ANGICO ‘’40 horas na memória’’- UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL
do SEMI-ARIDO, UFERSA.
O documentário “Angico 40 horas na memória’’ retrata a experiencia do
projeto de Alfabetização com Jovens e Adultos desenvolvido por Paulo Freire em 1963 na cidade de Angico, sertão do Rio Grande do Norte. A história documentada é dividida em 3 partes e descreve no seu primeiro momento a trajetória da região castigada pela seca, descrita pelos moradores como ambiente de muita pobreza e dificuldade de sobrevivência sem perspectiva de melhora de vida e com um alto índice de analfabetismo. Na sequência, o documentário trata da chegada dos universitários à cidade de Angico com o projeto de alfabetização desenvolvido por Paulo Freire, convidando a população para ser alfabetizada em 40 horas. O convite era feito aos moradores por meio de um carro de som. Embora o projeto fosse direcionado para alfabetização de Jovens e Adultos, em algumas famílias as crianças também participavam das atividades. O documentário relata aspectos de fundamental importância na prática educativa destacando o compromisso e a dedicação dos professores, que estavam sempre disponíveis ao diálogo, a aceitação, independente de cor raça credo idade, ou nível social, e mais ainda o cuidado com os alunos que chegavam do trabalho muito cansados, e desistiam de ir assistir as aulas os professores iam em suas casas e os convenciam a ir para a escola A proposta de Paulo Freire, utilizava-se do método dialógico, que estimulava a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas experiencias através das palavras ‘’geradoras’’ que foram selecionadas por um grupo de universitários que estavam envolvidos com a proposta, e antes de começar o projeto fizeram um levantamento de dados do universo vocabular da população, de sua história de vida, e do contexto aonde estavam inseridos a partir daí selecionaram as palavras, para os alunos que trabalhavam com construção o estudo era desenvolvido com palavras como , casa tijolo, cimento, telhado e para os agricultores era enxada terra colheita e outras relacionadas ao cotidiano. É interessante destacar também a importância de um espaço escolar bem estruturado, que proporcione condições favoráveis ao desenvolvimento da aprendizagem, porém de acordo com os relatos que aqui vimos, alguns pontos deixavam a desejar ali em Angicos; não havia energia elétrica, utiliza-se velas e lampiões para iluminar a sala de aula, para os alunos se acomodarem, cada um levava sua cadeira e o monitor, utilizava como recurso para desenvolver a aula, um projetor passando as imagens e palavras geradoras relacionadas as próprias experiencias dos alunos. O processo de alfabetização era desenvolvido através do método fonético utilizando-se da relação direta entre fonema e grafema. Outro detalhe importante, é que o objetivo do trabalho não era apenas ensinar a ler e escrever, ia muito além disso, tinha a finalidade de desenvolver nos alunos uma conscientização política para que os mesmos tivessem consciência de seus direitos e deveres como cidadão. O projeto não foi a frente, o trabalho foi interrompido, mas, apesar da interrupção das perseguições, prisão e exilo de Paulo Freire, pela Ditadura Militar, nada disso conseguiu desfazer o conhecimento adquirido por aqueles que participaram do projeto. A terceira parte do documentário retrata o legado deixado por esse educador na vida de tais educandos. Como afirma o próprio Paulo Freire, mudar é difícil, mas, é possível, a educação libertadora vislumbrada por esse educador é a educação por meio da qual as pessoas são agentes que operam e transformam o mundo, e foi isso que vimos aqui através desse trabalho. De tudo que se passou o que mais ficou marcado, que ficou do seu legado é sentir-se cidadão, assinar com precisão, com caneta no papel Vale mais que um coronel, sem leitura sem escrita que precisa de guarita, um escudeiro fiel. (Hilton Mangueira)