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Texto: Cidade Febril: Cortiços e epidemias na Corte Imperial

Autor: Sidney Chalhoub

O texto de Sidney Chalhoub conta como ocorreu o processo de erradicação dos cortiços do Rio
de Janeiro, e começa o capítulo relatando a destruição do cortiço Cabeça de Porco – principal
cortiço da cidade -, através de notícias dos jornais da época. O assunto abordado diz respeito à
diversidade urbana e, como que as primeiras administrações republicanas trataram o tema.

Chalhoub indica dois pontos fundamentais na forma de lidar com a situação da diversidade
urbana: o primeiro diz respeito à construção da ideia de “classes pobres” e “classes perigosas”, e
o segundo é relativo á ideologia da Higiene.

A ideia de “classes perigosas”, segundo a definição de Mary Carpenter correspondia às pessoas


que haviam optado por obter seu sustento e o de sua família através da prática de furtos e não do
trabalho. Porém, a partir do momento em que a diversidade urbana começa a ser debatido pelos
parlamentares, passa a ter um novo significado, dessa vez mais abrangente. Os deputados
basearam-se em Frégier para ampararem sua visão de “classes perigosas”, ou seja, Frégier não
define com precisão as diferenças entre pobres e perigosos e, é justamente nesse aspecto que os
políticos se inspiraram para entenderem classes perigosas e classes pobres como termos que
refletiam a mesma “realidade”.

Nesse sentido, segundo Chalhoub o negro passa a ser visto como o individuo característico das
classes perigosas. Chalhoub explica esse fato social da seguinte forma: o trabalho era visto
como a principal virtude de um homem, dessa forma aquele que trabalha acumula riqueza,
consequentemente, não vive na pobreza. Sendo assim, aquele que é pobre o é porque não
trabalha, e se determinado individuo não possui a principal virtude de um homem, logo sobram
os vícios, assim, aqueles que se encontram nesse grupo social – dos pobres – tornam-se
perigosos para a harmonia da sociedade, ou seja, para a organização do trabalho e a manutenção
da ordem. Nesse contexto, o problema dos parlamentares era arrumar um meio pelo qual os
libertos se sujeitariam aos seus patrões de forma que a organização do trabalho seja mantida, de
forma que os ricos continuem ricos e os pobres continuem pobres, mas obedientes ao sistema
vigente.

A forma em que os parlamentares buscaram para solucionar o “problema” da organização do


trabalho foi o mecanismo da suspeição generalizada, que consistia na repressão contínua fora
dos limites da unidade produtiva.

Outro motivo para o ataque aos cortiços, além de considerarem os pobres perigosos, é o fato de
os cortiços terem sido habitações que consistiram em um importante cenário da luta dos negros
da corte contra a escravidão nas últimas décadas do século XIX. Nesse sentido, destruir os
cortiços seria uma forma de desarticular a memória recente dos movimentos sociais urbanos.

IDEOLOGIA DA HIGIENE

A ideologia da higiene consistia na ideia do perigo de contágio, em outras palavras, os cortiços


eram considerados pólos de epidemias e vícios de todos os tipos, afinal eram lá que residiam as
“classes pobres e viciosas”. Durante o período do império, a preocupação consistia com a forma
dos cortiços, ou seja, o problema residia na falta de higiene das habitações, mais tarde, o
problema passaria a ser o local onde essas habitações estavam. Nesse sentido, o objetivo seria o
extermínio dos cortiços – o que significa a expulsão das “classes perigosas e viciosas” da região
central da cidade -, e não a melhora de sua infra-estrutura e o bem-estar dos moradores.

Os higienistas fundamentavam sua ideologia na ideia de que havia um caminho para a


civilização, e uma das maneiras de trilhar esse caminho era através da política de higiene
pública, dessa forma o Brasil atingiria o padrão dos países desenvolvidos. Os higienistas
utilizavam a retórica de que suas ideias eram baseadas em premissas científicas, ou seja,
neutras, dando a entender que estavam acima do bem e do mal. Nesse sentido, faziam política
deslegitimando a ação política e exaltando o conhecimento técnico/científico.

Nesse contexto, houve conflitos entre diversas personagens. De um lado, tinha os higienistas e
as autoridades policiais, de outro, os proprietários e os fiscais de freguesia. Uma das causas em
que se dava esse conflito era na noção do que era um cortiço. Segundo Chalhoub citando
Backheuser, o cortiço eram estalagens antigas, mal conservadas e onde as condições higiênicas
eram precárias. Porém, a ideia de cortiço era muito imprecisa, sendo pautada mais no ponto de
vista do observador do que em termos específicos.

Uma forma de resistência dos proprietários era alegar de que a atitude dos higienistas ia contra o
princípio liberal da propriedade privada, o que fez com que muitas vezes as autoridades
policiais chegassem para fechar o cortiço e encontravam os proprietários com um mandado
judicial impedindo o fechamento do cortiço. Ou seja, o argumento da propriedade privada
significava um impedimento às pretensões políticas dos higienistas.

Com as primeiras administrações republicanas, principalmente a de Floriano Peixoto, os


higienistas atingiram o auge do seu poder político e passaram a ter a supremacia nas decisões de
fechar cortiços, chegando ao ponto de suas decisões serem irrecorríveis.

Os cortiços reclamaram de que não poderiam se ajustar as medidas dos higienistas, pois podiam
colocar as famílias nas ruas, a interdição era arbitrária, porque tinham casos em que era possível
fazer os reparos, mas os higienistas mandavam fechar, desrespeitando a propriedade privada e,
por último, o regulamento condenava o proprietário sem lhe dar direito de defesa.

Foi neste cenário que o higienista Barata Ribeiro ascendeu a prefeitura e colocou suas ideias em
prática, ou seja, fechar os cortiços.

O autor argumenta que a ideia dos higienistas de reformar a área urbana da Corte através da
destruição de moradias insalubres e a diminuição de aglomerações de pessoas serviam para
privilegiar os empresários do setor imobiliário e de transporte, pois com as desapropriações os
empresários do setor imobiliário poderiam construir casas naqueles locais, enquanto que os
empresários do transporte público iriam valorizar a aérea, fazendo com que os mesmos
ganhassem lucros exorbitantes. Esse processo já ocorria em áreas afastadas do centro, e passaria
a ocorrer nas áreas centrais da cidade a partir da aliança entre Ciência e Capital.

Sendo assim, segundo Chalhoub os higienistas não estavam preocupados com as “classes
pobres/perigosas” quando propuseram o fim dos cortiços, mas estavam alinhados com outros
grupos socais que tinham o mesmo interesse, a saber: proteger a classe dominante das epidemias
do cortiço e acumular riqueza.

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