Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Guilherme Amorim*
10
de Autopeças (Abipeças), estioladas pela competição externa. Por outro lado, a medida foi
tomada em um momento em que as montadoras avocavam, impudentemente, o direito de
comprar essas mercadorias com isenção do imposto de importação. A pressão sobre os
ministérios e a tentativa de menoscabar a queda do redutor contaram com o argumento de
que ela provocaria crescimento na importação de veículos prontos e de que as autopeças
nacionais possuem questionável padrão de qualidade.
Em meados de junho, Fazenda e MDIC adiaram a plena restauração do imposto. Ele
voltará a vigorar de forma escalonada a partir de agosto, e o redutor será completamente
extinto em maio do próximo ano. Assim, encomendas em curso não são prejudicadas e há
tempo hábil para a renegociação de contratos. Será criada, ainda, uma lista de exceções, em
que produtos sem similares nacionais continuarão valendo-se do redutor.
Argentina 474 082 938 644 834 767 538 197 912
Japão 351 219 391 536 531 197 534 370 302
Alemanha 409 160 615 710 025 971 394 815 579
França 282 682 905 339 808 589 238 352 408
Itália 172 097 607 326 878 431 186 557 789
Estados Unidos 216 918 142 222 274 099 154 774 312
Tailândia 43 458 791 114 959 067 119 293 005
Suécia 173 417 233 215 671 784 87 376 855
Espanha 88 953 344 91 361 079 78 530 466
China 31 498 368 59 639 238 72 395 962
Indonésia 29 708 945 52 954 345 66 910 485
México 24 089 784 41 332 286 61 361 810
Turquia 29 813 821 52 953 440 47 174 910
Chile 25 968 131 36 322 545 41 917 344
Outros 208 856 635 325 389 073 271 809 780
TOTAL 2 561 926 650 3 770 935 911 2 893 838 919
FONTE: MDIC/SECEX
NOTA: Elaboração do IPARDES.
Pode-se perceber, pelos dados da tabela 1, que a Argentina conta com evidente destaque
na pauta nacional de importação de autopeças, calcado na liberação aduaneira prevista no
Mercosul e no flex imposto pelo Acordo Automotivo entre o país vizinho e o Brasil, válido até
2014. Observa-se, ainda, que o crescimento das montadoras japonesas no mercado interno
fica evidente na lista de países fornecedores. O fato de que a estrutura de produção
implantada utilize, oriundas da matriz, as peças mais sofisticadas – e caras – do veículo tem
esse efeito. O Acordo Automotivo entre o Mercosul e o México, vigente desde 2003, transparece
na variação do valor adquirido daquele país entre 2007 e 2009, superior a 154%. Praticamente
todas as montadoras com operações no Brasil se valem do tratado.
Os dois outros países que registram crescimento superior a 100% como fornecedores
de autopeças nesse período são Tailândia (174%) e China (129%). Eles beneficiam-se de
investimentos de multinacionais do setor, atraídos por baixos salários, legislação ambiental
indulgente e incentivos estatais. Sua presença no mercado brasileiro se explica, também,
pela política cambial de ambos os países, que mantém suas moedas desvalorizadas ante o
dólar através do acúmulo de reservas.
A falta de coordenação entre montadoras e fabricantes de autopeças é gritante. A posição
das primeiras, de utilizar um modelo que adquire as peças mais baratas, independentemente
da origem, é incompatível com uma indústria largamente beneficiada pelo Estado através de
diversas políticas de incentivo e mecanismos diferenciados de financiamento. A falta de
contrapartidas por parte das montadoras evidencia, também, lacunas nas medidas adminis-
trativas que, com frequência, são propaladas como políticas industriais governamentais de
vulto. Essa falta de articulação revela-se ainda mais grave quando Mercosul e União Europeia
voltam a negociar um acordo de livre comércio, em que a compensação para a liberalização
do mercado agrícola europeu será a abertura a bens industrializados europeus – automóveis
e autopeças a encabeçar a lista.