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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA
ÁREA DE SOLOS

FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA DO SOLO

PROF. FERNANDO FREIRE


A. A.
PROF M BETÂNIA GALVÃO SANTOS FREIRE

RECIFE
2003
FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA DO SOLO

1. SOLO COMO UM SISTEMA DINÂMICO E TRIFÁSICO

O solo pode ser definido como um corpo natural, representado em forma de


perfil, composto de uma mistura variável de minerais intemperizados e em processo de
intemperização e de matéria orgânica decomposta e em processo de decomposição que
fornece, desde que contenha, quantidades suficientes de ar e água, nutrientes e sustento
aos vegetais.
O solo é composto de três fases: uma sólida, composta de matéria mineral e
matéria orgânica que forma conjuntamente a “matriz do solo”; uma fase líquida que
contém água, sais em dissolução e matéria coloidal em suspensão; e de uma fase de
vapor composta pelo ar do solo (Figura 1). A proporção entre os componentes do solo
pode ser modificada, ex: acréscimo de água por chuva ou irrigação, absorção de água
pelas plantas, incorporação de resíduos orgânicos ao solo etc.
Os solos minerais distinguem-se dos solos orgânicos pelo teor de argila e de
carbono orgânico que contém. Um solo é considerado orgânico quando os constituintes
orgânicos impõem preponderância de suas propriedades sobre os constituintes minerais.
Conforme a EMBRAPA (1999), para que um solo seja classificado como orgânico é
preciso que o teor de C seja igual ou superior a:
C  8 + (0,067 x argila)
onde: C - Carbono na forma orgânica (dag kg-1)
Argila - Teor de argila (%)
Segundo Briggs (1897) a água do solo pode ser classificada como gravitacional,
devido a força da gravidade; capilar, retida nos poros capilares; e higroscópica, em filmes
envolvendo os colóides e em forma de vapor. Entretanto, a água do solo refere-se a uma
solução de sais mais ou menos concentrada dependendo das condições ambientais do
local.
O ar do solo difere da composição do ar atmosférico por duas razões básicas: Em
volume, o ar do solo contém 0,03% de CO2 que é 8 a 10 vezes maior que o ar
atmosférico e em volume a quantidade de O 2 no ar do solo é 10% menor do que no ar
atmosférico. Essas diferenças se justificam pela atividade biológica no solo (raízes de
plantas, microorganismos, pequenos animais) consumindo O2 e liberando CO2 pela
respiração; e pela dificuldade de difusão de gases no solo, com caminhos tortuosos a
serem percorridos (poros) para que ocorram as trocas gasosas entre o ar do solo e o
atmosférico.

Água (25%) Matéria mineral (45%)

Ar (25%)
Matéria orgânica (5%)

Figura - Composição volumétrica de um solo mineral considerado ideal

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2. FORMAÇÃO DO SOLO

Os solos são originados das rochas,


sob a ação do intemperismo. Este engloba
uma série de processos físicos e químicos e
biológicos que promovem a desagregação e
decomposição de rochas e minerais,
originando o material de origem do solo. O
material de origem, dependendo da ação do Solo
clima, dos organismos, do relevo e do
tempo, dará origem ao solo propriamente Regolito
dito, material decomposto e em
decomposição porém com atividade
biológica, que o diferem do regolito (Figura
2). Sendo assim, o solo é uma função do
material de origem, do clima, dos
organismos, do relevo e do tempo, que são
os cinco fatores de formação do solo.
Embasamento
rochoso Figura 2. Perfil de solo

Solo = f { Material de origem, clima, organismos, relevo, tempo }

O clima e os organismos são considerados fatores ativos por atuarem ativamente


na formação dos solos, já o material de origem, o relevo e o tempo são fatores passivos
por sofrerem a atuação dos outros.
O material de origem pode ser autóctone ou sedentário quando é originário do
local onde se formou o solo, podendo também ser denominado de residual. Caso tenha
sido originário de outro local, será alóctone ou transportado e, dependendo do tipo de
transporte, o material de origem recebe algumas denominações específicas, como por
exemplo: é dito coluvial se o transporte for pela ação da gravidade; aluvial se o
transportador for a água; glacial se for o gelo e eólico se o vento for o responsável pelo
transporte. Os solos apresentam normalmente muitas propriedades, no entanto apenas
três sofrem influência direta do material de origem: a textura, sua composição química e
mineralógica.
O clima é o principal fator ativo na formação dos solos. Ele pode agir diretamente,
através da precipitação e temperatura e, indiretamente, determinando a flora e a fauna
com reflexos diretos sobre a matéria orgânica do solo. Em regiões onde a precipitação é
maior que a evapotranspiração, há uma tendência natural do aparecimento de solos
lixiviados, enquanto que em regiões onde a evapotranspiração é maior que a
precipitação, há uma tendência para o aparecimento de solos salinos.
Na biosfera é onde se encontra a atuação dos organismos como importante fator
ativo na formação do solo. Na biosfera iremos encontrar a zoosfera e a fitosfera, com
suas macrofauna e microfauna, no caso da zoosfera e, macroflora e microflora, no caso
da fitosfera. Dentre as ações mais importantes da zoosfera, temos uma maior
homogeneização do perfil do solo, uma maior subdivisão de materiais grosseiros e uma
maior porosidade e granulação. A fitosfera é extremamente importante nos processos
biológicos que ocorrem no solo: Os fungos pela atuação na estabilidade dos agregados,
os actinomicetos pela responsabilidade na decomposição de materiais resistentes da
matéria orgânica e, principalmente, as bactérias que são responsáveis pela nitrificação do
nitrogênio orgânico, tornando este nutriente disponível aos vegetais.

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O relevo atua como um controlador dos fatores ativos, permitindo uma maior ou
menor interferência daqueles fatores na formação dos solos. Por exemplo, diretamente
ele atua na dinâmica da água no solo e indiretamente é responsável pelo zoneamento
vertical do clima e exposição de encostas.
A ação do tempo é relativa, ou seja, não se pode falar em solo velho ou jovem, e
sim, em solos desenvolvidos e, ou, imaturos, dependendo da intensidade da ação do
clima sobre o material de origem de uma determinada região fisiográfica.

2.1. Etapas na formação dos solos

Para que ocorra a formação do solo, inicialmente ocorre a intemperização da


rocha com acumulação do material de origem, porém este ainda não constitui o solo
propriamente dito. Para que um material de origem venha a ser transformado em solo é
preciso que ocorram alguns processos pedogenéticos contribuindo para uma
diferenciação dos “horizontes” e formação do “perfil” do solo. Assim:
PROCESSOS
INTEMPERISMO PEDOGÉNETICOS

MATERIAL DE
ROCHA ORIGEM

SOLO

Isso ocorre com a contribuição dos fatores de formação que, juntos, caracterizam
alguns processos importantes no desenvolvimento dos solos.

2.2. Processos de formação dos solos

Os processos de formação dos solos nada mais são do que uma seqüência de
eventos que incluem desde complicadas reações químicas até simples remanejamentos
de materiais que afetam intimamente as propriedades dos solos, como por exemplo:
eluviação de argila, mineralização da matéria orgânica, salinização, etc.
Segundo Simonson: “Qualquer processo de formação vai ser composto por
quatro tipos de fenômenos: adições, perdas, translocações e transformações”. Estes
fenômenos atuam em conjunto alterando os solos continuamente, assim, não se pode
dizer que um solo já está totalmente formado, pois ele está sendo alterado sempre.
Alguns processos de formação são de considerável importância para os tipos de
solos do Estado de Pernambuco, dentre eles temos: Laterização, Podzolização,
Lessivagem, Gleização e Halomorfismo.

 Laterização  É um processo que envolve uma intemperização profunda, removendo


sílica do perfil do solo, juntamente com bases trocáveis e conseqüente concentração
de óxidos. Este processo dá origem aos Latossolos, solos bastante intemperizados
muito comuns em todo o Brasil e em outras regiões de clima tropical.

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 Podzolização  É um processo que envolve eluviação e iluviação de matéria orgânica
e óxidos de ferro e alumínio. Há uma movimentação de matéria orgânica e óxidos de
ferro e alumínio ao longo do perfil do solo passando de um horizonte a outro,
concentrando-se no inferior.
 Lessivagem  É um processo que envolve eluviação e iluviação das argilas,
contribuindo para formação de solos com B textural. Neste caso o aumento na
concentração de argila é percebido por uma descontinuidade textural, em que o teor
de argila do horizonte inferior é bem superior ao do horizonte superior, caracterizando
que houve uma movimentação dessas partículas no perfil do solo.
 Gleização  É o desenvolvimento de cor cinzenta no solo pela redução do ferro em
condições anaeróbicas. Compostos de ferro presentes no solo quando submetidos a
inundação apresentam uma redução do Fe 3+ para o Fe2+, caracterizada pela mudança
de cores amareladas/avermelhadas para cores acinzentadas (ferro reduzido),
observada nos solos gleizados.
 Halomorfismo  Solos submetidos a ambientes com drenagem deficiente em regiões
áridas e semi-áridas, acréscimos de sais por águas superficiais ou subterrâneas
(ascensão capilar de lençóis freáticos) ou invasão de água do mar em zonas
costeiras, passam a apresentar elevadas concentrações de sais, muitas vezes
prejudiciais às plantas, ou solos halomórficos.

2.4. Perfil e horizontes do solo


É uma seção transversal do solo que vai da superfície até onde alcança a ação do
intemperismo(rocha), subdividida em camadas paralelas à superfície que são chamadas
de horizontes. Os horizontes são seções paralelas à superfície do solo, decorrentes de
uma evolução pedogética, com características de interrelacionamento com outros
horizontes do perfil.
Camada é uma seção paralela à superfície do solo em que não se observa
qualquer correlação com as seções sobrejacentes e/ou subjacentes.

Perfil do solo e seus horizontes principais:


O
H
A
E
AB ou EB
BA ou BE
B
BC
C
F
R

O  Horizonte ou camada orgânica superficial dos solos minerais que ocorre


normalmente em florestas virgens.
H  Horizonte ou camada orgânica superficial ou subsuperficial formada sob condições
de drenagem deficiente (acumulação de matéria orgânica sob condições anaeróbicas).
A  Horizonte mineral superficial de acumulação de matéria orgânica.

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E  Horizonte eluvial caracterizado pela eluviação de matéria orgânica, óxidos de ferro e
alumínio e argila.
AB ou EB  Horizonte transicional com mais características de A ou E do que B.
BA ou BE  Horizonte transicional com mais características de B do que A ou E.
B  Horizonte iluvial de concentração de matéria orgânica, óxidos de ferro e alumínio e
argila.
BC  Horizonte transicional com mais características de B do que C.
C  Horizonte ou camada mineral semelhante ou distinto(a) do material do qual o solo
se formou.
F  Horizonte ou camada mineral consolidada proveniente do endurecimento de plintita.
R  Extrato rochoso consolidado subjacente.

Os horizontes podem ser minerais e orgânicos. Para diferenciá-los é necessário


conhecer-se os teores de carbono orgânico (dag/Kg) e a (%) de argila do horizonte.

Horizonte orgânico  C  8 + 0,067 % argila


Horizonte mineral  C  8 + 0,067 % argila

Um perfil de solo pode ter qualquer seqüência de horizontes, o que não pode
ocorrer é a existência de horizontes invertidos. Por exemplo, o horizonte B nunca poderá
aparecer na descrição de um perfil sobrejacente ao horizonte E.
O grau de desenvolvimento de um solo é determinado por sua profundidade e pela
maior diferenciação de seus horizontes.

5. PROPRIEDADES MORFOLÓGICAS E FÍSICAS

A morfologia de um solo diz respeito as suas características macroscópicas


facilmente perceptíveis, ou seja, é a “anatomia do solo”. Na delimitação dos horizontes de
um solo, o pedólogo baseia-se em três características morfológicas principais: cor,
estrutura e consistência. No entanto, a descrição de um perfil de solo, é bem mais ampla
que apenas estas características, como se pode observar na seqüência prática abaixo:

 Delimitar os horizontes
 Mensurar a espessura dos horizontes
 Determinar a cor dos horizontes
 Determinar a textura dos horizontes
 Determinar a estrutura dos horizontes
 Determinar a porosidade dos horizontes
 Determinar a consistência dos horizontes
 Determinar a transição entre os horizontes

5.1. Textura

A textura do solo pode ser definida como sendo a proporção relativa dos diferentes
grupos de partículas primárias do solo (areia, silte e argila) nele existentes. A textura do
solo, não só diz respeito ao tamanho das partículas minerais, como também diz respeito
à sensação que dá ao tato uma massa de solo - grosseira, fina ou sedosa.
Em campo, a classe textural é avaliada pela sensibilidade através do tato. As
partículas maiores (areia) dão uma sensação áspera; as partículas intermediárias (silte)
dão a sensação de macio ou sedoso e as partículas menores (argila) dão desde a

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sensação dura, quando o solo está seco, a plástica e pegajosa quando a massa de solo
encontra-se molhada.
Em laboratório, a determinação da textura de uma amostra de solo, se faz através
da análise granulométrica, também conhecida como análise mecânica do solo, cujo
objetivo principal é determinar as percentagens de areia, silte e argila e, com o auxílio de
um triângulo textural determinar-se a classe textural do solo.
As partículas do solo se classificam em vários grupos de tamanhos, tomando como
base seus diâmetros equivalentes e dentre muitas classificações existentes, a comissão
de solos adotou a escala de Atterberg, cujos limites são:

FRAÇÃO DIÂMETRO
areia 2,00 - 0,05 mm
silte 0,05 - 0,002 mm
argila  0,002 mm

5.2. Superfície específica

A superfície específica de um solo é definida como a área por unidade de peso


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(m /g). É inversamente proporcional ao diâmetro das partículas, ou seja, quando menor a
partícula do solo maior sua superfície específica por unidade de peso, como se pode
observar na Tabela 1.

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Tabela 1. Relação entre diâmetro de partículas, seu número por cm e sua superfície
específica

Diâmetro das Número das Superfície das


partículas (cm) partículas em partículas
1 cm3 de solo (cm2)

1,0 1,0 3,14


0,5 8,0 6,28
0,06 4.096,0 50,23
0,001 1.000.000.000,0 3.141,60

Praticamente, apenas as argilas ao lado da matéria orgânica, são responsáveis


pela superfície específica dos solos. Esta importante propriedade física é diretamente
responsável pela adsorção de água e nutrientes no solo, considerando-se que estes
fenômenos são de superfície ou de área de exposição, como mostra a Tabela 2.

5.3. Densidade do solo

Ds = ms (g/cm3) ou Ds = p.s.s. (g/cm3)


Vt Vt

onde:
Da - Densidade do solo (g/cm3)
ms - massa do solo seco (g)
Vt - Volume total do solo (cm3)
p.s.s. - peso do solo seco (g)

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Tabela 2. Superfície específica dos principais componentes da fração argila e da matéria
orgânica.

Componentes Superfície específica(m 2/g)


Gibsita 1,0 a 100
Pirofilita 7,0
Caulinita 5,0 a 10
Goetita 30
Haloisita 75
Micas hidratadas 100 a 200
Óxidos de ferro 100 a 400
Sílica amorfa 100 a 600
Vermiculita 300 a 500
Alofanas 400 a 700
Hectorita 465
Montmorilonita 700 a 800
Matéria orgânica 700

Nesta definição não se inclui a massa do líquido, porque é variável e não


caracteriza um solo. A densidade do solo é afetada pela estrutura, grau de compactação
do solo, etc. Seu valor varia normalmente entre 1,1 e 1,6 g cm-3, podendo, no entanto,
chegar a 0,7 g cm-3 em solos orgânicos e 1,8 g cm-3 em solos altamente compactados.

5.4. Densidade das partículas

Dp = ms (g cm-3) ou Dp = p.s.s. (g cm-3)


Vs Vs

onde:
Dr - Densidade das partículas (g cm-3)
ms - massa do solo seco (g)
Vs - Volume dos sólidos (cm3)
p.s.s. - peso do solo seco (g)

O valor da densidade das partículas varia em torno de 2,5 a 2,7 g cm-3, sendo
comum usar-se 2,65 g cm-3 como média, quando a densidade das partículas não é
medida em laboratório.

5.5. Porosidade

A porosidade total pode ser definida como a relação entre o volume ocupado pelos
poros e o volume total do solo:

Pt = Vp x 100 (%)
Vt

onde:
Pt - Porosidade total (%)
Vp - Volume dos poros (cm3)
Vt - Volume total do solo (cm3)
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O conhecimento da porosidade total de um solo não é informação muito
importante para caracterizar suas propriedades.É muito mais importante saber qual a
distribuição do tamanho dos poros. Schumacher (1860), classificou a porosidade em duas
categorias: porosidade capilar, também chamada de microporosidade e porosidade não
capilar, denominada de macroporosidade ou porosidade de aeração.
Na prática é difícil determinar-se o volume de poros, por isso a porosidade total
dos solos é calculada através da seguinte expressão:

Pt = [ 1 - Ds ] x 100 (%)
Dp

onde:
Pt - Porosidade total (%)
Ds - Densidade do solo (g cm-3)
Dp - Densidade real (g cm-3)

5.6. Estrutura

A estrutura de um solo é definida como sendo o resultado da agregação de suas


partículas primárias (areia, silte e argila), originando no solo formas bem definidas. Essa
agregação estável só é possível devido a presença de agentes cimentantes, como:
minerais de argila; matéria orgânica; calcário; sais; presença de alguns catíons; óxidos de
ferro e alumínio; etc.
Solos arenosos quando úmidos têm uma tendência a formar agregados estáveis.
Neles a estrutura é dita de grãos simples. Os solos siltosos, possuem uma estruturação
instável, podendo, com facilidade, tornarem-se compactos e impermeáveis. Os solos
argilosos são normalmente bem estruturados.
A estrutura dos solos apresenta duas classificações básicas: a primeira é quanto
ao grau de desenvolvimento, onde os solos são classificados em: sem estrutura (grãos
simples); fraca; moderada e estrutura forte. A segunda classificação diz respeito ao tipo
ou forma de estrutura. Nesta classificação, os solos podem apresentar estrutura laminar;
em blocos angulares e subangulares; prismática e colunar; granular e grumosa.

5.7. Consistência

É a atuação das forças de coesão e adesão existentes no solo, ou seja, é a


atração das partículas sólidas entre si e pela água. Dependendo das condições de
umidade do solo, podemos ter: consistência quando o solo encontra-se seco, isto diz
respeito a dureza ou tenacidade do solo; consistência quando o solo encontra-se úmido e
relaciona-se com a friabilidade do solo; consistência quando o solo encontra-se molhado,
que diz respeito a plasticidade e pegajosidade.

6. ÁGUA NO SOLO

Á água do solo é de fundamental importância em todos os processos físicos,


químicos e biológicos que ocorrem no solo, constituindo-se num componente
preponderante do desenvolvimento vegetal.

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6.1. Propriedades da água

A água apresenta muitas propriedades especiais, cuja explicação está intimamente


ligada à sua estrutura molecular. Analisando-se a estrutura da molécula da água,
observa-se claramente a existência de pontos onde haverá cargas positivas
(hidrogênio parcialmente nú) e cargas negativas (geradas pela

extrema eletronegatividade do oxigênio). Quando duas dessas moléculas se aproximam,


elas se orientam com respeito a suas cargas +(psitivas) e -(negativas) formando uma
ligação chamada de ponte de hidrogênio.

a) Troca de estado

Para passar de um estado para outro, é necessário romper as pontes de


hidrogênio. Por isso, a mudança de estado da água exige uma quantidade alta de
energia. Por exemplo, nas mudanças de gelo para líquido são consumidas 80 cal/g e na
mudança de líquido para vapor são consumidas 540 cal/g.

b) Alto ponto de fusão e vaporização

A água funde a 00C e vaporiza-se a 1000C. Esses são valores bem elevados para
uma molécula deste tamanho, e o fenômeno é explicado, novamente, pela necessidade
de se romper parte das pontes (no caso da fusão) ou todas as pontes de hidrogênio a fim
de que a vaporize. Esses fenômenos são extremamente importantes para a vida biológica
no planeta.

c) Características de dipolo

A água, devido ao desbalanço de cargas elétricas de sua molécula, se orienta em


relação a um campo elétrico, ou na presença de íons, de acordo com sua carga elétrica.
É por essa razão que água é um solvente muito forte, sendo chamada de solvente
universal.

d) Força de adesão

É a propriedade que possui a água de aderir a outras substâncias. Essa


propriedade é forte na água devido, novamente, ao fato dela ser uma molécula bipolar. A
adesão se refere à atração entre moléculas diferentes. No caso entre a água e outras
moléculas.

e) Força de coesão

É a atração que a molécula de água exerce noutra congenere. Tanto a adesão


com a coesão na água são elevados, e são resultantes das interações entre pontes de
hidrogênio.

f) Tensão superficial

É a força que se apresenta na interfase entre um líquido e uma fase gasosa, que
no caso da água origina-se de moléculas de água na superfície do líquido que não têm

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seus campos elétricos inteiramente satisfeitos, ao contrário das moléculas no interior do
líquido.

6.2 Relações massa/volume

Considerando-se o solo como um sistema trifásico: sólido-líquido-gases,


poderemos observar como ocorre as diversas relações entre estes componentes.

Vp = Volume de poros
Va = Volume de ar
Vl = Volume de líquido
Vs = Volume de sólido
Vt = Volume total; Vt = Vs + Vl + Va; Vp = Vl + Va; Vt = Vp + Vs
ma = massa de ar; aproximadamente igual a zero
ml = massa do líquido
ms = massa do sólido
mt = massa total ; mt = ml + ms

6.3. Expressões do teor de umidade no solo

6.3.1. A base de massa (m)

Nós podemos medir o teor de umidade no solo pela seguinte expressão:

m = ml x100 ou m = p.s.u. - p.s.s. x100


ms p.s.s.

onde:
m = teor de umidade a base de massa (g g-1) ou (%)
ml = massa do líquido (g)
ms = massa do sólido (g)
p.s.u. = peso do solo úmido (g)
p.s.s. = peso do solo seco (g)

6.3.2. A base de volume (v)

Nós podemos também expressar o teor de água no solo, à base de volume:


v = Vl x100 ou v = m x Ds
Vt

onde:
v = teor de umidade a base de volume (cm3 cm-3) ou (%)
m = teor de umidade a base de massa (g g) ou (%)
Vl = Volume do líquido (cm3)
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Vt = Volume total (cm )
Ds = Densidade do solo (g cm-3)

6.3.3. Lâmina de água por profundidade de solo

Outra maneira conveniente de se expressar o teor de água no solo, é pela lâmina


de água por profundidade do solo.
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Esta maneira de se expressar o teor de umidade é muito útil, porque se torna
compatível com o modo de se exprimir a quantidade de água usada em vários
fenômenos. Por exemplo: a água que se precipita pela chuva ou pela irrigação é medida
em termos de lâmina (cm ou mm). A água perdida do solo e da planta por evaporação e
transpiração é expressa em lâmina por unidade de tempo (mm/dia, cm/mês, cm/ano,
etc.).
Para se obter a lâmina de água existente no solo, usamos a expressão:

L = v x h ou L = m x Ds x h

onde:
L = Lâmina de água por profundidade h do solo (cm ou mm)
v = teor de umidade a base de volume (cm3 cm-3)
h = profundidade considerada (cm ou mm)
m = teor de umidade a base de massa (g g-1)
Ds = Densidade do solo (g cm-3)

Na maior parte das vezes, os solos se apresentam com camadas e/ou horizontes
que possuem propriedades físicas diferentes; desse modo o cálculo da lâmina de água
total, é dado pela soma das lâminas individuais.
Por exemplo: um solo tem as seguintes propriedades, resultantes de uma
amostragem:

Camada (cm) Ds (g cm-3) m (%)


0-30 1,2 30
30-60 1,3 20
60-90 1,4 25
90-120 1,4 40

Qual será a lâmina total armazenada no perfil, de 0 a 120 cm?


Cálculo: L = m x Ds x h, de modo que:

L (0-30) = 0,3 g g-1 x 1,2 x 30 cm = 10,8 cm


L (30-60) = 0,2 g g-1 x 1,3 x 30 cm = 7,8 cm
L (60-90) = 0,25 g g-1 x 1,4 x 30 cm = 10,5 cm
L (90-120) = 0,40 g g-1 x 1,4 x 30 cm = 16,8 cm
L total = 45,9 cm
Ou seja, temos armazenados 45,9 cm de água em 120 cm de profundidade de
solo.
6.4. Conceitos estáticos sobre a água do solo

6.4.1. Capacidade de campo (C.C.)

Diz-se que um solo está na capacidade de campo, quando, depois de saturado


(por chuva ou por irrigação) a água drena livremente, consequentemente o teor de
umidade praticamente não varia com o tempo. A capacidade de campo pode ser
considerada então como a quantidade máxima de água retida no solo pelo potencial
mátrico contra a força da gravidade. Em outras palavras, é o limite superior de
armazenamento de água no solo.

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Nos solos, em geral, a capacidade de campo corresponde a quantidade de água
retida a valores de m que variam de - 0,01 MPa (solos arenosos) a - 0,033
MPa (solos argilosos)

6.4.2 Ponto de murcha permanente (PMP)

É o teor de umidade do solo no qual uma planta murcha, não restabelecendo sua
turgidez mesmo quando colocada em atmosfera saturada. Comumente assume-se que
esta umidade do solo corresponde a um potencial mátrico de – 1,50 MPa. Isto significa
que quando o solo atinge esse valor de m, a água está retida com tanta energia, que as
plantas murcham irreversivelmente. O ponto de murcha é considerado o limite inferior de
armazenamento de água pelo solo.

6.4.3. Água disponível

O teor de água disponível para as plantas é comumente tomado como a diferença


entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente.

Ad = C.C - PMP

Neste caso os teores de umidade, tanto para capacidade de campo como para o
ponto de murcha permanente, podem ser tomados a base de massa, volume ou mesmo
em forma de lâmina.

Para se calcular a lâmina disponível (Ld) de um solo qualquer basta utilizar-se a


seguinte expressão:

Ld = m(C.C.) - m(PMP) x Ds x h
100

onde:
Ld = lâmina disponível (cm ou mm)
m(C.C.) = teor de umidade a base de massa em C.C.(%)
m(PMP) = teor de umidade a base de massa no PMP (%)
Ds = Densidade do solo (adimensional)
h = profundidade considerada (cm ou mm)

De um modo geral, as culturas não suportam teores de umidade próximo ao ponto


de murcha, sem que haja uma perda substancial da produtividade. É aconselhável, para
um bom manejo da água, se irrigar, muito antes que o potencial mátrico da água do solo
atinja níveis de –1,50 MPa. A pesquisa agrícola tem acumulado dados para diversas
culturas indicando quando se deve proceder a irrigação. Geralmente esse dado está
difundido em termos de percentagem de água disponível e gira em torno de 50% da
lâmina disponível, o que corresponde à água útil utilizada mais facilmente pelas plantas.
Dependendo da evapotranspiração média de uma determinada cultura agrícola, pode-se
determinar com precisão o ciclo de rega para a cultura que se deseja irrigar.

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II. PARTE: PRINCÍPIOS DE FERTILIDADE DO SOLO

1. FERTILIDADE DO SOLO

1.1. Conceitos

Solo fértil é aquele que contém, em quantidades suficientes e balanceadas, todos


os nutrientes essenciais em formas disponíveis.
Solo produtivo é aquele que, sendo fértil, se encontra localizado numa zona
climática capaz de proporcionar suficiente umidade, luz, calor, etc., para o bom
desenvolvimento das plantas nele cultivadas.
Nem todo solo fértil é produtivo, porém todo solo produtivo é fértil.

1.2. Elementos essenciais ao desenvolvimento vegetal

Quando se faz a análise de uma planta fresca verifica-se que a maior proporção do
seu peso, 70 a 95%, é constituída pela água. Secando-se a planta numa estufa a 80-
0
100 C, praticamente toda essa água é eliminada por evaporação, obtendo-se assim a
matéria seca. Fazendo-se a análise elementar da matéria seca de uma planta de milho,
por exemplo, encontra-se, em geral, dados como os da Tabela 3.

Tabela 3. Composição elementar da matéria seca de uma planta de milho.


________________________________________________________
ELEMENTO % ELEMENTO %
________________________________________________________
O 44,4 N 1,46
C 43,6 Si 1,17
H 6,2 K 0,92
Ca 0,23
P 0,20
Mg 0,18
S 0,17
Cl 0,14
Al 0,11
Fe 0,08
Mn 0,04
________________________________________________________
SOMA 94,2 SOMA 4,70
________________________________________________________

A análise desta planta não é suficiente para caracterizar um elemento como


essencial, pois muitos elementos estão presentes na composição da matéria seca de
uma planta e não são considerados essenciais.
Um elemento é considerado essencial, quando satisfaz dois critérios de
essencialidade: O direto e o indireto.
Direto - O elemento participa de algum composto ou de alguma reação, sem o qual ou
sem a qual a planta não vive.
Indireto
 Na ausência do elemento a planta não completa o seu ciclo de vida;
 O elemento não pode ser substituído por nenhum outro;

14
 O elemento tem de ter efeito direto na vida da planta, sua ação não consistindo da
anulação de condições físicas, químicas ou biológicas desfavoráveis presentes no
substrato.

Os elementos essenciais se classificam de acordo com a proporção em que


aparecem na matéria seca em dois grandes grupos: macronutrientes, como o Nitrogênio
(N), o Fósforo (P), o Potássio (K), o Cálcio (Ca), o Magnésio (Mg) e o Enxofre (S); e os
micronutrientes, como o Boro (B), o Cloro (Cl), o Cobre (Cu), o Ferro (Fe), o Manganês
(Mn), o Molibdênio (Mo) e o Zinco (Zn). Os macro e micronutrientes encontram-se na
matéria seca de algumas plantas nas concentrações dadas na Tabela 4.

Tabela 4. Quantidades de macro e micronutrientes em alguns produtos agrícolas.


__________________________________________________________________
ELEMENTO Café (60 Kg) Cana-de-açúcar (100 t) Milho (6,4 t)
__________________________________________________________________
N 1,026 Kg 132 Kg 129 Kg
P 0,066 8 26
K 0,918 110 42
Ca 0,162 13 1,1
Mg 0,096 19 11
S 0,078 12 10
__________________________________________________________________
B 0,96 g 4,0 g 20,0 g
Cl - - 2000,0
Cu 0,90 5,0 34,0
Fe 3,60 3132,0 210,0
Mn 1,20 1566,0 78,0
Mo 0,003 1,6 2,5
Zn 0,72 486,1 205,0
__________________________________________________________________

Os elementos, macro e micro, exercem funções específicas na vida da planta. Tais


funções podem ser classificadas em três grandes grupos:

a) Estrutural - O elemento faz parte da molécula de um ou mais compostos orgânicos,


como por exemplo: o nitrogênio nos aminoácidos e proteínas; o cálcio no pectato da
lamela média da parede celular; o magnésio que ocupa o centro do núcleo tetrapirrólico
das clorofilas.

b) Constituinte de enzima - Refere-se a elementos, geralmente metais ou elementos de


transição (molibdênio, por exemplo), que fazem parte do grupo prostético de enzimas e
que são essenciais às atividades das mesmas. Este é também o caso do cobre, ferro,
manganês e zinco.

c) Ativador enzimático - É o caso em que o elemento sem fazer parte do grupo prostético
da enzima, pois esta dissociável da fração protéica, é porém, necessário à atividade da
mesma

De acordo com a função que os macro e micronutrientes exercem nas plantas,


eles serão responsáveis por diferentes papéis na formação das colheitas, como mostra a
Tabela 5.

15
A redistribuição dos elementos essenciais à vida das plantas, dar-se
predominantemente pelo floema. No entanto, os elementos podem mostrar mobilidade
muito diferente. Os elementos considerados móveis são o N, P, K, Mg, Cl e Mo; os pouco
móveis são o S, Cu, Fe, Mn e o Zn; os imóveis são o Ca e o B.
Essa mobilidade maior ou menor tem muita relevância prática, já que ocorrendo
uma deficiência de um elemento móvel, inicialmente os sintomas se manifestarão nas
folhas mais velhas, enquanto que a deficiência de um elemento pouco móvel ou imóvel
na planta, o sintoma de deficiência se manifestará nas folhas e órgãos mais novos.
A cultura exige um suprimento contínuo dos elementos pouco móveis e imóveis
pois, havendo interrupção ou diminuição no suprimento, não haverá mobilização
suficiente do nutriente para “socorrer” os órgãos mais novos.

Tabela 5. Participação dos macro e micronutrientes na formação e na qualidade da


colheita.

Elemento Papéis
Nitrogênio Estimula a formação e desenvolvimento de gemas floríferas e frutíferas;
maior vegetação e perfilhamento; aumenta o teor de proteína.

Fósforo Acelera a formação de raízes; aumenta a frutificação; apressa a


maturação dos frutos.

Potássio Estimula a vegetação e perfilhamento (gramíneas); estimula o enchimento


de grãos; promove o armazenamento de açúcar e amido; aumenta a
eficiência do uso da água; aumenta a resistência a seca, geadas,
pragas e moléstias.

Cálcio Estimula o desenvolvimento das raízes; aumenta a resistência a pragas e


moléstias; maior pegamento das floradas.

Magnésio Colabora com o fósforo

Enxofre Aumenta a vegetação e a frutificação; aumenta o teor de óleos, gorduras


e proteínas

Boro Colabora com o cálcio; aumenta a granação

Cobre Aumenta à resistência às doenças; menor esterilidade masculina(cereais)

Ferro Fixação do nitrogênio

Manganês Aumenta a resistência a algumas doenças

Molibdênio Fixação simbiótica do nitrogênio

Zinco Estimula o crescimento e frutificação.

1.3. Absorção dos elementos: o contato íon - raiz

Para que um elemento M(mineral) existente na solução do solo possa ser


absorvido pelas raízes é necessário que entre em contato com as mesmas. Existem três
16
processos para estabelecer o contato: a interceptação radicular, o fluxo de massa e a
difusão.
A interceptação radicular trata-se do encontro da raiz absorvente com o elemento
em forma disponível no solo. A quantidade do elemento que dessa maneira entra em
contato com o sistema radicular é relativamente pequena e proporcional a relação
superfície da raiz/superfície do solo. Nestas condições, pode-se perceber que quanto
mais desenvolvido o sistema radicular de uma planta maior será o contato com a
superfície do solo.
O fluxo de massa pode ser definido como o movimento do íon em uma fase
aquosa móvel. A medida que as raízes absorvem água, ou melhor, solução do solo,
estabelece-se um gradiente de potencial de água no solo e a solução se move para a
superfície da raiz: os elementos dissolvidos são então carregados pela água por fluxo de
massa. Este é o meio de contato mais importante para a maioria dos elementos
essenciais entrarem em contato com a superfície das raízes no processo de absorção.
A difusão é definida como o movimento do íon em uma fase aquosa estacionária,
a distâncias curtas. A absorção de M pela raiz faz com que diminua a sua concentração
na superfície das mesmas, criando um gradiente de concentração ao longo do qual o
elemento se difunde.
Tomando-se a cultura do milho como exemplo, a contribuição dos três processos é
a que aparece na Tabela 6. De acordo com o que se pode observar na referida tabela, o
conhecimento do tipo de contato íon-raiz é de fundamental importância na localização do
adubo durante a sua aplicação.

Tabela 6. Relação entre o processo de contato e a localização do adubo

Processo de contato
__________________________________
Elemento Interceptação fluxo de massa Difusão Aplicação de adubos
------------------------(% do total)------------------
N 1 99 0 Distante, cobertura
P 2 4 94 Perto, localizado
K 3 25 72 Perto, localizado
Ca 287 760 0 Lanço
Mg 57 375 0 Lanço
S 5 95 0 Distante, cobertura
B 29 1000 0 Distante, cobertura
Cu 70 20 10 Lanço, localizado
Fe 50 10 40 Lanço , localizado
Mn 15 5 80 Perto, localizado
Mo 10 200 0 Lanço
Zn 20 20 60 Perto, localizado

Os processos de contato do íon com a raiz são alguns dos fatores que determinam
a localização do adubo em relação à semente ou à planta: o adubo nitrogenado tem de
ser colocado de maneira tal que a água possa conduzi-lo até a raiz; já os adubos
contendo P e K, elementos que atingem as raízes por difusão, devem ser colocados de
modo a garantir o maior contato com a raiz, pois devido ao pequeno deslocamento destes
elementos, as necessidades da planta poderão não ser satisfeitas.

17
1.4. Leis e princípios da fertilidade do solo

a) Lei da Restituição: É indispensável restituir ao solo, para evitar o seu empobrecimento,


todos os nutrientes removidos pelas colheitas.

b) Lei do Mínimo: As produções das culturas são reguladas pelas quantidades do


elemento disponível que se encontra no mínimo em relação às necessidades das plantas.

c) Lei dos Acréscimos não Proporcionais: O aumento de produção não é proporcional ao


aumento do fator limitante.

d) Lei do Máximo: Qualquer fator de produção, quando em excesso, tende a não


aumentá-la ou mesmo a diminuí-la.

e) Lei do Decréscimo da Fertilidade do Solo: A fertilidade dos solos cultivados tende a


decrescer com o tempo se não forem executados trabalhos especiais, possibilitados pela
ciência e pela técnica, para mantê-la ou mesmo elevâ-la.

2. A FRAÇÃO ARGILA E SUA IMPORTÂNCIA NA FERTILIDADE DO SOLO

O termo argila é usado no solo com três diferentes significados: Para designar o
separado mecânico na análise granulométrica de partículas inferiores a 0,002 mm;
designar a classe textural do solo, conhecida como argila; designar a fração do solo
constituída de silicatos hidratados de alumínio, denominados argilominerais.
Numa classificação geral, as argilas podem se agrupar em silicatadas, também
chamadas minerais de argila ou argilominerais e as formadas por óxidos hidratados de Fe
e Al, principalmente.
A estrutura dos minerais de argila é formada por duas unidades cristalográficas
básicas: os tetraedros de silício e os octaedros de alumínio ou magnésio. O arranjamento
estrutural dessas unidades e o grau de expansão irão agrupar estes argilominerais em
diferentes tipos, com diferentes características, tais como: caulinita, montmorilonita,
vermiculita, ilita e clorita, etc.
A fertilidade natural de um solo depende, indubitavelmente, de sua capacidade
adsortiva, que é função dos argilominerais e colóides orgânicos. Os elementos minerais,
essenciais à vida vegetal, serão então, adsorvidos a estas estruturas minerais e/ou
orgânicas, sendo, gradativamente, liberados e absorvidos pelas plantas.
Os elementos minerais em forma iônica são denominados de íons e são chamados
de cátions quando carregados positivamente e ânions quando carregados negativamente.
Os argilominerais e os colóides orgânicos geram cargas negativas e/ou positivas no solo
que são neutralizadas pelos cátions e/ou ânions. Quando os cátions dominam o
complexo sortivo do solo (argilominerais e colóides orgânicos ) dá-se o nome de
capacidade de troca de catíons do solo (CTC). Já no caso da adsorção de aníons dá-se o
nome de capacidade de troca aniônica (CTA). A CTC é um fenômeno mais característico
na maior parte dos solos agrícolas.
A CTC é muito variável dependendo do tipo do colóide, como se pode observar na
tabela 7 abaixo:

18
Tabela 7. Capacidade de troca de cátions de alguns colóides do solo.
________________________________________________________
COLOÍDE CTC(Cmol c dm-3)
________________________________________________________
Caulinita 5 - 15
Montmorilonita 50 - 100
Ilita 10 - 50
Vermiculita 100 - 150
Óxidos de Fe e Al 2-5
Húmus 150 - 500
________________________________________________________

3. PROPRIEDADES QUÍMICAS

O complexo sortivo do solo consiste de um complexo radical negativo e de uma


mistura de cátions adsorvidos.
A troca de cátions é uma reação dinâmica, reversível da troca de um ou mais
cátions adsorvidos por outros no complexo sortivo do solo.
A capacidade de troca de cátions (CTC) é a capacidade que os argilominerais e a
matéria orgânica possuem para adsorver cátions trocáveis. Esta CTC depende do tipo de
mineral de argila, do teor da matéria orgânica presente no solo e do pH.
Soma de bases (S) é a soma de todos os cátions trocáveis no complexo sortivo
com exceção do H+ e Al3+.

S = Ca + Mg +K + Na +...........(Cmolc dm-3)

 Ca, Mg, K e Na são formadores de bases


 H e Al são formadores de ácidos

A saturação de bases (V) é a percentagem da soma de bases em relação ao


complexo sortivo (CTC).

V= S x 100
CTC

A saturação por alumínio (m) é a percentagem do alumínio em relação a soma de


bases mais o alumínio.

m= Al x 100
S + Al
A saturação por sódio (PST) é a percentagem de sódio (Na) em relação ao
complexo sortivo do solo.

PST = Na x100
CTC

2.1. Classificação dos solos quanto a saturação por bases (V), saturação por alumínio (m)
e saturação por sódio (PST).

19
a) Saturação por bases:

 V ≥ 50% - Eutrófico
 V < 50% - Distrófico

b) Saturação por alumínio

 m ≥ 50% - Álico
 m < 50% - Não-álico

c) Saturação por sódio

 PST ≥ 15% - Sódico


 PST < 15% - Não-sódico

4. MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO

4.1. Constituição, conteúdo e distribuição

A matéria orgânica do solo é constituída, basicamente, de duas frações distintas:


uma os restos vegetais e animais em diferentes estados de decomposição e outra, o
húmus, que é o produto desses restos após decomposição biológica.
Embora importante, a matéria orgânica representa uma pequena fração do peso
total dos solos minerais: 1% ou menos, em solos arenosos pobres e em solos de deserto
a 12% ou mais em regiões de pradaria. Em solos orgânicos, o teor de matéria orgânica
varia de 20% a 30%, no mínimo, de acordo com a percentagem maior ou menor de argila,
a 90-95% nos solos turfosos.
De um modo geral, os solos leves, arenosos, são mais pobres em matéria orgânica
que os solos argilosos.
A distribuição da matéria orgânica no perfil do solo depende principalmente do
modo pelo qual se adiciona a matéria orgânica. Em solos de florestas, por exemplo, a
maior quantidade de matéria orgânica encontra-se na superfície porque a contribuição da
serrapilheira é maior que a das raízes; além disso, uma proporção razoável destas se
localiza superficialmente. Neste caso, o teor de matéria orgânica decresce bruscamente
da camada superficial para a que está imediatamente abaixo. Contrariamente, em solos
que suportam gramíneas a contribuição das raízes é grande e muitas dessas têm sistema
radicular profundo. E, como elas apresentam ciclo relativamente curto, há uma contínua
adição de restos orgânicos ao solo devido à morte das raízes e, consequentemente, o
teor de matéria orgânica decresce menos bruscamente com a profundidade.

4.2. Decomposição dos compostos orgânicos

A decomposição dos compostos orgânicos nada mais é do que um processo de


oxidação enzimática, como se pode observar na reação esquematizada abaixo:

Oxidação
-[ C, 4H ] + 2O2  CO2 + 2H2O + ENERGIA
Enzimática

20
Como se pode observar nesta reação, os microrganismos decompõem a matéria
orgânica para obterem energia suficiente para realizarem seus processos biológicos.
O grau de decomposição da matéria orgânica é muito variável e depende do tipo
de material que está sofrendo decomposição, por isso, alguns compostos são
rapidamente decompostos e outros são muito resistentes a decomposição.

4.3. Mineralização e Imobilização

A imobilização ocorre, geralmente, na fase inicial de decomposição de resíduos


frescos adicionados, quando cresce consideravelmente, o número de organismos de
finalidades gerais e há por parte destes organismos uma grande demanda por elementos
minerais, como: N, P, S, etc.
A mineralização ocorre na fase final de decomposição de resíduos frescos
adicionados, quando decresce consideravelmente, o número de organismos de
finalidades gerais e entram em ação organismos de finalidades específicas, tais como
bactérias nitrificadoras. Por exemplo, veja como ocorre a mineralização do nitrogênio
orgânico do solo:

N (orgânico)  NH4+  NO2-  NO3-


     
Amonificação  Nitritação  Nitratação 
  
Amônio Nitrito Nitrato

4.4. Relação C/N

É a proporção entre o Carbono e o Nitrogênio da matéria orgânica. Nos solos a


relação C/N do húmus é em torno de 10:1 a 12:1; nos tecidos vegetais é muito variável,
nas leguminosas jovens pode chegar a 20:1, porém em palha de arroz, por exemplo, a
C/N é em torno de 100:1.
Esta relação é de fundamental importância quando se adiciona tecidos vegetais ao
solo, ou seja, quanto maior for a relação C/N do material incorporado, maior será o tempo
de imobilização dos nutrientes essenciais ao desenvolvimento vegetal.

4.5. Processo de humificação da matéria orgânica

No processo de humificação da matéria orgânica, apenas 35% do carbono dos


tecidos vegetais incorporados ao solo é convertido em húmus, sendo o restante dissipado
na forma de CO2.
Oxidação
-[ C, 4H ] + 2O2  CO2 + 2H2O + ENERGIA
 Enzimática 
 
Apenas 35% do C O restante do C
é aproveitado na se perde na forma
formação do húmus. de CO 2

21
Exemplo prático:

Se uma tonelada (t) de material palhento, contendo 40% de C e 0,5% de N for


incorporado ao solo, quantos Kg de N serão necessários para a conversão de 35% de C
em húmus ?

1000 Kg de material palhento: 400 kg de C


5 kg de N

C/N - 80/1

Dos 400 kg de C, 35% será convertido em húmus, o que corresponde a 140 kg de


C.
Considerando que a relação C/N do húmus no final do processo será igual a 10:1,
isto significa que para converter os 140 kg de C serão necessários 14 kg de N.
O material que foi incorporado só fornece 5 kg de N, o que corresponde a um
déficit de 9 kg de N. Esta quantidade de N será temporariamente imobilizada no solo
pelos microrganismos ou poderá ser suprida com fertilizante nitrogenado químico.
Neste exemplo fica demonstrado que, quanto maior for a relação C/N do material
incorporado, maior demanda haverá por parte dos microrganismos por nutrientes
essenciais à vida das plantas.

4.6. Determinação do teor de matéria orgânica do solo

Pode-se determinar a matéria orgânica do solo por processos diretos e indiretos.


Os processos diretos são aqueles em que a matéria orgânica é destruída por
aquecimento ou por ataques sucessivos com água oxigenada.
Os métodos indiretos se baseiam na determinação do teor de C ou de N,
calculando-se o teor de matéria orgânica a partir de um desses valores:

Matéria orgânica (%) = C (%) x 1,724


Matéria orgânica (%) = C (%) x 1,923
Matéria orgânica (%) = N (%) x 20

Criticamente todos os métodos apresentam falhas e nenhum fornece resultados


corretos, mais apenas aceitáveis. Pode-se, também, afirmar que os processos mais
empregados são os baseados no conhecimento do teor de carbono orgânico.

4.7. Cálculo de uma adubação genérica baseada na incorporação dos restos de cultura e
no teor de matéria orgânica existente no solo:

Imagine que você irá plantar milho após milho e que você incorporou os restos de
cultura do plantio anterior. Da quantidade total que você incorporou, em média, é
aproveitável no plantio seguinte 30% do total de N incorporado.
É também admissível que a cada 1% de matéria orgânica existente no solo, 20 Kg
de N torna-se disponível por hectare.
Então, o cálculo de uma adubação de N para uma determinada produção
esperada, pode ser feito utilizando-se a seguinte expressão:

A = [ Necessidade da planta - Fornecido pelo solo ] x Eficiência

22
Balanço médio do N na cultura do milho.
Necessidade da cultura para produzir
Grãos, 10.000 Kg/ha x 1,4% de N...................................= 140 Kg +
Palhada, 10.000 Kg/ha x 1,1% de N............................... = 110 Kg
Total..................................................................................= 250 Kg/ha

Fornecido pelo solo


3% Matéria orgânica; 20 Kg de N/1% de Mat. Orgânica...= 60 Kg +
Resíduo da cultura, 30% do N da Palhada....................... = 33 Kg
Total...................................................................................= 93 Kg/ha

Necessidade via adubação


N = ( 250 - 93 ) / 0,75*.......................................................= 210 Kg/ha
* A eficiência média da adubação nitrogenada é de 75%.

Imagine que você irá utilizar como fonte de N, o sulfato de amônio que apresenta
20% de N, então você utilizará deste adubo:

100 Kg de sulfato de amônio...............20 Kg de N


X......................................210 Kg de N

X = 1050 Kg de sulfato de amônio

Isto significa que para obter uma produção de grãos de 10.000 Kg/há, mesmo
com a incorporação dos restos de cultura e o alto teor de matéria orgânica presente no
solo, você terá que utilizar mais de uma tonelada de fertilizante químico. Isto se atribuí a
baixa eficiência média das adubações químicas.

5. REAÇÃO DO SOLO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS VEGETAIS

Sabe-se que, genericamente, os solos apresentam uma reação ácida, neutra ou


alcalina.
Solos ácidos são comuns nas regiões onde a precipitação pluviométrica é elevada,
e os elementos alcalinos, principalmente, o Ca e o Mg, são lixiviados das camadas
superiores pelas águas carregadas de CO2, sendo substituídos nos coloídes pelos íons
H+.
Contrariamente, a alcalinidade resulta na acumulação de catíons, principalmente,
Ca, Mg, K e Na que provocam, na solução do solo, o predomínio dos íons OH - sobre os
H+. É característica das regiões áridas e semi-áridas, onde predomina a ascenção de
sais, junto a água capilar, sobre a lixiviação.
Determinados processos que ocorrem no solo e no sistema solo-planta, sejam
naturais ou provocados pelo homem, influenciam marcadamente a reação do solo. A
absorção radicular, a nitrificação do nitrogênio, a oxidação biológica do enxofre, a
humificação da matéria orgânica, o uso de adubos amoniacais e a erosão, tendem a
acidificar o solo. Todos estes processo resultam na concentração e/ou liberação de íons
H+ na solução do solo.
Os solos podem também, tornarem-se mais ácidos quando as colheitas removem
as bases. Culturas diferentes removem quantidades diferentes de cálcio e magnésio,
como pode ser visto na Tabela 9. As Leguminosas geralmente contêm maiores
23
quantidades destes nutrientes do que as plantas não leguminosas. As quantidades de
cálcio e de magnésio também variam, de acordo com a parte da planta que é removida.
A expressão da reação do solo é a medida do seu pH que mede a concentração
hidrogeniônica da solução do solo.
Existem no solo íons H+ em vários “estados” que contribuem para a acidez: há os
íons H+ livres na solução; há os adsorvidos á superfície das partículas coloidais; e há,
também, os íons H+ combinados e que podem dissociar-se, como alguns que fazem parte
de compostos orgânicos e de monômeros e polímeros de alumínio.

Tabela 9. Estimativa das quantidades de cálcio e magnésio removidas pelas culturas.


Cultura Produção Remoção (Kg/ha)
_________________
Ca Mg
Alfafa 20t (feno) 224 45
Milho 9t (grãos) 2 16
11t (colmo + sabugo) 29 34
Algodão 1,2t (fibra) 2 3
2,4t (ramos + folhas) 31 20
soja 3,4t (grãos) 8 17

Quando se faz a calagem de um solo, deve-se aplicar uma quantidade de


corretivo, não só para neutralizar os íons H+ livres da solução, mas também aqueles
retidos em formas menos ativas, porque, à medida que a neutralização se processa se dá
a ionização destes íons H+ que passam para a solução do solo. Pode-se, então,
considerar a acidez total do solo constituída de duas partes: acidez atual ou ativa e acidez
potencial ou de reserva.
A interpretação da reação do solo varia um pouco nos diversos laboratórios do
País. A Tabela 10 mostra a interpretação, segundo a ESALQ (Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”).

Tabela 10. Interpretação da reação do solo, segundo a ESALQ (Escola Superior de


Agricultura “Luiz de Queiroz”).
________________________________________________________
pH INTERPRETAÇÃO
________________________________________________________
< 5,0 Acidez elevada
5,0 - 5,9 Acidez média
6,0 - 6,9 Acidez fraca
7,0 Neutro
7,0 - 7,8 Alcalinidade fraca
> 7,8 Alcalino
________________________________________________________

A experimentação tem demonstrado que as plantas suportam variações um tanto


amplas de pH, porém a faixa entre 6,0 e 6,5 tem sido confirmada por diversos
pesquisadores, como ideal para a maioria das culturas agrícolas.
Pode-se verificar a influência da reação do solo sobre a produção de algumas
culturas, através dos dados da Tabela 11.
Os nutrientes minerais essenciais existentes no solo só serão aproveitados pelas plantas
se estiverem dissolvidos na solução do solo ou retidos à superfície das partículas
24
coloidais de tal modo que possam ser facilmente deslocados dessa posição: os
elementos que se encontram nessas formas se denominam “disponíveis”.
O pH controla a solubilidade dos nutrientes do solo exercendo, por isso,
considerável influência sobre a absorção dos mesmos pelas plantas.
Em solos fortemente ácidos, diversos elementos, mesmo, os considerados
essenciais, podem se tornar tóxicos às plantas, como no caso do Fe, Cu, Zn, B e Mn.
Solos de reação fortemente ácida, apresentam uma elevada concentração de íons
+
H , que provocará uma alta solubilização dos óxidos hidratados de Al, tornando-o livre em
solução, determinando ao mesmo tempo, predomínio deste elemento no complexo sortivo
do solo. Este efeito é extremamente negativo ao desenvolvimento vegetal, pois o Al,
mesmo em baixas concentrações é altamente tóxico às plantas.

5.1. Correção da acidez

Há vários processos destinados à avaliação da quantidade de calcário necessária


para corrigir a acidez do solo.
O método da incubação de amostras de solo com quantidades crescentes de
CaCO3, durante um certo período, até que o equilíbrio seja alcançado, permite
estabelecer uma curva por meio da qual a necessidade de calcário pode ser determinada
para se obter um pH desejado. Este método é muito preciso e serve como padrão para se
correlacionar as doses de calcário estimadas por outros métodos.

Tabela 11. Produções relativas de algumas culturas em diferentes níveis de reação do


solo. A produção mais elevada em relação a cada cultura é considerada igual a 100 e as
demais são expressas como percentagens dela.
________________________________________________________
CULTURA PRODUÇÃO MÉDIA NO pH
________________________________________________________
4,7 5,0 5,7 6,8 7,5
________________________________________________________
MILHO 34 73 83 100 85
TRIGO 68 76 89 100 99
AVEIA 77 93 99 98 100
CENTEIO 0 23 80 95 100
ALFAFA 2 9 42 100 100
TREVO DOCE 0 2 49 89 100
TREVO VERMELHO 12 21 53 98 100
SOJA 65 79 80 100 93
________________________________________________________

O método da saturação de bases é bastante difundido nas regiões Sul e Sudeste


do País. O método consiste em elevar a saturação de bases do solo a um determinado
valor desejável, onde a necessidade de calcário é calculada pela expressão:

N.C. = ( V2 - V1 ) . CTC / PRNT

onde:
N.C. - Necessidade de calcário (t/ha) para uma camada de solo de 20 cm de espessura.
V1 - Saturação de bases (em %), determinada pela análise de solo.
V2 - Saturação de bases (em %), desejada em valor adequado para cada cultura.
CTC - Capacidade de troca de cátions ( cmolc dm-3 ), determinada pela análise de solo.

25
PRNT - Poder relativo de neutralização total do calcário a ser utilizado, informado pela
indústria produtora.

O método do Alumínio trocável e o método do Ca + Mg trocáveis, largamente


utilizados em alguns Estados do País, inclusive em Pernambuco, mostra-se eficiente para
elevar o pH dos solos e reduzir a saturação por alumínio em solos ácidos.
A quantidade de calcário calculada é baseada nas seguintes expressões:

N.C. = f x Al trocável ou N.C. = f x [ X - ( Ca + Mg trocáveis ) ]

onde:
Q - Quantidade de calcário puro (t/ha) para uma camada de solo de 20 cm de espessura.
f - Fator de calagem, podendo assumir os seguintes valores, dependendo da classe
textural do solo: 1,5 para solos arenosos (argila<15%); 2,0 para solos com argila
entre 15 e 35%; e 2,5 para solos argilosos (argila>35%).
X - Segundo fator de calagem, podendo assumir os valores: 2 ou 3, dependendo da
exigência da cultura em cálcio e magnésio.
Al trocável - Determinado pela análise de solo (cmolc dm-3)
Ca + Mg trocáveis - Determinados pela análise de solo (cmolc dm-3).

Em Pernambuco, para recomendar a necessidade de calcário, deve-se calcular a


quantidade do corretivo pelos dois métodos, o que for maior é que deve ser a quantidade
recomendada.

5.2. Correção da alcalinidade

Em solos de regiões áridas e semi-áridas é comum a presença de solos


halomórficos de reação neutra a alcalina, devido a grande concentração de sais na
superfície, resultante do processo de ascensão capilar. Dependendo da intensidade deste
processo, estes solos podem se tornar improdutivos, sendo sua recuperação bastante
onerosa e antieconômica. A Tabela 12 relaciona os critérios utilizados e os limites
admitidos para a classificação dos solos halomórficos.

Tabela 12. Classificação dos solos halomórficos.


________________________________________________________
SOLO C.E. (dS m-1 a 250C)1 pH PST(%)2
________________________________________________________
SALINO >4 < 8,5 <15
SALINO-SÓDICO >4 < 8,5 >15
SÓDICO <4 > 8,5 > 15
________________________________________________________
1
Condutividade elétrica do extrato de saturação; 2 Percentagem de sódio trocável.

A correção de solos salinos é baseada no cálculo de uma lâmina de lixiviação que


dependerá do teor de sais na água utilizada, da tolerância das culturas ao sal, aliada a
um satisfatório sistema de drenagem.
No caso dos solos salino-sódicos e sódicos antes de se aplicar uma lâmina de
lixiviação é necessário utilizar-se um corretivo para reduzir a concentração do sódio no
complexo sortivo do solo. Alguns corretivos podem ser utilizados, como: gesso, enxofre,
ácido sulfúrico, cloreto de cálcio, etc. O gesso é o corretivo mais utilizado por ser de custo

26
relativamente reduzido e de fácil obtenção. Este processo é denominado de gessagem e
a quantidade de gesso pode ser determinada pela seguinte expressão:

N.G. = [ ( PSTi - PSTf ) . CTC . 86 . h . Ds ] / 100

onde:
N.G. - Necessidade de gesso(kg ha-1).
PSTi - Percentagem de sódio trocável em que o solo se encontra (%).
PSTf - Percentagem de sódio trocável final desejável (%).
CTC - Capacidade de troca de cátions do solo (cmolc dm-3).
86 - Peso do equivalente químico do gesso (CaSO4 . 2H2O).
h - Profundidade do solo que se deseja recuperar (cm).
-3
Ds - Densidade do solo (g cm ).

6. O USO DE FERTILIZANTES

6.1. Nitrogenados

O nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes para as plantas e, com


freqüência, o mais limitante à produção das culturas em geral, exceto as leguminosas.
A fertilização nitrogenada é uma complementação à capacidade de suprimento de
nitrogênio dos solos, a partir da mineralização de seus estoques de matéria orgânica,
geralmente altos em relação às necessidades das plantas.
Em função de sua forma de atuação e das condições gerais de emprego é habitual
classificar os fertilizantes nitrogenados em orgânicos e químicos, cuja seleção de uma ou
outra forma depende dos fatores e condições do solo, das condições climáticas, da
velocidade de atuação e do valor econômico.
Os fertilizantes nitrogenados orgânicos são provenientes da mineralização dos
resíduos vegetais e animais, através da ação efetiva da microbiota do solo. Pertencem a
essa classificação o esterco eqüino (1,44%N), o esterco bovino (1,67%N), o esterco suíno
(1,86%N), o esterco de galinha (2,76%N), a torta de amendoim (7,65%N), a torta de coco
(4,37%N), a torta de soja (6,56%N), a torta de usina de cana-de-açúcar (2,19%N), cascas
de castanha de caju (0,74%N), borra de café (2,30%N), sangue seco (11,80%N), entre
outros.
Os fertilizantes nitrogenados químicos são subdivididos em quatro grupos.
Os amoniacais, que apresentam o nitrogênio na forma amoniacal, como a amônia anidra
(82%N), as soluções amoniacais (20%N), o sulfato de amônio (21%N), o cloreto de
amônio (25%N), o fosfato de monoamônio-MAP (9%N), o fosfato diamônio-DAP (16%N),
o fosfosulfato de amônio (13%N). Os nítricos, que apresentam o nitrogênio na forma
nítrica, como o nitrato de sódio (16%N), o nitrato de potássio (13%N), o nitrato de cálcio
(16%N), o nitrofosfato (14%N). Os nítrico-amoniacais, que apresentam o nitrogênio nas
formas nítrica e amoniacal, como o nitrato de amônio (32%N), o nitrato de amônio e
cálcio (20%N), o nitrosulfocálcio (25%N), o sulfonitrato de amônio (25%N), o sulfonitrato
de amônio e magnésio (19%N). Os amídicos, que apresentam o nitrogênio na forma
amídica, como a uréia (44%N), a uréia formaldeído (35%N), a uréia revestida com
enxofre (39%N) e a crotonilidina diuréia (28%N).
Devido à sua alta mobilidade, a quantidade total de nitrogênio adicionada com os
fertilizantes nitrogenados deve ser aplicada de forma fracionada, a fim de que a planta
possa encontrar no solo o nitrogênio que necessita, nos períodos críticos do seu ciclo
vital.

27
6.2. Fosfatados

As fontes minerais de fósforo são todas originadas de rochas fosfáticas,


conhecidas como “fosfatos naturais”, que são encontrados na forma de compostos de
ferro, alumínio e de cálcio. Os fosfatos de ferro e de alumínio têm sua solubilidade
aumentada com a elevação do pH do solo. Os fosfatos de cálcio (apatitas e fosforitas),
por sua vez, são mais solúveis em solos com pH ácido.
No comércio, são encontradas fontes naturais de fósforo e fontes industrializadas,
obtidas a partir das naturais.

a) Fosfatos naturais
Os fosfatos naturais de maior ocorrência são as apatitas. Esses fosfatos possuem
um teor considerável de fósforo total (24 a 27% de P 2O5 total), contudo, de baixa
solubilidade. A solubilidade desses materiais é aumentada em meio ácido.

b) Superfosfato simples
Obtido por meio da mistura estequiométrica de H2SO4 com fosfatos naturais
(apatitas). Possui, no mínimo, 18% de P2O5 solúvel em solução de citrato neutro de
amônio (CNA), 11% de S e 19% de Ca.

c) Superfosfato triplo ou concentrado


Obtido a partir da mistura estequiométrica de H3PO4 com fosfatos naturais
(apatitas). Possui 43% de P2O5 solúvel em CNA e 13% de Ca.

d) Escória de Thomas
É um subproduto da indústria do aço. Possui 17% de P 2O5 total, 12% de P2O5
solúvel em ácido cítrico (AC) a 2%, 25% de Ca e pequenas quantidades de Si, Mg, Fe e
Mn.
e) Termofosfato
Obtido pela fusão a 1450oC de fosfato natural (apatita ou fosforita) com uma rocha
magnesiana (serpentina). Contém 18% de P 2O5 total, 16,5% de P2O5 solúvel em AC a
2%, 20% de Ca e 9% de Mg.

f) Fosfato monoamônio (MAP)


Obtido por meio da neutralização parcial de H3PO4 pela amônia. Possui 48% de
P2O5 solúvel em CNA e 9% de N.

g) Fosfato diamônio (DAP)


Obtido por meio da neutralização parcial de H3PO4 pela amônia. Possui 45% de
P2O5 solúvel em CNA e 16% de N.

h) Parcialmente acidulado
Obtido pela reação do fosfato natural (apatita) com uma quantidade de ácido
sulfúrico inferior à necessidade estequiométrica para a reação completa. Contém 26% de
P2O5 total, 10% de P2O5 solúvel em CNA, 25% de Ca e 6% de S.

i) Farinha de ossos autoclavados


Possui 20% de P2O5 total, 16% de P2O5 solúvel em AC a 2%, 1,5% de N e 22% de
Ca.

28
6.3. Potássicos

O potássio constitui, juntamente com o nitrogênio e o fósforo, o grupo denominado


de elementos nobres da fertilização. É de ocorrência generalizada na natureza,
aparecendo sempre em formas combinadas inorgânicas ou, no solo, em forma iônica.
A fertilização potássica tem que garantir uma concentração de K na solução do
solo suficientemente alta para satisfazer as necessidades da planta nos períodos em que
o elemento é mais exigido. Este objetivo poderá ser alcançado quando forem evitadas
perdas por lixiviação e fixação.
A eficiência dos fertilizantes potássicos depende sistematicamente da maneira de
como são aplicados e das condições do solo a ser fertilizado. Diante disso, pode-se inferir
algumas sugestões quanto ao uso do potássio no solo:
a) solos naturalmente pobres em potássio requerem adições frequentes e moderadas.
b) práticas culturais que melhoram as condições de aeração do solo (aração, gradagem,
drenagem), bem como aquelas que evitam as perdas por lixiviação (adição de matéria
orgânica e calagem) e por erosão (plantio em nível, terraço, etc) tendem a promover
um melhor aproveitamento do K no solo.
c) A tendência para o equilíbrio entre o K não trocável, trocável e em solução e as perdas
às quais o K solúvel está sujeito, sugerem dois princípios básicos para a adição de K
como fertilizante: o primeiro é que o elemento deve ser aplicado parceladamente em
lugar de toda a quantidade necessária de uma só vez; o segundo é que se deve
concentrar o K no sulco ou na cova de plantio, sempre que possível.

Os fertilizantes potássicos mais utilizados são: cloreto de potássio (60% de K 2O),


sulfato de potássio (50% de K2O), sulfato duplo de potássio e magnésio (22% de K 2O) e
nitrato de potássio (44% de K2O).

6.4. Orgânicos

Fertilizantes orgânicos são todos aqueles produtos que, adicionados ao solo, têm
como objetivo fundamental produzir húmus e contribuir, desta forma, para manter, ou
elevar, o equilíbrio húmico dos solos cultivados. É possível que esses produtos
contenham, também, outros elementos fertilizantes, porém, este aspecto deve ser
considerado secundário.
A Legislação Brasileira através do Decreto 86.955 de 18.02.82, considera
fertilizantes orgânicos os produtos de origem vegetal ou animal, classificados em três
categorias: (a) fertilizante orgânico simples (fertilizante de origem vegetal ou animal
contendo um ou mais nutrientes das plantas), (b) fertilizante organomineral (fertilizante
procedente da mistura ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos), e (c)
fertilizante composto ou, simplesmente, composto (fertilizante obtido por processo
bioquímico, natural ou controlado, com mistura de resíduos de origem vegetal ou animal).
A eficiência dos fertilizantes orgânicos para melhorar a produtividade do solo
depende de alguns fatores que devem ser considerados: (a) qualidade e quantidade de
aplicação; (b) épocas e condições de utilização; (c) métodos de aplicação; (d)
adequabilidade aos sistemas agrícolas predominantes na região; (e) custo relativo de sua
utilização.
A matéria orgânica favorece o aumento da produção, ao melhorar as propriedades
físicas, químicas e biológicas do solo. Na Tabela 13., resumem-se os principais efeitos da
matéria orgânica no solo. É necessário dizer que os diferentes tipos de húmus contribuem
de maneiras diferentes para esses efeitos. Em geral, quanto mais avançado o nível de

29
humificação (relação C/N mais baixa) mais próximos estarão seus efeitos aos
assinalados na referida Tabela.

TABELA 13. Principais efeitos da matéria orgânica nos solos cultivados


PROPRIEDADES DO SOLO EFEITOS DA MATÉRIA
ORGÂNICA HUMIFICADA
FÍSICAS
Aumento da capacidade calorífica
Solos mais quentes na primavera
Redução das oscilações térmicas
Agregação de partículas
elementares
Aumenta a estabilidade estrutural
Proporciona coesão nos solos
arenosos
Aumenta a permeabilidade hídrica
e gasosa
Solos menos encharcados
Facilita a drenagem
Reduz a erosão
Aumenta a capacidade de
retenção hídrica
Reduz a evaporação
Melhora o balanço hídrico
QUÍMICAS
Aumento do poder tampão
Regula o pH
Aumenta a capacidade de troca
catiônica
Mantêm os cátions em formas
trocáveis
Formação de fosfohumatos
Formação de quelatos
Mantêm as reservas de nitrogênio

30
BIOLÓGICAS
Favorece a respiração radical
Favorece a germinação das
sementes
Regula a atividade microbiana
Fonte de energia para os
microrganismos heterotróficos
Modifica a atividade enzimática
Melhora a nutrição mineral dos
cultivos
Ativa a rizogênese
Favorece a solubilização de
compostos minerais
Inibe o efeito de algumas toxinas

6.5. Micronutrientes

Alguns elementos químicos são essenciais para o desenvolvimento das plantas.


Desses elementos, alguns são exigidos em grandes quantidades e outros em pequenas
quantidades e, por isso, comumente chamados de micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo
e Zn). Eles são de natureza essencialmente inorgânica e sua disponibilidade é muito
variável, principalmente em cultivos intensivos, quando ocorrem alterações nas práticas
de manejo do solo ou quando, de alguma maneira, haja esgotamento desses nutrientes
sem a devida reposição por fertilizantes.
O teor de micronutrientes na matéria seca das plantas é, como regra, muito menor
que o dos macronutrientes, sendo por isso, expressos quase sempre em partes por
-1
milhão (ppm), mg kg , por exemplo. Por isso, enquanto as necessidades dos
macronutrientes são dadas em dezenas (às vezes centenas) de quilos por hectare, as
exigências dos micronutrientes são medidas em gramas por hectare.
O conhecimento da ocorrência, reação e movimento no solo é de muita
importância para se analisar o comportamento dos micronutrientes no sistema solo-
planta. Eles podem ser encontrados no solo, tanto complexados com a parte orgânica,
como na forma inorgânica. A fração orgânica do solo é muito complexa e compõe-se de
uma grande variedade de compostos solúveis e insolúveis que são capazes de reagir
com os micronutrientes.
A capacidade do solo de reter micronutrientes depende das suas propriedades
químicas, físicas e biológicas, assim como da forma química em que o elemento foi
aplicado. Dentre os fatores que influem na retenção dos micronutrientes podem ser
citados: a textura, o pH, a umidade, o teor de matéria orgânica, o teor de óxidos de ferro,
alumínio e manganês, a espécie e a concentração dos constituintes da solução do solo.

Normalmente, a solubilidade, e conseqüentemente a movimentação dos


micronutrientes catiônicos (Zn, Cu, Fe e Mn), aumenta com a diminuição do pH do solo.
De maneira inversa, a mobilidade do ânion molibdato aumenta com o aumento do pH.

31
Embora as necessidades de micronutrientes das culturas sejam pequenas, suas
deficiências têm aparecido com muita frequencia, principalmente devido ao uso crescente
de fertilizantes bastante concentrados.
Há pelo menos três classes de produtos portadores de micronutrientes que são
usados para prevenir ou corrigir deficiências: óxidos, ácidos e sais minerais; silicatos
complexos; quelatos naturais ou sintéticos.
Os fertilizantes contendo micronutrientes podem ser aplicados no tratamento de
sementes, na pulverização foliar e diretamente no solo, isoladamente ou em mistura com
os fertilizantes portadores de macronutrientes.
As quantidades que podem ser aplicadas com as sementes são limitadas e por
isso o tratamento pode não ser suficiente para garantir o fornecimento necessário do
elemento. As aplicações foliares da maioria dos micronutrientes são eficientes, mas em
geral exigem sua repetição o que aumenta o custo da operação. Por outro lado, a
aplicação isolada do micronutriente no solo também implica em aumento de custos.
Porém, a desvantagem mais séria do uso isolado, é a dificuldade em se distribuir de
modo uniforme a pequena quantidade exigida pelas culturas. Por tudo isso, é muito viável
a prática de se distribuir o micronutriente previamente misturado com os demais
fertilizantes no planejamento das fertilizações rotineiras e freqüentes.

7. RECOMENDAÇÃO DE FERTILIZANTES

Para que se possa fazer uma indicação correta de adubação, é indispensável o


conhecimento do nível atual de fertilidade do solo a ser cultivado. É através da análise
química da amostra do solo que se determina a sua fertilidade, permitindo o
conhecimento prévio das quantidades dos nutrientes e da necessidade de correção
destes e da reação do solo.
As análises são processadas em pequenas quantidades de solo e assim,
facilmente, verifica-se a importância que representa a amostragem. Pouco valor terá uma
análise feita com todo rigor, se a amostra não for representativa da área a ser cultivada.
Por essa razão, é de máxima importância que a amostragem do solo seja bem
executada e é indispensável que as recomendações a seguir expostas, sejam seguidas
com todo o cuidado:

7.1. Amostragem

Por definição, amostragem é o processo de obtenção da amostra para ser


analisada como representante de um todo. Estatisticamente, é o conjunto de métodos
utilizados na obtenção de amostras representativas de uma população. Nesta linha de
raciocínio, amostra é a parte ou unidade de um produto natural, neste caso o solo, que se
obtém para representar uma área homogênea.
A amostragem de solo é a primeira etapa de um programa para avaliação da sua
fertilidade. Portanto, o conhecimento da condição da fertilidade do solo no âmbito de uma
área cultivada ou não, permite o emprego das mais confiáveis práticas de manejo de
fertilizantes e de corretivos.
Considerando que não é possível analisar o campo como um todo, e sabendo-se
que um dos aspectos mais importantes associados com análises de solo para
diagnosticar a sua fertilidade, é a obtenção de uma amostra que represente a área a ser
testada, lança-se mão dos recursos teóricos da amostragem. É necessário deixar claro
que a amostra entregue ao laboratório deve representar o solo da área em que se
pretende implantar ou manter uma cultura.

32
Uma amostra de solo que não é representativa da área da qual foi coletada, dá
origem a resultados desprovidos de confiabilidade e poderá provocar perda de
investimento para o produtor rural, tendo em vista que se pode estar aplicando ao solo,
mais (ou menos) fertilizantes e/ou corretivos do que são necessários para a cultura.
Também poderá acarretar perdas de tempo, de reagentes e o que é indesejável, da
credibilidade do laboratório.
Tendo em vista que um hectare de solo, cuja amostra composta foi coletada à
profundidade de 20 cm e cuja densidade aparente (global) é de 1,2 g/cm-3, tem a massa
de 2.400.000 kg e sabendo-se que a amostra quando remetida ao laboratório, tem a
massa de cerca de 500 g, e finalmente que, apenas 12 g (10 ml) serão usados em cada
determinação, infere-se que as técnicas da amostragem devem ser rigorosamente
seguidas. Portanto, o resultado analítico dessa pequena fração de solo, deverá refletir a
fertilidade da massa desse hectare.

7.2. Seleção da área

O solo é um sistema dinâmico do ponto de vista biológico, físico e químico. Todo


solo apresenta variabilidade de características, devido aos fatores de formação, os quais
variam entre e dentro de locais. Há três direções de variação que podem ocorrer quando
se aceita que uma amostra possa estimar os parâmetros da fertilidade do solo, a saber:
vertical, horizontal e tempo. Variação em qualquer dessas fontes, conduz a uma
recomendação de fertilizantes e/ou de corretivos incorreta. Portanto, um programa de
análise de solo para dar assistência aos agricultores é posto em risco, se as regras
analíticas e a teoria da recomendação forem aplicadas a uma amostra não
representativa. Com o propósito de garantir a representatividade das amostras, a área
deverá ser dividida em sub-áreas homogêneas, identificando-as por número ou por nome.
Em cada uma dessas sub-áreas, serão coletadas amostras simples, com as quais,
preparar-se-á a amostra composta.
Cada área onde se irá executar a amostragem, deverá conter características
uniformes. A uniformidade é aceita, quando se obedece aos seguintes aspectos:
topografia; cobertura vegetal (ou cultura); tipo de solo e cor; bem como, textura; grau de
erosão; drenagem e finalmente, histórico da utilização, especificamente concernente ao
uso de fertilizantes e de corretivos.

7.3. Tipos de amostra

a) Amostra Simples
A que representa apenas um indivíduo, ou seja, um volume de solo proveniente de
um ponto na área e numa profundidade única.

b) Amostra Composta
A oriunda da homogeneização das amostras simples. É o indivíduo que representa
a área.

A área da propriedade deve ser dividida em subáreas. Considerando a


variabilidade do terreno, a subárea não deve ser superior a 20 ha e a máxima tolerável é
de 40 ha. Em geral, não é conveniente amostrar áreas maiores que 10 ha. Se, entretanto,
a propriedade for extensa, o que a torna impraticável amostrar completamente,
recomenda-se selecionar algumas áreas representativas de situações diferentes.

33
É importante ter um mapa ou fazer um croqui da propriedade, indicando a posição
das áreas que serão amostradas e identificadas. O croquí deve ser guardado junto com
os resultados analíticos, para acompanhamento da evolução da fertilidade do solo nos
anos subseqüentes.
Dependendo da maneira como o solo vem sendo usado, as subáreas terão as
seguintes dimensões ( Tabela 14.):

Tabela 14. Tamanho das subáreas homogêneas, segundo o uso

Pastagem natural 5 - 10 ha
Terreno plano com culturas anuais 2 - 7 ha
Terreno erodido com culturas anuais 1 - 2 ha
Terreno irrigado com culturas anuais 0,5 - 1 ha
Pomar (fruticultura) 0,5 - 1 ha
Hortaliças irrigadas 0,5 - 1 ha

7.4. Número de amostras simples a coletar, por amostra composta

Após a divisão da área e a identificação das subáreas, o número de amostras


simples para formar uma amostra composta, é estabelecido (Tabela 15.)

Tabela 15. Número de amostras simples para formar uma composta.

Área No amostras simples/composta


Menor que 3 ha 15
de 3 a 5 ha 20
de 5 a 7 ha 25 a 30

A retirada de um número superior a 20 amostras simples por hectare,


provavelmente não aumentará de maneira significativa a precisão da amostragem, no
que concerne à representatividade. Em contrapartida, mesmo que a área seja
considerada homogênea, não se deve coletar menos de 10 amostras simples por hectare
para compor a amostra composta.
São injustificadas e tecnicamente erradas as simplificações realizadas na prática,
com amostragem efetuada em poucos pontos e até mesmo em apenas um. Amostras
coletadas em tais condições, podem distorcer seriamente a situação real da fertilidade da
área, conduzindo a recomendações inadequadas.

7.5. Época e freqüência da amostragem

A época exata de coleta da amostra de solo não é definida rigorosamente.


Entretanto, amostragem executada imediatamente após a fertilização, não é correta. Ela
poderá ser efetuada em qualquer época do ano, entretanto, considerando-se o tempo
gasto para que a amostra chegue ao laboratório; o processamento analítico da amostra e
o recebimento dos resultados pelo interessado, é ideal que a amostragem seja realizada
no mínimo com 60 dias antes da aração, da fertilização, da aplicação e incorporação do
corretivo e do plantio. É conveniente lembrar que o calcário após a incorporação,
demanda mais de 30 dias para reagir, corrigindo a acidez do solo. Para a maioria das
culturas anuais do Estado, o ideal será proceder a amostragem no início da estação seca,
e para as culturas perenes, logo após a colheita.

34
A análise de solo deve ser repetida em intervalos que podem variar de 1 a 4 anos,
dependendo da intensidade da fertilização e do número de culturas anuais consecutivas,
empregando-se maior freqüência para as áreas que receberam maiores aplicações de
fertilizantes.

7.6. Caminhamento

O raciocínio estatístico aplicado à teoria da amostragem é fundamental na


pressuposição de que cada observação é independente e identicamente distribuída. A
coleta de amostra de solo pelo método de ziguezague, é o procedimento que mais se
ajusta àquele raciocínio. Nessas condições, onde as áreas são percorridas por este
procedimento, as amostras compostas são homogêneas e representativas de cada
situação, considerando que as faixas de variação da fertilidade são exploradas.
Os pontos de coleta das amostras simples são determinados ao acaso, por
caminhamento pela subárea, em intervalos de 20 ou 30 passos. Deve-se evitar os locais
em que o solo natural está visivelmente modificado pela atividade de formigas , cupins ou
por outras razões: despejo de fertilizantes, de calcário, de cinza, de esterco etc. Devem
ser evitadas também, as proximidades de currais, construções, estradas, drenos e de
canais de irrigação, bem como, áreas encharcadas.

7.7. Profundidade de coleta das amostras simples

Para a maioria das culturas as amostras devem ser retiradas na camada de 0 a 20


cm.
No caso de áreas novas, principalmente aquelas destinadas à implantação de
culturas perenes, é ideal realizar a amostragem nas camadas de 0 a 20 cm; de 20 a 40
cm e de 40 a 60 cm. Este sistema permite ao técnico avaliar os solos das áreas onde as
culturas apresentarão mais problemas para o desenvolvimento normal das raízes em
profundidade, e sugerir medidas práticas de manejo para contornar seus efeitos nas
futuras produções.
Mesmo em culturas anuais, em algumas partes da área, é aconselhável coletar
amostras simples (pelo menos cinco por composta) na camada de 20 a 40 cm,
(separadas das amostras simples da camada de 0 a 20 cm), para saber como está se
comportando o solo nessa camada. A amostragem em camadas mais profundas,
permitirá ainda, acompanhar a evolução da fertilidade do solo em profundidade, levando
ao conhecimento mais detalhado de eventuais problemas de desbalanço nutricional, de
teor de alumínio tóxico e de salinidade.
Quando se conhece as profundidades dos horizontes genéticos do solo, as
amostras simples devem ser coletadas obedecendo às profundidades dos horizonte.
A padronização da profundidade da amostragem a 20 cm, tem a vantagem de
uniformizar o procedimento, permitindo a comparação dos resultados
Para uma mesma amostra composta, as amostras simples que lhe darão origem
deverão ser retiradas à mesma profundidade e contribuir com o mesmo volume de solo.
Admite-se que o resultado analítico obtido na amostra composta, seja equivalente à
média dos resultados que seriam conseguidos nas análises das amostras simples.
Apenas a estimativa da média será obtida através da amostra composta.

7.8. Instruções para coleta das amostras

No caso de área ainda não arada, antes da coleta, deve-se ter o cuidado de limpar
a superfície do solo nos locais escolhidos para retirar as amostras simples, removendo

35
resíduos não decompostos de tecido vegetal, folhas, talos, etc.; fezes de animais; pedras;
tomando-se a devida cautela para não remover a parte superficial do solo.
Se a amostragem for realizada com os restos da cultura anterior ainda no campo,
deve-se evitar a retirada de amostras simples nos sulcos de plantio. Se a cultura anterior
houver recebido mistura fertilizante nos sulcos, a coleta de amostras simples nos
mesmos, conduzirá a resultados analíticos indicando fertilidade maior do que a real,
devido ao efeito residual dos elementos fertilizantes que compõem a mistura,
principalmente, o fósforo. No caso de cultura anterior esgotante, por exemplo, milho, não
fertilizada, a amostragem apenas nos sulcos de plantio levaria a resultados mais baixos
do que aqueles do solo entre os sulcos, vez que houve extração de nutrientes pela
cultura. Convém deixar claro que, após a aração, caso não haja sido feita marcação
precisa, dificilmente os sulcos serão feitos exatamente nos locais onde a cultura anterior
foi plantada. Com a retirada das amostras simples apenas nas entrelinhas, não se estará
considerando o efeito residual dos fertilizantes, e ocorrerá também uma avaliação irreal
da área. Do ponto de vista da melhoria da fertilidade do solo da propriedade como um
todo e do fornecimento de nutrientes para a cultura que será implantada, é preferível
realizar a amostragem nas entrelinhas da cultura anterior.
Quando a amostragem é executada em áreas de culturas perenes, já implantadas
e nunca fertilizadas, as amostras simples devem ser retiradas nos locais em que serão
feitas as aplicações de fertilizantes, isto é, na projeção das copas. Em áreas de culturas
perenes implantadas e que já receberam aplicações de fertilizantes na superfície, devem
ser coletadas duas amostras simples em cada local, sendo a primeira superficialmente
(de 0 a 5 cm) e a segunda subsuperficial, de 5 cm até a profundidade efetiva do sistema
radical; mas sempre retirando-as na projeção das copas; resultando desse modo duas
amostras por área homogênea.
No caso de culturas perenes já implantadas, a localização das amostras simples
pode seguir dois critérios: a)fazer a amostragem da área fertilizada na projeção da copa,
separadamente da área não fertilizada, (entrelinhas ou rua); portanto, duas amostra
compostas, cada uma contendo 20 amostras simples; b) efetuar a amostragem com uma
amostra composta, coletando metade das amostras simples na área fertilizada (projeção
da copa) e a outra nas entrelinhas.
Preferencialmente, as amostras deveriam ser coletadas com trados, mas há
situações em que o terreno está muito seco, tornando-se necessário o emprego do
enxadeco, alavanca ou cavador para abertura da cova. Nessas condições, é necessário
utilizar-se uma medida de volume definida, como uma pequena lata ou copo, com o
objetivo de atender-se a exigência de equivalência de volumes de solo para todas
amostras simples. Esse volume é obtido, após a homogeneização da terra da fatia à
profundidade escolhida. Nesse procedimento, é necessário que a fatia apresente a
mesma espessura em toda sua extensão, de forma a existir idêntica contribuição das
camadas que a compõe.
Os solos das amostras simples que formarão uma composta, são reunidos e
misturados em um recipiente (balde plástico com volume de 10 litros), previamente limpo;
sem de perigo de contaminação com material estranho.. No balde, as amostras simples
devem ser bem misturadas, quando então retira-se 400 ou 500 g para constituírem a
amostra composta. Essa será posta na caixa de papelão com as informações do
laboratório e na ausência dela, acondiciona-la em saco plástico limpo, contendo etiquetas
(interna e externa), com informações identificadoras.
É conveniente evitar a contaminação com cinza de cigarro, a qual altera
substancialmente o resultado analítico, principalmente o de potássio
Quando a área é cultivada com cana-de-açúcar, o número de amostras simples a
ser retirado no talhão (chã, encosta, etc.) dependerá também da área (Tabela 16)

36
TABELA 16. Número de amostras simples para formar uma composta.

Área do Talhão Número de amostras simples por composta


Cana planta Cana soca
Menor que 3 ha 15 18
de 3 a 5 há 20 27
Maior que 5 ha 25 a 30 36

Quando o talhão estiver ocupado com socaria, as amostras simples serão


coletadas caminhando-se, também em ziguezague, observando-se o seguinte
procedimento: para cada oito amostras simples coletadas nas entrelinhas, deve-se tirar
uma na fileira.

7.9. Acondicionamento das amostras

As amostras compostas, obtidas da maneira anteriormente descrita, devem ser


secas ao ar, em ambiente ventilado e protegido de contaminação, e acondicionada em
caixinhas de papelão plastificada internamente e preparadas pelo próprio laboratório.
Caso não haja disponibilidade das mesmas, usar sacos plásticos limpos. Não
acondicionar amostra molhada em saco plástico.
Se o solo estiver molhado, convém deixar secar as amostras simples ao ar; só
depois, mistura-las para tirar a amostra composta.

7.10. Metodologia de análise e interpretação dos resultados

No laboratório a amostra de solo é seca ao ar, destorroada, passada em peneira


de 2 mm de diâmetro e analisada segundo a metodologia proposta pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Nos laboratórios de rotina são realizadas as determinações de pH (H 2O); fósforo e
potássio “disponíveis”; alumínio, cálcio e magnésio trocáveis.
A determinação do pH é feita através de leitura em potenciômetro, na suspensão
de solo e água na razão de 1 : 2,5 , após tempo de contato não inferior a uma hora.
Para determinação dos teores de fósforo e de potássio é usado o extrator de
Mehlich 1 (H2S04 0,025 N + HCl 0,05 N). A relação solo/solução extratora é de 1:10 (10
3
cm de solo para 100 ml de solução extratora ).
O fósforo é determinado colorimetricamente, em alíquota do extrato, após
formação de complexo fosfo-molíbdico, na presença do ácido ascórbico, enquanto que o
potássio é obtido através do método de fotometria de chama.
Os resultados para fósforo são expressos em miligramas por decímetro cúbico (mg
dm ), e para potássio, em centimol de carga por decímetro cúbico (cmolc dm-3).
-3

O alumínio, o cálcio e o magnésio trocáveis são extraídos com solução de KCl


1mol L-1 usando-se, também a relação de 1:10 (10 cm 3 de solo/100 ml de solução
extratora).
A determinação do alumínio é feita através da titulação de uma alíquota do extrato
de solo com solução de hidróxido de sódio 0,025 N, em presença do indicador azul de
bromotimol.
Os teores de cálcio e magnésio juntos, também são determinados
volumetricamente, utilizando-se na titulação, a solução de ácido diamino tetracético
dissódico (EDTA) 0,025 N, sendo o eriochrome black-t usado como indicador.
Em outra alíquota do extrato do solo é feita a determinação do cálcio, mediante
titulação com solução de EDTA 0,025 N, usando-se ácido calconcarbônico como
indicador.

37
A concentração de magnésio é obtida pela diferença entre as determinações de
cálcio mais magnésio e de cálcio.
Os resultados dessas determinações são expressos em Centimol de carga por
decímetro cúbico (Cmolc dm-3).
Outras determinações poderão ser feitas a pedido dos interessados.
Obtidos os dados analíticos da amostra do solo, prossegue-se com a interpretação
dos resultados que é feita mediante o estabelecimento de níveis para os elementos.
Esses níveis são definidos a partir de estudos de correlação entre os teores do elemento
revelado pela análise e a produção relativa de uma determinada cultura, em uma dada
região. As curvas de calibração são preparadas a partir dessas correlações. Elas são
válidas para um dado elemento e obtidas através de resultados de pesquisas de
laboratório e experimentação de campo, em larga escala, requerendo grande
infraestrutura física e de pessoal técnico especializado.
Cada Estado tem suas próprias tabelas de recomendação de fertilizantes e
corretivos de solo que são largamente utilizadas pelos extensionistas para interpretar
análises de solo.

7.11. A prática da recomendação de fertilizantes

Os resultados das análises de fertilidade do solo vêm acompanhados de sugestões


de fertilização, geralmente expressas em kg ha-1 de N, P2O5 e K2O. Uma sugestão de 20-
80-40, por exemplo, indica que na fertilização deverão ser aplicados 20 kg ha-1 de N, 80
-1 -1
kg ha de P2O5 e 40 kg ha de K2O
Essa fertilização poderia ser atendida pela aplicação de fertilizantes simples ou
através de misturas já preparadas, conhecidas no comércio por fórmulas.
No caso de se adquirir os fertilizantes simples, são necessárias as seguintes
etapas:

a) Verificar a concentração dos nutrientes nos fertilizantes escolhidos (Tabela 17.), além
de sua compatibilidade.

Exemplo: Suponha que para atender a sugestão de fertilização acima citada, foram
escolhidas as seguintes fontes: uréia (44% de N), superfosfato simples (18% de P 2O5) e
cloreto de potássio (58% de K2O)

b) Calcular as quantidades dos fertilizantes simples

 Uréia (44% de N)

100 kg de uréia - 44 kg de N
X kg de uréia - 20 kg de N recomendados
20 x 100
X = -----------
44

X = 45,4 kg de uréia

 Superfosfato simples - SS (18% de P2O5)

100 kg de SS - 18 kg de P2O5
Y kg de SS - 80 kg de P2O5 recomendados

38
80 x 100
Y = ------------
18

Y = 444 kg de superfosfato simples

 Cloreto de potássio - KCl (58% de K2O)

100 kg de KCl - 58 kg de K2O


Z kg de KCl - 40 kg de K2O recomendados

40 x 100
Z = -----------
58

Z = 68,9 kg de cloreto de potássio

Por hectare deveriam ser aplicados aproximadamente 45 kg de uréia, 445 kg de


superfosfato simples e 70 kg de cloreto de potássio, totalizando 560 kg da mistura, para
atender a fertilização sugerida de 20-80-40 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente.
Para calcular a quantidade da mistura que deverá ser aplicada por metro de sulco
(Tabela 18) ou cova, necessita-se conhecer o espaçamento da cultura.
Suponha que a fertilização sugerida foi para o plantio de milho, no espaçamento de
0,80 m x 0,40 m.
Nesse espaçamento, um hectare (100 m x 100 m) conterá 12.500 metros lineares
de sulco, assim:
100 m (largura da área) / 0,80 m (espaçamento entre linhas) = 125 (n 0. de sulcos
na área)
125 x 100 m (comprimento da área ) = 12.500 metros lineares de sulco em um
hectare.

A quantidade da mistura a ser aplicada por metro de sulco, será o total da mistura,
dividido pelo número de metros lineares de sulco em um hectare.

No exemplo: total da mistura = 560 kg = 560.000 g


metros lineares de sulco em 1 hectare = 12.500 m
Quantidade da mistura a aplicar
por metro de sulco = 560.000 g = 44,8 g m –1
12.500 m

Se desejar fertilizar na cova, dividir o total da mistura, pelo número de covas de 1


hectare.

No exemplo: total da mistura: 560 kg = 560.000 g


n0 covas/hectare = área de um hectare
área da cova
área da cova = 0,80 m x 0,40 m = 0,32 m 2

n0.de covas/hectare = 10.000 m2 = 31.250 covas


0,32 m2

39
Quantidade da mistura
-1
a aplicar por cova = 560.000 g = 17,9 g cova
31.250 covas
ou 18 gramas da mistura por cova.

Nas fórmulas comerciais, os três números expressam a percentagem dos


nutrientes na mistura. Assim, uma fórmula 8-24-16 mostra a presença na mistura de 8%
de N, 24% de P2O5 e 16% de K2O, logo uma tonelada dessa fórmula contém 80 kg de N,
240 kg de P2O5 e 160 kg de K2O. Caso a escolha recaia sobre essa opção, deve-se,
primeiramente estabelecer a relação entre os nutrientes recomendados. A recomendação
de 20-80-40 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O respectivamente, corresponde a uma relação de
nutrientes de 1: 4: 2 e poderá ser atendida por uma fórmula que tenha essa mesma
relação. Para encontrá-la basta dividir cada percentagem por aquela de menor valor.
Considerando-se que se disponha das fórmulas: 5-10-10, 10-30-15, 6-24-12 e 20-10-
20 que apresentam relação 1: 2: 2; 1: 3: 1,5; 1: 4: 2; 2: 1: 2, respectivamente. Deve-
se escolher a fórmula 6-24-12 para atender a recomendação de 20-80-40 de N, P2O5 e
K2O, pois apresenta a mesma relação de nutrientes indicada para a fertilização.
Para calcular a quantidade da fórmula a ser aplicada por hectare, dividir a dose
do elemento recomendado, pelo teor do mesmo elemento existente na fórmula e
multiplicar o resultado por 100.

Por exemplo: Dose recomendada: 20-80-40 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O.

Fórmula indicada: 6-24-12


Quantidade a aplicar:

a) Tomando-se como base a dose de nitrogênio

100 kg da fórmula - 6 kg de N
X - 20 kg de N recomendados
X = 20 x 100
6
X = 333,33 kg ha-1 da fórmula 6 - 24 – 12

b) Tomando-se como base a dose de fósforo

100 kg da fórmula - 24 kg de P2O5


Y - 80 kg de P2O5 recomendados

Y = 80 x 100
24

Y = 333,33 kg ha-1 da fórmula 6 - 24 – 12

c) Tomando-se como base a dose de potássio

100 kg da fórmula - 12 kg de K2O


Z - 40 kg de K2O recomendados

Z = 40 x 100
12

40
-1
Z = 333,33 kg. ha da fórmula 6 - 24 - 12

Para o cálculo, basta usar apenas a dose de um dos nutrientes da fórmula , o


resultado será sempre o mesmo, pois as relações entre os nutrientes da fórmula é a
mesma da recomendada.
Outra maneira de calcular a quantidade da fórmula a aplicar é somar as doses dos
nutrientes recomendados, dividir pela soma dos teores dos nutrientes da fórmula e
multiplicar por 100.

Por exemplo: Dose recomendada: 20-80-40 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O.

- Fórmula indicada - 6-24-12

- Quantidade a aplicar (x) = (20+80+40) x 100


6+24+12

x = 140 x 100
42

x = 333,33 kg ha-1 da fórmula 6-24-12


Os exemplos mencionados mostram a facilidade desses cálculos. No entanto, nem
sempre as indicações de fertilização obedecem às relações exatas; porém, pequenas
variações são perfeitamente aceitáveis.

TABELA 17. Porcentagens de nutrientes nos fertilizantes orgânicos, inorgânicos e corretivos mais
utilizados em Pernambuco
PRODUTO N P2O5 K2O CaO MgO S B Cu Fe Mn Mo Zn
Esterco de curral 0,5 0,15 0,5 - - - - - - - - -
Esterco de galinha 2,5 1,8 1,5 - - - - - - - - -
Bagaço de cana 0,4 0,1 0,2 - - - - - - - - -
Torta de filtro 1,5 1,6 0,7 - - - - - - - - -
Sulfato de amônio 20,0 - - - - 24,0 - - - - - -
Nitrato de am. e calc. 27,0 - - 7,0 3,0 - - - - - - -
Sulfonit. Amônio 27,0 - - - - 15.0 - - - - - -
Uréia 44,0 - - - - - - - - - - -
DAP 16,0 43,0 - - - - - - - - - -
MAP 10,0 48,0 - - - - - - - - - -
Sup. Simples - 18,0 - 25,0 - 12,0 - - - - - -
Sup. Triplo - 41,0 - 14,0 - 1,4 - - - - - -
Fosfato bicálcico - 37,0 - 30,0 - - - - - - - -
Hiperfosfato - 30,0 - 40,0 - - - - - - - -
Cloreto de potássio - - 58,0 - - 17,0- - - - - - -
Sulfato de potássio - - 48,0 - - - - - - - - -
Sulf. de pot. e mag. - - 18,0 - 18,0 20,0 - - - - - -
Calcário cálcico - - - 40,0 5,0 - - - - - - -
Calcário dolom. - - - 25,0 20,0 - - - - - - -
Bórax - - - - - - 11,3 - - - - -
Ácido bórico - - - - - - 17,5 - - - - -
Sulf. de cobre - - - - - - - 25,5 - - - -
Sulf.ferroso - - - - - - - - 20,1 - - -
Sulf. Manganês - - - - - - - - - 24,6 - -
Molibdato amônio - - - - - - - - - - 48,9 -
Molibdato sódio - - - - - - - - - - 39,6 -
Sulfato zinco heptah 22,7
Óxido zinco - - - - - - - - - - - 75,0

41
TABELA 18. Quantidade de fertilizantes em sulco em função do espaçamento (expresso em
gramas por 10 metros lineares)
-1
kg ha de ESPAÇAMENTO EM METRO
fertilizante 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20 1,30 1,40 1,50
100 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150
150 75 90 105 120 135 150 165 180 195 210 225
200 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
250 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375
300 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420 450
350 175 210 245 280 315 350 385 420 455 490 525
400 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600
450 225 270 315 360 405 450 495 540 585 630 675
500 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750
550 275 330 285 440 495 550 605 660 715 770 825
600 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900
650 325 390 455 520 585 650 715 780 845 910 975
700 350 420 490 560 630 700 770 840 910 980 1.050
750 375 450 525 600 675 750 825 900 975 1.050 1.125
800 400 480 560 640 720 800 880 960 1.040 1.120 1.200
850 425 510 595 680 765 850 935 1.020 1.105 1.190 1.275
900 450 540 630 720 810 900 990 1.080 1.170 1.260 1.350
950 475 570 665 760 855 950 1.045 1.140 1.235 1.330 1.425
1.000 500 600 700 800 900 1.000 1.100 1.200 1.300 1.400 1.500
1.100 550 660 770 880 990 1.100 1.210 1.320 1.430 1.540 1.650
1.200 600 720 840 960 1.000 1.200 1.320 1.440 1.560 1.680 1.800
1.300 650 780 910 1.040 1.170 1.300 1.430 1.560 1.690 1.820 1.950
1.400 700 840 980 1.120 1.260 1.400 1.550 1.680 1.820 1.960 2.100
1.500 750 900 1.050 1.200 1.350 1.500 1.660 1.800 1.950 2.100 2.250

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