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As grandes religiões II

Confucionismo
Vamos caminhar por terras orientais. Uma volta pela China é o nosso compromisso neste momen-
to. Vocês já devem ter observado que a China está despontando em todo o mundo pelo seu crescimen-
to econômico e aos poucos vem sendo reconhecida como uma grande potência mundial. Talvez, o que
você não saiba é que, “até 1911, a China foi uma potência imperial, onde o imperador reinava acima de
tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do supremo deus Céu”. (GAARDER,
2000, p. 77).
O que havia por traz de tudo isso era uma ideologia confucionista. O conjunto de pensamentos,
regras e rituais sociais confucionistas, foi desenvolvido pelo filósofo K’ung-Fu-Tzu (551-479 a.C.). No Bra-
sil, o conhecemos como Confúcio. Além disso, Confúcio formulou normas para a vida religiosa, para os
sacrifícios e os rituais. Segundo Gaarder,
o confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e pelas classes dominantes, a qual, no entanto,
nunca se disseminou muito entre as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma que o imperador,
em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu era remoto e impessoal para a gran-
de massa dos chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A religião dos pobres era a adoração dos espíritos, particular-
mente dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras religiões. (GAARDER, 2000, p. 77)

Quem foi Confúcio


Confúcio nasceu em 551 a.C., filho de pessoas pobres, e desde cedo demonstrou um grande in-
teresse no que se referia à vida. Diz a história que “após iniciar sua carreira pública como um oficial de
segunda classe no estado de Lu, aos 18 anos, tornou-se professor e começou a ensinar História, Filoso-
fia, Ética, Música, Poesia e boas maneiras” (STEFFEN, 2000, p. 48). A ideia era mostrar aos seus alunos os
princípios necessários naquele momento de decadência da ordem feudal chinesa.

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Num outro texto, lemos o seguinte:


Embora suas lembranças da infância contenham referências nostálgicas à caça, à pesca e ao arco, sugerindo com isso
que ele foi tudo menos uma traça de livro, Confúcio dedicou-se cedo aos estudos e se saiu bem. Chegando aos quinze
anos de idade, forcei a minha mente ao aprendizado. Com vinte e poucos anos, depois de ter ocupado vários cargos
públicos insignificantes, depois de ter feito um casamento não muito bem sucedido, ele se estabeleceu como professor
particular. Essa era obviamente a sua vocação. A reputação de suas qualidades pessoais e sabedoria prática espalhou-
se com rapidez, atraindo um círculo de discípulos entusiasmados. (SMITH, 1991, p. 156)

A carreira de Confúcio não foi um sucesso. Sua ambição era bem maior. Alguns biógrafos che-
garam a criar a lenda de que, por volta dos 50 anos, Confúcio realizou uma brilhante administração
durante cinco anos, avançando rapidamente de ministro de Obras Públicas para ministro da Justiça e
primeiro-ministro, e fazendo de Lu uma província modelo. “A verdade é que os governantes da época
tinham medo da franqueza e da integridade de Confúcio, tanto medo que nunca o designariam para
qualquer posição de poder” (SMITH, 1991, p. 156).

Os escritos
Confúcio compilou alguns materiais, os quais foram utilizados em sua filosofia de vida. Dentre os
materiais, encontramos: Shih Ching (Livro de poesias), Li Chi (Livro dos ritos), I Ching (Livro das transfor-
mações), Shu Ching (Livro de história) e Ch’um Ch’íu (os anais da primavera e do outono).

A filosofia de Confúcio
A questão central na filosofia de Confúcio está no termo li. Significa cortesia, reverência, ritos e ceri-
mônias e o posicionamento ideal na vida pública e privada.
“O chinês mais moderno entende por ‘li’ uma ordem social ideal, com tudo em seu devido lugar e com
todas as pessoas prestando respeito e reverência aos outros na hierarquia social” (STEFFEN, 2000, p. 48).
De uma certa forma, a ideia era estabelecer a ordem e acabar com a queda do respeito desen-
cadeada pela ordem feudal. Confúcio acreditava que, se cada um soubesse o seu lugar, poderia haver
um comportamento de reciprocidade como um guia de vida. É aqui que vai surgir o dito “não faças aos
outros o que não queres que te façam”.
Político fracassado, Confúcio foi, sem dúvida, um dos maiores professores do mundo. Preparado
para ensinar história, poesia, governança, propriedade, matemática, música, adivinhação e esportes,
ele foi, à moda de Sócrates, um homem Universidade. Seu método de ensino também era socrático.
Sempre informal, ele não fazia preleções; preferia conversar sobre os problemas propostos pelos seus
alunos, citando leitura e fazendo perguntas. Ele se apresentava aos alunos como um companheiro de
viagem, comprometido com a tarefa de se tornar plenamente humano, mas modesto. Quanto ao ponto
a que chegou no cumprimento dessa tarefa, ele mesmo cita:
Há quatro coisas no Caminho da pessoa profunda, nenhuma das quais fui capaz de fazer. Servir ao meu pai, como
esperaria que um filho me servisse. Servir ao meu governante, como esperaria que meus ministros me servissem.
Servir ao meu irmão mais velho, como esperaria que meus irmãos mais novos os servissem. Ser o primeiro a tratar os
amigos como esperaria que eles me tratassem. Essas coisas não fui capaz de fazer. (CONFÚCIO)

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Homem simples e humilde


Não havia nada de sobrenatural nele. Confúcio gostava de estar com as pessoas, de jantar fora, de
cantar em coro uma bela canção e de beber, mas não em excesso. Seus discípulos relataram que, nas ho-
ras de folga, o Mestre tinha um comportamento informal e alegre. Ele era afável, mas firme; digno, mas
agradável. Estava sempre pronto para defender a causa das pessoas comuns contra a nobreza opressiva
de sua época; nas suas relações pessoais, ele rompia escandalosamente as linhas de classe impostas
pela sociedade e nunca menosprezava os alunos mais pobres, mesmo quando não podiam pagar as
aulas. Era gentil, mas capaz de sarcasmos quando achava merecido. Falando daquele que começava
a criticar suas companhias, Confúcio observou: “É evidente que Tzu Kung tornou-se perfeito. Ele tem
tempo para esse tipo de coisa. Eu não tenho tempo livre”.
Confúcio nunca lamentou a escolha que fez. Ele dizia que com alimento ordinário para co-
mer, água para beber e o braço dobrado como travesseiro, ainda existia alegria em meio a isso e a
tudo. As riquezas e honrarias adquiridas por meios iníquos não significaram para ele mais do que
as nuvens flutuantes.
A glorificação veio após a sua morte. Entre seus discípulos, o gesto foi imediato. Disse Tzu Kung:
“Ele é o sol, a luz, aos quais não há meios de se subir. A impossibilidade de igualarmos nosso Mestre é
como a impossibilidade de alcançarmos o céu subindo por uma escada”. Em poucas gerações, Confúcio
era visto em toda a China como o “mentor e modelo de dez mil gerações”. O que mais lhe teria agra-
dado foi a atenção dada às suas ideias. Durante dois mil anos – até o século XX – toda criança chinesa
chegou à sala de aula, toda manhã, e lavantou as mãozinhas postas na direção de uma mesa que tinha
uma placa com o nome de Confúcio. Praticamente, todo estudante chinês estudou cuidadosamente os
provérbios de Confúcio, durante horas a fio; o resultado é que eles se tornaram parte da mente chinesa,
chegando até aos analfabetos na forma de provérbios. O governo chinês também foi influenciado por
essas ideias, mais profundamente do que qualquer outra pessoa.

Alguns provérbios
::: Verdadeiro filósofo não será aquele que, mesmo sendo reconhecido, jamais guarda ressenti-
mento?
::: Não faças aos outros o que não queres que te façam.
::: Não me entristece que os outros não me conheçam. Entristece-me não conhecer os outros.
::: Não esperes resultados rápidos nem procures pequenas vantagens. Se buscares resultados
rápidos, não alcançarás a meta final. Se te deixares desviar por pequenas vantagens, nunca
realizarás grandes feitos.
::: As pessoas mais nobres primeiro praticam o que pregam e depois pregam de acordo com a
sua prática. Se quando olhas dentro do teu coração não vês nada de errado, por que te preo-
cupas? O que há para temeres?
::: Quando conheces uma coisa, reconhecer que tu a conheces; e quando não a conheces, saber
que tu não sabes – isso é conhecimento.
::: Ir longe demais é tão mau quanto ficar aquém.

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::: Quando vês um homem digno, pensa quando poderás emulá-lo.


::: Quando vês um homem desprezível, examina o teu próprio caráter.
::: Riqueza e posição, eis o que as pessoas desejam; mas se não as conseguirem da maneira cor-
reta, nunca as possuirão.
::: Sê bondoso com todos, mas íntimo apenas dos virtuosos.

Pano de fundo
É claro que os provérbios, por si só, não explicam o sucesso de Confúcio. É necessário compreen-
der o que havia de errado na sociedade em que ele vivia.
A Antiga China não era nem mais nem menos turbulenta do que as outras terras. Do oitavo ao ter-
ceiro século a.C., porém, a China testemunhou o colapso da dinastia Chou, que foi um governo de paz
e ordem. Baronatos rivais ficaram em liberdade para fazer o que bem entendiam, criando uma situação
idêntica à da Palestina no período dos juízes: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada homem fazia
o que parecia certo a seus próprios olhos”.
A guerra quase contínua desse período começou dentro dos padrões do cavalheirismo. O carro
de guerra era sua arma, a cortesia era o seu código e os atos de generosidade conferiam honra. Diante
da invasão, o barão arrogante enviaria um comboio de provisões ao exército invasor. Ou, para provar
que seus homens estavam além do medo e da intimidação, ele enviaria, como mensageiro, soldados
que cortariam a própria garganta diante do invasor. Tal como na era de Homero, guerreiros de exércitos
inimigos se reconheciam, trocavam desdenhosos cumprimentos do alto de seus carros de guerra, be-
biam juntos e às vezes trocavam armas antes de entrar em combate.
Na época de Confúcio, porém, a guerra interminável degenerava; de cavalheiresca, tornara-se o
terror desenfreado do período dos Estados combatentes. O horror chegou ao auge no século seguinte
à morte de Confúcio. Os combatentes entre carros de guerra deram lugar à cavalaria, com seus ataques
de surpresa e reides súbitos. Em vez do ato nobre de manter os prisioneiros até receber o resgate, os
conquistadores promoviam execuções em massa. Populações inteiras, capturadas nos azares da guerra,
eram decapitadas, incluindo velhos, mulheres e crianças. Lemos descrições de chacinas de 60 mil, 80 mil
e até de 400 mil pessoas. Há relatos de vencidos atirados em caldeirões de água fervente e seus familia-
res forçados a beber aquela “sopa” humana.
A pergunta, nessa época, era: por que continuamos nos destruindo? Talvez aí esteja a resposta
para compreendermos o poder do Confucionismo. Confúcio viveu numa época em que a coesão social
havia se deteriorado até o ponto crítico.
Confúcio insistia que o amor ocupa um lugar importante na vida; mas também que o amor deve
ser apoiado por estruturas sociais e por um etos coletivo. Bater exclusivamente na tecla do amor é o mes-
mo que pregar os fins sem os meios. Quando perguntaram à Confúcio certa vez, “devemos amar nossos
inimigos, aqueles que nos causam mal?”. Ele respondeu: “De modo algum. Respondei ao ódio com a
justiça e ao amor com a benevolência. Caso contrário, estaríeis desperdiçando vossa benevolência.”

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Respeito às tradições
O que chama a atenção nas religiões orientais é o respeito que todos cultivam pelos mais velhos.
A idade não é um peso, mas uma bênção. A experiência é importante para os mais novos, que a buscam
nas pessoas de maior vivência. Assim também são conservadas as tradições, transmitidas pelos mais
velhos. Sobre a socialização, o próprio Confúcio ensinou:
Deve ser transmitida dos velhos para os jovens, enquanto os hábitos e as ideias devem ser conservados como uma
teia ininterrupta de memória entre os portadores da tradição, geração após geração. [...] Quando a continuidade das
tradições de civilidade se rompe, a comunidade é ameaçada. A menos que essa ruptura seja consertada, a comunidade
se esfacelará em [...] guerras de facções. Isso porque, quando a continuidade é interrompida, a herança cultural não
está sendo transmitida. A nova geração se defronta com a tarefa de redescobrir, reinventar e reaprender, por tentativa
e erro, a maior parte daquilo que precisa saber. [...] Essa não é tarefa para uma única geração. (CONFÚCIO)

A tradição deliberada
A tradição deliberada segue, no esquema de Confúcio, cinco termos chaves:
::: Jen: Etimologicamente uma combinação dos caracteres correspondentes a “ser humano” e
“dois”, designa o relacionamento ideal que deve existir entre as pessoas. Traduzido das mais
variadas formas (bondade, fraternidade, benevolência e amor), talvez a melhor maneira de
transmitir a ideia seja pela expressão: “sensibilidade do coração humano”. Jen envolve simulta-
neamente um sentimento de compaixão pelos outros e de respeito por si mesmo, um senti-
mento indivisível da dignidade da vida humana, onde quer que ela apareça.
::: Chun Tzu: Se jen é o relacionamento ideal entre seres humanos, chun tzu refere-se ao termo
ideal nesses relacionamentos. Esse conceito tem sido traduzido como homem superior e o me-
lhor da humanidade. Talvez pessoa amadurecida seja uma tradução tão fiel quanto qualquer
outra. É o oposto de pessoa estreita, da pessoa mesquinha, da pessoa de espírito pequeno.
Somente quando aqueles que formam a sociedade se transformarem em chun tzus é que o
mundo poderá caminhar na direção da paz.
Se houver honra no coração, haverá beleza no caráter.
Se houver beleza no caráter, haverá harmonia no lar.
Se houver harmonia no lar, haverá ordem no país.
Se houver ordem no país, haverá paz no mundo.
::: Li: O terceiro conceito, li, tem dois significados. Seu primeiro significado é propriedade, a maneira
pela qual as coisas devem ser feitas. As pessoas precisavam de modelos, e Confúcio queria direcio-
nar a atenção delas para os melhores modelos oferecidos pela sua história social. Propriedade é um
conceito com amplo alcance, mas podemos perceber o âmago do interesse quando ele diz que:
Se as palavras não forem corretas [...] a linguagem não estará de acordo com a verdade das
coisas. Se a linguagem não estiver de acordo com a verdade das coisas, os negócios não pode-
rão ser concluídos com sucesso. [...] Portanto, um homem superior considera necessário que
os nomes por ele utilizados sejam falados apropriadamente, e também que aquilo que ele
fala possa ser transmitido apropriadamente. O que o homem superior requer é que em suas
palavras nada haja de incorreto.

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Todo o pensamento humano avança por meio de palavras; logo, se as palavras forem oblíquas, o
pensamento não conseguirá avançar em linha reta. Aí é importante aquilo que Confúcio chamava de
“retificação dos nomes”.
A “retificação dos nomes”, na doutrina do meio, nas relações constantes, no respeito pela idade e
pela família, esboça importantes aspectos específicos de li no seu primeiro significado: propriedade ou
o que é certo. O outro significado da palavra é ritual, que transforma o certo – no sentido daquilo que
é correto fazer – em rito. Quando o comportamento correto é detalhado em minúcias confucionistas, a
vida inteira do indivíduo se estiliza numa dança sagrada. A vida social foi coreografada.
::: Te: O quarto conceito axial que Confúcio procurou elaborar para seus conterrâneos foi te. Sig-
nifica poder. Especificamente, o poder por meio do qual os homens são governados. Ele estava
convencido de que nenhum governante consegue reprimir todos os seus cidadãos o tempo
todo, nem mesmo grande parte deles na maior parte do tempo. O governo precisa contar com
uma aceitação da sua vontade, uma confiança apreciável naquilo que está fazendo. Confúcio
acrescentou que a confiança popular era de longe a mais importante, pois “se o povo não tiver
confiança em seu governo, este não se sustentará”. Para ele, somente são dignos de governar
aqueles que prefeririam não ter de governar.
Quando o Barão de Lu perguntou-lhe como governar, Confúcio respondeu:

Governar é manter-se reto. Se tu, senhor, dirigires teu povo em linha reta, qual de teus súditos
se arriscará a sair dessa linha?

::: Wen: O conceito final na estrutura confucionista é wen. Refere-se às “artes da paz”, enquanto
diferenciadas das “artes da guerra”, à música, à arte, à poesia, à soma da cultura no seu modo
estético e espiritual. Confúcio considerava apenas semi-humanas as pessoas que eram indi-
ferentes à arte. Mas o que atraía seu interesse não era a arte pela arte. Era o poder da arte de
transformar a natureza humana na direção da virtude que o impressionava – seu poder de
facilitar o interesse pelos outros.
Pela poesia, a mente é despertada; pela música, recebe-se o acabamento. As odes estimulam a
mente. Elas induzem à autocontemplação. Ensinam a arte da sensibilidade. Ajudam a evitar o ressenti-
mento. Fazem-no acreditar no dever de servir ao país e ao príncipe.
Corel/IESDE.

Xintoísmo
Não vamos nos ater muito a esta religião.
Apenas para cultura geral vamos tecer algumas
considerações sobre o Xintoísmo, que tem uma
influência muito grande sobre a cultura japone-
sa. A partir desta religião é que poderemos en-
tender um pouco mais a força desse povo, sua
seriedade, seus compromissos e sua devoção.

Templo xintoísta.

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O caminho dos deuses


Quando falamos do Xintoísmo, normalmente nos reportamos aos japoneses, ricos pela sua for-
ma de pensar, por sua cultura e também pelos seus valores religiosos.
Primitivamente, a religião Xintoísta era chamada de Kami-no-michi, que é traduzido por “o caminho dos deuses”. Em
chinês, a mesma expressão é shen-tao, de onde procede a palavra shinto (em português, xinto). O Xintoísmo é uma
religião peculiar por sua expressão de amor japonês pelo seu país e suas instituições. Este aspecto da história sagrada
está descrito no Kojiki, datado do século VIII. (STEFFEN, 2000, p. 50).

O Kojiki diz que as ilhas japonesas foram criadas por Izanami e Izanagi, que também habitaram
a terra como numerosas divindades, das quais os japoneses são descendentes. A família real é descen-
dente de Jimmu Tenno (cerca de 660 a.C.), o primeiro imperador humano, neto de Ni-ni-go, neto de
Amaterasu, a divindade feminina Sol. No Shinto, Amaterasu é reconhecida como a primeira no panteão
das divindades, mas não é a única. É apenas uma entre muitos. O Xintoísmo primitivo via o Japão como
a terra dos deuses, o que explica o caráter nacionalista da religião. Acreditam que todos os japoneses
têm origem divina, mas em especial o imperador, que é descendente da própria deusa do sol.
A partir de 500 d.C., o Xintoísmo enfrentou dura competição com o Budismo, e as duas religiões
acabaram por influenciar uma à outra. Não é raro, no Japão, o uso alternado de várias religiões. É tanto
que o país é chamado por muitos de laboratório religioso. Diferente de outras religiões, como o Cristia-
nismo e o Islamismo, o Xintoísmo não tem um fundador. É tipicamente uma religião nacional. Não conta
com nenhum credo ou código de ética expressamente formulado. A sua essência está na cerimônia e no
ritual, que mantêm o contato com o divino.
O Shinto, “o caminho dos deuses”, pode ser descrito como um modo ideal de comportamento. O
seu sistema ético inclui os seguintes preceitos:
::: lealdade ao imperador;
::: gratidão;
::: coragem diante da morte;
::: o serviço aos outros está acima dos interesses próprios;
::: verdade;
::: polidez até mesmo com os inimigos;
::: controle das manifestações de sentimentos e honra, que significa o ato de preferir a morte do
que a desgraça.
Os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial nos mostram um pouco desses conceitos quan-
do os pilotos japoneses foram capazes de jogar seus próprios aviões para atingir o alvo e acabar com o
inimigo.

Principais ideias
O mito da origem japonesa parece ser uma resposta animista primitiva à natureza. A multiplicida-
de de deuses japoneses pode ser atribuída a condições civis primitivas, quando a nação era habitada por
um grande número de clãs independentes, cada um com seus próprios deuses e práticas religiosas.

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As ideias confucionistas introduziram o culto aos ancestrais, segundo o qual, quando as pesso-
as morrem, adquirem poderes sobrenaturais. Acredita-se que os mortos são instrumentos de ajuda
e proteção aos vivos, razão que leva os vivos a honrá-los e reverenciá-los, tanto nos rituais fúnebres
como nos santuários domésticos.
As cerimônias religiosas ajudam a evitar acidentes, promovem a cooperação e o contato com os
Kamis, e geram o contentamento e a paz para o indivíduo e a sociedade. As cerimônias são feitas tanto
no próprio lar, como nas grandes festas anuais do templo – Morada dos Kamis. Quatro elementos estão
sempre presentes nestas cerimônias:
::: purificação;
::: sacrifício;
::: oração; e
::: refeição sagrada.

Taoísmo
É interessante observar que toda a filosofia chinesa está voltada para o social. Os problemas éti-
cos, sociais e políticos estão no centro das discussões da maioria das religiões orientais. É basicamente
a preocupação constante com o bem estar das pessoas. É a opção pelo ser e não pelo ter. Se as ideias de
Confúcio são estimulantes para governantes sérios, o Taoísmo apresenta uma visão transcendente das
preocupações com a vida. Apresenta uma visão diferente da vida. É uma cultura oposta ao que estamos
acostumados a viver no ocidente. Aqui apresentaremos um resumo do Taoísmo. Serão recomendadas
leituras complementares para quem tiver interesse maior em conhecer melhor as ideias de Lao-tsé – o
grande e velho mestre.

O Velho Mestre
A origem do Taoísmo é apresentada com o nome de um ho-
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mem chamado Lao-tsé. Supostamente nascido por volta de 604 a.C.,


as histórias sobre a vida deste homem são muito variadas. Alguns
historiadores não têm nem certeza se ele realmente existiu. Algu-
mas lendas são fantásticas, como aquela que diz “ter sido ele conce-
bido por uma estrela cadente, permaneceu no ventre materno por
82 anos e já nasceu velho, sábio e com os cabelos brancos.” (SMITH,
1991, p. 193).
Lao-tsé se traduz como “o velho”, “o velho amigo”, ou “o grande
e velho mestre”. Era contemporâneo de Confúcio. Um historiador chi-
nês relata que Confúcio ficou intrigado com o que ouvira a respeito de
Lao-tsé e, certa vez, o visitou. Sua descrição sugere que aquele estranho
homem o desconcertou, enchendo-o, porém, de respeito.
Lao-tsé.

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As grandes religiões II | 45

Eu sei que um pássaro pode voar; sei que um peixe pode nadar, sei que os animais podem correr. Criaturas que correm
podem ser apanhadas em redes; as que nadam, em armadilhas de vime; as que voam, atingidas por flechas. Mas o
dragão está além do meu conhecimento; ele sobe ao céu nas nuvens e no vento. Hoje vi Lao-tsé, e ele é como o dragão.
(Confúcio)

O Tao Te King
Uma boa ideia do início do Taoísmo, como conta a tradição, é o que lemos no texto de Huston
Smith, que assim coloca:
A história tradicional conta que Lao-tsé, entristecido com o seu povo pela relutância em cultivar a bondade natural que
ele pregava e buscando maior solidão para os seus últimos anos de vida, montou nas costas de um búfalo e galopou
para o oeste, na direção do atual Tibete. No passo de Hankao, uma sentinela, percebendo o caráter incomum daquele
viajante, tentou convencê-lo a retornar. Não obtendo êxito, pediu ao velho que, ao menos, deixasse um registro de
suas crenças para a civilização que estava abandonada. Lao-tsé, concordando com o pedido, recolheu-se durante três
dias e retornou com um magro volume de 5.000 caracteres intitulado Tao Te King, ou O Caminho e o seu Poder. O livro
pode ser lido em meia hora ou durante toda a vida, e continua a ser, até os dias de hoje, o texto básico do pensamento
Taoísta. Um livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos. (SMITH, 1991, p. 194)

É interessante fazer um paralelo entre Lao-tsé e Confúcio. O Velho Mestre não pregava, não orga-
nizava, nem promovia. Escreveu algumas páginas a pedido, foi embora e não ficou para dar respostas.
Confúcio teve que infernizar príncipes e barões tentando um cargo administrativo para pôr em prática as
suas ideias. Alguns acreditam que o Tao Te King foi escrito por mais de uma pessoa e afirmam que o livro
só alcançou a forma hoje conhecida na segunda metade do século III a.C. Não importa. O Taoísmo hoje
está tão presente na cultura que é mais importante a essência das palavras deixadas no Tao Te King.

O Tao e seus três significados


No Taoísmo tudo gira em torno do Tao, que literalmente significa caminho. Este caminho pode ser
entendido de três maneiras:
::: o Tao é o caminho da realidade última. É demasiado vasto para que a realidade humana
possa sondá-lo. De todas as coisas, o Tao certamente é o maior;
::: o Tao é o caminho do universo, a norma, o ritmo, o poder propulsor de toda a natureza, o prin-
cípio ordenador por trás de toda a vida;
::: o Tao se refere ao caminho da vida humana, quando ela se harmoniza com o Tao do universo.
O Tao Te King tem sido traduzido como O Caminho e seu Poder.
O objetivo do Taoísmo Filosófico é alinhar a vida cotidiana da pessoa ao Tao. O caminho bási-
co para fazê-lo é aperfeiçoar uma vida de wu wei. Wu wei significa pura eficácia e quietude criativa. O
conceito mais tradicional significa não ação ou inação, mas devemos cuidar para não entender como
atitude vazia, ócio. O Taoísmo, na concepção de muitos, implica passividade e não atividade. Para um
sábio taoísta, a ação mais importante é a “não ação”. Enquanto Confúcio desejava educar o homem
por meio do conhecimento, Lao-tsé preferia que as pessoas permanecessem ingênuas e simples, como
crianças. Enquanto Confúcio ansiava por regras e sistemas fixos na política, Lao-tsé acreditava que o
homem deveria interferir o mínimo possível no desdobramento natural dos fatos. Confúcio queria uma

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administração bem ordenada, mas Lao-tsé acreditava que qualquer administração é má. “Quanto mais
leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá”, diz o Tao Te King.
O Estado ideal de Lao-tsé era a pequena comunidade (a aldeia ou a cidade pequena) que, segundo
ele, já existia nos tempos antigos. Ali as pessoas viviam em paz e contentes, sem interesse em guerrear
contra seus vizinhos, como fizeram mais tarde as províncias chinesas. O líder devia ser um filósofo, e sua
única tarefa era que sua passividade e seu distanciamento servissem de exemplo para os outros.
Praticar a caridade não tem sentido para um Taoísta. Mas ele tem uma boa vontade sem limites
para com os outros, sejam eles bons ou maus.

Alguns trechos do Tao Te King


Para pensar um pouco, veja algumas das ideias de Lao-tsé ao escrever o Tao Te King.

A pessoa precisa deixar o Tao fluir para dentro e para fora de si mesma, até toda a sua vida se
tornar uma dança na qual não há febres nem desequilíbrios. Wu wei é a vida vivida acima da tensão:
Encha a tigela até a borda
E ela vai derramar
Fique sempre afiando a faca
E ela vai cegar
Wu wei é a materialização da maleabilidade, da simplicidade, da liberdade – uma espécie de
pura eficácia na qual não se desperdiçam movimentos em discussões ou exibições externas.
A pessoa pode caminhar tão bem que nunca deixa pegadas
Falar tão bem que a língua nunca comete deslizes,
Calcular tão bem que não precisa de ábaco. (cap. 27)
Uma eficácia dessa ordem obviamente exige uma capacidade extraordinária, o que é transmitido
pela lenda taoísta do pescador: com um simples fio, ele conseguia puxar para a terra peixes enormes,
porque o fio havia sido fabricado com tanta perfeição que não tinha um “ponto fraco”. A capacidade ta-
oísta raramente é notada porque, vista de fora, wu wei – nunca forçando, nunca sob tensão – parece não
exigir praticamente nenhum esforço. O segredo está na maneira pela qual ele busca os espaços vazios
na vida e na natureza, e se move por meio deles.
A água era o paralelo mais próximo ao Tao do mundo natural. Era também o protótipo do wu
wei. Os chineses observavam a maneira pela qual a água se adapta ao ambiente e procura os lugares
mais baixos. Por isso:
O bem supremo é como a água,
Que alimenta todas as coisas sem esforço.
Ela se contenta com os lugares baixos, que as pessoas desdenham.
Por isso, ela é como o Tao. (cap. 8)
Mas a água, apesar de se acomodar, tem um poder que não é conhecido pelas coisas duras e que-
bradiças. A água abre caminho além das fronteiras e por baixo dos muros divisórios. Seu fluxo suave
acaba dissolvendo as rochas e levando embora as orgulhosas montanhas que pensamos eternas.

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Nada no mundo
É tão suave e maleável como a água
No entanto, para dissolver o duro e inflexível
Nada a suplanta.
O suave supera o duro;
O gentil supera o rígido.
Todos sabem que isso é verdade,
Mas poucos o põem em prática.
A pessoa que incorpora estas virtudes, diz o Tao Te King, “trabalha sem trabalhar”. Ela age sem
tensão, persuade sem argumentação, é eloquente sem floreios e alcança resultados sem violência,
coerção ou pressão. Enquanto o agente mal seja percebido, sua influência é de fato decisiva.
Quando o bom líder governa,
O povo mal percebe que ele existe.
O bom líder não fala, age.
Quando ele termina o trabalho,
O povo diz: “fomos nós que fizemos sozinhos”. (cap. 17)
Uma última característica da água, que torna apropriada sua analogia com o wu wei, é a clareza
que ela alcança ficando parada. “Água lodosa deixada parada”, diz o Tao Te King, “ficará límpida.”

Mais valores taoístas


O taoísta rejeita todas as formas de autoafirmação e competição. O mundo está cheio de pes-
soas determinadas a ser alguém ou causar problemas; pessoas que querem avançar, se destacar. O
Taoísmo não vê utilidade nessa ambição. “O machado abate primeiro a árvore mais alta”.
Aquele que se põem na ponta dos pés
Não tem firmeza.
Aquele que se apressa
Não vai longe.
Aquele que tenta brilhar
Tolda sua própria luz. (cap. 24)
As pessoas deveriam evitar a estridência e a agressividade não só em relação aos outros, mas tam-
bém em relação à natureza. No taoísmo existe um naturalismo profundo e um respeito muito grande
pela natureza. Tanto que quando falamos na escalada do Everest, por exemplo, nós ocidentais dizemos
que o Everest foi conquistado. Os orientais diriam que este ato foi o de fazer amizade com o Everest.
Aqueles que querem dominar o mundo
E moldá-lo à sua vontade
Nunca, percebo, terão sucesso.
O mundo é como um vaso, tão sagrado
Que, à mera aproximação do profano,
Se danifica,
E quando estendem a mão para pegá-lo, ele se perdeu. (cap. 29)

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Yin/yang

Outra característica do Taoísmo é a sua noção da relatividade de todos os valores e, como ideia
correlata, a identidade dos opostos. Nesse aspecto, o taoísmo está ligado ao tradicional símbolo chi-
nês do yin/yang:
Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida: bem/mal, ativo/passivo, positivo/negativo, claro/escu-
ro, verão/inverno, masculino/feminino. Mas as metades, embora estejam em tensão, não são francamente opos-
tas; elas se contemplam e se equilibram uma à outra. Cada uma invade o hemisfério da outra e faz sua morada no
recesso mais profundo do domínio de sua parceira. E, no fim, ambas se resolvem no círculo que os cerca, o Tao em
sua totalidade. A vida não se dobra sobre si mesma, e chega, completando o círculo, à percepção de que tudo é
um e tudo está bem. (SMITH, 1991, p. 210)

O Taoísmo segue seu princípio da relatividade até seu limite lógico, colocando a vida e a morte
como ciclos complementares no ritmo do Tao.

Há o globo,
O alicerce de minha existência física
Ele me gasta com trabalho e deveres,
Dá-me repouso na velhice,
E me dá paz na morte.
Pois quem me deu o que necessitei na vida
Também me dará o que necessito na morte. (Chuang Tzu)

Assim nós terminamos esta caminhada por estas religiões sapienciais. Naturalmente, cada uma
tem um vasto material para ser lido e analisado. A nossa ideia é dar apenas um panorama para que você
compreenda que existem pensamentos muito diferentes daquilo que estamos acostumados a ver no
Brasil. Aliás, no nosso país quase não encontramos movimentos ligados a estas três religiões.

Conclusão
Foram abordadas três religiões que nos apresentam valores interessantes. É difícil aplicarmos es-
tes valores no nosso dia a dia porque se diferenciam do nosso modo de vida. Na confusão em que vive-
mos, é difícil fazer comparações com a tranquilidade dos orientais.

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Atividades
1. Após a leitura dos textos, procure identificar o que difere as religiões abordadas do nosso
pensamento ocidental.

2. Você considera possível aplicar os valores aqui encontrados na nossa vida? De que forma?

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3. Como você interpreta a palavra equilíbrio?

Ampliando conhecimentos
Nossa indicação de estudos é a leitura dos capítulos que falam sobre estas três religiões no livro:
PIAZZA, Valdomiro. Religiões da Humanidade. São Paulo: Loyola, 1991.

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Autoavaliação
1. Das filosofias de vida destacadas no texto, o que melhor se encaixa com você? Faça uma relação
de pontos que o agradaram.

Referências
KUCHENBECKER, Valter. O Homem e o Sagrado. 5. ed. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.
PIAZZA, Waldomiro. Religiões da Humanidade. São Paulo: Loyola, 1991.
SMITH, Huston. As Religiões do Mundo. São Paulo: Cultrix, 1991.
STEFFEN, Ronaldo. As grandes religiões do mundo. In: KUCHENBECKER, Valter. O Homem e o Sagrado.
5. ed. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.

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