embora em caráter excepcional, a
prerrogativa de criação de direito: o caso mais evidente, mas não o único, é o das
súmulas vinculantes do STF. Outro traço da jurisdição é sua imparcialidade. O
juiz (idealmente) deve manter-se equidistante dos interessados e sua atividade
deve ser gizada apenas pela lei. Além de imparcial, a jurisdição deve ser
provocada. Sua condição original é a de inércia, que deve ser quebrada pelo
exercício do direito de ação por aquele (seja pessoa de direito público ou privado)
que, envolvidos numa lide, pretendem ver tutelado um direito. Nesse sentido, o
NCPC afirma em seu artigo 2º que “o processo começa por iniciativa da parte e
se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”.
8. O direito de ação é abstrato, no sentido de que pode ser exercido sem uma
demonstração prévia do direito material que se pretende fazer atuar. A tutela
jurisdicional, no entanto, que só é disponibilizada a quem, de fato, tem um direito
subjetivo lesado ou ameaçado de lesão, deve ser efetiva e justa. Não basta assim
– não nos quadros do Estado de Direito democrático – que o juiz aplique o
enunciado de uma lei pertinente a um litígio: a tutela efetiva e justa exige que o
juiz tenha em conta, no ato de aplicação do direito, os valores, os princípios e as
regras que estruturam a Constitituição. A jurisdição, no Estado democrático de
direito, exige, assim, que a atuação do juiz esteja em harmonia com os valores
constitucionais e seja a mais adequada e a mais justa forma para solver o litígio.
9. A jurisdição, enquanto função do Estado, está norteada por alguns princípios. O
primeiro deles é o princípio do juiz natural. Só o órgão a que a Constituição atribui
poder jurisdicional pode exercer a jurisdição. A CF/88 estabeleceu os órgãos com
poder jurisdicional e distribuiu, entre eles, as competências para processar e julgar
as ações. O poder-dever da jurisdição deve ser exercido no limite dessas
estipulações constitucionais. O princípio da investidura, por seu turno, significa
que apenas os juízes investidos nessa função podem exercer a atividade
jurisdicional. A constituição traça os limites do poder jurisdicional para cada
justiça especial e, por exclusão, para a justiça comum, não podendo o legislador
ordinário alterá-los, nem pra reduzí-los, nem pra ampliá-los: esse é o sentido de
um terceiro princípio, o princípio da improrrogabilidade. Já o princípio da
indeclinabilidade quer significar que o órgão constitucionalmente investido no
poder de jurisdição não pode decliná-lo, uma vez que a jurisdição, como já
dissemos, trata-se de um poder-dever. O juiz investido em uma jurisdição não
pode, tampouco, delegar o exercício desse poder-dever a outro juiz: é o princípio
da indelegabilidade. Outro princípio é o da aderência territorial: todo o juiz conta
com uma circunscrição territorial que delimita sua jurisdição e que pode ser uma
comarca ou todo o território nacional. O princípio da inércia, por sua vez,
significa que o titular do poder de jurisdição não pode agir por conta própria,
devendo ser provocado e, por fim, o princípio da unidade afirma a unidade do
Poder Judiciário: esse Poder é único e soberado, embora partilhe internamente sua
competência. Não existe, portanto, pluralidade de jurisdições, mas juízes
investidos em competências distintas, seja por razão de matéria, seja por razões
territoriais.
10. A jurisdição, como dissemos é una, mas possui uma partição interna de
competências: os contornos da jurisdição civil são definidos de modo residual.
Aquilo que não couber na jurisdição penal e nas jurisdições especiais (militar,
eleitoral, trabalhista) cabe à jurisdição civil, pouco importando se a lide versar
sobre direito público ou privado.
11. A jurisdição propriamente dita é sempre contenciosa, como temos dito. Em sua
base está uma pretensão resistida e um litígio. Mas a lei atribui também ao Poder
Judiciário funções em que predomina o caráter administrativo, mas que são
enquadradas sob o nomen iuris de jurisdição voluntária. Aqui, o juiz desempenha
uma gestão pública de interesses privados, nomeando tutor, conduzindo processo
consensual de divórcio e separação, alienando bem de incapaz, etc. A atuação do
juiz, nesses casos, visa não compor um litígio, mas tornar eficaz o negócio
desejado pelos interessados. O juiz equivale, nesses casos, ao tabelião, e essas
atividades desempenhadas por ele tendem a ser compartilhadas com outras
autoridades administrativas, uma prova de que, aqui, o juiz não está investido no
exercício da jurisdição propriamente dita. Jurisdição contenciosa e jurisdição
voluntária, apesar do nome, não seriam, assim, espécies de um mesmo gênero: a
jurisdição. No primeiro caso se trata de jurisdição no sentido próprio, no segundo
em um sentido bastante impróprio. São, enfim, atividades de natureza muito
diversa. Não obstante isso, há quem defina a jurisdição, incluindo em seu
conceito, como uma de suas funções, a “proteção de interesses particulares”, além
da clássica função de “composição de litígios”, e desse modo trata jurisdição
voluntária e jurisdição contenciosa como duas espécies de um mesmo gênero. O
NCPC regula a jurisdição voluntária, o que não significa, por si só, que se trata de
fato de jurisdição regulada pelo direito processual civil. O próprio código parece
estar atento a diferença de natureza da jurisdição voluntária: ele não fala, por
exemplo, em processo, mas em procedimento; não fala em partes, mas em
interessados. Isso tudo reforça o argumento, prevalecente na doutrina nacional, de
que a jurisdição voluntária não é jurisdição no sentido próprio, mas mera “gestão
pública de interesses privados.”
12. Como a jurisdição (pelo menos a civil) rege-se pelo princípio da inércia e, em
relação à parte, pela disponibilidade do direito de ação, a composição da lide pode
acontecer sem a mobilização da atividade jurisdicional. Em outras palavras, a lide
pode ser solvida por autocomposição ou ainda por pessoas estranhas ao aparelho
estatal. A chamada autocomposição pode ser obtida por meio de transação e de
conciliação. A composição da lide por pessoas que não integram o Poder
Judiciário ocorre mediante o chamado juízo arbitral. A transação é um negócio
jurídico em que as partes fazem concessões recíprocas para solver a lide. Pode
acontecer antes do processo ou no curso dele: no primeiro caso, impede a futura
propositura de ação e, no segundo, interrompe o curso do processo, levando o juiz
a homologar a transação. A conciliação é uma transação, mas obtida em juízo,
seja pela intervenção do juiz junto às partes, seja pela atividade de um conciliador
ou mediador. Efetivado o acordo, é reduzido a termo e homologado por sentença.
O NCPC tratou extensamente da conciliação e mediação (art. 165-175). O juízo
arbitral está condicionado a uma renúncia das partes a procurar o Judiciário,
confiando a solução das eventuais lides decorrentes de certas relações jurídicas a
quadros não pertencentes ao Poder Judiciário, os árbitros. A sentença do juízo
arbitral produz os mesmos efeitos da sentença proferida pela jurisdição estatal.
Todas essas alternativas à jurisdição para solução de lides só podem ocorrer entre
pessoas maiores e capazes e em situações que versem sobre bens patrimoniais ou
direitos disponíveis.
13. A jurisdição surge para resolver litígios entre indivíduos, mas a sociedade
moderna, cada vez mais complexa, passa a produzir, crescentemente, litígios que
não são entre dois indivíduos, mas que dizem respeito a toda a coletividade. A
destruição de uma paisagem e a poluição de um rio pelo rompimento de uma
barragem de rejeitos, por exemplo, não afeta apenas os indivíduos, mas toda a
coletividade. Interesses relevantes como o meio ambiente, valores históricos e
culturais, a segurança coletiva, as relações de consumo, são interesses coletivos,
transindividuais e indivisíveis, o que exige que eles sejam defendidos em nome
da coletividade. São os chamados interesses difusos e coletivos. Existem, a par
dessas, situações onde o fracionamento do interesse e a determinação de sua
titularidade individual é até possível, mas as pessoas que se encontram na mesma
situação fático-jurídica são muitas, o que torna a defesa desses interesses em juízo
mais fácil e eficiente quando exercida por órgãos que atuam em nome desse
conjunto de indivíduos. São os chamados interesses individuais homogêneos.
Hoje, o processo civil, muito mais do que um instrumento de composição
individual de litígios revela-se também, e cada vez mais, um instrumento de
solução global de problemas coletivos, onde os verdadeiros interessados pelos
problemas em disputa sequer participam da relação processual.
14. A chamada ação popular (instituída por lei de 1965) e, mais tarde, a ação civil
pública (instituída em 1985 e sofrendo alterações significativas, com alargamento
de seu escopo, a partir de 1990) são as pioneiras, no Brasil, em matéria de defesa
de interesses difusos e coletivos. Como é sabido, o MP tornou-se a principal
instituição no que toca a defesa desses interesses. Do ponto de vista processual,
há quem diga que o MP exerce, nesses casos, substituição processual (isto é,
defende direito alheio em nome próprio) e outros que afirmam que o MP possui
interesse próprio nessas tutelas, advindo de sua natureza institucional.
15. As vantagens da jurisdição coletiva saltam aos olhos: a eficácia das decisões
alcança um número maior de pessoas, e portanto a tutela dos direitos (razão de ser
do processo) se densifica; produz-se enorme economia processual; tutela-se
direitos que não poderiam ser tutelados senão de forma coletiva, etc.
16. No paradigma de um Estado Democrático de Direito, o processo ganha novos
contornos. Ele se constitucionaliza, e o devido processo legal deixa de ser uma
simples técnica de compor litígios e passa a ser encarado como tendo fortes
compromissos éticos com o resultado justo. A jurisdição não é vista mais como
uma simples forma de mover procedimentos no sentido de solver um litígio, mas
deve estar compromissada com a realização da justiça. Mais, portanto, do que a
garantia a um devido processo legal, no novo paradigma é mais correto falar na
garantia de um processo justo. Ao juiz não cabe apenas aplicar, por meio de uma
exegese fria, a lei vigente aos casos concretos que lhe são apresentados: ele deve
ir além: não além no sentido de ignorar a lei, isto é, não além da lei, mas além
com a lei. Deve, em outras palavras, conferir um sentido justo à interpretação e
aplicação da lei, segundo o influxo das regras que emanam da Constituição.

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