A Psicologia Social surgiu no século XX como uma intersecção entre a Psicologia
e a Sociologia, onde a recorrência de conflitos ideológicos neste período contribuiu para que seus pesquisadores e estudiosos colaborassem entre si, favorecendo, consequentemente, sua formação. A interdisciplinaridade com a Sociologia e a Psicologia convencionou destacar duas vertentes distintas inseridas na Psicologia Social como disciplina científica: a Psicologia Social psicológica e a sociológica.
Como o próprio nome sugere, a Psicologia Social psicológica se caracteriza pela
tendência à utilização de teorias próprias da psicologia, tais como Psicanálise, Behaviorismo etc., como instrumento para a atuação da Psicologia Social. Já a Psicologia Social sociológica tem como objeto de estudo os fenômenos sociais que surgem a partir da interação humana em grupos. A atuação do profissional deste campo, é definida pelo CFP da seguinte maneira:
I- Atua fundamentada na compreensão da dimensão subjetiva dos e
fenômenos sociais e coletivos, sob diferentes enfoques teóricos e metodológicos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito social. O psicólogo, nesse campo, desenvolve atividades em diferentes espaços institucionais e comunitários, no âmbito da Saúde, Educação, trabalho, lazer, meio ambiente, comunicação social, justiça, segurança e assistência social. Seu trabalho envolve proposições de políticas e ações relacionadas à comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos e ações relacionadas à comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos étnico-raciais, religiosos, de gênero, geracionais, de orientação sexual, de classes sociais e de outros segmentos socioculturais, com vistas à realização de projetos da área social e/ou definição de políticas públicas. Realiza estudo, pesquisa e supervisão sobre temas pertinentes à relação do indivíduo com a sociedade, com o intuito de promover a problematização e a construção de proposições que qualifiquem o trabalho e a formação no campo da Psicologia Social. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003, p. 1, 2).
Esta definição integra a Resolução 005/2003 do CFP que concede o título
de Especialista em Psicologia Social ao psicólogo do campo e, portanto, parte do enfoque social psicológico. A resolução quando em processo de formação gerou várias críticas, como exposto na carta da ABRAPSO em resposta ao CFP: A proposta de uma Especialidade em Psicologia Social não é coerente com a finalidade e a composição desta Associação, e, ainda, vem de encontro aos auspícios da luta pela compreensão de que toda a Psicologia é social, pois "Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia social, mas sim cada uma assumir dentro de sua especialidade a natureza histórico-social do ser humano." (Lane, Silvia, T.M. A Psicologia social e uma nova concepção do homem para a Psicologia. In: Lane, Silia.T.M. e Codo, W.(org.) Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense,1984,p.19. A posição desta direção é de não legitimar uma ação que venha depor ao contrário desta luta e, também, não contribuir para a formação de uma especialidade em Psicologia Social, correndo o risco de delimitar o compromisso ético-sóciopolítico que se quer para a prática de qualquer profissional em Psicologia como um fazer técnico somente dos profissionais especialistas nesta área É necessário destacar a ambiguidade da diretoria atual da ABRAPSO Associação Brasileira de Psicologia Social, em relação à tomada de decisão do CFP. Apesar de questionar sua valência, a resolução não deixa de conter legalidade: a demanda de psicólogos sociais que já atuavam e queriam para si reconhecimento e identidade própria de sua atividade profissional, e a ampliação do campo de atuação para pessoas graduadas em Psicologia foram os principais motivos do reconhecimento.
Para compreender este impasse, é preciso identificar o status da Psicologia
Social como disciplina científica e campo profissional. Como disciplina cientifica, abriga uma tensão entre as teorias psicológicas e sociológicas, como dito anteriormente, dividiu-se em dois campos distintos: a Psicologia Social psicológica e a Psicologia Social sociológica. Inicialmente, a Psicologia Social sociológica estava mais evidente. Esta orientação foi invertendo-se, e a Psicologia Social psicológica se sobressaiu por diversos fatores. A preocupação com a dimensão subjetiva de fenômenos sociais e políticos tem aumentado a geração de conhecimentos psicossociais no campo das ciências humanas e ciências sociais aplicadas e diminuído a oferta de disciplinas de Psicologia Social nestes campos, contribuindo para a identificação da Psicologia Social com a Psicologia. Assim, o número de psicólogos sociais com formação em sociologia caiu. No campo profissional, a Psicologia, em comparação com a Sociologia, tem maior consolidação, e, portanto, o psicólogo social se mantém nesta categoria. Isto posto, a resolução do CFP é embasada na especificidade da Psicologia em sua atuação profissional,