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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 81-92.

SOB FOGO CRUZADO:


ARQUEOLOGIA COMUNITÁRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL

Lúcio Menezes Ferreira*

“Não podíamos compreender porque estávamos longe demais,


e não lembrávamos porque estávamos viajando na noite das primeiras Eras,
de épocas que haviam desaparecido (...). O lugar parecia extraterreno.
Estávamos habituados a vê-lo sob a forma de um monstro agrilhoado e domado,
mas ali – o que víamos ali era uma coisa monstruosa e livre”
(Joseph Conrad. O Coração das Trevas, 1902)

“O mar da História é agitado.


As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las.
Rompê-las ao meio, cortando-as,
Como uma quilha corta as ondas”
(Maiakovski. E então, que quereis...?, 1927)

Resumo: O objetivo deste artigo é o de discutir os métodos da Arqueologia


Comunitária. Antes, porém, argumenta-se que a Arqueologia comunitária,
como uma das vertentes da pesquisa arqueológica mundial, quase sempre
se insere em meio aos conflitos sociais. Em primeiro lugar, porque ela não
pode furtar-se de um legado duradouro: as relações históricas que a Ar-
queologia manteve com o nacionalismo e o colonialismo. Em segundo lugar,
porque ela, para firmar-se como gênero de pesquisa, deve enfrentar as
ambivalências das políticas de representação do patrimônio cultural.

Palavras-Chave: Arqueologia Comunitária, Patrimônio Cultural, Identi-


dade Cultural.

Arqueologia comunitária significa envol- passado e o presente, a pesquisa arqueoló-


ver a população local nas pesquisas arqueo- gica e o público (Simpson e William 2008).
lógicas e nas políticas de representação do Conceituaram-na, ainda, como um modo de
patrimônio cultural (Marshall 2002: 211). Ela impulsionar a “Arqueologia vista de baixo”
tem sido extensivamente descrita como uma (“Archaeology from below”) (Faulkner 2000).
nova teorização sobre as relações entre o Concretizá-la, como tentarei demonstrar nes-
se artigo, é lidar com negociações de identi-
dades culturais.
Requer, desse modo, instalar-se no cen-
(*)(UFPel) luciomenezes@uol.com.br tro dos conflitos sociais. Pois, ao falarmos

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em identidades culturais, nada é mais falso vocalizando identidades nacionais. Por meio
do que o adágio clássico do liberalismo: qui- da cultura material, forneceu matéria-prima
eta non movere – não se deve tocar no que palpável para a elaboração de símbolos na-
está quieto (Foucault 2004: 3). Se as insti- cionais e vinculações ancestrais (Atkinson et
tuições estão em repouso, se nada se abala all 1996). Estabeleceu as regras de uma gra-
ou subleva, se não há descontentamento ou mática da pertença, incutindo nas comuni-
revolta, deixemos tudo como está. Entretan- dades o sentimento de pertencimento a uma
to, no tocante à definição de identidades cul- nação e a um território nacional.
turais, sobretudo quando elas se reportam à A Arqueologia também foi prolífico ins-
Arqueologia e ao patrimônio cultural, nada trumento do colonialismo. Sem dúvida, ao
está quieto, mas em ebulição. Elas se mo- lado do nacionalismo e do imperialismo, o
vem em mar agitado. Não transcendem o colonialismo esteve entre os mais importan-
mundo cotidiano, mas sim infundem noções de tes fatores estruturais da Arqueologia (Trigger
governamentalidade e inculcam normas para o 1984). As pesquisas arqueológicas foram en-
governo de populações (Bhabha 1994). São, tusiasticamente endossadas pelas potências
portanto, fontes perenes de combatividade. coloniais da Europa por meio da organiza-
Assim, argumento aqui que a Arqueolo- ção de museus e explorações científicas
gia comunitária, como uma das vertentes da (Lyons e Papadopoulos 2002: 2). Compassa-
pesquisa arqueológica mundial, está cons- das com os levantamentos topográficos e
tantemente sob fogo cruzado. Primeiro, por- descrições geográficas, as pesquisas arque-
que ela (e o mesmo aplica-se aos demais ológicas adentraram o “Coração das Trevas”;
campos de trabalho em Arqueologia) não timbraram os territórios nativos com a noção
pode furtar-se de um legado duradouro: as de terra nullius (terras que não pertencem a
relações históricas que a disciplina manteve ninguém), isto é, classificando-os como espa-
com o nacionalismo e o colonialismo. Segun- ços plenamente selvagens, demograficamente
do, porque ela, para firmar-se como gênero vazios, esparsamente povoados por grupos
de pesquisa, deve enfrentar as ambivalências “bárbaros” e “primitivos” (Wobst 2005). O
das políticas de representação do patrimônio que permitiu concebê-los como sujeitos de
cultural. Contudo, seus métodos, que apre- evicção de Direito, legitimando-se, assim, o
sentarei no tópico final deste artigo, podem colonialismo (Patterson 1997).
trazer uma série de benefícios, tanto para Como diria Johannes Fabian (1983), os
as comunidades quanto para a interpreta- contatos entre arqueólogos e antropólogos
ção arqueológica. metropolitanos e comunidades do mundo
colonial caracterizaram-se pela “negação da
contemporaneidade”: os povos nativos, como
Equação da Distância e Outro cultural, foram colocados num tempo
Gramática da Pertença diferente àquele do observador, que seria
representante do progresso e da evolução;
A Arqueologia comunitária percorre a essa equação da distância redundou na clas-
esteira do movimento crítico aos modelos sificação dos povos nativos como essencial-
normativos de cultura, que definem identida- mente “primitivos” e congelados no tempo.
des culturais como estanques e ontologicamente Durante o século XIX e mesmo até meados
fechadas. Insere-se na margem oposta das dos anos 1950, essa taxonomia fundou-se,
correntezas políticas que constituíram histo- ademais, nas escavações arqueológicas. Pois
ricamente a Arqueologia. Herdeira do nacio- os depósitos arqueológicos “mostravam” que
nalismo e do imperialismo do século XIX os ancestrais dos atuais “primitivos” usavam,
(Díaz-Andreu 2007), a Arqueologia esteve a basicamente, os mesmos tipos de ferramen-
serviço do Estado (Kohl e Fawcett 1995, Fowler tas e organizavam-se em estruturas sociais
1987). A Arqueologia institucionalizou-se fundamentalmente semelhantes.

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Um dos baluartes dessa interpretação foi efeito escorpião do colonialismo europeu. A


John Lubbock (1843-1913). Em seu clássico Europa bebera do veneno das teorias do ra-
The Prehistoric Times (1865), Lubbock, ao cismo científico que destilara ativamente no
lançar os conceitos de paleolítico e neolítico, ultramar. A Arqueologia dos regimes totali-
não apenas classificou os períodos da Pré- tários mostra a justeza do raciocínio de
História em entidades tecnológicas; estipulou Césaire. Seja nas pesquisas pioneiras de
também uma continuidade cultural entre gru- Bettina Arnold (1996), ou nos diversos estu-
pos pré-históricos e os do presente, dos de caso reunidos numa obra recente
enfatizando que os indígenas da América, por (Legendre et all 2007), vemos como os fi-
exemplo, ainda fabricavam ferramentas nanciamentos em Arqueologia Clássica e
paleolíticas ou neolíticas e que, portanto, es- Arqueologia Pré-Histórica figuraram maciça-
tagnaram-se no tempo (cf., p. ex: Lubbock mente nas políticas culturais da Alemanha e
1865: 446, 540, 542). Nesta visão, os povos de partidos nazistas de outros países da Eu-
nativos ainda viveriam em plena Era paleolítica ropa, como a Dinamarca. A Arqueologia tor-
ou neolítica. Segundo Tony Bennet (2004), os nou-se agente das idéias expansionistas, do
museus, com suas coleções arqueológicas e anti-semitismo e da pródiga criação de sím-
etnográficas arranjadas em série, exibiam bolos nacionalistas.
para o público europeu exatamente esse tem-
po congelado; plasmavam a imagem de uma
primitividade fossilizada, lidimando a noção É Possível Esquivar-se dos Conflitos?
de “missão civilizadora” e o governo colonial.
Daí os museus do século XIX, como já obser- Os séculos XIX e XX não se encerraram
varam Tim Barringer e Tom Flyn (1997), propriamente. É verdade que assistimos, pelo
erigirem-se como expressões espaciais, cul- menos desde o final do século XX, a um des-
turais e sociais da expansão dos impérios. locamento na economia dos poderes mundi-
A Arqueologia Clássica, por sua vez, foi ais: o Estado-nação possivelmente não é mais
fundamental para ampliar a equação da dis- o único foco de onde o poder emana e a do-
tância entre “primitivos” e “civilizados”. Ela minação mundial provavelmente não se es-
cimentou os alicerces da noção de Ocidente praia mais como uma rede lançada por um
como lugar politicamente hegemônico em específico centro imperial (Gilroy 2008, Hardt
relação às outras regiões do globo. Estipu- & Negri 2001). Contudo, há uma imensa lite-
lando uma idéia de “longa duração”, a de que ratura a discutir como as grandes estruturas
os europeus seriam herdeiros diretos (e coloniais, deslocadas após a Segunda Guer-
diletos) de gregos e romanos, ou seja, de ra Mundial, ainda exercem considerável in-
povos que no passado foram imperiais e alas- fluência cultural e política no presente (cf.,
traram seus dotes culturais apolíneos mun- p. ex: Hall 1996, MacLeod 2000, Moore-
do afora, a Arqueologia Clássica articulou- Gilbert 2000). Não surpreende, portanto, que
se diretamente às ambições imperiais da In- diversas idéias da Arqueologia Nazista ainda
glaterra, França, Alemanha e Estados Uni- vigorem no mundo contemporâneo, como os
dos; açulou a segregação “racial” e a domi- museus a céu aberto. Exposições sobre Ar-
nação colonial, naturalizando a “supremacia” queologia pré-histórica permanecem confor-
e a “superioridade” do Ocidente (Bernal 1987, mando identidades nacionais em países nór-
Hingley 2000). dicos (Levy 2006). Ruínas e artefatos da
Como diria Aimé Césaire em seu Discur- Grécia seguem fabulando a imaginação na-
so sobre o Colonialismo (1977 [1955]), se o cional local e conformando a identidade cul-
mundo colonial foi onde essas idéias mais se tural da Europa (Hamilakis 2007).
experimentaram, a Europa também saboreou Pode dizer-se, portanto, que o passado
seu travo amargo. O fascismo e o nazismo nacionalista e colonialista da Arqueologia não
vividos pela Europa seriam, para Césaire, o é fogo morto; é fogo cruzado que continua

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se propagando pelo mundo contemporâneo Certamente esses exemplos são radicais


(Gosden 1999). Representações coloniais ain- e extremados. Mas, de todo modo, o passa-
da povoam, como afirma Martin Hall, as in- do é sempre confrontado: o patrimônio cul-
terpretações contemporâneas sobre a cultu- tural, mesmo em contextos de miséria oca-
ra material dos “países periféricos” (Hall sionados por guerra civil, integra as delibe-
2000). É que a Arqueologia nunca está rações e anseios públicos, como é o caso,
desvinculada de liames políticos (Champion hoje, em Serra Leoa (Basu 2008). E mesmo
1991) e é sempre premida pelos movimen- que saiamos das paisagens despedaçadas
tos e conflitos sociais (Wood & Powell 1993). pelas guerras civis, observaremos que as
Gostaria de dar alguns exemplos de como comunidades preocupam-se com os resulta-
o trabalho arqueológico requer necessaria- dos das pesquisas arqueológicas e com as
mente posicionar-se em meio aos conflitos subseqüentes representações do patrimônio
contemporâneos e, nos casos mais extremos, cultural tecidas por elas. Os indígenas do ter-
entre os disparos da guerra e da destruição ritório amazônico, no Brasil, exercem pres-
programada e sistemática do patrimônio cul- são crescente sobre arqueólogos e órgãos
tural. Com efeito, o patrimônio cultural, estu- públicos, manifestando ansiedade quanto ao
dado e interpretado pelos arqueólogos, está destino dos artefatos e aos usos do conheci-
sempre subsumido a políticas de representa- mento arqueológico (Neves 2006: 74). Na
ção. Dito de outro modo: como índice da for- Bolívia, os movimentos indígenas contra a
mulação da auto-imagem de uma nação ou exploração do gás natural pelas multinacionais
de um grupo étnico, o patrimônio cultural é inspiram-se em visões arqueológicas alter-
periodicamente selecionado, re-selecionado, nativas do passado, avessas às interpreta-
revisado, dispensado e, muitas vezes, inten- ções que os classificam como refratários à
cionalmente destruído. Daí ele ser um pode- modernidade (Kojan & Angelo 2005). Numa
roso símbolo dos conflitos sociais. palavra, vários grupos indígenas, cujas
Assim, em 1992, nacionalistas hindus, pletóricas Histórias foram cobertas por este-
estribando-se em resultados de escavações reótipos e políticas coloniais, lutam pela auto-
arqueológicas, demoliram mesquitas na Ín- gestão de seus patrimônios culturais e pela
dia, sob a justificativa de que elas se erigiram repatriação arqueológica (Sillar 2005,
sobre os vestígios de seus legendários he- Simpson 2001, Colley 2002, Funari 2001,
róis. Sérvios e croatas, durante a guerra da Ferreira 2008).
Iugoslávia, destruíram-se não apenas com Dificilmente, portanto, nos esquivaremos
armas de fogo, mas também simbolicamen- dos conflitos ao fazermos pesquisas arqueo-
te, cada qual demolindo os monumentos de lógicas. Se nada está quieto, é preciso efeti-
seus respectivos oponentes (Layton & vamente confrontar o passado e interferir cri-
Thomas 2001). A herança arqueológica da ticamente, junto com as comunidades, nos
porção inglesa de Camarões, que incluiu edi- processos de constituição de identidades cul-
fícios históricos e sítios pré-históricos, é turais que a Arqueologia inevitavelmente pro-
programaticamente abandonado e descurado move. Para tanto, é necessário que defronte-
pelo governo francófilo do país (Mbunwe- mos, inicialmente, as ambivalências das políti-
Samba 2001). Durante uma das mais cruen- cas de representação do patrimônio cultural.
tas fases da guerra civil na Libéria, em 2003,
o Museu Nacional local foi dilapidado. Em
2008, iniciaram-se os trabalhos de restaura- As Ambivalências do
ção do Museu, pois, na concepção do atual Patrimônio Cultural
governo liberiano, a instituição testemunhava
parte da política cultural e da memória oficial É possível afirmar que, depois de 2001,
que o Presidente Ellen Johnson-Sirleaf plane- adquirimos uma mais acurada e aguda cons-
jou pessoalmente (Rowlands 2008). ciência do caráter seletivo que norteia as

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políticas de representação do patrimônio. evidencia como a representação das diferen-


Dois eventos marcaram esse ano: a destrui- ças entre Ocidente e o Oriente pode ainda
ção de numerosos artefatos, incluindo-se ser politicamente eficaz. Afinal, ela atuou em
duas gigantescas estátuas budistas, no conjunto no clima de propaganda intensiva
Afeganistão, e o ataque ao World Trade que ajudou a legitimar a guerra contra o
Center , ambos perpetrados pelo regime Afeganistão e, posteriormente, contra o
Taliban. Segundo Lynn Meskell (2002), as Iraque.
estátuas budistas representavam, para o Sítios de memória e herança negativas.
Taliban, um sítio de memória negativa – o Pode-se falar também, complementando-se
ato iconoclasta visava a conjurar a lembran- os conceitos de Lynn Meskell, em sítios de
ça monumental da diferença religiosa no herança positiva – uma reedição das pesqui-
Afeganistão, cujas marcas o Taliban deseja- sas arqueológicas colonialistas, acionando-
va apagar das linhas oficiais da identidade se as estratégias de pilhagem de artefatos e
nacional que acalentava. Ainda conforme Lynn a fabricação de uma identidade ocidental
Meskell, para boa parte da mídia, dos ar- remetendo-a a sítios onde viveram “grandes
queólogos e profissionais do patrimônio no civilizações”. A Guerra contra o Iraque
Ocidente, o ato iconoclasta representou, por exemplifica o conceito de herança positiva.
sua vez, uma herança negativa – uma cica- Além da morte de civis e da destruição de
triz permanente na memória, a lembrar os edifícios, as coleções mesopotâmicas – de
males do fundamentalismo e da intolerân- “grandes civilizações”, portanto – existentes
cia, as perversidades da ortodoxia política e no Iraque foram “resgatadas” como botim
da violência simbólica. de guerra. O caso mais famoso foi a invasão
A herança negativa foi invocada nova- do exército dos Estados Unidos ao Museu do
mente a propósito do World Trade Center. Iraque, em 2003. Ainda recentemente, em
Meses após o ataque, selecionou-se o lixo e maio de 2007, um militar do exército dos
os despojos oriundos das torres gêmeas para Estados Unidos, empunhando um documen-
uma exposição pública na Smithsonian to da embaixada de seu país e comandando
Institution, o Museu Nacional dos Estados uma tropa, entrou à força no Museu do
Unidos, com sede em Washington. Criou-se, Iraque. O intuito era empossar-se da insti-
por meio dos destroços – pastas de executi- tuição e de suas valiosas coleções, emble-
vo retorcidas, telas de computador e móveis mas da “História da civilização ocidental” (Al-
queimados e em frangalhos –, uma memó- Hussainy & Mattews 2008).
ria oficial da tragédia, manipulando-se, ou As ambivalências das políticas de repre-
tentando-se manipular, a dor dos parentes sentação do patrimônio cultural residem exa-
das vítimas e do público em geral (Shanks et tamente nos modos de produção de sítios de
all 2004). herança negativa ou positiva. Eles são
A manipulação da herança negativa aci- construídos na bigorna onde se forjam os
ona um mecanismo político retrospectivo, processos de seleção da cultura material e
uma marcha à ré que reativa as engrenagens as subseqüentes representações arqueoló-
das memórias do imperialismo oitocentista. gicas do passado ou do presente. Pode-se
Como diria Edward Said (1978), as Humani- simplesmente selecionar o lixo do World
dades, no século XIX, pintaram o Oriente Trade Center para montar-se uma exposi-
como cenário do “exótico”, da barbárie e do ção; uma espécie de reciclagem de arte pós-
despotismo; elas cavaram uma trincheira, um moderna, que com despojos e fragmentos
fosso geopolítico onde se repartiram as “di- descartáveis compõe mosaicos imperialistas
ferenças ontológicas” entre Ocidente e Ori- e arranjos de alteridade, modelando a me-
ente, entre “nós” e os “outros”. As reações à mória para reforçar divisões geopolíticas e
implosão das estátuas budistas, e principal- ilustrar o huttingtoniano “choque de civiliza-
mente a exposição na Smithsonian Institution, ções”. Não é novidade que o arqueólogo tra-

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dicionalmente trabalha com o lixo, com os e destruição lhes fossem naturais e ineren-
restos deixados por outras sociedades e que tes, e não produtos das escolhas de como
se depositaram nos arquivos da terra. Se o preservar e para quem preservar. Destrui-
lixo tem e pode ter valor simbólico, também ção e perda não são imanentes ao patrimônio
os artefatos e monumentos, por meio dos cultural. Resultam das seleções deliberadas
quais se interpreta e representa o passado das políticas de representação. É preciso lem-
ou o presente, apontam significativamente brar, como o fez recentemente Jody Joy
para as escolhas seletivas que constituirão o (2004), que artefatos e monumentos só se
patrimônio cultural. tornam significativos quando são cultural-
Isso fica claro, por exemplo, nas discus- mente constituídos como tais. As relações
sões dos arqueólogos especializados em res- sociais não se dão simplesmente entre pes-
tauro de artefatos. Em seu trabalho rotinei- soas e grupos; elas sempre envolvem arte-
ro, o arqueólogo restaurador altera fisica- fatos. Assim, as relações sociais entranham-
mente os artefatos em nome da preserva- se na materialidade. A cultura material, por-
ção. Foca-se, em geral, nos métodos físico- tanto, não é apenas um adendo epidérmico
químicos para a preservação dos artefatos da sociedade, mas pulsa no coração da vida
(Cf., p. ex: Applebaum 1987, Caldararo 1987), social (Thomas 2005). Assim é que a pre-
e não nas culturas que no-los criaram e con- servação do patrimônio cultural, ao contrá-
tinuam, algumas vezes, a usá-los. Esse índi- rio do que comumente se pensa, não é ape-
ce seletivo da conservação arqueológica é nas para o futuro, mas, sobretudo, para o
devotado a garantir a longevidade e essên- presente, para o aqui e agora, pois ele ocu-
cia dos artefatos (cf., p. ex: Silverm & Parezo pa lugar central nos processos de socializa-
1992). Contudo, a escolha sobre o que e ção e conflitos sociais.
como conservar, como diz Glenn Wharton Se isto é claro no que se refere aos cri-
(2005), afeta irremediavelmente nossa per- térios de restauração arqueológica, torna-se
cepção sobre a cultura material exibida nos ainda mais transparente em alguns enuncia-
museus. Por meio de suas intervenções, o dos da Arqueologia de contrato e das
arqueólogo restaurador imprime os valores metodologias arqueológicas de campo. Como
e padrões ocidentais na cultura material dos notaram Ian Hodder e Asa Berggren (2003)
povos indígenas (Johnson 1993, 1994). Ins- a respeito da Arqueologia de contrato que
taura, portanto, suas próprias premissas cul- se faz em boa parte do mundo, esta, além
turais nos artefatos, perpetuando-as. Como de não atentar para o lugar social dos ar-
afirma Miriam Clavir (1996), o resultado des- queólogos, seccionam em fases distintas os
tes critérios unilaterais e seletivos da con- processos de escavação e interpretação dos
servação arqueológica é que os povos indí- sítios arqueológicos. Mas este não é o único
genas e, de um modo mais abrangente, as problema. Em seu furor para “resgatar” e
comunidades locais, são majoritariamente preservar artefatos para o futuro, a Arqueo-
alijadas dos processos de interpretação e das logia de contrato, animada por espírito
políticas de representação do patrimônio cul- salvacionista, tem se inclinado para a des-
tural (Clavir 1996). truição planejada de sítios. Em alguns dos
Poder-se-ia com razão argumentar que setores mundiais da Arqueologia de contra-
não há como restaurar um artefato sem to, é perfeitamente aceitável que arqueólo-
adulterá-lo. Ou ainda, como o faz Cornelius gos destruam propositalmente sítios, desde
Holtorf (2006), que destruição não é antíte- que façam registros detalhados dos contex-
se de preservação e da idéia mesma de tos de deposição dos artefatos e que os or-
patrimônio cultural, tanto mais na “Era do ganizem em reservas técnicas para pesqui-
terrorismo”. Mas tal argumento essencializa sas futuras (Lucas 2001).
as ambivalências das políticas de represen- Minha intenção não é detratar a Arqueo-
tação do patrimônio cultural, como se perda logia de contrato, que, diante da crescente

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expansão dos projetos de desenvolvimento que, portanto, embasarão a constituição de


econômico, tem prestado inestimáveis con- identidades culturais e formarão as cama-
tribuições para o conhecimento histórico e das sedimentares onde se assentarão os sí-
arqueológico. Não estou cindindo em cam- tios de memória negativa ou positiva.
pos opostos Arqueologia de contrato e Ar- Reconhecê-lo é primar pela função primor-
queologia acadêmica, como se a primeira dial da Arqueologia comunitária: perspectivar
sempre fosse parceira de empresários os modos por que concebemos as identida-
inescrupulosos e do Estado, e a segunda sem- des culturais e o próprio trabalho arqueoló-
pre verdadeiramente científica e crítica. Con- gico.
tudo, a Arqueologia de contrato, quando
direcionada retilínea e unicamente para o
futuro, pode incorrer num equívoco: os ar- Métodos e Benefícios da
queólogos do futuro não orientarão neces- Arqueologia Comunitária
sariamente suas pesquisas pelos mesmos
problemas e objetos dos arqueólogos do pre- A Arqueologia comunitária oferece-nos
sente. E, como não existe Arqueologia metodologias propícias para reconsiderar-
apolítica, montar arquivos para o futuro não mos o trabalho com o público e enfrentar-
elidirá as diversas percepções que comuni- mos as escolhas quase sempre unilaterais
dades locais e povos indígenas possuem so- das políticas de representação do patrimônio
bre os sítios que estão sendo destruídos e cultural. Obviamente, as metodologias da
sobre os artefatos que estão sendo deposi- Arqueologia comunitária não são unívocas;
tados em reservas técnicas. variam conforme as especificidades culturais
Não se pode desconsiderar, portanto, a das comunidades e os problemas de pesqui-
série de reflexões contemporâneas sobre a sa atinentes às áreas de estudo. Para
ética das pesquisas de campo em Arqueolo- exemplificá-las, servir-me-ei das pesquisas
gia, recentemente sumarizadas por Richard conduzidas pela equipe de Stephanie Moser
Bradley (2003). Como diz Henrieta Fourmile em Quseir, no Egito (Moser et all: 2002), e
(1989), as comunidades conferem uma vari- pela síntese de Gemma Tully (2007). Ambos
edade de significados aos sítios arqueológi- os trabalhos fixam algumas balizas gerais
cos: repositório de memórias ou mesmo fon- para o trabalho arqueológico comunitário.
te de recursos alimentícios. Sobre este pon- Em primeiro lugar, enfatiza-se a neces-
to, Linda Tuhiwa Smith (1999), partindo do sidade de tornar as comunidades em agen-
ponto de vista nativo, sublinha que pesquisas tes e colaboradoras ativas da pesquisa ar-
arqueológicas envolvem não apenas impac- queológica. Os trabalhos em campo e labo-
tos físicos sobre a paisagem. Elas podem ser ratório, bem como as políticas de gestão do
invasivas ao quebrarem os protocolos das patrimônio cultural, devem ser discutidos e
comunidades sobre os lugares tidos como decididos conjuntamente pela equipe de ar-
sagrados, poderosos ou perigosos. Uma mera queólogos e a comunidade, num diálogo e
caminhada para registrar sítios arqueológicos colaborações contínuos. O que conduz ao
pode transgredir estas regras comunitárias. emprego e treinamento da comunidade para
Há que observar, assim, que as técnicas em- trabalhar em todas as fases do projeto de
pregadas em campo, assim como aquelas que pesquisa, desde a prospecção de sítios às
são utilizadas para restaurar artefatos, estão escavações. Em seguida, como parte funda-
indissociavelmente atadas à posição social e mental dos trabalhos em Arqueologia comu-
epistemológica do arqueólogo. nitária, devem ser feitas entrevistas periódi-
Negá-lo implica em não reconhecer as cas e pesquisas em História oral com a co-
ambivalências das políticas de representa- munidade. Estas permitirão o entendimento
ção do patrimônio cultural, as escolham que dos sentimentos e interpretações das comu-
permeiam a seleção da cultura material e nidades diante das pesquisas arqueológicas.

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Sugerem, ainda, como elas experimentam e conhecimento, no qual emergirão as lembran-


negociam suas identidades culturais em re- ças de memórias perdidas, de sofrimento e
lação ao patrimônio cultural revelado pelas injustiças, que os instrumentos para a recon-
escavações das quais são partícipes. Outra ciliação ou o embate com os poderes estabe-
metodologia importante é a formação de um lecidos surgirão (Jong e Rowlands 2008: 132).
arquivo visual, em fotos e vídeos. A organi- O trabalho arqueológico ao lado das co-
zação de um arquivo visual das escavações munidades é primordial, como recentemen-
e demais etapas da pesquisa arqueológica te afirmou Paul Shackel, para a reafirmação
possibilita que a comunidade tenha registros de identidades locais, especialmente diante
dos eventos, de suas experiências e delibe- do atual contexto de transformações ocasio-
rações patrimoniais. A Arqueologia comuni- nadas pela economia global (Shackel 2004:
tária, nesse passo, assegura à comunidade 10). De certo que as comunidades não são e
função central na criação e imaginação das nunca foram passivas. Nunca estiveram qui-
formas de extroversão e apresentação pú- etas. Elas sempre se inspiraram no passado
blica da cultura material revelada pela pes- para fundar significados culturais no presen-
quisa. Inclusive no quesito de como conser- te; rotineiramente incorporaram objetos e
var os materiais e para quem efetivamente lugares associados às suas memórias soci-
conservá-los, as comunidades deliberam com ais e às narrativas que no-las criam e sus-
os arqueólogos, decidindo-se conjuntamen- tentam (Bradley & William 1998). E, para
te se servirão para usufruto imediato do pre- falar como Marshall Sahlins (1997), nos dias
sente ou das gerações futuras. que correm, em que as forças centrífugas
Como se pode notar, a Arqueologia co- da “globalização” ameaçam tragar as
munitária está longe da promulgação de iden- alteridades num caldeirão cultural homogê-
tidades homogêneas, nacionalistas ou neo, as culturas locais, não obstante as di-
colonialistas. Avessa aos modelos normativos versas experiências da diáspora, continuam
de cultura, ela parte da premissa de que o firmando-se em suas memórias sociais.
patrimônio cultural não tem valor intrínseco. Nem por isso os arqueólogos devem as-
Seu valor é definido por políticas de repre- sistir de camarote, de seus centros acadê-
sentação, cuja narrativa material, como afir- micos ou postos avançados de escavação, o
ma Lindsay Weiss (2007), pode fragmentar espetáculo grandioso da resistência das co-
ou sotopor memórias sociais e identidades munidades. Como diria Frantz Fanon (1961,
culturais dos grupos subalternos. A Arqueo- 35), “todo espectador é covarde ou traidor”.
logia comunitária, ao protagonizar as comu- Se as identidades culturais, no mundo, ainda
nidades no palco de atuação das pesquisas, trazem as marcas e sinais do nacionalismo e
permite-lhes decidir as formas de exibição e do colonialismo, o trabalho arqueológico im-
apresentação pública do patrimônio cultural. plica responsabilidade social e engajamento
Oferece-lhes oportunidade para experimen- político. No mundo da economia global, como
tar e discutir a especificidade histórica e an- pondera Ian Hodder (2002), as questões e
tropológica de suas identidades culturais e as problemas arqueológicos não devem impor-
relações que elas entabulam com patrimônio se verticalmente; os arqueólogos têm obri-
local. Afinal, o patrimônio cultural, nas pala- gação ética de partilhá-las e negociá-las com
vras de Ferdinand Jong e Michael Rowlands, os interesses dos diversos grupos de uma
está intimamente associado às políticas de re- comunidade. Nesta linha, as pesquisas em
conhecimento (“politics of recognition”). O Arqueologia comunitária trarão, inclusive, be-
patrimônio cultural é sempre depositário dos nefícios acadêmicos. Experiências arqueoló-
signos que possibilitam o auto-reconhecimen- gicas em museus australianos evidenciam
to de uma comunidade, pois oferece os meios que, ao trabalhar ao lado dos povos indíge-
materiais para as articulações culturais entre nas, conseguiu-se acomodar múltiplos
o passado e o presente. E é através deste re- paradigmas e exibir para o público os pro-

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Lúcio Menezes Ferreira

cessos de interação, diálogo e tradução cul- ologia em Zonas Portuárias, realizado na


tural (Robins 1996). Arqueólogos, tanto nos Universidade Federal de Rio Grande (RS).
Estados quanto na Austrália, ao incorpora- Agradeço a Rodrigo Torres, organizador do
rem os povos nativos e seus conhecimentos evento, pelo convite para integrar a mesa-
tradicionais nos trabalhos em museus, apren- redonda. Agradeço também aos demais com-
deram uma pluralidade de significados, an- ponentes da mesa-redonda pelas discussões
tes insuspeitados, que as comunidades atri- ensejadas, que muito contribuíram para a
buem aos artefatos (Gibson 2004) e sítios reformulação do texto original: Dr. Norton
arqueológicos (Greer et all 2002). Gianuca (Departamento de Oceanologia –
Por todos esses motivos, talvez seja im- FURG; Secretario do Meio Ambiente da Pre-
portante permanecer sob fogo cruzado e in- feitura Municipal de Rio Grande), Drª Maria
serir-se no movimento permanente das co- Farría Gluchy (Universidad de la Republica,
munidades. Uruguai), Tobias Vilhena (arqueólogo da 12ª
SR IPHAN, Rio Grande do Sul), e ao coorde-
nador da mesa-redonda, Dr. Artur Henrique
Agradecimentos Franco Barcelos (Departamento de Arqueo-
logia – FURG). Sou o único responsável pelo
Este artigo é uma versão bastante modi- conteúdo do artigo. Pedro Paulo Funari e
ficada de uma conferência que proferi, em 5 Franscico Noelli, contudo, leram-no previa-
de novembro de 2008, na mesa-redonda mente, ajudando-me a melhorá-lo. Dedico-
Gestão Patrimonial e Desenvolvimento Por- o a um amigo velho e velho amigo, José
tuário, um dos eventos do Ciclo Internacio- Alberione dos Reis, e aos meus mais novos
nal de Conferências: “2000 Anos de Abertu- amigos, Artur Henrique Franco Barcelos e
ra dos Portos”, Patrimônio Cultural e Arque- Adriana Fraga da Silva.

Abstract: The aim of this paper is to discuss the methods of the Community
Archaeology. It argues before that the Community Archeology, as one element
of the world archaeological research, falls almost always in the heart of
social conflicts. Firstly, because it cannot escape of the a lasting legacy: the
historical relations that related Archeology to nationalism and colonialism.
Secondly, because to establish itself as sort of research it should confront
the ambivalencies of the policies of representation of the cultural property.

Key-Words: Community Archaeology, Cultural Property, Cultural Identity.

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