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No capítulo do livro A Interpretação das Culturas que trata sobre “A Religião como Sistema

Cultural”, Geertz (2008) é bem provocativo afirmando que a antropologia da religião está em
estado de estagnação, que vive da reduplicação solene, do academicismo. Segundo ele, os
estudos antropológicos sobre religião, realizados após a segunda-guerra não trazem grande
inovações, a não ser enriquecimento empírico. Estes estudos continuam utilizando o capital
conceitual de estudos anteriores, utilizando-se de uma tradição intelectual estreitamente
definida, que inclui Durkheim, Weber, Freud ou Malinowski.
Para Geertz (2008), pequenas variações de temas teóricos clássicos não alteram este estado.
Para tal seria necessário que os estudiosos se ativessem a problemas obscuros que
possibilitem descobertas. Isto não significa abandonar as tradições teóricas existentes até
então, mas tomá-las como ponto de partida para, assim, ampliar nossa percepção a partir
delas.
Geertz afirma que sua análise da religião se restringirá a dimensão cultural desta. Ele afirma
entender a existência múltipla do termo cultura, mas que o utiliza no sentido de “um padrão
de significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de
concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens
comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à
vida”.

A partir desses pressupostos Geertz, nos apresenta um paradigma sobre a religião.


Estabelecendo dois conceitos fundamentais para a teoria de Geertz – Ethos e visão
de mundo -, este paradigma diz que os símbolos sagrados funcionam para sintetizar
o ethos de um povo e sua visão de mundo mais ampla sobre a ordenação das coisas. Os
símbolos religiosos estabelecem uma harmonia fundamental entre um estilo de vida
particular (ethos) e uma metafísica especifica (visão de mundo). A religião ajusta as ações
humanas a uma ordem cósmica e projeta imagens desta ordem cósmica no plano da
experiência humana, o que ocorre no cotidiano de cada povo.
Geertz reduz este paradigma a uma definição, e, a partir daí, passa a dissecá-la.
Segundo tal definição uma religião consiste em: um sistema de símbolos
que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras
disposições e motivações nos homens através da formulação de
conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas
concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e
motivações parecem singularmente realistas (GERRTZ, 2008, p. 67).
O sentido de símbolo aqui utilizado é o de “objeto, ato, acontecimento, qualidade ou relação
que serve como veículo a uma concepção – a concepção é o “significado do símbolo”
(GEERTZ, 2008. p. 67). O estudo de uma atividade na qual o simbolismo forma o conteúdo
positivo, uma atividade cultural, é a realização de uma análise social. Os atos culturais, a
construção, apreensão e utilização de formas simbólicas, são acontecimentos sociais como
quaisquer outros. Contudo, nos mostra Geertz, por mais que o social, o cultural e o
psicológico estejam imbricados na vida cotidiana, é útil separá-los a nível de análise.

Os sistemas ou complexos de símbolos são chamados de padrões culturais e representam


fontes extrínsecas de informação. Eles fornecem programas para os processos social e
psicológico que modelam o comportamento público. As fontes extrínsecas, ou seja, os
padrões culturais, tornam-se vitais, pois o comportamento humano é instavelmente
estabelecido pelas fontes de informação intrínsecas (genes e fisiologia). Também é possível
afirmar que os padrões culturais são modelos. Contudo, no caso dos padrões
culturais o termo modelo assume duas dimensões: modelo “da” realidade e
modelo “para” a realidade. Os modelos “para” funcionam para estabelecer informações
para padrões de comportamento. Já os modelos “de” são a representação de modo simbólico
destes padrões de comportamento, algo que, segundo o autor, provavelmente só acontece
entre os humanos. Os modelos “de” são concepções gerais e os modelos “para” são
disposições mentais. É esse duplo aspecto que separa os símbolos de outras espécies de
formas significativas. O esquema abaixo representa os principais conceitos do autor
discutidos até agora.
A intetransponibilidade dos “modelos de” e dos “modelos para” é bastante visível quanto aos
símbolos religiosos. Os símbolos concretos envolvidos apontam para ambas as direções,
expressam o clima do mundo e o modelam. O modelam induzindo o crente a certo conjunto
distinto de disposições, ou seja, a que exista uma probabilidade e uma determinada atividade
seja exercida. Quanto a atividades religiosas duas são as espécies de disposição: ânimo e
motivação. A motivação é uma inclinação crônica para executar certos tipos de atos e
experimentar certas espécies de sentimentos em determinadas situações, ou seja, motivações
são duradouras e significativas quanto a seu fim. Já os ânimos são significativos quanto a seu
surgimento, são intensos enquanto duram, mas possuem menor duração que as motivações,
surgem e desaparecem com facilidade.

Os mesmos símbolos definem as disposições que estabelecemos como religiosas e colocam


estas disposições em um arcabouço cósmico. A religião, além de induzir motivações e
disposições, formula idéias gerais de ordem, caso contrário, segundo Geertz, ela seria apenas
um conjunto de normas morais. Nesse sentido, a religião, tem sempre a necessidade de
explicar a ordem geral das coisas, independente de como esta explicação se desenvolva.

Geertz aponta a dependência do homem aos símbolos e sistemas simbólicos. Eles parecem
ser decisivos para que o próprio ser humano seja viável enquanto criatura, havendo quase
nenhuma transigência a sugestão que a capacidade de criar, apreender e utilizar símbolos
pode falhar. Se isto acontecesse, nos diz o autor, seria o caos – um túmulo de acontecimentos
ao qual faltam interpretações e interpretabilidade. Três são os pontos no qual o caos ameaça
o homem: 1. nos limites de sua capacidade analítica – a maioria dos homens não conseguem
deixar sem esclarecimento problemas de analise não esclarecido, uma inquietação profunda
ocorre quando há o fracasso do aparato explanatório; 2. nos limites de seu poder de suportar
– a religião oferece a capacidade de compreender o mundo e definir as emoções, permitindo
suportá-las, não saber como interpretar as emoções causa um sofrimento ainda mais
profundo; 3. nos limites de sua introspecção moral – quando algo dificulta a possibilidade de
fazer julgamentos morais ditos corretos, de utilizar o sistema simbólico que nos oferece o
aparato ético e moral. Em resumo, a difícil compreensão de certos acontecimentos leva a
dúvida, que se torna bastante inconfortável, quanto à existência de uma ordem de mundo
verdadeira. Contudo a religião elabora, em contraponto a toda esta dúvida, uma
ordem genuína do mundo que dará conta das eventuais ambiguidades. Nesse
sentido, a religião pode ser entendida como uma forma de conhecimento do
mundo.
O problema do significado (o fato de existirem a perplexidade, a dor e o paradoxo moral) é
uma dos principais impulsionadores da crença religiosa. O axioma básico da perspectiva
religiosa é que “aquele que tiver de saber precisa primeiro acreditar” (GEERTZ, 2008, p.81).
Uma perspectiva religiosa é um modo de ver, um entre outros modos. Esta perspectiva difere
da do senso-comum, da ciência e da estética. Ela repousa em uma aura “verdadeiramente
real”, a qual suas atividades simbólicas se devotam a produzir.

Os rituais mais elaborados e mais públicos são os que costumam definir a consciência
espiritual de um povo. O ritual é o mecanismo que faz com que todo esse sistema
simbólico religioso, adquira autoridade sobre os indivíduos, pois é nesse
momento que se efetiva a fusão entre a visão do mundo e o ethos e a
intransponibilidade entre o modelo “de” e o modelo “para”. Eles reúnem tanto uma
gama de disposições e motivações como concepções metafísicas. Geertz propõe o termo,
utilizado por Singer, “realizações culturais” para nomear essas cerimônias.
Ninguém vive a todo tempo no mundo formado pelos símbolos religiosos, mas no mundo
cotidiano dos objetos do senso-comum. Geertz aponta que as pessoas podem viver sem
percepção artística, científica ou religiosa, mas não sem um entendimento do senso-comum.
Assim, o impacto mais importante dos rituais está fora dos limites da duração do seu
acontecimento, está na influência que exerce na concepção individual de mundo usada
cotidianamente. Para o autor o movimento entre a religião e o senso-comum é bastante
recorrente empiricamente e precisa ser melhor observado pelos pesquisadores.

Geertz aponta uma dificuldade encontrada entre os antropólogos da religião, a de conseguir


uma síntese do que observa em campo sem recai nas opiniões extremas encontradas entre
indivíduos do de lado, ao mesmo tempo, o tom do ateu da aldeia e o do pregador da mesma
aldeia, bem grupo estudado.

Um dos maiores problemas metodológico ao escrever cientificamente sobre religião é deixar


como seus equivalentes mais sofisticados, de forma que as implicações social e psicológica de
crenças religiosas particulares possam emergir a uma luz clara e neutra. (GEERTZ, 2008,
p.89)

Para um antropólogo a importância da Religião esta na sua capacidade de servir como


“modelo de” e “modelo para”. Os conceitos religiosos servem aos fieis um arcabouço de idéias
gerais, não apenas a questões metafísicas, mas a grande parte da existência humana. Assim,
a partir do entendimento do papel da religião no social e no psicológico é possível alcançar a
compreensão de como o “verdadeiramente real” e as disposições se colocam na vida cotidiana
dos fieis.

Para Geertz, o estudo antropológico da religião deve ser realizado em dois estágios: 1. Análise
do sistema de significados incorporado nos símbolos que formam a religião propriamente
dita; 2. análise do relacionamento desses sistemas aos processos sócio-estruturais e
psicológicos. O autor crítica que os estudos dos antropólogos contemporâneos negligenciam
este segundo estágio e dão mais ênfase ao primeiro.

Geertz propõe neste texto uma série de questões sobre o fazer da antropologia da religião
contemporânea. Estes pontos podem nos levar a um interessante debate sobre nossas
experiências teóricas e empíricas. Tomando os questionamentos suscitados por ele podemos
refletir até onde estamos presos aos clássicos, e não existe uma produção que amplie a
percepção teórica a partir deles, como o próprio Geertz propõe? Estamos mesmo fugindo das
questões mais obscuras, e mais interessantes, que suscitam os estudos sobre a religião, as
relegando a outras disciplinas? Os antropólogos contemporâneos têm de fato deixado de
analisar os significados dos símbolos que formam a religião?

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