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Orlandi, Eni Puccinelli – AS FORMAS DO SILÊNCIO NOS MOVIMENTOS DOS SENTIDOS / Eni

Puccinelli Orlandi. – Campinas, SP : Editora da UNICAMP, 1992.

SILÊNCIO, SUJEITO, HISTÓRIA: SIGNIFICANDO NAS MARGENS.

“Notemos – de passagem – que o projeto fenomenológico husserliano, que visa


reencontrar no “solo originário” dos atos do sujeito (como consciência, atividade etc.,) a fonte
daquilo que determina a realidade, o sujeito como tal, é com bastante exatidão, a repetição do
mito idealista da interioridade, pelo qual o “não-dito” não poderia ser diferente do “já-dito” ou
do “dizível” que o sujeito pode encontrar por uma reflexão sobre si mesmo”. M. Pêcheux, Les

Vérités de lá Palice.

1. -Nós nos propomos a falar do silêncio que significa em si mesmo. Com ou sem palavras,
este silêncio rege os processos de significação. Em suma dar ao silêncio um estado explicativo.

P.63

2. -Não trataremos aqui do silêncio em sua concepção mística. P. 63-4

3. -“método que prepara a alma para experiências pessoais” (Enciclopédia de Religião e Ética

de Hasting). P. 64

4. -Na Grécia, o silêncio tinha um lugar importante nas sociedades pitagóricas e nos círculos

órficos, como para iniciação ou autoconhecimento. P. 64

5. -O antigo testamento também tem suas demarcações do que é silêncio e sua função. P.
64

6. -Os místicos, os cristãos, os neoplatônicos, os persas, os hindus, os árabes, os judeus na

idade Média, fizeram largo uso do silêncio como meio de encontrar suas divindades. P. 64

7. -Esta longa história da relação e da reflexão sobre o silêncio, nas suas determinações
religiosas ou místicas, contribui bastante para uma tradição em que não se reflete sobre o

silêncio em sua materialidade significativa. P. 65

8. -É preciso assim um certo esforço para laicizar a reflexão sobre o silêncio. Não é uma
tarefa fácil. P. 65
9. -Não é disto que estamos falando, mas da necessidade de se considerar o silêncio que
torna possível toda significação, todo dizer. O silêncio que não é distanciamento, mas presença.

P. 66

10. -Nosso interesse incide sobre os processos de produção dos sentidos estabelecidos pelo
silêncio e “a historia como ruptura chama para além do silêncio da filosofia” (A. Juranville, 1984).

P. 66

11. -É, pois desse silêncio, presente na constituição do sentido e do sujeito da linguagem, de
que nos ocupamos aqui. Duas ordens de questões se impõem desde o início:

1 - Uma se refere diretamente ao sentido:

a) Como se pode explicar a literalidade como unidade e permanência de “um” sentido?

b) Como se pode explicar o fato de que, para dizer “x”, é preciso não dizer “y”?

c) Como se pode explicar o sentido da censura?

2 – Consequentemente, procuramos mostrar como questões desse gênero, e que envolvem a

reflexão sobre o silêncio, se fletem na concepção se sujeito do silêncio. P. 66-7

12. -A fim de desenvolver essas questões, vamos distinguir as diferentes noções de silêncio,
ou, dito de outro modo, as diferentes formas de silêncio. P. 67

I Silêncio e Implícito

1. -É preciso, já de início, diferenciar conceitos que estão próximos mas que têm naturezas

diferentes. Trata-se da distinção de Silêncio/implícito, que consideramos noções distintas. P. 67

2. -Do mesmo modo que a noção de “ambiguidade” resulta da disciplinarização da noção


de “polissemia”, disciplinarização esta produzida pela metodologia da análise linguística, a noção
de implícito (Ducrot, 1972) é uma forma de “domesticação” da noção de não-dito pela semântica
essa domesticação se faz pela exclusão da dimensão discursiva e pela recusa da opacidade do
não-dito. Há “modos de expressão implícita que permitem deixar entender sem incorrer na
responsabilidade de ter dito (...). Ora se tem frequentemente necessidade de dizer certas coisas e
ao mesmo tempo de poder fazer como se não as tivéssemos dito, de dizê-las mas de tal modo
que se possa recusar a sua responsabilidade” segundo Ducrot(idem). Para o implícito assim
definido, o recorte que se faz entre o dito e o não-dito é o que se faz entre significação atestada
e significação manifesta (Ducrot, idem): o não-dito remete ao dito. Não é assim que concebemos
o silêncio, ele não remete ao dito, ele se mantém como tal, ele permanece silencio e significa. P.

67-8

3. -(...) o silêncio foi frequentemente concebido de forma relativa-negativa, significando por


sua dependência às palavras, apenas como contrapartida do dito, tendo uma função ancilar* ao

dizer. P. 68

4. -A fim de produzir uma mudança de terreno definimos o silêncio em si atribuindo-lhe

deste modo um valor positivo. P. 68

5. -Essa mudança de terreno deriva do fato de termos considerado que o silêncio tem seus

modos próprios de significar. P. 68

6. -Em suma: O silêncio é implícito, sendo que o silencio não tem uma relação de
dependência com o dizer para significar: o sentido do silêncio não deriva do sentido das

palavras. P. 68

7. -Se faz necessário essas observações porque é preciso considerar a relação fundamental
das palavras com o silêncio sem, no entanto, reduzir este a um complemento da palavra. P. 68

8. -Distanciamo-nos assim de algumas formas particulares de categorização do silêncio já

fixadas:

a) Reafirmando, inicialmente, que o silêncio não recobre o mesmo campo (teórico, analítico)

do implícito;

b) Em seguida, considerando que o silêncio, assim como a linguagem, não é transparente. P.

69

9. -O silêncio não se reduz à ausência de palavras. As palavras são cheias, ou melhor, são
carregadas de silêncio. Não se pode excluí-lo das palavras assim como não se pode, por outro
lado, recuperar o sentido do silêncio só pela verbalização. A tradução do silêncio como uma

relação parafrástica. P. 69
10. -A “legibilidade” do silêncio nas palavras só é tornada possível quando consideramos que
a materialidade significante do silêncio e a da linguagem diferem e que isto conta nos distintos

efeitos de sentido que produzem. P. 69

II. Silêncio e significação

1. -É importante insistir que o silêncio não se define como tal só por sua relação à parte

sonora da linguagem mas à significação, ou melhor a relação significativa som/sentido. P. 69

1. O silêncio fundador

1. -O silêncio de que falamos aqui trata-se do silêncio fundador, ou fundante, princípio de

toda significação. P. 70

2. -A hipótese de que partimos é que o silêncio é a própria condição da produção de


sentido. Um espaço “diferencial” da significação: “lugar” que permite à linguagem significar. P. 70

3. -O silêncio não é o vazio, o sem-sentido; ao contrário, ele é o indício de uma totalidade

significativa. P. 70

4. -O silêncio de que falamos é o que instala o limiar do sentido. P. 70

5. -O silêncio não é ausência de palavras, ele é o que há entre as palavras, entre as notas de
música, entre as linhas entre os astros, entre os seres. Ele é p tecido intersticial que põe em
relevo os signos que estes, dão valor à própria natura do silêncio que não dever concebido
como um “meio” (J. de Bourbon Busset, 1984). P. 70

6. -No entanto o silêncio não está somente “entre” as palavras. Ele as atravessa. Ele é

matéria significante por excelência. P. 71

7. -Desta concepção de silêncio, como condição de significação, resulta que há uma

incompletude constitutiva da linguagem quanto ao sentido. P. 71

8. -Por esta perspectiva a busca da completude da linguagem – o que implicaria a ausência


de silêncio – leva à falta de sentido pelo muito-cheio, mesmo se, do ponto de vista estritamente

sintático, há gramaticalidade. P. 71
9. -Em face ao discurso o sujeito estabelece necessariamente um laço com o silêncio;
mesmo que esta relação não se estabeleça totalmente em um nível consciente. Para falar o

sujeito tem necessariamente o silêncio... P. 71

10. -Um dos aspectos da polissemia : mais se diz, mais o silêncio se instala, mais os sentidos
se tornam possíveis e mais se tem ainda a dizer. P.71

11. -Contudo em na concepção da autora, o silêncio é mais ainda: ele significa por si mesmo:

O silêncio não são as palavras silenciadas que se guardam no segredo, sem dizer. O silêncio

guarda um outro segredo que o movimento das palavras não tinge. (M. Le Bot, 1984) p. 72

12. -O silêncio do sentido torna presente não só a eminência do não-dito, mas o indizível da
presença: do sujeito e do sentido. Sendo assim não se pode não significar, para o sujeito de
linguagem, o sentido já está sempre lá – considerando sua relação com a significação – o sujeito
tem assim uma necessária relação ao silencio. Com efeito, a linguagem é passagem incessante

das palavras silêncio e do silêncio às palavras. P. 72

13. -Movimento permanente que caracteriza a significação e que produz o sentido em sua
pluralidade, determinado pelo contexto e pelos contextos esse deslocamento inscrito na
constituição dos sentidos tem uma relação particular com a subjetividade: o sujeito desdobra o

silêncio em sua fala. P.72

14. -O discurso se apresenta desse modo como projeto – o estado significante – pelo qual o
sujeito se lança em “seu” sentido, um movimento contínuo, esse “projeto” se conclui quando o

sujeito toma apoio no silêncio. P. 72-3

15. -O silêncio é continuo e há sempre ainda sentidos a dizer. P. 73

16. -Se o silêncio fundador não existisse: "as línguas teriam soçobrado na plenitude dos
sentidos” (M.Le Bot. 1984). O mesmo autor diz que “se os sentidos e as palavras não estivessem
limitados pelo silêncio, o sentido das palavras já há muito teriam dito tudo o que pode dizer”. O
sentido é múltiplo porque o silêncio é constitutivo. A falha e o possível estão no mesmo lugar, e

são função do silêncio. P. 73


17. -Consideramos a linguagem como categorização do silêncio, ela é a gregaridade, a
possibilidade de segmentação, ou melhor, o recorte da significação em unidades discretas.

Entretanto, uma vez recortado, o sentido permanece sempre a ser ainda dito. P. 73

18. -Se o silêncio não tivesse um sentido em si mesmo, uma vez categorizado, este sentido
seria definitivo. A língua tornar-se-ia pura convenção . P. 73-4

19. -A partir do deslocamento que produzimos dando ao silêncio uma especificidade teórico-

explicativa, a concepção de silêncio fundador nos leva à seguinte distinção:

a) De um lado, temos a análise como fragmentação da linguagem, em que a significação


aparece como uma relação que o sujeito mantém com a linguagem sob o domínio do

segmentável;

b) De outro, temos a consideração da significação como um continuum, não-segmentável

mas ainda significante. P. 74

20. -Isso porque o silencio não é “categorizável”. Ele é condição da linguagem, mas é
absoluto, intemporal e ilimitado em sua extensão (M.Le Bot, idem). Pensando o dis-curso,
etimologicamente, como “o que retorna” podemos estabelecer o modo apropriado de

compreender o silêncio em seu movimento contínuo. P.74

21. -Desde que propomos uma reflexão crítica sobre os processos de significação, não mais
nos limitamos à busca de unidades discretas, pois que se a matéria significante do silêncio é

diferente da da linguagem verbal, está diferença deve ser levada em conta pela análise. P.74

22. -Observamos, pois uma outra forma de silêncio: o silenciamento. P. 74

2. O silenciamento: uma política do sentido

1. -Há uma distinção no interior da noção de silêncio que nos indica um procedimento
analítico significativo. P. 75

2. -Há a política do silêncio, que, por usa vez, tem duas formas de existência ligadas:

a) O silêncio constitutivo
b) O silêncio local. P. 75

3. -A relação dito/não-dito pode ser contextualizada sócio historicamente, em particular em

relação ao que chamamos o “poder-dizer”. P.75

4. -Com efeito, a política do silêncio se define pelo fato de que ao dizer algo apagamos
necessariamente outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada. P.

75

5. -A diferença entre o silêncio fundador e a política do silêncio é que a política do silêncio


produz um recorte entre o que se diz e o que não se diz, enquanto o silêncio fundador não

estabelece nenhuma divisão: ele significa em (por) si mesmo. P. 75

6. -Determinado pelo caráter fundador do silêncio, o silêncio constitutivo pertence à própria


ordem de produção do sentido e preside qualquer produção de linguagem. Representa a
política do silêncio como um efeito de discurso que instala o antiimplícito: se diz “x” para não
(deixar) dizer “y”, este sendo o sentido a se descartar o dito. É o não-dito necessariamente

excluído. P. 75-6

7. -O silêncio trabalha assim os limites das FDs, determinando consequentemente os limites

do dizer. P. 76

8. -O mecanismo que põe em funcionamento o conjunto do que é preciso não dizer para

poder dizer, esse mecanismo é a “forclusão”, é nesse nível que ela funciona. P. 76

9. -Toda denominação apaga necessariamente outros sentido possíveis, o que mostra que o

dizer e o silenciamento são inseparáveis: contradição inscrita nas próprias palavras . P. 76

10. -Como parte da política do silêncio temos, ao lado do silêncio constitutivo, o silêncio local,

que é a manifestação mais visível desta política: a da interdição do dizer. P. 76

11. -Como exemplo desse silêncio local: a censura. É uma estratégia política circunstanciada
em relação à política dos sentidos: é a produção do interdito, do proibido, uma produção do

silêncio sobre a forma fraca. P. 76-7


12. -Não procuramos “dados” sobre a censura; procuramos analisar a censura enquanto
“fato” de linguagem que produz efeitos enquanto política pública de fala e silêncio.

Consideramos a censura em sua materialidade histórica, ou seja, discursiva. P. 77

13. -É preciso não confundir os dois modos de existência do silêncio - o fundador e o político
-. P. 77

14. -Detectar os efeitos da política do silêncio é bem mais fácil e nós veremos que podemos:

a) Explicitar a política do silêncio inscrita em um fato de linguagem específico como a

censura e,

b) Consequentemente, pôr em relevo o modo de funcionamento do silêncio. P. 77-8

3. Silêncio e vozes sociais

a. Dominação e resistência

1. -Poder-se-ia falar do modo como a censura funciona ao lado da opressão, porem não há
mistério: proíbem-se certas palavras para se proibir certos sentidos. Contudo há um aspecto
interessante a observar em relação a esse mecanismo da censura: no discurso, sujeito e sentido
se constituem simultaneamente procedendo assim proíbem-se certas “posições” de sujeitos. P.

78

2. -A censura é um fato discursivo que se produz nos limites das diferentes FDs que estão
em relação. P. 78

3. -Concebida desse modo à censura pode ser compreendida como a interdição da


inscrição do sujeito em FDs determinadas afetando a identidade do sujeito enquanto sujeito-do-
discurso. P. 78

4. -A identidade resulta de processos de identificação segundo os quais o sujeito deve-se


inscrever em uma e não em outra formação discursiva para que suas palavras tenham sentido,
mudam-se as palavras, muda-se o sentido. P.78

5. -Em uma conjuntura dada, as FDs determinam “o que pode e dever ser dito” (Henry,
Haroche, Pêcheux, 1972). P. 79
6. -A relação com o dizível modifica-se quando a censura intervém. Não se trata do dizível
sócio historicamente definido pelas FD ‘s (dizer possível) nem se pode dizer o proibido,

ou seja, não se pode dizer o que se pode dizer. P. 79

7. -O texto é unidade. Todo texto é tomado como parte do processo de interlocução,


mesmo sendo parcial o domínio de cada um dos interlocutores, a unidade se dá no (e pelo) pelo
texto. Consequentemente a significação se faz no espaço discursivo (intervalo) criado pelos (nos)

interlocutores, em um dado contexto sócio histórico. P. 79

8. -Este domínio dividido da constituição da unidade textual e da unidade dos sem tidos
corresponde um domínio de incompletude do sujeito. O sujeito e o sentido também são

caracterizados pela sua incompletude. P. 79

9. -Os processos discursivos se realizam necessariamente pelo sujeito, mas não têm sua
origem no sujeito (ilusão do sujeito de estar na fonte do sentido: esquecimento nº 1 de Pêcheux,

1975), ao falar o sujeito se divide: as suas palavras também as palavras dos outros. P. 79-80

10. -Dessa contradição: inerente ao sujeito e de sentido, resulta uma relação particular e
dinâmica entre identidade e alteridade: um movimento que separa e simultaneamente liga,

demarcando o sujeito em sua relação com o outro. P. 80

11. -Se há Um apagamento necessário para a constituição do sujeito, e isso faz parte de sua
incompletude, há também um anseio, ou antes uma injunção à incompletude, vocação
totalizante do sujeito, que, na sua relação com o apagamento desempenha o papel de sentido,

fundamenta l no processo de constituição do sujeito. P. 80

12. -Não há nenhum sujeito-absoluto, nem um sujeito-complemento, inteiramente

determinado pelo fora, pensando discursivamente. P. 80

13. -O que permite o sentimento de identidade? : A incompletude é uma propriedade do


sujeito e do sentido, e o desejo de completude é que permite isso. Assim como paralelamente, o
efeito de unidade no domínio do sentido: o sujeito se lança no seu sentido, paradoxalmente

universal, dando o sentido de que o sentido é uno. P. 81

14. -Sem a incompletude haveria asfixia do sujeito e do sentido, pois o sujeito não poderia
atravessar, e não seria atravessado, pelos diversos discursos que já que não poderia correr pelos
diversos atravessamentos das diferentes FDs, visto que o outro, e os outros, é o limite mas
também é o possível. P. 81

15. -A situação típica da censura traduz exatamente esta asfixia: ela é a interdição manifesta

da circulação do sujeito, pela decisão de um poder de palavra fortemente regulado. P. 81

16. -A censura afeta, de imediato, a identidade do sujeito. P. 81

17. -Façamos então uma relação entre a rarefação do sentido produzida pela relação com o

Poder (a censura) e a produzida pela relação com o Desejo (Narcisia). P. 81

18. -Narciso fixa seu sentido: ele não se deixa atravessar (e não atravessa) “outros” discursos .

P. 82

19. -A censura reúne Narciso e Eco, uma exasperação da identidade e o movimento centrado
na alteridade, ou seja, na censura há negação da alteridade, mas também a identidade é
aniquilada (pode ser melhor visto em D. Maingueneau, 1989). A relação de narciso se faz não
enquanto “espelho” mas como reflexo. Reflete a realidade na fluidez, ou seja, se projeta pela

idealidade, em outros sentidos. P. 82

20. -Se de um lado toda, toda FD é heterogênea em relação a ela mesma porque os limites
do dizer, as diferente regiões de sua constituição, refletem sua relação com a sua exterioridade,

por outro lado o sentido é errático, podendo migrar de sua região para outra. P. 82

21. -Faz parte das condições de produção do sentido a circulação possível pelas diferentes

formações discursivas. P. 82

22. -Ao atingir o sujeito, lhe é ficada uma imagem e ao mesmo tempo abriga-o a projetar-se
para além (na fluidez do silêncio). com efeito a censura é o lugar da negação e ao mesmo tempo

da exacerbação do movimento que institui identidade. P. 83

23. -Se obriga a dizer “x” para não dizer “y”. P. 83

24. -No entanto pela natureza dispersa do sujeito, pelo movimento que constitui em sua
identidade, veremos que este “y” significará por outros processos (S. Lagazzi, 1988), fato que dá
lugar à “retórica da resistência”. P. 8 3
25. -Na inscrição do sujeito na formação discursiva há o trabalho do silêncio e é por isso que
as fronteiras (do sujeito e do sentido) são móveis isto é historicidade. P. 83

b. Um caso exemplar: as autobiografias

1. -A imposição de um sentido (de um “lugar” ao sujeito) assim como a de sua reversão

resultam:

a) Inicialmente, do lado de que o silêncio significa, antes de tudo em si;

b) Do fato de que o sujeito tem uma relação necessária com o silêncio, pais no espaço de
tensão constitutiva da subjetividade há uma solidão do sujeito em faze dos sentidos, em que o
outro é mentido à distância (no limite do dialogismo) e em que o corpo a corpo com o sentido

se faz no silêncio;

c) Do fato de que a reversibilidade é constitutiva do processo de produção dos sentidos. P.

84

2. -Vamos de agora em diante fazer um apelo a um fato da época da ditadura no Brasil. A


partir de uma época, muitas pessoas escreveram suas autobiografias, o que ocasionou uma
avalanche de publicações logo após a década de 80’s. Contudo iremos tomar aqui pela ótica da

questão do silêncio. P. 84

3. -Essa produção de autobiografias, no contexto da época, se inscreve na relação do sujeito


com o poder-dizer - sob a censura - estabelecendo uma forma discursiva específica de ligar a
esfera pública à esfera privada, sob a categorização de “ficção” para o dizer - proibido - tornasse

possível. P. 84

4. -É uma forma de sair do silêncio definido peça censura e que significa sua falta de
liberdade de agir sobre o real, resultando na impossibilidade de criticar, de discordar, em suma

na impossibilidade de dizer “certos” sentidos. P. 84-5

5. -A ditadura infla questões relativas de processos de identificação, uma vez que, sob um
estado totalitário, o sujeito é obrigado a se separar dos outros e isto produz um efeito de
retorno sobre sua própria identidade. P. 85
6. -Em face da afirmação da identidade, as relações autoritárias são estreitas. Em decorrência
o sujeito acaba tendo que retrabalhar seus processos de identificação, recompor as relações de
unidade a partir de sua vontade. Nesse caso que vem a ser analisada, essa recomposição se dá

pela “autoria”. P. 85

7. -A escrita vai permitir distanciar da vida, a suspensão dos acontecimentos, vai permitir

significar o silêncio. O autor escreve para significar (a) ele-mesmo. P. 85

8. -Nesse caso, uma demanda de completude do sujeito através de apagamentos: ele apaga
o limite entre o “eu-pessoal” e o “eu-político”, entre “sujeito” e o “cidadão”, ou entre o real e a

ficção, entre o “eu-que-conta” e o “eu-contado” etc... P. 85-6

9. -Em decorrência disso temos os efeitos desses mecanismos: eles deslocam os limites do
dizer, não pela sua discussão direta mas por elaborar os limites das diferentes formas de

discurso e suas funções sociais: a esfera pública, a esfera privada e etc. P. 86

10. -Por outro lado, pela conquista da sua dimensão pública, esta escrita autobiográfica
produz um apagamento dos limites entre tematização do outro e a de si mesmo. Mesmo
porque a escrita é forma específica de fazer silêncio, de fazer ressoar o silêncio dos “outros”

sentidos. P. 86

11. -O apagamento e o desejo de completude desempenham, em conjunto, um papel


fundamental no processo de constituição do sujeito (e do sentido). A situação que fora usada é
uma situação limite que torna mais visíveis as “artimanhas” do silêncio na relação com o sujeito.

Se há um silêncio que apaga, há um silêncio que explode os limites do significar. P. 87

12. -A censura desautoriza a relação ao silêncio e ao implícito e assim explicita a relação do

sujeito ao “dizível”. P. 87

13. -É, entretanto, porque o silêncio significa em si que se pode explicitar a política do
sentido. Com o efeito, é a hipótese do silêncio fundador que faz que “não-dizer” tenha um

sentido. P. 87

14. -A censura joga com o poder-dizer impondo um certo silêncio. entretanto, como o
silêncio significa em si, à “retórica da opressão” - que se exerce pelo silenciamento de certos
sentidos - responde a “retórica da resistência” fazendo esse silêncio significar de outros modos.
P. 87

15. -É o silêncio que torna possível o movimento da subjetividade em sua relação (sua
distância) com o discurso estabelecido. São outros sentidos que ganham existência nesse
silêncio. Ou seja, ao silêncio imposto pela censura ele reponde com o silêncio dos “outros”

sentidos que ele constitui em uma outra região. P. 88

16. -Esse silêncio é a marca da presença do silêncio fundador em sua fala e que faz com que
os “outros” sentidos apareçam. P. 88

17. -O dizível pode ser concebido de várias maneiras, mas aqui o dizível é referido sobretudo

ao jogo de formações discursivas (“o que se pode e se deve dizer). P. 88

18. -Passemos então a consideração das FDs. Como sabemos elas não tem fronteiras
categóricas. O fechamento de uma formação discursiva, diz Courtine (1982), “est
fondamentalement instable, ele ne consiste pas em une limite tracée une fois pour toute séarant
um interieur et um exterieur de son savoir, mais s’inscrit entre diverses formations discursives
comme une frntiére que se déplace en fonction de la lutte idéologique” » “é fundamentalmente
instável, não consiste em um limite traçado de uma vez por todas separando interior e exterior
de seu conhecimento, mas se encaixa entre várias formações discursivas como uma fronteira que

se move de acordo com a luta ideológica”. P.88

19. -O silêncio fundador atua no seu não-fechamento, criando espaço para seus

deslocamentos. P. 88

20. -Em suma, é o silêncio fundador que produz um estado significativo para que o sujeito se
inscreva no processo de significação, mesmo na censura, fazendo significar, por outros jogos de

linguagem, o “y” que lhe foi proibido. P. 88-9

Conclusão

1. O silêncio faz parte da constituição do sujeito e do sentido. P. 89

2. A relação do sujeito às FDs tem o silêncio como componente essencial. Este permite a
constituição da história do sujeito não apenas como reprodução, mas como transformação dos

sentidos . P. 89
3. O sujeito não adere às FDs automaticamente e elas, por sua vez, não se apresentam como
espaços maciços de sentido. P. 89

4. Define-se o “interdiscurso” (Pêcheux, 1975) como conjunto, o todo, à dominante, das


formações discursivas. O interdiscurso é o conjunto do dizível, história e linguisticamente
definido. Pêcheux nos indica que sempre já há discurso, ou seja, que o enunciável (o dizível) já
está ai e é exterior ao sujeito enunciador, se apresenta como séries de formulações que derivam
de enunciações distintas e dispersas que formam em seu conjunto o domínio da memoria. Este
domínio constitui a exterioridade discursiva para o sujeito do discurso. E vale lembrar (Courtine,
1982) que o sujeito não tem no interdiscurso nenhum lugar para si, já que “no domínio da
memória ressoa uma voz sem nome”, isto é, anônima. O interdiscurso, o dizível não é o sentido,

por exemplo de “colonização” para “x” ou para “y”, é “o” sentido de colonização. P. 89-90

5. O que despossui o sujeito é o que ao mesmo tempo torna seu dizer possível; é

recorrendo ao já-dito que o sujeito resignifica. E se significa. P. 90

6. O interdiscurso é do nível de constituição do discurso (sua verticalidade segundo


Courtine, 1982), da ordem do repetível. E a instanciação do enunciado (o mesmo). O
Intradiscurso, por sua vez é a formulação da enunciação (o diferente), no aqui e agora do sujeito.
Se, pelo intradiscurso temos que o sujeito intervém no repetível, no entanto, é o interdiscurso
que regula os deslocamentos das fronteiras da formação discursiva, incorporando os elementos

pré-construídos (efeito do já-dito). P.90

7. Podemos dizer que é o silêncio que trabalha os limites do já-dito no interdiscurso. P. 91

8. É preciso observar que a noção de interdiscurso poderia absorver a de silêncio, pois este
pode ser visto como coincidindo com o já-dito . P. 91

9. Nesse caso cria-se uma ilusão sobre o silêncio seria o que não precisa ser dito, seria o
“exílio” do sujeito, seu desterro pois já estaria habitado pelo já-dito, o efeito do Um: o literal (que
paralelamente essa produção de efeito da literalidade tira do sujeito a possibilidade dele mover-
se, fazendo pensar a literalidade como negação do sujeito). O “seu” sentido só pode ser aquele,

é justamente sua negação. P. 91

10. Nega-se a historicidade ao sentido e nega-se história ao sujeito. P. 91


11. Com todas as reflexões apresentadas caminhamos em direção de diferenciar o ilusório
silencio do já-dito do outro silêncio, o fundador (que permite múltiplos sentidos tornando

possível certa distância do sujeito em relação ao “dizível”). P. 91

12. Há uma dispersão do sujeito ao dizível, pela qual ele pode tomar diferentes “posições”, já
por outro lado a identidade do sujeito resulta de processos de identificação. Já o silêncio
trabalha diferentes escritas nos processos de identificação do sujeito produzindo seu sentimento

de unidade, integrando os diversos aspectos de um sujeito que “diz”. P. 91-2

13. A identidade, por outro lado, não se reduz à “identificação”, ela mobiliza processos mais
complexos, e um deles é o processo da diferença, justamente pela forma como o silêncio faz
parte da relação do sujeito com o sentido: a diferença da identidade se torna possível pelo

silêncio. p. 92

14. O que mantém o sujeito em sua identidade não são os elementos diversos de seus
conteúdos, nem sua configuração específica (ele tem muitas), mas seu estar(ser)-em-silêncio. P.

92

15. Ai trabalham processos de identificação do sujeito que não estão fechados na sua
“inscrição em uma formação discursiva determinada” mas justamente nos deslocamentos -

trabalhados no e pelo silêncio - na relação conjuntural das formações. P. 92

16. Ele é o amálgama das posições heterogêneas. P. 92

17. Em face da história o silêncio significa de várias maneiras:

a) Em relação ao futuro (o “projeto” do discurso, multiplicidade de sentidos);

b) Em relação ao passado (o já-dito que retorna sob forma do interdiscurso, e que se re-

formula. P. 93

Além disso é ainda preciso levar em conta:

a) A dimensão histórico-política do sentido, em outras palavras, a partilha entre o que

significa e o que não significa;

b) A historicidade do sujeito (relação entre os distintos processos de identificação de que


resulta a identidade). P. 93
18. Podemos assim considerar o silêncio como parte da incompletude que trabalha os limites
das FDs produzindo tanto polissemia (o a-dizer) quanto o já-dito . Isto é o silêncio trabalha nos

limites do dizer, o seu horizonte possível e o seu horizonte realizado. P.93

19. Com o sentimento de unidade do sujeito, também o sentimento de unidade do sentido,


isto é a literalidade deriva dessa relação com o silêncio e com a incompletude. P.93

20. Retomamos pois à importância do silêncio fundador, pois é ele que torna toda

significação possível. P. 93

21. Enquanto parte do mecanismo imaginário, atuando na instância do silêncio, o conteúdo


aparece pois como “permanente”, permitindo que se jogue com esse seu efeito discursivo e o da

“estabilidade” dos referentes. P. 93-4

22. É desse modo que o interdiscurso, na ilusão do conteúdo, é trabalhado pelo silêncio.
Quando o interdiscurso “apaga” o silêncio fundador, enquanto tal, fazendo com que o não-dito
se sobreponha (coincida) ao já-dito, ele produz a impressão de que o sentido não pode ser, na

origem, senão um. P. 94

23. No entanto, os sentidos não se imobilizam nessa ilusão: eles não perdem seu caráter
errático: deslocamentos, equívocos e mudanças se produzem, e não param de produzir sues

efeitos. P. 94

24. De onde se pode concluir que há um trabalho silencioso na relação do homem com a
realidade que lhe propicia a sua dimensão histórica, já que mesmo o silêncio é sentido. O que
nos leva a concluir que não se pode estar fora do sentido assim como não se pode estar fora da
história. P. 94

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