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bullying

Guia

infantil
De olho no
Conteúdo especial
para educadores,
pais e cuidadores

futuro
Conheça as
consequências
das agressões
na fase adulta
guia bullying infantil

Guia de atividades
Dicas de estímulos
que podem promover
mais integração e
humanização
entre a garotada

As faces do
bullying
Como cuidar e orientar
agressores, vítimas
e testemunhas

Testes
elaborados por
profissionais
para identificar Como as formas de violência
se as crianças estão
sendo atacadas (psicológicas e físicas) repetitivas são
e se os pais
estão atentos capazes de afetar a fase mais importante
do desenvolvimento humano
Editorial

Não ao bullying!
Se você tem o prazer de viver perto de alguma
criança, conhece os amores e as dores da educação.
Orientar vai além da lista de cuidados básicos que
um pequeno exige. Necessita de um olhar profundo
para o comportamento da criança. As simples brin-
cadeiras aparentemente inofensivas ainda nas pri-
meiras fases da infância podem se transformar em
grandes problemas – situações essas que, se não
forem acompanhadas e tratadas como precisam,
podem se transformar em grandes traumas que afe-
tarão, sem sombra de dúvida, o desenvolvimento da
criança e, consequentemente, sua vida adulta.
Esse especial chega com a intenção de alertar
todos os que convivem com os pequenos: pais,
educadores, familiares e cuidadores. Por meio de
orientações de especialistas, buscamos despertar
um olhar mais sensível sobre o comportamento
infantil, a fim de identificar traços das possíveis
agressões na infância.
Desde o primeiro passo (que é a criação de ró-
tulos – aquela história da baixinha, do gordinho,
do quatro-olhos) até as condutas mais agressivas,
verbais ou físicas, você encontrará sugestões de
como buscar ajuda e apoio ao se deparar com os
ataques – seja no cenário real, seja no virtual, com
o cyberbullying –, além de dicas para sobreviver e
evitar um dos grandes problemas que afetam famí-
lias do mundo todo.

Boa leitura,

Os editores
redacao@editoraonline.com.br
www.revistaonline.com.br

Guia bullying infantil 3


Sumário

6 – Capítulo I 14 – Capítulo II 64 – Capítulo VII 72 – Capítulo VIII


Sem rótulos, por favor Das brincadeiras às agressões: A influência na vida adulta Perguntas e respostas
Evitar a transmissão de preconceitos às crianças o caminho do problema Os resultados dos ataques sofridos na infância e na As principais dúvidas pela visão de
é mostrar aos pequenos que sempre há chance de Mentiras, boatos, gozações, exclusão. Intimida- adolescência podem interferir no amadurecimento, especialistas no bullying
crescer e mudar para melhor ção, tapas, extorsão de dinheiro. Tudo isso faz provocando distúrbios físicos e emocionais, além
parte da vida de milhões de jovens e preocupa de dificuldades nos relacionamentos e no trabalho
pais e educadores do mundo inteiro

28 – Capítulo III 82 – Capítulo X


Personagens de um mesmo drama Testes
Sem se importar com a presença de testemunhas, 36 – Capítulo IV 78 – Capítulo IX Avaliações de especialistas ajudam
os agressores atormentam a vida escolar de suas ví- Violência nas salas de aula Vida Real na hora de detectar o problema
timas apenas por diversão e para demonstrar poder O primeiro passo para enfrentar de maneira eficaz Histórias verídicas e os casos mais
a violência entre alunos é estimular a comunidade famosos de bullying
escolar a desenvolver um olhar observador

42 – Capítulo V 94 – Capítulo XII


Parceira casa e escola 54 – Capítulo VI 86 – Capítulo XI guia de atividades
A união entre pais e professores pode ser o Prevenção é o melhor remédio Guia de conteúdo Estímulos que promovem integração e
caminho para ajudar nas mudanças de ideias, Os caminhos de medidas preventivas contra o Livros, filmes, blogs e sites humanização entre as crianças
comportamentos e valores que contribuem para bullying precisam fazer parte do dia a dia de todos
o combate ao bullying que estão envolvidos com o desenvolvimento infantil
Guia bullying infantil 5
Capítulo I

Sem rótulos,
por favor!
Evitar estigmas e preconceitos transmitidos
às crianças é mostrar aos pequenos que sempre
há chance de crescer e mudar para melhor

“Ana Paula fala mais que a boca e não para quieta das a respeito dos alunos. Perceberia, por exemplo,
um minuto. Pedro, o gordinho que senta lá no fundo que a “burrice” crônica do João era, na verdade, um
da classe, é quieto, preguiçoso e chorão. O João até caso de miopia severa, que dificultava seu rendi-
que é um bom garoto, mas burrinho que só, e lê mento escolar por ele não conseguir enxergar direito
muito mal. Já o Rafael é um pestinha, vem de uma o que estava escrito na lousa?
família complicada e não desgruda dos garotos mais Outra consequência desse tipo de atitude por parte
velhos e encrenqueiros”, dizia a professora Maria, dos adultos é o sentimento de rejeição provocado pelo
do 2º ano do Fundamental, ao passar informações apelido: “A criança pode encarar a situação como uma
sobre os alunos à substituta, dias antes de sair de agressão gratuita e sentir que não é amada por não ser
licença-maternidade. boa o suficiente. Isso cria dificuldades no desenvolvi-
Os nomes são fictícios, mas a situação é real. O mento de vínculos e relações afetivas com outras pes-
hábito de rotular os menores, seja por características soas no futuro. Ela pode, ainda, se acomodar com esse
físicas, seja pelo comportamento, não é tão inofensi- rótulo, aceitando-o. Daí, não sentirá motivação para
vo quanto parece e pode trazer sérias consequências desenvolver as habilidades criticadas. A estratégia para
para o desenvolvimento social, afetivo e educacional superar ou reverter essa situação é diferente em cada
dos pequenos. caso, mas um trabalho de conscientização sobre suas
Para entender melhor o mal que causam os rótu- qualidades e seus defeitos já é um excelente primeiro
los, imagine se, no primeiro dia de aula, a professora passo”, afirma Cynthia Wood, psicóloga e psicopedago-
substituta entrasse na sala com ideias preconcebi- ga da Clínica Crescendo e Acontecendo, em São Paulo.

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Capítulo I

Aprendizado por repetição


Para sorte do João, a nova professora identificou a
Por que você não é igual a seu irmão?
A família não deixa de ser um microssistema deve sentir ao escutar essas frases dos próprios pais
raiz do problema, até porque ela já tinha passado pela
mesma dificuldade de leitura por falta de óculos. Se responsável pela transmissão de valores, crenças, ou responsáveis, de quem ela depende totalmente
tivesse se deixado levar pelo estigma de “burrinho”, ideias e significados presentes na sociedade. Por- para obter segurança, afeto e proteção, mas, para
provavelmente seria mais um adulto a contribuir para tanto, ela tem uma importância única na formação sua tristeza e desajuste, só recebe agressões verbais,
reduzir a autoestima do garoto, que, além da baixa infantil. É convivendo diariamente com os pais e apelidos humilhantes e comparações injustas.
acuidade visual, ainda é franzino e tímido. os irmãos que os pequenos aprendem as diferentes Os especialistas usam o termo “família disfuncio-
Ser chamado de incapaz, entretanto, não é nenhu- maneiras de viver, de construir as relações sociais e nal” para designar as que apresentam comportamen-
ma novidade para João. Seu apelido veio de casa. O de encarar o mundo. tos inadequados, agressões físicas e/ou verbais cons-
pai, exigente e crítico, sempre se refere ao filho como É fácil imaginar o estrago emocional causado a tantes e uma estrutura conturbada, na qual os papéis
“lesado” ao conversar com os professores. E é assim uma criança ao ouvir em casa “Você não presta pra dos adultos são confusos ou não definidos. Além de
que o chama cada vez que o menino tropeça ou der- nada!”, “Como pode ser tão burro e desajeitado?”, não conseguir transmitir afeto nem valores éticos e
ruba o suco na mesa, para o divertimento dos dois “Não sei a quem você saiu!” ou “Por que não é morais, esse núcleo familiar ainda cria um ambiente
irmãos mais velhos. “Os apelidos são, muitas vezes, a bonzinho como seu irmão?”. Pense na dor que ela conflituoso, individualista e pouco solidário.
porta de entrada para rótulos e humilhações. Em ge-
ral, o hábito de rotular vem de casa, quando a criança
cresce em uma família que exerce essa prática”, diz
a psicóloga Marjori de Lima Macedo, coordenadora
de núcleo do Centro Regional de Atenção aos Maus
Tratos na Infância (Crami), de Santo André, SP.
A psicopedagoga Sandra Bozza, mestre em Ciên-
Identificação com a imagem
A infância é a fase de formação de identidade,
cias da Educação, socióloga e linguista, de Curiti- dizem os especialistas. É quando a pessoa desco-
ba, PR, compartilha a mesma opinião: “Criar rótulos bre quem é e, muitas vezes, “decide” quem vai ser
certamente é uma tendência que pode vir da escola no futuro, ainda que nem sempre seja um processo
ou de casa. Basta que haja exemplos não reprimidos consciente. Então, o rótulo imposto por pais e edu-
nas duas instâncias para que meninos e meninas cadores acaba influenciando a formação da identi-
comecem com a prática. Em outras palavras, se não dade, deixando-a confusa. Por isso, não é estranho
forem coibidas as atitudes de menosprezo ou de hu- que a criança comece a achar interessante exer-
milhação nas primeiras manifestações, os pequenos cer o papel dado a ela. O “pestinha maldoso”, por
não conseguirão compreender que esse tipo de com- exemplo, pode aprontar cada vez mais em cima do
portamento não agrega nenhum benefício pessoal “gorducho” para se firmar no posto de “valentão”.
nem para o grupo ao qual pertencem”. Enquanto isso, a vítima se afunda na compulsão
A criança também pode aprender esse mau hábito alimentar e ganha cada vez mais peso, assumindo
em outros relacionamentos interpessoais, como na es- definitivamente os rótulos que recebeu.
cola, no clube, na vizinhança ou no grupo de amigos. Na tentativa de serem aceitas, algumas conse-
Fragilizada frente às agressões verbais, ela acaba des- guem virar o jogo. O “baleia” percebe que é mais
cobrindo o poder que um apelido maldoso tem de ferir vantajoso ser o fanfarrão da turma do que pedir
emocionalmente uma pessoa. A partir daí, ela pode proteção aos pais ou aos professores e não rece-
começar a inverter os papéis e usar a mesma estraté- ber nada além de mais rótulos e rejeição. “Pesso-
gia contra outras pessoas: “Ao constatar que ganha um as adultas são competitivas, e as crianças não são
papel de destaque no grupo de amigos ao dar apelidos diferentes. Algumas acreditam que precisam se
a outros coleguinhas, além de reproduzir a violência impor frente ao grupo para garantir uma imagem
verbal a que foi submetida, ela acaba ganhando força de destaque ou consideração”, explica a psicope-
interna, ainda que seja de uma forma negativa, e passa dagoga Cynthia Wood.
a ser agressora em vez de vítima”, explica Marjori.

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{
Capítulo I

O exagero é prejudicial “Minha família se mudou para uma


Mesmo quando o rótulo é sinônimo de elogio, se re- pequena cidade do interior da Bahia
petido várias vezes em público pode ter um efeito ne-
e fui matriculada em uma escola
gativo no desenvolvimento emocional dos pequenos.
De tanto ser chamado de inteligente, gênio ou crânio nova. O tormento começou logo no
desde que começou a ser alfabetizado na pré-escola, início. Como tinha um cabelo muito
Cláudio se convenceu de que realmente era superior
aos colegas e ganhou ares de um “sabe-tudo”, inca-
crespo e volumoso, era só entrar
paz de refletir sobre suas ações por se achar 100% na classe para escutar o coro, que
certo sempre e em qualquer circunstância. gritava: “Cabelo-de-tuim, cabelo
Para completar, ainda descobriu um jeito de dri-
blar suas dificuldades, ao não se arriscar em ativi- de cuscuz, piolhenta e cabelo-de-
dades nas quais não se sentisse totalmente seguro. esconder-pulga”. Como não conhecia
Outra consequência desse ego erroneamente inflado
pelos elogios foi a dificuldade cada vez maior de o
ninguém e também era muito tímida,
garoto lidar com as frustrações ao perceber que não não sabia o que fazer e fugia chorando
dava para ganhar todas. Resultado: Cláudio, agora para o banheiro. Mas, como não dava
com 9 anos, não tem amigos por conta da fama con-
quistada. Além de “gênio”, a classe toda reclama para me esconder o tempo todo, tinha
que ele “se acha” e é “chato”. de voltar para ver as meninas de
No caso das famas negativas, o mais provável é
risadinhas. A professora fazia que
que o aluno se sinta preso à imagem que fazem dele.
Dizer “Ah! Você não tem jeito mesmo, hein? Nem não enxergava, e eu não queria contar
conseguiu resolver essa conta fácil, que até seu ir- aos meus pais, que já tinham muitos
mãozinho menor é capaz de fazer” equivale a dizer
que ele não se adapta àquele universo escolar.
problemas. Um dia, não aguentando
A partir daí, é possível que o professor, ainda que mais, desandei a gritar com todo
não tenha tido más intenções, veja seus esforços mundo. Nem me lembro o que falei.
como educador não surtirem mais efeito, uma vez
que o aluno rotulado acabou acreditando em suas Só me recordo de ter dito o quanto
palavras e assumiu o papel de incapaz que lhe foi sofria com aqueles apelidos. Até hoje
designado pelo mestre.
não sei direito o que aconteceu, mas
Sequelas no dia seguinte vi que só uma ou
Além das agressões e humilhações verbais, ainda vida profissional e afetiva. De acordo com os profis-
existem outros comportamentos dos adultos que po- sionais da área, o costume de tratar uma criança de outra ainda me xingava de “cabelo
dem trazer problemas às crianças. Veja alguns deles: modo pejorativo pode ser compreendido pelo viés da ruim”. Depois, até elas pararam com
• Falta de demonstração de afeto e respeito. violência psicológica – a humilhação e a ausência de
isso. Aos poucos, as garotas foram
• Uso de álcool, drogas ou medicamentos que alte- consideração em relação ao sentimento de outra pes-
ram o comportamento soa –, que, em linhas gerais, certamente trará conse- se aproximando de mim e acabamos
• Mensagens ambíguas. quências para o desenvolvimento emocional. “Uma por nos tornar amigas. Hoje, até acho
• Críticas constantes e sempre destrutivas. menina ou um menino exposto indiscriminadamente
• Regras e normas rígidas em excesso. a essa situação tem a autoestima e a autoimagem
divertido o meu chilique, mas, na
• Muitas cobranças e autoritarismo. seriamente afetadas, podendo vir a ser um adulto época, sofri um bocado.”
• Conflitos e discussões familiares frequentes. inseguro, com pouca confiança em seus talentos. Andreia*, 17 anos, aluna do
As consequências desses hábitos negativos po- Pode até mesmo manifestar traços depressivos leves
dem se estender até a idade adulta, com reflexos na a moderados”, explica a psicóloga Marjori. último ano do Ensino Médio

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Capítulo I

Abaixo as etiquetas
Pais e professores nem sempre percebem o quan- Cultive a diversidade – É fundamental que seus Em geral, as crianças
to esses rótulos podem atrapalhar o desenvolvimen- filhos ou alunos tenham a oportunidade de conviver
to emocional e cognitivo de uma criança. Por isso, com crianças de outros grupos, de diferentes idades
menores lidam melhor
é fundamental ficar alerta para evitar classificações e classes sociais. Só assim será possível mostrar com as diferenças e
e julgamentos prévios: que, sim, existem diferenças, mas que elas não
impedem ninguém de viver em harmonia. E que,
sentem que podem
Cuidado com as palavras – Ninguém é igual apesar de ser diferente, a outra pessoa não merece aprender com elas
no tempo de aprendizado, nas habilidades, nem na nenhum apelido maldoso ou ser transformada em
capacidade de se relacionar com outras pessoas. Por alvo de gozações. Em geral, as crianças menores
isso, evite perder a calma quando seu filho ou aluno lidam melhor com as diferenças e sentem que
bater no colega com ou sem motivo. Melhor dizer: podem aprender com elas. Por isso, quanto mais
“O que você fez foi maldoso e deixou seu amigo cedo os pais começarem a educá-las para aceitar a
triste” do que simplesmente disparar “Você é um diversidade, melhor. “Conversar abertamente sobre
menino mau”. Mostrar a diferença entre a pessoa o tema e ter atitudes de aceitação e empatia com
(você é mau) e sua atitude (você fez uma maldade) toda gama de pessoas deveria ser determinante na
dará à criança a oportunidade de descobrir que educação dos pequenos. Todavia, há famílias que
sempre há espaço para mudanças e tempo para que não têm isso como prioridade”, lembra a educadora
ela possa refletir sobre a atitude e agir de maneira e socióloga Sandra Bozza.
diferente da próxima vez.

Valorize as características de cada um –


Ressaltar o quanto seu filho ou aluno é gentil e
educado é valorizar a sua individualidade. O perigo,
porém, é transformar esse elogio em uma espécie
de rótulo, do qual ele não consegue se desvencilhar.
Assim, poderá se sentir obrigado a ser o eterno
bonzinho, mesmo quando está sendo agredido.
Tudo o que ele não vai querer é manchar a única
imagem que – ele acredita – os pais e educadores
têm dele. É preciso reconhecer e valorizar os pontos
fortes de cada um, mas também deixar aberta a
possibilidade de que, de vez em quando, tanto
adultos como crianças se irritem e deixem de ser
gentis por algum tempo.

Questione mais e rotule menos – Qualquer


característica boa, quando levada ao extremo, pode
ser prejudicial. Ser naturalmente um líder é bom,
mas exagerar no desejo de comandar o mundo pode
incentivar a formação de uma pessoa autoritária.
Por isso, é interessante que a criança pense nos
resultados de suas atitudes quando tem um
comportamento inadequado, mesmo que seja uma
característica positiva, como é o caso da liderança.
Afinal de contas, ninguém é apenas uma coisa ou
sempre igual o tempo todo.

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Capítulo II

Das brincadeiras
sem graça às agressões:
o caminho
do problema
Mentiras, boatos, gozações, exclusão.
Intimidação, tapas, extorsão de dinheiro. Tudo
isso faz parte da vida de milhões de jovens e
preocupa pais e educadores do mundo inteiro

O O termo bullying tem origem na língua inglesa e de maneira mais abrangente”, comenta.
pode ser traduzido como humilhação em público. No Brasil, os dados são alarmantes. O bullying é um
Não é novo, mas antes se restringia às quatro pa- dos vilões do Ensino Médio, envolvendo cerca de 30%
redes da sala de aula. Chegava, no máximo, até o dos estudantes brasileiros. Desse total, 20,8% são
pátio. Para a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, agressores. Ou seja, um em cada cinco jovens dessa
autora do livro Bullying – Mentes perigosas nas es- faixa etária diverte-se agredindo, física ou verbalmente,
colas (Editora Objetiva, 2010), a questão não pode seus colegas de escola. Os dados são da Pesquisa Na-
ser mais tratada como um fenômeno apenas da área cional de Saúde Escolar (PeNSE), divulgada em junho
educacional. “Atualmente, ele já é definido como de 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
um problema de saúde pública e, por isso mesmo, tatística (IBGE). O estudo foi realizado com 109.104
deve entrar na pauta de todos os profissionais que alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de todo o
atuam nas áreas médica, psicológica e assistencial país, o que incluiu adolescentes de 13 a 15 anos.

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Capítulo II

Com frequência, a humilhação


pública a que é submetida uma
Hostilidade pura criança ou um adolescente gira
Nos tempos de escola de muitos pais e professo- Entretanto, existem adultos que ainda acreditam cia, um reflexo de novos e antigos problemas sociais
res que têm hoje 40 anos ou mais, as diversões entre na inocência dos apelidos e das piadinhas, ignoran- que se transplantaram para dentro das salas de aula. em torno de alguma imperfeição
colegas envolvendo humilhações disfarçadas de ape- do as consequências. Segundo Cleo Fante, pedago- A intimidação física ou verbal dos mais fortes sobre
lidos maldosos e/ou preconceituosos – e uma ou ou- ga, historiadora, pesquisadora da violência nas esco-
apresentada pela vítima no aspecto
os mais fracos, por exemplo, em quase nada dife-
tra brincadeira que terminava em tapas e empurrões las brasileiras e autora de vários livros sobre o tema, re do que acontece em qualquer outro grupo social, físico, cognitivo ou comportamental.
nos mais fraquinhos – eram consideradas normais como Bullying, intimidação no ambiente escolar e seja no quartel, em uma comunidade religiosa ou
pelos adultos. No máximo, a turma de agressores, virtual (Editora Conexa, 2009), se mal resolvidas, as
Geralmente, o bullying vem de
mesmo no ambiente de trabalho.
em geral comandada por um aluno considerado va- agressões sofridas no período escolar podem deixar A preocupação também aumenta quando a socie- pessoas que têm uma necessidade
lentão, parava na diretoria, ganhava uma advertência marcas para o resto da vida, tanto nas vítimas quan- dade percebe o crescimento do problema: “O au-
e um bilhete para ser assinado pelos pais. Pronto: to naqueles que as praticam. “É um equívoco dizer mento da agressividade entre adolescentes preocupa
de autoafirmação, conhecidas como
ficava por isso mesmo. que o bullying é uma brincadeira e que os alunos e angustia os pais e todos que, de modo direto e in- valentões ou bullies (em inglês), que
Ao aluno agredido, restava apenas se conformar superam-na sozinhos. Estamos falando de uma for- direto, lidam ou se ocupam com os jovens”, escreve
com sua sina e, de preferência, sofrer calado. Se fos- ma de violência deliberada.” a psiquiatra Ana Beatriz.
só enfrentam quem é mais fraco ou
se reclamar na diretoria ou em casa, ainda corria o Contudo, a preocupação com o bullying também está em menor vantagem”
risco de escutar um “Se vira!”, até porque agressões se estende aos praticantes e é amplamente justifi-
entre os jovens sempre foram entendidas como parte Entre tapas e xingamentos cada, como escreve a educadora e consultora edu-
do aprendizado para a vida adulta. Só nos últimos A prática da perseguição repetida é tão antiga cacional Rebekah Heinrichs em seu livro Perfect
anos é que o bullying, como passou a ser chamado quanto a própria escola, dizem os especialistas. adolescentes de seu país. Em 1980, três rapazes en-
targets: Asperger Syndrome and bullying (sem tradu- tre 10 e 14 anos cometeram suicídio, fazendo com
esse tipo de comportamento agressivo, se transfor- Além disso, o bullying não é um fenômeno isolado,
ção para o português): “Indivíduos que praticaram hos- que se despertasse a atenção para o problema.
mou em um sério problema. fazendo parte de uma questão mais ampla, a violên-
tilidaddes na infância e na adolescência têm maior Na pesquisa conduzida por Olweus, verificou-se
probabilidade de serem condenados na vida adulta que um em cada sete estudantes noruegueses esta-
por crimes graves, com maior índice de reincidência. va envolvido em casos de bullying, como agressor ou
Além disso, podem engajar-se em comportamentos vítima. Suas pesquisas duraram de 1978 a 1993,
de risco com abuso de substâncias ou se envolver período em que entrevistou cerca de 84 mil estu-
com gangues e violência doméstica, além de sofre- dantes, 300 a 400 professores e mil pais de alunos.
rem com a depressão e ideias suicidas”. Mas foi só em 1993 que o persistente professor con-
seguiu sensibilizar as autoridades de educação da
Noruega e iniciar uma campanha contra o ato em
Um velho conhecido da turma todas as instituições de ensino do país.
“Com frequência, a humilhação pública a que é Esse tipo de comportamento agressivo não tem
submetida uma criança ou um adolescente gira em nada a ver com diversão: “A brincadeira tem a cono-
torno de alguma imperfeição apresentada pela vítima tação lúdica que remete ao prazer, ao entretenimen-
no aspecto físico, cognitivo ou comportamental. Geral- to. Já o bullying é uma atitude inadequada porque a
mente, o bullying vem de pessoas que têm uma neces- estratégia usada é desqualificar o outro naquilo que
sidade de autoafirmação, conhecidas como valentões a própria vítima se sabe em desvantagem. A inten-
ou bullies (em inglês), que só enfrentam quem é mais ção do agressor é hostilizar, expor o mais fraco para
fraco ou está em menor vantagem”, diz a psicopedago- se fazer forte”, explica a psicopedagoga Luciana
ga Luciana Barros de Almeida, presidente nacional da Barros de Almeida.
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). A pedagoga Cleo Fante também explica as dife-
Apesar da prática da perseguição sistematizada renças entre diversão e hostilidade: “As brincadeiras
ser tão antiga, ela só começou a ser estudada como acontecem naturalmente e fazem parte das relações
fenômeno a partir da década de 1970. Os estudos sociais, o que torna o ambiente descontraído e aco-
sobre o bullying iniciaram-se na Universidade de lhedor. São permitidas no grupo e têm por finalidade
Bergen, na Noruega, com o professor Dan Olweus, divertir, sensibilizar, aproximar, integrar, incluir. Al-
interessado em entender as tendências suicidas em gumas podem ser tendenciosas e inconsequentes, e

16 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 17


Capítulo II

sua aceitação dependerá dos limites de cada partici- “O estresse constante pelo medo
pante. Porém, quando as brincadeiras se convertem
em atitudes agressivas e abusivas, com o intuito de de ataques costuma provocar
prejudicar o outro e colocá-lo em posição de inferiori-
dade e dominação, podem originar as brutalidades. sinais físicos na criança.
Portanto, para que uma atitude seja considerada
bullying, é necessário que ela apresente algumas ca- estão sofrendo humilhações. O primeiro indicador
racterísticas: surge quando a criança ou adolescente evita entrar
• Intenção de provocar dano material, físico, emo- em contato com seu agressor. Outros comportamen-
cional ou de aprendizado. tos de uma vítima de bullying:
• Persistência e continuidade das agressões sempre • Falta de interesse pela escola, fazendo birra para
contra a mesma pessoa. ir, com medo de agressão física ou verbal.
• Ausência de motivos que justifiquem os ataques. • Isolamento, evitando estar próximo dos amigos e
• Quando há um desequilíbrio de poder que dificulte da família, fechando-se no quarto e não desejando
a defesa da vítima. sair com colegas.
• Queda no rendimento escolar devido à falta de
atenção nas aulas.
Estratégia • Baixa autoestima, com várias referências a sua in-
O bullying compreende uma variedade de atitu- capacidade de fazer essa ou aquela tarefa.
des que têm como único propósito a humilhação e • Ataques de fúria e impulsividade, querendo bater
submissão de uma pessoa mais frágil, supostamente em si e nos outros ou atirando objetos.
sem condições físicas ou emocionais para se defen-
der do agressor. Devido às inúmeras formas da prá- Esses sinais podem ser indícios de tristeza, inse-
tica, os estudiosos dividiram o fenômeno em dois gurança e baixa autoestima. Além disso, o estresse
tipos: direto e indireto, ambos danosos e cruéis. constante pelo medo de ataques costuma provocar
O primeiro ocorre quando a vítima é atacada direta- sinais físicos na criança. Conheça alguns deles:
mente por meio de apelidos, humilhações, agressões • A criança (ou o adolescente) começa a andar ca-
físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais, expressões e bisbaixa, demonstrando cansaço.
gestos que geram mal-estar. Esse tipo ocorre com mais • Tem problemas para dormir e sofre com pesadelos.
frequência entre meninos. “É comum vermos garotos • Aparece com a roupa rasgada ou suja e chega em
envolvidos em agressões físicas e verbais, reforçando casa sem os seus pertences.
as características pessoais da vítima, com o intuito de • Apresenta feridas no corpo e não sabe explicar
ridicularizá-la. Quando praticam ações agressivas, pre- como surgiram.
ferem se sentir apoiados pela presença do grupo”, diz • Tem falta de apetite, não desejando comer nem a
a especialista em educação infantil e psicopedagogia comida preferida.
Denise Tinoco, professora de Educação Básica e da • Queixa-se de dores de cabeça ou de barriga várias
Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. vezes ao dia.
Já o indireto acontece quando a vítima está au- A provável vítima de bullying, criança ou ado-
sente. Seus autores criam situações de divisão, O bullying indireto é o preferido das crianças me- Primeiros sinais lescente, deve apresentar pelo menos três desses
discórdia e indiferença, agindo por meio de fofo- nores e das mulheres, ainda que não seja impossível “Como saber se meu filho está sofrendo bullying na sinais. Além disso, alguns adolescentes podem
ca, manipulação de amigos, mentiras, isolamen- encontrar meninas partindo para as vias de fato: “As escola?” Esta é uma das perguntas mais frequentes iniciar o consumo de álcool ou drogas.
to, difamação e discriminação, com a intenção garotas buscam evidenciar e reforçar negativamente feita pelos pais em consultórios, reuniões de escola “Como posso saber se meu filho pequeno está
de excluir a vítima do grupo social. Enfim, uma características sociais, fraquezas e traços da perso- e palestras sobre o assunto. A dúvida tem razão de agredindo seus colegas na escola?” Essa é a se-
agressão silenciosa, muitas vezes feita de sorrisos nalidade da vítima. A maioria das agressões indire- ser, pois a criança pequena não consegue entender gunda dúvida que atormenta os pais preocupados
irônicos e bilhetes anônimos, que deixam a vítima tas é velada e anônima. As pesquisas demonstraram direito o que está acontecendo a sua volta na escola com a prevenção. A resposta é do profissional Lu-
sem respostas, falando sozinha, até que ela mes- também que as meninas cometem mais injúrias vir- para poder contar aos pais. Entretanto, existem si- ciano Passianotto, psicólogo clínico de São Paulo:
ma não se aproxime mais do grupo. tuais”, explica a pedagoga Denise Tinoco. nais importantes que podem indicar que as crianças “É difícil avaliar se uma criança pequena, com

18 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 19


Capítulo II

menos de 5 anos, apresenta um perfil agressor,


considerando que ela ainda está desenvolvendo
ameaças, constrangimento, rejeição ou privação
de afeto, provoca uma violência psicológica, não
Números assustadores
Apesar de ter sido feita no início de 2002, a pes- de programas preventivos continuados em escolas
sua capacidade de sentir empatia e de compreen- raro mais duradoura e danosa do que uma agressão quisa da Associação Brasileira Multiprofissional de de Educação Infantil e de Ensino Fundamental tem
der as consequências de alguns de seus atos. Mas física”, diz a psicóloga Thelma Armidoro Velasco. Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) é uma demonstrado ser uma das medidas mais efetivas na
alguns comportamentos chamam atenção. Quando das mais completas e recentes realizadas no Brasil. prevenção do consumo de álcool e drogas e na redu-
crianças ou adolescentes quebram regras delibe- Veja outros sinais de que crianças e jo- Tido como referência por pesquisadores do fenôme- ção da violência social”, escreve o pediatra Aramis
radamente, mentem, são violentos com pessoas vens possam estar sofrendo bullying, de no bullying no Brasil, o estudo – que ficou conheci- A. Lopes Neto, em seu artigo Bullying: comporta-
ou animais, não têm a mínima tolerância a frus- acordo com a psicóloga do Crami: do como Programa de Redução do Comportamento mento agressivo entre estudantes, publicado em
trações ou tentam manipular os outros e acobertar • Doenças frequentes sem causa e/ou diag- Agressivo entre Estudantes – teve como objetivos in- 2005 no Jornal de Pediatria, revista científica da
seus desvios, é sinal de que pode haver algo grave. nóstico preciso, como obesidade, aler- vestigar as principais características do bullying entre Sociedade Brasileira de Pediatria.
É mais comum que uma personalidade agressiva gias, distúrbios do sono etc. 5.500 alunos da 5ª à 8ª série e criar estratégias capa- Na conclusão da pesquisa, o pediatra propõe
seja identificada durante a infância, mas existem • Comportamentos depressivos, baixa au- zes de prevenir a violência escolar entre os jovens. aos pais e professores uma reflexão: “A prevenção
casos em que isso só aflora na adolescência”. toestima e/ou isolamento social. “Apesar de o estudo ter sido realizado em pouco do bullying entre estudantes constitui-se de uma
• Dificuldades e problemas escolares sem mais de um ano, de setembro de 2002 a outubro necessária medida de saúde pública, capaz de
A evolução que existam limitações cognitivas e inte-
lectuais que justifiquem.
de 2003, foi possível reduzir a agressividade entre
os estudantes, favorecendo o ambiente escolar, o
possibilitar o pleno desenvolvimento de crianças
e adolescentes, habilitando-os a uma convivência
Ao ser questionada pela psicóloga Thelma Armidoro
• Regressão a comportamentos infantiliza- nível de aprendizado, a preservação do patrimônio social sadia e segura”.
Velasco, assistente técnica do Centro Regional de
dos abaixo da idade cronológica. e, principalmente, as relações humanas. A adoção Veja os dados comparativos da pesquisa da Abrapia.
Atenção aos Maus Tratos da Infância do ABCD (Crami),
• Tendências suicidas e automutilação.
sobre como ela definiria a violência psicológica, uma
• Carência afetiva.
paciente de 8 anos, vítima em sua própria casa,
soube retratar de maneira perfeita seus sentimentos
“É importante lembrar que não devemos Dados da pesquisa inicial Avaliação final
considerar apenas um indicador de forma
ao dizer: “É aquela que machuca o coração”. Essa • 40,5% dos alunos admitiram estar diretamente • 79,9% admitem saber o que é bullying, com
isolada, mas avaliar todo o histórico do pa-
é a dor que toda vítima de bullying sente quando é envolvidos em atos, sendo 16,9% como alvos, redução de 6,6% de alunos alvos e de 12,3%
ciente, levando em conta a situação em que
submetida a um constrangimento público, na escola 12,7% como autores e 10,9% ora como alvos, de alunos autores.

em 2005, no Jornal de Pediatria, revista científica da Sociedade Brasileira de Pediatria.


vive e todas as queixas”, finaliza Thelma.

Fonte: Artigo científico Bullying: comportamento agressivo entre estudantes, publicado


ou em casa, com agressões físicas ou palavras cruéis. ora como autores.
• A indicação da sala de aula como local de maior
“Não importa o método. Qualquer forma de ação que • 60,2% dos alunos afirmaram que as agressões ocor- incidência de atos caiu 24,7%, passando de
coloque a criança ou o adolescente em posição de rem mais frequentemente dentro das salas de aula. 60,2% para 39,3%.
Fonte: Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas esco-
inferioridade, usando comparações, humilhações, las e educar para a paz (Cleo Fante, Artmed Editora, 2005).
• 80% dos estudantes manifestaram-se contra • O número de alunos que admitia gostar de ver
o bullying relatando sentimentos como medo, o colega sofrer baixou 46,1%.
pena, tristeza etc.
• Entre os alunos alvos que buscaram ajuda, o
• 41,6% dos que admitiram ser alvos disseram sucesso das intervenções para a redução ou
não ter solicitado ajuda aos colegas, professo- cessação do bullying teve um crescimento de
res ou familiares. 75,9%.
• Entre aqueles que pediram auxílio para reduzir • O desconhecimento sobre o entendimento das
ou cessar seu sofrimento, o objetivo só foi atin- razões que levam à prática dos atos foi reduzido
gido em 23,7% dos casos. em 49,1%.
• 69,3% dos jovens admitiram não saber as razões • O percentual daqueles que admitiram o bullying
que levam à ocorrência de bullying ou acreditam como um ato de maldade passou de 4,4% para
tratar-se de uma forma de brincadeira. 25,2%, representando um aumento de 472,7%.
• Entre os alunos autores de agressões , 51,8% • O percentual de alunos autores que admitiram
afirmaram que não receberam nenhum tipo de ter recebido orientações e advertências quanto
orientação ou advertência quanto à incorreção à incorreção de seus atos avançou de 45,6%
de seus atos. para 68%.

20 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 21


{
Capítulo II

Final feliz
Thalita Rocha Costa tinha 9 anos quando
começou a sofrer bullying em uma escola
Brutalidade na rede
particular no Recife, PE. A turma que Quando o cyberbullying se manifesta, mensagens e imagens ofensivas
a agredia, constituída só por meninas, repercutem rapidamente, negando à vítima o direito ao esquecimento
roubava seu dinheiro do lanche e ainda a
chamava de baleia na aula de natação. A escalada da violência mundial contra os mais jo- ONG Plan Brasil, com estudantes brasileiros entre
vens não dá trégua nos noticiários: crianças e adoles- 10 e 14 anos, nas cinco regiões do país. Dos 5.168
Atualmente, com 18 anos, Thalita não
centes que atravessam fronteiras para fugir de guerras alunos que participaram da pesquisa, 10% já sofre-
esquece os abusos. Basta se emocionar um enfrentam soldados, tornam-se bombas humanas nas ram ou praticaram bullying; 16,8% foram vítimas ao
pouco mais para aparecer uma urticária mãos de grupos extremistas ou são vítimas de balas menos uma vez e 17,7% praticaram o cyberbullying.
perdidas em meio a confrontos entre os traficantes e Entre as vítimas, 13% foram insultados pelo celular
crônica, adquirida na época, que deixa sua a polícia. Como se não bastasse viver em um mundo e as 87% restantes, por textos e imagens enviados
pele avermelhada e seus lábios inchados. permanentemente em tensão, mesmo em áreas con- por e-mail ou via sites de relacionamento.
Em um certo dia de junho de 2015, Thalita sideradas seguras, muitos deles ainda enfrentam o Em outros países, a relação entre bullying e cyber-
cyberbullying, uma modalidade de humilhação públi- bullying também é crescente. Um estudo feito em
encontrou na fila do banco uma de suas ca que tomou de assalto as redes sociais, principal- 2009 pelo pesquisador John Palfrey, professor e vi-
torturadoras. Mas o encontro não a mente por meio dos celulares. ce-reitor para a Biblioteca e Recursos de Informação
Pesquisas realizadas no Brasil e no mundo reve- da Escola de Direito da Universidade de Harvard,
abalou, de tão ocupada que estava com o lam que essa prática perversa não para de crescer. nos Estados Unidos, revela que 42,4% dos jovens
planejamento da viagem especial que faria Um dos motivos é a maior facilidade de acesso à que disseram sofrer ataques de bullying virtual tam-
no fim do mês. O destino de Thalita era a internet, que permite aos jovens estarem cada vez bém são vítimas de agressões nas escolas.
mais conectados e por mais tempo. A edição 2014
Universidade de Harvard, em Cambridge, do estudo Este Jovem Brasileiro, realizado pelo Por-
nos Estados Unidos, uma das mais tal Educacional em parceria com o psiquiatra Jairo
Bouer em 14 estados brasileiros, revela que o uso da
prestigiadas do mundo, onde estudaria
internet e das redes sociais já faz parte da rotina de
medicina. Dias antes havia recebido um 95% dos 4 mil estudantes entre 13 e 16 anos que
e-mail da instituição que confirmava sua responderam à pesquisa. Um segundo dado aponta
que as redes sociais ocupam uma parte considerável
aceitação como estudante, com direito a do tempo desses estudantes: 85% deles dizem pas-
um apartamento só para ela e uma bolsa de sar ao menos duas horas navegando pelos sites ou
estudos integral. Com o bullying, a jovem usando aplicativos de relacionamento.

aprendeu a transformar raiva e angústia


em superação, e o resultado foi a conquista Fora de controle
Em um mundo ilimitado, não é de se estranhar
da vaga em uma das universidades mais que o poder de agressão dos bullies seja igualmente
cobiçadas por alunos do mundo inteiro. sem limites. Uma pesquisa divulgada em 2010 re-
Fonte: Diário de Pernambuco, vela que o cyberbullying, a violência praticada nos
em 15 de junho de 2015. meios virtuais ou por celulares, já é mais frequente
que o bullying, agressão feita pessoalmente, em ge-
ral dentro das escolas. O estudo foi realizado pela

22 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 23


Capítulo II

Sobre os estragos produzidos pelos dois tipos, as • Ficou evidente que as meninas mais novas não têm
opiniões não são unânimes. “Considero o bullying tanta liberdade para usar a internet devido às regras Outras diferenças leira aconteceram em 2013, quando duas jovens,
No bullying presencial, bastava que a vítima saís- uma no Piauí e outra no Rio Grande do Sul, suici-
presencial mais grave do que o on-line, à medida impostas pelos pais, que temem por sua segurança.
se da escola e chegasse em casa para se sentir se- daram-se por conta do cyberbullying. A piauiense
que este último é mais visível que o primeiro. Ou • Todas as garotas mais velhas navegam pela in-
gura. Agora, como as agressões ficam gravadas nas Jane *, com 17 anos na época, enforcou-se com o
seja, muitas vezes os adultos não conseguem perce- ternet com mais frequência, mas não se sentem
páginas virtuais por tempo indeterminado, o tormen- fio do aparelho alisador de cabelos depois que um
ber a existência do bullying na escola, abandonan- seguras on-line.
to também se torna permanente. Todos podem ver os vídeo íntimo seu, com outra jovem e um homem,
do o aluno nos momentos em que isso ocorre. Já o • Cerca de 80% do total de 444 jovens entrevistadas
xingamentos a todo instante, já que as humilhações foi divulgado no WhatsApp. Na mesma semana, a
cyberbullying se torna público, deixando pegadas di- se sentem vulneráveis na internet e no celular por
não tiram férias nem somem nos fins de semana. “O adolescente Regina *, de 16 anos, de Veranópolis,
gitais que podem ser vistas posteriormente. Contu- medo de: a) terem suas fotos pessoais “roubadas”
espaço do medo é ilimitado”, diz a psicoterapeuta RS, tirou a própria vida depois que um ex-namora-
do, é importante ressaltar que não há consenso entre e expostas na rede; b) envolverem-se com pessoas
Maria Tereza Maldonado, autora do livro A face ocul- do compartilhou suas fotos íntimas na internet.
especialistas sobre esse assunto no Brasil”, afirma que se passam por outras em perfis de redes sociais
Ana Maria Albuquerque Lima, psicóloga, mestre em ou em aplicativos de mensagens; c) terem suas ta – Uma história de bullying e cyberbullying (Edito-
educação e autora do livro Cyberbullying e outros contas de e-mail invadidas; d) serem agredidas ver- ra Saraiva, 2009). Além disso:
• No pátio da escola, a vítima sabe quem é seu algoz,
De provocação a
riscos na internet: Despertando a atenção de pais e balmente ou difamadas por meio do cyberbullying.
professores (Editora Wak, 2011). quem faz parte da plateia e sente o impacto de sua
intimidação cara a cara. No cyberbulying, não. A
roubo de identidade
Já a psicopedagoga clínica Quezia Bombonatto, As práticas de cyberbullying se dão pela internet e
de São Paulo, acredita que a humilhação virtual agressão se alastra de tal maneira, que a vítima fica pelo celular – via e-mail, mensagens instantâneas, re-
produz mais estrago que a presencial: “Enquanto o sem saber ao certo quem iniciou o ataque. des sociais e outros ambientes virtuais – com o objetivo
bullying é mais focado num determinado grupo, as • Pelo uso regular da internet e do celular, os jovens de difamar a vítima de maneira deliberada e repetitiva.
agressões on-line se espalham por um público indis- estão se tornando cada vez mais vítimas em poten- De acordo com a psicóloga Ana Maria Albuquerque
criminado, pois as mensagens, as imagens e os co- cial. As meninas, em especial, acabam correndo Lima, existem oito tipos distintos dessa violência:
mais riscos pelo hábito – comum entre as adoles-
mentários depreciativos se alastram rapidamente”. • Provocação incendiária: acontece mediante
A rapidez e a abrangência desses ataques tornam centes – de enviar fotos íntimas para os namora-
discussões que se iniciam on-line e se propagam
as agressões ainda mais perversas, porque o espaço dos, que muitas vezes não hesitam em expô-las
de modo rápido, com linguagem vulgar e ofensiva.
virtual é ilimitado. O poder de destruição de quem nas redes sociais, nos e-mails e nas mensagens
• Assédio: caracterizado pelo envio de mensagens
ataca também se amplia, e o jovem agredido se sen- que se espalham rapidamente.
ofensivas, com o objetivo de insultar a vítima.
te mais acuado, mesmo fora da escola. • A tecnologia dificulta a identificação do agressor
(ou dos agressores), o que aumenta a sensação de
• Difamação e injúria: o ato ocorre por fofocas
e rumores disseminados na internet, visando
impotência e a insegurança da jovem vítima.
Insegurança na net • Uma das características mais marcantes do
causar danos à reputação.
• Roubo de identidade: quando uma pessoa se faz
Um estudo realizado mundialmente pela ONG cyberbullying é a possibilidade de o agressor agir
na sombra. Ele pode criar um perfil falso nas redes passar por outra na internet, usando os dados
Plan para o seu relatório “Porque sou uma menina”
sociais, abrir uma conta fictícia de e-mail (ou ain- pessoais em contas de e-mail ou mensagens
(Because I am a girl), divulgado em 2010, analisou
da roubar a senha de outra pessoa) para mandar instantâneas, com o intuito de constranger e
a relação de garotas, moradoras de grandes cidades
seus recados maldosos e desaforados sem ser des- gerar danos a um terceiro.
de países em desenvolvimento, com a internet e
os celulares. O estudo apontou os principais fato- coberto por muito tempo. • Violação da intimidade: divulgação
• Segundo especialistas, a internet parece ter um de segredos, informações e imagens
res que fazem com que as meninas não aproveitem
papel importante quando o assunto é suicídio ou íntimas ou comprometedoras.
plenamente a tecnologia para seu desenvolvimento
pessoal e para adquirir conhecimento. massacres em escolas, como acontece vez ou outra • Exclusão: desligamento de alguém, de modo
Parte desse estudo foi feito no Brasil com dois nos Estados Unidos. Em 2011, o serviço secreto intencional, de uma comunidade virtual.
grupos. O primeiro contou com 44 garotas, entre americano fez um estudo com histórias de massa- • Ameaça cibernética: envio repetitivo de
10 a 18 anos, que foram entrevistadas presencial- cres em escolas de 1950 a 2010. A constatação mensagens ameaçadoras ou intimidadoras.
mente. O segundo grupo contou com 400 meninas, foi de que 87% dos atentados com grande núme- • Happy slapping: é a interface mais nítida entre
entre 10 e 14 anos, que responderam a um ques- ro de mortos foram motivados pelo bullying. No o bullying presencial e o virtual. Vídeos que
tionário on-line. Brasil, o caso mais marcante foi aquele conhecido mostram a agressão física na rua a um jovem,
Veja alguns dados da pesquisa realizada com as como massacre no Realengo. Outros dois casos escolhido de modo intencional ou não, são
garotas brasileiras: que também alarmaram a opinião pública brasi- divulgados na internet para ampliar a humilhação.

24 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 25


Capítulo II
A dor da saudade
Em abril de 2013, a canadense Ellen Smith*,
de 17 anos, se enforcou após meses de assédio
e ofensas pela internet. Sua morte causou co-
Inimigos ocultos moção nacional e motivou a aprovação de uma
É importante destacar que, no cyberbullying, exis- que quiser, sem medo de ser pego. Usa o compu-
lei na província de Nova Scotia para punir esse
tipo de crime.
De olho na rede
te um personagem fundamental: a testemunha. Sem tador ou o celular sem ser submetido a julgamen- “Temos a obrigação de educar as crianças, os
Dois anos antes de tirar a própria vida, ela havia adolescentes e os adultos que utilizam a internet
ela, as agressões não teriam tamanho poder de des- to, por não estar exposto aos demais.
sido abusada sexualmente por quatro jovens, que de maneira indiscriminada ou omissa, para que a
truição. “O ataque é profundamente propagado não • Normalmente, mantém esse comportamento por
fotografaram o episódio e postaram as imagens ignorância digital, o exibicionismo e o egoísmo não
apenas pela conduta do agressor. Existe uma plateia longos períodos. E, quando adulto, continua com
nas redes socais. O assunto rapidamente ganhou façam tantas vítimas como vemos acontecer todos
que consente de forma silenciosa, que assiste às o mesmo comportamento para chamar atenção.
os corredores da escola da jovem, que começou os dias”, diz Ana Paula.
agressões e aos danos. O agressor gosta de audiên- • A internet traz mais uma vantagem: como está
a ser xingada e a receber ameaças por meio de A psicóloga Ana Maria dá dicas para pais e pro-
cia, e a massa o segue, curte, assiste, divulga e com- oculto, nem precisa ser o mais forte para intimidar,
torpedos e de seus perfis nas redes sociais. fessores ajudarem meninos e meninas que estejam
partilha”, explica Ana Paula Siqueira Lazzareschi de o que é praxe na prática do bullying presencial.
“Foi como uma bomba, e ela nunca conse- sofrendo com o cyberbullying:
Mesquita, advogada especialista em direito digital,
de São Paulo. Veja as características de cada um Eu vi guiu se recuperar”, conta o pai, que acrescen- • Fique atento a qualquer mudança de comporta-
Também chamado de espectador, é fundamen- ta: “Nós seguramos as mãos dos nossos filhos mento que possa indicar que alguma coisa não
nessa história cruel de violência moderna:
tal para a continuidade do conflito, mesmo que não quando atravessamos a rua, conversamos com está bem. Não espere que o jovem conte o que
compartilhe ou repasse o e-mail ofensivo, nem mes- eles sobre o perigo que estranhos representam. está acontecendo. Procure ficar ao lado de seu fi-
• Foi comigo mo defenda a vítima. Ainda que não queira fazer Não podemos mais fingir que não sabemos do lho ou aluno e acreditar nele.
• Como no bullying presencial, ela costuma ser tí- parte dessa história, só pelo simples fato de ler a lado negro da internet”. • Não coloque o problema como sendo responsa-
mida e não faz amigos com facilidade. Foge do mensagem, sem tomar atitude nenhuma, já se torna bilidade dele e não diga que essas histórias são
padrão do restante da turma pela aparência física parte da plateia que o agressor. Os que atuam nas
(etnia, altura, peso ou estilo), por ser quase sempre agressões, rindo, comentando ou repassando ima-
Protesto em pink comuns nessa fase da vida e que não têm tanta
importância.
Chloe Kurt *, de 15 anos, havia imigrado com a
a melhor aluna da escola ou ainda pela religião. gens e fofocas, precisam saber que também são cor- • Afirme que há maneiras de combater o problema.
família da Irlanda para a cidade de South Hadley,
• Insegura, quando agredida se retrai e sofre, o que responsáveis pelo sofrimento causado ao outro. Se você não souber o que fazer, procure especia-
em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ela foi
a torna um alvo ainda mais fácil. listas que possam ajudá-lo a pelo menos aliviar as
encontrada enforcada na escada do prédio onde
• Por todas essas características pessoais, está mais consequências.
morava no dia 14 de janeiro de 2010, três meses
sujeita a doenças psicossomáticas, como dores de • Reporte o caso à escola e não se contente apenas
depois de intensos ataques de bullying provoca-
cabeça e de estômago sem causa aparente. Sofre com palavras gentis de consolo. Exija providên-
dos por garotas que estudavam na mesma escola.
também de angústia, ataques de ansiedade, trans- cias concretas. Não acredite se disserem que as
As agressões teriam começado depois de ela se
torno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, coisas se resolvem por si só. Seu filho ou aluno
envolver, por um breve período, com um garoto
além de fobia escolar. precisa saber que você está ao lado dele para en-
popular, ex-namorado de uma das agressoras.
• A depressão e o medo perseguem a vítima, tanto frentar os agressores.
Os ataques teriam ocorrido principalmente dentro
ou mais que seus agressores. Os casos mais sé- Ana Paula também faz um alerta especial aos
da escola, mas também por meio de mensagens
rios, se não receberem assistência, podem acabar pais de meninas adolescentes: “Atualmente, o di-
via celular e em sites de relacionamento. Ela até
em suicídio. reito de imagem é violado com maior frequência em
tentou não ligar para os comentários. Com medo
• Como não sabe lidar com o problema, pode es- virtude da autoexposição demasiada nos aplicativos
dos espancamentos prometidos e das ofensas
colher pessoas que considera mais indefesas que de comunicação instantânea e nas redes sociais.
pela internet, acabou com sua vida vestindo uma
ela e passa a provocá-las, tornando-se, ao mesmo Não existe nude seguro, já que qualquer sistema
camiseta pink, que se tornou o símbolo do movi-
tempo, alvo e agressor. pode ser invadido e a foto ser divulgada. Defen-
mento de jovens norte-americanas que se sensibi-
do que crianças, adolescentes e também adultos
• Eu fiz lizaram com a história da garota irlandesa.
não devam jamais encaminhar fotos íntimas, em
• Atinge sua vítima com humilhações repetidas para nenhuma circunstância, para nenhuma pessoa”, fi-
se sentir popular, poderoso e obter uma boa ima- Fontes: Artigo O uso das tecnologias digitais por ado- naliza a advogada. Também não custa lembrar que
gem perante a plateia. lescentes: potenciais e riscos, de Ana Maria Albuquer-
que Lima, disponível no site www.aedmoodle.ufpa.br tanto meninos como meninas devem ser conscien-
• Saber do sofrimento do outro não o impede de tizados sobre as consequências negativas do com-
Livro Cyberbullying e outros riscos na internet: Des-
agredir. Pelo contrário, fica feliz em provocar rea- pertando a atenção de pais e professores, de Ana Maria partilhamento de fotos de terceiros, tanto no papel
ções dolorosas. Seu prazer é pensar o quanto sua Albuquerque Lima (Editora Wak, 2011).
Bullying – Cartilha 2010 – Justiça nas escolas, do
de agressores como de plateia.
crueldade pode fazer doer.
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), disponível para
• Por conta do anonimato, sente-se livre para fazer o download em: http://goo.gl/E0KGQd

26 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 27


Capítulo III

Personagens
de um mesmo
drama
Agressores, vítimas e testemunhas

E
lado a lado com o problema

Especialistas costumam dizer que o bullying, em experiências ou do ambiente, que levam os jovens
geral, é um drama que se desenrola na presença de a ter dificuldade para controlar emoções, expressar
três personagens: o agressor, a vítima e a testemu- angústias ou ansiedade. Ser agressivo pode também
nha. Cada um apresenta características próprias, e ser uma maneira de chamar atenção quando a pes-
os papéis não são obrigatoriamente fixos. Uma víti- soa se sente negligenciada”, diz Luciano Passianot-
ma, por exemplo, pode eventualmente se tornar um to, psicólogo clínico de São Paulo.
agressor se encontrar alguém que considere mais Por outro lado, existem características que apa-
fraco. Uma testemunha que não goste de agressões rentemente contribuem para que crianças ou adoles-
pode apoiar os valentões mesmo quando quem apa- centes se tornem alvos de constrangimento na vida
nha é seu melhor amigo, tornando-se cúmplice si- escolar: “Pessoas com problemas físicos, magrinhas
lencioso, por medo de ser o próximo agredido. Des- demais ou obesas, de etnias e culturas diferentes ou
sa maneira, o fenômeno se expande por escolas do muito tímidas podem vir a se tornar vítimas. Isso não
mundo inteiro, muitas vezes sem que professores e quer dizer que elas obrigatoriamente vão sofrer bullying
responsáveis saibam como agir de maneira eficaz. ou que não reajam de modo adequado e revertam a
É verdade que ninguém nasce vítima ou agres- situação caso sofram ataques. Mas, em alguns casos,
sor, mas vários motivos direcionam a criança ou o a criança apenas não sabe como lidar com a situação
adolescente a desempenhar um ou outro papel: “Fa- ou tem medo de reagir e sofrer mais agressões físicas
tores genéticos, neurológicos e bioquímicos podem e psicológicas”, completa Luciano.
provocar um comportamento mais agressivo. Entre- Conheça a seguir o perfil de cada personagem des-
tanto, em muitos casos, essa tendência é reflexo de se drama que preocupa cada vez mais a sociedade.

28 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 29


Capítulo III

O agressor
De acordo com a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Bullying –
Mentes perigosas nas escolas (Editora Objetiva, 2010), os bullies podem ser de ambos
os sexos, agir sozinhos ou em grupo. A maioria, porém, tem um poder de liderança que
geralmente é legitimado pela força física e/ou psicológica.
É fundamental saber também que o agressor e sua turma não têm uma razão espe-
cial ou motivação específica para praticar bullying. Segundo Ana Beatriz, isso significa
dizer que, como se fosse a atitude mais natural do mundo, os mais fortes se utilizam
dos mais fracos para a própria diversão, prazer e demonstração de força, com o intuito
de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar as vítimas.
Saiba mais sobre suas características:
• A personalidade do bullie é marcada por traços de maldade. Ele não respeita nin-
guém, a não ser uma pessoa mais forte e mais agressiva que ele. “Não sente afeto
pelo outro, nem sente culpa por seus atos, tampouco remorso”, diz a psiquiatra.
• Abuso de poder, intimidação e prepotência são algumas das estratégias adotadas
pelos praticantes de bullying para impor autoridade e dominar as vítimas.
• De acordo com o filósofo e teólogo Pedrinho Guareschi, professor da pós-gradua-
ção em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e autor do livro Bullying: Mais sério
do que se imagina (EDIPUCRS, 2008), outras características
comuns nos valentões são: impulsividade, intolerância,
falta de controle dos sentimentos, baixa resistência a
frustrações e ideia de superioridade perante os outros.
• Seu desempenho escolar pode até ser normal ou supe-
rior à média, mas tende a piorar ao longo dos anos.
• “O agressor usa de sua extroversão, da facilidade
de expressão, da falta de caráter e ética para fazer
o que quer, agindo por meio da transgressão ou
contravenção e abusando do poder de manipula-
ção de outras pessoas a seu favor” diz o artigo
Bullying: como reconhecer o agressor e o agredi-
do?, publicado no site www.tiba.com.br/artigos.
php, do renomado psiquiatra e educador Içami
Tiba, falecido em agosto de 2015.

30 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 31


Capítulo III

A vítima
Em seus depoimentos e escritos, Içami Tiba também revelou que a
chantagem emocional é um dos mecanismos que levam uma criança ou
um adolescente a se transformar em alvo favorito dos bullies: “O agressor
se vale das frágeis condições de reação da vítima e ainda a ameaça de
fazer pior, caso ela conte para alguém. Assim, a pessoa fica sem saída: ao
se calar, o bullying continua; e, se tentar reagir, a agressão pode piorar”.
A psicóloga Tahiana Borges concorda com o psiquiatra: “Seja por timi-
dez ou por tentar se proteger de maneira inadequada, a falta de habilida-
de social para se posicionar diante das constantes provocações é o que a
mantém na posição de vítima”.
De acordo com especialistas, como a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa
Silva, essa personagem pode ser classificada em três categorias:

Típica: tem dificuldades de se socializar por ser tímida ou reservada.


Por isso, muitas vezes não consegue reagir às provocações. Em geral, é
mais frágil fisicamente ou tem alguma limitação física. Os motivos que
levam à prática de bullying contra ela são os mais banais possíveis.

Provocadora: ela provoca os colegas constantemente, ciente de que


eles vão revidar com reações agressivas. Entretanto, na “hora H”, não
consegue reagir de modo satisfatório e acaba sofrendo as consequências
de suas provocações.

Agressora: leva as ações de bullying “a ferro e fogo” e é capaz de


reproduzi-las em uma vítima mais frágil e vulnerável. Esse tipo de atitude
perpetua o ciclo vicioso e torna o problema difícil de ser controlado. “O
número de agressores é geralmente menor que o de vítimas, pois cada
uma delas pode ou não replicar a violência”, escreveu Içami Tiba. Em
situações extremas, como o famoso caso de Columbine, nos Estados
Unidos, a vítima agressora se mune de armas e explosivos e busca fazer
“justiça” com as próprias mãos, matando ou ferindo muitas pessoas e
depois pondo fim à própria vida.

32 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 33


Capítulo III

{
Conselhos
Morte anunciada
No dia 7 de abril de 2011, Wellington
“Minha primeira sugestão é para Menezes de Oliveira, de 23 anos, ganhou os
que o jovem acredite em si mesmo. noticiários ao entrar armado em uma escola
Não importa o que digam, não somos municipal do Rio de Janeiro e promover uma
tragédia semelhante àquelas assistidas nos
o que pensam que somos! Se você canais de televisão norte-americanos.
acreditar nisso, será muito mais fácil Por volta das 8h30 da manhã, o ex-aluno
entrou na Escola Tasso da Silveira, no bair-
se defender. Portanto, demonstre
ro de Realengo, dizendo ter sido convidado
autoconfiança e coragem. Ainda que para uma palestra. Subiu três andares e in-
pareça difícil, não permita que os vadiu uma sala com 40 alunos que assistiam
à aula de língua portuguesa. Sem dizer uma
provocadores percebam o sofrimento palavra, disparou 50 tiros contra os estudan-
sentido: defenda-se, peça-lhes tes, deixando 12 crianças mortas – dois me-
para parar, revide os apelidos e ninos e dez meninas, com idades entre 12 e

A testemunha
14 anos –, e se matou em seguida.
brincadeiras sem ser agressivo ou Um ex-colega do atirador revelou à po-
chorar. Para se defender do bullying, lícia que Wellington sofria constantes inti-
midações de alunos da sua turma. Quieto e
é preciso encontrar um caminho entre retraído, só falava o básico, não jogava fu-
Para a pedagoga e pesquisadora Cleo Fante, “o
aluno que presencia o bullying mas que não sofre
Passiva: tem medo de se tornar a próxima víti- a passividade e a agressividade, o tebol, não namorava e não tinha o costume
ma. Se for questionada, não concorda e até repele que nós, psicólogos, chamamos de de beber ou fumar. Testemunha dos males
nem pratica a violência representa a grande maioria as ações dos bullies. Entretanto, ao assistir a uma sofridos pelo atirador, o rapaz também con-
dos envolvidos com o problema. Por temer se trans- agressão sofrida por um colega, não denuncia nem
assertividade. Em seguida, conte tou que, apesar de nunca arrumar brigas,
formar em novo alvo para o agressor, acaba adotando toma qualquer atitude em defesa das vítimas por te- o ocorrido a alguém de confiança, alguns estudantes da turma sempre tive-
a lei do silêncio”, escreve a autora no livro Fenôme- mer represálias. ram medo de que Wellington desenvolvesse
no bullying: Como prevenir a violência nas escolas e preferencialmente a um adulto,
algum comportamento violento. Foi o que
educar para a paz (Verus Editora, 2011). Ativa: não se envolve diretamente nos ataques, que possa ajudar você a resgatar aconteceu anos depois, aparentemente sem
Pedrinho Guareschi alerta que “apesar de não so- mas dá apoio moral aos agressores, com risadas e
a autoestima e também resolver o aviso-prévio. Ou melhor, sem que os adul-
frerem nem participarem de forma direta das agres- palavras de incentivo.
tos, pais e professores prestassem atenção e
sões, os espectadores podem se sentir incomodados Neutra: não demonstra nada, nem desagrado nem problema junto à escola. Ninguém tomassem providências frente ao bullying a
com o que veem e inseguros sobre o que fazer. Al- agrado. O fato de um colega sofrer agressões parece vence o bullying sozinho.” que Wellington foi submetido durante anos.
guns reagem negativamente diante do bullying, por não ter nenhum significado psíquico ou moral, como
Tahiana Borges, autora do livro Memórias do
desejar que sua escola seja um ambiente seguro, so- se ficasse anestesiada emocionalmente frente ao bullying (Novo Século Editora, 2015), que foi vítima
lidário e sem temores. Tudo isso pode influenciar de acontecimento. De acordo com especialistas, esse de agressões verbais em seu tempo de escola. Fontes: Bullying – Combater o bullying é um sinal de justiça.
maneira prejudicial sua capacidade de progredir nos tipo de testemunha, em geral, vem de famílias Cartilha da Comissão Nacional de Justiça, de Ana Beatriz Bar-
estudos e socialmente”. desestruturadas e constantemente presencia atos bosa Silva, 2015. Disponível para download em goo.gl/C7BJcy
A testemunha pode ser dividida em três grupos: de agressão no próprio lar. Site: www.tiba.com.br

34 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 35


Capítulo IV

Direto das
salas de aula
O primeiro passo para enfrentar de maneira eficaz
a violência entre alunos é estimular a comunidade

O
escolar a desenvolver um olhar observador

O bullying é um fenômeno que não faz distinção en- sentarem uma postura agressiva em relação a um
tre classes sociais e está presente em escolas públicas ou outro aluno, servindo de exemplo negativo.
e privadas pelo Brasil afora com características seme- • Muitos profissionais da educação revelaram na pes-
lhantes, independentemente da cultura do país. Porém, quisa que não sabem diferenciar o bullying de uma
a situação por aqui apresenta uma particularidade. Em brincadeira comum, o que denota o desconheci-
21% dos casos, as agressões físicas ou verbais ocorrem mento de boa parte do corpo docente em relação
dentro da sala de aula – e não no pátio da instituição. ao fenômeno.
Esse foi um dos dados revelados pela pesquisa • O estudo demonstra que há despreparo da maioria
Bullying escolar no Brasil, de 2010, organizada pela das escolas pesquisadas para reduzir ou eliminar a
Plan Internacional, uma ONG voltada para os direitos ocorrência da violência escolar. O principal moti-
da infância, que ouviu 5.168 alunos do 5° ao 9° ano vo para essa atitude passiva perante uma situação
do Ensino Fundamental, professores, gestores escola- que se mostra cada dia mais grave é a escassez de
res e familiares de todas as regiões do país. “Em outros recursos materiais e humanos e a falta de capacita-
países, a violência costuma acontecer com mais frequ- ção dos professores e das equipes técnicas.
ência no pátio das escolas”, revela a educadora e pes- • Como professores, auxiliares, funcionários e ges-
quisadora Cleo Fante, coordenadora do estudo e autora tores muitas vezes acreditam que as causas da
de vários livros sobre bullying. As razões seriam: violência entre alunos estão na família ou na co-
• Nas escolas públicas, a falta de professores é fre- munidade em que vivem fora do âmbito escolar,
quente, e os alunos ficam dentro da sala sem super- são feitas poucas ações institucionais com foco no
visão, o que facilita a ocorrência de violência. combate ao problema. De acordo com a pesquisa,
• Porém, muitos casos também acontecem na pre- as ações mais comuns são pontuais e direcionadas
sença do professor, especialmente quando há su- especificamente aos agressores. Na maioria dos
perlotação, salas com mais de 30 alunos, o que casos, os únicos recursos adotados são a punição
dificulta o monitoramento de todos. dos bullies com advertências e suspensões e con-
• Também acontece de os próprios professores apre- versas com os pais deles.

36 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 37


Capítulo IV

Atitudes assertivas
O professor é a melhor pessoa para resolver o pro- específicas, como racismo, homofobia e preconceitos
blema. Afinal, ele presenciou o acontecido, lida com os relacionados à obesidade e etnia, entre outros. Os te-
envolvidos quase diariamente e conhece a personalida- mas devem ser abordados com objetividade, tendo em
de de seus alunos. Para isso, vale ter alguns cuidados: vista um projeto maior, o combate ao bullying.
• O ideal seria não mandar os alunos para a direção • Ainda que as intenções sejam boas, o docente
ou supervisão, dando a entender que não se sente deve se lembrar de que não é conveniente citar
com autoridade para controlar o comportamento uma criança em particular durante as aulas, rela-
da classe. Ele só deve agir assim em casos ex- cionando-a a um assunto que possa vir a ser usado
cepcionalmente graves. Por outro lado, isso não como chacota.
significa que o gestor escolar não deva saber o que • Interfira diretamente nos grupos sempre que
se passa em sala de aula. Ele deve ser informado isso for necessário para romper a dinâmica do
de toda e qualquer situação de bullying para que, bullying. Faça os alunos se sentarem em lugares
junto com toda a equipe da escola, tome medidas previamente indicados, mantendo afastados os
preventivas ou punitivas, de acordo com o caso. possíveis agressores das vítimas.
• De maneira cordial, o professor pode pedir ao • Os funcionários da escola também são importantes
agressor, por exemplo, que se coloque no lugar da agentes na luta contra o bullying. São eles que es-


vítima. Será que ele gostaria de ser chamado pelo tão em contato com os alunos quando os professo-
apelido ou de ter seu dinheiro para o lanche “rou- res não estão por perto. Com o convívio diário, eles
bado”, ainda que por brincadeira? aprendem a conhecer o comportamento da maioria,
• É importante também envolver os espectadores principalmente dos mais rebeldes e criadores de
encrencas. Esse aprendizado será de grande valia
Entre quatro paredes que, queiram ou não, se tornam cúmplices do bullie
ao se divertirem à custa da vítima. O professor pode para docentes e gestores identificarem os agresso-
Ao surgir uma situação em classe, a intervenção res e conterem situações de risco. Quanto maior for
lembrar a todos que brincadeiras de mau gosto só
deve ser imediata. “Se algo ocorre e o professor se a capacitação desses funcionários, mais eficaz será
funcionam bem quando há uma plateia que ri da
omite, dá uma risadinha por causa de uma piada ou a ajuda no combate à violência escolar.
humilhação do colega. O objetivo deve ser transfor-
de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve
mar as testemunhas em aliadas contra o bullying,
ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo”,
diz Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento
“Ao perceber um ao mostrar que as risadas e o desprezo podem ferir
tanto ou mais que uma violência física.
Científico de Segurança da Criança e do Adolescente
da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
comportamento • Questionar a vítima sobre o acontecimento só vai
deixá-la ainda mais constrangida. Esse aluno precisa
Se não houver uma manifestação rápida por parte
do docente, o agressor percebe que, além de suas
inadequado, uma de ajuda e não que o lembrem que fez papel de bobo
perante os colegas. De preferência, falar com ele em
atitudes serem ignoradas, não vai sofrer punição,
sentindo-se livre para agir como bem entender. Já a
falta de respeito particular, no mesmo dia ou antes da próxima aula,
para saber mais sobre a situação do bullying e de-
vítima acaba confirmando o que já desconfiava: que
ninguém se importa com o que acontece com ela. ao outro, o docente monstrar seu interesse na resolução do problema.
• O professor também deve chamar o agressor para
“Ao perceber um comportamento inadequado, uma
falta de respeito ao outro, o docente deve imediata- deve imediatamente uma conversa em separado após a aula, mas é im-
portante que seja no mesmo dia. Mostre a ele as
mente esclarecer, falar sobre o acontecido, tanto para
a vítima quanto para o agressor. Quando nada se faz, esclarecer, falar sobre consequências de seus atos naquele momento e
toda a raiva represada vai se acumulando e uma hora no futuro. Na conversa, procure indícios do motivo
deságua, é inevitável. Só não é possível prever quan- o acontecido, tanto de seu comportamento agressivo e mostre a cruel-
do e como acontecerá”, diz a psicopedagoga Luciana dade que existe por trás das brincadeiras.
Barros de Almeida, presidente nacional da Associa- para a vítima quanto • E não perder a chance de conversar com os alunos
ção Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). quando surgirem comentários, casos, notícias ou acon-
para o agressor” tecimentos na própria escola que envolvam situações

38 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 39


Capítulo IV

Um modelo a ser seguido Se correr o bicho pega...


O professor deve estar atento às atitudes e posturas que podem comprometer seu
trabalho em relação ao combate e à prevenção do bullying: “A vida me reservou muita tristeza quando meus pais se
• Nem todas as crianças e os jovens sentem e reagem aos estímulos da mesma ma- separaram. Eu tinha 11 anos e vi minha família se dividir,
neira. Por isso, o docente não deve acreditar que uma única estratégia surtirá bons
resultados com todos os alunos, seja para os de comportamento mais agressivo, uma vez que meus pais eram primos-irmãos. Minha mãe ficou
seja para os mais tímidos. Conforme o “desafio” proposto, o sentimento de inferio- desempregada e eu precisei trocar de turno na escola porque a
ridade nos mais inseguros pode se acentuar, a ponto de evitarem voltar à escola.
mensalidade era mais barata. Talvez por causa da tristeza, deixei
• Nunca se deve expor um estudante a uma situação constrangedora, que possa
despertar nele o sentimento de incompetência. de estudar. Tornei-me um péssimo aluno e, com o começo da
• O professor é uma autoridade na sala de aula. Mas essa autoridade só é reconhe- adolescência, simplesmente não sabia como me relacionar com os
cida pela turma quando há uma relação de respeito mútuo.
• A ausência do docente, mesmo que por um curto período, pode intensificar a ação
novos colegas e suas gírias esquisitas, passando a me isolar. Não
do agressor. Por isso, ele deve evitar deixar a sala sem monitoramento. demorou muito para eu ficar marcado na escola.
• Todo cuidado com as palavras é bem-vindo. Qualquer crítica ou menosprezo por Com o tempo, passei a sofrer violência da turma, por ser
parte do educador em relação a um aluno com mais dificuldade, por exemplo, facil-
mente se torna um motivo e tanto para o agressor de plantão mostrar suas garras. considerado bobo e imaturo e por não gostar do que todos
• Ser rigoroso não é o mesmo que ser violento. É possível colocar limites sem agres- gostavam. Passaram a me perseguir e eu sofria humilhações
sões verbais.
constantes por um grupo de agressores mais velhos ao perceberem
que ninguém me protegia. Minha mãe passava horas em trabalhos
árduos para ganhar algum dinheiro e meu pai estava com uma
nova família. No final das aulas, à noite, eu ia para casa sozinho
e, certa vez, eles me pegaram pra valer. Me bateram tanto no meio
da rua que cheguei a desmaiar. Fui salvo por uma de minhas tias
que, milagrosamente, passava por ali a caminho da faculdade.
Depois desse episódio, fui obrigado a mudar de escola, o que
para mim foi um alívio. Estava farto de ouvir dos professores
que não seria nada na vida e de ser alvo de piadas por causa da
Estratégias auxiliares minha aparência, da cor da minha pele, que é morena, e do meu
Existem algumas práticas simples que podem aju- permitem que os alunos reflitam sobre a realidade rendimento escolar. Hoje, porém, percebo que esse tempo difícil
dar o professor em sala de aula quando detectar um e discutam como podem ajudar a diminuir os com-
me ajudou a me tornar um escritor, me possibilitou abordar esse
caso de bullying entre os alunos: portamentos agressivos na escola.
• Se a classe ainda não abriu um debate sério sobre a • Para as salas de pré-escola, os especialistas reco- assunto nos diversos livros que escrevi, com destaque para Céu
questão, o docente não pode perder a oportunidade mendam a contação de histórias que apresentem de um verão proibido (Besourobox Editora,2014), o preferido
de iniciá-lo no mesmo dia ou na próxima aula. Uma situações de bullying. A manifestação mais comum
dica é apresentar o vídeo “A peste da Janice”, de do fenômeno entre os pequenos é a exclusão do
dos adolescentes. Estou feliz por poder retornar ao local onde
14 minutos, que pode servir de gancho para o início coleguinha das brincadeiras. Nesses momentos, é fui humilhado – as escolas – para contar o que passei e ajudar a
de um trabalho preventivo junto aos alunos. importante mostrar às crianças como esse compor- combater o bullying. Só tenho a comemorar!”
• A dramatização é uma ferramenta eficiente para tamento machuca quem está sendo excluído.
fazer crianças e jovens vivenciarem outros papéis. João Pedro Roriz, escritor, arte-educador e palestrante, apaixonado por literatura infantil
Mas é essencial discutir as experiências depois do e autor de mais de 20 livros para adolescentes, entre eles Bullying – Não quero ir pra escola!
Fonte: livro Bullying escolar – Perguntas e respostas, de
(Edições Paulinas, 2013) e Bullying – Se correr o bicho pega (Edições Paulus, 2013).
trabalho. Atividades com filmes e músicas também Cleo Fante e José Augusto Pedra (Editora Artmed, 2008).

40 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 41


Capítulo V

A vez dos
pais A importância do acolhimento no lar e
da participação ativa na vida dos filhos

42 Guia bullying infantil


Q Quando um bebê nasce, seu primeiro núcleo de
convívio e sociabilidade é a própria família. Ali se
inicia a formação do adulto, homem ou mulher, que
a criança será no futuro. É nesse começo de sociali-
zação que se esboçará também o modo como o indi-
víduo vai enfrentar os problemas que invariavelmen-
te se apresentarão em sua vida.
É na infância que aprendemos (ou não) a ter
resiliência, a capacidade de o indivíduo lidar com
problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão
em situações adversas, sem perder o controle de
suas emoções. “Ensinar resiliência a uma criança
é o mesmo que dar a ela as chaves de um reino
mágico. O mundo fica mais radiante, o impossível
parece possível, e futuros desafios não são perce-
bidos como tão inatingíveis”, escreve Joel Haber,
psicólogo clínico especialista em bullying em seu
livro Seu filho x Bullying: Ajude seu filho a lidar
com provocações, insultos e agressões (Novo Sécu-
lo Editora, 2012).

Guia bullying infantil 43


Capítulo V

Caminhos Quebre as defesas


A participação, o acompanhamento e a colaboração “Os pais devem sempre se mostrar disponíveis a

Será que meu filho


De acordo com Cleo Fante, educadora e
dos adultos na vida dos filhos têm grande valor. Saben- escutar o filho, permitindo que expresse seus sen-
pesquisadora pioneira no estudo do fenômeno
do que seus pais estão sempre presentes, os pequenos timentos diante da ameaça ou da agressão que vi-
bullying, o primeiro alerta que deve ser dado aos

é vítima?
sentem-se mais seguros para contar os acontecimentos venciou”, diz a psicopedagoga Bianca Acampora.
pais é que não vejam seus filhos somente como
bons e ruins. “É importante não minimizar nem relati- Se perceber que ele quer contar alguma coisa da
vítimas. Esse primeiro olhar da família parece
vizar o que está ocorrendo. O assunto deve ser levado escola, mas não se decide a falar, converse bastan-
ser uma tendência quando surge o problema e
a sério. Mantenha um diálogo aberto com as crianças, te, tentando vencer sua resistência e ajudando-o
os pais são chamados para uma conversa na es-
busque entender se estão passando por alguma dificul- a lidar com a questão. Procure não transformar a
cola. É preciso lembrar que muitas crianças na
dade que as esteja fazendo agredir ou se submeter às conversa em um inquérito policial. Desse modo, ele
escola adotam comportamentos diferentes dos
agressões. Fale com outros pais, professores, coordena- dificilmente se sentirá seguro para contar que sofreu
adotados em casa. “Por isso, é importante que
dores e adultos próximos às crianças envolvidas. Tentar agressão. Menos ainda se tiver sido ele quem come-
fiquem atentos a qualquer mudança comporta-
resolver tudo sozinho pode não ser tão eficiente. Não çou a “brincadeira” de mau gosto.
mental, mesmo que lhes pareça insignificante.
acredite que a situação mudou só porque as crianças Se a criança não sabe o que falar para se defen-
Alterações de humor, insônia, aspecto triste, de-
pararam de falar sobre o assunto. Certifique-se de que der quando sofre um ataque de bullying, é melhor
primido ou irritado, desejo de mudança de esco-
as coisas realmente mudaram. Por último, mostre estar aconselhá-la a não responder nada, mas que procure
la sem justificativas convincentes, queda brusca
sempre disponível e ao lado delas”, orienta Luciano Pas- não demonstrar medo. E preste bastante atenção no
no rendimento escolar, sintomas psicossomáti-
sianotto, psicólogo clínico de São Paulo. relato do seu filho, não apenas em suas palavras,
cos, como dores de cabeça e de estômago, ton-
Em casa, é fundamental que os pais conversem mas em seu comportamento como um todo. Lembre-
turas, vômitos e diarreia pouco antes de irem
todos os dias com os filhos a respeito da escola, dos se de que nem sempre o agressor é quem deu início
à escola podem ser indícios de vitimização”,
cursos e atividades que realizam fora, mesmo que as ao bullying. As vítimas também podem “provocar”
aponta a autora em seu livro Bullying escolar –
crianças tenham uma reação negativa, do tipo “Que uma reação negativa de quem já tem uma tendên-
Perguntas e respostas (Editora Artmed, 2008).
conversa chata!”. Você não precisa pedir um relatório cia à agressividade. Ainda que esse não seja o me-
Por outro lado, ela também aconselha aos
diário de tudo o que aconteceu em sala de aula, mas lhor caminho para se sobressair perante um grupo,
pais a ficarem alertas se o filho começar a ter
demonstre interesse pelo que seu filho conta, seja uma o comportamento provocador pode ser uma forma
“condutas abusivas, desafiadoras, humilhan-
conversa, brincadeira ou o problema de um amigo. desesperada de quem se sente excluído para chamar
tes, agressividade exacerbada, envolvimento
Sempre procure saber dos colegas, re- a atenção de seu grupo.
frequente em desentendimentos, expressão de
tome as histórias e pergunte como
sentimentos de superioridade, de intolerância e
tal encrenca foi resolvida. Dessa
de desrespeito, pois são alguns sinais emitidos
maneira, você estará demons-
pelos praticantes de bullying”.
trando a seu filho que real-
Em ambos os casos, é fundamental que os
mente se interessa pela vida
pais procurem a escola não apenas para conver-
escolar dele, o que vai além
sar sobre os acontecimentos, mas também para
de cobranças por notas e
trocar informações e procurar soluções em con-
bom comportamento.
junto. O ideal é que estabeleçam uma parceria
O mais importante é criar
com a escola e se preocupem tanto com os filhos
o hábito da conversa em fa-
que são alvos como com os autores de maus-
mília. Acomode os horários
tratos. Ambos necessitam de ajuda e muitas ve-
de trabalho dos pais e da
zes de encaminhamento a outros profissionais,
escola dos filhos e apro-
especialmente os da área da saúde. Porém, se
veite uma das refeições,
a escola não tomar providências, os pais devem
como o jantar, para
procurar o Conselho Tutelar. Dependendo da
promover essa reunião
gravidade do caso (cyberbullying, lesão corpo-
familiar, quando cada
ral, calúnia e difamação), é necessário registrar
um pode falar um pou-
boletim de ocorrência na delegacia de polícia.
co de si mesmo.

44 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 45


Capítulo V

Hostilidade não é solução


Segure sua irritação se perceber que seu filho, os momentos, inclusive nos mais difíceis, como nas E se seu filho for o causador do problema, a ati-
principalmente se for mais velho, não soube se situações de bullying. tude deve ser a mesma: “O agressor carrega uma
defender por medo do agressor. Ao ser questiona- Por isso, escute sua história com todo respeito. série de conflitos. Por isso, a família deve estar sem-
do pelos pais com frases como “Mas por que você Peça que descreva quem esteve envolvido, como, pre atenta a seu comportamento. Ele sofre bastante,
não reagiu?”, ele pode entender que, de alguma quando e onde aconteceram os episódios. Descubra mas não como a vítima. Por isso, descarrega toda
maneira, merece os insultos (na escola e em casa) o máximo que puder sobre as táticas de perseguição a carga negativa em outra pessoa. A família deve
por não saber se defender sozinho. ou intimidação que estão usando contra ela. E dê ampará-lo. Contudo, o problema é que, muitas ve-
Alguns pais, então, decidem “treinar” os filhos todas as demonstrações de que acredita nela. Por zes, são os próprios pais que incentivam o mal com-
para revidar a agressão. Cuidado com esse tipo de fim, converse sobre o próximo passo, que é procurar portamento”, diz a psicopedagoga.
atitude, que pode causar um dano emocional maior a escola e, junto com os professores, encontrar solu-
ainda. Tentar despertar a coragem de seu filho com ções pacíficas para resolver a questão.
recomendações como “Nunca traga o desaforo para
casa!”, mostrando que respeito é conquistado na
base da força ou do grito, é o pior que se pode Apoio da família
fazer a uma criança indefesa. Não é dessa maneira Muitas vezes os pais não sabem o que fazer de
que ela aprende a construir um ambiente de soli- imediato quando percebem que seus filhos estão en-
dariedade entre os colegas, seja nesse momento na volvidos em um caso de bullying. Por isso, à primeira
escola, seja futuramente no trabalho. desconfiança, a atitude mais assertiva é conversar
Além disso, se ela já se sente temerosa de en- com a criança ou o jovem, independentemente do
frentar o “fortão” da escola, imagine como fica sua papel que ele desempenhe na trama.
autoestima por não conseguir atender também às “Ao identificar o filho como vítima, a primeira ati-
expectativas dos pais. Entretanto, é muito importan- tude é tentar procurar a causa de seu sofrimento por
te os pais salientarem que estão muito orgulhosos meio de uma conversa e depois procurar a escola
dela, sim, por ter tido a coragem de lhes contar o para fazer um trabalho conjunto de apoio. É preciso
que está acontecendo na escola, sem medo de cau- também fazer um trabalho de prevenção e mostrar
sar decepção. Afirme que seu filho não está sozinho como é inadequado esse comportamento, para que
em uma situação que ele não sabe resolver, mas que a vítima não venha a se tornar um agressor”, diz a
juntos conseguirão solucionar o problema. psicopedagoga Quézia Bombonatto.

Sem perder a ternura


Os papéis de pai e de mãe requerem que o
adulto tenha uma postura de autoridade que mos-
tre competência para orientar e colocar limites.
Alguns, entretanto, com medo de parecer autori-
tários, procuram se transformar em amigo do filho.
Esse tipo de atitude pode confundir a criança. Ela
precisa ter no pai e na mãe pessoas que inspirem
confiança e representam um porto firme em todos

46 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 47


Capítulo V

• Diga que acredita nele e converse sobre qual seria


a melhor atitude a ser tomada, ainda que já tenha
se decidido a comparecer à escola para falar com o
professor e o gestor. Se seu filho não aceitar a ideia,
não pense de imediato que a história pode não ser a
que ele contou. Tente investigar o motivo da recusa.
Pode ser medo, o que é mais que normal.
• Diga a ele que o próximo passo é muito sério
e explique as consequências de acusar alguém
injustamente. Mas é fundamental que continue
demonstrando confiança em suas palavras. Se
você notar consistência nas acusações de seu fi-
lho, prossiga.
• Se achar necessário, converse com os pais dos
colegas de classe e peça que verifiquem com os
outros jovens se presenciaram a cena, se esse pro-
fessor em questão costuma agir assim apenas com
seu filho.
• Se suas suspeitas se confirmarem, avise-o sobre os
próximos passos, afirmando que ele não precisa ter
medo de sofrer retaliações. A criança precisa sentir-
se segura sabendo que seus pais vão protegê-la.
• Converse com o professor e escute o que ele tem
a dizer. Mas saiba que ele dificilmente confessará
que praticou bullying contra seu filho. Converse
também com o diretor da escola. Caso o gestor
não queira enxergar o problema, reúna as provas
que conseguir.
• Peça a seu filho que conte sobre as atitudes do

Quando a agressão vem de cima


Se a agressão de um colega provoca dor e deixa la provocadas pelo professor, que abusa de seu poder fazer para parar com o bullying nem a quem recorrer
professor depois dessas conversas. Se a conduta
do educador melhorar, talvez o caso possa ser en-
cerrado por aí.
• Se o problema persistir, você pode pedir a autori-
marcas, imagine, então, como deve se sentir a crian- e humilha o aluno na frente dos outros. Segundo os na escola”, diz Thelma. Entretanto, se esse jovem zação dos outros pais para que seus filhos sejam
ça ou o jovem quando o bullying vem de um adulto, especialistas, na maioria das vezes, o abuso tende a souber que pode contar com o apoio dos pais, é na testemunhas ou instruir seu filho a fazer gravações
como pais ou professores: “Quando a criança é agre- se tornar crônico. O professor, então, começa a des- família que ele vai buscar ajuda. que, em casos de bullying, serão provas impor-
dida de alguma maneira por quem deveria protegê-la, carregar toda sua agressividade verbal em cima de um tantes a serem usadas contra o agressor. Se ne-
a dor e a sensação de desamparo se tornam maiores aluno, tornando a aula uma cerimônia pública de de- O que os pais podem fazer nesses casos: cessário, converse com um advogado e peça uma
ainda. É possível que essas vítimas se tornem futuros gradação, na qual a vítima é constantemente ridiculari- • Tenha uma conversa esclarecedora com seu filho. autorização judicial para fazer tais gravações. Em
agressores ou ainda pessoas com imensas dificulda- zada enquanto suas capacidades são rebaixadas. Ouça o que ele tem a dizer com toda atenção, último caso, de preferência com provas, faça um
des de estabelecer relacionamentos, pois aprenderam “Os alunos que sofrem bullying de professores evitando fazer críticas e dar exemplos do que ele boletim de ocorrência e não se sinta constrangido
que confiar em alguém é sinônimo de sofrimento. En- vivenciam sentimentos de confusão, raiva, medo e deveria ou não ter dito. Se ele se atrapalhar no em relatar o que aconteceu.
tão, é melhor não confiar em mais ninguém”, alerta a uma enorme dúvida a respeito de suas competên- relato, não o censure nem demonstre que está des- Enfim, faça o que julgar mais prudente, porém
psicóloga Thelma Armidoro Velasco. cias acadêmicas e sociais. Além de não saber por confiando da história. Lembre-se de que ninguém não deixe de agir. Faça isso pelo bem-estar físico e
Infelizmente existem situações de bullying na esco- que foi escolhido como alvo, ainda não sabe o que consegue ser 100% objetivo sob forte pressão. psicológico de seu filho.

48 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 49


Capítulo V

Meu filho é o agressor. E agora?


É difícil para alguns pais admitirem falhas • Em geral, são crianças ou jovens que apresentam um
ou defeitos em seus filhos e, por isso, preferem comportamento mais agressivo. A tendência de maltra-
culpar os outros, mesmo quando têm a cons- tar animais pode ser um indício dessa agressividade.
ciência de que estão errados. É fácil entender • Apresentam dificuldade de relacionamento com um ou
o motivo. Os agressores geralmente trazem de com os dois pais ou com os irmãos.
casa um modelo inadequado, com valores con- • Não pensam no bem-estar do outro.
fusos, ou costumam liberar na escola as tensões • Demonstram gostar quando veem os outros expostos ao
que vivenciam no âmbito familiar. ridículo.
Entretanto, negar as evidências com a inten- • Procuram sempre esconder as traquinagens dos pais.
ção de proteger o filho não é a melhor saída. “Os • Falam palavrões.
pais devem ser ativos na identificação e pontua- • O que os pais devem fazer nesses casos:
ção de atitudes inadequadas logo nas primeiras • Deixe claro que considera os atos de perseguição ou intimi-
ocorrências. Desconstruir um comportamento dação sérios e que não vai tolerar tais comportamentos.
já aprendido é muito mais difícil. Os pais de- • Crie regras claras e coerentes que sirvam de guia para o
vem ser firmes com o filho e deixar claras as comportamento de todos os filhos. Elogie e apoie quan-
consequências de seus atos, mas sempre com do eles seguirem as regras.
carinho e amor”, diz Cynthia Wood, psicóloga e • Passe mais tempo com as crianças e os adolescentes e
psicopedagoga. supervisione cuidadosamente suas atitudes.
Dificilmente o jovem vai contar em casa que • Conheça os amigos de seus filhos, convidando-os para
faz brincadeiras de mau gosto com colegas. ir a sua casa, e preste atenção em como passam o tem-
Daí é importante que os pais fiquem atentos po livre.
a reações que podem se manifestar desde cedo • Estimule-os a participar de atividades sociais, como a
ou, então, repentinamente: prática de esportes coletivos.
• Compartilhe suas preocupações com o professor, coor-
denador ou diretor da escola.

A psicóloga Thelma faz um alerta: “Nos casos mais se-


veros, seja da vítima ou do agressor, a família toda precisa
de ajuda. Por isso, é fundamental que os pais procurem
um psicoterapeuta para atender a criança ou o jovem com
problemas e também para orientá-los e ajudá-los a
compreender o sofrimento do filho. Dependendo
do tamanho do sofrimento e/ou da depressão,
às vezes, é necessário também entrar com
medicamentos. Porém, essa indicação
só será feita depois de a criança
ou o jovem passar por avalia-
ção médica com um pro-
fissional especialista”.

50 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 51


Capítulo V

Mudança
Em um primeiro momento,
não pense em tirar seu filho
da escola, do curso ou mudar
de prédio, ainda que ele in-
sista. Será muito importante

física só em
para a autoestima de seu filho
quando ele vencer o bullying
no ambiente onde foi vítima.
Além disso, é bem possível
que esta seja a primeira lição
de vida na qual ele terá a
oportunidade de aprender não

último caso
apenas a se defender de seus
perseguidores, mas que gente
agressiva existe em toda a
parte, inclusive em seu futuro
ambiente de trabalho.

A hora e a vez do cyberbullying


Com ou sem bullying, os pais precisam ter contro- Ana Maria Albuquerque Lima, psicóloga, mestre em • É fundamental também que ela aprenda a nunca pecializado no assunto, para tirar a página com as
le sobre o uso da internet por seus filhos, que não Educação e autora do livro Cyberbullying e outros responder às mensagens, pois, quando a pessoa agressões do ar.
devem ter liberdade total nessa atividade. Alguns riscos na internet: Despertando a atenção de pais e reage, acaba atendendo ao objetivo do agressor, • Procure uma delegacia especializada em ataques
especialistas orientam os pais a entrar nas redes so- professores (Editora Wak, 2011): que é o de incomodar e ferir, o que faz com que digitais para fazer o boletim de ocorrência.
ciais que seus filhos frequentam, mas sempre como • Mesmo que os pais saibam que seu filho ou sua filha tais ações se tornem cada vez mais frequentes. • Peça ajuda a um psicólogo quando os recursos de
espectadores, nunca como participantes diretos. não está sendo vítima de cyberbullying, é importan- • Ela também não deve fazer nenhuma retaliação, apoio emocional da família se esgotarem.
Se as agressões vierem via internet, seja por e- te reforçar, em conversas informais sobre o assunto, para não reforçar o comportamento do agressor e • Se a situação deixa os pais muito aflitos e nervo-
mail, vídeos, imagens ou mensagens nas redes so- que caso isso venha a acontecer, não importa o teor não alimentar o ciclo de agressão. sos, uma saída é conversar com especialistas de
ciais, mais do que nunca o apoio e a compreensão da mensagem ou da imagem, é essencial que não • A vítima, com apoio dos pais, deve relatar o ocorri- instituições como a Safernet, que podem dar dicas
dos pais serão fundamentais para que o jovem – em fiquem com medo de censura e procurem imediata- do a um responsável na escola, se a agressão partir para resolver o problema. Caso queira denunciar
geral, a garota –, consiga superar o problema e se- mente a ajuda de um adulto da família. Se, em um de um colega da mesma instituição. casos de cyberbullying para a Safernet, mande um
guir em frente com o mínimo de sequelas possíveis. primeiro momento, achar menos doloroso contar a • É bom juntar provas materiais, salvando e impri- e-mail para prevencao@safernet.org.br.
Veja as orientações das educadoras Bianca Acam- um tio ou uma tia, ou mesmo a um professor em mindo as páginas com as ofensas.
Fonte: site Bullying não é brincadeira (www.bullying-
pora, psicopedagoga e arteterapeuta, professora da quem confie, então que procure essa pessoa para • É possível pedir ao provedor, de preferência por naoebrincadeira.com.br), de Valeria Rezende da Silva,
Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e ajudá-la a resolver a situação difícil. meio de uma autoridade policial ou advogado es- psicóloga, orientadora educacional e autora do livro
Bullying não é brincadeira (Just Editora, 2012).

52 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 53


Capítulo VI

A prevenção
é o melhor
remédio
A conscientização por meio de informação
e acolhimento promove resultados
significativos no combate às agressões

54 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 55


Capítulo VI

No cumprimento da lei Programas de prevenção


Primeiramente, é preciso lembrar também que Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
prevenir e combater o bullying é uma obrigação le- os programas que enfatizam as capacidades sociais,
gal, conforme descrito no artigo 5 do Estatuto da como habilidade de se impor em situações difíceis,
Criança e do Adolescente (ECA): “nenhuma crian- de defender seus próprios interesses, de iniciar e
ça ou adolescente será objeto de qualquer forma de construir relacionamentos positivos e mantê-los, sem
negligência, discriminação, exploração, violência, perder a outra pessoa de vista, parecem estar entre
crueldade, opressão, punido na forma da lei qual- as estratégias mais eficazes para a prevenção da vio-
quer atentado por ação ou omissão aos seus direitos lência escolar. E, quanto mais cedo esses programas
fundamentais”. Mas sabemos que esse conhecimen- são aplicados, melhor. Ensinar essas competências
to nem sempre é suficiente nas escolas. “Justamente às crianças nas escolas de Educação Infantil e do
por isso, diversos municípios e estados, como Ceará, Ensino Fundamental é uma forma eficiente de pre-
Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, venir e evitar a violência no Ensino Médio, no qual
Santa Catarina e a cidade de São Paulo criaram pro- ela se faz mais presente.
jetos de lei, alguns já aprovados, cujo principal teor Porém, o combate à violência, à discriminação e ao
é a obrigatoriedade das escolas públicas de punir e preconceito no cotidiano dos alunos tem se apresen-
prevenir o bullying e todas as formas de violência tado como um grande desafio para professores, equi-
escolar”, cita Tahiana. Saiba mais: pe e toda comunidade escolar, que, muitas vezes, não
• Em julho de 2014, a Comissão de Educação da Câ- sabem como agir frente aos acontecimentos.
mara de Deputados aprovou o projeto de lei n° 6.504/ “Ainda há um grande número de profissionais
2013, que obriga as escolas brasileiras a realizar cam- da educação que não conseguem distinguir con-
panhas contra o bullying. Pelo texto aprovado, elas de- dutas de bullying e outros tipos de violência. Eles
vem ser anuais, ter duração de uma semana e ocorrer também não têm preparo para desenvolver estra-
na primeira quinzena de abril em todos os estabeleci- tégias pedagógicas para enfrentar os problemas
mentos de Ensino Fundamental e Médio. no ambiente escolar. O despreparo dos educado-
• Em março de 2015, o Senado aprovou o projeto de res ocorre porque, tradicionalmente, nos cursos
lei n° 68/2013, que institui o Programa de Combate de formação acadêmica e de capacitação, eles
à Violência Sistemática (bullying), com a intenção de são treinados com técnicas que os habilitam para
diminuir as agressões nas escolas e orientar ações de o ensino dos conteúdos, não sendo valorizada a
órgãos que tenham relação com o tema. “Esperamos, necessidade de lidarem com o afeto e muito me-
sinceramente, que o projeto seja aprovado o mais rá- nos com os conflitos e com os sentimentos dos
pido possível, para que escolas (públicas e privadas) alunos”, escreve Cleo Fante. Daí a necessidade
e pais tomem medidas preventivas e proativas frente de aprovação urgente de programas como o de
aos incidentes presenciais e digitais”, completa Ana Combate à Violência Sistemática, que servirá de
Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita, advogada balizador a todos os profissionais envolvidos com
especialista em direito digital. crianças e adolescentes nas escolas.

“nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer


forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade, opressão, punido na forma da lei qualquer atentado
por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais”

56 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 57


Capítulo VI

Parcerias
É preciso que as escolas, juntamente com as fa- com que a criança sinta que possui o controle da
mílias dos alunos, primeiro reconheçam a existência situação, permitindo que ela perceba que pode fazer
do bullying como um fenômeno presente no cotidia- algo de positivo em relação a si mesma.
no escolar. Em segundo lugar, professores, pais e Conheça outras orientações da educadora Bianca
profissionais das áreas de educação e saúde devem Acampora, psicopedagoga e arteterapeuta, doutora em
estar conscientes dos prejuízos causados aos jovens Ciências da Educação, Cognição e Linguagem e profes-
não apenas para o desenvolvimento educativo, mas sora da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro:
também para o futuro, seja na área emocional, social • Fique conectado a seu filho. Quanto mais você sou-
ou profissional. “Encontro pessoas que culpam as ví- ber sobre os amigos dele e os detalhes sobre seu rela-
timas pelo bullying que sofrem por não saberem se cionamento com os colegas, mais fácil será detectar
defender perante as agressões. Essa ideia faz algum qualquer alteração nas interações sociais da criança.
sentido se partirmos do ponto de vista de que a pas- • Converse com ele todos os dias especificamente so-
sividade da vítima alimenta a agressividade do bullie. bre assuntos relacionados à escola e às atividades do
Desse modo, uma das melhores maneiras de prevenir dia, como: com quem a criança tomou seu lanche
o problema é ensinar a criança a se defender de ma- ou qual foi a pior parte do seu dia. Essa é uma for-
neira adequada”, diz a psicóloga Tahiana Borges. ma importante de estabelecer uma boa comunicação
Segundo Joel Haber, psicólogo clínico norte-ame- com seu filho, para que ele saiba que pode contar
ricano, especialista em estratégias antibullying e au- com seu apoio quando houver algum problema.
tor do livro Seu filho x Bullying: Ajude seu filho a lidar • Explique a ele o que é bullying. As crianças sabem
com provocações, insultos e agressões (Novo Sécu- que bater ou empurrar um colega está errado. Por
lo Editora, 2012), “se os pais tiverem uma atitude isso, quando são agressivas com outras crianças,
protetora em relação a seu filho, sempre o salvando procuram agir quando pais e professores não estão
de situações difíceis, ele aprenderá a ser indefeso e olhando. Daí, nem sempre é fácil descobrir quem
não terá oportunidade de crescimento”. Segundo o bateu em quem numa sala de aula de pequenos,
autor, os responsáveis devem agir de modo a fazer por exemplo. Você pode explicar a ele que outras
formas de bullying, como excluir e ignorar alguém,
também podem ser prejudiciais.
• Explique para a criança o que fazer caso teste-
munhe alguma situação de bullying. Diga para ela
alertar imediatamente os professores, pois é uma
maneira de impedir que alguém se machuque.
• É importante também estabelecer e rever periodi-
camente com seu filho os conceitos básicos sobre
o que fazer se encontrar um comportamento preju-
dicial dirigido a ele ou a algum colega.

58 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 59


“Toda forma de precon-
Capítulo VI
ceito, intriga, injúria e
agressividade verbal,
virtual ou física afeta os
dois lados envolvidos.
Muitas vezes, diante des-
se problema, a família e
“Nos últimos anos, houve a escola ficam envolvidas
um intenso debate na com a vítima. No entanto, “Muitas vezes o bullying
sociedade brasileira sobre pesquisas apontam que começa na própria famí-
o fenômeno do bullying crianças e jovens agresso- lia, que costuma agredir
escolar, especialmente res também sofreram ou a criança com castigos
depois do pior massa- sofrem bullying em casa físicos ou insultos,
cre escolar da história ou na escola sob outro podendo trazer sérias
brasileira: o massacre de contexto. É necessário consequências. Adjetivos
Realengo, em 2011, na aprender a lidar com a pejorativos podem ser
cidade do Rio de Janeiro. dor, com os sentimentos internalizados e tidos
O atirador foi vítima de presos e, muitas vezes, como verdade. A família é
bullying na escola que um corpo repleto de mar- o primeiro modelo usado
invadiu, o que provocou cas psicológicas e físicas. pelos pequenos para a
um grave adoecimento E esse aprendizado exige construção da identidade.
emocional somado a uma amorosidade, diálogo e “É verdade que o bullying E eles tendem, pela falta
disposição genética de participação de diferentes cresceu bastante, mas de conhecimento natural
especialistas
doença psiquiátrica em profissionais em um tra- estudos evidenciam da idade, a acreditar no
sua família. Em um rom- balho sério, sistemático e que o nível de violência que vem dos parentes.
Palavras de

pante de fúria e armado, de médio e longo prazo.” hoje não é tão maior se Desse modo, podem acei-
acabou matando e ferindo Denise Tinoco, professora comparado ao de dez tar como verdade o rótulo
vários alunos até cometer de Educação Básica e da anos atrás. O fenômeno de incapaz, por exem-
o suicídio. Nas investi- Universidade Estácio de tornou-se apenas mais po- plo, e não se sentirem
“Parte da mídia e dos gações do caso, a Polícia Sá, pedagoga, especialis- pular e foi divulgado entre motivados a se desen-
formadores de opinião Federal conseguiu fazer ta em Educação Infantil e a população escolar por volver nas áreas em que
afirmam que hoje existe perícia no computador do psicopedagogia meio da internet. Além são criticados. A criança
um tratamento iguali- atirador e salvou alguns disso, vivemos uma era também pode entender
tário para minorias e vídeos nos quais ele co- “Em vários casos, a na qual o individualismo o xingamento como uma
para as pessoas consi- mentava sobre o plano de criança até suporta os prevalece, com pessoas agressão gratuita e sentir
“Um dos motivos para deradas diferentes. Não sair atirando pela escola. ataques na escola sem que acreditam que suas que não é amada por não
o aumento do bullying é o que observamos na O vídeo vazou para a in- demonstrar revolta, justificativas são suficien- ser boa o suficiente. Isso
é que os pais estão prática. No meio desse ternet, o que não poderia mesmo sentindo muito tes para explicar qualquer cria dificuldades no de-
distantes demais de seus discurso hipócrita, está ter acontecido. Esse tipo medo e insegurança. Mas coisa. Como se julgam senvolvimento de vínculos
filhos. Há pouco diálogo uma criança ou um de material pode servir quando chega em casa, em maior dificuldade, em e relações afetivas com
e pouca interatividade. adolescente vivendo de inspiração para outras põe a agressividade para maior necessidade, aca- outras pessoas no futuro.”
Às vezes, a distância é seus primeiros anos de pessoas igualmente fora, como se fosse uma bam se fazendo vítimas e Cynthia Wood, psicóloga e
tanta, que parecem viver relacionamento, louco adoecidas, motivando-as panela de pressão. Além sentindo-se no direito de psicopedagoga
em mundos distintos. para ser aceito, louco a realizar algo parecido e, disso, passa a ter proble- não considerar o outro.
Pais que participam da para participar deste assim, continuar o ciclo mas de aprendizagem. Outro fator agravante é “Sem dúvida, é muito
vida dos filhos e sabem mundo ilusório, no qual da violência. É importante Ela fica tão angustiada e o sentimento de onipo- mais fácil trabalhar na
o que eles estão vivendo (aparentemente) todos que esses conteúdos di- com medo, que paralisa tência das crianças e dos prevenção, começando
dificilmente terão proble- recebem o mesmo tra- gitais não sejam postados e não consegue aprender. jovens de hoje por terem com as crianças peque-
mas com bullying. Por tamento. Mas o dia de em sites especializados Dependendo do modo todas as necessidades nas. Quanto mais cedo
isso, a participação dos hoje não é tão diferente em bullying, para não de lidar com a situação, imediatamente atendidas. puder discutir essa ques-
pais e educadores na do de ontem no que se disseminar mensagens pode se tornar um adulto Não saber lidar com as tão com os pequenos,
vida das crianças e dos refere a esse fenômeno. provocadoras de novas que se deixar dominar, frustrações ou escutar melhor será sua socializa-
adolescentes poderá Mudaram apenas as mo- violências e consequên- pois não sabe se colocar “não” é apontado como ção baseada na empatia
fazer a diferença neces- tivações dos agressores. cias imprevisíveis.” nem se posicionar peran- um dos fatores princi- e na cooperação, e não
sária para colocarmos O orgulho, o preconcei- Ana Maria Albuquerque te um fato que o agrida pais para o aumento da na competição e na alta
fim a esse mal que nos to, a incompreensão e a Lima, psicóloga, mestre fisicamente ou com pala- violência e das situações necessidade de suplantar
Psicólogos, educadores e pesquisadores são assombra.” falta de empatia de mui- em Educação e autora vras. Nos casos extre- caracterizadas como o colega para poder se
unânimes ao afirmar que só o trabalho em Teuler Reis, psicólogo, tas pessoas continuam do livro Cyberbullying e mos, pode atuar como o bullying.” sobressair.”
conjunto da escola, família, comunidade e coordenador do Projeto os mesmos.” outros riscos na internet: atirador do Realengo, por Luciana Barros de Almei- Sandra Bozza, professora,
demais profissionais que lidam com crianças Educação Para a Paz e João Pedro Roriz, escri- Despertando a atenção de exemplo.” da, Presidente Nacional mestre em Ciências da
autor do livro Bullying...Tô tor de livros infantojuve- pais e professores (Edito- Quezia Bombonatto, psi- da Associação Brasileira Educação, socióloga e
e jovens é capaz de acabar com o bullying.
fora, (Wak Editora, 2012) nis contra o bullying. ra Wak, 2011) copedagoga clínica de Psicopedagogia (ABPp) linguista

60 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 61


{
Capítulo VI

O papel do professor O papel dos gestores


Os docentes deveriam ser preparados para traba-
lhar a emoção dos alunos. Porém, muitos profissio-
De acordo com a educadora, “deveriam ser conside-
radas prioritárias ações como a formação continuada
Para combater e prevenir o bullying, de acordo
com Gabriel Chalita no livro Bullying: O sofrimen-
Recado a uma
nais têm dificuldade de lidar com os problemas de
maus-tratos ou de violência que ocorrem dentro da
sala de aula. Sem essa habilidade e não podendo
para os profissionais da educação, a aceitação e copar-
ticipação positiva das famílias na escola e o desenvol-
vimento de projetos sociais que envolvam os diferentes
to das vítimas e dos agressores (Editora Gente,
2008), “o primeiro passo é organizar o trabalho jovem vítima
coletivo, envolvendo tanto os professores quanto “Não importa o que fizeram com
oferecer uma resposta eficaz à situação, acabam re- atores sociais da instituição com a comunidade, além os demais profissionais ligados à escola, e esta-
agindo, eles mesmos, com agressividade. da gestão consciente e democrática. Na atualidade, o você. Vai passar. Por vezes, as dores
belecer uma estratégia de ação focada em três
Por isso, é fundamental evitar a velha política do bullying das mais diferentes vertentes pode ser com- objetivos: neutralizar os agressores; auxiliar e pro- vão parecer insuportáveis. O medo,
“faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. “Não se provado e ser considerado crime. Mas, antes de tudo,
pode admitir que os alunos sofram violências que lhes
teger as vítimas; e transformar os espectadores a angústia e a insegurança tenderão
precisamos combatê-lo com conscientização legal e em aliados”. Chalita salienta que algumas atitu-
tragam danos físicos ou psicológicos, que testemu- com aplicação de punições possíveis”. des simples por parte da direção escolar podem
a puxar você para baixo. Mas não
nhem tais fatos e se calem para que não sejam tam- Veja outras atuações preventivas sugeridas pela ajudar a reduzir os casos de bullying. importa o que digam ou o que façam,
bém agredidos e acabem por achá-los banais ou, pior pedagoga Denise Tinoco: Um dos protagonistas principais dessa tarefa,
ainda, diante da omissão e tolerâncias dos adultos, • Exibição de filmes sobre temas atuais seguidos por
você é o construtor da sua própria
segundo os especialistas, é o diretor, cujo papel
adotem comportamentos agressivos”, afirma o pedia- rodas de conversa. não deve se resumir apenas à administração do jornada, principal responsável pela
tra Aramis Lopes Neto, ex-coordenador do programa • Aplicação de dinâmicas de grupo com produção estabelecimento de ensino. Ele pode ser um va- sua história. É você quem transforma
de bullying da Associação Brasileira Multiprofissional de textos conclusivos, hipertextos e paródias que lioso agente responsável por mudanças. Daí a
de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) e tratem sobre temas como violência, agressividade, importância do gestor estar atento a tudo. A ele
o discurso dos outros a seu respeito
coordenador do Programa de Redução do Comporta- uso de drogas, poder e fama. cabe também liderar e planejar a organização de em verdades ou mentiras absolutas.
mento Agressivo entre Estudantes do Rio de Janeiro. • Ciclos de palestras com pais, familiares e profis- programas preventivos de combate à violência
“As instituições precisam ser vistas e repensadas sionais liberais.
Porque você é o único capaz de
escolar, com a estreita colaboração de professo-
como espaços coletivos onde habilidades e ações • Debates sobre bullying nas salas de aula, fazendo res, funcionários e pais. acessar suas próprias memórias e
educativas positivas ganhem vez e voz! Escolas são com que o assunto seja bastante divulgado e assi- Veja as sugestões da Abrapia para criar um reconstituí-las, resgatá-las, revivê-las,
espaços para crescimento cognitivo, afetivo e tam- milado pelos alunos. ambiente saudável na escola:
bém relacional. Partindo desta premissa, existem • Estímulo aos estudantes para que façam pes- transformando suas dores em memórias
• É necessário que toda equipe escolar, desde o pri-
várias frentes que precisam ser abertas e fortaleci- quisas sobre o tema, a fim de saber o que cole- meiro dia de aula, entenda o que é bullying e que positivas por meio das quais é possível
das”, enfatiza a pedagoga Denise Tinoco, professora gas, professores e funcionários pensam sobre o
de Educação Básica e da Universidade Estácio de
não será tolerado qualquer tipo de agressão extrair forças para prosseguir.”
bullying e como lidar com o problema. nas dependências da escola.
Sá, no Rio de Janeiro. • Estudo de casos reais sobre bullying. • Todos os alunos devem se comprometer a não
Tahiana Andrade S. Borges, psicóloga,
praticá-lo e a comunicar a direção escolar sempre especialista em gestão de pessoas e
que presenciarem ou forem vítimas do bullying. autora do livro Memórias do bullying
• Cabe ao gestor conversar com os alunos e es-
cutar atentamente reclamações ou sugestões. (Talentos da Literatura Brasileira, selo
“As instituições • É importante ter o reconhecimento e a valori-
zação dos alunos que se empenham no com-
da Novo Século Editora, 2015)
precisam ser vistas bate ao problema. Fontes:
• É fundamental criar, junto com os estudantes,
e repensadas como regras de disciplina que sejam coerentes com
Artigo Bullying – Comportamento agressivo entre estudantes,
de autoria do pediatra Aramis A. Lopes Neto, sócio-fundador
da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à In-
o regimento, que varia de escola para escola.
espaços coletivos onde • Gestores e professores devem estimular lide-
fância e à Adolescência (Abrapia) e coordenador do Programa
de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes,
ranças positivas entre os alunos, prevenindo publicado em novembro de 2005 no Jornal de Pediatria.
habilidades e ações futuros casos. Artigo Livro de Gabriel Chalita sobre prevenção ao bullying,
de autoria de Ana Maria Albuquerque Lima, publicado em
educativas positivas • Cabe a eles também interferir diretamente
nos grupos, o quanto antes, para quebrar a
fevereiro de 2013. Disponível em goo.gl/2R0k7Q
Livro Memórias do bullying, da psicóloga Tahiana Andrade

ganhem vez e voz! dinâmica do bullying. S. Borges (Talentos da Literatura Brasileira, selo da Novo
Século Editora, 2015).

62 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 63


Capítulo VII

Influências
inevitáveis
Perturbações na infância e na adolescência
podem interferir na vida adulta, provocando
distúrbios físicos e emocionais, além de
dificuldades nos relacionamentos e no trabalho

64 Guia bullying infantil


E Existem pesquisas em vários países sobre o bullying
e seus efeitos nocivos na criança e no adolescente,
mas pouco se sabia sobre seu alcance na vida adulta
até cinco ou seis anos atrás. Uma das primeiras pes-
quisas publicadas a respeito, divulgada em agosto
de 2013 pela revista científica Psychological Scien-
ce, da Association for Psychological Science (Asso-
ciação para a Ciência da Psicologia), mostra que os
danos provocados pelas agressões físicas ou verbais
sofridas na infância e na adolescência, quando não
tratados, podem prejudicar a saúde física, emocio-
nal, afetiva e social na vida adulta.
Os pesquisadores Dieter Wolke, professor do De-
partamento de Psicologia da Universidade de Wa-
rwick, na Inglaterra, e William E. Copeland, pro-
fessor de Clínica Psiquiátrica do Centro Médico da
Universidade de Duke, nos Estados Unidos, inves-
tigaram o impacto do bullying sobre todos os afeta-
dos (vítimas, agressores e um terceiro grupo conhe-
cido como vítimas-bullies, composto por crianças e
jovens que inicialmente eram perseguidos e, mais
tarde, tornaram-se perseguidores).

Guia bullying infantil 65


Capítulo VII

Alterações no corpo
De acordo com Dieter Wolke, “o bullying não pode dice elevado de PCR também estão mais sujeitos a ter
mais ser encarado como uma parte inofensiva, qua- dores físicas com maior intensidade.
se inevitável, do crescimento. É fundamental mudar Dores físicas generalizadas ou doenças de fundo
esse pensamento e reconhecer as agressões como emocional são as respostas do organismo aos traumas
um problema sério, tanto para o indivíduo como emocionais que foram abafados e não receberam a
para a sociedade, já que seus efeitos são duradou- devida atenção: “As emoções ignoradas na infância
ros e significativos”. relacionadas a isolamento social, humilhações, situ-
Uma das conclusões da pesquisa é que as crian-
ças que sofriam e praticavam perturbações, as víti-
ações vexatórias e agressões físicas e verbais podem
gerar doenças psicossomáticas como psoríase, dores Consequências físicas
mas-bullies, foram as que apresentaram maior risco de estômago, asma, alergias e dores crônicas injusti- 19% das que não haviam passado por esse tipo
Um estudo mais recente, divulgado em maio de
de desenvolver problemas de saúde quando adultas. ficadas nas articulações”, explica a psicóloga Tahiana de experiência.
2015 por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria
Tinham, por exemplo, seis vezes mais chances de Andrade S. Borges, especialista em gestão de pessoas • Os estudiosos calcularam também a gordura ab-
do Kings College London – uma das instituições de
serem diagnosticadas com uma grave doença, de fu- e autora do livro Memórias do Bullying (Novo Século dominal por meio da relação cintura/quadril (RCQ)
ensino mais conceituadas do mundo –, encontrou
mar com frequência ou desenvolver algum tipo de Editora, 2015), em que revela as próprias experiên- e constataram que, independentemente do sexo,
relações entre bullying e excesso de peso, diabetes
transtorno psiquiátrico do que aquelas que não pas- cias como vítima de bullying durante a adolescência aqueles que haviam sofrido bullying quando ainda
tipo 2 e maior risco de ataque cardíaco.
saram por essa situação. em uma escola no interior da Bahia. eram pequenos mostraram índices mais elevados
Junto com sua equipe, a psicóloga e coordenado-
Ao analisar as amostras de sangue coletadas dos O motivo real do maior comprometimento da nessa medida na maturidade. É bom lembrar que,
ra da investigação, Louise Arseneault, usou dados
voluntários, os pesquisadores também perceberam saúde física e emocional de vítimas e agressores quanto maior a circunferência abdominal, maiores
do Estudo Nacional Britânico do Desenvolvimento
que os índices da proteína C-reativa (PCR), um mar- parece ser as lembranças que trazem de dias mais os riscos de doenças cardíacas, com maior predo-
Infantil – uma pesquisa de longo prazo sobre crian-
cador de inflamação do organismo humano encontra- tumultuados: “A vítima nunca esquece. Não es- minância para os homens.
ças na Inglaterra, na Escócia e no País de Gales –
do na corrente sanguínea, eram mais elevados nos quece as agressões, não esquece as humi- • Aproximadamente 20% dos que passaram por in-
e entrevistou os pais de 7.102 crianças nascidas
que sofreram hostilidades na infância e/ou ado- lhações, não esquece nem o nome nem a timidação frequente apresentavam, na meia-ida-
em uma determinada semana de 1958, para saber
lescência. Segundo eles, quanto maior o PCR, fisionomia do agressor. Uma criança ou de, níveis maiores da proteína C-reativa (CRP),
se, entre os 7 e os 11 anos, elas tinham passado
maiores as possibilidades de o organismo adolescente que for vítima de bullying o que tende a proporcionar um quadro de ate-
por situações que poderiam ser classificadas como
responder com inflamações às agressões de carregará para sempre as marcas dessa rosclerose, problema inflamatório e degenerativo
bullying. Os cientistas também utilizaram registros
agentes externos, como traumas físicos violência, que podem se transfor- que deixa as artérias endurecidas e entupidas por
oficiais do sistema de saúde do Reino Unido para
(por menores que sejam) e micror- mar em sequelas negativas substâncias gordurosas, aumentando o risco de
coletar informações sobre peso e saúde do coração
ganismos. É bom lembrar que os ou superações positivas”, doenças cardíacas. Além disso, esses voluntários
dos envolvidos quando estavam com 45 anos.
indivíduos que possuem um ín- confirma Tahiana. mostravam também quantidade elevada de fibri-
Para imprimir um maior rigor na verificação dos
resultados, os cientistas controlaram também outros nogênio, uma proteína que estimula a formação
fatores de risco, como a classe social dos pais, o de coágulos sanguíneos, o que leva a um maior
índice de massa corporal (IMC) dos participantes e risco de ataques cardíacos.
a existência de psicopatologias na família, além de
outras variáveis importantes na fase adulta, como Embora as razões exatas para a influência do bullying
estabilidade econômica, tabagismo, dieta e exercí- sobre o peso ainda não tenham sido perfeitamen-
cios físicos. E, mesmo assim, os resultados para as te elucidadas, os cientistas acreditam que crianças
vítimas de bullying se apresentaram mais significa- vítimas de brincadeiras maldosas na escola podem
tivos em comparação aos dos que não passaram por comer mais para conseguir um alívio para o estresse.
esse tipo de constrangimento. “As intervenções precoces em apoio às crianças víti-
Veja alguns resultados: mas de bullying não só poderiam limitar o sofrimen-
• Aos 45 anos, 26% das mulheres que tinham so- to psicológico como também reduzir os problemas
frido intimidação ocasional ou frequente durante de saúde física na vida adulta”, disse a pesquisado-
a infância estavam obesas, em comparação com ra Louise Arsenault.

66 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 67


Capítulo VII

Memórias dolorosas
Para a psiquiatra Ana Beatriz B. Silva, autora Autoimagem borrada
do livro Bullying – Mentes Perigosas nas Escolas Para o psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes de
(Editora Objetiva, 2010), “um trauma psicológico Deus, existem outros transtornos, além dos de-
é capaz de deixar cicatrizes não apenas na alma, pressivos, que podem ser desencadeados pelas
mas também no cérebro”. Isso porque, segundo agressões verbais:
ela, as relações interpessoais são os fatores que • Distúrbios cognitivos (dificuldades de con-
mais influenciam a biologia cerebral. Isso signifi- centração e memorização).
ca dizer que o sofrimento psíquico altera a forma • Presença constante de pesadelos e confusão.
de uma pessoa relacionar-se com o mundo à sua • Autoimagem negativa e sentimento de infe-
volta, modificando a percepção de si mesma e dos rioridade.
outros. Diante desse trauma, ela tende a agir de • Dificuldades de se relacionar por conta de ti-
modo diferente, para se proteger, se defender ou midez (ou vergonha) excessiva e isolamento,
se superar. mesmo em relação aos familiares e amigos
E, quando essas agressões não são enfrenta- mais próximos.
das e atendidas na infância e na adolescência, • Autodesvalorização, falta de confiança e sen-
de acordo com Ana Beatriz, muitos jovens ten- timentos de impotência.
dem a carregar consigo os traumas da vitimização • Distúrbios de ansiedade com sintomas como
para a vida adulta. Tornam-se adultos ansiosos, medo exagerado, fobias e ataques de pânico,
inseguros, depressivos ou mesmo agressivos, pois perturbações do sono, desordens da alimen-
tendem a reproduzir nos relacionamentos profis- tação e disfunções sexuais.
sionais e/ou familiares a violência que sofreram • Possíveis dificuldades de adequação de com-
no ambiente escolar. portamento nas relações de intimidade e na
De acordo com o psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes integração social.
de Deus, diretor técnico de saúde do Hospital Psi-
quiátrico da Água Funda, em São Paulo, as agres-
sões verbais por meio de insultos, desvalorizações dar com a situação, a agressão é vivida ou codificada
constantes, humilhações em público e rótulos são principalmente sob a ótica dos afetos. Isso faz com
extremamente danosas às crianças e aos adolescen- que se sinta rejeitada e não consiga encontrar seu
tes, em geral, pelo resto da vida desses indivíduos. lugar na família, nem organizar seus pensamentos:
Os males, segundo ele, são causados por uma sente-se confusa, perdida e só”, explica o psiquiatra
violência real, que “esmaga” a criança justamente – coautor do livro Eclipse de Almas (Fonte Edito- As agressões verbais
por ela não compreender direito o motivo de tanta rial, 2010), que busca responder questões ligadas à
agressão: “Como ainda não tem a área da lógica depressão a partir da psiquiatria, da psicologia, da por meio de insultos,
no cérebro suficientemente desenvolvida para li- teologia e da experiência profissional de cada um.
desvalorizações constantes,
humilhações em público e
rótulos são extremamente
danosas às crianças e aos
adolescentes, em geral, pelo
resto da vida desses indivíduos.

68 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 69


Capítulo VII

Na própria pele
“Sofri bullying por quatro anos consecutivos em uma escola
particular no interior da Bahia. Os motivos eram muitos: eu era
muito magra, calada e estudiosa, além de ser de família evangélica.
Mas o motivo principal era a timidez. Eu não sabia como me
defender das ‘brincadeiras’, e isso tornava tudo mais divertido
para os agressores. Durante esse tempo, recebi inúmeros apelidos,
a maioria com o objetivo de me denegrir, humilhar e desmoralizar.
Comecei a ser excluída de todas as atividades coletivas. Não me
chamavam para participar das brincadeiras e ninguém fazia as
Salários menores tarefas em grupos ou duplas comigo. Aos poucos, deixaram de me
Por mais preparado e esforçado que cumprimentar e, muitas vezes, entrei e saí da escola sem que me
seja um profissional, sua carreira pode dirigissem nenhuma palavra. A biblioteca se tornou meu esconderijo
ser prejudicada indiretamente se ele tiver Volta por cima durante esse período e lá adquiri amor pela literatura e pelas
sido vítima de bullying na infância ou na Ainda que a vítima de bullying tenha recebido
adolescência. Essa foi a conclusão a que apoio familiar e da escola e o devido acompanha- palavras. Foi quando comecei a escrever minhas primeiras angústias
chegaram os pesquisadores da Universida- mento psicológico, existe a possibilidade de, na vida e dificuldades, além de transformar os livros em lazer. Consegui
de Anglia Ruskin, em Cambridge, na Ingla- adulta, ainda surgirem consequências – menos gra-
terra, comandados pelo cientista social e ves, é verdade –, que podem ir de uma dificulda- superar o problema com o apoio da família. Felizmente, eu vivia em
economista Nick Drydakis, em um estudo de em desenvolver novos relacionamentos até uma um lar estruturado, onde a fé e o amor sempre estiveram presentes.
divulgado em novembro de 2013. constante sensação de inadequação social. Mas é
Foi por meio do auxílio da minha família que encontrei forças para
Segundo os pesquisadores, as vítimas possível também que esse jovem que receba apoio
de bullying (físico ou psicológico) ganham consiga superar seus traumas e tirar resultados posi- superar cada problema e, principalmente, resgatar a autoestima
salários menores que a média. O percentu- tivos das experiências negativas. e o amor próprio! Minha primeira experiência profissional como
al pode chegar a 12,4% menos do que os Em seu livro, Ana Beatriz afirma que é no sofrimen-
profissionais que não passaram por essa si- to que muitos descobrem que possuem um traço de
psicóloga aconteceu em uma escola pública, na qual os casos de
tuação traumática. Os dados também revela- personalidade que antes desconheciam: a resiliência. intimidação eram evidentes. Criei um projeto de combate ao bullying
ram que 3,3% têm menos chances de serem Essa pode ser definida, de acordo com Boris Cyrulnik, e, a partir daí, tudo foi tomando forma. Muitas crianças passaram a
contratados e 4,1% têm maior dificuldade neuropsiquiatra e psicólogo francês, como “a capa-
de participar do mercado de trabalho. cidade humana de enfrentar, superar, fortalecer-se e me enviar bilhetes anônimos, contando suas dores diante da violência
“O problema dos baixos salários pode es- transformar-se a partir dos efeitos adversos”. escolar. Assim, a ideia foi crescendo à medida que via outras crianças
tar relacionado ao perfil das vítimas, que O grau de resiliência depende do grau de adap-
tação e de superação que cada um apresenta frente
sofrendo o que eu sofri. Após anos de atuação profissional na área e
tendem a ser passivas, tímidas e com difi-
culdades de se afirmarem diante de outras às adversidades que encontra pela vida. Uma pessoa três anos de estudos específicos sobre o bullying e suas consequências,
pessoas. Esse é o mesmo perfil comporta- com baixo grau de resiliência tenderá a lidar com o transformei todo o meu conhecimento profissional e a minha
mental que faz com que muitos adultos se sofrimento de forma inadequada, desencadeando,
tornem vítimas de assédio moral no traba- no caso específico do bullying, os problemas citados experiência infantil em um livro. Não foi fácil rever o que passei no
lho, alguns até mais de uma vez”, conside- anteriormente. Uma criança ou um adolescente com início da adolescência, mas foi uma experiência libertadora.”
ra a psicóloga Tahiana Borges. pouca resiliência precisará de anos de terapia e acom-
Tahiana Andrade S. Borges, psicóloga, especialista em Gestão de pessoas
panhamento psicológico e/ou psiquiátrico para supe-
rar o sofrimento gerado durante os anos escolares. e autora do livro Memórias do bullying (Novo Século Editora, 2015)

70 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 71


Capítulo VIII

&
Perguntas
respostas Especialistas tiram
todas as dúvidas sobre
este problema que
atrapalha o sono (e a
vida) de muitos jovens,
pais e professores

Fontes: Maria Regina Domingues de Azevedo, profes-


sora do Departamento de Pediatria da Faculdade de
Medicina do ABC; Marcelo Quirino, psicólogo pela
UFRJ e psicólogo infantil no Centro de Referência e
Tratamento da Criança e Adolescente, em Campo dos
Goytacazes, RJ; Sérgio Lima, psiquiatra pela Unifesp,
mestre em Psicologia Social e responsável pela
Clínica Spatium; Susana Elisa de Campos Klassen,
porta-voz do livro Eu e elas: Tudo o que você precisa
saber sobre amizades, bullying e panelinhas, Editora
Mundo Cristão, 2015, de Nancy Rue, autora e espe-
cialista em aconselhamento para o público jovem.

72 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 73


Capítulo VIII

da na escola. Trabalhar a educação


Como identificar que O que fazer para evitar emocional dos filhos e exigir que os
meu filho está sofrendo que isso aconteça? professores falem sobre o tema em
intimidação na escola? Muitos pais criticam o filho, cul- sala de aula são atitudes importan-
pando-o ou pressionando-o a rea- tes para sanar o problema.
O bullying prejudica a criança
como um todo, afetando sua di- gir. Mas a primeira e melhor atitu-
mensão social, cognitiva, sexual de deve ser a aproximação para a Os pais devem
e emocional. Ela pode se tornar conversa, mostrando que o aceitam
do jeito que ele é. Os responsáveis interferir ou somente
calada, mais irritada do que o
normal e chegar em casa muito devem dizer que há maneiras de falar com o filho?
quieta, muda ou emocionalmente fazer isso parar e que, se o filho Os pais devem exigir da escola
desejar, eles podem agir. Devem
instável. Pode ficar temerosa de
também alertá-lo para não reagir
uma ação, que pode vir por meio Como agir ao saber constroem na mente da criança
ir para a escola em horários espe-
violentamente nem se irritar ou
de práticas pedagógicas e/ou ati-
tudes disciplinares. A escola tem
que o filho é quem e do adolescente a ideia de que Quem sofre com o
cíficos, reagir emocionalmente de existe uma superioridade e que
maneira impulsiva perto de certos manifestar tristeza na frente dos
agressores. Os pais devem fazer
a responsabilidade de elaborar pratica o bullying? ela deve ser comprovada com sua cyberbullying nem
amigos etc. Outros sinais podem programas que coíbam tais com-
ser: pedir para mudar de turma, essa educação emocional no sen- portamentos, e isso os pais devem
Geralmente, filhos que praticam
bullying podem ter problemas de
valentia. O que o agressor faz é,
por meio de xingamentos ou ofen-
sempre consegue ver
tido de moldar as formas de reação
ter queda de rendimento escolar,
do jovem à violência sofrida.
pedir. Vale falar com o agressor,
caso estejam esgotadas as atitu-
relacionamento familiares graves sas à vítima, tentar subjugá-la. A ou identificar quem
ter o apetite reduzido ou muito au- e problemas de autoestima. A pri- “técnica” usada é exagerar nas
mentado e até mesmo apresentar des de educação emocional do meira atitude é olhar para o rela- características da vítima, mos- são os agressores e, por
sintomas físicos, tais como dores Como os pais podem filho e caso as atitudes da esco- cionamento entre pai, mãe e filhos trando o quanto ela está fora do isso, não raro se sente
de cabeça e de estômago e suor la não tenham surtido efeito. Em
encarar o problema? último caso, deve-se pensar em
e identificar erros, negligências, padrão. Dessa maneira, a menina
frio. Nos menores, é notória a per-
Em primeiro lugar, é bom manter a trocar o horário de estudo ou até
acusações e abusos, entre outros magra é chamada de “vara-pau” e isolado ou impotente
da da espontaneidade. Muitas ve- – e buscar corrigi-los. Orientar as a gordinha, de “baleia”.
zes, eles começam a não querer ir
calma e não se alterar muito, para
que o filho não fique ainda mais
mesmo a escola. O ideal, portanto,
é que a abordagem seja feita pela
crianças sem que haja reestrutura- diante do ataque.
ao ambiente onde estão sofrendo o ção familiar não funciona.
bullying. Crises de choro e ansie-
assustado. Ele pode ver que seu coordenação pedagógica ou pelo O cyberbullying parece
problema afeta os pais e não que- responsável legal pela instituição
dade antecipatória ao terem de ir
rer envolvê-los. Porém, os adultos em que os jovens convivem. Que “maus exemplos” ter um efeito um pouco quisadores do National Institute of
para lá são outros sinais. O impor- Child Health and Human Develo-
tante, então, é sempre observar o
devem ficar atentos e tomar atitu- dos pais poderiam mais devastador, uma pment, nos Estados Unidos, reali-
comportamento do seu filho.
des, sim, como falar com a escola Quando os pais influenciar os filhos a vez que quem o pratica zaram uma pesquisa com 4,5 mil
e até mesmo com os pais do aluno
agressor. E devem deixar claro para devem buscar ajuda praticar o bullying? pode ter o anonimato adolescentes e pré-adolescentes
norte-americanos. Eles concluí-
o filho que não vão tomar atitudes profissional? A postura dos adultos diante da como aliado. Os efeitos ram que a intimidação virtual pode
que piorem o problema, a fim de Quando o medo do bullying virar vida vai refletir muito na atitude são piores do que o causar mais problemas às vítimas
adquirir a confiança dele. fobia e estiver atrapalhando a par- dos menores. Os pais são modelos do que espancamentos ou ofensas
te cognitiva, social ou emocional de identificação para os filhos. Um
bullying cometido no
pessoais. Quem sofre com o cyber-
Existe diferença na da criança. Os responsáveis devem exemplo é muito mais importante mundo off-line? bullying nem sempre consegue ver
monitorar o rendimento escolar, a do que muitas palavras. Falar algo Pode-se dizer que sim, já que o es- ou identificar quem são os agres-
abordagem de crianças sociabilidade e o equilíbrio emo- e agir completamente em oposi- paço virtual não tem limites, e as sores e, por isso, não raro se sente
e adolescentes? cional dos filhos. Caso a criança ção a isso é extremamente nocivo mensagens e fotos depreciativas isolado ou impotente diante do ata-
Sim, os adolescentes são mais ar- ou o adolescente realmente não para o funcionamento psíquico do se espalham com muita rapidez. que. Além disso, a equipe de pes-
redios e precisam saber que os pais consiga enfrentar o problema ao filho. Pais preconceituosos e que O poder da agressão se amplia quisadores concluiu que as vítimas
não vão tomar atitudes que piorem longo do tempo, os pais devem cometem assédios na vida social consideravelmente, e o jovem tam- de intimidação virtual apresenta-
a situação. Já as crianças vítimas de procurar ajuda profissional antes favorecem a manutenção desse bém se torna vítima fora da esco- vam níveis de depressão significati-
bullying podem se tornar agressi- que o bullying gere danos maiores comportamento não civilizado. la. Defender-se, nessas situações, vamente altos e rendimento escolar
vas como resposta à violência sofri- à autoestima e à autoimagem. Piadas e atitudes preconceituosas parece impossível. Em 2013, pes- diminuído de forma evidente.

74 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 75


Capítulo VIII

bullying na escola e que, ao as- para discussões sobre prevenção do (se o bullying é físico ou não),
E quem tem perfil sistir um colega apanhar brutal- do bullying e valer-se do desenvol- mas também ao teor da agressão
de agressor? mente, não sai em defesa do mais vimento dos temas transversais no verbal. Deve-se chamar a atenção
Via de regra, o agressor tem um fraco nem vai pedir ajuda. Fica de ambiente escolar para promover os para qualquer tipo de brincadeira
comportamento provocador e de lado, em silêncio, como que “tor- conceitos de justiça, igualdade e inapropriada, mesmo que não pa-
intimidação. Tem pouca empatia cendo” pelo agressor. respeito. A assimilação desses con- reça grave, de modo a evitar que
com as pessoas, ou seja, possui ceitos deve ser feita não apenas por o problema aumente. As ofensas
palavras, mas principalmente pelo devem sempre ter consequências
grande dificuldade de se colocar O bullying pode ser uma
no lugar do outro. Geralmente, exemplo do educador, de modo proporcionais à seriedade.
sua relação familiar não é base-
causa de depressão prático, visível e coerente.
ada no afeto e, sim, em conflitos. entre crianças e jovens? Ignorar o agressor é
Especialistas, como psicólogos Pode, se não for identificado pe- O que o professor pode suficiente para que ele
e criminalistas, acreditam que a los pais ou coordenadores peda-
criança ou o jovem que pratica o gógicos e, sim, pela reincidência
fazer para evitar que pare de cometer
bullying é um indivíduo que gos- e persistência. isso aconteça? o bullying?
ta de provar a sensação de poder, Pode ficar atento à dinâmica dos Pode ser uma das formas de lidar
podendo sofrer intimidações na relacionamentos dos alunos, dentro
Os efeitos psicológicos escola ou na família e até mesmo
De que maneira é com o problema, mas só isso não
e fora da sala de aula, e identificar basta, uma vez que o perfil de com-
são tão dolorosos quanto ser humilhado ou pressionado por tratada a depressão as brincadeiras que passam dos li- portamento e de personalidade do
os ataques físicos
adultos com frequência. causada pelo bullying? mites. Para saber se uma situação agressor, bem como seu modus
É possível identificar Todos da família devem é ofensiva, o educador só precisa operandi, não leva muito em conta
quem tem o perfil de Quais as consequências se colocar no lugar do aluno e per- o “ignorar”. Eles são persistentes e
ser envolvidos? guntar “Como eu me sentiria se
vítima de bullying? do bullying e os O tratamento é o mesmo usado alguém fizesse o mesmo comigo?”.
insistentes, intimidam e amedron-
Meninas e meninos Na maioria das vezes, são crian- prejuízos que crianças para depressão por outras causas: Quando perceber a ocorrência de
tam. Não usam apenas um modo
de ação. Eventualmente, por dois
agem da mesma ças ou adolescentes mais tímidos,
e jovens levam para a com o apoio de um especialista bullying, mesmo em estágios ini- ou três dias, pode funcionar, mas
maneira quando retraídos, submissos, com difi- (psiquiatra ou psicólogo). Entre- ciais, deve tomar de imediato me-
e depois? Por isso, o ideal é utili-
culdade de se defender ou de se vida adulta? tanto, se for identificada a exis- didas cabíveis, conforme o código
praticam o bullying? expressar. Esses indivíduos tam- As vítimas de bullying são sem- tência do bullying, é fundamental disciplinar da escola.
zar outros meios de coibir, como a
interferência da escola.
Não. Em geral, o bullying cometi- bém apresentam dificuldade de pre pessoas com problemas de que este seja combatido. Todos
do pelos garotos é bem mais fácil relacionamento interpessoal, têm baixa autoestima, e isso refle-
de identificar, pois eles agem de um ou dois amigos, quase sempre te no processo de socialização.
da casa devem saber do proble- É preciso tratar
ma para que possam auxiliar a
modo mais agressivo, violento, com o mesmo perfil que o seu. Muitas vezes, são incapazes de criança a lidar com a situação. As diferentes tipos de
com ataques físicos. Já as garotas Também são alvos aqueles con- se fazer ouvir pelos demais do saídas criativas sempre aparecem bullying com a mesma
agem de maneira mais discreta, siderados diferentes, por questão grupo por temor de serem hosti- mais em grupos. E, como a famí-
verbal, mas podem ser tão cru- de sexualidade, etnia, desempe- lizados, ficando com essa marca lia não deixa de ser um pequeno
seriedade? Por exemplo,
éis e malvadas quanto os garo- nho acadêmico, religião, modo de que estar em grupo é sempre grupo social, é essencial que to- piadas são mais leves
tos. Geralmente, elas excluem a de se vestir, maneira de falar, uso uma situação desagradável. Isso dos participem. que agressões físicas?
vítima do grupo sem maiores sa- de óculos ou sobrepeso, entre ou- pode levá-los a reproduzir uma
Existem diferentes graus de vio-
tisfações, fazem fofocas, lançam tras características. As crianças certa atitude grupal semelhante
olhares de reprovação, espalham que não dispõem de recursos ou às que sofreram. Trata-se de um
Qual é o papel do lência, mas convém lembrar que,
às vezes, a persistência ou a mal-
boatos... Daí, quem sofre esses habilidades para reagir são pou- mecanismo de defesa, no qual a professor na prevenção dade da agressão verbal pode ter o
ataques, sem saber o porquê, na co sociáveis, sensíveis e frágeis. vítima acaba se identificando com do bullying? mesmo impacto emocional que a
maioria das vezes se sente culpa- Tornam-se os “escravos” do grupo o agressor, repetindo de uma ou
O docente pode exercer forte influ- física. Cabe aos pais, educadores
do, excluído. Os efeitos psicológi- e não sabem revidar, por vergonha outra maneira uma atitude violen-
ência positiva ao usar os conteúdos e outros responsáveis ficar atentos
cos são tão dolorosos quanto os ou conformismo, sendo vitimadas ta. Pode ser o caso, por exemplo,
de estudo como ponto de partida não apenas ao que está acontecen-
ataques físicos. por ameaças e agressões. de um adolescente que sofreu

76 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 77


Capítulo IX

Vida
Relatos anônimos ou
que viraram notícia,
com finais trágicos
ou não, reforçam a
real“ Meu filho sempre foi apaixona-
do pela escola. O local tinha
ótima estrutura, inclusive uma
área que promovia o contato
dos pequenos com a nature-
za. Como frequenta o colégio
desde o berçário, sempre foi

Quantas pessoas você conhece que
usam óculos? Para nós, adultos, é um
recurso considerado ‘normal’, apesar
de não ser incrível ter de carregá-lo por
onde andamos. Meu filho, aos 12 anos,
começou a ter dificuldades para acom-
panhar o conteúdo que era colocado na
intensidade do problema conhecido pelos funcionários lousa. Foi diagnosticado com miopia
e suas temíveis


da Educação Infantil. Seu des- e os óculos foram o melhor recurso.
contentamento com a escola Ele relutou em usar. Ainda tentamos
consequências


Trocar o ‘r’ pelo ‘l’ não era algo foi progressivo. Certo dia, per- mostrar vários famosos que também
apenas do Cebolinha, perso- guntou se precisava mesmo ir precisavam usar, mas ele sempre finali-
Minha filha nunca foi magra, nagem do Mauricio de Souza. à aula. Tempos depois, pediu zava a conversa com a frase: ‘Mãe, pai,
mas também nunca atingiu o Meu filho sempre apresentou para ficar vendo filme, até o vão me zoar no inglês’. Achamos que
sobrepeso. Sempre escutava essa dificuldade. Aos 11 anos, dia em que se recusou a entrar era bobeira, coisa de criança. Mas não
piadinhas, que nunca a afe- mesmo com acompanhamen- no colégio, com uma intensa foi. Assim que meu filho entrou na sala
tavam. Até que, durante uma to de fonoaudiólogas, tinha crise de choro. Chegamos em de seu curso de inglês, ouviu: ‘Aqui
festa junina na escola em que apresentado pouca melhora. casa e, com apenas 4 anos, ele não suportamos ninguém de óculos.
ela usou um vestido um pouco Em sala de aula, apresentações contou tudo. Depois de uma Durante toda a aula, enviaram bilhetes
justo (nada de escandaloso), de trabalho – e até uma sim- cena em que ele não conse- ameaçadores – por papel e mensagens
outras meninas resolveram ples confirmação de presença guiu segurar as fezes por conta por WhatsApp. Ao sair do prédio, ele
fotografá-la, e esse foi o início (com seu ‘plesente!’) – eram de um distúrbio intestinal, dois foi agredido. Prometeram fazer lentes
do tormento. Na segunda-feira constrangedoras. Três meninos amigos passaram a perseguir roxas no rosto do meu filho, com os so-
após o evento no colégio, ela começaram a pegar pesado com meu filho toda vez que ele ia cos que ele iria ganhar. Ele foi espan-
encontrou dezenas de fotos ele. Passaram a fotografá-lo e, ao banheiro. Lá, chamavam- cado por três meninos, enquanto duas
dela impressas e espalhadas para ilustrar a imagem, usavam no de “cagão” e convidavam garotas morriam de rir bem próximo.
pelos corredores. Todas com frases que ele sempre falava os outros alunos de sua turma Um carro parou, desceu um rapaz de
seu nome e série, para identi- errado. Criavam os chamados a fazer o mesmo. Então, meu 25 anos com dois amigos e pararam
ficar e provocar as acusações. “memes” e disparam em grupos marido e eu nos reunimos com tudo. Socorreram meu filho, me
Fiquei sabendo do ato apenas do WhatsApp e nas redes so- com a coordenação da escola ligaram e aguardaram minha chegada.
três dias depois, quando a mãe ciais. Meu filho parou de comer. e levamos o problema – que a Fizeram questão de me acompanhar no
de uma amiga da minha filha Parou de falar. Entrou em esta- professora desconhecia. Eram hospital. Por quê? O motorista do carro
comentou comigo. Confesso do de choque, sendo necessário cenas rápidas, mas cotidianas, havia passado pela mesma situação
que minhas pernas tremeram. levá-lo a um hospital, onde teve que destruíram o emocional do quando pequeno. Meu filho ficou com
Ao chegar à escola, fui surpre- tratamento físico (para evitar meu filho. Foram necessárias lesões leves no físico (arranhões e leves
endida, pois já haviam com- a desnutrição) e psicológico. A dezenas de conversas. Na sala hematomas) mas, no aspecto emocio-
batido o problema e chegaram escola nos deu toda a estrutura. de aula, a professora promoveu nal, foi tudo bem diferente. Documen-
para nós com todas as solu- Foram exatos 550 dias para ter o acolhimento – mesmo com tei tudo o que aconteceu, entreguei
ções. Foi lançada uma campa- meu filho de volta. Hoje adota- a mãe de um dos dois peque- na escola e disse que aguardaria um
nha contra o bullying, da qual mos o homeschooling (ensino nos agressores se recusando a retorno do posicionamento da institui-
minha filha foi a embaixadora, em casa), e a reintegração dele acreditar nos atos de seu filho. ção. Os alunos foram expulsos. Não sei
com apenas 12 anos. Ela quer é feita aos poucos por meio Dois anos depois, está tudo como os pais reagiram e orientaram.
contar sua história em um livro de sua frequência em cursos e bem. Aparentemente, as se- Torço, muito, para que eles não encon-
para ajudar outras garotas.” atividades esportivas.” quelas não se manifestaram.” trem uma próxima vítima.”
T. M., São Paulo (SP) V. M. M., Salvador (BA) C. S. F., Piracicaba (SP) D. M. L., Campinas (SP)

78 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 79


Capítulo IX

Morte anunciada Manifesto multimídia


A intenção de um adolescente de 17 anos, Um jovem de poucos amigos, poucas palavras
morador da cidade de Remanso, no interior da e muito desajustado. Assim foi descrito pelos co-
Bahia, era ficar conhecido no mundo como “o ter- legas o universitário sul-coreano Cho Seung-Hui,

Guerra nas estrelas Sinais não percebidos


Em 27 de janeiro de 2003, Edmar Apa-
rorista suicida brasileiro” depois de matar mais
de 100 pessoas e tirar a própria vida. Entretanto,
que, em 16 de abril de 2007, na Universidade Vir-
ginia de Tecnologia, na cidade de Blacksburg, no
O caso mais famoso de cyberbullying aconteceu no felizmente a tragédia ficou muito aquém do pla- estado de Virgínia, nos Estados Unidos, protago-
Canadá, em 2004, e ficou mundialmente conhecido recido Freitas, de 18 anos, havia acabado nejado pelo jovem suicida. Ele não conseguiu se nizou o maior massacre em uma instituição de
como Garoto Guerra nas Estrelas ou Star Wars Kid. de se formar no Ensino Médio, quando en- matar, mas, em compensação, matou duas pes- ensino no país. Cho Seung-Hui matou 32 colegas
Toda a história começou quando o canadense Ghys- trou na Escola Estadual Coronel Benedi- soas e feriu mais três. e professores antes de se matar.
lain Raza, na época com 14 anos, resolveu gravar um to Ortiz, na pequena cidade de Taiuva, no Por volta das 19h30 do dia 4 de fevereiro de Primeiro, o sul-coreano foi até um dos aloja-
vídeo de si mesmo imitando o vilão Darth Maul, de interior de São Paulo. Ele atirou em seis 2004, o adolescente, armado com um revólver ca- mentos de estudantes por volta das 7h15 da ma-
Star Wars, empunhando um taco de golfe como sabre colegas, no caseiro e em uma professora. libre 38, dirigiu-se à casa de um colega de 14 anos, nhã e fez duas vítimas. Apesar desse assassinato,
de luz. Aparentemente, Raza fez a gravação porque ia Apesar de ter escolhido mirar áreas vitais que há anos o provocava na escola. Chegando lá, as aulas não foram suspensas. Cho fugiu do local
participar de uma apresentação no colégio, e queria como cabeça e tórax, ninguém além do matou o outro jovem com um tiro na cabeça. Em para voltar duas horas depois ao edifício da facul-
conferir como estava o seu desempenho. Por descui- próprio atirador morreu. seguida, seguiu para uma escola de informática dade de engenharia Norris Hall. Neste segundo
do, o garoto esqueceu o CD onde gravou o vídeo no Depois do tiroteio, amigos do rapaz re- para matar uma professora da qual não gostava. ataque, provocou a matança indiscriminada de
laboratório da escola. Assim, a gravação foi parar nas solveram falar que há bastante tempo des- Ao ser impedido de entrar por outra funcionária, outras 30 pessoas.
mãos de dois colegas que, para se divertirem, resolve- confiavam de seu comportamento agres- ele disparou contra ela e também a matou. Quando a polícia chegou ao local e depois de ar-
ram colocar a performance de Raza no YouTube. sivo. Edmar era alvo de brincadeiras por Sua intenção era suicidar-se, mas, segundo tes- rombar as portas trancadas por dentro, os oficiais
O vídeo se transformou em um viral, hoje com mais ser gordinho. No início, não respondia aos temunhas, ele foi desarmado por um outro estu- encontraram vários estudantes baleados e mor-
de 1 bilhão de acessos. Dez anos após o acontecimen- insultos, mas aos poucos foi ficando agres- dante presente na tragédia e então foi levado à de- tos. O autor dos disparos já estava caído, com um
to, em entrevista ao periódico canadense Maclean’s, sivo. Entretanto, como era calado e nunca legacia. Os policiais encontraram em seu bolso um tiro na cabeça.
Raza comentou que foi alvo de um dos mais violentos se metia em brigas, os professores e os pais bilhete contando sobre suas intenções. Uma cruz No mesmo dia, o departamento de jornalismo
ataques de cyberbullying de todos os tempos. não perceberam sua perturbação. suástica, símbolo do nazismo, ilustrava o bilhete. da emissora norte-americana NBC recebeu uma
Já formado em Direito, Raza relembrou os comen- Sinais sobre seu comportamento violen- Professores, pais e conhecidos do jovem não correspondência enviada por Cho depois de ele ter
tários maldosos e até as mensagens de internautas to, como sua fixação por armas e por Adolf conseguiram entender seu gesto extremado. Po- feito as primeiras vítimas no alojamento. Dentro do
sugerindo que ele cometesse suicídio. Além de per- Hitler, também passaram despercebidos. rém, de acordo com relatos de colegas, o jovem pacote havia 23 vídeos curtos de Cho. Nas imagens,
der os amigos, teve que mudar de colégio, aguentou Dias antes de completar 18 anos, ele entrou atirador sempre foi muito tímido e, por isso, “zo- com um discurso desconexo, no qual declarava seu
os insultos dos novos colegas e acabou em um hospi- na classe avisando que iria matar quem ado” pelo resto da turma, que sempre o deixava ódio à riqueza, ele deixou uma mostra da extensão
tal psiquiátrico. O advogado confessou que o menino cantasse Parabéns a você. Por prudência, de lado. Humilhado por todos, sua fúria concen- de sua perturbação: “Vocês tiveram 100 bilhões de
muitas vezes chegou as a pensar em dar fim à própria mais de 70% dos alunos faltaram às aulas trou-se no menino que matou, um dos seus per- chances de evitar este dia, mas decidiram derra-
vida, mas resolveu dar entrevistas dez anos depois naquela noite. O final da história foi trágico. seguidores mais acirrados. Chegou até a jogar mar o meu sangue, me encurralaram e não me
para falar sobre seu sofrimento e aconselhar jovens Só ele morreu. Suas vítimas sobreviveram, lama no adolescente que, não aguentando mais deixaram outra opção. Agora vocês têm sangue em
para que não pensem em suicídio, e procurem ajuda mas ficarão com as sequelas físicas e emo- as ofensas, acabou com seu sofrimento da ma- suas mãos e nunca vão conseguir limpá-las”, dizia
porque é muito duro vencer o bullying sozinho. cionais para o resto da vida. neira mais lamentável de todas. o estudante sul-coreano em um de seus vídeos.

80 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 81


Capítulo X

Testes
Avaliações elaboradas por especialistas
para ajudar no combate ao bulllying

Resultado:
Meu filho pode ser vítima? De 6 a 8 respostas “Sim”
Sinal vermelho
Seu filho pede, de maneira De uns tempos para Seu filho mudou de comportamento e

Consultoria: Cynthia Wood, psicopedagoga da Clínica Crescendo e Acontecendo; e Luciano Passianotto, psicólogo clínico
frequente, para não ir à escola? cá, seu filho passou a tem dado diversos sinais de alerta que
a) Sim se queixar de dores de podem indicar que ele está sofrendo
b) Não cabeça e no estômago bullying. Procure conversar com ele e
(e você já o levou ao buscar a ajuda da escola em que ele
É comum seu filho relatar médico e não identificou estuda para tentar identificar e solucio-
a “perda” de brinquedos, problemas de saúde)? nar o problema.
dinheiro, livros, roupas a) Sim.
ou aparelhos eletrônicos? b) Não. De 4 a 5 respostas “Sim”
a) Sim. Sinal amarelo
b) Não. Você percebeu Apesar dos sintomas não serem genera-
que seu filho lizados, você deve ficar alerta. Talvez ele
Você notou alguma passou a apresentar esteja começando a ser vítima de per-
mudança de comportamento dificuldade para dormir, seguições ou agressões. Fique atento e
recente (seu filho ficou mais a ter pesadelos e a fazer procure investir no diálogo, deixando seu
quieto, agressivo ou triste)? xixi na cama? filho confortável para desabafar – isso
a) Sim. a) Sim. ajuda a impedir que o problema avance.
b) Não. b) Não.
De 0 a 03 respostas “Sim”
Seu filho começou a tirar Você tem notado Sinal verde
notas mais baixas no colégio? marcas físicas no Aparentemente, está tudo caminhando
a) Sim. seu filho, como roxos, bem com seu filho. Em geral, ele conti-
b) Não. cortes e arranhões? nua sendo o mesmo de sempre e não tem
a) Sim. demonstrado mudanças significativas. Con-
Seu filho tem menos amigos b) Não. tinue sempre atenta ao comportamento do
e está mais solitário? seu filho. Assim, ao primeiro sinal de que
a) Sim. ele possa estar sendo vítima de persegui-
b) Não. ção, você poderá ajudá-lo.
Capítulo X

Resultado:

Consultoria: Elizabete Duarte, psicopedagoga, e Itamara Barra, coordenadora pedagógica do colégio Nossa Senhora do Morumbi
Você é capaz de perceber se seu filho está sofrendo bullying?
De 6 a 3 respostas A De 6 a 4 respostas C
Metade de respostas A e metade de respostas B Modelo
Seu filho começa, de repente, a tempos para cá, passa a tirar Você começa a perceber que seu Metade de respostas A e metade C (orientação possível) Você procura estabelecer um canal
mudar de comportamento: ele notas baixas e a se desinteres- filho chega da escola com roxos Falta diálogo de diálogo com seu filho e está
fica mais triste, agressivo e se sar pelos estudos. Como você ou arranhões. O que você faz? Você não conversa muito com o seu filho e diversas vezes usa a sempre atento aos sinais que ele
isola. Como você reage? lida com isso? a) Ele é muito estabanado, então bronca ou o castigo para tentar solucionar o que acha que está dá e que podem indicar problemas
a) Pergunto o que está aconte- a) Chamo a atenção dele para converso seriamente para ele errado. Desta forma, além de prejudicar a relação entre você e (como o bullying). Além disso,
cendo e pressiono-o até que que preste mais atenção nas tomar mais cuidado. seu filho, dificilmente conseguirá identificar o bullying (ou outros sabe que é importante conversar
ele responda. aulas e o coloco de castigo. b) Isso é normal na infância. problemas) e ajudá-lo de fato. Procure conversar mais e ficar com a escola para solucionar
b) Acredito que é só uma fase. b) Acredito que isso acontece vez c) Pergunto onde ele se machu- atento aos sinais que seu filho dá. possíveis conflitos.
Até pergunto o que está aconte- ou outra com qualquer um. Con- cou e, se ele se esquivar, fico
cendo, mas não levo a conversa verso com o meu filho e passo alerta e procuro a escola. De 6 a 4 respostas B
adiante. a cobrá-lo um pouco mais, mas Metade de respostas B e metade C
c) Fico atento aos sinais e não acredito que seja algo para Depois de ficar mais isolado,
busco dialogar, tentando fazer esquentar a cabeça. não querer sair de casa e perder Cucas frescas
com que ele se sinta confortável c) Assim que percebo a queda alguns amigos, seu filho começa Você até conversa com o seu filho e percebe
para desabafar. de rendimento, sento com o meu a pedir insistentemente para mudanças comportamentais, mas, frequentemente,
filho para conversar e busco com- mudar de escola. O que você relaciona os sinais a algo natural, parte da vida e da
Seu filho mais novo frequen- preender o que ele está passando. acha que isso pode ser e como infância. Às vezes, as mudanças são mesmo uma fase
temente “perde” brinquedos e Também busco falar com a escola. lida com a situação? de transição mas, em outros casos, podem indicar
aparelhos eletrônicos ou aparece e os professores para saber se eles a) Provavelmente é frescura de problemas sérios como o bullying. Procure ficar mais
com esses bens danificados. identificaram algum problema. criança. Não dou muita atenção e atento e aprofundar conversas com o seu filho.
O que você faz? peço para ele parar.
a) Dou uma bronca para ele Seu filho, de repente, passa a b) Num primeiro momento não
aprender a cuidar melhor das arrumar desculpas para não ir à me preocupo e, se ele insistir,
próprias coisas. aula e vive pedindo para faltar, acabo atendendo ao pedido.
b) Desconfio que talvez possa ser até mesmo alegando estar doen- c) Pergunto por que ele quer
um colega, mas não acho que te. Sua reação é: tanto sair da escola e, a partir da
isso seja grave. Acredito que o a) Explico que ele precisa ir para sua reação, busco fazer alguma
problema pode ser resolvido proi- o colégio e, se insistir em faltar, intervenção junto com os educa-
bindo meu filho de levar coisas dou-lhe uma bronca. dores para identificar e solucio-
caras para o colégio. b) Acredito que isso faz parte do nar o problema.
c) Converso com o meu filho e comportamento normal da crian-
procuro a escola para entender ça e vou apenas explicando que
o que está acontecendo e tentar ir à escola é importante.
solucionar o problema. c) Se o comportamento é recor-
rente e percebo que ele não está
Seu filho costumava tirar notas doente, fico alerta e converso
boas no colégio e não enfren- com o meu filho, buscando sinais
tava muitas dificuldades para que me ajudem a identificar qual
fazer as tarefas. Mas, de uns o verdadeiro problema.
Capítulo XI

Para crianças
Livros, filmes No reino de Pirapora
Janine Rodrigues,
Pedro e o menino valentão
Ruth Rocha, Editora

sites & cia


Editora Multifoco, 2012
Melhoramentos, 2009
A protagonista é uma princesa solitária.
Uma das escritoras mais consagra-
Depois que teve catapora, ela ficou com
das da literatura infantil brasileira
seu corpo cheio de bolinhas, o que a fez
conta a história de um menino que
virar motivo de chacota entre outras crian-
é perseguido por outro garoto, mais
ças. Quando se torna rainha, ela decide se
velho. Então, sua família decide
vingar, obrigando todas os meninos e as
matriculá-lo no judô, que o deixa
meninas do reino a brincar somente com
mais confiante. A obra traz uma
brinquedos redondos. Até que, um dia,
reflexão sobre a melhor maneira de
Buscar informações confiáveis, conhecer a opinião de surge um garoto com um carrinho quadra-
do que muda o rumo das coisas.
sair de uma situação de bullying.

especialistas e ouvir quem já encarou o bullying de frente


Laís, a fofinha
são atitudes imprescindíveis na luta contra esse fenômeno Walcyr Carrasco, Editora Ática, 2010
O livro fala sobre autoestima e
bullying. A protagonista, Laís, muda
Pais, professores, profissionais de saúde e de educação e organizações voltadas de cidade com os pais e ouve apelidos
para a infância e a adolescência estão cada vez mais preocupados com a violência que maldosos e risadinhas, além de sofrer
atinge crianças e jovens no mundo inteiro. Além do aumento do número de agressões, humilhações na nova escola. As outras
crianças a chamam de gorda, fazendo
outra grande aflição é saber como lidar com o bullying, que, em diversos países, já é a menina se envergonhar e acreditar
considerado um problema de saúde pública. Para complicar ainda mais, o fenômeno é que é feia. Quando Laís tem a chance
extremamente complexo, envolvendo uma gama enorme de questões, como desestruturação de finalmente realizar seu sonho de se
tornar atriz, ela terá de enfrentar seus
familiar, xenofobia e diferenças de classes, etnias e religiões. Mas, de qualquer maneira, os fantasmas e aceitar-se do jeito que é.
especialistas afirmam que o bullying deve ser encarado e combatido com urgência.

Morango sardento
Julianne Moore,
Editora Cosac Naify, 2010
A famosa atriz norte-americana escre-
veu esse livro baseado em sua infância.
Conta a história de uma garota que so-
fria bullying no colégio por ser diferen-
te das outras crianças. Com vergonha
de suas sardas, ela tenta fazer de tudo
– até tomar banho com suco de limão –
para se livrar das pintinhas. Com belas
ilustrações, a mensagem principal para
as crianças é a de autoaceitação.

Ponte para Terabítia Tem um garoto no


Katherine Paterson, banheiro das meninas
Editora Salamandra, 2006 Louis Sachar, Editora Record, 2006
Aborda a amizade entre dois vizinhos de Bradley Chlakers é um menino co-
10 anos de idade, Jesse Aarons e Leslie nhecido pelo mau comportamento:
Burke – a garota, nova na vila e na esco- gosta de brigar, mentir, ameaçar e
la. Juntos, eles criam um reino imaginá- fazer brincadeiras de gosto duvido-
rio, chamado Terabítia, onde se sentem so. Também não é bom aluno. Todo
protegidos. Já na vida real, na escola, mundo da escola o detesta, menos
eles passam por situações de bullying e a nova orientadora educacional,
têm de lidar com medos e dificuldades que acredita na bondade e gentile-
típicos da idade. A obra também ganhou za de Bradley e decide ajudá-lo a
uma versão para o cinema. acreditar em si mesmo.

86 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 87


Capítulo XI

Para adolescentes
Céu de um verão proibido
Todos contra Dante
João Pedro Roriz, Ed. Besouro Box, 2014
Luis Dill, Editora Companhia
Alexia é uma garota que percebe que sua
das Letras, 2008
infância acabou com o fim das férias de
Baseado em fatos reais, o livro traz
verão. Sua visão de mundo muda, assim
a história de Dante, um garoto que
como seus gostos e interesses, e isso
mora em um bairro pobre e gosta
passa a afetar seus relacionamentos, in-
de ler A divina comédia, de Dante
clusive os familiares. A obra fala de ama-
Alighieri. Novato no colégio, o garoto
durecimento e, com um texto leve, trata
passa a ser perseguido por sua clas-
de questões pesadas – como bullying,
se social e aparência. As consequên-
drogas e perdas – presentes no desenvol-
cias das “brincadeiras” são trágicas.
vimento de uma adolescente da década
Com a obra, o autor propõe uma
de 1990, quando o país passa por uma
reflexão sobre a sociedade atual.
crise econômica, política e social.

A fofa do terceiro andar


Cléo Busatto, Ed. Galera Júnior, 2015
Escrito em forma de diário, o livro
permite que o leitor conheça a visão
de Ana, uma criança alegre que,
na adolescência, começa a sofrer
bullying na escola. O diário é a manei-
ra que ela tem de mergulhar em seu
autoconhecimento e reconhecimento
do mundo. A obra mostra o cresci-
mento e amadurecimento da jovem,
que, mesmo em meio à maldade dos
colegas, descobre o que é o amor ao
conhecer o menino Francisco.

A lista negra
Jennifer Brown, Ed. Gutenberg, 2012
Nick e Valerie eram namorados e
sofriam com o bullying praticado por
alguns alunos do colégio. Isso até o dia
em que Nick atira em vários colegas
e, depois, suicida-se. Valerie tenta
detê-lo, salvando a vida de uma pessoa
que a maltratava. Mesmo assim, ela
tem de conviver com o julgamento dos
outros e com a culpa. O livro promove
uma interessante reflexão sobre as
atitudes e suas consequências e sobre
o comportamento humano.

Bullying, não quero ir pra escola!


Os 13 porquês
João Pedro Roriz, Edições Paulinas, 2013
Jay Asher, Editora Ática, 2009
O livro aborda os diferentes tipos de
Clay Jensen encontra um pacote miste-
bullying: direto, indireto e virtual, con-
rioso na porta de sua casa com várias fi-
tando a história de Júnior e Sara, que
tas cassete gravadas por Hannah Baker,
estudam no mesmo colégio e sofrem
uma garota que cometera suicídio
assédio dos colegas. Ele é um garoto
duas semanas antes. Clay descobre, ao
franzino e com diversos problemas de
ouvir as gravações, que há 13 pessoas
saúde, que é perseguido pelo atleta da
responsáveis por sua morte e que ele é
escola. Já a menina sofre com o cyber-
uma delas. A obra mostra que mesmo
bullying. Mesmo com traumas, medos e
atitudes que parecem pequenas podem
dificuldades, os dois descobrem como
marcar profundamente a vida das
contornar a situação e, de quebra, se
pessoas e se tornar algo perigoso.
veem apaixonados um pelo outro.

88 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 89


Capítulo XI

Para adultos
Bullying: O que você precisa saber
Lélio Braga Calhau, Ed.Impetus, 2011 Bullying: Como combatê-lo?
Um manual de orientação para pais, Alessandro Costantini,
diretores e educadores, com destaque Editora Itália Nova, 2004
para o bullying no ambiente escolar. Diariamente nos deparamos com
Com experiência em implantação de cenas de violência e agressivida-
programas de combate ao problema, o de. Mas, quando essas questões
autor apresenta soluções para todos os se tornam próximas e reais, seja
envolvidos: família, escola e vítimas. no ambiente familiar, seja no
Além disso, aborda a questão do cyber- escolar, envolvendo diretamente
bullying, com depoimentos de vítimas, nossos filhos e alunos, é hora de
casos que foram aos tribunais e formas entender esses mecanismos.
de combater a violência pela internet.

Brincadeiras que
fazem chorar!
Carolina Giannoni Camargo,
Editora All Print, 2009
Apresenta o tema de maneira ampla a
pais e professores, dando orientações
sobre formas de identificar e ajudar
as vítimas, bem como os agressores.
A autora também apresenta uma
reflexão sobre a educação de maneira
geral e sobre o papel dos pais e edu-
cadores no combate ao bullying.

Bullying -
Estratégias de sobrevivência
para crianças e adultos
Jane Middelton-Moz e Mary
Lee Zawadski, Editora Penso, 2007
Em um dos poucos títulos a explorar o
bullying da infância à idade adulta, as
autoras oferecem uma valiosa ajuda:
usam estudos de caso sobre os bullies
e suas vítimas para chegar ao centro do
problema, examinando os aspectos de
hostilidade explícita e proporcionando
um plano para dar um fim a ele.

Bullying e desrespeito – Como


acabar com essa cultura na escola Bullying:
Marie-Nathalie Beaudoin e Maureen Mais sério do que se imagina
Taylor, Editora Artmed, 2006 Pedrinho Guareschi e Michele Reis da
Com o objetivo de discutir e apresentar Silva (organizadores), Editora Mundo
alternativas para enfrentar o bullying, a Jovem, 2007
obra reúne conhecimento psicológico e O livro procura desvendar as causas e
experiência educacional, oferecendo uma origens do fenômeno, partindo de seu
abordagem bem-sucedida para se lidar com conceito. Faz uma análise das relações
um amplo leque de problemas compor- entre os seres humanos, dá exemplos
tamentais. O texto é complementado por concretos, propõe atitudes para pre-
inúmeras atividades e estratégias de fácil venção, sugere atividades e subsídios
implantação, acompanhadas de programas para estudo e debate sobre o assunto.
apropriados para o trabalho nas escolas.

90 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 91


Capítulo XI

Filmes Blogs, sites


Ben X, a fase final
Nic Balthazar, Bélgica, 2007
Ben é um adolescente com Sín-
drome de Asperger, uma forma
mais branda de autismo. Com
extrema dificuldade de sociali-
zação e comunicação, ele sofre
a cotidiana opressão dos colegas
Tiros em Columbine
Michel Moore, EUA, 2002
O documentário investiga a fascinação
dos americanos por armas de fogo. Mi-
chael Moore, diretor e narrador do filme,
questiona a origem dessa cultura bélica
e busca respostas, visitando pequenas
cidades dos Estados Unidos em que a
maior parte dos moradores guarda uma
Segundas intenções
Roger Kumble, EUA, 1999
Em Nova York, Kathryn Merteuil
e Sebastian Valmont pertencem
a uma rica família e vivem como
irmãos desde o casamento de
e grupos
seus pais. Sebastian tem a fama
na escola pública. Como refúgio arma em casa. Entre elas está Littleton,
de ser um incrível sedutor e
contra essa vida dolorosa, o garo- no Colorado, onde fica o colégio Colum-
gosta de manter tal reputação, Cinema Parceiro da Educação Blog Bullying
to mergulha em Archlord, um vi- bine. Foi lá que os adolescentes Dylan
enquanto Kathryn, apesar de ser cinemaparceirodaeducacao. cristianegossil.blogspot.com.br
deogame jogado por milhares de Klebold e Eric Harris pegaram as armas
ainda mais amoral que ele, pre- blogspot.com.br Bully: No Bullying Produzido pelos alunos da disci-
pessoas on-line ao mesmo tempo, dos pais e mataram 14 estudantes e
fere fazer o gênero da jovem boa Excelente blog de Lucyano Borges, bullynobullying.blogspot.com.br plina de webjornalismo do curso
cada qual operando um persona- um professor no refeitório. A verdadei-
e comportada. Em um ímpeto professor com habilitação em Edu- Espaço destinado a divulgação, de Comunicação Social da Uni-
gem num mundo virtual. No jogo ra causa do massacre ainda é tema de
de vingança, ela combina com o cação Infantil e Ensino Fundamental pesquisa e depoimentos sobre o versidade Federal de Mato Gros-
– que existe na realidade –, Ben discussão entre os pesquisadores do
“irmão” um jogo cruel para aca- 1, coordenação pedagógica e gestão fenômeno bullying. so, o blog traz perguntas e res-
é um herói, em oposição ao “nin- bullying. Eles não eram rapazes comuns
bar com a reputação de Cecile, a escolar. No site, você encontra várias postas sobre o tema e indicação
guém” do mundo real: tem armas que foram importunados pelos colegas
rival que roubou seu namorado. indicações de filmes sobre bullying. de outros sites relacionados.
e poderes cobiçados e até uma até se vingarem. Não eram rapazes co-
princesa apaixonada por ele. muns que queriam ser famosos, nem
jogavam videogames demais.

Garota fora do jogo Quase um segredo Bang, bang, você morreu


Tom McLoughlin, EUA, 2005 Jacob Aaron Estes, EUA, 2004 William Mastrosimone, EUA, 2002 Stopbullying.gov Movimento todos
Rodado nos Estados Unidos, o filme Sam e Rocky são irmãos e vivem em Inspirado em fatos reais, o filme www.stopbullying.gov/blog Bullying Prevention contra o bullying
é uma adaptação do livro de Ra- uma pequena cidade do Oregon, nos tem como personagem central Tre- Em inglês, com versão em espa- www.edutopia.org/blogs/tag/ movcontrabullying.blogspot.com.br
quel Simmon Odd Girl Out, Mariner Estados Unidos. Volta e meia Sam é vor, um rapaz que acaba desenvol- nhol, o blog traz notícias do mun- bullying-prevention O movimento cívico português,
Books, 2001. No filme, o bullying atacado por George, o valentão da es- vendo um comportamento muito do inteiro sobre o fenômeno, com Outro blog em inglês, é voltado apartidário e sem ligações reli-
acontece entre meninas que agridem cola. Um dia, os irmãos armam um agressivo por ter sido vítima de artigos sobre as características do para a prevenção do fenômeno, giosas tem o intuito de informar,
as colegas de maneira velada. O alvo, plano para se vingar dele, levando-o a bullying. Cansado de ser hostiliza- bullying na infância, na adolescên- com artigos sobre estudos, parti- formar, debater e tentar mudar a
no caso, é Vanessa, uma das garotas um passeio de barco juntamente com do, ele ameaça explodir o prédio da cia e entre jovens adultos, além do cipação dos professores e controle sociedade, a fim de combater o
populares da escola, que passa a ser dois amigos de Rocky e a namorada de escola com uma bomba de menti- perfil dos envolvidos, orientações a sobre a sala de aula, entre outros. problema. O blog traz sugestões
agredida por sua antiga melhor ami- Sam. A ideia é humilhar George ao fim ra. Após o incidente, sofre com a pais e professores e políticas e le- de artigos sobre o tema e uma lista
ga por meio de mensagens no celular do passeio, mas a situação foge com- desconfiança de todos: professo- gislação dos estados americanos. de outros sites recomendados.
e na internet e pessoalmente. pletamente do controle dos garotos. res, alunos e pais dos estudantes.

A classe Apostila de Prevenção


Bullying: Artigo:
Meu melhor inimigo Ilmar Raag, Estônia, 2007 ao Bullying Escolar –
Provocações sem limites O que a escola deve saber
Howard Deutch, Dinamarca, 2010 Joosep é um adolescente tímido e Compreensões sobre o fenômeno
Josetxo San Mateo, Espanha, 2009 e fazer para deter o bullying
Cansado de ser humilhado pelos sensível que virou saco de pancadas goo.gl/AQDGMa
O filme conta a vida de Jordi, um ado- goo.gl/Sx8HMt
garotos da escola, Alf decide to- do valentão Anders e sua turma. Dia- Traz uma seleção de textos e sugestões
lescente que perdeu o pai e que, junto Esse é o endereço encurtado da
mar providências contra aqueles riamente, ele é submetido a longas para estudos sobre bullying, estimulan-
à mãe, decide mudar de cidade para Revista Pátio, do Grupo A, Editora
que o atormentam. Alia-se a um sessões de tortura física e psicológi- do a discussão sobre esse fenômeno so-
recomeçar a vida. A princípio tudo Artmed, que traz um excelente ar-
colega e, juntos, firmam um pac- ca. A situação piora quando Kaspar, cial. A apostila é uma complementação
parece bem, mas o destino reservado tigo assinado pela educadora Cleo
to secreto. Inspirados nas lutas de um dos garotos agressores, muda pedagógica de um projeto desenvolvido
para ele será uma terrível surpresa. Fante, pedagoga, historiadora e vice-
Niccolo, herói de uma revista em sua conduta e passa a protegê-lo. pelo professor Paulo César Antonini de
Quando Jordi passar pelo portão da presidente do Centro Multidiscipli-
quadrinhos, os dois desafiam os Sentindo sua liderança ameaçada, Souza, entre 2006 e 2008, na EE Pro-
escola, cruzará sem saber a tenebro- nar de Estudos e Orientação sobre o
mecanismos de poder da turma. Anders decide tornar Kaspar também fessora Dinah Lucia Balestrero, locali-
sa fronteira de um novo inferno. Bullying Escolar (Cemeobes).
vítima das mesmas atrocidades. zada em Brotas, SP.

92 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 93


Capítulo XII

Guia de atividades
Estímulos que
podem promover
integração e
humanização e,
assim, evitar o
bullying
Consultoria:
Graziela Vanni,
psicóloga cognitiva
comportamental

F iq u e o ff -l in e . Promova
celulares, tele-
Faça um piquenique no
parq
va a criança da organização ue e envol-
à finalização.
momentos em que tablets, Agressor: é um ato voltado
fiquem desli- para a hu mani-
visões e outros eletrônicos zação, perfeito para as fam
família ficará ílias que precisam
Deixe que a criança contemple gados. Assim, o diálogo em cuidar de uma criança co
m perfil agressor. In-
os terão de usar
adultos ajudando outras pessoas, mais próximo, e os membr centive a escolha de alime
ntos e a colaboração
ter.
de maneira natural. a criatividade para se entre com ideias. Isso ajudar a
trazer a consciência
por muito tem- a respeito de atividades qu
Agressor: consegue ter contato com Agressor: ao ficar conectado Portanto, negrir ninguém para trazer
e não precisam de-
tencializa.
o lado humano dos relacionam po, a parte agressiva se po felicidade.
entos. rigeram o emocional. Vítima: ao ver uma tarefa qu
Vítima: Pode se identificar e se sen momentos como esse ref e conseguiu re-
de interação com alizar do começo ao fim,
tir capaz de ajudar também,
saindo
-
Vítima: por meio de atitudesr a ter confiança e potencial para participa
reconhece que tem
ssa
do papel de quem é apenas aju entrega total, a criança pa r de maneira impor-
dado. un idade de conversar com os pais, tante do dia a dia.
encontra a oport
ada promove a intro-
sem contar que ficar conect
em sofre bullying.
versão, característica de qu

94 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 95


Capítulo XII
Curtaareaconhnecaertuorqueezéabe! lo e
Ensine
está acessível!
Agressor: já que el
e precisa diminui
r
rgar coisas Pratique esportes. Promova gentilezas. Cansor:te! quem canta os males
espanta, sim. A
nder a enxe Agres rtidas
a ansiedade, apre te e ia com atividades dive
não vê é importan
Agressor: a serotonina faz o trabal Agressor: quem pratica tanta violência pode ter con- criança tem experiênc m.
que no dia a dia ho do córtex pré- redir para se sentir be
zir a ansiedad e. frontal esquerdo, responsável
pelo equilíbrio. O agres- tato com exemplos arrogantes e também violentos. Por- em que não precisa ag
colabora para redu ,e sor consegue relaxar. em estado introvertido qu
e con-
rfil mais sensível tanto, a criança ver que é possível ter outras atitudes V íti m a: a cr ian ça
pressa
Vítima: já tem o pe diminuir a timidez Vítima: se reconhece capaz de pode ativar ações mais humanas. segue cantar sai do
mundo do medo e ex
úsi-
essa atividade po
de realizar atividades, pais podem coloc mar
e emocional.
sente-se mais forte. Vítima: reconhece atitudes mais equilibradas, mais suas emoções. Os rio riza
e valorizar a part casa. Tudo isso exte
que vão incentivar estados mais tranquilos. ca e fazer karaokê em
na autoestima.
os sentimentos e ajuda

Incentive atividades de artesanato Realize atividades culturais,


Trace metas. Escute os adultos pedirem desculpas
. Agressor: ocupações manuais des
Para as crianças mais agitadas,
per
.
tam a calma.
como ir ao cinema, ao teatro e a museus.
Agressor: pode ter sua energia can com devida dinâmica e Agressor: com bom embasamento dos pais e
alizada para outros adultos
objetivos. A criança entende
metas como sonhos com Agressor: crianças percebem que em
ambiente preparado, a entreg
a é maior. educadores, as crianças podem ter perfis compa-
perdão, pod
pernas e, para eles acontecerem
, é necessário ter algu- erram. Ao ter contato com o Vítima: atividades ligadas às art
es plásticas são as rados aos dos personagens. É possível estimular
a mesma atitude
mas atitudes. Assim, começa
a olhar para si mesma. sentir-se à vontade para ter que mais contribuem para o des
envolvimento cognitivo reflexões sobre atitudes ao mostrar os resultados
r erros.
Vítima: trabalha a autoestima, ela e, assim, passam a reconhece e emocional da criança – e ma
is ainda quando feitas das atitudes violentas. Ver um vilão que se dá mal
se sente capacitada ter outras
para algo. Podem ser pequenas
atitudes, como juntar di- Vítima: descobre que é possível em conjunto com os pais. Ao
produzir artesanato, a pode trazer consciência.
onal. criança supera limites e faz
nheiro no cofrinho para compra
r um brinquedo no final do chances, fortalecendo o emoci uma arte que consegue Vítima: a criança reconhece personagens que su-
ano ou pedir suco para o garçom fazê-la se sentir especial. peraram momentos difíceis, que deram continui-
em um restaurante.
dade a tudo, apesar das dificuldades.

96 Guia bullying infantil Guia bullying infantil 97


Consultoria: Presidente: Paulo Roberto Houch
Vice-Presidente Editorial: Andrea Calmon – redacao@editoraonline.com.br

bullying
Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância (Crami)
Guia
Rua Humberto Olivieri, n° 114 – Santo André, SP
(11) 4992-1234 • crami@org.br • www.crami.org.br

infantil
Cynthia Wood
Psicóloga e psicopedagoga na clínica Crescendo e Acontecendo
Rua Nilza Medeiros Martins, 187, sala A – São Paulo, SP
(11) 4113-2761 • crescendoeacontecendo@gmail.com REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Andrea Calmon – MTB 47714
Editora: Aline Ribeiro
Elizabete Duarte e Itamara Barra
Colégio Nossa Senhora do Morumbi colaboraram nesTa ediÇão:
www.nsmorumbi.com.br • Tels.:(11) 3742-5513 / 3744-0015 Coordenação e finalização: Daniella Marcos; Edição: Elaine Iorio;
Texto: Rose Mary Ribeiro Mercatelli; Revisão: Lila de Oliveira; Arte: Shantala Ambrosi

Graziela Vanni PROGRAMAÇÃO VISUAL: Coordenador de Arte: Renato Marcel – diagramacao@editoraonline.com.br


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Tel.: (16) 3374-7534 / grazielavanni.palestras@gmail.com ESTÚDIO FOTOGRÁFICO: Fotógrafo: Fernanda Venâncio
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98 Guia bullying infantil


bullying
Guia

infantil
Entre as dores e os amores
da educação, existe o estado
de alerta no qual pais, profes-
sores e cuidadores precisam
estar para acompanhar as
transformações e alterações de
comportamento das crianças.
O Guia Bullying Infantil traz
dezenas de orientações de
especialistas para despertar
um olhar mais sensível sobre
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possíveis agressões na infância.
Desde o primeiro passo (que
é a criação de rótulos – aquela
história da baixinha, do gor-
dinho, do quatro-olhos) até
as condutas mais agressivas,
verbais ou físicas, você en-
contrará sugestões de como
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com o cyberbullying –, além de
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afetam famílias do mundo todo.
Neste Guia você encontra um
conteúdo especial para enten-
der e combater o bullying.

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