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RESENHAS 281

DOI http://dx.doi.org/10.1590/1678-49442019v25n1p281 A autora parte de uma perspectiva


VIVEROS VIGOYA, Mara. 2018. pós-colonial sobre gênero, homens e
A s c o re s d a m a s c u l i n i d a d e : masculinidade para refletir acerca
experiências interseccionais dos estudos sobre masculinidades na
e práticas de poder na Nossa “Nossa América” e sobre a fabricação
América. Trad. Alysson de Andrade das masculinidades negras e a
Perez. Rio de Janeiro: Papéis hegemônica branca. O livro rejeita a
Selvagens. 224 pp. ideia essencialista de um machismo
latino-americano e defende que não
há uma, mas diversas masculinidades
Brena O’Dwyer historicamente situadas. Enquanto
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
algumas masculinidades colocam as
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
mulheres em posição de subordinação,
outras são marginalizadas. Assim, o
trabalho chama a atenção para a
Escrito pela antropóloga
importância de analisar os efeitos
colombiana Mara Viveros Vigoya,
subjetivos e objetivos da posição de
fundadora e atual coordenadora
dominação dos homens em relação
da Escuela de Estudios de Género
às mulheres e as consequências para
de la Universidad Nacional de
estes dos ideais de masculinidade,
Colombia, em Bogotá, As cores
atentando para as diversas
da masculinidade: experiências
experiências de homens colombianos
interseccionais e práticas de poder na
e para as tensões e as ambiguidades
Nossa América (2018) é a primeira
que caracterizam as masculinidades
tradução da autora para o português.
nesse contexto. Não havendo uma
O livro é de grande interesse
única masculinidade, a hegemônica
para as/os leitoras/es brasileiras/
é construída em oposição a uma
os. Primeiro, por apresentar o
feminilidade hegemônica e em
conceito de “Nossa América” em
tensão com outras masculinidades
oposição à ideia de América Latina.
marginais.
Também por sua contribuição aos
Como mulher negra, a autora
estudos de gênero a partir de uma
acena para sua viv ência das
perspectiva interseccional articulada
hierarquias de raça e de gênero e
aos estudos pós-coloniais. Por fim,
aponta para o lugar do autor como
pelo levantamento empreendido
um recurso para a compreensão da
por Mara Viveiros sobre os estudos
sociedade.
nossamericanos sobre masculinidades
que, além de apresentarem diversas No meu caso, esta experiência
pesquisas brasileiras no contexto teve a ver, primeiramente, com
nacional, abordam também as minha consciência de não ser
lacunas nessa área. “simplesmente” uma mulher e de
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entender que o sexismo não se base em grupos musicais afro -


experimenta sempre da mesma colombianos. O quarto capítulo
maneira, já que o sexo não é a única versa sobre a história da branquitude
fonte de opressão das mulheres no contexto “ nossamericano ”
colombianas (:19). colombiano desde o período colonial
A obra conta com prefácio da até os dias atuais, de forma a
cientista social australiana Raewyn demonstrar uma relação distintiva
Connel, e as principais influências entre raça e sexo que produz
da autora para analisar as interações hierarquias, especificamente uma
entre raça e gênero são Fanon, Du masculinidade branca hegemônica,
Bois e o Black Feminism. que subordina simultaneamente
O livro está dividido em duas mulheres e homens não brancos.
partes. A primeira parte, Teorias Mara Viveros utiliza o exemplo do
feministas e masculinidades, é ex-presidente colombiano Álvaro
composta por dois capítulos. O Uribe Vélez para explorar como
primeiro versa sobre as lacunas e valores positivos associados à
os pressupostos da teoria feminista masculinidade e à branquidade
e de gênero no tocante à dominação foram importantes na sua trajetória
masculina, os novos tipos de política. Por fim, o quinto capítulo
homens e de masculinidades. relaciona a violência simbólica e
No segundo, a autora realiza um doméstica contra as mulheres com
levantamento dos estudos sobre a violência estrutural advinda da
homens e masculinidades na “Nossa colonização, demonstrando como
América” para refletir sobre como as mortes violentas de mulheres
o tema aparece e quais questões estão ligadas a atitudes masculinas
são privilegiadas, em contraponto f a v o r e c i d a s p e l o c o n t ex t o d e
à maior parte da literatura sobre neoliberalismo da região.
o assunto publicada em inglês A autora faz uma crítica ao
com foco nas sociedades norte- uso esvaziado do conceito de
americanas e europeias. interseccionalidade, apontando
A segunda parte do livro, que é preciso pensar as relações
intitulada Masculinidades de dominação em um processo
nossamericanas, contém três c o m p l exo e c o n t r a d i tó r i o , n o
capítulos. O terceiro capítulo traz qual os sujeitos dominados têm
entrevistas com homens colombianos também agência. Assim, é preciso
para analisar estereótipos reconhecer que não existem sujeitos
associados à masculinidade negra “exclusivamente dominados, como
na Colômbia. A autora analisa as mulheres, ou exclusivamente
também imaginários sobre corpos dominantes, como os homens”
negros masculinos no país com (:23). Mara Viveros ressalta que,
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embora a dominação masculina Estados Unidos na região e questiona


seja estr utural, é também um ainda a utilização de marcos teóricos
processo paradoxal, historicamente produzidos nos EUA e na Europa.
determinado e dinâmico no qual
“Nossa América” busca uma
as variáveis não são aditivas, mas
reapropriação e um deslocamento
distintivas.
do significado do caráter mestiço
A dominação não se exerce a partir de nossa história... É também
da soma de certas condições, mas a afirmação da capacidade de
a partir de uma determinada forma ressonância que produz habilidade
de habitar o gênero, a classe, a para viver nos limites, na
raça, a idade, a nacionalidade fronteira, nesse espaço Che’je
etc., como relações sociais onde coexistem, em tensão e
que se coproduzem... Em meu em conversação, o colonial e
trabalho, proponho uma análise o colonizado. Falar de Nossa
interseccional não apenas dos América em vez de América
grupos sociais marginalizados, Latina é, finalmente, escolher
aos quais está vinculada uma denominação que não foi
historicamente esta teoria, mas criada nos contextos acadêmicos
também daqueles que ocupam hegemônicos metropolitanos para
posições dominantes em distintas dar conta de experiências sociais
ordens sociais, como os homens, particulares (:29, 30).
as pessoas brancas ou mestiças
Outras publicações
de pele clara na Colômbia e as
da autora são: “Sexuality and
pessoas heterossexuais (:23).
Desire in Racialized Contexts”,
O conceito de “Nossa América” capítulo do livro Understanding
surge como crítica à ideia de Global Sexualities: New
América Latina, sendo ela resultante Frontiers, organizado por Peter
do processo de independência do Aggleton, Paul Boyce, Henriette
controle português e espanhol, Moore e Richard Parker (2012)
marcada pela desvalorização e De quebradores y cumplidores:
da participação indígena e de sobre hombres, masculinidades y
afrodescendentes nessas nações. relaciones de género em Colombia
A “Nossa América” também se (2002), publicado pela Universidad
contrapõe ao imperialismo dos Nacional de Colombia.

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