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AS CARTAS DOS

MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

.
 H.S.O - Henry Steel Olcott, discípulo de M., fundador e 1º presidente da Soc.Teosófica.

NOTAS INTRODUTÓRIAS ÀS
CARTAS
DOS MAHATMAS PARA
A.P.SINNETT
Virginia Hanson
(Teósofa norte-americana que se especializou no estudo das Cartas dos
Mahatmas)

As Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett é considerada uma das obras
mais difíceis da literatura teosófica. Ela aborda muitas situações complexas
e contém muitos conceitos profundos, que se tornam mais obscuros porque,
na época em que elas foram escritas, não havia sido desenvolvida uma
nomenclatura por meio da qual os Mahatmas pudessem comunicar a sua
filosofia - profundamente oculta - a pessoas de idiomas ocidentais. Apesar
disso, a obra tem um poder e uma percepção interna tremendos, e reflete o
drama humano da aspiração, do êxito e do fracasso. Ela conta uma história
ocorrida no tempo, mas a sua mensagem é eterna, quer a consideremos
como narrativa, como filosofia oculta ou como revelação.

O que é um Mahatma?

Em um artigo de H.P. Blavatsky intitulado Mahatmas e Chelas (The


Theosophist, julho de 1884), ela nos dá o significado do termo:

“Um Mahatma é um personagem que, por meio de educação e treinamento


especiais, desenvolveu aquelas faculdades superiores e atingiu aquele
conhecimento espiritual que a humanidade comum adquirirá depois de
passar por séries inumeráveis de encarnações durante o processo de
evolução cósmica, desde que, naturalmente, neste meio tempo, ela não vá
contra os propósitos da Natureza...”.
Ela prossegue com uma discussão sobre o que é que encarna e de que modo
este processo é usado como um fator da evolução, resultando na conquista
do Adeptado.

Em uma carta escrita para um amigo em 1º de julho de 1890, H.P.B. disse


outras coisas interessantes sobre os Mahatmas:

“Eles são membros de uma Fraternidade oculta [mas] de nenhuma escola


indiana em particular. Esta Fraternidade”, acrescentou ela, “não se originou
no Tibete, mas a maioria dos seus membros e alguns dos mais elevados
entre eles estão e vivem constantemente no Tibete.”

Depois, falando dos Mahatmas, ela diz: “São homens vivos, não ‘espíritos’,
nem mesmo Nirmanakayas . . . (1). O seu conhecimento e erudição são
imensos, e a santidade da sua vida pessoal é maior ainda - entretanto, eles
são homens mortais e nenhum deles tem a idade de 1.000 anos, ao contrário
do que algumas pessoas imaginam.”

Em uma conversa em 1887 com o escritor Charles Johnston (marido da


sobrinha de H.P.B., Vera), quando ele perguntou a H.P.B. sobre a idade do
Mestre dela (o Mahatma Morya), ela respondeu: “Meu querido, não posso
dizer exatamente, porque não sei. Mas conto-lhe o seguinte. Eu o encontrei
pela primeira vez quando tinha vinte anos. Ele era um homem no auge de
sua força, na época. Agora, sou uma mulher velha, mas ele não parece nem
um dia mais velho. Ele ainda está no auge da sua força. Isto é tudo o que
posso dizer. Tire suas próprias conclusões”. Quando o sr. Johnston insistiu e
perguntou se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da vida, ela respondeu
seriamente: “Isso não é um mito. É apenas o véu que esconde um processo
oculto real, o afastamento da velhice e da dissolução durante períodos que
pareceriam fabulosos, e por isso não os mencionarei. O segredo é o seguinte:
para todo ser humano há um climatério, quando ele deve se aproximar da
morte. Se ele desperdiçou as suas forças vitais, não há escapatória, mas se
ele viveu de acordo com a lei, pode atravessar esse período e assim continuar
no mesmo corpo quase indefinidamente” (2).

Como as Cartas vieram a ser escritas?

Os autores das cartas são os Mahatmas Koot Hoomi e Morya, geralmente


designados simplesmente pelas suas iniciais.

O Mahatma K.H. era um brâmane de Cachemira, mas na época em que nos


deparamos com ele nas cartas, ele tinha relações estreitas com a corrente
Guelupa ou “gorro amarelo” do Budismo tibetano. Ele se refere a si próprio
nas cartas como um “morador de cavernas de aquém e além dos Himalaias”.
H.P.B. diz em Ísis Sem Véu que a doutrina de Aquém dos Himalaias é uma
doutrina ariana muito antiga, às vezes chamada bramânica, mas que na
verdade nada tem a ver com o bramanismo tal como nós o entendemos
agora. A doutrina de Além dos Himalaias é uma doutrina esotérica tibetana,
o Budismo puro ou “antigo”. Ambas doutrinas, de Aquém e Além dos
Himalaias, vêm originalmente de uma só fonte - a Religião de Sabedoria
universal.

O nome “Koot Hoomi” é um nome místico que ele usou em relação à


correspondência com A.P. Sinnett. Ele falava e escrevia em francês e inglês
fluentemente.

Há afirmações na literatura teosófica no sentido de que o Mahatma K.H.


estudou na Europa. Ele estava familiarizado com os hábitos e o modo de
pensar dos europeus. Era muito erudito e, às vezes, escrevia passagens de
grande beleza literária.

O Mahatma Morya era um príncipe rajput - os rajputs formavam a casta


governante do norte da Índia na época. Ele era “um gigante, de quase dois
metros de altura, e de um porte magnífico; um tipo esplêndido de beleza
masculina”. (3)

É bastante conhecido o episódio da fundação da Sociedade Teosófica em


Nova Iorque, em 1875. Em 1879, os dois principais fundadores da Sociedade,
H.P. Blavatsky e o coronel Henry Steel Olcott, transferiram a sede da
Sociedade para Bombaim, na Índia e, em 1882, para Adyar, Madras (atual
Chennai), no sul da Índia, onde permanece.

Morava na Índia, na época, um inglês culto e muito refinado, chamado Alfred


Percy Sinnett. Ele era editor de The Pioneer, o principal jornal inglês,
publicado em Allahabad. Ele se interessou pela filosofia exposta pelos dois
teosofistas e estava curioso a respeito dos acontecimentos notáveis que
pareciam sempre ocorrer na presença de H. P. B.

Em 25 de fevereiro de 1879, nove dias após a chegada dos fundadores a


Bombaim, Sinnett escreveu ao coronel Olcott expressando o desejo de
conhecer H.P.B. e ele, e afirmando que estava disposto a publicar quaisquer
fatos interessantes a respeito da missão deles na Índia.

Em 27 de fevereiro de 1879, Olcott respondeu esta carta. Começou assim o


que Olcott chamaria de “um vínculo produtivo e uma amizade agradável”. Os
fundadores foram convidados a visitar os Sinnett em Allahabad, o que ocorreu
em dezembro de 1879. Nessa visita os Sinnett filiaram-se à Sociedade
Teosófica, e os fundadores encontraram outros visitantes que iriam cumprir
um papel na vida da Sociedade: A.O. Hume e sua esposa Moggy, de Simla,
e a sra. Alice Gordon, esposa do tenente-coronel W. Gordon, de Calcutá.

No ano seguinte, os fundadores visitaram os Sinnett na sua residência de


verão, em Simla, naquela época a capital de verão da Índia. Lá, eles ficaram
conhecendo melhor o casal Hume e sua filha, Marie Jane (usualmente
chamada de Minnie). O passatempo favorito de Hume era o estudo de
pássaros, e ele mantinha um museu ornitológico em sua espaçosa casa, que
chamava de Castelo Rothney, na colina Jakko, em Simla; também publicava
uma revista sobre ornitologia, Stray Feathers. Profissionalmente, ele era,
havia algum tempo, membro influente do governo.

Foi em Simla que aconteceram os fatos que resultaram nas cartas publicadas
na obra Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett. H.P.B. realizava alguns
fenômenos surpreendentes e os atribuía aos Mahatmas, com quem ela
estava em contato psíquico mais ou menos constante. Sinnett estava
convencido da veracidade desses fenômenos, e em seu livro O Mundo Oculto
fez um vasto trabalho para comprovar a sua autenticidade.

Ele tinha também uma mentalidade prática e científica, e desejava saber mais
a respeito das leis que governavam essas manifestações. Queria,
especificamente, saber mais sobre aqueles seres poderosos que H. P. B.
chamava de “Mestres” e que, segundo ela, eram os responsáveis pelos
fenômenos. Ele lhe perguntou se seria possível entrar em contato com eles
e receber instruções.

H.P.B. disse-lhe que não era muito provável, mas que tentaria. De início, ela
consultou o seu Mestre, o Mahatma Morya, com quem ela estava
estreitamente ligada através do treinamento oculto a que se submetera
anteriormente no Tibete, mas ele se recusou categoricamente a
comprometer-se com essa tarefa. (Mais tarde, entretanto, chegou a assumir
a correspondência durante alguns meses, devido a circunstâncias muito
especiais.)

Aparentemente, H.P.B. tentou o mesmo com vários outros, sem sucesso.


Finalmente, o Mahatma Koot Hoomi concordou em manter uma
correspondência limitada com Sinnett.

O sr. Sinnett endereçou uma carta “ao Irmão Desconhecido” e entregou-a a


H.P.B. para que a transmitisse. Na verdade, ele estava tão ansioso por
defender o seu ponto de vista de modo convincente que escreveu uma
segunda carta antes de receber uma resposta à primeira. Seguiu-se, então,
uma série de cartas notáveis, e a correspondência continuou por vários anos,
tendo como um dos seus vários resultados de longo prazo a publicação das
cartas em forma de livro

LISTA DE ABREVIAÇÕES

o A.O.H. - Allan O. Hume


o A.P.S. - Alfred P. Sinnett
o D.K.ou Dj.K. - Djual Khul
o H.P.B. - Helena P. Blavatsky
o H.S.O. - Henry Steel Olcott
o Isis - "Isis sem Véu" por H.P. Blavatsky
o K.H. - Mahatma Koot Hoomi
o LBS - "Cartas de H.P. Blavatsky para A.P. Sinnett",
transcritas e compiladas por A.T. BARKER
o L.L. ou L.L.T.S. - Loja de Londres da Sociedade Teosófica
o LMW-I - "Cartas dos Mestres da Sabedoria" PRIMEIRA
Série, editado por C. Jinarajadasa.
o M - Mahatma Morya
o CM - "Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett", Transcritas
e compiladas por A.T. Barker
o ODL - "OLD DIARY LEAVES (Velhas Páginas de um
Diário), por H.S. Olcott
o OW - "O Mundo Oculto", por A.P. Sinnett
o S.T. - Sociedade Teosófica

Carta Nº 001

No "O Mundo Oculto", Sinnett explica o que ele escreveu em sua


primeira carta ao Mahatma e por que o escreveu. Apesar de sua
convicção quanto à autenticidade dos fenômenos realizados por H.P.B.
durante o verão de 1880 em Simla, ele sentia que eles nem sempre
eram amparados pelas garantias necessárias e que não seria muito
difícil para um cético consumado lançar dúvidas quanto à sua validade.
Ele estava ansioso pela produção de alguns fenômenos que, como ele
dizia, "não deixariam possibilidade alguma que sugerisse embuste".
Ele imaginou se os próprios "Irmãos" não poderiam sempre
compreender a necessidade de tornar os seus fenômenos probatórios
incontestáveis em cada mínimo detalhe.

Assim, Sinnett decidiu que, em sua primeira carta para o Mahatma, ele
sugeriria um teste que, em sua firme convicção, seria absolutamente à
prova de qualquer tolo contestador e não deixaria de convencer o
cético mais profundo. Esse teste era a produção simultânea em Simla
(na presença do grupo de lá) de um exemplar, em qualquer dia, das
edições do "London Times" e do "The Pioneer".

Naquela época, entre Londres e Índia havia, uma demora de


comunicação, pelo menos, de um mês, a não ser pelo telégrafo, e teria
sido obviamente impossível; telegrafar-se todo o conteúdo do "The
Times" para a Índia, antes de sua publicação em Londres, e aparecer
impresso na Índia ao mesmo tempo que em Londres. Mais ainda, um
projeto como esse não seria realizado sem que o mundo todo ficasse
sabendo dele.

Após ter escrito a carta e a entregue para H.P.B., transcorreu um dia,


mais ou menos, antes que ele tivesse qualquer notícia a respeito da
mesma. Finalmente, H.P.B. disse que ele iria ter uma resposta. Isso
animou tanto que ele sentou-se e escreveu uma segunda carta,
achando que, talvez, ele não tivesse sido incisivo em sua primeira carta
a ponto de convencer o seu correspondente. Após ter passado mais
um dia, ele achou em sua escrivaninha, em uma tarde, a sua primeira
carta proveniente do Mahatma K.H. Ela respondia a ambas as cartas.

Estimado Irmão e Amigo,

Precisamente porque o teste com o jornal de Londres fecharia a boca


dos céticos, ele é impensável. Vê sob o ângulo que quizerdes - o
mundo está ainda no seu primeiro estágio de emancipação, senão de
desenvolvimento e, portanto, despreparado. É a pura verdade, nós
trabalhamos, usando leis e meios naturais e não sobrenaturais. Mas,
como de um lado a Ciência se encontraria incapaz ( no seu presente
estado) de explicar as maravilhas dadas em seu nome, e de outro, as
massas ignorantes, ainda assim, seriam levadas a ver o fenômeno
como se fôsse um milagre, qualquer um que se tornasse uma
testemunha da ocorrência ficaria desequilibrado e os resultados seriam
deploráveis. Acredite-me, isso ocorreria - especialmente para vós, que
gerastes a idéia e a devotada mulher que totalmente corre em direção
à ampla porta aberta que leva à notoriedade. Essa porta, embora tenha
sido aberta por mãos tão amigas quanto as vossas, logo se tornaria
uma armadilha - e na verdade, fatal para ela. E esse não é certamente
o vosso objetivo.

Loucos são aqueles que, especulando apenas sobre o presente,


voluntariamente fecham os olhos para o passado, e com isso
permanecem naturalmente cegos para o futuro! Longe de mim incluir-
vos entre esses - portanto eu tentarei explicar. Fôssemos a ceder aos
vossos desejos, saberíeis realmente que conseqüências se seguiriam
na trilha do sucesso? A inexorável sombra que segue todas as
inovações humanas se move, e, todavia, poucos são aqueles que
estão, de qualquer modo, conscientes de sua aproximação e perigos.
O que poderiam, então, esperar aqueles que oferecessem uma
inovação ao mundo, a qual, devido à ignorância humana, se fôsse
acreditada, certamente seria atribuída àqueles poderes das trevas, em
que dois terços da humanidade acreditam e temem? Dizeis que a
metade de Londres seria convertida se pudésseis entregar ao público
o jornal Pionneer, no dia da sua publicação, na Índia. Permito-me dizer
que se as pessoas acreditassem que a coisa fosse verdadeira, elas
vos matariam antes que pudésseis dar uma volta no Hyde Park; se elas
não acreditassem, o mínimo que poderia acontecer seria a perda de
vossa reputação e bom nome, por propagar tais idéias.

O sucesso de uma tentativa dessa espécie, tal como a que propondes,


tem que ser calculado e baseado num profundo conhecimento das
pessoas à vossa volta. Depende inteiramente das condições sociais e
morais das pessoas diante dessas questões mais profundas e
misteriosas, que podem sensibilizar a mente humana - os poderes
deíficos no homem e as possibilidades contidas na Natureza. Quantos,
mesmo entre os vossos melhores amigos, dentre os que vos rodeiam,
estão mais do que superficialmente interessados nesses assuntos tão
complexos? Podereis contá-los nos dedos da vossa mão direita. A
vossa raça se vangloria de ter liberado no seu século o gênio, a tanto
tempo, aprisionado no estreito vaso do dogmatismo e da intolerância,
o gênio do conhecimento, sabedoria e livre pensamento. Dizem que,
por sua vez, o preconceito ignorante e a intolerância religiosa,
engarrafados como um gênio maléfico (Jin) do passado, e selado pelos
Salomões da Ciência, repousa no fundo do mar e nunca mais poderá
escapar novamente para a superfície e reinar sobre o mundo como o
fez no passado; que a opinião pública está completamente liberta, em
resumo, e pronta para aceitar qualquer verdade demonstrada. Sim;
mas isso é verdadeiramente assim, meu respeitável amigo? O
conhecimento experimental remonta tão apenas a 1662, quando
Bacon, Robert Boyle e o Bispo de Rochester transformaram, mediante
uma ordem real, o seu "Colégio Invisível" numa sociedade para a
promoção da Ciência experimental. Idades antes de a existência da
Real Sociedade se tornar uma realidade, sob o plano de um "Esquema
Profético", um anseio inato pelo o oculto, um apaixonado amor pela
Natureza e o seu estudo, tinham levado homens de todas as gerações
a experimentar e mergulhar nos seus segredos, mais profundamente
que os seus contemporâneos. Rome ante Romulum fuit ( Roma existiu
antes de Rômulo ), é um axioma que nos ensinam em vossas escolas
inglesas. As buscas abstratas nos problemas mais desconcertantes
não nascem no cérebro de Arquimedes como um assunto espontâneo
e até então intocado, mas sim como um reflexo de buscas anteriores,
na mesma direção, feitas por homens separados de sua época por um
período tão grande, ou maior ainda, do que aquele que vos separa do
grande Siracusano. O vril da "Próxima Raça" era uma propriedade
comum de raças agora extintas. E, assim como a própria existência
dos nossos ancestrais gigantescos é agora questionada, embora nos
Himavats (Himalayas), no próprio território que vos pertence haja uma
caverna cheia de esqueletos desses gigantes, e as suas enormes
carcaças, quando forem encontradas, serão invariavelmente
consideradas como aberrações isoladas da Natureza, assim o vril ou
Akás, como nós o chamamos, é olhado como uma impossibilidade, um
mito. E sem o completo conhecimento do Akás, suas combinações e
propriedades, como pode a Ciência fazer frente a tais fenômenos? Não
duvidamos que os homens de vossa Ciência estão abertos à
convicção; no entanto, os fatos têm que lhes ser primeiramente
demonstrados, primeiro devem ter-se tornado sua propriedade, ter-se
provado acessíveis a seus próprios modos de investigação, antes que
os encontreis prontos para admití-los como fatos. Se apenas olhardes
no Prefácio do texto "Micrografia" encontrareis, nas sugestões de
Hooke, que as relações íntimas dos objetos tinham menos importância
aos seus olhos que a sua ação externa sobre os sentidos, e as
interessantes descobertas de Newton encontraram nele o seu maior
oponente. Os modernos Hookes são muitos. Assim como aquele
letrado, mas ignorante homem de outrora, os vossos homens de
Ciência estão menos ansiosos para sugerir uma conexão física dos
fatos, que lhes poderia destravar muitas das forças ocultas na
Natureza, do que prover uma conveniente "classificação das
experiências científicas"; de forma que a mais essencial qualidade de
uma hipótese não é que ela deva ser verdadeira mas somente
plausível em sua opinião.

Até onde conhecemos a Ciência isso lhe basta. Quanto à natureza


humana em geral, ela é a mesma agora como o era um milhão de anos
atrás: preconceito baseado no egoísmo; uma geral má vontade para
abrir mão de uma ordem estabelecida das coisas para novos modos
de vida e de pensamento, e o estudo oculto requer tudo isso e muito
mais; o orgulho e uma teimosa resistência à Verdade, se ela abala as
suas noções prévias das coisas, tais são as características de vossa
época, especialmente nas classes inferiores e médias. Quais seriam,
portanto, os resultados dos fenômenos mais surpreendentes, supondo
que tivéssemos concordado que fossem produzidos? Mesmo com
sucesso, o perigo cresceria proporcionalmente ao sucesso. Logo,
nenhuma escolha restaria senão ter que continuar, sempre num
crescendo, ou cair numa infindável luta contra o preconceito mortos
pelas vossas próprias armas. Seriam necessários provas após provas,
e teriam que ser dadas; esperar-se-ia que cada fenômeno subseqüente
fosse mais maravilhoso que o anterior. Diariamente comentais que, de
ninguém pode se esperar que creia, a não ser que seja uma
testemunha ocular. Seria suficiente o tempo de vida de um homem
para satisfazer todo um mundo de céticos? Pode ser uma coisa fácil
aumentar o número original de crentes em Simla, que passariam de
centenas para milhares. Mas, e a centena de milhões daqueles que
não poderiam se tornar testemunhas oculares? O ignorante, incapaz
de captar os operadores invisíveis, poderia algum dia extravasar sua
cólera nos agentes visíveis em operação; as classes mais altas e
educadas continuariam a não acreditar como sempre, destroçando-vos
como até agora. Vós, como muito outros nos culpam pela nossa grande
reserva. Todavia, nós conhecemos algo da natureza humana, pela
experiência acumulada ao longo de séculos - sim, idades nos
ensinaram. E, sabemos que, enquanto a Ciência tenha algo a
aprender, e enquanto reste uma sombra de dogmatismo religioso no
coração das multidões, os preconceitos do mundo têm que ser
vencidos passo a passo e não de golpe. Assim como o passado remoto
teve mais que um Sócrates, o indistinto futuro dará nascimento a mais
de um mártir. A Ciência emancipada desdenhosamente volveu a sua
face da opinião de Copérnico, que renovava as teorias de Aristarco de
Samos, ao afirmar que a "Terra se move circularmente ao redor do seu
próprio centro", anos antes que a igreja tentasse sacrificar Galileu em
holocausto à Bíblia. O melhor matemático na Corte de Eduardo VI,
Robert Recorde, foi deixado morrer de fome na prisão pelos seus
colegas, que riam do seu Castle of Knowledge ( Castelo do
Conhecimento ), declarando que as suas descobertas eram "fantasias
vãs". William Gilbert, de Colchester, médico da Rainha Isabel, morreu
envenenado, somente porque esse real fundador da ciência
experimental na Inglaterra, teve a audácia de antecipar Galileu,
apontando o erro de Copérnico quanto ao "terceiro movimento", que
explicava, segundo ele, concludentemente o paralelismo do eixo de
rotação da Terra! O grande conhecimento dos Paracelsos, dos
Agrippas e dos Dees foi sempre contestado. Foi a Ciência que colocou
a sua mão impura sobre o grande trabalho "De Magnete" (Do
Magnetismo), "A Branca Virgem Celeste" (Akás) e outros. E foi o ilustre
"Chanceler da Inglaterra e da Natureza", Lord Bacon de Verulam, o
qual, depois de conseguir o título de Pai da Filosofia Indutiva, permitiu
a si mesmo falar de homens tais como os acima mencionados,
chamando-os de "Alquimistas da Fantástica Filosofia". Pensareis, tudo
isso é uma velha história. É verdade; mas as crônicas dos nossos
modernos dias não diferem essencialmente das dos seus
predecessores. Basta lembrarmos as recentes perseguições de
médiuns na Inglaterra, a queima de supostas feiticeiras e bruxos na
América do Sul, Rússia e nas fronteiras da Espanha - para nos
assegurar que a única salvação para os genuinamente versados nas
Ciências Ocultas está no ceticismo do público; os charlatões e os
prestidigitadores são os escudos naturais dos "adeptos". A segurança
pública é somente assegurada porque mantemos segredo das terríveis
armas que poderiam, de outra maneira, serem usadas contra ela, e
que, já sabeis, se tornariam mortais nas mãos dos perversos e
egoístas.

Concluo lembrando-vos de que tais fenômenos que ansiais, foram


sempre reservados, como uma recompensa, para aqueles que
dedicaram suas vidas para servir a deusa Saraswati - a nossa Isis
ariana. Iriam eles dar aos profanos o que permanece guardado para os
nossos fiéis seguidores? Muitas das vossas sugestões são altamente
razoáveis e serão atendidas. Eu ouvi atentamente a conversação que
houve na casa do Sr. Hume. Seus argumentos são perfeitos do ponto
de vista da sabedoria exotérica. Mas, quando chegar o tempo e lhe for
permitido ter um relance completo no mundo do esoterismo, com as
suas leis baseadas sobre cálculos matematicamente corretos do futuro
- os necessários resultados das causas que estamos sempre em
lliberdade para criar e modelar à nossa vontade, mas cujas
conseqüências somos incapazes de controlar, as quais, desta forma,
se tornam nossos mestres - então, somente, podereis ambos
compreender porque, para o não iniciado, nossos atos inúmeras vezes
devem parecer pouco sábios, se não mesmo, tolos.

Não poderei contestar por completo vossa próxima carta sem me


aconselhar com os que geralmente se ocupam com os místicos
europeus. Entretanto, esta carta deve vos satisfazer em muitos pontos
que definistes melhor na vossa última; mas também irá vos desapontar,
sem dúvida. Quanto à produção de fenômenos imaginados de modo
diferente e mais assombrosos, pedidos a ela, para serem realizados
com nossa ajuda, vós, como um homem bem a par da estratégia,
devereis ficar satisfeito com a reflexão de que pouco adianta adquirir
novas posições até que estejam asseguradas as que atingistes, e que
os vossos Inimigos estejam perfeitamente conscientes do vosso direito
a essa posse. Em outras palavras, tivestes maior variedade de
fenômenos, produzidos para vós e vossos amigos, do que muitos
neófitos viram em vários anos. Primeiro, comunicai ao público a
produção da nota, da taça e dos diversos experimentos feitos com
papéis de cigarros, e deixai que ele os digira. Fazei-os trabalhar em
busca de uma explicação. E, a menos que usem a acusação direta e
absurda de fraude, jamais serão capazes de explicar alguns deles,
enquanto os céticos ficarão completamente satisfeitos com a presente
hipótese que formulem a respeito da produção do medalhão - então,
tereis feito um verdadeiro bem para a causa da verdade e justiça para
mulher a quem fazeis sofrer por tudo isso. Isolado como está no
Pioneer, o caso notificado, menos do que inútil, é positivamente
prejudicial para todos; para vós, particularmente,porque sois o editor
daquele jornal, como para os demais, se me perdoais por vos oferecer
algo que parece um conselho. Não é justo para vós, nem para ela, que,
devido ao número de testemunhas visuais não parecer suficiente para
garantir a atenção do público, de nada sirva o vosso testemunho, como
o da vossa esposa. Vários casos combinados para fortalecer a vossa
posição como uma veraz e inteligente testemunha dos vários
acontecimentos, cada um deles vos dá um dever adicional para afirmar
o que sabeis. Isso vos impõe o dever sagrado de instruir o público e
prepara-lo para futuras possibilidades, através da gradual abertura dos
seus olhos para a verdade. A oportunidade não deve ser perdida como
a perdeu Sir Donald Stewart, como resultado de falta de suficiente
confiança no vosso direito individual de fazer afirmações. Uma
testemunha de caráter bem conhecido pesa mais em evidência do que
dez estranhos; e se há alguém na Índia que é respeitado pela sua
confiabilidade, é o editor do Pionner. Lembre-se que há somente uma
mulher histérica que alega ter estado presente na pretendida
ascensão, e que o fenômeno não foi nunca corroborado por sua
repetição. Entretanto, durante quase 2000 anos, incontáveis milhões
de pessoas puseram a sua fé no testemunho daquela mulher e ela não
atingia a credibilidade.

Tratai e trabalhai primeiramente no material que tendes e então nós


seremos os primeiros a vos auxiliar a obter novas evidências. Até
então, creia em mim o vosso sempre e sincero amigo,

KOOT' HOOMI LAL SINGH.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS MAHATMAS


PARA A.P.SINNETT
Carta Nº 002

A primeira carta recebida do Mestre K.H. foi escrita no


Mosteiro de Toling, a uma distância relativamente
pequena da fronteira no Tibet. Quando a segunda foi
escrita (ou precipitada), o Mahatma havia deixado o
Mosteiro de Toling e estava em algum ponto no vale do
Kashmir, viajando para consultar o Mahachohan a
respeito da carta que recebera de A.O. Hume.

Como Sinnett explicou no "O Mundo Oculto" (pg.90-91),


Hume havia lido a primeira carta vinda do Mahatma e
ficando entusiasmado com as possibilidades dessa
correspondência, decidiu escrever pessoalmente a K.H.
Nessa carta ele propunha abandonar tudo e entrar em
retiro tão apenas para que pudesse ser treinado em
ocultismo, de modo que pudesse retornar ao mundo e
demonstrar as suas realidades .

Após receber a primeira carta do Mahatma, o Sr. Sinnett


escreveu-lhe novamente, dizendo que, na verdade, a
mente européia era menos refratária do que K.H. a
considerava, e estabelecendo algumas das "condições"
sob as quais ele estaria desejoso de trabalhar para a
causa dos Mestres. Também fez uma sugestão, que ele
e Hume haviam imaginado, de que um ramo separado
da Sociedade Teosófica fosse formado, a ser chamado
de Ramo Anglo-Indiano, que não ficaria subordinado, de
modo algum, à H.P.B. e ao Cel. Olcott, mas conectado
diretamente com a Fraternidade, com os Mahatmas
dando suas instruções e ensinamentos diretamente aos
membros do ramo. Parce que Hume também, em sua
carta ao Mahatma, arguiu em favor desta sugestão.

Muito estimado Senhor e Irmão,

Não chegaremos a nos entender em nossa


correspondência, até que fique claramente estabelecido
que a Ciência Oculta tem os seus próprios métodos de
pesquisa tão arbitrários e fixos como os da Ciência
Física, a sua antítese, o são, à sua maneira. Se esta
última possui as suas afirmações, assim também as
possui a primeira; e aquele que cruzar os limites do
mundo invisível, não poderá mais determinar por si
mesmo como há de progredir no seu caminho, tanto
quanto o viajante que tenta penetrar nos recessos
internos dos subterrâneos de L'Hassa, a abençoada,
poderá mostrar o caminho ao seu guia. Os mistérios
nunca puderam e jamais poderão ser colocados ao
alcance do público em geral, não, pelo menos, até o dia
tão esperado em que nossa filosofia religiosa se tornar
universal. Em todas as épocas somente uma escassa
minoria de homens possuiu os segredos da Natureza,
embora multidões tenham testemunhado as evidências
práticas da possibilidade de sua posse. O adepto é a
rara eflorescência de uma geração de buscadores; e
para converter-se num deles, ele deve obedecer ao
impulso interno da sua alma, sem levar em conta as
prudentes considerações da Ciência ou da sagacidade
mundanas. O vosso desejo é entrar em comunicação
direta com um de nós, sem a intervenção de Madame
B.1 ou qualquer médium. A vossa idéia seria, se eu a
compreendo, obter tais comunicações, seja por cartas,
como a presente, ou por palavras audíveis a fim de
serdes guiado por um de nós na organização e,
principalmente, na instrução da Sociedade. Buscais tudo
isso, e todavia, como dizeis, ainda não encontrastes, até
agora, "suficientes razões" para abandonar, mesmo, os
vossos "modos de viver" diretamente hostis a tais modos
de comunicações. Dificilmente isto é razoável. Aquele
que queria elevar a bandeira do misticismo e proclamar
que o seu reino está próximo, tem que dar exemplo aos
outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus modos
de viver; e, com relação ao estudo dos mistérios ocultos
como sendo o degrau mais alto na escada do
Conhecimento, tem que proclamar isso em voz alta, a
despeito da Ciência Exata e a oposição da sociedade.
"O Reino do Céu é obtido pela força" dizem os místicos
Cristãos. É somente com a mão armada e pronto a
conquistar ou perecer que o moderno místico pode
esperar atingir o seu objetivo.

Minha primeira resposta cobriu, acredito, a maioria das


questões contidas na vossa segunda e mesmo na
terceira carta. Tendo, assim, expressado nela a minha
opinião de que o mundo em geral não está ainda maduro
para qualquer prova demasiadamente assombrosa de
poder oculto, no entanto resta-nos tratar com os
indivíduos isolados, que buscam, como vós, penetrar,
por trás dos véus da matéria, no mundo das causas
primárias, ou seja, temos agora que considerar somente
o vosso caso e o do Sr. Hume. Esse senhor também,
fez-me a grande honra de dirigir-se a mim
pessoalmente, fazendo algumas perguntas e
estabelecendo as condições nas quais estaria desejoso
de trabalhar seriamente para nós. Mas como os vossos
motivos e aspirações são diametralmente opostas em
caráter, e portanto levando diferentes resultados, eu
tenho que responder a cada um de vós separadamente.

A primeira e principal consideração que determina a


aceitação ou rejeição da vossa oferta está no motivo
interno que vos move a buscar as nossas instruções, e
em certo sentido, a nossa orientação. Esta última está
sujeita, em todos os casos, a uma reserva - como a
compreendo, e portanto, fica como uma questão
independente de qualquer outra. Agora vejamos, quais
são os vossos motivos? Tentarei definí-los nos seus
aspectos gerais, deixando os detalhes para
subseqüentes considerações. Eles são: (1) O desejo de
receber provas positivas e incontestáveis, de que
existem realmente forças na Natureza, das quais a
Ciência nada sabe; (2) A esperança de apropriar-se
delas algum dia - quanto mais cedo melhor, porque não
gostais de esperar - de modo a capacitar-vos a - (a)
demonstrar a sua existência a umas poucas e
escolhidas mentes ocidentais; (b) contemplar a vida
futura como uma realidade objetiva construída sobre a
rocha do Conhecimento - não da fé; e (c) finalmente
aprender - talvez o mais importante entre todos os
vossos motivos, embora o mais oculto e o melhor
guardado - toda a verdade acerca de nossas Lojas e
sobre nós; para ter, em resumo, uma positiva certeza de
que os "Irmãos"- sobre os quais todos ouvem tanto falar
e vêm tão pouco - são entidades reais - não ficções de
um cérebro alucinado e desordenado. Esses, vistos em
seu melhor aspecto, parecem ser os vossos motivos
para vos dirigir a mim. E, no mesmo espírito, eu os
respondo, esperando que a minha sinceridade não seja
interpretada de forma errada ou atribuída a um ânimo
inamistoso.

Para as nossas mentes, esses motivos, sinceros e


dignos de toda consideração séria, do ponto de vista
mundano, mostram-se egoístas. ( Peço que me perdoais
pelo que poderíeis entender como crueza de linguagem,
se o vosso desejo realmente é o que professais -
aprender a verdade e obter instrução de nós - que
pertencemos a um mundo completamente diferente
daquele que vos moveis.) Esses motivos são egoístas
porque deveis estar conscientes de que o principal
objetivo da S. T. não é tanto satisfazer aspirações
individuais, mas servir aos nossos semelhantes, e o
valor real da palavra "egoísta" que pode chocar os
vossos ouvidos, tem uma significação especial para nós
e que não pode ter para vós; portanto, em primeiro lugar,
não deveis aceitar a palavra de outra forma, a não ser
no sentido anterior. Talvez apreciareis melhor o nosso
significado, quando dissermos que, no nosso ponto de
vista, as mais elevadas aspirações para o bem estar da
humanidade tornam-se manchadas com o egoísmo se,
na mente do filantropo ainda luzir a sombra do desejo
pelo auto benefício ou a tendência para fazer injustiça,
mesmo quando esses existem inconscientemente para
ele. Todavia, vós sempre discutistes para afastar a idéia
da Fraternidade Universal, questionastes a sua utilidade
e propusestes remodelar a S. T. nos princípios de um
colégio para o estudo especial do ocultismo. Isso, meu
respeitado e estimado amigo e Irmão - nós nunca
faremos!

Tendo abordado os "motivos pessoais", vamos


examinar as vossas "condições" para nos auxiliarem a
beneficiar o mundo. Amplamente definidos, essas
condições são - primeiro: que uma Sociedade Teosófica
independente Anglo-Indiana seja fundada através dos
vossos bondosos serviços, em cuja direção não terão
voz nenhum dos nossos atuais representantes;
segundo, que um de nós tome o novo corpo "sob sua
orientação", permaneça "na livre e direta comunicação
com os seus líderes", e lhes proporcione "a prova direta
de que ele realmente possui aquele conhecimento
superior das forças da Natureza e os atributos da alma
humana que os inspiraria com adequada confiança na
sua liderança." Eu copiei as vossas próprias palavras, a
fim de evitar imprecisão ao definir a posição.

Do vosso ponto de vista então, essas condições podem


parecer tão razoáveis a ponto de não provocar
dissensões; e, na verdade, a maioria de vossos
compatriotas, oi melhor os Europeus - compartilhariam
essa opinião, o que, direis, pode ser mais razoável, do
que pedir que esse instrutor, ansioso para disseminar
seu conhecimento, e o discípulo - oferecendo-se para
fazer isso, fossem trazidos face a face, e um daria as
provas experimentais ao outro de que as suas instruções
eram corretas? Como homem do mundo, que nele vive
e está em plena simpatia com ele, tendes toda a razão,
sem dúvida. Mas os homens deste nosso outro mundo,
desligados de vossa maneira de pensar, e que, às
vezes, acham difícil seguí-la e apreciá-la, dificilmente
podem ser criticados por não responderem com
entusiasmo às vossas sugestões, como, em vossa
opinião, merecem. A primeira e mais importante das
nossas objeções deve ser encontrada em nossas
Regras. É verdade, temos as nossas escolas, e
instrutores, nossos neófitos e shaberons (adeptos
superiores), e a porta está sempre aberta para o homem
correto que bate. E damos sempre as boas vindas ao
que chega até nós. Somente que, em vez de ir até ele,
ele tem que vir até nós. Mais do que isso: a menos que
ele tenha atingido aquele ponto, na senda do ocultismo,
de onde é impossível retornar, tendo irrevogavelmente
se comprometido com a nossa associação, nós nunca -
exceto em casos raríssimos, o visitamos ou mesmo
cruzamos a sua porta em aparência visível.

Está qualquer um de vós tão ansioso por conhecimento


e pelos poderes benéficos que ele confere, pronto para
deixar o vosso mundo e vir para o nosso? Então que
venha; mas não deve pensar em retornar, até que o
sigilo dos mistérios tenha trancado os seus lábios contra
qualquer possibilidade de fraqueza ou indiscrição. Que
ele venha por todos os meios, como tantos outros fazem,
e fique satisfeito com essas migalhas do conhecimento
que podem cair no seu caminho.

E suponhamos que vindes até nós - como ocorreu com


dois de vossos compatriotas - como Mad. B. fez, e
também o Sr. O. o fará; supondo que abandonareis tudo
pela verdade; labutar incansavelmente durante anos
sobre a dura e íngreme estrada, não temendo quaisquer
obstáculos, firme contra cada tentação; mantendo
fielmente nos vossos corações os segredos que vos
foram confiados como a prova; trabalhado com toda a
vossa energia e desprendimento para difundir a verdade
e estimular os homens a pensarem e viverem
corretamente - consideraríeis justo se, depois de todos
os vossos esforços, nós concedêssemos a Madame B.
ou ao Sr. O., como "estranhos". as condições que agora
pedis para vós mesmos? Destas duas pessoas, uma já
nos deu três quartas partes de sua existência; a outra
seis anos de pleno vigor em sua vida, e ambas seguirão
trabalhando assim até o fim dos seus dias. Embora
tendo sempre trabalhado para a sua recompensa
meritória, no entanto, nunca a reclamaram, nem se
queixaram quando desapontados. Ainda que eles,
respectivamente, pudessem realizar muito menos do
que fizeram, não seria uma palpável injustiça ignorá-los,
como foi proposto, num campo importante do esforço
Teosófico? A ingratidão não é um dos nossos defeitos,
nem imaginamos que vós desejásseis nos sugerí-la.

Nenhum deles têm a menor inclinação para interferir na


direção da imaginada Loja Anglo-Indiana, nem guiar os
seus dirigentes. Mas, a nova sociedade, se vier a ser
formada, (embora apresentando uma denominação
própria) deve ser, de fato, uma Loja da Sociedade
Matriz, como o é a Sociedade Teosófica Britânica em
Londres, e contribuir com a sua vitalidade e utilidade
para promover a sua idéia básica de uma Fraternidade
Universal, e em outras formas práticas.

Tão mal como o fenômeno pode ter sido mostrado, ainda


assim - tem havido certos fenômenos - como vós admitis
- que são incontestáveis. As "batidas na mesa, quando
ninguém a toca", e "os sons de sinos no ar", foram,
dizeis, "sempre considerados como satisfatórios", etc.,
etc. Daí, raciocinais que um bom "teste de fenômenos"
pode ser facilmente multiplicado "até o infinito". E assim
pode ser - em qualquer lugar onde as nossas condições
magnéticas e outras são constantemente oferecidas; e
onde não temos que agir através de um enfraquecido
corpo feminino no qual, poderíamos dizer, um ciclone
vital está reinando a maior parte do tempo. Mas,
imperfeita como possa ser a nossa agente invisível - e
inúmeras vezes ela o é de modo insatisfatório e
imperfeito - todavia é o que de melhor existe no
presente, e seus fenômenos têm, há meio século,
assombrado e desconcertado algumas das mais
inteligentes mentes da nossa época. Embora sejamos
ignorantes da "etiqueta jornalística" e dos efeitos das
causas. Desde que não escrevestes nada acerca dos
próprios fenômenos que adequadamente considerais
tão convincentes, temos o direito de inferir que muito
poder precioso pode ser gasto sem melhores resultados.
Em si o caso do broche é - aos olhos do mundo -
completamente inútil, e o tempo provará que tenho
razão. A vossa bondosa intenção falhou inteiramente.

Para concluir: estamos prontos para continuar esta


correspondência caso a visão do estudo oculto, dada
acima, vos sirva. Através da provação descrita, cada um
de nós, qualquer que seja o seu país, ou raça, passou.
Enquanto isso, esperando o melhor, vosso fielmente
como sempre,

KOOT' HOOMI LAL SINGH.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas


AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 003a

Eu vi K. H. em forma astral na noite de 19 de Outubro,


1880 - acordando por um momento mas, imediatamente,
me tornei novamente inconsciente (no corpo) e
consciente, fora do corpo, no quarto de vestir, ao lado,
onde eu vi um outro dos Irmãos, mais tarde identificado
com o que é chamado "Serapis" por Olcott, - "o mais
jovem dos Chohans." A nota a respeito da visão chegou
na manhã seguinte, e durante esse dia, o 20, fomos a
um piquenique em Prospect Hill, onde ocorreu o
"episódio do almofadão".2 O Sr. Sinnett havia solicitado
alguma evidência direta de fenômenos ocultos, e ele
estava extremamente ansioso por alguma espécie de
contato pessoal com o Mahatma K.H.

Meu Bom "Irmão", Em sonhos e visões pelo menos,


quando corretamente interpretados, dificilmente pode
haver um "elemento de dúvida"............Espero provar a
minha presença próxima de vós, na última noite, com
algo que retirei e levei comigo. Vossa esposa o receberá
de volta na Colina Prospect (Prospect Hill). Eu não tenho
papel côr de rosa para escrever, mas confio que um
papel branco comum servirá bem para o que tenho a
dizer. KOOT' HOOMI LAL SINGH.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT
Carta Nº 003b

O Mahatma sabia que os Sinnetts e convidados e alguns


amigos estavam planejando um pic-nic naquele dia, no
topo de uma colina próxima. Pouco antes de sair para o
pic-nic, Sinnett escreveu um bilhete e deu-o para H.P.B.
transmitir.

Enquanto o grupo estava se servindo do lanche no pic-


nic, H.P.B. subitamente parecia estar escutando algo
inaudível para os demais. Então ela disse-lhes que o
Mestre estava perguntando onde eles gostariam de
achar o objeto que ele havia levado consigo na noite
passada.

Sinnett salienta no "O Mundo Oculto" que ele não havia


dito para H.P.B. sobre esta experiência da noite passada
ou sobre o bilhete que ele achara na mesa da sala. Não
acontecera nenhuma conversa com ela sobre isso. Mais
ainda, ele não deixou de vê-la um momento sequer, o
mesmo com a Sra. Sinnett, até que o grupo saiu de
visitas a manhã toda porque fôra-lhe dito ocultamente
para ir para lá e ali permanecer. Ela resmungou a
respeito disso (como nunca deixava de resmungar
quando solicitada a fazer alguma coisa que ela não
compreendia), mas ela obedeceu.

No pic-nic, depois que ela repetiu a pergunta do


Mahatma, ela não participou da conversa, nem fez
alguma sugestão quanto ao local que eles poderiam
pedir para achar o objeto. De modo totalmente
espontâneo, o Sr. Sinnett, após um momento de
reflexão, disse que ele gostaria de achar esse objeto
dentro de uma almofada na qual uma das senhoras
estava se recostando. Ele comenta no "O Mundo Oculto"
que, em vista de sua experiência anterior, uma escolha
mais natural poderia ser uma árvore ou enterrado, mas
a sua visão focalizou-se na almofada e parecia-lhe que
essa poderia ser uma boa escolha.

A Sra. Sinnett imediatamente disse, "Oh! não, que esteja


dentro do meu travesseiro!" O Sr. Sinnett compreendeu
que esta era uma escolha excelente, dado que ela sabia
que o travesseiro estivera na sala de visita a manhã toda
e assim, sempre sob à vista dela
H.P.B. então, perguntou ao Mahatma, por seus próprios
métodos, se assim ocorreria e recebeu uma resposta
afirmativa. Assim, se vê que havia completa liberdade de
escolha e nada poderia ter sido planejado
anteriormente.

Foi fito à Patience Sinnett que colocasse o travesseiro


sob o seu tapete, o que ela fez com as suas próprias
mãos. Depois de um minuto, H.P.B. disse que o
travesseiro podia ser aberto. Ela não estivera perto dele
ou o tocaria de qualquer modo.

Não foi fácil abrir o travesseiro. Sinnett o fez com o seu


canivete, o que levou um certo tempo, porque o
travesseiro estava firmemente costurado em toda a volta
e teve que ser aberto ponto por ponto. Quando um lado
da capa ficou aberto, viu-se que havia outro envoltório
no qual as penas estavam amontoadas. Este também
estava costurado em todos os lados.

Finalmente, o travesseiro foi aberto, e Patience procurou


entre as penas. A primeira coisa que ela achou foi um
pequeno bilhete em um papel de três cantos, na escrita
bem conhecida do Mahatma (Carta nº.3B (CM-3B)).
Enquanto Sinnett o lia, ela procurou mais ainda entre as
penas e achou o broche ao qual o bilhete se referia - o
objeto que o Mahatma tinha levado consigo durante a
noite anterior (chamado de Broche nº.2 para distinguí-lo
de um fenômeno anterior no qual um broche perdido
pela Sra. Hume foi recuperado. Veja "O Mundo Oculto",
pg.68-92).

Este broche pertencia a Patience Sinnett; era muito


antigo e familiar. Ela geralmente o deixava em cima de
sua penteadeira quando não estava sendo usado. Muito
curiosamente, ele trazia agora as iniciais do Mahatma.

A referência à "a dificuldade de que você falou na noite


passada" indica que o Mahatma havia escutado a
conversa na mesa de jantar no anoitecer do dia anterior,
na qual Sinnett havia expressado preocupação quanto à
troca de correspondência depois que H.P.B. deixasse
Simla.

Meu "Caro Irmão",

Este broche nº. 2 - está colocado neste lugar muito


estranho simplesmente para vos mostrar como
facilmente é produzido um fenômeno real e como é
ainda mais fácil suspeitar da sua genuinidade. Julgai
como quizerdes, até mesmo achando que utilizei
comparsas.

A dificuldade de que falastes na última noite, com


respeito ao intercâmbio de nossas cartas, eu tentarei
remover. Um dos nossos discípulos cedo visitará Lahore
e as províncias do N. O., e um endereço vos será
enviado, a fim de que possais usá-lo sempre; a não ser
que, na verdade, realmente preferis a correspondência
através de almofadões. Por favor, notai que a presente
carta não é datada de uma "Loja", mas de um vale no
Kashmir,

Vosso, mais do que nunca,

KOOT' HOOMI LAL SINGH.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 003c

Antes de deixar o pic-nic, Sinnett escreveu algumas


linhas de agradecimentos ao Mahatma e deu o bilhete
para H.P.B. Ele e a Sra. Sinnett foram saindo de modo
que ele não tinha idéia alguma de quando ou como ela
entregou esse bilhete. Ainda assim, ele estava sentindo-
se um pouco desapontado porque o Mahatma não tinha
respondido ao seu bilhete escrito antes que o grupo
saísse para o pic-nic.

Entretanto, naquela tarde, quando os Sinnetts e os seus


convidados sentaram-se para o jantar, Sinnett
desdobrou o seu guardanapo e a Carta nº.3C caiu dele.
A referência ao fato de ele estar desapontado relaciona-
se, naturalmente, àquele bilhete anterior e K.H. explica
porque foi desnecessário respondê-lo.

O "Major afetuoso", mencionado ao fim do bilhete, era o


Major Philip D. Henderson. Ele estava presente na
ocasião do fenômeno da xícara e do pires e ajudou a
desenterrá-los. Ele filiou-se à S.T. naquele dia, o seu
diploma de filiação foi produzido fenomenalmente no
local. Entretanto, no dia seguinte, ele ficou com
suspeitas e afastou-se e depois disso, juntou-se aos
críticos de H.P.B.

Uma poucas palavras mais: porque ficastes


desapontado de não terdes recebido uma resposta
direta à vossa última nota? Eu a recebi em meu quarto
acerca de meio minuto depois que as correntes para a
produção do transporte do almofadão já tinham sido
estabelecidas e em plena operação. E não havia
necessidade de responder, a não ser para vos assegurar
que um homem com a vossa disposição pouco receio
deve ter de ser "enganado" - e portanto não havia
necessidade de uma resposta. Um favor eu vos pedirei
seguramente, e esse é, agora que vós - a única pessoa
a quem foi prometido algo - estais satisfeito, que tenteis
esclarecer a mente do amoroso Major e mostrar-lhe a
sua grande tolice e injustiça.

Vosso fielmente,

KOOT' HOOMI LAL SINGH.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 004
Olcott pensou que Sinnett publicaria imediatamente
relatórios de todos os fenômenos de Simla no "Pioneer".
Quando isto não aconteceu, ele escreveu um artigo
intitulado "Um Dia com Madame Blavatsky", no qual ele
descreve alguns destes fenômenos. Neste artigo ele
mencionou os nomes de vários ingleses eminentes que
estiveram presentes nessas ocasiões. Ele mandou o
relato para Bombaim, para Damodar Mavalankar, que
estava à frente da sede central durante a ausência dos
fundadores, para ser reproduzido e circulado entre os
membros locais da Sociedade Teosófica.

Infortunadamente, o "Times" da Índia conseguiu, de


algum modo, uma cópia e publicou-a, junto com alguns
comentários injuriosos. Damodar escreveu um protesto
que o "Times" recusou publicar. Contudo, a "Gazette de
Bombaim" publicou uma vigorosa resposta por H.P.B.

As pessoas cujos nomes o Cel. Olcott mencionou em


seu artigo estavam extremamente perplexas e
desconfortáveis com a publicidade e, naturalmente, tudo
acabou voltando-se contra H.P.B. Ela ficou muito tensa
e pediu auxílio ao Mahatma K.H. Ela e o Coronel
estavam em Amritsar na ocasião.

Nessa época, o Mahatma K.H. estava a caminho - em


seu corpo físico - através do Ladakh, de volta de sua
visita ao Mahachohan para consultá-lo a respeito de
alguns desdobramentos mencionados no primeiro
parágrafo da Carta nº.5 (CM-4), como também sobre a
carta que ele (K.H.) tinha recebido de Hume. Quando ele
ouviu o frenético pedido de auxílio de H.P.B., ele decidiu
mudar a sua rota e ir vê-la.

Enquanto isso, antes que Sinnett deixasse Simla, ele


mandou uma carta registrada para H.P.B. (Esta era em
complemento à curta nota a respeito do "episódio do
travesseiro" que é cronologicamente a Carta nº.4 (CM-
143)).

H.P.B. recebeu a carta registrada em 27 de outubro e


mandou-a para K.H. por meios ocultos, tão logo a
recebeu; a hora foi fixada pelo registro postal às 2:00 da
tarde, perto de Rawalpindi. Na próxima estação
(Jhelum) ele desceu do trem, foi ao posto de telégrafo e
escreveu um telegrama para Sinnett, comunicando o
recebimento da carta, que foi, é claro, datado e
preenchido pelo agente do telegrafo.
O Mestre também instruiu H.P.B. a devolver a Sinnett o
envelope no qual a carta tinha sido recebida, que
mostrava a data e a hora de registro. De início, Sinnett
não podia entender por que ele devia aproveitar este
envelope usado, mas o guardou, e mais tarde vi a
relação: a data e a hora do registro da carta e a data e a
hora de remessa do telegrama, o que finalmente Sinnett
fez, e está entre as Cartas dos Mahatmas no Museu
Britânico. Assim, Sinnett ficou ciente de que H.P.B. tinha
conseguido uma transmissão muito rápida de sua carta
ao longo de algumas centenas de milhas.

Assim, parece que o Mahatma K.H. estava desejoso de


dar a Sinnett mais um pouco de prova de sua existência
e algo de seus poderes. O episódio todo é uma das
peças mais convincentes de evidência encontradas na
literatura.

Madame o e Coronel O. chegaram à nossa casa,


Allahabad, no dia 1º. de Dezembro de 1880. O Coronel
O. foi para Benares no dia 3 - Madame juntou-se a ele
no dia 11. Ambos retornaram a Allahabad no dia 20 e
permaneceram até o dia 28.

Amrita Saras, 29 de outubro.

Meu querido Irmão:

Eu seguramente não podia fazer objeção quanto ao


estilo que bondosamente adotastes, ao dirigir-vos a mim
pelo meu nome, pois é, como dizeis, o início de uma
estima pessoal maior mesmo, até então da que eu tenha
merecido de vós. As convencionalidades do mundo
vazio, fora dos nossos isolados "ashrams"-(locais de
reclusão), incomodam-nos pouco, em qualquer ocasião;
muito menos agora, quando buscamos homens e não
mestres de cerimônias, devoção e não a mera
observação de regras. Cada vez mais um formalismo
morto está ganhando terreno, e eu estou
verdadeiramente feliz em encontrar um inesperado
aliado num setor em que, até agora, não existiram
muitos, entre as classes altamente educadas da
sociedade inglesa. Uma crise, num certo sentido, está
agora sobre nós, e temos que enfrentá-la. Eu poderia
dizer duas crises: Uma na Sociedade, outra no Tibet.
Pois eu posso vos dizer, em confiança, que a Rússia
está gradualmente concentrando suas forças para uma
futura invasão daquele país, sob o pretexto de uma
guerra com a China. Se isso não ocorrer, será graças a
nós; e portanto, pelo menos, mereceremos a vossa
gratidão. Vedes, portanto, que temos assuntos mais
importantes do que pequenas sociedades para pensar;
todavia, a S. T. não será negligenciada. O assunto
tomou um impulso que, se não for bem guiado, poderá
produzir resultados muito maléficos. Recordai
mentalmente as avalanches dos vossos admirados
Alpes, em que inúmeras vezes pensais, e lembrai-vos
que, no começo, a sua massa é pequena e pouca a sua
velocidade. Uma banal comparação, podeis dizer, mas
não posso pensar numa melhor ilustração, quando vejo
a gradual agregação de eventos banais, avolumando-se
numa ameaça para o destino da Sociedade Teosófica.
Isto me ocorreu com uma grande força quando, no outro
dia, descia os desfiladeiros do Kouenlun- Karakorum
com o chamais, e vi uma avalanche desabar. Eu tinha
ido pessoalmente até o nosso chefe para submeter a ele
a importante oferta do Sr. Hume, e estava cruzando o
desfiladeiro em direção à Lhadak, na minha volta para
casa. Não posso precisar quais outras especulações se
seguiram a essa. Mas, quando eu estava desfrutando a
impressionante tranqüilidade que geralmente se segue
a esse cataclisma, para obter uma visão mais clara da
presente situação e da disposição dos "místicos de
Simla", fui chamado bruscamente à realidade. Uma voz
familiar, tão aguda como a que é atribuída ao pavão de
Sarawast que, se acreditarmos nas tradições,
amedrontou o Rei dos Nagas, gritou, seguindo as
correntes: "Olcott despertou novamente o próprio
demônio!... Os ingleses estão enlouquecendo... Venha
rápido, Koot Hoomi, e me ajuda!"; e na sua excitação,
ela esqueceu que estava falando em inglês. Devo dizer
que os telegramas da "Velha Dama" bateu como pedras
arremessadas por catapultas!

Que podia fazer se não ir? Argumentar através do


espaço com alguém que está no máximo do desespero,
e num estado de caos moral, é inútil. Então eu tomei a
decisão de emergir de uma reclusão de muitos anos e
passar algum tempo com ela para confortá-la como
pudesse. Mas a nossa amiga não é alguém de quem se
possa esperar que reflita à filosófica resignação de um
Marco Aurélio. O destino nunca escreveu que ela diria:
"É uma coisa esplendida, quando alguém está fazendo
o bem, ouvir falarem mal de si mesmo"... Eu cheguei
para passar uns poucos dias, mas agora constato que
não posso suportar por mais tempo o sufocante
magnetismo, mesmo dos meus patrícios. Eu vi alguns
dos nossos orgulhosos e velhos Sikhs, bêbados e
cambaleantes sobre o pavimento de mármore do seu
sagrado templo. Eu ouvi um Vakil, falando em inglês,
declarar-se contra a Yog Vidya e a Teosofia, como
sendo uma ilusão e uma mentira, declarando que a
Ciência inglesa os emancipara dessas "degradantes
superstições", e dizendo que era um insulto à Índia
afirmar que aqueles Yogues e Sannyasis sujos
conheciam algo acerca dos mistérios da Natureza; ou
que qualquer homem vivo possa ou pudesse ter
realizado quaisquer fenômenos! Eu volto a minha face
para casa amanhã.

A entrega dessa carta pode, possivelmente, se atrasar


por um poucos dias, devido a causas que não vos
interessam para que eu as especifique. Enquanto isso,
entretanto, eu vos telegrafei os meus agradecimentos
pelo vosso serviçal consentimento com os meus desejos
nos assuntos a que aludis na vossa carta de 24 do
corrente. Vejo com satisfação que deixastes de me
apresentar ao mundo como um possível "comparsa".
Isto faz com que já sejamos dez, eu creio? Mas eu tenho
de dizer que a vossa promessa foi bem e lealmente
cumprida. Recebida a carta em Amritsar no dia 27 do
corrente, às duas horas da tarde, chegou às minhas
mãos cerca de 48 Km além de Rawalpindi, cinco minutos
mais tarde e telegrafei, acusando o recebimento, de
Jhelum, às quatro horas da tarde do mesmo dia. Nossos
modos de entrega acelerada e rápidas comunicações
não são, como vedes, de serem desprezados pelo
mundo ocidental, ou mesmo pelos céticos Vakils arianos
que falam inglês.

Eu não podia pedir uma disposição de mente mais


sensata em um aliado do que aquela em que agora
começais a vos descobrir. Meu Irmão, já mudastes a
vossa atitude em relação a nós de uma maneira
significativa: o que poderá impedir um perfeito
entendimento mútuo algum dia!

A proposição do Sr. Hume foi devida e cuidadosamente


considerada. Ele iria vos comunicar, sem dúvida, os
resultados, como os expressei em minha carta para ele.
Que ele julgue os nossos "modos de ação" tão justos
como o foram por vós, isso é outra questão. O nosso
MAHA (o Chefe) permitiu que eu me correspondesse
com ambos, e mesmo caso seja formada uma Loja
Anglo-Indiana, entrar em contato pessoal com a mesma.
Agora depende inteiramente de vós. Eu não posso vos
dizer nada mais. Tendes perfeita razão quanto a
situação dos nossos amigos do mundo Anglo-Indiano ter
sido melhorada materialmente pela visita à Simla; e,
também é verdadeiro, embora modestamente evitais
dize-lo, que por isso vos somos principalmente
devedores. Mas, completamente à parte dos infelizes
episódios das publicações de Bombaim, não é possível
que exista ali, no melhor dos casos, senão uma
neutralidade benevolente de seu povo para com o
nosso. É tão diminuto o ponto de contato entre as duas
civilizações, pelo que elas representam
respectivamente, que poderíamos dizer que não se
tocam em absoluto. E não chegam a fazê-lo, a não ser
por uns poucos - poderia dizer excêntricos? - que têm
como vós, sonhos mais belos e audazes do que o resto;
e, provocando o pensamento, aproximam as duas, pela
própria e admirável audácia. Não vos terá ocorrido que
as duas publicações de Bombaim, ou foram
influenciadas, ou, pelo menos, não foram impedidas por
aqueles que o poderiam ter feito, porque viam a
necessidade de toda aquela agitação para causar o
duplo resultado, depois da "Bomba do Broche", de
distrair necessariamente a atenção do impacto e o de
experimentar o vigor de vosso interesse pessoal pelo
Ocultismo e a Teosofia? Eu não digo que isso foi assim;
eu apenas indago se a contingência chegou a se
apresentar em vossa mente. Eu fiz com que vos fosse
insinuado que, se os detalhes dados na carta roubada
tivessem sido antecipados no Pionneer, um lugar muito
mais apropriado, e onde poderiam ser manipulados para
se obter uma melhor vantagem, não teria valida a pena
que alguém furtasse esse documento para o TIMES da
ÍNDIA, e, em conseqüência, não teriam sido publicados
nomes. O Coronel Olcott está, sem dúvida alguma, "fora
de sintonia com os sentimentos dos ingleses" de ambas
as classes; mas, mesmo assim, está sintonizado
conosco mais do que qualquer delas. Nele podemos
confiar em quaisquer circunstâncias, e seu fiel serviço
nos é dedicado tanto na adversidade como no êxito. Meu
caro Irmão, minha voz é o eco de justiça imparcial. Onde
podemos encontrar igual devoção? Ele é alguém que
nunca questiona, mas obedece; que pode cometer
inumeráveis enganos devido ao seu excessivo zelo, mas
está sempre pronto para reparar a sua falta, mesmo à
custa da maior auto-humilhação; que considera o
sacrifício do conforto, e mesmo da vida, como algo que
deve ser arriscado alegremente, sempre que
necessário; capaz de comer qualquer coisa, ou mesmo
passar sem ela; dormir em qualquer cama, trabalhar em
qualquer lugar, fraternizar com qualquer pária, suportar
qualquer privação pela causa... Admito que a sua
conexão com uma Loja Anglo-Indiana seria "um mal" e,
portanto, não terá mais relações com ela do que tem
com a Loja de Londres. A sua ligação será puramente
nominal, e poderá ser mais, redigindo-se mais
cuidadosamente os vossos regulamentos do que os
dela; e dando à vossa organização um sistema
autônomo de governo de molde a requerer raras vezes
alguma intervenção externa. Mas, fazer uma Loja Anglo-
Indiana com os mesmos objetivos, seja no todo ou em
parte, como a Sociedade Matriz, e com os mesmos
diretores atrás da cena, seria não somente dar um golpe
mortal na Sociedade Teosófica mas, colocar sobre nós
um duplo trabalho e preocupação, sem que exista a
menor vantagem compensadora que possa ser
vislumbrada por qualquer um de nós. A Sociedade
Matriz nunca interferiu, em grau algum, com a S. T.
Britânica, nem, na verdade, com qualquer outra Loja,
seja do ponto de vista religioso ou filosófico. Tendo
formado, ou causado a formação de uma nova Loja, a
Sociedade Teosófica Matriz emite uma Carta
Constitutiva (o que não pode fazer agora sem a nossa
Concordância e assinaturas), e então, geralmente se
afasta para trás da cena, como dizeis. A sua posterior
ligação com as Lojas filiadas limita-se a receber informes
trimestrais de suas atividades e relação de novos
Membros, ratificando eventuais expulsões, somente
quando se apela a ela na qualidade de árbitro para
intervir, devido à conexão direta dos Fundadores
conosco, etc.; ela nunca se imiscui, de outro modo nas
suas atividades, exceto quando solicitada como uma
espécie de côrte de apelação. E como isso depende de
vós, o que há de impedir que a vossa Sociedade
permaneça virtualmente independente? Nós somos,
mesmo, mais generosos do que vós, Britânicos, em
relação a nós. Nós não forçaremos, nem solicitaremos
que aproveis um "Residente" Hindú em vossa
Sociedade, para velar pelos interesses do Supremo
Poder Original, uma vez que vos declaramos
independentes; mas implicitamente confiaremos na
vossa lealdade e palavra de honra. Mas, se a idéia de
uma supervisão executiva puramente nominal, pelo
Coronel Olcott, um Americano de vossa própria raça,
vos desagrada tanto, também vos rebeleis seguramente
contra ditames de um Hindú, cujos métodos e costumes
são os do seu próprio povo, e cuja raça, a despeito de
vossa natural benevolência, não aprendestes mesmo
ainda a tolerar, para não dizer amar e respeitar. Pensai
bem antes de pedir a nossa orientação. Os nossos
melhores adeptos, os mais eruditos, e os mais santos
são das raças dos "sebentos Tibetanos" e dos Singhs do
Punjab, sabeis que o leão é proverbialmente uma fera
suja e agressiva, a despeito da sua força e coragem.
Será que vossos bons compatriotas perdoariam mais
facilmente as nossas inconveniências hindús nos modos
do que as dos vossos próprios parentes na América? Se
as minhas observações não estão erradas eu diria que
isso seria duvidoso. Os preconceitos nacionais tendem
a obscurecer os nossos óculos. Dizeis "como ficaríamos
satisfeitos, se aquele (que vos guiasse) fosse vós",
significando este vosso correspondente imerecido. Meu
bom Irmão, estais certo, de que a agradável impressão
que agora podeis ter de nossa correspondência, não
seria instantaneamente destruída quando me vísseis? E
qual dos nossos santos Shaberons teve o benefício,
ainda que fôsse nada mais que o da pouca educação
universitária e algo das maneiras européias, que tive a
oportunidade de adquirir? Aqui vai um exemplo: solicitei
à Madame B. que escolha, entre dois ou três arianos do
Punjab, que estudem Yog Vidya e são místicos naturais,
um a quem, embora não me revele a ele
demasiadamente, eu pudesse designar como um
agente entre vós e nós, e que estava ansioso de vos
enviar, com uma carta de apresentação, e fazer que ele
vos fale de Ioga e seus efeitos práticos. Esse jovem, que
é tão puro como a pureza em si mesma, cujas
aspirações e pensamentos são da espécie mais
espiritual e enobrecedora, e que, meramente através do
auto-esforço, é capaz de penetrar nas regiões dos
mundos sem forma0, esse jovem não é adequado para
ser apresentado num salão. Tendo explicado a ele o
grande bem que poderia resultar para o seu país se ele
vos ajudasse a organizar uma Loja de místicos Ingleses,
provando-lhes praticamente a que maravilhosos
resultados levou o estudo da Ioga, Mad. B., em termos
muito circunspectos e delicados, pediu-lhe que mudasse
a sua vestimenta e o seu turbante, antes de ir para
Allahabad, porque embora ela não lhe dissesse a razão,
estes estavam muito sujos e desalinhados. Deveis
comunicar ao Sr. Sinnett - disse ela que trazeis para ele
uma carta do nosso Irmão K., com quem ele se
corresponde, mas, se ele vos perguntar algo, seja a
respeito dele ou de outros Irmãos, respondei-lhe,
simplesmente que não estais autorizado a estender-se
sobre o assunto. Falai da ioga e provai a ele que poderes
atingistes. Esse jovem, que tinha consentido, escreveu
mais tarde a seguinte carta curiosa: "Madame", ele
disse, "vós que pregais os mais altos padrões de
moralidade, de veracidade, etc., pedistes que eu
desempenhasse o papel de um impostor. Pedistes que
eu trocasse minhas roupas, arriscando que eu desse
uma falsa idéia de minha personalidade e mistificasse o
senhor a quem enviastes. E o que dizer caso ele me
pergunte se pessoalmente conheço Koot' Hoomi, devo
eu manter-me silencioso e fazer que ele pense que eu o
conheço? Isso seria uma tácita falsidade, e culpável por
isso seria jogado no terrível remoinho da
transmigração!" Aqui está um exemplo das dificuldades
com que tenho de trabalhar. Não tendo a possibilidade
de mandar-vos um neófito antes que vos tivésseis
comprometido ante vós, devemos, ou ficarmos na
expectativa, ou mandar-vos alguém que, no mínimo, iria
vos chocar, ou, de pronto, vos desgostaria. A carta lhe
seria entregue por mim, pessoalmente ele teria apenas
que manter silêncio sobre os assuntos dos quais nada
conhece e que poderia vos dar somente uma falsa idéia
dos mesmos assuntos, e apresentar-se com um aspecto
mais limpo. Novamente preconceito e letra morta. Por
milhares de anos diz Michelet, os Santos Cristãos nunca
se lavaram! Por quanto tempo ainda temerão os nossos
santos de mudar as suas roupas com receio de serem
considerados Marmalikes (bárbaros) ou por neófitos de
seitas rivais mais asseadas!

Mas essas nossas dificuldades não devem vos impedir


de começar o vosso trabalho1. O Coronel Olcott e Mad.
B. parecem desejosos de se tornar pessoalmente
responsáveis por vós e o Sr. Hume, e se puderdes
prontamente responder pela fidelidade de qualquer
homem que o vosso grupo possa escolher como líder da
S. T. A. I. (Sociedade Teosófica Anglo-Indiana),
concordamos que a experiência seja feita. O campo é
vosso, e a ninguém será permitido interferir com o vosso
trabalho, exceto eu mesmo, em nome dos nossos
Chefes, uma vez que me destes a honra de me preferir
em lugar de outros. Mas, antes de começar a construir
uma casa, faz-se um plano. Suponhamos que escreveis
um memorando quanto a constituição e política de
administração da Sociedade A.I. (Anglo-Indiana) que
tendes em mente, submetendo-o à consideração! Se os
nossos Chefes concordam com ele, e não serão eles
que se mostrarão obstrutivos na marcha universal para
frente, ou adiarão esse movimento para uma meta mais
elevada, então vós imediatamente recebereis a carta
Constitutiva. Mas eles primeiro têm que ver o plano; e eu
tenho que vos lembrar que a nova Sociedade não será
permitida se desligar do Corpo Matriz, embora tenhais a
liberdade de dirigir as vossas atividades à vossa própria
maneira, sem temer a menor interferência do seu
Presidente enquanto não violardes as Regras gerais. E
nesse ponto eu vos lembro a Regra. Esta é a primeira
sugestão prática vinda de um "Morador da caverna" Cis
e Trans-Himalaico a quem honrastes com a vossa
confiança.

Agora com relação a vós pessoalmente. Longe de mim


desencorajar alguém tão disposto como vós, colocando
barreiras impossíveis no vosso progresso. Nós nunca
nos queixamos do inevitável, mas tratamos de tirar o
melhor partido do pior. Como também nunca
impulsionamos ou atraímos para o misterioso domínio
da natureza oculta aqueles que não desejam; nunca
deixamos de expressar a nossa opinião livre e
destemidamente, todavia, estamos sempre prontos a
auxiliar os que vêm até nós; mesmo os agnósticos que
assumem a posição negativa de "conhecer tão apenas
os fenômenos, e recusar a crer em alguma coisa mais".
É verdade que o homem casado não pode nunca ser um
adepto, todavia, sem lutar para se tornar um "Raja iogui",
ele pode adquirir certos poderes e fazer tanto bem para
a humanidade e, às vezes, muito mais, permanecendo
nos limites do seu mundo. Portanto, não vos pediremos
que troqueis precipitadamente hábitos fixos de vida,
antes da plena convicção da sua necessidade e
vantagens que isso poderá vos trazer. Sois um homem
que deve ser deixado livre para guiar a si mesmo, e a
quem deve assim ser deixado em segurança. Vossa
resolução foi tomada e é muito meritória: o tempo fará o
resto. Existem maneiras para que alguém possa adquirir
o conhecimento oculto. "Muitos são os grãos de incenso
destinados ao mesmo altar; um cai no fogo antes, outro
depois; a diferença no tempo não tem qualquer
importância." Isto foi dito por um grande homem quando
lhe foi recusada a admissão e a suprema iniciação nos
Mistérios. Há um tom de queixa na vossa pergunta se
haverá a repetição da visão que tivestes, na noite antes
do dia do piquenique. Penso que logo deixareis de
considerá-las um tesouro se tivésseis uma visão deste
tipo todas as noites. Mas há uma razão mais poderosa
para que não vos sobrecarregueis, seria um desperdício
de nossa energia. Tanto quanto eu, qualquer um de nós
pode se comunicar convosco, seja em sonhos,
impressões ao despertar, cartas (em travesseiros ou
fora deles) ou por visitas pessoais em forma astral - isso
será feito. Mas lembre-se que Simla está 2.100 metros
mais alta do que Allahabad e que as dificuldades a
serem vencidas nesta última são tremendas. Eu me
abstenho de vos encorajar a esperar demasiado, porque
como vós, não gosto de prometer o que, por várias
razões, possa não ser capaz de atender.
O termo "FRATERNIDADE UNIVERSAL" não é uma
frase vã. A Humanidade, em seu conjunto, tem o direito
de exigir tudo de nós, como tentei explicar na minha
carta ao Sr. Hume, a quem deveríeis pedí-la
emprestada. É o único fundamento seguro para a
moralidade universal. Se for um sonho, pelo menos é um
sonho nobre para a humanidade: e é a expiração do
verdadeiro adepto.

Vosso fielmente,

KOOT' HOOMI LAL SINGH

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 005

Esta é a primeira carta a ser recebida por Sinnett na qual


a própria carta e a assinatura estão na mesma escrita.
Parece duvidoso que foi transmitida através de H.P.B. É
possível que K.H. tivesse um chela em Amballa que
realizou esse serviço para ele.

Meu Caro Amigo,

Eu tenho a vossa carta de 19 de Novembro, extraída do


envelope pela nossa osmose especial, em Meerut, e a
sua carta para nossa "velha dama" em seu envoltório
meio vazio registrado, seguramente remetida para
Cawnpore para fazê-la praguejar contra mim... Mas ela
está muito fraca para desempenhar o papel de correio
astral justo agora. Lamento ver que ela uma vez mais
mostrou-se imprecisa e vos levou ao erro; mas essa é
principalmente minha falta, pois inúmeras vezes
negligenciei em fazer fricção extra na sua pobre cabeça
enferma, agora que esquece e mistura as coisas mais
do que o normal. Eu lhe pedi que ela vos dissesse "para
abandonar a idéia do Ramo Anglo-Indiano em
cooperação com o Sr. Hume, já que nada resultaria
disso", mas eu vos enviarei a resposta dele à minha
carta e à minha epístola final, e julgareis por vós mesmo.
Após ler a última, fechai-a, por favor, e a enviai para ele,
dizendo apenas que o fazeis em meu nome. A menos
que ele levante a questão, é melhor que não o deixais
saber que lestes a sua carta. Pode ser que esteja
orgulhoso dela, embora não o devesse.

Meu querido e bom amigo, não deveis guardar


ressentimento contra mim pelo que disse a ele dos
ingleses em geral. São orgulhosos. Em especial com
relação a nós, de modo que nós consideramos isso uma
característica nacional. E não deveis confundir os
vossos pontos de vista privados, especialmente os que
tendes agora, com as dos vossos compatriotas em geral.
Poucos, se é que existem, (claro que há exceções como
vós, cuja intensidade de aspirações faz com que se
deixe de lado todas as outras considerações),
consentiriam jamais em ter um "negro" como guia ou
líder, assim como nenhuma Desdemona moderna
escolheria um Otelo Indiano atualmente. O preconceito
racial é intenso, e mesmo na Inglaterra livre somos
considerados como uma "raça inferior". E esse mesmo
tom vibra na vossa própria observação acerca "de um
homem do povo não habituado a maneiras refinadas" e
"um estrangeiro, mas um cavalheiro", sendo a
preferência para este último. Tão pouco seria de se
esperar que fosse revelado em um Hindú essa falta de
"modos refinados", ainda que fosse vinte vezes "um
Adepto"; e esta mesma característica do Visconde de
Amberley sobre o "Jesus de uma raça inferior". Tivésseis
parafraseado a vossa sentença, tendo dito: "um
estrangeiro mas, de nenhum modo um cavalheiro" (de
acôrdo com as noções Inglesas) não teríeis podido
acrescentar, como o fizestes, que ele seria julgado o
mais adequado. Por isso, digo-o novamente, que a
maioria dos nossos Anglo-Indianos, entre os quais o
termo "Hindú" ou "Asiático" está geralmente ligado a
uma idéia vaga, embora presente, de alguém que usa
os dedos em vez de um pedaço de cambraia, e que
abjura o sabonete, iria, certamente, preferir um
Americano "a um sebento Tibetano". Mas não
necessitais temer por mim. Sempre que apareço, astral
ou fisicamente, diante do meu amigo A. P. Sinnett, não
esqueço de gastar uma certa soma num lenço da mais
fina seda Chinesa para levá-lo no bolso da minha
chogga, nem de criar uma atmosfera de sândalo e rosas
da Cachemira. Isso é o mínimo que podia fazer como
expiação pelos meus compatriotas. Mas, então vedes,
eu sou apenas um escravo dos meus mestres; e, se sou
autorizado a satisfazer o meu próprio sentimento
amistoso por vós, e atender-vos individualmente, posso
não ser autorizado a fazer o mesmo com outros. Mas,
para dizer a verdade, sei que não estou permitido a fazê-
lo, e a infortunada carta do Sr. Hume contribuiu muito
para isso. Há um distinto grupo ou seção na nossa
fraternidade que atende às nossas ocasionais e raras
aproximações com indivíduos de outra raça ou sangue,
e esse grupo trouxe até ao umbral o capitão Remington
e dois outros ingleses, durante este século. E esses
irmãos não usam habitualmente essências de flores.

Então a prova do dia 27 não foi a prova de um


fenômeno? Naturalmente, naturalmente. Mas tentastes
conseguir, como dissestes que o faríeis, os Manuscrito
original do despacho de Jhelum? Embora mesmo se
provasse que a nossa oca, porém, pletórica amiga, a
Sra. B., fosse meu multum in parvob, a redatora das
minhas cartas e quem confecciona as minhas epístolas,
todavia, a não ser que ela fosse ubicua (estar em dois
lugares ao mesmo tempo) ou possua a faculdade de
voar em dois minutos desde Amritsar até Jhelum, uma
distância de mais de 360 quilômetros, como poderia ela
ter escrito para mim o despacho em Jhelum com minha
própria letra, apenas duas horas após ter recebido a
vossa carta em Amritsar? Eis porque não lamentei que
tenhas dito que o mandaria buscar, pois com esse
despacho em seu poder, nenhum "detrator" seria muito
forte, nem mesmo prevaleceria a lógica cética do Sr.
Hume.

Naturalmente imaginais que a "revelação sem nomes",


que agora repercute na Inglaterra, teria sido agarrada
pelo Times of Índia muito mais avidamente do que outro,
se revelasse os nomes. Mas aqui novamente
demonstrarei que não tendes razão. Se primeiro
tivésseis impresso o relato, o Times of Índia nunca teria
publicado "Um dia com Madame B." pois aquele belo
exemplo do sensacionalismo americano não teria sido
em absoluto escrito por Olcott. Não havia tido raison
d'être. Ansioso por obter para sua Sociedade toda prova
que corroborasse os poderes ocultos do que ele
denomina a 1ª. Seção, e vendo que permanecestes
silencioso, nosso galante Coronel sentiu a sua mão
coçar até que trouxesse tudo à luz, e, colocou tudo na
obscuridade e consternação!... "Et voici pourquoi nous
n'irons plus au bois", como diz a canção francesa.

Escrevestes "tom"? Bem, bem; eu vos peço que


compreis para mim um par de óculos em Londres. E sem
embargo, fora de "tom" ou fora de "tempo" é o mesmo,
como parece. Mas deveis adotar meu velho hábito de
pequenas linhas sobre os "emes". Essas barras são
úteis embora "fora de tom e tempo" com a moderna
caligrafia. Além disso, tenhai em mente, que essas
minhas letras não são escritas e sim impressas ou
precipitadas e então todos os enganos são corrigidos.

Não discutiremos no momento, se os vossos fins e


propósitos são tão diferentes dos do senhor Hume?
Mas, se ele puder ser motivado por uma "filantropia mais
pura e ampla", o modo que ele estabelecer para
trabalhar, a fim de alcançar essas finalidades nunca o
levarão além de considerações teóricas sobre o
assunto. De nada valerá agora apresentá-lo sobre
qualquer outro aspecto. A sua carta, que logo lereis, é,
como digo para ele, "um monumento de orgulho e de
egoísmo inconsciente". Ele é um homem
demasiadamente justo e superior para ser culpado de
pequenas vaidades; mas o seu orgulho se eleva como o
do mítico Lúcifer; e, podeis me acreditar, se eu tenho
alguma experiência da natureza humana, quando eu
digo, que esse é Hume, au naturel. Não é uma
conclusão precipitada minha, baseada em algum
sentimento pessoal, e sim a opinião do maior de nossos
Adeptos vivos, o Shaberon de Than-La. Qualquer
questão que ele aborde, o seu tratamento é o mesmo;
uma firme determinação para fazer com que tudo fique,
de acôrdo com suas próprias conclusões
predeterminadas, ou varrê-la de um só golpe de crítica
irônica e adversa. O Sr. Hume é um homem muito
capaz, Hume mesmo, até o mais íntimo do seu ser. Um
estado de mente como esse oferece pouca atração,
como compreendereis, a qualquer um de nós que
desejasse se aproximar para ajudá-lo.

Não, eu não "desprezo", nem nunca "desprezarei"


nenhum "sentimento" mesmo que se choque com os
meus próprios princípios, quando é expresso franca e
abertamente como o vosso. Podeis estar, e
indubitavelmente estais, movido por mais egoísmo do
que por ampla benevolência pela humanidade. Todavia,
como o confessais sem o suporte de nenhuma
filantropia, eu vos digo candidamente que tendes muito
mais possibilidades do que o Sr. Hume de aprender um
pouco de ocultismo. Quanto a mim, farei tudo que puder
por vós, sob as circunstâncias e limitado como estou por
ordens recentes. Não direi que abandoneis isto ou
aquilo, pois, a não ser que apresenteis, além de toda
dúvida, a presença em vós, dos necessários germens,
tudo seria inútil bem como cruel. Mas eu vos digo,
TENTAI. Não desespereis. Uní-vos a vários homens e
mulheres determinados e fazei experiências no
mesmerismo e os fenômenos comuns denominados
"espíritas". Se agirdes de acôrdo com os métodos
prescritos ficai certo de que, por fim, obtereis resultados.
Fora disso, eu farei o melhor e, quem sabe! Uma
vontade forte cria e a simpatia atrai mesmo os adeptos,
cujas leis são antagônicas à mistura com o não iniciado.
Se estiverdes disposto eu vos enviarei um Ensaio
mostrando porque na Europa, mais do que em qualquer
outra parte, uma Fraternidade Universal, isto é, uma
associação de "afinidades" de forças e polaridades
fortemente magnéticas, centradas, conquanto
diferentes, em torno de uma idéia dominante, é
necessária para realizações bem-sucedidas nas
Ciências Ocultas. O que uma vontade falhar em fazer,
muitas, combinadas, podem alcançar. Naturalmente
tendes, no caso de organizardes, formar fileiras com
Olcott à frente da Sociedade Matriz, e portanto,
nominalmente o Presidente de todos os Ramos
existentes. Mas ele será tanto o vosso "líder" quanto o é
da Sociedade Teosófica Britânica, que tem o seu próprio
Presidente, e seus próprios Estatutos e Regulamentos.
Recebereis a Carta Constitutiva dele, e isso é tudo. Em
alguns casos ele terá que assinar um papel ou dois,
quatro vezes por ano nas contas enviadas por vosso
Secretário; todavia ele não tem o direito de interferir com
a vossa administração e procedimentos, enquanto
esses não se chocarem com as Regras gerais, e ele,
certamente, não tem habilidade nem o desejo de ser o
vosso líder. E naturalmente, vós (significando toda a
Sociedade) tereis, além do vosso próprio Presidente,
escolhidos pelo grupo, "um qualificado professor de
ocultismo" para vos instruir. Mas, meu bom amigo,
abandone qualquer idéia de que esse "professor" possa
aparecer corporalmente e vos instruir nos anos
vindouros. Posso chegar até vós pessoalmente a não
ser que me repilas, como fez o Sr. Hume - Eu não posso
aparecer para todos. Podeis obter fenômenos e provas
mas mesmo que caísses no velho erro e os atribuísseis
aos "Espíritos" poderíamos vos mostrar os vossos
enganos apenas por explicações lógicas e filosóficas: a
nenhum adepto seria permitido comparecer às vossas
reuniões.

Naturalmente deveis escrever um livro. Não posso ver


porque em qualquer caso isso seria impraticável. Fazei-
o, por todos os meios, e obtereis de mim todo o auxílio
que eu puder dar. Deveis iniciar imediatamente
correspondência com Lord Lindsay, e tomar os
fenômenos de Simla e a vossa correspondência comigo
como assunto. Ele é imensamente interessado em tais
experiências, e sendo um Teosofista ligado ao Conselho
Geral, dará boas vindas as vossas aberturas. Tomai por
base que pertenceis a S. T., e que sois o amplamente
conhecido Editor do "Pioneer", e sabendo como é
grande o interesse dele pelos fenômenos "espirituais"
submeteis a sua consideração as coisas muito
extraordinárias que ocorreram em Simla, com
pormenores adicionais que não foram publicados. Os
melhores Espíritas Britânicos poderiam, com a devida
orientação, ser convertidos em Teosofistas. Mas, nem o
Dr. Wyld, nem o Sr. Massey, parecem ter a necessária
força. Eu vos aconselho que converseis pessoalmente
com Lord Lindsay sobre a situação teosófica em casa e
na Índia. Talvez os dois possam trabalhar juntos. A
correspondência que agora sugiro poderá preparar o
caminho.

Mesmo que Madame B. pudesse "ser induzida" a dar à


Sociedade A. I. qualquer "instrução prática" eu estou
receoso que ela passou demasiado tempo fora do
adytum (santuário) para ser de muito uso para
explicações práticas. Entretanto, embora não dependa
de mim, verei o que posso fazer nesse sentido. Mas eu
temo que ela está tristemente necessitando uns poucos
meses de uma vilegiatura recuperadora nas geleiras,
com seu velho Mestre, antes que possa receber tão
difícil tarefa. Sêde muito cuidadoso com ela caso ela se
detenha em vossa casa em seu regresso ao lar. Seu
sistema nervoso está terrivelmente abalado, e ela
necessita muito cuidado. Queira, por favor, poupar-me
um trabalho desnecessário, dizendo-me o ano, data, e
hora do nascimento da Sra. Sinnett?

Sempre vosso sinceramente,

KOOT' HOOMI
o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 006

Não, vós não escreveis demais. Lamento apenas ter tão


pouco tempo à minha disposição; daí, achar-me incapaz
de responder tão rapidamente quanto gostaria.
Naturalmente eu tenho de ler cada palavra que
escreveis: de outra maneira faria uma grande confusão
com tudo isso. E, seja com os meus olhos físicos ou
espirituais, o tempo requerido para isso é praticamente
o mesmo. Igualmente poderia dizer das minhas
respostas. Porque, seja eu que as "precipite" ou dite, ou
as escreva pessoalmente, a diferença de tempo
economizado é insignificante. Devo pensar tudo,
fotografar cuidadosamente cada palavra e frase no meu
cérebro antes que possa ser repetida por "precipitação".
Assim como a fixação, em superfícies quimicamente
preparadas, das imagens formadas numa câmera
requer um prévio ajuste no foco do objeto a ser
representado, pois de outra maneira, como inúmeras
vezes se encontra em más fotografias, as pernas de
quem está sentado aparecem fora das proporções com
a cabeça, e assim por diante, temos primeiramente de
arrumar as nossas sentenças e imprimir cada letra que
vai aparecer no papel, nas nossas mentes, antes que
possam ser lidas. No momento é tudo o que posso vos
contar. Quando a Ciência tiver aprendido mais a cerca
do mistério do lithophyl (ou lithobiblion) e como a
impressão de folhas vêm a ocorrer originalmente nas
pedras, então serei capaz de fazei-vos compreender
melhor o processo. Mas tendes que saber e relembrar
uma coisa: nós apenas seguimos e servilmente
copiamos a Natureza em seus trabalhos.

Não, não necessitamos argumentar mais sobre a


infortunada questão de "um dia com Madame B.". É
completamente inútil, pois como dizeis, não tendes o
direito de esmagar e moer no Pioneer os seus
descorteses e, inúmeras vezes, desonestos opositores
(nem mesmo em sua própria defesa) porque os seus
proprietários se opõem à toda menção ao Ocultismo.
Como são cristãos, não devemos nos admirar. Vamos
ser caridosos e esperar que eles tenham a sua
recompensa: morrem e se tornam anjos da Luz e da
Verdade, pobres alados do céu cristão.

A não ser que reunis várias pessoas, e as organizeis de


uma maneira ou outra, estou receoso de que,
praticamente, serei de pouca ajuda para vós. Meu caro
amigo, eu tenho também os meus "proprietários". Por
razões que eles conhecem bem, descordam da idéia de
ensinar indivíduos isoladamente. Eu me correspondo
convosco e dou provas de tempos em tempos da minha
existência e presença. Ensinar ou vos instruir é
completamente uma outra questão. Portanto, sentar-se
com a vossa Senhora é mais do que inútil. Os
magnetismos de ambos são demasiadamente
semelhantes e não consiguireis nada.

Traduzirei o meu Ensaio e vos enviarei tão cedo eu


puder. A vossa idéia de corresponder-se com vossos
amigos e associados é a próxima e melhor coisa que
podeis fazer. Mas não vos esqueçais de escrever para
Lord Lindsay.

Sou um pouco "duro" com Hume, dizeis. Serei na


realidade? Ele altamente intelectual e confesso que
possui uma natureza espiritual. Todavia ele é em tudo o
"Sr. Oráculo". Pode ser que seja a própria exuberância
daquele grande intelecto, que busca saída através de
cada abertura, e nunca perde uma oportunidade para
aliviar a plenitude do cérebro, que está inundado com o
pensamento. Porque encontra em sua tranqüila vida
cotidiana um campo demasiadamente pobre, já que só
tem um "Moggy"e um Davison para efetuar sobre eles a
sua semeadura, seu intelecto rompe a represa e detêm-
se sobre cada imaginado evento, cada fato possível,
embora improvável, que sua imaginação possa sugerir,
para interpretá-lo hipoteticamente, à sua própria
maneira. Nem me surpreendo que tão perito trabalhador
no mosaico intelectual como ele é, encontrando
subitamente a mais fértil das minas, as mais preciosas
pedras coloridas na idéia da nossa fraternidade e da S.
T., dela escolhesse ingredientes para borrar as nossas
faces. Colocando-nos diante de um espelho que nos
reflete como ele nos vê em sua própria imaginação fértil,
ele diz: "Agora, vós, mofadas relíquias de um mofado
Passado, olhai para vós mesmas como realmente sois!"
Um homem muito, excelente o nosso amigo Hume, mas
completamente inapto para ser moldado como um
adepto.

Na formação de um Ramo Anglo-Indiano, parece que ele


compreende pouco, e muito menos do que vós, o nosso
real objetivo. As verdades e mistérios do Ocultismo
constituem, na verdade, um corpo da mais alta
importância espiritual, ao mesmo tempo profundo e
prático para o mundo em geral. Entretanto não é na
condição de uma simples adição à emaranhada massa
de teoria ou especulação no mundo da Ciência que
estão sendo-vos dadas, mas para a elaboração prática
em prol dos interesses da humanidade. Os termos "não
científico" "impossível", "alucinação", "impostor", têm
sido, até agora, usados de maneira muito solta,
descuidada, dando a entender que nos fenômenos
ocultos há algo de misterioso, como de anormal, ou uma
impostura premeditada. Eis porque os nossos chefes
determinaram lançar sobre umas poucas mentes
receptivas, mais luz sobre o assunto, e provar-lhes que
tais manifestações são tão reduzíveis à lei como os mais
simples fenômenos do universo físico. Os sabichões
dizem: "a idade dos milagres é passada", mas nós
respondemos, "ela nunca existiu!" Ainda que não sejam
os únicos ou sem a sua contraparte na História
Universal, esses fenômenos devem vir e virão com uma
enorme influência no mundo dos fanáticos e dos céticos.
Eles têm que se mostrar tanto destrutivos, como
construtivos: destrutivos quanto aos perniciosos erros
do passado, aos velhos credos e superstições que
sufocam, no seu abraço venenoso, como erva daninha,
a toda a humanidade; mas construtiva de novas
instituições de uma genuína e prática fraternidade da
humanidade, onde todos serão colaboradores da
Natureza, e trabalharão para o bem da humanidade com
e por meio dos mais elevados Espíritos Planetários, os
únicos "Espíritos" em quem acreditamos. Elementos
fantásticos, jamais impensados, nem sonhados
começarão logo a se manifestar, dia a dia, com uma
força constantemente aumentada, revelando, por fim, os
segredos das suas misteriosas operações. Platão
estava certo: as idéias governam o mundo; e, à medida
que as mentes dos homens recebam novas idéias,
deixando de lado as velhas desgastadas, o mundo
avançará; surgirão poderosas revoluções delas; credos
e mesmo potências serão derrocadas diante da sua
força irresistível. Será verdadeiramente impossível
resistir ao seu influxo, quando chegar o tempo, assim
como não se pode barrar o crescimento de uma maré.
Mas tudo virá gradualmente, e antes que chegue, temos
um dever diante de nós; e de varrer o entulho deixado
para nós pelos nossos piedosos antepassados. Novas
idéias têm que ser plantadas em lugares limpos, pois
essas idéias tocam os assuntos mais importantes. Não
são fenômenos físicos, mas essas idéias universais, que
estudamos, e para compreender os primeiros, temos
que primeiro entender as últimas. Elas referem-se à
verdadeira posição de homem no Universo, em relação
aos seus nascimentos prévios e futuros; à sua origem e
destino final; à relação do mortal com o imortal; do
temporário com o eterno; do finito com o infinito, idéias
mais amplas, maiores, mais abrangentes, reconhecendo
o reino Universal da Lei Imutável, que não muda e não
pode ser mudada, em relação a qual só existe o
ETERNO AGORA, enquanto que para os mortais não
iniciados o tempo é passado ou futuro relacionados com
a sua existência finita nesse grãozinho de pó. Isto é o
que estudamos e o que muitos solucionaram. E agora
depende apenas de vós decidir o que tereis: a mais alta
filosofia ou uma simples exibição de poderes ocultos.
Naturalmente, de modo algum, esta não será a última
palavra entre nós; tereis tempo para pensar. Os Chefes
querem uma "Fraternidade da Humanidade", que se
inicie uma real Fraternidade; uma instituição que se
torne conhecida através do mundo e chame à atenção
das mentes mais elevadas. Eu vos enviarei o meu
Ensaio. Quereis ser o meu colaborador e pacientemente
aguardar fenômenos menores? Creio que posso prever
a resposta. De qualquer modo, enquanto arder em vós
a lâmpada da luz espiritual, mesmo que debilmente, há
esperança para vós, e para mim também. Sim; ponde-
vos em busca de indianos, se podeis encontrar ingleses.
Mas, credes que desapareceu o espírito e o poder de
perseguição nessa época iluminada? O tempo mostrará.
Enquanto isso, sendo humano, tenho que repousar. Eu
não durmo há mais de sessenta horas.

Sempre vosso verdadeiramente,

KOOT' HOOMI

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas


AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 007

Anexada a uma carta de Madame B. de Bombaim.


Recebida em 30 de Janeiro de 1881.

Não há nenhuma falta de vossa parte, em todo esse


assunto. Lamento que tenhais pensado que estou vos
imputando qualquer falta. Se fosse o caso, virtualmente
poderíeis sentir que tínheis de me reprovar por vos dar
esperanças sem ter nem a sombra de tal direito. Eu
deveria ter sido menos otimista e então teríeis sido
menos entusiasta nas vossas expectativas. Eu
realmente sinto como se vos tivesse enganado! Felizes,
três vezes felizes e abençoados, são os que nunca
consentiram em visitar o mundo que fica além de suas
montanhas coroadas de neves; aqueles cujos os olhos
físicos nunca deixaram de ver um dia que seja, as
infindáveis cadeias de montanhas, e a longa e
inquebrada linha das neves eternas! Verdadeiramente,
sem dúvida, eles encontraram a sua Última Thule e nela
vivem...

Por que dizeis que sois uma vítima das circunstâncias,


pois nada mudou seriamente, e que muito, se não tudo,
depende dos futuros desenvolvimentos? Não vos foi
pedido, nem se esperou que revolucionásseis os vossos
modos de viver mas, ao mesmo tempo fôstes advertido
para não esperar demasiado enquanto permaneceis o
que sois. Se lerdes entre as linhas, deveis ter notado o
que disse sobre a margem muito limitada de que
disponho para atuar nesse assunto, segundo o meu
próprio critério. Mas não fiqueis desanimado, pois tudo
é apenas uma questão de tempo. O mundo não evoluiu
entre duas monções, meu bom amigo. Se tivésseis vindo
a mim como um rapaz de dezessete anos, antes que o
mundo pusesse sobre vós a sua pesada mão, a vossa
tarefa seria vinte vezes mais fácil. E agora temos que
aceitá-lo, e deveis ver a vós mesmo como sois, não
como a imagem humana ideal que a nossa fantasia
emocional sempre projeta para nós no espelho. Sêde
paciente, amigo irmão; e devo repetir novamente: sêde
o nosso útil colaborador, mas na vossa esfera e de
acôrdo com o vosso mais maduro julgamento. Dado que
o nosso venerável Khobilgan decretou na sua sábia
previsão que eu não tenho direito de vos encorajar a que
entreis numa senda, onde teríeis que rolar a rocha de
Sísifo, contido, como certamente estareis pelos vossos
prévios e mais sagrados deveres, nós realmente temos
que esperar. Eu sei que os vossos motivos são sinceros
e verdadeiros, e que uma mudança real, e na direção
correta, chegou até vós, mesmo que ela vos pareça ser
imperceptível. E os Chefes sabem disso também. Mas
dizem eles, os motivos são vaporosos, tão tênues como
a umidade atmosférica; e assim como a última
desenvolve a sua energia dinâmica para ser usada pelo
homem, somente quando está concentrada e aplicada
como vapor ou força hidráulica, assim também o valor
prático das boas intenções é melhor visto quando tomam
a forma de ações... "Nós esperaremos e veremos" dizem
eles. E agora eu vos contei o máximo a que tinha o
direito de vos dizer. Mais de uma vez ajudastes a essa
Sociedade, ainda que não estejais interessado nela, e
essas ações estão registradas. Mas ainda, elas são mais
meritórias em vós do que seriam em qualquer outra
pessoa, considerando as vossas bem fundamentadas
idéias quanto à aquela pobre organização no presente.
E vós já conquistastes um amigo, alguém mais elevado
e melhor do que eu, alguém que no futuro me auxiliará
a defender a vossa causa, capaz como ele é para fazê-
lo mais eficazmente do que eu, porque pertence à
"Seção Estrangeira".

E creio que expus para vós as linhas gerais pelas quais


desejamos que ocorra, se possível, o trabalho de
organização do Ramo Anglo-Indiano. Os detalhes
devem ficar a vosso cargo, se quereis ainda me ajudar.

Se tendes algo a dizer e perguntar, é melhor que me


escrevais e eu sempre responderei às vossas cartas.
Mas não pensais quaisquer fenômenos por enquanto,
pois apenas estas triviais manifestações são agora um
obstáculo no vosso caminho.

Seu sempre verdadeiramente,

K. H.
o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 008

Recebida através de Madame B. no dia 20 de Fevereiro


de 1881.

Sinnett estivera tentando fazer algo a respeito das


regras da S.T., da qual ele era o Vice-Presidente na
época. A página inicial desta carta refere-se a estes
esforços.

Meu caro amigo, estais certamente na senda correta: a


senda dos fatos e ações, não de meras palavras - que
vivais muitos anos e perseverai!... Espero que isso não
seja considerado por vós como um encorajamento
"sentimentalóide" - uma feliz expressão que me fez rir,
mas na verdade atuais como uma espécie de um Kalki
Avatar, dissipando as sombras de "Kali-yug" - a noite
negra da moribunda Sociedade Teosófica e afastando
do vosso caminho a fata morgana dos seus
regulamentos. Terei que fazer aparecer a palavra fecit2,
após o vosso nome, na lista do conselho geral, em
caracteres invisíveis, mas indeléveis, pois algum dia
poderá ser uma porta secreta para chegar ao coração
do mais severo dos Khobilgans...

Embora estando muito ocupado, como sempre, eu tenho


que vos enviar uma epístola de despedida um pouco
longa antes que inicieis a vossa jornada que poderá
produzir resultados muito importantes - e não somente
pela nossa causa... Compreendeis, não é assim, que
não é minha falta não poder encontrar-vos como eu
queria? Nem tão pouco é vossa, senão mais do
ambiente de toda a vossa vida e de uma delicada missão
especial que me recomendaram desde que vos conheci.
Não me culpeis, então, se eu não me mostro numa
forma mais tangível, que não só vós, como eu, desejaria!
Quando não me permitem fazer isso para Olcott, que
tem labutado por nós esses cinco anos, como poderia
eu fazer isso para outros que não passaram, até agora,
por um treinamento como o dele? Isso se aplica
igualmente ao caso do Lord Crawford e Balcarres, um
excelente cavalheiro aprisionado pelo mundo. Sua
natureza é sincera e nobre, embora possa ser um pouco
reprimida. Ele pergunta que esperança pode ter? Eu
digo: toda esperança. Pois ele tem dentro de si próprio
aquilo que só uns poucos possui: uma inesgotável fonte
de fluido magnético que, se ao menos ele tivesse tempo,
poderia evocar copiosamente e não necessitaria de
outro mestre a não ser de se mesmo. Seus próprios
poderes fariam o trabalho, e a sua própria grande
experiência seria um guia seguro para ele. Mas, ele teria
que se proteger contra toda influência estranha e evitá-
las, especialmente aquelas antagônicas ao nobre
estudo do HOMEM como um Brahmam integral, o
microcosmo livre e inteiramente independente, tanto do
auxílio como do controle dos agentes invisíveis que a
"nova dispensação" (palavra bombástica!) chama de
"Espíritos". Sua Excelência compreenderá o que quero
dizer, sem mais explicações: Tem toda liberdade para
ler isso, se o quiser, caso as opiniões de um obscuro
hindú. Fosse ele um homem pobre, ele poderia ter se
tornado um Dupotet inglês, acrescido de grandes
conquistas científicas nas ciências exatas. Mas ah! O
que a nobreza ganhou a psicologia perdeu... Mas
todavia não é demasiadamente tarde senão vejamos,
mesmo após dominar a ciência magnética e dedicando
a sua poderosa mente para o estudo dos ramos mais
nobres da ciência exata, assim mesmo ele falhou em
levantar mesmo uma pequena ponta do véu do mistério.
Ah, esse mundo sempre cambiante, pomposo,
reluzente, cheio de insaciável ambição, onde a família e
o Estado, repartem entre eles a natureza mais nobre do
homem, como dois tigres sobre uma carcaça, e o deixam
sem esperança ou luz! Quantos aspirantes não teríamos
se não fossem exigidos sacrifícios! A carta de sua
excelência a vós exala uma influência de sinceridade
matizada de pesar. É um bom homem de coração com
a capacidade de ser ainda melhor e mais feliz. Não
tivesse seu destino sido traçado como o foi e tivesse
todo seu poder intelectual se voltado para a cultura da
Alma, ele teria alcançado muito mais do que jamais
sonhara. Foi desse material que se formaram os adeptos
nos dias de glória Ariana. Mas não devo estender-me
mais sobre esse caso; e anseio pelo perdão de sua
excelência se, no amargor do meu sentimento,
ultrapassei de algum modo os limites do correto nessa
"delineação psicométrica do caráter", demasiadamente
livre, como diriam os médiuns americanos... "uma
medida folgada só limita o excesso", mas ouso ir mais
além. Ah, meu amigo, demasiadamente positivo e
todavia impaciente, se apenas tivésseis tais
capacidades latentes!

A "comunicação direta" comigo, da qual escreveis na


vossa nota suplementar, e a "enorme vantagem" que
traria "para o livro em si se fosse concedida", seria
imediatamente concedida se dependesse apenas de
mim. Embora raras vezes seja aconselhável repetir-se,
entretanto, estou tão ansioso de que compreendêsseis
a impraticabilidade atual de semelhante arranjo mesmo
que fosse concedido pelos nossos Superiores, que darei
um breve retrospecto dos princípios já expostos.

Poderíamos deixar fora de questão o ponto mais vital -


que vacilaríeis talvez em aceitar - que a recusa
relaciona-se com a vossa própria salvação (do ponto de
vista de vossas considerações materiais e mundanas)
do que com o meu forçoso cumprimento de nossas
honradas Regras, aprovadas pelo tempo. Novamente
poderia citar o caso de Olcott e o seu destino até agora
(o qual, se não tivesse sido permitido comunicar-se
conosco diretamente e sem nenhum intermediário,
poderia ter subseqüentemente demonstrado menos zelo
e devoção, porém mais discrição). Mas a comparação
vos parecerá forçada. Olcott, diríeis, é um entusiasta, um
teimoso, um místico irracional, que segue em frente de
olhos vendados, e que não se permitirá ver o que está
em frente com os seus próprios olhos. Enquanto isso,
sois um homem comum do mundo sóbrio, filho de vossa
geração de frios pensadores; sempre tendo sob controle
a fantasia, e dizendo ao entusiasmo: "Até aqui chegarás,
e não irás mais longe"... Talvez estejais certo, talvez
não. "Nenhum Lama sabe onde o seu ber-chhen irá ferí-
lo até que o coloque", diz um provérbio tibetano. Mas,
deixemos isso de lado, pois devo dizer-vos agora que,
para a abertura da "comunicação direta", o único meio
possível seria: (1) encontrar-nos em nossos corpos
físicos. Estando onde estou, e vós em vossa própria
moradia, há um impedimento material para mim; (2) que
ambos nos encontremos na nossa forma astral, o que
exigiria que deixásseis o vosso corpo físico, como eu
teria que deixar o meu. O impedimento quanto a isso é
da vossa parte; (3) fazerdes ouvir a minha voz, seja
dentro ou próximo a vós, assim como faz a "velha
Dama". Isso seria possível de duas maneiras: (a) meus
chefes apenas teriam que me dar permissão para
estabelecer as condições, e isso, no momento, eles
recusam; ou (b) que possais ouvir a minha voz, isto é, a
minha voz natural sem que seja empregado qualquer
tamasha psico-fisiológico por mim (como fazemos com
freqüência). Mas para fazer isso, não somente os
sentidos espirituais do indivíduo devem estar
anormalmente abertos, mas ele mesmo precisa ter
dominado o grande segredo - ainda não descoberto pela
Ciência - de, digamos abolir todos os impedimentos de
espaço; de neutralizar por um determinado tempo o
obstáculo natural das partículas intermediárias de ar e
forçando as ondas repercutirem em vosso ouvido em
sons refletidos ou ecos. Deste último só conheceis, até
agora, o suficiente para considerá-lo um absurdo anti-
científico. Vossos físicos, não tendo até recentemente
conseguido dominar a acústica nesta direção e apenas
adquirido um conhecimento perfeito (?) da vibração dos
corpos sonoros e das reverberações através de tubos,
podem perguntar sarcasticamente: "Onde estão os
vossos corpos sonoros indefinidamente contínuos, para
conduzirem através do espaço as vibrações da voz?"
Respondemos que os nossos tubos, embora invisíveis,
são indestrutíveis e muito mais perfeitos do que aqueles
dos nossos modernos físicos, pelos quais a velocidade
da transmissão da força mecânica, através do ar, é
representada a razão de 330 metros por segundo e não
mais, se não estou enganado. Mas então, não pode
haver pessoas que encontraram meios mais perfeitos e
rápidos de transmissão, por estarem mais familiarizados
com os poderes ocultos do ar (akas) e que tenham, além
disso, um conhecimento mais perfeito dos sons? Mas
isso será discutido depois.

Há, entretanto, um inconveniente mais sério; um


obstáculo quase intransponível atualmente, com o qual
eu mesmo estou às voltas enquanto nada mais faço
senão comunicar-me convosco, uma coisa simples que
qualquer outro mortal poderia fazer. É a minha completa
incapacidade de fazer-vos compreender o que quero
dizer nas minhas explicações mesmo de fenômenos
físicos, deixando de lado uma abordagem espiritual. Não
é a primeira vez que me refiro a isso. É como se uma
criança me pedisse para ensinar-lhe os mais altos
problemas de Euclides, antes mesmo que tivesse
começado a estudar as regras elementares da
aritmética. Somente o progresso que uma pessoa faz no
estudo do conhecimento Arcano desde os seus
elementos rudimentares, leva-a, gradualmente, a
compreender o nosso propósito. Somente assim, e não
de outra forma, ela o faz fortalecendo e refinando
aqueles misteriosos laços de simpatia entre seres
inteligentes - fragmentos temporariamente isolados da
Alma universal e da própria Alma cósmica - trazendo-os
a uma completa harmonia. Uma vez isso estabelecido,
somente então essas despertadas simpatias servirão,
na verdade, para conectar o HOMEM com aquilo, que
na falta de um termo europeu mais adequado para
expressar a idéia, eu sou novamente compelido a
descrever como aquela cadeia energética que une o
Kosmos material e Imaterial - Passado, Presente e
Futuro -, e ativa as suas percepções, a fim de
claramente capte, não apenas todas as coisas da
matéria, mas também as do Espírito, sinto-me mesmo,
irritado a ter que usar essas palavras imperfeitas -
passado, presente e futuro -! Conceitos miseráveis de
fases objetivas do Todo Subjetivo, elas são tão
inadequadas nesse sentido como o uso de um machado
para fazer um trabalho delicado de entalhe. Oh, meu
pobre e desapontado amigo, se já estivésseis
suficientemente avançado na SENDA, essa simples
transmissão de idéias não seria obstaculizada pelas
condições de matéria, a união de vossa mente com a
nossa, não ficaria impedida pelas suas incapacidades
instigadas! Essa é, infelizmente, a grosseria auto-
adquirida e herdada, da mente Ocidental. Até mesmo as
frases que expressam o pensamento moderno foram
desenvolvidas, até tal ponto na linha do materialismo
prático, que na atualidade é quase impossível, tanto
para vós nos compreender como para nós
expressarmos, no vosso idioma, algo dessa maquinária
delicada e aparentemente ideal do Kosmos oculto. Até
um pequeno limite através do estudo e da meditação,
essa faculdade pode ser adquirida pelos europeus. E
isso é tudo. E aqui está a barreira que impediu, até
agora, que o conhecimento das verdades teosóficas
ganhasse mais terno nas nações Ocidentais, e levou os
filósofos Ocidentais a abandonar o estudo teosófico,
considerando-o como inútil e fantástico. Como eu vos
ensinarei a ler e a escrever ou mesmo a compreender
uma linguagem da qual nenhum alfabeto palpável, ou
palavras audíveis para vós foram inventados até agora!
Como poderiam os fenômenos da nossa moderna
ciência elétrica serem explicados, digamos, a um filósofo
grego dos dias de Ptolomeu que fosse chamado a vida,
com esse hiato intransponível nas descobertas existente
entre a sua e a nossa época? Não seriam para ele os
próprios termos técnicos um ininteligível jargão, um
abracadabra de sons incompreensíveis, e os próprios
instrumentos e aparelhos usados, apenas
monstruosidades "miraculosas"? E suponhamos que,
por um instante, eu vos descrevesse os matizes
daquelas cores que estão além do chamado "espectro
visível" - raios invisíveis a todos com exceção de uns
poucos dentre nós; ou explicasse, como podemos fixar
no espaço qualquer uma das chamadas cores
acidentais ou subjetivas - e, além disso, o complemento
(para falarmos matematicamente) de qualquer uma das
cores de um corpo dicromático (o que por si só soa como
um absurdo), achais que podereis compreender o efeito
ótico dessas cores ou mesmo o que quero dizer? E
como não vedes, ou conheceis tais radiações nem
tendes quaisquer nomes para eles, até agora, na
Ciência, se eu vos dissesse:- "Meu bom amigo Sinnett,
por favor, sem vos deslocares da vossa escrivaninha,
tentai buscar e produzir ante os seus olhos o espectro
solar completo, decomposto em quatorze cores
prismáticas (sete são complementares), pois é só com o
auxílio daquela luz oculta que podereis me ver à
distância assim como o vejo".... qual seria a vossa
resposta? O que teríeis a replicar? Não iríeis muito
provavelmente retrucar-me, dizendo, na vossa tranqüila
e polida maneira, que, como nunca houve senão sete
cores primárias (agora três), as quais, além disso, nunca
foram vistas decompostas por qualquer processo físico
conhecido a não ser nos sete tons prismáticos, o meu
convite não era "científico" tanto quanto "absurdo"?
Somando-se a isso que a minha oferta para buscar um
"complemento" solar imaginário não seria referendada
pelo vosso conhecimento da ciência física, eu faria
melhor, talvez, ir até o Tibet para buscar meus míticos
pares dicromáticos e solares, pois a ciência moderna
tinha sido até agora incapaz de encontrar uma teoria
para um fenômeno tão simples como o das cores de
todos esses corpos dicromáticos. E na verdade essas
cores são bastante objetivas!

Assim vêdes as dificuldades intransponíveis que estão


no caminho para se alcançar, não somente o
conhecimento Absoluto mas mesmo o conhecimento
primário na Ciência Oculta, para alguém que esteja na
vossa situação. Como poderíeis fazer-vos com que
fosses entendido - comandar de fato, essas Forças
semi-inteligentes, cujos meios de comunicação conosco
não são através de palavras faladas, mas através de
sons e cores, em correlação com as vibrações dos dois?
Pois o som, luz e cores são os principais fatores na
formação desses graus de Inteligências, desses seres,
de cuja própria existência não tendes qualquer
concepção, nem é tolerado que acrediteis neles - Ateus
e Cristãos, materialistas e espiritualistas todos
igualmente apresentam argumentos contra tal crença. A
Ciência objeta mais fortemente que qualquer um deles,
contra tão "degradante superstição"!

Assim, porque eles não podem com um salto


sobrepassar as paredes limitantes e atingirem os
pináculos da Eternidade; porque não podemos tomar um
selvagem do centro da África e fazer que ele
compreenda imediatamente o Princípio de Newton ou a
"Sociologia" de Hebert Spencer; ou fazer que uma
criança analfabeta escreva uma nova Ilíada no antigo
grego arcaico; ou que um pintor comum descreva cenas
em Saturno ou faça um esboço dos habitantes de
Arcturus - por causa disto tudo até mesmo a nossa
existência é negada! Sim, por essa razão aqueles que
acreditam em nós são chamados de impostores e tolos,
e a própria ciência, que conduz à mais alta meta do
conhecimento superior, à percepção real da Árvore da
Vida e Sabedoria é zombada como sendo um
desenfreado vôo da Imaginação!

Peço-vos, muito sinceramente, que não vejais o que


acima foi dito como uma mera manifestação de
sentimento pessoal. Meu tempo é precioso e não posso
perdê-lo. E muito menos deveis ver nisso um esforço
para desgostar-vos ou dissuadir-vos do nobre trabalho
que apenas começastes. Nada disso, pois o que agora
digo tem esse sentido e não outro; mas - vera pro gratis
- vos ADVIRTO, e não direi nada mais, a não ser
lembrar-vos de uma forma geral, que a tarefa que tão
bravamente empreendeis, - essa Missio in partis
infidelium - é a mais ingrata, talvez, de todas as tarefas!
Mas, se acrediteis na minha amizade para convosco, se
dais valor a palavra honra de alguém que nunca - nunca
durante toda a sua vida poluiu seus lábios com uma
mentira, então não esqueçais as palavras que já vossa
escrevi (veja minha última carta) sobre aqueles que se
dedicam às Ciências Ocultas; que, aquele que o faz,
"deve alcançar a meta ou perecer. Quando se avançou
bastante no Caminho do grande Conhecimento, duvidar
é correr o risco de perder a razão; chegar a um ponto
morto é cair; retroceder é cambalear até cair de cabeça
num abismo." Não temas, - se sois sincero, e o sois,
agora. Estais tão seguro de vós mesmo quanto ao
futuro?

Mas creio que é tempo de voltar para as coisas menos


transcendentais e o que chamarias menos sombrias e
para assuntos mais mundanos. Aqui creio, sem dúvida,
estareis muito mais à vontade. A vossa experiência, o
vosso treinamento, o vosso intelecto, o vosso
conhecimento do mundo exterior, em resumo, todos
combinam para vos auxiliar na realização da tarefa que
iniciastes. Pois, eles vos colocam num nível
infinitamente mais alto do que eu com relação a
consideração de escrever um livro, sobre o "próprio
coração" da Vossa Sociedade. Embora o interesse que
tenho em relação a isso possa assombrar a alguns, que
provavelmente me repliquem e aos colegas, usando
nossos próprios argumentos, e observar que a nossa
"tão alardeada elevação sobre a massa comum"
(palavras do nosso amigo, o Sr. Hume), acima dos
interesses e paixões da humanidade comum, deve
impedir que tenhamos qualquer idéia dos assuntos
comuns da vida - no entanto, eu confesso que tenho
mesmo interesse neste livro e no seu sucesso, tanto
quanto no sucesso, em vida, do seu futuro autor.

Espero que, pelo menos, vós compreendeis que nós (ou


a maior parte de nós) estamos longe de não termos
corações, múmias moralmente secas, como alguns
pensariam que somos. "Mejnoor" está muito bem onde
ele está - como um protagonista ideal de uma história
arrepiante - e em muitos aspectos, verdadeira.
Entretanto, acreditai-me, poucos de nós se
preocupariam em fazer na vida o papel de uma flor
ressecada de amor perfeito, entre as páginas de um livro
de solene poesia. Podemos não ser completamente os
"rapazes" - citando a irreverente expressão de Olcott, ao
falar de nós - todavia, ninguém do nosso grau se
assemelha ao austero herói do romance de Bulwer.
Embora as facilidades de observação asseguradas a
alguns de nós pela nossa condição, certamente dão uma
visão mais ampla, uma compaixão mais pronunciada e
imparcial, e mais amplamente expandida - pis
respondendo a Addison, nós poderíamos justamente
sustentar que é... "a tarefa da "magia" humanizar nossa
natureza com compaixão" para com toda a humanidade
e todos os seres vivos, em vez de concentrar e limitar
nossos afetos à uma raça predileta - no entanto, poucos
de nós (exceto os que tenham alcançado a negação final
de Moksha) podem desligar-se da influência da nossa
conexão terrena, a ponto de não sermos sensíveis, em
vários graus, aos mais elevados prazeres, emoções e
interesses da maioria das pessoas. Até que a
emancipação final reabsorva o Ego, ele tem que ser
consciente das mais puras simpatias despertadas pelos
efeitos estéticos da arte elevada, sua mais terna
sensibilidade deve responder ao chamado dos mais
santos e nobres vínculos humanos. Naturalmente,
quanto maior for o progresso em direção à libertação
menos lugar haverá para isso, até que para coroar a
tudo, os sentimentos humanos e puramente individuais
- laços de sangue e amizade, patriotismo e predileção
racial - todos cederão lugar e se tornaram fundidos num
sentimento universal, o único verdadeiro e santo, o único
inegoísta e Eterno - Amor, um imenso amor pela
humanidade - como um Todo! Pois é a "Humanidade"
que é a grande Órfã, a única deserdada sobre esta terra,
meu amigo. E é o dever de cada homem que é capaz de
um impulso inegoísta, fazer alguma coisa, mesmo que
pouco, pelo seu bem estar. Pobre, pobre humanidade!
Isso me recorda a velha fábula da guerra entre o corpo
e os seus membros: Aqui também, cada membro de
enorme "órfão" - sem pai nem mãe - egoisticamente só
se preocupa consigo. O corpo descuidado sofre
eternamente, estejam seus membros em paz ou em
guerra. O seu sofrimento e agonia nunca cessam... E
quem pode censura-la - como os vossos filósofos
materialistas o fazem - nesse eterno isolamento e
abandono ela criou deuses aos quais "sempre brada por
ajuda, mas não é escutada!" Pois,

"Desde que para o homem só há esperança no homem

Não deixarei a nenhum deles chorar a quem possa


salvar!..."

Entretanto, confesso que eu, individualmente, não estou


ainda isento de alguns apegos terrenos, estou ainda eu
apegado em relação a alguns homens mais do que a
outros, e a filantropia, como é pregada pelo nosso
Grande Patrono - "o Salvador do Mundo, o Instrutor do
Nirvana e da Lei..." nunca matou em mim as
preferências individuais de amizade, de amor para com
o meu próximo, ou o ardente patriotismo pelo país - no
qual na última vez materializei-me individualmente. A
esse respeito, poderia, algum dia, sem que me fosse
solicitado, oferecer um pouco de conselho ao meu amigo
o Sr. Sinnett, para sussurrar no ouvido do Editor do
PIONEER En attendant "Poderia eu pedir ao primeiro,
que informasse ao Dr. Wyld, Presidente da Sociedade
Teosófica Britânica, acerca das poucas verdades que
nos dizem respeito. como foi mencionada acima? Tenho
a bondade de persuadir esse excelente cavalheiro que
nenhuma das humildes "gotas de orvalho" que,
assumindo sobre vários pretextos a forma de vapor,
desapareceram no espaço, em diversos períodos, para
congelarem-se nas brancas nuvens dos Himalayas,
jamais trataram de retornar ao brilhante Mar do Nirvana
por meio do insalubre processo de pendurar-se pelas
pernas ou fabricando para si próprios uma outra "capa
de pele" com o sagrado estêrco da "vaca três vezes
sagrada"! O Presidente Britânico atua sob a influência
das mais originais idéias a nosso respeito, a quem ele
persiste em chamar de "Ioguis", sem ter a menor idéia
das enormes diferenças que existem mesmo entre a
"Yoga Hatha e a Raja". Esse erro deve ser imputado à
Senhora B. - à hábil editora do "The Theosophist", que
enche os seus volumes com as práticas de diversos
Sannyasis e outros "benditos" das planícies, sem se
preocupar em dar umas linhas de explicações
adicionais.

E agora, vamos nos ocupar com assuntos mais


importantes. O tempo é precioso e o material (quer dizer
material para escrever) é ainda mais. "Precipitação" - em
vosso caso se tornou algo ilícito; a falta de tinta ou papel;
a pouca oportunidade para "tamasha" e eu, que me
encontro longe de casa, num lugar onde uma papelaria
é menos necessária do que ar para respirar, - a nossa
correspondência está ameaçada de ser interrompida
abruptamente, a não ser que eu controle as minhas
reservas desses materiais com muito equilíbrio. Um
amigo prometeu-me fornecer, em caso de grande
necessidade, algumas folhas avulsas, relíquias
recordatórias do testamento de seu avô, na qual ele o
deserdou, e assim fez a sua "fortuna". Mas, como ele
nunca escreveu, senão uma só vez, diz ele, nesses
últimos onze anos e não nesse papel double superfin
glacé feito no Tibet, que poderíeis irreverentemente
confundir com papel mata-borrão nos dias mais antigos,
e que o testamento está escrito em papel parecido, seria
melhor que nos ocupássemos do vosso livro
imediatamente. Desde que me fazeis o favor de
perguntar a minha opinião, eu posso vos dizer que a
idéia é excelente. A Teosofia necessita esse auxílio e os
resultados serão os que igualmente antecipastes na
Inglaterra. Pode também ajudar os nossos amigos na
Europa, de uma maneira geral.

Eu não coloco restrição alguma a que façais uso de tudo


que possa ter escrito para vós ou para o Sr. Hume, tendo
plena confiança em vosso tato e julgamento quanto ao
que seja impresso e como deve ser apresentado. Tenho
somente que pedir-vos, por razões sobre as quais devo
ficar silencioso (e tenho a certeza que respeitareis esse
silêncio), para que não useis uma única palavra ou
passagem da minha última carta que vos escrevi -
aquela que foi escrita depois do meu longo silêncio, sem
data, e a primeira que vos foi transmitida pela nossa
"velha dama". Acabo de citar algo dessa carta na página
4. Façai-me o favor, se as minhas pobres epístolas são
valiosas para serem preservadas, de colocá-las num
envelope à parte e lacrado. Podereis abrí-lo somente
depois de ter passado um certo período de tempo.
Quanto ao resto, abandono-o à malignidade da crítica.
Nem eu interferiria com o plano que esboçastes
toscamente em vossa mente. Mas eu vos recomendaria
firmemente que, na sua execução, colocásseis a maior
atenção nas pequenas circunstâncias - (poderíeis dar-
me alguma receita para fazer tinta azul?) - que tendam
a mostrar a impossibilidade de fraude ou conspiração.
Refleti bem, como é ousado confirmar como sendo
fenômenos dos Adeptos o que os espíritas acreditam ser
provas de mediunidade, e os céticos como
prestidigitação. Não deveis omitir nem um ponto ou uma
vírgula de uma pequena evidência colateral que
sustente a vossa posição, algo que negligenciastes em
fazer na vossa carta "A" no Pioneer. Por exemplo, o meu
amigo me contou que era a décima terceira taça, e seu
modelo, inigualável, pelo menos em Simla. 13. A
almofada foi escolhida por vós - e, no entanto a palavra
"almofada" ocorre em minha nota que vos enviei, assim
como a palavra "árvore" ou qualquer outra teria sido
substituída, se tivésseis escolhido um outro lugar em vez
do travesseiro. Verificareis que todas essas coisas
pequeninas vos servirão como o mais poderoso escudo
contra o ridículo e a trapaça. Então, naturalmente,
desejareis mostrar que essa Teosofia não é um novo
candidato à atenção do mundo, mas somente a
reafirmação de princípios que tem sido reconhecidos
desde a própria infância da humanidade. A seqüência
histórica deve ser trazida sucinta, e embora
graficamente, através das sucessivas evoluções de
escolas filosóficas, e ilustrada com relatos de
demonstrações experimentais de poder oculto
atribuídas a vários taumaturgos. A alternância no
aparecimento e diminuição de fenômenos místicos,
assim como o seu deslocamento de forças postas da
espiritualidade e do animalismo. E, por último, ficará
patente que a atual torrente irresistível de fenômenos,
com seus variados efeitos sobre o pensamento e
sentimento humanos, fez da revivescência da pesquisa
Teosófica uma necessidade indispensável. O único
problema a resolver é de ordem prática, de como melhor
promover o necessário estudo e dar ao movimento
espírita um necessário impulso para cima. É um bom
começo tornar as capacidades, inerentes e ocultas do
homem interno e vivente, melhor compreendidas. Ao
aceitarmos a proposição científica de que Akasha
(atração) e Prshu (repulsão) são leis da Natureza, não
pode haver comunicação ou relações entre Almas
limpas e sujas - encarnadas ou desencarnadas, e por
tanto, noventa e nove por cento das supostas
comunicações espíritas são, prima fascie, falsas. Aqui
está um grande fato para discutir, como podeis verificar
e que não pode ser exposto em termos muito simples.
Assim, embora se pudesse fazer uma melhor seleção
para o Theosophist, de relatos ilustrativos, como, por
exemplo, casos históricos bem autênticos, todavia, foi
correta a idéia de voltar as mentes dos fenomenalistas
para canais mais úteis e sugestivos, distantes do mero
dogmatismo mediúnico.

O que quis dizer com "Empresa Desesperada" foi que,


quando se considera a magnitude da tarefa a ser
empreendida pelos nossos voluntários teosóficos, e
especialmente a quantidade de forças em oposição, já
organizadas, e outras prontas a se organizarem, bem
podemos compará-la com os esforços desesperados
contra condições esmagadoras que o verdadeiro
soldado se ufana em tentar. Fizestes bem em ver a
"grande finalidade" nos primórdios da S. T. Naturalmente
se tivéssemos empreendido fundá-la e dirigí-la
encarregado em própria persona, é muito provável que
teria havido mais êxito e não tantos erros cometidos,
mas não podíamos fazê-lo nem era esse o plano.
Nossos dois agentes foram encarregados da tarefa, com
liberdade - como é o vosso caso agora - de fazer o
melhor que eles pudessem sob as circunstâncias. E
muito já foi feito. Debaixo da superfície do Espiritismo,
há uma corrente que está abrindo um amplo canal para
si mesma. Quando ela reaparecer acima do terreno os
seus efeitos serão evidentes. Muitas mentes como a
vossa já estão considerando a questão da lei oculta -
imposta à opinião pública por essa agitação. Como vós,
essas pessoas não estão satisfeitas com o que se
conseguiu até agora e clamam por algo melhor. Que isso
vos encoraje.

Não é inteiramente certo que se tivéssemos tais mentes


na Sociedade, elas estariam "sob condições mais
favoráveis para serem observadas" por nós. Digamos
melhor, que pelo ato de unir outros simpatizantes nesta
organização, eles são estimulados a se esforçar e
incitados reciprocamente para investigar. A Unidade
sempre dá força: e como o Ocultismo, em nossos dias,
se assemelha a "uma Empresa Desesperada", a união
e cooperação são indispensáveis. A união, na verdade,
implica na concentração de força vital e magnética
contra as correntes hostis do preconceito e fanatismo.

Escrevi umas poucas palavras na carta do jovem


maratha, somente para vos mostrar que ele estava
obedecendo ordens ao vos expor as suas opiniões.
Aparte a sua exagerada idéia acerca de taxas elevadas,
a sua carta é, de certo modo, digna de consideração.
Pois Damodar é um hindú - e conhece a mente do seu
povo em Bombaim; contudo, os hindús de Bombaim são,
de modo geral, um grupo menos espiritual como
qualquer outro em toda a Índia. Mas, jovem devoto e
entusiasta como ele é, se precipitou atrás da nebulosa
forma de suas próprias idéias mesmo antes que eu
pudesse dar-lhes a direção correta. Todos os
pensadores rápidos são difíceis de se impressionar -
nem relance eles partem "a toda velocidade" antes de
terem entendido o que desejamos que pensem. Esse é
o nosso problema com Madame B. e O. A falha
freqüente deste último em implementar as sugestões
que, às vezes, recebe - mesmo escritas, é quase
completamente devida à sua própria mentalidade ativa,
impedindo-o que distinga nossas impressões de suas
próprias concepções. E a dificuldade da Sra. B. (além
das suas doenças físicas) é que ela, às vezes, ouve
duas ou mais de nossas vozes ao mesmo tempo; por
exemplo, esta manhã, quando o "Deserdado", a quem
deixei espaço para que escrevesse uma nota, estava
falando com ela sobre um assunto importante, ela
prestou atenção a um dos nossos que passava por
Bombaim, vindo de Chipre, em seu caminho para o Tibet
- o que misturou ambas as comunicações numa
intrincada confusão. As mulheres carecem do poder de
concentração.

E agora, meu bom amigo e colaborador - uma


irremediável falta de papel me obriga a terminar. Adeus,
até o vosso retorno, a menos que estejas contente em
passar, como até agora, a nossa correspondência, pelo
canal de costume. Nenhum de nós preferiria isso. Mas,
até que seja dada autorização para mudá-lo, deve ser
mesmo assim. Se ela viesse a morrer hoje - e ela está
realmente doente - não receberíeis mais do que duas,
ou no máximo, três cartas de mim (através de Damodar
ou Olcott, ou através de intermediários de emergência já
estabelecidos e então, aquele reservatório de força
estando exaurido - a nossa despedida seria FINAL.
Entretanto, não me anteciparei; os eventos poderiam
nos unir em alguma pare na Europa. Mas, encontremo-
nos ou não, durante a nossa viagem, ficai seguro de que
os meus bons desejos pessoais o acompanharão. Caso
necessiteis, vez ou outra, do auxílio de um pensamento
feliz, à medida que o vosso trabalho progrida, ele será
sem dúvida osmosisado na vossa cabeça - se o xerez18
não impedir o caminho, como já aconteceu em
Allahabad.

Que o "mar profundo"seja tranqüilo convosco e vossa


família.

Sempre seu,

K.H.

P.S. O "amigo" de quem Lord Lindsay fala, em sua carta


para vós, é, desculpe-me dizer, um verdadeiro gambá
fétido, que procurou perfumar-se com essência de
flores, em sua presença durante os amáveis dias da
amizade, evitando ser reconhecido pelo seu odor
natural. É Home - o médium, um convertido ao
Catolicismo Romano, depois ao Protestantismo, e
finalmente à Igreja Grega. Ele é o mais amargo e cruel
inimigo que O. e Mad. B. têm, embora ele nunca tenha
encontrado nenhum dos dois. Por um certo tempo ele
conseguiu envenenar a mente do Lord, predispondo-o
contra eles. Não gosto de dizer nada por detrás de um
homem, porque parece calúnia. Mas, tendo em vista
futuros acontecimentos sinto meu dever advertir-vos,
pois essa pessoa é um homem excepcionalmente mau -
odiado pelos Espíritas e médiuns tanto quanto é
desprezado por aqueles que o conheceram. O vosso
trabalho é algo que se choca diretamente com o dele.
Embora seja um pobre aleijado enfermo, um paralítico
infeliz, as suas faculdades mentais estão frescas e
ativas, como nunca, para intrigar. Não é um homem que
se detenha ante uma caluniosa acusação, por mais vil e
mentirosa que seja. Sendo assim, tenhais cuidado.

K.H.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas


AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 009

De K. H., a primeira carta recebida, ao voltar à Índia, no


dia 8 de Julho de 1881, enquanto permaneceu com
Madame B. em Bombaim por alguns dias.

Esta carta marca o começo dos verdadeiros


ensinamentos do Mahatma, embora uma boa parte
deles esteja relacionado com um proeminente membro
inglês da S.T.

Sinnett indica 8 de julho como a data de recebimento


desta carta. Entretanto, no Suplemento do The
Theosophist, de agosto de 1881, Tookaram Taya,
secretário da S.T. em Bombaim, em um relatório datado
de 7 de julho, afirma que Sinnett chegou em Bombaim
em 4 de julho, e no anoitecer do dia seguinte, deu uma
palestra, na qual ele dizia claramente que naquela
mesma manhã, depois do lanche, estando sentado a
uma mesa na plena luz do dia, ele recebeu uma carta de
seu "ilustre amigo Koot Hoomi".

A descrição que Sinnett dá de como ela foi recebida é


extremamente interessante. Encontra-se no "O Mundo
Oculto" (pp.154-155, 9ª. edição). Não está na primeira
porque esta ocorreu antes; foi incluída na segunda
edição sob o título "Fenômenos Ocultos Posteriores". Na
nona edição, o capítulo tem por título "Conclusão".

Sinnett havia escrito para o Mahatma antes de deixar


Londres e estava um pouco desapontado de que
nenhuma resposta o aguardava em Bombaim.
Entretanto, na manhã seguinte à sua chegada, quando
ele e H.P.B. tinham terminado o lanche, ele estava
sentado, conversando com ela, quando a carta chegou.
Esta é a sua descrição:

Estávamos sentados em lugares diferentes de uma


mesa quadrada grande no meio da sala. Subitamente,
em cima da mesa, diante de mim, mas do meu lado
direito, estando Madame Blavatsky à minha esquerda,
caiu uma carta volumosa. Caiu "do nada", por assim
dizer; foi materializada, ou reintegrada no ar diante de
meus olhos. Era a resposta esperada de Koot Hoomi -
uma carta profundamente interessante, parcialmente
relativa a assuntos particulares e respostas a questões
minhas, e parcialmente relativa a revelações extensas
de filosofia oculta, embora até então obscuras, o
primeiro esboço dela que eu recebia.

Na página seguinte ele comenta que, por algum tempo,


para ele, este foi o único fenômeno, porque "As
autoridades Superiores do mundo oculto, na verdade
tinham estabelecido na ocasião uma proibição muito
mais estrita para essas manifestações..." O efeito dos
acontecimentos em Simla no verão anterior, observou,
"Não foi considerado como tendo sido satisfatório no
conjunto. Muita discussão amarga e sentimentos
adversos se seguiram, e eu imagino que isto foi visto
como superando, em seu efeito prejudicial no progresso
do movimento teosófico, os bons efeitos dos fenômenos
sobre as poucas pessoas que os apreciavam". Outro
ponto a respeito desta carta é que - como no caso de
outras - iria ter repercussões. Neste caso, estas eram
devidas à indiscrição de Sinnett, ou insensatez, ao fazer
inúmeros resumos dela para Staiton Moses, a quem o
Mahatma questiona confidencial e extensamente nesta
carta.

Staiton Moses (1839-1892) era um proeminente


membro do grupo espírita na Inglaterra. Ele tinha um
guia chamado "Imperator" (geralmente designado nas
cartas do Mahatma como +). Há muita conjectura quanto
à identidade deste controle e se insinua que em uma
ocasião era um dos Irmãos e em outras, alguma outra
entidade, e também, talvez, o Eu Superior de Moses.
Staiton Moses usava freqüentemente o pseudônimo
literário de M.A. Oxon.

Bem vindo, meu bom amigo e brilhante autor, bem vindo


por terdes voltado! Com a vossa carta em mãos, estou
feliz ao ver que a vossa experiência pessoal com os
"Eleitos" de Londres teve tanto sucesso. Mas prevejo
que vos convertereis, agora mais do que nunca, num
ponto de interrogação encarnado. Cuidado! Caso
aqueles que detêm o poder considerarem prematuras as
vossas perguntas, em vez de receberdes as minhas
respostas em sua prístina pureza, as vereis
transformadas num monte de trivialidades. Fui muito
longe a ponto de sentir uma mão na minha garganta
quando ultrapassava os limites de temas proibidos; o
bastante para não evitar sentir-me tão desconfortável
como um verme recém-nascido, diante da nossa rocha
das idades, Meu Chohan. Todos devemos estar com os
olhos vendados antes que possamos passar adiante;
não sendo assim temos que permanecer de fora.

E agora, o que dizer acerca do livro? Le quart d'heure de


Rabelais está soando e encontra-me, se não
completamente insolvente, quase tremendo com a idéia
de que o primeiro pagamento oferecido pode estar
abaixo do esperado; e que os meus pobres recursos
sejam inadequados para o preço exigido; e que eu
mesmo tenha sido arrastado pro bono publico, a
transgredir além do terrível "até aqui chegaras, e não
mais além", e afundando-me na irada onda do Chohan
com a tinta azul e tudo! Espero sinceramente que não
me façais perder a "minha situação".

Mas deixemos disso. Pois eu tenho uma pálida idéia de


que vós estareis muito impaciente comigo. Tenho uma
opinião muito clara de que isso não deve ocorrer. É uma
das infortunadas necessidades da vida, que as
exigências imperiosa obrigam muitas vezes que
tenhamos aparentemente de ignorar os clamores da
amizade, não para violar a palavra empenhada, mas
para desembaraçar-se e colocar de lado por algum
tempo as expectativas demasiado impacientes dos
neófitos como sendo de menor importância. Uma
necessidade dessa, que chamo de imperiosa, é a
necessidade do vosso futuro bem estar, a realização do
sonho concebido por vós em companhia de S. M.4 Esse
sonho - vamos chamá-lo de visão? - foi que, vós e a Sra.
K.5 (porque esquecer a Sociedade Teosófica?) - "são
todos partes de um grande plano para a manifestação
da filosofia oculta ao mundo". Sim; o tempo deve chegar
e não está distante, quando todos vós compreenderão
corretamente as fases aparentemente contraditórias de
tais manifestações; forçados pela evidência à reconciliá-
los. Não é esse o caso agora, entretanto recordai: é
porque estamos jogando uma partida arriscada e estão
em jogo almas humanas, que vos peço que mantenhais
a calma. Tendo em mente que eu tenho de cuidar da
vossa "Alma" e também da minha, eu proponho fazer
isso a qualquer custo, mesmo com o risco de não ser
compreendido por vós, assim como fui com o Sr. Hume.
O trabalho se torna ainda mais difícil porque sou um
trabalhador solitário no campo e assim enquanto
fracasse em provar aos meus superiores que vós, pelo
menos, tendes intenções sérias, e que estais
sinceramente disposto a prosseguir. À medida que me
recusam um auxílio superior, assim também vós não
encontrareis facilmente auxílio nessa Sociedade em que
atuais e tratais de elevar. Nem encontrareis muita
alegria, por um certo tempo, naqueles diretamente
interessados. Nossa velha senhora está fraca e seus
nervos estão tão tensos como as cordas de um violino.
O seu cérebro está exausto. H. S. O. está muito distante
- em exílio - lutando para retomar o caminho de volta à
salvação - comprometido mais do que possais imaginar
pelas suas indiscrições de Simla - e fundando escolas
teosóficas. O Sr. Hume - que certa vez prometeu se
tornar um lutador campeão na Batalha da Luz contra as
Trevas - agora preserva uma espécie de neutralidade
beligerante, surpreendente de se ver. Tendo feito a
maravilhosa descoberta de que somos um corpo de
jesuítas anti-diluvianos ou fósseis - que se coroam a si
mesmos com floreios de oratória, se deteve tão apenas
para nos acusar de interceptação de suas cartas para H.
P. B.! Entretanto, ele encontra algum conforto ao pensar
"que divertida controvérsia sustentará em alguma outra
parte com a entidade representada pelo nome de Koot
Hoomi", possivelmente na Sociedade Ornitológica anjo
Lineano. Na verdade, o nosso outrora mútuo amigo,
muito intelectual, tem à sua disposição uma enxurrada
de palavras que seriam suficientes para fazer flutuar um
grande barco cheio de sofismas de oratória. Entretanto,
eu o respeito... E quanto ao próximo? C.C. Massey? Mas
ele é o pai desventurado de meia dúzia de pirralhos
ilegítimos. Ele é um amigo devotado, muito agradável;
um profundo místico; um homem generoso de mente
nobre, um cavalheiro, com dizem, sobre todos os
aspectos; testado como o ouro; tem todos os requisitos
para um estudante de ocultismo, mas nenhum para ser
um adepto, meu bom amigo. Seja como for, o seu
segredo é peculiar, e não tem o direito de divulgá-lo. O
Dr. Wyld? - um Cristão até a medula. Hood? - uma doce
natureza, como dizeis; um sonhador, e um idealista em
assuntos místicos, todavia - não é um trabalhador. S.
Moses? Ah!! aqui estamos. S. M. quase conseguiu
afundar a arca teosófica que pusemos a flutuar há três
anos atrás; e ele tudo fará para fazer isso novamente,
apesar do nosso Imperator. Duvidais? Escutai.

Ele possui uma natureza estranha e rara. Suas energias


psíquicas ocultas são tremendas; mas elas estão
adormecidas, recolhidas e desconhecidas para ele,
quando, há cerca de 8 anos, aproximadamente,
Imperator colocou seus olhos nele, e incitou o seu
espírito a que se elevasse. Desde então, uma nova vida
o possui, uma dupla existência, mas a sua natureza não
podia ser mudada. Educado como um estudante
teológico, sua mente estava devorada por dúvidas.
Anteriormente, dirigiu-se para o monte Athos, onde,
enclausurando-se num mosteiro, ele estudou a religião
Grega Oriental, e foi lá que ele primeiro foi observado
pelo seu "Espírito Guia" (!!) Naturalmente, a casuística
Grega fracassou na solução das suas dúvidas, e ele
correu para Roma - e o papismo tão pouco o satisfez.
Daí peregrinou para a Alemanha com os mesmos
resultados negativos. Abandonando a árida teologia
Cristã, não abandonou o seu presumido fundador. Com
tudo o mais, ele necessitava um ideal e o encontrou
neste último. Para ele, Jesus é uma realidade, um
Espírito outrora encarnado e agora desencarnado, e
quem "forneceu-lhe uma evidência de sua identidade
pessoal", pensa ele, num grau que não é menor do que
fizeram outros Espíritos"- Imperator entre eles. Não
obstante, nem as religiões de Jesus, nem mesmo as
suas palavras, como estão registradas na Bíblia e S.M.
acredita serem autênticas - são plenamente aceitas por
esse seu irrequieto Espírito. Imperator, a quem coube a
mesma sorte, não foi diferente. A sua mente é muito
positiva. Uma vez impressa, se torna mais fácil apagar
caracteres impressos sobre o titânio do que as
impressões feitas no seu cérebro.

Sempre que está sob a influência do Imperator, ele está


todo desperto para as realidades do Ocultismo, e para a
superioridade da nossa Ciência em relação ao
Espiritismo. Mas, tão logo é deixado só e sob a
perniciosa orientação daqueles que ele firmemente
acredita ter identificado com almas desencarnadas -
tudo se torne novamente em confusão! Sua mente não
aceita sugestões, nem raciocínios, a não ser os seus, e
esses tendem todos para teorias Espíritas. Quando as
antigas algemas teológicas caíram, ele se imaginou
como sendo um homem livre. Alguns meses mais tarde,
ele se tornou num humilde escravo e instrumento para
os "Espíritos"! Somente quando fica face a face com o
seu Eu interno é que ele compreende que há algo mais
elevado e mais nobre do que o papaguear dos pseudo
Espíritos. Foi num desses momentos que ele ouviu, pela
primeira vez, a voz de Imperator, e foi, como ele coloca:
"como se fosse a voz de Deus falando para o seu Eu
interno." Essa voz tornou-se familiar para ele durante
anos, e, no entanto, com freqüência não lhe presta
atenção. Uma simples pergunta: se Imperator for o que
ele acredita que seja, mais ainda, o que ele sabe o que
é, raciocina - não teria feito que a vontade de S.M.
ficasse completamente subserviente à ele nessa
ocasião? Somente os adeptos, isto é, os espíritos
encarnados - estão proibidos pelas nossas sábias e
intransgressíveis leis a sujeitar completamente para eles
uma outra vontade mais fraca, - a de um homem que
nasceu livre. Este último modo de procedimento é o
favorito adotado pelos "Irmãos das Sombras", os
Feiticeiros, os Fantasmas Elementais e0, como uma
isolada exceção - pelos Espíritos Planetários mais
elevados, aqueles que não mais erram. Mas esses
somente aparecem na Terra na origem de cada nova
espécie humana; na junção, e no encerramento dos
extremos do grande ciclo. E eles permanecem com o
homem não mais do que o tempo necessário para que
as verdades eternas, que eles ensinam, possam ser
impressas tão nitidamente nas mentes plásticas das
novas raças a fim de que não sejam perdidas ou
inteiramente esquecidas nas futuras eras pelas
vindouras gerações. A missão do Espírito Planetário é
tão somente fazer soar a NOTA CHAVE DA VERDADE.
Uma vez que ele dirigiu a vibração dessa última para
seguir o seu curso sem interrupções, ao longo do
encadeamento daquela raça, até o fim do ciclo - o
morador da mais elevada esfera desabitada desaparece
da superfície do nosso planeta - até a seguinte
"ressurreição da carne". As vibrações da Verdade
Primitiva são o que os vossos filósofos chamam de
"idéias inatas".

Imperator, então, tem repetidamente lhe dito que "só no


Ocultismo ele deveria buscar, e ali encontraria uma fase
da verdade ainda não conhecida por ele." Mas isso não
impediu, de modo algum, que S. M. voltasse as suas
costas para o Ocultismo, sempre que uma teoria deste
se chocasse com as suas próprias idéias espíritas
preconcebidas. Para ele, a mediunidade aparece como
a Carta Magna da liberdade da sua Alma, como a
ressurreição da morte espiritual. Foi-lhe permitido
desfrutá-la somente à medida que fosse necessário para
a confirmação de sua fé: com a promessa de que o
anormal abriria espaço para o normal; ordenado para se
preparar para o momento, quando o Eu dentro dele se
tornar consciente da sua existência espiritual
independente, agir e falar face à face com o seu
Instrutor, e levar a sua vida nas Esferas Espirituais,
normalmente, e sem nenhuma mediunidade interna ou
externa. E, todavia, uma vez consciente do que ele
denomina "ação externa do Espírito", já não mais
distinguiu entre a alucinação e a verdade, entre o falso
e o real, confundindo, às vezes, Elementais com
Elementares1, espíritos encarnados com os
desencarnados, ainda que a sua "voz de Deus" tivesse
falado, com freqüência, e advertido contra "aqueles
espíritos que pairam em cima da esfera da Terra".
Apesar de tudo, crê firmemente ter agido
invariavelmente sob a direção de Imperator, e que os
espíritos que até ele chegaram, vieram com a permissão
do seu "guia". Nesse caso, H. P. B. esteve ali com o
consentimento de Imperator? E como reconciliais as
seguintes contradições. Desde 1876, agindo sob ordens
diretas, ela tentou despertá-lo para a realidade que
estava ao seu redor e nele. Que ela deva ter atuado de
acordo com ou contra a vontade de Imperator, ele deve
saber, pois nesse último caso, ela poderia ter se
vangloriado de ser mais forte, mais poderosa do que o
seu "guia", que nunca protestou contra essa intrusão. E
agora, o que acontece? Escrevendo para ela da ilha de
Wight em 1876 a respeito de uma visão que teve e
perdurou por 48 horas consecutivas durante a qual
caminhou, falou como habitualmente, mas da qual não
guarda a menor lembrança de nada externo, ele pede a
ela que diga se foi uma visão ou uma alucinação. Porque
não perguntou a + I-r? "Podereis responder porque
estáveis ali" diz ele... "Vós mesmo mudáveis - todavia
vós mesmo - se tendes um Eu... Suponho que tendes,
mas nisso não intervenho"... Em outra ocasião ele a viu
em sua própria biblioteca, olhando para ele,
aproximando-se e fazendo alguns sinais maçônicos da
Loja que ele conhece. Ele admite que "a viu tão
claramente com ele viu Massey - que estava lá". Ele a
viu em várias outras ocasiões, e muitas vezes, sabendo
que era H. P. B., não podia reconhecê-la. "Vós pareceis
para mim tão diferente de vosso aspecto, como de
vossas cartas, as atitudes mentais tão diversas, que
parece muito concebível, como me contam com
autoridade, que sois um feixe de Entidades... Eu tenho
fé absoluta em vós." Em cada carta sua ele clamava por
um "Irmão vivo", mas objetava fortemente a afirmação
dela que já houvesse um, cuidando dele. Quando
auxiliado para se libertar do seu corpo muito material,
enquanto estava ausente dele durante horas, às vezes
dias, sua máquina vazia funcionava durante esse
período, dirigida à distância por uma vivente influência
externa; tão cedo voltava, ele começava a trabalhar sob
firme impressão de ter sido, durante todo esse tempo, o
veículo para uma outra inteligência, um Espírito
desencarnado, não encarnado, sem que a verdade, nem
uma só vez cruzasse a sua mente. Então escreveu a ela:
"Imperator contradiz a sua idéia acerca da mediunidade.
Ele diz que não deve haver um real antagonismo entre
o médium e o adepto." Tivesse ele usado a palavra
"Vidente" em vez de "médium", a idéia teria sido
expressa mais corretamente, pois um homem raramente
se torna um adepto sem ter nascido como Vidente
natural. Outra questão: em setembro de 1875, ele não
conhecia nada sobre os Irmãos da Sombra - os nossos
mais potenciais Opositores. Naquele ano perguntou
mesmo, a ela, se Bulwer havia comido costeletas de
porco mal cozidas e estava sonhando, quando ele
descreveu "o tenebroso Morador do Umbral". "Esteja
pronto", ela respondeu - "dentro de doze meses tendes
que fazer face e lutar com eles." Em outubro de 1876
eles iniciaram o seu trabalho sobre ele. "Estou lutando",
ele escreveu, "uma batalha corpo a corpo com todas as
legiões do Demônio durante as últimas três semanas.
Minhas noites se tornaram tenebrosas com os seus
tormentos, tentações e sugestões sujas. Eu vos vejo a
minha volta, olhando ferozmente para mim tagarelando,
uivando, arreganhando as suas faces! Toda forma de
sugestão obscena, de desconcertante dúvida, e de um
louco e arrepiante medo se abate sobre mim... Agora
posso compreender o Morador de Zanoni... Mas não me
deixei abater... e suas tentações são mais fracas, a sua
presença menos próxima, e o horror é menor..."

Uma noite ela se prosternou diante de seu Superior, um


dos poucos que eles temem, implorando-lhe que
estendesse a sua mão através do oceano para que não
deixasse S. M. morrer, e a Sociedade Teosófica
perdesse um dos seus melhores. "Ele tem que ser
testado" foi a resposta. Ele imagina que +Imper. tenha
enviado os tentadores porque ele, S. M., era um desses
Tomés que necessitam ver; ele não acreditaria que não
pudesse evitar a vinda deles. Cuidou dele, mas não
podia afungentá-los a não ser que a vítima, o próprio
neófito, provasse ser mais forte. Mas será que esses
demônios humanos, aliados com os Elementares,
preparam-no para uma vida nova, como ele pensou que
o fariam? As corporificações dessas influências
adversas que acossam o Eu interno, lutando para se
libertar e progredir, nunca teriam retornado, tivesse ele
conseguido conquistá-las, afirmando a sua própria
VONTADE independente, abandonando a sua
mediunidade, a sua vontade passiva. Entretanto,
retornaram.

Dizeis que + - "Imperator - certamente não é a sua alma


astral (a de S. M. ), e que, seguramente, ele não é
proveniente de um mundo inferior ao nosso - não é um
Espírito ligado à Terra". Ninguém disse que ele era algo
dessa espécie. H. P. B. nunca vos disse que ele era a
alma astral de S. M., mas o que ele inúmeras vezes
confundiu com + era o seu próprio Eu superior, seu
atman divino, não o linga Sarira ou alma astral, ou o
Karma rupa, o independente doppelganger. De novo +
não pode contradizer a si mesmo; + não pode ser
ignorante da verdade, inúmeras vezes desfigurada por
S. M.; + não pode pregar as Ciências Ocultas e ao
mesmo tempo defender a mediunidade, nem mesmo
naquela forma mais elevada, descrita por seu pupilo. A
mediunidade é anormal. Quando em desenvolvimento
posterior o anormal dá lugar ao natural, os controles são
rechaçados e não se requer mais a obediência passiva,
então o médium aprende a usar a sua vontade, a
exercitar o seu próprio poder, e se torna um adepto. É
um processo de desenvolvimento, e o neófito tem que ir
até o fim. Enquanto ele for sujeito a transes ocasionais,
ele não pode ser um adepto. S. M. passa dois terços da
sua vida em transe.

Quanto á vossa pergunta: Imperator é um "Espírito


Planetário" e "pode um Espírito Planetário ser
humanamente encarnado", primeiramente direi que não
pode haver nenhum Espírito Planetário que não tenha
sido outrora material ou o que chamais humano. Quando
o nosso grande Buda - o patrono de todos os Adeptos,
o reformador e codificador do sistema oculto atingiu
primeiro o Nirvana na terra, ele se tornou um Espírito
Planetário; isto é - o seu espírito podia por sua vez e ao
mesmo tempo percorrer com plena consciência os
espaços interestelares, e continuar, por sua própria
vontade na Terra, em seu corpo original e individual.
Pois o Eu divino desembaraçou-se tão completamente
da matéria, que ele podia criar pela vontade um
substituto interno para si, e deixando-o na forma
humana, durante dias, semanas, às vezes anos, não
afetando de nenhum modo, por essa mudança, nem o
princípio vital ou a mente física do seu corpo. A
propósito, essa é a mais elevada forma de adeptado que
o homem pode esperar no nosso planeta. Mas é tão raro
como os próprios Budas, e o último Khobilgan que o
atingiu foi Sang-Ka-Pa de Kokonor (XIV século), o
reformador do Lamaísmo, tanto vulgar como esotérico.
Muitos são aqueles "que abrem caminho quebrando a
casca do ovo"; poucos os que uma vez fora, são
capazes de exercer o seu Nirira namastaka plenamente,
quando estão por completo fora do corpo. A vida
Consciente em Espírito é tão difícil para algumas
naturezas, como o nadar para alguns corpos. Embora a
estrutura humana é a mais leve em sua massa que a
água, e que toda pessoa nasceu com a faculdade, tão
poucos desenvolvem em si mesmos a arte de manter-se
flutuando, que a morte por afogamento é o mais
freqüente dos acidentes. O Espírito Planetário dessa
espécie (semelhante ao Buda) pode passar à vontade
em outros corpos de matéria mais ou menos etérica,
habitando outras regiões do Universo. Há muitas ordens
e graus, mas não há uma ordem separada e
eternamente constituída de Espíritos Planetários. Se o
Imperator é um "planetário" encarnado ou
desencarnado, ou se é um Adepto com ou sem corpo
físico, não tenho a liberdade de dizer; como tão pouco
ele a tem para dizer a S. M. quem eu sou ou possa ser,
ou mesmo quem é H. P. B. Se ele próprio escolhe ficar
silencioso nesse assunto, S. M. não tem o direito de me
perguntar. Mas então o nosso amigo S. M. deveria
conhecer. Pelo contrário: ele crê firmemente que sabe.
Pois, no relacionamento com esse personagem, chegou
o momento em que, não satisfeito com as afirmações de
+, ou contente de respeitar seus desejos de que ele,
Imperator & Co permanecessem impessoais e
desconhecidos, salvo por seus supostos títulos, S. M.
lutava com ele, como o fez Jacob, durante meses, sobre
a identidade desses espíritos. Ele era o típico ardil
Bíblico mais uma vez. "Te suplico que digas o teu nome"
- e assim foi contestado: "Por que razão perguntas o
meu nome?" o que é um nome? - ele permitiu que S. M.
o rotulasse como uma maleta. E agora S. M. está
tranqüilo, porque "viu Deus face à face"; quem após
lutar, e vendo que ele não prevalecia, disse: "deixai-me
ir" e foi forçado a aceitar as condições oferecidas por
Jacob S. Moses. Eu firmemente vos aconselho, para a
vossa própria informação, a fazer essa pergunta ao
vosso amigo. Por que ele estaria "esperando
ansiosamente" minha resposta, desde que ele conhece
tudo acerca de +? Não lhe contou esse "Espírito", certo
dia, uma história, uma estranha história, algo que não
pode divulgar acerca de si mesmo e proibiu-o mesmo de
mencioná-la? O que mais ele deseja? O fato de que ele
busca saber por meu intermédio a verdadeira natureza
de +, é uma prova bem conclusiva de que ele não está
certo da sua identidade, como ele acredita que seja, ou
melhor, que preferiria fazer crer que é. Ou é essa
questão um subterfúgio - Qual?

Posso vos responder, o que disse a G. H. Fechner certo


dia, quando ele queria saber o ponto de vista hindú a
respeito do que escrevera - "Estás certo... cada
diamante, cada cristal, cada planta e estrela tem a sua
alma individual, além do homem e do animal..." e que
"há uma hierarquia de almas, das formas mais inferiores
de matéria até a Alma do Mundo...; mas estais
enganado, quando acrescenta às palavras acima a
certeza de que os espíritos dos que partem mantêm uma
comunicação psíquica direta com as Almas que estão
ainda ligadas a um corpo humano, porque não é assim".
A posição relativa dos mundos habitados em nosso
Sistema Solar exclui, por si só, tal possibilidade. Porque,
confio que abandonastes a estranha idéia - resultado
natural da primitiva educação Cristã - de que possa
haver possivelmente inteligências humanas habitando
regiões puramente espirituais? Então entendereis
prontamente a falácia dos cristãos - que queixariam
almas imateriais em um inferno físico material - assim
como o erro dos espíritas mais educados, que consolam
a si mesmos com o pensamento de que ninguém mais,
a não ser os moradores dos dois mundos imediatamente
inter-ligados com o nosso, podem possivelmente
comunicar-se com eles? Conquanto etéreos e
purificados da matéria densa eles possam ser, os
Espíritos puros estão ainda sujeitos as leis físicas e
universais da matéria. Eles não podem, ainda que o
quisessem, atravessar o abismo que separa o mundo
deles do nosso. Eles podem ser visitados em Espírito, o
seu Espírito não pode descer e nos alcançar. Eles
atraem, mas não podem ser atraídos, a sua polaridade
Espiritual é uma dificuldade insuperável para que isso
ocorra. (a propósito não deveis confiar em Isis
literalmente. O livro é apenas uma tentativa para desviar
a atenção dos Espíritas, de suas idéias preconcebidas,
para o verdadeiro estado das coisas. A autora sugeriu e
indicou a verdadeira direção ao dizer o que as coisas
não são, e não o que elas são. Apesar da correção das
provas, alguns poucos enganos sérios escaparam,
como o da página 1, capítulo I, volume I, onde a divina
Essência é considerada como emanando de Adão em
vez do contrário).

Já que começamos a tratar desse assunto, eu tentarei


vos explicar, ainda mais claramente, onde está a
impossibilidade. Tereis assim, a vossa resposta com
relação a ambos, os Espíritos Planetários e - os
"espíritos" das sessões espíritas.

O ciclo das existências inteligentes começa nos mais


elevados mundos ou planetas - a expressão "mais
elevados" significa aqui o mais perfeito espiritualmente.
Evoluindo da matéria cósmica - que é akasa o meio
plástico primordial, não o secundário ou éter da Ciência,
suspeitado instintivamente, porém não comprovado
como o resto - o homem primeiro evolui dessa matéria
no seu estado mais sublimado, aparecendo no limiar da
Eternidade como uma Entidade perfeitamente Etérea -
não a Entidade Espiritual, digamos - como um Espírito
Planetário. Ele se acha só a um passo da Essência
Universal e Espiritual do Mundo, o Anima Mundi dos
gregos, ou daquilo que humanidade, na sua decadência
espiritual, degradou num mítico Deus pessoal. Portanto,
nessa etapa, o Homem-Espírito é, no máximo, um Poder
ativo, um Princípio imutável, e portanto impensável (o
termo "imutável" sendo novamente usado aqui para
indicar esse estado de transição, a imutabilidade está
aqui aplicada somente ao princípio interno, que
desvanecerá e desaparecerá, tão pronto uma centelha
do material que existe nele, comece o seu trabalho
cíclico de Evolução e transformação). Na sua
subseqüente descida, e em proporção com o aumento
de matéria, ele afirmará cada vez mais a sua atividade.
Mas, o conjunto de mundos estelares (incluindo o nosso
próprio planeta) habitados por seres inteligentes, pode
ser comparado a uma órbita, ou melhor, a um epiciclóide
formado de anéis, como uma cadeia - mundos
interligados - a totalidade representando um imaginário
e infindável anel, ou círculo. O progresso do homem
através do conjunto - desde o seu começo até os pontos
de encerramento, que se encontram no ponto mais alto
da sua circunferência - é o que chamamos de Maha yug
ou o Grande Ciclo, o Kuklos, cuja cabeça se perde em
uma coroa de Espírito Absoluto - e o ponto mais inferior
da circunferência na matéria absoluta, ou seja, no ponto
em que cessa a ação do princípio ativo: se usarmos um
termo mais familiar, chamaremos o Grande Ciclo, de
Macrocosmo, e as suas partes componentes ou o
mundo de estrelas inter-ligadas, de Microcosmos, então
se faz evidente a intenção dos ocultistas de representar
a cada um desses últimos como sendo a cópia perfeita
do primeiro. O Grande Ciclo é o protótipo dos ciclos
menores, e como tal, cada mundo estelar tem por sua
vez, o seu próprio ciclo de Evolução, que começa com
uma natureza mais pura e termina com uma natureza
mais grosseira e material. À medida que descem, cada
mundo apresenta-se, naturalmente, mais e mais
sombreado, tornando-se nos "antípodas" matéria
absoluta. Impulsionado pelo impulso cíclico irresistível o
Espírito Planetário tem que descer antes que possa
subir. Nesse caminho ele tem que passar através de
toda a escada da Evolução, não perdendo nenhum
degrau, detendo-se em cada mundo estelar como se
fosse numa estação; e além do ciclo inevitável desse
mundo particular e de cada respectivo mundo estelar,
deve realizar também o seu próprio "ciclo de vida", ou
seja, voltar e reencarnar tantas vezes quantas ele falhar
em completar a sua ronda de vida nele, quando morre
nele antes de alcançar a idade da razão como está
corretamente descrito em Isis. Até aqui, a idéia da Sra.
Kingsford de que o Ego humano está sendo
reencarnado em vários e sucessivos corpos humanos, é
a verdadeira. Quanto ao renascer em formas animais
após uma encarnação humana é o resultado da sua
maneira descuidada de expressar idéias e coisas. Outra
MULHER e voltaremos à mesma coisa. Pois, ao
confundir "alma e espírito", recusa distinguir entre os
egos animais e os egos espirituais, o Jiv-atma (ou Linga-
Sharir) e o Kama-Rupa (ou Atma-rupa)), as duas coisas
que são tão distintas como o corpo e a mente, como a
mente e o pensamento!

É isso o que ocorre. Após circular, digamos, ao longo do


arco do círculo, ao largo e em torno dele (a rotação diária
e anual da Terra é uma ilustração tão boa como qualquer
outra) quando o Homem-Espírito chega ao nosso
planeta, que é um dos mais inferiores, tendo perdido em
cada etapa algo de sua natureza etérea e aumentado a
sua natureza material, tanto o espírito como a matéria
tornaram-se bastante equilibrados nele. Mas então, ele
tem o ciclo da Terra para realizar; e, como no processo
de involução e evolução descendente, a matéria tende
sempre a sufocar o espírito, quando alcança o ponto
mais baixo da sua peregrinação, o outrora Espírito
Planetário puro se achará reduzido ao que a ciência
convencionou chamar de homem primitivo ou primordial
em meio a uma natureza tão primordial - falando
geologicamente, pois a natureza física, em sua carreira
cíclica mantém o ritmo com o homem fisiológico, bem
como com o homem espiritual. Nesse ponto a grande Lei
começa o seu trabalho de seleção. A matéria encontrada
inteiramente divorciada do espírito é jogada nos mundos
ainda mais inferiores - no sexto "PORTAL" ou "caminho
do renascimento" dos mundos vegetais e minerais, e
das formas animais primitivas. Dali, a matéria
desintegrada no laboratório da Natureza, prossegue
sem alma o regresso a sua Fonte Materna; enquanto os
Egos purificados de suas escórias, reiniciam o seu
progresso uma vez mais em frente. É aqui que os egos
retardatários perecem aos milhões. É o solene momento
da "sobrevivência dos mais aptos", a aniquilação dos
incapazes. É somente matéria (ou o homem material)
que é compelido, pelo seu próprio peso, a descer até o
fundo do "círculo da necessidade", onde ali assume a
forma animal; enquanto o vencedor da corrida através
dos mundos - o Ego Espiritual, ascenderá de estrela à
estrela, de um mundo a outro, circulando para frente a
fim de se tornar uma vez mais um Espírito Planetário
puro, e então, mais alto ainda, finalmente alcança o seu
ponto inicial de partida, e dele - mergulhar no
MISTÉRIO. Nenhum adepto jamais penetrou além do
véu da matéria Cósmica primitiva. A mais elevada e
perfeita visão está limitada ao universo de Forma e
Matéria.

Mas, a minha explicação não termina aqui. Quereis


saber porque é considerado supremamente difícil,
senão, completamente impossível para os puros
Espíritos desencarnados se comunicarem com os
homens através de médiuns ou Fantasmasofia. Eu digo
que é:

a) Devido as atmosferas antagônicas, que envolvem


respectivamente esses mundos;

b) Por causa da completa diferença entre as condições


fisiológicas e espirituais; e

c) Porque essa cadeia de mundos sobre a qual eu vos


falei, não é somente um epiciclóide, mas uma órbita
elíptica de existências, tendo cada elipse, não um, mas
dois pontos - dois focos, que nunca podem se aproximar
um do outro; o homem, estando em um dos focos, e o
puro Espírito, no outro.

A isso podereis objetar. Eu nunca poderei auxiliar nem


mudar o fato, mais há ainda um outro e maior
impedimento. Assim como num rosário composto de
contas pretas e brancas, alternativamente, assim é
aquela concatenação de mundos composta de mundos
de CAUSAS e mundos de EFEITOS, o último - é o
resultado direto produzido pelo primeiro. Assim se torna
evidente que cada esfera de Causas - e a nossa Terra é
uma delas - está, não somente, inter-ligada, como
circundada por sua vizinha mais próxima, embora
separada, a esfera superior da Causalidade, - por uma
impenetrável atmosfera (no seu sentido espiritual) de
efeitos confinantes, e embora inter-ligados, nunca se
misturam entre si: pois uma é ativa, a outra, passiva, o
mundo das causas é positivo, o dos efeitos, negativo.
Essa resistência passiva pode ser vencida, mas sob
condições, das quais os vossos mais versados espíritas
não têm a menor idéia. Todo o movimento é, por assim
dizer, polar. É muito difícil, neste ponto, transmitir-vos a
minha idéia: mas irei até o fim. Tenho consciência do
meu fracasso em trazer diante de vós - essas verdades
que, para nós, são axiomáticas - em outra forma que não
seja um simples postulado lógico - no máximo, já que
elas só podem ser demonstradas de forma absoluta e
inequívoca apenas aos Videntes mais elevados. Mas
pelo menos lhe dei material para pensar.

As esferas intermediárias, sendo somente as sombras


projetadas dos Mundos das Causas - são negativadas
por esses últimos. Elas são os grandes pontos de
parada, as estações nas quais estão sendo gerados os
futuros Egos auto-conscientes, a prole auto engendrada
dos antigos e desencarnados Egos do nosso planeta.
Antes que o novo Fênix, renascido das cinzas dos seus
pais, possa voar mais alto, para um mundo melhor, mais
espiritual, e mais perfeito - ainda um mundo de matéria
- ele tem que passar através do processo de um novo
nascimento, digamos assim; e, como na nossa terra,
onde dois terços das crianças nascem mortas ou
morrem na infância, assim também ocorre no nosso
"mundo dos efeitos". Na Terra são os defeitos mentais e
fisiológicos dos progenitores, os seus pecados, que
recaem sobre a prole: neste mundo de sombras o novo
e ainda inconsciente Ego, cujo karma - mérito e demérito
- é o único que determinará o seu destino. Nesse mundo,
meu bom amigo, nós só encontramos máquinas ex-
humanas, inconscientes e autômatas, almas em seu
estado de transição, cujas faculdades adormecidas e
individualidade estão como borboleta em sua crisálida;
e os Espíritas pretendem que elas falem com sensatez!

Em certas ocasiões, são colhidas no vórtice da corrente


anormal "mediúnica", e se tornam os ecos inconscientes
de pensamentos e idéias cristalizadas em volta dos que
estão presentes. Toda mente positiva, mente bem
dirigida é capaz de neutralizar esses efeitos secundários
que ocorrem numa seção espírita. O mundo abaixo do
nosso é ainda pior. O primeiro, pelo menos, é inofensivo,
peca-se mais contra ele ao perturbá-lo, do que quando
peca. O último, por lhe ser possível a retenção da plena
consciência, pois são cem vezes mais materiais, são
positivamente perigosas. As noções de infernos e
purgatório, de paraísos e ressurreições são todas
caricaturas, ecos distorcidos da primitiva Verdade única,
ensinada à Humanidade na infância das suas raças por
cada Primeiro Mensageiro - o Espírito Planetário1, já
mencionado, e cuja reminiscência perdurou na memória
do homem como o Elu dos Caldeus, Osíris do Egito,
Vishnu, os primeiros Budas e assim por diante.

O mundo inferior dos efeitos é a esfera de tais


Pensamentos distorcidos; das mais sensuais
concepções e representações; de divindades
antropomórficas, projeções de seus criadores, as
mentes sensuais de pessoas que não superaram jamais
a sua bestialidade na Terra. Relembrando que os
pensamentos são coisas - têm tenacidade, coerência e
vida -, que eles são entidades reais - o resto se tornará
fácil. Desencarnado - o criador é atraído naturalmente
para a sua criação e criaturas; sugado pelo torvelinho de
sua própria criação... Mas tenho que fazer uma pausa,
pois volumes não seriam suficientes para explicar tudo
o que foi dito por mim nesta carta.

Com referência à vossa admiração de que as opiniões


dos três místicos "estão longe de serem idênticas", o que
esse fato prova? Se eles tivessem sido instruídos por
Espíritos sábios, puros e desencarnados mesmo
aqueles que tenham passado de nossa Terra ao plano
superior, não seriam, por acaso, idênticos os
ensinamentos? A questão que surge é: "Não podem os
Espíritos, assim como os homens diferirem em idéias?
"Pois bem, os seus ensinamentos, - sim, dos mais
elevados deles, pois eles são os "guias" dos três
maiores Videntes de Londres - não terão mais
autoridade do que a dos homens mortais? Mas, podem
eles pertencer à diferentes esferas? Bem; se em
diferentes esferas doutrinas contraditórias são
propostas, essas doutrinas não podem conter a
Verdade, pois a Verdade é Una, e não pode admitir
pontos de vistas diametralmente opostos; e os Espíritos
puros que a vêm como ela é, com véu da matéria
completamente retirado dela, não podem errar.22
Agora, se admitimos que diferentes aspectos ou porções
da Verdade Total sejam visíveis para diferentes agentes
ou inteligências, cada qual sob várias condições, como,
por exemplo, várias partes de uma paisagem
descortinam-se para várias pessoas, em distâncias e
pontos de observação diferentes - se admitimos o fato
de vários e diferentes agentes (Irmãos individualmente,
por exemplo), tentando desenvolver os Egos de
diferentes indivíduos, sem sujeitar inteiramente às suas
vontades às deles (o que é proibido), mas que
aproveitam as suas idiossincrasias físicas, morais e
intelectuais; se acrescentarmos a isso as incontáveis
influências cósmicas que distorcem e defletem todos os
esforços para alcançar finalidades definidas: se
lembramos, além disso, a hostilidade direta dos Irmãos
da Sombra, sempre atentos para confundir e enevoar o
cérebro do neófito, penso que não teremos dificuldade
para compreender como mesmo um definido avanço
espiritual pode, até certo ponto, levar diferentes
indivíduos a conclusões e teorias aparentemente
diferentes.

Tendo vos confessado que eu não tenho o direito de


interferir com os segredos e planos de Imperator, devo
dizer que até agora, entretanto, ele demonstrou ser o
mais sábio de nós. Caso o nosso procedimento tivesse
sido o mesmo, e se eu, por exemplo, tivesse permitido
que vós inferísseis e então acreditásseis (sem que eu
afirmasse algo de concreto) que eu era um "anjo
desencarnado" - um Espírito de essência electroidal
diáfana, procedente da zona super-estelar
fantasmagórica - nós seriamos ambos mais felizes. Vós
não teríeis aborrecido a vossa cabeça pensando "se
essa classe de agentes serão sempre necessários", e
eu não me acharia diante da desagradável necessidade
de ter que recusar a um amigo uma "entrevista pessoal
e uma comunicação direta. "Poderíeis ter implicitamente
acreditado no que viesse de mim; e eu me sentiria
menos responsável por vós diante dos meus "GUIAS".
Entretanto o tempo mostrará o que pode ou não ser feito
nessa direção. O livro foi publicado, e temos que ter
paciência, esperando pelos resultados do primeiro tiro
sério no inimigo. Art Magic e Isis escritos por mulheres
e, segundo se acredita, de Espíritas - jamais se poderia
esperar que fossem tomados a sério. Seus efeitos serão,
primeiramente bastante desastrosos, porque a arma
recuará, e o projétil, ricocheteando, golpeará o autor e
seu humilde herói, que provavelmente não retrocederão.
Mas, também pegará de raspão a velha senhora,
revivendo na imprensa Anglo Britânica o clamor do ano
passado. Os thersistas e os filisteus literários se porão a
trabalhar febrilmente e choverão sobre ela as críticas
descabidas, artigos satíricos e coups de bec, ainda que
sejam dirigidos sobre vós somente, pois o Editor do
Pioneer está longe de ser amado por seus colegas da
Índia. Publicações espíritas já abrigam a campanha em
Londres e os editores ianques dos Órgãos dos "anjos"
os seguirão, os celestiais "Controles" armam seu
escolhido "scandalum magnatun". Não é provável que
alguns homens da ciência e menos ainda os seus
admiradores - os parasitas que se aquecem ao sol e
sonham em ser esse próprio sol - lhe perdoem pela frase
demasiado lisonjeira, que coloca a compreensão de um
pobre e desconhecido hindú. "Tão por cima da ciência e
da filosofia da Europa, que só as mais amplas mentes
que as representam, serão capazes de compreenderem
a existência de tais poderes no homem, etc." Mas, o que
isso importa? Tudo isso foi previsto e era esperado.
Quando passem os primeiros zumbidos e ruídos da
crítica adversa, os homens reflexivos lerão e meditarão
sobre este livro, como nunca fizeram sobre esforços
mais científicos de Wallace e Crookes, para reconcilia a
ciência moderna com os Espíritos - e a pequena
semente crescerá e prosperará.

Enquanto isso não me esqueço das promessas que vos


fiz. Tão logo estejais instalado em vosso dormitório
tratarei de...27

Espero que me seja permitido fazer tanto por vós. Se,


por gerações temos "excluído o mundo do
Conhecimento do nosso Conhecimento", foi devido a
sua absoluta incapacidade; e se, não obstante as provas
dadas, o mundo ainda resiste submeter-se à evidência,
então nós, no final deste ciclo, nos retiraremos uma vez
mais à solidão e ao nosso reino do silêncio... Nós nos
oferecemos para exumar os estratos mais primitivos do
ser humano, sua natureza básica, e mostrar claramente
as maravilhosas complexidades do seu Eu interno - algo
nunca a ser alcançado pela fisiologia, ou mesmo pela
psicologia, em sua expressão última - e demonstrá-lo
cientificamente. Não importa para eles se a escavação
for tão profunda, as rochas tão duras e aguçadas, pois
mergulhando naquilo que para eles, é o insondável
oceano, muitos de nós perecerão na perigosa
exploração; pois nós é que éramos os mergulhadores e
pioneiros, e os homens de ciência têm apenas que
recolher o que semeamos. É a nossa missão mergulhar
e trazer as pérolas da Verdade à superfície; a deles,
limpá-las e colocá-las nas jóias científicas. E, se eles
recusam tocar a concha mal formada da ostra, insistindo
que, dentro dela não existe nem pode existir, nenhuma
pérola preciosa, então, uma vez mais, nos
consideramos eximidos de qualquer responsabilidade
ante a humanidade. Por incontáveis gerações tem o
adepto construído um templo de rochas imperecíveis, a
Torre gigantesca do PENSAMENTO INFINITO, onde o
Titã morava, e onde, se for necessário, voltará a morar
solitário, saindo dela somente no final de cada ciclo, para
convidar os eleitos da humanidade a cooperarem com
ele e o auxiliarem por sua vez a iluminar o homem
supersticioso. E continuaremos naquele nosso trabalho
periódico; e não permitiremos ser frustrados em nossas
intenções filantrópicas até aquele dia, quando estejam
tão firmemente consolidadas as fundações de um novo
continente de pensamento, a ponto de não haver
qualquer opressão e malícia ignorante, guiadas pelos
Irmãos das Sombras, que possam prevalecer.

Mas até a vinda desse dia de triunfo final, alguém tem


que ser sacrificado - embora só aceitemos vítimas
voluntárias. A ingrata tarefa a prostou, deixando-a
desolada nas ruínas da miséria, mal compreensão, e
isolamento: mas ela terá a sua recompensa depois, pois
nunca fomos ingratos. Com relação ao Adepto - não um
da minha espécie, meu bom amigo, mas muito mais alto
- vós não o reconhecestes - poderíeis ter encerrado o
vosso livro com aquelas linhas de Tennyson no seu
"Sonhador Desperto":

"Como poderíeis conhecê-lo?

Estáveis ainda dentro do círculo mais estreito;

Ele quase alcançara o último,

Que, rodeado de branca chama,

Pura, sem calor,

Ardendo num espaço mais amplo

num éter de azul intenso,

Envolve e abrasa todas as outras vidas..."

Aqui termino esta carta. Recordai, pois, no dia 17 de


Julho e...30 para vós se tornará a mais sublime das
realidades. Adeus.

Sinceramente vosso,

K. H.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas


AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 010

Notas de K. H. num "Capítulo Preliminar", intitulado


"Deus", por Hume, destinado a servir de prefácio para
uma exposição de Filosofia Oculta (resumida). Recebida
em Simla em ? de 1881

Chegamos agora àquela que é, provavelmente, a mais


controversa carta deste conjunto. Na verdade, não é
uma carta, mas algumas notas feitas pelo Mahatma K.H.
no que Hume chamou de "Capítulo Preliminar sobre
Deus", destinado a ser o prefácio a um livro que ele
estava escrevendo sobre Filosofia Oculta. A cópia no
Museu Britânico é na caligrafia de Sinnett. Estas notas
levaram algumas pessoas a rejeitar toda a filosofia
oculta devido à negação do conceito tradicional de Deus.
Ao estudante solicita-se, pois, refrear-se em seu
julgamento.

Nem a nossa filosofia nem nós acreditamos num Deus,


e menos ainda em um cujo nome necessite uma
maiúscula. A nossa filosofia enquadra-se na definição
de Hobbes. É preeminentemente a ciência dos efeitos
pelas suas causas e das causas pelos seus efeitos,
também é a ciência das coisas deduzidas do primeiro
princípio, como a define Bacon, antes de admitir tal
princípio, temos que conhecê-lo, e não direito algum de
admitir mesmo a sua possibilidade. Toda a vossa
explicação é baseada em uma admissão isolada, feita
em outubro passado, simplesmente para reforçar um
argumento. Contaram-vos que o nosso conhecimento
era limitado a este nosso sistema solar; ergo, como
filósofos que desejam continuar merecendo esse título,
não podíamos nem negar nem afirmar a existência do
que definistes como sendo um ser supremo, onipotente,
e inteligente, e de certa maneira, além dos limites deste
sistema solar. Mas, se tal existência não é
absolutamente impossível, no entanto, a não ser que a
uniformidade da lei da Natureza não funcione naqueles
limites, mantemos que é altamente improvável. Não
obstante negamos mais enfaticamente a posição do
agnosticismo nesta direção, em relação ao sistema
solar. A nossa doutrina não conhece compromissos. Ela
afirma ou nega porque nunca ensina a não ser aquilo
que sabe ser a verdade. Portanto, negamos a Deus
tanto como filósofos, e como Budistas. Sabemos que
existem outras vidas planetárias e espirituais e outras e
sabemos que no nosso sistema não há isso que se
chama de Deus, seja pessoal ou impessoal. Parabrahm
não é um Deus e sim, a Lei imutável e absoluta, e Iswar
é o efeito de Avidya e Maya, ignorância baseada na
grande ilusão. A palavra "Deus" foi inventada para
designar a causa conhecida daqueles efeitos que o
homem tem igualmente admirado e temido, sem
compreendê-los, e como nós pretendemos possuir o
conhecimento daquela causa e das demais (e que
podemos provar o que afirmamos), estamos em
situação de sustentar que não há Deus ou Deuses por
trás delas.

A idéia de Deus não é algo inato, mas uma noção


adquirida, e só temos uma coisa em comum com as
teologias - nós revelamos o infinito. Mas, enquanto nós
atribuímos a todos os fenômenos que procedem do
espaço, da duração e do movimento, infinitos e
ilimitados, uma causa material, natural, sensível e
conhecida (pelo menos para nós), os teístas lhes
atribuem causas espirituais, sobrenaturais, ininteligíveis
e desconhecidas. O Deus dos teólogos é simplesmente
um poder imaginário, un loup garou como d'Holbach o
expressou - um poder que nunca se manifestou a si
mesmo. O nosso principal propósito é liberar a
humanidade do seu pesadelo, ensinar ao homem a
virtude por amor a ela, e que avance pela vida confiando
em si mesmo, em vez de se apoiar numa muleta
teológica, que por incontáveis idades, tem sido a causa
direta de toda a miséria humana. Poderão chamar-nos
de panteístas; agnósticos, JAMAIS. Se as pessoas
querem aceitar e considerar como Deus a nossa VIDA
UNA imutável e inconsciente em sua eternidade, eles
podem fazê-lo e apegarem-se a outro gigantesco erro de
denominação. Mas então eles terão que dizer com
Espinoza, que não há e que não podemos conceber
nenhuma outra substância senão Deus: ou como disse
este famoso e infortunado filósofo, na sua décima quarta
proposição, "praeter Deum neque dari neque concepi
potest substantia", e assim se tornam Panteístas...
quem, a não ser um Teólogo nutrido no mistério e no
mais absurdo supernaturalismo, pode imaginar um ser
que existe por si mesmo, necessariamente infinito e
onipresente, fora do universo manifestado e ilimitado. A
palavra infinito é apenas uma negativa que exclui a idéia
de limites. É evidente que um ser independente e
onipresente não pode ser limitado por coisa alguma que
está fora de si mesmo; que não pode existir nada
exterior a si mesmo - nem mesmo o vácuo, e então,
onde haverá lugar para a matéria, para esse universo
manifestado, embora limitado? Se perguntarmos aos
teístas se o seu Deus é o vácuo, o espaço ou a matéria,
eles dirão que não. E, entretanto, eles sustentam que o
seu Deus penetra a matéria embora ele mesmo não seja
matéria. Quando falamos da nossa Vida Una, dizemos
também que ela penetra, ou melhor, é a essência de
cada átomo de matéria; e que, portanto, não só tem
correspondência com a matéria, como possui, também,
todas as suas propriedades, etc - e portanto é material,
é em si mesmo matéria. Como pode a inteligência
proceder ou emanar da não-inteligência - fizestes
inúmeras vezes essa pergunta no último ano. Como
pode uma humanidade altamente inteligente, o homem,
a coroa da razão, ter evoluído de uma lei ou força cega,
não inteligente! Mas, uma vez que raciocinamos nesta
linha, eu posso perguntar, por minha vez, como idiotas
congênitos, animais sem raciocínio e o resto da "criação"
terem sido criados por uma Sabedoria absoluta, ou dela
evoluídos, se esta última é um ser pensante inteligente,
o autor e o regente do Universo? Como? diz o Dr. Clarke
em seu exame da prova da existência da Divindade.
"Deus que fez o olho, ele não verá? Deus que fez o
ouvido, não ouvirá? Mas, de acôrdo com este modo de
raciocínio, eles teriam que admitir que, ao criar um idiota,
Deus é um idiota; que, aquele que fez tantos seres
irracionais, e tantos monstros físicos e morais, ele tem
que ser irracional...

... Nós não somos Advaitas, mas o nosso ensinamento


a respeito da vida una é idêntico ao dos Advaitas com
relação a Parabrahm. E nenhum Advaita com mente
verdadeiramente filosófica, jamais se denominará
agnóstico, porque sabe que ele é Parabrahm e idêntico
em cada aspecto com a vida e alma universais (o
macrocosmo é o microcosmo) e ele sabe que não existe
nenhum Deus, nenhum criador, nenhum ser, separado
dele mesmo. Tendo encontrado a Gnose, não podemos
voltar nossas costas para ela e nos tornarmos
agnósticos.

... Se tivéssemos que admitir que até os mais elevados


Dyan Chohans podem cometer erros devido a uma
ilusão, então não existiria certamente nenhuma
realidade para nós e as ciências ocultas seriam uma
quimera tão grande como Deus. Se é um absurdo negar
o que não conhecemos, pior e mais extravagante e
atribuir-lhe leis desconhecidas.

De acôrdo com a lógica, "nada" é aquilo do qual tudo


pode ser negado e nada pode ser verdadeiramente
afirmado. A idéia, portanto, de um nada finito ou infinito
é uma contradição em termos. E, todavia, de acôrdo com
os teólogos "Deus", o ser auto existente é o mais
simples, imutável, e incorruptível ser; sem partes, figura,
movimento, divisibilidade, ou quaisquer outras
propriedades que encontramos na matéria. Pois todas
essas coisas indicam tão clara e necessariamente a
finitude na sua própria noção e são completamente
inconsistentes com a completa infinitude. "Portanto, ao
Deus aqui oferecido à adoração do século XIX falta toda
qualidade sobre a qual a mente humana seja capaz de
fixar qualquer julgamento. Que significa isso, de fato,
senão um ser do qual nada que eles afirmem que não
seja contraditado instantaneamente? Sua própria Bíblia,
sua Revelação, destrói todas as perfeições morais que
eles acumulam sobre ele, a não ser que, realmente
chamem de perfeições aquelas qualidades que a razão
e o bom senso de qualquer homem chamam de
imperfeições, vícios detestáveis e perversidade brutal. E
ainda mais, quem ler nossas escrituras budistas,
destinadas a massa supersticiosa não encontrará nelas
um demônio tão vingativo, injusto, e tão cruel e estúpido
como o tirano celestial, a quem os Cristãos
prodigamente oferecem a sua adoração servil, e em
quem os seus teólogos acumulam essas perfeições que
são contraditadas em cada página da sua Bíblia. Em
realidade e verdade vossa teologia criou seu Deus para
destruí-lo pouco a pouco. Vossa igreja é o fabuloso
Saturno que gera filhos para poder devorá-los.

(A MENTE UNIVERSAL) - Umas poucas reflexões e


argumentos devem sustentar cada nova idéia - por
exemplo estamos seguros de que nos pedirão conta das
seguintes aparentes contradições. 1) Negamos a
existência de um Deus pensante consciente, baseados
em que tal Deus tem que ser igualmente condicionado,
limitado e sujeito a mudança, e portanto não infinito. Ou
2) se ele é representado para nós como um ser
eternamente imutável e independente, sem ter uma
partícula sequer de matéria nele, então responderemos
que ele é um ser, mas um princípio cego imutável, uma
lei. E, entretanto, eles dirão, que nós acreditamos em
Dyans, ou Planetários ("espíritos" também), e dotamo-
los com uma mente universal, e isso tem que ser
explicado.

Nossas razões podem ser brevemente resumidas


assim:

(1) Nós negamos a absurda proposição de que pode


haver, mesmo em um universo ilimitado e eterno - duas
existências infinitas, eternas e onipresentes.

(2) Sabemos que a matéria é eterna, isto é, não tendo


tido nenhum princípio (a) porque matéria é a própria
Natureza (b) porque aquilo que não pode aniquilar a si
mesmo e é indestrutível, existe necessariamente - e,
portanto, não pode começar a ser, nem pode cessar de
ser (c) porque a experiência acumulada de incontáveis
idades e da ciência exata mostram-nos a matéria (ou
Natureza) agindo pela sua própria e peculiar energia, na
qual nem um átomo está em nenhum momento num
estado absoluto de repouso, e portanto ele tem que ter
sempre existido, isto é, os seus materiais sempre
mudando de forma, combinações e propriedades, mas o
seus princípios ou elementos sendo absolutamente
indestrutíveis.

(3) Quanto a Deus - desde que ninguém em qualquer


tempo o viu, a menos que ele seja a própria essência e
Natureza desta matéria ilimitada e eterna, sua energia e
seu movimento, não podemos considerá-lo igualmente
eterno ou infinito, ou mesmo auto existente. Recusamos
admitir um ser ou uma existência da qual não
conhecemos absolutamente nada, porque (a) não há
lugar para ele na presença daquela matéria cujas
indiscutíveis propriedades e qualidades conhecemos
muito bem (b) porque se ele é apenas uma parte
daquela matéria, é ridículo sustentar que ele é o
princípio motor e regente daquilo de que ele é só uma
parte dependente e (c) porque se eles nos dizem que
Deus é um espírito puro auto-existente, independente da
matéria - uma divindade extra-cósmica, respondemos
que, mesmo admitindo a possibilidade de tal
impossibilidade, isto é, a sua existência, nós, entretanto,
sustentamos que um espírito puramente imaterial não
pode ser um regente inteligente e consciente, nem pode
ele possuir qualquer dos atributos atribuídos a ele pela
teologia, e assim, tal Deus se torna novamente numa
força cega. A inteligência, como é encontrada nos
nossos Dyan Chohans, é uma faculdade que pode ser
encontrada somente nos seres organizados ou
animados - mesmo que seja imponderável, ou melhor,
invisíveis os componentes de suas organizações. A
inteligência requer a necessidade de pensar; para
pensar é preciso ter idéias; idéias supõem sentidos que
são de material físico, e como pode algo material
pertencer ao puro espírito? Se for objetado que o
pensamento não pode ser uma propriedade da matéria,
perguntaremos por que razão? Temos que ter uma
prova indiscutível desta suposição, antes que possamos
aceitá-la. Perguntaríamos ao teólogo o que poderia
impedir ao seu Deus, já que é o suposto criador de tudo
- de dotar a matéria com a faculdade do pensamento; e
quando respondesse que evidentemente Ele não quis
fazer isso, e que isso é um mistério, bem como uma
impossibilidade, insistiríamos que nos explicasse porque
é mais impossível que a matéria produza espírito e
pensamento, do que o espírito ou pensamento de Deus
produza e crie matéria.

Nós não curvamos as nossas cabeças no pó diante do


mistério da mente pois o resolvemos idades atrás. Assim
como rejeitamos com desdém a teoria teísta, rejeitamos
também a teoria do automatismo, um ensinamento que
nos diz ser os estados de consciência produzidos pela
ordenação de moléculas do cérebro; e sentimos pouco
respeito para esta outra hipótese - a produção do
movimento molecular pela consciência. Então, em que
acreditamos? Bem, acreditamos no tão ridicularizado
flogisto (Veja o artigo "O que é a força e o que é a
matéria?" Teosofista, Setembro), e naquilo que alguns
filósofos naturais chamariam nisus, os esforços ou
movimento incessante, ainda que perfeitamente
imperceptíveis (para os sentidos ordinários) que um
corpo exerce sobre o outro (as pulsações da matéria
inerte - sua vida. Os corpos dos espíritos Planetários são
formados daquilo que Priestley e outros chamaram de
Phlogiston e para o qual temos um outro nome - esta
essência em seu sétimo estado mais elevado que, forma
aquela matéria da qual se compõem os organismos dos
mais elevados e puríssimos Dyans, e que em sua forma
inferior ou mais densa (tão impalpável, não obstante,
que a ciência chama de energia e força) serve como um
véu aos Planetários do primeiro grau, ou inferior. Em
outras palavras, nós somente cremos na MATÉRIA, na
matéria como natureza visível e na matéria invisível,
como um Proteu invisível, onipresente e onipotente, com
seu incessante movimento0, que é a sua vida, e que a
Natureza extrai de si mesma, já que ela é o grande todo,
fora do qual nada pode existir. Porque, como afirma com
exatidão Bilfinger, "o movimento é uma maneira de
existência que flui necessariamente para fora da
essência da matéria; que a matéria move-se por suas
próprias energias peculiares; que seu movimento é
devido a uma força que é inerente a si mesma; que a
variedade de movimento e os fenômenos que resultam
procedem da diversidade de propriedades das
qualidades e das combinações que são originalmente
encontradas na matéria primitiva" da qual a Natureza é
o conjunto, e da qual vossa ciência sabe menos do que
qualquer um dos nossos condutores de iaques
Tibetanos sabe a respeito da metafísica de Kant.

A existência da matéria é, então, um fato; a existência


do movimento é um outro fato, a sua auto-existência e
eternidade ou indistrutibilidade é um terceiro fato. E a
idéia de um puro espírito como sendo um Ser ou uma
Existência - dêem-lhe o nome que quiserem - é uma
quimera, um gigantesco absurdo.

NOSSAS IDÉIAS DO MAL - O mal não tem existência


por si e é apenas a ausência do bem e existe somente
para aquele que se tornou sua vítima. Ele procede de
duas causas, e como o bem, não é uma causa
independente da Natureza. A Natureza é destituída de
bondade ou maldade; ela apenas segue leis imutáveis
quando ela dá vida e alegria, ou envia o sofrimento (e) a
morte, e destrói o que ela criou. A Natureza tem um
antídoto para cada veneno e suas leis uma recompensa
para cada sofrimento. A borboleta devorada por um
pássaro se torna naquele pássaro, e o passarinho morto
por um animal evolui para a forma mais elevada. É a
cega lei da necessidade e ajuste eterno das coisas, e
portanto não pode ser chamada de Mal na Natureza. O
mal real procede da inteligência humana e a sua origem
repousa inteiramente no homem racional que se
desassocia da Natureza. A Humanidade exclusivamente
é a verdadeira fonte do mal. O mal é exagero do bem, a
progênie da cobiça e do egoísmo humanos. Pensai
profundamente e encontrareis que, salvo a morte - que
não é um mal mas uma lei necessária, e acidentes que
sempre encontram a sua recompensa numa vida futura
- a origem de cada mal, seja pequeno ou grande, está
na ação humana, no homem cuja inteligência faz dele
um agente livre da Natureza. Não é a Natureza que cria
as doenças, mas sim, o homem. A missão e o destino
deste é morrer de morte natural causada pela velhice;
excetuando os acidentes, nem um selvagem nem um
animal selvagem (livre) morrem de enfermidades. O
alimento, as relações sexuais, bebida, são todas
necessidades naturais da vida; todavia, o excesso deles
traz a doença, miséria, sofrimento, mental e físico, e os
últimos são transmitidos como os maiores males para as
futuras gerações, prole dos culpados . A ambição, o
desejo de assegurar felicidade e conforto par aqueles
que amamos, pela obtenção de honrarias e riquezas,
são sentimentos naturais elogiáveis, mas, quando eles
transformam o homem num tirano ambicioso e cruel, um
miserável, num empedernido egoísta, eles trazem
incontáveis misérias para aqueles que estão ao seu
redor; tanto em nações como em indivíduos. Tudo isso
pois, o alimento, a riqueza, a ambição e mil outras coisas
mais, que temos de omitir, se torna na fonte e causa do
mal seja pela sua abundância ou pela sua ausência.
Tornai-vos um glutão, um depravado, um tirano, e vos
tornareis a origem das doenças, do sofrimento humano
e da miséria. Se vos faltar tudo isso, passareis misérias,
e sereis desprezado por seu um senhor ninguém e a
maioria do rebanho, seus semelhantes, fará de vós um
infeliz por toda a vossa vida. Portanto, não se deve
culpar nem à uma divindade imaginária, nem à
Natureza, senão à condição humana tornada vil pelo
egoísmo. Pensai bem essas palavras; arrancai toda a
causa do mal que possais imaginar e buscai-a até a sua
origem e então tereis resolvido um terço do problema do
mal. E agora, depois de dar o desconto aos males que
são naturais e não podem ser evitados, - e tão poucos
são eles que eu desafio toda a hoste dos metafísicos
Ocidentais a chamá-los de males ou a demonstrar que
eles provenham diretamente de uma causa
independente - eu assinalarei a maior, a principal causa
de quase dois terços dos males que acossam a
humanidade, desde que essa causa se converteu numa
potência. É a religião, sob qualquer forma, e em
qualquer nação. É a casta sacerdotal, o clero e as
igrejas; são nessas ilusões, que o homem olha como
sendo sagradas, onde ele deve buscar a fonte dessa
multidão de males que são a grande maldição da
humanidade, e quase aniquilam o gênero humano. A
ignorância criou os deuses, e a astúcia aproveitou a
oportunidade. Olhem a Índia, olhem a Cristandade e o
Islam, e o Judaísmo e o Fetichismo. Foi a impostura
sacerdotal que tornou esses deuses tão terríveis para o
homem; é a religião que faz dele um intolerante egoísta,
o fanático que odeia todo ser humano que não pertença
a sua própria seita, sem que isso o torne melhor ou mais
moral. É a crença em Deus e Deuses que faz dois terços
da humanidade escravos de um pequeno número dos
que enganam sob o falso pretexto de a salvar. Não está
o homem sempre pronto para cometer qualquer espécie
de mal se lhe disserem que o seu Deus ou Deuses
exigem esse crime - vítimas voluntárias de um Deus
ilusório, e um objeto escravo de seus astutos ministros.
O camponês irlandês, italiano, eslavo, passará fome e
verá a sua família na miséria e andar desnuda para
poder alimentar e vestir seu padre e o papa. Durante
dois mil anos a Índia gemeu sob o peso das castas,
somente os Brahmanes se alimentando do melhor da
terra, e hoje em dia os seguidores de Cristo e os de
Maomé estão cortando uns aos outros as gargantas, em
nome e para maior glória dos seus respectivos mitos.
Lembrai-vos que a soma de miséria humana nunca será
diminuída até o dia quando a melhor porção da
humanidade destruir, em nome da Verdade, moralidade,
e caridade universal, os altares dos seus falsos deuses.

Se objetarem que nós também temos templos, também


temos sacerdotes e que os nossos lamas também vivem
de caridade... que saibam que os objetos acima
mencionados só tem de comum os seus equivalentes
Ocidentais o nome. Assim, em nossos templos não há
um deus ou deuses adorados, somente a tríplice
sagrada memória do mais santo homem que jamais
viveu. Se os nossos lamas, para honrar a fraternidade
dos Bhikkus, estabelecida pessoalmente pelo nosso
abençoado mestre, partem para ser alimentados pelos
leigos, estes últimos, freqüentemente em número de
cinco a vinte e cinco mil, são alimentados e cuidados
pela Sangha (a fraternidade dos monges lamaístas)
fornecendo à lamaseria tudo que é necessário para os
pobres, os doentes, os aflitos. Nossos lamas aceitam
alimento, nunca dinheiro, e é naqueles templos que é
pregada a origem do mal e gravada na mente do povo.
Lá o povo aprende as quatro nobre verdades - ariya
sakka, e a cadeia da causalidade (as 12 nidanas), que
dá a eles a solução do problema da origem e destruição
do sofrimento.

Lêde o Mahavagga e tentai compreender, não com a


preconcebida mente ocidental, mas com o espírito da
intuição e verdade que o Plenamente Iluminado diz na
1ª. Khandhaka. Permiti-me que eu traduza para vós:

"Na época em que o abençoado Buda estava em


Ururvella, às margens do rio Nerovigara e repousava
sob a árvore da Sabedoria Boddhi, após ter se tornado
um Sambuddha, no fim do sétimo dia tendo a sua mente
fixa na cadeia da causação, assim ele falou: "da
Ignorância brotam as samkharas de tríplice natureza -
produções do corpo, da palavra e do pensamento. Das
samkharas nasce a consciência, da consciência surgem
o nome e a forma, daí brotam as seis regiões (dos seis
sentidos, o sétimo sendo propriedade, apenas do
iluminado); desses brotam o contacto, daí a sensação;
dela brota a sêde (ou desejo, Kama, tanha), da sede o
apego, existência, nascimento, velhice e morte, dor,
lamentação, sofrimento, abatimento e desespero.
Novamente pela destruição da ignorância, as
Samkharas são destruídas, e sua consciência, nome e
forma, as seis regiões, o contacto, sensação, sede,
apego (egoísmo), existência, nascimento, velhice,
morte, dor, lamentação, sofrimento, abatimento e
desespero são destruídos. E com isso cessa toda essa
massa de sofrimento."

Sabendo isso o abençoado Ser fez esta solene


afirmação: "Quando a natureza real das coisas se torna
clara para o Bhikshu que medita, então todas as suas
dúvidas se evanecem porque ele aprendeu o que é essa
natureza e qual a sua causa. Da ignorância brotam todos
os males. Do conhecimento vêm a cessação desta
massa de miséria, e então o Brahmana meditante se
ergue dispersando as hostes de Mara, como o sol que
ilumina o céu."

Aqui a meditação significa as qualidades super humanas


(não sobre-naturais), do estado de Arhat, nos seus mais
elevados poderes espirituais.

Copiada em Simla, no dia 28 de Setembro de 1882.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 011
Recebida por A. O. Hume, 30 de Junho de 1882.

Esta é a primeira de uma série de três cartas do


Mahatma K.H. dirigidas para A.O. Hume.

A simples prudência me inspira dúvidas de assumir o


meu novo papel de um "instrutor". Se M. vos satisfez
muito pouco, estou temeroso de vos dar ainda menos
satisfação porque, além de estar restringido em minhas
explicações, - dado que há um milhar de coisas que terei
de deixar irreveladas devido ao meu voto de silêncio,
tenho à minha disposição bastante menos tempo do que
ele. Entretanto, tentarei fazer o melhor. Que não seja
dito que eu falhei em reconhecer o vosso presente e
sincero desejo de se tornar útil à Sociedade, e portanto,
à Humanidade, pois estou plenamente consciente para
o fato de que ninguém melhor do que vós na Índia
poderá dispersar as névoas das superstições e do erro
popular lançando luz nos mais obscuros problemas. Mas
antes que eu responda as vossas questões e explique a
nossa doutrina um pouco mais, tenho que prefaciar
minhas respostas com uma longa introdução. Primeiro
de tudo e novamente chamarei a vossa atenção para a
tremenda dificuldade de encontrar termos apropriados
em inglês que possam transmitir à mente européia
educada uma noção mesmo aproximadamente correta,
acerca dos vários assuntos que temos de tratar. Para
ilustrar o que quero dizer, sublinharei em vermelho as
palavras técnicas adaptadas e usadas pelos vossos
homens de Ciência, mas que são absolutamente
enganosas, não somente quando aplicadas a esses
assuntos transcendentais como os que estamos
tratando, e mesmo quando são usadas por eles em seu
próprio sistema de pensamento.

Para compreender as minhas respostas tendes, primeiro


de tudo, ver a Essência eterna, o Swabâvat, não como
um elemento composto que chamais de espírito-
matéria, mas como o elemento único para o qual os
ingleses não têm um nome. Ele é simultaneamente
passivo e ativo, puro Espírito Essência em seu estado
absoluto e de repouso, pura matéria em seu estado finito
e condicionado, - mesmo como gás imponderável ou
como o grande desconhecido que a Ciência se compraz
em chamar de Força. Quando os poetas falam "do
oceano sem margens da imutabilidade" devemos
considerar a frase como um divertido paradoxo, pois
mantemos que não existe tal coisa como a imutabilidade
- pelo menos no nosso sistema solar. A imutabilidade,
dizem os teístas e Cristãos, "é um atributo de Deus" e
imediatamente dotam esse Deus com toda qualidade e
atributo mutável e variável, conhecíveis e
desconhecíveis e crêem terem resolvido o insolúvel e a
quadratura do círculo. A isto respondemos, se aquilo que
os teístas chamam de Deus e a Ciência "Força" e
Energia Potencial, se tornassem imutáveis, tão só por
um instante, ainda que fosse no Maha-Pralaya, período
em que se diz, até mesmo Brahm, o arquiteto criador do
mundo desaparece, no não-ser, então não poderia
haver nenhum Manvantara, e somente o espaço reinaria
inconsciente e supremo na eternidade do tempo.
Entretanto, o Teísmo, quando fala da mutável
imutabilidade, não é mais absurdo que a Ciência
materialista, quando esta fala da "energia potencial
latente" e da indestrutibilidade da matéria e da força. O
que havemos de crer que seja indestrutível? É algo
invisível que move a matéria ou a energia dos corpos em
movimento! O que sabe a Ciência moderna da própria
força, ou digamos das forças, - a causa ou causas do
movimento? Como pode haver tal coisa como uma
energia potencial, isto é, uma energia possuindo um
poder latente inativo, pois somente é energia, somente
quando está movendo a matéria e se, em algum
momento, deixar de mover a matéria, cessa de ser, e
com isso a própria matéria desapareceria? É força o
termo mais apropriado? Há uns trinta e cinco anos atrás
um Dr. Mayer ofereceu a hipótese, agora aceita como
axioma, de que a força, no sentido dado pela Ciência
moderna, assim como a matéria, é indestrutível, o que
quer dizer, que quando deixa de manifestar-se em uma
forma, segue existindo, e apenas passou para alguma
outra forma. E, todavia, os vossos homens de Ciência
não encontraram um simples exemplo onde uma força
tenha sido transformada em outra, e o Sr. Tyndall diz aos
seus oponentes que "em nenhum caso a força produtora
do movimento fica aniquilada ou mudada em alguma
outra coisa." Além disso, somos gratos à Ciência
moderna por uma nova descoberta de que existe uma
relação quantitativa entre a energia dinâmica produzindo
algo e esse "algo" produzido. É indubitável que existe
uma relação quantitativa entre a causa e o efeito, entre
a quantidade de energia usada para quebrar o nariz de
um semelhante e o prejuízo causado a esse nariz, mas
isso não soluciona nem um pouco mais o mistério do que
eles gostam de chamar de correlações, já que se pode
provar facilmente (e sob a autoridade daquela mesma
Ciência) que nem o movimento, nem a energia, são
indestrutíveis, e que as forças físicas não são de uma
maneira ou outra conversíveis entre si. Eu os
interrogarei minuciosamente na sua própria fraseologia
e veremos se as suas teorias foram calculadas para
servir de barreira para as nossas "doutrinas
assombrosas". Preparando-me como estou fazendo,
para propor um ensinamento diametralmente oposto aos
seus, é justo que eu limpe o chão de lixo científico, para
evitar que o que tenho a dizer caia num solo
demasiadamente obstruído e só produza ervas
daninhas. "Essa matéria prima potencial e imaginária
não pode existir sem forma", diz Raleigh, e ele está certo
quanto a matéria prima da Ciência existir somente na
imaginação deles. Poderão dizer que a mesma
quantidade de energia sempre moveu a matéria do
Universo? Certamente que não, enquanto eles
ensinarem que, quando os elementos do cosmos
material, elementos que tivera, primeiro de se manifestar
em seu estado gasoso não combinado, estavam unindo-
se, a quantidade de energia material em movimento era
de um milhão de vezes maior do que é agora, quando
nosso globo está esfriando. Pois onde foi parar esse
calor gerado pelo tremendo processo de construir um
universo? Dizem eles, para as câmaras não ocupadas
do espaço. Muito bem, mas se foi para sempre do
universo material, e se a energia operante na Terra não
foi nunca e em nenhum momento a mesma, então, como
podem tentar sustentar o conceito da "quantidade de
energia imutável", essa energia potencial que um corpo
pode algumas vezes exercer, a FORÇA que passa de
um corpo para outro produzindo movimento e que no
entanto, não é "aniquilada ou mudada em outra coisa"?
"Sim", somos contestados, "mas nós ainda sustentamos
a sua indestrutibilidade; enquanto esteja unida à
matéria, nunca deixa de ser, mais ou menos". Vejamos
se isso é assim. Eu arremesso um tijolo para um
pedreiro que está construindo o teto de um templo. Ele
o segura e o coloca com cimento no teto. A gravidade se
opôs à energia propulsora que iniciou o movimento
ascendente do tijolo, e a sua dinâmica energia, até que
ele cessasse de subir. Naquele momento ele foi seguro
e fixado no teto. Nenhuma força material pode agora
movimentá-lo, portanto, ele não possui mais energia
potencial. O movimento e a energia dinâmica do tijolo
ascendente estão absolutamente aniquilados. Um outro
exemplo retirado dos seus próprios livros de estudo. Vós
disparais um fuzil para cima, ao pé de um monte, e a
bala se aloja numa greta de rocha daquele monte.
Nenhuma força natural poderá, por um período
indefinido, movimentá-la, pois a bala, assim como o
tijolo, perdeu a sua energia potencial. "Todo o
movimento e energia que foi retirado da bala ascendente
pela gravidade foi absolutamente aniquilado, e nenhum
outro movimento ou energia se manifesta e a gravidade
não recebeu nenhum aumento de energia." Não é
verdade, pois, que a energia seja indestrutível! Como é
então que vossa grande autoridade ensina ao mundo
que "em nenhum caso a força que produz o movimento
é aniquilada ou transformada em algo distinto?"

Estou perfeitamente consciente da vossa resposta e vos


dou estes exemplos apenas para mostrar como são
enganosos os termos empregados pelos cientistas,
como são vacilantes e incertas as suas teorias, e
finalmente como são incompletos todos os seus
ensinamentos. Mais uma objeção e terminarei. Eles
ensinam que todas as forças físicas dotadas de nomes
específicos como gravidade, inércia, coesão, luz, calor.
eletricidade, magnetismo, afinidade química, são
conversíveis uma na outra? Se é assim, a força
produtora deve deixar de existir no momento em que a
força produzida se torna manifestada. "Uma bala de
canhão em movimento move-se somente pela sua força
inerente da inércia." Quando ela se choca com algo, ela
produz calor e outros efeitos mas a sua força de inércia
não é diminuída de modo algum. Seria necessária tanta
energia para lançá-la de novo, com a mesma velocidade
como da primeira vez. Podemos repetir o processo mil
vezes e enquanto a quantidade de matéria permanecer
a mesma, sua força de inércia permanecerá a mesma,
em quantidade. O mesmo ocorre no caso da gravidade.
Um meteoro cai e produz calor. Isto deve ser atribuído à
força da gravidade, mas essa, atuante sobre o objeto
que caiu, não diminui. A atração química atrai e mantém
juntas as partículas da matéria, a sua colisão produz
calor. Foi aquela atração transformada em calor? De
modo algum, pois que, reunindo-se as partículas cada
vez que se separam, comprova-se que a afinidade
química não diminui, pois ela as mantém unidas tão
fortemente como sempre. O calor, eles dizem, gera e
produz eletricidade, no entanto não encontram
diminuição de calor no dito processo de geração. Dizem-
nos que a eletricidade produz calor. Os eletrômetros
mostram que a corrente elétrica, ao pascer através de
algum mal condutor, por exemplo, um fio de platina, o
aquece. Resta precisamente a mesma quantidade de
eletricidade, não havendo perda de eletricidade, nem
diminuição. O que, então, se converteu em calor?
Novamente, se diz que a eletricidade produz o
magnetismo. Tenho numa mesa, diante de mim,
eletrômetros primitivos, em cuja proximidade os chelas
vêm todo o dia recuperar os seus poderes nascentes.
Eu não encontro o menor decréscimo na eletricidade
armazenada: Os chelas são magnetizados, mas o seu
magnetismo, ou melhor, o das suas varetas não é essa
eletricidade, sob uma nova máscara, do mesmo modo
que as chamas de mil velas acesas pelo fogo da
lâmpada Fo não são a chama desta última. Por
conseguinte, se na incerta luz crepuscular da Ciência
moderna é uma verdade axiomática "que nos processos
vitais se produz somente a conversão e nunca a criação
de matéria ou de força" (o movimento orgânico em
conexão com a nutrição, segundo o Dr. J. R. Mayer) não
é mais que uma meia verdade para nós. Não é nem a
conversão nem a criação, e sim algo para o qual a
Ciência não tem nome.

Talvez agora estareis melhor preparado para


compreender a dificuldade com que teremos de lutar. A
Ciência moderna é o nosso melhor aliado. Todavia, é
geralmente essa mesma Ciência que se torna a arma
que quebra as nossas cabeças. Entretanto, tendes que
ter em mente (a) que nós reconhecemos apenas um
elemento na Natureza (seja espiritual ou material) fora
do qual não pode haver Natureza, já que é a Natureza
mesma, e que, como o Akasa, permeia o espaço e é na
realidade o espaço, que pulsa como em profundo sono
durante os Pralayas e é o Proteo universal, a Natureza
sempre ativa durante os Manvantaras; (b) que, em
conseqüência, espírito e matéria são unos, não sendo
mais que uma diferenciação de estados, não de
essências, e que o filósofo grego que sustentou que o
Universo era um animal enorme, penetrou no significado
simbólico da mônada Pitagórica (que se converte em
dois, logo em três D (triângulos ou tríade) e finalmente
na tétrade ou o quadrado perfeito, desenvolvendo,
assim, de si mesmo, o quadrado e a envolvente tríade,
[D] forma o sagrado sete) - e, deste modo, estava bem
à frente de todos os homens da Ciência da época atual;
c) que as nossas noções de "matéria cósmica" são
diametralmente opostas às da Ciência ocidental. Talvez
se lembrardes de tudo isso nós conseguiremos
transmitir para vós, pelo menos, os axiomas
elementares da nossa filosofia esotérica mais
corretamente do que até agora. Não temas, meu
bondoso irmão; a vossa vida não está se apagando e
não se extinguirá, antes que tenhas completado a vossa
missão. Eu não posso dizer nada mais, exceto que o
Chohan me permitiu devotar o meu tempo disponível
para instruir aqueles que estão querendo aprender, e
tereis bastante trabalho para dar a conhecer seus
Fragmentos em intervalos de dois ou três meses. Meu
tempo é muito limitado, entretanto, farei o que puder.
Mas não posso prometer nada além disso. Tenho que
permanecer silencioso quanto aos Dyan Chohans, nem
posso vos transmitir os segredos referentes aos homens
da sétima ronda. O reconhecimento das fases mais
elevadas do ser humano neste planeta não pode ser
alcançado pela mera aquisição de conhecimento.
Volumes da informação mais perfeitamente construída
não podem revelar ao homem a vida nas regiões
superiores. Temos que obter um conhecimento dos
fatos espirituais pela experiência pessoal e pela
observação direta, pois, como diz Tyndall, "os fatos
olhados diretamente são vitais, quando eles passam a
ser palavras, metade da seiva é retirada deles". E
porque reconheceis esse grande princípio de
observação pessoal, e não sois lento para por em prática
o que já adquiristes quanto à informação útil, é talvez a
razão porque o até agora implacável Chohan, meu
Mestre, finalmente me permitiu dedicar, até um certo
ponto, uma parte do meu tempo ao progresso dos
Ecléticos. Mas eu sou somente um enquanto vós sois
muitos, e nenhum dos meus Companheiros Irmãos, com
a exceção de M.5 me auxiliará neste trabalho, nem
mesmo o nosso semi-europeu Irmão Grego, o qual, há
poucos dias atrás comentou que, quando "cada um dos
Ecléticos da Colina se tiver convertido num Céptico,
então ele verá o que pode fazer por eles." E como
sabeis, há muito pouca esperança para isso. Os homens
buscam o conhecimento e se esgotam até a morte, mas
mesmo eles não se sentem muito pacientes para auxiliar
o próximo com seu conhecimento; daí nasce uma frieza,
uma indiferença mútua que torna aquele que sabe,
inconsistente consigo mesmo e desarmonioso com o
seu ambiente. Do nosso ponto de vista, o mal é muito
mais grave na parte espiritual do homem do que na
material; por isso, daí os meus sinceros agradecimentos
para vós, e o meu desejo de solicitar a vossa atenção
para esta atitude, que o ajudará a progredir
verdadeiramente, e a obter resultados mais amplos ao
converter os seus conhecimentos num ensinamento
permanente, sob a forma de artigos e panfletos.

Mas, para conseguir o que propusestes, isto é, para uma


compreensão mais clara das teorias de nossa doutrina
oculta, extremamente difíceis e a princípio
incompreensíveis nunca permitais que a serenidade de
vossa mente seja perturbada durante as horas de vosso
trabalho literário, nem antes de começar o trabalho. É
sobre a serena e plácida superfície da mente sem
perturbações que as visões procedentes do invisível
encontram a sua representação no mundo visível. De
outra ,maneira, buscaríeis em vão aquelas visões,
aqueles lampejos de súbita luz que já ajudaram a
resolver tantos problemas menores, e que unicamente
podem trazer a verdade diante dos olhos da alma. É com
zeloso cuidado que devemos proteger o nosso plano
mental de todas as influências adversas com que nos
deparamos diariamente, em nossa passagem pela vida
terrena.

Muitas São as perguntas que me fazeis e vossas várias


cartas, mas eu só posso responder a umas poucas. A
respeito de Eglinton, rogo que espereis pelos
desdobramentos. Com relação à vossa bondosa
senhora, a questão é mais séria e eu não posso assumir
a responsabilidade de fazer que ela mude a sua dieta
tão ABRUPTAMENTE como sugeris. Ela pode
abandonar a carne e todo outro alimento animal em
qualquer momento, sem perigo para ela: quanto ao
álcool com o qual a senhora H. sustentou por tanto
tempo o seu organismo, conheceis bem os efeitos fatais
que poderiam produzir-se em sua debilitada
constituição, se fosse repentinamente privada de seu
estimulante. A sua vida física não é uma existência real,
sustentada por uma reserva de força vital, mas sim, uma
existência artificial sustentada pela essência da bebida
alcoólica, por mais pequena que seja a dose. Se bem
que uma constituição forte pode recuperar-se depois do
primeiro choque produzido por semelhante mudança, é
provável que ela caísse em um declínio. O mesmo
ocorreria se tivesse como sustento principal o ópio ou o
arsênico. Novamente nada prometo mas farei o melhor
que puder nesse caso. "Conversar convosco e ensinar-
vos através da luz astral?" Tal desenvolvimento de
vosso poder psíquico da audição, como designais o
Siddhi, não seria, de modo algum, tão fácil com
imaginais. Isso nunca foi feito para qualquer um de nós,
pois a regra de ferro é que quaisquer poderes que o
indivíduo adquire, tem que consegui-los pessoalmente.
E quando alcançados, e prontos para o uso, os poderes
continuam mudos e adormecidos na sua potencialidade,
como o mecanismo de relojoaria que está dentro de uma
caixa de música; e só então resulta fácil dar corda com
uma chave e colocá-lo em movimento. Naturalmente
tendes agora mais facilidades diante de vós que o meu
amigo zoófago, o senhor Sinnett, que, ainda que
abandonasse o hábito de alimentar-se de animais ainda
sentiria apego por esse alimento, um apêgo sobre o qual
não teria controle algum e, - em cujo caso o impedimento
seria o mesmo. Apenas disso, todo homem
ardentemente disposto pode adquirir praticamente tais
poderes. Essa é a finalidade disso; não há aqui distinção
de pessoas como não há acerca de quem o sol há de
iluminar ou o ar, de vitalizar. Tendes diante de vós os
poderes de toda natureza; tomai o que quiserdes.

Pensarei acerca da vossa sugestão sobre a caixa.


Haverá necessidade de algum dispositivo para impedir
a descarga de força, uma vez que a caixa estiver
carregada, seja durante o transporte ou depois. Eu
pensarei e me aconselharei, ou melhor, pedirei
permissão. Mas devo dizer que a idéia nos desagrada
inteiramente, como tudo que parece espírita ou ligado à
mediunidade. Preferiríamos muito mais usar meios
naturais como fiz na última transmissão da minha carta
que vos enviei. Foi um dos chelas de M. que a deixou
para vós na floreira, onde ele entrou invisível para todos,
mas no seu corpo natural, assim como ele já entrou
muitas vezes no vosso museu e noutros quartos, sem
ser percebido por todos, durante e após a estadia da
"Velha Senhora". Mas, ao menos que M. lhe ordene, ele
jamais o fará, e eis porque a vossa carta para mim
passou desapercebida. Tendes um injusto sentimento
em relação ao meu Irmão, caro senhor, pois ele é o
melhor e mais poderoso do que eu - pelo menos não
está tão limitado e restringido como eu. Pedí a H. P. B.
que vos envie algumas cartas filosóficas de um teósofo
holandês de Pennang, em que tenho interesse; pedis
mais trabalho e aqui o tendes. São traduções originais
daqueles trechos de Schoppenhauer que estão mais
afins com as nossas doutrinas dos Arhats. O inglês não
é idiomático, mas o material é valioso. Se quiserdes
utilizar qualquer parte, recomendo que entreis em
correspondência direta com o tradutor, senhor Sanders,
M. S. T. O valor filosófico de Schoppenhauer é tão bem
conhecido nos países ocidentais que uma comparação
ou comentário de seus ensinamentos sobre a vontade,
etc., com as que recebestes de nós, poderia ser
instrutiva. Sim, estou pronto a examinar as vossas 50 ou
60 páginas e fazer anotações nas margens; de qualquer
modo, uma vez ordenadas, remetei-as para mim, seja
por meio do pequeno "Deb" ou de Damodar, e Djual Kool
as transmitirá. Dentro de poucos dias, talvez amanhã, as
vossas duas perguntas serão amplamente respondidas
por mim.

Enquanto isso

Sinceramente vosso,
K. H.

P.S.: A tradução Tibetana ainda não está pronta.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 012

(Do Mestre M. para Sinnett. Recebida em Fevereiro de


1882.)

Com toda probabilidade, esta carta se origina da Carta


nº.44 (CM-13), que consistia de questões feitas por
Sinnett e de respostas pelo Mahatma M. e é intitulada
por Sinnett como "Notas Cosmológicas".

Vossa hipótese está muito mais perto da verdade do que


a do Sr. Hume. Dois fatores devem ser levados em
consideração - (a) um período fixo, e (b) um ritmo de
desenvolvimento que lhe é ajustado com precisão.
Quase inconcebivelmente longo como é uma
Mahayuga, não deixa de ser, entretanto, um prazo
definido, e dentro dele deve-se realizar a ordem
completa de desenvolvimento, ou para melhor expressar
em terminologia oculta, a descida do Espírito na matéria
e seu retorno a reemergência. Uma fileira de contas, e
cada conta sendo um mundo, é uma ilustração que já
vos é familiar. Já refletistes sobre o impulso de vida que
começa com cada Manvantara para fazer evoluir o
primeiro desses mundos, para aperfeioá-lo, e para
povoá-lo sucessivamente com todas as formas aéreas
de vida. E depois de haver completado neste primeiro
mundo sete ciclos ou evoluções de desenvolvimento -
em cada reino, como sabeis - segue avançando pelo
arco descendente para do mesmo modo, evoluir o
próximo mundo na cadeia, aperfeiçoá-lo e abandoná-lo.
Logo passa ao seguinte e a outro e outro mais - até que
tenha cumprido a ronda setenária de evolução dos
mundos ao longo da cadeia, e a Mahayuga chegue ao
seu fim da vida (na sétima e última ronda de planeta em
planeta) avança, deixa atrás de si planetas moribundos,
que muito pronto se converterão em "planetas mortos".

Tão logo o último homem da sétima ronda passou ao


mundo seguinte, o mundo anterior, com toda a sua vida
mineral, vegetal e animal, (exceto o homem) começa a
morrer gradualmente até que, com o êxodo dos últimos
animálculos se extingue, ou como disse H. P. B., se
apaga (pralaya menor ou parcial). Quando o homem-
Espírito chega a última conta da fileira e passa ao
Nirvana final, este último mundo também desaparece ou
passa para a subjetividade. Desta forma, entre as
galáxias estelares, há o nascimento e mortes de
mundos, sempre um após o outro, no ordenado curso da
Lei natural. E, como já foi dito, a última conta continua
enfiada no fio da "Mahayuga".

Quando nesta última e fecunda Terra se completou o


último ciclo da gestação humana, e a humanidade
alcançou em massa a etapa do Budado e passa da
existência objetiva ao mistério do Nirvana, então "soa a
hora", o visível se torna invisível, o concreto reassume
seu estado precíclico de distribuição atômica.

Mas os mundos mortos deixados para trás pelo impulso


envolvente não continuam mortos. O movimento é a
ordem eterna das coisas e a afinidade ou atração é o
seu ajudante em tudo. A vibração da vida novamente
reunirá os átomos, e novamente atuará no planeta inerte
quando chegar a hora. Embora todas as suas forças
tenham permanecido em status quo e estejam agora
adormecidas, no entanto, pouco a pouco, quando voltar
a soar a hora, se reunirão para um novo ciclo de
maternidade geradora de homens, e darão nascimento
a tipos físicos e morais algo ainda mais elevado do que
no precedente Manvantara. E seus "átomos cósmicos já
num estado diferenciado (diferenciando-se, no sentido
mecânico, em status quo, como também os globos e
tudo o mais no processo de formação." Tal é a "hipótese
que está de pleno acordo com a vossa (minha) nota."
Pois, como o desenvolvimento planetário é tão
progressivo como a evolução humana ou racial, na
ocasião de seu advento, o Pralaya alcançará a série de
mundos em suas sucessivas etapas de evolução; ou
seja, cada um chegou a algum dos períodos de
progresso evolutivo, e ali se detém, até que o impulso de
expansão do próximo Manvantara o ponha em marcha,
desde o ponto em que parou, como ocorre com um
relógio parado a que se voltou a dar corda. Por isso usei
a palavra "diferenciado".

Ao chegar o Pralaya, nenhum homem, animal, ou


mesmo entidade vegetal estará vivo para vê-lo, mas
haverá a terra, ou globos com seus reinos minerais; e
todos esses planetas estarão fisicamente desintegrados
no pralaya, mas não destruídos; pois eles têm o seu
lugar na seqüência de evolução e suas "privações",
voltando a sair da subjetividade, encontrarão o ponto
exato de onde devem seguir movimentando-se ao redor
da cadeia de "formas manifestadas". Isto, como
sabemos, se repete indefinidamente por toda a
ETERNIDADE. Cada homem, cada um de nós seguiu
esta ronda sem fim, e a repetirá eternamente. O desvio
do curso de cada um e seu ritmo de progresso, de
Nirvana ao Nirvana, está regido por causas que ele
mesmo cria como conseqüência das exigências nas
quais ele próprio se encontra aprisionado.

Este quadro de uma eternidade de ação, pode


desanimar aquelas mentes que são acostumadas a
esperar uma existência de repouso perpétuo. Mas o
conceito dessas mentes não está apoiado pelas
analogias da Natureza, nem pelos ensinamentos de
vossa Ciência ocidental, se me permite dizer, por mais
ignorante que me considere nesta ciência. Nós sabemos
que os períodos de atividade e repouso se seguem uns
aos outros em todas as coisas na Natureza, desde o
macrocosmos com os seus sistemas solares até o
homem e sua mãe Terra, que tem as suas estações de
atividade seguidas pelas de sono; e que, em resumo,
toda a Natureza, com suas formas vivas geradas, tem o
seu tempo de recuperação. Ocorre o mesmo com a
individualidade espiritual, a Mônada que inicia seu
movimento de rotação cíclica de descenso e ascensão.
Os períodos que medeiam entre cada "ronda"
manvantárica, são proporcionalmente grandes para
recompensar as milhares de existências passadas em
vários globos; enquanto o tempo entre cada "nascimento
de raça" - ou anéis como vós o chamais - é
suficientemente longo para recompensar qualquer vida
de luta e de miséria durante o lapso de tempo passado
na bem-aventurança consciente após o renascimento do
Ego. Conceber uma eternidade de bem-aventurança ou
de sofrimento como resultado de qualquer ação de
mérito ou demérito de um ser que possa ter vivido um
século ou até um milênio se quiser, em corpo físico, é
algo que somente pode ser proposto por alguém que
nunca captou a esmagadora realidade da palavra
Eternidade, nem refletiu sobre a lei da perfeita justiça e
equilíbrio que impregna toda a Natureza. É possível que
vos sejam dadas outras instruções que mostrarão como
é perfeitamente realizada a justiça, não só para o
homem, mas também para os seus subordinados e
lançarão alguma luz, assim o espero, sobre a debatida
questão do bem e do mal.

E agora, para coroar este meu esforço (o de escrever)


posso igualmente pagar uma velha dívida respondendo
uma antiga pergunta sua, relativa às encarnações
terrenas. Koot Hoomi responde a algumas de suas
perguntas - pelo menos começou a escrever ontem, mas
foi chamado às suas obrigações - mas de qualquer
modo eu posso ajudá-lo. Confio que não tereis muita
dificuldade, não tanta como até agora, ao decifrar a
minha carta. Tornei-me um escritor muito claro desde
que ele me reclamou que lhe fiz perder o vosso valioso
tempo com os meus garranchos. A sua recriminação
surtiu efeito e como vedes emendei os meus maus
hábitos.

Vejamos o que diz a sua Ciência sobre a Etnografia e


outros assuntos. As últimas conclusões a que os vossos
sábios ocidentais parecem ter chegado a formular
resumidamente são as seguintes. Tomei a liberdade de
sublinhar em azul as teorias aproximadamente corretas.

(1) Os vestígios mais antigos do homem que eles podem


encontrar desaparecem depois do fim de um período do
qual os fósseis de suas rochas, proporcionam a única
pista que eles possuem:

(2) Tomando isso como ponto de partida, eles


encontram quatro raças de homens que sucessivamente
habitaram a Europa: a) a raça do rio Drift - poderosos
caçadores (talvez Nimrod?) que viveram no clima então
sub-tropical da Europa ocidental. E usavam utensílios de
pedra lascada do tipo mais primitivo, e foram
contemporâneos do rinoceronte e do mamute; b) os
chamados homens das cavernas, raça desenvolvida
durante o período glacial, (da qual os esquimós são
agora. segundo dizem, o único tipo), e que possuíam
armas e utensílios de pedra lascada mais
aperfeiçoados, pois que faziam, com maravilhosa
exatidão, desenhos que representavam os diversos
animais que lhes eram familiares, sobre os chifres de
rena e sobre ossos e pedras, apenas com a ajuda de
pedaços aguçados de silex; c) a terceira raça - os
homens da era neolítica, que já poliam os seus utensílios
de pedra, construíam casas e botes e faziam objetos de
olaria, em resumo - os moradores nos lagos da Suíça; e
finalmente (d) aparece a quarta raça, vinda da Ásia
Central. São os Ários de pele branca que casaram-se
com os remanescentes dos escuros íberos,
representados atualmente pelos bascos morenos da
Espanha. Esta é a raça que eles consideram como
sendo os progenitores de vossos povos modernos da
Europa.

(3) Eles acrescentam, ademais, que os homens do rio


Drift precederam ao período glacial conhecido na
geologia como Pleistoceno e tiveram a sua origem há
uns 240.000 anos, enquanto que, geralmente, humanos
(veja Geilie, Dawkins, Fiske e outros) habitavam a
Europa pelo menos 100.000 anos mais cedo.

Com uma solitária exceção, eles todos estão errados.


Eles chegaram bem perto, mas não acertaram em
nenhum caso. Não houveram quatro, e sim cinco raças;
e nós mesmos somos esta quinta, com remanescentes
da quarta (uma evolução ou raça mais perfeita com cada
ronda mahacíclica), enquanto que a primeira raça não
apareceu sobre a Terra há meio milhão de anos,
segundo a teoria de Fiske, e sim há vários milhões. A
última teoria científica é a dos professores alemães e
americanos que dizem, pela boca de Fiske: "vemos o
homem vivendo sobre a Terra, possivelmente durante
meio milhão de anos, mas praticamente mudo."

Ele tem e não razão. Está certo quanto a que a raça era
"muda", pois se necessitaram longas idades de silêncio
para a evolução e a mútua compreensão da linguagem,
desde os gemidos e grunhidos da primeira diferenciação
do homem em relação ao antropóide mais elevado (raça
hoje extinta pois a Natureza "fecha a porta atrás de si",
em mais de um sentido, a medida que avança) até o
primeiro homem que emitiu monossílabos. Mas se
equivoca ao dizer o resto.

A propósito, deveríeis chegar a algum acôrdo quanto ao


termos usados para discutir as evoluções cíclicas.
Nossos termos são intraduzíveis; e sem um bom
conhecimento de todo nosso sistema, (que não se pode
dar a não ser aos iniciados normais) nada sugeririam de
definido para a vossa percepção, e só seriam uma fonte
de confusão, como é o caso de todos os escritores
metafísicos, especialmente os espíritas, com os termos
"Alma" e "Espírito".

Deveis ter paciência com Subba Row. Dê-lhe tempo. Ele


está agora em seu tapas e não deve ser perturbado. Eu
lhe direi que não vos negligencie, mas ele é muito
ciumento e considera ensinar a um inglês como sendo
um sacrilégio.

Seu,

M.

P.S. Minha escrita é boa mas o papel é um pouco fino


para escrever com pena. Não posso, entretanto,
escrever inglês com um pincel; seria pior.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 013

Recebida em 28 de Janeiro de 1882 em Allahabad.


Notas e perguntas sobre cosmologia e as respostas de
M.1

Esta carta é a primeira na coleção a tratar especifica e


exclusivamente dos ensinamentos. É também uma das
poucas onde vemos usados os dois lados da
correspondência. Nos originais do Museu Britânico a
disposição é mais curiosa. As perguntas de Sinnett
estão do lado esquerdo das folhas, e as respostas do
Mahatma estão colocadas no lado direito. Se o espaço
era insuficiente, o Mahatma continuava os seus
comentários no verso da folha. Em uns poucos casos ele
usou mesmo uma folha adicional de papel, porque as
suas respostas são muito maiores do que as questões.

Deve-se lembrar que na carta escrita por Djual Khul para


o Mahatma K.H., quanto este retornou de seu longo
retiro (Carta nº.37 - CM-37), ele mencionou que o
Mahatma pediu a Sinnett para continuar com os seus
estudos metafísicos e "não se abandonar ao desespero
sempre que vos deparardes com idéias
incompreensíveis nas notas de M. Sahib" (Hume). Este
comentário se referia às respostas de M. para as
perguntas de Hume que se acham no Apêndice II das
cartas de H.P. Blavatsky para A.P. Sinnett (Veja
Apêndice III neste livro). Sinnett tinha sido instruído a
copiar aquelas notas (veja segundo parágrafo das cartas
de H.P.B. para Sinnett - 4 no Apêndice). Ele o fez e as
respostas levantaram muito mais questões em sua
mente, que mais tarde ele apresentou a M. Elas são
respondidas nesta carta. Veja também a Carta nº.42
(CM-43): O Mahatma M. promete "abordar a vossa
"cosmologia" tão logo esteja "desobrigado". Isto refere-
se a esta carta nº.13. Os dois conjuntos de "Notas
Cosmológicas" são, é claro, suplementares, mas não
devem ser misturadas.

(1) Eu concebo que no encerramento de um pralaya o


impulso dado pelos Dhyan Chohans não desenvolve do
caos, uma sucessão de mundos, simultaneamente, e
sim seriatim. A compreensão da maneira pela qual cada
um sucessivamente emana de seu predecessor em
conseqüência do impacto comunicado pelo impulso
original, poderia melhor ser postergada até que eu possa
compreender o trabalho de toda a máquina - ciclo dos
mundos - após todas as suas partes terem vindo existir.

(1) Corretamente concebido. Nada na Natureza chega à


existência repentinamente, tudo está sujeito à mesma lei
de evolução gradual. Uma vez que compreendeis o
processo do maha-ciclo de uma esfera, tereis
compreendido a todos. Um homem nasce como outro,
uma raça evolui, se desenvolve e declina como a outra
e como todas as outras raças. A Natureza segue o
mesmo curso, desde a "criação" de um universo até a
de um mosquito. Ao estudar a cosmogonia esotérica,
mantende a vista espiritual no processo fisiológico do
nascimento humano; prossigai da causa ao efeito,
estabelecendo, à medida que prosseguis, analogias
entre o nascimento de um homem e de um mundo. Em
nossa Doutrina notareis a necessidade de seguir o
método sintético: tereis de abranger o conjunto, isto é,
fundir o macrocosmos e o microcosmos, antes de
estardes capacitado para estudar as partes
separadamente ou analisá-las com proveito para o seu
entendimento. A Cosmologia é a fisiologia do Universo
espiritualizado, porque não existe mais que uma Lei.

(2) Tomando o meio de um período de atividade entre


dois pralayas, isto é, de uma manvantara - o que penso
que ocorra é o seguinte. Os átomos são polarizados na
mais alta região de influxo espiritual por trás do véu da
matéria cósmica primitiva. O impulso magnético que
realizou isso, passa rapidamente de uma forma mineral
para outra, dentro da primeira esfera, até que, tendo já
percorrido a ronda de existência nesse reino da primeira
esfera, desce à segunda esfera, numa corrente de
atração.

(2) Polarizam-se durante o processo de movimento e


impelidos pela Força irresistível em operação. Na
Cosmogonia e no trabalho da Natureza, as forças
positivas e negativas, ou ativas e passivas
correspondem aos princípios masculino e feminino. O
vosso influxo espiritual não vem "detrás do véu", mas é
a semente masculina caindo no véu da matéria cósmica.
O ativo é atraído pelo princípio passivo e o Grande Nag,
a serpente, emblema da eternidade, atrai a sua cauda
para a sua boca formando assim em círculo (ciclos na
eternidade) naquela incessante busca do negativo pelo
positivo. Daí o emblema do lingam, do phallus e o kteis.
O único e principal atributo do princípio espiritual
universal - o inconsciente mas sempre ativo doador da
vida - é o de expandir-se e derramar-se: o do princípio
material universal é recolher e fecundar. Inconscientes e
não existentes, quando separados, eles se tornam
consciência e vida quando trazidos juntos. Daí
novamente - Brahma, da raiz "brih" a palavra sânscrita
para "expandir, crescer ou frutificar, sendo Brahma a
força vivificante expansiva da Natureza na sua evolução
eterna.

(3) Os mundos dos efeitos se interpõem entre os


mundos da atividade na série de descidas?

(3) Os mundos dos efeitos não são lokas ou localidades.


Eles são a sombra do mundo das causas, suas almas-
mundos que possuem, como os homens, seus sete
princípios, que se desenvolvem e crescem
simultaneamente com o corpo. Deste modo, o corpo do
homem está unido ao corpo do seu planeta e permanece
para sempre dentro dele; seu princípio de vida individual,
ou jivatma, aquele que na fisiologia se chama espírito
animal, retorna, depois da morte, à sua fonte, Fohat; seu
Linga Shariran será absorvida no Akasa; seu Kamarupa
se recombinará com o Sakti Universal - a Força -
Vontade, ou energia universal; sua "alma animal",
tomada por empréstimo do alento da Mente Universal,
retornará aos Dhyan Chohans; o seu sexto princípio -
quer absorvido ou ejetado da matriz do Grande Princípio
Passivo tem que permanecer na sua própria esfera -
seja como uma parte do material cru ou como uma
entidade individualizada para renascer num mundo
superior das causas. O sétimo o levará do Devachan e
seguirá ao novo Ego ao seu lugar de renascimento.

(4) O impulso magnético que não pode ser concebido


como uma individualidade - entra na segunda esfera, no
mesmo reino (o mineral) ao qual pertencera na esfera
primeira, e completa ali a ronda de encarnações
minerais, passando, então, para a terceira esfera. A
nossa Terra é ainda uma esfera necessária para ele. Daí
passa a uma série ascendente - e da mais alta dessas,
passa ao reino vegetal da primeira esfera.

Sem qualquer novo impulso de força criativa vinda de


cima, sua carreira através do ciclo dos mundos como um
princípio mineral desenvolveu algumas novas atrações
ou polarização que o leva a assumir a mais baixa das
formas vegetais - nas formas vegetais ele passa
sucessivamente através de um ciclo de mundos, sendo
tudo isso, ainda, um círculo de necessidade (já que não
se pode atribuir responsabilidade a uma individualidade
inconsciente, e, portanto, esta não pode ainda, em
nenhuma etapa do seu progresso, fazer algo para
escolher uma ou outra das divergentes sendas). Ou,
existirá algo, mesmo na vida de um vegetal, que embora
sem responsabilidade, possa levá-lo para cima ou para
baixo, neste estágio crítico do seu progresso?

Tendo completado todo o ciclo como vegetal, a


crescente individualidade expande-se no próximo
circuito numa forma animal.

(4) A evolução dos mundos não pode ser considerada


separada da evolução de tudo criado ou existente nestes
mundos. Os conceitos de cosmogonia por vós admitidos
- seja do ponto de vista teológico ou do científico - não
vos permitem resolver um simples problema
antropológico ou mesmo étnico, e eles se atravessam no
vosso caminho cada vez que tratais de decifrar o
problema das raças neste planeta. Quando um homem
começa aa falar da criação e da origem do homem, está
incessantemente indo de encontro aos fatos. Continuai
dizendo: "Nosso planeta e o homem foram criados" - e
estareis lutando sempre contra a dura realidade,
analisanda e perdendo tempo em detalhes sem
importância, incapaz de compreender o todo. Mas tudo
ficará mais claro uma vez que admitais que o nosso
planeta e nós mesmos não somos mais "criações" do
que as neves que tenho atualmente diante de mim (na
casa do nosso K. H.) mas que ambos, o planeta e o
homem, são estados correspondentes a um
determinado tempo; que seus aspectos presentes -
geológico e antropológico - são transitórios, e apenas
uma condição concomitante com aquele estado de
evolução a que chegaram no ciclo descendente.
Compreendereis facilmente o que se quer dizer por "um
único" elemento ou princípio no Universo, sendo aquele
andrógino; a serpente de sete cabeças Ananta de
Vishnu, a Naga que rodeia o Buda, o grande dragão-
eternidade que morde com a sua cabeça ativa a sua
cauda passiva, e de cujas emanações nascem os
mundos, seres e coisas. Compreendereis a razão pela
qual o primeiro filósofo proclamou que o TODO é Maya,
exceto aquele princípio uno que só descansa durante os
maha-pralayas, "as noites de Brahma" ...

Pensai agora: a Naga desperta. Exala o seu hálito


poderoso, que é enviado como choque elétrico através
do "fio" que envolve o Espaço. Ide até o vosso piano e
executai no seu teclado as sete notas da oitava mais
baixa - ascendendo e descendendo. Comece
pianíssimo, crescendo a partir da primeira nota e tendo
golpeado fortíssimo na última nota desta oitava,
retrocedei, diminuindo, até produzir na última nota um
som quase imperceptível - "morrendo pianíssimo" (como
encontro por sorte, para este meu exemplo, impresso
em uma das peças musicais guardadas na velha maleta
de K. H.). A primeira e a última nota representam para
vós a primeira e a última esfera no ciclo da evolução - a
mais alta, a que tocais uma só vez, é o nosso planeta.
Recordai que tendes de inverter a ordem no piano;
começai com a sétima nota, não com a primeira. As sete
vogais cantadas pelos sacerdotes Egípcios para os sete
raios do sol nascente as quais respondia Memnon,
significavam somente isso. O PRINCÍPIO VITAL UNO,
quando está em ação, atua em CIRCUITOS, como é
mesmo conhecido pela Ciência Física. Percorre a ronda
no corpo humano, no qual a cabeça representa e é para
o Microcosmos (mundo físico da matéria) o que o
pináculo do ciclo é para o Macrocosmos (o mundo das
Forças espirituais universais); e o mesmo ocorre com a
formação dos mundos e o grande "círculo de
necessidade". Tudo é uma só Lei. O homem tem os seus
sete princípios, cujos germens ele traz ao seu
nascimento. Assim ocorre num planeta ou num mundo.
Da primeira até a última, cada esfera tem o seu mundo
de efeitos, e a passagem por ele proporcionará um lugar
de repouso final a cada um dos princípios humanos,
excetuando-se o sétimo. O mundo nº.A nasceu; e com
ele, em seu primeiro sopro de vida, como mariscos
presos ao casco de um navio em movimento, evoluem
os seres vivos de sua atmosfera, dos germens até então
inertes, e agora despertando para vida com o primeiro
movimento da esfera. Com a esfera A, principia o reino
mineral, que percorre a ronda da evolução mineral.
Quando esta se completa, a esfera B se torna objetiva e
atrai para si a vida que já completou a sua ronda na
esfera A e que se converteu num EXCEDENTE, (a fonte
da vida é inesgotável, pois é a verdadeira Araché,
fadada a tecer eternamente a sua tela, salvo nos
períodos de pralaya). Logo advém a vida vegetal na
esfera A e o mesmo processo se verifica. No seu curso
descendente "a vida" se torna cada vez mais densa,
mais material; em seu curso ascendente, mais indistinta.
Não, não existe, nem pode existir nenhuma
responsabilidade, até o tempo em que matéria e espírito
estejam adequadamente equilibrados. Até chegar ao
homem a "vida" não tem responsabilidade de qualquer
forma; como ocorre com o feto que, no ventre materno,
passa através de todas as formas de vida - como um
mineral, um vegetal, um animal para se tornar,
finalmente, um homem.

(5) De onde recebe o homem o seu quinto princípio, a


alma animal? Tem a sua potencialidade deste princípio
residido desde o início no impulso magnético original
que constitui o mineral, ou em cada transição desde o
último mundo no lado ascendente até a esfera I, passa,
por assim dizer, através de um oceano de espírito e
assimila algum novo princípio?

(5) Como vistes, o seu quinto princípio evoluiu de dentro


de si mesmo, tendo o homem como bem dizeis, "a
potencialidade" de todos os sete princípios em germem,
desde o primeiro instante em que ele aparece no
primeiro mundo das causas como um sopro indistinto,
que se coagula e se solidifica junto com a esfera matriz.

O Espírito ou VIDA é indivisível. E quando falamos do


sétimo princípio, não é nem a qualidade, nem mesmo a
forma que queremos dizer, mas sim o espaço ocupado
nesse OCEANO de espírito pelos resultados ou efeitos
nele impressos, (benéficos como são todos os de um
colaborador da Natureza).

(6) Desde a forma animal (não humana) mais elevada,


na esfera I, como ela chega à esfera II? É inconcebível
que possa descer à forma animal mais baixa desta
esfera, mas, como pode, de outro modo, percorrer todo
o círculo de vida em cada planeta, sucessivamente?

Se ele percorre o seu ciclo numa espiral (isto é, da forma


I da esfera I, II, III, etc., e depois para a forma 3 da esfera
I... até a última), então, me parece que a mesma regra
tem que ser aplicada às individualidades minerais e
vegetais, se é que elas são individualizadas; aliás
algumas coisas que me disseram parecem contradizer
isso. (Apresentai-as, que serão respondidas e
explicadas).

Agora, no entanto, devo trabalhar conforme essa


hipótese. Tendo já percorrido o ciclo na forma animal
mais elevada, a alma animal, em seu mergulho seguinte
no oceano do espírito, adquire o sétimo princípio que a
dota com o sexto. Isto determina o seu futuro na Terra,
e ao final da vida terrena, tem suficiente vitalidade para
manter uma atração própria do sétimo princípio, ou o
perde e cessa de existir como entidade separada. (Tudo
isso está mal concebido).

O sétimo princípio existe sempre como uma força latente


em cada um dos princípios - mesmo no corpo. Como o
macrocósmico Todo, esse princípio está presente,
mesmo na esfera mais inferior, apesar de que não existe
ali nada que possa assimilá-lo.

(6) Por que, "inconcebível"? Já que a forma animal mais


elevada da esfera I ou A é irresponsável, não há
degradação para ela submergir-se na esfera II ou B, na
condição mais infinitesimal dessa esfera. Durante o seu
curso ascendente, como vos foi dito, o homem encontra
mesmo a forma animal mais baixa naquela esfera - mais
elevada do que ele próprio era na Terra. Como sabeis
que os homens e os animais e mesmo a vida, no seu
estágio incipiente, não são mil vezes mais elevados
naquela esfera, do que são aqui? Além disso, cada reino
(e existem sete - enquanto vós só tendes três) é
subdividido em SETE graus ou classes. O homem
(fisicamente) é um composto de todos os reinos, e
espiritualmente a sua individualidade não piora por estar
encarregada no corpo de uma formiga em vez de estar
dentro do de um rei. Não é a forma EXTERNA ou o
contorno físico que desonra e polui os cinco princípios -
mas a perversidade MENTAL. Assim, só quando chega
à quarta ronda, ao atingir a completa posse de sua
ENERGIA KÂMICA e amadureceu-a completamente, é
que o homem torna-se PLENAMENTE RESPONSÁVEL;
assim como na SEXTA pode converter-se num Buda, e
na sétima, antes do Pralaya, em um "Dhyan Chohan". O
mineral, o vegetal, o homem animal, todos têm que
percorrer suas sete rondas durante o período de
atividade terrestre - o MAHA YUG. Não entrarei aqui em
detalhes sobre a evolução mineral ou vegetal, somente
me referirei ao homem - ou - homem-animal. Começa a
sua decida como uma entidade simplesmente espiritual
- um sétimo princípio inconsciente (um PARABRAHMAN
em contraste com o PARA-PARABRAHM) - com os
germens dos outros seis princípios latentes ou
adormecidos nele. Ganhando solidez em cada esfera -
ao passar os seus seis princípios pelo mundo dos
efeitos, e a sua forma exterior nos mundos das causas -
(para esses mundos ou etapas do arco descendente nós
temos outros nomes), quando chega ao nosso planeta é
apenas um glorioso feixe de luz sobre uma esfera, que
é em si pura e impoluta (porque o gênero humano e cada
coisa vivente no planeta aumentam a sua materialidade
com o planeta). Nesse estágio o nosso globo é como a
cabeça de uma criança recém-nascida - macia e com
traços indefinidos - e o homem uma ADÃO antes que SE
INSULFLASSE EM SUAS NARINAS O HÁLITO DA
VIDA, (para citar as vossas próprias e enredadas
Escrituras para a vossa melhor compreensão). Para o
homem e a Natureza (de nosso planeta) é dia - o
primeiro (veja a tradição distorcida em vossa Bíblia). O
homem nº.1 faz sua aparição no ápice do círculo das
esferas, na Esfera nº.1 , depois de haver completado as
sete rondas ou períodos dos dois reinos (por vós
conhecidos) e assim, se diz que foi criado no oitavo dia
(veja a Bíblia, Capítulo II; notai os versículos 5 e 6 e
pensai o que se quis ali dizer por "nevoeiro", e o
versículo 7, no qual a LEI, o grande modelador universal,
é denominada de "Deus" pelos Cristãos e Judeus e
compreendida como EVOLUÇÃO pelos Kabalistas).
Durante essa primeira ronda, o "homem animal" recorre,
como dizeis, o seu ciclo em uma espiral. No arco
descendente - de onde ELE PARTE, DEPOIS DE
HAVER COMPLETADO A SÉTIMA RONDA DA VIDA
ANIMAL, em suas próprias SETE rondas individuais, ele
tem que entrar em cada esfera não como um ANIMAL
INFERIOR, como entendeis, mas como um HOMEM
INFERIOR, pois, durante o ciclo que procedeu a sua
ronda como homem, ele o percorreu como o tipo mais
elevado de animal. Seu "Senhor Deus", diz a Bíblia,
Capítulo I, versículos 25 e 26, depois de ter feito tudo,
disse: "Façamos o homem a nossa imagem", etc., e
criou o homem - UM SÍMIO ANDRÓGINO! (extinto em
nosso planeta) a mais alta inteligência no reino animal e
cujos descendentes encontrareis nos antropóides
atuais. Negareis a possibilidade de que o mais elevado
antropóide, na esfera próxima, seja superior em
inteligência a alguns homens, aqui na Terra, selvagens,
por exemplo, a raça pigmeu da África e os nossos
próprios vedhas do Ceilão? Mas o homem não tem que
passar por semelhante "degradação", uma vez que
alcançou a quarta etapa de suas rondas cíclicas. Assim
como as VIDAS e seres inferiores, durante a sua
primeira, segunda e terceira ronda, e enquanto ele seja
um conjunto irresponsável de matéria PURA e espírito
PURO, (nenhum deles ainda maculados pela
consciência de suas possíveis finalidades e aplicações)
procedente da esfera I, onde ele cumpriu a sua ronda
setenária local de evolução, desde o grau inferior da
espécie mais elevada - digamos - de antropóides, até o
homem rudimentar, entra certamente na esfera nº.2 na
qualidade de SÍMIO (uso essa palavra para vossa
melhor compreensão). Nesta ronda ou etapa, sua
individualidade está tão adormecida nele, como a de um
feto durante o seu período de gestação. Não tem
consciência, nem sensibilidade, porque começa como
um homem astral rudimentar, e chega ao nosso planeta
como um homem físico primitivo. Até agora é
meramente uma continuidade de movimento mecânico.
A vontade e a consciência são ao mesmo tempo auto
determinantes e determinadas por causas, e vontade do
homem, sua inteligência e sua consciência, só
despertarão quando o seu quarto princípio, KAMA,
estiver amadurecido e completado por seu contacto
(seriatim) com as forças Kâmicas ou energizantes de
todas as formas pelas quais o homem passou durante
as suas três rondas anteriores, a humanidade atual
encontra-se em sua QUARTA Ronda (a humanidade
entendida como um gênero, uma espécie, não como
RAÇA, nota bene), do ciclo evolutivo pós-pralayco; e
como as suas diferentes raças, também as entidades
individuais nelas, cumprem inconscientemente seus
ciclos terrestres setenários LOCAIS, daí a enorme
diferença em seus graus de inteligência, energia e assim
por diante. Agora, cada individualidade será seguida, no
seu arco ascendente, pela lei da retribuição - Karma e
morte, conseqüentemente. O homem perfeito ou a
entidade que alcançou a perfeição plena (por haver
amadurecido cada um dos seus sete princípios) não
renascerá aqui. Seu ciclo local terrestre se completou, e
tem que seguir avançando, ou ser aniquilado com uma
individualidade. (As entidades incompletas têm que
renascer, reencarnar). Em sua quinta ronda, depois de
um Nirvana parcial, quando já se alcançou o zênite do
grande ciclo, daí em diante eles se farão responsáveis
em sua descida de esfera em esfera, já que deverão
aparecer sobre esta Terra como uma raça ainda mais
perfeita e intelectual. Este curso descendente ainda não
começou, mas logo começará. Só que, quantos, mas
quantos serão destruídos no caminho!

O que foi dito antes é a regra. Os Budas e os


AVATARES formam a exceção, e, na verdade temos,
ainda, alguns AVATARES deixados para nós na Terra.

(7) Tendo a alma animal, em sucessivas passagens em


volta do ciclo, perdido, digamos, o impulso que a levava
para além da divergente senda descendente, que aqui
se abre, cai no mundo inferior durante o ciclo
relativamente breve no qual a sua individualidade se
dissipa.

Mas isso seria somente no caso em que a alma animal


não tivesse, em sua união com o espírito, desenvolvido
um sexto princípio durável. Se o tivesse feito, e se o
sexto princípio, atraindo para si a individualidade do
homem completo, tivesse debilitado, ao fazer isso, o
quinto princípio inferior - como a flor do aloés quando se
abre murcha as folhas - então a alma animal não teria
bastante coesão para entrar numa outra existência no
mundo inferior e logo desapareceria na esfera de
atração desta Terra.

(7) Se reformardes os vossos conceitos de acordo com


o que vos disse acima compreendereis melhor agora.

Toda a individualidade é centrada nos três princípios


médios, ou seja, o terceiro, o quarto e o quinto. Durante
a vida terrestre ela está toda no quarto, o centro de
energia, volição, a vontade. O Sr. Hume definiu
perfeitamente a diferença entre a personalidade e
individualidade. A primeira apenas sobreviver; a última,
para percorrer com êxito seus cursos setenários
descendente e ascendente, tem de incorporar em si
mesma a vida-força eterna que reside somente no
sétimo princípio e então unir os três (quarto, quinto e
sétimo) em um - o sexto. O que chegam a fazê-lo se
convertem em Budas, Dhyan Chohans, etc. O propósito
principal de nossos esforços e iniciações, é alcançar
esta união enquanto estamos sobre esta Terra. Aqueles
que tiverem êxito nada terão a temer durante as rondas
quinta, sexta e sétima. Mas isso é um mistério. Nosso
amado K. H. está em seu caminho até a meta - a mais
elevada de todas nesta esfera e mais além.

Agradeço-vos por tudo que fizestes pelos nossos dois


amigos. É uma dívida de gratidão que temos consigo.

M.

Durante algum tempo não tereis notícias minhas, nem


direta nem indiretamente. PREPARAI-VOS.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 014

Carta de K. H. respondendo a perguntas. Recebida por


A. O. H. em 9 de Julho de 1882.

Hume estava, nessa ocasião, ainda escrevendo a série


de artigos para o "The Theosophist", intitulados
"Fragmentos da Verdade Oculta". Mais tarde ele
cansou-se desta tarefa e Sinnett a continuou,
completando a série e mais tarde, com base nela,
escreveu o seu livro "Budismo Esotérico". Entretanto,
Hume tinha um intelecto agudo e questionador e estava,
nessa época, trabalhando estreitamente com Sinnett em
uma tentativa mútua de conseguir um conhecimento da
filosofia oculta.
Em seqüência à parte de Pergunta e Resposta desta
carta, está um esquema preparado pelo Mahatma K.H.,
chamado de "O Homem em um Planeta", explicado na
página seguinte.

P. (1) Entendemos que o ciclo da necessidade, gerador


do homem no nosso sistema solar, consiste de treze
globos objetivos, dos quais o nosso é o mais baixo,
estando seis no ciclo ascendente e seis no descendente,
com o décimo quarto mais baixo que o nosso. É isso
correto?

R. (1) O número não completamente correto. Existem


sete globos objetivos e sete subjetivos (eu fui autorizado
pela primeira vez a dar-vos o número correto), os
mundos das causas e os dos efeitos. Entre os primeiros
a nossa terra ocupa o ponto inferior de conversão, onde
se equilibra o espírito e matéria. Mas não deveis
incomodar-vos fazendo cálculos que, mesmo sobre
essa base exata, só vos levariam à confusão, porque as
infinitas ramificações do número sete (que é um dos
nossos maiores mistérios), estão intimamente
relacionadas e em interdependência com os sete
princípios da Natureza e do homem; esta cifra é a única
(que até agora), me foi permitido vos dar. O que puder
revelar o farei numa carta que estou terminando.

P. (2) Compreendemos que abaixo do homem não


reconheceis os três reinos inferiores - como o fazemos -
(mineral, vegetal e animal) e sim sete. Por favor
enumerai esses reinos e os explicai.

R. (2) Abaixo do homem há três na região objetiva e três


na região subjetiva, formando com o homem um
setenário. Dois dos três primeiros não podem ser
concebidos a não ser por um iniciado; o terceiro é o
Reino Interno, debaixo da crosta terrestre, que
poderíamos nomear mas que nos sentiríamos
embaraçados em descrever. Estes sete reinos estão
precedidos por outras numerosas etapas e combinações
setenárias.

P. (3) Entendemos que a mônada, ao iniciar no mais


elevado mundo da série descendente, aparece lá num
envoltório mineral e daí passa, através de uma série de
sete envoltórios representando as sete classes nas
quais é dividido o mundo mineral, e, isso feito, ela passa
para o próximo planeta onde faz o mesmo (de propósito
nada digo dos mundos de resultados, onde a mônada
empreende desenvolver o resultado do que foi
experimentado no mundo anterior, e a necessária
preparação para o próximo) e assim, sucessivamente,
nas treze esferas, o que nos dá 91 existências minerais,
a) é isso correto? b) Se o é, que classes devemos
considerar no mundo mineral? Também c) como a
mônada se livra de um envoltório passando para outro?;
no caso da invegetalização e encarnações, a planta e o
animal morrem, pois, até onde podemos saber o mineral
não morre, portanto, como a mônada sai de uma
imetalização e entra em outra durante a primeira ronda?
d) e cada molécula separada do mineral tem uma
mônada, ou somente a tem aqueles grupos de
moléculas nos quais pode-se observar uma estrutura
definida, como os cristais?

R. (3) Sim; em nossa série de mundos ela começa no


Globo "A" da série descendente, e passando através de
todas as evoluções preliminares e combinações dos três
primeiros reinos, ela se acha ali envolta na sua primeira
forma mineral (no qual eu chamo de raça quando falo do
homem e no que podemos denominar de classe em
geral) da Classe I. Somente que passa através de SETE
em vez de "treze esferas", mesmo omitindo os "mundos
de resultados" intermediários. Depois de ter passado
através de suas sete grandes classes de imetalização
(uma boa palavra essa) com suas ramificações
setenárias - a mônada dá nascimento ao reino vegetal e
se move para o próximo planeta "B".

a) Como o vê agora, com exceção das cifras. b) Vossos


geólogos dividem, creio, as rochas em três grandes
grupos: arenitos, granito e calcário, ou seja, o
sedimentar, o orgânico e o ígneo, conforme as suas
características físicas, assim como os psicólogos e
espíritas dividem o homem numa trindade de corpo,
alma e espírito. Nosso método é totalmente diferente.
Dividimos os minerais (e também os outros reinos) de
acordo com suas propriedades ocultas, isto é, de acordo
com a proporção relativa dos sete princípios universais
que contêm. Eu lamento, mas não posso, não estou
autorizado a responder a sua pergunta. Contudo para
facilitar-vos uma questão de mera nomenclatura, eu vos
aconselharia estudar perfeitamente os sete princípios no
homem, e dividir, então, em forma correlativa, as sete
grandes classes de minerais. Por exemplo, o grupo
sedimentar corresponderia ao corpo composto (falando
quimicamente) do homem, ou seja, ao seu primeiro
princípio; o orgânico, ao segundo (alguns o chamam de
terceiro) princípio ou jiva, etc. Deveis exercitar as vossas
próprias intuições nisso. Poderíeis, desta forma,
também, intuir certas verdades mesmo quanto às suas
propriedades. Estou mais do que desejoso para vos
ajudar, mas as coisas têm que ser divulgadas
gradualmente. c) Por osmose oculta. A planta e o animal
abandonam suas estruturas quando a vida se extingue.
O mesmo faz o mineral, apenas que a intervalos
maiores, já que seu corpo rochoso é mais duradouro. O
mineral morre ao final de cada ciclo manvantárico ou ao
final de uma "Ronda" como o chamareis. Está explicado
na carta que estou vos preparando. d) Cada molécula é
parte da Vida Universal. A alma do homem (seus
princípios Quarto e Quinto) não é senão um composto
de entidades desenvolvidas do reino inferior. A
superabundância ou preponderância de uma sobra a
outra determinará, com freqüência, os instintos e
paixões de um homem, a menos que os refreie a
suavizante e espiritualizadora influência do seu Sexto
Princípio.

P. (4) Por favor, notai, que chamamos de Grande Ciclo


aquele no qual a mônada executou no reino mineral uma
"ronda" que entendemos conter treze (sete) estações ou
mundos objetivos mais ou menos materiais. Em cada
uma dessas estações ela realiza o que chamamos de
"anel mundial", que inclui sete imetalizações, uma em
cada das sete classes daquele reino. É isso exato como
nomenclatura e correto?

R. (4) Creio que isso levará a mais confusão.


Concordamos em chamar de Ronda a passagem de
uma mônada, do globo "A" ao globo "Z" (ou "G"), através
do envolvimento em todos e em cada um dos quatro
reinos, isto é, como mineral, vegetal, animal e homem
ou no reino Dévico. A expressão "anel mundial" é
correta. M. aconselhou insistentemente o Sr. Sinnett em
se estabelecer uma nomenclatura antes de ir adiante.
Até agora vos foram dados uns poucos fatos por
CONTREBANDE, ou seja, por CONTRABANDO. Mas
agora, como pareceis real e seriamente determinado a
estudar e aproveitar nossa filosofia, é a ocasião para que
comecemos a trabalhar seriamente. Por estarmos
forçados a negar aos nossos amigos o conhecimento
profundo da matemática superior não é razão para
recusarmos ensinar-lhes a aritmética. A mônada realiza
não somente "anéis mundiais" ou sete maiores
imetalizações, investigações, animalizações (?) e
encarnações - mas uma infinidade de sub-anéis ou giros
subordinados, todos em séries setenárias. Assim como
o geólogo divide a crosta terrestre em divisões
principais, sub-divisões, compartimentos menores e
zonas; e o botânico dispõe suas plantas em ordens,
classes e espécies, e o zoólogo estabelece classes,
ordens e famílias, também nós temos as nossas
classificações arbitrárias e a nossa nomenclatura. Mas,
além disso tudo ser incompreensível para vós, volumes
e mais volumes dos livros de Kiu-te e outros teriam que
ser escritos. Os seus comentários são ainda piores. Eles
estão cheios dos mais complicados cálculos
matemáticos e as chaves da maioria estão unicamente
nas mãos dos nossos mais altos adeptos, já que
mostrando, como fazem, a infinidade das manifestações
fenomenais no aspecto de projeções da Força una, elas
são novamente secretas. Portanto, duvido que me seja
permitido vos dar, por ora, algo além da simples idéia
fundamental ou idéia-raiz. De qualquer modo, farei o
melhor que puder.

P. (5) Compreendemos que, em cada um dos vossos


outros seis reinos, uma mônada, de maneira similar,
executa uma ronda completa, em cada ronda parando
em cada uma das treze estações, para passar ali num
anel mundial de sete vidas, uma vida em cada uma das
sete classes em que está dividido cada um dos ditos seis
reinos. É isso exato? e se assim, nos dareis as sete
classes destes seis reinos?

R. (5) Se entende por reinos os sete reinos ou regiões


da terra - e não vejo como poderiam significar outra
coisa - então a pergunta está respondida na minha
resposta a vossa questão (2); e, nesse caso, então os
cinco dos sete já estão enumerados. Os dois primeiros
estão relacionados, como também o terceiro, com a
evolução dos elementais e do Reino Interno.

P. (6) Se estamos certos, então o total de existências


antes do período humano é de 637. É isto exato? Ou há
sete existências em cada classe de cada reino, 4.459?
Ou quais são os números totais e como são divididos?
Um ponto mais. Nesses reinos inferiores é o número de
vidas, digamos assim, invariável, ou varia, e se for assim
como, por que e dentro de que limites?

R. (6) Não sendo permitido vos dar toda a verdade ou


divulgar o número de frações isoladas, eu não posso
satisfazer à vossa vontade, dando o número total. Ficai
certo, meu caro Irmão, que, para aquele que não busca
converter-se num ocultista prático, estes números são
irrelevantes. Mesmo aos nossos Chelas mais
avançados são negados estes pormenores até o
momento da Iniciação no Adeptado. Estas cifras, como
já disse, estão entrelaçadas de tal modo com os mais
profundos mistérios psicológicos, que a divulgação de
sua chave equivaleria a por o bastão do poder ao
alcance de todos os homens inteligentes que lessem o
vosso livro. Tudo o que posso vos dizer é que, dentro do
Manvantara Solar, o número de existências ou
atividades vitais da mônada é fixo, mas há variações
locais do número nos sistemas menores, mundos
individuais, rondas e anéis mundiais, de acordo com as
circunstâncias. E, em relação a isto, recordai também,
que as personalidades humanas são freqüentemente
obscurecidas, enquanto as entidades, sejam isoladas ou
em conjunto, completam todos os ciclos de
necessidade, menores e maiores, de qualquer modo.

P. (7) Até aqui esperamos estar toleravelmente corretos


mas, ao chegarmos ao Homem, ficamos confusos.

R. (7) O que não é de estranhar, já que não vos foi dada


a informação correta.

P. (7a) Percorre a mônada, como homem (a partir do


antropóide) uma ou sete rondas como se definiu acima?
Entendemos que o último número é o exato.

R. (7a) Como o homem-macaco ele executa igualmente


a mesma quantidade de rondas e anéis como qualquer
outra raça ou classe: isto é, percorre uma Ronda e tem
que atravessar sete raças principais de homem parecido
com o macaco, logo, a mesma quantidade de sub-raças,
etc., etc., em cada planeta de "A" até "Z" (ver Notas
Complementares) como a raça acima descrita.

P. (7b) Está constituído o seu círculo mundial, em cada


ronda, por sete vidas em sete raças (49) ou só por sete
vidas numa raça? Não estamos seguros do sentido em
que usais a palavra raça, se há somente uma raça para
cada estação de cada ronda, isto é, uma raça para cada
círculo mundial, ou se há sete raças (com suas sete
ramificações e uma vida para cada uma em qualquer
caso) em cada círculo mundial? Ademais pelo que
dissestes: "e através de cada uma destas o homem TEM
que evoluir antes de passar à próxima raça superior, e
isto SETE VEZES", não estamos seguros de que não
existam sete vidas em cada ramificação, como a
chamais ou SUB-RAÇA como a chamaríamos, se
concordais. Desta forma haveriam então sete rondas,
com sete raças cada uma, e cada raça com sete sub-
raças, e cada sub-raça com sete encarnações = 13 X 7
X 7 X 7 X 7 = 31.313 vidas: ou uma ronda com sete raças
e sete sub-raças e uma vida em cada uma delas = 13 X
7 X 7 = 637 vidas ou então 4.459 vidas. Por favor,
esclarecei, dando o número normal de vidas (os
números exatos variarão devido aos idiotas, crianças,
etc. que não foram contados) e como se dividem?

R. (7b) Como na raça acima descrita: isto é, em cada


planeta - nossa Terra incluída - ele tem que efetuar sete
anéis através de sete raças (uma em cada) e sete
ramificações multiplicadas por sete. Há sete raças
raízes e sete sub-raças ou ramificações. Nossa doutrina
considera a antropologia como uma visão vazia e
absurda dos estudantes de religião e se restringe à
etnologia. É possível que a minha nomenclatura seja
falha: estais em liberdade para mudá-la, se for o caso.
O que chamo de "raça" chamaríeis de "tronco" ou
"estirpe", embora a palavra sub-raça expressa melhor o
que queremos dizer do que a palavra família ou divisão
do gênero humano. Entretanto, para vos esclarecer
nesta questão direi - uma vida em cada uma das sete
raças raízes; sete vidas em cada uma das 49 sub-raças
- ou 7 X 7 X 7 = 343 e acrescente mais sete. E depois,
uma série de vidas em raças subsidiárias e ramificadas;
totalizando as encarnações do homem em cada estação
ou planeta 777. O princípio da aceleração e
retardamento aplica-se neste caso, para eliminar todas
as estirpes inferiores e deixar somente uma única
superior para formar o último anel. Isto não é muito para
se dividir pelos milhões de anos que o homem passa
num planeta. Vamos considerar apenas um milhão de
anos - período suspeitado e agora aceito pela vossa
Ciência - para representar o período completo da
existência do homem na terra, nesta ronda; e
considerando uma média de cem anos para cada vida,
verificamos que enquanto ele passou em todas as suas
vidas no nosso planeta (nesta Ronda) apenas 77.700
anos esteve nas esferas subjetivas durante 922.300
anos. Não é muito encorajamento para os modernos e
exagerados reencarnacionistas que dizem relembrar
suas várias existências anteriores!

Caso dispondes a fazer quaisquer cálculos, não


esqueçais que computamos acima somente vidas
médias completas de plena consciência e
responsabilidade. Nada foi dito com relação aos
fracassos da Natureza, os abortos, idiotas congênitos e
a mortalidade infantil no primeiro ciclo setenário, nem
das EXCEÇÕES das quais não posso falar. Também
deveis recordar que a média da vida humana varia
muitíssimo de acordo com as Rondas. Embora eu esteja
obrigado a recusar informação sobre muitos pontos, se
conseguirdes resolver alguns dos problemas, será meu
dever dizê-lo. Tentai resolver o problema das 777
encarnações.

P. (8) "M." disse que toda humanidade está na quarta


ronda, a quinta ainda não começou, mas logo ocorrerá.
Foi isso um engano? Caso não seja, então, comparando
isso com a vossa observação atual, concluímos que toda
a humanidade está na quarta ronda (embora em outro
lugar parece que dissestes estarmos na quinta ronda).
Que as pessoas mais elevadas agora na Terra
pertencem à primeira sub-raça da quinta raça, a maioria
à sétima sub-raça da quarta raça, mas com
remanescentes se outras sub-raças da quarta raça e da
sétima sub-raça da terceira raça. Por favor, esclarecei-
nos completamente a este respeito.

R. (8) "M." sabe muito pouco inglês e DETESTA


escrever. Mas também eu poderia ter usado a mesma
expressão. Umas poucas gotas de chuva não fazem
monção, ainda que anunciem. A Quinta Ronda não
começou em nossa Terra, e as raças e sub-raças de
uma ronda não podem ser confundidas com as de outra.
Pode-se dizer que a humanidade da quinta Ronda
"começou", quando, no planeta que precedeu o nosso,
não restar um só homem daquela Ronda, e na nossa
Terra nenhum da quarta. Devereis também saber que os
ocasionais homens da Quinta Ronda (tão só uns
poucos) que aparecem entre nós como precursores, não
geram na Terra a progenie da Quinta Ronda. Platão e
Confúcio foram homens da Quinta Ronda, e nosso
Senhor foi um homem da Sexta, (falarei, na minha
próxima carta, do mistério de seu avatar) e mesmo o
filho de Gautama, o Buda, não foi, senão um homem da
Quarta Ronda.

Os nossos termos místicos, toscamente retraduzidos do


sânscrito para o inglês, resultam tão confusos tanto a
nós como a vós - especialmente a "M.". A menos que,
ao vos escrever, um de nós tome a sua pena COMO UM
ADEPTO e a use da primeira até a última palavra, ele é
capaz de "escorregar" como qualquer outro homem.
Não, não estamos na quinta ronda, mas homens da
quinta ronda têm vindo nos últimos poucos milhares de
anos. Mas o que é esse pequeno intervalo de tempo em
comparação com um dos vários milhões de anos que
abrange a ocupação da Terra pelo homem, em uma só
ronda?
K. H.

Examinai, por favor, cuidadosamente as poucas coisas


adicionais que vos dou em folhas soltas. Damodar já
recebeu ordem de vos enviar a carta nº.3 de Terry - um
bom material para o panfleto nº.3 dos Fragmentos de
uma Verdade Oculta.

Esta figura representa em traços gerais o


desenvolvimento da humanidade num planeta - digamos
a nossa Terra. O homem evolui em sete raças maiores
ou raízes; 49 raças menores; as raças subordinadas ou
ramos, derivados destas últimas não estão
representadas no desenho.

A flecha indica a direção do impulso evolutivo.

Os números I, II, III, IV, etc., são as sete raças maiores


ou raças raízes.

Os números 1, 2, 3, etc., são as raças menores.

a, a, a, são as raças subordinadas ou ramificações.

N é o ponto inicial ou terminal da evolução no planeta.

S é o ponto crucial onde o desenvolvimento se equilibra


ou se reajusta na evolução de cada raça.

E, são os pontos equatoriais nos quais no arco


descendente o intelecto subjuga a espiritualidade, e no
ascendente esta sobrepuja o intelecto.

(N. B. - o que antecede está escrito pela mão de D. K. -


o restante, por K. H. - A. P. S.).

P. S. - Com pressa D. J. K. traçou o desenho algo


inclinado, fora da perpendicular, mas servirá de
memorando. Ele o desenhou para representar o
desenvolvimento num só planeta, mas acrescentei uma
ou duas palavras para que também possa ser aplicado
(como o fiz) a uma inteira cadeia manvantárica de
mundos.

K. H.

NOTAS SUPLEMENTARES
Sempre que qualquer questão de evolução ou
desenvolvimento, em qualquer reino, se vos apresenta,
tende sempre em conta, que tudo está regido pela Lei
Setenária de séries em suas correspondências e na
relação mútua através de toda a Natureza.

Na evolução do homem há um ponto culminante, um de


extrema imersão, um arco descendente e um arco
ascendente. Como é o "Espírito" que se transforma em
"matéria" e (não é a matéria que ascende..., mas) é a
matéria que se resolve uma vez mais em espírito, é
lógico que a primeira e a última evolução da Raça num
planeta, ( como em cada Ronda) terão que ser mais
etéreas, mais espirituais, e a quarta, ou mais baixa, será
mais física, (de uma maneira progressiva, naturalmente,
em cada ronda), e ao mesmo tempo, cada raça evoluída
no arco descendente, deverá ser mais inteligente,
fisicamente, que a sua predecessora, e, no arco
ascendente, cada uma delas terá uma forma mais
refinada de mentalidade mesclada com a intuição
espiritual - já que a inteligência física é a manifestação
disfarçada da inteligência espiritual.

A Primeira Raça (ou tronco) da Primeira Ronda, depois


de um Manvantara solar, seria, pois, uma raça de
homens-deuses de forma quase impalpável, e é
realmente (por favor, esperai a minha próxima carta
antes que vos desconcertais ou enredais - ela explicará
muitas coisas); mas aqui surge para o estudante a
dificuldade de conciliar este fato com a evolução do
homem, procedendo do animal, não importa quão
superior fosse a sua forma entre os antropóides. E, no
entanto, é reconciliável, para quem sustente
religiosamente uma estrita analogia entre os trabalhos
dos dois mundos - o visível e o invisível - um mundo que,
de fato, está se elaborando internamente, digamos. Pois
bem, há e tem que haver "fracassos" nas raças etéreas
de muitas classes de Dyan Chohans ou Devas, bem
como entre os homens. Mas como esses fracassados
alcançaram um grau bastante alto de progresso e de
espiritualidade para serem arremessados para traz
irresistivelmente, de seu estado de Dyan Chohans, no
vórtice de uma nova e primordial evolução através dos
reinos inferiores - eis o que sucede então: ao se começar
a evolução de um novo sistema solar, estes Dyan
Chohans (recordai a alegoria hindú dos Devas caídos,
arrojados por Siva no Andarah6, aos quais Parabrahm
permite que considerem esse estado como
intermediário, no qual podem preparar-se por uma série
de renascimentos, para um estado mais alto, uma nova
regeneração) são levados por uma onda de vida para
nascer "adiante" dos elementais, permanecendo como
uma força espiritual inativa ou latente dentro da aura do
nascente mundo de um novo sistema, até que surja o
estágio da evolução humana. Então Karma os alcança e
terão que aceitar o amargo copo da retribuição até a
última gota. Depois se transformam numa Força ativa e
se mesclam com os elementais ou entidades do reino
puramente animal, que já progrediram, para
desenvolver, pouco a pouco, o tipo pleno do gênero
humano. Com esta mescla, perdem a sua alta
inteligência e espiritualidade do estado Dévico, para
recuperá-las no final do Sétimo Anel, na Sétima Ronda.

Assim nós temos:

1ª. Ronda. - Um ser etéreo, não inteligente, mas super-


espiritual. Em cada uma das subseqüentes raças, sub-
raças e raças menores da evolução ele cresce cada vez
mais e se torna um ser rodeado por envoltórios ou
encarnado, mas ainda, predominantemente etéreo. E
como os animais e vegetais, desenvolve corpos
monstruosos em conformidade com seu rústico
ambiente.

2ª. Ronda. - Ele é ainda gigantesco e etéreo, mas


crescendo mais firme e mais condensado no corpo - já
é um homem mais físico, embora ainda menos
inteligente do que espiritual porque a evolução da mente
é mais lenta e difícil do que a da estrutura física, e não
se desenvolve tão rapidamente como o corpo.

3ª. Ronda. - Agora já tem um corpo completamente


sólido e com pacto; a princípio sob a forma de um
gigantesco símio, mais inteligente (ou mais astuto) do
que espiritual. Pois no arco descendente ele atingiu
agora o ponto onde a sua espiritualidade primordial é
eclipsada ou obscurecida pela nascente mentalidade.
Na última metade desta terceira ronda a sua estatura
gigantesca decresce, seu corpo melhora em textura
(talvez o microscópio possa auxiliar para demonstrar
isso) e ele se torna mais racional - embora mais um
símio do que um homem dévico.

4ª. Ronda. - O intelecto tem um enorme


desenvolvimento nesta ronda. As raças mudas
adquirirão a nossa fala humana, no nosso globo, no
qual, depois da 4ª. raça, a linguagem é aperfeiçoada e o
conhecimento das coisas físicas aumenta. Neste ponto
mediano da 4ª. Ronda, a humanidade ultrapassa O
PONTO CRÍTICO DO CICLO MANVANTÁRICO
MENOR; (Assim também, no ponto médio da evolução
de cada raça raiz ou maior, em cada ronda, o homem
atravessa o equador de sua carreira naquele planeta e
esta mesma regra é aplicada a evolução inteira, ou seja,
ás sete rondas do manvantara menor, - 7 rondas
divididas por 2 = 31/2 rondas). Neste ponto, então, o
mundo se expande com os resultados da atividade
intelectual e da DIMINUIÇÃO ESPIRITUAL. Na primeira
metade da Quarta Raça, nasceram as ciências, as artes,
a literatura e a filosofia, eclipsando-se numa nação para
nascer em outra. A civilização e o desenvolvimento
intelectual seguem girando em ciclos setenários como
tudo mais, entretanto, é apenas na segunda metade que
o Ego espiritual começará a sua verdadeira luta com o
corpo e a mente para manifestar os seus poderes
transcendentais. Quem ajudará na gigantesca luta que
se aproxima? Quem? Feliz o homem que ajuda uma
mão auxiliadora.

5ª. Ronda. - Continua o mesmo desenvolvimento relativo


e a mesma luta.

6ª. Ronda.

7ª. Ronda.

Dessas não necessitamos falar.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 015

De K.H. a A.O.H. Recebida em 10 de Julho de 1882.


P. (1) Contém sempre em si mesma cada forma mineral,
vegetal, animal, essa entidade que leva em potência,
todo o seu futuro desenvolvimento, até chegar ao
espírito planetário? Existe agora mesmo, nesta Terra, tal
essência, cada espírito ou alma - o nome não tem
importância - em cada mineral, etc.?

R. (1) Invariavelmente; apenas seria preferível chamá-lo


de GERMEN de uma futura entidade, e é o que tem sido
por milênios. Considerai o feto humano. Desde o
momento de sua concepção, até que complete o seu
sétimo mês de gestação, repete em miniatura os ciclos
mineral, vegetal e animal pelos quais passou, em suas
anteriores materializações, e é só durante os últimos
dois meses que desenvolve a sua futura entidade
humana, a qual só ficará completa no sétimo ano da
criança. Entretanto, ela existia sem nenhum AUMENTO
ou DIMINUIÇÃO, íons após íons antes que elaborasse
o seu caminho ascendente ATRAVÉS E DENTRO da
matriz da mãe Natureza, como faz agora no seio de sua
mãe carnal. Verdadeiramente disse um sábio filósofo,
que confia mais nasa suas intuições do que nos ditames
da moderna Ciência: "Os estágios da existência intra-
uterina do homem incorporam um registro condensado
de algumas das páginas perdidas da história da Terra."
Assim tendes que olhar para trás, para as entidades
animal, vegetal e mineral. Tendes que considerar cada
entidade, no seu ponto de partida no curso
manvantárico, como o átomo primordial cósmico já
diferenciado pelo primeiro pulsar do sopro de vida
manvantárico. Pois a potencialidade que se desenvolve
finalmente num espírito planetário perfeito se oculta, e é,
de fato, esse átomo primordial cósmico. Atraído por sua
"afinidade química"(?) une-se com outros átomos
semelhantes, e o conjunto de tais átomos unidos, virá,
com o tempo, converter-se em um globo "portador de
humanidade", após ter passado sucessivamente pelas
etapas de nebulosa, de espiral e de esfera de névoa
ardente e pela condensação, consolidação, contração e
esfriamento do planeta. Mas recordai, nem todo globo
se converte em "portador de humanidade". Exponho
simplesmente o fato sem me deter mais no assunto. A
grande dificuldade em compreender a idéia do processo
acima citado está na capacidade de formar concepções
mentais, mais ou menos incompletas, do trabalho do
elemento UNO, e de sua inevitável presença em cada
átomo imponderável e sua subseqüente, incessante e
quase ilimitada multiplicação em novos centros de
atividade, sem que isto afete de modo algum, a sua
própria quantidade original. Tomemos essa agregação
de átomos destinados a formar o nosso globo e, então,
dando uma rápida olhada no conjunto, acompanhemos
o trabalho especial que executam tais átomos.
Chamaremos ao átomo primordial de "A". Não sendo um
centro de atividade circunscrito e sim o ponto inicial de
uma rotação manvantárica de evolução, dá nascimento
a incontáveis novos centros, que poderemos chamar de
B, C, D, etc. Cada um desses pontos capitais produz
centros menores, a, b, c, etc. E estes últimos, no curso
da evolução e involução, desenvolvem, com o tempo,
vários centros A, B, C, etc., e formam, assim, as raízes
ou são as causas do desenvolvimento de novos
gêneros, espécies, classes, etc., AD INFINITUM. Agora,
nem o átomo primordial "A" e seus átomos
companheiros, nem os seus derivados a, b, c, nada
perderam uma fração sequer de sua força original ou
essência vital em conseqüência da evolução de seus
derivados. A força não se transformou em alguma outra
coisa, como já comprovei em minha carta, entretanto, a
cada vez que desenvolve um novo centro de atividade
DO INTERIOR de si mesmo, se multiplica AD
INFINITUM, sem perder jamais uma só partícula de sua
natureza em quantidade ou qualidade. Entretanto, à
medida que progride, acrescenta algo mais à sua
diferenciação. Essa "força", assim denominada, mostra
ser verdadeiramente indestrutível mas não é correlata e
não é conversível no sentido aceito pelos Membros da
R. S. (Real Sociedade), mas bem poderia dizer-se que
CRESCE e se EXPANDE em "algo distinto" enquanto
nem a sua própria potencialidade, nem o seu ser, são
afetados no mínimo que seja pela transformação. Tão
pouco poderia chamar-se FORÇA, já que esta última
não é senão um atributo de Yin Sin (Yin-Sin ou a "Forma
una de existência", e também Adi-Buddhi ou
Dharmakaya, a essência mística, universalmente
difundida) ao se manifestar no mundo fenomenal dos
sentidos, e, como tal, é designado pelo seu antigo nome:
Fohat. Em relação a isto vede o artigo de Subba Row,
"Aryan Arhat Esoteric Doctrines", que trata dos
princípios setenários no homem, e a crítica que faz dos
vossos "Fragmentos", nas páginas 94 e 95. O Brahmin
iniciado chama-a (Yin-Sin e Fohat) Brahman e Sakti
quando se manifestam como aquela força. Estaremos
mais corretos em chamá-la VIDA INFINITA, a fonte de
toda a vida visível e invisível, uma essência inesgotável,
sempre presente, em resumo: Swabhavat. (Swabhavat
em sua aparição universal, Fohat quando se manifesta
através do nosso mundo fenomenal ou melhor dito, do
universo visível, e, portanto, dentro das suas limitações).
É pravritti, quando ativa, nivritti, quando passiva.
Chamai-a Sakti de Parabrahma, se quiserdes, e digai
com os Adwaitas (Subba Row é um deles) que
Parabrahma mais Maya se torna em ISWAR: o princípio
criativo, - um poder comumente chamado de Deus, que
desaparece e morre com o resto quando chega o
Pralaya. Ou podeis acompanhar os filósofos Budistas do
Norte e chamá-lo de ADI-BIDDHI, a inteligência
onipenetrante, pura e suprema, com a sua Divindade
periodicamente manifestada "Avalokiteshvara" (uma
natureza inteligente manvantárica coroada com
humanidade) - o nome místico dado por nós às hostes
dos Dyan Chohans (N.B. os Dyan Chohans solares ou
apenas a hoste do nosso sistema solar) tomados
coletivamente, hoste que representa a fonte matriz, a
soma total de todas as inteligências que estavam, estão
e sempre estarão em nossa cadeia de planetas
portadores de humanidades, ou em qualquer outra parte
ou porção do nosso sistema solar. E isto vos levará, por
analogia, a compreender que, por sua vez, Adi-Buddhi
(como implica o seu nome traduzido literalmente) é a
soma total das inteligências universais, incluindo as do
Dyan Chohans, mesmo os de ordem mais elevada. Isto
é tudo que me atrevo a dizer-vos sobre este assunto
especial, já que temo ter transcendido o limite. Por
conseguinte, todas as vezes que vos falo de
humanidade, sem especificá-la, devereis entender que
não me refiro à humanidade da nossa Quarta Ronda,
como a vemos nesta partícula de barro no espaço, mas
sim à uma hoste inteira já evoluída.

Sim, como já descrevi na minha carta - só há um


elemento e é impossível compreender o nosso sistema
antes que uma correta concepção do mesmo esteja
firmemente fixada na mente. Tendes, pois, que perdoar-
me caso dique mais tempo no assunto do que realmente
parece necessário. Mas, a não ser que este grande fato
primário esteja firmemente entendido, o resto parecerá
ininteligível. Esse elemento é então - falando
metafisicamente - um substrato ou causa permanente
de todas as manifestações no universo fenomenal. Os
antigos falam de cinco elementos perceptíveis: éter,
água, fogo, terra e de um elemento imperceptível aos
(não iniciados) o 6º. Princípio do Universo - chamêmo-lo
Purush Sakti, e quanto a falar do sétimo, fora do
santuário, era passível de morte. Mas esses cinco
apenas são os aspectos diferenciados do uno. Assim
como o homem é um ser sétuplo da mesma maneira é o
universo, aquele, um microcosmo setenário, está para o
macrocosmo setenário, assim como uma gota água de
chuva está para a nuvem da qual caiu a à qual voltará
no curso do tempo. Nesse elemento uno estão
compreendidas ou incluídas as distintas tendências para
a evolução do ar, água, fogo, etc. (desde uma condição
puramente abstrata até concreta) e quando chamamos
de elementos a estes últimos, é para indicar suas
capacidades potenciais para produzir infinitas mudanças
de forma de evolução do ser. Vamos representar a
quantidade desconhecida por X: essa quantidade é o
princípio uno, eterno e imutável - e A, B, C, D, E, são
cinco dos seis princípios menores ou componentes do
mesmo, isto é, os princípios da terra, água, ar, fogo e
éter (akasa) seguindo a ordem de sua espiritualidade e
começando com o inferior. Há um Sexto Princípio que
corresponde ao Sexto Princípio BUDDHI no homem mas
que não podemos nomear, exceto entre os iniciados.
(Para evitar confusões, lembrai-vos que, ao considerar-
se a questão do lado da escala descendente, o Todo
abstrato ou o Princípio Eterno, seria designado
numericamente como o primeiro, e o universo
fenomênico como o sétimo, e tanto em relação ao
homem ou ao universo - visto do outro lado, a ordem
numérica seria exatamente a contrária revertida). Eu
posso, entretanto, sugerir que ele está ligado com o
processo da mais alta intelecção. Chamêmo-lo de N. E.,
além destes, há subjacente a todas as atividades do
universo fenomenal um impulso energizador vindo de X,
chamêmo-lo de Y. Estabelecida algebricamente, a
nossa equação poderia ser lida A+B+C+D+E+N+Y=X.
Cada uma dessas seis letras representam, digamos, o
espírito ou abstração do que chamais elementos ( o
vosso pobre inglês não me oferece outra palavra). Este
espírito governa toda a linha de evolução em seu próprio
departamento, no curso de todo o ciclo manvantárico.
Este espírito é a CAUSA formativa, vivificante,
impelidora, desenvolvedora, que opera por trás das
inumeráveis manifestações fenomênicas desse
departamento da Natureza. Vamos tratar de esclarecer
a idéia com um só exemplo. Tomemos o fogo. D - o
princípio ígneo primário residente em X - é a causa
essencial de toda manifestação fenomênica ígnea em
todos os globos da cadeia. As causas imediatas são os
agentes ígneos secundários e evoluídos, que controlam
separadamente as SETE descidas do fogo em cada
planeta, (cada elemento tem seus sete princípios e cada
princípio os seus sete sub-princípios, e estes agentes
secundários, antes de atuar, terão, por sua vez se
convertido em causas primárias). D é um composto
setenário cuja fração mais elevada é espírito puro. Como
o vemos em nosso globo, ele está em sua condição mais
grosseira e mais material, tão grosseiro em sua maneira
como o homem em sua forma física. No globo que nos
precedeu imediatamente, o fogo era menos denso do
que aqui; no precedente era menos ainda. Assim, o
corpo da chama era mais e mais puro e espiritual. No
primeiro de todos da cadeia manvantárica apareceu
como um resplendor objetivo, quase que totalmente
puro - o Maha Buddhi, o Sexto Princípio da LUZ
ETERNA. Como o nosso globo se acha no fundo do
arco, onde a matéria se apresenta em sua forma mais
grosseira em companhia do espírito, quando o elemento
fogo se manifestar no próximo globo, subseqüente ao
nosso no arco descendente, será menos denso de como
o vemos agora. A sua qualidade espiritual será idêntica
àquela que teve no globo que precedeu ao nosso no
arco descendente; o segundo globo do arco ascendente
corresponderá em qualidade, ao segundo globo anterior
ao nosso no arco descendente, etc. Em cada globo da
cadeia há sete manifestações do fogo, das quais, a
primeira, pela ordem, corresponderá, quanto à
qualidade espiritual, com a última manifestação no
planeta imediatamente precedente. Como deduzireis, o
processo se inverte no arco oposto. A miríade de
manifestações específicas desses seis elementos
universais são, por sua vez, nada mais do que galhos,
ramos e ramificações da una, singular e primordial
"Árvore da Vida".

Tomai a árvore genealógica da vida da raça humana, de


Darwin, e outras, tendo sempre em mente o velho e
sábio adágio, "Como é embaixo assim é em cima" (isto
é, o sistema universal de correspondências), tratai de
compreender por analogia. Assim vereis que hoje em
dia, no atual planeta, existe esse espírito em cada
mineral, etc. Direi mais. Cada grão de areia, cada pedra
ou pedaço de granito, é esse espírito cristalizado ou
petrificado. Duvidais. Consultai um livro didático de
geologia e vede o que a Ciência afirma quanto à
formação e crescimento dos minerais. Qual é a origem
de todas as rochas sedimentares ou ígneas? Tomai um
pedaço de granito ou arenito e encontrareis que o
primeiro está composto de cristais, e o segundo, de
grãos de várias pedras, (as rochas ou pedras orgânicas
formadas dos restos de antigas plantas e animais, não
nos servirão para a presente ilustração; são relíquias de
evoluções derivadas, enquanto que só nos interessa ass
originais). Pois bem, as rochas sedimentares e ígneas
são compostas, as primeiras, de areia, cascalho e barro;
as últimas, de lava. Temos apenas que remontar à
origem de ambas. O que encontramos? Que uma foi
composta por três elementos ou, para falar com mais
exatidão, por três manifestações distintas do elemento
UNO: terra,água e fogo que a outra foi composta de
maneira similar (ainda que em condições físicas
diferentes) da matéria cósmica - a suposta matéria prima
em uma das manifestações (6º. princípio) do elemento
uno. Como podemos então duvidar que um mineral
contém em si uma centelha do Uno, igual a todas as as
demais coisas desta natureza objetiva?

P. (2) Quando o Pralaya começa o que acontece ao


Espírito que não elaborou seu caminho até o homem?

R. (2) ... O período necessário para completar os sete


anéis globais - locais ou terrestres - ou chamêmo-los de
anéis de globos (sem falar nas sete Rondas nos
manvantaras menores seguidos por seus sete pralayas
menores) - a conclusão do chamado ciclo mineral é
incalculavelmente mais longo do que a de qualquer outro
reino. Como podeis inferir por analogia, cada globo tem
de passar, antes de chegar ao seu período adulto, por
um período de formação, também setenário. A lei na
Natureza é uniforme, e a concepção, formação,
nascimento, crescimento e desenvolvimento de uma
criança, difere das de um globo, somente em magnitude.
O globo tem dois períodos de dentição e de crescimento
capilar (as primeiras rochas, das quais logo se
desprende para dar lugar a outras novas - e os seus
musgos e samambaias até que surja a floresta. Assim
como os átomos no corpo mudam a cada sete anos, do
mesmo modo o globo renova as suas camadas a cada
sete ciclos. O corte de uma seção das minas de carvão
do Cabo Breton mostra sete antigos solos com os restos
da igual quantidade de florestas, e se cavássemos de
novo mais profundamente, encontraríamos sete outras
antecedentes camadas.

Há três espécies de pralayas e manvantaras:-

1. O pralaya e manvantara universal ou Maha.

2. O pralaya e manvantara solares.

3. Os pralayas e manvantaras menores.

Quando o pralaya nº.1 está terminado, começa o


manvantara universal. Então todo o universo tem que
ser re-evoluído de novo. Quando advém o pralaya de um
sistema solar, ele afeta somente aquele sistema solar.
Um pralaya solar = a 7 pralayas menores. Os pralayas
solares menores de nº.3 dizem respeito somente a
nossa pequena cadeia de globos, sejam eles portadores
de humanidades ou não. A nossa Terra pertence a essa
cadeia. Além disso, dentro de um pralaya menor existe
um estado de repouso planetário ou, como dizem os
astrônomos "de morte", como ocorre com a nossa atual
lua, na qual subsiste o corpo rochoso do planeta, mas o
impulso vital foi extinto. Por exemplo, imaginemos que a
nossa Terra pertença a um grupo de sete planetas ou
mundos portadores de homens, dispostos mais ou
menos em forma elíptica. Ocupando a nossa Terra
exatamente o ponto central inferior da órbita de
evolução, isto é, tendo chegado à metade da ronda -
chamaremos ao primeiro globo de A, e ao último de Z.
Após cada pralaya solar há uma destruição COMPLETA
de nosso sistema e depois de cada sistema e, à cada
vez, tudo se faz mais perfeito do que antes.

Agora, o impulso vital chega a "A", ou melhor, àquilo que


está destinado a converter-se em "A" e que até agora
nada mais é senão pó cósmico. Um centro é formado na
matéria nebulosa formada pela condensação do pó solar
disseminado através do espaço, e ocorre uma série de
três sucessivas evoluções, invisíveis a olho físico, isto é,
evoluíram os três reinos elementais ou forças da
Natureza, ou, em outras palavras, está formada a alma
animal do globo futuro; ou (como o espessaria um
kabalista) foram criados os gnomos, as salamandras e
as ondinas. Assim pode ser desenvolvida a
correspondência que existe entre um globo-matriz e a
sua criatura-homem. Ambos tem os sete princípios. No
Globo, os elementais (dos quais existem sete espécies
no total) formam (a) um corpo denso (b) seu duplo
fluídico (LINGA SARIRAM), (c) seu princípio vital (jiva),
(d) seu quarto princípio kama rupa é formado pelo seu
impulso criativo operando do centro para a
circunferência, (e) seu quinto princípio (alma animal ou
MANAS, inteligência física) é incorporada no vegetal
(em germem) e nos reinos animais, (f) e o seu sexto
princípio ( ou alma espiritual, Buddhi) é o homem (g) e o
seu sétimo princípio (Atma) se acha numa película de
akasa espiritualizado que o rodeia. Havendo completado
as três evoluções, começa a formar-se o globo visível. O
reino mineral, quarto na série completa, mas o primeiro
neste estado, inicia o processo. No começo seus
sedimentos são vaporosos, macios e plásticos,
alcançando a dureza e a solidez somente no Sétimo
Anel. Uma vez completado, este Anel projeta a sua
essência no Globo "B" que já está atravessando os
estágios preliminares da sua formação - e a evolução
mineral começa naquele Globo. Neste momento
começa a evolução do reino vegetal no globo "A".
Quando este último terminou o seu Sétimo Anel, a sua
essência passa para o Globo "B", nesse ponto, a
essência mineral passa ao Globo "C", e os germens do
reino animal entram no Globo "A". Quando o animal
percorreu sete anéis ali, o seu Princípio Vital passa ao
Globo "B", e as essências de vegetais e minerais
seguem o seu caminho também adiante. Surge, então,
o homem em "A", um vislumbre etéreo do ser compacto
no qual está destinado a se tornar na nossa Terra.
Evoluindo em sete raças principais, com muitas
ramificações de sub-raças, ele, do mesmo modo que os
reinos precedentes, completa os seus sete anéis e
então, é transferido sucessivamente para cada um dos
globos, até "Z". O homem possui, em germem, todos os
sete princípios, desde o primeiro momento de sua
aparição, mas nenhum deles está desenvolvido.
Poderíamos muito bem compará-lo a uma criança
recém-nascida. Ninguém jamais viu, em nenhum dos
milhares de relatos correntes sobre fantasmas, o espírito
de bebê, ainda que a imaginação de uma mãe amorosa
possa haver-lhe sugerido em sonhos, a imagem do bebê
que perdeu. E isso é muito revelador. Em cada uma das
rondas ele faz um dos princípios desenvolver-se
plenamente. Na primeira ronda a sua consciência na
nossa terra é vagarosa, indecisa e confusa, algo como o
que ocorre com uma criança pequena. Quando atinge a
nossa terra na segunda ronda torna-se responsável até
certo ponto, e na terceira ele o é inteiramente. Em cada
estágio e em cada ronda o seu desenvolvimento
mantém o mesmo ritmo do globo onde ele está. O arco
descendente de A para a nossa terra é chamado
sombreado, o ascendente até Z, "luminoso". Nós,
homens da Quarta Ronda, já estamos alcançando a
segunda metade da Quinta Raça de nossa humanidade
da Quarta Ronda, enquanto os homens (os poucos
precursores) da Quinta Ronda, embora estando ainda
na sua Primeira Raça (ou melhor classe), são
incomensuravelmente mais elevados do que nós -
espiritualmente, senão intelectualmente; já que tendo
completado o desenvolvimento deste quinto princípio
(alma intelectual), estão mais próximos do que nós, mais
em contato com o seu sexto princípio, Buddhi.
Naturalmente, os indivíduos não estão igualmente
desenvolvidos em todos, mas esta é a regra.

...O homem vem ao globo "A" após os outros reinos


terem ocorrido. (Dividindo os nossos reinos em sete, os
últimos quatro são os que a ciência exotérica divide em
três. A isso nós acrescentamos o reino do homem ou o
reino dos Devas. Dividimos as respectivas entidades
destes reinos em germinais, instintivas, semi-
conscientes, e plenamente conscientes)... Quando
todos os reinos tiveram atingido o globo Z não seguirão
adiante para voltar a entrar em A, precedendo o homem,
mas, de acordo com uma lei de retardação que opera a
partir do ponto central (ou seja da Terra) até Z, e que
equilibra o princípio de aceleração no arco descendente
- eles terão justamente terminado as suas respectivas
evoluções de gêneros e espécies no momento em que
o homem alcança o seu máximo desenvolvimento no
Globo Z; nesta ou em qualquer outra ronda. A razão para
isso é encontrada no tempo enormemente grande que
eles necessitam para as suas infinitas variedades,
quando comparados com o homem; a velocidade
relativa de desenvolvimento nos ANÉIS aumenta,
portanto, naturalmente, à medida que ascendemos na
escala, a partir do mineral. Mas essas velocidades
diferentes ficam compensadas porque o homem reside
mais tempo nas esferas interplanetárias de descanso (
para a sua felicidade ou desgraça) de modo que todos
os reinos terminam a sua obra simultaneamente no
Planeta Z. Por exemplo, no nosso globo vemos a lei
equilibradora se manifestando. Desde a primeira
aparição do homem, seja mudo ou não, até o homem
atual como um ser da quinta Ronda a finalidade de sua
estrutura orgânica não mudou radicalmente. As
características etnológicas, por mais variadas que
sejam, não afetam de nenhuma maneira o homem como
SER HUMANO. O fóssil do homem ou o seu esqueleto,
seja do período daquele ramo de mamíferos do qual ele
constitui o coroamento, seja um ciclope ou pigmeu, pode
ser ainda reconhecido num relance como uma relíquia
humana. As plantas e os animais, entretanto, se
tornaram bem mais diferentes do que eram antes... o
esquema, com os seus pormenores setenários, seria
incompreensível par o homem, não possuísse ele o
poder como os Adeptos Superiores o comprovaram, de
desenvolver prematuramente os seus sentidos sexto e
sétimo - que serão o dom natural de todos nas rondas
correspondentes. Nosso Senhor Buda um homem da 6ª.
Ronda, não teria aparecido em nossa época, por
maiores que fossem os seus méritos acumulados em
anteriores nascimentos, se não fosse por um mistério...
os indivíduos não podem adiantar-se à humanidade de
sua ronda por mais de uma etapa, porque isso é
matematicamente impossível, dizeis (e assim é com
efeito); se a fonte da vida fluísse sem cessar, deveria
haver na Terra homens de todas as rondas, em todas as
épocas, etc. A referência relativa ao descanso
planetário, pode dissipar a compreensão incorreta sobre
este ponto.

Quando o homem se aperfeiçoou (QUA) ao final de uma


dada ronda sobre o Globo A, desaparece dali (como o
fizeram certos vegetais e animais). Gradualmente este
Globo perde a sua vitalidade e chega finalmente ao
estado de lua, isto é, de morte, e permanece assim
enquanto o homem está fazendo os seus sete anéis em
Z e passando o seu período inter-cíclico antes de
começar a sua próxima ronda. Assim sucede com cada
globo por sua vez.

E agora, como o homem, ao completar o seu sétimo anel


em A, apenas começou o seu primeiro em Z, e como A
morre quando ele o deixa para passar a B, etc. e como
também ele deve ficar na esfera inter-cíclica depois de
Z (pois tem que fazê-lo a cada dois planetas) até que o
impulso novamente vibre na cadeia, evidentemente
ninguém pode estar uma ronda à frente de sua espécie.
E somente Budha forma uma exceção em virtude do
mistério. Nós temos homens da quinta ronda entre nós
porque estamos na última metade do nosso anel
setenário terrestre. Na primeira metade isso não poderia
ter acontecido. as incontáveis miríades da nossa
humanidade da quarta ronda que nos ultrapassaram e
completaram os seus sete anéis em Z, tiveram tempo
para passar o seu período inter-cíclico e começar sua
nova ronda e chegar ao Globo D (o nosso). Mas como
pode haver homens das rondas 1ª., 2ª., 3ª., 6ª. e 7ª.?
Nós representamos as três primeiras e os da Sexta
podem vir apenas a intervalos raros e prematuramente
como os Budas (somente sob condições preparadas) e
os da última indicada, a Sétima, não estão ainda
evoluídos. Seguimos a trajetória de um homem ao sair
de uma ronda e entrar no estado nirvânico entre Z e A.
A foi deixado morto na última ronda. Quando uma nova
ronda começa, o planeta A capta um novo influxo de
vida, desperta novamente para a vitalidade e gera todos
os seus reinos de uma ordem superior, até o último.
Após isso ter sido repetido sete vezes, vem um pralaya
menor; a cadeia de globos não é destruída pela
desintegração e dispersão das suas partículas mas
passa IN ABSCONDITO7. Depois reemergirão, por sua
vez, durante o próximo período setenário. Dentro de um
período solar (de um pralaya e manvantara) ocorrem
sete destes períodos menores, numa escala ascendente
de desenvolvimento progressivo. Para recapitular, em
cada ronda há sete anéis planetários ou terrestres para
cada reino, e um obscurecimento de cada planeta. O
manvantara menor está composto de sete rondas, 49
anéis e sete obscurecimentos; o período solar se
compõe de 49 rondas, etc.

Os períodos compostos de um pralaya e um manvantara


são denominados por Dikshita "manvantaras e pralayas
de Sorna". (Surya - sol em sânscrito). O pensamento
humano se frustra ao especular quantos dos nossos
pralayas solares devem ocorrer antes que chegue a
grande noite Cósmica - e ela chegará.

... Nos pralayas menores não se começa nada DE


NOVO - apenas a retomada das atividades
interrompidas. Os reinos vegetal e animal, que, ao final
do manvantara menor tenham alcançado somente um
desenvolvimento parcial não são destruídos. Sua vida
ou entidades vitais, chamai algumas delas de NATI, se
quiserdes, encontram também a sua noite e repouso
correspondentes - tendo também o seu próprio Nirvana.
E por que não haveriam de tê-lo, estas entidades fetais
e infantis? São, como todos nós, engendradas pelo
elemento uno... Da mesma maneira que temos os
nossos Dyan Chohans, elas têm os seus "elementos
guardiães" nos diversos reinos, que cuidam delas em
conjunto, assim como ocorre com a nossa humanidade.
O elemento uno não somente enche o espaço e É o
espaço, como também interpenetra cada átomo da
matéria cósmica.

Quando soar a hora do pralaya solar - embora o


processo do avanço do homem em sua última sétima
ronda seja precisamente o mesmo, cada planeta, em
vez de meramente passar do visível par o invisível, à
medida que o homem o abandona, será aniquilado. Com
o início da Sétima Ronda do sétimo manvantara menor,
cada reino tendo agora atingido o seu último ciclo,
permanece em cada planeta, depois da saída do
homem, apenas o aspecto ilusório das formas que
outrora ali viveram e existiram. A cada passo que dá (o
homem) nos arcos descendentes e ascendentes,
conforme passa de Globo par Globo, o planeta deixado
para trás se converte numa forma vazia cristalóide. Na
sua saída, há um fluxo para fora, das entidades de cada
reino. Aguardando a passagem, a seu devido tempo,
para formas superiores, elas são, não obstante,
liberadas: porque, até o dia dessa evolução,
descansarão mergulhadas em seu sono letárgico, no
espaço, até que outra vez sejam energizadas para a vida
num novo manvântara solar. Os antigos elementais
descansarão até que sejam chamados para que se
convertam, por sua vez, em corpos de entidades
minerais, vegetais e animais (em outra cadeia mais
elevada de globos), em seu caminho para se tornarem
entidades humanas (veja Isis), enquanto que as
entidades germinais das formas mais inferiores, (e
nessa época de perfeição geral restarão muito poucas),
ficarão suspensas no espaço como gotas de água
repentinamente congeladas, convertidas em pingentes.
Elas se derreterão ao primeiro sopro quente de um
manvântara solar e formarão a alma dos futuros
globos... O lento desenvolvimento do reino vegetal é
possibilitado pelo descanso interplanetário maior do
homem... Quando chega o pralaya solar, toda a
humanidade purificada mergulha no Nirvana e desse
Nirvana inter-solar ela renascerá nos sistemas mais
elevados. O anel de mundos se destrói e, como uma
sombra, desaparece na parede quando a luz é apagada.
Temos todos os indícios de que no momento atual está
ocorrendo nalgum lugar um pralaya solar, enquanto dois
menores estão terminando.

No princípio de um manvântara solar, os elementos até


então subjetivos do mundo material nessa fase
dispersos como pó cósmico, ao receber o impulso dos
novos Dhyan Chohans do novo sistema solar (os
anteriores e mais elevados passaram para níveis
superiores) formarão as ondulações primordiais da vida
e separando-se em centros de atividade diferenciados,
combinam-se numa escala graduada dos sete estágios
de evolução. Como qualquer outro mundo do espaço, a
nossa Terra tem que passar através de uma escala de
sete estados de densidade antes de alcançar o seu
último nível de materialidade. Nada atualmente neste
mundo poderá dar-vos uma idéia do que são esses
estados de matéria. E digo escala, de propósito, porque
a escala diatônica proporciona o melhor exemplo do
perpétuo movimento rítmico do ciclo descendente e
ascendente de Swabhavat - graduado como é em tons
e semi-tons.

Tendes, entre os mais eruditos membros da vossa


Sociedade, um Teosofista que, sem estar familiarizado
com a nossa doutrina oculta, intuitivamente captou dos
dados científicos a idéia de um pralaya solar e seu
manvântara no seu início. Refiro-me ao célebre
astrônomo francês Flamarion 0 "La Resurrection et la
Fin des Mondes"- A Ressurreição e o fim dos Mundos -
(capítulo 4 e os seguintes). Fala como um verdadeiro
vidente. Os fatos são como ele supões, com ligeiras
modificações. Como conseqüência da refrigeração
secular (mais exatamente pela velhice e perda da força
vital), e da solidificação e dissecação dos globos, a terra
chega a um ponto quando se converte num
conglomerado sem consistência. O período dos partos
passou. Os descendentes todos já foram criados, o seu
período de vida está terminado. Daí "suas massas
constituintes cessam de obedecer aquelas leis da
coesão e agregação que as mantiveram juntas". E
tornando-se como um cadáver que, abandonado ao
trabalho de destruição, deixa a cada molécula que a
compõe a liberdade de se separar para sempre do corpo
e obedecer logo a novas influências, a atração da lua
(pudesse ele conhecer0 a plena extensão de sua
perniciosa influência) se encarregará da tarefa de
demolição ao produzir uma onda de uma maré de
partículas terrestres em vez de uma maré líquida.

O seu erro é que ele acredita que um longo tempo seja


necessário à ruína do sistema solar: somos informados
de que isso ocorre num piscar de olhos, mas não sem
muitos avisos preliminares. Outro erro é supor que a
Terra cairá no Sol. O próprio sol é o primeiro a se
desintegrar num Pralaya solar.

...Mergulhai na natureza e na essência do sexto princípio


do universo e do homem e tereis penetrado no maior
mistério deste nosso mundo - e, por que não - não estais
rodeado por ele? As suas manifestações conhecidas
são o mesmerismo, a força ódica, etc. - todas elas são
aspectos distintos da força una, que pode ser aplicada
tanto ao bem como ao mal.

Os graus de iniciação de um Adepto marcam as sete


etapas, nas quais ele descobre o segredo dos princípios
sétuplos na Natureza e no homem e desperta os seus
poderes latentes.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT
Carta Nº 016

Esta carta contém questões formuladas por Sinnett e


respostas pelo Mahatma K.H. É chamada de "Carta
Devachan", porque está relacionada principalmente com
aquele estado no qual os seres humanos entram entre
as encarnações.

A carta começa com uma referência à uma carta no


último "Teosofista". Foi o número de junho de 1882,
pp.225-6. Estava assinado "Um Teosofista caledoniano"
(escocês). Provavelmente era alguém chamado
Davidson, ou Davison, um cientista ornitólogo. que em
certa ocasião trabalhou para Hume, em conexão com o
seu estudo sobre pássaros, ajudando-o na ocasião de
secretário particular. A carta foi intitulada "Discrepâncias
Aparentes". O escritor estava interessado no que ele
considerava algumas diferenças entre afirmações em
um dos artigos na série "Fragmentos da Verdade
Oculta", escrita naquela ocasião por Hume e depois, por
Sinnett, e certas passagens em "Isis sem Véu", o
primeiro livro de H.P.B. Essas discrepâncias diziam
respeito a fenômenos espíritas. Ele também
questionava o significado da palavra "Devachan".

P.(1) As observações agregadas a uma carta no último


número do THEOSOPHIST, página 226, col.,
impressionaram-me, tanto pela importância como
porque modificam (não digo que contradizem) muito do
que até agora nos foi dito a RESPEITO do Espiritismo.

Já ouvimos falar de uma condição espiritual de vida na


qual o Ego redesenvolvido desfruta de uma existência
consciente durante certo tempo antes de uma
reencarnação num outro mundo; mas não nos foi dito
mais deste aspecto até o presente. Agora foram feitas
declarações explicitas sobre o assunto, e elas sugerem
novas perguntas.

No DEVACHAM (emprestei o meu "TEOSOFISTA" a um


amigo e não o tenho à mão como referência, mas, se
bem me recordo, este é o nome dado ao estado de
beatitude espiritual descrito) o novo Ego retém,
aparentemente, completa recordação da sua vida
terrena. É assim ou se trata de uma má interpretação de
minha parte?

R.(1) O DEVACHAN ou o país de "Sukhavati", é descrito


alegoricamente mesmo por nosso Senhor Buda. O que
disse pode ser encontrado no Shan-Mun-yih-Tung.
Disse o Tathágata:

"Muitos milhares de miríades de sistemas de mundos


distante deste (nosso), há uma região de bem-
aventurança chamada SUKHAVATI... Esta região está
rodeada por SETE fileiras de grades, sete fileiras de
amplas cortinas, sete linhas de árvores ondulantes; esta
santa morada dos Arhats está governada pelos
Tathagatas (Dhyan Chohans) e é possuída pelos
Bodhisatwas. Ela tem SETE formosos lagos, de cujo
centro fluem águas cristalinas com SETE e UMA
propriedades ou qualidades distintas (os sete princípios
emanantes do UNO). Este, oh Sariputra! é o
DEVACHAN. Sua divina flor Udumbara lança uma raiz
NA SOMBRA DE CADA TERRA e floresce para todos
aqueles que a alcançam. Aqueles que nascem na
bendita região são verdadeiramente felizes; não há mais
lamentos ou sofrimentos NAQUELE ciclo para eles...
Miríades de espíritos (Lha) vem para ali repousar e
depois retornam as suas regiões próprias. também, oh
Sariputra! muitos dos nascidos naquela região de deleite
são Avaivartyas..." etc, etc.

P.(2) Excetuando o fato de que a duração da existência


no DEVACHAN é limitada, há uma semelhança muito
estreita entre essa condição e o céu da religião comum
(omitindo-se os conceitos antropomórficos acerca de
Deus).

R.(2) Certamente o novo EGO, uma vez que renasceu,


retém por um certo tempo - proporcional a sua vida
terrena - uma "completa recordação de sua vida na
Terra" (Veja a vossa pergunta anterior): Mas não pode
NUNCA voltar do Devachan à Terra, nem tem esse
estado (ainda omitindo todos os "conceitos
antropomórficos acerca de Deus") qualquer semelhança
com o paraíso ou céu de alguma religião, e é a fantasia
literária de H. P. B. que lhe sugeriu a maravilhosa
comparação.

P.(3) Agora a questão importante é: quem vai ao Céu -


ou Devachan? É esta condição alcançada somente
pelos poucos que são muito bons ou pelos muitos que
não são muito maus - depois do período de tempo que
passaram em maior incubação ou gestação
inconsciente?

R.(3) Quem vai ao Devachan? Naturalmente o EGO


pessoal, mas beatificado, purificado, santificado. Todo
Ego - a combinação do Sexto e Sétimo princípios - que,
depois do período de gestação inconsciente, renasce no
Devachan, é necessariamente tão puro e inocente como
uma criança, recém-nascida. O fato de haver renascido
comprova, já por aí, a preponderância do bem sobre o
mal em sua velha personalidade. E, enquanto o karma
(do mal) fica temporariamente suspenso, para seguí-lo
mais tarde em sua futura encarnação terrena, ele só leva
ao Devachan o karma de suas boas obras, palavras e
pensamentos. "Mal" é um termo relativo para nós
(conforme já vos foi dito mais de uma vez) e a Lei de
Retribuição é a única lei que nunca erra. Portanto, todos
os que não desapareceram no seio do pecado
irremissível e da bestialidade vão ao Devachan. Mais
tarde terão que pagar, voluntária ou involuntariamente,
pelos seus pecados. Entretanto, recebem os efeitos das
causas que geraram.

Na verdade este é um estado, digamos, de INTENSO


EGOISMO, durante o qual o Ego colhe a recompensa do
seu ALTRUÍSMO na Terra. Está completamente
mergulhado na felicidade de todos os seus afetos
pessoais, preferências e pensamentos terrenos e
recolhe o fruto de suas ações meritórias. Nenhuma dor,
nenhuma pena, nem mesmo a sombra de uma aflição
obscurecem o brilhante horizonte de sua incontaminada
felicidade, porque É UM ESTADO DE PERPÉTUO
MAYA".

Assim como a percepção consciente da própria


PERSONALIDADE na Terra não é mais do que um
sonho evanescente, esse sentimento será igualmente o
de um sonho no Devachan - mas intensificado cem
vezes. Tão certo é isso, sem dúvida que o ego feliz é
incapaz de observar através do véu, os males, tristezas
e calamidades a que podem estar sujeitos aqueles a
quem amou na Terra. Mora neste doce sonho com os
seus bem amados, tanto com os que foram antes dele
como com os que permanecem ainda na Terra; ele os
têm próximo a si, tão felizes, bem-aventurados e
inocentes como o sonhador desencarnado; e, no
entanto, exceto em raras visões, os habitantes de nosso
grosseiro planeta não o percebem. É nesta, em meio a
esta condição de completa Maya, que as Almas ou Egos
astrais dos sensitivos puros e amorosos, atuando
debaixo da mesma ilusão, pensam que os seus próprios
Espíritos que ascenderam até aqueles no Devachan.

Muitas das comunicações espirituais SUBJETIVAS - a


maior parte delas quando os sensitivos tem mente pura
- são reais; mas é muito difícil para um médium não
INICIADO, fixar em sua mente as imagens autênticas e
corretas do que se vê e ouve. Alguns dos fenômenos
chamados de psicografia (embora mais raros) são
também reais. O espírito do sensitivo tornando-se
odilizado, por assim dizer, pela aura do Espírito no Deva-
Chan, torna-se, por uns poucos minutos AQUELA
PERSONALIDADE, que partiu e escreve com a letra
desta última, em sua mesma linguagem e com os
mesmos pensamentos que teve durante a sua vida
terrestre. Os dois espíritos se mesclam, e a
preponderância de um sobre o outro durante esses
fenômenos, determina a preponderância da
PERSONALIDADE nas características mostradas em
tais escritos, e no "transe falante". O que chamais de
"comunicação mediúnica" é simplesmente uma
identidade de vibração molecular entre a parte astral do
médium encarnado e a parte astral da personalidade
desencarnada. Acabo de ser informado de um artigo
sobre o OLFATO, de um professor de inglês (que farei
com que seja comentado no "Teosofista" e direi umas
poucas palavras), e encontro nele algo que se aplica ao
nosso caso. Assim como na música dois sons diferentes
podem estar em ressonância e separadamente
distinguíveis, e esta harmonia ou discórdia depende das
vibrações síncronas e dos períodos complementares;
assim há "comunicação" entre o médium e o
"comunicante" quando as suas moléculas astrais vibram
em harmonia. E quanto a saber se a comunicação
refletirá a idiossincrasia pessoal de um deles mais do
que a de outro, isso é determinado pela intensidade
relativa dos dois grupos de vibrações na onda composta
do Akasa. Quanto menos idênticos sejam os impulsos
vibratórios, tanto mais mediúnica e menos espiritual será
a mensagem. Portanto avaliai o estado moral do vosso
médium pela da suposta inteligência "comunicante", e os
vossos testes de autenticidade deixarão nada a desejar.

P.(4) Existe grande variedade de condições dentro dos


limites, por assim dizer, do Devachan, de modo que
todos os egos caem em um estado adequado para si, do
qual renascerão em condições inferiores ou superiores
no próximo mundo de causas? De nada vale multiplicar
as hipóteses. Queremos algumas informações para nos
basear.

R.(4) Sim, há muita diversidade nos estados do


Devachan, como bem dissestes. Tantas modalidades de
felicidade, assim como existem na Terra graduações de
percepção e capacidade para apreciar tal recompensa.
É um paraíso idealizado, em cada caso, formado pelo
próprio ego, que o enche de cenários repleto de
episódios e o povoa com as pessoas que espera
encontrar em tal esfera de compensadora bem-
aventurança. E é esta variedade que conduz o Ego
pessoal temporário para a corrente que o levará a
renascer em piores ou melhores condições, no próximo
mundo das causas. Tudo está tão harmoniosamente
ajustado na Natureza especialmente no mundo subjetivo
- que nenhum erro pode jamais ser cometido pelos
Tathagatas - ou Dyan Chohans0 - que guiam os
impulsos.

P.(5) À primeira vista, um estado puramente espiritual


seria somente desfrutado pelas entidades altamente
espiritualizadas nesta vida. Mas há miríades de pessoas
muito boas (moralmente) que não são em absoluto
espiritualizadas. Como elas poderão passar, com as
recordações desta vida, de uma condição material de
existência para uma outra espiritual?

R.(5) É "uma condição espiritual" apenas quando em


contraste com a nossa grosseira "condição material", e,
como já foi dito, são esses graus de espiritualidade que
constituem e determinam a grande "variedade" de
condições dentro dos limites do Devachan. Uma mãe
pertencente a uma tribo selvagem não é menos feliz que
uma mãe de um palácio real, quando segura nos braços
o seu filho perdido; e, embora como Egos em si, as
crianças prematuramente mortas antes da conclusão de
sua Entidade setenária, não chegam ao Devachan, e,
apesar disso, a fantasia amorosa da mãe encontra ali os
seus filhos, sem que falte um só dos que o seu coração
aspira. Podem dizer que isto é só um sonho. Mas, afinal,
o que é a vida objetiva em si senão um panorama de
irrealidades vívidas? Os prazeres desfrutados por um
Pele Vermelha em seus "felizes campos de caça"
naquele país de sonhos, não são menos intensos do que
o êxtase experimentado por um CONNOISSEUR
(conhecedor) - que passa idades em encantado deleite,
escutando as divinas sinfonias executadas por
imaginários coros angélicos e orquestras. Como não é
culpa do pele vermelha ter nascido "selvagem" com um
instinto de matar (embora causando a morte de muitos
animais inocentes) se com tudo isso, foi pai, filho e
marido amantíssimo, porque não haveria de desfrutar de
SUA porção de recompensa? O caso seria muito
diferente se os mesmos atos de crueldade tivessem sido
cometidos por uma pessoa educada e civilizada, pelo
simples amor ao esporte. O selvagem, ao renascer,
simplesmente ocupará um lugar inferior na escala, em
razão do seu desenvolvimento moral imperfeito;
enquanto que o KARMA do outro estaria contaminado
com delinqüência moral.

Todos os egos, exceto aqueles que, pela atração do seu


magnetismo grosseiro, caem na corrente que os
arrastará ao "Planeta da Morte" (o satélite mental e físico
da nossa Terra), ESTÃO capacitados para passar a uma
relativa condição "espiritual", ajustada às suas
condições prévias de conduta e pensamento. Pelo que
sei e me recordo, H. P. B. explicou ao Sr. Hume que o
sexto princípio do homem, como algo puramente
espiritual, não poderia existir, ou ter existência
CONSCIENTE no Devachan, a menos que houvesse
assimilado alguns dos mais puros e abstratos atributos
mentais do Quinto Princípio ou alma animal: seu MANAS
(mente) e memória. Ao morrer o homem, o seu segundo
e terceiro princípios1 morrem com ele; a tríade inferior
desaparece e os quarto. quinto, sexto e sétimo princípios
formam o sobrevivente QUATERNÁRIO. (Leia de novo
a página dos FRAGMENTOS de uma V.O.). Daí em
diante é uma luta de "morte" entre dualidades Superior
e Inferior. Caso vença a superior, o sexto, tendo atraído
para si, do quinto, a quinta-essência do Bem, seus mais
nobres afetos, as mais santas (ainda que sejam
terrenas) aspirações e as partes mais Espiritualizadas
de sua mente - segue o seu Divino ANCIÃO (o sétimo)
até o Estado de "Gestação"; e o Quinto e Quarto
permanecem associados como uma CASCA vazia - (a
expressão é perfeitamente correta) - que vagueia pela
atmosfera terrestre com a metade da memória pessoal
desvanecida e os instintos mais brutais plenamente
vivos por certo tempo - um "Elementar", em última
palavra. Este é o guia angélico do médium comum. Se,
por outro lado, é a Dualidade Superior a derrotada, então
é o Quinto Princípio que assimila tudo o que reste no
Sexto Princípio de recordações PESSOAIS e de
percepções individuais. Mas com toda essa bagagem
adicional, ele não permanecerá no Kama-Loka - "o
mundo do Desejo" da atmosfera de nossa Terra. Em
muito pouco tempo, como uma palha flutuando dentro
da atração dos vórtices e covas do Maelstron
(sorvedouro), é atraído e aprisionado no grande
remoinho de Egos humanos; enquanto o sexto e o
sétimo, convertidos agora em uma MÔNADA puramente
espiritual e INDIVIDUAL, sem vestígios da última
personalidade, não tendo um período regular de
"gestação" que atravessar (pois não há mais um EGO
PESSOAL purificado para renascer), após um período
de Repouso inconsciente, mais ou menos prolongado,
no Espaço ilimitado, se achará encarnado em outra
personalidade no próximo planeta. Quando chega o
período de "Plena Consciência Individual (que precede
o de Absoluta Consciência no Paranirvana), aquela
existência pessoal perdida torna-se como que uma
página arrancada do GRANDE LIVRO DE VIDAS, sem
que reste nem uma palavra solta que assinale a sua
ausência. A MÔNADA purificada não a perceberá, nem
a recordará na série de seus nascimentos passados - o
que aconteceria se tivesse ido ao "Mundo das Formas"
(Rupa-loka) - e a sua visão retrospectiva não perceberá
nem o mais leve sinal indicador de que tenha existido. A
luz de SAMMA-SAMBUDDH -

"... Essa luz que brilha além da nossa percepção mortal

A luz de todas as vidas em todos os mundos".

Não projeta nenhum raio sobre aquela vida PESSOAL


na série de vidas precedidas.

A favor do gênero humano devo dizer que essa


supressão total de uma existência dos registros do Ser
Universal não ocorre tão freqüentemente a ponto de
representar uma grande porcentagem. De fato, à
maneira do "idiota congênito", muito mencionado, tal
coisa é um "lusus naturae" - uma exceção, não a regra.

P.(6) E como é compatível uma existência espiritual,


onde tudo foi mergulhado no sexto princípio, com aquela
consciência da vida material, pessoal e individual, que
há de ser atribuída ao Ego no Devachan, se ele retém a
sua consciência terrena, segundo se declara na nota do
TEOSOFISTA?

R.(6) A questão foi explicada suficientemente, eu creio:


os Princípios Sexto e Sétimo, constituem, em si, a
"Mônada" eterna e imperecível, mas também
INCONSCIENTE. Para que se desperte nela, para a vida
a consciência latente, especialmente a da
individualidade PESSOAL, requer-se a mônada e os
mais altos atributos do quinto princípio - a "Alma animal";
e é isso que constitui o Ego etéreo que goza a bem-
aventurança no Devachan. O espírito, ou as emanações
puras do UNO, formam com o sétimo e o Sexto
Princípios, a Tríada Superior; nenhuma das duas
emanações é capaz de assimilar nada que não seja
bom, puro e santo; daí decorre que nenhuma recordação
sensual, material ou pecaminosa possa acompanhar a
memória purifcada do Ego na Região de Bem-
aventurança. O Karma advindo dessas recordações de
más ações e pensamentos atingirá o Ego quando ele
muda a sua PERSONALIDADE no próximo mundo das
causas. A Mônada ou "Individualidade Espiritual",
permanece sem mancha EM TODOS OS CASOS. Não
há tristeza nem Dor para aqueles que nascem ali (no
Rupa-Loka do Devachan); pois essa é a Terra Pura.
todas as regiões do espaço possui essas terras
(Sakwala), mas essa terra de Bem-aventurança é a mais
pura. "No Jnana Prasthâna Shastra está dito: "pela
pureza pessoal e ardente meditação, nós
transcendemos os limites do Mundo do Desejo, e
entramos no Mundo das Formas."

P.(7) O período de gestação entre a Morte e Devachan


têm sido até agora concebido por mim como eventos
muitos longos. Agora foi dito que em alguns casos é de
apenas uns poucos dias, e, em nenhum outro caso
(implicitamente) mais do que uns poucos anos. Parece
que isso foi exposto claramente, mas pergunto se isso
pode ser explicitamente confirmado, porque este é um
ponto capital.

R.(7) Outro belo exemplo da habitual desordem na qual


se mantém a estrutura mental da Senhora H. P. B. Ela
fala do "Bardo" e não informa aos seus leitores o que
significa! Como no quarto em que ela escreve a
confusão é ainda dez vezes pior, assim, em sua mente
as idéias se amontoam, colocadas em tal caos que,
quando quer expressá-las, aparece primeiro a cauda em
vez da cabeça. "Bardo" é o período entre a morte e o
renascimento - e pode durar de uns poucos anos até um
kalpa. Ele é dividido em três sub-períodos (1) quando o
Ego, livre do seu envoltório mortal, entra no KAMA LOKA
(a morada dos Elementares); (2) quando entra no seu
"Estado de Gestação"; (3) quando renasce no RUPA
LOKA do Devachan. O Sub-período (1) pode durar de
uns poucos minutos até a alguns anos. A expressão
"alguns anos" se torna enigmática e inteiramente inútil
sem uma explicação mais completa. O Sub-período (2)
é "muito grande" como dizeis, às vezes mais prolongado
do que possais mesmo imaginar, entretanto,
proporcional ao vigor espiritual do Ego; o Sub-período
(3) dura em proporção ao bom KARMA após o qual a
MÔNADA é novamente reencarnada. A expressão do
AGAMA SUTRA: "em todos esses Rupa-Lokas, os
Devas (Espíritos) estão sujeitos igualmente ao
nascimento, decadência, velhice e morte", somente
significa que um Ego ali nasce, logo começa a
desvanecer-se e finalmente "morre", isto é, cai naquela
condição inconsciente que precede ao renascimento; e
termina o Sloka com estas palavras: "à medida que os
Devas emergem desses céus, eles entram no mundo
inferior novamente", isto é, eles deixam o mundo da
bem-aventurança para renascer no mundo das causas.

P.(8) Nesse caso e considerando que o Devachan não


é somente a herança dos adeptos e pessoas quase tão
elevadas quanto eles, HÁ uma condição de existência
equivalente ao Céu, e que ocorre efetivamente, de onde
a vida na Terra pode ser observada por um imenso
número daqueles que foram antes! P.(9) e por quanto
tempo? Esse estado de beatitude espiritual perdura por
anos? Por décadas? Por séculos?

R.(8) Dito mais enfaticamente, o "Devachan NÃO É a


herança apenas dos adeptos, e mais decididamente, há
um "céu"- se é que preferis usar este termo
astrogeográfico cristão - para "um imenso número dos
que foram antes. "Mas" a vida na Terra", não pode ser
OBSERVADA por nenhum deles pelas razões já
expostas, da Lei de Bem-aventurança, além de MAYA.

R.(9) Durante anos, décadas, séculos e milênios,


inúmeras vezes multiplicados por algo mais. Tudo
depende da duração do Karma. Encha de óleo a
pequena taça de Den20 e o depósito de água de uma
cidade, e, acendendo a ambos, veja qual queima por
mais tempo. O Ego é a mecha (pavio), o Karma, o óleo:
a diferente quantidade de óleo na taça e no depósito
explicará a grande diferença de duração dos vários
KARMAS. Cada efeito tem que ser proporcional a sua
causa. E como os períodos de existência encarnada do
homem são, inerentemente, uma pequena proporção
dos períodos de existência inter natal no ciclo
manvantárico, assim os bons pensamentos, palavras e
ações de qualquer uma dessas "vidas" sobre o globo
são causadoras de efeitos cuja elaboração requer muito
mais tempo de que ocupou a evolução das causas.
Portanto, quando lerdes nos Jâts e outras FABULOSAS
narrações das Escrituras Budistas, que esta ou aquela
boa ação foi recompensada por Kalpas1 de várias cifras
de bem-aventurança, não sorria ante o absurdo
exagero, e sim, tenha em conta o que acabo de dizer.
Sabeis que, de uma pequenina semente, cresceu uma
árvore que sura há séculos; refiro-me à árvore Bo, de
ANURUDHA-PURA. Tão pouco deveis rir se chegardes
a ler o PINDA-DANA, ou qualquer outro SUTRA budista
e encontrardes: "Entre o Kama-Loka e o Rupa Loka
existe uma localidade, a morada de "Mara" (morte). Esta
Mara cheia de paixão e luxúria, destrói todos os
princípios virtuosos assim como uma pedra moe o
grão2. Seu palácio abarca 7.000 YOJANAS quadradas
e está cercada por uma vala de SETE muros". Agora vos
sentireis melhor preparado para compreender esta
alegoria. Assim, quando Beal, ou Bournof, ou Rhys
Davis, na inocência de suas almas cristãs e
materialistas, se entregam a traduções como
geralmente o fazem, não consideramos que exista
malícia nos seus comentários pois não sabem nada
melhor. Mas o que significa o que se segue: "Os nomes
dos Céus" (uma má tradução pois LOKAS não são
CÉUS mas localidades ou moradas) do Desejo, Kama-
Loka - assim chamado porque os seres que os ocupam
estão sujeitos aos desejos de comer, beber, dormir re
amar. Ele são também chamados as moradas das
CINCO (?) ordens de criaturas sencientes: Devas,
homens, asuras, bestas e demônios (LAUTAN SUTRA,
traduzido por S. Beal). Significam apenas que o
reverendo tradutor, caso estivesse um pouco mais a par
da verdadeira doutrina - ele teria - 1: dividido os Devas
em duas classes - e os chamado de "RUPA-DEVAS" e
os "ARUPA-DEVAS" (os Dhyan Chohans com "FORMA"
ou objetivos e os "sem formas", ou subjetivos e 2:
haveria feito o mesmo para sua classe de "homens",
pois que existem CASCÕES e "Maha rupas", isto é,
corpos condenados à aniquilação. Todos eles são:

1) "RUPA DEVAS"- DHYAN CHOHANS, que têm forma,


(Ex. homens)

2) "ARUPA-DEVAS" - Dhyan Chohans, sem forma (Ex.


homens)

3) "PISACHAS" - Espectros (com dois princípios)

4) "MARA RUPA"- Condenados à MORTE ( com três


princípios)

5) ASURAS - Elementais - com forma humana, (Futuros


homens)
6) BESTAS - Elementais de segunda classe. Elementais
animais (Futuros homens)

7) RAKSHASAS - (Demônios) Almas ou Formas Astrais


de Feiticeiros; homens que alcançaram o ápice do
conhecimento nas artes proibidas. Mortos ou vivos,
FRAUDARAM, por assim dizer, a Natureza; mas só
temporariamente, até que nosso planeta entre no seu
período de OBSCURECIMENTO, depois do qual -
nolens volens - terão que ser aniquilados.

São estes os SETE grupos que formam as principais


divisões dos Moradores do mundo subjetivo que nos
rodeia. Na categoria nº.1 encontram-se os Governantes
INTELIGENTES deste mundo de Matéria, os quais, com
toda a sua inteligência apenas são os obedientes
instrumentos cegos do UNO, os agentes ativos de um
Princípio Passivo.28

E dessa forma têm sido mal interpretados e traduzidos


quase todos os nossos Sutras; todavia, mesmo se essa
massa confusa de doutrinas e palavras, para quem
conheça, mesmo superficialmente, a VERDADEIRA
doutrina, há um solo firme onde pisar. Assim, por
exemplo, ao enumerar as sete lokas do "Kama Loka", o
Avatamsaka Sutra menciona, como sétimo, o "Território
da Dúvida". Peço-vos que recordai o nome, já que
teremos que nos referir a ele mais adiante. Cada um
destes "mundos", dentro da Esfera de Efeitos, tem um
Tathágata ou "Dhyan Chohan" para protegê-lo e vigiá-
lo, não para interferir com ele. Sem dúvida, de todas as
pessoas, os espíritos serão os primeiros a rechaçar
nossas doutrinas e arrojá-las no "limbo de
desacreditadas superstições". Fossemos assegurar-
lhes que cada uma das suas "Terras de Verão" tem sete
casas de hóspedes, com o mesmo número de "Espíritos
Guias" para administrá-las, e se chamássemos a esses
"anjos" São Pedros, Joãos e São Ernestos, nos
receberiam com os braços abertos. Mas, quem já ouviu
falar de Tathagatas e Dhyan Chohans, Asuras e
Elementais. Ridículo! Entretanto, somos felizmente
considerados - pelos nossos amigos (O senhor
Eglington, pelo menos) que nos concedem, felizmente a
posse de "certo conhecimento das Ciências
Ocultas"(Veja "Light"). E assim mesmo, essa migalha de
"Conhecimento" está a vossa disposição e ajuda-me
agora a responder-vos a seguinte pergunta:

P. Existe alguma condição intermédia entre a beatitude


do Devachan e a sombria e desesperada vida das semi-
incoscientes relíquias elementais de seres humanos que
perderam o seu Sexto Princípio? Porque, se for assim,
isso poderia oferecer um LOCUS STANDI0 na
imaginação aos Ernestos e Josés, dos médiuns espíritas
- a melhor classe de "espíritos" guia. Nesse caso, tal
mundo seguramente deve ser muito povoado e do qual
pode vir todo número de comunicações "espirituais"...

R. Não, meu amigo: nada que eu saiba. Desde


"Sukhavati" até o "Território da Dúvida" há uma
variedade de Estados Espirituais; mas eu não estou
ciente de qualquer "condição intermédia". Eu vos contei
das Sakwalas (embora não possa estar enumerando-as
pois seria inútil); e mesmo de AVITCHI - o "Inferno" do
qual não há retorno1, e não tenho nada mais a dizer
sobre isso. A "desamparada sombra" deve arranjar-se o
melhor que puder. Tão logo tenha saído do KAMA LOKA
e cruzado a "Ponte Dourada" que conduz as "Sete
Montanhas Douradas", o Ego já não pode confabular
com os condescendentes médiuns. Nenhum "Ernesto"
nem José jamais voltou do Rupa Loka - não se falando
do ARUPA LOKA, - para estabelecer contato com os
mortais.

Naturalmente há uma "melhor Sorte" de RELÍQUIAS e


os "cascões" dos "andarilhos terrestres", como são
chamados aqui, não são necessariamente TODOS
maus. Mas ainda os que são bons, se convertem
temporariamente em maus devido aos médiuns. Os
"cascões" pouco se preocupam já que, de qualquer
modo, não têm nada a perder. Mas há uma outra classe
de "Espíritos" que deixamos de lado, os SUICIDAS e os
MORTOS POR ACIDENTE. AMABAS AS ESPÉCIES,
PODEM COMUNICAR-SE E AMBAS TERÃO QUE
PAGAR CARO POR TAIS VISITAS2; E agora tenho
novamente de explicar o que quero dizer. Bem, esta
classe é a que os espíritas franceses chamam de
"Espíritos Sofredores"3: São uma exceção à regra, pois
terão que permanecer dentro da atração da Terra e em
sua atmosfera - o Kama-Loka - até o momento final que
teria sido a duração natural das suas vidas. Em outras
palavras, aquela onda particular de evolução da vida tem
que prosseguir para a sua margem. Mas é um pecado e
crueldade reviver a sua memória e intensificar o seu
sofrimento ao lhes dar uma oportunidade de viver uma
vida artificial; uma possibilidade de SOBRECARREGAR
O SEU KARMA, tentando-os a que penetrem em portas
abertas, isto é, médiuns e sensitivos, pois irão pagar
inequivocamente por tais prazeres. Explicarei. Os
SUICIDAS que, tolamente querendo escapar da vida,
encontram-se ainda vivos - têm bastante sofrimento
reservado e que os aguarda nessa mesma vida. Seu
castigo está baseado na intensidade de tal vida. Tendo
perdido, em conseqüência de sua irreflexiva ação, seus
Sexto e Sétimo Princípios (ainda que não seja para
sempre pois poderá recobrá-los), em vez de aceitar o
seu castigo e aproveitar as suas oportunidades de
redenção, eles inúmeras vezes são levados a
LAMENTAR A VIDA tentados a reconquistar o controle
sobre ela por meios pecaminosos. No KAMA LOKA, a
terra dos desejos intensos, eles podem somente
satifazer os seus desejos terrenos mediante um
substituto VIVENTE; e fazendo isso, na expiração do
seu prazo natural de vida, eles geralmente perdem para
sempre a sua MÔNADA. Quanto às vitimas de acidentes
- seu destino é ainda pior. A menos que tenham sido tão
bons e puros, para serem atraídos imediatamente dentro
do SAMADHI akasico, isto é, cair num estado de
tranquila letargia, um sono cheio de rosados sonhos,
durante o qual eles nada recordam do acidente, mas
movem-se e vivem entre os seus amigos e cenas
familiares, até que o seu prazo normal de vida extinga,
quando eles então, descobrem-se nascidos no
Devachan. Mas, se foram pecadores e sensuais, um
lúgubre destino os espera, pois vagueiam como
sombras desditadas (não são CASCÕES), pois a sua
conexão com os dois princípios mais elevados não está
completamente partida - até que venha a hora da morte.
Cortada a vida em pleno fluxo de paixões terrenas que
os liga a cenas familiares, eles se deixam seduzir pelas
oportunidades que lhes oferecem os médiuns de
gratificar tais paixões por intermédio deles. São os
chamados PISACHAS, os INCUBOS e SUCUBOS dos
tempos medievais. Os demônios da embriaguez, da
gula, da luxúria e da avareza - "elementares" de
intensificada astúcia, perversidade e crueldade, que
provocam as suas vítimas a cometer crimes horrendos
e que gozam quando isso ocorre! Não só arruínam as
suas vítimas, mas também esses vampiros psíquicos
são arrastados pela corrente de seus impulsos da aura
da Terra até regiões onde, durante milênios, terão que
suportar agudos sofrimentos até a sua total destruição.

Mas caso a vítima do acidente ou da violência não seja


muito boa, nem muito má, (uma pessoa comum) então
pode acontecer o seguinte: um médium pode atraí-la e
criar-lhe as mais indesejáveis das coisas: uma nova
combinação de SKANDHAS e um novo e mau KARMA.
Mas deixai-me dar-vos uma idéia clara do que quero
dizer por Karma, neste caso.

Em conexão com isso, deixai-me contar-vos antes, dado


que, como pareceis muito interessado no assunto,nada
podeis fazer de melhor senão estudar as duas doutrinas
- Karma e Nirvana - da forma mais profunda como
possais. A não ser que estejais completamente a par das
duas doutrinas - a chave dupla da metafísica do
Abidharma - sempre continueis perplexo ao tentar
compreender as demais. Temos diferentes classes de
Karma e de Nirvana em suas várias aplicações - ao
Universo, ao mundo, aos Devas, Budas, Bodisatvas,
homens e animais - o segundo incluindo os seus sete
reinos. Karma e Nirvana são somente dois dos sete
grandes MISTÉRIOS da metafísica Budista; e só quatro
dos sete são conhecidos pelos melhores orientalistas. E
ainda assim mesmo muito imperfeitamente.

Caso pergunteis a um douto sacerdote Budista o que é


o Karma, responderá que é o que um Cristão poderia
chamar de Providência (só num certo sentido) e um
muçulmano, de KISMET, sorte ou destino (também só
num certo sentido). É essa a doutrina fundamental que
ensina que, logo morre um ser consciente ou sensível,
seja homem, deva ou animal, produz-se um novo ser
que reaparece, nascendo de novo, no mesmo ou em
outro planeta, debaixo das condições produzidas antes
pela própria criatura anterior. Ou, em outras palavras,
que o KARMA é o poder que guia, e TRISHNA ( em Pali
TANHA) a sede ou o anseio pela vida sensorial - a força
imediata ou energia - resultante da ação humana (ou
animal) que, dos antigos SKANDHAS produz o novo
grupo que forma o novo ser e controla a espécie - do
próprio renascimento. Ou para ficar mais claro; o NOVO
ser é premiado ou castigado pelas suas ações meritórias
ou danosas do ser passado; o Karma representa um
Livro de Registro, um Diário, no qual todos os atos do
homem, bons, ou maus, ou indiferentes são
cuidadosamente registrados a seu débito ou crédito - por
ele mesmo, ou melhor, pelas próprias ações suas. Lá,
onde a ficção poética Cristã criou e vê um Anjo da
Guarda Registrador, a seca e realista lógica Budista,
percebendo que cada causa tem que ter o seu efeito -
mostra a sua presença real. Os oponentes do Budismo
salientaram bastante a alegada injustiça de que aquele
que comete um ato pode escapar e uma vítima inocente
irá sofrer - eis que o autor e o sofredor são seres
diferentes. O fato é que, embora num certo sentido eles
podem ser assim considerados, todavia em outro, SÃO
IDÊNTICOS. O "antigo ser" é o único progenitor - pai e
mãe ao mesmo tempo - do "novo ser". Na realidade o
primeiro é o criador e modelador do segundo, e muito
mais, em verdade que qualquer pai carnal. E uma vez
que dominastes bem o significado de SKHANDHAS que
forma e constitui a individualidade física e mental que
chamamos homem (ou qualquer outro ser). Este grupo
consiste (no ensinamento exotérico) de cinco
Skhandhas, a saber: RUPA- os atributos ou qualidades
materiais; VEDANA- sensações; SANNA- idéias
abstratas; SANKHARA- tendências tanto físicas como
mentais; VINNANA- poderes mentais (uma ampliação
da quarta) compreendendo as predisposições mentais,
físicas e morais. Nós acrescentamos duas mais, cuja
natureza e denominação podereis aprender depois.
Basta, por hora, dar-vos a conhecer que elas estão
ligadas e são geradoras de SAKKAUADITTHI, a
"heresia ou ilusão da individualidade" e de ATTAVADA
"A doutrina do Eu", as quais (no caso de quinto princípio,
a alma) levam à MAYA da heresia e crença na eficácia
de pretensiosos rituais e cerimônias, em preces e
intercessão.

Agora, retornando à questão da identidade entre o


VELHO e o NOVO "Ego". Permita-me lembrar-vos uma
vez mais, que mesmo a vossa Ciência aceitou o fato
muito antigo, nitidamente ensinado pelo nosso Senhor,
isto é, que um homem de qualquer idade, por mais que
se sinta o mesmo, não é fisicamente o mesmo de alguns
anos atrás, (nós dizemos SETE anos e estamos
preparados para sustentar e provar esse fato); falando
budisticamente na preparação do molde abstrato
"privativo" do futuro NOVO ser.

Agora bem, assim como é justo que um homem de 40


anos desfrute ou sofra pelas ações do homem de 20,
também é igualmente justo que o ser do recém-nascido,
que é essencialmente idêntico ao anterior já que é a sua
conseqüência e sua criação, sinta as conseqüências
daquele Eu, ou personalidade geradora. Vossa lei
ocidental, que castiga o inocente filho de um pai culpado,
privando-o de seu progenitor, de seus direitos e
propriedades; vossa civilizada sociedade, que aplica o
estigma de infâmia à inocente filha de uma mãe
criminosa e imoral; vossa Igreja Cristã e Escrituras que
ensinam que "o Senhor Deus faz pagar aos filhos os
pecados dos pais até a terceira e quarta geração", não
são todos esses mais injustos e cruéis do que qualquer
coisa feita pelo Karma? Em vez de punir o inocente junto
com o culpado, o Karma vinga e RECOMPENSA O
PRIMEIRO, o que nenhum dos três potentados
ocidentais acima mencionados jamais pensou em fazer.
Mas talvez, em relação à nossa observação sobre
fisiologia, os opositores poderiam replicar,
argumentando que é somente o corpo que muda, há
apenas uma transformação molecular, que nada tem a
ver com a evolução mental, e que as SKANHAS
representam não somente um conjunto de qualidades
materiais, mas também mentais e morais. Mas, existe
por acaso, - pergunto eu - alguma sensação, alguma
idéia abstrata, alguma tendência da mente ou algum
poder mental que pudesse ser qualificado como um
fenômeno absolutamente não-molecular? É possível
que uma sensação ou o mais abstrato dos
pensamentos, que são ALGO, procedam do NADA ou
nada sejam?

Muito bem, as causas que produzem o "novo ser" e


determinam a natureza do KARMA são, como já foi dito
- TRISHNA (ou "Tanha") - sede, o desejo por uma
existência sensível e UPADANA - que é a realização ou
consumação de TRISHNA ou aquele desejo. E os
médiuns contribuem para despertar e desenvolver ne
plus ultra a ambos num Elementar, seja este um suicida
ou uma vítima de acidente. A regra é, quem morre de
morte natural permanecerá dentro da atração da Terra,
isto é, no KAMA LOKA, "desde umas poucas horas a
alguns poucos anos". Mas há exceções: o caso dos
suicidas, ou em geral, daqueles que morrem por morte
violenta. Portanto, um destes Egos, por exemplo, que
estivesse destinado a viver, digamos, 80 ou 90 anos,
mas que se suicidou ou morreu de algum acidente na
idade de 20, suponhamos, teria que passar no KAMA
LOKA, não uns poucos anos, mas no seu caso, 60 ou
70 anos, como um Elementar, ou melhor, como um
"andarilho terrestre", já que infelizmente para ele, não é
nem mesmo um "CASCÃO". Felizes, três vezes felizes
são, em comparação, aquelas entidades
desencarnadas, que dormem seu grande sono e vivem
sonhando no seio do Espaço! E coitado daqueles cujo
TRISHNA os atrai para os médiuns, e coitados desses
médiuns que os tentam com tão condescendente
UPANA. Pois, ao atraí-los e permitirem que satisfaçam
a sua sede de vida, o médium ajuda a desenvolver neles
(de fato é a causa) um novo conjunto de Skandhas, um
novo corpo com tendências e paixões até piores do que
a do corpo que perderam. Todo o futuro deste novo
corpo será determinado assim, não só pelo mau Karma
de demérito do grupo precedente de Skandhas, mas
também pelo Karma do novo grupo do futuro ser. Caso
os médiuns e os Espíritas soubessem, como já disse,
que cada novo "guia angélico" a quem dão boas vindas
com grande alegria, o que fazem é convidá-lo a um
UPADANA que causará uma série de males indizíveis
para o novo Ego que renascerá debaixo de sua nefasta
sombra, e que em cada sessão - especialmente se
ocorrem materializações - multiplicam as causas de
miséria que farão fracassar o infortunado Ego em seu
nascimento espiritual, ou renascer numa existência pior
que qualquer outra anterior - eles seriam menos
pródigos em sua hospitalidade.

E agora, podereis compreender porque nos opomos tão


energicamente ao Espiritismo e à mediunidade. E vereis
também porque, para satisfazer o Senhor Hume - pelo
menos numa direção, - me vi num grande APERTO com
o Chohan, e MIRABILE DICTU40 com ambos os sabes,
"os jovens de nome Scott e Banon", um artigo seu que
termina com uma severa sova literária em minha
humilde pessoa. Sombras dos Asuras, que tremenda
insatisfação ela teve ao ler essa irrespeitosa crítica!
Lamento que ela não a publique em consideração a
"honra da família", como o expressou o "Deserdado"2.
Quanto ao Chohan, o assunto é mais sério; e ele esteve
muito longe de ficar satisfeito que eu tivesse permitido a
Eglington crer que era EU MESMO. Permitiu que se
desse esta prova do poder de um HOMEM VIVO aos
Espíritas através de um dos seus médiuns; mas deixou
o programa e detalhes para nós mesmos; daí o seu
descontentamento por algumas pequenas
conseqüências. Digo-vos, meu querido amigo, que sou
muito menos livre de fazer o que quero do que vós no
caso do PIONNER. Nenhum de nós, a não ser os
CHUTUKTUS mais elevados, é pleno dono de si
mesmo. Mas estou divagando.

E agora que eu vos contei muito e expliquei tantas


coisas, podeis ler esta carta à nossa incorrigível amiga,
a senhora Gordon. As razões que foram dadas podem
jogar alguma água fria no seu zelo espírita, embora
tenha minhas razões para duvidar disso. De qualquer
modo, a carta pode mostrar a ela que não é contra o
VERDADEIRO Espiritismo que nos colocamos, mas
apenas contra a mediunidade indiscriminada e os efeitos
físicos - especialmente as materializações e
POSSESSÕES em transe. Pudessem os Espíritas
compreender a diferença entre INDIVIDUALIDADE e
PERSONALIDADE, entre a imortalidade INDIVIDUAL e
a PESSOAL, e algumas outras verdades, se
convenceriam com mais facilidade de que os ocultistas
possam estar plenamente seguros da imortalidade da
MÔNADA e, no entanto, negar a da alma3 - o veículo do
EGO PESSOAL; de que podem crer firmemente e
praticar comunicações e relações espirituais com os
egos DESENCARNADOS do RUPA LOKA4, e,
entretanto, rir da idéia insensata de se apertar a mão de
um "Espírito", de que, finalmente, como se apresenta o
assunto, são os Ocultistas e Teósofos os verdadeiros
Espiritualistas, enquanto a moderna seita que leva este
nome se compõe de fenomenalistas MATERIALISTAS.

E uma vez que estamos discutindo a "individualidade" e


"personalidade", é curioso que H. P. B. enquanto
torturava o cérebro do pobre Senhor Hume com suas
embrulhadas explicações, não se desse conta, até
receber dele mesmo a explicação da diferença entre
individualidade e personalidade, de que era a mesma
doutrina que fora ensinada a ela: a de PACCEKAYANA
e a de AMATA-YANA. Os dois termos que como se disse
antes, foram citados por Hume, são a tradução correta e
literal do Pali, Sânscrito, e mesmo dos nomes técnicos
Chino-Tibetanos para as diversas ENTIDADES
PESSOAIS fundidas numa só INDIVIDUALIDADE - a
longa fileira de vidas emanando da mesma e Imortal
MÔNADA. Tendes de recordar:

1) O PACCEKA-YANA (em sânscrito "Pratyela")


significa literalmente o "veículo pessoal", ou EGO
pessoal, uma combinação dos cinco princípios
inferiores, enquanto que:

2) o AMATA-YANA (em sânscrito "Amrita") se traduz por


"o veículo imortal", ou a INDIVIDUALIDADE, a Alma
Espiritual, ou a MÔNADA Imortal - uma combinação do
Quinto, Sexto e Sétimo.

P. Parece-me que uma das nossas maiores dificuldades


ao tratar de compreender o progresso das coisas, está
em nossa ignorância de como são as divisões dos sete
princípios. Cada um deles possui, por sua vez, segundo
nos foi dito, seus sete elementos: poderia nos dizer algo
mais da constituição setenária, em especial dos
Princípios Quarto e Quinto? É evidente que na
divisibilidade deles é onde reside o segredo do futuro,
assim como de muitos fenômenos psíquicos durante a
vida.

R. Perfeitamente correto. Mas permito-me duvidar de


que a dificuldade desapareceria com as explicações
desejadas, e de que seríeis capaz de "penetrar no
segredo dos fenômenos psíquicos". Poderíeis, meu bom
amigo, a quem eu tive uma ou duas vezes o prazer de
ouvir tocar no vosso piano entre o vestir-se com etiqueta
e a ceia com vinho clareai e carne - dizei-me, poderíeis
executar com tanta facilidade com que tocas uma das
suas ligeiras VALSAS, uma das grandes sonatas de
Beethoven? Rogo-vos, tende paciência! Entretanto não
me negarei, de nenhum modo. Numa folha solta anexa
à presente, achareis os princípios Quarto e Quinto,
divididos em raízes e ramos, se é que disponho de
tempo para fazê-lo. E agora, por quanto tempo vos
absteríeis de pontos de interrogação?

Fielmente,

K. H.

P. S. Espero ter removidas todas as causas de queixas


- não obstante à minha demora em responder as suas
perguntas - e que a minha reputação se restabeleça.
Vós e o senhor Hume receberam, até agora, mais
informação sobre a Filosofia Esotérica Arcaica do que
jamais fora dado aos não iniciados, que eu saiba. Sua
sagacidade, meu bondoso amigo, sugeriu muito tempo
atrás, de que isso não é devido tanto às vossas
combinadas virtudes pessoais - ainda que o senhor
Hume, devo confessar, conseguiu muitas informações
desde a sua conversão ou às minhas preferências
pessoais para qualquer um dos dois, senão por outras
razões muito evidentes. Entre todos os nossos semi-
chelas, vós dois pareceis os mais adequados para
utilizar, para o bem comum, os dados que receberam.
Deveis considerá-los como recebidos em confiança para
o benefício de toda a Sociedade; para serem analisados,
utilizados e reutilizados em muitas maneiras e de todo
modo adequado. Se vós (Sr. Sinnett) quiserdes dar um
prazer ao vosso amigo trans-himalaico, não permita que
passe em mês sem ter escrito um Fragmento, grande ou
curto, para a revista, e então publicá-lo, sob a forma de
um folheto, como o chamais. Podeis assiná-los como
"Um Chela Laico de K. H." ou de qualquer modo que
escolherdes. Não me atrevo a pedir o mesmo favor ao
Sr. Hume, que já fez mais do que lhe correspondia em
outro sentido.

Não responderei as suas perguntas acerca de sua


conexão com o PIONEER por hora; algo poderia dizer
sobre ambas as partes. Mas, pelo menos, não tomai
uma decisão precipitada. Estamos no fim do ciclo e
estais relacionado com a S. T.

Caso o meu Karma o permita, espero responder amanhã


a extensa e bondosa carta pessoal do Senhor Hume. A
abundância de manuscritos meus ultimamente,
demonstra que achei um pouco de lazer o seu aspecto
manchado, corrigido e remendado, comprova também
que o meu lazer veio aos pedaços, com constantes
interrupções, e que minha escrita foi feita em estranhos
lugares aqui e ali, com os materiais que eu podia obter.
Mas, quanto à REGRA que nos proíbe de usar o mínimo
de poderes até que todos os meios comuns tenham sido
experimentados e falhados, eu poderia, naturalmente,
ter produzido uma belíssima "precipitação" quanto à
quirografia e composição. Eu me consolo pela miserável
aparência de minhas cartas com o pensamento de que
talvez, não deixareis de apreciá-las por eu estar sujeito,
pessoalmente, a estes contratempos que vós, ingleses,
reduzem com tanto engenho ao mínimo, com os
diversos recursos de que dispõem. Como a vossa
senhora bondosamente observou uma vez, eles
desvanecem de modo efetivo, o sabor de milagre e nos
convertem em seres humanos, em entidades mais
imagináveis - uma inteligente reflexão que lhe agradeço.

H. P. B. está desesperada: o Chohan recusou a M. a


permissão de deixá-lo vir este ano, e no máximo até a
Rocha Negra, e M. muito serenamente fez com que ela
desempacotasse suas malas. Tentai consolá-la, caso
possais. Por outro lado, ela se faz mais necessária
realmente em Bombaim do que em Penlor. Olcott está a
caminho até Lanka e Damodar foi despachado por um
mês a Poona; suas pueris austeridades e o trabalho
intenso abalaram a sua constituição física. Terei que
cuidar dele e talvez tirá-lo dali, se as coisas piorarem.

Agora posso dar-lhe alguma informação acerca da


questão tantas vezes discutida de permitirmos
fenômenos. As operações egípcias de seus benditos
compatriotas envolvem tantas conseqüências locais
para o corpo de Ocultistas que ainda lá permanecem e
para eles estão guardando, que dois dos nossos
Adeptos já estão lá e a eles tendo se juntado alguns
irmãos Drusos, e três mais estão a caminho. Tive o
agradável privilégio de ser testemunho ocular da
carnificina humana, mas declinei, com os meus
agradecimentos. Para emergências tão grandes como
essas é que está armazenada a nossa Força e, portanto
- não devemos desperdiçá-la num "tamasha" da moda.

Dentro de uma semana - novas cerimônias religiosas,


novas reluzentes bolhas para divertir os bebês, e uma
vez mais estarei atarefado noite e dia, de manhã, à tarde
e à noite. Em certas ocasiões sinto um momentâneo
pesar de que os Chohans não tenham desenvolvido a
feliz idéia de nos proporcionar também uma "suntuosa
licença" na forma de um pouco de tempo livre. Oh, o
Repouso Final! Esse Nirvana onde se é "Uno com a Vida
- e, no entanto não se vive". Ah! Ah! - tendo comprovado
pessoalmente que:

"...A Alma das coisas é doce,

o coração do Ser é Repouso celestial."

aspiramos - o eterno REPOUSO!

Seu

K.H.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 017

Recebida em Simla

Novamente diversas cartas deveriam ser consideradas


juntas. A Carta nº.61 é uma carta de perguntas e
respostas; a de nº.62 é chamada "Apêndice" e contém
alguns comentários aos quais o Mahatma se refere em
suas respostas mais minuciosas do que as dadas na
carta nº.61. A carta nº.63, na verdade, não é uma carta
separada mas uma continuação da de nº.62, que ficou
separada.

Estas duas cartas são o reinício dos ensinamentos


específicos. Deve-se lembrar de que não havia
nenhuma definição clara de termos naquela época, o
que pode possivelmente levar à alguma confusão ao se
tentar compreender.

Presume-se que o leitor esteja familiarizado com os


ensinamentos das Rondas e Raças, Globos, Cadeias,
etc. No livro de Sinnett, "Budismo Esotérico", os
conceitos são apresentados. Livros posteriores também
tratam do assunto, especialmente "A Doutrina Secreta",
de H.P.B.

1) Alguns homens da quinta ronda já começaram a


aparecer na Terra. Como podem ser distinguidos dos da
Quarta Ronda da sétima encarnação terrena? Eu
suponho que estejam na primeira encarnação da Quinta
Ronda e que se atingirá um tremendo adiantamento
quando as pessoas da Quinta ronda alcançarem a sua
sétima encarnação.

1) Os videntes e clarividentes inatos do tipo da Sra.


Kingsford e do senhor Maitland2, os grandes Adeptos de
qualquer país; os gênios, sejam nas artes, na política ou
na reforma religiosa. Ainda não apresentam maiores
distinções físicas; seria muito prematuro, mas sucederá
mais tarde.

É assim mesmo, caso consulteis o Apêndice nº.13


encontrareis a explicação.

2) Mas se um homem se devotasse da Primeira à Quinta


Ronda e se convertesse num Adepto poderia livrar-se de
novas encarnações terrenas?

2) Não; com a exceção de Buda, que é um ser da Sexta


Ronda que, por ter percorrido com tanto acerto a carreira
em suas encarnações anteriores, ultrapassou até
mesmo os seus predecessores. Mas, no entanto, tal
exemplar de homem se encontra somente em um
BILHÃO de criaturas humanas. Ele se diferenciou dos
demais homens tanto na aparência física, como na
espiritualidade e conhecimento. Entretanto, ele se livrou
das demais encarnações, apenas neste planeta; quando
os últimos homens da Sexta Ronda do Terceiro Anel
desapareçam desta Terra, o Grande Instrutor terá que
se reencarnar no próximo planeta. Apenas que, como
ele sacrificou, a Bem-aventurança e o Repouso
Nirvânicos pela salvação de seus semelhantes,
renascerá no mais elevado - o Sétimo Anel do planeta
superior. Até então ELE influenciará cada décimo de
milênio, (digamos melhor acrescentando, ele "já
influenciou" um indivíduo escolhido, que geralmente
transformou os destinos de nações. (Veja ISIS, Vol I, pp.
34 e 35)

3) Existe alguma diferença espiritual essencial entre o


homem e a mulher, ou é o sexo um mero acidente de
cada nascimento, fornecendo o futuro do indivíduo
basicamente as mesmas oportunidades?

3) Um mero acidente, como dizeis. Geralmente uma


coisa casual guiada, entretanto, pelo Karma individual,
pelas aptidões morais, características e ações do
nascimento anterior.

4) A maioria das classes superiores de paises civilizados


agora na Terra, entendo que são pessoas do Sétimo
"Anel" (isto é, da sétima encarnação terrestre) da Quarta
Ronda. Os aborígines australianos pertencem, segundo
entendo, a um anel inferior? Qual? E pertencem as
classes menos adiantadas e inferiores dos países
civilizados a vários anéis ou anel justamente ao Sétimo
Anel ou podem alguns nascer nos pobres?

4) Não necessariamente. O refinamento, a urbanidade e


a brilhante educação no vosso sentido destas palavras,
tem muito pouco a ver com o curso da Lei superior da
Natureza. Tomai um africano do Sétimo Anel ou um
mongol do Quinto e podereis educá-lo, caso
começardes do berço - e transformá-lo, aparte o seu
aspecto físico, no mais completo cavalheiro inglês. Mas
ele ainda permanecerá somente externamente como um
papagaio intelectual. (Veja Apêndice nº.II)

5) A Velha Dama me disse que a maioria dos habitantes


deste país são, em alguns aspectos, menos avançados
que os Europeus, embora mais espirituais. Estão eles
em um anel inferior da mesma ronda - ou a diferença se
refere a algum princípio dos ciclos nacionais que nada
tem a ver com o progresso individual?

5) A maior parte dos povos da Índia pertence à mais


velha ou mais primitiva ramificação da Quinta Raça
humana. Desejaria que M. conclua a carta que vos dirijo
com um curto sumário acerca das últimas teorias
científicas de vossos eruditos etnógrafos e naturalistas
para poupar-me trabalho. Lede o que ele escreve e
depois consultai o nº.III de meu Apêndice.

6) Qual a explicação de "Ernesto" ou do outro guia de


Eglinton? São elementares que extraem a sua vitalidade
consciente dele ou elementais mascarados? Quando
"Ernesto" tomou aquela folha do caderninho de notas do
"Pioneer", como ele fez para obtê-la, sem recorrer à
mediunidade para isso?

6) Posso assegurar-vos que não vale a pena que


estudeis agora a verdadeira natureza dos "Ernestos" e
"Joeys" e "outros guias" e, a não ser que fiqueis a par do
desdobramento das degradações das escórias
elementais e o dos sete princípios do homem, sempre
vos achareis confuso para compreender o que eles
REALMENTE são. Não obedecem a lei alguma, e muito
dificilmente pode esperar-se que concedam aos seus
amigos e admiradores a homenagem da verdade, do
silêncio e do apoio. Se alguém tem afinidade com eles,
como a tem alguns DESALMADOS médiuns físicos -
eles se encontrarão. Caso não ocorra, é melhor deixá-
los sozinhos. Gravitam somente para os seus
semelhantes - os médiuns, e a sua relação não se
estabelece a não ser que seja FORÇADA por tontos e
pecaminosos traficantes de fenômenos. Eles são
elementares e elementais - no melhor dos casos,
rasteiros, maliciosos e degradantes. Desejais abraçar
muito conhecimento de imediato, meu caro amigo: não
podereis alcançar com um salto todos os mistérios.
Vede, não obstante, o Apêndice, o qual, em realidade, é
uma carta.

Não conheço a Subba Row6, que é um discípulo de M.


e também ele sabe muito pouco de mim. Entretanto, eu
sei que NUNCA consentirá em vir até Simla. Mas se for
ordenado por Morya, ensinará, estando em Madras, isto
é; corrigirá os manuscritos como M. fez, os comentará,
responderá a perguntas e será muito, muito útil. Sente
uma perfeita reverência e adoração por H. P. B.

K. H.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas


AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 018

Recebida em Simla

Este é o Apêndice à Carta nº.61. Veja notas na Carta


nº.60.

APÊNDICE

(I) Cada individualidade Espiritual tem uma gigantesca


jornada evolutiva a executar, um tremendo progresso
giratório a realizar. Primeiro - no início de uma grande
rotação Manvantárica, desde o primeiro ao último dos
planetas portadores de homens, já que cada um deles a
mônada tem que passar através de sete raças humanas
sucessivas. Desde o mudo descendente do macaco (a
última muito diferenciada das espécies agora
conhecidas) até a presente quinta raça, ou melhor
variedade, e através de mais duas, antes de terminar a
sua jornada na Terra; e a seguir no próximo, mais alto,
cada vez mais elevado... Mas limitaremos a nossa
atenção somente a esta. Cada uma das sete raças
enviam sete ramificações procedentes do Ramo Matriz,
e através de cada uma delas, por sua vez, tem o homem
que evoluir, antes de passar à raça imediatamente
superior; e isto sete vezes. Bem, podeis abrir bem os
vossos olhos, meu bom amigo, e sentir-vos perplexo;
mas é assim. As ramificações caracterizam vários
espécimes da humanidade - física ou espiritualmente - e
nenhum de nós pode omitir um só degrau da escada.
Com tudo isso não há reencarnação, como ensina a
Vidente de Londres, a Senhora A. K.3, já que os
intervalos entre os renascimentos são tão
incomensuravelmente grandes para permitir
semelhantes idéias fantásticas. Rogo que tenhais em
mente que, quando digo "homem", estou me referindo a
um ser humano do nosso tipo. Existem outras e
inumeráveis cadeias manvantáricas de globos em que
evoluem seres inteligentes - tanto no nosso sistema
solar como fora dele - coroamentos e ápices do ser
evolucionário em suas respectivas cadeias; alguns física
e intelectualmente inferiores, e outros
incomensuravelmente superiores ao homem de nossa
cadeia. Mas apenas estamos mencionando-as, não
falaremos dela no momento.

O homem tem, pois, que passar através de cada raça,


efetuando sete entradas e saídas sucessivamente e
desenvolvendo o intelecto em graus sucessivos, desde
o mais inferior até o mais elevado. Em resumo, o seu
ciclo terrestre, com seus anéis e sub-anéis, é a exata
contraparte do Grande Ciclo, apenas que em miniatura.
Lembrai-vos novamente de que os intervalos, mesmo
entre essas "reencarnações raciais", são enormes, e
que mesmo o mais obtuso dos bosquímanos africanos
tem de colher a recompensa do seu Karma, da mesma
forma que o seu irmão, também bosquímano, que pode
ser seis vezes mais inteligente que ele.

Os vossos etnógrafos e antropólogos fariam bem em ter


sempre na mente esta invariável lei setenária que
permeia toda a atividade da Natureza. Desde Cuvier - o
falecido grão mestre da Teologia Protestante - cujo
cérebro estufado pela Bíblia fez com que dividisse a
humanidade em apenas três variedades distintas de
raças - até Blumenbach que a dividia em cinco - todos
eles estavam errados. Somente Pritchard, que
profeticamente sugeriu sete, chegou próximo ao alvo.
Eu li no Pioneer do dia 12 de Junho, que me foi enviado
por H. P. B. uma carta a respeito da Teoria do Macaco
por A. P. W. que contém a mais excelente exposição da
hipótese de Darwin. O último parágrafo, página 6,
coluna, poderia ser considerado - ressalvados uns
poucos erros - como uma revelação num milênio ou
menos, se o tempo pudesse ser detido. Lendo as nove
linhas desde a linha 21 (começando por baixo)
encontramo-nos com um fato cuja prova poucos
naturalistas estão preparados para aceitar. A quinta,
sexta e sétima raças da Quinta Ronda - cada raça
sucessiva evoluindo e mantendo o passo, por assim
dizer, com as rondas do "Grande Ciclo" - e a Quinta
Raça da Quinta Ronda, tendo manifestado uma
perceptível diferenciação, tanto física como intelectual e
também moral até o ponto que corresponde à Quarta
"Raça" ou "encarnação terrestre", tendes razão ao dizer
que se conseguirá um "tremendo adiantamento, quando
as pessoas da Quinta Ronda alcancem a sua sétima
encarnação."
(II) Nem a riqueza nem a pobreza, nem o nascimento
baixo ou elevado, influem para nada disso, pois tudo isso
é o resultado do seu Karma. Nem tem muito a ver o que
chamais de civilização com o progresso. A pedra de
toque é o HOMEM INTERNO, a espiritualidade, a
iluminação do cérebro físico pela luz da inteligência
espiritual ou divina. Os australianos, os esquimós, os
bosquímanos, os vedhas, etc., são todos ramificações
do ramo que chamais "homens da caverna" ou seja a
Terceira Raça (a Segunda, segundo a vossa Ciência)
que evoluiu no globo. São os remanescentes dos
homens das cavernas do Sétimo Anel, "que pararam de
crescer e que são as formas paralisadas de vida,
destinadas ao desaparecimento final na luta pela
existência", nas palavras do vosso correspondente.

Veja "Isis", Capítulo I. "...a Essência Divina (Purusha),


semelhante a um arco luminoso", passa a formar um
círculo: a cadeia manvantárica, e tendo atingido o ponto
mais elevado (ou o seu primeiro ponto de partida) se
recusa de novo e retorna à terra (o primeiro globo),
trazendo em seu vórtice um tipo mais elevado de
humanidade, "e assim sete vezes". Ao aproximar-se de
nosso planeta vai se obscurecendo mais e mais até que,
ao tocar a terra, se converte em tão negra como a noite
- ou seja, é matéria exteriormente, estando o Espírito ou
Purusha oculto sob a quíntupla armadura dos primeiros
cinco princípios. Veja agora as três linhas grifadas na
página 5: em vez de "gênero humano" leia "raças
humanas", em vez de "civilização" leia evolução
espiritual dessa raça particular e tereis a verdade que
tive de ocultar naquela etapa experimental e incipiente
da Sociedade Teosófica.

Veja de novo o último parágrafo da página 13 e o


primeiro da 14, e notai as linhas grifadas acerca de
Platão. Então veja a p. 32 relembrando as diferenças
entre os Manvantaras, como estão ali calculados, e os
MAHAMANVANTARAS (sete rondas completas entre
dois Pralayas - as quatro Yugas retornando sete vezes,
uma vez para cada raça). Tendo feito isso, tomai a pena
e calculai. Isso fará com que digais uma praga - mas isso
não ferirá muito o vosso Karma: pois é surdo à
irreverência nascida nos lábios. Lede atentamente a
esse respeito (não com o ânimo de renegar e sim com a
da evolução) a página 301 a última linha "e agora vem
um mistério..." e continue na página 304. "Isis" não foi
desvelada, mas foram feitos rasgões suficientemente
grandes para permitir rápidos vislumbres a serem
completados pela intuição de estudante. Nessa mistura
de citações de várias verdades filosóficas e esotéricas,
propositalmente veladas, observai a nossa doutrina, que
agora é, pela primeira vez, ensinada parcialmente aos
europeus.

(III) Como disse em minha resposta às vossas notas, a


maior parte dos povos da Índia - com exceção dos
Mongóis Semíticos (?) pertencem à ramificação mais
antiga da presente quinta raça Humana, que evoluiu na
Ásia Central há mais de um milhão de anos. A Ciência
Ocidental encontra boas razões para a teoria de que
seres humanos habitaram a Europa 400.000 anos antes
da nossa era - isso de maneira alguma irá chocar-vos a
ponto de imperdir-vos de beber o vinho na hora do
jantar. Entretanto a Ásia, bem como a Austrália, África,
América e a maioria das regiões do norte - têm os seus
remanescentes da quarta, e mesmo da terceira raça
(homens das cavernas e os íberos). Ao mesmo tempo,
temos (na Índia) mais homens do Sétimo Anel da Quarta
Raça do que na Europa, e mais do Primeiro Anel da
Quinta Ronda, já que como são mais antigos que as
ramificações européias, nossos homens entraram
naturalmente mais cedo. O fato de serem "menos
avançados" em civilização e refinamento, afeta muito
pouco a sua espiritualidade. O Karma é um animal que
permanece indiferente aos sapatos e às brancas luvas
de pelica. Nem as vossas facas e garfos, óperas e
salões, vos acompanharão no vosso progresso para
frente, assim como os trajes de cor de "folha seca" dos
Estetas Britânicos não impedirão aos seus donos e
usuários de haverem nascido nas fileiras daqueles que
serão considerados - não importa o que façam - pelos
futuros homens da Sexta e Sétima Ronda como
"selvagens" carnívoros e alcoólicos do "Período da Real
Sociedade". Depende de vós, pois, imortalizar o vosso
nome de modo a levar as raças superiores a dividir a
nossa época e chamar a esta sub divisão do "O Período
do Pleisto-Sinnético", mas isso jamais poderá ocorrer
enquanto trabalhardes sob a impressão de que "as
finalidades que agora temos em vista serão alcançadas
como uma razoável temperança e auto-controle". A
Ciência Oculta é ciumenta amante que não nos permite
nem a sombra de uma auto-indulgência e é "fatal", não
só no curso ordinário da vida conjugal, mas mesmo no
comer carne e beber vinho. Temo que os arqueólogos
da Sétima Ronda, ao escavar e desenterrar a futura
Pompéia de Punjab-Simla, algum dia, em vez de
encontrarem preciosas relíquias dos "Ecléticos"
teósofos, tragam à luz do dia alguns restos petrificados
ou vítreos do "Auxílio para Despesas". Essa é a última
profecia corrente em Shigatse.

E agora a última questão. Bem, como digo, os "guias"


são elementais e elementares, e não um decente "meio
a meio", e sim a própria efervescência do copo de
cerveja mediúnica. As várias "privações" dessas folhas
de papel de notas foram produzidas durante a
permanência de E. em Calcutá, na atmosfera da
senhora G. - já que ela recebia freqüentemente cartas
vossas. Foi, então, uma tarefa fácil para as criaturas, ao
seguirem o desejo inconsciente de E., atrair outras
partículas desintegradas do vosso cofre, para formar um
duplo. Ele é um potente médium, e a não ser pela sua
inerente boa natureza e a outras boas qualidades,
fortemente contrabalançadas pela vaidade, o descuido,
o egoísmo, a ânsia por dinheiro e outras qualidades da
moderna civilização, ademais de uma ausência total de
vontade, poderia converter-se num magnífico Dugpa.
Entretanto, como já disse, ele é uma "boa pessoa" dos
pés à cabeça, confiável por natureza, mas quando está
sob a influência do guia é tudo ao contrário. Queria, se
pudesse, salvá-lo de...

Nota.- Na Primeira e Segunda Edições aparece uma


Nota Editorial indicando que está faltando o final desta
Carta. Um estudioso agora indicou que a parte que falta
é nitidamente a Carta 95, págs. 423-424-Eds.

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

AS CARTAS DOS
MAHATMAS
PARA A.P.SINNETT

Carta Nº 019

Anexada às Provas de uma Carta sobre teosofia.


A "Carta sobre Teosofia" à qual estas duas notas estão vinculadas é
dirigida a Staiton Moses em Londres, destinada à publicação na revista
"Light", uma publicação dos espíritas naquela cidade. Sinnett mandou
as provas ao Mahatma K.H. para os seus comentários.

Na prova da segunda das cartas destinadas a Staiton Moses, Sinnett


faz a afirmação: "Eu acho difícil explicar um estado de coisas sob
exame...por falta de um conhecimento prévio de vossa parte, da
doutrina oculta...referente ao modo como a Natureza recompensa e
pune os seus atos nesta vida..." No ponto em que se menciona o fato
de Moses não ter um "conhecimento prévio" da doutrina oculta, Sinnett
inseriu um comentário entre parênteses: "(a situação verdadeira dos
fatos, isto é, como são conhecidos dos adeptos e afirmados por eles
com muita certeza, assim como os movimentos dos planetas são
confirmados igualmente pelos astrônomos)..." No comentário à
margem pelo Mahatma K.H., em seguida às palavras "como
conhecidos dos adeptos..." ele acrescentou as palavras que iniciam
esta Carta nº71. "Sim, verdadeiramente e como são confiantemente
afirmados pelos adeptos de quem...".

Sinnett escreve mais em sua carta: "Agora, as vítimas de acidente,


embora raramente, e os de suicídio, podem comunicar-se conosco
através de médiuns e o comunicante é a entidade real do indivíduo que
outrora vivia, salvo algumas poucas circunstâncias excepcionais, das
quais doravante.." Neste ponto surge o comentário à margem do
Mahatma: "Casos excepcionais, meu amigo..."

Um ponto ainda mais interessante é uma pequena carta na caligrafia


de K.H., dirigida a Sinnett e recebida por ele em 22 de agosto de 1882,
dez dias depois que a carta nº.71 foi recebida. Acha-se nas Cartas de
H.P.B. para Sinnett, à pág. 365, Carta nº.201. O Mahatma diz: "Eu fiz
algumas alterações e redundou em uma nota ao pé da página, a ser
acrescentada às vossas "Cartas". De qualquer modo, eu vejo que há
sempre perigo de encontrar as nossas idéias substituídas por imagens
falsas e concretas nas mentes de vossos leitores. Se tiverdes sucesso
em dar-lhes apenas uma verdade apenas relativa, não absoluta, tereis
prestado ao público um grande benefício".

Sim: na verdade conhecido e confidentemente afirmado pelos Adeptos


para quem -

"Nenhuma cortina oculta as Elíseas esferas,

nem essas pobres cascas de semitransparente pó;

pois tudo o que cega a visão do espírito

É o orgulho e o ódio e a luxúria..."


(Não é para publicar-se)

Casos excepcionais, meu amigo. Os suicidas podem e geralmente o


fazem, mas não assim no que respeita aos outros. Os bons e puros
dormem um bendito sono tranqüilo, cheio de felizes visões da vida
terrena, e não têm consciência de estar já, para sempre, fora desta
vida. Aqueles que não foram nem bons nem maus dormem, ainda que
sem sonhar, um sono tranqüilo, enquanto que os malvados sofrerão,
em proporção as suas malévolas ações, as angústias de um pesadelo
durante anos; seus pensamentos se convertem em coisas vivas, as
suas malvadas paixões em substância real e recebem de encontro às
suas cabeças todo o sofrimento que acumularam sobre os outros. A
realidade e os fatos caso fossem descritos produziriam a impressão de
um Inferno, mais aterrorizante que o imaginado por Dante!

o Abreviações usadas nas Cartas

o Índice das Cartas dos Mahatmas

Carta Nº 020a

(De A. O. Hume para K. H.)

Estas três cartas (nº.20A, B e C) seriam muito


confusas sem algum conhecimento do seu
conteúdo básico.

Em outubro de 1881, "The Theosophist"


publicou um artigo por Eliphas Levi, intitulado
"Morte". Este artigo está no Apêndice I, nas
Cartas de H.P.B. para Sinnett, Eliphas Levi e
esse artigo são citados várias vezes nas
Cartas dos Mahatmas; o artigo tornou-se
assunto para alguma discussão e diferenças
de opinião.

Eliphas Levi era o pseudônimo do Abade


Alphonse Louis Constant, um abade francês.
Os Mahatmas falavam elogiosamente de
Eliphas Levi e do seu conhecimento oculto.
Quando o seu artigo intitulado "Morte" foi
publicado no "The Theosophist", foi
acompanhado por uma nota do editor, que
dizia: "O falecido Epliphas Levi foi o mais
erudito Cabalista e Ocultista de nossa época
e tudo proveniente de sua pena é precioso
para nós, na medida em que nos auxilia a
comparar comentários com as Doutrinas
Ocultas Orientais e pela luz lançada sobre
elas para provar ao mundo que os dois
sistemas...são unos em suas afirmações
metafísicas principais". Havia também muitos
comentários à margem pelo Mahatma K.H.
Estes aparecem no Apêndice às Cartas de
H.P.B. para Sinnett.

Um membro da Sociedade Teosófica


chamado N.D. Khandalawala, escreveu para
o editor, assinalando que, no mesmo número
do "The Theosophist", um dos artigos da
série "Fragmentos da Verdade Oculta"
parecia-lhe estar em contradição direta com
as afirmações feitas na nota do editor ao
artigo de Eliphas Levi. "Evidentemente", diz o
Sr. Khandalawala, "há um hiato nalgum
ponto". Ele pediu um esclarecimento.
Quando H.P.B. recebeu a carta do Sr.
Khandalawala, ela mandou-a ao Mahatma
K.H. Ele devolveu-a para ela, com a seguinte
nota precipitada (transportada):

Mande esta para o Sr. Sinnett. Tendo agora


recebido de mim todas as explicações
necessárias, ele não me recusará o favor
pessoal que agora lhe peço. Que ele
esclareça os seus irmãos teosofistas por sua
vez, escrevendo uma resposta para isso no
próximo "Theosophist", e ele mesmo
assinado "Um Chela Laico".

H.P.B. remeteu a carta do Sr. Khandalawala,


junto com a nota precipitada de K.H., para
Sinnett. Ele foi ver Hume (que estava em
Simla na ocasião) para discutir o assunto. Isto
levantou algumas questões na mente de
Hume a respeito de um artigo na série de
"Fragmentos", que ele estava elaborando
então, e ele escreveu para o Mahatma K.H. A
Carta de Hume é a de nº.70-A (CM-20A).

Sinnett, então, escreveu para H.P.B., para


tentar esclarecer alguns pontos na carta do
Sr. Khandalawala. Esta é a carta nº.70-B
(CM-20-B). H.P.B. encaminhou essa carta ao
Mahatma K.H., e o Mahatma respondeu a
essas cartas, tanto à de Sinnett como à de
Hume, escrevendo no verso da carta de
Sinnett as suas respostas às questões
formuladas.

Torna-se muito complicado estudar o


conteúdo destas três cartas porque algumas
das questões apresentadas na carta 70-A e
70-B estão respondidas na carta 70-C.
Entretanto, o Mahatma inseriu números ou
letras identificadores e assim, voltando-se
para esta ou aquela das três cartas, alguma
ordem emerge.

Querido Mestre:

Falando dos Fragmentos nº.III, dos quais


logo recebereis as provas da impressão, eu
disse que estão longe de ser satisfatórios,
embora tenha me esforçado.

Era necessário apresentar a doutrina da


Sociedade em outro nível, de modo a abrir
gradualmente os olhos dos espíritas - por isso
introduzi como o assunto mais importante, o
ponto de vista a respeito do suicídio, etc..
exposto na vossa última carta para S.

Pois bem; é ISTO O QUE ME PARECE


MENOS SATISFATÓRIO, E QUE
RESULTARÁ EM UMA QUANTIDADE DE
PERGUNTAS QUE ME SENTIRIA EM
DIFICULDADE PARA RESPONDER.

A nossa primeira doutrina é que a maioria dos


fenômenos objetivos eram devidos aos
cascões dotados com os Princípios 11/2 e
21/2, isto é, princípios inteiramente
separados do seu sexto e sétimo princípios.

Mas, em um desenvolvimento posterior


admitimos (1) que existem alguns espíritos,
isto é o 5º. e 4º. princípios não
completamente separados do Sexto e do
Sétimo, os quais podem também ser potentes
nas sessões espíritas. Eles são os espíritos
dos suicidas e das vítimas de acidentes ou de
violências. Aqui a doutrina é que cada onda
particular de vida tem que dirigir-se para o
seu destino estabelecido e, com a exceção
dos muito bons, todos os espíritos
prematuramente divorciados dos princípios
inferiores, devem permanecer na Terra até
que soe a hora predestinada que seria a da
sua morte natural.

Tudo está muito bem, mas sendo assim, é


claro que em OPOSIÇÃO À NOSSA
DOUTRINA ANTERIOR, OS CASCÕES
SERÃO POUCOS E OS ESPÍRITOS
MUITOS; (2)

Por que, que diferença pode haver, tomando


o caso dos suicidas, se são premeditados ou
involuntários, se o homem estoura os seus
miolos, ou somente chega a morrer por
excessos alcoólicos ou desgaste sexual, ou
excesso de estudo? Em cada caso se
antecipa a hora normal e natural da morte, e
o resultado seria um espírito e não um
cascão; ou, de novo, que diferença há entre
o homem que é enforcado por um
assassinato, ou que morreu em batalha ou
num descarrilhamento, ou numa explosão ou
afogado, ou queimado até morrer, ou o que
sucumbe à cólera ou a uma praga, ou ao
impaludismo, ou qualquer uma das milhares
de enfermidades epidêmicas, cujos germens
não se encontram ab initio em sua
constituição, e sim porque as adquiriu por ter
visitado uma determinada localidade ou por
haver passado por uma determinada
experiência, ambos as quais poderia ter
evitado? Em todos esses casos, se antecipou
igualmente a hora normal da morte e o
resultado seria um espírito e não um cascão.

Calcula-se que na Inglaterra nem 15% da


população alcança o período de sua morte
normal, e aqui, com as febres, a fome e suas
seqüelas, temo que essa porcentagem não
seja maior ainda, apesar de que as pessoas
são, na sua maioria, vegetarianas, e vivem
geralmente, em condições sanitárias menos
adversas.

Portanto, a grande massa de fenômenos


físicos dos espíritas evidentemente seria
devida a esses espíritos e não aos cascões.
Agradeceria ter mais informações acerca
deste ponto.

Há um segundo ponto (3): com muita


freqüência, segundo entendo, uma média
muito razoável de gente boa, que morre de
morte natural, permanece, por algum tempo,
na atmosfera da Terra - desde uns poucos
dias até alguns anos; porque não podem
estes comunicar-se? E se podem, este é um
ponto importantíssimo que não se deve
passar por alto.

(4) E em terceiro lugar, é um fato que


milhares de espíritos se apresentam em
círculos puros e ensinam a mais alta
moralidade, e ainda mais, relatam bastante
esmero as verdades do mundo invisível
(como exemplo os livros de Allan Kardec,
com páginas e mais páginas nas quais há
ensinamentos idênticos aos vossos); e não é
razoável supor-se que sejam cascões ou
espíritos maus. Mas não nos destes qualquer
abertura para a existência de um grande
número de espíritos puros e elevados; e até
que não se exponha toda a teoria
apropriadamente, e se dê o devido lugar a
esses espíritos, o que me parece ser um fato
bem estabelecido, jamais atraireis aos
espíritas. Atrevo-me a dizer que esta é a
velha história: só nos dizem uma parte da
verdade e o resto nos é ocultado, e se é
assim, isso equivale, simplesmente a cortar a
garganta da Sociedade. Melhor será não
contar nada ao mundo externo - do que
contar meias verdades cuja deficiência são
detectadas imediatamente, e o resultado é
um rechaço desdenhoso do que é a verdade,
já que não podem aceitá-la nesse estado
fragmentário.

Vosso afetuosamente,

A. O. Hume
Carta Nº 020b

Simla, 25 de Julho.
Minha cara Velha Dama,

Comecei tentando responder a carta de N. D.


K. imediatamente de maneira que se K. H.
desejava realmente que a nota fôsse
publicada já no "próximo" número do
Teosofista, correspondente a Agosto, esta
chegará a tempo. Mas logo começo a
enredar-me. Naturalmente não recebemos
nenhuma informação que abranja
nitidamente a questão agora mencionada,
embora suponha que devemos ser capazes
de combinar pedaços numa resposta. A
dificuldade está em dar uma explicação ao
enigma de Eliphas Levi na vossa nota
publicada no Teosofista de Outubro.

Caso ele se refira ao destino desta raça


humana atualmente existente, sua afirmação
de que a maioria intermédia dos egos é
expulsa da Natureza ou aniquilada, estaria
em direta contradição com o ensinamento de
K. H. Eles não morrem sem memória já que a
retem no Devachan e de novo a recobram
(mesmo as de personalidades anteriores,
como se fossem páginas de um livro) no
período de plena consciência individual que
precede ao da absoluta consciência no
Paranirvana.

Mas ocorreu-me que E. L. pode estar tratando


com a humanidade como um todo, não
apenas com OS HOMENS DA QUARTA
RONDA. COMPREENDO QUE UM GRANDE
NÚMERO DE PERSONALIDADES DA
QUINTA RONDA ESTÃO DESTINADAS A
PERECER E ESTAS PODERIAAM SER A
PORÇÃO INTERMÉDIA INÚTIL DA
HUMANIDADE A QUE SE REFERE. Mas as
mônadas individuais espirituais, como
compreendo o assunto, não perecem, não
importa o que ocorra, e se uma mônada atinje
a quinta ronda com todas as suas
personalidades anteriores conservadas nas
páginas do seu livro, esperando a sua futura
perscrutação ela não será excluída, nem
aniquilada, porque algumas das suas páginas
da Quinta Ronda resultaram "impróprias para
a publicação". Assim de novo surge a
dificuldade de conciliar ambas posições.

Mas novamente é concebível que uma


mônada espiritual, embora sobrevivendo à
rejeição da suas páginas da terceira e quarta
ronda, não possa sobreviver à rejeição das
páginas da quinta e sexta ronda? O fracasso
para levar boas vidas nessas rondas significa
a aniquilação total do indivíduo que nunca
alcançará, então, em absoluto, a sétima
ronda.

Mas, por outro lado, se assim fôsse, o caso


de Eliphas Levi não seria resolvido com tal
hipótese, pois muito antes OS INDIVÍDUOS
QUE SE TORNARAM CO-
TRABALHADORES COM A NATUREZA
PARA O MAL, ELES PRÓPRIOS TERIAM
SIDO ANIQUILADOS PELO
OBSCURECIMENTO DO PLANETA X entre
a Quinta e Sexta Rondas, ou pelo
obscurecimento entre a Quarta e Quinta
Rondas, pois nos é dito que há um
obscurecimento para cada ronda. (5) Ainda
há outra dificuldade neste ponto, porque já
estando aqui alguns sêres da Quinta Ronda,
não está claro quando chegará o
obscurecimento. Ele se produziria
anteriormente aos precurssores da Quinta
Ronda, os quais não seriam considerados
como iniciadores da Quinta, começando
realmente essa época depois que a raça
existente tivesse decaído por completo - mas
essa idéia não é adequável.

Tendo ido ontem tão longe nas minhas


reflexões, fui até o Sr. Hume para ver se ele
poderia resolver o quebra-cabeças e assim
capacitar-me a escrever o que se esperava
para esta carta. Mas olhando bem e lendo de
novo o "Teosofista" do mês de Outubro,
chegamos à conclusão de que a única
explicação possível era de que a nota do
Teosofista de Outubro estava completamente
equivocada e em total contradição com todos
os nossos ensinamentos posteriores. É essa
realmente a solução? Não creio assim, pois
K. H. não teria me colocado na tarefa de
reconciliar os dois.

Mas notareis que, no momento com a melhor


boa intenção deste mundo, acho-me
completamente incapacitado para cumprir o
trabalho que me encomendou, e caso meu
querido Guardião e Mestre tiver a bondade de
dar uma olhada nestas observações, notará
em que dilema me encontro.

E então, pela maneira menos inconveniente


para ele, seja por vosso intermédio ou
diretamente, talvez indique o rumo que a
explicação solicitada deverá seguir. É
evidente que o trabalho já não pode ficar
pronto para ser publicado no mês de Agosto,
mas me inclino a crer que ele nunca teve tal
intenção, já que agora resta pouco tempo.

Todos sentimos muitas preocupações


convosco, que está trabalhando de forma tão
excessiva no meio desse calor e com as
moscas. Quando tiverdes terminado o
número de Agosto, podereis talvez dar uma
escapada até aqui, e repousar um pouco
entre nós. Sabeis como sempre ficaríamos
contentes ao vê-la. Entretanto, os meus
planos pessoais são um pouco incertos.
Talvez tenha que retornar a Allahabad, a fim
de deixar Hensman livre para que possa ir
para o Egito como correspondente especial.
Estou lutando com meus patrões com unhas
e dentes para impedir este resultado - mas
por uns dias ainda o resultado dessa luta é
incerto.

Sempre seu,

A. P. S.

P.S. Como podeis querer imprimir a carta


neste número, eu a devolvo com esta: mas
confio que não seja assim e que possas me
devolvê-la a fim de que possa cumprir
devidamente minha pequena tarefa com a
ajuda de algumas palavras quanto à linha a
ser seguida.
Carta Nº 020c

Salvo quando Eliphas Levi emprega


constantemente os termos "Deus" e "Cristo"
que, tomamos no seu sentido esotérico,
simplesmente significa "Bom" (em seu
aspecto dual do abstrato e do concreto e nada
mais dogmático), ele não está em conflito
algum direto com os nossos ensinamentos. É
novamente uma palhinha retirada de um feixe
de feno, e acusada pelo vento de pertencer a
um palheiro. A maior parte daqueles que
podeis chamar, se preferirdes, de candidatos
ao Devachan, morrem e renascem no Kama-
Loka "sem recordação", ainda que (e
justamente por isso) recuperem algo dessa
recordação no Devachan. Nem podemos
chamá-la de uma plena recordação mas,
somente de parcial. Dificilmente chamaríeis
de "recordação" um sonho vosso; alguma
cena particular ou cenas dentro de cujos
limites estreitos que encontrareis incluídas
umas poucas pessoas, aquelas a quem mais
amastes, com um amor imortal, esse santo
sentimento, o único que sobrevive, sem que
exista a menor recordação de quaisquer
outros fatos ou cenas. O Amor e o ódio são os
únicos sentimentos imortais, os únicos
sobreviventes do naufrágio de Ye-Dhamma,
ou mundo fenomenal. Imaginai-vos, então, no
Devachan com aqueles que tenhais amado
com esse amor imortal; tendo como fundo as
vagas cenas familiares com eles conectadas,
e um perfeito vazio para tudo mais que se
relacione com a sua vida interior, social,
política e literária.

E, então, diante dessa existência espiritual,


puramente meditativa, diante dessa pura
felicidade, a qual, em proporção à intensidade
dos sentimentos que a criaram, dura de uns
poucos a muitos milhares de anos. Podeis
chamá-la de "recordações pessoais de A. P.
Sinnett" - caso desejais. Que coisa
terrivelmente monótona! podeis pensar. De
modo algum, respondo. Experimentastes
monotonia durante, digamos, aquele
momento em que refletistes ocasionalmente a
ponto de considerá-lo como o momento da
mais alta felicidade que jamais sentira. Claro
que não. Ora, tão pouco a experimentareis ali,
nessa passagem através da Eternidade em
que um milhão de anos não é maior do que
um segundo. Ali, onde não existe consciência
de um mundo externo, não pode haver
discernimento que marque diferenças, e, por
tanto, nada de percepção de contrastes de
monotonia ou variedade; nada, em suma,
além desse imortal sentimento de amor e
simpática atração cujas sementes são
depositadas no Quinto Princípio, cujas
plantas florescem profusamente em todo o
Quarto, mas cujas raízes têm que penetrar
profundamente no Sexto Princípio, se há de
sobreviver aos grupos inferiores. (E agora me
proponho a matar dois pássaros com uma só
pedrada, respondendo, ao mesmo tempo, as
vossas perguntas e as do Senhor Hume).
Recordai, ambos, que nós criamos tanto o
nosso Devachan como o nosso Avitchi,
enquanto moramos na Terra e principalmente
durante os últimos dias e mesmo momentos
de nossas vidas intelectualmente
conscientes.

Aquele sentimento que é o mais vigoroso em


nós nessa hora suprema; quando, como em
um sonho, os acontecimentos de uma longa
vida, até mesmo em seus mínimos detalhes,
desfilam na maior ordem diante de nossa
visão em escassos segundos - aquele
sentimento se converterá no modelador de
nossa bem-aventurança ou infortúnio, o
principio vital da nossa futura existência.
Nesta não teremos um ser substancial, mas
somente uma existência presente e
momentânea, cuja duração não tem qualquer
conexão nem efeito, nem relação com o seu
ser, o qual, como qualquer outro efeito de
causa transitória, será tão efêmero e por sua
vez desvanecerá e deixará de ser. A
recordação real e plena de nossas vidas virá
somente no final do ciclo menor, não antes.

No Kama-Loka, os que retêm as suas


recordações não desfrutarão na hora
suprema de recordação. Aqueles que sabem
que morreram nos seus corpos físicos,
somente os adeptos ou feiticeiros, e ambos
são uma exceção à regra geral. Tendo sido
ambos "cooperadores com a Natureza", os
primeiros para o bem e os segundos para o
mal, na obra que ela faz de criação e
destruição, são os únicos que podem ser
chamados imortais, no sentido kabalístico e
esotérico. A completa e verdadeira
imortalidade, que significa uma existência
sensível, sem limites, não pode ter rupturas e
interrupções, nem retenções da auto-
consciência. E mesmo os cascões daqueles
homens bons cuja página não se achará
ausente no Grande Livro das Vidas no limiar
do Grande Nirvana, mesmo eles recobrarão a
sua recordação e uma aparência de auto-
consciência, somente depois que o Sexto e
Sétimo Princípios, com a essência do Quinto
(este último, tem que fornecer o material,
mesmo que seja para essa recordação parcial
da personalidade, que é necessária para o
propósito do Devachan) tenham chegado ao
seu período de gestação, não antes. Mesmo
no caso dos suicidas e dos que pereceram por
morte violenta, ainda em tais casos, a
consciência requer um certo tempo para
estabelecer o seu novo centro de gravidade e
desenvolver, como diria Sir. W. Hamilton, a
sua "própria percepção", permanecendo daí
em diante diferente da "própria sensação".
Assim, pois, quando o homem morre, a sua
"Alma" (Quinto Princípio) torna-se
inconsciente e perde toda recordação das
coisas, tanto internas como externas. Se a
sua permanência no Kama-Loka tenha que
durar alguns momentos, horas, dias,
semanas e mesmo anos; se teve uma morte
natural ou violenta; se esta ocorreu na sua
juventude ou na velhice, e o seu Ego era bom,
mau ou indiferente, - a consciência deixa-o
subitamente, assim como a chama deixa o
pavio, quando é soprada. Quando a vida se
afastou da última partícula da matéria
cerebral, suas faculdades perceptivas
tornam-se extintas para sempre, seus
poderes espirituais de cogitação e volição -
(todas essas faculdades, em resumo, que não
são inerentes nem adquiríveis pela matéria
orgânica) se extinguem na ocasião. O seu
Mayvi-rupa pode, com freqüência ser arrojado
na objetividade, como nos casos de aparições
depois da morte; mas, a menos que seja
projetado com o conhecimento de si mesmo
(seja latente ou potencial) ou devido à
intensidade do desejo de ver ou aparecer
diante de alguém, relampejando em seu
moribundo cérebro, a aparição será
simplesmente automática; não será devida a
nenhuma atração simpática, ou a qualquer ato
volitivo, tanto quanto o reflexo de uma pessoa
ao passar inconscientemente diante de um
espelho não é devido ao desejo deste último.

Tendo explicado assim a posição, resumirei,


perguntando de novo, por que sustentar que
o que foi dado por Eliphas Levi e exposto por
H. P. B. está em "direto conflito" com o meu
ensinamento? E. L. é um Ocultista e um
kabalista, e ao escrever para os que se
supõem conhecer os rudimentos dos
princípios kabalísticos, emprega uma
fraseologia peculiar à sua doutrina, e H. P. B.
o segue nesse sentido. A única omissão que
se lhe atribui foi a de não agregar a palavra
"Ocidental" depois das palavras "doutrina" e
"oculta" (veja a terceira linha da nota do Editor
- da obra de H. P. B.). Ela é uma fanática a
seu modo incapaz de escrever algo que se
pareça a um sistema e com calma, ou
recordar que o público em geral necessita de
todas explicações lúcidas, que a ela podem
parecer supérfluas. E como direis com
segurança: "mas esse é igualmente o nosso
caso e pareceis também tê-lo esquecido";
dar-vos-ei mais algumas explicações. Como
foi anotado à margem do "Theosophist" de
Outubro, a palavra "imortalidade" tem uma
significação totalmente diferentes para os
iniciados e ocultistas. Chamamos de "imortal"
somente a Vida Una em sua coletividade
universal e na Abstração total e Absoluta;
aquilo que não tem princípio nem fim, nem
interrupção alguma em sua continuidade.
Poderemos aplicar o termo a algo mais?
Certamente que não. Portanto, os primitivos
caldeus tinham diversos prefixos para a
palavra "imortalidade", um dos quais é o
termo grego "imortalidade pan-eônica,
raramente empregado, isto é: começando
com o Manvântara e terminando com o
Pralaya de nosso Universo Solar.

Perdura um eon, ou "período" de nosso pan


ou "Toda natureza". Imortal é então aquele
cuja clara consciência e percepção do Eu, sob
qualquer forma, não sofre na pan-eônica
imortalidade, nenhuma desunião em tempo
algum, nem por um segundo, durante o
período de sua Ego-idade. Tais períodos são
muitos e cada um tem o seu nome específico
nas doutrinas secretas dos caldeus, gregos,
egípcios e arianos, e se, pudessem ser
traduzidos (não é possível fazê-lo, pelo
menos enquanto a idéia neles implícita
permaneça inconcebível para a mente
ocidental) - eu vos poderia dá-los? Para o
momento basta que saibais que um homem,
um Ego, como o vosso ou o meu, pode ser
imortal de uma para outra Ronda. Digamos,
que eu comece a minha imortalidade na
presente Quarta Ronda, ou seja, que
havendo-me tornado em pleno Adepto (o que
infortunadamente não sou) detenho a mão da
Morte à vontade, e quando finalmente
obrigado a submeter-me a ela, o meu
conhecimento dos segredos da Natureza me
coloca em condições de reter minha
consciência e percepção distinta do Eu como
um objeto para a minha própria consciência e
cognição reflexivas; e assim, evitando todas
estas separações de princípios que, como
norma, ocorrem depois da morte física na
humanidade em geral, eu permaneço como
Koot-Hoomi em meu Ego durante todas as
séries de nascimentos e vidas através dos
sete mundos e Arupa-Lokas até que,
finalmente piso de novo nesta Terra, entre os
homens da Quinta Raça, constituída de seres
que pertencem plenamente à Quinta Ronda.
Eu teria sido, nesse caso, "imortal" durante
um período inconcebivelmente longo (para
vós), abrangendo muitos bilhões de anos. E
no entanto, sou "eu" verdadeiramente imortal
por isso? A menos que continue nos mesmos
esforços que faço agora, a fim de assegurar
para mim mesmo uma outra "permissão"
como essa, da Lei da Natureza, Koot-Hoomi
desvanecerá e pode converter-se num Sr.
Smith ou num inocente Babu, quando sua
vida expire. Há homens que se convertem em
tais seres poderosos; existem homens entre
nós que podem converter-se em imortais
durante o resto das Rondas, e então ocupar o
seu lugar designado entre os mais elevados
Chohans, os Ego-Espíritos Planetários
conscientes. Naturalmente que a Mônada
"nunca perece ocorra o que ocorrer", mas
Eliphas Levi se refere aos Egos pessoais não
aos Espirituais, e caístes no mesmo engano
(como aconteceu a C. C. M.6 muito
naturalmente também); mas devo admitir que
a passagem em Isis foi explicada muito
confusamente, como já vos comentei, acerca
deste mesmo parágrafo em uma das minhas
cartas há muito tempo. Eu tinha de "exercitar
todo o meu engenho" sobre isso - como dizem
os Yankees, mas fui bem sucedido, creio, em
remendar o buraco, como terei que fazer
muitas vezes mais, temo, antes que
terminemos com Isis. Realmente esta obra
deveria ser escrita de novo em consideração
à "honra da família".

(X) É certamente inconcebível; portanto, não


é em absoluto útil discutir o assunto.

(X) Interpretastes mal o ensinamento, porque


não estáveis a par do que agora vos é dito; (a)
quem são os verdadeiros colaboradores da
Natureza; e (b) que, de nenhuma maneira
todos os colaboradores para o mal caem na
oitava esfera e são aniquilados.

A potencialidade para o mal é muito grande


no homem, maior mesmo que a
potencialidade para o bem. Uma exceção à
regra da Natureza, aquela exceção, que no
caso dos adeptos e feiticeiros torna-se uma
regra e que tem as suas próprias exceções.
Leia cuidadosamente a passagem que C. C.
M. deixou sem citar - na página 352-353, Isis
Vol. I, Parágrafo 3. Novamente ela deixa de0
estabelecer claramente que o caso
mencionado se relaciona somente com
aqueles poderosos feiticeiros cuja co-
participação para o mal, com a Natureza, lhes
proporciona os meios de forçá-la e assim, ela
(a Natureza) lhes concede também a
imortalidade pan-eônica. Mas, oh, que
espécie de imortalidade, e como seria
preferível a aniquilação de suas vidas! Não
vedes que tudo que se acha em Isis está
apenas esboçado, nada está completo ou
plenamente revelado. Bem, o tempo chegou,
mas onde estão os trabalhadores para essa
tremenda tarefa?

Diz o senhor Hume (veja a carta anexa nas


passagens anotadas - 10 (X) e 1, 2, 3). E
agora quando lestes as objeções para aquela
tão insatisfatória doutrina (como a qualifica o
senhor Hume) uma doutrina que tendes de
aprender primeiro em sua totalidade, antes de
continuar com o estudo das suas partes, -
com o risco de não vos satisfazer melhor,
passarei a explicar estas últimas.

1) Ainda que não estejam "por inteiro


separados dos seus Princípios Sexto e
Sétimo" e plenamente "potentes" nas sessões
espíritas, não obstante, até o dia em que
teriam de morrer por morte natural, estão
separados por um abismo, dos princípios
superiores. O Sexto e Sétimo permanecem
passivos e negativos, enquanto que no caso
da morte acidental, os grupos superiores e
inferiores se atraem mutuamente. Além disso,
nos casos de Egos bons e inocentes, estes
últimos gravitam irresistivelmente para o
Sexto e Sétimo e assim, ou dormitam
rodeados por sonhos felizes, ou dormem
profundamente e sem sonhos até que soe a
hora. Com um pouco de reflexão e uma
olhada para a eterna justiça e para o encaixe
lógico das coisas, vereis a razão disso. A
vítima, tanto boa como má, não é responsável
por sua morte, ainda que esta fosse devida a
alguma ação em uma vida anterior ou um
nascimento precedente; em resumo foi um ato
da Lei de Retribuição, ainda, e não é o
resultado direto de um ato deliberadamente
cometido pelo Ego pessoal dessa vida
durante a qual foi morto. Tivesse ele vivido
mais tempo, ele poderia ter expiado de forma
mais efetiva os seus pecados anteriores; e
mesmo agora, tendo o Ego sido levado a
liquidar a vida daquele que a criou (o Ego
anterior), fica livre dos golpes da justiça
retributiva. Os Dyans Chohans, que nada têm
a ver com a orientação do Ego humano
vivente protegem a vítima desamparada
quando é arrancada com violência de seu
elemento, arrojando-a em outro novo antes
que esteja madura, preparada e disposta para
ele. Nós vos dizemos o que sabemos porque
fomos levados a aprender mediante a
experiência pessoal. Sabeis o que quero
dizer, e EU NÃO POSSO DIZER MAIS! Sim,
as vítimas, boas ou más, dormem até a hora
do Juízo Final, que é aquela hora da luta
suprema entre os Princípios Sexto e Sétimo,
e o Quinto e o Quarto, no limiar do estado de
gestação. E ainda depois disto, quando o
Sexto e o Sétimo, levando uma porção do
Quinto, tenham penetrado em seu Samadhi
Akásico, mesmo então pode acontecer que o
resto espiritual proveniente do Quinto, resulte
ser demasiadamente débil para renascer no
Devachan; nesse caso de imediato se
revestirá de um novo corpo, formando o
subjetivo "Ser" criado como produto do Karma
da vítima (ou da não-vítima, como seja o
caso) e entrará numa nova existência terrena,
seja neste ou em qualquer outro planeta. Em
nenhum caso, pois, com exceção dos suicidas
e cascões, existe possibilidade alguma para
que qualquer outro seja atraído às sessões
espíritas. E está claro que este ensinamento
não se opõe a nossa doutrina anterior e que
enquanto os "cascões" são muitos - os
Espíritos são poucos.

(2) Há uma grande diferença na nossa


humilde opinião. Nós, que olhamos para isso,
de um ponto de vista que seria muito
inaceitável para as Companhias de Seguros
de Vida, dizemos que são muito poucos os
homens (se há algum) que, entregando-se
aos mencionados vícios, sintam-se
perfeitamente seguros de que esse curso de
ação os conduzirá inevitavelmente a uma
morte prematura. Esse é o castigo de Maya.
Os vícios não escaparão a sua pena, mas é a
causa, não o efeito, que será castigada,
especialmente um efeito imprevisível, embora
provável. Da mesma maneira chamamos de
suicida o homem que encontra a morte numa
tormenta marítima como o que morre por
"excesso de estudo". A água é capaz de
afogar e muito trabalho cerebral produz um
amolecimento de cérebro que pode acabar
com o seu dono.

Em tal caso ninguém deveria cruzar o


Kalapani, nem sequer tomar um banho com
medo de sofrer um desmaio e afogar-se (pois
todos conhecem tais casos), nem deveria o
homem cumprir com seu dever, nem menos
ainda se sacrificar por uma causa louvável e
altamente benéfica, como muitos de nós (H.
P. B. por exemplo) fazemos. Será que o Sr.
Hume a chamaria de suicida caso ela caísse
morta ao estar escrevendo o seu atual livro?
O motivo é tudo, e o homem é castigado no
caso de responsabilidade direta, nunca de
outro modo. No caso de uma vítima, a hora
natural de sua morte se antecipou
acidentalmente, enquanto que no do suicida a
morte é atraída por sua vontade e com pleno
e deliberado conhecimento de duas
conseqüências imediatas. Portanto, um
homem que causa a sua morte num acesso
de temporária insanidade é um grande
desgosto e muitas vezes traz problemas para
as Companhias Seguradoras de Vida. Nem
ele é deixado como uma presa para as
tentações do Karma Loka mas cai no sono,
igual a qualquer outra vítima.

Um Guiteau2 não permanecerá na atmosfera


terrestre com os mais elevados princípios
sobre ele - inativos e paralisados, mas ainda
ali. Guiteau entrou num estado durante o qual
estará sempre disparando em seu Presidente,
com o que levou à confusão e desordem os
destinos de milhões de pessoas; nesse
estado estará sempre sendo julgado e
enforcado, imerso nos reflexos das suas
ações e pensamentos, especialmente
naqueles que manteve no
cadafalso............23 seu destino. Quanto aos
"arrebatados pela cólera ou praga, ou
malária", não poderiam ter sucumbido se não
tivessem, desde o seu nascimento, os
germens para o desenvolvimento de tais
enfermidades.

"Assim, pois, a grande massa dos fenômenos


físicos do Espiritismo", meu querido irmão,
não é "devido a esses Espíritos", e sim em
verdade aos "Cascões".

(3) "Os Espíritos de uma média muito razoável


da gente boa, falecida de morte natural,
permanecem na atmosfera terrestre desde
alguns poucos dias até alguns anos",
dependendo o período, da disposição dos
mesmos em enfrentar-se com a sua criatura,
não com o seu criador! um assunto muito
difícil que ireis aprender mais tarde, quando
estiverdes mais preparado. Mas, por que
esses deveriam "comunicar-se"? Aqueles que
amais se comunicam convosco
objetivamente, durante o seu sono? Vossos
Espíritos, em horas de perigo ou de uma
intensa simpatia, vibrando na mesma corrente
de pensamento que, em tais casos uma
espécie de telegrafia espiritual entre os
vossos dois corpos, podem encontrar-se e
impressionar mutuamente as vossas
memórias; mas, nesse caso tendes corpos
viventes e não corpos mortos. Mas, como
pode um Quinto Princípio inconsciente (veja o
anterior) impressionar ou comunicar-se com
um organismo vivo, a não ser que tenha se
convertido num cascão? Se, por certas
razões, permanecem nesse estado de
letargia durante muitos anos, os espíritos dos
vivos podem ascender até eles, como já vos
disse, e isto pode ocorrer ainda mais
facilmente do que no Devachan, onde o
Espírito está demasiadamente embebido em
sua bem-aventurança pessoal para dar muita
atenção a um elemento intruso. Digo: não
podem.

(4) Sinto contradizer a sua afirmação. Nada


sei de "milhares de espíritos" que aparecem
em círculos espíritas e ademais,
positivamente não conheço nenhum "círculo
perfeito puro" que "ensine a mais alta
moralidade". Espero que não me chamem de
caluniador, além de outros nomes
ultimamente atribuídos a mim, mas a verdade
me obriga a declarar que Allan Kardec não foi
tão imaculado durante a sua vida, nem desde
então se converteu num Espírito muito puro.
Quanto a ensinar a mais "elevada
moralidade", nós temos aqui, não muito
distante de onde resido, um Dugpa-Shammar.
Um homem notabilíssimo, não muito
poderoso como feiticeiro, mas sim como
ébrio, ladrão, embusteiro e... um orador.
Nesta última condição poderia, com
vantagem, ganhar dos senhores Gladston,
Bradlaugh e mesmo do reverendo H. W.
Beacher, que é dentre todos, o mais
eloqüente pregador de moralidade e o maior
transgressor dos Mandamentos do Senhor,
nos Estados Unidos da América do Norte.
Este Lama Shapa-tung, quando está sedento,
pode fazer uma enorme audiência de leigos
"barretes amarelos" verter toda a sua reserva
anual de lágrimas com a narração do seu
arrependimento e sofrimento pela manhã, e
depois embriagar-se ao anoitecer e roubar
toda a aldeia, mesmerizando a todos até um
sono profundo. Predicar e ensinar a
moralidade com um propósito ulterior prova
muito pouco. Leia o artigo de "J. P. T." em
"Light" vereis ali corroborado tudo o que disse.

(Para A. P. S.) (5) O "obscurecimento" vem só


quando o último homem de qualquer Ronda
passou para a esfera dos efeitos. A Natureza
está demasiadamente bem e
matematicamente ajustada para que se
produzam erros no exercício de suas funções.
O obscurecimento do planeta em que agora
estão evoluindo as Raças de Homens da
Quinta Ronda virá naturalmente, "antes dos
poucos precursores" que estão agora aqui.
Mas antes que chegue esse tempo teremos
que nos separar, para não nos encontrarmos
mais, como o Editor do Pioneer e esse seu
humilde correspondente.

E agora tendo demonstrado que o número de


Outubro do "Theosophist" não estava
totalmente errado nem em "desacordo com o
último ensinamento", poderá K. H. fazer que
vos "reconcilieis com os dois"?

Para que vos reconcilieis mais com Eliphas,


vos enviarei uma cópia de seus manuscritos
inéditos, em uma caligrafia grande e formosa
e com os meus comentários ao longo do texto.
Nada melhor do que isso para vos dar a chave
para os enigmas Kabalísticos.

Tenho que escrever ao senhor Hume esta


semana para consolá-lo e demonstrar-lhe
que, a menos que tenha um enorme desejo
de viver, não necessita preocupar-se acerca
do Devachan. A menos que um homem ame
intensamente, ou odeie da mesma forma, não
estará nem no Devachan nem no Avitchi. "A
Natureza vomita os frouxos pela sua boca"
significa apenas que ela aniquila os Egos
pessoais deles (não os cascões, nem tão
pouco o Sexto Princípio) no Kama-Loka e no
Devachan. Isto não lhes impede de renascer
imediatamente e se suas vidas não foram
muito, mas muito más - não há razão para que
a eterna Mônada não encontre a página
dessa vida intacta no Livro da Vida.

K. H.
Carta Nº 021

(Recebida de volta no dia 22 de Agosto de


1882.)

Parece que se questiona se esta carta não


deveria preceder a de nº.75, mas dado que
aquela carta se referia a assuntos discutidos
na longa carta para Hume, mandada através
de Sinnett, (nº.74), pareceu melhor colocá-la
depois daquela carta. Ambas, contudo, são da
mesma época.

A carta nº.76 relaciona-se com alguns artigos,


ou "cartas", que Sinnett havia escrito e
mandado para Staiton Moses em Londres,
para publicação na revista "Light", o órgão
espírita editado por Moses. Eles tinham por
título "Cartas sobre Teosofia Esotérica, de um
Anglo-Indiano para um Teosofista em
Londres", e foram publicados no número de
setembro de 1882 de "Light". Elas não estão
entre as cartas mencionadas no pequeno
adendo à Carta nº.75 e se destinavam a ser
publicadas no "The Theosophist". O conteúdo,
contudo, era semelhante. Parece que Sinnett
geralmente mandava provas ou rascunhos
destes artigos para K.H., para revisão e
correção.

Após receber a extensa carta sobre


"Devachan", Sinnett escreveu os artigos que
compõem o assunto desta carta. A carta
Devachan é muito extensa a respeito de
espiritismo, suicidas, acidentes, e assim por
diante, e Sinnett estava de modo sincero e
evidente, tentando colocar os ensinamentos
em uma forma que pudesse ser
compreensível para os leitores ocidentais.

Antes, em julho de 1882, ele tinha provas


destas cartas e mandou-as para o Mahatma
K.H. Entretanto, sem esperar os comentários
do Mahatma, ele mandou provas da primeira
carta para Moses em 21 de julho e, em 11 de
agosto, mandou o segundo conjunto de
provas para ele.

Em 12 de agosto ele recebeu de volta o


conjunto que mandara para o Mahatma K.H.
Anexa às mesmas estava uma pequena carta
(nº.71). Nessa pequena carta, o Mahatma
indicava que havia evidentemente uma
discrepância no que Sinnett havia escrito. Isto
"sacudiu" bastante Sinnett, e ele escreveu
imediatamente para o Mahatma no mesmo dia
(12 de agosto) esta carta nº.76. O Mahatma
devolveu a carta com comentários à margem;
assim, de novo, temos ambas as facetas
desta troca notável de correspondência.
Sinnett recebeu-a de volta do Mahatma em 22
de agosto.

Os comentários à margem são mostrados em


negrito neste livro, e há também um parágrafo
adicional, também em negrito. Quando o
Mahatma devolveu-a para Sinnett, estava
acompanhada de uma pequena carta de
transmissão, que não se encontra nas Cartas
dos Mahatmas, mas é a carta nº.101 nas
Cartas de H.P.B. para Sinnett. Nela o
Mahatma diz: "Eu fiz algumas alterações além
de uma nota ao pé de página a ser
acrescentada às vossas "Cartas". De qualquer
modo, há sempre um perigo, eu vejo, de se
ver as nossas idéias por imagens concretas e
falsas nas mentes de vossos leitores. Se
conseguirdes dar-lhes apenas uma verdade
relativa, não absoluta, tereis prestado a eles
um grande benefício.

Meu querido Guardião,

Tenho receio de que as presentes cartas


sobre Teosofia não tenham muito valor,
porque trabalhei aceitando muito literalmente
algumas passagens de sua longa carta sobre
o Devachan. O sentido dela parecia ser que
os "acidentados", bem como os suicidas,
corriam o perigo de ser atraídos pelas sessões
espíritas. Escrevestes:

"Mas existe uma outra classe de espíritos que


perdemos de vista - os suicidas e aqueles
mortos em acidentes. As duas classes podem
se comunicar e ambos têm que pagar um
elevado preço por tais visitas..."

CORRETO.

E mais adiante, após falar em detalhe do caso


dos suicidas dizeis:-

"Quanto às vítimas de acidentes, elas ainda


passam pior... sombras desgraçadas...
eliminadas na plena efervescência das
paixões humanas...eles são pisachas
etc...Eles não só arruínam as suas vítimas
etc..."OUTRA VEZ CORRETO. TENDE EM
MENTE QUE AS EXCEÇÕES CONFIRMAM
A REGRA.

E caso as "vítimas de acidente ou violência"


não são nem muito boas ou muito más,
produzem uma nova série de skandas, do
médium que as atrai. JÁ EXPLIQUEI A
SITUAÇÃO NA MARGEM DAS PROVAS,
VEJA A NOTA.

Tenho estado trabalhando precisamente


neste texto. Caso isso não possa ser mantido
eu, se, de algum modo que eu não posso
compreender, as palavras comportam um
significado diferente daquele que parece lhes
pertencer, talvez fosse melhor eliminar por
completo estas duas Cartas ou conservá-las
para alterar o seu conteúdo inteiramente. A
advertência está expressa em um tom
bastante solene e se deu demasiada ênfase
ao perigo caso ela se aplique somente aos
suicidas; e na última folha da prova impressa,
a eliminação de "os acidentes e", torna o resto
algo ridículo, porque então estamos dividindo
os suicidas, só entre os muitos puros e
elevados! e a gente média, etc.

Parece-me que dificilmente deveria se


apresentar somente a Carta (1), ainda que
nela não esteja incluído o erro, pois não faria
sentido, a menos que fosse seguida pela
Carta (2).

Ambas Cartas foram enviadas para a


Inglaterra, dirigidas a Staiton Moses para
serem repassadas para Light4 - a primeira
enviada daqui pelo correio de 21 de Julho; a
segunda pelo último correio, que foi ontem.
Agora, se decidirdes que é melhor retê-las e
cancelá-las, eu terei ainda tempo suficiente
para telegrafar a Staiton Moses na Inglaterra
com esse fim, o que farei, tão pronto receba
um telegrama vosso ou da Velha Dama a esse
respeito.

Caso nada seja feito, elas aparecerão na Light


tal como foram escritas - isto é, como os
manuscritos enviados com a presente prova,
com exceção de alguns pequenos erros que
vejo, foram feitos por minha Senhora ao copiá-
las.

Tudo isso é um enredo muito embaraçado.


Parece-me que me precipitei ao enviá-las ao
meu país, mas creio que segui fielmente as
indicações de sua longa carta sobre o
Devachan. Aguardo ordens.

Sempre seu, devotamente

A. P. S.

(TUDO O QUE SEGUE É DO MESTRE K. H.)

Na margem eu disse "raramente" mas não


pronunciei a palavra "nunca". Acidentes
ocorrem sob as mais variadas circunstâncias;
e os homens não são somente mortos
acidentalmente, ou morrem como suicidas
mas são também assassinados - algo que nós
nem de leve tocamos. Posso bem
compreender a vossa perplexidade mas
dificilmente posso vos auxiliar. Recordai
sempre que há exceções para cada regra, e
que geram exceções secundárias e esteja
sempre pronto para aprender algo de novo.
Posso facilmente compreender porque somos
acusados de contradições e incoerências
ainda de escrever uma coisa hoje e amanhã
negá-la. O que vos foi ensinado é a REGRA.
Os "acidentados" BONS E PUROS dormem
no Akasa, ignorantes da mudança sofrida; os
muito maus e impuros sofrem todas as
torturas de um horrível pesadelo. A maioria, os
não muito bons, nem muito maus, as vítimas
de acidentes ou VIOLÊNCIA (incluindo o
assassinato) alguns DORMEM, outros se
convertem em PISACHAS DA NATUREZA,
enquanto que uma pequena minoria pode cair
VÍTIMA de médiuns e originar uma nova série
de skandas do médium que os atrai. Por
pequeno que o número destes possa ser, seu
destino é o mais deplorável. O que disse em
minhas notas sobre os vossos manuscritos foi
uma resposta aos cálculos estatísticos do
senhor Hume, que o levaram a concluir que
"havia mais Espíritos do que cascões nas
sessões espíritas" neste caso.

Tendes muito que aprender - e nós muito a


ensinar e não nos negamos a ir até o fim. Mas
devemos realmente pedir-lhe que não se
entregue a conclusões precipitadas. Eu não o
censuro, meu fiel e querido amigo, preferiria
censurar a mim mesmo se aqui alguém
devesse ser censurado, a não ser os nossos
respectivos modos de pensamentos e hábitos,
tão diametralmente opostos entre si.
Acostumados como estamos a ensinar a
chelas que sabem o suficiente para superar a
necessidade dos "se" e dos "mas" durante as
lições, fico mesmo muito propenso a esquecer
que estou fazendo convosco o trabalho que,
geralmente é confiado aos chelas. De agora
em diante demorarei mais tempo
respondendo as vossas questões. As vossas
cartas para Londres não podem fazer mal, e
certamente, pelo contrário, farão bem. Elas
estão admiravelmente escritas e as exceções
podem ser mencionadas, ficando o assunto
tratado em uma das Cartas futuras.

Não tenho objeções a que façais cópias para


o Coronel Chesney - exceto uma - ELE NÃO
É UM TEOSOFISTA. Apenas sede cuidadoso
e não esqueceis os vossos detalhes e
exceções quando explicardes as vossas
regras. Recordai ainda que mesmo no caso de
suicidas, existem muitos que não permitirão
nunca ser atraídos para o vórtice da
mediunidade, e rogo-vos, e não me acusai, de
"inconsistência" ou CONTRADIÇÃO, quando
chegarmos a esse ponto. Pudesses, tão
somente, saber COMO escrevo as minhas
cartas e o tempo que a elas posso dedicar,
talvez vos sentireis menos crítico e exigente.
Bem, e como gostais da IDÉIA e da ARTE de
Djual Khool? Não vi nada de Simla durante os
últimos dez dias.

Afetuosamente seu,

K. H.
Carta Nº 022

Extrato de uma carta de K. H. a Hume.


Recebida para que me inteirasse de seu
conteúdo, no fim da estação do ano de 1882.
(A.P.S.)
(Recebida provavelmente no fim de
Setembro).

Sinnett não faz nenhum comentário em


relação a como esta carta veio a ser escrita,
mas é minha opinião que, após Hume ter
recebido as notas do Mahatma sobre o seu
trabalho "Capítulo Preliminar sobre Deus"
(Veja Carta nº.88 - CM-10), ele escreveu de
novo para o Mahatma para discordar de
algumas das afirmações, e esta carta é em
resposta.

Nunca vos ocorreu (e agora do ponto de vista


de vossa Ciência ocidental e a sugestão de
vosso próprio Ego, que já chegou a captar a
essência de toda verdade, prepara-se para
ridicularizar a errônea idéia); nunca suspeitou
que a mente Universal, do mesmo modo que
a finita e humana, poderia possuir dois
atributos ou um poder dual: um voluntário e
consciente e o outro involuntário e
inconsciente, ou poder mecânico? Para
conciliar a dificuldade de muitas proposições
teístas e antiteístas, esses dois atributos são
uma necessidade filosófica. A possibilidade de
primeiro, ou seja do voluntário e consciente,
em relação à mente infinita, (não obstante as
afirmações de todos os Egos através do
mundo vivente) permanecerá sempre como
uma mera hipótese, enquanto que na mente
finita isso é um fato científico demonstrado. O
mais elevado Espírito Planetário é tão
ignorante em relação ao primeiro como nós o
somos, e a hipótese permanecerá como tal
ainda no Nirvana, pois é uma mera
possibilidade deduzível, seja lá como aqui.

Consideremos a mente humana em conexão


com o corpo. O homem possui dois cérebros
físicos distintos; o cérebro, com seus dois
hemisférios na parte frontal da cabeça (a fonte
dos nervos voluntários) e o cerebelo, situado
na parte posterior do crânio; a fonte dos
nervos involuntários que são os agentes dos
poderes inconscientes ou mecânicos da
mente, por meio do qual ela atua. E por mais
débil e incerto que possa ser o domínio do
homem sobre o seu sistema involuntário, em
especial durante o sono, tal como a circulação
do sangue, as batidas do coração e a
respiração, no entanto, quão muito mais
potencial mostra-se o homem como senhor e
regente sobre a cega movimentação
molecular - as leis que governam o seu corpo
(uma prova disso é proporcionada pelos
poderes fenomenais de um Adepto e mesmo
de um Iogue comum), do que aquilo que vos
chamais de Deus mostra sobre as imutáveis
leis da Natureza. Ao contrário da finita, a
"mente infinita", que assim chamamos apenas
para nos entender, pois nós a denominamos
de FORÇA infinita, revela apenas as funções
do seu cerebelo, admitindo-se a existência de
seu suposto cérebro, como foi indicado acima;
mas, como hipótese de inferência deduzida da
teoria Kabalística (correta em todas as outras
relações do Macrocosmos, seria o protótipo do
Microcosmos. Enquanto sabemos que a
corroboração disso pela Ciência moderna
recebe pouca consideração - os mais
elevados Espíritos Planetários, verificaram (os
quais recordai bem, estando no mesmo nível
do mundo ultra cósmico, penetram por trás do
véu desde nosso grosseiro mundo físico), que
a mente infinita mostra, tanto para eles como
para nós, não mais do que as batidas
regulares e inconscientes do eterno e
universal pulso da Natureza, através de
miríades de mundos, tanto dentro como fora
do primitivo véu do nosso sistema solar.

Até aqui, SABEMOS. Dentro e até o extremo


limite, até os confins do véu cósmico sabemos
que o fato é correto - devido à experiência
pessoal; em relação à informação reunida
quanto ao que ocorre além - nós o devemos
aos Espíritos Planetários, ao nosso Bendito
Senhor Budah. Entretanto, isso pode ser
considerada como uma informação de
segunda mão. Há aqueles que, em vez de se
renderem à evidência dos fatos, preferirão
mesmo considerar os deuses planetários
como filósofos desencarnados "errantes", ou
mesmo como mentirosos. Que assim seja.
Cada qual é dono de sua própria sabedoria,
diz um provérbio tibetano, e está livre para
honrar ou degradar o seu escravo. Entretanto
seguirei em frente em benefício dos que
puderam captar a minha explicação do
problema e compreender a natureza da
solução.

É a faculdade peculiar do poder involuntário da


mente infinita (que ninguém poderia jamais
pensar em chamar de Deus) estar
eternamente transformando matéria subjetiva
em átomos objetivos (deveis recordar que os
dois adjetivos são usados unicamente em um
sentido relativo) ou matéria cósmica que mais
adiante se desenvolverá em formas. E é
igualmente esse mesmo poder mecânico
involuntário que vemos tão intensamente ativo
em todas as leis fixas da Natureza - que
governa e controla o que é chamado de
Universo ou Cosmos. Há alguns filósofos
modernos que provariam a existência do
Criador a partir do movimento. Dizemos e
afirmamos que aquele movimento - o
movimento perpétuo e universal que nunca
cessa, nem nunca diminui, nem aumenta a
sua velocidade, nem mesmo durante os
intervalos entre os pralayas ou "noites de
Brahma" mas continua como um moinho
colocado em movimento, tenha ou não algo
para moer (porque o pralaya significa a perda
temporária de toda forma, mas de nenhuma
maneira a destruição da matéria cósmica, que
é eterna), dizemos que esse movimento
perpétuo é a única Divindade eterna e
increada, que nos é possível reconhecer.
Considerar Deus como um espírito inteligente
e aceitar ao mesmo tempo a sua absoluta
imaterialidade, é conceber uma não-entidade,
um vazio absoluto; considerar Deus como um
Ser, um Ego, e colocar a sua inteligência sob
uma tela por algumas razões misteriosas, é a
mais consumada tolice; dotá-lo com
inteligência frente ao Mal cego e brutal, é fazer
dele um demônio, um Deus maléfico.
Categoricamente a divindade Mosaica é um
Ser, por mais gigantesco que seja, que ocupa
espaço e tenha um comprimento e largura. Um
"Não-Ser", um mero princípio, vos conduz
diretamente ao ateísmo Budista ou ao mais
primitivo Acosmismo Vedantino. Para o que
está além e fora dos mundos da forma e dos
er, em mundos e esferas em seu estado mais
espiritualizado (e talvez possais nos fazer o
favor de nos dizer onde possa estar esse mais
além, pois o Universo é infinito e ilimitado) é
inútil que qualquer um o busque, pois nem
mesmo os Espíritos Planetários têm o
conhecimento ou percepção dele. Se os
nossos maiores Adeptos e Bodhisatvas nunca
penetraram além do nosso sistema solar, - e
essa idéia parece adaptar-se
maravilhosamente a vossa preconcebida
teoria teística, meu respeitado Irmão - no
entanto, eles sabem da existência de outros
sistemas solares como este, com uma certeza
tão matemática como qualquer astrônomo
ocidental sabe da existência de estrelas
invisíveis das quais ele nunca poderá
aproximar-se ou explorar. Mas, daquilo que se
situa dentro dos mundos e sistemas, não na
ultrainfinidade (usando uma estranha
expressão) mas, sim, na cisinfinidade, no
estado da mais pura e inconcebível
imaterialidade, ninguém jamais soube ou dirá,
portanto é algo não existente para o universo.
Estais em liberdade para colocar neste vácuo
eterno os poderes intelectuais ou voluntários
de vossa divindade - se é que podeis conceber
tal coisa.

Enquanto isso posso dizer que é o movimento


que governa as leis da Natureza; e que ele as
governa assim como o impulso mecânico dado
à água corrente a impelirá seja numa linha reta
ou ao longo de uma centena de sulcos laterais
que pode encontrar em seu caminho, sejam
esses sulcos laterais ou canais, naturais ou
preparados artificialmente pela mão do
homem. E mantemos que onde houver vida e
ser, e por mais espiritualizada que seja a
forma, não há lugar para um governo moral, e
muito menos para um Governador moral - um
Ser que, ao mesmo tempo, não possui forma
alguma nem ocupa espaço! Na verdade, se a
luz brilha nas trevas e elas "não a abrangem",
é porque tal é a lei natural, mas quão mais
sugestivo e cheio de significação é, para
aquele que sabe, dizer que a luz poderia
abranger ainda menos as trevas, nem jamais
abrangê-las - pois que as mata aonde
penetrem e as aniquila instantaneamente. Um
espírito puro e, no entanto volitivo, é um
absurdo para uma mente volitiva. A resultante
de um organismo não pode existir
independentemente de um cérebro
organizado, e um cérebro organizado
construído do nada é ainda uma maior falácia.
Se me perguntardes, de onde, então, provêm
as leis imutáveis?; as leis não podem fazer-se
a si mesmas, então eu, por minha vez, vos
perguntarei: de onde provêm o vosso suposto
Criador? Um Criador não pode criar-se ou
fazer-se a si mesmo. Caso o cérebro não se
fez a si mesmo, pois isso seria afirmar que o
cérebro atuava antes de existir, como poderia
a inteligência (o resultado do cérebro
organizado), atuar antes que fosse feito o seu
criador?

Tudo isso nos recorda as disputas por


prioridades. Se as nossas doutrinas chocam-
se demasiadamente com as vossas teorias,
então podemos facilmente abandonar o tema
e falar de algum outro assunto. Estudai as leis
e doutrinas dos Svabhavikas nepaleses, a
principal escola filosófica Budista na Índia, e
vereis que são os argumentadores mais
instruídos e mais cientificamente lógicos do
mundo. O seu Savabhavat plástico, invisível,
eterno, onipresente e inconsciente, é a Força
ou Movimento gerando sempre a sua
eletricidade que é a vida.

Sim: existe uma força tão ilimitada como o


pensamento, tão potente como a vontade sem
limites, tão sutil como a essência da vida, tão
inconcebivelmente terrível em sua força
arrasadora, que poderia convulsionar o
universo até o seu próprio centro, fosse usada
apenas como uma alavanca; mas essa força
não é Deus, pois existem homens que
aprenderam o segredo de sujeitar essa força a
sua vontade quando necessário. Olhai ao
vosso redor e contemplai as inumeráveis
manifestações da vida, tão infinitamente
multiformes; de vida, de movimento, de
mudança. O que as causou? De que fonte
inesgotável chegaram, por quais meios? Do
invisível e subjetivo, entraram em nossa
pequena área do visível e objetivo. Filhos do
Akasa, evoluções concretas do éter, foi a
Força que os trouxe à perceptibilidade e será
a Força que, ao seu devido tempo, os afastará
da vista do homem. Por que essa planta que
está a direita em seu jardim, foi produzida com
essa forma, e a outra, à esquerda, com uma
forma completamente distinta? Não são elas o
resultado da ação variante da Força,
correlações dissimilares? Admitindo-se uma
perfeita monotonia de atividades em todo o
mundo, teríamos uma completa identidade de
formas, cores, modelos e propriedades
através de todos os reinos da Natureza. E ao
movimento, com o seu resultante conflito,
neutralização, equilíbrio, correlação, a que se
deve a variedade infinita que prevalece. Falais
de um Pai inteligente e bom (o atributo foi
desgraçadamente mal escolhido), um guia
moral e governador do universo e do homem.
Uma certa condição de coisas existe ao vosso
redor que chamamos de normal. Nada pode
ocorrer, debaixo dela, que transcenda a nossa
experiência diária, as "leis imutáveis de Deus".
Mas, suponhamos que nós mudássemos essa
condição e frustrássemos aquele sem cuja
vontade não cairá um só cabelo de sua
cabeça, como vos é dito no Ocidente. Uma
corrente de ar chega até mim, vinda do lago
mais próximo e escrevo esta carta com os
dedos meio gelados: eu mudo a corrente de ar
que entorpece os meus dedos para uma brisa
quente, por meio de uma certa combinação de
influências elétricas, magnéticas, ódicas e
outras, e assim neutralizo a intenção do Todo
poderoso, destronando-o por minha vontade!
Posso fazer isso, ou, quando não quero que a
Natureza produza fenômenos estranhos e
muito visíveis, eu obrigo ao ser, dentro de mim
mesmo, que vê a Natureza e sente a sua
influência, a que desperte repentinamente às
percepções e sensações novas, e dessa
forma sou meu próprio Criador e regente.

Mas pensais que estais certo quando dizeis


que "as leis surgem". Leis imutáveis não
podem surgir, pois elas são eternas e
incriadas, e são impelidas na Eternidade e que
Deus mesmo, se tal coisa existisse, não teria
jamais o poder de detê-las. E quando disse
que essas leis eram fortuitas per se, quis me
referir às suas cegas correlações, nunca às
leis, ou melhor à lei, pois que somente
reconhecemos uma lei no Universo: a lei da
harmonia, do perfeito EQUILÍBRIO. Portanto,
para um homem bem dotado de uma lógica
tão sutil e de tão fina compreensão do valor
das idéias em geral e especialmente das
palavras, para um homem como sois em geral,
isso de compor discursos sobre um "Deus
onisciente, poderoso e amante", é algo que
parece, pode-se dizer, pelo menos estranho.
Eu não protesto em absoluto, como podeis
parecer acreditar, contra o vosso teísmo ou
uma crença em um ideal abstrato de alguma
espécie, mas, não posso deixar de lhe
perguntar: como sabeis ou podeis saber que o
vosso Deus é onisciente, onipotente e cheio
de amor quando tudo na Natureza, tanto físico
como moral, prova que tal ser, se existisse,
seria justamente o contrário de tudo que dizeis
dele? É uma estranha ilusão que parece
subjugar até o vosso próprio intelecto.

A dificuldade de explicar o fato de que "Forças


que não são inteligentes possam produzir
seres altamente inteligentes, como nós", é
conciliada pela eterna progressão dos ciclos e
o processo evolutivo sempre aperfeiçoando a
sua obra, à medida que avança. Como não
credes nos ciclos, é desnecessário que
aprendais aquilo que só criaria um novo
pretexto para vós, meu querido Irmão, para
combater a teoria e questioná-la ad infinitum.
Nem jamais me tornei culpado pela heresia de
que sou acusado - com referência ao espírito
e a matéria. O conceito de matéria e espírito
como inteiramente distintos e ambos eternos,
não poderia certamente haver entrado jamais
na minha cabeça, por pouco que conheça
acerca de ambos, pois é uma das doutrinas
elementares e fundamentais do Ocultismo que
os dois são um só na limitada percepção do
mundo dos sentidos. Longe de "carecer de
amplitude filosófica", então, as nossas
doutrinas mostram somente um princípio na
Natureza - espírito-matéria ou matéria-
espírito, sendo o terceiro o Absoluto supremo
ou a quinta-essência dos dois, se me
permitem usar um termo errôneo na presente
aplicação, que se situa além da vista e
percepções espirituais dos mesmos "Deuses",
ou Espíritos Planetários. Este terceiro
princípio, dizem os filósofos vedantinos, é a
única realidade, sendo tudo mais Maya, pois
que nenhuma das manifestações proteicas do
espírito-matéria, ou Purusha e Prakriti, foram
jamais consideradas sob qualquer outro
aspecto que o de ilusões temporárias dos
sentidos. Mesmo na filosofia, apenas
delineada em "Isis" essa idéia está claramente
expressada. No livro de Kiu-te, o Espírito é
denominado a suprema sublimação da
matéria, e a matéria a cristalização do espírito.
E nenhuma ilustração melhor poderia ser dada
do que no fenômeno muito simples do gelo,
água, vapor, e a dispersão final deste último, e
a reversão do fenômeno em suas
consecutivas manifestações chamada de
queda do Espírito na geração ou matéria. Esta
trindade resolvendo-se numa unidade, - uma
doutrina tão antiga como o mundo do
pensamento - foi captada por alguns primitivos
Cristãos, que a aprenderam na Escola de
Alexandria e a converteram no Pai, ou espírito
gerador; no Filho, ou matéria, homem; e no
Espírito Santo, a essência imaterial, ou o
vórtice do triângulo eqüilátero; a idéia que se
encontra até os nossos dias, nas pirâmides do
Egito. Assim, uma vez mais fica comprovado
que interpretastes mal inteiramente o que
quero dizer, quando, para ser breve, faço uso
de uma fraseologia habitual entre os
ocidentais. Mas, da minha parte, tenho a
observar que a sua idéia de que a matéria não
é senão a forma alotrópica0 temporária do
espírito, distinguindo-se dele da mesma forma
que um carvão se distingue de um diamante,
é tão anti-filosófica como anti-científica, tanto
do ponto de vista oriental como do ocidental,
já que o carvão nada mais é do que uma forma
residual de matéria, enquanto que a matéria
per se é indestrutível e, como eu sustento,
contemporânea com o espírito - aquele
espírito que nós conhecemos e podemos
conceber. Despojado de Prakriti, Purusha
(Espírito) é incapaz de se manifestar e, por
conseguinte, cessa de existir - tornando-se
nihil1. Sem espírito ou Força, mesmo aquilo
que a Ciência denomina de matéria "não
vivente", os chamados ingredientes minerais
que alimentam as plantas nunca poderiam ser
levados a expressar-se como formas. Há um
instante na existência de cada molécula e
átomo de matéria quando, por uma causa ou
outra, a última chispa do espírito ou
movimento ou vida (chame-a por qualquer
nome) se retira, e no mesmo instante, com
uma velocidade que ultrapassa a do fulgor
relampejante do pensamento, o átomo ou
molécula, ou uma agregação de moléculas, é
aniquilado para retornar a sua prístina pureza
de matéria intra-cósmica. É atraída para a
fonte-matriz com a velocidade de um glóbulo
de mercúrio até a massa central. Matéria,
Força e Movimento formam a trindade da
natureza física objetiva, assim como a unidade
trinitária de espírito-matéria é aquela da
natureza espiritual ou subjetiva. O movimento
é eterno porque o espírito é eterno. Mas,
nenhuma modalidade de movimento pode ser
concebida a menos que esteja em conexão
com a matéria.

Passemos agora à sua extraordinária hipótese


de que o Mal, com a sua sucessão de pecado
e sofrimento não é resultante da matéria, e
sim, que poderia ser, talvez, o sábio esquema
do Regente moral do Universo. Concebível
como possa vos parecer a idéia, educado
como fostes na perniciosa falácia dos Cristãos
"de que os caminhos do Senhor são
inescrutáveis", é inteiramente inconcebível
para mim. Devo eu repetir que os nossos
melhores Adeptos investigam o Universo há
milênios e não encontraram em nenhuma
parte o mais insignificante rastro de um tal
maquiavélico projetista, mas sim, por todos os
lados, a mesma lei imutável e inexorável?
Deveis portanto perdoar-me se eu recuso
categoricamente a perder o meu tempo com
tais infantis especulações. Não são "os
caminhos do Senhor", mas, sim os de alguns
homens extremamente inteligentes em tudo,
além de algum passatempo predileto e que
são incompreensíveis para mim.

Como dizeis, isto "não implica em diferenças


entre nós", pessoalmente. Mas implica num
mundo de diferenças, se é que vos propondes
a aprender e vos ofereceis ensinar. É
humanamente impossível para mim entender
como poderia transmitir-lhe o que sei, quando
o próprio A.B.C. do que sei, a rocha na qual
estão incrustados os segredos do Universo
oculto, seja neste lado ou no outro do véu, é
rejeitado por vós invariavelmente e a priori.
Meu querido Irmão, ou bem nós sabemos algo
ou não sabemos nada. No primeiro caso, de
que adianta o vosso aprendizado já que
pensais que sabeis melhor? E no segundo, por
que quereis perder tempo? Dizeis que nada
importa se essas leis são a expressão da
vontade de um Deus inteligente e consciente,
como pensais, ou constitui os atributos
inevitáveis de um "Deus" não inteligente e
inconsciente, como eu sustento. Eu digo que
isso tem uma grande importância e dado que
acreditas que essas questões fundamentais
(do espírito e da matéria - de Deus ou nenhum
Deus) se acham além da nossa compreensão
- em outras palavras, que nem eu nem mesmo
os nossos maiores Adeptos podem saber mais
do que conheceis, então, o que há na Terra
que eu possa vos ensinar? Sabeis que para ler
tendes que primeiro aprender as letras; no
entanto, quereis saber o curso dos
acontecimentos antes e depois dos Pralayas,
de cada acontecimento aqui, neste globo, no
começo de um novo ciclo, ou seja, um mistério
que se revela em uma das últimas Iniciações,
como foi dito ao senhor Sinnett, e mencionado
em resposta a uma de suas perguntas a minha
carta a ele sobre os Espíritos Planetários foi
simplesmente episódica. E agora direis que
estou evitando a questão principal. Eu já
abordei pontos colaterais, mas não vos
expliquei tudo que quereis saber e me
perguntastes. "Esquivo-me", pois, como
sempre! Perdoai-me por contradizê-lo mas
não se trata nada disso. Há milhares de
perguntas às quais nunca me será permitido
responder e seria evadir-me não respondê-las
de outra forma que não desta. Digo
claramente que sois incapaz de aprender, pois
a vossa mente está cheia demais e não existe
um canto vazio de onde não surja um prévio
ocupante, que lutará e espantará o novo
ocupante. Portanto, eu não estou fugindo,
somente vos dou tempo para refletir e deduzir
e primeiro aprender bem o que já vos foi dado
antes que capteis alguma outra coisa. O
mundo de força, é o mundo do Ocultismo e
somente alguém dentre os altos iniciados
pode provar os segredos do ser. Portanto,
ninguém, a não ser esse iniciado, pode
conhecer alguma coisa desses segredos.
Guiado por seu Guru, o chela primeiro
descobre este mundo, depois as suas leis, e
então, as suas evoluções centrífugas no
mundo da matéria. Para tornar-se num perfeito
Adepto isso lhe toma longos anos, mas, por
fim, ele se torna o Mestre. As coisas ocultas se
tornam evidentes, e mistério e milagre fugiram
para sempre da sua visão. Ele vê como guiar
a força nesta ou naquela direção - para
produzir os efeitos desejados. As
propriedades secretas, químicas, elétricas ou
ódicas das plantas, ervas, raízes, minerais,
tecidos animais, são tão familiares para ele
como as penas dos vossos pássaros para vós.
Nenhuma mudança nas vibrações etéricas
pode lhe escapar. Ele aplica o seu
conhecimento, e eis um milagre! E aquele que
começou repudiando a própria idéia de que é
possível um milagre, é logo classificado como
um produtor de milagres e é cultuado pelos
tolos como um semi deus ou repudiado por
maiores tolos como sendo um charlatão! E
para vos mostrar quão exata ciência é o
Ocultismo, deixai me dizer-vos que os meios
de que nos valemos foram-nos todos dados
num código tão antigo quanto a humanidade,
até o mínimo dos detalhes, mas, cada um de
nós tem que começar desde o princípio, não
pelo fim. Nossas leis são tão imutáveis como
as da Natureza, e elas eram conhecidas do
homem desde a eternidade antes que esse
arrogante galo de briga, a Ciência moderna,
tivesse sido chocado. Se eu não vos dei o
modus operandi ou não comecei pelo lado
errado, pelo menos vos mostrei que
construímos a nossa filosofia sobre a
experimentação e a dedução - a não ser que
preferires questionar ou discutir esse fato,
como fizestes com todos os demais. Primeiro
aprendai as nossas leis e educai as vossas
percepções, querido Irmão. Controlai os
vossos poderes involuntários e desenvolvei a
vossa vontade na reta direção e vos tornareis
um instrutor em vez de um aprendiz. Eu não
me recusarei ao que tenho o direito de ensinar.
Somente que eu tive de estudar quinze anos
antes que chegasse à doutrina dos ciclos e
tive que aprender coisas mais simples de
início. Mas seja o que façamos e o que
aconteça, confio em que não teremos mais
argumentações, as quais são tão estéreis
quanto penosas.
Carta Nº 023a

(De A. P. Sinnett para K. H. Recebida em


Simla, Outubro de 1882).

Precisamos nos ocupar das duas cartas que


se seguem, em conjunto. O Mahatma K.H.
mencionou em duas cartas anteriores que
estaria respondendo às questões de Sinnett
logo em outra carta, que é esta.

Com a presente, e pedindo desculpas pela


quantidade, remeto algumas perguntas.
Talvez sejais tão amável para examiná-las de
vez em quando e respondê-las de uma em
uma ou duas em duas, de acordo com o tempo
de que dispondes.

Memorandum - Quando lhe seja possível,


enviar a A. P. Sinnett aquelas notas inéditas de
Eliphas Levi com as anotações de K. H.

Foram enviadas a tempo ao nosso amigo


"Jacko".

(1) Há uma alusão muito interessante nesta


última carta quando, falando de Hume, referis
a certas características que ele trouxe da sua
última encarnação.

(2) Possuis o poder de olhar


retrospectivamente nas vidas anteriores das
pessoas agora vivas e identificá-las?

(3) Em tal caso seria uma curiosidade pessoal


imprópria pedir alguns detalhes das minhas?

(1) Todos nós trazemos algumas


características de nossas prévias
encarnações. É INEVITÁVEL.

(2) Desgraçadamente, alguns de nós a


possuem. Quanto a mim, não me agrada
exercê-lo.

(3) "Homem, conhece-te a ti mesmo, disse o


Oráculo de Delfos. Não há nada "impróprio",
certamente, em tal curiosidade. Só que não
seria por acaso mais apropriado estudar a
nossa personalidade antes de saber algo de
seu CRIADOR, predecessor e modelador: o
homem que FOI? Bem, algum dia vos
obsequiarei com uma pequena história, (agora
não tenho tempo) somente que não prometo
detalhes; um simples esboço e uma alusão ou
duas para provar os seus poderes de intuição.

II

(1) Há alguma maneira de explicar o que


parece ser uma aceleração curiosa do
progresso humano nos últimos dois mil anos,
em comparação com a condição relativamente
estacionária das pessoas na Quarta Ronda até
o começo do progresso moderno?

(2) Ou teriam existido, em algum período


anterior durante a permanência na Terra dos
homens da Quarta Ronda, civilizações tão
grandes como a nossa no que se refere ao
desenvolvimento intelectual e tenham
desaparecido completamente?
(3) Mesmo a Quinta Raça Raiz (a nossa) da
Quarta Ronda começou na Ásia há um milhão
de anos. Que fazia nos 998.000 anos que
precederam os últimos 2.000? Surgiram e
desapareceram durante esse período
civilizações maiores do que a nossa?

(4) A que época pertenceu o continente da


Atlântida e se a mudança cataclísmica que
produziu a sua extinção ocorreu em um
momento predestinado da evolução da Ronda
correspondente ao lugar ocupado na completa
evolução manvantárica por obscurecimentos?

(5) Constato que a pergunta mais usual feita


acerca da filosofia oculta por pessoas de
inteligência comum que começam a
interessar-se por ela, é: Dá ela alguma
explicação para a origem do Mal? Este é uma
ponto que prometestes tocar e que valeria a
pena tratar sem mais demora.

(6) Relacionada de perto com essa pergunta


havia outra que se faz amiúde. "Qual é o
objetivo de todo o processo cíclico se o espírito
somente emerge ao final de todas as coisas
tão puro e impessoal como no princípio antes
de descer na matéria? (E as porções retiradas
do quinto? A minha resposta é que atualmente
não estou tratando de desculpar, e sim de
investigar as operações da Natureza. Mas
talvez exista uma melhor resposta disponível.

(7) Podeis, isto é, é sempre permitido


responder a quaisquer perguntas relacionadas
com os assuntos da ciência física? Se for, eis
alguns pontos que gostaria muito que fossem
tratados.

(8) Tem algo a ver as condições magnéticas


com a precipitação da chuva, ou se devem
inteiramente às correntes atmosféricas de
diferentes temperaturas que se encontram
com outras correntes em diferentes graus de
humildade, sendo todo o conjunto de
movimentos estabelecido por pressões,
expansões, etc, devido, em primeiro lugar, à
energia solar? Se as condições magnéticas
estão envolvidas, como elas operam, e como
podem ser testadas?

(9) É a coroa solar uma atmosfera? Composta


de gazes conhecidos? E por que assume a
forma raiada que sempre se observa nos
eclipses?

(10) É o valor fotométrico da luz emitida pelas


estrelas um guia seguro para a sua magnitude
(considerada, naturalmente, em conexão com
a distância, como é calculada pela paralaxe; e
é verdade, como presume a astronomia, na
falta de uma teoria melhor, que a superfície do
sol emite por quilômetro quadrado tanta luz
como pode ser emitida por qualquer outro
corpo?

(11) É Júpiter um corpo quente e no entanto,


em parte luminoso, e como a energia solar não
tem provavelmente nada a ver com a questão,
qual é a causa dos violentos distúrbios na
atmosfera de Júpiter?

(12) Há algo de verdade na nova teoria de


Siemens sobre a combustão solar, ou seja,
que o sol, em sua translação através do
espaço reúne em seus pólos gás combustível,
(que está espalhado através de todo o espaço
em uma condição muito atenuada), e o
arremete de novo no Equador depois que
intenso calor dessa região dispersou de novo
os elementos que a combustão uniu
temporariamente?

(13) Poderia algum indício da causa das


variações magnéticas ser dado, - as mudanças
diárias isogônicas que mostram declinações
iguais? Por exemplo, por que existe uma
região na Ásia Oriental onde a agulha não
mostra variações do verdadeiro Norte, ainda
que se registrem variações ao redor desse
espaço? (tem vossas Excelências algo a ver
com essa peculiar condição das coisas?)

(14) Poderiam ser descobertos alguns outros


planetas além dos já conhecidos pela moderna
astronomia (não quero dizer simples
planetóides) com a ajuda de instrumentos
físicos adequadamente focalizados?

(15) Quando escrevestes "Já experimentastes


monotonia durante aquele momento que então
considerastes e considerais agora como o
momento de maior felicidade jamais sentido?"

Referistes a algum momento específico ou a


algum acontecimento específico em minha
vida, ou estarei, meramente vos referindo a
uma quantidade X - ao momento mais feliz,
qualquer que tenha sido?

(16) Dizeis: "Relembrai que nós mesmos


criamos o nosso Devachan, e o nosso Avitchi
e principalmente durante os últimos dias e
mesmo nos últimos momentos de nossas
vidas conscientes".

(17) Mas os pensamentos com os quais a


mente possa estar envolvida no último
momento necessariamente dependem do
caráter predominante da vida que está
terminando? De outra maneira pareceria que
as características do Devachan e do Avitchi de
uma pessoa poderiam ser caprichosa e
injustamente determinadas pela casualidade
de que alguns pensamentos foram mais
predominantes no último momento.

(18) "A recordação completa de nossas vidas


só virá no final de um ciclo menor".

O "ciclo menor" significa aqui uma Ronda ou


todo o Manvântara de nossa cadeia
planetária?

Isto é, recordamos as nossas vidas passadas


no Devachan do mundo Z5 no final de cada
ronda ou somente no final da Sétima Ronda?

(19) Dizeis: "E mesmo os cascões daquela boa


gente cujas páginas não se encontrarão
perdidas no grande livro das vidas:- mesmo
esses recuperarão a sua recordação e uma
aparência de auto consciência somente depois
que os Princípios Sexto e Sétimo, com a
essência do Quinto, tenham ido para o seu
período de gestação".

(20) E um pouco mais adiante:- "Se o Ego


Pessoal foi bom, mau ou indiferente, a sua
consciência o deixa tão subitamente assim
como a chama deixa o pavio - suas faculdades
perceptivas tornam-se extintas para sempre".?
(Ora?, pode um cérebro físico, UMA VEZ
MORTO, reter as suas faculdades
perceptivas? Aquele que perceberá no cascão
é algo que percebe com uma luz emprestada
ou refletida. Veja as notas).

Qual é então, a natureza da recordação e da


auto-consciência do cascão? Isto toca um
assunto no qual tenho pensado com
freqüência (desejando mais explicações)
sobre a extensão da identidade pessoal nos
elementares.

(21) O Ego espiritual continua circulando


através dos mundos, retendo o que ele possui
de identidade e auto-consciência, sempre nem
mais nem menos; a) mas está continuamente
desenvolvendo personalidades nas quais, de
qualquer modo, o sentido da identidade é
muito completo, enquanto permanece unido a
elas; b) pois bem, entendo que essas
personalidades, são absolutamente novas
evoluções em cada caso. A. P. Sinnett é, seja
quem for, - absolutamente uma nova invenção.
Ora, deixará um cascão, que há de sobreviver
por um tempo; c) supondo que a mônada
espiritual temporariamente vinculada a esta
encarnação encontrará bastante matéria
decente no quinto (princípio) da qual tire
proveito; d) esse cascão não terá consciência
alguma após a morte, porque "necessita de um
certo tempo para estabelecer o seu novo
centro de gravidade e desenvolver a sua
própria percepção; e) Mas, até que ponto é
consciente quando tiver feito isso? f) será
ainda A. P. Sinnett de quem pensará o Ego
espiritual, ainda em seu último momento, como
uma pessoa que conheceu, ou será consciente
de que a individualidade se foi? Poderá esse
cascão raciocinar totalmente acerca de si
mesmo e recordar algo de seus interesses
mais elevados de outrora? Recordaria o nome
que possuía, g) ou apenas se encontra repleto
de recordações desta classe quando na
presença de um médium, permanecendo
adormecido em outras ocasiões? h) E é
consciente de ter perdido algo que sente ser
como a vida que gradualmente se desintegra?

(22) Qual é a natureza da vida que prossegue


no "Planeta da Morte"? É uma reencarnação
física com recordações da personalidade
passada ou uma existência astral, como no
Kama-Loka? É uma existência com
nascimento, maturidade e declínio, ou um
prolongamento uniforme da antiga
personalidade desta terra sob condições
punitivas?

(23) Quais outros planetas dentre os


conhecidos pela ciência comum, além de
Mercúrio, pertencem ao nosso sistema de
mundos?

São os planetas mais espirituais - (A, B e Y, Z)


- corpos visíveis no firmamento ou são todos
os que a astronomia de uma espécie mais
material conhece?

(24) É o Sol (a) como disse Allan Kardec, a


habitação de seres altamente
espiritualizados? (b) É o vértice de nossa
cadeia Manvantárica e também de todas as
demais cadeias neste sistema solar?

(25) Dizeis: pode acontecer "que o despojo


espiritual do Quinto se mostre muito débil para
renascer no Devachan - em cujo caso seu
Sexto então se revestirá a si mesmo, ali, em
um novo corpo e entrará numa nova existência
terrestre, seja neste ou em qualquer outro
planeta."

(26) Isto parece necessitar maior


esclarecimento. São estes casos excepcionais
nos quais duas vidas terrestres da mesma
mônada espiritual poderiam ocorrer juntas,
uma depois da outra, sem ter que esperar os
mil anos como o limite quase inevitável para
tais vidas sucessivas, tal como foi indicado nas
cartas anteriores?

(27) A referência ao caso de Guiteau é


enigmática. Posso compreender que esteja
num estado no qual o crime que cometeu está
sempre na sua imaginação, mas, como lança
ele na "confusão e na desordem os destinos
de milhões de pessoas?

(28) Os obscurecimentos são na atualidade


um tema envolto na escuridão. Eles ocorrem
quando o último homem de uma determinada
Ronda passou para o próximo planeta. Mas
desejo compreender como evoluem as formas
da próxima ronda mais elevada. Quando
chegam as mônadas espirituais da Quinta
Ronda, que habitações carnais estão prontas
para elas?

Voltando à única carta anterior na qual


tratastes da questão dos obscurecimentos,
encontro (a) "Temos seguido o homem ao sair
da Ronda até o estado Nirvânico entre Z e A.
"A" foi deixado morto na última Ronda (Veja a
nota). Ao começar a nova Ronda, alcança um
novo influxo de vida, desperta de novo para a
vitalidade e engendra todos os seus reinos de
uma ordem superior até o último".

(29) Mas, deve começar de novo, desde o


princípio entre cada Ronda e desenvolver
formas humanas a partir de formas animais e
estas, de forma vegetais, etc. Caso seja assim,
a que Ronda pertencem os primeiros homens
imperfeitamente evoluídos? "Ex hypothesi"
(neste caso), à quinta; mas a quinta deveria
ser, sob todos os

aspectos, uma raça mais perfeita.


Carta Nº 023b

(Outubro de 1882).

II

(1) a parte final de um ciclo muito importante.


Cada Ronda, cada Cadeia, assim como cada
Raça, possui seus ciclos maiores e menores
em cada planeta por onde passa a
humanidade.

A nossa humanidade da Quarta ronda tem o


seu grande ciclo, como também o possuem as
Raças e Sub raças. O "curioso apressamento"
é devido ao duplo efeito do primeiro, (no
começo do seu curso descendente) e do
segundo (o ciclo menor de sua "Sub raça")
aproximando-se até o seu cume: Recordai-vos,
pertenceis à Quinta Raça, mas vós sois
apenas uma Sub raça ocidental. Apesar dos
vossos esforços, o que chamais de civilização
está confinado somente ao último ramo e às
suas ramificações na América. Projetando-se
ao redor, a sua luz ilusória parece arremessar
os seus raios a uma distância maior do que em
realidade ocorre. - Não existe "aceleração" na
China, e quanto ao Japão o que fazeis nada
mais é do que uma caricatura.

Um estudante de ocultismo não deve falar da


"estagnada condição das pessoas da Quarta
Raça" pois não conhece quase nada de tal
condição "até o começo do progresso
moderno" de outras nações que não sejam
ocidentais. Mas o que sabeis da América, por
exemplo, antes da invasão desse território
pelos espanhóis? Menos do que dois séculos
antes da chegada de Cortez, existia já uma
"aceleração" tão grande para o progresso,
entre as Sub raças do Peru e México como
existe hoje na Europa e nos Estados Unidos da
América. Aquelas sub-raças terminaram numa
quase total aniquilação, devido a causas
geradas por elas mesmas; da mesma maneira
acontecerá com a vossa no final do seu ciclo.
Somente podemos falar de "condições
estacionárias", referindo-se àquelas em que,
seguindo a lei do desenvolvimento,
crescimento, maturidade e declínio, cai cada
Raça ou sub raça durante os seus períodos de
transição. É dessa última condição que a vossa
História Universal tem conhecimento, ao passo
que se mantém soberbamente ignorante das
condições que prevaleciam, mesmo na Índia,
há uns dez séculos. As vossas sub-raças estão
na atualidade correndo para o ápice dos seus
ciclos respectivos, e essa História não remonta
mais do que aos períodos de declínio de
algumas poucas sub raças, pertencentes a
maior parte delas a precedente quarta Raça. E
qual é a área e o período abrangido pelo seu
olho Universal? No máximo, algumas
miseráveis dezenas de séculos. Grande
horizonte, na verdade! Mais além, tudo são
trevas para ela; nada mais do que hipóteses...

(2) Sem dúvida alguma que existiram. Os


arquivos egípcios e arianos e especialmente as
nossas taboas Zodiacais, nos dão todas as
provas disso, além do nosso conhecimento
interno. A civilização é um herança, um
patrimônio, que passa de uma Raça para outra
ao longo dos caminhos ascendentes e
descendentes dos ciclos. Durante a infância de
uma Sub raça, é preservada para ela pela sua
predecessora, que desaparece, morre em
geral de modo gradual quando a primeira
alcança a sua "maioridade". No princípio, a
maioria delas desperdiça e administra mal a
sua herança, ou deixam-na intocada nos cofres
ancestrais. Rejeitam desdenhosamente os
conselhos de seus maiores e preferem como
as crianças, brincar nas ruas em vez de
estudar e tirar maior proveito das riquezas
incalculáveis, ainda não utilizadas, guardadas
para elas nos arquivos do Passado. Assim,
durante o vosso período de transição - a idade
média - a Europa rejeitava o testemunho da
antiguidade, chamando a sábios como
Heródoto e outros gregos eruditos - como o Pai
das Mentiras, até que, conhecendo melhor,
passou a chamá-lo de "Pai da História". Em vez
de negligenciar, agora acumulais e somais
para a vossa riqueza. Como qualquer outra
raça, tendes altos e baixos, os vossos períodos
de honra e desonra, a vossa treva noturna e -
agora estais vos aproximando do brilhante dia.
Os mais jovens da família da Quinta raça
fostes, durante longas idades, desprezados e
abandonados, as gatas borralheiras de vosso
lar. E agora, quando tantas de vossas irmãs já
morreram, e outras ainda estão morrendo,
enquanto uns poucos dos velhos
sobreviventes, agora na sua segunda infância,
esperam pelo seu Messias - a sexta raça - para
a ressurreição numa nova vida e começar de
novo com a vinda mais forte, ao longo da senda
de um novo ciclo - agora que a gata borralheira
ocidental se converteu repentinamente numa
princesa orgulhosa e opulenta, cuja beleza
todos vemos e admiramos - como ela age?
Menos bondosa do que a Princesa do conto,
em vez de oferecer a sua irmã mais velha e
menos favorecida - a mais velha agora, pois
que já tem quase "um milhão de anos de
existência", e a única irmã que a tratou com
benevolência, ainda que possa tê-la ignorado -
em vez de oferecer-lhe, direi, o "Beijo da Paz"-
aplica-lhe a lex talionis, com um espírito de
vingança que não enaltece a sua natural
beleza. Isto meu bom irmão e amigo, não é
uma alegoria exagerada: é história.

(3) Sim; a Quinta Raça (a nossa) começou na


Ásia há um milhão de anos. O que dizer dos
998.000 anos precedentes dos últimos 2.000?
Uma questão pertinente; apresentada mais
ainda com um espírito bastante Cristão que
recusa crer que nada de bom pudesse ter
vindo de parte alguma antes e a não ser de
Nazareth. Pois bem, o que fazia? Estava
bastante ocupada, da mesma maneira que
está agora - com o perdão do senhor grant
Allen, que colocaria o nosso primitivo
antepassado, na primeira parte do período
Eoceno! Na verdade, os vossos escritores
científicos montam as suas hipóteses
destemidamente, segundo vejo. Será uma
lástima ver o seu fogoso corcel dando coices e
quebrando as suas cabeças algum dia; algo
que inevitavelmente lhes está reservado. No
período Eoceno - ainda mesmo no seu começo
- o grande ciclo da Quarta Raça humana, os
Atlantes, já haviam alcançado o seu nível mais
culminante e o grande continente, o pai de
todos os continentes atuais, mostrava os
primeiros sintomas do afundamento, um
processo que perdurou até 11.446 anos atrás,
quando a sua última ilha, a qual, traduzindo o
seu nome idiomático, podemos chamar
propriamente de Poseidonis, afundou-se com
grande estrépito. E a propósito, sem quer que
tenha escrito o comentário sobre a obra de
Donely, intitulada Atlantis está certo: Lemúria
não pode mais ser confundida com o
Continente Atlântico da mesma forma que a
Europa com a América. Ambas afundaram e
foram afogadas com suas altas civilizações e
"deuses", embora entre as duas catástrofes
decorreu um curto período de 700.000 anos;
"Lemúria" floresceu e terminou a sua carreira
justamente por ocasião daquele curto lapso de
tempo antes da primeira parte da era Eocena,
pois a sua raça era a Terceira. Observai, as
relíquias daquela que outrora foi uma grande
nação em alguns dos aborígenes de cabeça
chata da vossa Austrália! Não menos certo
está o comentário ao rejeitar a bondosa
intenção do autor de povoar a Índia e o Egito
com os restos da Atlântida. Não há dúvida de
que vossos geólogos sabem muito, mas
porque não levar em conta que, em baixo dos
continentes explorados e sondados por eles,
em cujas entranhas encontraram a "Era
Eocena" e buscaram revelar os seus segredos,
podem estar, profundamente ocultos,
insondáveis, ou melhor, insondados leitos dos
oceanos, outros e muito mis antigos
continentes cujos extratos não foram nunca
geologicamente explorados; e eles podem
algum dia perturbar totalmente as suas
presentes teorias, assim ilustrando a
simplicidade e sublimidade da verdade
conectadas com a "generalização" indutiva, em
oposição as suas conjecturas visionárias. Por
que não admitir - na verdade nenhum deles
jamais pensou a respeito disso - que os nossos
atuais continentes, do mesmo que "Lemúria" e
Atlântida", estiveram vária vezes submersos e
que tiveram tempo para reaparecer, e
desenvolver os seus novos grupos de
humanidade e civilização; e que, no primeiro
grande levantamento geológico, no próximo
cataclismo (da série de cataclismos periódicos
que ocorrem desde o começo até o final de
cada Ronda) os nossos já recortados
continentes se afundarão e a Lemúrias e
Atlântidas surgirão de novo? Pensai nos
futuros geólogos da Sexta e Sétima Raças.
Imaginai-os cavando profundamente nas
entranhas do que foi o Ceilão e Simla e
encontrando utensílios dos Veddahs, ou do
ancestral remoto do civilizado Pahari - já que
todos os objetos das partes civilizadas da
humanidade que habitavam essas regiões
haviam sido pulverizados pelas grandes
massas dos glaciais em movimento, durante o
próximo período glacial - imaginai-os
encontrando somente esses utensílios
rudimentares, tais como os que agora são
achados entre as tribos selvagens, e
declarando em seguida que durante aquele
período, o homem primitivo trepava e dormia
nas árvores e chupava o tutano dos ossos dos
animais após quebrá-los - algo que os
civilizados Europeus, tanto como os Veddahs,
comumente fazem - portanto saltando para a
conclusão de que no ano 1882 D.C., a
humanidade era composta de "homens com a
semelhança de animais", de tipo negróide
barbudos e prognatismo maxilar e dentes
caninos aguçados de grande tamanho". Na
verdade um Grant Allen da Sexta Raça pode
não estar muito longe da veracidade do fato e
na sua conjectura de que durante o "período
Simla" - esses dentes eram usados nos
combates dos "machos" para a conquista das
fêmeas divorciadas, mas essa metáfora tem
muito pouco a ver com a antropologia e a
geologia. Essa é a vossa ciência. Voltando as
nossas perguntas. Claro que a Quarta Raça
teve os seus períodos da mais elevada
civilização. As civilizações Grega e Romana e
mesmo a Egípcia não são nada quando
comparadas com as civilizações que
começaram a Terceira Raça. Os indivíduos da
Segunda não eram selvagens, mas não
podiam ser chamados de civilizados. E agora,
lendo uma das minhas primeiras cartas sobre
as Raças ( uma questão tocada primeiro por
M.), rogo-vos que não acuseis a ele ou a mim
de alguma nova contradição. Lede-a de novo e
notai que ela deixa de lado totalmente a
questão das civilizações e menciona apenas
os restos degenerados da quarta e terceira
Raças e vos dá, como corroboração, as ultimas
conclusões de vossa própria Ciência. Não
considerai algo inevitavelmente incompleto
como uma inconsistência. Fazei-me uma
pergunta direta e eu a respondo. Os gregos e
os romanos foram pequenas sub raças e os
egípcios parte integrante do nosso tronco
"Caucásico". Observai os últimos e a Índia.
Tendo alcançado a mais elevada civilização e,
o que é ainda mais, o conhecimento, os dois
decaíram. O Egito, como uma sub raça bem
precisa, desapareceu completamente (os seus
Coptas são um resto híbrido). A Índia - como
um dos primeiros e mais poderosos rebentos
da Raça matriz, e composta de várias sub
raças - perdurando até os nossos dias e
lutando para retomar mais uma vez o seu lugar
na história algum dia. Essa história capta
somente alguns extraviados e nebulosos
reflexos do Egito, 12.000 anos atrás quando,
havendo alcançado o ápice de seu ciclo
milhares de anos antes, começava a declinar.
Quem conhece ou pode conhecer a respeito da
Índia de 5.000 anos atrás, ou dos Caldeus -
que são confundidos de uma maneira muito
fascinante com os assírios, considerando-os,
em uma ocasião, "akkadianos" e turanios em
outras e quem sabe o que mais? Dizemos pois,
que a vossa história está por inteiro
desorientada.

O "Journal of Science" nega-nos - em palavras


repetidas e citadas por M. A. (Oxon), com um
arrebatamento digno de um grande médium,
qualquer pretensão de possuirmos
"conhecimento mais elevado". Diz o crítico:
"Suponha-se que os Irmãos dissessem:
enfoquem o vosso telescópio neste ou naquele
ponto dos céus e encontrarão um planeta
ainda não conhecido para vós; ou cavem na
terra,...etc. e encontrarão um mineral, etc."
Muito bem, sem dúvida, e suponhamos que
isso fosse feito, qual seria o resultado? Ora,
uma acusação de plágio - pois, em qualquer
caso, cada "planeta e mineral" que existe no
espaço ou no interior da terra, é conhecido e
está registrado em nossos livros há milhares
de anos; e ainda: mais de uma hipótese
verdadeira foi timidamente apresentada pelos
próprios cientistas e, constantemente rejeitada
por aquela maioria com cujos preconceitos ela
interferia. Vossa intenção é louvável, mas nada
que eu possa vos dar como resposta jamais
será aceito como proveniente de nós. Sempre
que se descubra que "na verdade é assim
mesmo" a descoberta será atribuída àquele
que comprovou a evidência, como no caso de
Copérnico e Galileu, em que este último se
valeu, na realidade, dos manuscritos
Pitagóricos.

Mas voltando às "civilizações". Sabeis que os


caldeus se encontravam no ápice da sua fama
Oculta antes daquilo que denominais de "Idade
do Bronze"? Que os "Filhos de Ad", ou os filhos
da Névoa Ígnea precederam centenas de
séculos à Idade de Ferro, que já era uma idade
antiga quando o que denominais Período
Histórico - provavelmente porque o que dele se
conhece não é geralmente história e sim ficção
- havia apenas começado. Nós sustentamos -
mas, então, que garantia podeis dar ao mundo
de que temos razão? - que civilizações muito
maiores que a nossa se elevaram e decaíram.
Não é suficiente dizer, como fazem alguns dos
vossos escritores modernos, que existiu uma
civilização, já extinta antes que Roma e Atenas
fossem fundadas: Nós afirmamos que existiu
uma série de civilizações antes, como também
depois, do Período Glacial; que existiram em
diversos lugares do globo, alcançaram o
pináculo de sua glória e morreram. Perdeu-se
todo vestígio e memória das civilizações da
Assíria e Fenícia, até que começaram a se
fazer descobertas há poucos anos. E agora
estas abrem uma nova página, ainda que está
muito longe de ser uma das mais remotas, na
história do gênero humano. E, no entanto, até
onde remontam essas civilizações em
comparação com a mais antiga? E mesmo
estas a história vacila em aceitar. A
arqueologia demonstrou suficientemente que a
memória do homem penetra muito mais no
passado do que a história está disposta a
aceitar, e os arquivos sagrados de nações
outrora poderosas, conservados por seus
herdeiros, são ainda mais dignos de crédito.
Falamos de civilizações do período anterior ao
glacial, e essa afirmativa soa ridícula, não só
para as mentes do vulgo dos profanos, mas
mesmo na opinião do mais sábio geólogo. Que
diríeis então da nossa afirmação de que os
Chineses - e falo agora do chinês autêntico do
interior e não da mistura híbrida entre a Quarta
e Quinta Raças, que agora ocupa o trono - os
aborígenes que, na sua nacionalidade pura,
pertencem inteiramente ao Ramo mais elevado
e último da Quarta Raça, alcançaram a sua
mais elevada civilização quando a Quinta havia
apenas aparecido na Ásia e que o seu primeiro
ramo era ainda uma coisa do futuro? Quando
foi isso? Fazei os vossos cálculos. Não podeis
pensar que nós, que encontramos enormes
dificuldades contra a aceitação de nossa
doutrina, iríamos deliberadamente inventar
Raças e Sub Raças (na opinião do Sr. Hume)
se elas não fossem um fato inegável. O grupo
de ilhas próximas sas costas siberianas,
descobertas por Nodenskjold do "Vega",
estavam repletas de fósseis de cavalos,
ovelhas, bois, etc., entre os ossos gigantescos
de elefantes, mamutes, rinocerontes e outros
monstros pertencentes aos períodos em que o
homem (diz a vossa ciência) não havia ainda
efetuado o seu aparecimento sobre a terra. E
como cavalos e carneiros foram achados em
companhia dos enormes animais
"antidiluvianos"? Aprendemos nas escolas que
o cavalo é uma invenção bastante moderna da
Natureza e que nenhum homem jamais viu o
seu antepassado, pedáctilo. O grupo das ilhas
siberianas pode desmentir essa confortável
teoria. Em relação a essa região, agora presa
nos grilhões de um eterno inverno e não
habitada pelo homem - o mais frágil dos
animais, será muito em breve provado que já
teve não apenas um clima tropical - algo que
vossa ciência conhece e não contesta, - mas
foi igualmente o local onde floresceu uma das
mais antigas civilizações da quarta raça, cujos
vestígios mais significativos podemos agora
encontrar nos degenerados Chineses, e os
mais inferiores estão irremediavelmente (para
o cientista profano) misturados com os
remanescentes da terceira. Conto-vos mesmo
que as mais elevadas pessoas agora na terra
(espiritualmente), pertencem à primeira Sub
raça da Quinta Raça Raiz, e esses são arianos
asiáticos; a mais elevada Raça (em inteligência
física) é a última sub raça da Quinta, vós
mesmos, os conquistadores brancos. A
maioria da humanidade pertence a Sétima Sub
raça da Quarta Raça Raiz: os chineses acima
mencionados e suas ramificações (malaios,
mongóis, tibetanos, javaneses, etc. etc.) e
restos de outras Sub raças da Quarta e a
Sétima Sub raça da Terceira Raça. Todos eles,
exteriorizações já caída e degradada da
humanidade, são os descendentes em linha
direta de nações altamente civilizadas, cujos
nomes e memória não sobreviveram, exceto
em livros tais como o Popul Vuh e alguns
outros desconhecidos para a ciência.

(4) Até os tempos do Mioceno. Tudo chega ao


seu devido tempo e lugar na evolução das
rondas, de outra maneira, seria impossível
para o melhor vidente, calcular exatamente a
hora e ano em que irão ocorrer tais cataclismas
maiores e menores. Tudo o que poderia fazer
um Adepto seria predizer o tempo aproximado,
enquanto que agora, acontecimentos que
resultam em grandes mudanças geológicas,
podem ser preditos com tanta certeza
matemática como os eclipses e outras
revoluções no espaço. A submersão da
Atlântida (o grupo de continentes e ilhas)
começou durante o período Mioceno -
exatamente como se observa agora o
afundamento gradual de vossos continentes -
e culminou, primeiro, no desaparecimento final
da maior parte do continente, um
acontecimento coincidente com a elevação dos
Alpes; e segundo, com o desaparecimento da
última daquelas formosas ilhas mencionadas
por Platão. Os sacerdotes egípcios de Sais
contaram a Solon, antepassado de Platão, que
a Atlântida (isto é, a única ilha grande que
restou) pereceu 9.000 anos antes da época
deles. Esta não é uma data arbitrária, já que
eles haviam conservado os seus registros
cuidadosamente durante milênios. Mas, como
já disse, não falaram senão de "Poseidonis" e
não quiseram revelar, nem mesmo ao grande
legislador grego, a sua cronologia secreta. E
como não existem razões geológicas para
duvidar, mas pelo contrário, um conjunto de
evidências para aceitar a tradição, a Ciência
aceitou finalmente a existência do grande
continente e arquipélago, confirmando assim a
verdade de mais uma "fábula". A Ciência
ensina agora, como sabeis, que a Atlântida ou
seus restos, subsistiram até os períodos pós
terciários, ocorrendo a sua submersão final
dentro das idades paleozóicas da história da
América! Bem, a verdade e os fatos têm que
sentir-se agradecidos até por tais e tão
pequenos favores, em vista da ausência
anterior deles durante tantos séculos. As
explorações profundas do mar, especialmente
as do Challenger, confirmaram completamente
os informes da geologia e paleontologia. O
grande acontecimento, o triunfo dos nossos
"Filhos da Névoa Ígnea" - os habitantes de
"Shamballah" ( quando era ainda uma ilha no
Mar Central Asiático) - sobre os egoístas, ma
não inteiramente malvados, magos de
Poseidonis, ocorreu justamente há 11.446
anos. Lêde a esse respeito, a tradição,
incompleta e parcialmente velada, que é dada
em Isis, volume I, páginas 588-594, e algumas
coisas podem ficar ainda mais claras para vós.
A corroboração da tradição e da história,
apresentada por Donnelly, acho que é correta
em suas linhas gerais, mas encontrareis tudo
isso, e muito mais em Isis.

(5) Por certo isso ocorre e já tratei desse tema


faz bastante tempo. Em minhas notas no
manuscrito do senhor Hume "Acerca de Deus"
- que ele agrega bondosamente a nossa
filosofia, algo que esta última jamais
considerara antes, o tema é mencionado
amplamente. Ele vos recusou que o lêsseis?
Posso ampliar as minhas explicações para vós,
mas não antes que tenhais lido o que eu digo
sobre a origem do bem e do mal naquelas
notas marginais. Já disse o bastante para os
nossos atuais propósitos. Por estranho que
pareça, encontrei um autor europeu - o maior
materialista do seu tempo, o Barão d'Hollbach
- cujos pontos de vista coincidem inteiramente
com os de nossa filosofia. Ao ler o seu Systeme
de la Nature, podia imaginar que tinha diante
de mim o nosso livro de Kiu-te. Mas, como
resultado lógico de suas idéias e
temperamento, o nosso Pundit10 Universal
tentara agarrar-se a essas idéias e reduzir
cada argumento a pedaços. Até agora,
somente me ameaça com a alteração de seu
Prefácio e não publicar a filosofia com o seu
próprio nome. Cuneus cuneum tradit: roguei-
lhe que não publicasse de modo algum os seus
ensaios.

M.12 crê que, para vossos propósitos, seria


melhor que eu vos desse mais alguns detalhes
sobre a Atlântida, pois o assunto está
grandemente conectado com o mal, senão
com a sua origem. No próximo Teosofista
encontrareis uma nota ou duas como apêndice
à tradução que fez Hume do Prefácio, de
Eliphas Levi, em relação ao continente
desaparecido. E agora, dado que estou
disposto a fazer um livro destas respostas,
suportei a vossa cruz com fortaleza cristã e,
então, talvez depois de ter lido tudo, não
perguntareis mais por algum tempo. Mas o que
posso acrescentar ao que já foi dito? Não
posso dar-vos informações puramente
científicas, pois que nunca seriam rechaçadas
como sendo "não científicas". E, no entanto,
tanto a geologia como a paleontologia
testemunham muito do que temos a dizer. Sem
dúvida, a vossa ciência está certa em muitas
das suas generalidades. Por exemplo, ela tem
razão quando diz que, enquanto a nova
América estava se formando, a antiga Atlântida
estava submergindo gradualmente no oceano,
mas não está certa ao indicar as épocas, nem
quanto aos cálculos da duração dessa
submersão. Esta última é o futuro destino de
vossas ilhas Britânicas, as primeiras na lista
das vítimas que têm que ser destruídas pelo
fogo (vulcões submarinos) e pela água. Então
chegará a vez da França e outros países.
Quando reapareçam de novo, a última Sétima
Sub raça da Sexta Raça Raiz da presente
humanidade se encontrará florescente na
"Lemúria" e na "Atlântida", pois ambas também
terão reaparecido (a sua reaparição se seguirá
imediatamente ao desaparecimento das atuais
ilhas e continentes); e então se encontrarão
muito poucos mares e grandes águas em
nosso globo; as áreas de água e de terra
aparecerão e desaparecerão, mudando
periódica e sucessivamente.

Hesitante diante da perspectiva de novas


cargas de "contradições", por alguma
declaração incompleta no futuro, será melhor
que explique o que quero dizer com isso. A
aproximação de cada novo "obscurecimento" é
sempre assinalada por cataclismas, sejam por
fogo ou água. Mas, afora isso, cada "Anel" ou
Raça Raiz tem que ser dividida em duas, por
assim dizer, por um ou outro (água ou fogo).
Assim, tendo a quarta Raça atingido o ápice do
seu desenvolvimento e glória - os Atlantes
foram destruídos pela água; somente
encontrareis agora os seus degenerados e
caídos remanescentes, cujas Sub raças, não
obstante, tiveram mesmo, cada uma delas, os
seus dias florescentes de glória e grandeza
relativa. O que são agora, vós sereis algum dia,
pois que a lei cíclica é una e imutável. Quando
vossa Raça, a Quinta, tiver alcançado o zênite
de sua intelectualidade física e desenvolvido a
mais elevada civilização, (recordai a diferença
que fazemos entre civilizações materiais e
espirituais), incapaz, então, de elevar-se mais
em seu próprio ciclo, o seu progresso rumo ao
mal absoluto será detido, (tal como os seus
predecessores, os Lemurianos e Atlantes,
homens da Terceira e Quarta Raças, foram
detidos em seu avanço em direção ao mesmo)
por uma dessas mudanças cataclísmicas; as
da grande civilização será destruída e todas as
Sub raças desta Raça se encontrarão em
queda em seus respectivos ciclos, depois de
um curto período de glória e saber. Observai
os remanescentes dos Atlantes - os antigos
gregos e romanos (pois os modernos
pertencem todos a Quinta Raça) notai como
foram grandes e curtos, quão fugazes foram os
seus dias de fama e glória! Pois, eles foram
apenas sub-raças das sete ramificações da
"Raça Raiz". À nenhuma Raça Matriz, nem às
suas Sub raças e ramificações, será permitido
pela Lei Una Soberana, usurpar as
prerrogativas da Raça e Sub raça que seguirá
e menos ainda a sua intrusão nos
conhecimentos e poderes que estão
reservados a sua sucessora. "Não comerás o
fruto do Conhecimento do Bem e do Mal da
árvore que está crescendo para os teus
herdeiros"., podemos dizer com mais direito do
que nos seria concedido voluntariamente pelos
Humes de vossa Sub raça. Esta "árvore" está
sob os nossos cuidados, e nos foi confiada
pelos Dhyan Chohans, os protetores de nossa
Raça e Guardiães para aquelas que virão.
Tratai de compreender a alegoria e de nunca
perder de vista a sugestão que vos foi dada em
minha carta sobre os Planetários. No começo
de cada Ronda, quando a humanidade
reaparece debaixo de condições por completo
diferentes das que são proporcionadas para o
nascimento de cada nova Raça e suas sub-
raças, um "Planetário" deve misturar-se com
esses homens primitivos para refrescar-lhe a
memória e revelar-lhes as verdades que
conheceram durante a Ronda precedente. Daí
procedem as confusas tradições sobre os
Jeohovahs, Ormazds, Osirises, Brahms e tutti
quanti. Mas isso acontece somente para o
benefício da primeira Raça. É o dever daqueles
escolher os recipientes adequados entre os
seus filhos, que são "colocados à parte", para
usar uma frase bíblica, como receptáculos que
conterão todo o conjunto de sabedoria a ser
dividido entre as futuras Raças e gerações, até
o fim daquela Ronda. Porque deveria dizer
mais, eis que deveis compreender todo o
significado do que digo, e isso não me atrevo a
revelar inteiramente. Cada Raça teve os seus
Adeptos, e a cada nova Raça se nos permite
dar tanto de nosso conhecimento quanto
mereçam os homens dessa Raça. A última
Sétima Raça terá o seu Buda, como ocorreu
com cada uma de suas predecessoras; mas
seus Adeptos serão muito mais elevados do
que um dos da presente Raça, pois entre eles
habitará o futuro Planetário, o Dhyan Chohan,
cujo trabalho será o de instruir ou "refrescar a
memória" da primeira Raça dos homens da
Quinta Ronda, depois do futuro
obscurecimento deste planeta.

Em passant18, para demonstrar-vos que não


apenas não foram as Raças inventadas por
nós, mas que elas são um dogma fundamental
dos Lamas Budistas e de todos aqueles que
estudam as nossas doutrinas esotéricas,
envio-vos uma explicação a respeito, em uma
ou duas páginas do livro "Budismo" de Rhys
Davis que, não sendo esclarecidas, resultam
incompreensíveis, carentes de significado e
absurdas. Está escrita com a permissão
especial do Chohan (meu Mestre) para o vosso
benefício. Nenhum Orientalista jamais
imaginou as verdades contidas nelas e sois o
primeiro ocidental (fora do Tibet) a quem agora
elas são explicadas.

(6) O que emerge no final de todas as coisas


não é somente o "espírito puro e impessoal",
mas as recordações coletivas "pessoais"
extraídas de cada novo Quinto Princípio na
larga série de existências. E, se no final de
todas as coisas - digamos, daqui há alguns
bilhões de anos - o Espírito tiver que descansar
em sua não-existência pura e impessoal como
o UNO ou o Absoluto, não obstante deve haver
"algo bom" no processo cíclico, pois que cada
Ego purificado tem a oportunidade, nos
grandes intervalos entre a existência objetiva
nos planetas, de existir como um Dhyan
Chohan; desde o mais inferior "Devachânico"
até o mais elevado Planetário, gozando os
frutos de suas vidas coletivas.

Mas o que é "Espírito" puro e impessoal per


se? É possível que não tenhais compreendido
ainda o que queremos dizer? Porque tal
Espírito é uma não-entidade, uma abstração
pura, um vazio absoluto para os nossos
sentidos, mesmo para os mais espirituais.
Converte-se em algo, somente ao unir-se com
a matéria; por isso é sempre algo, pois que a
matéria é infinita, indestrutível e não-existente
sem o Espírito, o qual é a Vida e do ser, pois a
matéria é inseparável do mesmo. Perguntai
aos que objetam, se conhecem algo da "vida"
e da "consciência" além do que agora sentem
sobre a terra. Que concepção podem ter (a não
ser que tenham nascido como videntes inatos),
do estado e da consciência da individualidade
de alguém, depois que ela tenha se separado
do corpo grosseiro terrestre? De que vale todo
o processo da vida na terra (podereis, por
vossa vez, perguntar-lhes) se somos tão bons
como entidades "puras" inconscientes, antes
do nascimento, durante o sono e ao final de
nossa carreira? Não é a morte, de acôrdo com
os ensinamentos da Ciência, seguida pelo
mesmo estado de inconsciência como a que
existe antes do nascimento? A vida não se
torna, quando abandona o nosso corpo, tão
impessoal como era, antes que animasse o
feto? Afinal, a vida, o maior dos problemas
dentro do alcance da concepção humana, é um
mistério que os vossos maiores homens da
Ciência jamais resolverão a fim de ser
compreendido corretamente, deve ser
estudado no conjunto total de suas
manifestações; de outra maneira nunca poderá
ser, nem só perscrutado nem mesmo
compreendido em sua forma mais simples: a
vida como um estado de ser sobre esta terra.
Nunca poderá ser compreendido enquanto for
estudada separadamente ou desvinculado da
vida universal. Para resolver o grande
problema, o indivíduo deve-se tornar um
ocultista; analisar e experimentar com ela
pessoalmente, em todas as suas fases: como
vida na terra, vida além do limite da morte
física, como vida mineral, vegetal, animal e
espiritual; vida em associação com a matéria
concreta bem como a vida presente no átomo
imponderável. Deixemos que eles tentem e
examinem ou analisem a vida, separada do
organismo, e o que resta de tudo isso?
Simplesmente uma forma de movimento, o
qual, a menos que seja aceita a nossa doutrina
da Vida onipenetrante, infinita e onipresente,
mesmo que o seja no máximo como uma
hipótese, apenas um pouco mais razoável do
que as suas hipóteses científicas que são
todas absurdas, a vida permanece inexplicada.
Eles objetarão a isso? Bem, responderemos
fazendo uso de suas próprias armas. Diremos
que está e ficará demonstrado para sempre
que, como o movimento interpenetra tudo e
que o repouso absoluto é inconcebível, que
sob qualquer forma ou máscara o movimento
pode aparecer, seja como luz, calor,
magnetismo, afinidade química ou eletricidade,
todas estas são apenas fases da mesma Força
Una, universal e onipotente: um Proteo- diante
do qual eles se inclinam como o Grande
"Desconhecido" (veja-se Herbert Spencer) e
que nós denominamos simplesmente a "Vida
Una", a "Lei Una", e o "Elemento Uno". As
maiores e as mais científicas mentes na terra
vêm buscando ansiosa e vigorosamente uma
solução para o mistério, sem deixar
inexplorado um atalho sequer, nenhum fio solto
ou débil no que, para elas é o mais escuro dos
labirintos, e todas chegaram à mesma
conclusão - a dos Ocultistas, embora
apresentada apenas numa forma parcial, isto
é: que a vida, em suas manifestações
concretas, é o resultado e a conseqüência
legítima da afinidade química; quanto à vida
em seu sentido abstrato, a vida pura e simples,
bem, eles não sabem mais hoje do que sabiam
no começo de sua Sociedade Real0. Sabem
somente que, em certas soluções previamente
desprovidas de vida, os organismos
aparecerão espontaneamente (não obstante
Pasteur e sua piedade bíblica), devido algumas
composições químicas dessas substâncias.
Se, em alguns anos, como espero, eu seja por
completo o meu próprio Mestre, pode ser que
tenha o prazer de demonstrar-vos em vossa
própria escrivaninha, que a vida como vida não
só é transformável em outros aspectos ou
fases da Força onipenetrante, mas que pode
ser realmente infundida em um homem
artificial. Frankenstein é um mito apenas como
um herói de um conto místico; na Natureza é
uma possibilidade e os físicos e médicos da
última Sub raça da Sexta Raça inocularão a
vida e reviverão cadáveres, tal como agora
inoculam a varíola e com freqüência outras
enfermidades mais perigosas. Espírito, vida e
matéria, não são princípios naturais que
existam independentemente uns dos outros,
mas os efeitos de combinações produzidas
pelo movimento eterno no Espaço; e é melhor
que eles o aprendam.

(7) Sem dúvida isso me permite(am). Mas


então temos o ponto mais importante: quão
satisfatórias as minhas respostas parecerão -
mesmo para vós? Que nem toda nova lei
trazida à luz é considerada como o acréscimo
de um elo à cadeia do conhecimento humano,
está demonstrado pela má vontade com que
cada fato incômodo, por uma razão ou por
outra, para a ciência é recebido por seus
professores. Não obstante, sempre que possa
responder-vos, eu o farei, apenas confiando
que não o enviareis como contribuição da
minha pena para o Journal of Science.

(8) Com toda segurança que tem de ver. A


chuva pode ser precipitada numa pequena
área, artificialmente e sem nenhuma pretensão
milagrosa ou de poderes super-humanos, e
ainda que não conheça o segredo, não poderia
divulgá-lo. Estou tratando agora de obter
permissão para fazê-lo. Não conhecemos
nenhum fenômeno na Natureza que esteja
completamente desvinculado do magnetismo
ou da eletricidade, pois que, onde há
movimento, calor, fricção, luz, ali o magnetismo
e seu alter ego (de acôrdo com a nossa
humilde opinião), a eletricidade aparecerão
sempre, tanto como causa ou como efeito, ou
melhor, ambos, caso sondemos manifestação
até a sua origem. Todos os fenômenos das
correntes terrestres, magnetismo terrestre e
eletricidade atmosférica, são devidos ao fato
de que a terra é um condutor eletrificado, cujo
potencial está mudando sempre devido a sua
rotação e ao do movimento anual de sua órbita,
ao sucessivo esfriamento e aquecimento do ar,
à formação das nuvens e chuva, tormentas e
ventos, etc. Isto podereis encontrar
provavelmente em algum livro didático. Mas,
então, a Ciência não estará disposta a admitir
que todas essas mudanças são devidas ao
magnetismo akásico, que gera, sem cessar,
correntes elétricas que tendem a restaurar o
equilíbrio perturbado. Mediante o
direcionamento da mais poderosa das baterias
elétricas, o organismo humano eletrificado por
um certo processo - podeis deter a chuva em
um ponto determinado, fazendo "um furo na
nuvem da chuva", como os ocultistas o
denominam. Com o uso de outros implementos
fortemente magnetizados dentro, digamos, de
uma área isolada - a chuva pode ser produzida
artificialmente. Eu lamento a minha
incapacidade de explicar-vos o processo mais
claramente. Conheceis os efeitos produzidos
pelas árvores e plantas nas nuvens de chuva;
e como a sua forte natureza magnética atrai e
mesmo alimenta aquelas nuvens sobre o topo
das árvores. ciência explica isso talvez de
outra maneira. Bem, eu não posso remediar,
pois tal é nosso conhecimento e o fruto de
milênios de observações e experiências. Caso
esta carta caia nas mãos do senhor Hume,
com segurança haveria de observar que estou
justificando a acusação que fez publicamente
contra nós, de que "quando são incapazes de
responder aos vossos argumentos (?) eles
(nós) respondem, com toda calma, que suas
regras (as nossas) não lhes permitem isto ou
aquilo". A despeito da acusação, sou
compelido a responder que, desde que o
segredo não é meu, não posso fazer dele uma
mercadoria negociável. Que os físicos
calculem a quantidade de calor necessário
para vaporizar uma certa quantidade de água.
Que calculem a quantidade de chuva
necessária para cobrir uma área, digamos, de
uma milha quadrada (2.588.881m) com dois
centímetros e meio de água. Para essa
quantidade de vaporização necessitarão,
naturalmente, uma quantidade de calor que
será, por menos, igual a cinco milhões de
toneladas de carvão. Agora bem; a quantidade
de energia que corresponderia a este consumo
de calor, equivaleria (como qualquer
matemático poderia vos dizer) a que seria
necessária para levantar um peso superior a
dez milhões de toneladas a altura de 1.609
metros. Como pode um homem gerar tal
quantidade de calor e energia? Ilógico,
absurdo! Somos todos lunáticos e vós que nos
escutais, será colocado na mesma categoria
se aventurar a repetir esta proposição.
Entretanto, eu digo que um homem só pode
fazê-lo, e com muita facilidade, caso esteja
familiarizado com uma certa alavanca "psico
espiritual", que possue internamente e que é
mais poderosa do que a de Arquimedes.
Mesmo a simples contração muscular está
sempre acompanhada de fenômenos elétricos
e magnéticos, e existe a mais poderosa
conexão entre o magnetismo da terra, as
mudanças no tempo e o homem, que é o
melhor barômetro vivo, caso tão somente
soubesse como interpretá-lo corretamente. Por
outro lado, o estado do céu pode sempre ser
verificado pelas variações mostradas por
instrumentos magnéticos. Há muitos anos
atrás, tive a oportunidade de ler as deduções
da ciência sobre esse assunto: portanto, a
menos que me dê ao trabalho de colocar-me
em dia com respeito ao que poderia ignorar,
não conheço as últimas conclusões da Ciência.
Entretanto, para nós é um fato estabelecido
que é o magnetismo da terra que produz os
ventos, tempestades e chuvas. O que a ciência
parece conhecer disso não são mais do que
sintomas secundários, induzidos sempre por
aquele magnetismo, e ela muito cedo irá
constatar os seus presentes erros. A atração
magnética da Terra, da poeira cósmica, e a
influência direta desta última sobre as súbitas
mudanças de temperatura, especialmente na
questão do calor e do frio, não é um problema
resolvido até agora, eu creio2. Colocou-se em
dúvida se o fato de a nossa terra passar
através de uma região do espaço na qual haja
mais ou menos massas meteóricas, tem
alguma relação com o aumento ou diminuição
de nossa atmosfera, ou mesmo com o estado
do tempo. Mas cremos que poderíamos
demonstrá-lo com facilidade, e desde que eles
aceitem o fato de que a relativa distribuição e
proporção de terra e água no nosso globo
possa ser devida à grande acumulação sobre
ele da poeira meteórica, a neve -
especialmente nas nossas regiões do norte -
estando cheias de ferro meteórico e de
partículas magnéticas, e havendo sido
encontrados depósitos destas últimas, mesmo
no fundo dos mares e oceanos, eu me
pergunto: por que a Ciência não compreendeu
até agora que cada mudança e perturbação
atmosférica se deve ao magnetismo
combinado das duas grandes massas entre as
quais está comprimida a nossa atmosfera?
Chamo a esse pó meteórico uma "massa" pois
é realmente isso. Muito acima da superfície de
nossa terra o ar está impregnado e o espaço
está cheio de pó magnético ou meteórico, que
nem mesmo pertence ao nosso sistema solar.
Tendo a Ciência felizmente descoberto que, ao
ser a nossa terra, com todos os outros
planetas, levada através do espaço, recebe
uma maior proporção desta matéria
pulverulenta no hemisfério norte do que no
hemisfério sul, sabe que a isso é devida a
preponderância de continentes no primeiro
hemisfério, e a grande abundância de neve e
umidade. Milhões de tais meteoros e mesmo
das menores partículas nos alcançam anual e
diariamente e todas as facas dos nossos
templos são feitas deste ferro "celestial", que
nos alcança sem ter sofrido qualquer mudança
- o magnetismo da terra mantendo essa massa
coesa. Continuamente é adicionada à nossa
atmosfera matéria gasosa, proveniente da
incessante queda de matéria meteórica
fortemente magnética e, no entanto parece ser
ainda para a ciência uma questão ainda não
resolvida, se as condições magnéticas tem
algo a ver ou não, com a precipitação da chuva!
Não conheço nenhum "conjunto de
movimentos estabelecidos por pressões e
expansões, etc., devidos, em primeiro lugar, à
energia solar". A ciência se ocupa demasiado
e muito pouco ao mesmo tempo com a
"energia solar" e mesmo do próprio Sol, e o Sol
não tem nada a ver com a chuva e muito pouco
com o calor. Eu supunha que a ciência
soubesse que os períodos glaciais, como
também aqueles períodos em que a
temperatura é "como o da era carbonífera", são
devidos à diminuição e ao crescimento, ou
melhor, à expansão de nossa atmosfera,
sendo essa expansão devida a mesma
presença meteórica. De qualquer forma, todos
nós sabemos que o calor que a terra recebe
por radiação do sol é, no máximo, um terço,
senão menos, da quantidade recebida por ela
diretamente dos meteoros.

(9) Chamemo-la de uma cromosfera ou


atmosfera, ou de nenhuma delas, pois é
simplesmente a aura magnética, sempre
presente no Sol, vista pelos astrônomos
somente por alguns breves momentos durante
um eclipse, e por alguns dos nossos chelas
quando queiram - naturalmente durante em
certo estado induzido. Uma contraparte do que
os astrônomos denominam de chamas
vermelhas na "coroa" pode ser vista nos
cristais de Reichenbach ou em qualquer outro
corpo fortemente magnético. A cabeça de um
homem em uma profunda condição de êxtase,
quando toda a eletricidade de seu sistema está
centralizado ao redor do cérebro, representa,
especialmente na obscuridade, um perfeito
símile, do Sol durante tais períodos. O primeiro
artista que desenhou as aureolas ao redor das
cabeças dos seus Deuses e Santos não o fez
por inspiração e sim as representou, baseado
nos exemplos das pinturas do templo e nas
tradições do santuário e câmaras de iniciação
onde se ocorriam tais fenômenos. Quanto mais
próxima da cabeça ou do corpo que emite a
aura, tanto mais forte e mais refulgente é a
emanação (devido ao hidrogênio, nos diz a
ciência, no caso das chamas); daí, as chamas
vermelhas irregulares em redor do Sol, ou a
"coroa interna". O fato de não estarem sempre
presentes em igual quantidade mostra
somente a constante flutuação da matéria
magnética e sua energia, das quais depende
também a variedade e quantidade das
manchas. Durante os períodos de inércia
magnética, as manchas desaparecem, ou
melhor, permanecem invisíveis. Quanto mais
longe se estende a emanação, tanto mais
perde em intensidade até que, atenuando-se
gradualmente, desaparece; daí a "coroa
externa", e sua forma semelhante a raios, é
devida, por inteiro ao último fenômeno, cujo
resplendor se deve à natureza magnética da
matéria e à energia elétrica, e de nenhuma
maneira às partículas intensamente quentes,
como afirmam alguns astrônomos. Tudo isso
está terrivelmente em desacordo com a
ciência, mas sem dúvida, é um fato, ao qual
posso acrescentar outro, recordando-vos de
que o Sol que vemos não é, de modo algum, o
planeta central de nosso pequeno Universo, e
sim somente o seu véu ou seu reflexo. A
Ciência enxerga tremendas dificuldades no
estudo desse planeta, o que felizmente não
temos - antes de tudo a constante oscilação da
nossa atmosfera que os impede de julgar
corretamente o pouco que vêem. Este
impedimento nunca se antepôs aos antigos
astrônomos caldeus e egípcios, nem é um
obstáculo para nós, pois possuímos meios
para deter ou neutralizar essas oscilações,
familiarizados que estamos com todas as
condições akásicas. E supondo que nós
divulgássemos este segredo, não seria de
nenhum uso prático para os vossos homens de
ciência como não seria tão pouco o da chuva,
a menos que eles se tornem ocultistas e
sacrifiquem largos anos à aquisição de
poderes. Imagine-se um Huxley ou um Tyndall
estudando Yoga-vidya! Daí provém tantos
erros em que incidem e as hipóteses
conflitantes de vossas melhores autoridades.
Por exemplo: o Sol está cheio de vapores de
ferro, um fato que foi demonstrado pelo
espectroscópio, revelando que a luz da coroa
consiste basicamente de uma linha na parte
verde do espectro, quase coincidente com a
linha do ferro. Entretanto, os professores
Young e Lockyer rejeitaram essa idéia, sob o
engenhoso pretexto, se bem me recordo, de
que se a coroa fosse composta de partículas
minúsculas, semelhantes a uma nuvem de pó
(e isso é o que denominamos "matéria
magnética") essas partículas (1) cairiam sobre
o corpo do sol; (2) sabe-se que os cometas
muitas vezes atravessam esse vapor, sem
quaisquer efeitos visíveis sobre eles; (3) o
espectroscópio do professor Young mostrou
que a linha da coroa não era idêntica à do ferro,
etc. Porque chamariam de científicas a tais
objeções, é algo mais do que nós podemos
explicar.

(1) As razões pelas quais as partículas - pois é


assim que eles a chamam não caem sobre o
corpo do sol, são evidentes por si mesmas.
Existem forças coexistentes com a gravitação
das quais nada sabem além do outro fato de
que não existe gravitação propriamente dita,
somente atração e repulsão. (2) Como
poderiam os cometas ser afetados pela dita
passagem pois que "a sua passagem por esse
vapor" é simplesmente uma ilusão de ótica?
Não poderiam passar dentro da área de
atração sem ser aniquilados de imediato por
essa força, da qual nenhum vril pode dar uma
idéia adequada, já que não existe nada sobre
a terra que possa se comparar a ela. Passando
os cometas como o fazem, através de um
"reflexo", é natural que esse vapor não produza
"nenhum efeito visível sobre esses corpos
leves". (3) A linha da carga pode não parecer
idêntica através do melhor "espectroscópio
reticulado", entretanto, a coroa contém ferro
como também outros vapores. Seria inútil vos
dizer de que consiste, porque me sinto incapaz
de traduzir as palavras que usamos para isso,
além de que tal matéria não existe de modo
algum em nosso sistema planetário, mas
apenas no Sol. O fato é o que vós denominais
de Sol é simplesmente o reflexo do grande
depósito de nosso Sistema onde se geram e
preservam TODAS as suas forças; sendo o
coração e o cérebro do nosso universo pigmeu,
podemos considerar suas faculae (esses
milhões de corpos pequenos e intensamente
brilhantes dos quais se compõe a superfície do
Sol, com exceção das manchas) aos
corpúsculos do sangue dessa luminária, ainda
que alguns deles sejam tão grande como a
Europa, como foram corretamente
conjecturados pela Ciência. Esses corpúsculos
sanguíneos são a matéria elétrica e magnética
em seu sexto e sétimo estado. O que são
aqueles filamentos longos brancos, retorcidos
como as cordas, dos quais se compõe a
penumbra do Sol? O que é a parte central que
se vê como uma gigantesca chama terminando
em espiras de fogo, e as nuvens transparentes,
ou melhor, vapores formados de delicados fios
de luz prateada que estão suspensos sobre
essas chamas senão o aura eletro-magnético,
o flogisto do Sol? A ciência pode continuar
especulando para sempre, mas, enquanto não
renunciar a dois ou três dos seus erros
fundamentais, há de encontrar-se sempre
tateando na obscuridade. Alguns dos seus
maiores enganos se encontram em suas
noções limitadas da lei da gravitação; a sua
negação de que a matéria pode ser
imponderável, o seu recém-inventado termo
"força" e a idéia absurda e tacitamente aceita,
de que a força é capaz de existir per se, ou de
atuar mais do que a vida, de modo externo e
independente da matéria ou de qualquer outra
maneira que não seja através da matéria; em
outras palavras, que a força não é senão
matéria em um dos seus estados superiores -
sendo os últimos três na escala ascendente
negados simplesmente porque a ciência não
conhece nada deles; e a sua completa
ignorância do Proteo universal, suas funções e
importância na economia da Natureza: o
magnetismo e a eletricidade. Diz a Ciência que
mesmo naqueles dias do declínio do Império
Romano, quando o britânico tatuado
costumava oferecer ao Imperador Cláudio o
seu Nazzur-A de "electron" na forma de um
rosário de contas de ambar, já existiam mesmo
então homens que se mantinham, entretanto,
afastados das massas dissolutas e que sabiam
mais de eletricidade e de magnetismo do que
eles, os homens de ciência de agora; e a
ciência rirá de vós tão amargamente, como o
faz agora diante da vossa bondosa dedicação
a mim. Na verdade, quando os vossos
astrônomos, ao falar da matéria solar,
denominam a essas luzes e chamas de
"nuvens de vapor" e "gazes desconhecidos"
para a ciência (certamente!), empurrados por
tremendos torvelinhos e ciclones - enquanto
nós, sabendo que são simplesmente matéria
magnética no seu estado normal de atividade -
sentimo-nos inclinados a sorrir diante de tais
expressões. Pode alguém imaginar os "fogos
do Sol alimentados somente com matéria
mineral", com metoritos altamente carregados
com hidrogênio, dando ao "Sol" uma atmosfera
de grande alcance de gazes inflamados? Nós
sabemos que o Sol invisível está composto
daquilo que não possui nome, nem pode ser
comparado a coisa alguma conhecida pela
vossa ciência na terra, e que seu "reflexo"
contém menos ainda de algo como "gazes",
matéria mineral ou fogo, ainda que nós,
quando tratamos do assunto no vosso idioma
civilizado, vemo-nos obrigados a usar
expressões como "vapor" e "matéria
magnética". Para encerrar esta questão: as
mudanças na coroa não produzem efeito
algum no clima da terra, embora as manchas o
façam, e o professor N. Lockyer está
equivocado em geral nas suas deduções. O
Sol não é nem um sólido, em um líquido, nem
mesmo uma fulguração gasosa, e sim uma
esfera gigantesca de Forças eletromagnéticas,
o depósito da vida e movimento universais, de
onde a última pulsa em todas as direções, para
alimentar o mais pequeno átomo como o maior
gênio, com o mesmo material, até o final do
Maha Yug.
(10) Não creio. As estrelas estão distantes de
nós, pelo menos 500.000 vezes mais do que o
Sol e algumas muito mais do que isso.A forte
acumulação de matéria meteórica e os
tremores atmosféricos estão sempre
obstaculizando. Se vossos astrônomos
pudessem elevar-se sobre esse pó meteórico
com seus telescópios e havanas poderiam ter
mais confiança em seus fotômetros do que
agora. Mas como fazê-lo? Nem o verdadeiro
grau de intensidade dessa luz pode ser
conhecido na terra (e daí resulta que não se
pode ter uma base digna de confiança para
calcular distâncias e magnitudes) nem até
agora eles estão seguros uma ó vez (exceto no
que se refere a uma estrela em Cassiopeia)
sobre quais são as estrelas que brilham por
reflexo e quais por luz própria. O
funcionamento dos melhores fotômetros para
estrelas duplas é enganador. Comprovei isto
desde a primavera de 1878, o presenciar nas
observações efetuadas por meio de um
fotômetro Pickering; a diferença nas
observações sobre uma estrela (próxima de
Gamma Ceti) chegaram em certos momentos
a meia magnitude. Nenhum planeta, a não ser
um, foi descoberto fora do sistema solar, com
todos os seus fotômetros, enquanto nós
conhecemos um bom número deles, apenas
com a ajuda do nosso olho nú espiritual. Cada
Estrela Sol que chegou a sua completa
maturidade, à semelhança de nosso sistema,
possui vários planetas que o acompanham. A
famosa prova de "polarização da luz" é mais ou
menos confiável como as outras.
Naturalmente, o simples fato de partirem de
uma premissa falsa não pode viciar as suas
conclusões nem as suas profecias
astronômicas, pois que as duas são
matematicamente corretas em suas relações
mútuas e respondem ao objetivo proposto.
Nem os caldeus nem mesmo os nossos
antigos Rishis possuíam os vossos telescópios
e fotômetros e, entretanto, as suas predições
astronômicas eram exatas; os enganos, muito
insignificantes na verdade, foram atribuídas a
eles pelos seus rivais modernos, ao se
basearem em seus próprios erros.
Não deveis queixar-vos das minhas respostas
demasiadamente longas às vossas perguntas
breves, já que respondo com vistas a vossa
instrução como estudante de ocultismo, meu
chela "laico", e de modo algum para responder
ao Journal of Science. Eu não sou um homem
de ciência em relação ou em conexão com o
conhecimento moderno. O meu conhecimento
de vossas ciências ocidentais é muito limitado,
na verdade, e, por obséquio, conservai em
mente que todas as minhas respostas estão
baseadas e derivadas de nossas doutrinas
ocultas orientais, não importa que concordem
ou não com as da ciência exata. Por
conseguinte digo que:

"A superfície do sol emite por milha quadrada


(2.588.881 m) tanta luz (em proporção) quanto
a que pode ser emitida por qualquer outro
corpo". Mas, o que quereis significar, neste
caso por "luz"? Esta última não é um princípio
independente e, na introdução, regozijei com
vista a facilitar os meios de observação do
"espectro de difração", pois que, ao abolir
todas essas existências independentes e
imaginárias, tais como calor, actinismo, luz,
etc., presta, à Ciência Oculta, o maior serviço,
ao sustentar aos olhos de sua irmã moderna a
nossa teoria muito antiga de que cada
fenômeno, sendo apenas o efeito dos diversos
movimentos do que chamamos de Akasa (não
o vosso éter), havia de fato um único elemento,
o Princípio causador de tudo. Mas, dede que a
vossa pergunta é feita com o propósito de
resolver um ponto de controvérsia na ciência
moderna, tentarei responde-la da forma mais
clara que possa. Eu digo então não e darei a
minha razão porque. Eles não podem conhecê-
lo, pela simples razão de que até agora não
encontraram meios seguros para medir a
velocidade da luz. As experiências feitas por
Fizeau e Cornu, conhecidos como sendo os
dois melhores investigadores da luz no mundo
da ciência, não obstante a satisfação geral
pelos resultados obtido, não são dados
confiáveis, nem a respeito da velocidade com
que viaja a luz solar nem quanto a sua
quantidade. Os métodos adotados por estes
dois franceses estão fornecendo resultados
corretos (pelo menos aproximadamente, pois
há uma variação de 363 quilômetros por
segundo entre os resultados das observações
dos dois experimentadores, apesar de feitas
com os mesmos aparelhos), somente ao que
diz respeito à velocidade da luz entre a nossa
terra e as regiões superiores de sua atmosfera.
Sua roda dentada que gira a uma velocidade
conhecida, registra, naturalmente, o intenso
raio de luz que passa através de um dos claros
da roda, e logo obscurece o ponto de luz cada
vez que passa um dente: bastante preciso. O
instrumento é muito engenhoso e dificilmente
deixará de dar resultados esplêndidos em
trajetos de ida e volta de alguns milhares de
metros; não havendo entre o observatório de
Paris e suas fortificações condições
atmosféricas, nem matéria meteórica que
possa impedir a viagem do raio, e encontrando
esse raio um meio para viajar muito diferente
de éter do Espaço (O éter entre o Sol e o
continente meteórico acima de nossas
cabeças), é natural que a velocidade da luz
mostrará uns 296.000 quilômetros por segundo
e os vossos físicos gritam "Eureka"! Nenhum
dos outros aparelhos inventados pela ciência
desde 1878 para medir essa velocidade dão
uma resposta melhor. Tudo o que podem dizer
é que seus cálculos são, até agora, corretos,
mas se pudessem medir a luz sobre a nossa
atmosfera logo descobririam que estavam
equivocados.

(11) Assim é até agora, mas está mudando


com rapidez. Vossa ciência tem uma teoria,
creio, de que se a terra fôsse colocada
repentinamente em regiões extremamente
frias (se, por exemplo mudasse o seu lugar
com Júpiter) todos os nossos mares e rios se
transformariam de repente em sólidas
montanhas: e que o ar (ou melhor uma porção
das substâncias aeriformes que o compõe) se
metamorfosearia do seu estado de fluido
invisível, devido a ausência de calor, em
líquidos (como agora em Júpiter, mas dos
quais não tem idéia alguma os homens na
terra). Compreendei, ou tentai imaginar a
condição reversa, e essa seria a de Júpiter no
momento presente.

Todo o nosso sistema está imperceptivelmente


mudando a sua posição no espaço. A distância
relativa entre planetas permanecem sempre a
mesma, não sendo afetada de nenhuma
maneira pelo deslocamento de todo o sistema;
e a distância entre este último e as estrelas e
outros sóis é tão incomensurável, a ponto de
produzir apenas uma pequena mudança que
não será notada por séculos ou milênios;
nenhum astrônomo poderá notá-la por meio do
telescópio até que Júpiter e alguns outros
planetas, cujos pontos luminosos escondem
agora de nossa vista milhões e milhões de
estrelas (mais ou menos uns cinco ou seis
bilhões), nos permitam ver um pouquinho dos
Raja-Sóis que atualmente ocultam. Há uma
dessas estrelas rei por trás de Júpiter que
nenhum olho mortal físico jamais viu durante
esta nossa Ronda. Pudesse ser percebida, ela
apareceria, através do melhor telescópio com
um poder de multiplicar o seu diâmetro dez mil
vezes - ainda como sendo um pequeno ponto
sem dimensões, arremessado na sombra pelo
brilho de qualquer planeta; entretanto - este
mundo é milhares de vezes maior de que
Júpiter. A violenta perturbação de sua
atmosfera e mesmo a sua mancha vermelha
que tanto intriga a ciência ultimamente, são
devidas - (1) àquele deslocamento e (2) a
influência dessa Estrela-Raja. Na presente
posição que ocupa no Espaço e por
imperceptível que ela seja, suas substâncias
metálicas (das quais está principalmente
composta) estão se expandindo e se
transformando gradualmente em fluidos
aeriformes (tal como era o estado da nossa
terra e de seus seis globos irmãos antes da
primeira Ronda) que vai formando parte da sua
atmosfera. Tirai daí ass vossas conclusões e
deduções disto, meu querido chela "laico", mas
acutelai-vos para que ao fazê-lo, não sacrificai
o vosso humilde instrutor e a própria doutrina
oculta no altar da sua irada Deusa: a ciência
moderna.
(12) Temo que não exista muita, pois que o
nosso sol não é mais do que um reflexo. A
única grande verdade enunciada por Siemens
é que o espaço inter estelar está cheio de
matéria altamente atenuada, tal como a que
existe dentro de tubos de vácuo, e que se
estende de planeta a planeta e de estrela a
estrela. Mas esta verdade não influi em seus
fatos principais. O sol dá tudo ao seu sistema
e não recebe nada. O sol não reúne nada "nos
pólos", que estão sempre livres mesmo das
famosas "chamas vermelhas" em todo
momento e não somente durante os eclipses.
Como é que, com os seus poderosos
telescópios, falharam em notar tais
"agrupamentos", pois que as suas lentes
mostram-lhes mesmo as "nuvens
superlativamente fugazes" na fotosfera? Nada
pode alcançar o sol fora dos limites de seu
próprio sistema na forma de material tão
grosseiro como "gazes atenuados". Cada
partícula de matéria, em todos os seus sete
estados, é necessária à vitalidade dos vários e
inumeráveis sistemas: mundos em formação,
sóis despertando de novo para a vida, etc., e
não podem ceder nenhuma partícula, nem
mesmo para os seus melhores e mais
próximos vizinhos afins. Esses sistemas são
mães, não madrastas, e não tirariam nem uma
só migalha do alimento dos seus filhos. A teoria
mais recente acerca da energia radiante, que
demonstra que não existe na Natureza tal
coisa, propriamente falando, como luz química
ou raio térmico é a única aproximadamente
correta. Porque, na verdade, não há senão
uma só coisa: energia radiante, que é
inesgotável que não conhece nem aumento
nem diminuição e que prosseguirá em seu
trabalho autogerador até o final do manvântara
Solar. A absorção das forças solares pela terra
é tremenda, mas está demonstrado ou poderia
ser, que esta última recebe apenas 25 por
cento do poder químico desses raios, já que
eles são despojados de 75 por cento durante a
sua passagem vertical através da atmosfera no
momento em que chegam ao limite externo do
"oceano aéreo". E mesmo esses raios perdem
aproximadamente uns 20 por cento da energia
luminosa e térmica, segundo nos dizem. Com
esse dispêndio, qual será, então, o poder
recuperativo do nosso Pai-Mãe Sol? Sim;
chamêmo-lo de "Energia Radiante" se o
quiserdes: nós a chamamos de Vida -
onipenetrante, onipresente, sempre
trabalhando no seu grande laboratório - o SOL.

(13) Nenhum jamais pode ser dado pelos


vossos homens de Ciência, cuja "presunção"
os faz declarar, que só para quem a palavra
magnetismo é um agente "misterioso" pode
supor que o sol é um imenso ímã, ao qual se
deve a produção de luz e calor, sendo, além
disso, a causa das variações magnéticas, tal
como são percebidas na nossa terra. Estão
decididos a ignorar e assim, a rejeitar a teoria
sugerida a eles, por Jenkins da R.A.S.27,
acerca da existência de intensos pólos
magnéticos acima da superfície da terra. Mas
a teoria é, entretanto, correta e um desses
pólos gira ao redor do pólo norte num ciclo
periódico de várias centenas de anos. Halley e
Flamsteed, além de Jenkins, foram os únicos
cientistas que suspeitaram disso . Respondo
de novo à sua pergunta, recordando-vos outra
suposição desacreditada. Jenkins fez o melhor
que pôde há uns três anos, para provar que é
a extremidade norte da agulha da bússola o
verdadeiro pólo norte e não o contrário, como
sustenta a teoria científica corrente. Foi
informado que a localidade em Boothia, onde
Sir James Ross localizou o pólo magnético
norte da terra, era pura imaginação: não está
ali. Se ele (e nós) estamos equivocados, então
a teoria magnética de que os pólos
semelhantes se rechaçam e os opostos se
atraem, deve também ser declarada como
sendo um falácia; dado que, se a ponta norte
da agulha da bússola de inclinação é um pólo
sul, então o fato de apontar para a terra em
Boothia, como chamais, deve ser devido a
atração? E se há algo ali para atraí-la, por que
a agulha em Londres não é atraída, nem para
o solo em Boothia, nem para o centro da Terra?
Como foi corretamente demonstrado, se o pólo
norte da agulha apontava que
perpendicularmente para o solo em Boothia, é
porque simplesmente era repelido pelo
verdadeiro pólo norte magnético, quando Sir J.
Ross ali esteve por volta de meio século atrás.

Não, nossa "Senhorias" nada têm a ver com a


inércia da agulha. Esse fenômeno é devido à
presença de certos metais em fusão nessa
localidade. O aumento de temperatura diminui
a atração magnética e uma temperatura
suficientemente elevada a destrói,
freqüentemente por completo. A temperatura
de que estou falando, e', no caso presente,
mais uma aura, uma emanação, do que algo
que a ciência conheça. É natural que esta
explicação nunca se adaptará ao atual
conhecimento científico. Mas podemos
esperar e ver. Estudai o magnetismo com a
ajuda das doutrinas ocultas, e então, o que
agora parece ser incompreensível, absurdo à
luz da ciência física, se tornará claro.

(14) Devem ser. Nem todos os planetas intra


Mercuriais, nem tampouco aqueles na órbita
de Netuno, já foram descobertos, embora se
suspeita fortemente de sua existência. Nós
sabemos que eles existem e onde se
encontram e existem inumeráveis planetas
"queimados", segundo dizem eles, em
obscurecimento, como nós dizemos; planetas
em formação e não luminosos ainda, etc. Mas,
dizer "nós sabemos" é de escassa utilidade
para a ciência, pois nem os espíritas admitem
o nosso conhecimento. O tasímetro de Edson,
ajustado até o mais alto grau de sensibilidade
e acoplado a um grande telescópio, pode ser
de muita utilidade, uma vez que seja
aperfeiçoado. Quando usado desse modo, o
"tasímetro" permitirá a possibilidade, não só de
medir o calor das mais remotas estrelas visível,
mas também de descobrir, por suas radiações
invisíveis, estrelas que não são vistas e
impossíves de descobrir, de oura maneira e,
por conseguinte, descobrir também planetas.
O descobridor um M.S.T. (membro da
Sociedade Teosófica) muito protegido por M.
pensa que, se em algum lugar vazio do
Universo (um espaço que aparece vazio,
mesmo através de um telescópio do mais alto
alcance), o tasímetro indica um aumento de
temperatura e o faz invariavelmente, isso seria
uma prova convincente de que o instrumento
está dentro da influência do corpo estelar, seja
este obscuro ou tão distante que se situa fora
do alcance do telescópio. O seu "tasímetro",
diz ele, é afetado por uma faixa mais vasta de
ondulações elétricas do que as que podem
afetar o nosso olho. A ciência ouvir;a sons
provindos de certos planetas antes que os
veja. Isto é uma profecia. infelizmente eu não
sou um planeta nem sequer um "planetário".
De outro modo, eu vos aconselharia a
conseguir um tasímetro com ele (Edson),
poupando-me assim, o trabalho de ter que vos
escrever. Procuraria, então, ficar sintonizado
convosco.

(15) Não, bom amigo; não sou tão indiscreto


assim, simplesmente deixei-vos entregue às
vossas próprias recordações. Toda criatura
mortal, mesmo a menos favorecida pela sorte,
experimenta tais momentos de relativa
felicidade em algum período de sua vida.
Porque não convosco?

Sim, eu me referia à uma quantidade X.

(16) Essa é uma crença amplamente difundida


entre os Hindús de que o estado pré-natal e o
nascimento futuros de uma pessoa são
moldados pelo último desejo que tenha tido no
momento da morte. Mas, este último desejo,
eles dizem, depende necessariamente da
forma que a pessoa deu aos seus desejos,
paixões, etc. durante a sua vida passada. É por
esta mesma razão, isto é, que o nosso último
desejo pode não ser desfavorável ao nosso
futuro progresso, que devemos vigiar nossas
ações e controlar nossas paixões e desejos ao
longo de toda a nossa carreira terrena.

(17) Não pode ser de outra maneira. A


experiência dos moribundos (por afogamento
ou por outros acidentes) e que voltaram à vida,
corroboraram a nossa doutrina em quase todos
os casos. tais pensamentos são involuntários e
nosso controle sobre eles é tanto quanto o que
temos sobre a retina do olho ao querer impedir
que perceba a côr que mais a afeta. No último
momento, toda a vida se reflete em nossa
memória, e emerge de todos os escaninhos e
recantos esquecidos, quadro após quadro,
acontecimento após acontecimento. O cérebro
moribundo desaloja a memória com um forte
impulso supremo e a memória devolve, com
fidelidade absoluta, cada uma das impressões
que lhe foram confiadas durante o período da
atividade cerebral. Aquela impressão e
pensamento que foram mais poderosos, se
tornam naturalmente os mais vívidos, e
sobrevivem por assim dizer, a todo o resto que
agora se desvanece e desaparece para
sempre, para reaparecer unicamente no
Devachan29. Nenhum homem morre insano
ou inconsciente, como asseguram alguns
fisiólogos. Mesmo um louco ou alguém num
ataque de delirium tremens, terá o seu instante
de perfeita lucidez no momento da morte,
ainda que seja incapaz de manifestá-lo aos
presentes. O homem pode muitas vezes
parecer que está morto. Entretanto, desde a
sua última pulsação, desde e entre a última
batida de seu coração e o momento quando a
última partícula de calor animal deixa o corpo -
o cérebro pensa e o Ego revive nesses breves
segundos toda a sua vida . Falai em voz baixa,
vós que estais juntos a um leito de morte, e
estais diante da solene presença da Morte. Em
especial, deveis manter-vos silenciosos
justamente depois que a Morte tenha colocado
a sua viscosa mão sobre o corpo. Falai em
sussurros, eu vos digo; do contrário, ireis
perturbar a calma onda de pensamento e
dificultareis o afanoso trabalho do Passado
vertendo os seus reflexos sobre o Véu do
Futuro.

(18) Sim; a "plena" recordação de nossas vidas


(vidas coletivas) retornará no final de todas as
Sete Rondas, no umbral do longo, muito longo
Nirvana que nos espera depois que deixemos
o globo Z30. Ao final das Rondas isoladas,
recordamos somente a soma total de nossas
últimas impressões, aquelas que havíamos
selecionado ou, por outra que deixaram uma
forte impressão em nós e nos seguirão no
Devachan. Essas todas são vidas probatórias
com grandes indulgências e novas provas que
se nos apresentam em cada nova vida. Mas,
ao fim do ciclo menor, depois de completar
todas as sete Rondas, não nos espera outra
graça, senão a taça das boas ações,
meritórias, superando a das não ações,
demeritórias, na balança da Justiça
Retributiva. Mau, irreparavelmente mau, deve
ser aquele Ego que não colhe nem um
fragmento do seu Quinto Princípio e deve ser
aniquilado, para desaparecer na Oitava Esfera.
Um fragmento, como eu digo, coletado do Ego
Pessoal, é suficiente para salvá-lo do funesto
Destino. Mas isso, após o término de um
grande ciclo: seja um longo Nirvana de Bem-
aventurança (inconsciente que ele possa ser,
de acordo com os vossos conceitos
grosseiros); e depois, a vida como um Dhyan
Chohan durante todo o Manvântara, ou então
"Avitchi Nirvana" e um Manvântara de miséria
e horror como um...31 não deveis portanto
ouvir a palavra nem eu pronunciá-la ou
escrevê-la. Mas "esses" não têm nada a ver
com os mortais, que passam através de sete
esferas. O Karma coletivo de um futuro
Planetário é tão deleitoso como terrível é o
Karma coletivo de um...! Basta! Já disse
demasiado.

(19) Verdadeiramente certo. Até que a luta


entre a duada superior e média começa - (com
exceção dos suicidas que não estão mortos,
pois somente mataram a sua triada física, e
cujos Elementais parasitas, portanto, não
estão naturalmente separados do Ego como
ocorre na morte real) - até que essa luta, digo,
tenha começado e terminado, nenhum cascão
pode compreender a sua condição. Quando os
princípios Sexto e Sétimo tenham partido,
levando consigo as porções mais finas do que
foi anteriormente a consciência pessoal do
Quinto, só então começa o cascão a
desenvolver uma espécie de nebulosa
consciência própria com base no que
permanece na sombra da personalidade. Não
há contradição alguma aqui, meu querido
amigo; somente nebulosidade em vossas
próprias percepções.

(20) Tudo o que pertence aos atributos e


sensações materiais e psicológicas das cinco
skandhas2 inferiores; tudo aquilo que será
descartado como escória pelo Ego recém
nascido no Devachan, por ser indigna de e não
suficientemente relacionada com as
percepções, emoções e sentimentos
puramente espirituais do Sexto, reforçadas, e
por assim dizer, unida à uma porção do Quinto,
essa porção que é necessária no Devachan
para a retenção de um conceito divino e
espiritualizado do "Eu" na Mônada (a qual, não
sendo assim, careceria de todo da consciência
em relação ao objeto e ao sujeito) tudo isso "se
extingue para sempre"3, isto é, no momento da
morte física para retornar, uma vez mais,
desfilando diante dos olhos do novo Ego no
limiar do Devachan, e para ser rechaçado por
Ele. Retornará pela terceira vez e em forma
completa após o término das sete Rondas,
quando é pesada a soma total das existências
coletivas: o "mérito" em um dos pratos e o
"demérito" no outro prato da balança. Mas
naquele indivíduo, no Ego "bom, mau, ou
indiferente", na personalidade isolada, a
consciência se afasta subitamente como "a
chama deixa o pavio". Soprai vossa vela, meu
bom amigo. A chama deixou essa vela "para
sempre", mas foram dispersas ou aniquiladas
a partículas que em seu movimento
produziram a chama objetiva? Nunca. Voltai a
acender a vela e as mesmas partículas
atraídas por mútua afinidade retornarão ao
pavio. Colocai uma longa fileira de velas sobre
a vossa mesa. Acendei uma e apagai-a;
acendei a outra e façai o mesmo; o logo a uma
terceira e uma quarta, e assim por diante. A
mesma matéria, as mesmas partículas
gasosas (representando em nosso caso, o
Karma da personalidade), serão atraídas pelas
condições dadas pelo seu fósforo para produzir
uma nova luminosidade; mas podemos dizer
que a vela nº.1 não teve a sua chama extinta
para sempre? Nem mesmo no caso dos
"fracassos da natureza", da imediata
reencarnação de crianças e idiotas congênitos,
etc., que provocou tanta ira em C.C.M.34,
podemos chamá-las de ex-personalidades
idênticas; embora a totalidade do mesmo
princípio vital e, identicamente, o mesmo
MANAS (quinto princípio) volta a entrar num
novo corpo e pode verdadeiramente ser
chamado "uma reencarnação da
personalidade" - enquanto que no
renascimento dos Egos procedentes de
devachans e avitchis para a vida kármica, são
somente os atributos espirituais da Mônada e
seu Buddhi que renascem. Tudo o que
podemos dizer dos "fracassos" reencarnados
é, que eles são o Manas reencarnado, o quinto
princípio do Sr. Smith ou Miss Grey, mas não
podemos dizer que sejam as reencarnações do
senhor S. ou da senhorita G. portanto, a
explicação clara e concisa (embora talvez
menos literária caso a fizésseis) dada a C.C.M.
no "O Teosofista" em resposta ao seu malévolo
ataque em "Light", não somente é correta, mas
também é sincera; e tanto vós como C.C.M.
foram injustos com Upasika e mesmo comigo,
que disse a ela o que devia escrever; pois vós
mesmo interpretastes mal o meu clamor e
lamento ante as explicações confusas e
tortuosas em Isis (e que por serem incompletas
ninguém a não ser nós, seus inspiradores,
somos responsáveis), e a minha queixa de
que, tendo tido que exercer todo o meu
engenho para tornar o assunto claro, isto foi
considerado como uma confissão de
perspicácia, no sentido de astúcia e artifício,
quando que procurei, sinceramente e com
simplicidade (o que é difícil) remediar e
esclarecer a má interpretação. Não sei de algo,
desde o início de nossa correspondência, que
tenha desgostado mais o Chohan! Mas
esquecemos o assunto. Mas, qual é, então, a
"natureza da recordação e da auto-consciência
do cascão"?, perguntais. Como já disse em
vossa nota: não é nada mais que uma luz
refletida ou emprestada. A "memória" é uma
coisa e "as faculdades perceptivas" algo muito
distinto. Um louco pode recordar muito
claramente algumas partes da sua vida
passada e, no entanto, é incapaz de perceber
qualquer coisa em seu verdadeiro aspecto,
porque a parte superior de seu Manas e do seu
Buddhi estão paralisadas, nele, abandonaram-
no. Se um animal, por exemplo, um cão,
pudesse falar, iria vos provar que a sua
memória, em relação direta com a sua
personalidade canina, é tão fresca como a
vossa; apesar disso, a sua memória e instinto
não podem ser chamados de "faculdades
perceptivas". Um cão recorda que o seu dono
o castigou quando este segura uma vara; em
qualquer outro momento não recorda o fato.
Assim ocorre também com um cascão; uma
vez que se encontra dentro da aura de um
médium, perceberá claramente tudo o que
recebe através dos órgãos que tomou
emprestados do médium e daqueles que se
encontram em simpatia magnética com este;
mas nada mais do que o cascão possa
encontrar nas faculdades de percepção e nas
memórias do círculo e do médium; daí nascem
as respostas com freqüência muito racionais e
às vezes altamente inteligentes; daí, também,
o completo esquecimento das coisas
conhecidas apenas pelo médium e o seu
círculo. O cascão de um homem altamente
erudito e inteligente, mas completamente
desprovido de espiritualidade, que morreu de
morte natural, perdurará por mais tempo, e
sendo ajudado pela sombra se sua própria
memória (essa sombra que é o refugo do sexto
princípio deixado no quinto - ele pode fazer
discursos através de oradores em transe e
repetir como um papagaio aquilo que ele sabia
e pensava assiduamente durante o seu
período de vida. Mas encontrem-me um só
caso nos anais do espiritismo, onde um
cascão, que retorna - de um Faraday ou de um
Brewster (pois mesmo esses caíram na
armadilha da atração mediúnica), disse uma
palavra a mais do que as que sabia durante a
sua vida. Onde está o Cascão científico que já
deu evidência do que reafirmou em favor do
"espírito desencarnado", ou seja: que uma
alma livre, o espírito liberado dos
impedimentos de seu corpo, percebe e vê
aquilo que está oculto aos olhos dos viventes
mortais? Desafiai sem medo os espíritas, eu
digo! Desafiai os vossos melhores e mais
confiáveis médiuns, aos que inspiram maior
confiança (a Staiton Moses, por exemplo) para
vos dar, através desse elevado e
desencarnado cascão que ele toma
equivocadamente como sendo o "Imperator"
dos primeiros tempos da sua mediunidade,
para vos contar o que mantendes escondido na
vossa caixa, se é que S.M. não sabe desse
conteúdo; ou que repita para vós uma linha de
um manuscrito sânscrito desconhecido para o
seu médium, ou qualquer outra coisa
semelhante. Pro Pudore!36 Eles se chamam
de Espíritos? Espíritos com recordações
pessoais? Como também chamam de
recordações pessoais as frases gritadas por
um papagaio. Por que não pedis a C.C.M. para
testar à +? Porque não tranqüilizar a sua mente
e a vossa, sugerindo a ele que peça a um
amigo ou conhecido, que seja desconhecido
de S.M., que escolha algum objeto cuja
natureza permaneça, por sua vez
desconhecido para C.C.M. e, então, ver + será
capaz de identificar esse objeto - algo que é
possível, mesmo para um bom clarividente.
Deixai que o espírito de Zollner (agora que se
encontra na "Quarta dimensão do espaço" e
que já apareceu diante de vários médiuns) lhes
diga a última palavra de sua descoberta, que
complete a sua filosofia astrofísica. Não;
quando Zollner está palestrando por intermédio
de um médium inteligente, rodeado de pessoas
que já leram as sus obras e estão interessadas
nelas, repetirá em vários tons o que já é
conhecido para outros (muito provavelmente
não repetirá nem mesmo aquilo que só ele
conheceu), e o público crédulo e ignorante
confundirá o post hoc com o propter hoc e
ficará firmemente convencido da identidade do
Espírito. Na verdade, valeria a pena que
estimulásseis a investigação nessa direção.
Sim; a consciência pessoal abandona a todos
na morte, e ainda quando o centro da memória
é restabelecido no cascão, este recordará a
falará das suas recordações, mas através do
cérebro de algum ser humano vivo. Por
conseguinte...

(21) ... Possui uma recordação mais ou menos


completa, mas nebulosa, de sua personalidade
e de sua vida puramente física. Como nos
casos de loucura completa, a separação final
das duas duadas superiores (7ª. e 6ª., e 5ª. e
4ª.) no momento em que a primeira entra em
elaboração, cava um abismo intransponível
entre as duas. Nem mesmo uma porção do
Quinto é carregada, menos do que os 2 e 1/2
Princípios, como o Senhor Hume enuncia
cruamente em seus Fragmentos, é que vão
para o Devachan, deixando para trás só 1 1/2
Princípios. Manas, despojado de seus mais
finos atributos, se torna como uma flor da qual
se afastou, de repente, todo o perfume, uma
rosa esmagada, da qual se extraiu todo o seu
óleo com o propósito de fabricar um perfume;
o que é deixado para trás é apenas o cheiro de
uma planta decompondo-se, da terra e
decomposição.

(a) A segunda pergunta está suficientemente


respondida, - creio. (Seu segundo parágrafo).
O Ego Espiritual continua desenvolvendo
personalidades, nas quais "o sentido da
identidade" é muito completo enquanto
viverem. Depois da sua separação do Ego
físico, esse sentido se faz muito nebuloso e
pertence por completo às recordações do
homem físico. O cascão pode ser um perfeito
Sinnett quando está completamente
introvertido no seu jogo de cartas em seu
clube, perdendo e ganhando grandes somas
de dinheiro; ou como Babu Smut Murky Dass,
tratando de roubar do seu chefe uma certa
quantidade de rúpias. Em ambos casos (o ex-
editor e Babu), como cascões, passarão a idéia
de que alguém terá o privilégio de desfrutar de
uma hora de conversa com os ilustres anjos
desencarnados, mais do que aos internos de
um manicômio a quem é permitido tomar parte
em representações teatrais como meio de
recreação higiênica,não tanto como os
Césares e Hamlets que eles tratam de
representar. E o menor choque os tirará do
equilíbrio e os tornará completamente.

(b) Um erro. A.P. Sinnett NÃO é "uma invenção


completamente NOVA". É filho e criação do
seu pessoal antecedente, a progênie
KÁRMICA, até onde saiba, de NONIUS
ASPREMA, consul do Imperador Domiciano,
(94 D.C.) junto com ARRICINIUS
CLEMENTUS8 e amigo do Flamen Dialis
dessa época (o alto sacerdote de Júpiter e
chefe do Flaminis), ou do mesmo Flamen, o
que explicaria o repentino amor desenvolvido
por A.P. Sinnett pelo misticismo. A.P.S. o
amigo e irmão de K.H. irá ao Devachan; e
A.P.S. o Editor e jogador de tênis, o Don Juan
de uma maneira suave, nos florescentes dias
de "Santos, Pecadores e Cenários",
identificando-se a si mesmo com a menção de
uma verruga ou de uma cicatriz, geralmente
coberta pela roupa, estará, talvez, abusando
dos Babus, através de um médium, para algum
velho amigo na Califórnia ou em Londres.

(c) Encontrará "bastante material decente" e de


sobra. Alguns anos de Teosofia o fornecerá.

(d) Definido correta e perfeitamente.

(e) Tanto quanto há da personalidade, (o


reflexo de A.P.S. no espelho do verdadeiro
A.P.S. vivo.

(f) O Ego Espiritual não pensará de A.P.S. o


cascão, mais do que pensaria da última roupa
que vestiu; nem tampouco será consciente de
que a individualidade se foi, pois que a única
individualidade e personalidade Espiritual que
então contemplará estará unicamente nele
próprio. "Nosce te ipsum" é um mandamento
direto do oráculo para a Mônada Espiritual no
Devachan e a "heresia da individualidade" é
uma doutrina propagada pelo Tathaghata com
relação ao Cascão. O último, cuja vaidade é
tão notória como a do médium, quando se
recorde de que é A.P.S. repetirá: "Claro, sem
dúvida, passe-me alguns desses pêssegos em
conserva que eu devorei com tanto apetite na
primeira refeição, e um copo de clarete!" e
depois disso quem conheceu A.P.S. em
Allahabad ousará duvidar de sua identidade? E
quando for deixado só por um curto instante,
devido à alguma confusão no círculo, ou se o
pensamento do médium vagueia por um
momento para outra pessoa, esse cascão
começará a titubear em seus pensamentos
sobre se é verdadeiramente A.P.S. ou S.
Wheeler, ou Ratingan, para terminar por
assegurar a si mesmo que é Júlio César; e (g)
finalmente "permanecendo dormindo".

(h) Não; não é consciente desta perda de


coesão. Além disso, sendo essa sensação por
completo inútil em um cascão para os
propósitos da natureza, ele dificilmente poderia
compreender algo que jamais pudesse mesmo
ser sonhado por um médium ou pelas pessoas
chegadas a este. Ele é vagamente consciente
de sua própria morte física (ainda que somente
depois de um prolongado período de tempo) e
isso é tudo.

As poucas exceções a esta regra (os casos


dos feiticeiros que obtiveram êxito parcial, ou
de pessoas muito más, apegadas com paixão
ao seu Eu) oferecem um verdadeiro perigo
para os vivos. Esses cascões extremamente
materializados, cujo último pensamento foi Eu,
só Eu; viver e viver! o sentirão instintiva e
freqüentemente. E assim também, alguns
suicidas, ainda nem todos. O que então
acontece é terrível, pois se tornam um caso de
licantropia post mortem. O cascão se aderirá
tão tenazmente a sua aparência de vida, que
buscará refúgio em um novo organismo em
qualquer animal: num cão, uma hiena, num
pássaro, quando não encontre um organismo
humano disponível, em vez de se submeter à
aniquilação.

(22) Uma questão que não tenho o direito de


responder.

(23) Marte1 e quatro outros planetas dos quais


a astronomia ainda não sabe. Nem A, B, nem
Y, Z, são conhecidos, nem podem ser vistos
por meios físicos, por mais perfeitos que
sejam.

(24) Decididamente, não. Nem mesmo um


Dhyan Chohan das categorias inferiores
poderia aproximar-se dele sem que o seu
corpo fosse consumido, ou melhor, aniquilado.
Só os mais elevados "Planetários" podem
examiná-lo. (b) Não, amenos que o chamemos
de vértice de um ângulo. Mas é o vértice de
todas as "cadeias", coletivamente. Todos nós,
moradores das cadeias, temos que evoluir,
viver e percorrer todos os degraus da escala,
na mais elevada e última das cadeias
setenárias (na escala da perfeição) antes que
o Pralaya Solar faça desaparecer com um
sopro o nosso pequeno sistema.

(25 e 26) ... "em cujo caso o seu sexto" - sexto


se refere aos Princípios Sexto e Sétimo, não
ao Quinto, pois o manas deverá permanecer
em cascão em cada caso; somente que neste
caso não terá tempo para visitar médiuns, pois
começa a afundar quase imediatamente para a
oitava esfera. "Então e ali", considerado do
ponto de vista da eternidade, pode ser um
período muito longo. Significa apenas que a
Mônada, não tendo corpo Kármico que guie o
seu renascimento, cai, por um certo período,
no não-ser, e então reencarna, certamente não
antes de mil ou dois mil anos. Não, não é um
"caso excepcional". Exceto uns poucos casos
excepcionais como o dos nossos iniciados
Teshu-Lamas e os Bodhisatvas, e mais alguns,
nenhuma mônada jamais reencarna antes do
seu ciclo predestinado.

(27) "Como pode ele lançar a confusão"... Se,


em vez de fazerdes hoje algo que tendes de
fazer, o deixardes para amanhã, não será
precisamente isto que, invisível e
imperceptivelmente, a princípio, e no entanto
forçosamente, lance em confusão muitas
coisas, e, nalguns casos, mesmo, baralhe os
destinos de milhões de pessoas, para o bem,
para o mal, ou simplesmente em relação à uma
mudança, talvez não importante em si, mas
ainda assim uma mudança? E quereis dizer
que um assassinato tão inesperado e horrendo
como esse não influiu no destino de milhões?

(28) Aqui estamos novamente. Na verdade,


desde que cometi a tolice de tratar deste tema,
isto é, de por o carro adiante do cavalo, as
minhas noites foram privadas de seu
costumeiro sono! Pelo amor de Deus, tomai em
consideração os seguintes fatos e ponde-os
juntos, se puderdes. (1) as unidades
individuais da humanidade permanecem 100
vezes mais tempo nas esferas transitórias dos
efeitos do que nos globos; (2) os poucos
homens da Quinta Ronda não geram filhos da
Quinta e sim da vossa Quarta Ronda; (3) que
os obscurecimentos não são Pralayas e que
duram numa proporção de 1 a 10, isto é, se um
Anel, ou como o chamemos, o período durante
o qual as sete Raças Raízes devem
desenvolver-se e alcançar o seu último
aparecimento em um globo durante essa
Ronda, dure, digamos, 10 milhões de anos
(naturalmente dura muito mais), então o
"obscurecimento" não durará mais do que um
milhão. Quando nosso globo, depois de haver-
se livrado de seus últimos homens da Quarta
Ronda e de alguns, muito poucos, da Quinta,
cai no sono, durante o período de seu
descanso os homens da Quinta Ronda estarão
descansando, em seus Devachans e lokas2
Espirituais muito mais tempo de qualquer
maneira, do que os "anjos" da Quarta Ronda
nos seus, pois que são muito mais perfeitos.
Uma contradição de um lapsus calami de M.,
segundo Hume. M. escreveu algo que é exato
e, ainda que não seja mais infalível do que eu,
poderia ter-se expressado, mais do que antes,
muito descuidadamente.

"Eu desejo compreender como evoluem as


formas da próxima ronda mais elevada." Amigo
meu, tratai de compreender que estais me
fazendo perguntas que pertencem às
iniciações mais elevadas. Certo que posso vos
dar uma visão geral, mas não me atrevo a fazê-
lo, nem entrarei em detalhes, embora o faria,
se pudesse satisfazer-vos. Não percebeis que,
dentre os mais elevados mistérios este é o
maior?

(a) "Morto", mas para ressuscitar em uma


glória maior. Não está claro o que digo?

(29) Naturalmente que não, pois que não é


destruído, mas, permanece cristalizado, por
assim dizer, em cacto quo. Em cada Ronda há
menos e menos animais, evoluindo os últimos
para formas mais elevadas. Na primeira
Ronda, foram eles os "reis da criação". Durante
a Sétima, os homens terão se tornado Deuses.
e os animais, seres inteligentes. Tirai as
vossas deduções. Começando com a Segunda
Ronda, a evolução prossegue num plano muito
diferente. Tudo está desenvolvido e apenas
tem que prosseguir em sua viagem cíclica e
tornar-se perfeito. É só na Primeira Ronda que
o homem surge de um ser humano no Globo
B, um mineral, uma planta, um animal no
Planeta C. O método muda por completo a
partir da Segunda Ronda; mas aprendi a ser
prudente convosco, e não direi mais nada até
que chegue o momento de fazê-lo. E agora já
tendes um volume: quando o digerireis? De
quantas contradições terei de ser o suspeito
antes que compreendais tudo corretamente?

De qualquer modo sou vosso,

muito sinceramente.

K. H.
Carta Nº 024a

(Do Sr. Sinnett a K.H. Escrita depois de 12 de


Agosto de 18822).

Esta carta dupla foi anexada à Carta nº.84 (veja


notas) e entregue a Sinnett por dois chelas do
Mahatma K.H.: Dharbagiri Nath
(provavelmente Babaji) e Chandra Cusho.

Tanto Hume como Sinnett acusaram o


Mahatma de ser contraditório. O Mahatma K.H.
havia lhes pedido diversas vezes para fazer
uma lista de assuntos em dúvida, porque ele
não tinha tempo para fazer uma pesquisa
retrospectiva em todas as cartas que
escrevera. Sinnett finalmente decidiu-se a fazer
a lista. Mandou-a logo para K.H. e recebeu-a
de volta com os comentários do Mahatma (esta
carta nº.85) em setembro.

A carta nº.85-A consiste dos assuntos listados


por Sinnett. A carta nº.85-B contém as
respostas do Mahatma, mais comentários
sobre alguns outros assuntos. Os números
entre parênteses nas respostas do Mahatma
referem-se àqueles na carta de Sinnett.

AS FAMOSAS CONTRADIÇÕES

Recebida no Outono de 1882.


Espero que me concedeis grande
reconhecimento pela obediência em ter me
esforçado laboriosamente, e contra minha
propensão, para organizar um processo do
demandante em re às supostas contradições.
Como disse em outra parte, estas não me
parecem dignas de muita preocupação, ainda
que no presente deixem nebulosas as minhas
idéias acerca do Devachan e das vítimas de
acidentes. Como não me preocupam, eis
porque, até agora nunca procedi segundo a
vossa sugestão de que deveria tomar notas
sobre elas.

(1)

Hume tem estado propenso a registrar


contradições em algumas cartas referentes à
evolução do homem, mas em conversação
com ele, eu sempre sustentei que não existem
em absoluto contradições - meramente devidas
à uma confusão acerca de rondas e raças -
uma questão de linguagem. Assim ele é levado
a pensar que tivésseis elaborado a filosofia à
medida que prosseguíeis, e saístes das
dificuldades inventando um maior número de
Raças do que aquelas consideradas a
princípio, cuja hipótese eu sempre ridicularizei
como sendo absurda.

(2)

Eu não voltei a copiar aqui as passagens sobre


as vítimas de acidentes, citadas em minha
carta de 12 de Agosto, e que estão em evidente
conflito com as correções nas provas de minha
"Carta sobre Teosofia". Já vos manifestastes a
propósito dessas citações, no verso da minha
carta data de 12 de Agosto:-

(3)

"Posso facilmente compreender que somos


acusados de contradições e incoerências
mesmo, de escrever uma coisa hoje e negá-la
amanhã. Pudésseis apenas saber como
escrevo as minhas cartas e o tempo que me é
possível dedicar a elas, talvez seríeis menos
crítico ou exigente".

(4)

Esta passagem foi a que me induziu a pensar


que algumas das primeiras cartas pudessem
ter sido, elas mesmas, "vítimas de acidentes".
Mas prossigamos no caso do demandante:-

(5)

"Muitos daqueles a quem podeis chamar, se o


quiserdes, de candidatos ao Devachan morrem
e renascem no Kama loka sem qualquer
lembrança... Dificilmente podeis chamar de a
recordação a um sonho vosso, a alguma cena
ou cenas particulares, dentro de cujos estreitos
limites, iríeis encontrar incluídas algumas
poucas pessoas... etc., chamai-a de
recordação pessoal de A.P. Sinnett, se
puderdes." Notas encontradas no verso da
minha carta à Velha Dama.

(6)

"Certamente, o novo Ego, uma vez que


renasceu no Devachan, retém por um certo
tempo, proporcional à sua vida na Terra, "uma
completa recordação da sua vida espiritual na
Terra". Extensa carta sobre o Devachan.

(7)

"Todos aqueles que não escorregaram no


lodaçal do pecado e da bestialidade
irremediáveis, vão para o Devachan", Ibid.

(8)

"É (o Devachan) um paraíso idealizado,


construído em cada caso pelo mesmo Ego e
recheado por ele com um cenário carregado de
episódios e povoado com as pessoas que ele
esperaria encontrar em tal esfera de
compensadora felicidade". Ibid.

(9)
"Nem podemos chamá-lo de recordação plena,
mas somente parcial. X. O amor e ódio são os
únicos sentimentos imortais, os únicos
sobreviventes do naufrágio do Ye-damma ou
mundo fenomenal. Imaginai, então, a vós
mesmos no Devachan, com aqueles que
atastes com tal imortal amor, com as cenas
familiares difusas conectadas com eles como
fundo, e um vazio perfeito para tudo o mais
relacionado com sua vida interior social,
política e literária". Carta anterior: ou seja,
Notas.

(10)

"Desde que a percepção consciente da própria


personalidade na Terra é somente um sonho
evanescente, aquele sentido será igualmente o
de um sonho no Devachan - apenas uma
centena de vezes intensificado". Extensa carta
sobre o Devachan.

(11)

"...um connoisseur (conhecedor) que passa


eons no arrebatado deleite de escutar sinfonias
tocadas por imaginários coros angélicos e
orquestras". Carta longa. Veja (9) X anterior.
Veja minhas 10 e 11 sobre Wagner, etc5.

(12 A)

Dizeis: "Em nenhum caso, com a exceção dos


suicidas e cascões, existe possibilidade
alguma, para qualquer pessoa, de ser atraído
para uma sessão "espírita". Notas.

(12 B)

"Na margem disse raramente, mas não


pronunciei a palavra nunca". Anexo à minha
carta de 12 de Agosto.
Carta Nº 024b

(Recebida em Setembro de 18821)

(APÊNNDICE 1 A)
Nesta etapa de nossa correspondência, mal
compreendidos como geralmente parecemos
ser, mesmo por vós, meu fiel amigo, pode valer
a pena e ser útil para ambos que fiqueis a par
de alguns fatos (muito importantes)
relacionados com o adeptado. Tenha presente,
pois, os seguintes pontos:

1) Um Adepto (tanto o mais elevado como o de


menor grau) o é somente durante o exercício
de seus poderes ocultos.

2) Sempre que tais poderes sejam necessários,


a vontade soberana abre a porta para o homem
interno (o Adepto) que pode emergir e atuar
com liberdade, mas com a condição de que seu
carcereiro (o homem externo), esteja completa
ou parcialmente paralisado, segundo o caso
requeira, seja (a) mentalmente e fisicamente;
(b) mentalmente, - mas não fisicamente; (c)
fisicamente mas não inteiramente
mentalmente; (d) nem um nem outro, mas com
uma película akásica interposta entre o homem
externo e o interno.

(3) O menor exercício de poderes ocultos


requer então, como vereis agora, um esforço.
Podemos compará-la ao esforço muscular de
um atleta preparando-se para usar a sua força
física. Da mesma maneira que não é provável
que um atleta esteja a todo tempo distraindo-se
em dilatar as suas veias como preparação
entes de levantar um peso, tão pouco devemos
supor que um Adepto manterá a sua vontade
em constante tensão e a homem interno em
plena função, quando não houver necessidade
imediata para isso. Quando o homem interno
repousa, o adepto torna-se um homem comum,
limitado aos seus sentidos físicos e às funções
de seu cérebro físico. O hábito aguça as
intuições deste último, mas não é capaz de
torná-las super sensíveis. O Adepto interno
está sempre pronto, sempre alerta, e isso é
suficiente para nossos propósitos. Nos
momentos de descanso pois, suas faculdades
também descansam. Quando me sento para
tomar os meus alimentos, ou quando me visto,
leio ou faço outra coisa, não estou pensando
nem mesmo naqueles próximos de mim; e
Djual Khool pode fraturar o nariz, até sangrar,
ao tropeçar na obscuridade de encontro a uma
coluna, como lhe ocorreu na outra noite
(justamente porque, em vez de criar uma
"película", paralisou totalmente todos os seus
sentidos externos enquanto falava com um
amigo distante) e eu permaneci placidamente
ignorante do fato. Eu não estava pensando
nele, e daí a minha ignorância.

Do que foi dito, podeis deduzir que um Adepto


é um mortal comum em todos os momentos da
sua vida diária, menos quando o homem
interno está atuando.

Una isto com o desagradável fato de que nós


estamos proibidos de usar uma partícula de
nossos poderes em conexão como os Ecléticos
(pelo que deveis agradecer ao vosso
Presidente e somente a ele), e que o pouco que
é feito é, por assim dizer, de contrabando
então, conclua assim:

Quando K.H. nos escreve não é um Adepto.

Um não-Adepto é falível.

Portanto, K.H. pode muito facilmente cometer


enganos.-

Enganos de pontuação - que, com freqüência


mudarão inteiramente todo o sentido de uma
sentença; enganos idiomáticos - muito
passíveis de ocorrer, especialmente quando
escrevo apressadamente como eu faço;
enganos provenientes da ocasional confusão
de termos que tenho de aprender de vós, pois
sois o autor dos termos "Rondas" e "Anéis",
"Anéis terrestres", etc., etc. Ora, em relação a
tudo isto, permitai-me dizer que, depois de ter
lido com muito cuidado, várias vezes, nossas
"famosas contradições", depois de tê-las dado
a M. para ler e, em seguida, a um Adepto
elevado, cujos poderes não são passíveis de
retenção pelo Chohan, o que o impediria de
desperdiçá-los em imerecidos objetivos de sua
predileção pessoal; depois de haver feito tudo
isso, disse-me este último o seguinte: "Tudo
está perfeitamente correto". Conhecendo o que
quereis dizer, não posso encontrar em seus
fragmentos soltos, tanto quanto qualquer
pessoa que conheça a doutrina, nada que
pudesse conflitá-los entre si. Mas, dado que
muitas frases estão incompletas e os temas
dispersos e sem ordem alguma, não me
surpreende que seus "chelas laicos",
encontrem falhas neles. Sim; eles requerem
uma "exposição" mais explicita e clara.

Esta é a sentença de um adepto - e eu estou


sujeito a ele; tentarei completar a informação
para o vosso benefício.

Em um só caso - marcado em vossas páginas


e nas minhas respostas (12A) e (12B), a última,
o "demandante" tem o direito de ser escutado,
mas nem sequer por um quarto de penny, por
danos; dado que na Justiça, ninguém (nem o
demandante nem o defensor) tem o direito de
alegar desconhecimento da lei, do mesmo
modo a Ciência Oculta, os chelas laicos devem
estar obrigados a conceder aos seus gurus o
benefício da dúvida nos casos em que, dada a
grande ignorância daqueles em relação a essa
ciência, estão propensos a interpretar mal o
significado - em vez de acusar os seus gurus
precipitadamente de contradição! Agora, rogo
que seja permitido estabelecer que, com
referência às frases marcadas respectivamente
12A e 12B, existe uma total contradição, mas
para aqueles que não estejam familiarizados
com essa doutrina. Não é esse o vosso caso, e
por isso me declaro "culpado" de uma omissão
mas não culpado de uma contradição. E
mesmo quanto à primeira, essa omissão é tão
pequena que, como a jovem acusada de
infanticídio, ao ser conduzida diante de um juiz,
alegou em sua desculpa que o bebê era tão
pequeno que nem valia a pena chamá-lo de
"bebê", eu podia alegar o mesmo pela minha
omissão, se não tivesse diante dos meus olhos
a sua terrível definição de que eu estava
"demonstrando engenhosidade". Bem, lede a
explicação dada em minhas "Notas e
respostas" e julgai.

A propósito, meu bom irmão; eu não havia


suspeitado até agora que existisse em vós uma
capacidade tal para defender e desculpar o
indesculpável, como demonstrastes em minha
defesa, do agora famoso "exercício de
engenhosidade". Se o artigo (resposta a C.C.
Massey) tivesse sido escrito com o espírito que
me atribuis em vossa carta, e se eu, ou algum
dos nossos tivesse "uma inclinação a tolerar
modos sutis e enganosos para alcançar um
fim", mais do que é admitido em geral como
honrado pelo europeu amante da verdade e
reto (está incluído nesta categoria o Sr.
Hume?), na verdade não teríeis direito algum
de desculpar semelhante modo de proceder,
mesmo em mim, nem de considerá-lo
"meramente como sendo manchas no sol", pois
que uma mancha é uma mancha, quer se
encontre sobre o brilhante astro ou em um
modesto candelabro de bronze. Mas estais
equivocado, meu querido amigo. Não houve
modo sutil ou engenhoso para retirá-la da
dificuldade criada pelo seu estilo ambíguo e sua
ignorância do inglês (não pela ignorância do
tema), o que não é a mesma coisa, e altera por
completo a questão. Tampouco ignorava eu o
fato de que M. vos havia escrito previamente
sobre o assunto, por que foi numa das suas
cartas (a penúltima antes que eu tomasse o
assunto de suas mãos) na qual ele se referiu
pela primeira vez ao tema de "Raças" e falou de
reencarnações. Se M. vos disse que tivésseis
cuidado na aceitação demasiado irrestrita de
Isis, foi porque estava ensinando-vos a verdade
e os fatos e porque na época em que foi escrita
a passagem, não havíamos ainda decidido
ensinar o público em geral. Ele vos deu vários
exemplos (que podereis constatar relendo a
sua carta) acrescentando que se fossem
escritas certas frases desta ou daquela
maneira, explicariam muito melhor certos fatos
que agora apenas se insinuam.

Naturalmente "para C.C.M." a passagem pode


parecer errada e contraditória pois é
"desorientadora", como disse M. Muitos são os
assuntos tratados em Isis que nem mesmo para
H.P.B. foi permitido conhecer completamente;
entretanto, não são contraditórias ainda que
sejam "desorientadoras". Obrigá-la a dizer -
como eu fiz - que a passagem criticada era
"incompleta, caótica, vaga, desajeitada... como
muitas outras passagens nesse livro", foi uma
admissão suficientemente "franca", me parece,
para satisfazer ao crítico mais exigente. Admitir,
por outro lado, "que a passagem era incorreta"
teria sido idêntico a uma mentira inútil, pois eu
sustento que não é incorreta, pois se oculta
parte da verdade, não a desfigura nos
fragmentos daquela verdade, tal como foi dada
em Isis. O ponto principal da critica de C.C.M.
não era que toda a verdade não tinha sido
dada, mas que a verdade e os fatos de 1877
eram considerados como sendo erros e
contraditados em 1882; de que esse ponto
(prejudicial para toda Sociedade Teosófica,
para os seus chelas "laicos" e internos e para a
nossa doutrina) tinha de ser mostrado sob as
suas verdadeiras cores, ou seja: um conceito
errôneo por completo, devido ao fato de que a
doutrina "setenária" não havia sido ainda
divulgada no mundo na época em que Isis foi
escrita. E assim foi mostrado. Lamento que não
considerais a sua resposta, escrita sob a minha
inspiração direta, "muito satisfatória" porque
isso só me prova que até o presente não
compreendestes muito firmemente a diferença
entre os princípios Sexto e Sétimo, e o Quinto,
ou seja a Mônada Imortal, e o Ego astral ou
pessoal. A suspeita é corroborada com o que
expões H-X5b em sua crítica de minha
explicação no final de sua "carta" no número de
setembro e a vossa carta que tenho diante de
mim, completa a evidência disso. Não há
dúvida de que o "o verdadeiro Ego é inerente
aos princípios superiores que são
reencarnados" periodicamente a cada um, dois
ou três mil anos ou mais. Mas o Ego imortal, a
"Mônada Individual", não é a mônada pessoal,
que é o Quinto; e o trecho de Isis não
respondeu aos reencarnacionistas orientais,
que sustentam nessa mesma Isis (se ao menos
tivésseis lido até o final) que a individualidade
ou o "Ego" imortal, tem que reaparecer em cada
ciclo, mas aos Ocidentais, especialmente os
reencarnacionistas franceses, que ensinam
que é a mônada pessoal ou astral, o "moi
fluidique", o manas, ou mente intelectual, o
Quinto Princípio, em resumo, que reencarna
cada vez. Assim se lerdes, uma vez mais a
passagem que C.C.M. cita de Isis e o comparar
com o "Crítico do Caminho Perfeito", talvez
constatareis que eu e H.P.B. estávamos
perfeitamente corretos ao manter que a
passagem acima se refere à "mônada astral". E
há um "choque muito mais insatisfatório" para a
minha mente ao ver que recusais reconhecer
na mônada astral o Ego pessoal (enquanto que
todos nós a denominamos por esse nome, e
assim a temos chamado por milênios) do que
aquele que experimentaríeis ao vos encontrar
com essa mônada, sob o seu próprio nome, no
"Fragmento sobre a morte", de E. Levi.

A "mônada astral" é o "Ego pessoal" e,


portanto, nunca reencarna como os espíritas
franceses querem, salvo em "circunstâncias
excepcionais"; nesse caso, reencarnado, não
se converte num cascão; mas se tem êxito em
sua segunda reencarnação, irá se tornar um
cascão e, então gradualmente, perderá a sua
personalidade depois de ser, por assim dizer,
esvaziado dos seus melhores e mais elevados
atributos pela mônada imortal ou o "Ego
Espiritual", durante a última e suprema luta. A
"discordância dos sentimentos" deveria pois,
ser sentida mais por minha parte, já que na
verdade "pareceu ser outro exemplo da
diferença entre os métodos oriental e
ocidental": mas não foi assim, pelo menos
neste caso. Posso com facilidade
compreender, meu querido amigo, que na
desalentadora circunstância em que vos
encontrais (mentalmente) estais disposto a
aquecer-vos mesmo nos raios de uma pira
funerária sobre a qual se estivesse executado
um sutti vivente; mas por que, por que chamá-
lo de Sol e desculpar a sua mancha - o
cadáver?

A carta dirigida a mim, e que a vossa delicadeza


não vos permitiu ler, era para que a
examinásseis e por isso vos foi enviada. eu
desejava que a tivésseis lido.

A sua sugestão referente à próxima prova de


D.K.10 na arte, é hábil, mas não o suficiente
para ocultar as surdas ameaças da negra
insinuação dos jesuítas. D.K. sem embargo
caiu na armadilha. "Nous verrons, nous
verrons!", diz a canção francesa.

Disse D. Khool (ao mesmo tempo que


apresenta as suas mais humildes reverências
(salaams) que "descrevestes de uma maneira
incorreta o curso dos acontecimentos no que se
refere ao primeiro retrato". O que ele diz é o
seguinte: (1) "o dia em que ela veio", ela não
vos pediu que lhe desse um pedaço de "etc.
(página 300) mas, depois que começastes a
falar para ela do meu retrato, que ela duvidou
muito que pudésseis obter. Foi somente depois
de ter conversado durante meia hora no salão
de visitas da frente - vós dois formavam os
pontos superiores do triângulo, próximo à porta
do vosso escritório, e a vossa senhora o inferior
- (ele disse que ali estava) que ela disse que
tentaria. Foi então quando vos pediu "um
pedaço de papel branco grosso, e que lhe
destes um pedaço de papel fino que já havia
sido tocado por uma pessoa muito anti-
magnética. Entretanto ele fez o melhor que
pôde. No dia seguinte, e tendo a Sra. S. olhado
exatamente uns 27 minutos antes do seu
término, ele realizou a sua tarefa. Não foi "uma
hora ou duas antes" como dizeis, pois ele tinha
dito à Velha Dama (H.P.B.), que lhe permitiria
vê-lo exatamente antes do café da manhã.
Depois do café ela vos pediu um pedaço de
cartão bristol (cartolina), e lhe destes dois
pedaços, ambos marcados e não somente um,
como dizeis. A primeira vez que ela tentou foi
um fracasso, diz ele, pois a sobrancelha
parecia uma sanguessuga, e só foi terminado
ao entardecer, enquanto estáveis no Club, em
um jantar ao qual a anciã Upasika não quis ir.
E foi de novo ele, D.K., o "grande artista" que
teve que remendar a "sanguessuga" e corrigir o
turbante e as feições e que fez com que o
desenho "parecesse com o Mestre" (ele insiste
em me dar esse título, embora na realidade ele
não seja mais meu chela), já que M., depois de
deixar que ele se perdesse, não quis ter o
trabalho de corrigí-lo e, preferiu ir dormir. E
finalmente, ele me contou, apesar de eu caçoar
o retrato, a semelhança é boa, mas teria sido
melhor se o sahib M. não o tivesse
importunado, e ele, D.K., pudesse ter seguido
os seus próprios impulsos "artísticos": Este é o
seu relato e ele, portanto, não está satisfeito
com a vossa descrição e isso ele manifestou a
Upasika, que vos contou algo completamente
diferente. Agora, as minhas notas.

(1)

Elas não me molestam particularmente. Mas


como elas fornecem ao nosso mútuo amigo,
uma boa arma contra nós, que ele é capaz de
usar, qualquer dia, naquele modo desagradável
que lhe é particularmente peculiar, prefiro
explicá-las uma vez mais, com a vossa
bondosa permissão.

(2)

Naturalmente, naturalmente; é a nossa maneira


usual de sair das dificuldades. Tendo
"inventado" a nós mesmos, nós
recompensamos os inventores, inventando
raças imaginárias. Há muitas coisas mais de
cuja invenção nos acusam. Bem, bem, bem: de
qualquer modo, há uma coisa da qual não nos
acusarão jamais de ter inventado, e essa é o
próprio senhor Hume. Inventar algo similar a ele
transcende os mais elevados poderes de Siddhi
que conhecemos.

E agora, meu bom amigo, antes que


prossigamos, rogo que leias o apêndice Nº.(A).
Já é tempo de nos conhecer tal como somos.
Apenas, como prova para vós, senão para ele,
que nós não inventamos essas Raças, revelarei
para o vosso benefício que nunca foi exposto
até agora. Vou esplicar-vos todo um capítulo do
livro de Rhys Davids sobre o Budismo, ou
melhor sobre o Lamaísmo, o que, em sua
natural ignorância, considera como sendo uma
corrupção do Budismo! Já que aqueles
senhores, os orientalistas, pretendem dar ao
mundo suas soi-disant traduções e comentários
de nossos livros sagrados, deixemos que os
teósofos revelem a grande ignorância desses
pandits "mundanos", apresentando ao público
as verdadeiras doutrinas e explicações do que
eles consideram ser uma teoria absurda e
fantástica.

(3)

E porque eu admito a inconsistências


superficial ou evidente (e isso somente no caso
de alguém como vós, que desconhece por
completo as nossas doutrinas), é essa uma
razão para que sejam consideradas na
realidade, contraditórias? Suponhamos que eu
tivesse escrito em uma carta anterior: "a lua não
tem atmosfera" e continuasse falando de outras
coisas, e logo dissesse numa outra carta "pois
a lua tem uma atmosfera própria", etc., não há
dúvida que seria acusado de dizer hoje negro e
amanhã branco. Mas, onde poderia um
Kabalista ver contradição nas duas frases?
Posso-vos assegurar que não veria, porque um
Kabalista que sabe que a lua não tem
atmosfera que corresponda de alguma maneira
a da nossa terra, e sim que tem uma própria,
inteiramente diferente da que vossos homens
de ciência chamariam de atmosfera, sabe
também que, da mesma maneira que os
ocidentais, nós, orientais, em especial os
ocultistas, possuímos os nossos próprios
modos de expressão que são tão claros para
nós, em seu significado implícito, assim como
são os vossos. Suponhamos que viesse a vós
a idéia de ensinar astronomia ao vosso
servente. Dizei-lhe hoje - "veja, quão
gloriosamente o sol está se pondo; veja com
que rapidez ele se move, como se levanta e se
põe", etc., e tratai amanhã de fixar em sua
mente que o sol está comparativamente imóvel
e que é somente a nossa terra que perde de
vista e logo volta a alcançar a visão do sol em
seu movimento diurno; e eu aposto dez contra
um que, se o vosso aluno possui alguma
inteligência, vos acusará de contradizer-se
rotundamente. Seria isto uma prova que
ignorais o sistema heliocêntrico? E poderíeis
ser acusado com alguma justiça de "escrever
uma coisa hoje e negá-la amanhã", embora o
vosso sentido do que é justo vos levaria a
admitir que "podeis compreender facilmente" o
porque da acusação?
Escrevendo, pois, as minhas cartas como o
faço, algumas linhas agora e umas poucas
palavras duas horas depois; tendo que voltar a
pegar o fio do mesmo assunto, talvez com uma
dúzia ou mais de interrupções entre o começo
e o fim, não vos posso prometer nada
semelhante à exatidão ocidental. Ergo a única
"vítima de acidentes", neste caso, sou eu. O
inocente interrogatório a que me estais
submetendo e ao qual não faço objeção alguma
(e a intenção positivamente predeterminada, da
parte do senhor Hume, de pegar-me em pleno
deslize sempre que possa), um procedimento
considerado altamente legal e honesto na lei
ocidental, mas que nós, os selvagens asiáticos,
objetamos muito enfaticamente, tudo isso deu
aos meus colegas e Irmãos uma alta opinião de
minha propensão ao martírio. Na opinião deles,
eu me converti em algo assim como um Simão
Estilita indo-tibetano. Capturado pela cilada
inferior do ponto de interrogação de Simla e
atravessado nele, me vejo obrigado a me
equilibrar no ápice do semicírculo, com medo
de resvalar e cair a cada movimento que faça
para frente ou para trás. Esta é a atual posição
de seu humilde amigo. Desde o instante em
que empreendi a extraordinária tarefa de
ensinar dois discípulos adultos, com cérebros
em que os métodos da ciência ocidental se
cristalizaram durante anos; um dos quais está
desejoso de abrir caminho para o novo
ensinamento iconoclástico, mas que, não
obstante, necessita que seja tratado com
elevado tato, enquanto que o outro não quer
receber nada, salvo com a condição de agrupar
os assuntos tal como ele os quer agrupá-los,
não em sua ordem natural, tendo sido
considerado por todos os nossos Chohans
como um lunático. E me perguntam seriamente,
se a minha primitiva associação com os
"Pelings" ocidentais não me teria convertido
num semi-Peling e também em um "dzing-
dzing" visionário. Já esperava tudo isso. Não
me queixo; só menciono um fato e peço
humildemente que lhe dêem crédito apenas
esperando que não seja tornado, uma vez
mais, como uma maneira sutil e enganosa para
sair de uma nova dificuldade.
(5)

Cada entidade com quatro princípios recém


desencarnada (seja por morte natural, ou
violenta, de suicídio ou acidente sã ou insana,
jovem ou velha, boa ou má ou indiferente)
perde toda a recordação no instante da morte;
é mentalmente aniquilada. Dorme o seu sono
akásico no Kama-Loka. Este estado dura
algumas horas, (raramente muito) dias,
semanas, meses e às vezes até vários anos.
Tudo isso conforme a entidade, e seu estado
mental no momento da morte, a espécie de sua
morte, etc. Essa recordação retornará à
entidade ou Ego, lenta e gradualmente, até o
final da gestação0; em forma ainda mais lenta
e bastante imperfeita e incompleta ao cascão;
e, completamente, ao Ego no momento de sua
entrada no Devachan. E agora, sendo este
último um estado determinado e produzido por
sua vida passada, o Ego não entra nele
subitamente, e sim emerge nele de modo
gradual e por etapas imperceptíveis. Desde o
primeiro alvorecer desse estado, aparece a
vida recém terminada, (ou melhor é revivida
pelo Ego), desde o seu primeiro dia consciente
até o último. Desde os acontecimentos mais
importantes até os mais insignificantes, todos
desenvolvem-se diante do olho espiritual do
Ego; mas, em contraste com os
acontecimentos da vida real, só permanecem
os que são escolhidos pelo novo vivente
(perdoai-me a palavra) que se adere a certas
cenas e atores; esses ficam permanentemente,
enquanto que todos os outros se desvanecem
para desaparecer para sempre ou para retornar
ao seu criador: o cascão. Tratai, pois, de
compreender esta lei tão altamente importante
por ser exatamente justa e retributiva nos seus
efeitos. Nada resta desse passado, que
ressurgiu, a não ser o que o Ego sentiu
espiritualmente (aquilo que se desenvolveu e
viveu por e através de suas faculdades
espirituais) seja o amor ou ódio. Tudo que estou
agora tentando descrever, é na verdade,
indescritível. E assim como nunca dois homens
e nem mesmo duas fotografias da mesma
pessoa se assemelham entre si, linha por linha,
tampouco se assemelham dois estados no
Devachan. A não ser que seja um Adepto, que
pode experimentar tais estados em seu próprio
Devachan periódico, como se pode esperar que
alguém forme uma imagem correta do mesmo?

(6)

Portanto, não existe contradição ao dizer que o


Ego, uma vez renascido no Devachan, "retém
por certo tempo, proporcional à sua vida
terrestre, uma recordação completa de sua vida
(Espiritual) na Terra". De novo aqui a simples
omissão da palavra "Espiritual" produziu a
incompreensão!

(7)

Todos aqueles que não caem na oitava esfera,


vão ao Devachan. Onde está a falha ou a
contradição?

(8)

O Estado do Devachan, eu repito, pode ser


pouco descrito ou explicado, ao se dar uma
minuciosa e gráfica descrição do estado do
nosso ego tomado aleatoriamente, como não
poderiam ser explicadas coletivamente todas
as vidas humanas por meio da descrição da
"Vida de Napoleão ou a de qualquer outro
homem. Há milhões de diferentes estados de
felicidade e de miséria, estados emocionais que
surgem, tanto das faculdades e sentidos físicos
como espirituais, dos quais somente
sobrevivem estes últimos. Um trabalhador
honrado se sentirá diferentemente de um
honesto milionário. O estado da senhorita
Nightingale0-A será consideravelmente distinto
do de uma jovem noiva que falece antes da
consumação daquilo que ela considera ser a
sua felicidade. Os dois primeiros amam as suas
respectivas famílias: a filantropa, a
humanidade; a jovem, ao seu futuro esposo
situado no centro do seu mundo; o melômano,
não conhece outro estado superior ao do
arrebatamento e felicidade da música - a mais
divina e espiritual das artes. O Devachan
absorve desde os seus mais elevados graus
aos mais inferiores por gradações
imperceptíveis; ainda mesmo no último estágio
do Devachan o Ego, com freqüência se
encontrará no estado mais tênue de Avitchi1, o
qual, ao final da "seleção espiritual" dos
acontecimentos, poderá tornar-se num "Avitchi"
bona fide. Recordai: todo sentimento é relativo.
Não existe nem bem nem mal, nem felicidade
nem miséria per se. A bem-aventurança
sublime e evanescente de uma adúltera, que
por seu ato mata a felicidade do esposo, não
tem origem menos espiritual, apesar de sua
natureza criminosa. Caso um remorso de
consciência (que procede sempre do Sexto
Princípio) foi somente uma vez sentido durante
o período de bem-aventurança e de amor
realmente espiritual, nascido no sexto e quinto,
conquanto poluído pelos desejos do quarto, ou
kamarupa - então este remorso deve sobreviver
e acompanhará incessantemente as cenas de
um puro amor. Não necessito entrar em
detalhes, pois como um especialista em
fisiologia, que eu considero que sois,
dificilmente necessitareis que a vossa
imaginação e intuição sejam incitadas por um
observador psicológico de minha categoria.
Procurai nas profundezas de vossa consciência
e memória, e tentai ver quais são as cenas que
têm maiores possibilidades de apoderar de vós
mesmo quando, uma vez mais, em sua
presença achai-vos vivendo-as de novo; e que,
seduzido, terei vos esquecido de tudo o mais,
desta carta, entre outras coisas, pois que, no
curso dos acontecimentos, ela chegará muito
tarde no panorama de sua vida ressuscitada.
Eu não tenho direito de olhar na sua vida
passada. cada vez que tive um vislumbre da
mesma, afastei invariavelmente a minha visão,
porque tenho que lidar somente com o presente
A.P. Sinnett (também e muito mais uma "nova
invenção" do que o ex-A.P.S.) e não com o
homem anterior.

Sim; Amor e Ódio são os únicos sentimentos


imortais; mas as graduações de tons ao longo
das sete vezes sete escalas de todo o teclado
da vida, são inumeráveis. E dado que esses
dois sentimentos (ou, para ser correto, correrei
de novo o risco de ser incompreendido, dizendo
serem esses os dois pólos da "Alma" humana
que é uma unidade?) são os que modelam o
futuro estado do homem, seja para o Devachan
ou para o Avitchi, então a variedade desses
estados deve ser também inesgotável. E isso
nos leva a vossa queixa ou acusação número -

(9)

- pois, tendo eliminado de vossa vida passada


os Ratigans e Reeds que convosco, nunca
transcenderam os limites da parte inferior do
vosso quinto princípio com o seu veículo - o
kama - o que é isso senão a "recordação
parcial" de uma vida? As linhas marcadas com
o vosso lápis mais vermelho foram também
respondidas. Porque, como podeis contestar o
fato de que a música e a harmonia são para um
Wagner, um Paganini, ou o Rei da Bavária e
tantos outros verdadeiros artistas e
melomanos, um objeto do mais profundo amor
e veneração espiritual? Com a vossa
permissão não mudarei uma só palavra na
cláusula 9.

(10)

É uma lástima que não tenhais acompanhado


as vossas citações com comentários pessoais.
Não posso compreender em que sentido fazeis
objeção à palavra "sonho". Naturalmente que
tanto a felicidade como a miséria não passam
de um "sonho" e como são puramente
espirituais, são "intensificados".

(11)

Respondida.

(12A e 12B)

Ao responder às objeções do senhor Hume


(que, após cálculos estatísticos feitos com a
evidente intenção de esmagar nossos
ensinamentos, sustentou que, afinal de contas,
os espíritas estavam certos e que a maioria dos
fantasmas nas sessões eram "Espíritos" -
tivesse eu escrito: "em nenhum caso pois, com
a exceção dos suicidas e cascões" - e aquelas
vítimas de acidentes que morrem tomadas por
alguma absorvente paixão terrestre - "existe
alguma possibilidade para qualquer outro, etc.,
etc...", eu teria sido perfeitamente exato e
pucka como um "professor". E pensar que, tão
disposto como estais para aceitar doutrinas que
contrariam, desde o princípio até o final, alguns
dos mais importantes pontos da ciência física,
tenhais concordado com a sugestão do senhor
Hume, em discutir minúcias a respeito de uma
simples omissão! Meu querido amigo; permitai-
me observar que o simples bom senso deveria
ter-vos sussurrado que alguém que diz um dia:
"em nenhum caso, pois, etc.", e alguns dias
depois nega ter jamais pronunciado a palavra
nunca, não só não é um Adepto, e sim deve
estar sofrendo de algum amolecimento cerebral
ou de algum outro "acidente". Ao dizer: Disse
na margem "raramente", mas não pronunciei
jamais a palavra "nunca", estava me referindo
à margem da prova de vossa carta nº. II; aquela
margem - ou melhor, para evitar mais uma
acusação - o pedaço de papel em que escrevi
algumas observações referentes ao assunto e
colei na margem da vossa prova - vós a
cortastes como também as quatro linhas em
verso. Vós mesmo sabeis melhor porque o
fizestes. Mas a palavra nunca se refere àquele
pedaço de papel na margem.

Entretanto, me reconheço culpado de um


pecado que é o de um sentimento muito agudo
de irritação contra o senhor Hume, após
receber a sua triunfal carta estatística; a
resposta que encontrastes incorporada em
vossa carta, quando eu vos escrevi os dados
para a vossa resposta à carta do senhor
Khandallawala, que tinhas devolvido a H.P.B.
Se eu não tivesse me irritado, talvez não teria
me tornado culpado da omissão. Este agora é
o meu karma. Eu não tinha que sentir-me
irritado ou perder a paciência; mas aquela carta
de Hume, era, segundo creio, a sétima ou
oitava desse tipo recebida por mim durante
aquela quinzena. e devo dizer que o nosso
amigo possui a maneira mais maliciosa que
jamais conheci, de utilizar o seu intelecto para
suscitar os sofismas mais inesperados,
colocando os nervos das pessoas à flor da pele!
Com o pretexto de um raciocínio estrito e
lógico, lançará dissimuladas investidas contra o
seu antagonista, cada vez que se sinta incapaz
de encontrar um ponto vulnerável, e logo, ao
ser surpreendido e desmascarado, responderá
de maneira mais inocente: "Mas se é para o seu
próprio bem, deveríeis sentir-vos agradecido!
Se eu fosse um Adepto,saberia sempre o que o
meu correspondente queria realmente dizer",
etc.etc. Sendo um "Adepto"em alguns
pequenos assuntos, sei o que ele quer dizer na
verdade, e o seu pensamento é o seguinte: se
nós divulgássemos para ele toda a nossa
filosofia, não deixando incoerência alguma
inexplicada, nem ainda assim daria um
resultado satisfatório. Porque, como na
observação contida na canção de Hudibrasian:

"Estas pulgas têm outras pulgas para picá-las

E estas, as suas, e assim ad infinitum..."

ocorre o mesmo com suas objeções e


argumentos. Ao lhe dar uma explicação, ele
encontrará uma falha na mesma; satisfaça-o
demonstrando que esta, afinal de contas,
estava correta, e ele se voltará contra o seu
oponente acusando-o de falar muito devagar ou
muito rápido. É uma tarefa IMPOSSÍVEL - eu a
abandono. Que essa situação persista até que
desabe por si mesma. Ele diz: "Não posso
beijar o pé de nenhum Papa" esquecendo-se
que ninguém nunca lhe pediu tal coisa; "posso
amar, mas não posso adorar" me diz. Puxa! A
ninguém ele pode amar, a ninguém que não
seja A.O. Hume, e nunca amou. E é verdade
que alguém até poderia exclamar: "Oh Hume
"puxa" é o teu nome!" Se vê por este trecho que
transcrevo de uma de suas cartas: "Ainda que
não fosse por outra razão, eu amaria a M. pela
sua absoluta devoção para vós, a quem sempre
amei (!) Ainda quando me senti mais aborrecido
convosco já que sempre somos mais sensíveis
àqueles a quem mais queremos, mesmo
quando estava completamente persuadido de
que éreis um mito, assim mesmo o meu
coração ansiava por vós, como inúmeras vezes
o faz com um personagem manifestamente
fictício". Uma sentimental Becky Sharp, ao
escrever a um imaginário amante, dificilmente
poderia expressar melhor os seus sentimentos!

Na próxima semana me ocuparei das suas


perguntas científicas. Agora não estou na
minha casa, mas bem próximo de Darjeeling26,
na Lamaseria objeto dos anseios da pobre
H.P.B. Pensava em sair no fim de setembro
mas acho-o muito difícil devido ao filho de
Nobin27. além disso, terei provavelmente que
conversar com a Velha Dama se M. a trouxer
até aqui. E terá que fazê-lo ou a perderá para
sempre, pelo menos no que se refere à tríada
física. E agora, adeus. Peço de novo que não
se assuste com meu homenzinho; poderá ser-
vos de utilidade algum dia; mas não vos
esqueçais: ele é apenas uma aparência.

Seu,

K.H.
Carta Nº 025

Adições posteriores às notas sobre o


Devachan. Recebidas em 2 de Fevereiro de
1883.

A primeira carta Devachan foi a de nº.68. As


Cartas 70A, B e C tratam mais adiante do
assunto. Os dois ingleses apresentaram mais
questões ao Mahatma K.H. Esta carta é uma
resposta àquelas questões.

Deve-se lembrar que Sinnett havia assumido a


tarefa de Hume, de escrever a série de artigos
intitulada "Fragmentos da Verdade Oculta", que
foram publicados no "The Theosophist". Estes
artigos eram baseados nos ensinamentos
dados pelos dois Mahatmas, K.H. e M., através
de cartas.

RESPOSTAS E PERGUNTAS

(1) Por que supor-se que o Devachan é uma


condição monótona somente porque algum
momento de sensação terrena se perpetua
indefinidamente, se estende, por assim dizer,
através de eon? Não é, não pode ser assim.
Isso seria contrário a todas as analogias e
antagônico à lei de efeitos sob a qual os
resultados são proporcionais às energias
antecedentes. Para torná-lo mais claro, tendes
que ter presente que há dois campos de
manifestação causal, a saber: o objetivo e o
subjetivo. Assim, as energias mais grosseiras,
aquelas que operam nas condições mais
pesadas ou densas de matéria, manifestam-se
objetivamente na vida física, sendo o seu
resultado a nova personalidade de cada
nascimento, compreendido dentro do grande
ciclo da individualidade em evolução. As
atividades morais e espirituais encontram a sua
esfera de efeitos no "Devachan". Por exemplo:
os vícios, as atrações físicas, etc., digamos, de
um filósofo, podem resultar no nascimento de
um novo filósofo, de um rei, de um mercador,
um rico epicúreo ou de qualquer outra
personalidade cuja natureza derivaria
inevitavelmente das tendências
preponderantes do ser no nascimento
imediatamente anterior. Bacon1, por exemplo,
a quem um poeta chama:

"O maior, o mais sábio e o mais mesquinho da


humanidade" poderia reaparecer em sua nova
encarnação como um cobiçoso acumulador de
dinheiro com extraordinárias capacidades
intelectuais. Mas as qualidades morais e
espirituais do Bacon anterior deveriam também
encontrar um campo no qual pudessem
expandir as suas energias. O Devachan é esse
campo. Portanto, todos os grandes planos de
reforma moral, de investigação intelectual e
espiritual nos princípios abstratos da natureza,
todas as divinas aspirações, chegariam à sua
fruição no Devachan e a entidade abstrata
conhecida anteriormente como o grande
Chanceler, se ocuparia nesse mundo interior,
elaborado por ele próprio, vivendo, senão
completamente, aquilo que poderíamos chamar
de uma existência consciente, pelo menos um
sonho de uma vividez tão realística, a que
nenhuma das realidades da vida poderia
igualar-se jamais. E esse "sonho" dura até que
o Karma esteja satisfeito naquela direção: as
ondas de força alcançam a margem de seu
reservatório cíclico e o ser entra na próxima
área de causas. Esta pode ser encontrada no
mesmo mundo, como antes, ou em outro, de
acôrdo com o estado de progresso dele ou dela,
através dos necessários Anéis e Rondas do
desenvolvimento humano.

Então, como podeis pensar que "um só"


momento de sensação terrestre é selecionado
para perpetuar-se? É muito certo que esse
"momento" dura desde o princípio até o fim;
mas, então, dura apenas como a nota tônica de
toda a harmonia, um tom definido de apreciável
diapasão, ao redor do qual se agrupam e
desenvolvem em variações progressivas de
melodia e, como variações intermináveis de um
tema, todas as aspirações, desejos,
esperanças, sonhos que, em conexão com
esse "momento" particular, alguma vez tenham
cruzado o cérebro do sonhador durante a sua
vida sem ter nunca achado a sua realização na
terra, e que agora encontra plenamente
realizados em toda a sua vividez no Devachan
sem jamais suspeitar que toda essa bem-
aventurada realidade é apenas a progênie
criada pela sua própria fantasia, os efeitos das
causas mentais produzidas por ele mesmo.
Esse momento particular único que
predominará e será mais intenso dentre os
pensamentos de seu cérebro moribundo no
momento da dissolução regulará naturalmente,
todos os outros "momentos"; ainda assim, os
últimos, ainda que menos vívidos e menores,
estarão também ali, tendo o seu lugar
predestinado neste fantasmagórico desfile de
sonhos passados, e deverão dar variedade ao
conjunto. Homem algum na terra deixa de ter
uma predileção definida ou mesmo uma paixão
dominante; não há pessoa, embora humilde e
pobre - e com freqüência por isso mesmo - que
não se compraz em sonhos e desejos
conquanto insatisfeitos. É isso monotonia?
Chamareis a tais variantes ad infinitum do
mesmo tema, que modela a si mesmo toma
forma definitiva e côr desse grupo de desejos,
que foi o mais intenso durante a vida, "um vazio
destituído de todo conhecimento na mente
devachânica" e parecendo "até um certo ponto
ignóbil"? Então verdadeiramente, ou falhastes,
como dizeis, em compreender o que eu queria
dizer, ou sou eu o culpado. Devo ter fracassado
lamentavelmente em comunicar-vos o sentido
exato e tenho que confessar a minha
inabilidade para descrever o indescritível. Essa
última, meu bom amigo, é uma tarefa difícil. A
menos que as percepções intuitivas de um
chela adestrado acudam em ajuda, nem um
montão de descrições ajudarão, por mais
gráficas que sejam. Na verdade, não há
palavras adequadas para expressar a diferença
existente entre um estado mental na Terra, e
outro fora da sua esfera de ação; não há termos
ingleses equivalentes aos nossos; nada, a não
ser preconceitos inevitáveis (devidos a sua
anterior educação ocidental), e daí as linhas de
pensamentos em uma direção equivocada que
enchem a mente do aprendiz; nada para nos
ajudar nesta inoculação de pensamentos
completamente novos! Tendes razão. Não só
"pessoas comuns" (seus leitores) - mas até
idealistas de tão elevada intelectualidade como
o senhor C.C.M.3, fracassarão em captar a
verdadeira idéia e nunca a compreenderão em
toda a sua profundidade. Talvez, algum dia,
possais compreender melhor do que agora,
uma das principais razões de nossa resistência
em compartilhar o nosso Conhecimento com os
candidatos europeus. Apenas lêde as
indagações e as severas críticas do senhor
Roden Noel escritas no "Light". realmente
devíeis tê-los respondido, tal como aconselhei
por intermédio de H.P.B. O seu silêncio significa
um breve triunfo para o piedoso cavalheiro e
deu a idéia de um abandono do pobre Senhor
Massey.

"Um homem no caminho de aprender algo dos


mistérios da natureza parece estar, para
começar sobre a Terra, num nível mais elevado
de existência que aquele que a natureza
aparentemente reserva como prêmio às suas
melhores ações".

Talvez "aparentemente", mas não é assim na


realidade, quando se compreende
corretamente o modus operandi da natureza.
Daí esse outro conceito errôneo: "Quanto maior
o mérito, maior será o período no Devachan.
Mas no Devachan... perde-se toda a percepção
da passagem do tempo; um minuto equivale a
mil anos... a quoi bon então, etc.".

Esta observação e estes modos de ver as


coisas poderia também se aplicar a toda
Eternidade, ao Nirvana, Pralaya, e a qualquer
outra coisa. Diga-se de uma vez que todo o
sistema do ser, da existência separada e
coletiva, da natureza objetiva e subjetiva, não
são mais que fatos absurdos e sem objetivos,
uma gigantesca fraude da natureza, que é
recebida com pouca simpatia pela filosofia
Ocidental, tendo além disso, a cruel
desaprovação do melhor "chela-leigo". A quoi
bon, em tal caso, este predicar de nossa
doutrina, todo esse trabalho árduo e este nadar
em adversum flumem (contra a correnteza do
rio). Por que o Oeste há de estar, então, tão
ansioso de aprender algo do Leste, dado que é,
evidentemente, incapaz de digerir o que nunca
irá satisfazer às exigências do paladar especial
de seus Estéticos? Triste perspectiva para nós,
pois que mesmo vós, sois incapaz de apreciar
todo o alcance de nossa filosofia, ou mesmo de
estar de acordo com um pequeno ângulo - o
Devachan - desses sublimes e infinitos
horizontes da "vida após a morte". Não quero
desanimar-vos. Só quero chamar a vossa
atenção para as formidáveis dificuldades que
encontramos em cada tentativa que fazemos
para explicar nossa metafísica às mentes
ocidentais, mesmo entre as mais inteligentes.
Ah! meu amigo! Pareceis tão incapaz de
assimilar nosso modo de pensar, como de
digerir o nosso alimento ou gostar de nossas
melodias!

Não; não há relógios nem aparelhos para


marcar o tempo no Devachan, meu estimado
chela, embora todo o Cosmos é um gigantesco
cronômetro em certo sentido. Nem nós, os
mortais, ici bas meme, prestamos muita
atenção ao tempo, se é que fazemos, durante
os períodos de felicidade e arrebatamento e os
achamos sempre muito curtos; um fato que não
nos impede de nenhuma maneira de gostar,
assim mesmo, dessa felicidade, quando ela
chega. Colocastes o vosso pensamento alguma
vez, nessa pequena possibilidade de que,
talvez é porque as suas taças de bem-
aventuranças estão cheias até a borda, que os
habitantes do "Devachan" perdem "todo sentido
do correr do tempo", e que tal coisa não sucede
as que caem no Avitchi, embora, tanto quanto
no Devachan, no Avitchi perde-se a noção de
tempo; isto é, de nossos cálculos terrestres de
períodos de tempo? Devo também recordar-
vos, a este respeito, que o tempo é algo criado
inteiramente por nós; de que, enquanto um
curto segundo de intensa agonia pode parecer
a um homem, mesmo na Terra, uma
eternidade, a outro, mais afortunado, as horas,
dias e às vezes anos inteiros podem parecer
que voam em brevíssimos instantes e que,
finalmente, de todos os seres sensíveis e
conscientes na Terra, o homem é o único
animal que possui sentido do tempo, embora
isto não o faça nem mais feliz, nem mais sábio.
Como posso, então, explicar-vos aquilo que não
se pode sentir, pois que pareceis incapaz de
compreendê-lo? Os exemplos finitos são
inadequados para expressar o abstrato e o
infinito; nem pode o objetivo refletir o subjetivo.
Para compreender a bem-aventurança do
Devachan ou as angústias do Avitchi, deveis
assimilá-los, como nós o fazemos. O idealismo
crítico ocidental (como se mostra nos ataques
do senhor Roden Noel), tem ainda que
aprender a diferença que existe entre o
verdadeiro ser dos objetos supersensíveis e a
obscura subjetividade das idéias a que foram
reduzidos. O tempo não é um conceito objetivo
e, portanto, não pode ser, nem analisado nem
provado, de acordo com os métodos da filosofia
superficial. E a não ser que aprendamos a
neutralizar os resultados negativos desse
método de estabelecer as nossas conclusões
agradáveis aos ensinamentos do chamado
"sistema de razão pura", e a distinguir entre a
matéria e a forma do nosso conhecimento dos
objetos perceptíveis, nunca poderemos chegar
a conclusões corretas e definitivas. O caso de
que tratamos, como é defendido por mim contra
o vosso conceito errôneo (ainda que muito
natural), é uma boa prova da superficialidade e
mesmo da falácia desse "sistema de razão pura
(materialista)". O espaço e o tempo podem ser,
segundo Kant, não o produto, mas os
reguladores das sensações, mas somente no
que concernem às nossas sensações na Terra,
não aquelas no Devachan. Ali não encontramos
as idéias a priori deste "espaço e tempo"
controlando as percepções dos moradores do
Devachan no que se refere aos objetos dos
seus sentidos; mas, ao contrário, nós
descobrimos que é o próprio morador do
Devachan que cria a ambos e os aniquila ao
mesmo tempo. Daí advém o fato de que os
chamados "estados posteriores" jamais podem
ser julgados corretamente pela razão prática,
pois que essa última pode ter aplicação
somente na esfera das causas ou objetivos
finais, e dificilmente podem ser relacionados
com Kant (que a considera numa página como
razão e na seguinte como - vontade) como o
mais alto poder espiritual no homem, tendo
como sua esfera aquela VONTADE. O que foi
dito acima não foi introduzido aqui, como
poderíeis pensar, em função de um argumento
(levado muito longe, provavelmente), mas, sim,
tendo em vista uma discussão futura "em
casa"b como expressais, com estudantes e
admiradores de Kant e Platão, com quem ireis
vos encontrar.

Numa linguagem mais simples, vou dizer-vos


agora o seguinte e não será minha culpa se
ainda falhais em compreender o seu significado
pleno. Assim como a existência física tem a sua
intensidade acumulada desde a infância até a
juventude, diminuindo a sua energia, daí por
diante, até a velhice e a morte, do mesmo modo
é vivida a vida de sonho no Devachan. Daí que
estais certo em dizer que a "Alma" jamais pode
tomar consciência de seu erro e achar-se
"enganada pela natureza", tanto mais que,
falando estritamente, a totalidade da vida
humana e suas tão proclamadas realidades não
são melhores do que tal "engano". Mas estais
equivocado ao repetir os preconceitos e
prevenções dos leitores ocidentais (nenhum
asiático concordará convoco sobre este ponto),
quando acrescentais que "há um sentido de
irrealidade a respeito de toda essa questão que
é doloroso para a "mente", pois que fostes o
primeiro a sentir que, sem dúvida alguma, isso
é devido muito mais a "uma imperfeita
compreensão da natureza da existência" no
Devachan do que a alguma imperfeição de
nosso sistema. Daí as minhas ordens a um
chela de reproduzir em um apêndice ao seu
artigo, extratos desta carta e explicações
destinadas a tirar de seu erro ao leitor e apagar,
tanto quanto possível, a dolorosa impressão
que esta vossa confissão irá produzir
seguramente nele. O parágrafo inteiro é
perigoso. Não me sinto justificado em eliminá-
lo, pois ele é evidentemente a expressão de
vossos reais sentimentos, de um modo
bondoso, embora - perdoai-me por dizê-lo - um
pouco canhestramente encobertos com uma
capa de evidente defesa deste ponto débil (para
a vossa mente) do sistema. Mas, creia-me, isso
é assim. A natureza não engana mais ao
morador do Devachan como o faz ao homem
físico, vivente. A natureza provê para ele ali
uma bem-aventurança e felicidade muito mais
real do que aqui, onde todas as condições para
o mal e as eventualidades estão contra ele, e
seu inerente desamparo (como uma palhinha
violentamente soprada para aqui e para ali a
cada vento impiedoso) tornaram a felicidade
pura nesta terra uma total impossibilidade para
o ser humano, sejam quais forem as suas
oportunidades e condições. Chamai melhor a
esta vida um pesadelo feio e horrível e tereis
razão. Chamar de um "sonho" a existência no
Devachan em outro sentido que não seja a de
um termo convencional, muito apropriado às
vossas linguagens tão cheias de nomes
errôneos, é renunciar para sempre ao
conhecimento da doutrina esotérica, a única
guardiã da verdade. Permita-me pois, mais uma
vez explicar-vos alguns dos muitos estados no
Devachan - e no Avitchi.

Como na própria vida terrestre, há para o Ego


no devachan - o primeiro frêmito de vida
psíquica, a sua culminação; o desgaste gradual
da força ao passar da semi-consciência, ao
esquecimento e letargia graduais, ao
esquecimento total, e depois, não a morte, mas
um nascimento: nascimento em outra
personalidade e retomada da ação que gera
diariamente um novo acúmulo de causas que
devem ser elaboradas em outro período
Devachânico, e de novo outro renascimento
físico como uma nova personalidade. Como
serão a vidas no Devachan e na Terra,
respectivamente, em cada caso, está
determinado pelo Karma. E essa fatigante
ronda de nascimentos que se seguem deve ser
percorrida repetidamente até que o ser alcance
o fim da Sétima Ronda ou atinja, nesse ínterim,
a sabedoria de um Arhat, e depois, a de um
Buda e, desse modo, libertando de cumprir uma
ronda ou duas, tendo aprendido como irromper
nos círculos viciosos - e passar periodicamente
ao Paranirvana.

Mas suponhamos que não se trate de um


Bacon, um Goethe, um Shelley, um Howard, e
sim de uma pessoa comum e simples, de uma
personalidade sem cor, frouxa, que nunca
pesou suficientemente no mundo para se fazer
sentir: o que ocorre então? Simplesmente que
a sua estadia devachânica é tão incolor e débil
como foi a sua personalidade. Como poderia
ser de outra maneira desde que causas e
efeitos estão ligados? Mas suponhamos um
monstro de vaidade, de maldade, de
sensualidade, ambição, avareza, orgulho,
impostura, etc., mas que, não obstante, possua
um germem ou germens de algo melhor,
relances de uma natureza mais divina - para
onde ele irá? Essa centelha cintilante debaixo
de monte de lixo se oporá sem dúvida, à atração
da oitava esfera onde caem somente as não
entidades absolutas; "fracassos da natureza"
para serem completamente remodelados, cujas
mônadas divinas se separaram dos cinco
Princípios durante as suas vidas terrestres
dessas entidades (tenha isso acontecido no
nascimento anterior ou em vários nascimentos
anteriores, pois tais casos existem nos nossos
registros) e que viveram como seres humanos
sem alma. Essas pessoas, abandonadas pelo
seu Sexto Princípio, enquanto que o Sétimo,
por ter perdido o seu vahan (ou veículo) não
pode existir independentemente por mais
tempo - seu Quinto Princípio ou alma animal
naturalmente desce "ao poço sem fundo". Esta
explicação irá aclarar mais para vós as
insinuações de Eliphas Levy, se relerdes o que
ele diz e as minhas observações à margem
delas (veja O Teosofista, outubro de 1881, o
artigo intitulado "Morte") e reflitai sobre as
palavras usadas, tais como zangões (abelhas)
etc. Bem, a primeira entidade indicada não
pode, então, ir para a oitava esfera, com todas
as suas maldades, pois que a sua maldade é de
uma natureza demasiado espiritual e refinada.
É um monstro, não um mero bruto sem alma.
Não deve ser simplesmente aniquilado e sim
CASTIGADO, pois que a aniquilação ou seja, o
total esquecimento e o fato de ter sido
arrancado da existência consciente, não
constitui um castigo per se, e tal como expressa
Voltaire, "le neant ne laisse pas d'avoir du bon".
Não se trata aqui de uma vela tremeluzente
para ser logo apagada por uma brisa, mas de
uma energia, forte, positiva, maléfica,
alimentada e desenvolvida pelas
circunstâncias, algumas das quais podem ter
estado fora do seu controle. Deve existir para
uma natureza como essa um estado
correspondente ao do Devachan e esse estado
se encontra no Avitchi, a perfeita antítese do
Devachan, conceitos vulgarizados pelas
nações ocidentais como Inferno e Céu; estados
que passaram desapercebidos por completo
nos vossos "Fragmentos". Recordai: "Para ser
imortal no bem, o indivíduo deve se identificar a
si mesmo com o Bem (ou Deus); para ser
imortal no mal, deve indentificar-se com o Mal
(ou Satan). O desconhecimento do verdadeiro
valor de termos tais como "espírito", "alma",
"individualidade", "personalidade" e
"imortalidade" (especialmente) provoca guerras
verbais entre um grande número de idealistas
disputantes, entre eles os senhores C.C.M. e
Roden Noel. E para completar os vossos
Fragmentos sem risco de cair de novo debaixo
dos dentes trituradores da crítica deste último
honrado cavalheiro, achei necessário
acrescentar ao Devachan-Avitchi, como seu
complemento, e aplicar-lhe as mesmas leis
como ao primeiro. Isto feito, com a vossa
permissão, no Apêndice.

Tendo explicado suficientemente a situação


posso responder agora diretamente a sua
pergunta nº.1. Sim, certamente, há "uma
mudança de ocupação" uma mudança contínua
no Devachan, tanto, e muito mais, que na vida
de qualquer homem ou mulher que passasse a
sua vida toda, numa só ocupação, qualquer que
ela fosse; com a diferença de que, para o
morador do Devachan, a sua ocupação
especial é sempre agradável e enche a sua vida
de arrebatamento. Mas, a mudança deve
ocorrer, pois essa vida de sonho não é mais que
a fruição, o momento da colheita dessas
"sementes germens" psíquicos, caídas da
árvore da existência física em nossos
momentos de sonhos e de esperanças,
lampejos fantasiosos de bem-aventurança e
felicidade reprimidos num ingrato solo social, e
que agora florescem no rosado amanhecer do
Devachan, amadurecendo os seus frutos sob o
seu céu sempre frutífero. Ali não existem nem
fracassos, nem desilusões! Se um homem teve,
ainda que seja um só momento de felicidade e
experiência ideais durante a sua vida (como
acreditais), ainda assim, se existe o Devachan,
não poderia ser, como erroneamente supondes,
o indefinido prolongamento desse "único
momento", mas a ilimitada expansão de vários
episódios e acontecimentos baseados naquele
"único momento" ou momentos, como seja o
caso, em resumo, tudo o que sugira a fantasia
do "sonhador". Como disse, essa nota única,
surgida da lira da vida, formaria exatamente a
nota tônica do estado subjetivo do ser e se
expandiria em inumeráveis tons e semi-tons
harmônicos de fantasmagoria psíquica. Ali
todas as esperanças, as aspirações e os
sonhos, não realizados se realizam
completamente, e os sonhos da existência
objetiva se tornam as realidades da existência
subjetiva. E ali, por detrás da cortina de Maya,
o Adepto percebe os seus vapores e as
aparências ilusórias, pois aprendeu o grande
segredo de como penetrar assim
profundamente nos mistérios do ser.

Indubitavelmente, a minha pergunta se tínheis


experimentado monotonia durante o momento
que considerais como sendo o mais feliz de
vossa vida, vos conduziu a conclusões
totalmente errôneas. Esta carta, é, pois, meu
justo castigo pela minha indolência em não
ampliar as explicações.

Pergunta (2) A que ciclo se refere?

O "ciclo menor" significa, naturalmente, o


término da Sétima Ronda, tal como se verificou
e foi explicado. Ademais, no final de cada uma
das sete rondas produz-se uma recordação
menos "completa": somente a das experiências
que ocorreram entre os numerosos
nascimentos ao final de cada vida pessoal. Mas
a recordação completa de todas as vidas
(terrestres e devachânicas) ou seja: a
onisciência, chega somente no grande final das
sete rondas totais (a menos que no período o
indivíduo se tenha tornado um Bodhisatva, um
Arhat) o "limiar" do Nirvana como um período
indefinido. Naturalmente,um homem que
pertença ao ciclo da Sétima Ronda (que
completa as suas migrações terrestres no
começo da última Raça e Anel), teria que
esperar mais tempo no limiar do que esteja
entre os últimos dessas Rondas. Essa vida de
eleito entre o Pralaya menor e o Nirvana, ou
melhor, antes do Pralaya, é a Grande
Recompensa, a maior de todas, de fato, pois ela
faz do Ego (embora ele possa nunca ter sido um
adepto, mas simplesmente um digno homem
virtuoso na maioria das suas existências) -
virtualmente um Deus, um ser consciente e
onisciente, um candidato - por eternidades e
eons - para ser um Dhyan Chohan...

É bastante - estou traindo os mistérios da


iniciação. Mas o que tem o NIRVANA a ver com
as recordações das existências objetivas? Esse
é um estado ainda mais alto e no qual todas as
coisas objetivas são esquecidas. É um estado
de absoluto Repouso e de assimilação com
Parabrahman - é o próprio Parabrahman. Oh, a
triste ignorância de nossas verdades filosóficas
no ocidente, e a incapacidade dos vossos
maiores intelectos para captar o verdadeiro
espírito daqueles ensinamentos. O que
daremos, o que podemos realmente fazer!

Pergunta (3) Postulais um intercâmbio de


entidades no devachan que se destine somente
ao relacionamento mútuo da existência física.
Duas almas afins desenvolverão, cada uma, as
suas próprias sensações devachânicas,
fazendo que a outra participe da sua bem-
aventurança subjetiva, mas, entretanto, cada
uma dissociada da outra com relação ao
intercâmbio mútuo em si. Ora, que
companheirismo poderia haver entre duas
entidade subjetivas que são tão imateriais como
esse corpo espectral e etéreo o Mayavi-rupa?

Pergunta (4). O Devachan é um estado, não


uma localidade: Kama Loka, Rupa Loka e
Arupa Loka são três esferas de ascendente
espiritualidade nas quais os vários grupos de
entidades subjetivas encontram as suas
atrações. No Kama-Loka (a esfera semi-física)
moram o cascões, as vítimas0 e os suicidas, e
esta esfera está dividida em inumeráveis
regiões e sub-regiões correspondentes aos
estados mentais dos que ali chegam na hora de
sua morte. Esta é a gloriosa "Terra do Verão"
dos Espíritas, cujos horizontes constituem o
limite da visão dos seus melhores videntes -
uma visão imperfeita e enganosa devido à falta
de adestramento e por não serem guiados por
Alaya-Vijnana (conhecimento oculto). Quem, no
ocidente conhece alguma coisa do verdadeiro
Sahalo-Kadhatu, o misterioso Chiliocosmo de
cujas muitas regiões somente três podem ser
dadas a conhecer ao mundo externo: o
Tribhuvana (três mundos), a saber: Kama,
Rupa e Arupa-Lokas. E, no entanto, veja a triste
confusão produzida nas mentes ocidentais pela
menção de somente desses três! Veja "Light"
do dia 6 de janeiro! Contemplai ao vosso amigo
(M.A.Oxon) ao notificar ao mundo dos seus
leitores que, de acordo com o que supondes em
vossa "Doutrina Secreta", "nenhuma acusação
mais grave poderia ser pronunciada contra
qualquer homem por seu mais cruel inimigo, do
que a lançada por vós contra nós: "esse
misterioso desconhecido". Não é esta classe de
cruel crítica a mais adequada para obter de nós
mais conhecimentos ou tornar o
"desconhecido" mais conhecido. E depois o
prazer de ensinar a um público, a quem uma de
suas mais altas autoridades (Roden Noel) diz,
em páginas mais adiante, que os teósofos
dotaram os seus "cascões" com uma
consciência simulada. Veja a diferença que
pode fazer uma palavra. Se tivesse escrito a
palavra " assimilada" em vez de "simulada", a
verdadeira idéia teria sido comunicada: que a
consciência dos cascões é assimilada do
médium e das pessoas vivas que se encontram
presentes, enquanto que agora...! Mas,
naturalmente, não são as exposições de nossos
críticos europeus, mas as dos nossos chelas
asiáticos as que "parecem absolutamente
multiforme em suas cambiantes variedades". O
homem tem que ser contestado e corrigido seja
por vós ou pelo senhor Massey. Mas, ai! este
último conhece muito pouco e vós - vos olhais o
nosso conceito de Devachan mais do que
"desconfortavelmente"! Mas, para resumir.

Do Kama Loka então, no grande Chiliocosmo, -


uma vez despertadas do seu torpor post-
mortem, as recém trasladadas almas vão todas
(exceto os cascões) conforme as suas
atrações, ou para o Devachan ou para o Avitchi.
Esses dois estados se diferenciam de novo, ad
infinitum - seus graus ascendentes de
espiritualidade recebem os seus nomes das
lokas que os produzem. Por exemplo: as
sensações, percepções de um morador do
Devachan em Rupa-loka serão, naturalmente,
de uma natureza menos subjetiva do que
seriam no Arupa-Loka e, em ambos os estados,
as experiências devachânicas variarão em sua
apresentação para a entidade-sujeito, não só
no que se refere à forma, cor e substância, mas
também em suas potencialidades formativas.
Mas nem mesmo a mais exaltada experiência
de uma mônada no estado devachânico mais
elevado em Arupa-loka (o último dos sete
estados) é comparável àquela perfeita condição
subjetiva de pura espiritualidade, da qual a
mônada emergiu para "descer na matéria", e
para a qual deve retornar, no final do grande
ciclo. Nem mesmo é o Nirvana comparável ao
Paranirvana.

Pergunta (5) O despertar da consciência


começa depois da luta no Kama-Loka, na porta
do Devachan, e somente depois do "período de
gestação". Rogo que leiais de novo as minhas
respostas sobre o assunto em vossa "Famosas
Contradições".

Pergunta (6) Sendo injustificadas as vossas


deduções em relação ao infinito prolongamento
no Devachan, de algum momento de bem-
aventurança terrena, a vossa pergunta no
;ultimo parágrafo deste interrogatório não
necessita ser considerada. A permanência no
Devachan é proporcional aos impulsos
psíquicos inconclusos originados na vida
terrena: aquelas pessoas cujas atrações eram
preponderantemente materiais, serão logo
atraídas para o renascimento pela força de
Tanha. Como bem observa o nosso oponente
de Londres, esses assuntos metafísicos podem
ser compreendidos apenas parcialmente. Uma
faculdade mais alta pertencente à vida superior
é que deve ver, e é verdadeiramente impossível
forçá-lo à nossa compreensão de uma pessoa -
apenas verbalmente. Ela deve ver com sua
vista espiritual, ouvir com o seu ouvido
Dharmakayco, sentir com as sensações de seu
Ashta-vijnana ("eu" espiritual) antes que possa
compreender toda esta doutrina; de outra
maneira pode apenas, aumentar o seu próprio
"desconforto" e aumentar muito pouco o seu
conhecimento.

Pergunta (7) A recompensa que a Natureza dá


aos homens de ampla e sistemática
benevolência e que não tenham enfocado as
suas afeições somente sobre um indivíduo ou
sobre uma especialidade é (se são puros) a de
passar por isso rapidamente através do Kama e
Rupa-Lokas, entretanto na mais elevada esfera
de Tribhuvana, pois que é ali onde a formulação
de idéias abstratas e a consideração de
princípios gerais enchem o pensamento de
seus ocupantes. A personalidade é sinônimo de
limitação, e quanto mais estreitas sejam as
idéias, tanto mais se aferrará a pessoa às
esferas inferiores da existência, e tanto mais
tempo despenderá no plano do intercâmbio
social egoísta. A posição social de uma pessoa,
é naturalmente, o resultado do Karma, sendo a
lei "a atração do semelhante pelo semelhante".
O indivíduo renascente é atraído pela corrente
gastadora com a qual se afina devido às
atrações predominantes no último nascimento.
Assim, alguém que morreu como camponês,
pode renascer como rei e o soberano falecido
pode de novo ver a luz na tenda de um cule.
Esta lei de atração se firma em milhares de
"Acidentes de nascimento", nome esse que não
poderia ser mais inapropriado. Quando
compreenderdes, ao menos, o seguinte: que os
skandhas são os elementos da existência
limitada - então tereis compreendido também
uma das condições do Devachan, que agora
tem para vós uma perspectiva tão
profundamente insatisfatória. Também não são
corretas completamente as vossas deduções
em sua aplicação geral, quanto a serem o bem
estar e os gozos das classes superiores
devidos a um melhor Karma. Eles tem um anel
eudomonistico ao seu redor que dificilmente é
reconciliável com a lei Kármica, pois que esse
"bem estar e gozo" é, com mais freqüência as
causas de um Karma novo e sobrecarregado,
do que o produto ou efeitos do anterior. Mesmo
como uma "regra bastante geral", a pobreza e a
condição humilde na vida são menos
produtoras de sofrimento do que a riqueza e o
nascimento nobre; mas disso falaremos mais
adiante. As minhas respostas estão tomando,
uma vez mais, o aspecto de um volume, em vez
do aspecto moderado de uma carta.
Escrevendo um novo livro ou para O
Teosofista? Bem, não acreditais, pois o vosso
desejo é de alcançar não só a maioria, como
também as mentes mais receptivas, que seria
melhor escrever o livro como também para "O
Teosofista"? Poderíeis incorporar no
"Buddhismo Esotérico", (um excelente título,
diga-se de passagem) esse assunto, como
sendo uma continuação ou ampliação do que já
foi publicado no "O Teosofista", uma exposição
sistemática e cuidadosa do que lhe foi e será
dado na revista, em curtos trechos. Anseio
especialmente, devido a M., que a revista se
constitua num êxito, tanto quanto possível, e
que circule mais ainda na Inglaterra do que
atualmente. O seu novo livro, atraindo, como
certamente o fará, a atenção da parte mais
educada e pensadora do público ocidental para
o órgão do "Buddhissmo Esotérico" par
excellence - fará assim um mundo de bem, e
ambos se ajudarão mutuamente. Quando
escrever, não perca de vista a obra de Lillie,
"Buda e o Budismo Primitivo". Apesar das
muitas falácias, suposições injustificadas e
distorção de fatos e mesmo de palavras em
sânscrito e pali, este pretensioso volume
obteve, sem dúvida, um grande êxito entre os
espíritas e também os cristãos que têm
propensão ao misticismo. Direi a Subba Row ou
a H.P.B. que façam uma curta crítica literária
com notas minhas, mas sobre isso falaremos
em outra carta. Possuis agora um amplo
material para trabalhar em minhas notas e
escritos. Somente destes a conhecer alguns
dos muitos pontos que eu abordei e ampliei e
voltei a ampliar em montões de cartas como
estou fazendo agora. Poderíeis tirar delas
material para inúmeros artigos novos e
"Fragmento" para a revista e ainda restaria
bastante para o livro. E estes, por sua vez,
teriam seqüência em um terceiro volume, mais
adiante. É bom não perder de vista este plano.

Seu "quimérico projeto" com Darjeeling como


ponto objetivo, não é quimérico mas, sim,
simplesmente impraticável, meu bom amigo. O
momento ainda não chegou. Mas o impulso de
vossas energias vos estão levando lenta mas
persistentemente ao intercâmbio pessoal. Não
quero dizer que eu o deseje tanto quanto vós,
pois como vos vejo quase todos os dias de
minha vida, interesso-me muito pouco por
relações objetivas, mas para o seu benefício se
eu pudesse, apressaria essa entrevista.
Entretanto...? Enquanto isso, sintai-vos feliz
sabendo que fizestes mais bem verdadeiro aos
vossos semelhantes nos últimos dois anos do
que em muitos anos anteriores. E...também
para vós mesmo.

Tenho plena certeza de que não simpatizais


com o sentimento egoísta que anima a Loja de
Londres a negar mesmo a pequena proporção
de ajuda pecuniária (que só monta a algumas
poucas libras por ano) que era dada à
Sociedade Matriz. Quem dentre os membros
poderia pensar em recusar, ou tentar evitar o
pagamento de contribuições a qualquer outra
Sociedade, Clube, ou Associação Científica a
que ele pudesse pertencer? É essa indiferença
e egoísmo que lhes têm permitido manter-se
inativos e sossegados dede o princípio, e vendo
os dois que estão na Índia dando as suas
últimas rúpias (e Upasika até vendendo as suas
jóias por honra da Sociedade), embora muitos
dos membros britânicos estejam em melhor
posição, muito melhor do que ele (H.P.B. e
H.S.O.), para fazer frente aos sacrifícios
necessários. A irmã do senhor Olcott está
realmente na América na maior miséria e o
pobre homem amando-a tanto, não retiraria
sequer 100 rúpias dos recursos da Sociedade,
ou então das do "O Teosofista" para ajudar a
ela e aos seus pequenos filhos, se H.P.B. não
tivesse insistido e M. não tivesse contribuído
com uma pequena soma para isso.

Entretanto, disse ao senhor Olcott que vos


envie a autorização oficial necessária para
reunir as contribuições ou fazer qualquer
arranjo financeiro em Londres que considerais
melhor. Mas recordai, meu muito apreciado
irmão, que, se é esperado que pobres
empregados hindus, que ganham salários de 20
a 30 rúpias, paguem a mesma cota para ajudar
os gastos da Sociedade. é uma grande injustiça
eximir totalmente os membros de Londres,
muito mais ricos. Faça justiça "ainda que os
céus caiam". Entretanto, se são necessárias
concessões para preconceitos locais, vós estais
melhor qualificado do que nós, para ver, e
portanto negociar de acordo com a melhor
conveniência. A todo custo, colocai "as relações
financeiras numa situação melhor" do que
atualmente, se é que o vento financeiro tem que
ser suavizado para a tosquia do carneiro
Peling15. Tenho fé em vossa sabedoria, meu
amigo, embora teríeis certo direito de perder
prontamente a vossa fé em mim, considerando
quão apertadas foram as negociações para o
capital do "Fênix". Deveis ter compreendido
que, apesar da aprovação do Chohan para o
meu "Chela Laico", encontro-me ainda sob as
restrições do ano passado e não posso enfocar
sobre as pessoas envolvidas todos os poderes
psíquicos que, de outra maneira, poderia. Além
disso, as nossas leis e restrições referentes a
dinheiro ou qualquer operação financeira, seja
dentro ou fora de nossa Associação, são
extremo severas, inexoráveis em certos pontos.
Temos que proceder muito cautelosamente, e
daí a demora. Mas espero firmemente que
suponhais que algo já foi feito nesse sentido.

Sim, a frase "K.H. quis", significa que a crítica


literária do "Mr. Isaacs" deve aparecer no
"Teosofista", e a frase "Pelo autor do O Mundo
Oculto", portanto enviai-a antes de partir. E,
para o bem do velho "Sam Ward", queria vê-la
mencionada no "Pioneer". Mas isso não importa
muito, agora que o deixais.

Portanto, Salaam, e meus melhores votos.


Estou extremamente ocupado com os
preparativos de iniciação. Vários dos meus
chelas - Djual Khool entre outros, estão se
esforçando para alcançar a "outra margem".

Seu fielmente,

K.H.
Carta Nº 026

Esta é a primeira carta catalogada na seção


com o título "Provação e Chelado" nas edições
anteriores. Ela parece começar no meio de um
assunto, quase como se fosse parte de outra
carta. E um esforço para explicar H.P.B. tal
como ela é.

Hume expressou, mais tarde, ceticismo quanto


à explicação relativa a H.P.B. Suas opiniões
acham-se na Carta 156, de H.P.B. para Sinnett,
com comentários à margem por M.

SEÇÃO III

PROVAÇÃO E CHELADO

Memorando confidencial de K.H. sobre "a Velha


Dama" (H.P.B.)

Recebida em Simla, outono de 1881.

Eu tenho conhecimento, e sinto muito, o fato de


que a habitual incoerência em suas
manifestações - especialmente quando
excitada - e suas maneiras extranhas, tornam-
na, na vossa opinião, uma transmissora
bastante indesejável de nossas mensagens.
Entretanto, amáveis irmãos, uma vez que
tenhais aprendido a verdade; uma vez que vos
foi dito que a sua mente variável, a aparente
incongruência de suas exposições e idéias, a
sua excitação nervosa, em uma palavra, tudo
que se supõe perturbe os sentimentos das
pessoas ponderadas, cujas noções de reserva
e de modos ficam chocados com tão extranhas
explosões que elas consideram provir de seu
temperamento e que tanto vos revolta, uma vez
que saibais que nada disso é culpa dela, talvez
vos sentireis inclinados a considerá-la sob uma
luz totalmente distinta. Não obstante que ainda
não chegou o momento para dar-vos a
conhecer o segredo por inteiro e estais mesmo
dificilmente preparados para compreender o
grande Mistério, ainda que vos fôsse revelado,
devido à grande injustiça e o mal cometido,
estou autorizado a vos dar um relance do que
está por trás do véu. Este seu estado está
intimamente vinculado com seu treinamento
oculto no Tibet, e é devido ao fato de ela ter sido
enviada sozinha no mundo a fim de preparar
gradualmente o caminho para os outros, Após
quase um século de infrutíferas buscas, nossos
chefes tiveram de se valer da única
oportunidade para enviar um corpo europeu ao
solo europeu, a fim de servir de laço de união
entre aquela terra e a nossa. Não
compreendeis? Naturalmente não. Por favor,
então, lembrai-vos do que ela tentou explicar, e
que assimilastes razoavelmente dela, isto é, o
fato da existência dos sete princípios no ser
humano completo. Agora, homem ou mulher
algum, a não ser que seja um iniciado ao "quinto
círculo", pode deixar os limites de Bod-Lhas
(Tibet) e retornar ao mundo em sua total
integridade, se posso usar a expressão. Um dos
seus sete satélites, pelo menos, deve ficar para
trás por duas razões: a primeira, para formar o
laço de conexão necessário, o fio de
transmissão; a segunda, como a mais completa
garantia de que certas coisas jamais serão
divulgadas. Ela não é uma exceção à regra e já
vistes em outro caso - um homem altamente
intelectual - que teve de deixar para trás uma
das suas peles, e daí o fato de ser considerado
muito excêntrico. O comportamento e situação
dos seis restantes, depende das qualidades
inatas, das peculiaridades psicológicas da
pessoa, especialmente das idiosincrasias
transmitidas pelo que a ciência moderna
denomina de "avismo". Atuando de acôrdo com
os meus desejos, meu Irmão M., se recordais,
vos fez um certo oferecimento por intermédio
dela. Teríeis apenas que aceitá-lo e, em
qualquer ocasião que desejásseis, poderíeis ter
tido, por uma hora ou mais, o verdadeiro
baitchooly para conversar com ele, em vez do
arremedo psicológico com que tens agora de
lidar. O de ontem foi um erro dele. Ele não devia
tê-la enviado para entregar a mensagem ao Sr.
Sinnett no estado em que ela estava. Mas
considerá-la responsável pela sua excitação
puramente fisiológica e deixar que ela visse os
vossos desdenhosos sorrisos, isso foi
positivamente pecaminoso. Perdoai-me, meus
irmaãos e bons senhores, a minha linguagem
franca. Eu estou agindo somente de acôrdo com
o que me pedistes em vossa carta. Dei-me ao
trabalho de "investigar o espírito e o sentido"
com que tudo foi dito e feito na residência do
senhor Sinnett; e embora não tendo o direito de
"culpar-vos" - já que ignoráveis o estado real
das coisas - não posso, por outro lado, deixar
de reprovar com firmeza o que, por mais polido
que fôsse exteriormente, mesmo sob
circunstâncias bastante comuns, teria sido,
assim mesmo - CRUELDADE. Basta, por ora.
Carta Nº 027

Recebida em Simla, outono, 1881. (Fins de


Setembro)

A Sociedade Teosófica Eclética de Simla foi


formada em 21 de agosto e é provável que esta
carta foi recebida pouco depois.

Já havia previsto o que sucede agora. Em minha


carta de Bombaim eu vos aconselhava
prudência com relação ao que permitíeis a S.M.
aprender de + e sua própria mediunidade,
sugerindo que lhe fôsse dito apenas a
substância do que eu dissera. Quando,
observando-vos em Allahabad, eu vos ví em vez
disso, fazendo copiosos extratos de minha
carta, para ele, percebi de novo o perigo, mas
não interferi por várias razões. Uma delas é que
creio que plenamente chegue o tempo em que a
seguranç social e moral exija que alguém da
Sociedade Teosófica expresse a verdade, ainda
que lhe caiam em cima os Himalayas. Mas o
desvelamento da amarga verdade tem que ser
feito com a maior discreção e cautela e vejo que,
em vez de conseguir amigos e defensores no
campo dos Filisteus, seja neste ou no outro lado
dos oceanos, muitos entre vós (incluindo a vós
mesmos), criama só inimigos, pondo demasiada
ênfase em mim e nas inhas opiniões pessoais.
Do outro lado, a irritação é grande e logo
encontrareis sinais disso no "Light" em em
outras partes; e, vós "perdereis S.M.". Os
copiosos exratos fizeram o seu trabalho por que
eram muito copiosos. Nenhum poser, seja
humano ou superhumano pode jamais abrir os
olhos de S.M. - era inútil rasgá-los para que
vissem. Por este lado, é pior ainda. A boa gente
de Simla não tem inclinações muito metafóricas,
e a alegoria não se grudará a sua epiderme da
mesma forma que a água nas penas do ganso.
Além disso, ninguém gosta que se diga que
"cheira mal" e o gracejo extraído de uma
observação demasiadamente carregada de
profundo sentido psicológico, produziu dano
incalculável em esferas onde, de outra maneira,
a S.E.T.S.1 poderia haver recrutado mais de um
convertido...Mas, devo voltar novamente à
carta.

A razão mais forte da queixa contra mim reside


no fato de que a minha afirmação implica: (a)
uma espécie de desafio a S.M. para provar que
+2 é um "Espírito"; (b) nosso amigo me acusa
severamente por insinuar que + é um mentiroso.
Agora bem; quero ser explícito, mas não
apologético. Não há dúvida de que eu tinha em
mente ambas as coisas, só que apenas para
vós, que me havia pedido a informação, de
nenhuma maneira para ele. Ele não provou as
suas alegações, nem eu esperava que o fizesse,
mesmo que pensasse que o podia fazer, já que
a afirmativa se baseia inteiramente em sua
própria convicção devido à sua inquebrantável
fé em suas próprias impressões. A mim me seria
fácil, por outro lado, provar que + não é de modo
algum, um espírito desencarnado, não tivesse
eu muito boas razões para não fazer isso agor.
Eu redigi a minha carta muito cuidadosamente,
de moso que, ao mesmo tempo que vos
possibilitei ter um relance da verdade, eu vos
mostrei muito claramente que eu não tinha o
direito de divulgar o "segredo de um Irmão".
Mas, meu bom amigo, eu nunca vos disse
extamente quem e o que era ele. Eu posia,
talvez, ter vos aconselhado para que julgásseis
+ pelos seus alegados escritos, porque mais
afortunados nisso de que Job, todos nossos
"inimigos escrevem livros". Sentem-se muito
inclinados a ditarem evangelhos "inspirados", e
assim ficam presos pela cola da suas próprias
retóricas. E quem, entre os espíritas mais
intelectuais, que tenham lido as obras completas
atribuidas a +, se atreveria a sustentar que,
exceção feita a umas poucas páginas
extremamente notáveis, o resto não está abaixo
do que S.M. poderia ter escrito, e muito melhor?
Ficai certo de que nenhum médium inteligente,
perspicaz e veraz necessita "inspiração" de um
espírito desencarnado. A Verdade se sustentará
sem a inspiração de Deuses ou Espíritos, e
melhor ainda, se sustentará apesar deles; os
"anjos" não fazem, em geral, mais do que
ssussurrar falsidades e aumentar o estoque de
superstições.

É em vista de tais pequenas contrariedades que


devo me abster de satisfazer a C.C. Massey.
Não me valerei de sua " autoridade", nem vou
atender o seu "desejo", e decididamente recuso
"comunicar o seu segredo", por ser este de tal
natureza, que obstaculiza o seu caminho para a
obtensão do adeptado, mas não tem nada a ver
com o seu caráter pessoal. Esta informação está
sendo dada para vós, como uma resposta à
vossa surpreendente pergunta se posia haver
quaisquer impedimentos para que eu me
comuniocasse com ele e o guiasse para a Luz,
mas nunca esteve destinada aos seus ouvidos.
Ele pode ter uma página ou duas na história de
sua vida que ele preferiria fôsse apagada; mas
as suas tendências leais e fiéis sempre lhe
darão precedência e o colocarão muito acima de
muitos homens que permaneceram castos e
virtuosos somente porque nunca conheceram o
que era a tentação. Prefiro me abster, com a
vossa bondosa permissão. No futuro, meu caro
amigo, teremos que nos limitar inteiramente à
filosofia e evitar fofocas familiares. Esqueletos
nos aarmários da família, são, às vezes, ainda
mais perigosos de se tocar, do que mesmo - os
turbantes sujos, meu ilustre e caro amigo. E não
deixai que o vosso coração muito sensível seja
perturbado, ou que a vossa imaginação vos leve
a supor que uma simples palavra do que agora
disse tenha o caráer de uma reprovação. Nós,
Asiáticos semi-selvagens, julgamos um homem
pelos seus motivos, e os vossos são todos
sinceros e bons. Mas tendes que relembrar que
estais numa escola muito dura, e tratando agora
com um mundo inteiramente distinto do vosso.
Especialmente, tendes que ter em mente que a
mais ligeira causa produzida, mesmo
inconscientemente, e por qualquer motivo, não
pode ser desfeita, ou interceptar o progresso
dos seus efeitos, nem por milhões de deuses,
demônios e homens combinados. Daí não
deveis me considerar demasiadamente hiper
crítico quando digo que todos vós tem sido mais
ou menos inprudentes, ssenão indiscretos,
aplicando-se este último termo, até aora, só a
um dos membros. Portanto - ireis ver, talvez,
que os equívocos e desatinos de H.S. Olcott tem
um matiz mais claro do que a princípio, pois
mesmo os ingleses, muito mais inteligentes, e
versados nos modos do mundo, do que ele é,
estão também sujeitos a erros. Pois errastes,
individual e coletivamente, como será
constatado em um futuro próximo; e a
administreação e o sucesso da Sociedade se
mostrarão muito mais difíceis em vosso caso, já
que nenhum de vós estais prepaprdos, como ele
está, a seguir qualquer conselho que vos seja
oferecido, embora em cada caso, esteja
baseado n previsão de acontecimentos
iminentes, mesmo quando preditos numa
fraseologia que pode ser que não chegue
sempre à "altura" do Adepto, como ele deveria
ser, de acôrdo com as vossas próprias
concepções.
Podeis contar a Massey o que agora digo dele e
as razões aduzidas. Podeis, ainda que não o
aconselharia, ler esta carta ao ssenhor Hume.
Mas eu insistiria enfaticamente sobre a
necessidade de usar, mais do que nunc, uma
maior discrição. Não obstante a pureza dos
motivos, o Chohan poderia, algum dia,
considerar somente os resultados e estes
podem ameaçar se tornar demasiado
desastrosos para que Ele os passse por alto.
Deveria ser feita uma constante pressão sobre
os membros da S.E.S.4, para que freiem as
suas línguas e o seu enusiasmo. Entretanto,
existe um crescente interesse da opinião pública
quanto a vossa Sociedade, e podereis muito em
breve ser chamado para definir a vossa posição
maiss claramente. Muito em breve terei que
deixar-vos durante um período de três meses.
Se isso começa em outubro ou em janeiro,
dependerá do impulso dado à Sociedade e o
seu progresso.

Ficaria pessoalmente muito agradecido para


convosco se consentísseis bondosamente em
examinar um poema escrito por Padshah e
emitir a sua opinião acerca dos seus méritos.
Considero-o demasiado extenso para o
Theosophical Journal, e tampouco os seus
méritos literários justificariam a sua pretensão.
Mas deixo isso ao vosso melhor discernimento.
Estou ansioso que o Journal tenha este ano
mais êxito do que teve até agora. A sugestão de
traduzir o Grande Inquisitor é minha; porque o
seu autor, sobre o qual já pesava a mào da
Morte quando o escrevia, deu a descrição mais
convincente e verídica, jamais escrita, da
Sociedade de Jesus. Há ali contida uma grande
lição para muitos, e mesmo vós podereis tirar
proveito dela.

Meu querido amigo, não deveis sentir-vos


surpreendido se vos digo que me sinto
realmente cansado e desencorajado diante das
perspectivas que tenho pela frente. Temo que
não tereis jamais a paciência de esperar o dia
quando me seja permitido satisfazê-lo. Há muito
tempo o nosso povo começou a traçar certas
regras com as quais queria vever de acôrdo.
Todas essas regras se tornaram agora LEI.
Nossos predecessores tiveram que aprender
tudo o que sabem por si próprios, apenas lhes
foi dado o fundamento. Oferecemo-nos para
lançr-vos essas fundações, mas vós não quereis
aceitar nada que não seja o edifício completo,
pronto para ser por vós ocupado. Não me
acuseis de indiferença ou negligência ao não
receberdes durante diaas, qualquer resposta
minha. Muitas vezes não tenho nadaa a dizer
porque me fazeis perguntas que não tenho o
direito de responder.

Mas devo terminar aqui porque o meu tempo é


limitado e tenho outro trabalho para fazer. Seu
sinceramente.

K.H.

A atmosfera da casa saturada de brandy, é


horrorosa.
Carta Nº 028

(Depois de 20 de Novembro, 1880)

Escrita por K.H. para A.O. Hume próximo da


data da ruptura final. (1881?)

É impossível dizer a data exata desta carta e a


data de recebimento é algo incerto, tendo sido
anexada à Carta nº.10 (CM-5), que foi recebida
por Sinnett nalgum dia depois de 1º. de
dezembro de 1880. Sinnett indica 1881 com um
ponto de interrogação e anota, "Escrita com
vistas ao rompimento final". Isto está incorreto; o
"rompimento final" com Hume veio muito mais
tarde. Entretanto, é fácil ver como Sinnett pode
ter feito esta afirmação, pois na Carta nº.10, o
Mahatma K.H. indica mesmo que ele está
mandando a sua "espístola final".

Conjecturou-se mais tarde que Sinnett


frequentemente não datava as cartas senão
depois de algum tempo que eram recebidas e
neste caso poderia ter acontecido isso. Nota-se
também que, nesta Carta nº.11 K.H. diz declinar
"por ora" "qualquer correspondência posterior".
Assim, a porta não foi finalmente fechada.
Pelo seu conteúdo, depreende-se que esta carta
é a resposta à réplica de Hume à primeira carta
do Mahatma para ele. Lembrar-se-á que a
primeira carta de K.H. para Hume não está nas
"Cartas dos Mahatmas", mas aparece em
grande parte no "O Mundo Oculto", p.110 e
seguintes.

Meu querido senhor:

Se nenhum outro bem veio da nossa


correspondência senão o de nos mostrar mais
uma vez quão essencialmente opostos são os
nossos dois elemetos antagônicos - o inglês e o
hindú, as nossas poucas cartas não terão sido
trocadas em vão. É mais fácil o óleo e a água se
misturarem nas suas partículas do que um
inglês, mesmo inteligente, de nobre mente e
ssincero ser levado a assimilar o pensamento
exotérico hindú, deixando de lado o seu espírito
esotérico. Isso irá, naturalmente, vos provocar
um sorriso. Direis "eu esperava isso". Caso
assim seja, isso não prova outra coisa senão a
perspicácia de um homem de pensamento e
observação, que se antecipou intuitivamente ao
acontecimento que a sua própria atitude deve
precipitar.

Perdoai-me se tenho que falar franca e


sinceramente de vossa longa carta. Por mai
convincente que seja a sua lógica e nobres
algumas das suas idéias, e ardente a sua
inspiração, ela está aqui, diante de mim, como
um autêntico reflexo do espírito desta época
contra a qual temos lutado durante todas as
nossas vida! Na melhor das hipóteses, ela é o
esforço infrutífiero de um intelecto perspicaz,
adestrado nos modos de um mundo exotérico,
para lançar luz, e julgar os modos de vida e
pensamento nos quais não está versado, porque
eles pertencem a um mundo totalmente
diferente daquele no qual ele atua. Não sois um
homem de vaidades mesquinhas. Posso vos
dizer sem risco: "Meu querido amigo, aparte isto
tudo, estudai a vossa carta imparcialmente,
pesai algumas das suas sentenças, e no todo
não vos sentireis orgulhoso dela". Se vierdes a
apreciar ou não, plenamente os meus motivos,
ou julgar erroneamente as verdadeiras causas
que me obrigam a recusar por agora toda
correspondência subsequente, no entanto estou
confiante de que algum dia ireis confessar que
esta vossa última carta, sob a aparência de uma
nobre humildade, de confissões de "debilidades
e fracassos, defeitos e desatinos", era, pelo
contrário (sem dúvida inconsientemente para
vós mesmo) um monumento de orgulho, um
clamoroso eco do espírito altivo e imperativo que
se oculta no fundo do coração de cada inglês.
Em seu presente esstado de ânimo é muito
provável que, ainda depois de ler esta resposta,
dificilmente podereis perceber que não somente
falhastes em compreender o espírito no qual foi
escrita a última carta que vos dirigi, mas mesmo
em algumas partes, não conseguistes captar o
seu sentido evidente. Etáveis preocupado por
uma idéia simples e totalmente absorvente e
fracassando em perceber qualquer resposta
direta a ela na minha carta, antes de considerá-
la por algum tempo, e ver a sua aplicação geral
e não pessoal, sentastes e me acusastes de vos
dar uma pedra quando estáveis pedindo pão!
Não se necessita ser um "advogado", nesta ou
em qualquer existência anterior para estabelecer
simples fatos.NÃO há necessidade alguma de
"fazer aparecer o mau como a melhor causa"
quando a verdade é tão simples e tão facilmente
expressa. A minha observação de que "assumes
a posição de que, a menos que alguém
proficiente no conhecimento arcano, verta sobre
a vossa embriônica Sociedade uma energia..."
etc.: aplicastes a vos mesmo, enquanto que
nunca teve esse significado. Preferia-se às
esperanças de, todos aqueles que poderiam
desejar ingressar na Sociedade sob certas
condições previamente exigidas e nas quais
insistiam firmemente vós e o Sr. Sinnett. A carta,
em sua totalidade foi escrita para vós dois, e
essa sentença especial aplica-se a todos, em
geral.

Dizeis que, até certo ponto, interpretei mal a


vossa "posição", e que não o compreendi
claramente. Isso é tão evidentemente incorreto
que será suficiente para eu citar um único
parágrafo da vossa carta para mostrar que
fostes vós que "interpretastes totalmente mal a
minha posição" e "claramente não me
compreendestes". Que outra coisa fazeis senão
atuar debaixo de uma impressão errônea
quando, em vossa pressa repudiar a idéia de
jamais ter sonhado em criar uma "escola", dizeis
do aventado "Ramo Anglo-Indiano"- "essa não é
uma Sociedade minha...entendi que era o vosso
desejo e de todos os Chefes que se criasse a
Sociedade e que eu assumisse uma posição
preponderante nela". A isso respondi que se
bem tem sido o nosso desejo constante de
desenvolver no Continente ocidental entre as
classes mais educadas, "Lojas" da S.T. na
qualidade de precurssoras de uma Fraternidade
Universal, isso não era assim em seu caso. Nós
(os Chefes e eu) repudiamos por completo a
idéia de que essa era a nossa esperança (por
mais que poderíamos tê-la desejado) quanto à
projetada Sociedade A.I. A aspiração pela
fraternidade entre nossas raças não encontrou
resposta - não, ela foi ridicularizada desde o
começo, e foi abandonada mesmo antes que eu
recebesse a primeira carta do Senhor Sinnett.
Da sua parte e desde o princípio, a idéia
consistiu somente em promover a formação de
uma espécie de clube o "escola de magia". Não
foi então uma proposição nossa, nem fomos nós
os "elaboradores do plano". Por que então tanto
esforço para demonstrar que estamos
equivocados? Foi Mad. B. (não nós), quem
concebeu a idéia; e foi o senhor Sinnett quem a
adotou. Não obstante o seu reconhecimento
franco e honrado quanto a se sentir incapaz de
captar a idéia básica da Fraternidade Universal
da Sociedade Matriz, e sendo o seu propósito
somente o de cultivar o estudo das Ciências
Ocultas - esse reconhecimento devia ter posto
de imediato um ponto final a toda insistência
posterior por parte de Mad. B., que a princípio
conseguiu o consentimento, (com muita
relutância devo dizer, de seu próprio Chefe
imediato, e depois a minha promessa de
cooperação) na medida em que eu a pudesse.
Finalmente, por meu intermédio, ela o recebeu
de nosso Chefe superior, a quem submeti a
primeira carta com que me honrastes. Mas, esse
consentimento foi obtido, rogo-vos que lembrais
unicamente sob a condição expressa e
inalterável de que a nova Sociedade seria
fundada como um ramo da Fraternidade
Universal, e que dentre os seus membros, a uns
poucos escolhidos (se aceitassem submeter-se
às nossas condições em vez de nos ditar as
suas), seria permitido que começassem o
estudo das ciências ocultas sob a direção escrita
de um "Irmão". Mas nunca sonhamos com uma
"estufa de truques mágicos". Uma organização
como a projetada pelo senhor Sinnett e vós é
impensável entre europeus, e torna-se quase
impossível mesmo na Índia, a não ser que
estejais preparados para atingir uma altura de
5.400 a 6.000 metros no meio das geleiras dos
Himalayas. A maior e também a mais
promissora de tais escolas na Europa, o último
esforço feito nesse sentido, fracassou
rotundamente há uns vinte anos em Londres. Foi
uma escola secreta para o ensinamento prático
da magia, fundada com o nome de um clube, por
uma dúzia de entusiastas sob a direção do pai
de Lord Lytton. Reuniu, com esse propósito, os
mais apaixonados e empreendedores, como
também os mais adiantados eruditos em
mesmerismo e "magia cerimonial", tais como
Eliphas Levi, Regazzoni e o copta Zergvan-Bey.
E no entanto, na pestilenta atmosfera de
Londres, o "Clube" teve um final prematuro.

Eu o visitei, uma meia dúzia de vêzes, mais ou


menos, e me dei conta desde o princípio, de que
não havia nada para fazer ali e que nada poderia
resultar dele. E esta é também a razão porque a
S.T. Britânica não progride praticamente um
passo. Seus membros pertencem a
Fraternidade Universal, mas só de nome, e
gravitam no melhor dos casos para o Quietismo,
essa paralisia completa da alma. São
intensamente egoistas em suas aspirações e
não colherão outra coisa senão a recompensa
de seu egoísmo.

Tão pouco fomos nós quem iniciou a


correspondência a esta respeito. Foi o senhor
Sinnett que, por própria iniciativa, enviou duas
grandes cartas a um "Irmão", ainda antes que
Mad. B. tivesse obtido a permissão ou promessa
de algum de nós de responder-vos, ou soubesse
sequer a quem de nós devia entregar a carta.
Havendo o seu próprio Chefe recusado
categoricamente responder, foi a mim a quem se
dirigiu. Devido a estima que lhe tenho, consenti,
dizendo-lhe mesmo que poderia comunicar
todos vós o meu nome místico Tibetano e
respondi a carta do nosso amigo. Logo chegou
a vossa - tão inesperada como a outra. Nem
mesmo conhecíeis o meu nome! Mas a vossa
primeira carta era tão sincera, seu espírito tão
prometedor e as possibilidades que se anteviam
para a promoção do bem geral, pareciam tão
grandes, que, se não gritei "Eureka" depois de
lê-la e não arremessei a minha lanterna de
Diogenes longe de mim, foi somente porque
conheço muito bem a natureza humana e (e
deveis me desculpar), a natureza ocidental.
Incapaz, entretanto, de substimar a importância
desta carta, levei-a imediatamente ao nosso
venerável Chefe. Tudo que pude obter d'Ele foi
só a permissão de temporariamente
corresponder convosco e permitir que
expresseis tudo o que pensais antes de fazer
uma promessa definitiva. Nós não somos
Deuses, e até eles mesmos, os nossos Chefes
só têm esperanças. A natureza humana é
insondável e a vossa é, talvez, muito mais que a
de qualquer outro homem que eu conheça. A
vossa última carta foi certamente, senão um
completo mundo de revelação, pelo menos uma
adição muito útil ao meu conjunto de
observações sobre o caráter ocidental,
especialmente o do anglo-saxão moderno,
altamente intelectual. Mas isso seria, deveras,
uma revelação para Mad. B. que não percebe
isso, (e por várias razões é melhor que seja
assim) pois isso poderia abater muito a sua
presunção e fé nos seus próprios poderes de
observação. Eu poderia provar-lhe entre outras
coisas, que ela estava muito enganada em
relação a atitude do Sr. Sinnett neste assunto,
bem como à vossa; e que eu, que nunca tive o
privilégio de conhecer-vos pessoalmente, como
ela teve, conheço-vos melhor do que ela. Eu
tinha positivamente predito para ela a vossa
carta. A não ter Sociedade alguma, ela desejava
tê-la de qualquer modo e aguardar depois os
acontecimentos. Eu a preveni de que não éreis
um homem para submeter-se a quaisquer
condições que não fossem as vossas, nem
sequer de dar um passo para a fundação de uma
organização, por nobre e grande que fosse, sem
que recebesseis primeiro tais provas como as
que nós geralmente damos somente a aqueles
que depois de anos de provação, mostraram-se,
por completo, dignos de confiança. Ela se
rebelou contra a opinião e me assegurou que se
eu vos desse uma irrepreensível prova dos
nossos poderes ocultos, ficaríeis satisfeito,
enquanto que o senhor Sinnett não estaria
nunca. E agora que os dois tiveram tais provas,
quais são os resultados? Enquanto o senhor
Sinnett crê (e não se arrependerá nunca disso),
permitistes que a vossa mente se enchesse
gradualmente com dúvidas odiosas e as
suspeitas mais insultantes. Se tiverdes a
bondade de recordar a minha primeira nota
breve vinda de Jhelum, vereis a que então eu me
referia, ao dizer que vós estaríeis com a mente
envenenada. Vós me compreendestes mal,
então, como prosseguiu dai em diante: porque
nessa nota eu não e referia à carta do senhor
Olcott na Gazeta de Bombaim, mas ao estado
da vossa própria mente. Esstaria equivocado?
Eu sei que não apenas duvidais do "fenômeno
do broche" - como positivamente não crêdes
nele. Dizeis a Mad. B. que ela possivelmente é
uma dessas pessoas que crêem que os meios
maus justificam os fins bons e, em vez de
esmagá-la com todo o desprezo que tal ação
despertaria num homem com os vossos
elevados princípios: assegurais à ela a vossa
inalterada amizade. Até a sua carta, dirigida a
mim, está cheia do mesmo espírito suspeitoso,
e o que nunca perdoaríeis em vós mesmo (o
crime do engano) tentais persuadir-vos de que
podeis perdoá-lo em outra pessoa. Meu querido
senhor, estas são contradições extranhas!
Havendo-me favorecido com semelhante série
de inestimáveis reflexões morais, conselhos e
sentimentos, podeis, talvez, permitir-me
igualmente dar-vos as idéias de um humilde
apóstolo da Verdade, um obvscuro hindú, sobre
este particular. Como o homemé umser
nasscido com livre arbítrio e dotado de razão, de
onde derivam as suas noções de bem e mal, ele
não representa per se nenhum ideal moral
definido. O conceito de moralidade em geral se
relaciona primeiramente e antes que nada, com
a intenção ou motivo, e só depois, com os meios
ou modos de ação. egue-se daí que se nós não
chamamos moral, e não poderíamos fazê-lo
nunca, ao homem que, seguindo as normas de
um famoso intrigante religioso, usa meios mauss
para um bom propósito, quanto menos moral
chamaríamos àquele que usa meios
aparentemente bons e nobres para atingir um
objetivo decididamente mau ou depreciável? E,
de acaôrdo com a vossa lógica, e uma vez que
já confessastes tais suspeitas, Mad. B. deveria
estar colocada na primeira destas categorias e
eu na segunda. Porque, enquanto que a ela
outorgais o benefício da dúvida, comigo não
usais de tais precauções supérfluas, e me
acusais, inequivocamente, de estabelecer um
sistema enganoso. O argumento usado em
minha carta, com relação à "aprovação do
Governo Doméstico" qualificais de "motivos
muito baixos", e a isso acrescentais a seguinte
esmagadora e direta acusação: "não quereis
este Ramo (o Anglo-Indú) para a
obra...meramente o desejais como uma atração
para os vossos irmãos nativos. Sabeis que isto
vai ser uma simulação, mas parecerá
suficientemente com a coisa real", etc., etc. Essa
é um acusação direta e positiva. Sou
considerado culpado de perseguir um objetivo
mau e mesquinho por meios baixos e
desprezíveis, isto é, por meios excusos...

Ao escrever essas acusações não parastes para


pensar, que como a projetada organização tinha
em vista algo maaior, mais nobre, e muito mais
imnportante do que a mera gratificação dos
desejos de uma pessoa solitária, conquanto
digna que, em caso de sucesso em promover a
segurnça e bem estar de toda uma nação
conquistada, é claramente possível que, o que
pode mostrar-se para o vosso orgulho individual
como "uma baixo motivo" é, antes de tudo,
apenas a ansiosa busca de meios que seriam a
salvaçõ de todo um país continuamente objeto
de descrétido e suspeitas, a proteção do
conquistado pelo conquistador! Eu sei que vos
orgulhais em não serdes patriota - Eu não,
porque aprendendo aamar o seu país, o homem
aprende a amar mais a humanidade. Em 1857,
a ausência do que denominais de "baixos
motivos" levou os meus compatriotas a serem
dizimados pelos vossos com as salvas dos seus
canhões. Por que então, eu não haveria de crer
que um autêntico filântropo consideraria a
aspiração por um melhor entendimento entre o
Governo e o povo da Índia como algo muito
recomendável em vez de muito vil? "Não dou
nada" como dizeis, pelo conhecimento e a
filosofia em que está baseado, "se não fosse de
algum proveito para a humanidade", se isso não
"me capacitasse par ser mais útil à minha
geração", etc., etc. Mas, quando vos oferecem
os meios par fazer esta boa obra, vos afastais
com desprezo com um "insulto" e uma
"simulação"! Verdadeiramente maravilhosas são
as contradições contidas na vossa notável
carta... E então rides vigorosamente diante da
idéia de uma "recompensa" ou "aprovação" dos
vossos semelhantes. "A recompensa que
espero", dizeis, "consistirá em ganhar a minha
auto-aprovação". "Uma aprovação própria" a
que importa tão pouco o veredito corroborativo
da maior parte do mundo, para o qual os atos
bosn e nobres de um indivíduo seriam como
ideais elevados e os mais poderosos
estimulantes para uma emulação, não é outra
coisa que o egoismo orgulhoso e arrogante! É
ELE MESMO contra toda crítica; "Apres moi - le
deluge", exclama o francês com a sua petulância
costumeira! "Antes que Jehovah fôsse, EU
SOU"! disse o Homem - o ideal de todo inglês
intelectual moderno. Encantado como me sinto
ante a idéia de ser o canal que lhe proporciona
tanta satisfação, isto é, ao vos pedir par traçar
um plano geral para a formação do Ramo Anglo-
Indiano, no entanto sou forçado a dizer-lhe de
novo que o vosso sorriso foi prematuro, pois
mais uma vez mal interpretastes a minha
intenção. tivesse eu pedido o vosso auxílio na
organização de um sistema par o ensino das
ciências ocultas, ou um plano para uma "escola
de magia", o exemplo que trouxestes de um
rapaz ignorante, solicitado a resolver "um
complexo problema com relação ao movimento
de um fluido no interior de um outro fluido", teria
sido muito feliz. Tal como está, a vossa
comparação não vem ao caso e a ponta de ironia
não fere a ninguém; pois o que mencionei dizia
respeito apenas ao plano geral e à
administração externa da projetada Sociedade e
nada tinha a ver com os seus estudos
esotéricos, mas com o Ramo da Fraternidade
Universal, não com a "Escola de Magia" - a
formação da primeira era a condição sine qua
non para a segunda. É óbvio que, em um
assunto como ese, da formação de um Ramo
Anglo-Indiano, a ser composto de ingleses e
destinado a servir de laço de união entre os
britânicos e os nativos, (e no qual seria condição
que aqueles que quizessem compartilhar da
sbedoria secreta, a herança dos filhos desta
terra devem estar dispostos a conceder a estes
nativos, pelo menos, alguns privilégios até agora
recusados) vós, ingleses, são muito mais
competentes do que nós para esboçar um plano
geral. Conheceis bem as condições que seriam
provavelmente aceitas ou rechaçadas, e nós nõ.
Eu lhe pedi um esbosço de um plano e
entendestes que eu clamava por cooperação
nas instruções a serem dadas nas ciências
espirituais! Um quid pro quo dos mais
infortunados e, entretanto, o senhor Sinnett
parece ter entendido o meu desejo à primeira
vista.

Pareceis, outra vez, demonstrar o


desconhecimento da mente Hindú quando dizeis
que "nem uma só entre dez mil mentes nativas
está bem preparada para copmpreender e
assimilar verdades transcedentais como a
minha". Por mais que possais ter razão em
pensar que "entre os homens de ciência ingleses
não se encontra nem meia dúzia cujas mentes
sejam mais capazes de receber estes
rudimentos (do conhecimento oculto) do que a
minha" (a vossa), estais enganado quanto aos
nativos. A mente Hindú é preeminentemente
aberta para a rápida e clara percepção das mais
transcedentais e mais complexas verdades
metafísicas. Alguns dos mais iletrados captam
em um relance o que poderia escapar, com
frequência, ao melhor metafísico ocidental.
Podeis ser, e com certeza sois superiores a nós
em qualquer ramo do conhecimento físico; em
ciências espirituais nós fomos, somos e seremos
sempre vossos MESTRES8.

Mas permitai-me perguntar-vos o que posso eu,


um nativo semi-civilizado, pensar da caridade,
modéstia e bondade de alguém pertencente a
uma raça superior; alguém a quem conheço
pelas suas nobres intenções, justo e de bom
coração na maioria das circunstâncias de sua
vida, quando, com mal disfarçado desdem,
exclama: "se quereis homens que se lancem
com os olhos vendados, despreocupados dos
ulteriores resultados, conformai-vos com os
vossos Olcotts; se quereis homens de uma
CLASSE MAIS ELEVADA cujos cérebros
funcionem eficazmente em prol de vossa causa
recordai..." etc. Meu querido senhor, nem
queremos que os homens se precipitem
cegamente nem estamos dispostos a abandonar
a provados amigos que preferem passar por
tolos, do que revelar o que possam ter aprendido
debaixo de solene promessa de não o revelar
jamais a menos que lhes seja permitido - mesmo
com a possibilidade de atrair indivíduos da mais
alta classe, nem estamos especialmente
ansiosos para conseguir alguém que trabalhe
para nós, exceto com inteira espontaneidade.
Desejamos corações verdadeiros e inegoistas,
almas confiantes e intrépidas0, e estamos
completamente de acôrdo em deixar que os
homens de "classe mais elevada" e de intelecto
muito superior procurem o seu próprio caminho
para a luz. Esses sempre nos considerarão
como sendo seus subordinados.

Creio que essas citações da vossa carta e as


francas respostas que provocaram, são
suficientes para vos mostrar quão distantes
estamos de uma entente cordiale1. Demonstrais
um espírito de impetuosa combatividade e um
desejo - perdoai-me - de lutar contra as sombras
evocadas pela vossa própria imaginação. Tive a
honra de receber as vossas três longas cartas
antes que mal tivesse tempo de responder em
termos à primeira. Eu nunca positivamente,
recusei atender os vossos desejos, nem havia
sequer respondido a uma só pergunta vossa.
Como podíeis saber o que o Futuro lhe
reservava se tivésseis esperado somente uma
semana? Convidai-me para uma conferência,
unicamente, segundo parece, para poder
demonstrar-me os defeitos e debilidades dos
nossos modos de ação e as causas do nosso
suposto fracasso em desviar a humanidade dos
seus maus caminhos. E na vossa cartaa
mostrais claramente que vos considerais como
sendo o princípio, o meio e o fim da lei para vós
mesmo.

Por que, então, dai-vos ao trabalho de escrever-


me? Mesmo aquilo que chamais de "flexa Parta"
jamais foi escrito com tal intenção. Não sou eu,
quem, não podendo alcançar o absoluto, iria
depreciar ou substimar o relativamente bom. Os
vossos "passarinhos" têm, feito, sem dúvida, já
que assim o credes, muito bem à sua maneira, e
eu nunca sonhei em ofendê-lo com a minha
observação de que a raça humana e seu bem
estar eram, pelo menos, um estudo tão nobre,
como o bem estar é uma ocupação tão desejável
como o é a ornitologia. Mas não estou muito
seguro de que a vossa observação de
despedida quanto a não sermos invuneráveis
como grupo, é completamente livre daquele
espírito que animava os Partos retirantes. Seja
como for, estamos contentes de continuar
vivendo como o fazemos, desconhecidos e
imperturbados por uma civilização que se apoia
tão exclusivamente no intelecto.

Nem nos sentimos, de qualquer modo,


preocupados acerca do ressurgimento de
nossas antigas artes e elevada civilização,
porque tão certo a sua era, estas retornará e em
forma ainda mais elevada, assim como
acontecerá aos plesiosaurios e megatérios.
Temos a inclinação de crer em ciclos que voltam
sempre periodicamente e esperamos poder
acelerar a ressurreição do que já passou e se foi.
Nós não poderíamos impedí-lo ainda que o
quizéssemos. A "nova civilização" será senão a
filha da antiga, e apenas temos que deixar que a
lei eterna siga o seu próprio curso para que os
nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas
estamos certamente ansiosos de apressar o
desejado acontecimento. Não temais; embora
"nos aferrremos supersticiosamente às relíquias
do passado", o nosso conhecimento não
desaparecerá da vista humana. ele é o "dom dos
deuses" e a mais preciosa relíquia de todas. Os
guardiães da Luz sagrada não atravessaram
vitoriosamente tantos séculos apenas para se
acharem como náufragos nas rochas do
ceticismo moderno. Nossos pilotos são
marinheiros bastante peritos a ponto de que
temamos tal desastre. Acharemos sempre
voluntários para substituir as fatigadas
sentinelas, e o mundo, mau como o é no
presente período de transição, pode nos
fornecer, de vez em quando, alguns homens.

Vós "propondes não ir mais adiante no assunto"


a menos que demos "algum novo sinal"? Meu
estimado senhor, cumprimos os nossos
deveres; respondemos ao vosso apelo e agora
nos propomos a não tomar outro passo. Nós,
que temos estudado algo dos ensinamentos
morais de Kant e os analizamos com bastante
cuidado, chegamos à conclusão de que mesmo
as opiniões deste grande pensador acerca
dessa forma de dever (das Sollen) que define os
métodos da ação moral, não obstante as suas
afirmações unilaterais em contrário, não chegam
a uma plena definição de um princípio de
moralidade incondicional e absoluta, tal como
nós o entendemos. E esta nota Kantiana ressoa
através de toda a vossa carta. Vós que amais
tanto a humanidade, dizeis, que se não fôsse a
vossa geração se beneficiar com isso,
rechaçaríeis o próprio "Conhecimento". E,
entretanto, este sentimento filantrópico não
parece vos inspirar com a caridade em direção
àqueles que considerais como sendo de uma
inteligência inferior. Por que? Simplesmente
porque a filantropia de que vós pensadores
ocidentais, vos orgulhais, carece de caráter
universal, isto é, que, nunca tendo sido
estabelecida sobre a base firme de um princípio
teórico, e que, principalmente entre os
onipresentes pregadores Protestantes, isso é
uma mera manifestação acidental mas não uma
LEI reconhecida. A análise mais superficial
mostrará, que, tanto quanto qualquer outro
fenômeno empírico da natureza humana, não
pode ele ser aceito como sendo um padrão
absoluto de atividade moral; isto é, algo
conducente a uma eficiente ação. Dado que, em
sua natureza empírica essa espécie de
filantropia é como o amor, mas algo acidental,
excepcional, e como tal tem as suas
preferências e afinidades egoistas, ela é
necessariamente incapaz de aquecer a toda a
humanidade com seus raios beneficientes.
Esse, eu penso, é o segredo do fracasso
espiritual e do egoismo inconsciente desta
época. E vós, de outra forma um bom e sábio
homem, passando-vos despercebido, o tipo do
espírito desta época, sois incapaz de
compreender as nossas idéias sobre a
Sociedade como Fraternidade Universal, e
portanto voltai-lhe o rosto.

A vossa consciência, dizeis, se rebela diante da


idéia de se tornar "um pretexto marionete
movido por vinte ou mais manipuladores
ocultos". Que sabeis de nós, a quem não podeis
ver? Que sabeis de nossos alvos e objetivos; e
de nós, a quem não podeis julgar?... perguntais.
Extranhos argumentos. E supondez realmente
que nos conheceríeis e que penetraríeis melhor
em nossos "alvos e objetivos" caso viésseis a
me ver pessoalmente? Tenho receio, que com
nenhuma experiência do passado desta
espécie, mesmo os vossos poderes naturais de
observação - conquanto mais agudos que sejam
- teriam que ser considerados mais do que
inúteis. Pois, meu querido senhor, mesmo os
nossos Baharoopias podem provar qualquer dia
sua capacidade de hábeis competidores diante
do mais perspicaz residente político, e nem um
só deles foi descoberto ou sequer reconhecido;
e os seus poderes mesméricos não são da
classe mais elevada! Por mais suspeitas que
possais abrigar acerca dos detalhes do "broche",
há um fator primordial no caso, que a vossa
astúcia já vos sugeriu que só pode ser explicado
pela teoria de uma vontade mais forte
influenciando a senhora Hume para que ela
pensasse neste objeto particular e não em outro.
E se à Mad. B.19, uma mulher enfermiça devem
ser creditados tais poderes, estais tão seguro de
que vós mesmo não poderíeis render-vos diante
de uma vontade exercitada, dez vêzes mais
poderosa do que a dela? Eu poderia chegar à
sua casa amanhã, e instalando-me ali, tal como
fiu convidado; alcançar um domínio completo
sobre toda a vossa mente e corpo em 24 horas,
sem que, em nenhum momento, désseis conta
disso. Posso ser um homem de boa índole, ou
posso ser facilmente, pois que nada sabeis a
meu respeito, um intrigante maligno, odiando
profundamente a vossa raça branca que
subjugou e humilha diariamente a minha, e
vingar-me em vossa pessoa, um dos melhores
representantes daquela raça. Se apenas fôsse
empregado o poder do mesmerismo exotérico,
poder que é adquirido com igual facilidade, tanto
pelo homem mau como pelo bom, mesmo assim
dificilmente poderíeis escapar dos laços
lançados para aprisioná-lo, se o convidado fôsse
apenas um bom mesmerizador, porque sois um
sujeito notavelmente fácil de dominar, do ponto
de vista físico. "Mas a minha consciência, a
minha intuição!", podeis agumentar. Mísera
ajuda num caso como o meu. A vossa intuição
vos faria sentir somente o que fôsse realmente,
na ocasião; e quanto a vossa consciência -
aceitaríeis por acaso, a definição de Kant a
respeito dela? Vós, talvez, acreditais como ele
que, sob todas as circunstâncias, e mesmo com
a plena ausência de noções religiososas
definidas, e ocasionalmente mesmo quaisquer
noções firmes acerca do certo e do errado, o
HOMEM tem sempre um guia seguro em suas
percepções morais íntimas ou consciência? É o
maior dos enganos apesar de toda a formidável
importância deste fator moral, ele tem um defeito
radical. A consciência, como já foi notado, pode
muito bem ser comparada a esse "Espírito"0
cujas orientações eram escutadas com tanto
zelo por Sócrates, às quais obedecia
prontamente. Como esse "Espírito", a
consciência pode, talvez, nos indicar o que não
devemos fazer, mas nunca nos guiará para o
que devemos cumprir, nem dará propósito
definido à nossa atividade. E nada pode ser
adormecido com mais facilidade e até
completamente paralizado do que esta mesma
consciência, por uma vontade treinada mais
forte do que a do seu possuidor. A vossa
consciência não vos fará saber NUNCA se o
mesmerizador é um verdadeiro Adepto ou um
hábil impostor, uma vez que ele tenha cruzado o
limiar e obtido o controle do aura que circunda a
vossa pessoa1. Falais de abster-vos de tudo
menos de um trabalho inocente como o de
colecionar pássaros desde que não haja o
perigo de criar outro monstro no estilo de
Frankenstein... A imaginação, assim como a
vontade, cria. A suspeita é o agente mais
provocativo da imaginação... Cuidado! pois já
gerastes em vós mesmo o germem de um futuro
e horrendo monstro, e em vez de realizar os
vossos ideais mais elevados e puros, podereis
algum dia evocar um fantasma que, fechando
toda a passagem à luz, vos deixaria em trevas
piores do que antes, atormentando-vos até o fim
da vossa vida2.

Expressando de novo a esperança de que minha


candura não vos ofenda, fico, como sempre,
querido senhor,

Seu servidor mais obediente,

KOOT HOOMI LAL SINGH

Para: A.O. Hume, Esq.


Carta Nº 029

(De M. a A.P.Sinnett. Fins de Outubro 1881).

Esta é a carta mais longa do Mahatma M.,


dirigida igualmente a Sinnett e Hume.

Em seu número de 3 de setembro de 1881, a


"The Saturday Review", uma publicação espírita
inglesa, atacou H.P.B. e Olcott como
"aventureiros inescrupulosos". Hume escreveu
um artigo em defesa deles, evidentemente
ignorado pela "The Saturday Review", mas,
posteriormente, publicado nos números de
dezembro de 1881 e janeiro de 1882 do "The
Theosophist". Neste artigo, Hume referiu-se às
cartas para H.P.B., vindas de seu tio, Major
General H. Fadeev e do Príncepe Dondoukoff
Korsakoff. Demorou um pouco encontrarmos a
própria referência de H.P.B. a estas cartas que
ajudavam a estabelecer a sua identidade numa
época em que era acusada de ser uma espiã
russa, uma aventureira, e assim por diante. Pode
ter sido este artigo de Hume que levou o
Mahatma ao senso de obrigação para com ele.
O próprio Mahatma diz que considera a dívida de
gratidão tão sagrada "que agora faço pelo bem
dela o que eu poderia ter recusado fazer, mesmo
para a Sociedade".
Neste ponto seria muito bom examinar uma carta
para Sinnett, escrita no começo de novembro de
1881 por H.P.B., relacionando sete assuntos que
ela tinha sido instruida pelo Mahatma M. a
transmitir para Sinnett. Essa é a Carta 4, entre
as cartas de H.P.B. para Sinnett, pp.5-6 (Veja
Apêndice III deste livro).

Em resposta à vossa eu tenho que responder


com uma carta mais longa. Para começar, posso
dizer o seguinte: o Sr. Hume pensa e fala de mim
em uma forma que merece menção até onde ela
afeta a disposição de ânimo com que propõe
solicitar-me instrução filosófica. A seu respeito
eu me importo tanto quanto ele com o meu
desagrado. Mas, passando por cima da sua
incompatibilidade superficial, reconheço
plenamente a bondade de suas intenções, suas
aptidões e sua utilidade potencial. Faríamos
melhor se começarmos a trabalhar sem mais
digressões e enquanto ele persevere, encontrar-
me-á disposto a ajudá-lo, mas não a adulá-lo ou
disputar.

Ele interpretou tão mal o espírito no qual, o


Memorando e o pós-escrito foram redigidos, que,
não tivesse ele me colocado durante os últimos
três dias sob débito de profunda gratidão pelo
que ele está fazendo pela minha velha e pobre
chela, nunca teria me dado ao trabalho de fazer
o que poderia parecer com uma desculpa ou
uma explicação, ou ambas as coisas. Seja como
fôr, essa dívida de gratidão é tão sagrada, que
faço agora por ela o que poderia mesmo ter
recusado fazer pela Sociedade: peço a
permissão dos Sahibs para familiarizá-los com
certos fatos. O funcionário inglês mais sagaz não
conhece as nossas maneiras indo-tibetanas. A
informação agora dada poderá ser de utilidade
para as nossas futuras relações. Terei de ser
sincero e falar claro, e o Sr. Hume terá que
perdoar-me. Uma vez que sou obrigado a falar,
devo dizer TUDO ou não dizer nada.

Não sou um refinado erudito, Sahibs, como o


meu abençoado Irmão; entretanto, creio
entender o valor das palavras. E, sendo assim,
então, sou incapaz de compreender o que pode
ter havido em meu pós-escrito para provocar o
irônico desgosto no senhor Hume contra mim.
Nós, moradores das cabanas indo-tibetanas,
não disputamos nunca (isto é em resposta a
alguns pensamentos expressados em relação ao
assunto). Deixamos as lutas e mesmo as
discussões para aqueles que, incapazes de
avaliar uma situação num relance, são, dessa
maneira, forçados, antes de chegar a uma
decisão final, a analizar e pesar ponto por ponto
e repetidamente, mesmo, a cada detalhe.

Sempre que nós - pelo menos aqueles dentre


nós que são dikshita, parecemos, portanto, a um
europeu não "inteiramente seguro de nossos
fatos", isso pode, com frequência, dever-se à
seguinte peculiaridade; aquilo que a maioria dos
homens considera como um "fato", não nos
parece mais que um simples RESULTADO, uma
constatação que não merece a nossa atenção,
atraída geralmente por fatos primários. A vida,
estimados Sahibs, mesmo quando
indefinidamente prolongada, seria demasiado
curta para que sobrecarregássemos nossos
cérebros com pequenos detalhes, meras
sombras.

Ao observar o desenvolvimento de uma


tempestade, nós fixamos nosso olhar na causa
que a produz e abandonamos as nuvens ao
capricho do vento que as modela. Tendo sempre
os meios à mão, sempre que absolutamente
necessário, de trazer ao nosso conhecimento os
menores detalhes, nós nos ocupamos apenas
dos fatos principais. Daí que, dificilmente
podemos estar absolutamente equivocados -
como muitas vêzes nos acusais, pois as nossas
conclusões jamais são tiradas de dados
secundários, mas da situação como um todo.

Por outro lado, o homem comum - mesmo entre


os mais intelectuais - que dão toda a sua atenção
ao testemunho das aparências e forma externa,
incapazes como são de penetrar a priori até o
cerne das coisas, tendem bastante a julgar
erroneamente a situação em seu todo, sendo
levados a descobrir o seu engano quando já é
demasiadamente tarde. Devido à política
complicada, aos debates e ao que denominais
caso não esteja enganado, de conversação
social, controvérsias e discussões de salão, a
sofistica chegou a ser na Europa (portanto, entre
os anglo-indianos) "o exercício lógico das
faculdades intelectuais", enquanto que para nós
nunca superou o seu estágio original de
"raciocínio enganador", premissas
cambaleantes e inseguras das quais se derivam,
se formam e se estabelecem, a maioria das
conclusões e opiniões. Novamente, nós,
ignorantes asiáticos do Tibet, acostumados mais
a seguir o pensamento de nosso interlocutor ou
correspondente, do que as palavras com que ele
o reveste, preocupamo-nos geralmente muito
pouco com a exatidão das suas expressões.
Pois bem, esta introdução parecerá tão
ininteligível como inútil para vós, e talvez
perguntais onde quero chegar com tudo isso?
Paciência, vos rogo, porque tenho algo mais a
dizer antes da nossa explicação final.

Há alguns dias, antes de nos deixar, Koot Hoomi


me disse, falando a vosso respeito, o seguinte:
"Sinto-me cansado e desanimado com essas
intermináveis discusssões. Quanto mais me
esforço em explicar a ambos as circunstâncias
que nos controlam e interpõem entre nós tantos
obstáculos a um livre intercâmbio, menos me
entendem! Sob os aspectos mais favoráveis,
esta correspondência será sempre insatisfatória,
às vêzes exasperante mesmo; pois nada os
satisfará por completo, a não ser entrevistas
pessoais nas quais poderia haver discussão e
solução imediata de dificuldades intelectuais,
conforme se apresentem. É como se
estivéssemos berrando um para o outro através
de uma intransponível ravina e somente um de
nós vendo o seu interlocutor. De fato, não há em
nenhum lugar na natureza física um abismo
montanhoso tão desesperadamente
intransponível e obstrutivo ao viajante como
esse de natureza espiritual, que os mantém
afastados de mim".

Dois dias mais tarde, quando o seu "retiro" doi


decidido, ao partir ele me perguntou: "Cuidareis
do meu trabalho, vereis que não caia em
ruínas?" Prometi. O que eu não lhe teria
prometido naquela hora? Em um certo lugar, que
não deve ser mencionado a extranhos, existe um
abismo, atravessado por uma frágil ponte de
fibras entrelaçadas, com uma impetuosa
correnteza em baixo. O mais intrépido membro
dos vossos clubes alpinos, dificilmente ousaria
aventurar-se em passá-la, porque a ponte está
pendurada como uma teia de aranha e parece
apodrecida e intransponível. E, no entanto, não
é assim; e aquele que ousa enfrentar a prova e
tem êxito (como o terá se estiver certo de que lhe
seja permitido), chega à uma garaganta de
insuperável beleza de cenário - a um dos nossos
lugares e até a alguns de nossa gente, em
relação aos quais não existe nem anotação nem
descrição entre os geógrafos europeus. À
distância do arremesso de uma pedra desde a
velha Lamaseria, ergue-se a antiga torre dentro
da qual desenvolveram-se gerações de
Bodhisatvas. É aí, onde descansa agora,
aparentemente sem vida, o vosso amigo, meu
Irmão, a luz de minha alma, a quem fiz uma
solene promessa de velar pela sua obra durante
a sua ausência. E seria cabível, pergunto-vos,
que apenas passados dois dias depois do seu
retiro, eu, seu fiel amigo e Irmão, poderia ter
gratuitamente demonstrado falta de respeito
para com os seus amigos europeus? Que razão
haveria e o que poderia ter suscitado uma idéia
como essa na mente do Sr. Hume e mesmo na
vossa? Devido a uma palavra ou duas
inteiramente mal compreendidas e mal aplicadas
por ele. Eu irei provar isso.

Não achais que se a expressão usada


"chegando a odiar o sutphana tivesse ido
substituida por "chegando a sentir novamente
relances de antipatia" ou de irritação temporária,
só esta frase teria maravilhosamente mudado os
resultados? Tivesse ela sido assim formulada, o
Sr. Hume dificilmente teria encontrado uma
oportunidade de negar o fato em forma tão
terminante como o fez. Porque nisso ele tem
razão e a PALAVRA é incorreta. É uma
afirmação perfeitamente correta dizer que um
sentimento de ódio como esse nunca existiu
nele. Resta ver se será também capaz de
protestar contra a declaração em geral. Ele
confessou o fato de que estava "irritado" e teve
um "sentimento de desconfiança" ocasionado
por H.P.B. Esssa "irritação", como ele não o
nega mais, perdurou por alguns dias. Onde ele
então encontra a incorreção? Vamos admitir
ainda, que a palavra usada fôsse incorreta.
Então, já que ele é tão escrupuloso na escolha
das palavras, tão desejoso de que traduzam
sempre o exato sentido, porque não aplica a si
mesmo igual norma de ação? O que poderia ser
facilmente perdoado a um asiático ignorante do
idioma inglês, quem, ademais, nunca teve o
costume de escolher as suas expressões, pelas
razões acima citadas e porque não podia ser mal
interpretado entre a sua gente, deveria ser
inexcusável em um inglês educado e altamente
ilustrado. Escreve em sua carta a Olcott: "Ele
(eu) ou ela (H.P.B.) ou entre os dois,
confundiram e interpretaram tão mal uma carta
escrita por Sinnett e por mim, que isso conduziu
a que recebêssemos uma mensagem totalmente
inaplicável às circunstâncias, que
necessariamente criou desconfiança". Solicito
humildemente permissão para fazer uma
pergunta: quando foi que ela ou eu, ou nós dois
vimos e lemos e daí, "confundimos e
interpretamos erroneamente" a carta em
questão?

Como poderia ela ou eu termos confundido o que


ela não havia visto nunca e eu, não tendo a
tendência nem o direito de ver, nem de imiscuir-
me em um assunto concernente apenas ao
Chohan5 e a K.H., em questão, de que foi em
consequência dessa vossa carta que eu a enviei
à residência do senhor Sinnett com a
mensagem? Eu estava ali, respeitados Sahibs, e
posso repetir o que ela disse, palavra por
palavra; "Que é isso?... Que estáveis fazendo,
ou dizendo a K.H." - ela gritou no seu estado
usual nervoso e excitado para o Sr. Sinnett que
estava sozinho no quarto - "para que M.
(indicando a mim) estivesse tão irritado e me
dissesse que me preparasse para partir e
instalar o nosso quartel general no Ceilão?"
estas foram as primeiras palavras que ela disse,
assim mostrando que não sabia nada com
certeza, e o expressou menos ainda e que
simplesmente inferiu com base no que eu lhe
havia dito. E o que eu lhe dissera foi
simplesmente que seria melhor que ela se
preparasse para o pior e partir para o Ceilão, ali
se instalando, e que deixasse de ser tola,
tremendo a cada carta que lhe fôsse dada para
enviar a K.H.; e que, a menos que aprendesse a
se controlar melhor do que fazia, eu ia pôr ponto
final ao assunto dos dak6. Eu lhes disse estas
palavras, não porque eu tivesse algo a ver com
a vossa carta ou qualquer outra, nem em
consequência de qualquer carta enviada, e sim
porque sucedeu que eu vi toda a aura que
circunda os novos Ecléticos e a ela mesma,
negra e prenhe de intrigas, e a mandei dizer isso
ao senhor Sinnett, não ao senhor Hume. A minha
observação e mensagem, a pertubaram do
modo mais ridículo (devido a sua infortunada
disposição e aos seus nervos desequilibrados) e
isso motivou a bem conhecida cena. É por causa
dos fantasmas da ruína teosófica, evocados pelo
seu cérebro desequilibrado, que ela é agora
acusada - em minha companhia - de ter
confundido e interpretado erroneamente uma
carta que ela nunca viu? Caso exista na
afirmação do Sr. Hume uma só palavra que
possa ser chamada de correta - o termo "correta"
está sendo agora por mim aplicado para o real
significado de toda a sentença, não meramente
a palavras isoladas - eu deixo para o julgamento
de mentes superiores às dos Asiáticos. E se
posso quetionar a exatidão da opinião de
alguém, tão vastamente superior a mim no que
se refere à educação, inteligência e agudeza na
percepção da eterna adequação das coisas -
tendo em vista a explicação acima mencionada -
porque haveria de ser considerado
"absolutamente equivocado" pela seguine
afirmação: "Vi também o crescimento de uma
repentina antipatia (diremos irritação)
engendrada pela desconfiança (tendo o Sr.
Hume confessado e usado idêntica expressão
em sua resposta a Olcott, - compare, por favor,
a citação da sua carta como foi dada acima) no
dia que a mandei com uma mensagem para a
residência do senhor Sinnett". É isso incorreto?
E além disso: "eles sabem quão excitada e
desequilibrada ela está, e este sentimento hostil
da parte dele foi quase cruel. Durante dias
inteiros mal olhou para ela, deixando de lhe falar
- inflingindo uma severa e desnecessária dor à
sua natureza hiper sensível. e quando isso lhe
foi dito pelo Senhor Sinnett, ele negou o fato"!

Esta última frase, que continua na página 7 com


muitas outras verdades semelhantes, eu separei
junto com o resto (conforme podeis averiguar
com Olcott, que lhe dirá haver originalmente 12
páginas e não 10, e que ele enviou a carta com
muito mais detalhes do que podeis achar agora
nela, pois ele não está ciente do que eu fiz e,
porque foi feito. Não querendo relembrar ao Sr.
Hume os detalhes a muito esquecidos por ele e
irrelevantes no caso em questão, eu arranquei a
página e risquei muito do restante. Seus
sentimentos tinham já mudado e eu estava
satisfeito.)

Agora a questão não é se o Sr. Hume se importa


muito, se os seus sentimentos se comprazem
comigo ou não, mas sim, se ele se baseava em
fatos para escrever a Olcott como o fez, isto é,
se eu tinha inteiramente mal interpretado os seus
reais sentimentos. Eu digo que ele não se
baseava. Ele não pode mais impedir-me de estar
"desgostoso", assim como eu posso dar-me ao
trabalho de fazer com que se sinta de modo
diferente de como se sente agora, ou seja, que a
ele pouco importa se os seus sentimentos me
desgostam ou não. Tudo isso é uma criancice; e
aquele que está desejoso de aprender como
beneficiar a humanidade, e crê que é capaz de
ler o caráter das outras pessoas, tem que
começar primeiro de tudo, a aprender a
conhecer-se a si mesmo, a fim de compreender
o seu próprio caráter no seu verdadeiro valor. E
isso, aventuro-me a dizer, de modo algum ele
aprendeu. E ele tem também que aprender em
que casos particulares os resultados podem, por
sua vez, se tornarem causas primárias e
importantes, quando o resultado se torna um
Kyen7. Tivesse ele a odiado com o mais amargo
dos seus ódios, ele não poderia ter torturado os
seus nervos totalmente sensitivos de forma mais
efetiva do que o fez, conquanto, "ainda amando
a querida velha Dama". Procedeu assim com
todos que mais amava, e inconscientemente
para consigo mesmo, voltará a fazê-lo mais
ainda no futuro; entretanto, o seu primeiro
impulso sempre será o de negá-lo, porque, na
verdade, é inconsciente totalmente do fato,
estando nesses casos a extrema bondade de
seu coração por inteiro cega e paralizada por
outro sentimento que, caso lhe seja indicado,
negará também. Se desanimar-se antes os seus
apelidos de "ganso" e "Don Quixote", fiel à
promessa que dei ao meu abençoado Irmão, eu
lhe falarei a respeito disso, quer goste ou não;
porque agora, que manifestou abertamente os
seus sentimentos, teremos que nos entender ou
romper relações. Isto não é "uma ameaça semi
velada", como ele o expressa por "uma ameaça
a um homem é como o latido de um cão", não
significa nada. Digo que, a menos que
compreenda quão inaplicável é para nós o
critério pelo qual ele está acostumado a julgar as
pessoas ocidentais de sua própria sociedade,
seria implesmente uma perda de tempo para
mim ou para K.H. ensinar e para ele aprender.

Nós nunca consideramos uma advertência


amistosa como uma "ameaça", nem nos
sentimos irritados quando ela nos é oferecida.
Ele diz que, pessoalmente, não se importa o
mínimo "caso os Irmãos rompam amanhã as
relações com ele"; uma razão suficiente para que
cheguemos a um entendimento. O Sr. Hume se
orgulha em pensar que nunca teve "um espírito
de veneração" por alguma coisa a não ser pelo
seus ideais abstratos. temos plena consciência
do fato. Nem poderia ele possivelmente sentir
venereação por alguém ou por algo, já que toda
a veneração de que é capaz a sua natureza, está
concentrada nele mesmo. Este é um fato e a
causa de todos os desgostos de sua vida.
Quando os seus numerosos "amigos" oficiais e a
sua própria família dizem que isso é presunção,
eles estão equivocados e dizem uma verdadeira
tolice. Ele é demasiado intelectual para ser
presunçoso: ele é, simples e inconscientemente,
a personificação do orgulho. Não teria veneração
nem mesmo para o seu próprio Deus, não fôsse
esse Deus - da sua própria criação e formação;
e essa é a causa pela qual nunca ele poderia se
tornar receptivo a qualquer doutrina
estabelecida, nem nunca se submeteria a
nenhuma filosofia que não surgisse toda
armada, como a Saraswati grega, ou Minerva, do
seu próprio cérebro. Isso poderia esclarecer o
fato de eu ter recusado dar-lhe, durante o curto
período da minha instrução, nada a não ser
meios problemas, sugestões e dilemas para que
ele resolvesse por si mesmo. Porque somente
assim acreditaria quando a sua própria e
extraordinária capacidade para captar a
essência das coisas lhe mostrasse claramente
que isso deve ser assim desde que se ajuste
com o que ele concebe ser matematicamente
correto. Se ele, tão injustamente, acusou K.H.,
por quem sente real afeto, de sentir
ressentimento por sua falta de reverência para
com ele, é porque construiu o seu ideal do meu
irmão segundo a sua própria imagem - O Sr.
hume nos acusa de nos sobrepormos a ele de
Haut en bas! Se tão somente ele soubesse que
para nós um honesto limpador de bota é tão bom
quanto um rei honesto, e que um varredor imoral,
muito melhor e mais desculpável do que um
imperador imoral, nunca teria proferido tal
absurdo. O Sr. hume se queixa (mil perdões,
"gargalhadas", é o termo correto) de que nós
mostramos desejos de sentar sobre ele. Eu me
atrevo a sugerir muito respeitosamente, que é,
em absoluto, vice-versa. É o senhor Hume (de
novo em forma inconsciente e cedendo a um
hábito de toda vida) que ensaiou esta desmedida
atitude para com o meu irmão em cada carta que
escreveu a Koot Hoomi. E quando certas
expressões, denotando o seu fogoso espírito de
auto-aprovação e confiança em si mesmo e que
chegavam ao ápice do orgulho humano, eram
observadas e delicadamente contraditadas pelo
meu irmão, o senhor Hume de imediato deu-lhes
outro siginificado delas e acusando K.H. de o ter
interpretado mal, considerando-o soberbo e "
arrogante": Será que eu acusei então de falta de
equidade, injustiça ou algo pior? Decididamente
não. Jamais um homem honesto, sincero ou
bondoso como ele respirou sobre os Himalayas.
Eu conheço ações suas, das quais a sua família
e senhora são completamente ignorantes - de tal
nobreza, bondade e grandeza, que mesmo o seu
orgulho é incapaz de perceber absolutamente.
De modo que tudo o que ele pudesse dizer ou
fazer não poderia diminuir o meu respeito por
ele: mas apesar de tudo isso, - sou forçado a
dizer-lhe a verdade: ao mesmo tempo que essa
parte do seu caráter merece toda a minha
admiração, o seu orgulho nunca obterá a minha
aprovação, - pela qual, novamente, o Sr. hume
não se importará nem um pouco; mas isso, na
verdade, interessa muito pouco. O homem mais
sincero e franco da Índia, o senhor Hume, é
incapaz de tolerar uma contradição; seja essa
pessoa um Deva ou um mortal, ele não pode
apreciar nem mesmo aceitar sem que reclame
as mesmas qualidades de sinceridade em
alguém que não seja ele mesmo. Tão pouco se
pode fazê-lo admitir que alguém neste mundo
pode conhecer melhor que ele algo que tenha
estudado e sobre o qual tenha formulado sua
opinião. "Eles não se disporão ao trabalho
conjunto da maneira que me parece a melhor",
queixa-se de nós em sua carta a Olcott e só essa
frase nos dá a chave de todo o seu caráter: nos
dá a mais clara percepção de como operam os
seus sentimentos íntimos. Tendo o direito -
pensa ele - de considerar-se desprezado e
erradamente, em consequência de uma recusa
"não generosa" e "egoista" nossa em trabalhar
debaixo de sua direção, ele não pode evitar, no
fundo do seu coração, de pensar de si mesmo
como o homem mais indulgente e generoso,
que, em vez de se ofender com a nossa
negativa, está não obstante, todo "desejoso" de
prosseguir conforme o modo deles (nossos)". E
esta nossa irreverência pelas suas opiniões
pode não lhe ser agradável e daí, o sentimento
desta grande injustiça que lhe fazemos se eleva,
torna-se proporcional à magnitude do nosso
"egoismo" e "arrogância". Daí a sua decepção e
a sincera dor que sente ao ver a Loja e a nós tão
abaixo do nível do seu ideal. Ele se ri da minha
defesa de H.P.B.; e entregando-se a um
sentimento indigno de sua natureza, esquece
infortunadamente que é sua, na verdade, a
disposição de permitir que amigos e inimigos o
chamem de "protetor dos pobres" e outras
designações, e que, entre outros, os seus
inimigos jamais deixam de lhe aplicar
semelhantes nomes; e que, longe de cairem
sobre ele como um insulto, esse sentimento
cavalheiresco que o levou sempre a tomar a
defesa dos fracos e oprimidos e a reparar os
danos feitos por seus colegas - como no último
exemplo do problema com a municipalidade de
Simla - o cobre com um manto de glória
imperecível, tecido com a gratidão e afeto que
lhe tem o povo que ele defende com tanto valor.
Vós dois atuais debaixo da impressão extranha
de que nós podemos importar, e que importamo-
nos mesmo por tudo o que diga ou pense de nós.
Tirai isso de vossas mentes e recordai que o
primeiro requisito, mesmo para um simple faquir,
é que deve ter se adestrado a permanecer
indiferente, tanto à dor moral como ao sofrimento
físico. Nada pode nos proporcionar dor ou prazer
pessoais. E o digo agora, é mais para que nos
compreendam, do que a vós mesmos, que é a
ciência mais difícil de se aprender. Que a
intenção do senhor Hume, impulsionada por um
sentimento tão transitório como apressado, e
devido à uma sensação de crescente irritação
comigo, a quem acusou de querer "impor-se",
era a de vingar-se com um gesto irônico, e, por
conseguinte, (para a mente europea) insultante
para mim - é tão certo, como que errou o golpe.

Ignorante, ou melhor, esquecendo o fato de que


nós os asiáticos carecemos totalmente do
sentido do ridículo que incita a mente ocidental a
ridicularizar as melhores e mais nobres
aspirações do gênero humano0, eu, ainda que,
pudesse sentir-me ofendido ou adulado pela
opinião do mundo, teria mais me sentido
cumprimentado em vez de outra coisa. Meu
sangue de Rajput jamais permitirá ver a uma
mulher ofendida em seus sentimentos, sem
defendê-la ainda que ela fôsse uma "visionária"
e o erro chamado "imaginário" não seja mais de
que outra das suas "fantasias" - ; e o senhor
Hume conhece bastante acerca de nossas
tradições e costumes para estar suficientemente
inteirado deste resto de sentimento
cavalheiresco para com as nossas mulheres, em
nossa raça sob outros aspectos, degenerada.

Por conseguinte, eu afirmo que se esperava as


designações que me atingissem ou me ferissem
o epíteto satírico, ou que fôsse consciente do
fato de que estava insultando a uma coluna de
granito - o sentimento que o impulsionou era
digno de sua nobre e melhor natureza, já que, no
primeiro caso, era de ser considerado como um
mesquinho sentimento de vingança e, no
segundo, como puerilidade. Assim, em sua carta
a O., ele se queixa ou denuncia (peço que me
desculpeis pelas limitadas palavras em inglês de
que disponho) a atitude de "semi ameaça" de
romper convosco e que imagina encontrar em
nossas cartas. Nada poderia ser mais errôneo.
Não temos intenção de romper com ele tanto
quanto teria um hindú ortodoxo de deixar a casa
que está visitando até que lhe seja dito que a sua
companhia já não é mais desejada. Mas quando
isso se insinua, ele se vai. O mesmo conosco. O
senhor Hume se orgulha em repetir que não tem
pessoalmente nenhum desejo de nos ver, nem a
curiosidade de nos conhecer; de que nossa
filosofia e ensinamento não podem beneficiá-lo
de modo algum, a ele que aprendeu e conhece
tudo o que pode ser aprendido; que não se
importa nada que rompamos com ele ou não,
nem se preocupa que se estamos satisfeitos
com ele ou não. Cui bono, pois? Entre a (por ele)
imaginada reverência que esperamos dele e
essa combatitividade injustificada, que pode
degenerar, qualquer dia, nele, em uma
inexpressada, mas autêntica hostilidade, existe
um abismo terreno intermediário que mesmo o
Chohan possa ver. Ainda que não se possa
acusá-lo agora de não fazer, como no passado,
qualquer concessão às circunstâncias e às
nossas regras e leis, peculiares, no entanto, ele
está sempre precipitando-se para essa fronteira
negra de amizade, onde a confiança está
obscureceida e tenebrosas suspeitas e
impressões errôneas toldam todo o horizonte.
Eu, sou como eu era; e como eu era e sou, assim
sempre serei - o escravo do meu dever para com
a Loja e a humanidade; não só ensinando, mas
desejoso de subordinar toda preferência pelos
indivíduos ao amor pela raça humana. É gratuito,
portanto, acusar-me a mim ou a qualquer um de
nós, de egoismo ou desejo de considerar-vos
como "desprezados Pelings" e de querer
"cavalgar em asnos" só porque somos incapazes
de encontrar cavalos adequados. Nem o
Chohan, nem K.H., nem eu nunca
menosprezamos os méritos do senhor Hume.
Ele fez inestimáveis serviços à Soc. Teosófica e
à H.P.B. e só ele é capaz de fazer da Sociedade
um agente eficiente para o bem. Quando permite
que a sua alma espiritual o guie, não se pode
encontrar melhor homem, mais puro e mais
benevolente. Mas quando o seu Quinto Princípio
se alça em irreprimível orgulho, sempre o
enfrentaremos e o desafiaremos. Indiferente o
seu excelente conselho mundano de como
devíeis estar armado com provas de nossa
realidade, ou de como deveríeis ao trabalho
conjunto na maneira que pareça a melhor para
ELE, eu permanecerei indiferente até que receba
ordens em contrário. Com referência a vossa
última carta (a do Senhor Sinnett), revistai as
vossas idéias como puderdes, com as mais
agradáveis frases, e estareis, não obstante,
surpreendido, e quanto ao senhor Sinnett, estará
decepcionado, por eu não ter concordado em
permitir fenômenos, e por nenhum de nós ter se
posicionado junto a vós. Nada posso fazer e
quaisquer que sejam as consequências, não
haverá mudnça alguma em minha atitude até a
volta de meu Irmão entre os vivos.

Vós sabeis que nós dois amamos o nosso país e


a nossa raça; que consideramos a Sociedade
Teosófica, como tendo grande potencialidade
para o bem do país e da raça, estando em mãos
adequadas; que alegremente acolheu a
identificação do senhor Hume com a causa e que
eu atribui um alto valor a isso, mas só um justo
valor. E assim deveríeis compreender que tudo
que pudéssemos fazer para vincular a ambos
mais estreitamente a nós, o faríamos de todo o
coração. Mas contudo, se a nossa escolha se
situa entre desobedecermos à mais leve
imposição do nosso Chohan no que se refere a
quando possamos ver a algum de vós, ou ao que
possamos escrever, como e onde; e a perda de
vosso apreço e mesmo o sentimento de vossa
forte animosidade e a dissolução da Sociedade,
não vacilaríamos um só instante. Podem
considerá-lo irracional, egoista, arrogante e
redículo, julgando como sendo jesuítico e
colocar sobre nós toda a culpa, mas a lei é a LEI
para nós e nenhum poder pode fazer com que
deixemos de cumprir um pouquinho do nosso
dever. Demos-vos uma possibilidade de obter
tudo o que desejáveis, melhorando o vosso
magnetismo, assinalando-vos um ideal mais
nobre a ser alcançado e, ao senhor Hume,
mostrou-se o que ele já sabia: como ele pode
beneficiar imensamente a alguns milhões de
seus semelhantes. Escolhei segundo o vosso
melhor critério. A vossa escolha já está feita, eu
sei, mas o senhor Hume pode, talvez mudar de
idéia uma vez mais; eu serei o mesmo para o
meu grupo e minha promessa, não importa a
decisão que ele tome. Tampouco deixamos de
apreciar as grandes concessões que ele já fez;
concessões tão grandes, a nosso ver, por estar
ele menos interessado em nossa existência e
violentar os seus sentimentos unicamente na
esperança de poder beneficiar a humanidade.
Ninguém, no seu lugar teria se acomodado a
essa situação com tanta boa vontade como ele o
fez, ou se mantido tão estritamente à declaração
"de objetivos primários" na reunião do dia 21 de
agosto; enquanto "prova à comunidade nativa
que os membros da classe governante" estão
também desejosos de promover os louváveis
projetos da S.T., ele aguarda o momento
oportuno de obter mesmo as nossas verdades
metafísicas. Já fez um bem imenso e ainda não
recebeu nada em troca. Nem também espera
algo. Relembrando-vos que a pressente carta é
uma resposta a todas as vossas cartas e a todas
as vossas objeções e sugestões, eu posso
acrescentar que tendes razão, e que apesar de
toda a vossa maneira "terra a terra", o meu
abençoado Irmão sente, sem dúvida, verdadeira
estima em relação a vós, e ao Sr. Hume, o qual,
alegro em notar que tem algum sentimento bom
para com ELE, embora ele não seja como vós e
realmente é "muito orgulhoso para buscar a sua
recompensa em nossa proteção".

Apenas que, onde estais e estareis sempre


errados, meu querido senhor, é em sustentar a
idéia de que os fenômenos possam se tornar
invariavelmente "uma poderosa máquina" para
sacudir os fundamentos das crenças errôneas
na mente ocidental. Ninguém, a não ser os que
conseguem ver por si mesmos, crerá jamais,
apesar do que fizerdes. "satisfazei-nos e nós
satisfaremos ao mundo", dissestes uma vez.
Fostes satisfeito e quais são os resultados? Meu
desejo é que pudesse imprimir nas vossas
mentes a profunda convicção de que não
desejamos que o Sr. Hume ou vós provais
conclusivamente ao público que nós realmente
existimos. Por favor, compreendei o fato que
enquanto os homens duvidarem haverá a
curiosidade e a pesquisa, e que a pesquisa
estimula a reflexão que gera o esforço; mas, uma
vez que o nosso segredo tenha sido
completamente vulgarizado, não só a sociedade
cética não terá maiores benefícios, como
também a nossa privacidade estaria
constantemente em perigo e teria que ser
resguardada a um custo irracional de energia.
Tende paciência amigo do meu amigo. O senhor
Hume levou anos para matar bastante pássaros
para completar o seu livro; e não lhes ordenava
que abandonassem os seus retiros frondosos,
mas precisou esperar que chegassem e ele os
empalhasse e os catalogasse; assim deveis ter
paciência conosco. Oh, Sahibs! se pudessem
tão somente catalogar-nos, e nos rotular e expor-
nos no Museu Britânico, então, deveras poderia
o vosso mundo ter a verdade absoluta e
dissecada.

E volta assim tudo, de novo, como de costume,


ao seu ponto de partida. Vós estais nos caçando
ao redor de vossas próprias sombras,
apreendendo apenas, de vez em quando, uma
visão fugaz de nós, mas jamais chegando
suficientemente perto para escapar do sombrio
esqueleto da suspeita que está em vossos
calcanhares e que os enfrentará no futuro. Temo
que seja assim até o fim do capítulo, pois não
tendes a paciência de ler o volume até o fim.
Porque estais tratando de penetrar as coisas do
espírito com os olhos da carne, de vergar o
inflexível ao vosso próprio crú modelo de como
deveria ser, e encontrá-lo, ele não se dobrará, e
vós, provavelmente, não romperá e...direis
adeus para sempre ao sonho.

E agora umas poucas palavras de despedida,


como explicação. O memorando de O.18 que
produziu resultados tão desastrosos e um caso
único de qui pro-quo, foi escrito no dia 27. Na
noite de 25 meu amado Irmão me disse que,
tendo ouvido o Sr. Hume dizer, no aposento de
H.P.B., de que jamais ouvira O. afirmar para ele
que nos vira, e também ouvira, além disso, que,
se Olcott lhe contasse isso, ele tinha bastante
confiança no homem para crer no que ele tinha
dito, - ele, K.H. pensou em pedir-me que fôsse,
e dizer a O. para proceder assim, crendo que
agradaria ao senhor Hume aprender alguns
detalhes. Os desejos de K.H. são uma lei para
mim. E essa é a razão porque o Sr. Hume
recebeu aquela carta de O., numa época quando
as suas dúvidas estavam resolvidas. No mesmo
momento em que entregava a minha mensagem
a O., satisfiz a sua curiosidade quanto a vossa
Sociedade0 e lhe disse o que achava dela. O.
pediu minha permissão para enviar-lhe essas
anotações, o que autorizei. Esste é, pois, todo o
segredo. Por minhas próprias razões, queria que
soubésseis o que eu achava da situação, poucas
horas depois que o meu bem amado Irmão se
retirasse deste mundo. Quando a carta vos
chegou, os meus sentimentos tinham mudado
um pouco e alterei bastante o memorando, como
já disse antes. Como o estilo de O. me havia feito
rir, acrecentei o meu postscriptum que se
relacionava unicamente com Olcott, mas, não
obstante, o Sr. Hume considerou-o aplicado
inteiramente como totalmente destinado a ele
próprio!

deixemos disso. Encerro a carta mais longa que


já escrevi na minha vida, mas como o faço por
K.H. estou satisfeito. Embora o Sr. Hume não
creia, a "marca do Adepto" é conservada em....,
não em Simla, e trato de manter-me no mesmo
nível, por mais pobre que eu possa ser como
escritor e correspondente.

M.
Carta Nº 030

(De K.H. a A.O.Hume. Recebida em 18 de


Agosto de 1882)

Esta é a carta anexada à Carta nº.73. É a


resposta do Mahatma K.H. à carta de Hume para
ele, queixando-se a respeito de Fern. No começo
da carta nº.73, ele diz que é "forçado" pelo
Chohan a responder à carta de Hume, mas ele
não sabe se ele está "dentro dos limites de vosso
código de polidez". Assim, ele manda esta
resposta a Hume para Sinnett para que a leia,
antes de remetê-la.
Várias cartas recebidas neste determinado
período de tempo estão estreitamente
relacionadas, e ao final da próxima carta a ser
considerada (nº.75), o Mahatma M. anexa uma
nota pedindo a Sinnett que não dê esta carta
(nº.74) a Hume. Provavelmente Sinnett seguiu
este conselho; de outro modo o original (dado
que é dirigido a Hume) não estaria no Museu
Britânico com as outras cartas vindas dos
Mahatmas. É uma carta importante,
estabelecendo, como faz claramente, a atitude
dos Mahatmas em relação ao chelado e àqueles
que aspiram este objetivo. Obviamente, Sinnett
conservou-a com as suas cartas. Ela trata
principalmente das dificuldades que os
Mahatmas estavam tendo com Hume e
particularmente daquelas relacionadas ao seu
secretário, Fern. Sem dúvida, Hume havia escrito
uma carta anterior ao Mahatma K.H. sobre Fern,
e que ele não respondeu.

A carta refere-se a um "ardil" que Hume achou


que Fern tinha imaginado para o Mahatma M. (e
que, na opinião de Hume, M. caiu nele)
relacionado com um artigo que Fern escrevera a
respeito de uma "visão" que tivera (ou imaginou
que tivera) algum tempo antes. Hume escreveu
que, a fim de testar o Mahatma M., Fern desejava
saber "se Morya desejava que (o seu artigo)
fosse publicado e Morya responde, quase que
caindo no ardil, que ele o desejava". Nessa visão,
havia três misteriosos seres - o "guru" - o
"Poderoso Uno" e o "Pai", este último sendo o
Mahatma Morya. Depois de alguns comentários
posteriores, Morya (na interpretação de K.H., de
sua reação), diz que é tudo ridículo e "não mais
falaremos disso".

PRIVATIVA

Meu Querido Irmão.

Provavelmente, uma semana atrás, dificilmente


teria deixado de aproveitar esta oportunidade
para dizer que a vossa carta concernente ao
senhor Fern é uma deformação tão completa do
espírito, e acima de tudo, da atitude de M. em
relação ao citado jovem cavalheiro, que somente
a vossa completa ignorância acerca do objetivo
que ele busca poderia originar... e eu não teria
dito mais nada. Mas agora, as coisas mudaram;
e embora viestes a saber que nós "não
possuimos realmente o poder de ler nas mentes",
como se supoz não obstante, nós sabemos
bastante do espírito em que minhas últimas
cartas foram recebidas e da insatisfação
produzida, para suspeitar, senão, para saber que
embora a verdade seja mal acolhida com
frequência, no entanto, chegou o tempo para que
eu fale convosco, franca e abertamente. A
mentira é um refúgio do débil, e nós somos
suficientemente fortes, mesmo com todos os
defeitos que vos alegrais em descobrir em nós
para recear muito pouco a verdade; nem é
provável que nós mintamos, somente porque
seja de nosso interesse parecer sábios em
relação a assuntos que ignoramos. Assim,
talvez, poderia ter sido mais prudente observar
que já sabíeis que não possuíamos realmente o
poder de ler nas mentes, a menos que, nos
puséssemos em sintonia completamente e
concentrássemos uma total atenção sobre a
pessoa cujos pensamentos quizéssemos
conhecer - o que teria sido um fato inegável, em
vez de uma presunção gratuita, como agora se
sustenta em vossa carta. Seja como for, eu
encontro agora apenas dois caminhos diante de
nós, sem a menor possibilidade de transigir.
Daqui em diante, se é o vosso desejo que
trabalhemos juntos, devemos fazê-lo sobre uma
base de perfeita compreensão. Estareis na mais
perfeita liberalidade de nos dizer (pois pareceis,
ou melhor, chegastes sinceramente a crer) que a
maioria de nós, devido ao mistério que nos
envolve, vivemos adquirindo crédito por saber o
que realmente não sabemos; enquanto que eu,
por exemplo, estarei autorizado, tanto quanto
vós, a fazer-vos saber o que posso pensar de
vós, vós, de vossa parte, prometereis que não
rireis disso exteriormente, guardando rancor
interiormente (algo em que, não obstante os
vossos esforços, podereis raramente ajudar),
mas que, no caso em que eu esteja enganado, o
provareis com alguma demonstração mais sólida
do que uma mera negação. A menos que vos
comprometeis a isso, será, por completo, inútil
para qualquer um de nós perder o nosso tempo
em controvérsias, e correspondência. Melhor
que nos despedíssemos astralmente, através do
espaço, e esperar até que, ou tenhais adquirido
o dom de dicernir a verdade, da falsidade, em
maior grau do que possuis agora; ou que
demonstrem que não somos mais que uns
impostores (ou pior ainda, fantasmas
embusteiros); ou, finalmente, que alguém entre
nós esteje em condições de demonstrar a nossa
existência a vós ou ao senhor Sinnett, não
astralmente, pois isso poderia reforçar somente
a teoria do "Espírito", mas visitando-vos
pessoalmente.

Já se torna quase imnpossível convencer-vos de


que, embora ocasionalmente, lemos os
pensamentos de outras pessoas, posso esperar
que acrediteis, pelo menos, que nós, com um
conhecimento suficiente do idioma inglês não
interpretamos mal inteiramente a vossa carta
muito clara? E crer em mim quando digo que,
tendo-a compreendido perfeitamente, eu vos
respondo simplesmente: "Meu estimado irmão,
estais clamorosamente equivocado do princípio
ao fim!" Toda a vossa carta está baseada em
uma falsa interpretação, uma total ignorância dos
"elos perdidos", que unicamente poderiam dar-
vos uma verdadeira chave de toda a situação. O
que tentais dizer com o seguinte?:

Meu querido Mestre:

Entre vós estais completamente estragando Fern


- e é de dar condolências mil vêzes - porque ele
é realmente uma boa pessoa e tem um intenso
desejo de conhecimento oculto, uma vontade
forte e uma grande capacidade para a auto-
mortificação; ele seria, estou seguro, útil para os
vossos propósitos, mas a sua vaidade está se
tornando intolerável e ele se tornando um
inveterado fabricante de ficções, e isto é devido
a todos vós. Ele enganou Morya completamente,
desde o princípio, e tem estado persistentemente
mentindo ao senhor Sinnett, para conservar a
ilusão de que conseguiu que Morya lhe confiasse
segredos e o aceitasse como chela, e agora
pensa que pode superar qualquer um. Morya
responde caindo inteiramente na
armadilha...esta fraude, sem dúvida, começou
em vossos (nossos) interesses...etc,etc,etc.

É desnecessário para eu repetir, uma vez mais,


o que já disse antes, isto é: de que, até receber
a vossa primeira carta concernente ao senhor
Fern, eu nunca lhe dera nem um momento de
atenção. Quem, então, entre nós, pôs a perder
esse jovem cavalheiro? Morya? Bem, é fácil ver
que o conheceis menos ainda do que ele
conhece, no vosso conceito, acerca do que
tendes em mente. "Ele enganou Morya
completamente". Será? Lamento ser obrigado a
confessar que, de acôrdo com o vosso código
ocidental, melhor pareceria o contrário; que foi o
meu amado Irmão quem "iludiu" o senhor Fern -
não tivesse o mal soante termo um outro
siginificado entre nós, como também um outro
nome. Este último, naturalmente, pode parecer-
vos ainda mais "chocante", pois mesmo o senhor
Sinnett, que é somente um eco de qualquer
homem da sociedade inglesa, considera-o
completaamente revoltante aos sentimentos de
um inglês comum. Esse outro nome é -
PROVAÇÃO; algo que cada chela, que não
deseja permanecer simplesmente ornamental,
tem que suportar nolens volens por um período
de tempo mais ou menos prolongado; algo que,
por esta mesma razão que está sem dúvida
baseada no que vós, ocidentais, sempre
considerariam como um sistema para iludir ou
decepcionar, é que eu, conhecendo as idéias
européias melhor do que Morya, sempre recusei
aceitar ou mesmo considerar qualquer um de vós
como - chelas. Assim pois, o que agora
considerastes erradamente como "ilusão", como
sendo proveniente do senhor Fern, o terieis
atribuido a M., se tão somente tivésseis
conhecido um pouco mais do que conheceis de
nosso sistema; considerando o que é a verdade,
um é profundamente irresponsável por muito do
que está fazendo agora, e o outro está
suportando o resultado do que honesta e
previamente preveniu ao senhor Fern; o que, se
lestes a correspondência, como dizeis, saberíeis
pela carta de H.P.B. a Fern, vinda de Madras,
carta que, no zelo dela pelos favores de M. lhe
escreveu para Simla, confiando que com isso o
afugentaria. A um chela sob provação é
permitido pensar e fazer o que quiser. Ele é
prevenido e avisado de antemão: "Sereis tentado
e enganado por exterioridades, serão abertas
duas sendas diante de vós, ambas conduzentes
à meta que estais tentando alcançar; uma é fácil,
que o conduzirá mais rapidamente ao
cumprimento das ordens que possais receber; a
outra, mais árdua e mais prolongada - uma
senda cheia de pedras e espinhos que vos farão
tropeçar mais de uma vez durante a marcha, e,
ao final da qual, podereis achar, depois de tudo,
o fracasso e sentir-vos incapaz de cumprir as
ordens dadas para algum pequeno trabalho
particular. Entretanto, enquanto que a última
senda fará com que as dificuldades que nela
sofrestes sejam registradas no futuro ao lado do
seu crédito, a primeira, a senda fácil, pode tão
somente oferecer-vos uma satisfação
momentânea, um cumprimento fácil de tarefa". O
chela se acha em perfeita liberdade e com
frequência completamente justificado do ponto
de vista das aparências, para suspeitar que o seu
Gurú é uma "fraude", como a elegante palavra
expressa. Mais que isso; quanto ,maior, quanto
mais sincera seja a sua indiginação, seja
expressa em palavras ou fervilhante em seu
coração, mais capacitado e melhor qualificado
estará para se tornar um Adepto. Ele é livre e não
será chamado a prestar contas por usar a
linguagem e expressões mais contundentes com
respeito às ações e ordens do seu Gurú, desde
que saia vitorioso da ardente prova; desde que
resista à cada uma das tentações que: repudie
toda sedução e prove que nada, nem mesmo a
promessa daquilo que ele estima mais do que a
vida, a mais preciosa dádiva, o seu futuro
adeptado, é capaz de desviá-lo da senda da
verdade e honestidade, ou forçá-lo a tornar-se
um impostor. Meu querido senhor, dificilmente
nos entenderemos acerca de nossas idéias das
coisas, nem mesmo do valor das palavras. Certa
vez nos chamastes de jesuítas; e vendo as
coisas como as vêdes, talvez tivésseis razão, até
certo ponto, em nos considerar assim, pois que,
aparentemente, os nossos sistemas de
adestramento não diferem muito. Mas isso só
ocorre externamente. Como eu disse antes, eles
sabem que o que ensinam é uma mentira, e nós
sabemos que o que transmitimos é verdade,
apenas a verdade e nada mais que a verdade.
Eles trabalham para o maior poder e glória de
sua Ordem; nós, pelo poder e glória final dos
indivíduos, de unidades isoladas, da humanidade
em geral, e estamos contentes - e ainda mais,
forçados a deixar a nossa Ordem e seus chefes
inteiramente na sombra. Eles (os jesuítas)
trabalham, se afanam e enganam, buscando o
poder mundano nesta vida; nós trabalhamos e
nos esforçamos e permitimos aos nossos chelas
que sejam temporariamente enganados, para
possibilitar-lhes meios de modo que jamais
venham a ser enganados daí em diante e vejam
todo o mal da falsidade e da mentira, não apenas
nesta como em muitas das suas vidas futuras
Eles - os jesuítas - sacrificam o princípio interno,
o cérebro Espiritual do ego, para nutrir e
desenvolver melhor o cérebro físico do homem
pessoal e evanescente, sacrificando a toda
humanidade para oferecê-la em holocausto à
sua Sociedade, o insaciável monstro que se
alimenta do cérebro e da medula da
humanidade, desenvolvendo um incurável
câncer em cada setor de carne saudável que
toca. Nós - os criticados e mal compreendidos
Irmãos, buscamos persuadir aos homens a que
sacrifiquem a sua personalidade (um relâmpago
passageiro), pelo bem estar de toda a
humanidade e, em consequência, pelos seus
próprios Egos imortais, uma parte dela, assim
como a humanidade é uma fração de todo
integral em que se converterá um dia. Eles (os
jesuítas) são treinados para enganar; nós, para
desenganar; eles fazem o trabalho dos vermes -
e excetuando a alguns pobres e sinceros
instrumentos seus - con amore, e com
finalidades egoistas; nós deixamos isso a cargo
dos nossos serventes, os dugpas a nosso
serviço, dando-lhes carte blanche por algum
tempo e apenas com o objetivo único de extrair
da total natureza interna do chela a maior parte
dos escaminhos e recantos que permaneceriam
obscuros e ocultos para sempre, caso não fôsse
proporcionada uma oportunidade para testar
sucessivamente cada um desses recantos. Que
o chela perca ou ganhe a recompensa - depende
somente dele mesmo. Somente tereis que
relembrar que as nossas idéias Orientais acerca
de "motivos", "veracidade" e "honestidade",
diferem consideravelmente de vossas idéias
ocidentais. Ambos cremos que é moral contar a
verdade e imoral mentir; mas aqui cada analogia
cessa e as nossas noções divergem num grau
muito acentuado. Por exemplo, seria uma coisa
muito difícil para vós me dizer, como é que a
vossa civilizada Sociedade Ocidental, a Igreja e
o Estado, a política e o comércio, tenham
adotado uma virtude que é inteiramente
impossível de ser praticada num sentido irrestrito
por um homem educado, um estadista, um
negociante, ou quem quer qeu viva no mundo -?
Pode alguma das mencionadas classes - a flôr
do cavalheirismo inglês, seus mais orgulhosos
pares e mais distintos deputados, suas mais
virtuosas e verazes damas - pode algum deles
dizer a verdade, pergunto, seja no lar, ou na
sociedade, durante as suas funções públicas ou
no círculo familiar? O que pensaríeis de um
cavalheiro ou de uma dama, cuja afável polidêz
de maneiras, e suavidade de linguagem não
encobrissem falsidade alguma, ou de alguém
que ao encontrar-vos, vos dissesse simples e
bruscamente o que ele pensa de vós ou de
qualquer outra pessoa?

E onde podeis achar essa pérola de comerciante


honesto ou patriota temeroso de Deus, ou
político, ou simples e casual visitante vosso, que
não oculte os seus pensamentos a todo o tempo,
e não se veja obrigado, sob a ameaça de ser
considerado como um bruto ou louco, a mentir
deliberadamente e com toda ousadia, até que
seja forçado a dizer-vos o que pensa de vós; a
não ser por um milagre, os seus sentimentos
reais podem ser revelados? Tudo é mentira, tudo
é falsidade, à nossa volta e em nós meu irmão;
essa é a razão porque pareceis tão surpreso,
senão afetado sempre que encontrais uma
pessoa que vos diga a verdade subitamente em
vossa própria face; e também porque parece-vos
impossível compreender que um homem possa
não ter maus sentimentos contra vós, nem
mesmo apreço e respeito por vós, nalgumas
coisas e, no entanto, dizer-vos diretamente o que
honesta e sinceramente pensa de vós. Ao
conhecer a opinião de M. a vosso respeito,
expressa em algumas de suas cartas, (não
deveis sentir-vos completamente seguro de que,
por terem sido escritas por sua própria mão, elas
foram escritas por ele, embora, naturalmente,
cada palavra é por ele sancionada para atender
cetos objetivos) - dizeis que ele tem "um modo
peculiar de se expressar para dizer o mínimo".
Pois bem, essa "forma" é simplesmente a pura
verdade, que ele está disposto a vos escrever, ou
mesmo dizer e repetir na vossa face, sem o
menor ocultamento ou mudança (salvo se ele
propositalmente permitiu que as expresssões
fôssem exageradas para as mesmas finalidades
como foi acima mencionado); e ele é, de todos
os homens que eu conheço, aquele que pode
fazer isso sem a menor hesitação! E por isso o
chamais de "uma espécie de tipo imperioso e
muito irritado, quando se lhe opõe", mas
acrescentais que não tendes sentimento algum
contra ele por causa disso. Pois bem, ISTO NÃO
É ASSIM, meu irmão, e VÓS O SABEIS.
Contudo, estou preparado para conceder a
definição num sentido limitado e admitir e repetir
convosco (e com ele ao meu lado) que ele é um
tipo muito imperioso, e certamente, algumas
vêzes, é muito capaz de se irritar, em especial se
é contrariado no que ele sabe que é correto.
Pensaríeis melhor dele se ele ocultasse a sua
irritação; e mentisse a si mesmo e aos extranhos,
e assim levá-los a lhe atribuir uma virtude que
não tem? Se é um ato meritório extirpar todos os
sentimentos de cólera, de modo a não sentir o
mais leve paraxismo de uma paixão que todos
nós consideramos como pecaminosa, é ainda
um maior pecado pretender que foi assim
extirpada. Por obséquio lêde de novo o "Elixir da
Vida", nº.2 (abril, p. 169, col. 1, parágrafos 2, 3,
4, 5 e 5). E, no entanto, nas idéias do Ocidente,
tudo se inclina para as aparências, mesmo na
religião. Um confessor não pergunta ao seu
penitente se ele sentiu cólera, mas se ele
mostrou cólera para alguém. Se mentes, roubas,
matas, etc. evitas ser descoberto. Este parece
ser o principal mandamento dos Senhores
Deuses da civilização: a sociedade e a opinião
pública. Esta é a única razão porque vós, que
pertenceis a ela, dificilmente sereis, mesmo,
capaz de apreciar caracteres tais como os de
Morya; um homem tão austero consigo mesmo,
tão severo com os seus defeitos, como
indulgente com os defeitos dos outros, não em
palavras, mas nos mais íntimos sentimentos de
seu coração, ou, enquanto está sempre disposto
a dizer-vos em vosso rosto, tudo o que pensa de
vós, sempre se mostrará, no entanto, um amigo
mais fiel para convosco do que eu mesmo, ele
que pode com frequência vacilar em ferir os
sentimentos de alguém, mesmo dizendo a mais
estrita verdade. Assim, se M. fôsse descer a uma
explicação, ele poderia ter vos dito: "Meu Irmão,
em minha opinião, vós sois intensamente egoista
e orgulhoso". Na vossa apreciação e auto-
adulação geralmente perdeis de vista o resto da
humanidade, e eu verdadeiramente creio que
considerais todo o universo como tendo sido
criado para o homem, e esse homem sois vós
mesmo. Se eu não posso suportar que se me
oponham, quando sei que tenho razão, menos
ainda podeis suportar a contradição, mesmo
quando a vossa consciência vos diga claramente
que estais errado. Sois incapaz de esquecer,
embora admito que sois um dos que perdoam, a
menor desatenção. E, sinceramente acreditando
que fostes desprezado por mim
(deselegantemente como certa vez
expressastes), até este dia a suposta ofensa
exerce uma silenciosa influência sobre os vossos
pensamentos em conexão com a minha humilde
individulidade. E apesar de o vosso grande
intelecto sempre impedir que quaisquer
sentimentos vingativos se afirmem e deste modo
predominem sobre a vossa melhor natureza,
nem por isso esses sentimentos deixam de ter
certa influência sobre as vossas faculdades
raciocinadoras, pois achais prazer (embora
dificilmente o admitais) - ao inventar meios para
pegar-lhe em algum tropeço até o ponto de
imaginardes que eu seja um tolo, um crédulo
ignorante, capaz de cair nas armadilhas de um
Fern! Vamos raciocinar, meu Irmão. Vamos
colocar completamente de lado o fato de eu ser
um iniciado, um adepto - e vamos discernir
acerca da posição que as vossas faculdades
imaginativas criaram para mim, como dois
mortais comuns com uma certa dose de bom
senso em minha cabeça e uma grande dose da
mesma na vossa. Se estais preparado para
conceder-me, ainda que seja esse pouco, eu
estou preparado para vos provar que é absurdo
pensar que eu pudesse ser capturado nas
malhas de tão pobre esquema!

Escreveis-me que, com o propósito de provar-


me, Fern quiz saber se Morya desejava que (sua
visão) fôsse publicada e que Morya respondeu
caindo completamente na armadilha, que assim
o desejava. Ora, para dar crédito à última
afirmação é muito difícil e se necessita um
homem de moderado bom senso e poderes de
raciocínio para perceber que há duas
insuperáveis dificuldades na maneira de
reconciliar a vossa precedente opinião de mim
mesmo e a crença de que eu caí realmente na
armadilha. Primeira: a substância e o texto da
visão. Naquela visão há três seres misteriosos -
o "gurú" - o "Poderoso" e o "Pai"; esse último
refere-se a este vosso humilde servo. Pois bem,
difícil acreditar - a menos que me atribuam as
faculdades de um médium alucinado, que eu,
sabendo bem que nunca havia me aproximado,
até então, do jovem cavalheiro no raio de uma
milha de distância, nem o havia visitado nunca
em seus sonhos, que eu devia acreditar na
realidade da visão descrita, ou que, pelo menos,
minhas suspeitas não tenham surgido diante de
tal extranha afirmação.

"Segunda: a dificuldade de reconciliar o duplo


fato de eu ser "um tipo imperioso" que se torna
muito colérico quando encontra oposição e
minha completa submissão à desobediência, à
rebelião de um chela sob provação, o qual,
inteirando-se de que Morya o desejava, isto é,
que se publicasse a sua visão, e havendo
prometido realmente reescrevê-la -, nunca
pensou em obedecer ao desejo após isso, nem o
pobre e insensato gurú e "Pai" pensaram mais no
assunto".

"Muito bem, tudo o que foi dito anteriormente


devia ficar perfeitamente claro, mesmo para um
homem de intelecto mediano". Tendo acontecido
o contrário, e um homem de poderes de
raciocínio e de intelecto indubitavelmente
grandes, tendo sido apanhado na mais mísera
malha de falsidade jamais imaginada - a
conclusão é imperativa, e nenhuma outra pode
ser formada: que esse homem se permitiu,
inconscientemente, a ter o seu pequeno
sentimento vingativo gratificado às custas da sua
lógica e bom senso. Chega, não falaremos mais
disso. Com tudo isso e enquanto abertamente
expresso o meu desagrado pela vossa
arrogância e egoismo em muitas coisas, com
franqueza reconheço e expresso a minha
admiração por vossas muitas outras admiráveis
qualidades, pelos vossos genuínos méritos e
bom senso em tudo que não esteja relacionado
diretamente convosco (em cujos casos vos
tornais tão imperioso como eu mesmo, apenas
que muito mais impaciente), e confio, de
coração, em que me perdoareis pela minha
repressão e maneiras rudes de expressar-me, de
acôrdo com o seu código ocidental. Ao mesmo
tempo, como vós, direi que não somente não vos
tenho ressentimento e, como vós, não obstante
isso, mas, isso que eu digo é uma estrita
realidade, a expressão dos meus genuinos
sentimentos e não meras palavras escritas para
satisfazer o sentido do dever assumido".

E agora, que me fiz o intérprete de Morya para


convosco, posso, talvez, permitir-me dizer
algumas palavras por minha conta. Começarei,
recordando que, em diversas ocasiões, em
especial durante os últimos dois meses, vos
oferecestes repetidamente como um chela, cujo
primeiro dever é o de ouvir sem raiva ou
ressentimento tudo que o gurú disser. Como
podemos - ensinar e vós aprender se temos que
manter uma atitude completamente estranha
para nós e os nossos métodos: a de dois homens
de sociedade? Se quereis realmente ser um
chela, isto é, tornar-vos o recipiente de nossos
mistérios, tendes que vos adaptar às nossas
maneiras, e não nós às vossas. Até que
procedais assim, é inútil que espereis algo mais
do que podemos dar de acôrdo com as
circunstâncias comuns. Desejastes ensinar a
Morya, e podeis descobrir (e o fareis, caso Morya
me permita proceder à minha maneira) que ele
vos ensinou algo que, ou nos fará mais amigos e
irmãos para sempre, ou se prevalecer em vós o
cavalheiro ocidental sobre o chela oriental e
futuro Adepto, rompereis conosco com desgosto
e talvez o proclamareis para todo o mundo.
Todos estamos preparados para isso e estamos
tentando precipitar a crise em um ou noutro
sentido. Novembro está se aproximando, e
nessa ocasião tudo terá que estar decidido. A
segunda questão: não crêdes, meu bom irmão,
que o tipo não civilizado e imperioso que lhe diria
o que pensa de vós honradamente e para o
vosso próprio bem e que, ao mesmo tempo,
estaria cuidadosamente, ainda que invisível,
protegendo a vós e à vossa família e vossa
reputação, de qualquer dano possível, sim.
irmão, a ponto de vigiar por dias e noites um
servente rufião, mussulmano resolvido a vingar-
se de vós, destruindo realmente, os seus vís
planos, não pensais que ele vale dez vezes o seu
peso em ouro, comparado com um Residente
Britânico, um cavalheiro, que reduz em pedaços
a vossa reputação nas vossas costas e afável e
cordialmente estreitará a vossa mão onde quer
que vos encontre? Não pensais que é muito mais
nobre dizer o que se pensa e tendo dito aquilo
que mesmo vós naturalmente considerais como
sendo uma impertinência - e então prestar à
pessoa assim tratada todos os tipos de serviços
dos quais, provavelmente jamais ouvira falar,
para não somente descobrí-los, do que fazer o
que o altamente civilizado coronel ou general
Watson e especialmente a sua senhora fizeram
quando, ao verem pela primeira vez na vida em
sua casa dois estranhos (Olcott e um juiz nativo
de Baroda) tomaram como pretexto para
desacreditar a Sociedade o fato de estardes
nela! Não vos repetirei as mentiras de que foram
acusados, os exageros e calúnias dirigidos
contra vós pela senhora Watson e corroboradas
pelo seu esposo, o galante soldado, tão surpreso
e desarmado ficou o pobre Olcott pelo
inesperado ataque, ele que se sentia tão
orgulhoso por pertenceres à Sociedade, que, em
seu desalento, apelou para M. Se tivésseis
ouvido o que M. disse de vós, e quanto ele
aprecia o vosso atual trabalho e estado de
ânimo, de boa vontade concederíeis a ele o
direito de ser ocasionalmente aparentemente
rude. Ele proibiu-o de dizer algo mais do que já
contara à H.P.B., a qual, muito femininamente,
transmitiu imediatamente ao Sr. Sinnett - embora
ela estivesse naquela ocasião irritada convosco,
ela se ressentiu profundamente do insulto e
ofensa feitos a vós - e até teve o trabalho de
relembrar, quando, como dissera a senhora
Watson, vós recebestes hospitalidade na casa
deles. Tal é pois, a diferença entre os alegados
simpatizantes e amigos de origem superior
ocidental e os da raça Oriental inferior, tidos
como de má vontade.

À parte isso, concedo-vos o direito de sentir-vos


irritado com M. porque este fez algo que, embora
esteja estritamente de acôrdo com nossas regras
e métodos, quando divulgado, será
profundamente ressentido por uma mente
ocidental, e tivesse eu sabido disso em tempo
para impedí-lo, eu teria certamente evitado que
fôsse feito.

É certamente muita bondade do Sr. Fern


expressar a sua intenção de "nos agarrar" e "não,
naturalmente, para expor a Velha Dama, pois o
que tem a ver a pobre Velha Dama, com tudo
isso? Mas ele é plenamente benvindo para nos
agarrar e mesmo para nos expor, não só para a
proteção dele e a vossa, como também de todo
o mundo, se isso pode, de algum modo, consolá-
lo pelo seu fracasso...E fracassado será, isto é
certo, se continuar por esse caminho, fazendo
um duplo jogo. A opção de recebê-lo ou não,
como chela regular, fica com o Chohan.

M. apenas tem que testá-lo, tentá-lo e examiná-


lo por todos os meios disponíveis, para fazer com
que saia à luz a sua real natureza. Esta é uma
regra nossa tão inexorável como desagradável à
vossa visão ocidental, e eu não poderia evitá-la
mesmo que quisesse. Não é suficiente conhecer
completamente o que o chela é capaz de fazer
ou não fazer na ocasião e sob as circunstâncias
durante o período de provação. temos que saber
de que ele pode se tornar capaz sob
oportunidades diferentes e muito variadas.
Todas as nossas precauções são tomadas.
Nenhuma das nossas Upasika ou YU-posah,
nem H.P.B., ou O. nem mesmo Damodar.
Nenhum deles pode ser incriminado.

Está em seu arbítrio mostrar qualquer carta que


esteja em seu poder, e divulgar o que se lhe
ofereceu que fizesse (é deixado a si a escolha
entre as duas sendas) e o que realmente fez, ou
melhor, não fez. Quando chegar o tempo (se
alguma vez chegar para o seu infortúnio), nós
teremos os meios de demonstrar quanto isso é
verdade e quanto de equivocado e invencionice
é dele. Entretanto, vou oferecer-vos um
conselho: obervai e não digais uma só palavra.
Ele foi, é e será tentado a fazer toda espécie de
coisas erradas. Como digo, eu não sabia nada do
que estava sucedendo até o outro dia; quando
soube que até o meu nome estava misturado,
indiretamente, na provação, preveni a quem
havia de prevenir e proibi estritamente que os
meus próprios assuntos fôssem envolvidos
nisso.

Entretnto, ele é um magnífico sujeito para a


clarividência e de nenhuma maneira tão mau
como pensais. É vaidoso, mas - quem não é? -
Quem de nós está completamente livre desse
defeito? Ele pode imaginar e dizer o que
goste;mas que vós vos permitisseis ser
empolgado por um preconceito, cua existência
nem equer estais preparado para admitir, é
sumamente extranho! Acreditar sinceramente na
afirmação de que M. foi enganado e colhido na
armadilha pelo senhor Fern, é na realidade
demasiado ridículo, quando nem mesmo, O. e
nem a "Velha Senhora" jamais acreditaram
nisso, pois que sabiam que ele ia ficar sob
provação, e também sabiam o que isso
significava M. esforçou-se, há alguns dias, em
demonstrar-vos que nunca foi preso como
esperaveis que fôsse, e que sorriria ante esta
mesma idéia; e é mais do que certo que Olcott
vos dará uma boa prova disso, embora ele se
encontre no interior do Ceilão neste momento,
onde nem cartas e menos telegramas podem
chegar.

Nem se efetuou essa "fraude", se a quereis


chamar assim, em nosso interesse, pela simples
razão de que não temos interesse nisso - mas
interessando-nos pelos do Sr. Fern e da
Sociedade e pelas idéias de H.P.B. Mas por que
chamar isso de fraude? Ele pediu o conselho
dela, perturbou-a e suplicou-lhe, até que ela
dissesse: "trabalhai pela causa; tratai de
pesquisar e buscar e assim obter toda a
evidência que puderdes sobre a existência dos
Irmãos. Já sabeis que eles não virão este ano,
mas há muitos Lamas que descem todo ano até
Simla e suas vivzinhanças, e assim consigai toda
evidência que puderdes para vós e para o senhor
Hume, etc." Há algo de errado nisso? Quando ela
recebeu o manuscrito contendo a visão dele, ela
consultou M. e aquele que é chamado, nessa
visão de "o poderoso Ser" e o "Pai" e não sei que
mais, disse-lhe a verdade, e então ordenou-lhe
que perguntasse ao Sr. Fern se ele a publicaria,
e este disse de antemão a ela e a O. que ele não
o faria. O que M. sabe desta e de outras visõess,
somente ele o sabe e mesmo eu jamais
interferirei em seus modos de treinamento, por
desagradáveis que possam ser para mim
pessoalmente. A "Velha Dama" (H.P.B.), pois me
perguntais, não sabe de nada. Mas deveis saber
que desde que ela foi a Baroda, tem a pior
opinião sobre Fern do que a vossa. Ali ela teve
conhecimento de certas coisas a su resspeito e
de Brookes, e ouviu ouras deste último, sendo
ele, como sabeis, o mejnour de Fern em Baroda.
Ela é mulher, embora seja uma Upa-sika
(discípulo do sexo feminino) e, exceto em
assuntos ocultos, dificilmente pode segurar a sua
língua. Acredito que já tivemos bastante dessa
dificuldade. Qualquer coisa que tenha ocorrido
ou venha a ocorrer, afetará somente a fern e a
ninguém mais.

Ouvi falar da projetada grande Conversazione


teosófica - e se nessa época fordes ainda
teosofistas, é melhor que a realize em vossa
casa. E agora me agradaria dizer-vos algumas
palavras de despedida. Não obstante o doloroso
conhecimento que tenho do voso principal e
quase único defeito - algo que me confiastes
numa carta - desejo que me acrediteis, meu
querido irmão, quando lhe digo que minha
consideração e respeito por vós em todas as
outras coisas são grandes e muito sinceros. Nem
tampouco é provável que eu esqueça, ocorra o
que ocorrer, de que, durante muitos mêses e
sem esperar ou pedir nenhuma recompensa ou
proveito algum, trabalhastes e lutastes, dia após
dia, pelo bem da Sociedade e da humanidade em
geral com a única esperança de fazer o bem. E
eu vos rogo, bom irmão, não julgar como sendo
"reprovações" qualquer simples advertência
minha. Se eu discuti convosco, é porque fui
forçado a fazê-lo, pois o Chohan10 considerou-
as (as vossas sugestões) como algo inteiramente
ssem precedentes; pedidos que, em sua opinião,
não deveriam ser ouvidos de modo algum.
Embora possais agora considerar os argumentos
dirigidos contra vós como "reprovações
imerecidas", entretanto, podereis reconhecer
algum dia que estáveis "desejando concessões
irrazoáveis". O fato de que as vossas
pressionantes propostas, de que vós (ninguém
mais) - deveria, se possível, poder adquirir algum
dom fenomenal, que seria usado no
convencimento de outros, embora possam ser
aceitas como sendo simplesmente no sentido da
letra morta como uma sugestão para a (minha)
consideração, e que "não constituiriam, de modo
algum, uma reivindicação" - entretanto, paraa
qualquer um que pudesse ler por entre as linhas,
apareceriam, na verdade, como uma reclamação
definida. Eu tenho todas as vossas cartas e
dificilmente há uma que não contenha o espírito
de uma decalrada reclamação, uma petição
merecida, isto é, uma demanda do que é devido
e cuja rejeição vos daria o direito de sentir-vos
enganado. Não duvido que não foi essa a vossa
intenção ao escrevê-las. Mas esse foi o vosso
pensamento secreto, e tão íntimo sentimento foi
desscoberto pelo Chohan, cujo nome usastes
várias vêzes e dque tomou nota disso.

Subestimais o que já obtivestes, alegando


inconsistência e imperfeição. Eu vos pedi: tomai
notas d primeira, começando com as
inconsistências (como as julgais) em nossos
primeiros argumentos em favor ou contra a
existência de Deus e terminando com as
supostas contradições acerca dos "acidentados"
e "suicidas". Enviai-as para mim e eu vos
provarei que não existe nenhuma para aquele
que conhece bem toda a doutrina. É singular
acusar alguém, na pelna posse das suas
faculdade mentais, que na sexta escreveu uma
coisa e que no sábado ou domingo seguinte,
tenha esquecido tudo, contradizendo-se
categoricamente! Não creio que mesmo a nossa
H.P.B. com a sua memória ridiculamente
deteriorada pudesse ser culpada de um
esquecimento tão completo. Na nossa opinião
"não vale a pena estar trabalhando meramente
para as inteligências de segunda clase", e
propondes, seguindo a linha de tal argumento, ou
conseguir tudo, ou abandonar por completo o
trabalho, caso não possais conseguir,
imediatamente, um esquema de filosofia que
suporte o exame minucioso e a crítica de homens
tais como Hebert Spencer. A isso replico que
estais pecando contra as multidões. Não é entre
os Hebert Spencers e os Darwins ou John Stuart
Mills que os milhões de espíritas que agora se
extraviam intelectualmente vão ser encontrados,
mas são eles que formam a maioria das mentes
de segunda classe1. Se apenas tivésseis
paciência, teríeis recebido tudo o que desejáveis
obter de nossa filosofia especulativa,
siginificando por "especulativa", a que terá que
permanecer como tal, naturalmente, para todos,
menos para os Adeptos. Mas, realmente, meu
querido irmão, não estais superdotado com essa
virtude. Entretanto, ainda sou incapaz de ver
porque devíeis estar desalentado com a
situação.

Não importa o que possa acontecer, espero que


não ressintais da verdades amigas que ouvistes
de nós. Como o poderíeis? Ficaríeis ofendido
com a voz da vossa consciência, murmurando-
vos que às vêzes, sois irrazoalvelmente
impaciente e não de todo tão indulgente quanto
gostaríeis de ser? Na verdade, estais
trabalhando pela causa sem interrupção durante
vários mêses e em muitas direções; mas não
deveis pensar que, pelo fato de nunca termos
demonstrado qualquer conhecimento daquilo
que estais fazendo, nem porque tampouco nunca
reconhecemos ou vos agradecemos por isso em
nossas cartas, somos mal agradecidos ou que
ignoramos propositalmente o que estais fazendo,
pois realmente não é assim. Pois, embora
ninguém devesse esperar agradecimentos por
fazer o seu dever para a humanidade e a causa
da verdade - porque, aafinal, quem trabalha para
os demais, trabalha para ele próprio; entretanto,
meu irmão, eu me sinto profundamente
agradecido a vós pelo que fizestes. Não sou por
natureza muito efusivo mas espero poder vos
provar algum dia que não sou um ingrato, como
pensais. E vós mesmo, embora tenhais sido, por
certo, indulgente nass vossa cartas para mim, ao
não vos queixar acerca do que chamais de falhas
e inconsistências nas nossas, entretanto, não
levastes tõ longe essa indulgência, ao deixar ao
tempo e posteriores explicações a tarefa de
decidir se tais falhas eram reais ou somente
aparentes na superfície. Vós sempre vos
queixastes para Sinnett e mesmo, no princípio,
para Fern. Caso consentísseis, imaginar-vos,
apenas por cinco minutos, na posição de um
gurú nativo e de um chela europeu, logo
perceberíeis quão monstruosa se mostrariam
quaisquer destass nossas relações para a mente
de um nativo, e não culparíeis a ninguém por
dessrespeito. Agora, rogo-vos, compreendei-me.
Eu não me queixo, mas o mero fato de dirigir-vos
a mim como "Mestre" em vossa carta faz de mim
o objeto de risos de todos os nossos Tchutuktus
que conhecem algo a respeito da nossa relação
mútua. Eu nunca teria mencionado esse fato,
mas posso vos demonstrá-lo anexando aqui uma
carta de Subba Row, a mim dirigida, cheia de
desculpas, e outra de H.P.B. tão plena de
sinceras verdades, já que ambos são chelas, ou
melhor, discípulos. Espero não estar cometendo
uma indiscrição no sentido ocidentl. Peço que
mas devolveis depois de lê-las e atentar para o
seu conteúdo. Elas vos são enviadas em estrita
confiança e somente para a vossa instrução
pessoal. Percebereis nelas quanto vós,
inglesess, têm que desfazer na Índia ante que
possais essperar fazer algo de bom no país.
Entretanto, devo encerrar esta, reinteirando-vos,
uma vez mais, a certeza de minha consideração
e estima.

K.H.

Crêde-me, sois muito severo e injusto com Fern.


Carta Nº 031

Recebida em Londres em 26 de Março de 1881.

Esta parece ser a única carta recebida por Sinnett


do Mahatma, enquanto ele estava na Inglaterra.
O envelope que a continha está com a carta
original no Museu Britânico.
Geoffrey Barborka é de opinião que o Mahatma
escreveu a carta e a transmitiu de Terich-Mir,
onde estava na ocasião, para um adepto membro
da Fraternidade em algum lugar na França. Este
adepto, então, acredita o Sr. Barborka, colocou-a
em um envelope no qual colou um selo do Correio
francês e remeteu-a pelo correio normal.

Outra possibilidade é que foi transmitida


telepaticamente para um chela vivendo na
França, que a transcreveu e colocou-a no correio
para Sinnett.

Terich-Mir é uma montanha na parte final das


Montanhas do Hindu Kush, que se situam
principalmente no Afganistão; atinge a altitude de
8.390 metros.

É das profundezas de um desconhecido vale,


entre as íngremes escarpas e as geleiras de
Terich-Mir - um vale jamais trilhado por pés
europeus desde os tempos em que a montanha
materna foi exalada do seio da nosa Mãe Terra -
que o vosso amigo vos envia estas linhas. Porque
é ali onde K.H. recebeu as vossas "Afetuosas
homenagens" e ali ele pretende passar as suas
"férias de verão". Uma carta enviada "das
moradas das neves e pureza eternas" e recebida
"nas moradas do vício"....Entretanto, n'est ce
pas? Quisera, ou melhor poderia eu estar
convosco naquelas moradas? Não; mas estive,
em muitas e diversas ocasiões, em outro lugar,
embora não no "astral", nem em outra forma
tangível, mas, simplesmente em pensamento.
Isso não vos satisfaz? Bem, bem, conheceis as
limitações a que estou sujeito em vosso caso, e
tende que ter paciência.

O vosso futuro livro é uma pequena jóia; e tão


pequeno e simples como é, pode, nalgum dia,
elevar-se tão alto como o Monte Everest sobre as
vossas colinas de Simla. Entre todas as obras
dessa classe na emaranhada selva da literatura
espírita, demonstrará ser, indubitavelmente, o
Redentor, oferecido em sacrifício pelo pecado do
mundo Espírita. Começarão por rechaçá-lo - ou
melhor, vilipendia-lo; mas encontrará os seus
fiéis doze e - a semente lançada pela vossa mão
no solo da especulação não crescerá como uma
herva daninha. Pode-se ter certeza disso. Às
vêzes sois muito cauteloso. Com muita
frequência pareceis o leitor da vossa ignorância
mas, apresentando como uma modesta teoria o
que no fundo do vosso coração, sabeis e sentis
ser um axioma, uma verdade fundamental, e, em
vez de ajudá-lo, o deixais perplexo e - criais uma
dúvida. Mas o livrinho é um ensaio inspirado e
analítico, e como critíca apreciativa dos
fenômenos que presenciastes pessoalmente, é
muito mais útil do que a obra do senhor Wallace.
É para esta espécie de fonte que os espíritas
deveriam ser impulsionados para saciar a sua
sêde de fenômenos e de conhecimento místico,
em vez de ter que engolir as idiotisses que se
encontram no Banners of Light4 e outras
publicações. O mundo - submetendo-se o das
existências individuais - está cheio daquelas
significações latentes e profundos propósitos que
estão por trás de todos os fenômenos do
Universo, e somente as Ciências Ocultas, ou
seja, a razão elevda à sabedoria extra-sensorial,
podem fornecer a chave mediante a qual se
revelem ao intelecto. Crêde-me chega um
momento na vida de um Adepto em que todas as
adversidades pelas quais passou são mil vêzes
recompensadas. Para adquirir conhecimento
adicional já não tem que recorrer mais a
minuciosos e lentos processos de investigação e
comparação de várias questões, mas lhe é
proporcionada uma visão instantânea e implícita
em cada verdade primária.

Tendo transposto essa etapa da filosofia que


sustém que todas as verdades fundamentais
surgiram de um impulso cego (esta é a filosofia
dos Sensacionalistas ou Positivistas) e deixando
muito para trás essa outra classe de pensadores
- os Intelectualistas ou Céticos, que sustentam
que as verdades fundamentais se derivam
somente do intelecto, e que nós mesmos somos
a sua única causa originária - o Adepto vê, sente
e vive na própria fonte de todas as verdades
fundamentais - a Essência Universal e Espiritual
da Natureza, SHIVA, o Criador, o Destruidor e o
Regenerador. Como os espíritas de agora
degradaram o "Espírito", assim os Hindús
degradaram a Natureza com suas concepções
antropomórficas dela. Só a Natureza pode
encarnar o Espírito da ilimitada contemplação.
"Absorvido na absoluta auto-inconsciência do Ser
físico, mergulhado nas profundezas do
verdadeiro Ser, que não é um ser mas a Vida
Eterna Universal, "toda a sua forma imóvel e
branca como os picos de neve eterna no Kailasa
onde ele está sentado, acima de toda ansiedade,
acima do sofrimento, do pecado e do
mundanismo, um mendicante, um sábio, um
curador, o Rei dos Reis, o Iogui dos Ioguis", esse
é o Shiv ideal dos yoga Shastras, a culminação
da Sabedoria Espiritual...Oh, os vossos Max
Mullers e Monier Williamses, o que fizestes com
a nossa Filosofia!

Mas dificilmente pode se esperar que desfruteis,


ou mesmo compreendeis esta phanerosis de
nossos ensinamentos. Perdoai-me, raramente
escrevo cartas e sempre que obrigado a fazê-lo,
sigo mais os meus próprios pensamentos em vez
de ficar restrito ao assunto que deveria ter em
vista. Trabalhei por mais de um quarto de século,
dia e noite, para conservar meu lugar dentro das
fileiras desse invisível, mas sempre ocupado
exército, que trabalha e se prepara para uma
tarefa que não traz outra recompensa senão a
convicção de que estamos cumprindo o nosso
dever para com a humanidade; e encontrando-
vos em meu caminho, tentei, não temais, não
alistá-lo, porque seria impossível, mas
simplesmente atrair a vossa atenção, excitar a
vossa curiosidade, ou os vossos melhores
sentimentos para a verdade una e única.
Demonstrastes ser leal e sincero e fizestes o
melhor. Caso os vossos esforços ensinem ao
mundo ainda que seja só uma simples letra do
alfabeto da Verdade - dessa Verdade que outrora
penetrou todo o mundo - vossa recompensa não
vos alcançará8. E agora que encontrates os
"místicos" de Paris e Londres, o que pensais
deles?...

Seu

K.H.

P.S. Nossa infortunada "Velha Dama" está


doente. Fígado, rins, cabeça, cérebro e membros
opõem resistência, indiferentes aos esforços que
ela faz para não lhes prestar atenção. Um de nós
terá que "remendá-la", como diz o nosso digno
senhor Olcott, ou ela passará mal.

Carta Nº 032

Recebida entre 25 e 27 de Agosto de 18821.

Esta carta refere-se mais à carta HX e contém mais algumas


explicações. Veja as notas à Carta nº.81.

Lamento tudo que sucedeu, ms era de se esperar. O sr. Hume colocou


o pé sobre um ninho de vespas e não deve queixar-se. Se a minha
confissão não alterou os vossos sentimentos, estou disposto a não vos
influenciar, e portanto, não olharei a vossa maneira de constatar como
o assunto vos é apresentado, meu amigo, e se não estais por completo
desgostoso com os nossos sistemas e modos; se, em resumo, é voso
desejo ainda proseguir com a correspondência e aprender, algo deve
ser feito para refrear o vosso irresponsável "Benefactor". Evitei que ela
enviasse a Hume uma carta do que aquela que recebestes. Eu não
posso forçá-la a que me tranmita as carta dele, nem as minhas para
ele; e como já não me é poível mai confiar em Fern, e que dificilmente
poderia G.K.3 ser sacrificado, com algum sentido de justiça, a um
homem inteiramente incapaz de apreciar algum serviço prestado,
exceto o seu, que podemos fazer em tal caso? Já que nos envolvemos
com o mundo exterior, não temos o direito de repirmir a opinião pessoal
de seus membros como indivíduos, nem de evitar a sua crítica, por
defavoráveis que nos ssejam; daí a ordem terminante a H.P.B. para
que publique o artigo do senhor Hume.

Apenas que, como queremos que o mundo veja o dois aspecto da


questão, permitimo também que o protesto conjunto de Deb, subba
Row, Damodar e uns pouco outros chelas fôsse publicado no
"Teosofista", depois da suas críticas acerca de nós e noso sistema. Eu
vo dei somente vislumbres do que, em outra ocadião, escreverei de
forma mais extensa. Pensai, entretanto, nas dificuldade que
naturalmente existem no nosso caminho e se a vosa amizade em
relação a mim é sincera - ao lutarmos com ass nossas cadeias, que
elas fiquem mais pesadas e apertadas.

Por minha parte, correrei voluntariamente o risco de ser julgado um


ignoramu (ignorante) que se acontradiz, e ser criticado pela imprena
em termos desmedidos pelo senhor Hume, desde que aproveiteis o
ensinamento e compartilhei, de tempos em tempos, com o mundo o
vosso conhecimento. Mas, tornando-vo claro o meus pensamentos, eu
jamai gostaria de me arriscar novamente com qualquer outro europeu
a não ser convosco. Como agora vêdes, a ligação com o mundo
externo pode traxer apena sofrimento àqueles que tão fielmente nos
servem, e decrédito à nossa Fraternidade. Asiático algum jamais será
pasível de ser afetado pelas investidas egoista do senhor Hume contra
nós (o resultado da minha última carta e da promessa, determinou que
ele escreverá com menos frequência e menos do que tem feito); ma
essas investidas e críticas que o leitores europeus aceitarão como uma
revelação e uma confissão, sem nunca suspeitar de onde surgiram e
por qual sentimento tão profundamente egoista foram gerados, esses
ataques estão calculados para fazer um grande dano - em uma direção
que até agora ainda não sonhastes.

Tendo reolvido não perder tão útil instrumento (útil em certa direção,
naturalmente) e Chohan permitiu que o peruadíssimos a ponto de dar
consentimento à minha correspondência com o senhor Hume. Eu
lhehavia empenhado a minha palavra de que ele estava arrependido -
era um homem diferente. E agora como poderei mesmo enfrentar o
meu Grande Mestre, de quem se rediculariza, e está sendo objeto do
sarcasmo do senhor Hume, que o chama de "Ramsés o Grande", e
outras obsservaçõess indecentes como essa? E ele empregou em
suas cartas termos cuja grosseria brutal me impede de repeti-los, que
revoltaram a minha alma quando os leio; palvras tão ujas que poluem
o próprio ar que as tocam, e que eu me apresei a vos enviar com a
carta que as contém, para asim não ter essas páginas em minha casa,
cheia de jovens e inocentes chelas, que eu sempre evitaria que jamais
escutassem tais termos.

Logo vós, meu amigo, influenciado nisto por ele, mai do que sabeis ou
suspeitais - vós mesmo tirais conclusões muito prontamente de uma
"contradição inconsistente". A novidade ou o aspecto inexplicável de
qualquer fato afirmado em nossa Ciência, não é razão suficiente para
qualificá-lo imediatamente como sendo uma contradição, e proclamar,
como o faz Hume em seu artigo, que ele poderia ensinr numa semana
o que conseguiu extrair de nó em dezoito mêses, porque o vosso
conhecimento é até agora tão limitado, que seria difícil para ele dizer
quanto nós sabemos ou não.

Mas já me demorei demasiado neste ataque irracional, ilógico e


antifilosófico contra nós e o Sistema. Algum dia demontraremos a
nulidade das objeçõs apresentadas pelo senhor H. Ele pode ser
considerado como um conselheiro ábio da Municipalidade, mas
dificilmente poderia ser visto como tal por nós. Ele me acua de ter dado
por intermédio "falsa idéias e fatos" ao mundo, e acrescenta que, de
boa vontade, se afastaria, romperia conosco, e não fôsse o seu desejo
de beneficiar o mundo! Verdaadeiramente, o mais cômodo método de
abafar todas as ciência, porque não há uma ó em que não abundem
"fato falsos" e teorias disparatadas. Somente que, enquanto a ciências
ocidentais tornem a confusão maior ainda, a nossa Ciência explica
todas as aparentes discrepâncias e reconcilia as mais disparatadas
teorias.

Entretanto, se não o trazeis de volta ao seu bom senso, haverá logo


um final para tudo, desta vez irrevogavelmente. Não necessito
asssegurar-vos da minha sincera consideração para convoco, e da
nossa gratidão pelo que fizeste aqui pela Sociedade - indiretamente
por nó dois. Seja o que ocorrer, esstarei ao vosso dispor. Desejaria,
naquilo que de mim depender, faze o que eja poível pelo vosso amigo
Coronel Chesney. Se por voo intermédio a vrie é evitada e dissipada a
nuvem negra, eu instruirei a ele tanto quanto possa. Mas, nõ será
demasiadamente tarde?

Sempre sinceramente vosso,

K.H.
Carta Nº 033

Carta de K.H. recebida através de M., mostrada a A.B.1

Estas cartas (A, B, C e D) são designadas assim, porque, não apenas


não trazem data alguma, mas porque nada há no seu conteúdo que
indique a sua colocação na sequência. Na verdade, não afetam a
história dos fatos relatados em quaisquer das outras cartas.

A Carta A, provavelmente, foi recebida em Londres, algum tempo


depois da chegada de Mohini no começo de 1884. A referência à "A.B."
(Annie Besant) parecia indicar que o Mahatma K.H. tinha um
conhecimento prévio do seu papel no trabalho teosófico.

Estou sinceramente receioso que possais estar perplexo pela evidente


contradição entre as notas recebidas por vós vindas do meu Irmão M.
- e as minhas. Sabei, meu amigo, que no nosso mundo, ainda que
possamos variar nos métodos, nunca podemos estar em posições
opostas em relação aos princípios da ação, e a aplicação mais vasta e
prática da idéia da Fraternidade da Humanidade não é incompatível
com o vosso sonho de estabelecer um núcleo de investigadores
científicos honestos e de boa reputação, os quais dariam prestígio à
organização da S.T. aos olhos da multidão e serviriam como um
escudo contra os estúpidos e ferozes ataques dos céticos e
materialistas.

Há, mesmo entre os homens de ciência inglêses aqueles que já estão


preparados para descobrir que o nossos ensinamentos estão em
harmonia com os reultados e progressos de suas próprias
investigações e que não são indiferentes à sua aplicação às
necessidades espirituais da humanidade em geral. A nossa tarefa pode
ser a de lançar sementes da Verdade entre eles e indicar a senda.
Contudo, como o meu Irmão vos recordou, nem um só daqueles tão
somente trataram de ajudar o trabalho da Sociedade, conquanto
imperfeitos e falhos os seus modos e meio, o terá feito em vão. A
situação vos será explicada mais amplamente pouco a pouco.
Entretanto, façai todos os esforços para desenvolver tai relações com
A. Besant de maneira que o vossos trabalhos caminhem em linhas
paralelas e em plena simpatia: um pedido mais fácil do que alguns dos
meus, os quais sempre levastes a cabo lealmente. Podeis, se julgais
conveniente, mostrar esta nota somente a ela. Ao percorrer a vossa
própria e espinhosa senda, ou digo outra vez: coragem e esperança.
Esta não é uma resposta a vossa carta.

Sempre sinceramente vosso,

K.H.
Carta Nº 034

Recebida em Setembro de 18821.

É impossível determinar a data exata desta carta, mas ela pertence a


esta sequência nalguma parte.

É positivamente penoso achar-se tão sistematicamente mal


compreendido, as próprias intenções tão erronamente interpretadas e
todo o plano colocado em risco por estas infindáveis preciptações. Será
que nunca nos será dado o crédito de saber o que estamos fazendo ou
que nos seja concedido o benefício da dúvida, na ausência de toda e
qualquer prova razoável de que estamos determinados em "obstruir o
progresso" da Sociedade Teosófica?

O senhor Hume sustenta que ele não diz: "K.H. ou qualquer outro irmão
estão equivocados. Contudo, em cada linha de suas numerosas cartas
para mim e para H.P.B. respiram o espírito de queixa e de amarga
acusação! Eu vos digo, meu bom amigo, que ele nunca estará
satisfeito, não importa o que façamos! E como não podemos permitir
que o mundo seja inundado, sob o risco de afogá-los, com uma
doutrina que precisa ser divulgada, cautelosamente, aos poucos, como
um tônico demasiadamente poderoso que poderá matar em vez de
curar, o resultado será uma reação nesse insaciável desejo dele, e
então, bem: vós mesmo conheceis as consequências. Incluo duas
cartas escritas e dirigidas a ela, com vistas a mim. Bem, nada podemos
fazer de melhor agora. A Sociedade nunca perecerá como uma
instituição, embora lojas e pessoas possam. Tenho condescendido
com ele ultimamente mais do que fiz convosco, e podereis julgar a
situação pelas caóticas, ainda que no geral, razoáveis observações
que H.P.B. dirige hoje ao senhor Hume.

Deve-nos ser permitido que julguemos por nós mesmos e que


possamos ser os melhores juízes. Tudo será explicado e divulgado, no
devido tempo, se tão somente deixarem os nossos próprios métodos.
De outra maneira, é melhor desistir da Eclética. Recebi volumes dele
na semana passada! Eu vos envio umas poucas notas através dela.
Mantende isto confidencial.

Vosso

K.H.
Carta Nº 035

Carta de K.H. recebida em Allahabad no dia 18 de Março de 1882.

Esta é a carta "através de Bombaim" prometia pelo Mahatma K.H. em


sua curta nota: "Impossível; nenhum poder. Escreverei através de
Bombaim". (Carta nº.52 CM-144).

Não compreendestes perfeitamente o significado de minha nota de 11


de Março, meu bom amigo. Eu disse que era fácil produzir fenômenos,
quando ocorressem as condições mecessárias, mas não disse que
mesmo a presença de Olcott e Mallapura na vossa casa produziriam
tal fluxo de força suficiente para as experiências que propusestes.

As última eram bastante razoáveis do vosso ponto de vista e eu não


vos culpo por solicitá-las. Pessoalmente, talvez gostaria que as
tivésseis - para a vossa satisfação pessoal, e não para a do público,
pois como sabeis, a convicção nestes casos deve ser alcançada
mediante a experiência individual. Os testemunhos de segunda mão
nunca satisfizeram a ninguém, a não ser a uma mente crédula, (ou
melhor, não cética). Nenhum espírita que lesse na vossa segunda
edição, a simples descrição das experiências que me mencionastes,
atribuiria, nem por um momento, os fatos a algo que não fôsse
mediunidade; e vossa esposa e vós mesmo, provavelmente seriam
incluídos por eles no conjunto dos fatores mediúnicos! Imagine-se
semelhante coisa! Não - esperai a vossa oportunidade; estais reunindo
lentamente os materiais para o que nós aqui chamamos, como sabeis,
o real dgiu, aproveite-o o melhor que puder. Não serão nunca os
fenômenos físicos que trarão convicção aos corações dos incrédulos
na "Fraternidade", mas os fenômenos de intelectualidade, filosofia e
lógica, se assim posso me expressar.

Vêde os "Ensinamentos Espíritas" por +, dadas por Oxon, o mais


intelectual e culto dos médiuns. Lêde-os e - compadeça! Não vêdes
então para que nos esforçamos, como diz O.? Não destes conta que,
se não fôsse o vosso intelecto excepcional e a ajuda que dele
conseguimos, o Chohan teria fechado há muito tempo qualquer porta
de comunicação convosco? Sim, meu amigo, lêde e estudai, porque
existe um propósito. Parecestes desgostoso e decepcionado, quando
lestes as palavras "Impossível; possibilidade aqui, escreverei através
de Bombaim". Essas oito palavras me custaram oito dias de trabalho
recuperativo - no estado em que me acho no presente. Mas não sabeis
o que quero dizer: estais desculpado.

Não oculteis a vós mesmo as dificuldades de desenvolver o vosso


esquema de "Graus". Desejava que o aperfeiçoasses nas vossas horas
livres, "quando o espírito vos impulsionasse". Pois ainda que não
tivésseis êxito completo ao traçar um esquema adequado às
necessidades da Ásia e da Europa, poderíeis encontrar algo que fôsse
apropriado para uma ou outra, e logo outra mão poderia suprir o que
faltasse. Os asiáticos são tão pobres, em geral, e os livros tão
inacessíveis para eles nestes dias degenerados, que podereis
constatar claramente quão diferente deve ser estruturado um plano de
cultura intelectual, como preparação de experimentos práticos para
desenvolver nele os poderes psíquicos. Nos tempos antigos esta
necessidade era suprida pelo Gurú, que guiava o Chela através das
dificuldades da infância e da juventude, e lhe dava por meio de
ensinamento oral tanto ou mais alimento para o seu crescimento
mental e psíquico, do que através de livros. A necessidade de um "guia,
filósofo e amigo" (e quem merece melhor esse tríplece título?) nunca
poderá ser suprida, por mais que tenteis. Tudo o que podeis fazer é
preparar o intelecto; o impulso para a "cultura da alma", deve ser
provido pelo indivíduo. Três vêzes afortunados aqueles que podem
irromper através do círculo vicioso da influência contemporânea e
situar-se acima das suas fantasias.

Voltando aos vossos Graus. Não estareis esboçando muito vagamente


as linhas entre os três ou quatro primeiros grupos? Que prova aplicais
para verificar o seus respectivos estados mentais? Como se prevenir
contra a mera "memorização", cópia e redação forjada? Muito hábeis
jesuítas poderiam passar por todos os vossos Graus, até mesmo pelo
sexto e o sétimo: vós o admitireis, então na segunda seção? Lembrai-
vos das lições do passado e de Carter Blake - é muito possível - como
disse Moorad Ali Bey e vos foi confirmado por Olcott - para aquele que
passou os primeiros cinco estágios adquirir "faculdades ocultas" no 6º.
Mais ainda, isso pode ser feito sem ajuda dos estágios, adotando tanto
o método dos Arhats, dos Dasturs, dos Ioguis, como dos Sufís, entre
cada um desses grupos de místicos houve muitos que nem mesmo
liam ou escreviam. Se falta a tendência psíquica, nenhuma cultura a
suprirá. E a escola mais teórica como a mais prática desta espécie, é
aquela em que nós, os afiliados, vossos correspondentes interessados
- fomos ensinados.

Tudo isto não foi dito para o vosso desânimo, e sim para o vosso
estímulo. Se sois um verdadeiro anglo-saxão, nenhum obstáculo
intimidará o vosso zelo, e se o meu Olho não foi nublado, tal é o vosso
caráter - au fond2. Nós temos uma palavra para todos os aspirantes -
TENTAI.

E agora, com relação ao vosso desolém de setembro passado, acerca


dos perigos imginários para aquele que produz fenômenos, perigos
que crescem em proporção à magnitude dos fenômenos assim
produzidos e a impossibilidade de refutá-los. Recordai a prova
proposta de trazer até aqui uma cópia do Times. Meu bom amigo: se
os insignificantes fenômenos (porque são de pouca monta diante dos
que poderíamos e seríamos capazes de produzir) demonstrados por
Eglinton provocaram tão amargo ódio, evocando diante dele cenas de
aprisionamento devido a falso testemunho, qual não seria a sorte da
pobre "Velha Dama" (H.P.B.)? Vós sois mesmo bárbaros, com toda a
vossa proclamada civilização.

E agora quanto a Morya. (Isto deve ser estritamente privado entre nós
e não deve ser revelado nem à senhora Gordon). Eglington estava se
preparando para ausentar-se, deixando na mente da pobre senhora G.
o temor de que havia sido enganada; de que não existiam "Irmãos" pois
que Eglington havia negado a sua existência, e que os "Espíritos"
permaneciam silenciosos diante desse problema. Então, na semana
passada, M. intervindo na heterogênea multidão, pegou os fantasmas
pela garganta e - o resultado foi a inesperada admissão dos "Irmãos",
e a sua existência real e a proclamada honra de um conhecimento
pessoal com o "Ilustre". A lição para vós e para os outros, derivada do
precedente, pode ser útil no futuro: tendo os acontecimentos que
crescer e se desenvolver.

Seu sinceramente,

K.H.
Carta Nº 036

Recebida cerca de Janeiro de 1882.

Esta carta foi recebida por Sinnett antes que o Mahatma K.H.
retornasse de seu retiro.

Sinnett havia escrito para H.P.B. a respeito da entrada de algumas


pessoas na S.T., em Allahabad ou Simla, não está claro,
provavelmente nesta última, dado que o grupo ali havia sido
recentemente organizado. Em sua resposta (Cartas de H.P.B. para
Sinnett, pg.10) ela diz: "O que posso dizer a respeito de iniciar os
Membros imediatamente? Naturalmente você deve iniciá-los e mandar
as suas solicitações para mim, não para Olcott, porque eu o represento
agora aqui...Tão logo eu veja o Chefe, eu pedirei a sua permissão..."

Meu impaciente amigo - permitai-me, como alguém que tem alguma


autoridade em vossa teosófica mella vos faculte "esquecer as regras"
por um certo tempo. Fazeio-os preencher os formulários ingresso e
iniciai imediatamente os candidatos. Tão somente o que tiverdes de
fazer, façai-o sem demora. Lembrai-vos, sois o único agora. O senhor
Hume está completamente absorvido no seu índice e espera de mim
que lhe escreva e faça primeiro e puja. Eu sou demasiado alto para
que ele alcance facilmente a minha cabeça, caso tenha alguma
intenção de cubrí-la com as cinzas da contrição. Nem vou me torturar
vestindo uma roupa de penitência para demonstrar o meu
arrependimento pelo que tenha feito. Se ele escreve e propões
questões, muito bem, eu as responderei, senão, guardarei as minhas
preleções para algum outro. O tempo não é obstáculo para mim.

Recebi a vossa carta. Conheço ass vossas dificuldades. vou me ocupar


delas. Grande será a decepção de K.H. se, ao regressar para nós,
encontra tão pouco progresso feito. Vós..., vós sois sincero; os outros
colocam o seu orgulho acima de tudo. Logo esses teósofos de
Prayag4, os Pundits e os Babus! Não fazem nada e esperam que nós
tenhamos correspondência com eles. Homens insensatos e
arrogantes.

M.
Carta Nº 037

(De Djwal Khool a Sinnett). Recebida em Allahabad em 10 de Janeiro


de 1882.

Privativa

A carta é proveniente do chela Djual Khul.

O longo retiro do Mahatma K.H. terminou e ele retornou.

A carta se refere a D.M. Bennett, um Livre Pensador americano e editor


do "The Truthseeker". Olcott fala dele "como uma pessoa muito
interessante e sincera, um Livre-Pensador que sofreu um ano de prisão
por seus ataques implacáveis, às vezes, ásperos, contra o dogmatismo
cristão". Um processo de falsificação foi forjado contra ele por um
detetive inescrupuloso de uma Sociedade Cristã em New York, e "ele
foi levado a julgamento e mandado para a prisão. Ele teve que cumprir
todo o seu período de um ano de prisão, a despeito do fato de que uma
petição, assinada por 100.000 pessoas, foi mandada ao Presidente
Hayes em seu favor. Quando ele foi libertado, uma enorme platéia
recepcionou-o entusiasticamente no mais conhecido salão público de
New York, e um fundo foi subscrito para pagar as suas despesas numa
viagem em torno do mundo, para observação do trabalho prático do
Cristianismo em todos os países".

Honrado Senhor,

O Mestre despertou e me pede que vos escreva. Para o seu grande


pesar, por certas razões não estará capacitado, até que transcorra um
determinado tempo, a expor-se às correntes de pensamentos que
fluem tão vigorosamente além do Himavat. Ordenou-me, portanto, que
eu fôsse a mão que redigisse a Sua mensagem. Tenho que vos dizer
que ELE "continua sendo para vós, tão bom amigo, como até agora e
bastante satisfeito, tanto em relação às vossas boas intenções como
também com a sua execução, até onde esteja em vosso poder. Tendes
demonstrado o vosso afeto e sinceridade mediante o vosso zelo.

O impulso que destes pessoalmente à Causa que amamos não será


detido; portanto, os seus frutos (para evitar a palavra "recompensa"
que é empregada pelos "sentimentais") não serão diminuídos quando
o vosso balanço de causas e efeitos - o vosso Karma - for ajustado. Ao
trabalhar para os demais, sem egoismo, e com risco pessoal,
trabalhastes efetivamente para o vosso próprio bem. Um ano forjou
uma grande mudança em vosso coração. O homem de 1880 mal
reconheceria o homem de 1881, caso se confrontassem. Comparai-os
então, bom amigo e irmão, para que percebeis plenamente o que o
tempo fez, ou melhor, o que fizestes com o tempo.

Para fazer isso meditai, a sós, contemplando internamente com ajuda


do mágico espelho da memória. Assim, não só vereis as luzes e as
sombras do passado, mas também os possíveis esplendores do
Futuro. Assim, oportunamente, chegareis a ver o Ego de antigamente
em sua desnudada realidade. E assim também, ouvireis de mim
diretamente na mais próxima e praticável oportunidade, "pois nós não
somos ingratos e mesmo o Nirvana não pode apagar o BEM".

Estas são as palavras do Mestre e com Sua ajuda sou capaz de dispô-
las em nossa linguagem, honrado senhor. Tenho a liberdade, ao
mesmo tempo, de vos agradecer com muito afeto pela genuina
simpatia que sentistes por mim, por ocasião de um ligeiro acidente,
resultado de um descuido meu, e que me reteve enfermo no leito.

Embora possais ter lido, nas obras modernas, sobre mesmerismo


como, aquilo que chamamos de "Essência -Vontade" e vós de "fluido"-
é transmitido do operador ao seu ponto objetivo, talvez mal possais
compreender como todo mundo praticamente, ainda que seja de forma
inconsciente, demonstra essa lei todos os dias e a cada momento. Nem
podeis compreender cabalmente como o treinamento para o adeptado
aumenta a capacidade do indivíduo, tanto para emitir como para sentir
esta espécie de força. Asseguro-vos que eu, ainda apenas um humilde
chela, (até agora) senti os vossos bons desejos fluindo até mim, assim,
como o convalescente nas frias montanhas sente a suave brisa que
sopra sobre ele vinda das planícies embaixo.

Também tenho a vos dizer que reconhecereis em um certo senhor


Bennett3, da América, que chegará em breve a Bombaim, uma pessoa
que apesar do seu provincialismo, que tanto detestais, e de suas
tendências excessivamente incrédulas, é um dos nossos agentes (o
que ele desconhece) para ajudar a levar a cabo o plano para a
emancipação do pensamento ocidental de credos supersticiosos. Se
puderdes encontrar a maneira de dar-lhe uma idéia correta do
verdadeiro pensamento asiático de agora e do seu potencial futuro,
mas mais particularmente do pensamento da Índia, será para o meu
Mestre um motivo de satisfação. Ele deseja que eu vos faça saber, ao
mesmo tempo, que não devereis sentir uma delicadesa tão exagerada
quanto a recolher o trabalho, que não foi feito, das mãos do senhor
Hume.

Esse cavalheiro escolhe para fazer o que somente satisfaz ao seu


capricho pessoal, sem consideração alguma para com os sentimentos
das outras pessoas. O seu trabalho atual (uma pirâmide de energia
intelectual mal gasta), suas objeções e razões, tudo é calculado
somente para se auto justificar. O Mestre deplora encontrar nele o
mesmo espírito de completo egoismo inconsciente que não considera
de modo algum o bem da Causa que Ele representa. Se ele parece
algo interessado nela é porque encontra resistência e sente-se incitado
à combatitividade. Assim, a resposta à carta do senhor Terry, enviada
a ele de Bombaim, deveria ter sido publicada no número de Janeiro.
Podereis bondosamente encarreagar-vos disso? O Mestre acha que
podeis fazer tão bem como o senhor Hume, basta tentardes, pois a
faculdade metafísica em vós, está somente inativa, mas se
desenvolverá por completo, bastando que a desperteis plenamente
mediante o seu uso constante. E quanto ao nosso reverenciado M., ele
deseja que vos assegure que o segredo do chamado amor do senhor
Hume pela Humanidade, se situa e está baseado na presença casual
da palavra da primeira sílaba; mas para a "humanidade" - ele não tem
qualquer simpatia.

Dado que o Mestre não vos poderá escrever pessoalmente, durante


um ou dois mêses, (ainda que ouvireis dele sempre), Ele vos roga que
prossigai nos vossos estudos metafísicos em consideração a ELE e
não abandonai a tarefa, eí desespero, quando tropeçar com idéias
incompreesíveis nas notas do Sahib M., pois que o Sahib M., se a algo
tem aversão na vida, é escrever. Em conclusão, o Mestre vos envia os
seus melhores votos e roga que não o esqueçais, ordenando-lhe que
eu assine como o seu obediente servidor.

"O Deserdado"

P.S. Se desejais escrever-lhe, ainda que esteja impossibilitado de


responder pessoalmente, o Mestre receberá com prazer as vossas
cartas. Podeis fazê-lo por intermédio de D.K. Mavalankar.

"Dd"
Carta Nº 038

Recebida em Allahabad em Fevereiro de 1882.

Enquanto Sinnett continua a datar toda esta série de cartas em


fevereiro de 1882, os acontecimentos situam-nas em dezembro de
1881, provavelmente no dia 10. H.P.B. fizera a sua visita a Allahabad
e estava de volta para Bombaim.

O Mahatma estuda a questão de um possível ramo feminino da


Sociedade Teosófica e diz que certamente haverá problemas sobre
isso. Ele não faz mistério a respeito das opiniões de H.P.B. relativas ao
seu próprio sexo.

O vosso "ilustre" amigo não quiz ser "satírico", qualquer que fôsse a
interpretação que se desse às suas palavras. O vosso "ilustre" amigo
simplesmente se sentia triste ao pensar na grande decepção que
seguramente terá K.H. no seu regresso entre nós. A primeira olhada
retrospectiva no trabalho que tanto estima em seu coração, lhe
mostrará tais mostras de sentimento intercambiadas como as duas
aqui incluídas. O tom grosseiro, amargo e sarcástico de uma lhe dará
tão escasso motivo para se alegrar, como o tom grosseiro, insensato e
pueril da outra. Eu teria deixado o assunto intocado, se não tivésseis
mal interpretado tanto o sentimento que ditou a minha última. É melhor
que eu seja franco convosco. O tratamento de "Alteza" a que não tenho
o menor direito, sugere muito mais sátira do que qualquer coisa que eu
tenha dito até agora. Não obstante, como "nenhum epíteto se fixará no
colarinho da camisa de um "Bodpa", não a levo em conta,
aconselhando-vos que façais o mesmo e que não vejais sátira onde
nada disso se pretende e há somente a franqueza no falar e a correta
definição do estado geral dos vossos sentimentos em relação aos
nativos.

O vosso advogado conhece melhor, naturalmente. Se o parágrafo em


questão não é difamatório, então tudo o que posso dizer é que é muito
necessária uma recodificação de vossas leis acerca da difamação.

Certamente que tereis dificuldades com ela acerca da Loja - feminina.


Seu deprezo pelo sexo não tem limites, e dificilmente pode ser
persuadida de que algo de bom pode vir de tal procedência. Serei
franco convosco, de novo. Nem eu, nem nenhum de nós - K.H. ficando
fora da questão completamente - consentiria tornar-se os fundadores,
muito meno dirigentes de uma Loja feminina, todos nós temos estado
muito ocupados com as nossas anis. Entretanto, reconhecemos que
poderia resultar num grande bem tal movimento, tendo, como possuem
as mulheres, tanta influência sobre os seus filhos e os homens nos
lares; e com a vossa competência experimentada e antiga nessa
direção, poderíeis ser, com a ajuda do senhor Hume, de imensa
utilidade para K.H. de cuja área de "amante natureza" as mulheres
foram sempre excluídas, exceção feita à sua irmã, e só reinou nela o
amor para o seu país e para a humanidade. Ele não conhece nada de
tais criaturas. Ele sempre sentiu a necessidade de recrutar mulheres,
entretanto, nunca se misturaria com elas. Aqui tendes uma
oportunidade para ajudá-lo.
Por outro lado, nó reivindicamos que conhecemos mais da causa
secreta dos eventos do que vós, homens do mundo. Assim pois, digo
que é a difamação e o abuso em relação aos Fundadores, e o conceito
geral errôneo que se tem da finalidade e objetivos da Sociedade que
paraliza o seu progresso - e nada mais. Não há necessidade de
definição desses objetivos, basta que sejam adequadamente
explicados. Os membros teriam de sobra o que fazer se buscassem a
realidade com a metade do fervor com que buscam as miragens.
Lamento descobrir-vos comparando a Teosofia a uma casa pintada no
cenário, quando que nas mãos de filântropos e teósofos verdadeiros,
ela poderia se tornar tão forte como uma fortaleza inexpugnável. A
situação é esta: os homens que se filiam à Sociedade com o propósito
único e egoista de alcançar o poder, fazendo da ciência oculta o seu
único ou mesmo principal objetivo, fariam melhor que não se filiassem
- eles estão fadados ao desapontamento tanto quanto aqueles que
cometem o êrro de crer que a Sociedade não tem outro propósito. E
fracasam porque predicam demasiadamente acerca dos "Irmãos" e
muito pouco, se não totalmente, acerca da Fraternidade, em que
fracassam.

Quantas vêzes havemos de repetir que, quem ingressa na Sociedade


com o único objetivo de pôr-se em contato conosco, ou de adquirir ou
ao menos assegurar-se da realidade de tais poderes e da nossa
existência objetiva, está perseguindo uma miragem? Digo então,
novamente. É somente aquele que tem em seu coração o amor à
humanidade, que é capaz de sentir intimamente a idéia de uma
Fraternidade prática e regeneradora, é que tem o direito à posse dos
nossos segredos. Só um homem assim jamais fará mal uso de seus
poderes, pois que não haverá receio algum de que os utilize para fins
egoistas. O homem que não coloca o bem da humanidade acima do
seu próprio bem, não é digno de se tornar nosso chela, não é digno de
alcançar mais elevado conhecimento do que o seu vizinho. Caso
anseie por fenômenos, que ele se satisfaça com as distrações do
espiritismo. Tal é o estado real das coisas. Houve um tempo que de
oceano a oceano, das montanhas e desertos do norte até as grandes
florestas e colinas do Ceilão havia somente uma fé, um incitante grito
- salvar a humanidade das misérias da ignorância em nome d'Aquele
que ensinou por primeiro a solidariedade de todos os homens. Como
está isso agora? Onde está a grandeza do nosso povo e a da Verdade
Una? Essas, podeis dizer, são belas visões que foram outrora
realidades na terra, mas que se dissiparam como a luz de uma noite
de verão. Sim; e agora estamos em meio a um povo em conflito, um
povo ignorante e obstinado, buscando conhecer a verdade, e
entretanto incapaz de encontrá-la, pois cada um a procura para o seu
próprio benefício e gratificação, sem dar um pensamento para os
outros. Nunca verás, ou melhor, nunca eles verão o verdadeiro
significado e explicação dessa grande ruina e desolação que invadiu a
nossa terra e ameaça todas as demais, a vossa em primeiro lugar? É
o egoismo e o exclusivismo que aniquilaram a nossa e é o egoismo e
o exclusivismo que aniquilarão a vossa - que ademais tem outros
defeitos que não citarei.

O mundo obscureceu a luz do verdadeiro conhecimento, e o egoismo


impedirá a sua ressurreição porque exclue e não reconhece a total
fraternidaade de todos que nasceram sob a mesma imutável lei natural.

Estás enganado de novo. Posso censurar a vossa "curiosidade"


quando sei que ela é inútil. Sou incapaz de considerar como uma
"impertinência" aquilo que é senão o livre uso das capacidades
intelectuais de raciocínio. Podeis ver as coisas numa luz falsa, como
habitualmente o fazeis. Mas vós não concentrais toda a luz em vós
mesmos como alguns fazem, e essa é uma qualidade superior que
possuís em relação a outros europeus que conhecemos. A vossa
afeição por K.H. é sincera e cálida e essa é a vossa qualidade
redentora aos meus olhos. Por que, então, deveríeis aguardar a minha
resposta, de qualquer modo, nervoso. Seja o que aconteça, nós dois
sempre permaneceremos como vossos amigos, eis que não
censuraríamos a sinceridade, mesmo quando se manifesta debaixo de
uma forma criticável, como a de pisar um inimigo prostado - o
desventurado Babu.

Seu,

M.
Carta Nº 039

De M. para Sinnett. Recebida em Allahabad depois do dia 10 de


Dezembro de 18811.

Parece que H.P.B. decidiu finalmente processar um dos Jornais devido


a uma afirmação particularmente injuriosa. Esta é provavelmente a
afirmação injuriosa à qual o Mahatma se refere na Carta nº.33 (CM-38)
em sua análise dos vários ataques contra os fundadores em algumas
publicações. O jornal é obviamente o "Statesman". Sinnett pediu
conselho ao Mahatma. Ele publicou algo no "The Pioneer" mas, sem
dúvida, sente que não pode ir mais longe.

O Mahatma telegrafou oferecendo uma opção. A natureza da opção


não é clara, mas lendo a carta cuidadosamente, parece ser uma
escolha entre entrar com uma ação judicial e publicar um artigo que
revelaria ao publico a verdadeira natureza do difamador.

Se o meu conselho é procurado e solicitado, então primeiro de tudo a


situação real e verdadeira tem que ser definida. Meus votos de "Arhat"
foram pronunciados, e eu posso buscar vingança, nem ajudar outros a
obtê-la. Posso ajudá-la com dinheiro somente quando souber que nem
um mace, nem a fração de um tael-A será gasto em algum propósito
ímpio. E a vingança é ímpia. Mas nós admitimos a defesa e ela tem o
direito de se defender. Ela deve ter plena justificação e defesa e é por
isso que eu telegrafei oferecendo a opção antes de iniciar um litígio.
Ela tem direito de exigir uma retratação e ameaçar com um litígio e
também pode estabelecer os procedimentos, porque ele se retratará.
Por essa razão enfatizei a necessidade de um artigo que não se refira
a nenhum outro assunto senão o da alegada "dívida". Só isso será
suficiente para atemorizar o caluniador, porque o revelará diante do
público como um "difamador" e ensinará ao mesmo que estava no lado
equivocado. O equívoco é devido à tão inteligível e tortuosa escrita
manual de Macauliffe (um calígrafo e escriba da minha espécie), que
enviou a informação ao Statesman. Esse foi um engano feliz, pois, com
base nele pode-se construir toda a justificação, se agirdes sabiamente.
Mas agora temos que tirar disso o melhor partido, ou perdereis a
oportunidade. Assim pois, se consentirdes uma vez mais em aceitar o
meu conselho, pois destes o primeiro golpe no Pioneer, procurai os
dados no Theosophist e com eles e o artigo de terça-feira, escrevei
para ela uma bela e pungente carta para que ela e Olcott a assinem.
Isso pode ser publicado primeiro no Pioneer ou, se não concordardes,
em qualquer outro jornal - mas em qualquer caso, deverão imprimí-la
em forma de carta circular, e remetê-la a todos os periódicos do país.
Exijai nela uma retratação do Statesman e o ameaçai com uma ação
judicial. Se procederdes assim, garanto o êxito.

A velha dama de Odessa - a nadyejda - está sumamente ansiosa pelo


seu autógrafo - o de "um grande e renomado escritor" - diz que não
queria mesmo desfazer-se da carta que escrevestes ao General, mas
tinha que vos mandar uma prova de sua própria identidade. Diga a ela
que eu, o "Khosyayin" (ela chamou-me de Khosyayin de sua sobrinha
quando fui visitá-la três vêzes) vos passei o assunto, aconselhando-
vos a que escrevêsseis para ela proporcionado-lhe assim, o vosso
autógrafo. Também devolvei, através de H.P.B., os seus retratos, tão
logo os mostrais a vossa esposa, pois ela, em Odessa, está muito
ansiosa por recuperá-los, especialmente o do rosto juvenil...É ela, tal
como a conheci primeiramente "a adorável donzela".

Estou um pouco atarefado agora - mas eu vos darei um complemento


explicativo tão logo possa ter um pouco de lazer - digamos em dois ou
três dias. O "Ilustre" cuidará de tudo que necessite vigilância. Que se
passa com o grandioso discurso do senhor Hume? Não poderíeis tê-lo
pronto para o vosso número de Janeiro? Idem com o vosso editorial
em resposta ao editorial do Spiritualist. Espero que não me acusareis
de nenhum desejo de renegar-vos, nem vereis o meu humilde pedido
sob outro ângulo que não o verdadeiro. O meu propósito é duplo:
desenvolver as vossas intuições metafísicas e ajudar o periódico,
infundindo-lhe algumas gotas de um bom sangue literário. Os vossos
três artigos são certamente dignos de elogio, os pontos bem
apresentados tanto quanto eu possa julgar, calculados para atrair a
atenção de todo erudito e metafísico, especialmente o primeiro. Mais
tarde aprendereis mais acerca da criação. Por enquanto eu tenho que
criar a minha comida - que dificilmente vos agradaria, temo eu.

M.

Seu jovem amigo o Deserdado já está de pé outra vez. Desejaríeis, na


verdade, que ele vos escrevesse? Em tal caso, é melhor que
mencionais no Pioneer a questão acerca da conveniência de chegar-
se a um acôrdo com a China a respeito do estabelecimento de um
serviço postal regular entre Prayag e Shigatse.
Carta Nº 040

De M. para Sinnett, antes de 14 de Novembro de 18811.

Sinnett anotou no cabeçalho desta carta: "Recebida por volta de


fevereiro de 1882". Este é outro exemplo de datação incorreta. Pelo
conteúdo da carta, tinha que ter sido recebida antes de meados de
novembro de 1881, provavelmente pelo 9º. ou 10º. dia.

Muito do que implicou em perseguição estava ocorrendo igualmente


contra H.P.B. e Cel. Olcott e a Sociedade em geral. Esta carta começa
com uma referência direta ao dano feito por esta campanha de
difamação.

Rattingan tornara-se o proprietário do "The Pioneer" do qual Sinnett era


editor. Ele estivera envolvido nos ataques contra H.P.B. e Olcott. Aqui
o Mahatma sugere que ele deveria publicar as cartas do tio de H.P.B.
no "The Pioneer" com uma nota editorial referindo-se à prova oficial da
identidade de H.P.B. com base no Príncipe Dondoukoff. Isto
esclareceria a dúvida de que ela era uma "espiã russa". Obviamente,
o Sr. Rattingan não seguiu a sugestão. Ele não tinha nenhuma simpatia
pelo interesse de Sinnett na Teosofia ou em sua defesa de H.P.B. e
Cel. Olcott, e mais tarde ele exonerou Sinnett de seu cargo como
editor, dando-lhe um ano de salário adiantado para livrar-se dele!

Parece claro que esta carta para Sinnett foi mandada através de outra
pessoa que não H.P.B., porque na ocasião ela não conhecia o plano
de fazer com que ela fosse para Allahabad.

Tenho pouco a responder à sua primeira: "podeis fazer algo para ajudar
a Sociedade? Quer que vos fale com franqueza? Bem, eu digo NÃO:
nem vós nem mesmo Lord Sang-yias enquanto não se provar que a
equívoca posição dos fundadores é, perfeita e inegavelmente, devida
à perversa malícia e a sistemática intriga, poderíamos ajudá-la. Tal é a
situação como eu a encontrei, segundo a ordem dos chefes. Observai
os periódicos: todos, exceto dois ou três, ridicularizam a "querida Velha
Dama (H.P.B.)" quando não a caluniam positivamente. Olcott é
atacado por todos os mastins da imprensa e das missões. Um panfleto
intitulado "Teosofia", impresso e posto em circulação pelos Cristãos em
Tinevelly no dia 23 de Outubro, no dia da chegada lá, de Olcott, com
os delegados Budistas - um panfleto contendo o artigo do Saturday
Review e outro ataque sujo e pesado, feito por um jornal americano.
Os C. e M.4 de Lahore mal deixam passar um dia sem lançar algum
ataque e outros periódicos os reproduzem, etc., etc. Vós, ingleses,
tende as vossas idéias: nós temos as nossas sobre o assunto. Se
guardais um lenço limpo em vosso bolso e jogais o que está sujo entre
a multidão, quem o recolherá? Basta. Devemos ter paciência e fazer,
por ora, o que pudermos. Minha opinião é que se o vosso Rattingan
não é totalmente um malandro, um dos seus periódicos tendo
arremessado e arremessa diariamente desonra sobre uma inocente
mulher, seria o primeiro a vos sugerir a idéia de traduzir e publicar as
cartas do seu tio (a vós e a ela) no Pioneer; com algumas palavras
como introdução, dizendo que se espera em breve do Príncipe D. uma
prova oficial mais substancial, a qual esclarecerá para sempre o
desagradável assunto da identidade dela. Mas sabereis o que é
melhor. A idéia pode ter ocorrido a vós; mas ela será vista deste modo
pelos outros?

Suby Ram - um homem verdadeiramente bom, entretanto um devoto


de outro erro. Não a voz do seu gurú - mas a sua própria. A voz de uma
alma pura, altruísta ardorosa, aberta em um misticismo distorcido e mal
dirigido. Acrescentai a isso uma desordem crônica naquela parte do
cérebro que responde a visão clara e o segredo é logo revelado: essa
desordem foi desenvolvida por visões forçadas; por hatha ioga e
prolongado ascetismo. S. Ram é o principal médium e ao mesmo
tempo o principal fator magnético, que difunde a sua doença por
contágio - inconscientemente para ele mesmo; que inocula com a sua
visão todos os outros discípulos. Há uma lei geral de visão (física,
mental ou espiritual) mas há uma lei especial qualificadora provando
que toda visão tem que ser determinada pela qualidade ou grau do
espírito e alma do homem, e também pela capacidade para transferir
diversas qualidades de ondas de luz astral para a conscicência. Há
somente uma lei geral de vida, mas inumeráveis leis qualificam e
determinam as miriades de formas percebidas e de sons ouvidos. Há
aqueles que voluntariamente são cegos e outros o são
involuntariamente. Os médiuns pertecem aos primeiros, os sensitivos
aos últimos. A não ser que regularmente iniciados e treinados, no
concernente à visão espiritual das coisas e as supostas reveleções
feitas ao homem em todas as épocas, desde Sócrates até
Swendenborg e "Fern" - nenhum vidente ou clariaudiente auto instruído
jamais viu ou ouviu com completa exatidão.

Nenhum dano e sim muita instrução pode vos chegar caso façais parte
da sua Sociedade. Prossigai até que ele reclame o que estejais
obrigado a recusar. Aprendai e estudai. Tendes razão: eles dizem e
afirmam que o Deus uno e único do Universo se encarnou no gurú
deles, e caso um indivíduo como esse existisse, seria certamente mais
elevado que qualquer "Planetário". Mas eles são idólatras, meu amigo!
O gurú deles era um iniciado, apenas um homem de extraordinária
pureza de vida e poderes de resistência. Nunca consentiu em desistir
de suas noções de um deus pessoal, e mesmo de deuses, embora isso
lhe fôsse sugerido por mais de uma vez. Nasceu hindú ortodoxo e
morreu hindú auto reformado, algo semelhante a Kechub Chunder-
Sen, mas mais elelvado, mais puro e sem ambição alguma que
pudesse manchar a sua brilhante alma. Muitos de nós deploraram a
sua auto-ilusão, mas era demasiado bom para ser forçado a uma
interferência. Reuni a eles e aprendai, mas recordai a vossa sagrada
promessa a K.H. Dois mêses mais e ele estará conosco. Estou
pensando em enviá-la a vós. Creio que poderíeis persuadí-la, pois eu
não desejo exercer a minha autoridade nesse caso.

M.
Carta Nº 041

(De M. para Sinnett. Recebida depois do dia 10 de Dezembro de 1881).

Esta carta se relaciona mais com a sugestão do Mahatma M. de que


Sinnett redija uma carta circular a ser assinada por H.P.B. e Olcott.
Olcott, que estivera no Ceilão, chegou em Bombaim em 19 de
dezembro. H.P.B. e Olcott mandariam fazer cópias desta carta-circular
e as remeteriam para todos os jornais.

Na verdade considero-me incapaz de expressar com clareza as minhas


idéias em vossa linguagem. Nunca pensei em dar importância à carta-
circular que apareceu no Pioneer (eu vos havia pedido que a
esboçasse para eles), nem eu quiz dizer que deveria aparecer nesse
periódico. Eu vos pedi que a redigísseis para eles e que enviásseis
uma cópia da mesma para Bombaim, fazendo com que eles a
imprimissem como uma carta-circular; feito isso, e uma vez distribuída
por toda a Índia, poderia ser reproduzida em vosso jornal, como
seguramente outros fariam. A sua carta a B.G. foi tola, infantil e ridícula.
Eu somente a li por alto. Mas não deveis por isso ficar com a impressão
de que ela anulará todo o bem que a vossa produziu. Há umas poucas
pessoas sensitivas a cujos nervos sacudirá, mas o resto nunca
apreciará o seu verdadeiro espírito. Nem é de modo algum difamatória,
é só vulgar e tola. Eu a obrigarei a refrear-se.

Ao mesmo tempo devo dizer que ela sofre agudamente e sou incapaz
de ajudá-la, porque tudo isso é o efeito de causas que não podem ser
anuladas - ocultismo em Teosofia. Ela tem agora que vencer ou morrer.
Quando chegar a hora, ela será devolvida ao Tibet.

Não culpai a pobre mulher, culpai a mim. Ela, às vêzes, é somente um


"cascão", e eu, com frequência, me descuido de vigiá-la. Se o escárnio
não recai sobre o Statesman, outros periódicos tomarão a pelota e a
lançarão de novo sobre ela.
Não vos sintais desalentado. Coragem, meu bom amigo, e recordai que
estais vos libertando, ao ajudá-la em sua própria lei de retribuição, pois
mais de uma cruel zombaria que ela recebe é devida a amizade que K.
H. tem por vós, porque ele a utiliza como o meio de comunicação. Mas,
Coragem.

Eu vi os papéis do advogado e percebo que ele sente repulsa em


encarregar-se do caso. Mas para o pouco que necessita, o fará.
Nenhuma ação judicial ajudará - mas divulgação quanto a defesa como
no assunto da acusação - 10.000 cartas-circulares enviadas a todas as
partes para provar que a acusação é falsa.

Vosso, até amanhã.

M.
Carta Nº 042

(De M. para Sinnett. Recebida em Janeiro ou Fevereiro de 1882).

Esta carta foi recebida antes que K.H. reiniciasse a correspondência


com Sinnett.

Digo novamente o que não gostais que eu diga, isto é, que não é
possível, entre nós, nenhuma instrução ou comunicação regular, antes
que a nossa senda mútua esteja livre dos seus muitos obstáculos e o
maior deles é o conceito público errôneo acerca dos Fundadores. Não
podeis ser culpado pela vossa impaciência, nem o farei. Mas se
falhardes em fazer um uso proveitoso de vossos privilégios recém
adquiridos, seríeis, sem dúvida, meu amigo, indigno. Dentro de três ou
quatro semanas mais eu me retiro para dar lugar entre vós, a aquele,
a quem pertence tal posição e que eu poderia ocupar senão muito
inadequadamente, já que eu não sou nem um escritor nem um erudito
ocidental.

Outra questão é se o Chohan3 considerará a vós e ao senhor Hume


mais qualificados do que antes para receber instruções por nosso
intermédio. Mas deveis vos preparar para isso, pois muito ainda resta
para ser feito. Até agora somente recebestes a luz de um novo dia.
Podeis, se o tentardes, ver, com a ajuda de K.H., o sol do pleno meio
dia quando atinge o auge. Mas tendes que trabalhar para isso, e
trabalhar para que essa luz chegue a outras mentes por intermédio da
vossa. Como? Perguntareis. Até agora, de vós dois, o senhor Hume
tem sido positivamente contrário aos nossos conselhos, e vós, às
vêzes resistindo passivamente aos mesmos, cedendo, com frequência
diante do que considerais ser o vosso melhor critério: essa é a minha
resposta.

Os resultados foram o que se poderia esperar. Nenhum bem, ou muito


pouco, proveio de uma defesa intermitente: a solitária defesa de um
amigo, um membro da Sociedade, presumivelmente prejudicado em
favor daqueles cujo campeão ele se mostrou. O senhor Hume nunca
quiz escutar a sugesstão de K.H. de se fazer uma palestra em sua
casa, durante a qual poderia muito bem ter desvanecido na mente do
público, pelo menos, parte do preconceito, ou totalmente. Pensastes
que seria desnecessário publicar e divulgar entre os leitores quem era
ela. Pensai ser provável que Primrose e Rattingan5 difundam o
conhecimento e divulguem informes do que eles supõem ser o caso?
E assim por diante. Insinuações é tudo o que se necessita para uma
inteligência como a vossa. Digo-vos isso porque sei quão profundo e
sincero é o vosso sentimento em relação a K.H. Eu sei quanto vos
sentireis mal se, quando, de novo entre nós, notardes que a
comunicação entre vós não melhorou. E isto, com certeza, é o que
acontecerá quando o Chohan verificar que não houve progresso, já que
foi ele quem instou K.H. a se aproximar de vós. Veja o efeito que
produziram os Fragments, o mais excelente de todos os artigos; e quão
pouco efeito produzirá a menos que se excite a oposição, e provoquem
discussões e se obrigue aos espíritas a defenderem as suas
insensatas afirmações. Lêde o editorial do Spiritualist de 18 de
novembro intitulado Speculation- Spinning7. Ela não pode responder
como ele ou vós poderiam fazer, e o resultado será que as mais
preciosas sugestões deixariam de alcançar as mentes daqueles que
anseiam pela verdade, pois uma pérola solitária logo desaparece em
meio a um montão de falsos diamantes quando não há um joalheiro
que chame a atenção sobre o seu valor. E assim, outra vez mais. O
que nós podemos fazer! Já estou ouvindo K.H. exclamar.

Assim é, amigo. O caminho através da vida terrena conduz a muitos


conflitos e provas, mas aquele que nada faz para vencê-los não pode
esperar nenhum triunfo. Assim pois, que a antecipação de uma
introdução mais completa em nossos mistérios, sob circunstâncias
mais favoráveis, cuja criação depende inteiramente de vós mesmo vos
inspire paciência para esperar, perseverança para seguir adiante, e
plena preparação para receber a bem-aventurada consumação de
todos os vossos desejos. E para isso deveis recordar que, quando K.H.
vos dizer "Elevai-vos até aqui", deveis estar pronto. De outro modo, a
mão toda poderosa do nosso Chohan se colocará, uma vez mais, entre
vós e K.H.

Devolvei a H.P.B. (a V.D.)0 os retratos que vos remeteram de Odessa,


para a velha Generala, porque sei que ela quer muito o vosso
autógrafo. Recordai-lhe que ambos pertencem a mesma Sociedade e
são Irmãos, e prometei ajuda à sua sobrinha.
Carta Nº 043

(De M. para Sinnett. Recebida em Allahabad em Janeiro de 1882).


Esta carta é do Mahatma M. Ele censura fortemente Sinnett,
presumivelmente por ser muito influenciado por Hume, cujo julgamento
dos "Irmãos" era sempre supercrítico.

Sabe-se que o Mahatma tinha sido solicitado a fazer a crítica de um


panfleto escrito por Hume e tinha sido acusado de não elogiá-lo
bastante. Sinnett havia mostrado a crítica a Hume e este reagiu
negativamente.

Antes que voltemos a nos comunicar, temos que chegar a um acôrdo,


meu impulsivo amigo. Primeiro tereis que prometer-me, com lealdade,
a não julgar nenhum de nós, nem a situação, nem outra coisa que
tenha alguma relação como os "míticos Irmãos" - altos ou baixos,
gordos ou magros - de acôrdo com a vossa experiência mundana, ou
nunca chegareis à verdade. Por proceder assim até agora, tende
somente perturbado a solene tranquilidade das minhas refeições
vespertinas no decorrer de muitas noites, fazendo com que a minha
assinatura, qual uma serpente, em meio ao que escreveis e pensais,
me persiga até no meu sono pois, por simpatia, sinto-a puxada pela
cauda até o outro lado das colinas. Por que sois tão impaciente?
Tendes toda uma vida diante de vós para a nossa correspondência,
embora tenha de ser intermitente e incerta enquanto as tenebrosas
nuvens da "Eclética" Deva-lok1-A estejam baixando sobre o horizonte
da Sociedade Matriz. Pode ser mesmo interrompida subitamente
devido à tensão colocada nela pelo nosso amigo demasiado
intelectual. Salve, Ram Ram! Pensar que mesmo a nossa moderada
crítica sobre o folheto - uma crítica passada por vós ao Sahib Hume -
pode haver induzido a este nos matar com um golpe! A nos destruir
sem nos dar tempo para que chamássemos um confessor ou sequer
que nos arrependêssemos! Encontrar-nos vivos, e no entanto tão
cruelmente privados de nossa existência é verdadeiramente triste,
embora não de todo inesperado. Mas tudo isso é por nossa culpa.

Se, em vez disso, tivéssemos prudentemente enviado um hino


laudatorio para o seu endereço, podíamos agora estar vivos, gozando
de boa saúde e vigor - senão de sabedoria - por muitos anos vindouros
e encontrar nele o nosso Ved-Vyasa-A para cantar as proezas ocultas
de Krishna e Arjuna nas desoladas margens do Tsam-pa. Agora que
estamos mortos e dessecados, posso, ainda assim, também ocupar
uns minutos de meu tempo para vos escrever, como um bhut3, no
melhor inglês que encontre ocioso no cérebro de meu amigo-B, onde
também acho, nas células da memória, o pensamento fosforescente
de uma curta carta a ser enviada por ele ao editor do Pioneer para
apaziguar a sua impaciência inglesa. Amigo do meu amigo: K.H. não
se esqueceu de vós; K.H. não tenciona romper convosco, a menos que
o Sahib Hume estrague a situação irremediavelmente. E por que o
faria? Fizestes tudo o que pudestes e isso é tudo o que nós pedimos a
qualquer um-C. E agora conversaremos.
Deveis pôr de lado completamente o elemento pessoal se quizerdes
progredir no estudo oculto e, por um certo tempo, em relação a ele
mesmo (K.H.). Compreendai, meu amigo, que os afetos pessoais tem
pouca influência, se é que têm alguma, sobre qualquer verdadeiro
Adepto no cumprimento do seu dever. À medida que ele se eleva em
direção ao perfeito adeptado as fantasias e antipatias do seu eu
anterior são enfraquecidas: (como K.H. em resumo vos explicou) ele
acolhe em seu coração a toda a humanidade e a considera em
conjunto. O vosso caso é excepcional. Vós vos impusestes a ele, e
forçando-o a aceitar-vos, pela impetuosidade e intensidade do vosso
afeto por ele; e uma vez que ele vos aceitou, tem que suportar as
consequências no futuro. Entretanto, não pode ser um problema para
ele o que o Sinnett visível possa ser, com os seus impulsos, seus
fracassos e êxitos em seu mundo, a sua consideração por ele,
diminuida ou aumentada. Com o indivíduo "visível" nada temos a ver.
Ele é para nós somente um véu que oculta aos olhos profanos o outro
ego com cuja evolução estamos ocupados. No rupa-D externo, fazei o
que gostais, pensai o que quereis: somente quando os efeitos dessa
ação voluntária são vistos no corpo-E de nosso correspondente é
nosso dever prestar atenção.

Nós não estamos satisfeitos ou desgostosos porque não estivestes na


reunião de Bombaim. Caso tivésseis ido, teria sido melhor para o vosso
"mérito"; mas como não fôstes, perdestes um pequeno ponto. Eu não
podia nem tinha o direito de influir sobre vós de modo algum,
precisamente porque não sois um chela. Foi uma prova, muito
pequena, ainda que vos parecesse bastante importante para fazer-vos
pensar "nos interesses da esposa e da criança". Tereis ainda muitas
dessas provas, pois embora jamais seríeis um chela, entretanto não
transmitimos confidências mesmo aos correspondentes e "protegidos",
cuja discreção e coragem moral não tenham sido bem provadas. Sois
uma vítima de maya. Será uma luta prolongada para vós conseguirdes
arrancar as "cataratas" e ver as coisas com elas são. O Sahib Hume é
um maya para vós, tão grande como qualquer outro. Vêdes dele
somente o vulto da carne e osso, sua personalidade oficial, seu
intelecto e suas influências. O que é tudo isso, dizei-me, para o seu eu
real que não podeis ver, não importa o que fizerdes. O que tem o seu
talento que brilha num Durbar ou como dirigente de uma sociedade
científica a ver com a sua aptidão para a investigação oculta, ou a sua
confiabilidade para guardar os nossos segredos?

Se desejássemos que se conhecesse algo de nossas vidas e de nosso


trabalho, não estariam abertas para nós as colunas do Theoophist? Por
que haveríamos de revelar os fatos aos poucos, através dele, para
serem preparados para o consumo público com um molho de dúvidas
nauseantes e sarcasmos mordazes, capazes de deixar em confusão o
estômago público? Para ele não há sagrado, nem dentro nem fora do
ocultismo. Ele é pelo seu temperamento um matador de pássaros e
matador de fés; sacrificaria a sua própria carne e sangue, sem qualquer
remorso, como o faz com um rouxinol; e dissecaria a vós e a nós, K.H.
e a querida Velha Dama, e nos faria sangrar até a morte debaixo do
seu bisturí - se pudesse - com tanta facilidade como o faria com uma
coruja, para nos colocar no seu "museu" com as etiquetas respectivas
grudadas e depois relatar as nossas necrologias para os aficionados,
no Stray Feathers.

Não, Sahib; o Hume externo é tão diferente (e superior) do Hume


interno, como o Sinnett externo é diferente (e inferior) ao nascente
"protegé" (protegido) interno. Aprendai isso e disponde-vos a vigiar o
editor para que ele não dê um mau passo algum dia. Nossa maior
dificuldade é a de ensinar aos discípulos a não serem enganados pelas
aparências.

Como já fôstes informado por Damodar, através de D.7 - eu não vos


chamei de chela - examinai a vossa carta para assegurar-vos disso -
eu, apenas brincando, perguntei a Olcott se ele reconhecia em vós o
material de que estão formados os chelas. Somente vistes que Bennett
tinha as mãos não lavadas, as unhas sujas, e que usava uma
linguagem grosseira e que tinha, na vossa opinião, um aspecto geral
desagradável. Mas se esse modo de apreciar é vosso critério de
excelência moral ou poder potencial, quantos adeptos ou lamas
produtores de maravilhas passariam no seu exame? Esta é parte da
vossa cegueira. Se ele morresse neste minuto (e empregarei uma
fraseologia cristã para fazer-vos compreender-me melhor) poucas
lágrimas mais quentes o Anjo da Morte derramaria por outros homens
semelhantemente maltratados, do que por Bennett. Poucos homens
têm sofrido (e sofrido injustamente) como ele; e como poucos, tem um
coração bondoso, desinteressado e verdadeiro. Isto é tudo. E o sujo
Bennett é moralmente tão superior ao cavalheiresco Hume, como vós
sois superior ao vosso "Carregador".

O que H.P.B. vos repetiu é correto: "os nativos não vêem a rudeza de
Bennett e K.H. é também um nativo" o que eu quiz dizer? Que
simplesmente o nosso amigo, semelhante a um Buda, pode ver,
através do verniz, a textura da madeira embaixo, e dentro da viscosa e
mau-cheirosa ostra - " a inapreciável pérola interna"! B. é um homem
honesto e de coração sincero, além de possuir um tremendo valor
moral e ser um mártir em potencial. É a seres como este que o nosso
K.H. ama, enquanto que só teria desprezo por um Chesterfield e um
Grandison10. Suponho que a condescendência do consumado
"cavalheiro" K.H. para com o toscamente consstituido e pagão Bennett,
não é mais surpreendente do que a alegada condescendência do
"cavalheiro" Jesus para com a prostituta Madalena.

Existe um olfato moral, assim como um físico, bom amigo. Vêde quão
bem K.H. leu o vosso caráter quando ele não enviou o jovem de Lahore
para falar convosco antes que mudasse de roupa. A doce polpa da
laranja está dentro da casca, Sahib: tentai procurar as jóias dentro das
caixas e não confieis naquelas que estão na tampa. Digo novamente:
o homem é honesto e muito ardoroso; não exatamente um anjo - esses
têm que ser caçados nas igrejas elegantes, em festas em mansões
aristocráticas, teatros e clubes e outros sanctums - mas como os anjos
estão fora da nosa cosmogonia, estamos alegres com a ajuda de
homens honestos e resolutos, ainda que sujos.

Tudo isso vos digo sem qualquer malícia ou aspereza, como


erroneamente imaginais. Fizestes muitos progressos durante o ano
passado - portanto, estais mais perto de nós. Em consequência, eu vos
falo como a um amigo a quem finalmente espero converter a alguns
dos nossos modos de pensar. O vosso entuiasmo por nosso estudo
tem uma mancha de egoismo nele. Mesmo o vosso sentimento por
K.H. tem um caráter mixto: entretanto, estais mais próximo.

Apenas confiastes demasiadamente em Hume e desconfiastes dele


demasiadamente tarde, e agora o seu mau Karma reage sobre o
vosso, em detrimento a vós. As vossas amistosas indiscreções sobre
coisas que somente vos foram confiadas por H.P.B., eis a causa,
estimula-o a temerárias publicações eis o efeito. Isso, receio, há de
pesar contra vós. Sêde mais sábio daqui por diante. Se a nossa norma
é sermos cautelosos nas confidências, e porque somos instruidos
desde o princípio que cada homem é pessoalmente responsável diante
da Lei de Compensação por cada palavra que emite voluntariamente1.
Naturalmente o senhor Hume chamará isto de jesuitismo.

Também tratai de irromper através desse grande maya: a ânsia por


fenômeno, contra o que os estudantes de Ocultismo de todo mundo
foram sempre prevenidos por seus instrutores. Semelhante à sêde pela
bebida e o ópio, cresce com a satisfação. Os espíritas estão
embriagados com isso. São taumaturgos tontos. Caso não possais ser
feliz sem fenômenos, nunca aprendereis a nossa filossofia. Se desejais
pensamentos saudáveis e filosóficos, e puderdes satisfazer-vos com
eles, continuaremos com a correpondência. Estou vos comunicando
uma profunda verdade ao dizer que se vós (como vosso legendário
Shloma) tão somente escolherdes a Sabedoria, todas as outras coisas
serão acrescentadas no tempo exato. Não acrescenta força alguma às
nossas verdades metafísicas o fato de que as nossas cartas caiam
sobre o vosso colo ou apareçam debaixo de voso travesseiro. Se a
nossa filosofia é errônea, um fato maravilhoso não a endireitará. Ponde
esta convicção em vossa consciência e falemos como homens
sensatos. Por que devemos brincar com jogos infantis? Já não estão
crescidas as nossas barbas?

E agora é tempo de pôr ponto final à minha abominável caligrafia e


assim aliviar-vos da tarefa. Sim - vossa "cosmogonia"! Bem meu bom
amigo: a vossa cosmogonia está entre as folhas do meu Khuddaka
Patha (minha Bíblia familiar), e fazendo um supremo esforço procurarei
respondê-la, tão logo esteja livre, porque justamente agora estou em
serviço. É uma tarefa para toda a vida que escolhestes e, de algum
modo, em vez de generalizar, procurais sempre vos fixar sobre aqueles
detalhes que são os mais difíceis para um principiante. Ficai atento,
meu bom Sahib. A tarefa é difícil e K.H., rememorando os velhos
tempos, quando gostava de recitar poesia, pede-me que encerre a
carta com o seguinte verso a vós dirigido:

"Não serpenteia o caminho montanha acima durante todo o seu


percurso?

Sim, até quando termine.

Não demorará o dia inteiro a jornada diária?

Desde a manhã até a noite, amigo meu".

O Conhecimento para a mente, como o alimento para o corpo, destina-


se a nutrir e ajudar o crescimento, mas requer que seja bem digerido,
e quanto mais completo e pausadamente se leve a cabo o processo,
melhor será para o corpo e a mente.

Ví Olcott e o instruí acerca do que tem a dizer ao nosso sábio de Simla.


Caso a V.D. (H.P.B.) e precipite em explicações epistolares com ele,
detenha-a, pois que O. se encarregou de tudo isso. Não tenho tempo
para cuidar dela, mas a fiz prometer que nunca escrevesse para ele
sem que mostrasse a sua carta primeiro a vós.

Namascar.

Seu,

M.
Carta Nº 044

(De M. para Sinnett). Recebida em Allahabad em fevereiro de 1882.

Sinnett, não sabendo que o Mahatma K.H. havia lhe escrito, pois ainda
não havia recebido a carta, mandou outra carta para M., que muito
atenciosamente lhe respondeu.

Parte da carta se relaciona com o médium William Eglinton, a quem o


Mahatma chama aqui de "o pobre rapaz sensitivo". Eglinton parece ter
sido um ótimo médium; se diz que ele nunca recorreu à fraudes. Ele
tinha, contudo, algumas fraquesas pessoais. Pode-se lembrar que
houve algum indício de que o Mahatma K.H. pensara em trazê-lo para
Simla para algum treinamento de modo que pudesse ser aproveitado
no trabalho deles, mas depois que Eglinton chegou a Calcutá, K.H.
decidiu em contrário.
Vossa carta foi dirigida a mim pois não sabíeis que K.H. tinha se posto
de novo em relação contigo. Entretanto, como a mim foi dirigida, a
responderei.

"Faça assim a todo custo; vá em frente". O resultado pode ser


desastroso para o Espiritismo, ainda que seja provada a realidade dos
fenômenos; sendo, portanto, benéfico para a Teosofia. Parece cruel
permitir ao pobre e sensível moço arriscar-se dentro da cova do leão:
mas como a aceitação ou rejeição do bondoso convite é com o médium
sob o conselho e a inspiração de seu poderoso e previdente "Ernesto",
por que os outros deveriam se preocupar?

Como não é provável, digno senhor, que agora tenhamos


correspondência com muita frequência, eu vos direi algo que devereis
saber e do que podereis tirar proveito. No próximo dia 17 de novembro
expirará o período setenário de prova dado à Sociedade quando foi
fundada, durante o qual, poderiam "predicar acerca de nós
discretamente". Um ou dois de nós esperávamos que o mundo havia
avançado bastante intelectualmente, senão intuitivamente, para que a
doutrina Oculta tivesse uma aceitação intelectual e pudesse ser dado
um impulso para um novo ciclo de investigação Oculta. Outros, mais
sábios, segundo se vê agora, sutentavam uma opinião diferente, mas
foi dado o consentimento para a prova. Entretanto, estipulou-se que a
experiência se realizaria sem a nossa direção pessoal; que não haveria
intervenção anormal de nossa parte. Buscando por todas as partes
encontramos na América ao homem com aptidão para líder, um
homem de grande valor moral, desinteressado e possuidor de outras
boas qualidades. Longe estava de ser o melhor, mas, como o senhor
Hume disse acerca de H.P.B., era o melhor disponível. A ele
associamos uma mulher dos mais excepcionais e maravilhosos dotes.
Com esses dotes se mesclavam certos defeitos pessoais mas, tal
como era, não havia outra pessoa vivente com mais aptidões para este
trabalho. Enviamo-la para a América; fizemos que se reunissem; e a
prova começou desde o princípio, a ambos - a ela e a ele - se deu a
entender com clareza que o empreendimento ficava sob a sua inteira
responsabilidade. E ambos, se ofereceram para a prova por uma certa
recompensa num futuro muito distante; tal como diria K.H.: soldados
voluntários para uma Desesperada Missão. Durante seis anos e meio
têm lutado contra tantas dificuldades que teriam afugentado quem não
estivesse lutando desesperadamente como aquele que joga a sua vida
e tudo o que aprecia, em um desesperado e supremo esforço. Seu
sucesso não se equiparou às esperanças de seus inspiradores
originais, embora tenha sido extraordinário em certas direções. Em uns
poucos mêses mais terminará o período da prova. Se nesse tempo a
posição da Sociedade em relação a nós - a questão dos "Irmãos" não
tiver sido estabelecida definitivamente (seja que se elimine do
programa da Sociedade ou que seja aceita conforme nossas
condições), será a última vez que se saberá acerca dos "Irmãos" de
quaisquer espécies, cores, tamanhos ou graus. Desapareceremos da
vista do público como uma bruma no oceano. Somente àqueles que
através de tudo tenham demonstrado serem fiéis a si mesmos e à
Verdade, será permitido manter futura comunicação conosco. E nem
mesmo eles, a menos que, desde o Presidente para baixo, se
comprometam mediante as mais solenes promessas de honra, a
guardar um segredo inviolável, de aqui em diante, acerca de nós, da
Loja e dos assuntos tibetanos. Nem sequer poderão responder a
perguntas dos seus mais íntimos amigos, embora o silêncio possa
provavelmente dar a aparência de "fraude" sobre tudo que foi
transpirado. Nesse caso o esforço deve ser suspenso até o começo de
outro ciclo setenário quando, se as circunstâncias forem mais
auspiciosas, uma outra tentativa pode ser feita, sob a mesma ou outra
direção.

A minha impressão pessoal e humilde é que o atual folheto do Sahib


Hume, altamente intelectual como é, poderia ser melhorado de modo
a ajudar enormemente, dando a necessária mudança nos assuntos da
Sociedade. E se ele confiasse mais em suas intuições pessoais, que
são intensas quando a elas presta atenção e menos na voz de quem
não representa exclusivamente a opinião pública (como pareceis crer)
e que não acreditaria, ainda que chegasse a ter mil provas, o folheto
se tornaria em uma das mais poderosas obras que este movimento
moderno desenvolveu.

As vossas questões cosmológicas serão respondidas quando eu não


estiver envolvido com assuntos mais importantes.

Saúde e prosperidade.

M.
Carta Nº 045

(De K. H. para Sinnett). a primeira recebida depois do "despetar" em


fevereiro de 18822.

Esta é a primeira carta de K.H. depois que retornou de seu retiro.

Meu Irmão:

Realizei uma grande viagem em busca do conhecimento supremo e


tomei um tempo prolongado para descansar. Então, após regressar,
tive que dedicar todo o meu tempo às minhas obrigações, e todos os
meus pensamentos ao Grande Problema. Agora tudo já se passou. as
festividades do Ano Novo chegam ao fim e eu sou "Eu" mais uma vez.
Mas o que é o "Eu" ? Somente um hóspede passageiro, cujas
preocupações são todaas semenlhantes a uma miragem do grande
deserto...

De qualquer modo, este é o meu primeiro momento de lazer. Eu o


ofereço a vós, cujo Ser interno me reconcilia com o homem externo,
que, com demasiada frequência, se esqueec de que um grande
homem é aquele que é mais forte no exercício da paciência. Olhai a
vossa volta, meu migo: vêde os "três venenos" ardendo dentro do
coração dos homens - a ira, a cobiça e a ilusão; e as conco
obscuridades: a inveja, a paixão, a vacilação, a preguiça e a descrença,
sempre impedindo-os de verem a verdade. Eles nunca se verão livres
da corrupção dos seus vaidosos e perversos corações, nem
perceberão a parte espiritual deles mesmos. Não tentareis - com o
objetivo de diminuir a distância entre nós - desenredar-vos da malh da
vida e da morte na qual eles todos estão presos, acalentar menos a
luxúria e o desejo? O jovem Portman está pensando seriamente em
abandonar tudo, e vir aaté nós e "tornar-se um monge tibetano", como
ele se expressou. Suas idéias estão singularmente confundidas em
relação às duas características e qualificações inteiramente diferentes,
a do "MONGE" ou "LAMA" e a do vivente "LHA" ou "IRMÃO", mas
deixemos que ele tente por todos os meios.

Sim. Só agora me sinto livre para prosseguir a correspondência


convosco. Ao mesmo tempo, permitai-me dizer-vos que é mais difícil
do que antes trocar cartas convosco, embora a minha conssideração
por vós tenha crescido sensivelmente, em vez de diminuir como
receáveis, e não diminuirá a não ser em consequência dos vossos
próprios atos. Eu sei bem que tratareis de evitar criar qualquer
obstáculo dessa natureza; mas o homem, acima de tudo, é a vítima de
seu mbiente enquanto vive na atmosfera da sociedade. Nós podemos
estar ansiosos para ajudar aos que nos inspiram interesse, e
entretanto, estar impossibilitados de fazê-lo, como aquele que vê um
amigo lutando num maar tormentoso quando não há nenhum bote
próximo para salvá-lo e a sua força pessoal está paralizada por uma
mão mais forte que o mantém afastado. Sim, vejo o vosso
pensamento...mas estais errado. Não culpais ao santo homem por
cumprir estritamente o seu dever para com a humanidade. Se não fôra
pelo Chohan e sua refreadora influência, não estaríeis agora lendo de
novo uma carta do seu correspondente transhimalaico. O mundo das
planícies é antagônico ao das montanhas, isso o sabeis. Mas o que
não sabeis é o grande dano produzido por vossas próprias e
inconscientes indiscreções. Poderei vos dar um exemplo? Recordai a
cólera produzida em Staiton Moses por vossa carta muito leviana
fazendo citações ad libitum-A, com uma liberalidade carregada de
resultados desastrosos, de minha carta a respeito dele, que vos dirigi...
A causa gerada naquela ocasião, desenvolveu os seus resultados: nõ
só S. M. se separou por completo da Sociedade, de cujos membros
alguns crêm em nós, como também resolveu dentro do seu coração a
total aniquilação da Loja Inglesa. Está fundando uma Sociedade
Psíquica e conseguiu atrair para ela Wyld, Massey e outros. Devo vos
contar o futuro desse novo corpo? Ele crescerá e se desenvolverá,
expandindo-se e finalmente a Sociedade Teosófica de Londres se
dubmergirá nela, e perderá de início, a sua influência e depois - o seu
nome, até que o próprio nome Teosofia se tornará numa coisa do
passado. Fostes somente vós, a simples ação da vossa pena rápida
que produziu o nidana e o ten-del, a "causa" e o seu "efeito" e deste
modo, o trabalho de sete anos, os constantes e incansáveis esforços
dos contrutores da Sociedade Teosófica perecerão, mortos pela
vaidade ferida de um médium.

Este simples ato de vossa paarte está silenciosamente cavando um


abismo entre nós. O mal pode ainda ser evitado - que a Sociedaade
siga existindo ainda que seja só nominalmente até o dia que consiga
atrair membros com os quais possamos trabalhar de fato e mediante a
criação de uma causa oposta podemos salvr a situação. Unicamente a
mão do Chohan pode estender uma ponte, mas devem ser as vossas
que coloque a primeira pedra para a obra. Como o fareis? Como
podereis fazê-lo? Penai bem sobre isso, caso estejais interessado em
relacionamento posterior. Eles querem algo novo. Um Ritual que os
entretenha. Consultai com Subba Row, com SanKariah, o Dewan Naib
de Cochin, leia atentamente o seu folheto, do qual achareis trechos no
último do Theosophist (veja: a Flash of Light upon Occult Free
Mansonry (pág. 135).

Posso aproximar-me de vós, mas deveis atrair-me mediaante um


corção purificdo e uma vontade gradualmente desenvolvida. Como a
bússula do Adepto segue as suas atrações. Não é esta a lei dos
Princípios desencarnados? Por que também não a dos viventes?
Como os laços sociais do homem carnal são muito fracos para fazer
regressar a "Alma" do falecido, exceto quando existe uma afinidade
mútua que se sobrevive como uma força na região dentro do âmbito
terrestre, assim, os apelos de uma mera amizade ou mesmo de uma
estima entusiástica, são demasiado débeis para atrair o "LHA" que
passou por uma etapa na jornada, já vencida por ele, a menos que
prossiga um desenvolvimento paralelo. M. expressou-se bem e com
toda a verdade quando disse que um amor por toda a humanidade é a
sua crescente inspiração, e que se qualquer pessoa desejasse desviar
sua atençõ para ele, deverá sobrepujar a tendência dispersadora com
uma força mais vigorosa.

Digo tudo isso, não porque em essência não tenha sido vos contada
antes, mas porque lí em vosso coração e detectei nele uma sombra de
tristeza, para não dizer desapontamento, ali pairando. Jáa tivestes
outros correspondentes, mas não estais completamente satisfeito.
Para satisfazê-lo, eu vos escrevo, com um certo empenho para pedir-
vos que conserveis um estado legre de ânimo. Vossos esforços,
perplexidades e pressentimentos sõ igualmente notados, meu bom e
leal amigo. Foram inscritos todos por vós no imperecível REGISTRO
dos Mestres. Alí está registrado cada um dos vossos pensamentos e
ações, pois ainda que não um chela, como dizeis ao meu Irmão Morya,
nem mesmo um "protegé" (protegido), tal como entendeis o termo, no
entanto, entrastes no círculo de nosso trabalho, cruzastes alinh mística
que separa o vossso mundo do nosso; e agora, se persevereis ou não;
se nos tornemos mais tarde, na vossa visão, entidades reais ainda
mais vivas ou desapareçamos de vossa mente como tantas ficções de
sonhos - talvez um feio pesadelo - sois virtualmente NOSSO. O vosso
EU oculto se refletiu no nosso Akasa; a vossa natureza é vossa, a
vossa essência é nossa. A chama é distinta da lenha que a serve
temporariamente como combustível; quando terminar o vosso
nascimento fenomênico - caso nos encontremos face a face em nossos
mais grosseiros rupas - não podereis evitar encontrar-nos na
Existência Real. Sim, é verdade meu bom amigo, o vosso Karma é
nosso porque o imprimistes diariamente, hora após hora, sobre as
páginas desse livro em que se conservam s mínimas particularidades
dos indivíduos que entram dentro do nosso círculo e esse vosso Karma
é unicamente a vossa personalidade futura, quando passais para o
além. Em pensamento e em ação durante o dia, naa luta da alma
durante as noites, estivestes escrevendo a história de vossos desejos
e desenvolvimento espiritual.

Isto é o que faz todo aquele que se aproxima de nós com algum
veemente anseio de se tornar nosso colaborador; ele mesmo
"precipita" as anotações mediante o processo idêntico usado por nós
quando escrevemos dentro das vossas cartas fechadas e nas páginas
ainda por cortar dos livros e folhetos em trânsito. (Vêde uma vez mais,
as páginas 32 e 35 do Relatório enviado por Olcott). Digo-vos isso para
a vossa informação particular e que não deve figurar no próximo folheto
de Simla. Durante os últimos mêses, especialmente quando o vosso
fatigado cérebro estava mergulhado no torpor do sono, a vossa
anelante alma com frequência me buscava, e a corrente de vosso
pensamento esstava golpeando contra as minhas barreiras protetoras
do Akasa como pequenas ondas chocando-se contra uma encosta
rochosa. Aquilo a que esse "Eu interno", impaciente e ansioso - anelou
se unir, o homem carnal, o senhor mundano não ratificou: os laços da
vida são ainda tão fortes como cadeias de aço. Sagradas, entretanto,
são algumas delas, e ninguém vos pediria que as quebrasse. Aí
embaixo, está o vosso campo de empresa e utilidade há tanto tempo
acarinhado. O nosso nunca pode ser mais do que um brilhante mundo
fantasma para o homem dotado de cabal sentido prático. E se o vosso
caso é excepcional, em certo grau, é porque a vossa natureza tem
inspirações mais profundas que os outros, que são, no entanto, "mais
práticos" e cuja fonte de eloquencia está no cérebro, não no coração,
que nunca esteve em contato com o coração puro e misteriosamente
resplandecente do Tathagata.

Se raramente tendes notícias minhas, não vos sintais desapontado,


meu irmão, mas dizei - "É minha falta". A Natureza uniu todas as partes
do seu Império por meio de sutís fios de simpatia magnética, e há uma
relação mútua mesmo entre uma estrela e o homem; o pensamento
mais rápido do que o fluido elétrico, e o vosso pensamento irá
encontrar caso seja projetado com um impulso puro, assim como o
meu encontrará, tem enconrado, e inúmeras vêzes impressionou a
vossa mente. Podemos nos mover em ciclos de atividade dividida - não
inteiramente separad uma da outra. Assim como a luz no vale sombrio
é vista pelo montanhista, da altura de seus picos, cada brilhante
pensamento em vossa mente, meu Irmão, brilhará, atraindo a atenção
de vosso distante amigo e correspondente. Se deste modo
descobrimos os nossos Aliados naturais no Mundo das Sombras -
vosso mundo e os nossos além dos limites - e é nossa lei aproximar-
nos de todo aquele que tenha dentro de si ainda que somente o mais
leve lampejo da verdadeira luz do Tathagata, - então quão mais fácil
será para vós nos atrair! Compreendei isso, e então a admissão dentro
da Sociedade, de pessoas que com frequência vos são desagradáveis,
já nõ extranhareis mais.

"Aqueles que estão sãos não necessitam de médico, mas sim os que
estão enfermos", é um axioma, seja quem for o autor da frase.

E agora permita-me dizer-vos adeus por enquanto e até a próxima vez.


Não vos deixeis dominar por apreensões acerca do mal que pudesse
contecer se as coisas não marcham como pensa a vossa mundana
sabedoria; não duvideis, porque est aparência de dúvida enerva e faz
retroceder o próprio progresso. Ter alegre confiança e esperança é
completamente diferente de entregar-se ao cego otimismo do
insensato; o homem sábio nunca combate o infortúnio
adiantadamente0. Uma nuvem paira sobre o vosso caminho: est'se
formando próxima a colina de Jakko. Aquele1 a quem fizestes o vosso
confidente (eu vos aconselhei a que fôsseis apenas o seu colaborador,
não que lhe revelasse coisas que devíeis ter guardado em vosso
íntimo) está debaixo de uma influência perniciosa e pode se tornar em
seu inimigo. Fazeis bem em tentar resgatá-lo dessa influência pois ela
faz mal a ele, a vós e à Sociedade. A sua grande inteligência,
incensada pela vaidade e embelezada pelo arrulho de alguém mais
débil, porém mais astuto, está por enqunato debaixo de um feitiço de
fascinação. Descobrireis facilmente o poder maligno que se mantém
por traz de ambos e os utiliza como instrumentos para a execução de
seus próprios e nefastos planos. A pretendida catástrofe pode ser
impedida mediante redobrada vigilância e um fervor crescente de
vontade pura, por aprte dos amigos da S.B.L.12. Trabalhai, então, caso
o quereis, para evitar o contratempo, porque, se sobrevivem, não
escapareis ileso por maiores que sejm os esforços de meu Irmão. A
causa nunca será arruinada, ainda que a rocha de Sisifo possa
esmagar muitos dedos dos pés. Adeus outra vez, meu amigo, por muito
ou pouco tempo, como o quizerdes. O dever me chama.

Seu, fielmente.

K.H.
Carta Nº 046

De M. a Sineett, recebida em Setembro ou Outubro).

Recebida em Simla em 1882.


Esta é uma carta do Mahatma M. pedindo um favor a Sinnett.
Essencialmente parece que ele tenta manter Hume sob algum controle
e que auxilia o Mahatma K.H. em seus esforços para salvar a
Sociedade Teosófica Eclética de Simla, que parecia estar
degenerando bastante. Nessa ocasião Hume era ainda o presidente
daquele ramo.

O primeiro parágrafo refere-se a um telegrama mandado por H.P.B. a


Hume, em 5 de setembro de 1882, que, indubitavelmente, se
relacionava com a carta HX e o PROTESTO pelos chelas. O telegrama
e a resposta no verso dele é o seguinte (Cartas de H.P.B. para Sinnett,
p.311):

Para: A.O. Hume

Rothney Castle, Jakko, Simla

De: H.P. Blavatsky

Bombaim, Byculla

Nossos modos não são os deles. Os Irmãos podem não interessar,


mas não ousai ir contra antigas normas. Dois chelas do Chohan
protestaram e mais dez assinaram, Subba Row em primeiro. Tentativas
perigosas.

Carta escrita no verso do acima.

Querida Velha Dama,

Acabo de receber este - não estou certo se o compreendo - se os


Irmãos compreendem as coisas tão pouco a ponto de permitir que, não
somente você, mas todos os chelas deles, entendam mal de modo
totalmente semelhante, a finalidade, o sentido e o aspecto prático de
uma coisa, de maneira a protestarem contra o que deveriam agradecer
- eu penso que essa coisa não tem esperança - e eu a abandono -
nenhum navio pode fazer qualquer viagem a menos que o capitão
conheça navegação - se ele for um grande químico isso de nada
adianta, e os grandes poderes e virtudes dos Irmãos não auxiliarão a
Sociedade se eles, os Capitães, são tão ignorantes como este episódio
parece demonstrar quanto à navegação no oceano da vida diária. Ta-
ta.

Vosso sempre,

A.O. Hume

Eu vos agradecerei, meu caro Sahib Sinnett, um favor pessoal. Dado


que K.H. é um Iogui-Arhat muito perfeito para deter a mão que, sem
temor ao fracasso, persevera na intenção de capturar o yak Tibetano
pelo pescoço, para colocá-lo sob a canga, então tudo o que me resta
fazer é aparecer, uma vez mais, no natakashala para pôr fim a uma
exibição que ameaça tornar-se monótona, mesmo para nós, bem
adestrados na paciência. Não posso aproveitar o vosso bom conselho
de escrever ao senhor Hume na minha tinta vermelha mais brilhante,
pois isso seria abrir uma nova porta para uma interminável
correspondência, uma honra que prefiro declinar. Mas, em vez disso,
eu vos escrevo, e vos envio um telegrama e uma resposta no seu verso
para a vossa leitura cuidadosa. Que maneira de falar é essa dele? A
reverência pode não estar na sua natureza, nem ninguém reclama ou
se importa com isso, de forma alguma! Mas eu havia pensado que o
seu intelecto, que tem capacidade bastante para reter qualquer coisa,
teria um canto para um pouco de bom senso. E esse senso poderia ter
lhe dito que nós somos o que pretendemos ser, ou não o somos. No
primeiro caso, apesar do exagero das pretenções atribuidas a favor dos
nossos poderes, ainda assim, se os nossos conhecimentos e previsão
não ultrapassarem os dele, então não somos melhores do que falsários
e impostores e quanto mais rápido se afaste de nós, será melhor para
ele. Mas, se em algum grau, somos o que pretendemos ser, então ele
procede como um asno selvagem. Que ele se recorde que nós não
somos Rajás Hindus em necessidade e compelidos a aceitar Ayahs
políticos, e amas-secas para nos conduzir. Que a Sociedade foi
fundada, foi em frente e continuará com ou sem ele e que ele se resigne
com esta situação.

Quanto à sua ajuda, que nos impõe, à semelhança dos fidalgos


mendicantes espanhóis, os quais oferecem suas espadas para
proteger o viajante com uma mão e com a outra apertando-lhe a
garganta, não tem sido, até onde eu posso apreciar, muito benéfica
para a Sociedade. Nem para um dos seus fundadores, a quem quase
assassina no ano passado em Simla e a quem agora hostiliza, indo
contra ela com mortal ferocidade, convertendo-lhe o sangue em água
e corroendo-lhe o fígado.

Portanto eu espero que imprimeis na sua mente que tudo o que


"deveríamos lhe agradecer", seria ver cuidando da sua Eclética e
deixando que a Sociedade Matriz cuide de si mesma. Seu conselho e
ajuda ao editor do Teosofista foram, sem dúvida, proveitosos para o
editor, e ela se sente agradecida a ele por isso, ao descontar a grande
participação que vos deve. Mas rogamos que se nos permita afirmar
que, em alguma parte devia ser traçada uma linha entre - digamos, o
citado editor e nós, porque nós não somos totalmente os trigêmios
tibetanos que ele acha que somos. Portanto, se somos os ignorantes
selvagens orientais de sua imaginação (e cada lobo é senhor na sua
própria cova) nós sustentamos o direito de conhecer melhor nossos
próprios assuntos e declinamos respeitosamente de seus serviços na
qualidade de capitão para guiar a nossa nave teosófica, mesmo no
"oceano da vida mundana" como ele metaforiza em seu sloka. Nós o
autorizamos, sob o bom pretexto de salvar a situação com os
teosofistas ingleses, a agitar a sua animosidade contra nós no órgão
de nossa própria Sociedade e a traçar um esboço de nós com o pincel
molhado em arrogante bilis. Que mais ele quer? Como ordenei à "Velha
Dama" (H.P.B.) para lhe responder pelo telégrafo, ele não é o único
navegante perito no mundo; ele trata de evitar os dissidentes ocidentais
e nós, de dirigir a nossa canoa, evitando os bancos de areia orientais.
Pretende ele, além disso, ditar para nós todos, desde o Chohan até
Dejual Khool e Deb, o que havemos ou não de fazer? Ram, Ram e as
Santas Nagas! Será que após séculos de existência independente,
temos de cair sob uma influência estrangeira, de nos tornar em títeres
de um Nawab de Simla? Somos nós crianças de escola, ou o que mais
em sua imaginação para nos submeter à vara de um Peling mestre -
escola?

Não obstante seus arranques de mal humor, rogo-vos que lhe diga que
tivestes notícias minhas e que vos pedi dar-lhe conhecimento de meu
ultimatum: se não estiver disposto a afastar-se totalmente da
Sociedade, de uma vez para sempre, não tolerarei que intervenha com
a sua sabedoria entre a nossa ignorância e a Sociedade Matriz. Nem
deve descarregar seu mal humor contra quem não é responsável pelo
que nós podemos fazer ou dizer: Uma mulher tão enferma que, como
em 1877, me vejo de novo obrigado a afastá-la da Sede Central (onde
é tão necessária), por receio que caia toda em pedaços. E que este
seu deplorável estado foi ocasionado ultimamente por ele, devido à sua
constante angústia pela Sociedade e parcialmente (senão totalmente)
pelo procedimento dele em Simla, tudo isso podeis crer, sob minha
palavra. Toda a situação e o futuro da Eclética recaem sobre Koot
Hoomi, caso não o ajudeis. Se não obstante, a minha advertência e o
evidente desagrado do Chohan5 ele persistir em fazer-se de tonto,
sacrificando-se por um homem, que em certo sentido é o gênio do mal
da Sociedade, bem, é o seu próprio assunto; apenas que não tenho
nada a ver com isso. Permanecerei sempre vosso verdadeiro amigo,
ainda que volteis contra mim um dia destes. Fern foi testado e mostrou-
se ser um Dugpa cabal em sua natureza moral. Veremos, veremos;
mas pouca esperença resta, apesar das suas esplêndidas faculdades.
Tivesse eu insinuado que enganasse o seu próprio pai e mãe, ele teria
incluido além deles, os pais e mães deles. Vil, vil natureza, e contudo
irresponsável. Oh vós, Ocidentais, que se vangloriam da vossa
moralidade! Possam os brilhantes Chohans afastar-vos e todos
aqueles ligados a vós, do mal que se aproxima, este é o sincero desejo
do vosso amigo.

M.
Carta Nº 047

Recebida em Allahabad no dia 3 de Março de 1882. De M. a Sinnett1.


Evidentemente a carta é em resposta a uma de Sinnett, dirigida ao
Mahatma M. antes que Sinnett soubesse que o Mahatma K.H. estava
de novo pronto a reiniciar a correspondência.

Muito desta carta parece obscuro porque não temos os comentários de


Sinnett aos quais a carta responde.

Resposta a meu protesto (através de Damodar) contra o tratamento na


Europa.

Bem, digamos que eu seja um ignorante de vossas maneiras inglesas,


e eu direi que sois o mesmo em relação aos nossos costumes
tibetanos, e dividiremos a diferença e estreitaremos as mãos astrais
sobre Barnaway terminando a nossa discussão.

A Velha Dama? Naturalmente ela está agitada - mas quem se importa?


Entretanto, manteve-se segredo para ela. Não há qualquer utilidade de
fazê-la mais miserável do que é. Cook é uma bomba de sujeira com
pistões que funcionam perpetuamente e quanto antes os aparafuse -
melhor para ele. A vossa última carta a mim dirigida é menos uma
"petição" do que um protesto, meu respeitado Sahib. A sua voz é a da
guerra sankh dos meus ancestrais Rajput, em vez da fala suave de um
amigo. E agrada-me mais ainda, eu vos asseguro. Tem o genuino som
de uma honesta franqueza. Conversemos, pois, por mais aguda que
seja a vossa voz, o vosso coração é cálido e terminais dizendo: "Se o
que determinardes, que me parece certo, seja feito ou não" sois
sempre nossos fielmente, etc. A Europa é grande, mas o mundo é
maior ainda. O sol da teosofia tem que brilhar para todos, não para
uma parte. Há muito mais neste MOVIMENTO do que até agora
imaginastes, e o trabalho da S.T. está vinculado a um trabalho similar
que está sendo levado a cabo, em segredo, em todas as partes do
mundo. Mesmo na S.T. existe uma divisão, dirigida por um irmão
grego, acerca da qual nenhuma pessoa da Sociedade nada sabe,
excetuando a "Velha Dama" e Olcott; mesmo este, apenas sabe que
está progredindo e ocasionalmente executa alguma ordem que eu lhe
envio, relacionada com esta divisão. O ciclo do qual falei se refere a
todo o movimento. A Europa não será descuidada, não o temais nunca;
mas talvez vós mesmo não podeis prever COMO será ali derramada a
luz4. Peça ao vosso seráfico K.H. que tenhais detalhes disso. Falais
de Massey e Crookes; não recordais que a Massey foi oferecida, há
quatro anos, a oportunidade de encabeçar o movimento inglês e ele
recusou? No seu lugar foi posto esse velho inflexível ídolo do Sinai
Judeu - Wild, o qual, com o seu vociferante cristianismo e fanáticas
tolices, nos excluiu de todo, do movimento. Nosso Chohan nos proibiu
que em absoluto tomássemos parte alguma nele. Massey tem que
agradecer apenas a si mesmo por isso e podeis dizer isso a ele. Já
devíeis ter aprendido a nossa maneira de atuar. Nós aconselhamos e
nunca ordenamos. Mas influimos nos indivíduos. Pesquisai, se
quiserdes, a literatura espírita até o ano de 18773. Procurai e encontrai
nela, se puderdes, uma só palavra acerca da filosofia oculta, ou
esoterismo, ou algo desse elemento, agora tão amplamente infundido
no movimento espírita. Perguntai e inquiri, se a própria palavra
"ocultismo" não era por completo desconhecida na América, até o
ponto de que vemos a Cora (a dos sete maridos, a mulher de Tappan
e médium falante), inspirada para que declarasse nas suas
conferências que a palavra ocultismo havia sido recentemente
inventada pelos teósofos que estavam (então surgindo); que nunca
ninguém tinha ouvido falar de espíritos elementares e luz astral, salvo
os produtores de petróleo, e assim por diante. Bem, verificai e comparai
tudo isso. Esse foi o primeiro grito de guerra, e a batalha se seguiu
feroz e violenta mesmo até no dia da partida para a Índia. Mencionar e
salientar a Edison, Crookes e Massey, pareceria algo vangloriar-se
daquilo que nunca poderá ser provado. E Crookes, por acaso não
aproximou a ciência dos nossos pronunciamentos com o seu
descobrimento da matéria radiante? O que foi, senão a investigação
oculta que primeiramente o conduziu a isso? Vós conheceis a K.H. e a
mim; conhecei algo de toda a Fraternidade e das suas ramificações?
A Velha Dama é acusada de falsidade e incorreções em suas
afirmações. "Não pergunteis e não recebereis incorreções". Ela está
proibida de dizer o que sabe. Podereis cortá-la em pedaços e não dirá
nada. Mais ainda: ela está ordenada que em casos de necessidade,
despiste as pessoas; e se ela fôsse por natureza uma embusteira, seria
mais feliz e haveria alcançado a sua meta já agora. Mas é aí onde o
sapato aperta. Sahib, ela é demasiado sincera, demasiado franca,
demasiadamente incapaz de dissimulação, e agora está sendo
diariamente crucificada por isso. Tentai não ser apressado, respeitável
senhor. O mundo não foi feito num dia, nem a cauda de um yak se
desenvolveu em um ano. Deixe que a evolução tome o seu curso
natural; a não ser que a desviemos e produzamos monstros ao supor
que a estamos guiando. Massey fala em vir para a Índia, é certo? E
supondo que após vir aqui e fazer o que é correto, além de gastar o
tempo necessário para o adestramento, fôsse enviado de volta com
uma mensagem? E supondo que Crookes e Edison e outros tenham
mais coisas a descobrir? Assim pois eu digo: "ESPERAI". Quem sabe
qual poderá ser a situação em novembro? Poderíeis imaginá-la a ponto
de nos justificar o cumprimento de nossa ameaça de "fechar a porta",
enquanto que a situação pode parecer muito diferente para nós. Vamos
todos fazer o melhor que pudermos. Há ciclos de 7, 11, 21, 77, 107,
700, 11.000, 21.000 etc. deste modo, inúmeros ciclos compõem um
ciclo maior, e assim por diante. Aguardai o momento propício, o livro
de registros está bem guardado. Somente mantende-vos alerta; os
Dugpas e os Gelupkas, não estão lutando só no Tibet: observai o seu
vil trabalho na Inglaterra entre os "Ocultistas e Videntes". Escutai ao
seu conhecido Wallace predicando como um verdadeiro "Hierofante"
da "mão esquerda", o matrimônio da "alma com o espírito", e
alternando de maneira capciosa a verdadeira definição, tratando de
provar que todo Hierofante praticamente deve estar pelo menos
espiritualmente casado - se por alguma razão não pode estar
fisicamente - havendo, de outro modo, um grande perigo de mescla de
Deus e Diabo! Digo-vos que os Shammars estão lá e o seu pernicioso
trabalho está em todas as partes no nosso caminho. Não considereis
isso como sendo uma metáfora e sim um fato real que poderá vos ser
demonstrado algum dia.

É completamente inútil dizer algo mais das excentricidades de Olcott e


da inferioridade da América em relação à Inglaterra. Tudo que é real
no vosso ponto de vista reconhecemos e sabemos há tempo; mas não
sabeis quanto o que é mero preconceito superficial brilha em vossos
olhos como o reflexo de uma vela fraca na água profunda. Tende
cuidado, para que não vos interpretemos de acordo com o vosso
próprio pensamento e vos coloquemos no lugar de Olcott, trazendo-o
para junto de nós, como ele tem ansiado que o façamos há vários anos.
O martírio é agradável para ser contemplado e criticado, mas mais
difícil de sofrê-lo. Nunca houve uma mulher mais injustamente
maltratada que H.P.B. Vêde as cartas insultantes e difamatórias que
lhe enviaram da Inglaterra para serem publicadas contra ela própria,
contra nós e contra a Sociedade. Podeis achá-las indignas, talvez. Mas
as "Respostas aos Correspondentes" no Suplemento são escritas por
mim mesmo. Assim não culpeis a ela. Eu estou curioso para conhecer
a vossa opinião franca a respeito delas. Talvez poderíeis pensar que
ela teria feito melhor.

M.
Carta Nº 048

Recebida em Allahabad no dia 3 de Março de 1882.

Na Carta nº.38 (CM-90), escrita por Staiton Moses, o Mahatma K.H.


disse em seus comentários anexos ao final da carta de Moses: "Minha
carta é reservada. Podeis usar os argumentos mas não a minha
sanção ou nome". O Mahatma estava se referindo a uma carta que ele
estava escrevendo, ou havia escrito, mas que Sinnett não tinha ainda
recebido, e esta é essa carta. O fato de que o seu recebimento está
datado de 3 de março reforça a idéia de que os comentários do
Mahatma à carta de Moses foram escritos no fim de fevereiro ou bem
no começo de março. Aliás, a sua extensão indica que pode ter levado
vários dias para ser escrita.

O Mahatma menciona alguns artigos que irão aparecer no "próximo


número" do "The Theosophist": "O Elixir da Vida", por Mirza Moorad Ali
Beg (nome verdadeiro, Godolphin Mitford) e "Filosofia do Espírito", por
William Oxley. O autor de "Elixir da Vida" era membro de uma
proeminente família inglesa que tinha originado vários escritores
notáveis. Ele nasceu na Índia. O artigo por Oxley era, na verdade, uma
resposta dele à uma crítica do seu livro, "A Filosofia do Espírito"; a
crítica tinha sido publicada em um número anterior do "The
Theosophist". Fôra escrita por Djual Khul e era, nalguns pontos, um
tanto sarcástica. Em sua resposta, Oxley opôs-se a ela.
Como um breve retrospecto, Oxley escreveu uma longa carta para K.H.
durante o verão anterior. Esta carta, datada de 24 de junho de 1881,
está incluida nas Cartas dos Mahatmas no Museu Britânico. O
Mahatma mandou-a para Sinnett com algumas notas marginais em um
estilo mais leve. Na carta, Oxley descreveu algumas das suas
experiências espíritas. K.H. não respondeu à carta. Aqui ele diz,
falando de Oxley, "Não tendo recebido resposta alguma de seus apelos
a K.H., ele critica, suavemente até agora, as afirmações desse "Poder
Interno", por cujo novo título agradeço bastante a ele." (Isto
provavelmente se refere à uma afirmação na resposta de Oxley à
crítica: "Koot Hoomi Lal Sing, seja um mortal ou um Poder Interno, não
importa para meus objetivos atuais).

Em uma ocasião, Oxley desejou filiar-se à Sociedade Teosófica


Eclética de Simla, e o Mahatma K.H. recusou. Contudo, em uma carta
posterior, parece que o Mahatma deve ter reconsiderado, porque ele
diz numa carta a Sinnett: "...se ele se filia à Sociedade eu posso ajudá-
lo mesmo corresponder-me com ele através de vós".

Bom amigo, eu "sei" - naturalmente. E sabendo, sem que vos me


dissésseis, eu, se estivesse apenas autorizado a influir-vos em uma ou
outra direção, diria com muito gosto: "esse conhecimento que
compartilhareis comigo algum dia". Quando ou como, "não está na
minha alçada dizer, nem posso mesmo saber", pois vós, sim, somente
vós, tendes que tecer o vosso destino. Talvez logo, ou quem sabe,
nunca; mas, por que sentir-vos "desesperado" ou mesmo em dúvida?
Crêde-me, podemos, no entanto, caminhar juntos pela íngreme senda.
Podemos mesmo nos encontrar mas, se assim acontecer, tem que ser
ao longo e sobre aquelas "rochas adamantinas com as quais as nossas
regras ocultas nos rodeiam", nunca fora delas, conquanto possamos
nos queixar amargamente. Não, nunca poderemos prosseguir a nossa
jornada posterior se o fizermos juntos - por esse caminho largo, cheio
de gente que toma todo, e no qual, espíritas e místicos, profetas e
videntes se acotovelam hoje em dia. Sim, verdadeiramente, a
heterogênea multidão de candidatos pode chamar por uma eternidade
vindoura, pedir que o Sésamo se abra. Isso nunca ocorrerá enquanto
eles se mantenham fora dquela regras. Em vão os vossos modernos
videntes e sua profetisas procuram se esgueirar entre todas as gretas
e aberturas sem saída ou continuidade que encontrem; e ainda mais
em vão, uma vez dentro, gritam clamorosamente: "Eureka! Obtivemos
uma Revelação do Senhor!", porque na verdade não conseguiram
nada de parecido. Somente pertubaram os morcegos, menos cegos
que esses intrusos, os quais, sentindo-os voarem ao seu redor,
confundem-nos frequentemente com anjos - porque eles também têm
asas! Não duvideis, meu amigo, é somente do alto mesmo dessas
nossas "rochas adamantinas", e não de sua base, que se pode
perceber sempre a Verdade em sua totalidade, por abranger todo o
Horizonte ilimitado. Ainda que vos possa parecer que se interponham
em vosso caminho, é simplesmente porque fracassastes até agora em
descobrir ou mesmo suspeitar a razão e a operação de tais leis; daí o
fato de elas mostrarem-se à vossa vista, tão frias, impiedosas e
egoistas; contudo, vós mesmo reconhecestes intuitivamente nelas, o
resultado de eras de sabedoria. Entretanto, se alguém cumprí-las
obedientemente, pode-se fazer que elas, de modo gradual, se rendam
ao desejo da pessoa e lhe dêem tudo que peça delas. Mas jamais
alguém poderia quebrá-las com violência, sem se tornar na primeira
vítima da sua própria culpa; sim, a ponto de arriscar-se a perder a sua
parte de imortalidade conquistada com esforço, tanto aqui como lá.
Recordai: uma expectativa demasiadamente ansiosa não só produz
tédio, como também é perigosa. Quanto mais cálida e mais
rapidamente bater o coração, tanto mais vida se desgasta. As paixões,
os afetos, não devem ser gratificados por aquele que busca SABER,
porque eles "desgastam o corpo terrestre com o seu próprio poder
secreto e aquele que deseja alcançar o seu propósito deve ser frio. Não
deve mesmo desejar tão ansiosa ou tão apaixonadamente o objeto que
aspira alcançar: do contrário, o próprio desejo impedirá a possibilidade
da sua realização, quando muito, retardando-o, recuando-o...

Encontrareis no próximo número, dois artigos que deveis ler, não


necessito dizer-vos porque, pois deixo-o à vossa intuição. Como de
costume, é uma irreflexão, que entretanto, eu permiti que ficasse pois
são poucos, se é que há alguém, que compreenda a insinuação ali
contida - a não ser vós. Há, no entanto, mais de uma insinuação, daí
chamar-se a vossa atenção para o "Elixir da Vida" e a "Filosofia do
Espírito" de W. Oxley. O primeiro artigo contém referências e
explicações, cuja nebulosidade vos dará a idéia de um homem que se
aproxima furtivamente de alguém, dando-lhe um golpe nas suas costas
para fugir em seguida, pois elas, inegavelmente, pertecem ao gênero
dessas "Fortunas" que chegam a alguém como ladrão noturno, durante
o sono, e que recuam, não encontrando quem responda a sua oferta,
do que queixais em vosssa carta ao Irmão. Desta vez estais prevenido,
bom amigo, assim não queixeis mais. O artigo número 2 está escrito
por Oxley, o clarividente de Manchester. Não havendo recebido
resposta às suas reclamações feitas a K.H., ele critica - suavemente -
até agora, as declarações desse "Poder Interno"; por esse novo título
eu me sinto agradecido a ele. Tendo em vista a gentil crítica, a nossa
desajeitada editora quase explodiu. Nem se acalmava, até que Djwal
Khul, com quem foi combinada a famosa crítica (que, digamos, uma
vez examinada, não deveríes nunca ter permitido a sua impressão) foi
autorizado, sob a proteção do pseudônimo de "Revisor", a responder
(corrigindo alguns dos seus desatinos) o Clarividente, com algumas
inofensivas notas de rodapé. Não obstante, devo dizer que, de todos
os atuais "profetas" ingleses, W. Oxley é o único que tem algum indício
de verdade, e portanto, é o único que tem probabilidades para ajudar
efetivamente o nosso movimento. O homem caminha saindo e
retornando constantemente do caminho reto, desviando-se dele cada
vez que pensa que percebe uma nova senda; mas, achando-se em um
beco sem saída, retorna à reta direção. Devo admitir que há muita
filosofia saudável disseminada no que escreve, e embora a sua história
de "Busiris" seja, em sua apresentação antropomórfica, ridiculamente
insensata, e a sua interpretação de nomes sânscritos, de um maneira
geral, errônea, e apesar de que parece ter senão noções muito
nebulosas acerca do que chama "as bases astro-maçônicas do
Bhagavat Gita e do Mahabharata (obras que evidentemente atribue ao
mesmo autor) é, no entanto, positiva e absolutamente o único cuja
compreensão geral do Espírito e de suas capacidades e funções após
a primeira separação, que chamamos de morte, são, em geral, senão
totalmente corretas, pelo menos se aproxima muito da Verdade. Deveis
lê-lo, quando for publicado, especialmente o Par. 3, Col. I, página 152
e sequência, onde o encontrareis. Podereis, então compreender
porque, em vez de responder em forma direta a vossa pergunta, trato
de um assunto ao qual, até agora, sois perfeitamente indiferente. Sigai,
por exemplo, sua definição do termo "Anjo" (estará na linha 30) e tratai
de seguir e compreender o seu pensamento, exposto tão toscamente,
e no entanto tão correto, e então comparai-o com o ensinamento
tibetano. Pobre, pobre Humanidade! Quando terás toda a Verdade
completa e sem alteração? Contemplai a cada um dos "priviliegiados"
dizendo: "Só eu tenho razão! Não há lacuna..." Não, nenhuma: não
naquela página especial aberta diante dele e que só ele está lendo no
interminável volume "Revelações do Espírito", chamado Vidência. Mas
por que esse teimoso esquecimento do fato importante de que há
outras inumeráveis páginas antes e depois desta folha solitária, que
cada um dos "Videntes" até agora mal aprenderam a decifrar? Por que
é que cada um desses "Videntes" crê que o Alfa e Ômega da Verdade
é ele próprio? Deste modo se ensina a S.M. que não há tais "Seres"
chamados de "Irmãos", e a rejeitar a doutrina da aniquilação frequente,
e a dos Elementares e a dos Espíritos não humanos. Maitland e a
senhora K.1 revelaram-lhes - mediante indicações do próprio Jesus e
de Deus (só isto poderia derrotar a +) que muitos dos supostos
"Espíritos" que controlam os médiuns e conversam com os espíritas
visitantes -, não são de maneira alguma espíritos desencarnados, mas
apenas "chamas", e relíquias de cães, gatos e porco, auxiliados a se
comunicarem com o mortais mediante os espíritos das "árvores",
vegetais e minerais. Embora mais confusos que os humanos os
cautelosos discursos do pretendido +, estes ensinamentos se
aproximam mais do real que outras proclamadas até agora pelos
médiuns, e direi porque. Quando a "Vidente" é levada a revelar que a
"imortalidade" não é, de nenhum modo, assunto corrente para todos...
que "as almas se contraem e expiram", sendo próprio de "sua natureza
acender-se e consumir-se por si mesmas"...etc, ela mesma está
comunicando fatos reais e incontestáveis. E por que? Porque tanto
Maitland como ela, assim como o seu círculo, são estritamente
vegetarianos, enquanto Staiton Moses é carnívoro e bebedor de vinhos
e licores. Nunca os espíritas encontrarão médiuns e videntes,
confiáveis (nem mesmo em grau algum) enquanto estes e seu "círculo"
se saturarem com sangue animal e com os milhões de infusórios dos
fluidos fermentados. Desde o meu regresso achei impossível para eu
respirar, mesmo na atmosfera da Sede Central! M. teve que intervir e
obrigar a todos que desistissem da carne, e tiveram todos eles de ser
purificados e completamente limpos com várias drogas desinfetantes
antes que eu pudesse cuidar das minhas cartas. E eu não sou, como
podeis imaginar, a metade do sensitivo às abomináveis emanações
quanto um "cascão" desencarnado toleravelmente respeitado o seria -
tornando impossível uma real PRESENÇA, mesmo apenas uma
"projeção". Em um ano ou tanto, talvez mais cedo, poderei me achar
novamente "endurecido". No momento acho impossível - fazer o que
posso.

E agora, com tal Prefácio em vez de responder, eu vos colocarei uma


questão. Conheceis S. Moses, e conheceis Maitland e a senhora K. em
pessoa. E lestes e ouvistes acerca de vários videntes dos séculos
passados e presente, tais como Swedenborg, Boehme e outros. Não
nenhum entre eles que não seja inteiramente honeto e sincero, e tão
inteligente como educado e até mesmo erudito. Cada um deles, além
dessas qualidades, tem ou tinha um + próprio; um "Guadião" e um
Revelador, sob um nome qualquer "misterioso" ou "místico", cuja
missão é, ou foi a de desenvolver por intermédio de seu discípulo
espiritual um novo sistema que abarcasse todos os detalhes do mundo
do Espírito. Dizei-me, meu amigo: conheceis dois que estejam de
acôrdo? E por que, pois a verdade é una, e deixando completamente
de lado a questão das discrepâncias nos detalhes, não os vemos
concordes, nem mesmo sobre os problemas mais vitais, aqueles que
tem que "ser, ou não ser" e sobre os quais não pode haver duas
soluções?

Resumindo, chega-se ao seguinte: todos os "Rosacruzes", todos os


místicos medievais, Swendeborg, P.B. Randolf, Oxley, etc., etc. dizem:
"há fraternidades secretas de Iniciados no Oriente, especialmente no
Tibet e na Tartária; somente lá a PALAVRA PERDIDA (que não é uma
Palavra) pode ser encontrada; e, há Espíritos dos Elementos, e
Espíritos - Chamas que nunca encarnaram (neste ciclo), e que a
imortalidade é condicional. Os médiuns e clarividentes (do tipo de S.
Moses) dizem, não há Irmãos no Tibet ou na Índia e a "Palavra
Perdida", está somente sob custódia do meu "Guardião", que conhece
a palavra mas não conhece os Irmãos. E a imortalidade é para todos e
incondicional, não havendo Espíritos, mas os humanos e os
desencarnados, etc., etc.," - um sistema de radical negação dos
primeiros e de completo antagonismo com o mesmo. Enquanto Oxley
e Sra. H. Billing estão em comunicação direta com os "Irmãos", S.M.
rejeita a própria idéia dos mestres. Enquanto "Busiris" é um anjo no
plural, ou seja o Espírito de um conjunto de Espíritos (Dhyan Chohans),
o + é a alma desencarnada de um só Sábio. Os seus ensinamentos
são autênticos no entanto, encontramos sempre neles, um tom de
incerteza e vacilação quando diz: "Nós não podemos dizer, agora"..."É
duvidoso"..."Não compreendemos se se pretende"..."parece
que"..."não nos sentimos seguros"...,etc. Assim se expressa um
homem, condicionado e limitado em seus meios de obter o
conhecimento absoluto: mas por que deveria uma "Alma dentro da
Alma Universal", um "Espírito Sábio", usar essa fraseologia cuidadosa
e incerta se a verdade é por ele conhecida? Por que não, em resposta
quando ela faz observações diretas, corajosas e desafiantes, como
"vós quereis provas objetivas da Loja? Não tendes +? e não podeis
perguntar a ele se eu digo a verdade?; por que não responder (se é +
quem responde) de uma maneira ou de outra, e dizer: "a pobre mulher
está alucinada", ou (se não pode haver outra alternativa, ou uma
terceira, se é que S.M. tem razão): "ela mente intencionalmente, com
este e aquele objetivo, cuidado com ela" Por que é tudo tão nebuloso?
Ah! na verdade, porque "ele (+) sabe" e "seu nome seja bendito", mas
ele (S.M.) não sabe, pois como os seus "espíritos", +, pensa ele,
recordam-lhe repetidas vêzes: "Não parece que compreendestes
corretamente o que nós dissemos..." a controvérsia excita a sua mente
e seus sentimentos, e no lugar de um médium transparente, nos dá um
que é turvo... necessitamos de uma mente passiva e não podemos
atuar sem ela... (veja Light, 4 de fevereiro).

Como nós não "exigimos uma mente passiva", mas, pelo contrário,
estamos buscando as que são mais ativas e possam tirar conclusões
uma vez que estejam na pista correta, nós, se o desejardes,
abandonaremos o tema. Que a vossa mente resolva o problema por si
mesma.

Sim, estou, na verdade, satisfeito com o vosso último artigo, embora


ele não satisfaça nenhum espírita. Contudo há mais filosofia e lógica
profunda no mesmo, do que numa dúzia das mais pretensiosas
publicações deles. Os fatos virão depois. Assim, pouco a pouco, o
agora incompreensível se tornará auto vidente, e muitas sentenças de
significado místico brilharão então diante dos olhos de vossa Alma,
semelhantes a transparências iluminando as trevas de vossa mente.
Tal é o curso do progresso gradual; um ou dois anos atrás poderíeis
ter escrito um artigo mais brilhante, mas não mais profundo. Não
abandoneis, pois, meu bom irmão, o humilde e ridicularizado periódico
de vossa Sociedade e não vos perocupeis nem por sua antiquada e
pretensiosa capa, nem pelo "amontoado de esterco que contém", para
repetir a caridosa e para vós a observação bastante conhecida
empregada frequentemente em Simla. Mas que a vossa atenção seja
mais atraída para umas poucas pérolas de sabedoria e verdades
ocultas ocasionalmente descobertas debaixo desse "esterco". As
nossas maneiras e modos próprios são, talvez, tão antiquados quanto
desajeitados, ou mais ainda. Subba Row tem razão; quem conheça
algo dos costumes dos Siddhas-A concordará com os pontos de vistas
expressados na terceira página de sua carta incompleta; muitos de nós
poderíamos ser confundidos com loucos pelos vossos cavalheiros
ingleses. Mas aquele que venha a se tornar um filho da Sabedoria,
sempre pode ver por debaixo da áspera superfície. Assim com o pobre
e velho periódico. Contemplai a sua vestimenta mística e arrogante,
suas numerosas falhas e defeitos literários, e, contudo, essa coberta é
o mais perfeito símbolo do seu conteúdo: a maior parte de seu material
básico, densamente velado, todo manchado de tinta e negro como a
noite, através do qual podem ser entrevistos pontos, linhas e palavras
e mesmo frases pardacentas. Para o verdadeiramente sábio essas
partes cinzentas podem sugerir uma alegoria cheia de significado, tal
como as faixas de crepúsculo sobre o firmamento oriental, bem no
início da alvorada, depois de uma noite de intensa escuridão; a aurora
de um ciclo intelectual mais espiritual. E quem sabe, quantos daqueles
que, impertubados ante a sua aparência pouco atrativa, as
desagradáveis confusões do seu estilo e outras muitas falhas da
impopular revista, continuam folheando as suas páginas e podem ser
recompensados algum dia pela sua perseverança! Frases iluminadas
podem resplandecer diante deles, a qualquer momento, lançando uma
brilhante luz sobre alguns velhos e enigmáticos problemas. Vós
mesmos, alguma boa manhã, enquanto refletis sobre as colunas tortas,
com o agudo engenho de um cérebro bem descansado e perscrutando
dentro do que agora vêdes como uma nebulosa e impalpável
especulação, que tem só a consistência do vapor, vós mesmo podereis
perceber nelas a solução inesperada de um vosso velho, confuso e
esquecido "sonho", o qual, uma vez recordado, se imprimirá em uma
mensagem indelével na vossa memória externa, com base na interna
para nunca mais desvanecer-se dela. Tudo isto é possível e pode
suceder, porque os nossos modos são os modos dos "loucos"...

Então por que sentir-vos "desgostoso" e "decepcionado"? Meu bom e


leal amigo, recordai que a espereança adiada não é esperança
perdida. As "condições" podem mudar para melhor, pois também nós,
parecidos aos fantasmas, necessitamos das nossas condições e
dificilmente podemos trabalhar sem elas: e então a vaga depressão do
espírito, que está se assentando sobre vós agora, semelhante a uma
pesada nuvem sobre uma paisagem, pode ser afastada pela primeira
brisa favorável. Bhavani Shanker está com O. e é mais vigoroso e
qualificado, em mais de um sentido, do que Damodar e mesmo a nossa
mútua "amiga"b.

Não; não sereis arrebatado de vossos estudos antes que tenhais


dominado por completo o alfabeto, de modo que aprendeis as lê-lo por
vós mesmo, e depende só de vós reter para sempre a "visão
sumamente atrativa que agora vos parece
desvanecer..............................................................................4 toda
situação. Que eu não sou um Serafin" entretanto, se demonstra pelo
fato de que estou vos escrevendo esta interminável carta. Quando se
verificar que não interpretastes mau o meu pensamento, posso dizer
mais. Morya, para capacitar-vos, como ele diz, a enfrentar os vossos
inimigos, os crentes na materialização das "almas individuais", pediu-
me que o familiarizasse com a totalidade dos corpos sutís e seu
agregado coletivo, assim como com o agregado distributivo, isto é, os
envoltórios. Creio que isso é ainda prematuro. Antes que se faça
compreender ao mundo a diferença entre "Sutratma"(o fio da alma) e
"Taijasa"-A (o brilhante, o luminoso), temos que ensinar-lhe a natureza
dos elementos mais densos.

O que reprovo nele, é que permitiu-vos começar do lado errado, o mais


difícil, se não se conseguiu dominar, plenamente a base preparatória.
Dei uma vista sobre os manuscritos que escrevestes para ele e mais
de uma vez descobri no banco da margem, a sombra do vosso rosto,
com o olhar ansioso e inquiridor: o vosso pensamento, projetou a vossa
imagem no local em que desejáveis receber de volta cheio..."sedento",
como dizeis, por mais notas e informações. Se a sua preguiça
sobrepuja as suas boas intenções muito tempo mais, eu mesmo tenho
que fazê-lo, apesar do meu tempo ser limitado. Em todo caso, não é
uma tarefa ingrata escrever para vós, já que fazeis o melhor uso do
pouco que recolheis aqui e ali. Na verdade, quando vos queixais de ser
incapaz de compreender o significado de Eliphas Levi, é somente
porque falhais, como muitos outros leitores, em achar a chave para a
sua maneira de escrever. Com uma observação mais atenta,
verificareis que nunca foi a intenção dos Ocultistas realmente esconder
dos estudantes ardorosos e determinados o que eles têm escrito, mas
sim, ocultar a sua informação por razões de segurança, numa caixa
forte segura, cuja chave é a intuição. O grau de diligência e zelo como
o qual o estudante busca o significado oculto, é, em geral, a prova de
até onde ele está qualificado para a posse de tesouro tão enterrado. E
certamente, se fordes capaz de extrair o que se ocultou debaixo da
tinta vermelha de M., não necessitais ficar desesperado por nada.

Eu creio que já é tempo de me despedir, esperando que tereis menos


dificuldades em ler os hieróglifos em azul do que em vermelho. O.7
estará breve convosco e devereis tratar de obter o melhor nesta
oportunidade, que pode ser a última para ambos. E agora, necessito
de recordar-vos que esta carta é ESTRITAMENTE privada?

Seu, seja o que ocorra,

K.H.
Carta Nº 049

De K.H.: Recebida em Umballa, em viagem para Simla, no dia 5 de


Agosto de 1881.

A primeira carta a ser recebida por Sinnett, após a sua chegada a


Simla, não está nas Cartas dos Mahatmas, mas se encontra nas Cartas
de H.P. Blavatsky para A.P. Sinnett (Veja Apêndice III, carta nº.204).

A referência a Hume e seu "programa inicial" pode ter tido relação com
o estabelecimento do novo ramo da S.T. em Simla, porque esse
deveria ser o assunto desta reunião em sua casa. Inicialmente este
ramo era para ser chamado de Sociedade Teosófica Anglo-Indiana,
mas o nome sob o qual veio a ser estabelecido foi o de Sociedade
Teosófica Eclética de Simla. Estando finalmente organizada, seus
objetivos eram:
1. Apoiar e sustentar o movimento Teosófico mediante a demonstração
aos indianos que muitos europeus respeitam, simpatizam com ela e
estão desejosos de promovê-la.

2. Obter, através do auxílio dos Irmãos Adeptos da Primeira Seção da


Sociedade Matriz, um conhecimento das verdades psicológicas que
eles constataram diretamente, e assim conseguir meios de combater
com sucesso o materialismo da época atual. A sociedade somente
admitirá como membros pessoas que já sejam membros da Sociedade
Teosófica.

Os dirigentes eleitos foram Hume, como Presidente, Sinnett como


Vice-Presidente e Ross Scott, como Secretário.

Finalmente em minha casa. Recebi mais cartas do que desejo


responder - exceto as vossas. Nada tendo de particular a dizer,
simplesmente responderei as vossas perguntas. Uma tarefa que pode
parecer fácil, mas não é assim em realidade, se lembrarmos que, à
semelhança da divindade descrita no Upanishad: "Sokâmayata bahuh
syâm prajaye yeti": eles "querem ser muitos e multiplicarem-se". Em
todo caso, a sêde de conhecimento nunca foi considerada como sendo
um pecado e sempre me achareis disposto a responder a tais
perguntas, quer dizer, as que podem ser respondidas.

Certamente sou da opinião que, dado que a nossa correspondência foi


estabelecida para o bem de muitos, resultaria muito pouco proveitoso
para o mundo, em geral, a menos que reformuleis os ensinamentos e
as idéias nele contidos "na forma de um ensaio", não só do conceito
filosófico oculto da criação, mas também de qualquer outra questão.
Quanto mais rápido começardes o vosso "futuro livro", tanto melhor;
porque quem pode responder por acontecimentos imprevistos? Nossa
correspondência pode interromper-se subitamente, como resultado de
um obstáculo proveniente daqueles que sabem melhor. As suas
mentes, como o sabeis, são um livro selado para muitos de nós, o qual
nenhuma "arte mágica" pode abrir. Posteriores "auxílios para refletir"
chegarão, entretanto, no seu devido tempo, e o pouco que me é
permitido explicar pode, assim o espero, resultar mais abrangente que
a Haute Magie de Eliphas Levi. Não é de estranhar que acheis
nebulosa, pois nunca foi destinada ao leitor não iniciado. Eliphas
estudou os manuscritos Rosacruzes (agora reduzidos a três
exemplares na Europa). Estes expõem nossas doutrinas orientais com
base nos ensinamentos de RosenKreuz, que, após o seu regresso da
Ásia, as revestiu com roupas semicristãs, como o intento de proteger
os seus discípulos contra a vingança clerical. Deve-se ter a chave para
elas, e esta chave é uma ciência em si mesma. RosenKreuz ensinou
verbalmente. Saint Germain2 registrou as boas doutrinas em cifras, e
o seu único manuscrito cifrado permaneceu em poder de seu fiel amigo
e patrocinador, o benévolo Principe Germano, em cuja casa e em cuja
presença ele fez a sua última saída para o seu verdadeiro LAR.
Fracasso, absoluto!

Falando de "cifras" e "números", Eliphas Levi se dirige aos que sabem


algo das doutrinas Pitagóricas. Sim. Algumas delas resumem toda a
filosofia e incluem todas as doutrinas. Isaac Newton compreendeu-as
bem, mas reteve o seu conhecimento, com muita prudência, pela sua
própria reputação e muito infortunadamente para os redatores da
"Saturday Review" e seus contemporâneos. Parece que a admirais; eu
não. Apesar do mérito que possa ter do ponto de vista literário, uma
revista que dá guarida a idéias tão retrógadas e dogmáticas, tal como
uma que encontrei ultimamente em suas páginas, tem que perder
prestígio entre as suas congêneres mais liberais. O homens de ciência,
segundo diz, "não são de todo bons observadores" em exibições de
magia moderna, espiritismo e outras "efêmeras maravilhas".
Certamente que isto não é como deveria ser, acrescenta, porque
"conhecendo tanto como conhecem os limites do natural (?!!) eles
deveriam começar a admitir que o que vêem, ou crêem ver, não pode
ser feito, e deveriam, em seguida, verificar o engano", etc. etc.! Igual
aos anteriores argumentos sobre a circulação do sangue, a telegrafia
elétrica, a estrada de ferro e o vapor. Eles conhecem "os limites do
natural "Oh, século de presunção e obscurecimento mental! E nós
fomos convidados para Londres, entre esses esfarrapados
acadêmicos cujos predecessores perseguiram Mesmer e
estigmatizaram St. Germain como sendo um impostor! Tudo é secreto
para eles até agora na natureza. Do homem só conhecem o esqueleto
e a forma; quase não são capazes de delinear as trajetórias através
das quais os mensageiros invisíveis, que eles chamam de "sentidos",
passam em seu caminho até a percepção do homem; sua ciência
escolástica não é mais do que um viveiro de dúvidas e conjecturas.
Ensina somente para sua própria sofisticação, infecta com a sua
castração, com o seu desprezo pela verdade, com a sua falsa
moralidade e dogmatismo, e os seus representantes se vangloriam de
conhecer "os limites do natural". Meu bom amigo; quisera eu esquecer
que vós pertenceis a esta geração e que sois um admirador de vossa
"ciência moderna". Seus preceitos e vereditos oraculares estão no
mesmo nível do papal non possumus. Sim, a Saturday Review nos
criticou com bastante suavidade, na verdade. Isso não ocorreu no "O
Espírita". Pobre e peplexa revistinha! Vós lhe destes um tremendo
golpe. Perdendo pé no terreno mediúnico, trava a sua batalha de morte
pela pela supremacia do adeptado inglês sobre o conhecimento
oriental. Eu quase ouço o seu grito sub rosa "se a nós, os espíritas, nos
mostram que estamos equivocados, também vós estais, teosofistas".
O grande "adepto", o formidável J.K.7 é certamente um inimigo
perigoso, e receio que os nossos Bodhisatwas terão que confessar um
dia a sua profunda ignorância ante a poderosa erudição dele. "Os
verdadeiros Adeptos como Gautama Buda ou Jesus Cristo não se
encobriram no mistério, mas sim, vieram e falaram abertamente. "-diz
o nosso oráculo. Se eles procederam assim, é novo para nós, os
humildes seguidores do primeiro. Gautama é qualificado como "o
divino Instrutor" e ao mesmo tempo "Mensageiro de Deus"! (Veja "O
Espírita" de 8 de julho pág.21, parágrafo 2). Buda se tornou agora o
mensageiro de alguém que Ele, Shakya K'houtchoo, a Preciosa
Sabedoria, destronou há 2.500 anos, afastando o véu do Tabernáculo
e mostrando a sua vacuidade. Onde aprendeu esse ignorante e
pretensioso adepto o seu Budismo eu me pergunto? Deveríeis
realmente aconselhar o seu amigo, o senhor C.C, Massey, que estude
com essa jóia londrina que tanto despreza o conhecimento oculto da
Índia, "The Lotus of the Good Law" e Atma Boddha - à luz do kabalismo
judaico.

Que "eu me molestei pelas notícias irreverentes do jornal?" Certamente


que não. Mas senti-me um pouco indignado ante as sacrílegas
publicações de J.K., isso eu confesso. Senti vontade de responder ao
vaidoso tonto, mas "até aí chegarás e não mais longe" - outra vez. O
Khobilgn10 a quem mostrei a passagem riu até as lágrimas escorrerem
pelas sua velhas bochechas. Eu desejaria poder fazer o mesmo.
Quando a "Velha Dama" (H.P.B.) lê-lo haverá um ou dois cedros
danificados em Simla. Agradeço, na verdade, o vosso bondoso
oferecimento para que eu fique de posse dos recortes da Revista; mas
prefiro que os conserveis, já que tal informação pode mostrar-se
inesperadamente valiosa para vós dentro de alguns anos.

Quanto ao seu oferecimento de prometer com toda solenidade não


divulgar nada sem permissão, não posso dar nenhuma resposta no
presente. Nem a sua aceitação, nem a sua rejeição dependem de mim,
para dizer-vos a verdade, pois seria um caso totalmente sem
precedentes comprometer um profano com a nossa própria e particular
forma de juramento ou promessa, pois outra não seria válida na opinião
de meu Superior. Infortunadamente para nós dois, uma vez - ou
melhor, duas vêzes - em certa ocasião fizestes uso de uma expressão
que foi registrada, e apenas há três dias, quando solicitei alguns
privilégios para vós, a mesma me foi resaltada de um modo muito
inesperado, devo confesssar.

Ao ouví-la repetida, e vendo-a registrada, só me restava apresentar,


do modo mais humilde, a outra face aos golpes, todavia mais
inesperados do destino, proporcionados pela respeitável mão de quem
tanto reverencio. Por cruel que pareça para mim esta recordação, foi
justa, porque pronunciastes estas palavras em Simla: "Eu sou um
membro da Sociedade Teosófica, mas de nenhum modo, um
tesosofista"1, - dissestes. Não estou quebrando uma confidência ao
revelar este resultado de minha intercessão em vosso favor, pois fui
mesmo aconselhado a fazê-lo. Temos que seguir, então, no mesmo
rítmo lento com o qual viemos até este ponto ou nos determos de vez
e escrever Finis ao pé das nossas cartas. Confio que dareis preferência
ao primeiro.

E já que estamos no assunto, desejo que inculqueis em vossos amigos


de Londres algumas saudáveis verdades que eles são muito capazes
de ter esquecido, mesmo quando eles as ouviram repetidamente. A
ciência Oculta não é uma ciência na qual os segredos podem ser
transmitidos de uma vez, mediante uma comunicação verbal ou
mesmo escrita. Se assim fôsse, tudo o qe os "Irmãos" teriam que fazer,
seria publicar um Manual da Arte que poderia ser ensinado nas
escolas, como a gramática. É um erro comum das pessoas crerem que
nos envolvemos, e aos nossos poderes voluntariamente no mistério;
que desejamos guardar o nosso conhecimento para nós mesmos e que
por nossa própria vontade recusamos comunicá-los, "deliberada e
desconsideradamente". A verdade é que, até que o neófito atinja a
condição necessária para este grau de Iluminação, para o qual está
qualificado e apto, a maior parte dos segredos, senão todos, são
incomunicáveis. A receptividade deve ser igual ao desejo de instruir. A
iluminação DEVE VIR DO ÍNTIMO. Até então, nenhum conjuro de
encantamento, ou pantomina de roupagens, nem palestras ou
discussões metafísicas, nem penitências auto impostas, podem dar
essa iluminação. Todos estes são apenas meios para um fim, e tudo o
que podemos fazer é dirigir o emprego daqueles meios, que foram
comprovados pela experiência da idade como conduzentes ao objetivo
esperado. E isso não é segredo nem o foi durante milhares de anos.
Jejum, meditação, castidade de pensamento, palavra e ação; silêncio
durante certos períodos de tempo para permitir a própria natureza que
fale a quem se aproxime dela em busca de informação; domínio das
paixões e impulsos animais; completo altruismo de intenção; o uso de
certo incenso e fumigações com propósitos fisiológicos, foram
divulgados como meios desde os dias de Platão e Jâmblico no
Ocidente e desde os tempos mais remotos ainda de nossos Rishis
hindús. O modo como tudo isso tem que ser cumprido para se adaptar
a cada temperamento, é, naturalmente, assunto de experimentação da
própria pessoa e da cuidadosa observação de seu tutor ou Gurú. Isso
é de fato uma parte de seu curso de disciplina, e o seu Gurú ou iniciador
somente pode assistir com a sua experiência e poder de vontade, mas
não pode fazer nada mais, até a última e Suprema Iniciação. Sou
também de opinião que poucos candidatos imaginam o grau de
desconforto, e até sofrimento e dano a si mesmo, a que o mencionado
Iniciador se submete para o bem do seu discípulo. As condições
peculiares, físicas, morais e intelectuais de neófitos, como de Adepto,
variam muito, como qualquer pessoa compreenderá facilmente. Assim,
em cada caso, o instrutor tem que adaptar as suas condições as do
discípulo, e a tensão é terrível, pois para conseguir êxito temos que
nos colocar em plena sintonia com o indivíduo sob adestramento. E
quanto maiores os poderes do Adepto, menos ele está em simpatia
com a natureza do profano, que, com frequência, vem até ele saturado
com as emanações do mundo exterior, aquelas emanações animais da
multidão egoista e brutal que tanto tememos; quanto mais afastado o
instrutor se encontra desse mundo e quanto mais puro se tenha
tornado, tanto mais difícil é a tarefa a que se impôs. Além disso, o
conhecimento só pode ser comunicado gradualmente; e alguns dos
mais elevados segredos, ainda que formulados, mesmo em vosso bem
preparado ouvido, poderiam soar a vós como um palavrório insano,
apesar de toda a sinceridade de vossa presente convicção de que "a
confiança absoluta desafia a incompreensão". Esta é a causa
verdadeira de nossa reticência. É por isso que tão frequentemente as
pessoas se queixam, com certa plausível parte de razão, de que
nenhum novo conhecimento lhes é comunicado, apesar de terem
estado se esforçando por ele, doi ou três ou mais anos. Que aqueles
que realmente desejam aprender abandonem tudo e venham até nós,
em vez de pedir ou esperar que nós vamos até eles. Mas, como se
poderia fazer isto em vosso mundo e atmosfera? "Despertei triste na
manhã de 18". Sim? Bom, bom: paciência, meu bom irmão, paciência.
Algo ocorreu, ainda que não tenhais conservado a consciência do
acontecimento, mas deixemos isto. Mas, o que mais posso fazer?
Como darei expressão a idéias para as quais não tende até agora
linguagem? As mentes melhores e mais suscetíveis, como vós,
conseguem algo mais que as outras, e mesmo quando recebem uma
pequena dose extra, esta se perde pela falta das palavras e imagens
que se fixem as idéias flutuantes. Talvez e indubitavelmente, não
sabeis a que me refiro agora, mas o sabereis um dia, paciencia. Dar a
um homem mais conhecimento do que está capacitado a receber, é
uma experiência perigosa, e ademais, freiam-me outra considerações.
A súbita comunicação de fatos, que transcendem tanto o comum, é,
em muitos casos, fatal não só para o neófito, mas também para os que
o rodeiam diretamente. É como entregar uma máquina infernal ou um
revólver carregado e engatilhado nas mãos de um homem que nunca
viu tais coisas. Nosso caso é exatamente análogo. Nós sentimos que
o tempo se aproxima e estamos fadados a escolher entre o triunfo da
Verdade ou o Reino do Erro e do Terror. Temos que comunicar o
grande segredo a alguns eleitos, ou permitir que os infames Shammar-
A conduzam as melhores mentes da Europa para a mais fatal e insana
das superstições, o espiritismo; e sentimos como se estivéssemos
pondo todo um carregamento de dinamite nas mãos daqueles que
estão tão ansiosos de ver defenderem-se contra os Irmãos da Sombra,
os Barretes Vermelhos.

Estais curioso de saber por onde estou viajando; e de inteirar-se mais


do meu grande trabalho e missão? Se eu vos contasse, pouco vos
adiantaria. Para provar o vosso conhecimento e paciência posso
responder-vos, contudo por esta vez. Venho agora de Sakkya-Jong.
Para vós este nome não tem significado. Repeti-o diante da "Velha
Dama" (H.P.B.) e observai o reultado. Mas voltando ao tema. Tendo
então que entregar ao mundo com uma mão, a arma muito
necessitada, embora perigosa, e com outra manter afastados os
Shammars (e o mal por eles produzido já é imenso), não pensais que
temos o direito de hesitar, de fazer uma pausa e sentir a necessidade
de cautela, como nunca antes fizemos. Resumindo: o mal uso do
conhecimento pelo discípulo sempre reage sobre o Iniciador, e nem
creio que saibais ainda que, ao participar os seus segredos com
alguém, o Adepto, devido à Lei imutável - retarda o seu progresso para
o Eterno Repouso. Talvez o que vos digo agora possa ajudar-vos para
uma concepção mais verdadeira das coisas, e a apreciar melhor a
nossa mútua posição. Perambular daqui para ali no caminho não
conduz à uma rápida chegada ao fim da jornada. E deve soar-vos como
uma verdade evidente que um preço deve ser pago por toda e qualquer
verdade, por alguém, e nesse caso somos NÓS que o pagamos. Não
temais; estou disposto a pagar a minha parte, e assim disse aos que
me fizeram a pergunta. Não vos abandonarei, nem me mostrarei
menos abnegado que a pobre e esgotada mortal a quem conhecemos
com o nome de "Velha Dama". O que vos disse deve ficar entre nós.
Espero que considereis esta carta como sendo estritamente
confidencial, pois não é para ser publicada nem se destina para os
seus amigos. Quero que somente vós a conheceis. Se ao menos tudo
isso fôsse melhor conhecido pelos candidatos à iniciação, estou seguro
de que eles se sentiriam tanto mais agradecidos e pacientes como
menos inclinados a irritarem-se com o que consideram como nossas
reticências e vacilações. Poucos possuem a vosa discreção. E muito
poucos sabem apreciar em seu verdadeiro valor os resultados
obtidos...

Vossas duas cartas a S.M.16 não levarão a resultado algum. Ele


permanecerá impassível e vossa preocupação terá sido tomada em
vão. Recebereis uma carta dele, cheia de desconfiança e com não
pouca observações nada bondosas. Não podereis persuadí-lo de que
+ é um Irmão vivo porque isso foi tentado e fracassou; a menos que o
converteis ao Lamaismo popular exotérico, que considera os nossos
"Byang-chubs" e "Tchangchubs" (os Irmãos que passam do corpo de
um grande Lama para o de outro) como Lhas ou Espíritos
desencarnados. Recordai o que eu disse em minha última a respeito
dos Espíritos Planetários. O Tchang-chub (um Adepto que conseguiu
ficar, pelo poder do seu conhecimento e iluminação de sua alma, isento
do curso da transmigração INCONSCIENTE) pode, à sua vontade e
desejo, (em vez de reencarnar-se somente depois da morte do corpo)
fazê-lo, e assim repetidamente, durante a sua vida se o preferir. Ele
possue o poder de escolher para si novos corpos, neste ou em
qualquer outro palneta, enquanto se acha de posse da sua velha forma,
que ele em geral conserva para os seus próprios propósitos. Leia o
livro de Kiu-teI e encontrareis nele essas leis. Ela pode traduzir-vos
alguns parágrafos, pois os conhece de memória. Podeis ler para ela a
presente carta.

Eu me rio com frequência da "maneira desamparada com que tateeis


nas trevas"? Decididamente não. Seria pouco bondoso e tanto
insensato para mim proceder assim, como para vós rir-se de inglês de
pés quebrados de um Hindú em um distrito onde o vosso Governo não
quer ensinar inglês para nós. De onde surge tal pensamento? E de
onde o de alguém ter o meu retrato? Nunca me tiraram mais do que
um em toda a minha vida; um pobre ferrotipo produzido nos dias do
"Gaudeamus"-A por uma artista viajante (alguma parenta, suponho,
das beldades do salão da cervejaria de Munich que ultimamente
entrevistastes) e de cujas mãos tive de resgatá-lo. O ferrotipo está ali,
mas a própria imagem se esvaneceu, o nariz se deformou e um dos
olhos se foi. Não tenho nenhum outro para oferecer. Não me atrevo a
prometer porque nunca quebro a minha palavra. Não obstante, talvez
tentarei um dia vos conseguir um.

Citações tomadas de Tennyson? Realmente não sei. Algumas linhas


extraviadas e captadas na luz astral ou no cérebro de alguém e
recordadas: eu nunca esqueço o que li ou ouvi alguma vez. Um mau
hábito. Tanto assim, que, com frequência e inconscientemente, incluo
frases com palavras e frases extraviadas que passam diante dos meus
olhos e que podem ter sido empregadas há séculos ou que o serão
dentro de séculos e com relação a assunto por completo diferentes.
Indolência e verdadeira falta de tempo. A "Velha Dama" me chamou de
um "pirata cerebral" e plagiário, outro dia, por usar toda uma frase de
cinco linhas, a qual, está ela firmemente convencida, eu devo ter
furtado do cérebro do Dr. Wilder, pois, passados três mêses, ele a
reproduziu num ensaio seu sobre a intuição profética. Nunca dei uma
olhada nas circunvoluções cerebrais do norte. Não sei. Escrevo isto
para a vossa informação, como algo novo, suponho. Assim, uma
criança pode nascer apresentando grande semelhança com as feições
de outra pessoa distante milhares de quilômetros, sem relação com a
mãe, e nunca vista por ela, mas cuja imagem flutuante foi impressa
sobre a memória de sua alma durante o sono ou mesmo nas horas de
vigília, e reproduzida na placa sensibilizada de carne viva que essa
mãe carrega consigo. Entretanto, creio que as linhas citadas foram
escritas por Tennyson há anos e que foram publicadas. Confio que
estas desconexas reflexões e explicações possam ser perdoadas a
alguém que permaneceu mais de nove dias em sua sela sem
desmontar. Da Lamasseria de Ghalaring-Tcho (onde o seu "Mundo
Oculto" foi discutido e comentado, com o perdão da palavra, pensareis)
eu cruzei o território Horpa Pa La, "as inexploradas regiões de tribos
Turcas", dizem os vossos mapas, ignorando o fato de que ali não há
nenhuma tribo, e dali para o lar.

Sim, estou cansado e portanto vou concluir.

Vosso sinceramente.

K.H

Em outubro estarei no Bhutan. Tenho um favor a vos pedir. Tratai de


se fazer amigo de Ross Scott18. Eu necessito dele.
Carta Nº 050

Recebida em Agosto de 1882. (Antes de 18).

Esta carta bem pequena parece relacionar-se com as crescentes


queixas de Hume a respeito de Fern e seus contínuos esforços para
descobrir erros dos Mahatmas em tudo o que faziam. Sem dúvida que
ele escrevera outra carta a respeito de Fern e o Mahatma está
mandando-a para Sinnett. Nota-se que junto com ela, está a resposta
do Mahatma, porque ele diz a Sinnett para ler as "duas cartas", antes
de passá-las para Hume; e ele pede a Sinnett que esteja presente
quando Hume as ler.

Entretanto, parece que, apesar de quão difícil Hume pudesse ser


pessoalmente e de quanto experimentava a paciência dos Mahatmas,
eles sentem que Hume pode ajudar a Sociedade - o que, de diversos
modos, ele fez durante algum tempo. Nessa época ele era ainda
presidente da Socidade Eclética de Simla. Logo depois, no entanto, ele
renunciou a esse cargo e em 1884 saiu da Sociedade Teosófica.

O Cel. Chesney começa a aparecer em diversas das cartas mais


recentes e o Mahatma indica que D.K. fizera recentemente algo por
ele. Isto se refere sem dúvida ao retrato que se permitiu a D.K. fazer
para o Coronel. Todas as cartas neste período surgem tão juntas que
é impossível se ter certeza absoluta de sua ordem exata.

Meu caro amigo,

Sinto-me terrivelmente abatido (mentalmente) com essa incessante


atitude de oposição inevitável, assim como pelos contínuos ataques às
nossas fortalezas! Durante toda a minha vida sossegada e
contemplativa, nunca tinha tropeçado com um homem mais tenaz e
irrazoável!

Não posso continuar assim, passando a minha vida em inúteis


protestos; e se não podeis impor-lhe a vossa amistosa influência, todos
nós teremos que nos separar um dia, não muito longínquo. Estava eu
com o Chohan3 quando recebi a carta que agora incluo, e o Chohan
ficou muito desgostoso e qualificou todo o assunto com o nome
tibetano equivalente a "comédia". Não é que ele esteja ansioso de
"realizar o bem" ou de "ajudar o progresso da Sociedade Teosófica": é
simplesmente, creia-me ou não, o insaciável orgulho dele; um feroz e
intenso desejo de se sentir e mostrar-se aos demais como "o eleito",
que conhece o que a todos os demais foi somente permitido suspeitar.
Não protesteis, porque é inútil. Nós sabemos e vós não. O Chohan
ouviu outro dia as tolas mas pateticamente sinceras lamentações da
"esposa" e tomou notas delas. Não é esse um homem que aspire a
tornar-se uma "alma perfeita", e quem é capaz de escrever de um
teósofo o que me escreveu a respeito de Fern, não é um teósofo.

Que isto seja estritamente privado e não permitais que ele saiba senão
o que ler em minha carta. Quero que lêdes as duas cartas antes que
as entregueis e que estejais presente quando ele as ler.

Verei o que posso fazer pelo coronel Chesney e creio que Djual Khool
está cuidando dele. Pela primeira vez na minha vida penso que me
sinto realmente desanimado. Contudo, pelo bem da Sociedade, não
gostaria de perdê-lo. Bem, farei tudo o que puder, mas estou
seriamente temeroso de que ele ponha a perder tudo qualquer dia
desses.

Seu com sincero afeto.

K.H.
Carta Nº 051

Recebida no dia 22 de Agosto de 1882.

A sentença inicial refere-se de novo aos dois retratos do Mahatma K.H.


que D.K. estava tentando, ou tentou, fazer.

PRIVATIVA

Meu bom amigo:

Recordai que no fenômeno destinado ao Coronel Chesney havia, há e


haverá apenas uma coisa fenomênica real, ou melhor, - um ato de
ocultismo - o retrato de seu humilde servidor, a melhor das duas
produções de D. Khool, sinto dizêr-lo...para vós. O resto da execução
é, apesar do seu misterioso caráter, algo bastante natural, a qual eu
não aprovo de modo algum. Mas eu não tenho o direito de ir contra a
tradicional política, embora gostaria muito de evitar a sua aplicação
prática.

Mantende isso estritamente dentro do vosso coração amigo até que


chegue o dia quando várias pessoas venham a saber que fostes
prevenido a respeito disso. Não ouso dizer mais. As provações são em
todo sentido árduas, e é seguro que não satisfarão as vossas noções
européias de veracidade e sinceridade. Mas relutante como me sinto
para usar tais meios ou mesmo permitir que sejam usados em relação
aos meus chelas, no entanto eu tenho de dizer que a decepção, a falta
de boa fé, e as armadilhas (!!) com a intenção de enganar os Irmãos
se multiplicaram muito ultimamente, e é tão pouco o tempo que resta
para o dia em que se decidirá a eleição dos chelas, que eu não posso
deixar de pensar que nossos chefes e especialmente M. podem, depois
de tudo, ter razão. Com um inimigo temos que empregar armas iguais
ou melhores. Mas não vos enganeis com as aparências. Pudesse eu
ser tão franco com o Sr. Hume a quem eu sinceramente respeito por
algumas das suas genuinas qualidades, como não posso evitar de
censurá-lo por outras. Quando saberão e compreenderão alguns de
vós o que somos realmente em vez de vos distrair com um mundo de
ficções!

No caso de o Coronel Chesney vos falar de certas coisas, dizei-lhe que


não se fie nas aparências. Ele é um cavalheiro e não deveria ser-lhe
permitido trabalhar sob uma fraude que jamais lhe dizia respeito, mas
somente como um teste para aqueles que quiseram se impor sobre
nós com um coração que não estava limpo.

A crise está perto. Quem sairá triunfante?

K.H.
Carta Nº 052

Recebida em Simla, Outono 1882 (provavelmente entre 23 e 25 de


Agosto).

Os assuntos que motivam e envolvem a escrita desta carta são


extremamente complicados. A carta é importante porque marca o
príncipio do fim da vinculação de Hume com os Mahatmas. Ele não
renuciou formalmente da Sociedade Teosófica senão dois anos
depois, embora ele renunciou como Presidente da Sociedade
Teosófica Eclética de Simla em certo momento desse período. Pode
ser que os fatos ligados a esta carta influenciaram a sua decisão. É
necessário remontar mais ou menos um mês, ao recebimento da carta
"Devachan".

No número de junho de 1882 do "The Theososphist" foi publicada uma


carta com o título "Aparentes Discrepâncias". Estava assinado
"Teosofista Caledonio". Na carta nº.81 há um indício de que o autor se
chamava Davidson ou Davison, que, nessa ocasião, era secretário de
Hume.

O autor chamava a atenção para o que lhe parecia ser discrepâncias


entre o que estava escrito em um dos "Fragmentos" (artigos escritos
por Hume e Sinnett) e o que H.P.B. havia escrito vários anos antes em
"Isis sem véu". Quando a carta do Caledonio foi publicada no "The
Theosophist", H.P.B. anexou a ela uma extensa nota de editor na qual
ela explicou os pontos em debate com alguns detalhes e concluiu com
as palavras:

Mas nunca houve, nem pode haver, qualquer discrepância radical entre
os ensinamentos em "Isis" e os deste período posterior, porque ambos
procedem de uma única fonte - os IRMÃOS ADEPTOS.

Esta nota de editor sofreu o ataque de C.C. Massey, um membro da


S.T. em Londres. Ele era também um ardoroso espírita. Ele chamava
a atenção do leitor para o que ele considerava a falácia da afirmação
de H.P.B. ao fazer citação da crítica de Sinnett ao livro "O Caminho
Perfeito", por Anna Kingsford e Edward Maitland. A discrepância,
tentou ele mostrar, se referia a comentários sobre o assunto de
reencarnação.

Em sua nota de editor associada à carta de Massey, H.P.B. dizia: "Ao


escrever "Isis", não nos foi permitido entrar em detalhes; daí, as
generalidades vagas. Somos instruidos a proceder assim agora - e
procedemos como nos é ordenado".

Após a publicação disto, Hume defendeu-se. Ele escreveu uma carta


a H.P.B. na qual ele praticamente arrasava com ela (e "Isis") e dizia
algumas coisas muito isultuosas a respeito dos Mahatmas. Ele assinou
a sua carta "H.X." É a famosa carta H.X. a respeito da qual muitos
estudiosos das Cartas dos Mahatmas leram ou ouviram falar.

Hume começou dizendo que "Isis" tinha muitos erros e conceitos


equivocados. Depois passa a criticar os Mahatmas severamente pela
maneira em que eles tinham dado os ensinamentos, ou, como ele
sustentava, não os tinha dado, e disse que os métodos deles eram tão
repulsivos para ele que ele esteve "mais de uma vez a ponto de
encerrar as minhas relações com eles para sempre".

A carta H.X. também foi publicada no "The Theosophist" e foi seguida


por um artigo "Um Protesto", assinado por onze chelas, entre os quais
estavam vários nomes conhecidos: T. Subba Row, Dharbagiri Nath,
Guala K. Deb, Damodar, Noblin Bannerjee, e outros. H.P.B. não queria
publicar a carta H.X., mas os Mahatmas lhe disseram que o fizesse.
Evidentemente a ordem inicial veio do próprio Mahachoan. H.P.B. ficou
profundamente perturbada com isso.

Nas Cartas de H.P.B. para Sinnett, p. 29, em 26 de agosto, deparamo-


nos com a sua carta angustiada para Sinnett sobre a situação toda. Ela
lhe mandou a carta de Hume para que a lesse. Ela estava farta dele,
diz, mesmo que a Fraternidade não esteja. Ela atiraria a carta dele no
fogo, mas "K.H. e Morya mandaram dizer que desejavam firmemente
a sua publlicação".

E, finalmente, nas Cartas de H.P.B. para Sinnett, p.304, há uma carta


de Hume para o Mahatma K.H., a qual este mandou para Sinnett com
alguns comentários dele inseridos entre as linhas. Os seus
comentários estão em negrito. Nesta carta, Hume diz ao Mahatma que
ele não pode confiar unicamente nele, porque ele tem muito pouco
tempo e a maneira na qual ele ensina é "tão lenta e insatisfatória que
não seria cabível para mim não procurar alguém mais". Ele também
fez a afirmação de que era um Advaita melhor do que M. ou K.H.

Hume, de fato, havia se aproximado de um outro "instrutor", conhecido


como o Swami de Almora, um homem que pretendia ser mais do que
era. Ele havia escrito alguns artigos para o "The Theosophist", aos
quais Subba Row criticava de certo modo. O Swami era, parece, um
inimigo dos Mahatmas e, de acordo com H.P.B., uma vez ele ameaçou
"desmascará-los como Dugpas". Casualmente, ele morreu pouco
depois que Hume se aproximara dele.

Estas longas notas explicatórias pareciam necessárias para tornar


inteligível a carta nº.81. Praticamente, a carta toda se relaciona com
estes assuntos. Depreende-se evidentemente da afirmação inicial do
Mahatma que Sinnett havia lhe perguntado o que estava sucedendo
"debaixo da superfície". A iminente renúncia de Hume como presidente
da Sociedade Teosófica Eclética de Simla pode ter sido o catalisador.

A explicação do Mahatma do uso que faz da frase "exercício de meu


engenho" refere-se a um comentário feito por ele sobre uma passagem
em "Isis", em suas respostas às questões na Carta nº.70-A e 70-B.
Nessa carta ele disse: "...caistes no mesmo engano...como C.C.M.;
embora eu deva confessar que a passagem em "Isis" estava
toscamente expressa, como já indiquei para vós...Eu tinha que
"exercer o meu engenho" sobre ela - como os yankees se expressam,
mas, tendo tido êxito em consertar a falha, eu creio - como terei em
muitas outras vezes, eu receio que, antes, deviamos ter feito isso com
"Isis". Deveria realmente ser reescrita em prol da honra da família".

Isto dá a entender que o Mahatma K.H. deve ter escrito, ou uma parte
ou toda a nota de editor para H.P.B., em resposta à crítica de Massey,
porque era nisso que ele tinha de exercer o seu engenho. De fato, na
pág.26 das Cartas de H.P.B. para Sinnett, H.P.B. diz: "K.H. foi tão
bondoso para mim ao ditar na noite passada quase toda a minha
resposta para Massey".

Parece que, ao escrever para o Mahatma, Sinnett chamou a expressão


("eu tive de exercer...") de "uma frase infeliz" e pediu uma explicação.
O Mahatma pacientemente atende a esse pedido.

Não há nada "debaixo da superfície" meu fiel amigo - absolutamente


nada. Hume está simplesmente furiosamente ciumento de quem quer
que tenha recebido, ou possa receber qualquer informação, favores
(?), atenção ou algo semelhante, proveniente de nós. A palavra
"ciumento" é ridícula, mas correta, a menos que o chamássemos de
invejoso, o que ainda é pior. Ele se crê injustiçado porque fracassa em
converter-se no nosso único centro de atenção; se pavoneia diante de
si e se sente enlouquecer até a fúria por não encontrar alguém que o
admire; cita uma passagem em Hebreu cujo significado no livro de
Eliphas Levi, é como a traduzi, e fracassando em me pegar numa nova
contadição, para o que deu-se ao trabalho de citá-la, impressiona a si
mesmo com a ilusão de que ele "é muito mais Adwaita" que M. ou eu
jamais fomos (uma coisa fácil de provar pois nunca fomos Adwaitas) e
escreve à Velha Dama uma carta ofensiva dirigida contra o nosso
sistema e nós mesmos, como meio de desafogar seus sentimentos.

Sois na verdade tão generoso a ponto de não haver suspeitado há


muito tempo toda a verdade? Não vos preveni? E é possível que nunca
tenhais percebido que ele nunca permitirá - mesmo a um Adepto -
saber mais ou melhor do que ele mesmo?; e que a sua humildade, era
falsa; que é um autor que desempenha um papel para o seu próprio
benefício, sem se importar com o agrado ou desagrado de sua
audiência, embora quando o último é manifestado no mais pequeno
grau, ele muda de opinião, ocultando admiravelmente a sua raiva,
sibilando e cuspindo internamente. Cada vez que o contradigo e lhe
demonstro que está equivocado, seja em alguma questão de termos
tibetanos ou em qualquer outra insignificância, a reação que ele tem
contra mim aflora e vem com algumas novas acusações. É inútil, meu
querido irmão, estar sempre repetindo que não há, nem pode haver
contradições no que vos foi comunicado. Pode haver falta de exatidão
nas expressões, ou imperfeição nos detalhes; mas acusar-nos de erros
crassos, é na realidade, muito engraçado. Eu vos pedi muitas vêzes
que tomásseis notas e me as enviasse, mas nem o Sr. Hume, nem vós,
pensaram em fazê-lo, e na verdade, eu disponho de pouco tempo para
revisar velhas cartas, comparar notas, olhar dentro de vossas cabeças,
etc.

Confesso minha ignorância em uma coisa, de qualquer modo. Não


compreendo em absoluto porque a expressão empregada por mim com
respeito a resposta de H.P.B. a C.C.M. podia ter vos chocado tanto, e
porque haverieis de fazer objeção ao meu "exercício de meu engenho".
Se, porventura dais um significado diferente do que eu dou, então não
nos compreendemos mais uma vez - faute de s'entendre. Colocai-vos
no meu lugar, por um momento, e vêdes se não teríeis que exercer
todo o engenho que tivésseis à vossa disposição em um caso
semelhante ao existente entre C.C.M. e H.P.B. Na realidade, não há
contradição alguma entre essa passagem em "Isis" e nossa última
instrução; para alguém que nunca ouviu falar dos sete princípios -
constantemente citados em "Isis" como uma trindade, sem qualquer
outra explicação - nesse caso certamente seria uma boa contradição.
"Deveis escrever assim e assim, dando a conhecer somente isso e não
mais", dissemos a ela constantemente quando estava escrevendo o
livro. Foi precisamente no começo de um novo ciclo, na época em que
nem os cristãos, nem os espíritas, sequer cogitavam disso, e
mencionarem dois princípios no homem: corpo e Alma, a que
chamaram de Espírito. Se tivésseis tempo de recorrer à literatura
espírita de então, acharíeis que igualmente para os fenomenalistas e
os cristãos, Alma e Espírito eram sinônimos. Foi H.P.B. que, atuando
sob as ordens de Atrya (alguém que não conheceis) foi a primeira a
explicar no "O Espírita" a diferença que havia entre psyche e nous,
nefesch e ruach: Alma e Espírito. Teve que trazer todo o arsenal de
provas, citações de Paulo e Platão, de Plutarco, de Tiago, etc., antes
que os espíritas admitissem que os teósofos tinham razão. Foi então
que se ordenou a ela que escrevesse "Isis", justamente um ano depois
de fundada a Sociedade.

E como ocorreu uma verdadeira guerra em torno do livro, intermináveis


polêmicas e objeções no sentido de que não podia haver no homem
duas almas; nós achamos que era prematuro dar ao público mais do
que podia possivelmente assimilar e antes que houvesse assimilado a
questão das "duas almas"; e por isso a sub-divisão adicional da Triade
em sete princípios ficou sem ser mencionada em "Isis". E porque ela
obedeceu as nossas ordens e escreveu ocultando intencionalmente
alguns fatos, é agora que, quando pensamos haver chegado o tempo
de dar a maior parte, senão toda a Verdade, devemos deixá-la em
apuros? Deixaria eu, ou qualquer um de nós, que ela se tornasse como
que um alvo para os ataques dos espíritas e rissem das contradições
quando essas eram inteiramente evidentes, derivadas, senão da
própria ignorância deles a respeito da verdade total; uma verdade que
eles não escutariam e nem aceitariam mesmo agora, exceto sob
protesto e com as maiores reservas? Certamente que não. E quando
uso a palavra "engenho"- que pode ser uma expressão própria
americana, pelo que sei, e que suspeito, tem outro significado para os
ingleses - não quiz dizer nem "astúcia" nem algo semelhante a
"evasiva", e sim demonstrar simplesmente a dificuldade com que me
deparava para explicar o correto significado, tendo diante de mim um
interminável comentário tosco que insistia sobre a não reencarnação
sem acrescentar uma só palavra para demonstrar que a mesma só se
referia à alma animal, não ao Espírito, ao astral, não à Mônada
espiritual.

Podereis fazer-me o favor de explicar, na primeira oportunidade, o que


quisestes dizer ao referir-vos à minha expressão "uma frase
infortunada"? Se pedísseis a um amigo que desenhasse uma vaca
para o Pioneer, e esse amigo, começando com a intenção de
reproduzí-la, desenhasse, devido à sua falta de habilidade, um boi ou
um búfalo, e a gravura assim aparecesse, talvez porque estivesteis
muito ocupado em outras coisas e não tivesteis tempo de perceber o
erro, não "exerceríeis o vosso engenho" e tentaríeis corrigir para os
leitores, mostrando-lhes que, na realidade, o artista havia querido
desenhar uma vaca, e reconhecendo a falta de habilidade do vosso
amigo, ao mesmo tempo, não faríeis o possível para salvá-lo de uma
imerecida humilhação? Sim, tendes razão. H. não tem, nem delicadeza
de percepção e sentimentos, nem uma genuina bondade de coração.
É um que sacrificaria a sua própria família, os mais queridos e próximos
a ele (se existem tais pessoas para ele, o que duvido) a qualquer
capricho próprio; e seria o primeiro a permitir uma hecatombe de
vítimas, se necessitasse de uma gota de sangue; assim como insistir
na conveniência do Sutee se isso fôsse a única coisa que lhe
conservasse o seu calor, que ajudasse os seus dedos entumecidos a
fazer os seus trabalhos, e ele diligentemente, escrever um tratado
sobre algum assunto filantrópico durante esse tempo, entoando
sinceramente para si um "Hosanna" em seu próprio pensamento.
Exagero, pensais? Não tanta, porque não tendes idéia , e nós, sim, a
temos, do egoismo potencial que há nele; do cruel e impiedoso
egoismo, que carrega desde a sua última encarnação, um egoismo que
permaneceu latente devido apenas a incompatível nódoa do ambiente
em que está, e de sua posição social e educação. Podeis crer que
escreveu o seu famoso artigo no Theosophist simplesmente pela razão
que vos dá: para ajudar a deter a inevitável queda e salvar a situação,
e ao reponder a Davidson e C.C.M. etc., tornar o trabalho de responder
no futuro e reconciliar as contradições no passado mais fácil? Não, de
nenhuma maneira. Se ele sacrifica sem remorsos, no artigo a H.P.B. e
ao autor da resenha do "Caminho Perfeito", e mostra os "Irmãos" como
sendo inferiores em inteligência aos "cavalheiros europeus educados",
e desprovidos de quaisquer noções corretas acerca da honestidade e
do justo e do injusto (no sentido europeu) egoistas e frios, cabeças
duras dominantes, não é de modo algum porque se importa por
qualquer um de vós, e menos ainda pela Sociedade, e sim
simplesmente devido a certos possíveis acontecimentos dos quais
deseja se resguardar, eis que tão inteligente como é não poderia deixar
de prevê-los em sua mente; ser o único que resurja incólume, senão
imaculado, no caso de um desastre, e para dansar, se necessário for,
a "dansa da morte" dos Macabeus sobre o prostado corpo da
Sociedade Teosófica, em vez de se arriscar que se zombe mesmo do
dedo mindinho do grande "Eu sou" de Simla. Conhecendo-o como nós
o conhecemos, dizemos que o senhor Hume está em pefeita liberdade
de citar a "infortunada frase" tantas vêzes ao dia quanto o seu alento
lhe permita, se isso pode de algum modo apaziguar os seus irritados
sentimentos. E é justamente porque Morya viu através dele, com tanta
clareza como vejo a minha escrita diante de mim, que ele permitiu que
Hume caísse em seu próprio engano, como vós dizeis. Ainda mais,
porque as coisas estão de tal modo preparadas, que no caso de que a
"Eclética se afunde, ele será o único que afundará com ela, o único
ludibriado, e assim o seu egoismo e seus planos cuidadosamente
preparados não lhe trarão benefícios. Crendo que ele conhecia melhor
do que eu o assunto, foi o bastante amável e atencioso ao acrescentar
as suas explicações às minhas na resposta de H.P.B. a C.C.M. e, com
exceção do Karma, que explicou bastante corretamente, fez uma
confusão com o resto.

E agora, a primeira vez que eu contradigo o que ele diz no seu artigo,
ele voltará com fúria e expressará o seu desgosto para o que ele chama
de minhas (não suas) contradições. Eu fico triste de ter que - o que
parece para vós - denuciá-lo. Mas tenho que atrair a vossa atenção
para o fato de que, nove vêzes em dez, quando ele me acusa de ter
interpretado inteiramente o seu pensamento, diz o que qualquer um
teria o direito de considerar como sendo um deliberada falsidade. O
exemplo de E. Levi....4 é um bom exemplo. A fim de provar que eu
cometo um erro, teve que se tornar um Adwaita e negar seu
"Governador moral e Dirigente do Universo", jogando-o para fora "pelos
últimos 20 anos". Isto não é honesto, meu amigo, e eu não vejo
nenhum remédio para isso. Pois quem pode provar (quando ele diz que
os argumentos incorporados em suas cartas para mim não eram a
expressão de suas próprias crenças e opiniões pessoais, e sim que os
apresentava simplesmente para responder as prováveis objeções de
um público teísta) que isso não é outra coisa senão enganar? Com
semelhante acrobata intelectual, sempre pronto a executar no "grande
trapézio", seja com respeito ao que declara verbalmente ou põe no
papel, mesmo nós temos que aparecer como derrotados. Este último
caso nos importa muito pouco, pessoalmente. Mas ele está sempre
disposto a cantar vitória em suas cartas privadas e mesmo no que
publica. De bom grado aceita que nós existamos (é bastante inteligente
para arriscar-se agora de coisas a ser apanhado por falta de
perspicácia, pois que sabe, através de correspondentes que se opõem
completamente aos "Fundadores", da verdadeira existência de nossa
Fraternidade), mas nunca admitirá reconhecer tais poderes ou
conhecimento em nós, o que tornaria o seu não solicitado conselho e
interferência tão ridículos como inúteis, e ele trabalha nesse sentido.

Eu não tinha direito algum de suprimir o artigo "ofensivo" como o


qualificai, por várias razões. Tendo permitido que o nosso nome fôsse
relacionado com a S.T. e nós mesmos arrastados à publicidade, temos
que sofrer (o verbo é simples figura de linguagem) como Olcott diria "a
penalidade de nossa grandeza". Nós temos que permitir a expresão de
cada opinião,seja benevolente ou malevolente; sentir-nos cortados em
pedações um dia e "louvados"no outro; adorados no seguinte e
pisoteado na lama no quarto dia. Razão número (2) o Chohan assim o
ordenou. E com ele (Hume) isto significa novos desdobramentos,
resultados imprevistos e PERIGO, receio. Os dois nomes que
encontrais encabeçando as assinaturas dos 12 chelas que protestam,
pertecem aos Chelas confidenciais do próprio Chohan. Neste sentido
não há mais esperança alguma para o senhor Hume: Ele passou dos
limites e eu jamais terei novas oportunidades de pronunciar o seu nome
diante de nosso venerável chefe. consumatum est. Por outra parte, a
denuncia faz bem. O Chohan deu ordens para que o jovem Tyotirmoy,
um menino de 14 anos, filho do Babu Nobin Banerjee a quem
conheceis, seja aceito como discípulo em uma das nossas lamaserias
perto de Chamto-Dong, 160 quilômetros distante de Shigatse, e sua
irmã, uma virgem Ioguini de 18, no mosteiro feminino de Palli. Deste
modo, os Fundadores terão dois bons testemunhos no seu devido
tempo e não dependerá do capricho do senhor Hume nos matar e nos
ressucitar ao seu prazer. Quanto o provar se nós conhecemos ou não
conhecemos mais dos mistérios da natureza que vossos homens de
Ciência e teólogos, isso fica para vós e para os que ireis escolher para
vos ajudar nesta importante tarefa.

Confio, meu querido amigo, em que tentareis inculcar no senhor Hume


os fatos seguintes: embora o trabalho realizado por ele em favor da
Sociedade vivia a se tornar muito importante, e poderia ter produzido
os frutos mais úteis, entretanto, os seu artigo denunciário quase
arruinou o trabalho feito por ele. As pessoas o consideram agora mais
lunático que nunca; os membros hindús o culparão durante anos e os
nossos chelas nunca deixarão de olhá-lo senão à luz de um
iconoclasta, um intruso arrogante, incapaz de qualquer gratidão, e
portanto, inadequado para ser um deles. Isto deveis dar a conhecer
como vossa opinião pessoal, naturalmente desde que coincida com as
vossas próprias opiniões e podem ser dadas como sendo a expressão
dos vossos verdadeiros sentimentos neste assunto, pois, a mim,
particularmente, foi ordenado que não rompesse como ele até o dia em
que venha a crise. Caso ele deseje manter o seu cargo oficial na
Eclética, deveis auxiliá-lo nesse sentido. Se não, rogo-vos,
encarecidamente que aceiteis o cargo de Preidente. Mas deixo isso
tudo ao vosso tato e discreção. Faça-o saber também que o "Protesto"
dos Chelas não é obra nossa, mas o resultado de uma ordem direta,
proveniente do Chohan. O protesto foi recebido na Sede Central duas
horas antes que o carteiro trouxesse o famoso artigo, e foram
recebidos telegramas de vários chelas na Índia no mesmo dia.
Juntamente com a nota de rodapé enviada por Djual Khool para ser
enexada ao artigo de W. Oxley, espera-se que o número de Setembro
crie uma certa sensação entre os místicos da Inglaterra e América e
não apenas entre os nossos Hindús. A questão dos "Irmãos" é mantida
muito viva e pode dar os seus frutos. A pena decritiva do senhor Hume
jorram, sob a máscara da filantropia, o mais amargo fel, atacando-nos
com armas que, por serem apresentadas, ou melhor, imaginadas como
legais e legítimas, e utilizadas com os propósitos mais honestos,
esgrimem alternadamente o ridículo e a ofensa. E entretanto, como ele
conservou a aparência de uma crença sincera em nosso
conhecimento, é mais que provável que nós sejamos recordados daqui
em diante como ele pintou e não como somos em realidade. O que
disse certa vez a respeito dele, eu sustento. Pode exteriormente
perdoar com sinceridade algumas vêzes, mas nunca pode esquecer. é
aquilo que se diz Johnson admirava tanto: "um bom odioso".

Oh, meu amigo, com todas as vossas faltas, e vosso passado


demasiadamente vivo, quão imensuravelmente muito mais alto estais
em nossa visão do que o nosso "eu sou", com toda sua alta e
"esplêndida capacidade mental" e sua natureza externamente patética
ocultando a ausência interna de algo semelhante ao verdadeiro
sentimento e coração! M. quer que vos diga que recusa,
indiscutivelmente tomar qualquer precaução da natureza que sugeris.
Ele despreza H. por completo; no entanto, no caso de qualquer perigo
real seria o primeiro a protegê-lo das dores e trabalho que ele deu a
S.T. Diz que, no caso de H. chegar a reconhecer os seu ridículos
desatinos, ele estará disposto a provar aos outros a existência de
poderes ocultos, mas não deixará a H. uma só oportunidade para que
se sustente. Deve-se permitir que os seu castigo seja completo; do
contrário não terá efeito sobre ele e somente revidará sobre as vítimas
inocentes. H. mostrou ao mundo como desonestos e mentirosos antes
que tivesse uma só e inegável prova de que éramos isso e de que
estivesse justificada a sua denuncia mesmo por uma aparência ou
semelhança de desonestidade. No caso de H. decidir nos apresentar
amanhã como assassinos M. tentará levantar um maya para tornar
boas as suas palavras, e então destruí-las mostrando-o como um
caluniador. Temo que ele esteja certo do ponto de vista de nossas
regras e costumes, que são antieuropéias, confesso. Com exceção do
telegrama, M. nunca escreveu mais de uma carta a Fern; as cinco ou
seis outras cartas com a sua letra procederam do Dugpa que assedia
Fern. Ele espera que nunca estragueis o seu trabalho e que
continuareis sempre um amigo leal e verdadeiro dele, como ele será
de vós. Fern nunca repetirá experiência alguma à maneira de
prestidigitador, pela simples razão de que não lhe serão confiadas mais
cartas.

Eu recebi uma carta do Coronel Chesney e a reponderei em poucos


dias por intermédio de um jovem chela que a entregará aos vossos
cuidados com as minhas respeitosas saudações. Não assustai o
jovem. Foi-lhe ordenado que responda a todas as perguntas que possa
reponder, mas nada mais. De Simla sairá para Budha Gaya e
Bombaim, a negócios, e estará de volta para casa até novembro.

Com sincera amizade,

Seu,

K.H.
Carta Nº 053

(Recebida em 19 de Agosto de 1882).

Esta carta é escrita no dia seguinte àquele em que ele postou a sua
nota anexando a longa carta para Hume.

O Mahatma, ao assumir os "pecados" da Fraternidade, equipara-se a


Warren Hastings, que claramente teve que assumir o impacto de
quaisquer abusos cometidos pela Companhia da Índia Oriental.
Hastings foi o primeiro Governador-Geral da Índia Britânica , que
começou sua carreira como escriturário naquela companhia. Esta é a
"Companhia" a que se refere o comentário do Mahatma. A vigorosa
política de Hastings, de reforma judiciária e financeira reconstruiu o
prestígio britânico na Índia, mas encontrou oposição quando ele voltou
para a Inglaterra. Ele foi acusado por Edmund Burke de graves crimes
e levado a julgamento. Mais tarde, entretanto, foi absolvido.

Estritamente Privada e Confidencial

Meu paciente amigo:

Ontem fiz que vos fôsse enviada pelo correio uma curta nota,
acompanhada de uma longa carta para Hume - eu a fiz registrar em
algum lugar do Correio Central por um amigo feliz e livre; hoje é uma
longa carta para vós, e intencionalmente é acompanhada por um
repicar de jeremiadas, uma triste história de uma confusão que pode
ou não fazer-vos rir, como o faz a esse volumoso Irmão meu, mas que
me faz sentir como o poeta que não podia dormir bem:

"Pois a sua alma conservava demasiada luz

debaixo das suas pálpebras durante a noite".


Ouço-vos murmurar a meia voz: "E agora, o que ele quer do mundo!
Paciência, meu melhor amigo anglo-hindú, paciência; e quando
tiverdes sabido da repreensível conduta deste meu travesso e, mais do
que nunca risonho Irmão, vereis com clareza, porque eu vim a lamentar
que, em vez de provar na Europa do fruto da Árvore do Conhecimento
do Bem e do Mal, não tivesse permanecido na Ásia, em toda sancta
simplicitas (santa simplicidade) da ignorância de vossos modos e
costumes, porque, então, eu também estaria sorrindo agora
ironicamente!

Gostaria de saber o que direis quando souberdes o terrível segredo!


Eu anseio conhecê-lo para me livrar de um pesadelo. Caso me
encontrasseis agora, pela primeira vez, nas sombrias alamedas de
vossa Simla e me exigisse toda a verdade, me ouviríeis dizê-la, quase
toda desfavoravelmente para mim. A minha resposta vos relembraria
em grande parte se fôsseis bastante cruel para repetí-la - a famosa
dada por Warren Hastings ao "cão Jennings" no seu primeiro encontro
com o ex-governador, após o seu retorno da Índia! "Meu caro Hastings"
- perguntou Jennings - "será possível que sois o grande patife que
Burke afirma, e que todo o mundo está inclinado a acreditar? - "Eu
posso vos assegurar, Jennings", foi a triste e suave resposta, "que,
embora algumas vêzes fui obrigado a mostrar-me como um patife para
a Companhia, eu mesmo nunca o fui". Eu sou o W.H. para os pecados
da Fraternidade. Mas, vamos aos fatos.

Naturalmente sabeis, (creio que isso vos foi dito pela V.D.) que quando
tomamos candidatos para chelas, eles assumem o voto de segredo e
silêncio a respeito de toda ordem que possam receber. Deve cada um
mostrar-se apto para o chelado, antes de verificar se está apto para o
adeptado.

Fern está submetido a essa provação; uma bela trapalhada me


prepararam para os dois! Como já sabeis, por minha carta a Hume, ele
não me interessava, nada sabia dele, a não ser de suas extraordinárias
faculdades, seus poderes para a clariaudiência e clarividência e sua
ainda mais notável tenacidade de propósito, forte vontade e outros
etceteras. Durante anos um caráter relaxado e imoral (um Péricles de
taverna com um doce sorriso para cada Aspasia das ruas, ele tinha se
regenerado total e subitamente após filiar-se à Sociedade Teosófica; e
logo M. o tomou seriamente em suas mãos. Não é assunto meu dizer,
mesmo a vós, quanto de suas visões são verdadeiras e quanto são
alucinações, ou mesmo, talvez, ficção. Que ele enganou
consideravelmente o nosso amigo Hume, deve ser certo, pois este me
relata as mais maravilhosas lorotas acerca dele. Mas o pior de todo
este assunto é o seguinte: é indubtável que o enganou tão
completamente, que enquanto que H. não acreditava numa palavra
sequer quando Fern dizia a verdade, quase todas as mentiras de F.
foram aceitas como verdades evangélicas por nosso respeitável
Presidente da Eclética.
Agora compreendereis com facilidade, que é impossível para eu testar
e colocar (H.) no bom caminho, já que F. é um chela de M. e eu não
tenho direito algum, seja legal ou social, de acôrdo com o nosso código,
de interferir entre ambos. Dos vários problemas, contudo, este é o
menor. Outro dos nossos costumes, quando mantemos
correspondências com o mundo exterior, é confiar a um chela a tarefa
de entregar as cartas ou qualquer outra mensagem, e não pensar mais
nisso, a menos que seja, em absoluto, necessário. Com muita
frequência, as nossas próprias cartas, desde que não se trate de algo
muito importante e secreto, são escritas com a nossa caligrafia, pelos
nossos chelas. Assim, no ano passado, algumas das minhas para vós,
foram precipitadas, e quando a doce e fácil precipitação era paralizada,
bem, eu tinha apenas que preparar a minha mente, assumir uma
posição cômoda e pensar, e o meu fiel "Deserdado" apenas que copiar
os meus pensamentos, cometendo muito raramente algum disparate.
Ah, meu amigo! eu levava uma vida muito cômoda até o próprio dia
quando a Eclética veio à sua precária existência...De todo modo, este
ano, por razões que não necessitamos mencionar, tenho que fazer
meu próprio trabalho, todo ele, e isso às vêzes me pesa muito e me
torno impaciente com ele. Como diz Jean Paul Richter em algum
escrito, a parte mais penosa de nossas doenças corporais é aquela
que é incorpórea e imaterial, a saber: a nossa impaciência e a ilusão
de que perdurará para sempre. Tendo-me permitido, certo dia, agir
como se trabalhasse sob tal ilusão, na inocência de minha cândida
alma, confiei o sagrado de minha correspondência nas mãos desse
alter ego meu, o iníquo e "imperioso" tipo, vosso "Ilustre", que fez uso
indevido de minha confiança nele e me colocou na posição em que
estou agora! O bom patife ri desde ontem, e para confessar a verdade,
sinto-me inclinado a fazer o mesmo. Mas, como inglês, temo que
ficareis aterrorizado com a enormidade do seu crime. Sabeis, que,
apesar dos seus defeitos o senhor Hume é absolutamente necessário,
até agora, à Sociedade Teosófica. Fico às vêzes muito irritado pelos
seus sentimentos mesquinhos e pelo seu espírito vingativo; entretanto,
ao mesmo tempo, tenho que suportar as suas debilidades, que o levam
a aborrecer-se consigo mesmo por afirmar, em um determinado
momento, que não é ainda meio dia, em outro, que já é. Mas o nosso
"Ilustre" não é precisamente dessa opinião. O orgulho e o amor próprio
do senhor Hume, deseja, como diz o ditado, que toda a humanidade
tivesse somente dois flexíveis joelhos para fazer-lhe reverência, mas
M. não vai satisfazer o seu capricho. Não fará nada, naturalmente, para
prejudicá-lo, ou preju de maneira deliberada; pelo contrário, pensa
sempre em protegê-lo, como tem feito até agora, mas não levantará
nem um dedo mindinho para lhe devolver o seu crédito.

A substância e o cerne de seu argumento se resume no seguinte:

Hume riu-se e ridicularizou os fenômenos genuinos e verdadeiros,


(cuja produção nos levou quase à desgraça junto ao Chohan) única e
exclusivamente porque as manifestações não foram idealizadas por
ele, nem produzidas em sua honra, ou para o seu único benefício. E
agora, dexai que ele se sinta feliz e orgulhoso das misteriosas
manifetações da sua própria elaboração e criação. Deixai que
esvaneça de Sinnett no fundo mesmo de seu orgulhoso coração,
fazendo até insinuações a outros das quais mesmo ele Sinnett, era
dificilmente poupado. Ninguém tentou jamais uma impostura
deliberada, nem a ninguém se lhe permitiria coisa semelhante. Tudo
foi feito para que fosse seguido o seu curso natural e comum. Fern está
nas mãos de dois sagazes "moradores do umbral", como Bulwer os
chamaria; dois dugpas manejados por nós para fazer o nosso trabalho
de varredores, e fazer aflorar os vícios latentes, (se há algum), dos
candidatos, e Fern tem se mostrado de modo geral, mais moral e muito
melhor do que se supunha. Ele só tem feito o que se lhe ordenou que
fosse feito, e se mantém silencioso porque esse é o seu primeiro dever.
E quanto à sua postura diante de Hume e se pavonear diante de si
mesmo e de outros como vidente, uma vez que ele próprio acreditou
que o fôsse e que são apenas certos detalhes que podem ser
realmente chamados de ficção ou, pondo em termos menos suaves,
de lorotas, não produziu dano senão a si mesmo. Os ciumes e o
orgulho de Hume sempre se levantarão para impedí-lo de engolir a
verdade senão como uma ficção rebuscada e Sinnett é bastante
esperto para separar, com muita facilidade, as realidades e o sonhos
de Fern. Por que, então eu ou vós, ou qualquer outro, conclui M.,
deveria oferecer conselho a alguém que, sem dúvida, não o aceitará,
ou o que seria ainda pior, caso ele se dê conta de que lhe foi permitido
fazer o papel de tolo(?), é ainda mais certo que se torne um
irreconciliável inimigo da Sociedade, da Causa e dos seus sofridos
Fundadores e de todos os demais. Deixai-o, então, estritamente só...
ele não agradecerá por ser desenganado. Ao contrário, ele esquecerá
que ninguém deve ser culpado, a não ser ele mesmo; que ninguém lhe
murmurou jamais um só palavra que pudesse tê-lo levado às suas
ilusões adicionais; mas se voltará ferozmente mais do que nunca
contra esses tipos (Os Adeptos) e os chamará em público de
impostores, jesuitas e fingidores. Vós (eu) deste-lhe um genuino
fenômeno pucka0 e isso deveria satisfazê-lo quanto a existência de
tudo mais.

Tal é o raciocínio de M. e não estivese eu indiretamente envolvido no


quid pro quo, seria também o meu. Mas, agora, devido às maquinações
desse pequeno e hipócrita traquina, Fern, vejo-me obrigado a vos
incomodar, para pedir um conselho amistoso, já que nossos modos
não são os vossos e vice-versa.

Mas agora vêde o que me ocorreu. Hume tem recebido ultimamente


muitas cartas minhas e eu espero que compartilhareis comigo a sorte
e os diferentes destinos de três delas, desde que ele começou a
recebê-las de uma maneira direta. Tentai, também, compreender bem
a situação e assim avaliar a minha posição.

Dado que tínhamos três chelas em Simla - dois regulares e um


irregular, o candidato Fern, eu tive a infeliz idéia de poupar energia, de
economizá-la, como se eu tivesse uma "associação de Poupanca".
Para dizer a verdade, procurei separar, tanto quanto fosse possível,
sob as circunstâncias, a suspeitada "Sede Central" de qualquer
fenômeno que se produzisse em Simla e, portanto, da correspondência
trocada entre o senhor Hume e eu. A menos que H.P.B., Damodar e
Deb, estivessem completamente desentrosados, não haveria maneira
de se dizer o que poderia ou não ocorrer. A primeira carta (encontrada
na estufa) eu a dei para Morya para que mandasse deixá-la na casa
do senhor Hume por intermédio de um dos dois chelas regulares. Ele
a entregou a Subba Row, pois este tinha que vê-lo nesse dia; S.R.
enviou-a da maneira comum (colocou-a no correio) para Fern, com
instruções para deixá-la na casa do senhor Hume ou enviá-la para ele
pelo correio, no caso que temesse que este lhe fizesse perguntas, já
que Fern não podia, não tinha o direito de responder-lhe e dessa
maneira seria induzido a dizer uma mentira. Várias vêzes D. Kh.11
tentou penetrar no Castelo de Rothneyl, mas sofreu tão agudamente
em cada ocasião, que eu lhe disse para desistir. (Ele está se
preparando para a iniciação e poderia fracassar, com facilidade, em
consequência disso).

Bem, Fern não a colocou no correio, mas mandou um amigo seu,


dugpa, para que a deixasse na casa e este a pôs na estufa por volta
da 2 horas da madrugda. Isto foi a metade de um fenômeno, mas H.
considerou totalmente como um fenômeno e ficou muito furioso quando
M. recusou, segundo ele, receber a sua resposta mediante o mesmo
procedimento. Então lhe escrevi para consolá-lo e lhe dise, com tanta
franqueza como pude, sem quebrar a confiança de M., em relação a
Fern, que D.K. não podia fazer nada por ele, no momento, e que havia
sido um dos chelas de Morya quem pôz a carta ali, etc., etc. Eu creio
que a insinuação era bastante ampla e que não se praticava nenhum
engano. Parece-me que a segunda carta foi lançada em sua mesa por
Dj. Khool (a grafia de seu nome é Gjual, mas não assim foneticamente)
e como foi feito por ele mesmo, foi um fenômeno pucka ortodoxo e
Hume não tem porque se queixar. Algumas cartas lhes foram enviadas
de vários modos e ele pode estar seguro de uma coisa: apesar dos
meio comuns pelos quais as cartas lhe chegaram, não poderiam ser,
senão "fenomenais" ao chegar na Índia vindas do Tibet. Mas isso não
parece ser levado de modo algum em consideração por ele. E agora
chegamos, a parte realmente má disso, pela qual culpo inteiramente a
M. por permití-la e isentar a Fern que não podia evitá-la.

Naturalmente compreendei que vos escrevo isso em estrita


confidência, confiando na vossa honra que, aconteça o que acontecer,
não traireis a Fern. Na verdade (e eu examinei a questão com muita
atenção) o moço veio a se tornar culpado de uma impostura deliberada
e jesuítica, mais devido aos constantes insultos, atitudes suspeitas e
nas premeditadas desfeitas durante as refeições e durante as horas de
trabalho, do que por quaisquer motivos decorrentes das suas relaxadas
noções de moralidade. Então, as cartas de M. (trabalho de um amável
dugpa, na realidade de um ex-dugpa cujos pecados do passado não
lhe permitirão jamais resgatar plenamente as suas más ações) dizem
distintamente "faça isso ou aquilo ou deste modo"; eles o tentam, e
levam-no a imaginar que, quando não se faz danos a qualquer ser
humano e quando o motivo é bom, toda ação se torna justa! Eu fui
assim tentado na minha juventude, e quase sucumbi duas vezes a
tentação, mas fui salvo pelo meu tio de cair nessa monstruosa
armadilha; e assim aconteceu com o Ilustre que é um ocultista pukka
ortodoxo e adere religiosamente às velhas tradições e métodos; e isso
teria ocorrido com qualquer um de vós, tivesse eu consentido em
aceitar-vos como chelas. Mas como eu estava desde o início ciente do
que confessastes em uma carta a H.P.B. isto é, que havia algo
sumamente repugnante para a melhor categoria de mentes européias
na idéia de ser posto em prova, de estar sob provação; em
consequência sempre evitei aceitar a oferta feita com frequência pelo
senhor Hume para se tornar um chela. Talvez isso possa vos dar a
chave de toda a situação. Entretanto, isto é o que ocorreu: Fern havia
recebido uma carta minha, por meio de um chela, com a condição de
fazê-la chegar de imediato ao seu destino. Eles iam fazer o desjejum,
e não havia tempo a perder. Fern tinha jogado a carta numa mesa e
deveria tê-la deixado ali, já que não havia, então, motivo algum para
ele mentir. Mas ele estava irritado com H. e idealizou outra evasiva.
Colocou a carta nas dobras do guardanapo do senhor Hume, que, ao
segurá-lo, na hora do desjejum, a carta caiu acidentalmente no chão,
ficando à vista, para o que parece deu terrível susto de "Moggy",
surpreendendo alegremente a Hume. Mas, surgindo-lhe novamente a
sua crônica desconfiança (que sempre abrigou desde que lhe escrevi
que a minha primeira carta foi transportada até dentro da estufa por um
dos chelas de M., e que o meu chela pouco podia fazer, embora ele
tivesse visitado invisivelmente cada parte da casa antes). Hume olhou
com firmeza para Fern e perguntou-lhe se tinha sido ele que a colocara
ali. Tenho diante de mim, agora, toda a imagem do cérebro de Fern
naquele momento. Houve um rápido lampejo em sua mente: "isto me
salva...porque posso jurar que nunca a puz ali" (significando o local em
que havia caido no solo). "Não", respondeu com audácia, "eu nunca a
puz ALI" - acrescentou, mentalmente. Depois, uma visão de M. e um
sentimento de intensa satisfação e alívio por não haver sido culpado
de uma mentira direta; confusas imagens de alguns jesuitas que havia
conhecido, do seu filhinho - um pensamento desconexo do seu quarto
e clarões no jardim do Sr. H., etc. - nenhum pensamento de auto-
engano! Na verdade o nosso amigo foi agarrado ainda que só uma vez,
mas eu pagaria qualquer preço para recordar o episódio e recolocar a
minha carta com a mensagem de outra pessoa. Mas podeis ver em que
situação me encontro. M. me diz que me dá carta branca para que vos
diga tudo o que eu deseje; não quer que eu diga nem uma palavra a
Hume, e nunca ele vos perdoaria, diz ele, se interviésseis o castido
orgulho de Hume e o seu destino. Fern realmente não deve ser culpado
por pensar que, desde que o resultado se cumpra os detalhes não
importam, já que foi educado em tal escola, e que, na realidade, deseja
de coração o bem da Causa; enquanto que, no caso de Hume, o único
e principal poder motivador é, na verdade, um egoismo bona fide;
"Filântropo egoita", é o termo que pinta o seu retrato de corpo inteiro.

Agora, quanto ao Coronel Chesney: dado que, segundo parece, foi real
e sinceramente bastante bondoso para se discernir algo nos contornos
do semblante de vosso pobre e humilde amigo, uma impressão obtida,
muito provavelmente, mais das profundidades da sua imaginação do
que de uma presença real de uma expressão semelhante àquela
elaborada, por Dj. Khool ou M., o primeiro sentiu-se sumamente
estimulado e solicitou a minha permissão para precipitar outro retrato
semelhante para o Coronel Chesney. Como é natural, foi concedida a
permissão, ainda que eu me risse da idéia e M. disse a D.K. que o
Coronel também iria se rir do que suspeitaria fôsse vaidade minha. Mas
D.K. insistiu em fazê-lo e solicitou, então, permissão para entregá-lo
pessoalmente ao Coronel Chesney, o que lhe foi negado pelo Chohan,
que o repreendeu. Mas o retrato foi terminado em três minutos depois
que eu consenti e D.K. pareceu enormemente orgulhoso com a obra.
Disse (e me parece ter razão) que a semelhança é a melhor das três.
Bem, foi enviado da maneira habitual via Djual Khool, Deb e Fern;
naquela ocasião H.P.B. e Damodar estavam em Poona, M. estava
treinando e testando Fern para um fenômeno (naturalmente um
fenômeno autêntico) para que Fern pudesse produzir uma
manifestação pukka na casa do Coronel Chesney; mas, enquanto Fern
jurava que necessitava só de três mêses de preparação, M. sabia que
ele nunca estaria pronto para esta estação do ano - nem, penso eu,
para o próximo ano. De qualquer modo, confiou a Fern o novo retrato,
repetindo que seria melhor que o remetesse pelo correio, pois se o
Coronel soubesse que Fern tinha tido algo a ver com o mesmo, se
mostraria incrédulo quanto a sua produção por precipitação. Mas D.K.
queria entregá-lo de imediato, e enquanto o coronel (como ele dizia)
"tinha ainda o Mestre vívido em sua mente", mas Fern o orgulhoso
jovem tolo, responde - "Não, antes que eu faça alguma coisa em
relação ao "pacote", eu tenho que estudá-lo (o Coronel Chesney) mais
plenamente!! Eu quero, nesta ocasião, obter os mais altos resultados
possíveis na primeira tentativa. Pelo que vi do autor da "Batalha de
Dorkinng" não pude me convencer a respeito dele...Meu pai me disse
que eu deveria ser os "seus olhos" e "ouvidos" (por não ter sempre
tempo) e eu devo averiguar a pessoa com que temos de tratar"!!

Nesse intervalo, eu, temendo que "mestre" Fern podia, talvez, colocar
o retrato nas dobras do guardanapo do Cel. Chesney e produzir alguma
manifestação "espiritual com o seu pé" - eu vos escrevi, de Poona, por
intermédio de Damodar, dando-vos uma sugestão muito ampla, eu
creio, que naturalmente só compreendestes agora. Entretanto, na
manhã de ontem, D.K. veio e me contou que Fern ainda tinha o retrato,
e temia que algum truque fôra ou poderia ser executado. Então, de
imediato tirei de sua apatia o meu Irmão demasiadamente indiferente.
Mostrei-lhe como era perigosa a situação deixada nas mãos de um
rapaz inescrupuloso, cujo sentido de moralidade estava mais
embotado ainda pelas experiências da "provação" e pelo engano que
ele considerava quase como justo e permissível, e por fim o impulsionei
à ação. Foi enviado um telegrama a Fern, desta vez na própria escrita
de M. das Províncias Centrais (parece ter sido de Bussawal, onde vive
um chela), ordenando a Fern que remetesse, de imediato, por correio,
para o endereço do Coronel Chesney, o pacote que retinha, e Fern o
recebeu ontem pela manhã, como vi, de acôrdo com o nosso horário
(terça-feira 22). E assim, quando receberdes notícia dele, sabereis toda
a verdade.

Eu proibi estritamente que minhas cartas ou qualquer coisa relacionda


com meus assuntos jamais sejam dadas a Fern. Assim, tanto o senhor
H. como vós mesmo ou qualquer outra pessoa em Simla poderá ter a
minha palavra de honra, de que Fern não terá nada mais a ver com os
meus assuntos. Mas, meu muito querido amigo, deveis prometer-me
com lealdade e para o meu bem, de jamais sussurrar uma palavra a
ninguém do que vos disse e menos ainda a Hume ou a Fern; a menos
que este vos obrigue com os seus embustes, deveis detê-lo, nesse
caso podieis fazer uso do que vos pareça apropriado para forçá-lo,
assim a calar-se, nunca deixando que ele saiba como e de quem
soubestes isso. Além disso, usai o conhecimento com o vosso
discernimento. Lêde com atenção minha carta, registrada e enviada
ontem de Bussawal para o vosso nome ou seja, a minha carta para
Hume, e pensai bem antes de remetê-la para ele, porque essa carta
poderá provocar-lhe um ataque de fúria e de orgulho ferido, e fazer
com que abandone imediatamente a Sociedade.

Melhor conservá-la como recurso para uma futura emergência, para


provar-lhe que, pelo menos, eu sou um dos que não permitirão mesmo
aos meus inimigos que sejam vencidos por meio de recursos injustos:
Assim julgo, ao menos, os meios que o Sr. Fern parece muito propenso
para usar. Mas acima de tudo, meu bom e fiel amigo, não vos permitai
interpretar mal a verdadeira posição da nossa Grande Fraternidade.
Escuros e tortuosos como podem ser vistos pela vossa mente
Ocidental os caminhos trilhados, e os meios pelos quais nossos
candidatos são trazidos à grande Luz - sereis o primeiro a aprová-los
quando conhecerdes a todos. Não julgueis pelas aparências - pois
podereis cometer um grande engano, e perder as vossas chances
pessoais de aprender mais. Apenas sêde vigilante e - observai. Caso
o Sr. Hume apenas consinta em esperar, ele terá mais e mais
fenômenos extraordinários para silenciar os críticos do que até agora
ele têve. Exercitai a vossa influência sobre ele. Lembrai-vos que em
Novembro vem a grande crise, e Setembro será cheio de perigos.
Salvai, pelo menos, as nossas relações pessoais do grande desastre.
Fern é o mais excêntrico tipo psicológico que eu já encontrei. A pérola
está dentro e, na verdade escondida profundamente na concha pouco
atrativa da ostra. Não podemos rompê-la imediatamente, nem
podemos perder essas pessoas. Enquanto vos protegeis - protegei-o
em relação a Hume. Geralmente eu nunca confio numa mulher mais
do que confiaria num eco; ambas são do gênero feminino porque a
Deusa Eco, como mulher, terá sempre a última palavra. Mas com a
senhora é outra coisa e creio firmemente que podeis lhe confiar o que
anteriormente foi dito, caso julgueis conveniente. Mas tende cuidado
com a pobre senhora Gordon, uma excelente dama mas, ao falar,
mataria a própria Morte. E agora terminei.

Sempre sinceramente seu,

K.H.

Não o considerai como elogio, mas creia-me quando digo que vossas
duas Cartas e em particular "A Evolução do Homem" são simplesmente
ESPLÊNDIDAS. Não temais em incorrer em contradições e
inconsistências.

Digo novamente - fazei anotações delas e enviai-as para mim e vereis.

Rogo-vos, bondoso senhor, trancai a tola carta enviada ontem para o


Sahib Hume, dentro do seu baú e deixai que ela ali fique recolhida até
que seja necessária. Digo-vos que criaria discórdias e nada de bom.
K.H. é demasiadamente sensitivo em sua sociedade ocidental, está se
tornando uma senhorita tradicional.

Vosso,

M.
Carta Nº 054

Recebida em Simla, Outubro de 1882.

Esta carta, escrita em Phari Jong, um mosteiro grande no Tibet, junto


à fronteira com o Sikkim na rota para Lhasa, é a mencionada na Carta
nº.91 como tendo sido escrita "por partes". É interessante que a carta
original abrange 17 folhas de papel em tamanho normal. Parece
provável que foi ditada mentalmente a um chela e, então, precipitada,
se a proibição deste método de comunicação já tivesse sido suspensa
na ocasião. Sabe-se que foi suspensa em determinada ocasião, mas
não se sabe exatamente quando. O método geralmente resultava em
mais correções e nesta carta algumas palavras foram apagadas, outras
corrigidas e outras riscadas.

O parágrafo inicial refere-se à renuncia de Hume como Presidente da


Sociedade Teosófica Eclética de Simla.

Meu querido amigo:

A deposição e abdicação do nosso grande "Eu sou", é para o seu


humilde servidor, um dos mais agradáveis acontecimentos da
temporada. Mea Culpa! Exclamo e ponho, por minha própria vontade,
minha cabeça debaixo de uma chuva de cinzas (dos charutos de Simla
se quizerdes) pois foi obra minha. Algo de bom resultou disso sob a
forma de excelentes trabalhos literários (ainda que na verdade eu
prefira o vosso estilo), para a Sociedade Matriz, mas sequer nenhum
para a desamparada "Eclética". O que ele fez por ela? Ele se queixa
numa carta a Shishir Koomar Gosh (da A. B. Patrika), que, devido aos
seus incessantes esforços (de Hume), ele havia "quase convertido"
Chesney para a Teosofia "quando o grande espírito anti cristão do
"Teosofista" rechaçou o Coronel com violência. Isto é o que nós
podemos chamar de alterar os fatos históricos. Estou vos remetendo a
última carta que ele me enviou, na qual ireis vê-lo por inteiro, sob a
influência de seu novo gurú "o bom Swami Vedantino" (que se oferece
para ensinar-lhe a filosofia Adwaita com um Deus incluido, para
melhorá-la) e o espírito de Sandaram. Seu argumento é, como vereis;
que, em todo caso, aprenderá algo com o "bom velho Swami",
enquanto que conosco é impossível "aprender coisa alguma". Eu não
lhe dei, nunca, a certeza de que todas as cartas não surgissem do fértil
cérebro da "Velha Dama" (H.P.B.). E acrescenta, mesmo agora,
quando obteve a certeza subjetiva de que nós somos entidades
distintas de Mad. B.: "eu não posso dizer quem sois; poderíeis ser Djual
Kool, ou um espírito do elevado plano Oriental", etc.; e assim por
diante. Na carta incluida diz que nós "podemos ser tantrikos" (é melhor
averiguar o valor de cumprimento feito), e ele está se preparando, sim,
está completamente preparado - para mergulhar do extremo
Adwaitismo no teismo transcedental, uma vez mais. Amen. Entrego-o
ao Exército da Salvação.

Não gostaria, porém, de vê-lo cortando de todo a sua ligação com a


Sociedade; primeiro, pelo seu próprio mérito intrínseco como escritor e
depois, porque poderíeis estar seguro de ter um inimigo infatigável,
ainda que secreto, que passaria o seu tempo escrevendo, de modo
incisivo, contra a Teosofia, denunciando tudo e todos na Sociedade
para qualquer pessoa fora dela, e fazendo-se desagradável de mil
modos. Como já disse uma vez, pode parecer que ele perdoa, sendo
precisamente o tipo de homem que se ilude a si mesmo diante do seu
próprio reflexo no espelho como possuidor de uma magnânima
clemência, mas, na realidade, nunca perdoa ou esquece. Foi uma
notícia agradável para M. e para todos nós saber como fostes eleito
Presidente, unânime e tranquilamente, e todos nós, "mestres" e chelas
saudamos de modo caloroso e fraternal a vossa ascenção ao posto;
um fato consumado que nos reconcilia com as tristes e humilhantes
notícias de que o senhor Hume expressou a sua total indiferença para
os chelas e mesmo para os seus Mestres, acrescentando que
tampouco lhe interessava conhecê-los. Mas já disse bastante dele, que
melhor pode ser descrito nas palavras do provérbio Tibetano:

"Como a ave noturna: de dia um gracioso gato, nas trevas um


asqueroso rato".

Uma palavra de advertência - um sério conselho vindo de nós dois: não


confieis no pequeno Fern; cuidado com ele. A sua plácida serenidade
e seus sorrisos quando fala convosco das "suaves repreensões
temperadas com misericórdia", e de que é preferível ser repreendido
do que ser despedido, são todas fingidas. Sua carta de penitência e
arrependimento para M., que vos enviou para que a guardeis, não é
sincera. Caso não o vigiardes de perto, embaralhará as coisas, de tal
maneira que pode conduzir a sociedade à ruina, pois fez um grande
juramento a si mesmo: de que a Sociedade cairá ou se levantará com
ele.

Se fracassa de novo, no próximo ano, apesar de todos os seus grandes


dotes, como pode um incurável e pequeno jesuíta mentiroso como este
deixar de falhar? Fará tudo o que puder para fazer cair a Sociedade
com ele, ao menos no que se refere à crença nos "Irmãos". Trate de
salvá-lo, se possível, meu queridíssimo amigo; façai o que puderdes
para devolvê-lo à verdade e ao altruismo. É uma verdadeira lástima
que esses dons sejam afogados num lodaçal de vício, tão fortemente
implantado nele por seus primitivos instrutores. Entretanto, tomai
cuidado a fim de que ele não veja nunca nenhuma das minhas cartas.

E agora, quanto a Massey e as vossas cartas: tanto a resposta como


a réplica são excelentes. Sem dúvida que um homem mais sincero e
veraz, ou mais nobremente disposto (sem excetuar a S. Moses)
dificilmente poderia ser achado entre os teósofos britânicos. Seu único
e principal defeito é: debilidade. Caso ele se desse conta algum dia de
quão erroneamente julga mal H.P.B., nenhum homem se sentiria mais
miserável do que ele por causa disso. Mas isso fica para mais adiante.
Se recordais, em minha carta a H. acerca do assunto, eu "proibia todos
os arranjos", pela simples razão de que a Sociedade Teossófica
Britânica afundou e não existia mais virtualmente. Mas, se bem me
recordo, acrescentava que, se eles a restabelecessem sobre uma base
firme, com membros tais como a senhora K. e seu escriba, não
teríamos objeções de ensiná-los por vosso intermédio, foi isso que
escrevi.

Certamente objetei em ver as minhas cartas impressas e circulando


como as de Paulo nos bazares de Éfeso, para o benefício (ou para
escárnio ou crítica) de alguns membros isolados que dificilmente
acreditavam na nossa existência. Mas eu não tenho objeção, no caso
de um arranjo como foi proposto por C.C.M. Somente deixai-os
primeiro se organizar, excluindo, estritamente fanáticos como Wyld5.
ele se negou a admitir a irmã do senhor Hume, a senhora B. porque,
não tendo visto nenhum fenômeno mesmérico, não acreditava no
mesmerismo; e recusou a admitir Crookes, recomendado por C.C.M.
segundo me foi contado. Eu nunca recusarei minha ajuda e
cooperação a um grupo de homens sinceros e ardorosos por aprender,
mas se de novo se admite homens tais como o senhor Hume, homens
que em geral se deleitam em representar em cada sistema organizado
em que conseguiu entrar, os papéis desempenhados por Typhon e
Ahriman nos sistemas Egípicio e Zoroastrita, então é melhor que se
deixe de lado o plano. Eu temo o surgimento impresso de nossa
filosofia tal como a expõe o senhor Hume. Li os seus três ensaios
acerca de Deus (?), cosmogonia e vislumbres da origem em geral das
coisas e tive que riscar quase tudo. Ele nos converte em Agnósticos.

"Nós não cremos em Deus porque até agora não temos provas, etc."
Isto é ridiculamente absurdo; se ele publica o que eu li, terei que fazer
que H.P.B. ou Djual Khool neguem tudo, pois não posso permitir que a
nossa sagrada filosofia seja desfigurada deste modo. Ele diz que as
pessoas não aceitariam toda a verdade; a não ser que nos
adaptássemos a elas dando-lhes a esperança de que deve haver um
"Pai amante no céu, criador de tudo", a nossa filosofia seria rechaçada
a priori. Nesse caso, quanto menos ouçam de nossas doutrinas tais
idiotas, tanto melhor será para ambas as partes. Se não querem toda
a verdade e nada mais do que a verdade, são benvindos. Mas jamais,
em nenhum caso, nos acharão admitindo compromissos com os
preconceitos públicos e fomentando-os. Chamai a isso "sincero e
honesto" do ponto de vista Europeu? Lêde a carta dele e julgai. A
verdade é, meu querido amigo, que, não obstante a grande onda de
misticismo que está afetando agora a um setor das classes intelectuais
da Europa, o público ocidental apenas aprendeu a reconhecer, aquilo
que denominamos de sabedoria no seu mais elevado sentido. Até
agora no mundo só se reconhece como verdadeiro sábio aquele que
mais habilmente conduz os negócios na vida, de modo que possa
produzir o maior rendimento material, honrarias ou dinheiro. A
qualidade da sabedoria sempre foi e será negada por muito tempo (até
o fim da Quinta Raça) a quem busca a riqueza da mente para o seu
próprio benefício e para o seu próprio gozo e resultado, sem o
propósito secundário de aproveitá-lo para a realização de benefícios
materiais. Para a maioria de vossos compatriotas, adoradores do ouro,
nossos fatos e teoremas serão considerados como fantásticas
divagações, sonhos de loucos. Deixai que os Fragmentos e mesmo as
vossas próprias e magníficas Cartas (publicadas agora no Light) caiam
nas mãos e sejam lidas pelo público em geral, sejam eles materialistas,
teístas ou cristãos, e eu aposto dez por um, que cada leitor comum
franzirá os seus lábios num esgar de zombaria com este comentário:
"tudo isto pode ser muito profundo e instrutivo, mas qual é a sua
utilidade para a vida prática? - e tirará as Cartas e Fragmentos, do seu
pensamento, uma vez por todas.

Mas agora a vossa posição para com C.C.M. parece mudar e estais
atraindo-o gradualmente. Ele anseia, com sinceridade, submeter-se a
outra prova no Ocultismo e está "aberto à convicção"; não devemos
decepcioná-lo. Mas eu não posso me comprometer em proporcionar,
nem a eles nem a vós mesmo, novos fatos, até que tudo o que dei seja
posto em forma desde o começo, (vêde os Ensaios do Senhor Hume)
e ensinados a eles sistematicamente, e por eles aprendidos e
digeridos. Estou agora respondendo as vossas numerosas séries de
questões - científicas e psicológicas - e tereis bastante material para
um ano ou dois. Naturalmente eu estarei sempre pronto para novas
explicações, e portanto para adições inevitáveis, mas recuso, de modo
positivo, ensinar qualquer outra coisa antes que tenham compreendido
e aprendido tudo que já foi dado. Nem quero que imprimais qualquer
coisa das minhas cartas, a menos que anteriormente já editadas por
vós e colocadas na devida forma. Não disponho de tempo para
escrever "ensaios" completos, nem se extende tão longe a minha
habilidade literária para isso.

E o que dizer, da mente de C.C.M. tão cheia de preconceitos contra o


autor de Isis e contra nós, que ousou tentar introduzir Englington10 nos
sagrados recintos da S. T. B. (Sociedade Teosófica Britânica) e a
chamar + de "Irmão"1? Não serão os nossos pecados e trangressões
combinados, "de um ponto de vista europeu" um grave obstáculo no
caminho para uma confiança mútua e não conduzirão a intermináveis
suspeitas e má interpretações?

Não estou preparado agora, para proporcionar aos teósofos britânicos


a prova da nossa existência em carne e osso, ou de que não sou de
todo o "cúmplice" de H.P.B., pois tudo isso é questão de tempo e de
Karma. Mas, mesmo supondo que seja muito fácil provar o primeiro,
seria bem menos fácil negar com provas o último. Um "K.H.", isto é, um
mortal de aparência muito comum e familiarizado toleravelmente bem
com a filosofia inglesa, vedanta e budista e até um pouco com as
imposturas de salão, pode ser encontrado facilmente e apresentado
para demonstrar a sua existência objetiva muito além de toda dúvida
ou cavilação. Mas como dar a certeza positiva e moral de que o
indivíduo, que assim possa fazer a sua aparição não é um falso K.H.,
um "cúmplice" de H.P.B.? Saint Germain e Cagliostro, ambos
cavalheiros da mais elevada educação e realizações (e
presumivelmente europeus e não "negro" da minha espécie) não foram
julgados naquele tempo e ainda o são pela posteridade como
impostores, cúmplices, prestigitadores e assim por diante? Entretanto,
estou obrigado a levar a tranquilidade à mente de C.C.M. (mediante a
vossa amável intervenção) com respeito à sua crença de que H.P.B. o
enganou e se impôs sobre ele. Ele parece pensar que obteve provas
absolutamente irrecusáveis disso. Eu digo que ele não as tem. O que
ele obteve foi simplesmente a prova da vilania de alguns homens e ex-
teosofistas como Hurrychung Chinyamon, de Bombaim, e agora de
Manchester e de outras partes; o homem que roubou dos Fundadores
e Dayanand 4.000 rupias, enganou-os e se impôs a eles desde o
princípio (desde o tempo de Nova Iorque); e então descoberto e
expulso da Sociedade, fugiu para a Inglaterra e está desde então,
sedento de vingança. E outro semelhante é o Dr. Billing; o esposo
dessa boa e honesta mulher, a única médium realmente digna de
confiaça e honesta que eu conheço, a senhora M. Hollis - Billing, com
quem ele se casou pelos seus milhares de libras, e a arruinou no
primeiro ano de sua vida matrimonial e caiu em concubinato com outra
médium, e quando foi repreendido com veemência por H.P.B. e Olcott,
abandonou a sua esposa e a Sociedade e se voltou com amargo ódio
contra ambas as mulheres; desde então, sempre está buscando
envenenar, em segredo, as mentes dos teódofos britânicos e dos
espíritas contra a sua esposa e H.P.B. Que C.C.M. reuna todos esses
dados, esquadrinhe o mistério e encontre a ligação entre os seus
informantes e os caluniadores das duas inocentes mulheres. Que ele
investigue completa e pacientemente, antes que acredite em certos
relatos (e mesmo provas apresentadas) a menos que ele
sobrecarregue o seu karma com um pecado maior do que todos os
outros.

Não há pedra que esses dois homens deixassem sem virar a fim de
alcançarem os seus maléficos propósitos. Hurrychund Chintamon
nunca deixou durante os três anos passados, de atrair para a sua
intimidade a cada teósofo que encontrou, vertendo nos seus ouvidos
falsas notícias procedentes de Bombaim, acerca da fraude dos
Fundadores; e difundir informes entre os espíritas acerca dos
pretendidos fenômenos de Mad. B. mostrando-os todos como simples
"truques descarados", alegando que ela não tem idéia, na realidade,
dos poderes da ioga; ou, outras vêzes, mostrando cartas dela,
recebidas por ele enquanto ela estava na América e, nas quais ela o
aconselha que pretenda ser um "Irmão" e assim enganando melhor os
teósofos ingleses; enquanto H.C. está fazendo tudo isso e muito mais,
Billing está "trabalhando" os místicos londrinos. Apresenta-se diante
deles como sendo uma vítima de sua extrema confiança em uma
esposa a qual descobriu ser uma médium falsa e enganadora, ajudada
e sustentada nisso por H.P.B. e H.S.O.; queixa-se do seu cruel destino
e jura por sua honra (!) que a abandonou somente porque descobriu
que era uma impostora, e sua honestidade se revoltava ante tal união.
Assim pois é, baseando-se na força e na autoridade das informações
de tais homens e pessoas demasiado crédulas que crendo neles, os
ajudam, que C.C.M. chegou a negar e a repudiar, gradualmente, o
desfigurado substituto que lhe foi imposto sob a figura de H.P.B. Creia-
me, não é assim. Se ele vos diz que foi mostrada uma prova
documentária, diga-lhe que pode ser falsificada com facilidade (como
qualquer outro documento) uma carta que tinha a sua própria letra e
assinatura, a qual, se colocada nas mãos da lei o levaria em 24 horas,
ao banco dos criminosos. Um homem que, em um falso testamento, foi
capaz de fasilficar a firma do testamenteiro, tomando a mão do morto
com uma pena nela, guiando-a sobre os traços da assinatura já escrita,
para propiciar às testemunhas a oportunidade de jurarem que tinham
visto o homem assiná-lo - estará pronto para fazer um trabalho mais
sério do que simplesmente caluniar um forasteiro impopular.

Quando H. Ch., ferido pelo seu desmascaramento e resolvido a se


vingar, chegou há três anos de Bombaim, C.C.M. não quiz recebê-lo,
nem vê-lo, nem escutar a sua justificação, pois Dayanand (a quem ele
reconhecia e aceitava, então, como seu chefe espiritual) o havia
prevenido que não se comunicasse com o ladrão e traidor. Então foi
quando este último e C. Carter Blake, o jesuíta expulso da Sociedade
por caluniar na Pall Mall Gazette o Swami e Hurrychund) se tornaram
firmes amigos. Durante mais de dois anos, Carter Blake havia movido
céu e terra para conseguir ser readmitido na Sociedade, mas H.P.B. se
transformou numa muralha chinesa contra tal readmissão. Os dois ex-
membros fizeram as pazes, juntaram a suas cabeças e trabalharam
desde então no mais encantador acôrdo. Daí surgiu o inimigo secreto
número 3.

A devoção de C.C.M. era um obstáculo para os seus propósitos e se


puseram de acôrdo para quebrar o objeto de tal devoção, H.P.B.,
debilitando a sua confiança nela. Billing, que jamais podia esperar obter
êxito nesse sentido, pois C.C.M. o conhecia demasiadamente bem por
haver defendido legalmente a sua arruinada e abandonada esposa,
conseguiu despertar as suas suspeitas contra a senhora Billing como
médium e contra a sua amiga H.P.B. que a havia defendido e apoiado
contra ele. Assim estava o solo bem preparado para receber qualquer
espécie de erva daninha. Então veio, como um raio, o inesperado
ataque do Swami contra os Fundadores, tornado-se um golpe mortal
na amizade de C.C.M. Como o Swami tinha sido apresentado por ela
a eles como um alto chela, um iniciado, C.C.M. imaginou que ele nunca
o fôra e que em seu desorientado zêlo para impulsionar a causa, H.P.B.
havia enganado a todos! Depois da confusão de abril, os inimigos dele
e de H.P.B. fizeram dele uma fácil presa. Vêde "Light"; comparai datas
e os diversos ataques, cuidadosos e encobertos. Observai a hesitação
de C.C.M. e, então, seu repentino ataque contra ela. Não podeis ler
entre a linhas, amigo?

E quanto a S. Moses? Ah! ele, pelo menos, jamais é homem que diga
uma falsidade deliberada, e muito menos, repita uma caluniosa
informação. Ele, ao menos, como C.C.M., é um cavalheiro dos pés à
cabeça e um homem honesto. Bem, e o que há com isso? Esqueceis
a sua profunda, sincera irritação conosco e com H.P.B., na condição
de Espírita, o vaso escolhido, eleito por Imperator? C.C.M. está na
ignorância a respeito das leis e mistérios da mediunidade e é seu firme
amigo. Tomai outra vez Light e vêde quão claramente cresce a sua
irritação e se torna mais em suas Notes By The Way. Ele interpretou
de modo totalmente errado, ou melhor, as citações (seguidas sem
explicações) de uma carta minha dirigida a vós, que, por sua vez,
nunca compreendeu corretamente a situação. O que eu então disse
agora repito: - Há um abismo entre os graus mais altos e baixos dos
Planetários (em resposta à vossa pergunta - É + um Espírito
Planetário?) e, então, a minha afirmativa: "+ é um "Irmão". Mas o que
é um "Irmão", na realidade, sabeis? Em relação ao que H.P.B.
acrescentou, talvez, das profundezas da sua própria consciência, eu,
não sustento; porque ela não sabe, em absoluto, nada de certo acerca
de + e, com frequência, "sonhando sonhos" extrai deles as suas
próprias e originais conclusões. Reultado: S.M. nos julga impostores e
mentirosos, a não ser que sejamos apenas uma ficção, em cujo caso
a amabilidade se volta para H.P.B.

Agora quais são os fatos e as acusações contra H.P.B.? Muitos são os


pontos sombrios contra ela na mente de C.C.M., e cada dia eles se
tornam mais negros e feios. Eu vos darei um exemplo. Quando estava
em Londres, na casa dos Billings, Jan. 1879, H.P.B., que tinha
produzido um vaso de porcelana debaixo da mesa, foi solicitada por
C.C.M. que lhe desse algum objeto também produzido
fenomenalmente. Consentindo ela produziu um pequeno estojo de
baralho, como os que são talhados em Bombaim, o qual apareceu no
bolsinho do sobretudo dele, que estava dependurado no salão. Dentro
- (na ocasião ou mais tarde, ao entardecer) foi achada uma tirinha de
papel com o facsimile da assinatura de Hurrychund C. Nessa ocasião,
nenhuma suspeita entrou na sua mente, pois não havia lugar para ela.
Mas agora, vêde que ele crê que foi, senão totalmente um ardil, de
qualquer modo uma semi fraude. Por que? Porque naquele tempo
acreditava que H.C. era um chela, se não um grande adepto, como foi
sugerido e levado a supor por H.P.B., e agora sabe que H.C. nunca foi
um chela, pois ele mesmo o nega; que nunca possuiu poderes; que
nega qualquer conhecimento deles ou crença nos mesmos, e que diz
a todos que nem mesmo Dayanand jamais foi um iogue, apenas
simplesmente um "impostor ambicioso" como Mohamet. Em resumo:
tantas mentiras trazidas e deixadas na porta dos Fundadores. E depois
as cartas dela e os relatos de testemunhas fidedignas de sua
confabulação com a senhora Billing. Em consequência: confabulação
entre ela e Eglinton; provam que ela é, em todo caso, uma
supermaquinadora, uma enganadora, um caráter astuto; ou isso, ou
uma visionária lunática, uma médium obsedada! Lógica ocidental,
européia. As cartas? Muito fácil alterar as palavras, e daí confundir todo
o sentido de uma frase nas mesmas. Assim também com as cartas
dela ao Swami, que este traduz com liberdade, cita e comenta na parte
ilustrada do Suplemento de Julho. Agora rogo-vos que, por mim, lêde
outra vez com cuidado a "Defesa". Notai as deslavadas mentiras do
"grande Reformador da Índia". Lembrai-vos do que foi admitido para
vós e então negado. E se a minha palavra de honra tem algum peso
para vós, saiba então que D. Swami foi um iogue iniciado, um chela
muito elevado, em Badrinath, possuidor de grandes poderes há alguns
anos e de conhecimento que veio perdendo, desde então e que H.P.B.
vos contou senão a verdade, e que também H.C. era um chela dele,
que preferiu seguir "A senda da esquerda". E agora vêde em que se
tornou esse homem, na verdade grande, a quem todos conhecemos e
no qual colocamos as nossas esperanças. Aí o tendes um náufrago
moral, arruinado pela sua ambição e respirando mal na sua última luta
por supremacia, que ele sabe, nós não deixaremos em suas mãos. E
agora se esse homem dez vêzes maior, moral e intelectualmente que
Hurrychund, pode cair tão baixo e recorrer a um tão mesquinho
procedimento, do que não pode, então, ser capaz o seu ex-amigo e
discípulo Hurrychund para satisfzer a sua sede por vingança! O
primeiro tem, pelo menos, uma desculpa - sua feroz ambição, que
confunde com patriotismo; o seu antes alter ego não tem desculpas a
não ser o seu desejo para fazer mal para aqueles que o
desmascararam. E, para atingir tais resultados, ele está preparado
para fazer qualquer coisa. Mas talvez pergunteis por que nós não
interferimos? Por que nós, os protetores naturais dos Fundadores,
senão da Sociedade, não colocamos um ponto final nessas
vergonhosas conspirações? Uma pergunta pertinente; somente duvido
que a minha resposta com toda sinceridade será claramente
compreendida. Não tendes conhecimento alguma do nosso sitema, e
se eu conseguisse torná-lo claro para vós, sem dúvida alguma que os
vossos "melhores sentimentos" (os sentimentos de um europeu) se
sentiriam irritados, senão algo pior, com tão "chocante" disciplina. O
fato é que, até a última e suprema iniciação, todo chela (e até mesmo
alguns adeptos) são abandonados aos seus próprios recursos e
opiniões. Nós temos que travar as nossas próprias batalhas e o familiar
adágio de que "o Adepto se faz, não nasce" é rigorosamente certo.
Dado que cada um de nós é o criador e produtor das causas que
conduzem a estes ou outros resultados, nós temos que colher somente
o que semeamos.

Os nossos chelas são ajudados somente quando são inocentes das


causas que os conduzem a dificuldades; quando tais causas foram
geradas por influências extranhas e externas. A vida e a luta pelo
Adeptado seriam demasiadamente fáceis se todos tivéssemos atrás de
nós lixeiros que varressem os efeitos que geramos mediante nossa
própria imprudência e presunção. Antes que lhes seja permitido irem
para o mundo, eles - os chelas - são todos eles dotados com mais ou
menos poderes clarividentes; e com a exceção daquela atividade que,
a não ser que seja paralizada e vigiada os levaria talvez a divulgar
certos segredos que não podem ser revelados - eles são deixados no
pleno exercício dos seus poderes - quaisquer que estes sejam: -
porque eles não os exercitam? Assim, passo a passo, e depois de uma
série de penalidades, o chela aprende por amarga experiência a guiar
e reprimir os seus impulsos; perde a sua temerária impetuosidade, sua
presunção, e não volta a cair nos mesmos erros. Tudo o que agora
acontece é trazido pela própria H.P.B.; e a vós, meu amigo e irmão, eu
revelarei as limitações que ela padece, pois vós fostes provado e
experimentado e somente vós não fracassastes até agora (ao menos
numa direção), a da discreção e silêncio. Mas antes que vos revele a
sua grande falha (uma verdadeira falha em vossos desastrosos
resultados, e entretanto, uma virtude ao mesmo tempo ) eu devo vos
lembrar o que de coração odiais, ou seja, que ninguém entra em
contato conosco, que ninguém mostra o desejo de conhecer mais a
nosso repeito, sem deixar de ser submetido à prova e posto por nós
em provação. Por isso C.C.M. não podia, como nenhum outro, escapar
de seu destino. Ele foi tentado e permitido ser enganado pelas
aparências, e tornar-se muito facilmente uma presa de sua fraquesa -
suspeita e falta de auto-confiança. Em resumo, a ele lhe falta o primeiro
elemento de êxito em um candidato: fé inabalável, uma vez que a sua
convicção se baseia e formou raízes no conhecimento: não na simples
crença de certos fatos.

Agora C.C.M. sabe que certos fenômenos produzidos por ela são
indiscutivelmente genuinos; sua posição com relação a isso é
precisamente a vossa posição e a de vossa esposa, com referência ao
anel de pedra amarela. Ao pensar que tivestes razões para crer que a
pedra em questão foi simplesmente trazida (como a boneca) e não
duplicada, como ela afirma, e ao desagradar-vos nas profundezas de
vossa alma tal engano inútil de parte dela, como sempre pensastes,
não a repudiastes por tudo isso, nem a acusastes ou queixastes dela
nos jornais como ele fez. Em resumo, mesmo quando recusando a ela
o benefício da dúvida em vossos próprios corações, não duvidastes do
fenômeno, mas somente da sua exatidão ao explicá-lo; e apesar de
estardes completamente errado, estáveis indiscutivelmente correto em
agir com tal discrição nesse assunto. Não assim no caso dele. Após
manter uma fé cega nela durante um período de três anos, chegando
quase a um sentimento de veneração, ao primeiro sopro de uma
exitosa calúnia, ele, um firme amigo e um excelente advogado cai
vítima de um perverso complô e sua consideração por ela se converte
num positivo menosprezo e numa convicção da sua culpabilidade. Em
vez de proceder como teríeis procedido em um caso como esse, ou
seja, jamais lhe mencionando o fato, pedindo-lhe uma explicação,
dando à acusada uma oportunidade de se defender e proceder assim
de acôrdo com a sua natureza honesta, ele preferiu dar expressão aos
seus sentimentos em impressos públicos e a satisfazer o seu rancor
contra ela e contra nós, adotando um recurso indireto de ataque contra
as suas afirmações em ISIS. A propósito e pedindo-lhe desculpa por
esta digressão, não parece que ele considera "sincera" a resposta dela
no Teosofista. Extranha lógica, quando vem de um lógico tão agudo!
Tivesse ele proclamado em todos os periódicos e a plena voz que o
autor ou autores de ISIS não foram sinceros enquanto escreviam o
livro; que com frequência e deliberadamente desorientaram o leitor
retendo as explicações necessárias e dando só fragmentos da
verdade; tivesse mesmo declarado, como faz o senhor Hume, que a
obra está cheia de "erros práticos" e afirmativas deliberadamente
errôneas, ele teria sido desculpado com glória, (porque havia tido razão
"do ponto de vista de um europeu") e desculpado por nós, de todo o
coração, devido outra vez à sua maneira européia, algo que é inato
nele e que não pode remediar. Mas chamar de "não sincera" uma
explicação correta e verdadeira é algo que dificilmente posso
compreender; embora esteja perfeitamente ciente de que o seu ponto
de vista é compartilhado mesmo por vós. Ah, meu amigo: temo muito
que as nossas respectivas normas do que é certo e errado não estarão
nunca de acôrdo, pois que o motivo é tudo para nós e que jamais ireis
além das aparências. Contudo, voltemos ao assunto principal.

Assim, C.C.M. sabe, é bastante inteligente, um observador muito


perspicaz da natureza humana para que permanecesse ignorante do
mais importante dos fatos, isto é, que a Velha Dama (H.P.B.) não tem
nenhum motivo possível para enganar. Há uma frase na sua carta que,
construída com um espírito pouco mais benévolo, demonstraria
amplamente como melhor ele poderia apreciar e reconhecer os
verdadeiros motivos, não tivesse sido a sua mente envenenada pelo
preconceito, devido, talvez, mais à irritação de S. Moses do que aos
esforços dos seus três inimigos acima enumerados. Ele nota, a
propósito, que o processo de erro pode ser devido ao seu zelo, mas o
considera como sendo um zelo desonesto. E agora quereis saber até
que ponto é ela culpada? Sabei então, que se ela foi alguma vez
culpada de deliberada falta de verdade devido ao esse "zelo", foi
quando, na presença de fenômenos produzidos, negou
constantemente (exceto em casos pouco importantes, como sons e
campainhas e pequenos golpes) que tivesse algo a ver, pessoalmente,
com a sua produção. Do vosso "ponto de vista europeu", isso é uma
impostura inequívoca, uma enorme mentira. Do nosso ponto de vista
asiático, embora seja um zelo imprudente, censurável, um exagêro
inverídico, o que um ianque chamaria "uma presunção inflamada"
visando beneficiar os Irmãos, mas, se consideramos o motivo, é uma
sublime negação de si mesma, algo nobre e meritório, mas não um
zelo desonesto. Sim; é nisto e só nisto que ela foi continuamente
culpada de iludir os seus amigos. Nunca lhe foi possível fazê-la
compreender a total inutilidade e perigo com este zelo, e quanto
equivocada estava na sua crença de que com isso aumentava a nossa
glória, quando que, ao atribuir-nos com frequência fenômenos da
natureza mais pueril, ela apenas nos rebaixava diante da estima
pública e sancionava as acusções dos seus inimigos de que ela não
era "mais do que uma médium"! Mas tudo foi inútil. De acôrdo com a
nossas regras, sucintamente não era permitido a M. que a proibisse de
tal procedimento. Devia ser-lhe permitida plena e inteira liberdade de
ação, a liberdade de criar causas, que se tornaram, no seu devido
tempo, em sua mortificação e no seu pelourinho público. Ele podia no
máximo, proibir-lhe a produção de fenômenos, e recorreu a este último
extremo tão amiude quanto podia, para grande satisfação de seus
amigos e teósofos. Foi ou será uma falta de percepção intelectual por
parte dela? Certamente não. É uma doença psicológica, sobre a qual
ela possui pouco ou nenhum controle. Sua natureza impulsiva - como
corretamente inferistes na vossa resposta - está sempre pronta a levá-
la para além dos limites da verdade, nas regiões do exagêro; não
obstante sem uma sombra de desconfiança de que ela estava, desta
maneira, enganando os seus amigos, ou abusando da grande
confiança que tinham nela. A frase estereotipada: "Não sou eu; eu nada
posso fazer por mim mesmo...é tudo deles, os Irmãos...Eu sou apenas
a sua humilde e devota escrava e instrumento..." é uma pura ficção.
Ela pode produzir e produziu fenômenos devido aos seus poderes
naturais associados com longos anos de treinamento regular, e os seus
fenômenos são algumas vêzes mais maravilhosos e muito mais
perfeitos do que os de altos e iniciados chelas, a quem ela ultrapassa
em gosto artístico e uma apreciação puramente Ocidental da arte -
como, por exemplo, na produção instantânea de retratos: uma prova,
o seu retrato do "fakir" Tiravalla mencionado nos "Os Fragmentos", e
comparado com o meu retrato, por Djual Khool. Não obstante toda a
superioridade dos seus poderes, quando comparados com os dela; a
juventude dele contrastada com a idade avançda dela; e a indiscutível
e importante vantagem que ele possue de nunca ter colocado o seu
puro e incontaminado magnetismo em contato direto com a grande
impureza do vosso mundo e sociedade; e apesar de tudo que ele
possa, não poderá nunca produzir retrato como aquele, simplesmente
porque é incapaz de concebê-lo em sua mente e pensamento
tibetanos. Assim, enquanto nos atribui toda a classe de fenômenos
tolos, frequentemente inábeis e suspeitosos, é inegável que ela nos
ajudou em muitos casos, poupando-nos algumas vêzes mais de dois
terços do poder usado, e quando a censurávamos - pois inúmeras
vêzes nós éramos incapazes de impedir que ela fizesse isso por sua
conta - respondia que não tinha necesidade alguma daquilo e que a
sua única alegria era ser de alguma utilidade para nós. E assim
continuou, encurtanto a sua vida aos poucos, pronta para dar - para o
nosso benefício e glória, como ela pensava - o sangue da sua vida,
gota à gota, e no entanto invariavelmente negando diante de
testemunhas que ela tinha algo a ver com isso. Poderíeis chamar de
"desonesta" essa abnegação sublime, apesar de tôla? Nós não; nem
consentiríamos jamais que seja considerada deste modo. Mas
voltando ao assunto: movida por esse sentimento e crendo com
firmeza naquela ocasião (porque lhe foi relevado) que Hurrychund era
um digno chela do iougue Dayanand15, permitiu que C.C.M. e todos
que estiveram presentes ficassem sob a impressão de que era
Hurrychund quem havia produzido os fenômenos, e então esteve
durante toda uma quinzena apregoando os grandes poderes do Swami
e as virtudes de Hurrychund, seu profeta. Todos sabem em Bombaim
(e vós também) quão terrivelmente foi castigada. Primeiro, o chela se
tornou um traidor do seu Mestre e a seus aliados, e em um vulgar
ladrão; depois o "grande iogue", o "Lutero da Índia", sacrificando a ela
e H.S.O. à sua insaciável ambição. Muito naturalmente; enquanto a
traição de Hurrychund (chocante como pareceu ser a C.C.M. nesse
momento, assim como a outros teósofos) deixou-a ilesa, porque o
próprio Swami, tendo sido roubado, tomou em suas mãos a defesa dos
"Fundadores"; a traição do "Chefe Supremo dos Teósofos da Arya
Samaj" não foi julgada em sua verdadeira perspectiva: na parência não
era ele quem havia procedido com falsidade, mas toda a culpa recaiu
sobre a infortunada e excessivamente devota mulher, a qual, depois
de exaltá-lo até o céu, se viu obrigada, em defesa própria, a expor no
Teosofista sua confiança equivocada e os seus verdadeiros motivos.

Estes são a verdadeira história, e os fatos com respeito a seu "engano"


ou, no melhor dos casos, ao seu "zêlo desonesto". Sem dúvida ela
mereceu uma parte das críticas; é indiscutível que ela é dada a
exagerar de uma maneira geral, e quando se torna uma questão de
"incensar" aos que ela é devotada, o seu entusiasmo não conhece
limites. Assim, fez de M. um Apolo de Belvedere e a veemente
descrição da beleza física deste o fez mais de uma vez se encolerizar,
e quebrar o seu cachimbo enquanto prorrompia em juramentos como
um verdadeiro....cristão; e assim diante de sua eloquente fraseologia
eu mesmo tive o prazer de me ver metamorfoseado em um "anjo de
pureza e luz"....desprovido de asas. Não podemos deixar de nos sentir
às vêzes irritados, ainda que na maioria das vêzes nos rimos dela.
Todavia o sentimento que dita toda esta ridícula efusão, é muito
ardente, muito sincero e verdadeiro, para deixar de ser respeitada ou
tratada com indiferença. Eu não acredito que eu fôsse tão
profundamente tocado por alguma coisa que eu testemunhasse
durante toda a minha vida, quanto eu fui com a pobre velha criatura
com o seu extasiante arrebatamento quando nos viu recentemente nos
nossos corpos naturais; a um de nós, depois de três anos e ao outro
cerca de dois anos de separação em nossos corpos físicos. Mesmo o
nosso fleumático M. perdeu o equilíbrio diante de tal exibição, na qual
ele foi o herói principal. Tive que empregar o seu poder e submetê-la a
um profundo sono, pois do contrário, teria rompido alguma artéria e
danificado os seus rins, fígado e seus "interiores" (para usar a
expressão favorita do nosso amigo Oxley) em suas delirantes
tentativas de esmagar o seu nariz contra a sua capa de montar, imunda
com o barro do Sikkim. Ambos rimos; de qualquer maneira não
poderíamos deixar de nos sentirmos tocados? Naturalmente, que ela
está incapacitada por completo para ser um verdadeiro Adepto; sua
natureza é demasiada e apaixonadamente afetiva e nós não temos o
direito de nos entregar a inclinações e sentimentos pessoais. Vós não
podereis nunca conhecê-la como nós a conhecemos; portanto,
nenhum de vós jamais será capaz de julgá-la com imparcialidade ou
corretamente. Vós vêdes a superfície das coisas, e o que denominais
de "virtude", baseado somente nas aparências, nós julgamos após ter
esquadrinhado o objeto no seu nível mais profundo, e geralmente
deixamos que as aparências tomem conta de si mesma. Na vossa
opinião, H.P.B. é, no máximo, para aqueles que gostam dela a despeito
de ela mesmo - uma mulher estranha, um enigma psicológico;
impulsiva e bondosa, ainda não livre do defeito de desfigurar a
verdade. Da nossa parte, sob o manto de excentricidade e insensatez,
encontramos uma sabedoria mais profunda no seu Eu interno, do que
poderíeis julgar capazes de perceber. Nos detalhes superficiais de sua
vida doméstica laborosa, nos seus assuntos cotidianos, percebei
somente a impraticabilidade, impulsos femininos, e com frequência,
absurdos e tolices; nós, pelo contrário, deparamo-nos todos os dias
com traços da sua natureza íntima mais delicada e refinada, o que
custaria a um psicólogo inexperiente anos de constante e aguda
observação, e muitas horas de análise e esforços concentrados para
extraí-los da profundidade do mais sutil dos mistérios, a mente humana
e de um dos seus mais complicados mecanismos: a mente de H.P.B.;
e assim aprender a conhecer seu verdadeiro Eu interno.

Estais livre para dizer tudo isso a C.C.M. Tenho-o vigiado de perto e
me sinto bastante seguro de que o que lhe disserdes terá muito mais
efeito sobre ele do que uma dúzia de "K.H." poderiam dizer-lhe em
pessoa. "Imperator" se interpõe entre nós dois e temo que assim se
manterá para sempre. Sua lealdade e fé nas afirmações contrárias,
feitas por asiáticos, que para ele são, senão meras invenções,
"comparsas" inescrupulosos. Mas queria, se fôsse possível, mostrar-
vos a sua grande injustiça e o mal que ele fez a uma inocente mulher
que é, em todo caso, relativamente inocente. Por extravagante e
entusiasta que possa vos parecer, dou-vos a minha palavra de honra
de que ela, nunca uma impostora, nem tão pouco pronunciou
intencionalmente alguma falsidade, embora a sua posição, com
frequência se torne, inustentável e tenha que ocultar várias coisas por
ter-se comprometido a isso pelos seus solenes votos. E agora terminei
esse assunto.

E agora vou me aproximar uma vez mais de um assunto, meu bom


amigo, que sei ser muito repulsivo a vossa mente, pois me dissestes e
escrevestes repetidamente. E no entanto, a fim de tornar algumas
coisas claras para vós, sou compelido a falar sobre ele. Inúmeras
vêzes apresentastes a pergunta "por que deviam os Irmãos recusar
voltar a sua atenção para tão valiosos e sinceros teosofistas como
C.C.M. e Hood, ou alguém tão precioso como S. Moses? Bem, agora
vos respondo com muita clareza que nós o temos feito, desde que o
citado cavalheiro se poz em contato com H.P.B. Todos ele foram
provados e experimentados de vários modos e nenhum alcançou a
marca desejada. M. concedeu uma atenção especial a "C.C.M." por
razões que agora explicarei e com os resultados que, até agora já
conheceis. Podereis dizer que tal método secreto de provar as pessoas
é desonesto, que deveríamos tê-lo prevenido, etc. Bem, tudo o que
posso dizer é que pode ser assim do vosso ponto de vista europeu;
mas que, sendo asiáticos, não podemos afastar-nos de nossas regras.
O caráter de um homem, a sua verdadeira natureza interna nunca pode
ser por completo desentranhada, se ele acredita estar sendo
observado, ou luta por um objetivo. Além disso, o Cel. O. nunca fez
segredo dessa nossa maneira de ser, e todos os teósofos britânicos
deveriam saber (se já não o soubessem), que o seu grupo, desde que
o aprovamos, estava sob provação normal. Quanto a C.C.M. - de todos
os teosofistas, foi o único selecionado por M. com uma finalidade
definida, devido à insistência de H.P.B. e a promessa especial dele.
"Ele se voltará contra vós algum dia, filha!" disse-lhe M. repetidas vêzes
em resposta aos seus apelos para que o aceitasse como chela regular
com Olcott. "Isso nunca, nunca ele fará", ela exclamou em resposta.
"C.C.M. é o melhor, o mais nobre, etc., etc., etc., " - uma série de
adjetivos de elogio e admiração. Dois anos depois, ela disse o mesmo
de Ross Scott. "Nunca tive dois amigos tão firmes e devotos"
assegurou ao seu "Chefe", que se limitou a sorrir para si, e pediu-me
que arranjasse o "matrimônio" teosófico. Bem: um foi provado e
experimentado durante três anos, e o outro por três mêses com os
resultados que não necessito recordar-vos. Não só NÃO se colocou
nunca tentações no caminho de nenhum deles, como também ao
último se procurou uma esposa com suficientes condições para a sua
felicidade e certas conexões que lhe resultariam benéficas algum dia.
C.C.M. têve somente fenômenos objetivos e seguros sobre os quais se
apoiasse; R. Scott recebeu, além disso, uma visita de M. em forma
astral. No caso de um foi a vingança de três homens sem princípios,
no caso do outro, foram os ciumes de um tolo de mente estreita que
logo destruiram a alardeada amizade, e mostraram à Velha Dama o
que valia tal amizade. Oh, a pobre confiada e crédula natureza! Tirai
dela os seus poderes clarividentes, canalizai em certa direção as suas
intuições - como M. se viu obrigado, pelo dever, a fazê-lo, e o que
resta? Uma mulher desamparada e com o coração destroçado!

Tomai outro caso, o de Fern. O seu desenvolvimento, ocorrendo sob


os vossos olhos, proporciona-vos um estudo útil e uma sugestão para
que métodos mais sérios sejam adotados em casos individuais para
um teste completo das qualidades morais latentes do homem. Cada
ser humano possui dentro de si vastas potencialidades, e é a obrigação
dos Adeptos rodear o aspirante a chela com circunstâncias que lhe
permitam tomar "a senda da direita", se possue a capacidade em si
mesmo. Não somos tão livres para reter a oportunidade de um
postulante quanto para guiá-lo e dirigí-lo no seu próprio caminho. No
melhor dos casos só podemos lhe mostrar, - depois de terminar com
êxito o período de provação que, se faz isto, irá bem, que se faz aquilo,
irá mal. Mas, até que tenha passado este período, nós o deixamos para
que trave as suas batalhas o melhor que possa; ocasionalmente, temos
que proceder assim com os chelas mais elevados e iniciados, tais
como H.P.B., uma vez que lhes seja permitido trabalhar no mundo, o
que todos nós, mais ou menos, evitamos. Mais do que isso - e é melhor
que aprendeis isso de uma vez, caso minhas cartas anteriores que vos
dirigi acerca de Fern não abriram suficientemente os vossos olhos -
nós permitimos que nossos candidatos sejam tentados de mil
maneiras, a fim de expor a totalidade de sua natureza íntima, e dar-lhe
a oportunidade de ficar como conquistador, em um sentido ou noutro.
O que aconteceu a Fern aconteceu a cada um dos outros que o
precederam, e acontecerá, com vários resultados, a cada um que o
suceda. Todos nós fomos testados assim, e enquanto um Moorad Ali
fracassou, eu triunfei. A coroa da vitória é somente para aquele que
prove ser um merecedor de usá-la; para aquele que ataca Mara
sozinho e conquista o demônio da sensualidade e das paixões
terrenas; e não somos nós quem a pomos sobre a sua fronte se não
ele mesmo. Não é uma frase vazia do Tathagata que "aquele que
domina o seu Eu é maior do que aquele que vence milhares numa
batalha": não há outra luta tão difícil quanto essa. Se assim não fôsse,
o adeptado seria uma aquisição muito vulgar. Portanto, meu bom
irmão, não vos surpreendestes e não nos acuseis, tão facilmente como
já o fizestes, por qualquer desenvolvimento de nossa política em
relação aos aspirantes, seja no passado, presente ou futuro. Somente
aqueles que podem olhar mais além, para as mais remotas
consequências das coisas, estão em condições de julgarem a
conveniência das nossas próprias ações ou das que permitimos nos
outros. O que agora possa parecer como uma má fé, pode, no final,
mostrar-se como a mais verdadeira e benevolente lealdade. Deixe que
o tempo mostre quem estava certo e quem foi infiel. Alguém que hoje
é verdadeiro e é aprovado, pode amanhã, sob uma nova conjunção de
circunstâncias, mostrar-se um traidor, um ingrato, um covarde, um
imbecil. O junco, se for dobrado além da sua flexibilidade, se partirá em
dois. Devemos acusá-lo? Não; mas como podemos e devemos sentir
piedade dele, não podemos escolhê-lo para integrar aqueles outros
juncos que foram provados e demonstraram ser fortes, e daí,
adequados para serem aceitos como materiais para o indestrutível
templo que estamos construindo com tanto cuidado.

E agora, passemos a outros assuntos.

Temos em mente uma reforma, e eu penso que podereis me ajudar. A


molesta e indiscreta interferência do senhor Hume com a Sociedade
Matriz e a sua obsessão para dominar a tudo e cada coisa nos fez
chegar à conclusão que seria de proveito tentar o seguinte: Que se
faça conhecer " a todos os interessados", por meio do "Teosofista" e
de circulares enviadas a cada Loja de que até o presente eles se
voltaram para a Sociedade Matriz demasiada e desnecessariamente,
tornando-a como um guia e exemplo a seguir. Isto é completamente
impraticável. Além do fato de que os Fundadores devem fazer ato de
presença e se devotarem sinceramente para tudo e todos, e dado que
há uma grande variedade de credos, opiniões e expectativas a
satisfazer, eles não podem mesmo satisfazer a todos, ao mesmo
tempo, como desejariam. Eles tratam de ser imparciais e de nunca
recusar a um grupo aquilo que concederam a outro. Deste modo
publicaram, em repetidas ocasiões, análises críticas sobre
Vedantismo, o Budismo e o Hinduismo em suas várias ramificações e
sobre o Veda Bashya do Swami Dayanand, o mais firme e, ao memo
tempo, o mais valioso aliado; mas, devido a tais análises terem sido
todas dirigidas a fés não-Cristãs, ninguém prestou a menor atenção.
Por mais de um ano, a revista saiu, de uma maneira regular, com uma
publicidade hostil a da Veda Bashya e foi impressa lado a lado para
satisfazer os Vedantinos de Benares. E agora o senhor Hume se
apresenta com o seu repúdio público aos Fundadores, e trata de proibir
a divulgação de folhetos anti-Cristãos. Portanto, desejo, por obséquio,
que conserveis isto em mente e salienteis estes fatos ao coronel
Chesney, que parece imaginar que a Teosofia é hostil somente ao
Cristianismo, quando é apenas imparcial, e sejam quais forem as
opiniões pessoais dos dois Fundadores, a revista da Sociedade nada
tem a ver com eles, e publicará de boa vontade, análises críticas
dirigidas contra o Lamaismo, como contra o Cristianismo. De qualquer
modo, desejosos como estamos de que H.P.B. aceite sempre e com
gratidão, o vosso conselho no assunto, fui eu que a aconselhou que se
"rebelasse", como ele diz, contra as tentativas autoritárias de H., e
estais em liberdade de informá-lo deste fato.

Agora, e com o objetivo de endireitar as coisas, o que pensais da idéia


de colocar as Lojas numa situação bastante diferente? Mesmo a
Cristandade, com as suas pretensões divinas a uma Fraternidade
Universal, possue suas mil e uma seitas, que unidas como possam
estar sob a bandeira única da Cruz são, entretanto, essencialmente
hostis entre elas, e a autoridade do Papa é reduzida a nada pelos
Protestantes, enquanto que os decretos dos Sínodos destes últimos,
são ironizados pelos Católicos Romanos. Naturalmente eu jamais
esperaria, mesmo no pior dos casos, um tal estado de coisas entre as
agrupações teosóficas. O que desejo, é simplesmente um projeto
sobre a conveniência de se remodelar a presente formação de Lojas e
seus privilégios. Que todas recebam suas cartas constitutivas e sejam
reconhecidas, como até agora, pela Sociedade Matriz e dependam
dela de uma maneira nominal. Ao mesmo tempo, que cada Loja, antes
de ser diplomada, escolha algum objetivo de trabalho, naturalmente um
objetivo em simpatia como os princípios gerais da S.T., mas que,
entretanto, seja um objetivo distinto e definitivamente próprio, quer seja
nas linhas religiosa, educacional ou filosófica. Isto daria à Sociedade
uma margem mais ampla para as suas atividades gerais; um trabalho
mais real e útil seria feito e, como cada Loja seria independentemente,
por assim dizer, em seu modus operandi haveria menos oportunidades
para queixas, e em consequência, para interferência. De qualquer
maneira, espero que esse breve esbôço encontre um excelente solo
para germinar e crescer em seu cérebro prático; e se puderdes,
enquanto isso, escreverei um artigo baseado nas explicações dadas
acima, mostrando a verdadeira posição da nossa revista, dando todas
as razões acima indicadas e outras mais, para serem publicadas no
número do mês de dezembro, se não puder sair no de novembro, pelo
que vos ficaríamos gratos, tanto M. como eu. É impossível e perigoso
confiar a qualquer um dos nossos editores esse assunto que requer
um tratamento muito delicado - H.P.B., nunca deixaria de quebrar a
cabeça dos padres com esse bom motivo, ou H.S.O. dirigiria um
cumprimento especial, ou dois, bem elaborados para o endereço dos
Fundadores, o que seria inútil, pois eu trato de mostrar as duas
pessoas, a do Editor e a do Fundador, como sendo muito distintas e
separadas uma da outra, conquanto estejam mescladas numa mesma
pessoa. Não sou um homem prático e porisso me sinto incapacitado,
por completo, para essa tarefa. Podereis me ajudar, amigo? Seria
melhor, naturalmente, que essa sondagem da situação aparecesse no
número de novembro como se fôsse uma resposta à carta muito
descortês do senhor H. a qual, naturalmente não permitirei que seja
publicada. Mas poderíeis usá-la acomo material básico para compor a
vossa reposta editorial.

Voltando à reforma das Lojas, esta questão tem, naturalmente, que ser
seriamente pensada e ponderada antes de ser finalmente decidida.
Não deve haver mais desapontamentos nos membros uma vez que se
filiaram. Cada Loja tem que escolher a sua missão bem definida para
trabalhar, e o maior cuidado deve ser tomado na escolha dos
Presidentes. Tivesse sido a "Eclética" colocada, desde o princípio,
nessa condição de independência bem definida, pode ser que tivesse
se conduzido melhor. Deve haver sempre solidariedade de
pensamentos e ação entre a Sociedade Mater e as Lojas, dentro dos
amplos limites dos princípios gerais e básicos da Sociedade;
entretanto, deve se permitir a cada uma daquelas a sua ação própria e
independente em que não se choque com aqueles princípios. Assim,
uma Loja composta de Cristãos moderados, que simpatizem com os
objetivos da Sociedade, poderia permanecer neutra no que diz respeito
a qualquer outra religião e indiferente por completo e sem se interessar
nas crenças pessoais dos "Fundadores"; o Teosofista deve dar espaço,
com toda boa vontade, tanto para os hinos ao Cordeiro como para as
slokas sobre o caráter sagrado da vaca. Caso possais elaborar esta
idéia, eu a submeteria ao nosso venerável Chohan, que agora sorri
gentilmente com o canto do olho, em vez de franzir a fronte como de
costume, desde quando viu que vos tornastes Presidente. Se no ano
passado, devido à truculência do ex-Presidente, não tivesse sido
"enviado ao retiro", antes do tempo previsto, já o teria proposto. Eu
tenho uma carta de orgulhosa reprovação, datada de 8 de outubro, do
"Eu sou". Nela, ele lhe envia no dia 5 e explica a sua "pouca vontade
para continuar no posto" e "seu grande desejo" de que tomásseis o seu
lugar. Ele condena por "completo a política e o sistema" da nossa
Ordem. Parece-lhe "bastante errado". Prossegue dizendo:
"naturalmente vos pedirei que obtenhas da Velha Dama que se
abstenha de me propor para o Conselho da Sociedade". Não há por
que temer; ele pode dormir profundamente, sem ser perturbado, e ver-
se em sonho como o Dalai Lama dos Teosofistas. Mas devo apressar-
me em registrar o meu indignado e enfático protesto contra sua
definição de nosso "defeituoso" sistema. Porque conseguiu captar
somente umas poucas chispas perdidas dos princípios de nossa
Ordem e não se podia permitir-lhe que examinasse e remodelasse
todos eles, por isso, devemos todos nós ser o que ele imagina de nós!
Sustentássemos doutrinas tais como as que ele quiz nos impor; se
fôssemos algo parecidos com o quadro que ele traçou; se pudéssemos
submeter-nos por uma só hora, a nos manter silenciosos sob o peso
de tais imputações como as que lançou contra nós na sua carta de
setembro; na verdade, mereceríamos perder todo o crédito que temos
com os teosofistas! Deveríamos ser expulsos e desalojados da
Sociedade e dos pensamentos das pessoas como charlatães e
impostores; como lobos vestidos com pele de ovelha que chegam para
roubar os corações dos homens com promessas místicas, mantendo o
tempo todo as mais despóticas intenções, tratando de escravizar os
nossos confiantes chelas e afastando as massas da verdade e da
"divina revelação da voz da natureza" para levá-las até o "vazio e
lôbrego ateismo"; isto é, a uma completa descrença no "bom e
misericordioso Pai e Criador de tudo" (do mal e da miséria, devemos
supor?), que descansa reclinado, de eternidade em eternidade, com os
seus ombros sutentados por um leito de meteoros incandescentes e
palitando os seus dentes com um tridente de relâmpagos...

Na verdade, na verdade, nós temos bastante dessa incessante toada


na harpa judaica da revelação Cristã!

M. pensa que o Suplemento deve ser aumentado, caso seja


necessário, de modo a dar espaço para a expressão do pensamento
de cada Loja, apesar de diametralmente opostos que sejam. Deveria
se providenciar que o "Teosofista" assumisse uma caracterísitca que o
distinga e se torne único no seu gênero. Estamos prontos para fornecer
as quantias adicionais para isso. Eu sei que captareis a minha idéia
conquanto vagamente expressada. Deixo inteiramente em vossas
mãos o nosso plano. O êxito nisto contrabalançará os efeitos da crise
cíclica. Perguntais o que podeis fazer? Nada melhor nem mais eficiente
do que o plano proposto. Não encerrarei esta carta sem falar de um
espisódio que, embora risível, levou a algo que me faz agradecer a
minha boa estrela e que vos agradará também. Vossa carta, incluindo
a de C.C.M., foi recebida por mim na manhã seguinte à data em que a
entregastes ao "homenzinho". Eu me encontrava então nas
proximidades de Phari-Jong, no gom-pa de um amigo e estava muito
ocupado com assuntos muito importantes. Quando tive conhecimento
de sua chegada, estava cruzando justamente o grande pátio interno do
mosteiro, concentrando em escutar a voz do Lama Tondhub Gyatcho
e não dispunha de tempo para ler o conteúdo dela. Então depois de
mecanicamente ter aberto o grande pacote, apenas olhei-o de relance
e o puz, pensei, no bolsão de viagem que levo atravessado sobre o
ombro. Mas, na verdade, ele tinha caido no solo; e como eu tinha
rasgado o envelope e esvaziado o seu conteúdo, este se espalhou ao
cair. Não havia ninguém próximo de mim nesse momento e minha
atenção estava toda concentrada na conversação. Havia já alcançado
a escada que leva à biblioteca quando ouvi a voz de um jovem gelong
chamando de uma janela e fazendo gestos para alguém na distância.
Voltando-me dei-me conta imediatamente da situação; de outra
maneira a vossa carta nunca teria sido lida por mim pois eu vi um
venerável bode velho fazendo a sua refeição da manhã com ela. A
criatura tinha já devorado parte da carta de C.C.M., e estava
pensativamente se preparando para abocanhar a vossa, mais delicada
e fácil para ser mastigada pelos seus velhos dentes do que o duro
envelope e papel da espístola do vosso correspondente. Para salvar o
que restou dela foi só um instante, apesar do desgosto e oposição do
animal, mas restou muito pouco! O envelope com o vosso timbre nele
tinha desaparecido quase completamente, o conteúdo das cartas
tornou-se ilegível - em resumo, eu estava perplexo com a visão do
desastre. Agora sabeis porque me senti embaraçado: eu não tinha o
direito de restaurar as cartas vindas da "Eclética" e relacionadas
diretamente de todos os lados com os desventurados "Pellings". Que
podia fazer eu para restaurar as partes perdidas! Já havia resolvido
pedir humildemente permissão ao Chohan para que me fôsse
concedido o privilégio especial em tal lamentável necessidade, quando
vi a sua santa face diante de mim com os seus olhos cintilando de uma
maneira não habitual e ouvi a sua voz: Por que quebrar a regra? Eu
mesmo o farei0. Essas simples palavra, Kam mi ts' har: "Eu o farei",
contém um mundo de esperanças pra mim. Ele restaurou as partes
perdidas e de uma maneira muito cuidadosa, como vêdes, e ainda
transformou um envelope rasgado muito amassado em um novo, com
brazão e tudo. Agora eu sei que grande poder ele usou para essa
restauração, e isto me leva a esperar um relaxamento da severidade
um desses dias. Eu então agradeci de coração ao bode; e como ele
não pertence a exilada raça Pelling, para demontrar-lhe a minha
gratidão, robusteci o que restava dos seus dentes na sua boca,
assentando com firmeza os dilapidados restos em seu alvéolos, de
forma que possa mastigar durante os anos próximos, alimento mais
duro do que cartas inglesas.

E agora umas poucas palavras sobre o chela. Na certa deveis ter


suspeitado que assim como foi proibido ao Mestre a mais pequena
exibição de tamasha, também o foi ao discípulo. Por que então
deveríeis ter esperado, ou "sentir-se um pouco decepcionado" com sua
recusa de enviar para mim as vossas cartas via Espaço - na vossa
presença? O homenzinho é um moço que promete, com muitos anos
mais do que parece, mas jovem na sabedoria e costumes europeus, e
portanto, cometeu várias indiscreções, as quais, como vos disse,
fizeram-me corar e sentir-me tolo pelos dois selvagens. A idéia de
pedir-vos dinheiro foi absurda em extremo! Qualquer outro inglês que
não fôsse vós teria os considerado, depois disso, como dois viajantes
charlatães. Espero que agora tenhais recebido o empréstimo que
devolvi, muito agradecido.

Nath tem razão sobre a pronuncia fonética (vulgar) da palavra "Kiu-te";


em geral as pessoas pronunciam-na como Kiu-to, mas não é correto;
e ele está equivocado quanto aos Espíritos Planetários. Não conhece
a palavra e pensou que queríeis dizer "devas" - os servidores dos
Dhyan-Chohans. Estes últimos é que são os "Planetários" e, portanto,
é ilógico dizer que os Adeptos são superiores a eles, pois que todos
nós nos esforçamos para nos tornar, por fim, Dhyan-Chohans.
Entretanto, existiram Adeptos "mais elelvados" que os Planetários de
graus inferiores. Assim, seus pontos de vista não estão contra as
nossas doutrinas, como ele vos disse, mas estariam, se quizésseis
entender os "devas" ou anjos como "pequenos deuses". Certamente
não é necessário o ocultismo para que um Ego puro e bom se torne
num "Anjo" ou Espírito, dentro ou fora do Devachan, pois que a
Anjelidade é o resultado do Karma. Creio que não ireis vos queixar que
a minha carta seja demasiadamente curta. Logo será seguida por outra
correspondência volumosa, "respostas as vossas muitas perguntas".
H.P.B. está restabelecida senão por completo, ao menos por mais
algum tempo.

Com verdadeiro afeto,

Seu,

K.H.
Carta Nº 055

O original desta carta é bastante curioso. Está escrito em quatro


pequenas folhas dobradas do bloco de notas de L.C. Holloway. O
envelope está dirigido a A.P. Sinnett, Esq. aos cuidados de L.C.H. Isto
não está realmente explicado, mas pode-se talvez imaginar que o
Mahatma decidiu experimentar a Sra. Holloway como uma
intermediária.

Os Sinnetts estavam viajando pela Europa na ocasião (a "fuga de


Londres" mencionada pelo Mahatma). Na Suiça, eles receberam um
telegrama da Sra. Gebhard convidando-os a virem a Elberfeld, onde
H.P.B. e outros estavam de visita. A Sra. Holloway era uma dessas
pessoas. Isto pode explicar o uso do seu papel de anotações na
elaboração desta carta, pois parece provavelmente que Sinnett
recebeu-a após chegar lá.

Esta carta refere-se à renuncia de H.P.B. como Secretária


Correspondente da Sociedade Teosófica, para que se desvinculasse
da Sociedade. Isso foi uma consequência direta da conspiração
Coulomb.

E agora, amigo, completastes um dos vossos ciclos menores; tendo


sofrido, lutado e triunfado. Ao ser tentado não falhastes, quando fraco
ganhastes força, e a dura natureza do destino e das provas de cada
aspirante que busca o conhecimento oculto é agora, sem dúvida,
melhor compreendida por vós. O vosso afastamento de Londres e de
vós mesmo foi necessária; bem como a vossa escolha das localidades
onde poderíeis afastar as más influências da vossa "temporada" social
e do vosso próprio lar. Não teria sido melhor que tivésseis vindo antes
a Elberfeld; é melhor que tenhais vindo agora pois estais mais
capacitado para suportar as tensões da presente situação. O ar está
cheio de pestilência da traição; um imerecido opróbio está pairando
sobre a Sociedade e falsidades e maquinações foram usadas para
derrotá-la. a Inglaterra Eclesiástica e a Anglo-Índia oficial secretamente
deram-se as mãos para constatar, se possível, as piores suspeitas e,
no primeiro pretexto plausível, esmagar o movimento. Todos os
infames instrumentos serão empregados no futuro, como já foi no
presente, para nos desacreditar como os seus promotores, e a vós
como os seus patrocinadores. Pois a oposição representa enormes
interesses criados e eles contam com a entusiástica ajuda dos Dugpas,
tanto no Bhootan como no Vaticano!

Entre os "luminosos alvos" que esses conspiradores almejam estais


vós. Dores dez vêzes mais intensas do que as suportadas até agora
irão vos cobrir de ridículo pela vossa credulidade, vossa crença em
mim, especialmente, e para refutar os vossos argumentos de apoio ao
ensinamento esotérico. Eles podem tentar abolar ainda mais do que já
fizeram, a vossa confiança com pretensas cartas que se supora
tenham vindo do laboratório de H.P.B. e de outros, ou com documentos
forjados onde fraudes serão confessadas e o plano para repetí-las.
Sempre tem sido assim. Aqueles que estão vigiando a humanidade no
decorrer dos séculos deste ciclo, viram repetirem-se constantemente
os detalhes desta luta de morte entre a Verdade e o Erro. Alguns de
vós, teosofistas, sois feridos agora só em vossa "honra" ou em vosso
dinheiro, mas aqueles que mantiveram a lâmpada nas gerações
precedentes pagaram com as suas vidas o seu conhecimento.

Coragem então, para todos vós, que anseiam ser os guerreiros da


Verdade divina una; permanecei resolutos e confiantes; cuidai da
vossa força moral, sem desperdiçá-la em futilidades, mas mantendo-a
para ocasiões como a presente. Eu vos advertí a todos através de
Olcott no mês de Abril passado o que está pronto para arrebentar em
Adyar, e lhe disse a ele que não ficasse surpreso quando a mina
estourasse. Tudo vem no tempo correto - somente que vós as grandes
e proeminentes cabeças do movimento permanecei firmes, precavidos
e unidos. Alcançamos o nosso objetivo quanto a L.C.H.3 Ela melhorou
muito e toda a sua vida futura se beneficiará com o treinamento que
está tendo. Teria sido para ela uma irreparável perda psíquica se
tivesse sido alojada em vossa casa. Isso foi mostrado a ela antes que
eu consentisse, na realidade, em intervir entre vós diante dos rogos
veementes dela; estava disposta a viajar para a América e, se não
fôsse a minha intervenção, ela o teria feito. Pior ainda, a sua mente
estava ficando instável com rapidez, portanto, inútil como um
instrumento oculto. Falsos mestres estavam atraindo-a para o seu
poder e falsas revelações desviavam-na e aqueles que a consultavam.
Vossa casa, meu bom amigo, abriga uma colonia de Elementais ali
estabelecidos, e para uma sensitiva como ela, era uma atmosfera tão
perigosa para viver, como a seria a de um cemitério cheio de mortos
por enfermidades contagiosas para alguém propenso a influências
mórbidas físicas. Deveríeis ser mais cuidadoso do que comumente,
quando regressais, não estimulando a sensibilidade em seu lar nem
admitir no possível a visita de conhecidos médiuns ou sensitivos. Seria
bom, também, acender fogo de lenha nos quartos de vez em quando,
e colocar como fumigadores vasilhas abertas (braseiros?) com brasas
de madeira. Também seria bom pedir a Damodar que vos envie alguns
pacotes de varetas de incenso, para usar com este propósito. Estas
coisas ajudam, mas a melhor maneira para expulsar a hóspedes
indesejáveis desta classe, é viver com pureza de pensamento e ações.
Os talismãs que pedistes serão também uma ajuda poderosa caso
mantiverdes inquebrantável a vossa confiança neles e em nós (?).

Ouvistes falar do paso que foi permitido a H.P.B. dar. Uma tremenda
responsabilidade é lançada sobre o Sr. Olcott; e uma maior ainda
devido ao "mundo oculto" e ao "Budismo Esotérico", sobre vós. Pois
esse passo dado por ela está em relação direta, e é o resultado direto
do aparecimento desses livros. Desta vez é o vosso Karma, bom
amigo. Espero que compreendeis bem o que quero dizer. Mas se
mantiverdes constante e leal em relação à S.T. podeis contar com a
nossa ajuda, assim como todos os demais em toda extensão que
mereçam. A política original da S.T. deve ser sustentada se não
quiserdes vê-la cair em ruinas e enterrar a vossa reputação debaixo
dela. Eu vos disse isso há muito tempo. Não é possível que a
Sociedade se mantenha nos anos vindouros caso esteja somente
baseada nos "Irmãos Tibetanos" e em fenômenos. Tudo isto deveria
ficar limitado a um círculo interno MUITO SECRETO. Há uma
tendência para a adoração ao herói que se mostra claramente e vós,
meu amigo, não estais de todo livre dela. Eu percebo plenamente a
mudança que tendes apresentado ultimamente, mas isso não muda a
questão principal. Se quiserdes continuar com os vossos estudos
ocultos e trabalho literário então aprendei a ser leal à idéia, mais do
que à minha pobre pessoa. Quando algo tenha de ser feito, nunca
pensais se eu a desejo, antes de agir. Eu desejo tudo o que possa, em
grau grande ou pequeno, fomentar esse debate. Mas estou muito longe
de ser perfeito e, portanto, infalível em tudo o que faço, embora não
seja exatamente como imaginais ter descoberto agora. Porque
conheceis ou pensais que conheceis um K.H. e só podeis conhecer
um, quando que há nele dois personagens distintos que respondem
por esse nome que conheceis. O enigma é só aparente e fácil de
resolver caso soubésseis o que é um verdadeiro Mahatma. Vistes pelo
episódio Kiddle, que se permitiu, talvez, que e desenrolasse até o seu
amargo fim, com um propósito, que mesmo um "Adepto", quando atua
em seu corpo, não está isento de erros, devido ao descuido humano.
Compreendeis agora, que é muito possível que ele apareça como
absurdo, ao olhos daqueles que não tem nenhuma compreenão correta
dos fenômenos da transferência de pensamento e das precipitações
astrais, e tudo isso por falta de um simples cuidado. Existe sempre
esse perigo caso se descuide de averiguar se as palavras e as frases
que se amontoam na mente vieram todas do íntimo ou se algumas
puderam ser impressas de fora. Lamento ter-vos colocado em uma
posição tão embaraçosa diante dos vossos muitos inimigos, e mesmo
diante dos vossos amigos. Esta foi uma das razões pelas quais hesitei
em dar o meu consentimento para publicar as minhas cartas privadas
e porque exclui especificamente da proibição algumas do conjunto.
Não tive tempo para verificar o seu conteúdo, nem tenho agora. Tenho
o hábito de fazer frequentes citações, sem as respectivas haspas,
devido à confusão que faço dos incontáveis texto de nossas bibliotecas
Akásicas, por assim dizer, com os olhos fechados. Algumas vêzes
posso emitir pensamentos que se tornarão públicos muitos anos
depois; em outras ocasiões, o que um orador, um Cícero, pode ter
pronunciado em épocas anteriores, e em outras, não só o que já foi
pronunciado por lábios modernos, como já o foi escrito ou impresso,
como no caso Kiddle. Tudo isso faço (não sendo um escritor treinado
para a Imprensa) sem a menor preocupação acerca de onde provêm
as frases e a sequência de palavras, desde que sirvam para me
expressar e se adaptem aos meus próprios pensamentos. Recebi
agora uma lição no nível europeu, do perigo de corresponder-me com
literatos ocidentais! Mas o meu "inspirador", o senhor Kiddle, não
obstante, é ingrato, pois que somente a mim ele deve a distinta honra
de ter ficado conhecido pelo nome, e de que as suas, fôssem repetidas,
mesmo pelos circunspectos lábios dos "Reitores" de Cambridge. Se
para ele a fama é doce, por que não há de se sentir consolado com o
pensamento de que o caso das "comunicações análogas Kiddle-K.H."
se tornaram agora mais um caso célebre no âmbito de "quem é quem"?
e "qual dos dois plagiou o outro"?, tão célebre como o mistério Bacon-
Shakespeare e que, em intensidade de investigação científica, senão
de mérito, o nosso caso se iguala com o dos nossos dois grandes
predecessores.

Mas a situação, conquanto divertida em um sentido, é mais séria para


a Sociedade, e as "comunicações análogas devem ceder o seu lugar
de destaque para a conspiração "Missão Cristã - Coulomb". Voltai,
então, para a última todos os vossos pensamentos, bom amigo, se sois
amigo, não obstante tudo. Estais muito errado se pensais ausentar-se
de Londres no próximo inverno. Mas não vos pressionarei se não vos
sentis a altura da situação. Em todo caso, se desertares do "Círculo
Interno", temos que fazer outro arranjo; fica fora de possibilidade para
mim corresponder-me e ensinar aos dois. Ou tereis de ser o meu porta-
voz e Secretário no Círculo ou terei de usar outra pessoa como meu
delegado, e assim, positivamente não vou ter tempo para me
corresponder convosco. Eles se comprometeram, a maioria deles,
comigo, para a vida e para a morte (a cópia do compromisso está nas
mãos do Maha-Chohan) e eu estou ligado a eles.

Posso agora remeter minhas instruções ocasionais e cartas com


alguma segurança, somente por meio de Damodar. Mas, antes que
possa fazer tal coisa, a Sociedade, e especialmente a Sede Central,
terá que passar primeiro pela próxima crise. Se ainda vos preocupeis
em renovar os ensinamentos ocultos, preservai primeiro o nosso meio
de comunicação. Digo outra vez, não deveis mais aproximar-vos de
H.P.B. sem obter o seu completo consentimento. Ela mereceu isso e
deve ser deixada tranquila. Foi-lhe permitido se afastar por três razões
(1) desvincular a S.T. dos seus fenômenos; (2) auxiliar a S.T.,
eliminando a causa principal da animosidade levantada contra ela; (3)
tentar restaurar a saúde do seu corpo, a fim de que possa ser usado
por mais alguns anos. E agora quanto aos detalhes, debatei entre
todos vós; pois, para isso pedí a eles que vos chamássem. O
firmamento está agora negro, mas não esqueçais do alentador lema
"Post nubila Phoebus"!7

Bendições para vós e a sua sempre leal senhora.

K.H.
Carta Nº 057

Recebida em 6/01/1883.

Chegamos a uma outra carta extensa. No original no Museu Britânico,


a carta consiste de nove folhas de papel, pequenas e dobradas.
Algumas palavras foram riscadas e em um trecho algumas linhas
conectadas em tinta vermelha. Em uma das folhas, parte da escrita
está em tinta vermelha grossa, embora a maior parte da carta esteja
na tinta azul habitualmente usada pelo Mahatma K.H. Uma carta de
C.C. Massey, de Londres, para o Mahatma, está anexada.

Massey, diz o Mahatma, é o terceiro na lista de fracassos. Algumas


linhas mais abaixo, ele diz "Quatro europeus foram colocados em
provação doze meses atrás..." Estes foram Massey, Hume, Sinnett e
Fern. Até agora, somente Sinnett "foi achado digno de nossa
confiança".

A Sociedade Teosófica em Londres quase entrou em colapso e faziam-


se esforços para rejuvenescê-la, sob a liderança da Sra. Anna
Kingsford. Ela aceitara "condicionalmente" o posto de presidente,
embora tivesse havido alguma demora para ela assumir o cargo. Ela
era vegetariana e anti-viviseccionista, e em certo ponto o Mahatma
afirma que por essas razões os seus fenômenos eram mais confiáveis
do que os de muitos espíritas bem conhecidos. H.P.B. não tinha muito
em alta opinião a Sra. Kingsford. De acordo com uma carta de H.P.B.
para Sinnett (Cartas de H.P.B. para Sinnett, pp.22), foi Massey quem
inicialmente propôs o nome dela para presidente da Sociedade
Teosófica Britânica.

Meu querido amigo,

Vou tratar de um assunto que propositalmente evitei durante vários


mêses, até que possuisse prova que parecesse conclusiva mesmo
para o vosso ponto de vista. Como sabeis, nem sempre concordamos
em nossa maneira de pensar, nem tem, o que para nós é um FATO,
peso algum na vossa opinião, a menos que não viole de modo algum
os métodos ocidentais de julgá-lo. Mas agora chegou para nós o
momento de tentar fazer, com que pelo menos vós, nos compreendeis
melhor do que temos sido até agora, mesmo por alguns dos melhores
e mais dedicados teósofos ocidentais, como por exemplo, C.C.
Massey. E embora eu fôsse o último homem vivendo para fazer com
que seguisseis em minha trilha como o vosso "profeta" e "inspirador",
eu me sentiria, entretanto, verdadeiramente pesaroso, se fôsseis
levado alguma vez a considerar-me como um "paradoxo moral", tendo
que me tolerar como alguém culpado de falsa arrogância de poderes,
que nunca tive, ou de fazer mal uso deles para escudar objetivos
indignos ou pessoas indignas. A carta do senhor Massey vos explica o
que quero dizer; aquilo que a ele parece prova irrefutável e evidência
impecável, não é nada para mim, que conheço toda a verdade. Neste
último dia de vosso ano de 1882, o seu nome ocupa o terceiro lugar na
lista dos fracassos, algo, que (apresso-me a dizer por temor de uma
nova má interpretação) nada tem a ver, em nenhum caso, com o atual
arranjo referente à proposta de uma nova Loja em Londres, mas que
tem muito com o seu progresso pessoal. Lamento profundamente, mas
não tenho o direito de ligar-me com tanta firmeza a quaisquer pessoas
por laços de simpatia e estima pessoal a ponto de tolher os meus
movimentos, ficando eu incapacitado para encaminhar os demais para
algo maior e mais nobre que a sua atual fé. Portanto, prefiro deixá-lo
em seus erros atuais. O sentido resumido disto é o seguinte: o senhor
Massey atua sob os mais estranhos equívocos e, (literalmente) "sonha
sonhos", embora não seja um médium como o seu amigo, o senhor S.
Moses. Contudo, é ele o mais nobre, mais puro e, em poucas palavras,
um dos melhores homens que conheço, embora em certas ocasiões,
confie demasiado em orientações errôneas. No entanto, carece, por
completo, de uma intuição correta. Virá mais tarde, quando nem
H.P.B., nem Olcott, estejam aqui. Até então, lembrai-vos e dizei-lhe
assim: que não exigimos, nem fidelidade e reconhecimento - seja
público ou privado, nem temos coisa alguma a ver, ou dizer, para a
Loja Britânica, exceto por voso intermédio. Quatro europeus foram
colocados em provação há doze mêses: dos quatro, somente um, vós,
mostrou-se digno de nossa confiança. Este ano as Sociedades, em vez
de indivíduos, é que serão testadas. O resultado dependerá do trabalho
coletivo delas, e o senhor Massey se equivoca quando espera que eu
esteja pronto para unir-me ao conjunto heterogêneo dos "inspiradores"
da senhora K.2 Deixe que eles permaneçam debaixo das suas
máscaras de São João Batista e aristocratas bíblicos. Desde que a
última ensine as nossas doutrinas (conquanto turvadas por joio
estranho) se ganhará um bom objetivo. C.C.M. quer luz (ele é
bemvindo a ela) por vosso intermédio. Desde que é tudo que ele quer,
que importa se ele julga ser o "portador da luz" que vos entrega a tocha
como sendo um homem de mãos limpas ou não, já que a luz em si não
é afetada por isso? Apenas permitai-me prevenir-vos. Um assunto tão
trivial agora, a ponto de parecer somente como a inocente expressão
da vaidade feminina, pode, a menos que seja imediatamente retificada,
produzir consequências muito daninhas. Em uma carta da senhora
Kingsford ao senhor Massey, aceitando condicionalmente a
presidência da S.T. Britânica, ela expressa sua crença (melhor,
considera-a como sendo um fato inegável) que, antes do surgimento
do "O Caminho Perfeito", ninguém "sabia o que a escola Oriental
sustentava, na realidade, a respeito da Reencarnação"; e acrescenta
que, "vendo tudo quanto foi dito nesse livro, os adeptos estão se
apressando em revelar os seus próprios tesouros, até agora
distribuidos em pequenas porções e com tanta reticência" (tal como
disse H.X.). O senhor Massey, a respeito, dá em resposta, uma plena
adesão a esta teoria e se desdobra em um hábil cumprimento à dama,
os quais honrariam a um diplomata. "Provavelmente", diz ele, "tem-se
a impressão (pelos Irmãos) que uma comunidade na qual uma obra
como "O Caminho Perfeito" pode surgir e encontrar aceitação", está
pronta para a luz! Pois bem, que esta idéia ganhe popularidade e
tenderá a transformar em uma seita a escola da autora altamente
estimada, a qual, embora o seja da Quinta Ronda, não está isenta de
uma considerável dose de vaidade e despotismo e portanto, de
intolerância. E deste modo o conceito errôneo atinge uma importância
indevida, prejudicando, assim, a sua prórpia condição espiritual ao
alimentar o senso latente de Messianismo; e teríeis obstruido a causa
da investigação livre, geral e independente, que tanto os seus
"Iniciadores", como também nós queríamos promover. Escrevei então,
bom amigo, a verdade ao senhor Massey. Diga-lhe que estáveis de
posse dos pontos de vista orientais, acerca da Reencarnação, muitos
mêses antes que a obra em questão tivesse aparecido, pois foi em
julho (há 18 mêses) que começastes a aprender a diferença entre a
Reencarnação à maneira de Allan Kardek, ou seja o renascimento
pessoal, e a reencarnação da Mônada Espiritual; uma diferença que
vos foi mostrada no dia 5 de julho, em Bombaim. E para apaziguar
outra ansiedade dela, diga-lhe que não se espera nenhuma lealdade
dela para com os "Irmãos" (que não a aceitariam mesmo que fôsse
oferecida) pois não temos agora intenção alguma de fazer outras
experiências com europeus, e não utilizaremos outro canal que não
vós mesmo, para difundir a nossa filosofia Arhat. A experiência tentada
com o senhor Hume, em 1882, fracassou da maneira mais triste.
Temos mais direito que vosso Wren, ao lema festina lente!

Agora, rogo-vos que me sigais a águas ainda mais profundas. A um


extremo da linha, um incostante, irresoluto e suspeito candidato; no
outro extremo um declarado inimigo sem retidão (digo a palavra e a
sustento) e, vingativo e concordareis que entre Londres e Simla não é
muito provável que apareçamos sob uma luz muito atrativa ou como
algo que se pareça com uma luz verdadeira. Pessoalmente, esse
estado de coisas mal nos tirará o sono: no que se refere ao progresso
futuro da S.T. Britânica e de uns poucos teósofos, a corrente de
inimizade que flui entre os dois lugares seguramente afetará todos que
se encontrem em seu caminho e é possível que, no decorrer do tempo,
também sejais afetado. Quem de vós deixará de crer nas afirmações
explícitas dos dois "cavalheiros", ambos notórios pela sua qualificação
intelectual, e um dos quais é, pelo menos, tão incapaz de pronunciar
uma mentira como deslocar-se no ar. Assim, apesar do fim do ciclo, há
um grande perigo pessoal, tanto para a S.T. Britânica, como para vós.
Nenhum dano pode agora recair sobre a Sociedade; muita perturbação
foi acumulada para a pretendida Loja e para os seus sustentadores, a
menos que para vós e o senhor Massey sejam explicados alguns fatos
e fornecida uma chave da verdadeira situação. Agora, se devido a
algumas razões muito boas devo deixar C.C.M. entregue à sua idéia
errada de culpar H.P.B. e as minhas próprias vacilações morais,
chegou o momento de mostrar-vos o senhor Hume em seu verdadeiro
aspecto, ao valer-se de uma falsa tetemunha contra nós, lamentando,
ao mesmo tempo, que estou impedido pelas regras de nossa ordem e
por meu próprio senso de honra (por menos que possa valer aos olhos
de um europeu) de divulgar, agora, alguns fato que mostrariam de
imediato a C.C.M., quão profundamente está errado. Talvez não vos
conte nada de novo se disser que foi a atitude do senhor Hume, quando
se formou a Eclética, que levou os nossos chefes a fazer com que Fern
e Hume se encontrassem. O último nos recriminou com veemência
pelo fato de recusarmos tomar como chelas a ele próprio e a esse
jovem espiritual, amável e elegante, aspirante à verdade: Fern. todos
os dias nos ditavam norma e diariamente nos censuravam por nossa
incapacidade em desenvolver os nossos próprios objetivos. E não será
nenhuma novidade, ainda que possa vos desgostar e chocar, saber
que os dois foram atraídos a um relacionamento muito chegado a fim
de que exteriorizassem as suas virtudes e defeitos mútuos, para que
cada um se mostrasse como realmente era. Tais são a leis da provação
Oriental. Fern era um tipo psíquico dos mais extraordinários, muito
inclinado naturalmente à espiritualidade, mas corrompido pelos seus
mestres jesuítas e com seu Princípios Sexto e Sétimo completamente
adormecidos e paralizados dentro de si; sem nenhuma idéia do que é
o bem e o mal; em resumo: irresponsável em tudo, a não ser nas ações
diretas e voluntárias do homem animal. Eu não teria me
sobrecarregado com tal indivíduo caso soubesse de antemão que ele
fracassaria. M. concordou porque os Chefes assim desejaram e ele
julgou que seria útil e conveniente para vos mostrar a fibra moral e o
valor daquele que consideráveis e chamáveis de amigo. O senhor H. -
pensais, embora lhe faltando os mais refinados e melhores
sentimentos de um cavalheiro, no entanto ele o é devido tanto por suas
tendências inatas, como por seu nascimento. Não pretendo estar
completamente familiarizado com o código de honra das nações
ocidentais. Entretanto, duvido que um homem que, durante a ausência
do dono de certas privativas, se apropria da chave deixada por decuido
no bolso do paletó, na varanda, durante as horas de trabalho, abre com
ela a gaveta da ecrivaninha, lê as cartas privadas dessa pessoa, toma
apontamentos delas e então utiliza essas anotações como arma para
satisfazer seu ódio e vingança contra quem as escreveu, duvido, digo,
se esse homem pode ser considerado, mesmo no Ocidente, como o
cavalheiro ideal ou mesmo mediano. E eu sustento, que isso e muito
mais, foi feito pelo senhor Hume. Se eu vos tivesse dito isto em agosto
passado, nunca teríeis acreditado em mim. E agora estou preparado
para prová-lo com a própria assinatura dele. Tendo sido surpreendido
duas vêzes, por M. na mesma honesta ocupação, meu Irmão escreveu
propositalmente (ou melhor, fez com que Damodar escrevesse a
propósito) determinada carta para Fern, anexando uma cópia de uma
carta do Sr. H. para mim. O conhecimento do conteúdo das mesmas
tinha por objetivo revelar, quando chegasse o momento, a verdadeira
honestidade e instintos cavalheirescos de quem se coloca tão alto
sobre a humanidade. Agora está preso em suas próprias redes. O ódio
e a irresistível sêde de ofender e difamar Olcott, em uma carta dirigida
a este, que é incomensuravelmente mais elevado do que todos os seus
detratores, levou o senhor Hume à uma imprudente confissão. Quando
surpreendido e encurralado, ele recorre à uma MENTIRA descarada e
sem cerimonia.

E agora, depois desta referência preliminar e da explicação necessária,


vou colocar-vos a par de certo trechos de cartas privadas, das quais
não sois destinatário, entretanto, estão longe de serem "confidenciais",
pois em quase todas o Sr. H. pede ao destinatário que elas sejam lidas
por outros teosofistas. Epero que não me imputeis isso como evidência
de "instintos anti-cavalheirescos". Visto que hoje em dia, em relação a
qualquer indivíduo, um homem universalmente reconhecido como
sendo um "cavalheiro", é com frequência um ser desprezível, e como
as aparências externas de um cavalheiro escondem com frequência, a
alma de um vilão, ele tem toda a liberdade de me julgar como quiser.
Eu vos dou estes trechos porque se faz necessário, em absoluto, que
estejais corretamente informado da verdadeira natureza de quem
passa agora o seu tempo, escrevendo cartas aos teosofistas de
Londres e aos candidatos a membro, com o propósito determinado de
indispor a todo místico do Ocidente contra uma Fraternidade de "ateus,
hipócritas e feiticeiros". Os trechos ajudarão a orientar a vossa ação no
caso de possíveis eventualidades e confusões, causadas por vosso
amigo e nosso simpatizante, que, enquanto denuncia o meu Irmão,
muito mais do que amigo, como sendo um larápio, covarde, mentiroso
e a encarnação da baixeza, insulta-me com palavras de compadecido
elogio, que ele pensa que eu seja bastante traidor para aceitá-las, e
muito estúpido para não julgá-las em seu verdadeiro valor. Recordai:
tendes que ficar prevenido contra tal amigo, da mesma maneira que
um duelista que leva uma proteção de malha metálica debaixo de sua
camisa. Suas boas ações são muitas, os seus vícios mais numerosos;
as primeiras têm sido sempre grandemente controladas e promovidas
pelo seu desordenado amor próprio e combatitividade; e se não está
ainda determinado qual finalmente controlará o impulso cujos
resultados representarão o seu próximo nascimento, poderemos
profetizar, com um certo grau de perfeita segurança, que ele nunca se
tornará um adepto, seja nesta ou em sua vida futura. Suas aspirações
"espirituais" receberam plena oportunidade para se desenvolver. Foi
provado, como todos tem que ser e como a pobre mariposa que foi
chamuscada na vela do Castelo de Rothney9 e sua comunidade. Mas
o vitorioso na luta pelo adeptado foi sempre o Eu e apenas o Eu. As
suas visões cerebrais já lhe pintaram a imagem de um novo
Regenerador da Humanidade no lugar dos "Irmãos" cuja ignorância e
manipulações em magia negra ele conjecturou. Esse novo Avatar não
mora em Almorah, mas em Jakko. E assim, o demônio da Vaidade que
arruinou Dayanand11, está arruinando o nosso amigo de outros
tempos, preparando-o para efetuar um assalto sobre nós e a S.T.,
muito mais selvagem que o do Swami. Entretanto, o futuro poderá
cuidar de si mesmo; apenas terei que molestá-lo agora, com os dados
acima indicados. Talvez percebereis agora, porque tive que recolher,
em outubro passado, indícios de sua natureza falsa e astuta. Nada é
feito por nós, meu amigo, sem um propósito, mesmo que sejam ações
aparentemente absurdas e repreensíveis.

No dia primeiro de dezembro, o senhor Hume, escrevendo ao coronel


Olcott, disse de nós o seguinte: "Quanto aos Irmãos, eu tenho um
sincero afeto por K.H., e sempre terei e quanto aos outros, não duvido
que sejam homens muito bons, que atuam de acôrdo com seus
conhecimentos. Mas, quanto ao seu sistema, estou em completa
oposição...mas isso nada tem a ver com os objetivos práticos
exotéricos da S.T. na qual e em cujo desenvolvimento eu posso
cooperar tão cordial como agradavelmente com seus bons Irmãos,
como, etc, etc,"

Oito dias antes (22 de novembro) ele havia escrito a P. Sreenevas


Row, Juiz da S.C.C. em Madras: "Verifico que a Fraternidade é um
grupo de homens ímpios e egoistas, os quais como agrupação não se
ocupam de outra coisa que não seja o seu próprio desenvolvimento
espiritual (entendei que a esse respeito K. H. é uma excesão, mas ele
é, creio, o único), e seu sistema é o do engano, e está em grande parte,
manchado com feitiçaria (!) pois que eles utilizam cascões, quer dizer,
elementais para executar os seus fenômenos. Quanto à decepção,
uma vez que um homem se tornou um chela e se comprometeu pelos
juramentos que eles exigem, não podeis crer numa palavra do que
diz;...ele mentirá de uma maneira sistemática; pois com relação à
feitiçaria, o fato é que até o tempo de Sonkapa...eles eram um grupo
de feiticeiros duros e vis...Cada chela é um escravo na mais abjeta
descrição, um escravo em pensamento, como também na palavra e na
ação...; nossa Sociedade...é um edifício nobre em seu aspecto exterior,
mas não está construido sobre a rocha das idades, mas sobre as areias
movediças do ateismo, um sepulcro caiado, todo brilhante...dentro,
cheio de engano e dos restos mortais de um sistema jesuítico
pernicioso...Tendes a liberdade de fazer o uso que melhor quiserdes
desta carta, dentro da Sociedade", etc.

No dia 9 do mesmo mês ele escreveu para o Sr. Olcott a respeito "do
manifesto egoismo da Fraternidade, concentrada somente no seu
desenvolvimento espiritual".

No dia 8 de setembro, numa carta para 12 Chelas (os mesmos aos


quais ele se referia numa carta para o Juiz Sreenevas Row no dia 22
de Novembro - após ter recebido deles uma resposta coletiva,
exasperante e sincera à carta diplomática acima mencionada - na
condição de mentirosos e escravos manietados) - ele dizia, como
sabeis, ele "não esperava que qualquer europeu pudesse ler entre as
linhas", do seu complô, na carta assinada como H.X. publicada no
Teosofista, mas, "um grupo de Brahmanes... as mentes mais sutis do
mundo...não Brahmanes comuns, mas homens da educação mais
elevada e nobre, etc"(!!) Eles "podem estar certos de que eu (ele)
nunca direi ou farei algo que não seja para o proveito dos Irmãos, da
Sociedade e de todos os seus objetivos"...(Assim, parece que as
acusações de feitiçaria e desonestidade são feitos para o "proveito dos
Adeptos asiáticos"). Nesta mesma carta, se recordais, ele acrescenta
que ela é "a arma mais eficiente, até agora forjada, para a conversão
dos infiéis em nosso país" e que ele "esperava, como é natural", (ao
escrever a sua carta no Teosofista) fazer a querida "Velha Dama"
compreender, pois não podia incluí-la na conspiração," etc., etc.

Com toda a sua astúcia e diplomacia, parece que ele, na realidade,


sofre de perda de memória. Não só havia incluido "a querida Velha
Dama" na conspiração numa longa carta privada escrita para ela umas
poucas horas depois que a dita "arma eficiente" tinha sido enviada para
publicação (uma carta que ela vos enviou e que perdestes ao
empacotar a vossas coisas em Simla para sair dali), mas que ele de
fato deu-se ao trabalho de colocar umas poucas palavras de explicação
nas costas da citada "Carta". Ela está guardada como qualquer outro
manuscrito por Damodar e a nota é a seguinte..."Por favor imprima isto
cuidadosmente e sem alteração. Ela responde admiravelmente à Carta
de Davison e outras, vindas de casa"...(Trechos dessas cartas foram
incluidos em seu manuscrito)..."Temo que não possamos sustentá-la
por muito tempo, mas, insinuações como esta ajudarão a deter a
queda", etc...

Tendo ele mesmo forjado esta arma tão eficiente para a conversão dos
infiéis em seu país, quanto à nossa existência real, e impossibilitado
daqui por diante de negá-la, qual melhor antídoto senão acrescentar
às insinuações ali contidas, acusações plenas e bem caracterizadas
de feitiçaria, etc.?

Quando acusado pelos 12 Chelas na resposta conjunta que deram à


sua carta, de uma falsificação deliberada de fatos com referência à
querida "Velha Dama" a quem ele tinha, apesar de tudo que pudesse
dizer em contrário "incluindo na conspiração", escreve em uma carta a
Subba Row que ele nunca fez tal coisa; que sua carta à "Madame",
explicando-lhe os porques e as razões dessa sua firmada "H.X." foi
escrita e enviada a ela muito depois que a tal carta denunciatória já
"havia sido impressa". Subba Row, a quem havia escrito injuriando
amargamente M., respondeu, citando para ele as mesmas palavras
que tinha escrito nas costas do manuscrito, mostrando-lhe, assim,
quão inútil era qualquer outra falsidade. E agora podeis avaliar o seu
amor por Subba Row!*

E agora vem a gota d'água. Escrevendo em 1º. de Dezembro para o


Sr. Olcott (a primeira carta mencionada acima) ele pretende,
claramente, possuir poderes de adepto: "Lamento não poder estar
convosco em Bombaim, em meu corpo físico, mas, se permitido, eu
posso, entretanto, ajudar-vos ali..." No entanto, no caso de Fern, ele
diz "é um perfeito caos e ninguém pode dizer o que é devido ou não",
e diversas cartas sobre o mesmo assunto estão repletas com a
afirmação de que ele não tinha poder algum para ver o que acontecia
"durante os últimos seis mêses". Bem pelo contrário, pois que em uma
carta que me enviou durante esse período ele descreve a si mesmo
como "não estando em um nível espiritual junto com Fern, Sinnett e
outros". Não se atreveu em vangloriar-se comigo de sua clarividência
espiritual; mas agora, tendo "rompido para sempre com os Feiticeiros
Tibetanos", os seus poderes de adepto em potencial tinham se
desenvolvido, repentinamente, em proporções monstruosas. Devem
ter sido maravilhosamente grandes desde o seu nascimento, pois que
informa a Olcott (na mesma carta) que no princípio lhe "era necessária
uma certa quantidade de Pranayama, durante uns poucos mêses (seis
semanas no total), para conseguir a concentração. Já passei esse nível
e SOU UM IOGUE".

A acusação apresentada agora contra ele é de um caráter tão grave,


que eu nunca vos teria pedido que acreditásseis nele basedao na
minha simples afirmação. Daí esta longa carta e a seguinte evidência
que vos rogo, lêde com o maior cuidado, e extraia as vossas
conclusões somente com base nessa evidência.

Na carta que me dirigiu, em julho, nos atribui a culpa da série de


falsidades de Fern; suas pretensas visões e inspirações provenientes
de nós, e na carta ao senhor Olcott (de 1º. de dezembro) culpa Morya,
meu amado Irmão, de atuar "da maneira mais desonrosa",
acrescentando que "desde então nunca o considerou como um
cavalheiro, porque fez com que Damodar...enviasse a Fern uma cópia
de meu informe confidencial a repeito dele..."Isto ele considera como
uma "desonrosa quebra de confiança tão grande que Morya teve receio
(!!) mesmo de dar a conhecer a K.H. como ele havia roubado e feito
mal uso de minha carta a ele. K.H. é um cavalheiro, creio, e desprezaria
uma maneira tão baixa de proceder". Sem dúvida, teria desprezado, ao
saber que tinha sido feito sem o meu conhecimento e se não fôsse
absolutamente necessário - em vista de acontecimentos claramente
previstos, para fazer com que o senhor Hume traísse a si mesmo, e
deste modo se contrapor à influência e autoridade da sua vingativa
natureza. A carta assim transcrita não estava marcada confidencial, e
as palavras "eu estou pronto para dizer na face de Fern, qualquer dia"
- estão ali. Entretanto - a desmedida ofensa e a sua indignação
verdadeiramente santa e cavalheiresca diante da deslealdade de M.,
são seguidas por estas palavras de confissão, muito marcantes como
verás..."Fern não sabe até agora (permita-me fazer-lhe justiça), que eu
não sabia isso", isto é, da carta subtraída por M. e enviada a Fern,
através de Damodar. Em resumo, então o Sr. Hume tinha os meios
para ler o conteúdo de uma carta particular remetida registrada para
Fern, aos cuidados dele (Hume), que a guardou na gaveta de uma
mesa pertencente a sua casa. A prova é completa pois é ele mesmo
que a fornece. Como então ocorreu? Naturalmente, ou pela leitura da
sua substância física com os seus olhos naturais, ou, a de sua essência
astral por poder transcedental. Caso seja por este, então por qual
sistema rápido e eficiente o poder psíquico deste "iogue" (que em julho
passado "não se encontrava no nível espiritual" vosso, nem mesmo no
de Fern) emergiu de pronto a tão completo florescimento e frutificação,
quando que isso requer de nós, "feiticeiros" treinados, de dez a quinze
anos para adquirí-lo? Além disso, se esta e outras cartas dirigidas a
Fern foram-lhe apresentadas na "luz astral" (como ele sustenta em sua
carta em resposta a pergunta de O. e aqui anexada), como é que o
benevolente gênio de Almorah (mediante cuja ajuda ele adquiriu
prontamente tão tremendos poderes) podia fazer com que ele tomasse
nota dos seus conteúdos, de ler palavra por palavra e recordar
SOMENTE as cartas que foram guardadas por Fern (de acôrdo com
terminantes ordens de M.) em seu escritório, na casa do senhor Hume?
Entretanto, NÓS O DESAFIAMOS a que repita uma palavra de outras
cartas muito mais importantes (para ele), enviadas por meu Irmão ao
"chela em provocação", nas quais se proibiu a este que as guardasse
no Castelo de Rothney, mas que as conservasse com segurança em
uma escrivaninha fechada com chave, em sua própria casa. Ao surgir
estas perguntas na mente de Olcott (por vontade de M.) ele as
apresentou prontamente ao senhor Hume. Como chela de M., a quem,
como é natural, reverencia como Pai e como Mestre, Olcott fez a este
Censor Elegantiarum, com muita correção, a pergunta direta se ele
mesmo não se sentia culpado da mesma "desonrosa quebra de
conduta cavalheiresca da qual ele se queixava no caso de Morya, (E
de modo injusto, como vêdes agora, porque o que ele (M.) fez, têve a
minha aprovação, pois que era uma parte necessária de um plano
preconcebido para pôr às claras, além da verdadeira natureza do
senhor Hume, uma vergonhosa situação, em si, desenvolvida pelos
nefastos apetites, desatinos e Karma de vários homens débeis; algo
que no final foi bom como vereis).

Não temos agora no Tibet cavalheiros que, de qualquer modo


pudessem se igualar ao padrão de Simla, apenas muitos homens
honestos e leais. A pergunta feita pelo senhor Olcott têve uma resposta
tão envolta numa falsidade deliberada e manifesta, numa vaidade tola,
com uma intensão tão relez para invalidar a única hipótese possível de
que ele havia lido, sem conhecimento do dono, a sua correspondência
particular, que eu pedi a Morya que a procurasse para mim para que a
lêdes. Depois disso, rogo-vos a amabilidade de me devolvê-la por
intermédio de Dharbagiri Nath, que está em Madras no correr desta
semana.

Fiz uma tarefa desagradável e enfadonha, mas uma grande coisa será
alcançada se ela vos auxiliar a nos conhecer melhor, seja para qual
lado o vosso critério europeu de certo e errado faça pender a vossa
opinião.Talvez podereis reconhecer a vós mesmo na atitude de C.C.M.
lamentando achar-vos obrigado a aceitar ou rejeitar, para sempre, um
"paradoxo moral" penoso como eu sou. Ninguém o lamentaria mais
profundamente do que eu; mas as nossas Regras provaram ser sábias
e benéficas para o mundo ao longo do tempo; e o mundo em geral e,
em especial, as suas unidades individuais, são tão terrivelmente
perversas que temos que combater cada uma com as próprias armas
que ele ou ela empregam.

Tal como se mantém a situação na atualidade e embora não


permitiríamos um "adiamento" demasiado, parece desejável que
ficásseis por alguns mêses em seu país, digamos até junho. Mas, a
menos que ides a Londres e, com a ajuda de C.C.M., explicais a
verdadeira situação e restaureis vós mesmo, à Sociedade, as cartas
do Sr. Hume terão feito tanto dano que não poderia se remediar o
prejuízo. Deste modo, a sua ausência temporária atingirá um propósito
bom e duplo: a formação de uma verdadeira Sociedade Teosófica
oculta, e a salvação de alguns poucos indivíduos promissores para
futuros trabalhos, que agora podem se perder. Além disso, a vossa
ausência da Índia não será um mal de todo, já que os amigos do país
sentirão a vossa perda e talvez, estejam ainda mais dispostos a
chamá-lo, especialmente se o "Pioneer" mudar de tom. Seria
conveniente se pudésseis utilizar alguns dos vossos dias feriados para
uma ou outra forma de escritos teosóficos. Possuis agora uma grande
quantidade de material e se tentardes conseguir cópias dos papéis
didáticos entregues ao senhor Hume, seria uma precaução oportuna.
Ele é um fértil escritor de cartas, e agora que se desencarregou de toda
restrição, terá que ser estreitamente vigiado. Recordai a profecia do
Chohan.

Sempre seu sinceramente,

K.H.
Carta Nº 058

Recebida em Madras, em Março de 1883.

Esta é outra carta recebida enquanto os Sinnetts estavam em Madras,


preparando-se para viajar para a Inglaterra.

No livro de Josephine Ransom, "Pequena História da Sociedade


Teosófica, (p.179), ela menciona que, enquanto os Sinnetts estavam
em Adyar, a caminho para a Inglaterra, Sinnett estava começando a
trabalhar em seu livro "Budismo Esotérico", e ele tomou notas de
algumas questões para o Mahatma e pediu à sua esposa para entregá-
las à H.P.B., para transmissão. Ela o fez, e H.P.B. lhe disse para
colocá-las no armário decorativo, pendente da parede entre os seus
dois quartos. (Este era o discutido "Santuário" usado mais tarde pela
Sra. Coulomb para causar desgosto a H.P.B.). As duas mulheres
sentaram-se para conversar, e depois de dez minutos, H.P.B. disse à
Sra. Sinnett para olhar de novo no armário, e ali ela achou a resposta
do Mahatma, junto com o papel de perguntas de Sinnett. Se esta é
aquela resposta não está revelado, mas poderia muito bem ser, pois
que a carta responde, obviamente, a algumas questões.

Meu caro "Pupilo".

Não iremos, se permitirdes, tratar agora com a situação concernente a


"estrelas" e obscurações, por razões muito claramente explicadas a
vós esta manhã por H.P.B. A minha tarefa torna-se mais perigosa a
cada carta. torna-se extraordinariamente difícil ensinar-vos e ao
mesmo tempo mantermos o programa original: "até aqui chegaremos
e não mais além". Entretanto devemos e vamos mantê-lo.

Interpretastes mal, totalmente, o sentido de meu telegrama. As


palavras: "mais em Adyar", relacionada com a verdadeira explicação
de sua visão, e de nenhuma maneira à uma promessa de alguns outros
experimentos psicológicos efetuados por mim, nessa direção. A visão
foi devida à uma tentativa efetuada por D.K. que está, em extremo,
interessado no vosso progresso. Apesar dele ter conseguido em retirar-
vos do vosso corpo ele fracassou inteiramente no seu esforço de abrir
a vossa visão interna, por razões que deduzistes corretamente na
ocasião. Eu não tomei parte ativa nessa tentativa. Daí a minha
resposta, "deduções corretas - mais em Adyar". Presisamente agora
encontro-me numa posição muito difícil, e devo ser duplamente
cauteloso para não comprometer as possibilidades do futuro.

"A provável data de vossa partida? Bem, ao redor do dia 7 de abril.


Caso a vossa impaciência discorda com este meu desejo, estais livre
para fazer o que quiserdes. Entretanto, eu o consideraria apatia geral
dos meus compatriotas. Mais do que nunca, confio somente nos
poucos e firmes obreiros da infortunada e desamparada Sociedade
Teosófica. A carta do Vicerei poderia ser da maior ajuda caso pudesse
ser usada com discernimento. Mas nesses casos, vejo que não sou
juiz, pois agora faço previsões com base na impressão deixada em
vossa mente por R. Srinavasa Rao e outros.

Tendo sido explicado o episódio de 7 de fevereiro, a vossa pergunta


relativa às "as restrições iniciais" já foi respondida.

Posso pedir-vos mais dois favores, pessoais e importantes? Primeiro,


ter sempre em mente que em qualquer tempo e tudo quanto seja
possível, será feito sempre para vós, sem que o peçais; em
consequência, nunca deveis pedir ou sugerir, já que isso significará,
simplesmente, evitar-me a tarefa sumamente desagradável de ter que
recusar o pedido de um amigo, sem estar, além disso, em condições
de poder explicar a razão da negativa; e segundo: recordar que,
embora pessoalmente e para o seu próprio bem, eu possa estar
preparado para fazer muito, não estou, de modo algum, comprometido
a fazer algo parecido para os membros da S.T. Britânica. Dei-vos a
minha palavra de ensinar-lhes a nossa filosofia por vosso intermédio,
quer a aceitem ou não. Mas nunca me comprometi a convencer a
nenhum deles acerca da extensão de nossos poderes, nem mesmo de
nossa existência pessoal. A crença ou descrença deles nesta última é,
na verdade, de muito pouca importância para nós. Se eles vão se
beneficiar alguma vez de nossa promessa, deve ser somente por vossa
mediação e vossos esforços pessoais. Também nunca podereis ver-
me (em meu corpo carnal) nem mesmo em uma visão claramente
definida, a menos que estejais preparado para prometer, por vossa
honra, jamais revelar o fato a ninguém enquanto viverdes (a menos
que recebeis permissão para isso). Que a consequência de tal
promessa será uma dúvida nunca satisfeita, sempre presente nas
mentes de vossos membros britânicos, é justamente o que desejamos
no momento. Demasiado, ou muito pouco foi dito e provado a respeito
de nós, como o senhor M.A. (Oxon) assinalou com justiça. Foi-nos
determinado que começássemos a trabalhar para varrer os poucos
vestígios (e deveis essa nova orientação às incessantes intrigas
ocultas de nosso ex-amigo, o senhor Hume, agora por inteiro nas mãos
dos Irmãos da Sombra) e quanto mais se duvide da nossa existência
real, melhor será. Quanto a testemunhos e provas convincentes para
os Saduceus da Europa em geral e da Inglaterra em especial, é algo
para ser deixado, por completo, fora do nosso programa futuro. A
menos que se nos permita utilizar nosso próprio critério e meios, o
curso dos futuros acontecimentos não se desenvolverão, de nenhum
modo, com facilidade. Portanto, não deveríeis empregar nunca, frases
tais como "em consideração ao apoio de amigos em nosso país" já que,
com certeza, não haveriam de produzir nenhum bem, e só irritaria mais
os outros "poderes efetivos", se temos que usar essa ridícula frase.
Não é sempre lisongeiro, bom amigo, ser colocado, mesmo por
aqueles de quem se gosta mais, no nível dos cascões e dos médiuns
com o propósito de provas. Pensei que já tinheis felizmente,
ultrapassado essa etapa. Dediquemo-nos no presente ao simples
aspecto intelectual de nosso relacionamento e ocupemo-nos só com a
filosofia e seu futuro periódico e deixemos o resto ao tempo e aos seus
desenvolvimentos imprevistos.

É precisamente porque eu sigo e percebo o duplo trabalho de sua


mente, ao fazer esses pedidos, que eu firmo as minhas cartas,
invariavelmente como

Vosso afetuoso amigo

K.H.
Carta Nº 059

Recebida em Londres em Julho de 1883.

Chegamos agora a duas cartas mais extensas que, provavelmente,


foram escritas e postadas ao mesmo tempo. A Carta nº.111 destina-se
a ser lida por Sinnett (se ele o desejar) aos membros da Loja de
Londres. A outra (Carta nº.112) é mais pessoal.

O segundo livro de Sinnett, "O Budismo Esotérico", saiu da gráfica em


10 de junho.

Sejam quais foram as falhas que o meu sempre indulgente "chela laico"
possa me atribuir, parece que reconhecerá que lhe dei uma nova fonte
de satisfação; pois nem mesmo a sombria profecia de Sir Charles
Turner (um obscurecimento recente seu) de que iríeis cair no
catolicismo romano, como resultado inevitável de imiscuir-se com a
Teosofia e crer no maya de "K.H.", diminuiu o ardor de vossa
propaganda no alegre mundo londrinense. E se este zêlo fôsse citado
pelo Altruista de Rothney em apoio a sua declaração de que as vossas
vesículas cinzentas se encontram sobrecarregadas com o Akasa de
Shigatse, será, no entanto, não há dúvida, um bálsamo para os vossos
sentimentos feridos saber que estais ajundando, em especial, a
construir a ponte através da qual podem os metafísicos ingleses
aproximarem-se de nós em pensamento.

É costume entre algumas boas pessoas olhar retrospectivamente para


a trajetória de suas vidas, ao transporem períodos de tempo anuais.
Assim, se a minha esperança não me enganou, deveis estar
comparando, mentalmente, o vosso "prazer mais profundo" atual e a
"constante ocupação", com o que ocorreria em tempos passados,
quando caminháveis nas ruas de vossa metrópole, onde as casas
parecem como que "pintadas com tinta nanquim", e um dia de sol é
algo para se recordar sempre. Sempre avaliastes a vós mesmo, e
considerastes o teósofo como um "Anak" do ponto de vista moral, em
comparação com "o homem de antes" (o belo valseador); não é assim?
Bem, isto é, talvez, a vossa recompensa, o começo da mesma: o ireis
realizar no Devachan, quando estiverdes "flutuando em meio" ao éter
circundante em vez do lodoso Canal da Mancha, por mais nebuloso
que esse estado pareça agora à vossa imaginação de mente. Somente
então "vos vereis por vós mesmo" e aprendereis o verdadeiro
significado do Atmanân-âtmanâ pasya da grande filosofia Vedanta:

"Conhecer a si mesmo como uma brilhante luz

não requer luz alguma para tornar a si próprio percebido..."

De novo e uma vez mais se fez um esforço para dispensar parte dessa
nebulosidade que encontro no Devachan4 do senhor Massey.
Aparecerá como uma contribuição no número de agosto de "O
Teosofista" e para isso chamarei a atenção do senhor Massey e a
vossa. É muito possível que ainda então a "obscuridade" não se
dispersará, e poderá se supor que a explicação tentada não é a que se
espera; e que, em vez de darmos corda ao relógio, uma mão
desastrada nada mais fez senão quebrar alguns dentes das
engrenagens. Essa é a nossa desgraça, e duvido que nos livremos por
completo dessas obscuridades e alegadas contradições, pois não há
maneira de colocar frente a frente os que, perguntam e os que
respondem. Mas, no pior dos casos, devemos admitir que há alguma
satisfação no fato de que há agora uma passagem através deste rio e
que estais construindo os arcos para a ponte real. É muito bom que
batizeis o bebê recém-nascido no vosso cérebro, com as águas da
Esperança, e que, dentro dos limites do possível, através disso se dê,
"um impulso adicional e maior ao movimento atual". Mas, amigo; até o
"queijo verde" da brilhante lua é comido periodicamente por Rahu;
assim não pensei que estais livre de todo das vicissitudes da
volubilidade popular, que rechassaria a vossa luz em favor do brilho de
uma simples vela de algum novo homem. A cultura da sociedade se
inclina com frequência mais para a filosofia de tênis do que para a dos
proscritos "Adeptos", cujo jogo mais amplo tem como bolas, os
mundos, e como gramado aparado o espaço etéreo. A trama do vosso
primeiro livro estava temperada com fenômenos, de modo a deleitar o
paladar espírita; este segundo é um prato de fria filosofia e mal
encontrareis na vossa "grande seção da Sociedade Londrina",
suficiente quantidade do vinho da simpatia para ingerí-lo. Muitos dos
que crêem agora que sois um louco inofensivo, comprarão o livro para
ver se uma Comissão sobre loucos se manifestará para impedir-vos de
fazer mais danos; de todos os vossos leitores muito poucos,
provavelmente, seguirão a vossa liderança até o nosso asharam. Não
obstante o dever do teósofo é semelhante ao do semeador; revirar a
terra e semear os seus grãos o melhor que puder: o resultado fica com
a natureza e ela é escrava da Lei.

Não vou desperdiçar condolências sobre os pobres "chelas laicos"


devido às "frágeis armas com as quais unicamente podem trabalhar".
Seria um dia muito triste para a humanidade se outras, mais afiadas e
mortais fôssem postas nas mãos desacostumadas a esgrimí-las! Ah!
estaríeis de acôrdo comigo, meu fiel amigo, se tão somente pudésseis
ouvir o lamento que um deles lançou, há pouco, devido aos terríveis
resultados que obteve das armas peçonhentas postas ao seu alcance,
em má hora, por meio da ajuda de um feiticeiro. Arruinado moralmente
pela sua própria e egoista impetuosidade, corrompendo-se fisicamente
por enfermidades engendradas pelas complacências animais que ele
forçou com ajuda "demoníaca"; fica atrás dele um negra recordação de
oportunidades perdidas e êxitos infernais: diante dele uma mortalha de
sombrio desespero, de avitchi. Agora esse desditado se volta a sua
impotente raiva contra a nossa "luminosa ciência" e contra nós e lança
as suas ineficazes maldições contra quem ele assediou em vão, em
busca de mais poderes no chelado, e a quem abandonou por um Gurú
necromante, que agora abandona a vítima ao seu destino. Ficai
satisfeito, meu amigo, com as vossas "frágeis armas": se não são tão
mortais como o disco de Vishnu, elas podem derrubar muitas barreiras,
se aplicadas com poder. O pobre desventurado a que nos referimos
confessa uma série de "mentiras, abusos de confiança, ódios,
tentações ou desorientações de outros, injustiças, calúnias, pérjuros,
falsas pretensões, etc". Ele "aceitou o risco de maneira voluntária", mas
disse: "se eles (nós) tivessem sido bons e generosos e também sábios
e poderosos certamente teriam me prevenido, com certeza, para não
empreender uma tarefa para a qual sabiam que eu não estava
capacitado". Em resumo, espera-se de nós, que adquirimos o nosso
conhecimento, tal como é, por meio do único método prático, e que não
temos o direito de obstaculizar qualquer pessoa que queira tentá-lo
(embora tenhamos o direito de prevenir, e prevenimos mesmo cada
candidato) que tomemos sobre as nossas cabeças as penas de tal
intromissão, ou que tratemos de nos poupar das mesmas, fazendo de
incopetentes, Adeptos, apesar deles mesmos! Porque não fizemos
isso, ele é "deixado a pairar numa miserável existência como um saco
vivo de veneno, cheio de corrupção mental, moral e física. "Esse
homem, em seu desespero, se converteu de um "pagão", ateu e livre
pensador (?), em um cristão, ou melhor, um teísta, e agora se submete
com humildade a Ele (a um Deus extracósmico para o qual até
descobriu um lugar) assim como a todos aqueles que por Ele foram
investidos com a autoridade legítima. E nós, pobres criaturas, somos
"traidores, Mentirosos, Diabos e todos os meus crimes (os dele), tal
como se enumeram acima, são como roupagem de glória comparados
com os crimes Deles". (Citamos todas as suas palavras, com
maiúsculas e grifadas). Agora, amigo meu, afastai esse pensamento
de que não devo comparar o vosso caso com o dele, porque não o
faço. Somente vos proporcionarei um vislumbre do inferno dessa alma
perdida, para vos mostrar que desastres podem cair sobre os "chelas
laicos" que se apoderam de poderes proibidos, antes que a sua
natureza moral se tenha desenvolvido até à plena adequação para o
seu uso. Deveis meditar muito sobre o artigo "Chelas e Chelas Laicos"
que vereis no Suplemento de julho do "O Teosofista".

Então o grande senhor Crookes colocou um pé no portal com o objetivo


de ler as publicações da Sociedade? Bem e sabiamente feito e muito
valente de sua parte. Até agora ele foi bastante arrojado para dar um
passo semelhante e bastante leal à verdade a ponto de contrariar os
seus colegas ao tornar públicas as suas descobertas. Quando ele viu
a sua valiosa comunicação abafada nas "Seções" e toda a Real
Sociedade tratava de silenciá-lo, figuradamente senão de fato, como
fez a sua Sociedade Irmã na América, com aquele mártir chamado
Hare, ele não imaginava que perfeita vingança o Karma tinha
armazenado para ele. Que ele saiba que a cornucópia do Karma não
está ainda vazia e que a Ciência Ocidental tem que descobrir ainda
três estados adicionais de matéria. Mas ele não deve esperar que
fiquemos restritos ao critério estetoscópico como fez a sua Katie, pois
nós, os homens, estamos sujeitos a leis de afinidades moleculares e
de atração polar que não são tolhidas por aquela encantadora imagem.
Nós não temos favoritos e não quebramos regra alguma. Se o senhor
Crookes há de penetrar nos segredos que estão além das galerias que
as ferramentas da ciência moderna já excavaram, que ele procure. Ele
procurou o radiometro; procurou de novo e encontrou a matéria
radiante; pode procurar novamente, e encontrar o "Kama-rupa" da
matéria, o seu quinto estado. Mas para encontrar o estado manásico,
ele terá que se comprometer a guardar mais firmemente os segredos
do que parece estar disposto. Conheceis o nosso lema e que a sua
aplicação apagou a palavra "impossível" do vocabulário do ocultista.
Se ele não se cansa de procurar, pode ser que descubra o mais nobre
de todos os fatos: seu verdadeiro EU. Mas terá que passar através de
muitos níveis antes de chegar a ELE. E para começar, que ele se liberte
do maya de que algum homem vivente possa "exigir" algo dos Adeptos.
Pode criar atrações irresisitíveis e forçar a atenção deles, mas essas
atrações deverão ser espirituais, não mentais ou intelectuais. E esta
advertência se aplica e é dirigida a vários teósofos britânicos e seria
bom que a conhecessem. Uma vez separado das influências comuns
da Sociedade, nada nos atrai a qualquer estranho a não ser a sua
espiritualidade envolvente. Ele pode ser um Bacon ou um Aristóteles
em conhecimento e, entretanto, não conseguir que sintamos a sua
corrente nem sequer como o roçar de uma pluma, caso o seu poder
esteja limitado a Manas. A energia suprema reside em Buddhi; latente,
quando está unida somente a Atman, ativa e irressitível, quando é
galvanizada pela essência de "Manas" e quando nenhum vestígio
inferior do último se mistura com aquela essência pura para rebaixá-la
por causa de sua natureza finita. Manas, puro e simples, é de um grau
inferior e terrestre por completo; daí decorre que os vossos maiores
homens não passem de nulidades na arena onde a grandeza é medida
de acôrdo com as normas do desenvolvimento espiritual. Quando os
antigos fundadores de vossas escolas de filosofia vieram ao Oriente
para adquirir o saber dos nossos predecessores, nada reivindicaram,
exceto o anseio sincero e não egoista pela verdade. Se alguém aspira
fundar novas escolas de ciência e filosofia, triunfará com o mesmo
plano: desde que os aspirantes possuam em si mesmos os elementos
de êxito.

Sim, tendes razão com relação à Sociedade de Investigação Psíquica;


o seu trabalho é de natureza a influenciar a opinião pública,
demonstrando de uma maneira experimental as fases elementares da
Ciência Oculta. H.S. Olcott tem procurado tornar cada Loja Indiana em
uma escola semelhante de investigação, mas falta a capacidade para
o estudo independente e continuado por amor ao próprio conhecimento
e isso deve ser desenvolvido. O êxito da S.I.P. (Sociedade de
Investigação Psíquica) ajudará muito nesta direção e lhe desejamos
êxito.

Estou também de acôrdo convosco em vosso ponto de vista sobre a


eleição do novo Presidente da S.T.B. (Sociedade Teosófica Britânica);
de fato concordei, creio, antes que se efetuasse a eleição.

Não há razão alguma porque não deveis "tentar curas mesméricas",


não com a ajuda do vosso medalhão0, mas com o poder de vossa
própria vontade. Sem esta última, em uma função energética, nenhuma
mecha de cabelo ajudará muito. O cabelo em si, não é mais que um
"acumulador" da energia daquele em que cresceu, e não pode curar
por si mesmo, da mesma maneira que a eletricidade acumulada não
pode girar uma roda, até que seja liberada e conduzida ao ponto
adequado. Ponde a vossa vontade em movimento e no mesmo instante
atuareis, sobre à pessoa em cuja cabeça cresceu (o cabelo, não a
vontade) por meio da corrente psíquica que corre sempre entre ele e
sua mecha que foi cortada. Para curar enfermidades não é
indispensável conquanto desejável, que o psicoterapeuta seja
absolutamente puro; há muitos na Europa e em outros lugares que não
o são. Se a curva se efetua sob o impulso de uma perfeita
benevolência, sem mistura alguma com qualquer egoismo latente, o
filântropo põe em movimento uma corrente que corre como um fino
estremecimento através da sexta condição da matéria e é sentida por
aquele a quem invocais em vossa ajuda, se nesse momento ele não
estiver entregue a algum trabalho que o obrigue a repelir toda influência
externa. a posse de uma mecha de cabelo de qualquer Adepto, é sem
dúvida, uma vantagem inegável, assim como o é para o soldado numa
batalha, uma espada melhor temperada; mas a medida do seu auxílio
efetivo para o psicoterapeuta estará em proporção com o grau de força
de vontade que estimule em si mesmo, e com o grau de pureza
psíquica em seu motivo. O talismã e seu Buddhi estão em simpatia.

Agora que vos encontrais no centro da moderna exegese Budista, em


relações pessoais com alguns dos mais hábeis comentaristas (dos
quais nos livrem os santos Devas!) chamarei a vossa atenção para
algumas coisas que são, na verdade, tão desacreditadas, mesmo para
as percepções dos não iniciados, dado que são desorientadoras para
o público em geral. Quanto mais se lê especulações tais como as dos
senhores Rhys Davids, Lillie, etc, menos pode alguém vir a crer que a
não regenerada mente ocidental consiga chegar algum dia ao cerne de
nossas complexas doutrinas. Conquanto, desesperançados possam
ser os seus casos, pareceria valer a pena provar as intuições de vossos
membros londrinos (ao menos, de alguns deles), expondo
parcialmente, através de vós, um ou dois mistérios, deixando que eles
mesmos completem o que falta no encadeamento. Tomaremos o
senhor Rhys Davids como nosso primeiro exemplo e mostraremos que,
apesar de tê-lo feito de uma maneira indireta, é ele quem reforçou as
idéias absurdas do senhor Lillie, que imagina ter provado a existência
no antigo Budismo, da crença em um Deus pessoal. A obra
"Buddhismo" de Rhys Davids está cheia de centelhas do nosso mais
importante esoterismo; mas sempre, ao que parecem, não só além do
seu alcance, como, aparentemente, além dos seus poderes de
percepção intelectual. Para evitar "metafísica absurda" e suas
invenções, ele cria dificuldades desnecessárias e se arroja dentro de
uma enorme confusão. Ele é como os colonos do Cabo da Boa
Esperança que viviam em cima de minas de diamantes sem suspeitar
da sua existência. Colocarei, como exemplo, somente a definição de
"Avalokitesvara", nas páginas 202 e 203. Encontramos ali o autor
dizendo o que parece ser um palpável absurdo para qualquer ocultista:
"O nome Avalokitesvara, que significa "o Senhor que, do alto, olha para
baixo", "é uma invenção puramente metafísica. O uso curioso da
partícula passiva "avalokita" em um modo ativo, é claramente evidente
nas traduções para o tibetano e chinês".

Agora, ao dizer que significa "o Senhor que, do alto, olha para baixo"
ou, como amavelmente explica mais adiante: "o Espírito dos Budas
presente na igreja", é inverter por completo o sentido. É equivalente a
dizer: "o senhor Sinnett, do alto, olha para baixo, (seus Fragmentos da
Verdade Oculta) na Sociedade Teosófica Britânica" quando que a
última é que olha para cima, para o senhor Sinnett, ou melhor, para os
seus Fragmentos como a (única possível, para eles) expressão e
culminação do conhecimento procurado. Esta não é uma imagem vã e
define com exatidão a situação. Resumindo, Avalokita Isvar,
interpretado literalmente, significa "o Senhor que é visto". "Iswara",
indica, além disso, mais o adjetivo do que o substantivo, senhoril, auto-
existente senhoridade, não Senhor. Quando interpretado
corretamente, é um sentido "o divino Eu percebido ou visto pelo Eu", o
Atman ou Sétimo Princípio liberado de sua distinção mayavica, da sua
Fonte Universal (que se converte no objeto de percepção para e pela
individualidade centrada um Buddhi, o Sexto Princípio), algo que só
acontece no estado mais elevado de Samadhi. É assim, aplicando-o
ao microcosmo. Em outro sentido, Avalokitesvara indica o Sétimo
Princípio Universal, como o objeto percebido por Buddhi, "Mente" ou
Inteligência Universal, que é a agregação sintética de todos os Dhyan
Chohans, como de todas as outras inteligências, sejam grandes ou
pequenas, que existiram, existem ou existirão. Nem é "o Espírito dos
Budas presente na Igreja", mas o Espiríto Universal Onipresente no
templo da Natureza, em um caso; e o Sétimo Princípio (o Atman no
templo-homem) no outro. O senhor Rhys Davids poderia ter se
recordado, pelo menos, do símile (para ele) familiar feito pelo Adepto
Cristão, o Kabalista Paulo; "Não sabeis vós sois o templo de Deus e
que o Espírito de Deus mora em vós", e assim teria evitado fazer uma
confusão com o nome. Embora como gramático ele notou o uso do
"particípio passado", contudo mostra estar muito longe de ser um
inspirado "Panini"1, ao esquecer a verdadeira causa e salvar a sua
gramática elevando o clamor público contra a metafísica. E, entretanto,
cita a Catena de Beal como sua autoridade para a invenção, quando
em verdade, este trabalho é possivelmente o único em inglês que dá,
de qualquer forma, uma explicação aproximadamente correta da
palavra, na página 374. "Auto-manifestado" - como? Pergunta-se. "A
fala ou Vãch era considerada como o Filho ou a manifestação do
Eterno Eu, e era adorada sob nome de Avalokitesvara, o Deus
manifestado". Isto mostra, tão claro como pode ser, que Avalokitesvara
é ambos: O Pai não manifestado e o Filho manifesstado, o último
procedendo de, e idêntico ao outro; ou seja, o Parabrahman e o
Jivâtman, o Sétimo Princípio, o Universal e o individualizado; o Passivo
e o Ativo; o último, a Palavra, Logos, o Verbo. Chamai-o por qualquer
nome, apenas que estes infortunados e enganados cristãos saibam
que o verdadeiro Cristo de todo cristão é Vãch, "a voz mística",
enquanto que o homem Jeshu não era senão um mortal como qualquer
um de nós, um Adepto, mais por sua natureza inerente e ignorância do
Mal verdadeiro do que pelo que havia aprendido com seus iniciados
Rabinos e com Hierofantes e sacerdotes egípcios, nesse período já se
degenerando com rapidez. Beal comete também um grande erro, ao
dizer: este nome (Avalokitesvara) tomou em chinês a forma de Kwan-
Shai-yin, e a divindade adorada sob esse nome (foi), em grau,
considerada como feminina", (374). Kwan-shai-yin, a voz
universalmente manifestada "é ativa-masculina; e não deve ser
confundida com Kwan-yin ou Buddhi, a alma Espiritual (o sexto
Princípio) e o veículo do seu "Senhor". Kwan-yin é o princípio feminino
ou o passivo manifestado, manifestando-se "para cada criatura no
Universo para liberar todos os homens das consequências do pecado"
- tal como traduziu Beal, desta vez com absoluta correção (383) -
enquanto que Kwan-shai-yin "o Filho idêntico a seu Pai" é a atividade
absoluta, daí, não tendo relação alguma com os objetos do sentido, é
Passividade.

Que ardil comum é o dos vossos Aristotélicos! perseguem uma idéia


com a persistência de um cão de caça, até o confim mesmo do
"intrasponível abismo" e então, encurralados, deixam que os
metafísicos tomem de novo a pista, se podem, ou deixam que esta se
perca. É natural que um teólogo cristão, um missionário, atue desta
maneira, pois que uma interpretação demasiadamente correta de
nosso Avalokitesvara e Kwan-Shai-Yin poderia ter efeitos muito
desastrosos, como se pode perceber com facilidade, mesmo no pouco
que citei agora. Significaria simplesmente mostrar à Cristandade a
origem verdadeira e inegável dos "tremendos e incompreensíveis"
mistérios de sua Trindade, Transubstanciação e Imaculada
Concepção, como também de onde procedem as suas idéias do Pai,
Filho, Espírito e Mãe. É menos fácil embaralhar al piacere as cartas da
cronologia Budista do que as de Krishna e Cristo. Eles não podem
colocar (apesar do muito que quiseram) o nascimento de nosso Senhor
Sangyas Buddha na era de J.C. como imaginaram colocar a de
Krishna. Mas, porque um ateu e materialista como o senhor Rhys
Davids evita assim a interpretação correta de nossas crenças, mesmo
quando acontece de compreendê-las, o que não ocorre todos os dias,
é algo curioso em extremo! Nessa ocasião o cego e culpado senhor
Rhys Davids conduz o cego e inocente senhor Lillie até o fosso onde
este último aferrando-se a oferecida bagatela fica feliz com a idéia de
que o Budismo ensina na realidade - um Deus pessoal!

Saberá a vossa Sociedade Teosófica Britânica a significação dos


triângulos preto e branco entrelaçados do símbolo da Sociedade Mater
e que ela também adotou? Devo explicar? - o triângulo duplo
considerado pelos Kabalistas judeus como o Selo de Salomão, é, como
muitos de vós sem dúvida conhecem, o Sri-Yantra do antigo Templo
Ariano, o "mistério dos Mistérios", uma síntese geométrica de toda a
doutrina oculta. Os dois triângulos entrelaçados são o Buddhagamaas
da Criação. Contém a "quadratura do círculo", "a pedra filosofal", os
grandes problemas da Vida e da Morte e o Mistério do Mal. O chela
que pode explicar este signo em cada um dos seus aspectos, é
virtualmente um Adepto. Como é então que a única pessoa entre vós
que chegou tão próximo de desenredar o mistério, é também a única
que não obteve nenhuma das suas idéias dos livros? Ela dá
inconscientemente (a quem possue a chave), a primeira sílaba do
Nome Inefável! Naturalmente sabeis que o triângulo duplo - o Satkiri
Chakram de Vishnu ou a estrela de seis pontas, é o sete perfeito. Em
todas as obras sânscritas antigas (Védicas e Tantrikas) encontrais
mencionado o número seis mais do que o sete, estando este último
algarismo, o ponto central, imperfeito, pois é o germem dos seis e suas
matrizes. É então assim...,14 o ponto central representa o sete, e o
círculo, o Mahakasha (espaço infinito) representa o Sétimo Princípio
Universal. Em um sentido, os dois são considerados como
Avalokitesvara, pois eles são respectivamente, o Macrocosmo e o
microcosmo. Dos triângulos entrelaçados, o que tem o ápice para cima
é a Sabedoria oculta, e o de ponta para baixo é a Sabedoria Revelada
(no mundo fenomenal). O círculo significa a qualidade limitadora do
Todo, o Princípio Universal que, de qualquer ponto determinado, e
expande de modo a abranger todas as coisas, ao mesmo tempo que
corporifica a pontencialidade de cada ação no Cosmos. Como o ponto,
então é o centro ao redor do qual está traçado o círculo, eles são
idênticos e unos. Embora sob o ângulo de Maya e Avidya (ilusão e
ignorância) um está separado do outro pelo triângulo manifestado, cujo
três lados representam as três gunas (atributos finitos). Na simbologia,
o ponto central é Jivatma (o Sétimo Princípio) e portanto
Avalokitesvara, o Kwan-Shai-yin, a "Voz" manifestada (ou Logos), o
ponto germinal da atividade manifestada; daí na fraseologia dos
Kabalistas Cristãos, "O Filho do Pai e da Mãe", comparável ao nosso
"Yi-hsin" (o Espírito único manifestado nos seres), a "forma Una de
existência", o filho de Dharmakaya (a essência difundida
universalmente), tanto macho como fêmea. Parabrahman, ou "Adi-
Buddha", enquanto atua através daquele germem se mostra
externamente como uma força ativa, reage a partir da circunferência
internamente como a Suprema Potência, mas latente. Os triângulos
duplos simbolizam o Grande Passivo e o Grande Ativo; macho e a
fêmea; Purusha e Prakriti. Cada triângulo é uma Trindade pois
apresenta um tríplice aspecto. O branco representa em suas linhas
retas: Jnanan (Conhecimento); Jnata (o Conhecedor); Jneyam (aquilo
que é conhecido). O negro - forma, côr e substância, e também as
forças criativa, preservativa e destrutiva e são mutuamente correlatas,
etc., etc.

Pois bem, podeis admirar e mais ainda assombrar-se diante da


maravilhosa lucidez dessa extraordinária vidente, que ignorando o
sânscrito e o pali e, portanto, ignorando os seus tesouros matafísicos,
no entanto, viu uma grande luz resplandecendo por detrás das
obscuras colinas das religiões exotéricas...Como, pensais, chegaram
a saber os autores do "O Caminho Perfeito" que Adonai era o Filho e
não o Pai; ou que a terceira pessoa da Trindade Cristã é feminina? A
verdade é que nessa obra, eles puseram várias vêzes as suas mãos
na pedra fundamental do Ocultismo. Se tão somente a autora (que
persiste em usar em seus escritos, sem dar nenhuma explicação, o
enganoso termo "Deus") soubesse o quão próximo chega a nossa
doutrina, quando diz: "Tendo por Pai o Espírito, que é Vida (o círculo
sem fim ou Parabrahman) e por Mãe o Grande Abismo, que é a
Substância (Prakriti em sua condição indiferenciada), Adonai possue a
pontecialidade de ambos e exerce os poderes duais de todas as
coisas". Nós diríamos tríplices, mas, no sentido em que foi dado, este
termo servirá. Pitágoras tinha razão para nunca usar o número 2, finito
e inútil, e para colocá-lo de lado completamente. O UNO pode, quando
se manifesta, converter-se em três, somente. O i manifestado, quando
é uma simples dualidade, permanece passivo e oculto. A mônada dual
(os Princípios Sétimo e Sexto) a fim de se manifestar como um Logos,
o "Kwan-shai-yin", primeiro tem que se tornar uma triada (Sétimo,
Sexto e a metade do Quinto); depois, no seio do "Grande Abismo"
atraindo dentro de si o Círculo Uno, forma com ele o Quadrado perfeito,
e desta maneira a "quadratura do círculo", o maior de todos os
mistérios, meu amigo; e inscrever dentro da última a PALAVRA (o
Nome Inefável), de outra maneira a dualidade nunca poderia
permanecer como tal e teria de ser reabsorvida no UNO. O "abismo" é
Espaço; simultaneamente macho e fêmea. Purush (como Brahma)
respira na Eternidade; quando "ele" inspira, Prakriti (como Substância
manifestada) desaparece em seu seio; quando "ele" expira, ela
reaparece como Maya, diz o sloka. A Realidade Una é Mulaprakriti
(Substância indiferenciada) a "Raiz sem raiz", a...Mas devemos nos
deter, de outra maneira restaria pouco para ser narrado por meio de
vossas próprias intuições.

É bem possível que o Geômetra da S.R.18 não saiba que o aparente


absurdo de tentar a quadratura do círculo esconde um mistério
inefável. Dificilmente será encontrado entre as pedras angulares das
especulações do senhor Roden Noel sobre o "corpo pneumático"...de
nosso Senhor, nem entre os débris (restos) da obra do senhor Farmer,
"uma Nova Base de Crença na Imortalidade", e para muitas destas
mentes metafísicas, seria mais do que inútil divulgar o fato de que o
Círculo Imanifestado (o Pai ou Vida Absoluta), é inexistente fora do
Triângulo e do Quadrado Perfeito, e que só se manifesta no Filho e que
é quando inverte a ação e retorna o seu estado absoluto de Unidade,
e o quadrado se expande uma vez mais num Círculo, que "o Filho
retorna ao seio do Pai". Alí permanece até que é chamado para que
retorne, por sua Mãe, "o Grande Abismo", para voltar a se manifestar
como uma triada, o Filho compartilhando, ao mesmo tempo, de ambas
as Essências, a do Pai e a da Mãe, esta a Substância ativa, Prakriti em
sua condição diferenciada. "Minha Mãe (Sophia, a Sabedoria
manifestada) me tomou", diz Jesus em um tratado Gnóstico; e pede
aos seus discípulos que esperem até que ele venha...A verdadeira
"Palavra" 'so pode ser encontrada seguindo-se o mistério da
movimentação interior e exterior da Vida Eterna, através dos estados
representados nestas três figuras geométricas.*

A crítica de "Um estudante de Ocultismo", cuja agudeza se aguçou pelo


ar das montanhas de seu lar, e a resposta de "S.T.K. Chary" ("O
Teosofista" de junho) relativa à uma parte das vossas exposições sobre
anéis e círculos vossas, não necessitam encomodar ou perturbar, de
nenhuma maneira, a vossa calma filosófica. Como diz o nosso "chela"
de Pondicherry, de uma maneira significativa, nem a vós nem a
nenhum outro homem sobre o portal, foi ensinado nem se ensinará
jamais a "teoria completa" da Evolução, ou a obterá, a menos que a
advinhe por si mesmo. Caso alguém possa desenredá-la dos
emaranhados fios em meio aos quais se lhe mostra, muito bem; e seria
uma prova muito boa de sua visão interior espiritual. Alguns chegaram
muito próximo dela: Entretanto, há, mesmo nos melhores deles,
bastante erro, engano, aparência enganosa e interpretação
equivocada; a sombra de Manas projetando-se através do campo de
Buddhi, para provar a lei eterna de que só o Espírito liberado de todo
impedimento poderá ver as coisas do Espírito, sem um véu. Nenhum
diletante inculto poderá jamais rivalizar-se com aquele que é perito
neste ramo de investigação; entretanto, os verdadeiros Reveladores
do mundo têm sido poucos e seus pseudo-Salvadores, uma legião; e
afortunado será se os seus semi-relances da luz não sejam, como no
Islã, forçados pela ponta da espada, ou como a Teologia Cristã, entre
as chamas das fogueiras e as câmaras de tortura. Os vossos
Fragmentos contêm alguns erros, embora muito poucos, devido
unicamente aos vossos dois preceptores de Adyar, um dos quais não
vos diria tudo e o outro não o poderia. O resto não podia ser chamado
de erros, melhor, explicações incompletas. Elas são devidas, em parte,
à vossa própria e imperfeita educação em vosso último tema; eu me
refiro às obscurações; parcialmente aos pobres veículos da linguagem
a nossa disposição e, de novo em parte, devido à reserva imposta
sobre nós pelas regras. Mas, considerando todas as coisas, eles são
poucos e triviais; quanto àquelas notadas por "Um estudante etc." (o
Marco Aurélio de Simla), em vosso número VII, será agradável
saberdes que cada um deles, por mais que agora vos pareça
contraditório, pode ser comprovado com fatos com facilidade, (e o
serão, caso fôsse necessário). A dificuldade está em que (a) não vos
podem ser dados os verdadeiros números e diferenças nas Rondas e
(b) porque não abris suficientes portas para os exploradores. A
brilhante luminária da S.T.B. e as Inteligências que a rodeiam
(incorporadas, quero dizer) pode ser que vos ajudem a ver as falhas;
de qualquer modo, experimentai "nada jamais se perdeu por
experimentar". Compartilhai com todos os principiantes a tendência de
tirar conclusões demasiado impetuosas e absolutas, de sugestões
parcialmente captadas, e de dogmatizar sobre elas como se houvesse
sido pronunciada a última palavra. Corrigireis isso no devido tempo.
Podeis nos compreender mal, é bem provável que o façais, pois a
nossa linguagem deve sempre ser, mais ou menos, o da parábola e
sugestão, quando pisamos sobre terreno proibido; temos os nossos
modos peculiares de expressão e o que está atrás da barreira das
palavras é mais importante ainda do que o que lêdes. Mas, novamente
experimentam. É possível que se o senhor S. Moses pudesse conhecer
exatamente o que se quiz dizer-lhe, e acerca de suas Inteligências, iria
encontrar que tudo é a exata verdade. Como é um homem de
crescimento interno, o seu dia pode chegar e sua reconciliação com
"os Ocultistas" será completa. Quem o sabe?

Entretanto, e com a vossa permissão, eu termino este primeiro volume.

K.H.
Carta Nº 060

Nenhum selo ou carimbo aparece no envelope original desta carta.


Traz apenas o endereço, "A.P. Sinnett, Esq." em tinta azul na escrita
de K.H. O Mahatma mostra-se procurando ponderar com Sinnett e
talvez mesmo confortá-lo um pouco.

Parece que Sinnett, ultimamente, debatia-se em dúvidas, em parte


ocasionadas por sua convicção de que o Mahatma tinha mesmo se
apossado do corpo de Laura Holloway e falado através dela, e pela
negativa do Mahatma de que isto pudesse em algum momento ter
acontecido.

A carta também fala do retrato pintado por Herr Schmiechen. O Cel.


Olcott conseguiu dele um esboço de retrato do Mahatma M. que tinha
sido feito para ele algum tempo antes, por alguém que, disse ele, não
era um ocultista, e conquanto a semelhança fosse inquestionável, não
mostrava o que o Cel. chamava "de o esplendor de alma que ilumina o
semblante de um adepto". Ele desejava bastante conseguir um retrato
melhor. Ele consultou vários artistas de Londres, e embora ele
considerasse os resultados como "razoáveis", nenhum dos retratos
era, no conjunto, melhor do que o possuido por ele. Para sua grande
satisfação, Herr Schmiechen concordou em fazer um teste de
inspiração.

A fotografia (de um desenho original a crayon) foi lhe passada sem


nenhuma sugestão quanto ao modo de ser trabalhada. Ele começou o
trabalho no dia 19 de junho e terminou em 9 de julho. Nesse período
visitei o seu estúdio quatro vezes sozinho e uma vez com H.P.B., e
estava encantado com o desenvolvimento gradual ou a imagem mental
que tinha sido vividamente impressa em seu cérebro, e que resultou
em um retrato tão perfeito de meu Guru como se tivesse sido pintado
ao vivo. Ao contrário dos outros, que copiaram a idéia esboçada,
Schmiechen representou o rosto bem de frente, projetando nos olhos
um fluxo tal de vida e um sentido de presença da alma, a ponto de
surpreender completamente o observador. Foi um puro trabalho de
gênio e uma prova cabal de transferência de pensamento como eu
posso imaginar. ("Velhas Páginas de um Diário").

Herr Schmiechen também pintou um retrato do Mahatma K.H., dois de


H.P.B. Sem dúvida, Sinnett recebeu uma das cópias do retrato do
Mahatma K.H.

Meu bom amigo - Shakespeare disse verdadeiramente que "nossas


dúvidas são traidoras". Por que deveis duvidar ou criar sempre na
vossa mente, monstros crescentes? Um pouco mais de conhecimento
em leis ocultas teria deixado tranquila a vossa mente há muito tempo,
evitando muita lágrima para a vossa gentil senhora e dores para vós.
Saibai, então, que mesmo chelas do mesmo gurú são frequentemente
separados e mantidos à distância por longos mêses enquanto o
processo de desenvolvimento está em curso - simplesmente devido a
dois magnetismos contrários que, atraindo-se ao outro, impedem o
desenvolvimento mútuo e INDIVIDUALIZADO em alguma direção. Não
se intenciona com isso causar ressentimento algum. Esta ignorância
tem causado, ultimamente, imenso sofrimento de todos os lados.
Quando ireis confiar de modo implícito em meu coração, se não em
minha sabedoria, pelo que não peço reconhecimento algum de vossa
parte? É extremamente doloroso ver-vos vagar num labirinto escuro
criado por vossas próprias dúvidas, e do qual fechais cada saída com
as vossas próprias mãos. Creio que agora estais tão satisfeito com
meu retrato feito por Herr Schmiechen, como insatisfeito com aquele
que tendes. Não obstante todos são semelhantes, à sua maneira,
apenas que, enquanto os outros são produzidos por chelas, o último
foi pintado com a mão de M. sobre a cabeça do artista, e inúmeras
vêzes sobre o seu braço.
K.H.

Rogo-vos que permaneceis para a reunião de quarta-feira, se sentis


que não deixareis o CÍRCULO INTERNO. De outra maneira ide,
relembrando que a minha amizade VOS AVISOU. Só que deveis evitar,
se for o caso, de ferir os sentimentos daqueles que pecam por excesso
e não por falta de devoção.
Carta Nº 061

Por essa ocasião, a eleição dos diretores da Loja de Londres se


realizara; H.P.B. fôra e voltara. O Cel. Olcott e Mohini estavam
hospedados na casa de Sinnett. O Mahatma comprometêra-se a
informar a Sinnett o que deve ocorrer com Mohini.

Sinnet Sahib, é informado, com as minhas respeitosas saudações, que


o seu "guardião" está tão ocupado com assuntos oficiais que não pode
dar nem um só momento de consideração à Loja de Londres ou aos
seus membros, nem escrever-lhe individualmente, seja por meio de
uma pena ou de precipitação, que é o método mais difícil, senão o mais
custoso dos dois, ao menos para nossa reputação no ocidente.

Mohini não pode ficar em Londres indefinidamente, nem por um


período maior de tempo, pois tem deveres a cumprir em outros lugares;
obrigações com a sua família como também com a Sociedade
Teosófica. Além de ser um chela e, portanto, não um homem livre (na
acepção comum do termo), ele tem numerosas bocas para alimentar
em Calcutá e, ademais, deve ganhar suficiente para pagar ao amigo
que lhe adiantou £125 para enfrentar as despesas de sua presente
missão, apesar do que K.H. possa ou não fazer por ele, e com o que
está proibido de contar como qualquer outro chela. Ao mesmo tempo
sabei que ele necessita de uma mudança temporária de clima. Ele
sofreu muito de frio na vossa casa, naquele quarto superior, onde não
há estufa, e K.H. teve de rodeá-lo com uma dupla proteção contra um
frio mortal que o ameaçava. Recordai que os hindus são plantas
exóticas em seu inclemente e frio país, e aqueles que necessitam deles
devem cuidar da sua sobrevivência. (Se, ao incomodar-vos Olcott no
último domingo para dar-vos esta informação, não fiz com que ele vos
dissesse, e acrescentasse isto, é porque quiz poupá-lo de vossa má
vontade para com ele; a vossa mente já estava predisposta e se
inclinava a crer que ele falava com toda franqueza).

Além disso, se necessitais a ajuda de Mohini em Londres, os teósofos


de Paris a necessitam mais ainda, pois que a educação oculta deles é
inferior à vossa. Está estabelecido que ele deveria dividir o seu tempo
igualmente entre todos o "centros de atividade espiritual" na Europa e
se agora ele é solicitado a estar em Paris no dia 11 do presente mês,
também se lhe permitirá que regresse a Londres quando o movimento
no Continente estiver bastante firme. De qualquer forma, tereis Olcott
na maior parte do tempo. Mas não temais: se se permite a Henry que
prolongue sua estadia em Londres, ele não dará "preocupações" a
nenhum de vós por apresentar-se com as suas roupas asiáticas
exotéricas e comuns pois não se alojará convosco, e sim com as
senhoras Arundale, como foi anteriormente ordenado, havendo a
ordem sido por mim reiterada, quando Madame Sahib observou que
era melhor que ele se alojasse onde já estava, depois que Upasika
saísse. Não é Olcott pior que muitos outros, e ainda que algumas
pessoas não o admitam, há piores argumentadores que ele.

Não devo encerrar esta sem vos fazer saber que na crítica severa de
Kingsford a justiça não está mais do vosso lado. Embora não estejais
disposto a confessá-lo, vós demonstrais rancor, Sahib, rancor pessoal.
Já a derrotastes e agora quereis mortificá-la e castigá-la. Isso não está
bem. Deveríeis aprender a dissociar a vossa consciência, de seu eu
externo, mais do que fazeis, se não quereis perder K.H. Pois ele está
muito aborrecido com o que acontece. Perdoai-me as minhas
observações, mas são para o vosso benefício. Assim desculpai-me.

M.
Carta Nº 062

Meu pobre e cego amigo; sois completamente inapto para o ocultismo


prático! Suas leis são imutáveis; e ninguém pode deixar de cumprir
uma ordem que foi dada. Ela não pode enviar-me cartas e a carta
deveria ter sido entregue a Mohini. Entretanto, eu a li; e estou
determinado a fazer mais um esforço (o último que me permitiram),
para abrir a vossa intuição interna. Se a minha voz, a voz de alguém
que sempre vos foi amistosa na essência humana de seu ser, foi
sempre seu amigo, não consegue fazer-se entender como já
aconteceu muitas vêzes antes, então a nossa separação, torna-se
inevitável, agora e para sempre. Dói-me por vós, cujo coração leio tão
bem, apesar de cada protesto e dúvida de vossa natureza puramente
intelectual, do vosso frio raciocínio ocidental. Mas o meu primeiro dever
é para com o meu Mestre. E o dever, permitai-me que vos diga, é para
nós mais forte que qualquer amizade ou mesmo amor; pois, sem este
perdurável princípio que é o cimento indestrutível que manteve unidos,
durante tantos milênios os guardiães dispersos dos grandes segredos
da natureza, a nossa Irmandade, e ainda mesmo a nossa própria
doutrina, teriam se fragmentado, há muito tempo, em átomos
irreconhecíveis. Lamentavelmente, por maior que seja o vosso
intelecto puramente humano, as vossas intuições espirituais são
confusas e nebulosas, nunca tendo sido desenvolvidas. Daí que, toda
vez que vos defrontais com uma aparente contradição, com uma
dificuldade, uma espécie de inconsistência de natureza oculta,
causada por nossas leis reverenciadas e normas de tempo (das quais
conheceis, pois ainda não chegou a vossa ocasião), de imediato
surgem as vossas dúvidas, as vossas suspeitas assumem forma e
então verifica-se que elas ludibriam a parte melhor de vossa natureza,
a qual é finalmente neutralizada por todas essas enganosas
aparências das coisas externas! Não possuis a necessária fé para
deixar que a vossa Vontade se levante em desafio e menosprezo
contra o vosso intelecto puramente mundano, e vos dê uma melhor
compreensão das coisas ocultas e das leis desconhecidas. Vejo que
sois incapaz de obrigar as vossas melhores aspirações (alimentadas
na correnteza de uma verdadeira devoção à Maya que fizestes em
mim, e que vós é um sentimento que sempre me comoveu
profundamente), a que se alcem contra essa fria razão, uma razão
espiritualmente cega, para permitir o vosso coração que pronuncie e
proclame bem alto aquilo que até agora vos foi permitido sussurrar:
"Paciência, paciência. Um grande desígnio nunca se conseguiu de
imediato". Contudo, vos foi dito, que a senda que conduz às Ciências
Ocultas deve ser palmilhada laboriosamente e cruzada com perigo de
vida; que cada novo passo nela, conduzente à meta final, está rodeado
de armadilhas e crueis espinhos; que o peregrino que se aventura nela,
primeiro tem que enfrentar e conquistar as mil e uma fúrias que vigiam
os impenetráveis dos portais de entrada; fúrias chamadas de Dúvida,
Ceticismo, Escárnio, Ridículo, Inveja e finalmente Tentação,
especialmente a última; e que aquele que olhar mais adiante tem que
primeiro destruir essa vivente muralha; e que deve possuir um coração
e alma revestidas de aço e uma férrea determinação que nunca cede;
e que, no entanto, deve ser benigno, humilde, benévolo e ter extinto
em seu coração toda paixão humana que conduza ao mal. Sois, por
acaso, tudo isso? Já iniciastes um curso de adestramento que levaria
a isso? Não; sabeis tão bem como eu. Não nascestes para isso, nem
vos encontrais em condições adequadas de forma alguma para a vida
de um asceta, nem mesmo a de um Mohini; sois um homem de família
com esposa e filho para manter, com trabalho a fazer. Então por que
deveríeis queixar-vos de que poderes não vos são dados, de que
mesmo não vos chega a prova de nossos próprios poderes, etc.? É
verdade que oferecestes várias vêzes deixar de comer carne e beber,
e eu recusei. Como não podeis vos tornar um chela regular, por que
haveríeis de deixá-lo? Eu acreditava que tivésseis compreendido isto
há muito tempo; que havíeis resignado, satisfeito, a esperar com
paciência futuros acontecimentos e minha liberdade de ação pessoal.
Sabeis que eu fui o único a tentar e perseverar em minha idéia da
necessidade, ao menos, uma pequena reforma, ainda que fôsse um
pequeno alívio da extrema rigidez das nossas regras, se quizéssemos
ver os teósofos europeus aumentar em número e trabalhar pela
iluminação e benefício da humanidade. Fracassei na minha tentativa,
como sabeis. Tudo que obtive foi a permissão de me comunicar com
uns poucos, convosco em primeiro lugar, pois eu vos havia escolhido
como expositor de nossa doutrina, que decidiríamos dar ao mundo ao
menos, até certo ponto. Impossibilitado, devido ao trabalho, de
continuar os meus ensinamentos de uma maneira regular, estava
decidido a reassumí-los depois que o meu trabalho tivesse sido feito e
tivesse algumas horas livres à minha disposição. Eu estava atado de
pés e mãos quando fiz aquela tentaiva de ajudá-lo a ter um periódico
próprio. Não me foi permitido utilizar nenhum poder psíquico nesse
assunto. Conheceis os resultados. Entretanto, eu teria obtido êxito,
mesmo com os poucos meios à minha diposição, se não fôra o
alvoroço produzido pela Lei Ilbert, dedicastes pelo menos um
pensamento, ou suspeitastes a verdadeira razão do meu fracasso?
Não; porque não conheceis nada do vai-e-vem da operação do Karma;
dos "golpes de retorno" dessa terrível Lei. Mas, sabeis que houve um
tempo em que sentistes o mais profundo desprezo por todos nós, de
raças de pele escura e considerastes os indianos como sendo uma
raça inferior. Não direi mais do que isso. Se possuís alguma intuição
relacionareis a causa e o efeito e é possível que deis conta de onde
proceder o fracasso. Então novamente tivestes contra vós a ordem do
nosso Supremo Chefe (não interferir com o crecimento natural da Loja
de Londres e o desenvolvimento psíquico e espiritual dos seus
membros) especialmente com o vosso. Sabeis que mesmo para vos
escrever, ocasionalmente, foi permitido só como um favor especial
depois do fracasso do Phoenix. Quanto à exibição de qualquer poder
psíquico ou oculto, esteve e ainda está totalmente fora de toda
possibilidade. Sentistes-vos surpreso diante da interferência na disputa
entre a Loja de Londres e Kingsford? E ainda sois incapaz de
compreender porque nós fizemos isto ou aquilo? Creia-me que
aprendereis algum dia, quando souberdes melhor, que tudo isso foi
causado POR VÓS MESMO.

Também vos ressentis do aparente absurdo de se confiar a H.S.O. uma


missão para a qual o considerais incapaz, social e intelectualmente, ao
menos em Londres. Bem, é possível que algum dia aprendereis que
também estáveis equivocado nisto, como em muitas outras coisas. Os
resultados futuros poderão ensinar-vos uma lição amarga.

E agora, vamos ao último esclarecimento, à prova de que não fostes


"injustamente tratado", como vos queixais em vossa carta, embora
tratastes, tanto a H.S.O. como a H.P.B., de uma maneira muito cruel.
A vossa maior queixa é causada pela sua perplexidade. Dizeis que é
agonizante ser deixado sempre de lado, etc. Senti-vos profundamente
ferido antes o que qualificastes de uma evidente e crescente
"inimizade" uma mudança de tom e assim por diante. Estais
equivocado do princípio ao fim...Não houve "inimizade", nem nenhuma
mudança nos sentimentos. Simplesmente interpretastes mal a forma
brusca própria de M., sempre que escreve ou fala com seriedade.

Quanto as minhas breves observações sobre vós, feitas a H.P.B., que


apelou para mim, e que estava no seu direito, nunca pensastes na
razão real e verdadeira: eu não tinha tempo: apenas podia ter um
pensamento passageiro sobre vós ou a Loja de Londres. Como bem o
disse ela: "Ninguém jamais pensou em acusar-me de nenhum dano
intencional" seja para nós mesmos ou para nossos chelas. No que se
refere a um caso, sem intenção (e por sorte evitado por mim), houve
um dano na verdade: o descuido. Nunca pensastes na diferença entre
a constituição de um bengalí e a de um inglês, o poder de resistência
de um e o mesmo poder no outro. Mohini ficou durante dias num quarto
muito frio sem nenhuma estufa. Ele não pronunciou uma só palavra de
queixa, e eu tive que protegê-lo para lhe evitar um séria enfermidade,
dar-lhe meu tempo e atenção, a ele que tanto eu necessitava que
atingisse certos resultados, a ele que havia sacrificado tudo por mim...
Daí a inflexão de M. de que vos queixais... Agora tendes a explicação
de que não fostes "tratado com injustiça", mas que simplesmente
tivestes que receber uma observação que era imposível evitar já que o
erro poderia ter ocorrido outra vez. Além disso, negais que tenha
havido alguma vez animosidade de vossa parte contra K.3 Muito bem,
chame-o por qualquer outro nome que quiserdes, entretanto foi um
sentimento que se interpôs inexoravelmente e fêz que O. cometesse
uma asneira ainda pior do que já havia cometido, mas que se permitiu
seguisse o seu curso porque serviu aos nossos propósitos e não
produziu grande dano, exceto a ele mesmo, que foi repreendido de
uma maneira inflexível. Vós o acusais de haver causado dano, talvez
"irreparável", a vossa Sociedade? Onde está o dano causado?... De
novo estais equivocado. São os vossos nervos que vos fizeram
escrever para H.P.B. palavras que eu quisera jamais tivésseis
pronunciado, para o vosso próprio bem. Deverei vos provar, ao menos
em um caso, quão profundamente fôstes injusto, ao suspeitar de
qualquer dos dois de ter se queixado ou dito falsidades para nós a
vosso respeito? Espero, entretanto, que não repetireis jamais o que
vos direi: isto é, quem foi (ou pudesse ter sido, mas não foi, pois ela
chegou muito tarde) meu inocente informante sobre Mohini. Estais em
liberdade para comprová-lo algum dia, mas não desejo que esta mulher
tão excelente, se sinta incomodada ou desgraçada por minha culpa.
Foi Mme. Gebhard a quem eu havia prometido visitar subjetivamente.
Eu a vi numa manhã, quando descia a escada e eu estava ocupado
com Mohini, tornando-o impermeável. Ela havia ouvido como batiam
os seus dentes com o frio, pois ele estava também descendo do andar
superior. Ela sabia que ele se encontrava no seu pequeno quarto sem
calefação, dias depois que Olcott havia partido, quando teria sido fácil
alojá-lo no quarto próximo. Ela parou para esperá-lo e quando olhei
dentro dela, ouvi estas palavras pronunciadas mentalmente: "Bem,
bem...se o seu Mestre o soubesse!..." e então, parando no patamar,
ela lhe perguntou se ele não tinha mais alguma roupa mais quente e
outras palavras afetuosas sememlhantes. "Seu Mestre sabia e já havia
remediado o mal e sabendo também que havia sido sem intenção, não
se sentiu inamistoso" nesse momento, pois conhece muito bem os
europeus para esperar deles mais do que podem dar. Nem foi essa a
única reprovação muda que eu encontrei endereçada a vós no coração
de Mme. Gebhard, como nas mentes de vários outros de vossos
amigos: (e é correto que o sabeis) lembrando que, como vós, eles
julgam quase tudo baseado na aparência.

Não direi nada mais. Mas, se derdes uma outra olhada no Karma,
pensai no que foi dito acima, e lembrando que o Karma sempre
trabalha nas mais inesperadas maneiras. E agora fazei a pergunta a
vós mesmo, até que ponto estáveis correto em manter suspeitas contra
Olcott, que não sabia em absoluto nada das circunstâncias, e contra
H.P.B., que se encontrava em Paris e sabia menos ainda. Entretanto,
meras suspeitas degeneram em convicção (!) e se fizeram objetivas
em reprovações escritas e expressões muito pouco generosas as
quais, desde a primeira até a última, eram imerecidas. Não obstante,
tudo isso, ontem vos queixastes com amargura, para a senhorita A.4
sobre a resposta de Mme. B. para vós; a qual, considerando todas as
circunstâncias especiais e seu próprio temperamento, foi, o que é
surpreendente, uma carta suave quando a confrontamos com a vossa
carta para ela. Tampouco posso aprovar a vossa atitude em relação a
Olcott, se é que o meu conselho e opinião são desejados. Se
estivésseis em sua posição e fôsseis culpado, dificilmente teríeis lhe
permitido que vos acusasse em termos tais como falsificação, calúnia,
mentiras, falsidades e da mais estúpida incopetência para o seu
trabalho. E Olcott é inocente, por completo, de qualquer um de tais
pecados! Quanto ao seu trabalho, devemos permitir-nos na verdade,
conhecer melhor. O que queremos são bons resultados e verificareis
que os temos.

Na verdade "a suspeita derruba o que a confiança constrói"! E se, por


uma parte tendes alguma razão para citar Bacon contra nós, e dizer
que "não há nada que faz um homem suspeitar muito quanto o pouco
que ele conhece", por outra, deveríeis também recordar que o nosso
Conhecimento e Ciência não podem ser buscados em absoluto
baseando-se em métodos Baconianos. Não nos é permitido, suceda o
que suceder, oferecê-los como um remédio contra a suspeita, ou para
curar dela as pessoas. Essas pessoas devem ganhá-los por si
mesmas, e aquele que não descobrir as nossas verdades em sua alma
e em si mesmo, tem poucas possibilidades de êxito no Ocultismo.
Certamente não é a suspeita que remediará a situação, pois ela é:

"...uma pesada armadura, e

com o seu próprio peso estorva mais do que protege".

E com esta última observação podemos, creio, esquecer para sempre


este assunto. Vós atraístes sofrimento sobre vós mesmo, sobre a
vossa senhora e muitos outros, o que foi bastante inútil e poderia ter
sido evitado se tão somente tivésseis evitado criar a maioria de suas
causas. Tudo o que a senhorita Arundale vos disse foi verdade e bem
dito. Estais arruinando o que construístes com tanto trabalho; mas, por
outro lado, a estranha idéia de que somos totalmente incapazes de ver
por nós mesmos, que os nossos únicos dados são os que encontramos
nas mentes de nossos chelas e que, por isso, não somos os "seres
poderosos" que imaginastes, parece perseguí-lo cada dia mais. Hume
começou da mesma maneira. De bom grado eu vos ajudaria e vos
protegeria do seu destino, mas, a menos que vos desvencilhastes da
maléfica influência que pesa sobre vós, eu posso fazer muito pouco.
Perguntai-me se podeis dizer a senhorita Arundale o que vos
comuniquei por intermédio da senhora H.5 Tendes completa liberdade
para explicar-lhe a situação e com isso justificar perante ela, a vossa
aparente deslealdade e rebeldia sua contra nós, como ela pensa. Pode
fazê-lo, tanto mais que jamais vos comprometi em qualquer coisa com
a senhora H.; nunca me comuniquei convosco ou com qualquer outro,
por intermédio dela e, segundo o meu conhecimento, tão pouco o fiz
através dos meus chelas ou dos de M., exceto na América, uma vez
em Paris e outra na casa da senhora A. Ela é uma excelente
clarividente, embora completamente sem desenvolvimento. Se ela não
tivesse se intrometido imprudentemente, e tivésseis seguido, de fato, o
conselho da Velha Dama (H.P.B.) e de Mohini, agora eu poderia ter
falado convosco por intermédio dela, e essa era a nossa intenção. É
outra vez a vossa própria culpa, meu bom amigo. Reclamastes
orgulhosamente o privilégio de exercer a vossa prórpia e descontrolada
opinião em questões ocultas, das quais não podíeis conhecer nada, e
as leis ocultas que acreditais poder desafiar e manejar impunemente
voltaram-se contra vós e vos produziram bastante danos. Tudo é como
deve ser. Se, deixando de lado toda idéia preconcebida, pudésseis
PROVAR e impressionar-vos intimamente com esta profunda verdade
de que o intelecto não é, em si, todo poderoso, que para alguém se
tornar um "movedor de montanhas" tem primeiro de receber vida e luz
de seu Princípio superior, o Espírito, e então fixásseis vossos olhos em
tudo que está oculto, espiritualmente tratando de desenvolver a
faculdade de acôrdo com as regras, então logo compreenderíeis o
mistério corretamente. Não necessitais dizer a senhora H.6, que ela
nunca viu, pois não é assim. Mais de uma vez ela viu com exatidão;
quando deixada entregue a si mesma nunca deturpou uma só
afirmação.

E agora terminei. tendes dois caminhos diante de vós, um, que leva a
uma senda árida, em direção ao conhecimento e à Verdade, o
outro...mas, na verdade, não devo influenciar a vossa mente. Se não
estiverdes disposto a romper conosco de uma vez, então vos pedirei
não só que estajais presente na reunião, como também que falai, pois
de outra maneira causareis uma impressão muito desfavorável. Isto
vos peço que façais em meu favor, e também para o seu.

Apenas que seja o que fizerdes, permitai-me advertir-vos a não vos


deter no meio do caminho: poderia resultar desastroso para vós

Entretanto, a minha amizade para convosco continua a mesma, como


sempre, pois nunca mesmo fomos ingratos com relação a serviços
prestados.

K.H.
Carta Nº 063

Recebida em Londres no verão de 1884.

Obviamente Sinnett havia perguntado ao Mahatma K.h. sobre a


possibilidade de publicar as cartas recebidas dele e do Mahatma M.
Aqui encontramos a proibição explícita contra este procedimento ao
longo de todo o livro.

Bom amigo:

Quando começou a nossa primeira correspondência, não havia, então,


a menor idéia de se fazer uma publicação tendo por base as respostas
que pudésseis receber. Continuastes fazendo perguntas sem ordem
determinada, e as respostas, sendo dadas em ocasiões diferentes para
perguntas não relacionadas entre si e, por assim dizer, debaixo de um
semi-protesto eram, necessariamente, imperfeitas, e com frequência
sob pontos de vista diferentes. Quando vos permiti a publicação de
algumas delas no "O Mundo Oculto", esperava-se que, entre os vossos
leitores, alguns pudessem (como vós) juntar as partes diferentes e
desenvolver com base nelas o arcabouço ou um vislumbre do nosso
sistema, o qual, embora não exatamente como o original, pois isso
seria impossível, seria a maior aproximação possível, ao alcance de
um não-iniciado. Mas os resultados mostraram-se quase desastrosos!
Tentáramos uma experiência e fracassamos de maneira lamentável!
Agora vemos que ninguém, a não ser aqueles que já passaram pelo
menos pela sua terceira iniciação, é capaz de escrever sobre esses
assuntos de uma maneira compreensível. Um Herbert Spencer teria
feito uma confusão com isso, sob as vossas circunstâncias. E Mohini
não está totalmente certo, em alguns detalhes está positivamente
equivocado, mas igualmente também o estais, meu velho amigo,
embora o leitor superficial é menos ainda sábio para isso, e até agora
ninguém percebeu os erros vitais no "Buddhismo Esotérico" e no "O
Homem", nem é provável que os notem. Não podemos dar mais
informações sobre o tema que tratastes e temos que deixar os fatos já
comunicados para serem combinados em uma filosofia consistente e
sistemática pelos chelas da Sede Central. A Doutrina Secreta explicará
muitas coisas e corrigirá mais de um estudante perplexo.

Portanto, colocar diante do mundo todo o material complicado sem


burilamento, de que dispondes, na forma de velhas cartas, nas quais,
eu confesso, muito foi propositalmente obscurecido, iria somente
produzir mais confusão. Em vez de fazer com isso algum bem a vós e
a outros, isso somente vos colocaria numa posição ainda mais difícil e
atrairia críticas sobre as cabeças dos "Mestres", e assim atrazando a
influência no progresso humano e na S.T. Por isso é que eu protesto,
com a maior energia, contra a vossa idéia. Deixai à "Doutrina Secreta"
a tarefa de vingá-lo. Minhas cartas não devem ser publicadas na forma
que sugeris, mas, pelo contrário, se quereis evitar trabalho a Djual K.,
deveríeis enviar cópias de algumas ao Comitê Literário de Adyar, sobre
o qual já vos escreveu Damodar, de forma que, com a ajuda de S.T.K.
Charya, Djual K., Subba Row e o Comitê Secreto, do qual excluimos
de propósito H.P.B. para evitar novas suspeitas e calúnias, eles
poderão utilizar a informação para a realização do objetivo para o qual
se formou o Comitê, conforme foi explicado por Damodar na carta que
escreveu, seguindo ordens recebidas. Não é um "novo assunto Kiddle"
que trato de evitar nem a crítica dirigida contra a minha personalidade,
a qual na verdade, dificilmente pode ser atingida, mas tentar vos salvar
e à Sociedade de novos distúrbios, que desta vez seriam sérios. As
cartas, em resumo, não foram escritas para a sua publicação ou para
comentários públicos sobre elas, e sim para uso privado, e nem M.,
nem eu, nunca daremos consentimento para vê-las assim manejadas.

Quanto à vossa primeira carta, Dj. K. recebeu instruções para atendê-


la. Em coisas tão delicadas eu sou menos competente ainda para dar
conselhos do que para satisfazer aspirantes a "chelas" da classe de
"L.H.C.". Temo que a "pobre e querida senhora Holloway esteja
mostrando os seus dentes brancos e com dificuldade seria considerada
agora "uma companhia encantadora". Seguindo instruções, Olcott
escreveu uma carta a Finch, a qual dá a chave do pequeno problema.
Trata-se novamente, de Fern, Moorad Ali, Bishen Lal e outros
náufragos. Porque será que "aspirantes" a chelas, com tão intensa
personalidade, forçam colocar-se dentro do círculo encantado e
periogoso da provação! Perdoai a minha curta carta, estou agora muito
ocupado com o ano novo.

K.H.
Carta Nº 064

Recebida em Londres, verão de 1884.

De novo Sinnett datou errado a carta. Ele anotou que esta carta foi
recebida no "Verão, 1884", mas não poderia ter sido tão anterior, pelo
seu conteúdo, e também porque foi a carta ditada para a escrita por
Djual Khul na cabine de H.P.B., quando ela estava a caminho do Egito
e dali para a Índia. Provavelmente foi escrita em 8 de novembro. F.A.
era a Srta. Francesca Arundale, membro proeminente da Sociedade
na Inglaterra, na época tesoureira da Loja de Londres, e uma das
poucas pessoas que receberam uma carta do Mahatma K.H.

A Carta nº.134 relaciona-se principalmente com a Sra. Holooway e


trata da "provação" sobre a qual H.P.B. se queixa em sua carta
(nº.133). Sinnett havia repassado para o Mahatma uma carta que a
Sra. Holooway escrevera e mandara através de Mohini. A carta devia
estar carregada de presunção ("Attavada").

Estritamente privada, exceto para Mohini e F.A.1

Bom amigo:

Esta não é uma resposta à vossa última. A carta para o meu endereço,
enviada por vós através de Mohini, jamais foi escrita por vós mesmo.
Na verdade, foi escrita por alguém, que na ocasião, estava por
completo sob a influência de uma criatura de Attavada
"O pecado do Eu, que no Universo

Vê a sua querida face como um espelho".

- e somente a sua; em cada uma das palavras ele confiou, então,


implicitamente; talvez, (isto é até em certo ponto uma justificação)
porque não veio nenhuma interferência esperada, nenhuma palavra de
advertência proveniente de nós. Assim, não há respeito algum para ela,
pois preferimos virar uma nova página.

Ah, por quanto tempo ainda os mistérios do chelado vão dominar e


desviar da senda da verdade, tanto o sábio e o perspicaz como o tolo
e o crédulo! Quão poucos dos muitos peregrinos que têm de partir sem
mapa ou bússola nesse ilimitado oceano do Ocultismo, alcançam a
desejada terra. Creia-me, fiel amigo, que nada menos que uma
completa confiança em nós, em nossos bons motivos, senão na nossa
sabedoria, na nossa previsão, ou na nossa onisciência (que não há de
ser encontrada nesta Terra), pode ajudar alguém a cruzar da sua terra
de sonho e ficção até a nossa terra da Verdade, a região da austera
realidade e dos fatos. De outra maneira o oceano se mostrará, devéras,
ilimitado; as suas ondas levarão alguém, não mais sobre águas de
esperança, mas tornarão cada ondinha em dúvida e suspeita e elas
hão de ser amargas para aquele que começa com a mente carregada
de preconceitos nesse funesto e agitado mar do Desconhecido!

Entretanto, não vos sintais demasiado perplexo. A hora de provação já


passou da metadade; tratai, antes, de compreender os "porques e os
para que" da situação de estudar com mais seriedade as leis que
governam o nosso "Mundo Oculto". Concordo convosco que essas leis,
com frequência, parecem ser injustas e mesmo, em certos momentos,
cruéis. Mas isso é devido ao fato de que elas nunca foram feitas para
reparar de imediato os males, nem para ajudar diretamente aqueles
que oferecem ocasionalmente a sua lealdade aos legisladores.
Entretanto, os males aparentemente reais, evanescentes e
passageiros, que elas fazem surgir, são tão necessárias ao
crescimento, progresso e estabelecimento final de vossa pequena
Sociedade Teosófica, como o são para a humanidade aqueles
cataclismas na natureza, que muitas vêzes dizimam populações
inteiras. Um terremoto pode ser precisamente uma benção e um
maremoto pode vir a ser a salvação de muitos a expensas de alguns
poucos. Presencia-se a sobrevivência dos "mais aptos", na destruição
de cada velha raça e eles são levados a se misturarem e se
assimilarem com a nova, pois a natureza é mais velha do que Darwin.
Digai, então, para vós mesmo: "qualquer coisa que aconteça, não será
motivo algum de lamentação", pois não se trata tanto de que sejam
revelados novos fatos ao "grupo interno", quanto que velhos enígmas
e mistérios sejam esclarecidos e explicados aos seus poucos membros
verdadeiramente dedicados. Mesmo o simples sinal de haspas deixado
por meu lápis, e ao qual vos opusésseis, teria tido um mundo de
significado para alguém menos obscurecido do que vós, quando
escrevíeis a vossa última carta, baseada inteiramente nas astutas
insinuações da vossa pseudo sibila. Era absolutamente necessário que
o trabalho secreto do Karma ocorresse como experiência pessoal para
esses fiéis membros (que inclui a vós), para que o seu significado mais
profundo fôsse demonstrado praticamente (como também os seus
efeitos) sobre estes voluntários obstinados e candidatos ao chelado
que se lançariam debaixo da sombra sinistra de suas rodas.

Em oposição ao acima alguns dirão: e a grande clarividência dela, o


seu chelado, a escolha dela entre muitos, pelos Mestres? A
clarividência dela é um fato, a sua escolha e chelado, outro. Por melhor
que esteja preparado o chela, psíquica e fisiologicamente para
corresponder a tal escolha, a menos que possua um altruísmo tanto
espiritual como físico, e tenha sido escolhido ou não, acabará
parecendo como chela com o tempo. O personalismo, vaidade e
orgulho, ancorados nos princípios superiores são enormemente mais
perigosos que os mesmos defeitos quando são inerentes somente à
natureza física inferior do homem. São os vagalhões contra os quais a
causa do chelado em seu estágio probacionário, seguramente se
despedaçará, a menos que o aspirante a discípulo leve consigo o
branco escudo da perfeita certeza e confiança naqueles que ele
procura por montanhas e vales, para guiá-lo com segurança rumo à luz
do Conhecimento. O mundo move-se e vive sob a sombra da mortífera
árvore - upas do Mal; entretanto as suas exudações são perigosas,
mas só podem atingir aqueles cujas naturezas superior e média são
tão susceptíveis de infecção como a sua natureza inferior. As suas
sementes venenosas podem germinar somente em um solo que as
escolha e esteja bem preparado. Recordai-vos também do que
aprendestes. A massa de pecado e fragilidade humanos é distribuida
ao longo da vida do homem que se contenta em permanecer como
mortal comum, mas é reunida e centralizada, digamos, durante o
período da vida de um chela: o período de provação. Aquilo que está
geralmente se acumulando para encontrar o seu escoamento normal
no próximo renascimento de um homem normal, é acelerado e
estimulado a vir à tona, em especial no candidato presunçoso e egoista
que se precipita sem haver calculado as suas forças.

Alguém que cavou tantas e profundas armadilhas para seus amigos e


irmãos, caiu ela mesmo dentro, disse M. a H.P.B. na noite das
revelações mútuas. Eu fiz o possível, mas não pude salvá-la. Ela havia
entrado, ou diria melhor, colocou-se à força dentro de uma perigosa
senda, com um duplo propósito em vista:

(1) Transtornar toda a estrutura da qual ela não participava, e assim


obstruir a senda para todos os outros, caso ela não considerasse o
sistema e a Sociedade no nível de suas expectativas; e

(2) Permanecer fiel e desenvolver o seu chelado e dotes naturais, que


na verdade são consideráveis, somente se todas aquelas expectativas
encontrassem resposta. É a intensidade de tal resolução que atraiu a
princípio a minha atenção. Conduzida gradualmente e com suavidade
na correta direção, a aquisição de uma individualidade como essa teria
sido muito valiosa. Mas há pessoas que, sem mostrar nunca nenhum
sinal exterior de egoismo, são intensamente egoistas em suas
aspirações espirituais internas. Uma vez que tenham escolhido o seu
caminho, eles o seguirão com os olhos fechados aos interesses de
todos os demais, exceto aos próprios, e nada verão fora do estreito
caminho tomado pela sua própria personalidade. Estão tão
intensamente absortas na contemplação de sua suposta "retidão" que
nada jamais lhes parecerá correto que esteja fora do foco da sua
própria visão, deformada pela contemplação complacente de si
mesmos e por seu julgamento sobre o que é o bem e o que é o mal.
Ah! uma pessoa assim é a nossa nova mútua amiga L.C.H.9 "O bem
em ti é abjeto, o mal uma maldição", foi dito pelo nosso Senhor Buda,
referindo-se a pessoas como ela; pois bem e mal "enganam aos que
querem a si mesmos" e, aos demais, só em proporção aos benefícios
que obtenham, ainda que esses benefícios sejam puramente
espirituais. Despertada faz uns 18 mêses para uma curiosidade
espamódica e histérica pela leitura cuidadosa do vosso livro "Mundo
Oculto", e mais tarde, para uma inveja entusiástica pela do "Budismo
Esotérico", ela determinou-se a "encontrar a verdade", segundo ela
mesmo o expressou. Ou ela se tornaria um chela antes de tudo e
principalmente para escrever livros, eclipsar deste modo o seu rival
"laico", ou transtornaria toda a impostura com a qual nada tinha a ver.
Decidiu ir à Europa e encontrar-vos. Sua fantasia super excitada,
pondo uma máscara em cada fantasma errante, criou o "Estudante" e
o fez servir ao seu propósito e desejo. Ela acreditava nele
sinceramente. Nessa ocasião crítica e prevendo o novo perigo, eu
interví. Dharb Nath10 foi enviado e a impressionou mentalmente três
vêzes em meu nome. Durante um certo período os seus pensamentos
foram guiados e se fez com que a sua clarividência servisse a um
propósito. Se as suas aspirações sinceras tivessem conquistado a
intensa personalidade de seu eu inferior, eu teria dado à Sociedade
uma excelente ajuda e uma trabalhadora. A pobre mulher é por
natureza boa e moral, mas essa mesma pureza é de uma espécie tão
estreita, de um caráter tão presbiteriano, se posso usar esta palavra, a
ponto de ela ser incapaz de ver esta beleza refletida em outra coisa
que não seja o seu próprio eu. Só ela é pura e boa. De todos os demais
deve se suspeitar e se suspeitará. A ela foi oferecido um grande dom
mas o seu espírito obstinado não lhe permitia aceitar nada de ninguém
que não tivesse enquadrado de acordo com o seu próprio modelo1. E
agora ela receberá uma carta minha que conterá o meu ultimatum e
condições. Não os aceitará, mas se queixará com amargura para
alguns de vós, fazendo novas sugestões e insinuações contra alguém
a quem finge adorar. Preparai-vos. Está se oferecendo a ela uma táboa
de salvação mas há muito pouca esperança de que ela a aceite.
Entretanto, tentarei uma vez mais; mas não tenho o direito de influir
sobre ela em nenhum sentido. Caso aceitais o meu conselho,
abstende-vos de toda correspondência séria com ela, até que se
apresente algum novo acontecimento.

Tratai de salvar o "O Homem" examinando-o com Mohini e apagando


dele as pretendidas inspirações e ditados do "Estudante". Tendo tido
também em vista "um objetivo e um propósito" precisei deixá-la
debaixo da sua auto-ilusão de que este novo livro foi escrito com a
intenção de "corrigir erros" do "Budismo Esotérico" (de matá-lo, foi o
verdadeiro pensamento), e só nas vésperas da sua partida ordenou-se
à Upasika para que visse se Mohini tinha cuidadosamente expurgado
todas as passagens objetáveis. Durante a sua estadia na Inglaterra, a
senhora H. nunca tinha permitido que vísseis o seu livro antes da
publicação final. Mas eu quisera poupar a Mohini cinco mêses de
trabalho e não permitirei que fique sem ser publicado.

Embora muito fique sem explicação o pouco que possais extrair desta
carta servirá ao seu propósito. Canalizará os vossos pensamentos em
uma nova direção e revelará outro véu de domínio psicológico de "Isis".

Se desejais aprender e adquirir Conhecimento Oculto, deveis, meu


amigo, recordar que tal ensinamento abre na corrente do chelado mais
de um canal imprevisto, a cuja corrente um chela "laico" deve,
forçosamente ceder, ou do contrário, irá encalhar nos seus baixios;
sabendo disso, deve abster-se sempre de julgar por meras aparências.
O gelo está partido uma vez mais. Aproveitai-vos disso, se puderdes.

K.H.
Carta Nº 065

Esta carta do Mahatma K.H. está anexada a uma carta de H.P.B.


achada nas cartas dela para Sinnett. No post-scriptum à sua carta,
H.P.B. escreve: "Neste mesmo instante eu recebo uma carta para
você. Eu a anexo - perdôa-me, mas espero que seja a última, porque
não tenho mais forças para sofrer".

Meu amigo:

Estais me pedindo que "lance luz" sobre o "novo e lamentável


acontecimento", produzido pelas fantásticas acusações do senhor A.
Gebbard. Enquanto isso, há uma dezena de acontecimentos de caráter
bem mais doloroso, cada um deles calculado para esmagar a infeliz
mulher escolhida como vítima e que estão maduros e prontos para
arrebentar sobre a sua cabeça, ferindo também desafortunadamente a
Sociedade. Além disso, eu poderia ter imaginado que, depois do meu
notório fracasso em satisfazer a vossa rigorosa lógica nos espisódios
"Billings-Massey" e "Kiddle-Ligth", as minhas explicações e opiniões
pessoais eram consideradas de pouco valor no Ocidente? Não
obstante, será que pensais como Whewell que "cada fracasso é um
passo em direção ao êxito" e a sua confiança em mim deve alarmar
seriamente os vossos amigos?

Com a vossa permissão, deixei a explicação do "doloroso incidente"


para a própria Mad. B. Entretanto, como ela vos escreveu apenas a
verdade pura e simples, há pouca possibilidade de ser acreditada,
salvo, possivelmente, por seus poucos e chegados amigos, caso ela
ainda tenha algum quando receberdes esta carta.

Deveis ter compreendido agora amigo meu, que a tentativa que


fazemos a cada século para abrir os olhos do mundo cego, quase
fracassou: na Índia parcialmente; na Europa completamente, com
algumas exceções. Há somente uma oportunidade de salvação para
aqueles que ainda crêem: unirem-se e fazerem frente à tormenta com
coragem. Que os olhos dos mais inteligentes dentre o povo sejam
abertos para a sórdida conspiração contra a Teosofia que se leva a
cabo nos círculos missionários, e no fim de um ano tereis recobrado o
terreno perdido. Na Índia é: "ou Cristo ou os Fundadores (!!) Vamos
matá-los a pedradas!"

Quase terminaram de matar a um; e agora estão atacando a outra


vítima, Olcott. Os padres estão tão ativos como abelhas. A S.R.I.P.4
lhes deu uma excelente oportunidade para capitalizar a atuação de seu
representante. O senhor Hogdson foi fácil vítima de uma evidência
falsa e a impossibilidade científica a priori de tais fenômenos darem
suporte à realidade dos fenômenos que ele viera investigar e relatar,
está total e completamente desacreditada.

Ele pode alegar como uma desculpa excusa a frustração pessoal que
experimentou, que fez com que se voltasse com fúria contra os
pretendidos autores da "gigantesca fraude"; mas não há dúvida que,
se a Sociedade Teosófica se desmorona isso será devido a ele.
Podemos acrescentar que também se deveria aos louváveis esforços
de nosso mútuo amigo de Simla (A.O. Hume), que, entretanto, não
renunciou; e as do senhor Lane-Fox. Que Sociedade poderia resistir
no seu todo aos efeitos de duas línguas tais como as dos senhores H.
e L.F.! Enquanto o primeiro, tomando a cada teosofista proeminente
como confidente, assegura-lhe que, desde o começo da Sociedade,
nem uma só das cartas que se dizem terem vindo dos Mestres foi
genuína, o senhor Fox ocupa-se de predicar que é o único a realizar
os desejos do Mestre (M.) ao informar aos teósofos todos os defeitos
da S.T. e os erros de seus fundadores, cuja Karma, disse, é de trair a
sagrada confiança que receberam de seus Gurus.

Diante disto, talvez culpareis menos os nossos chelas por detestarem


os europeus da Sede Central e dizer que são eles que arruinaram a
Sociedade.

Assim é, meu amigo, como se chega a um final forçado nas projetadas


instruções ocultas. Tudo foi arrumado e preparado. O Comitê secreto,
indicado para receber as nossas cartas e ensinamentos e transmití-los
ao Grupo Oriental, já estava pronto, quando uns poucos europeus (por
razões que prefiro não mencionar), se arrogaram à autoridade de
revogar as decisões de todo o Conselho. Eles recusaram (embora a
razão que deram foi outra) receber as nossas instruções por intermédio
de Subba Row e Damodar, sendo que este é odiado pelos senhores L.
Fox e Hartman. Subba Row renunciou e Damodar foi para o Tibet.
Poderão ser culpados os nossos hindús por isso?*

E agora, Hume e Hodgson irritaram Subba Row até a fúria, dizendo-


lhe que, como amigo e companheiro ocultista de Madame B., o
Governo suspeitava que ele era também um espião. É a história do
"Conde St. Germain" e Cagliostro que se repete. Mas posso dizer-vos,
que fostes sempre fiel e verdadeiro para comigo, que não se permitirá
que os frutos da vossa devoção se deteriorem e reduzam-se a pó caído
da árvore da ação. E agora, por que não dizer umas poucas palavras
que possam ser úteis?

É uma velha verdade que nenhum de vós já formou uma idéia exata,
seja dos "Mestres"ou das leis do Ocultismo pelas quais eles se guiam.
Por exemplo: eu, pelo fato de haver recebido um pouco de educação
ocidental, devo ser imaginado como o tipo de "cavalheiro" que segue
na sua ação as leis da etiqueta e que ajusta as suas relações com os
europeus de acôrdo com as regras do vosso mundo e sociedade! Nada
poderia ser mais errado; a absurda imagem de um asceta indo-tibetano
desempenhando o papel de Sir. C. Grandison dificilmente deve ser
considrada. Entretanto, tendo deixado de corresponder a tal imagem,
fui desfigurado, marcado e degradado em público, como diria Mad. B.
Que pobre paródia! Quando compreendereis que eu não sou nada
disso? Que se, até certo ponto, estou familiarizado com as vossas
noções peculiares (para mim) sobre a propriedade desta ou aquela
coisa e com as obrigações de um cavalheiro ocidental, assim também
estais, até certo grau, familiarizado com as maneiras e costumes da
China e do Tibet. Por tudo isso, da mesma maneira que recusaríeis
amoldar-vos aos nossos hábitos e viver de acôrdo com os nossos
costumes, assim eu também prefiro os nossos modos de vida em vez
dos vossos, e as nossas idéias às do ocidente. Acusam-me de
"plagiário". Nós, do Tibet e da China, ignoramos o que quereis dizer
com essa palavra. Eu o sei, mas essa não é de modo , uma razão para
que aceite as vossas leis literárias. Qualquer escritor tem o privilégio
de extrair frases inteiras do dicionário de Pai-Wouen-Yen-Fu, o maior
de todo o mundo, cheio de citações de todos os escritores conhecidos,
e que contém todas as frases que podem ser usadas e combiná-las
para expressar o seu pensamento. Isto não se aplica ao caso Kiddle,
que ocorreu como eu vos contei. Mas é possível que possais encontrar
em todas as minhas cartas umas vinte frases soltas que podem ter sido
já empregadas em livros ou em manuscritos. Quando escreveis sobre
algum tema, rodeiai-vos de livros de referência, etc.; quando nós
escrevemos sobre alguma coisa, da qual não conhecemos a opinião
ocidental, rodeamo-nos de centenas de parágrafos ou frases sobre
esse assunto particular, extraídos de dúzias de diferentes escritos
impressos sobre o Akasa. Que tem de estranho, pois, em que, não
somente um chela, encarregado do trabalho e que desconhece o
sentido de plágio, mas mesmo eu, usemos, às vêzes, uma frase inteira
já existente, aplicando-a apenas a uma outra, à nossa própria idéia?
Já lhe falei antes sobre isso, e não é culpa minha, por não ficarem
satisfeitos os seus amigos e inimigos com a explicação. Quando tiver
de escrever um ensaio original para ganhar um concurso, tratarei de
ser mais cuidadoso. Quanto ao incidente Kiddle, é culpa vossa. Por
que imprimistes O Mundo Oculto sem me enviar para que fizesse a
revisão? Eu não teria nunca permitido que esse trecho passasse, nem
o "Lal Sing" que foi inventado tontamente por Djwal K. como a metade
de um pseudônimo de escritor, e que permiti descuidadamente que se
firmasse sem pensar nas consequências. Nós não somos "Mahatmas"
infalíveis, oni-previsores a cada hora do dia, bom amigo: nenhum de
vós aprendeu a recordar isso. E agora, ao Ocultismo.

Esperava-se de nós que permitiríamos fôssem as Forças Ocultas


tratadas da mesma maneira que a sua casca: as forças físicas da
Natureza. Somos censurados por não divulgar a cada homem culto que
ingressou na S.T., os frutos das investigações de gerações de
ocultistas que consagraram as suas vidas a esse fim e que com
frequência, as perderam na grande luta para arrancar os segredos do
coração da Natureza. A menos que assim procedêssemos, o Ocultismo
não poderia ser reconhecido: teria que permanecer dentro do limbo da
magia e da superstição, do espiritismo, segundo uns; no da fraude, na
opinião de outros. Quem pensou, por um só instante, que uma lei oculta
revelada, cessou de ser oculta para se tornar propriedade pública, a
menos que fôsse dada a um Ocultista, o qual, morre antes de trair o
segredo?

Quantos resmungos, quantas críticas acerca do Devachan e temas


similares por ficarem incompletos, e por muitas contradições
aparentes! Oh, cegos tontos! Esquecem, ou nunca souberam que
quem possue a chave dos segredos da MORTE também possui as
chaves da VIDA. Que qualquer um poderia se tornar um Deus criador,
nesta raça, adquirindo conhecimento tão facilmente, a ponto de que
não houvesse necessidade das Raças Sexta e Sétima? E que nós
teríamos pervertido o plano do SER, adulterado as contas do Livro da
Vida, em uma palavra, frustrado a VONTADE ETERNA!

Amigo meu, pouco, ou nada mais tenho a dizer. Lamento


profundamente minha impossibilidade de satisfazer pelo menos agora
aspirações honestas e sinceras de uns poucos escolhidos entre o
vosso grupo. Pudesse a vossa Loja de Londres compreender, ou, ao
menos suspeitar que a presente crise que está sacudindo a S.T. até
nos seus alicerces, é uma questão de perdição ou salvação para
milhares; uma questão de progresso ou retrocesso da raça humana;
de sua glória ou desonra; e para a maioria desta raça: de ser ou não
ser aniquilação, de fato, então talvez muitos de vós olhariam para a
própria raiz do mal, e em vez de serem guiados por falsas aparências
e decisões científicas, começaríeis a trabalhar e salvar a situação,
pondo de manifesto as manobras desonestas de vosso mundo
missionário.

Por enquanto, aceitai meus melhores votos.

K.H.

Creio que devia dizer-vos uma vez mais o que desejaria que
recordásseis sempre. Ficaria satisfeito se pudesse responder a cada
pergunta com tanta facilidade quanto à vossa sobre o "doloroso
acontecimento". Por que as dúvidas e as suspeitas impuras parecem
acossar cada aspirante ao chelado? Amigo meu, nas Lojas Maçônicas
da antiguidade, o neófito passava por uma série de terríveis testes para
da sua constância, valor e presença de ânimo. Por meio de impressões
psicológicas complementadas por efeitos mecânicos e substâncias
químicas, ele era levado a crer que ele caia em precipícios, que era
esmagado por rochas, que passava através do fogo, que estava
afogando-se e que era atacado por bestas selvagens. Isto era uma
reminiscência de um sistema copiado dos Mistérios Egípcios. Tendo o
Ocidente perdido os segredos do Oriente, teve, como disse, que
recorrer ao artifício. Mas, em nosso dias, a vulgarização da ciência
tornou antiquadas aquelas provas de menor importância. Agora o
aspirante é atacado totalmente na parte psicológica de sua natureza.
Seus sistema de provação é, tanto na Europa com na Índia, o do Raja-
Ioga e seu resultado é, como já explicado inúmeras vêzes,
desenvolverem em seu temperamento cada germem bom e mau. A
regra é inflexível e ninguém escapa, seja que ele nos escreva apenas
uma carta ou que no íntimo de seu coração surja um forte desejo de
comunicação oculta e conhecimento. Da mesma maneira que a chuva
não pode tornar frutífera a rocha, assim também o ensinamento oculto
não tem nenhum efeito sobre a mente não receptiva; e da mesma
maneira que a água desenvolve o calor da cal cáustica, assim também
o ensinamento transforma em ação impetuosa cada potencialidade
insuspeitada, latente no aspirante.

Poucos europeus resistiram esta prova. A suspeita, seguida de uma


convicção de fraude auto-formulada, parece ter-se convertido na
ordem do dia. Eu vos digo que, com umas poucas exceções, nós
fracassamos na Europa. Daqui por diante se colocará em prática, com
toda rigidez, a política de absoluta neutralidade da S.T. com relação a
ensinamentos ocultos e fenômenos; o que for comunicado, o será para
pessoas em particular por um particular comunicador. Por exemplo:
caso Mad. B. encontre a força necessária para viver (e isso depende
por inteiro de sua vontade e de seus poderes para exercê-la) e esteja
disposta, sob a direção de seu guru ou ainda de mim mesmo, a servir-
nos como amanuense para vós (para Sinnett, não para o grupo), ela
pode, caso desseje, enviar-vos instruções semanais ou mensais,
Mohini poderia fazer o mesmo, mas sob a promessa de que, nem os
nossos nomes, nem o do remetente serão jamais conhecidos, e que a
S.T. não será responsabilizada por esses ensinamentos. Caso o grupo
oriental sobreviva, algo ainda poderia ser feito por ele. Mas jamais,
daqui em diante se permitirá que a Sociedade, na Índia, seja
comprometida de novo com fenômenos que são denunciados por todos
os lados como sendo uma fraude. O bom barco está afundando, amigo
meu, porque a sua preciosa carga foi oferecida ao público em geral;
porque algo de seu conteúdo foi degradado por mãos profanas, e o seu
ouro considerado como sendo latão. Digo que, agora em diante, esses
olhos profanos não verão os seus tesouros e que seus convéses e
aparelhos devem ser limpados das impurezas e escórias que foram
acumuladas neles pelas indiscreções de seus próprios membros.
Tratai de remediar o mal feito. Cada passo dado por alguém em nossa
direção, nos obriga a dar um em relação a ele. Mas não é indo a Ladak
que alguém nos encontrará, como o senhor Lane-Fox11 imagina.

Mais uma vez, aceitai a minha benção e saudações de despedida, caso


sejam as últimas.

K.H.
Carta Nº 066

Recebida em Londres, no dia 10 de Outubro de 1884.

Sinnett viajou de Elberfeld para Londres e H.P.B. acompanhou-o nessa


viagem. O Cel. Olcott deixou a Inglaterra, de retorno para a Índia.

O envelope no arquivo do Museu Britânico traz um carimbo de correio


de 9 de outubro de 1884, em Bromley, Kent, Inglaterra. A escrita não é
familiar; não é a do Mahatma K.H.

Por razões perfeitamente válidas, embora não me seja necessário


entrar em detalhes, não pude responder a vossa carta em Elberfeld
nem transmití-la para vós por intermédio de L.C.H.1 Desde que se
tornou impossível utilizar o principal canal H.P.B., por meio da qual me
comuniquei até agora convosco, devido às suas mútuas relações
pessoais, utilizei o correio comum. Mesmo isso requeria um maior
gasto de poder de um amigo, do que podeis imaginar.

Não seria próprio de um amigo reter a verdade quando ao falar dela


possa produzir um bem; por isso devo vos dizer que deveis vigiar-vos,
se não desejais pôr um fim, para sempre, às minhas cartas. De maneira
inconsciente para vós mesmo, estais alimentando uma tendência ao
dogmatismo e a um conceito errôneo e injusto de pessoas e motivos.
Estou bem a par de vossas idéias sobre o que chamais de absurdo
piegas, e lamento estar seguro, já que em vosso mundo a ninguém se
permite que moralize a outrem e que é muito provável vos ressintais
que estas palavras sejam escritas em vão. Mas conheço, também, o
vosso sincero desejo de que a nossa correspondência não termine e
sabendo disso, dirijo a sua atenção para aquilo que, com certeza,
produzirá tal resultado.

Acautelai-vos, então, contra um estado de espírito descaridoso, pois


se levantará em vosso caminho como um lobo faminto e devorará as
melhores qualidades de vossa natureza que estão surgindo à vida.
Ampliai as vossas simpatias em vez de restringí-las; tratai de vos
identificar com os vossos semelhantes em vez de reduzir o vosso
círculo de afinidades. Uma crise está presente, qualquer que seja a sua
causa, ou pelas faltas cometidas em Adyar ou Allahabad, ou por minha
negligência, ou por antagonismos de H.P.B., e é agora o momento da
máxima expansão prática da vossa influência moral. Não é ocasião
para censuras ou recriminações vingativas, e sim para a luta unida.
Quem quer que tenha semeado as sementes da presente tempestade,
o torvelinho é forte, toda Sociedade a está colhendo e é mais
alimentada do que debilitada, da parte de Shigatze. Estais rindo de
provações; aplicada a vós, a palavra parece ridícula? Esqueceis que
todo aquele que se aproxima de nossos recintos, ainda que em
pensamento, é atraído para o vórtice da provação. De qualquer
maneira, seu templo cambaleia, e a menos que apoiais os vossos
fortes ombros contra as suas paredes, pareceis compartilhar a sorte de
Sansão. O orgulho e o "digno desprezo" não vos ajudarão nas
presentes dificuldades. Existem coisas tais, quando compreendidas
alegoricamente, como tesouros guardados por fiéis gnomos e por
demônios. O tesouro é o nosso conhecimento oculto que muitos de vós
procuram (no vosso caso mais do que em qualquer outro) e não são
H.P.B. ou Olcott nem nenhum outro, individualmente, que despertaram
os guardiães desse tesouro, e sim vós mesmo, mais do que eles e a
Sociedade em conjunto. Livros como "O Mundo Oculto" e "Budismo
Esotérico" não passam desapercebidos ante os olhos desses fiéis
guardiães, e é completamente necessário, que aqueles que hão de ter
esse conhecimento, sejam totalmente experimentados e provados.
Deduzi disto o que quiserdes: mas recordai que meu Irmão e eu somos
os únicos na Fraternidade que estamos empenhados na disseminação
(até certo limite) de nossas doutrinas e que H.P.B. era até agora o
nosso único instrumento, o nosso agente mais dócil. Aceitando que ela
é como vós a considerais (e eu já vos disse que o velho corpo enfermo
se torna, às vêzes, positivamente perigoso), entretanto, isso não vos
exime do menor relaxamento em se esforçar para salvar a situação e
levar adiante o trabalho (e, em especial, proteger a nossa
correspondência) o mais rápido possível. Considerai-a, seja qual for,
uma vantagem positiva para o resto do grupo, que ela tenha sido o que
é, já que isso atraiu sobre todos vós o maior estímulo para a realização,
apesar das dificuldades que considerais tenha ela criado. Eu não digo
que a teríamos preferido, caso estivesse disponível um melhor agente;
entretanto, no que concerne a vós, isso representou uma vantagem,
embora houvésseis alheado-vos dela por muito tempo, se não para
sempre e, assim colocado extraordinários obstáculos em meu
caminho. Recordai o que vos disse há dois anos: "Caso H.P.B.
morresse antes que encontrássemos um substituto", os poderes por
meio dos quais trabalhamos em nossas comunicações com o mundo
externo podem permitir a transmissão de mais duas ou três cartas, e
então isso acabaria e não teríeis mais cartas de mim. Bem, ela está
virtualmente morta; e é vós mesmo, perdoai-me mais esta verdade,
que matou o agente - áspero, mas fiel; alguém que, ademais, vos era
realmente devotado pessoalmente. Deixemos o assunto se ele vos é
desagradável. Tenho feito todo o possível para deter o mal, mas não
possuo, nem autoridade, nem controle sobre ela, nem terei melhor
possibilidade com a senhora H.4 Ela é, por natureza, um magnífico
exemplar, mas tão desconfiada de si mesma e dos demais, tão
tendente a tomar o real por alucinações e vice-versa, que será
necessário um grande tempo antes que ela se torne plenamente
controlável, mesmo por ela própria. Está longe, muito longe de ser
adequada, além disso ela não compreende a si mesma, nem a nós. Na
verdade, nossos caminhos não são os vossos daí, restar, senão, pouca
esperança para nós no Ocidente.

Rogo-vos não atribuís o que se disse acima a qualquer influência de


H.P.B. Não há dúvida que ela se queixou, com amargura, ao seu
Mestre, e o diz com franqueza, mas isso não altera a opinião dele nem
afeta minha própria atitude em relação a vós, no mínimo que seja. Não
só nós dois sabemos, ela também sabe quão importantes são os
vossos serviços para o bem da Sociedade e não se permitiria que
quaisquer queixas pessoais dela vos impedissem de receber estrita
justiça, ou, que nos impeça de conceder-lhe justiça igualmente. Seu
Mestre e eu a orientamos para fazer e dizer tudo o que ela quiz
relativamente a senhora H. Qualquer resultado desagradável foi devido
à execução das ordens que ela recebeu. Encontramos a senhora H. na
América e a influenciamos para que se preparasse para escrever o livro
que produziu com a ajuda de Mohini. Caso ela tivesse concordado em
deter-se em Paris uns dias mais, como lhe foi pedido, e tivesse vindo
a Inglaterra com H.P.B., teria sido evitada a última complicação. O
efeito da chegada da senhora H. em vossa casa vos foi descrito antes
por ela; e ao vos ressentir pelo que Mohini e H.P.B. estavam dizendo
a vós e a ela, estáveis simplesmente ressentindo-se de nossos desejos
pessoais. E mesmo agora, vos ressentireis de minhas palavras,
quando vos digo que criastes obstáculos, incoscientemente, concordo
contudo, no meu caminho para o desenvolvimento dela. Contudo,
teríeis sido o primeiro a se aproveitar disso. Mas, não compreendendo
os nossos modos de proceder, nem os métodos ocultos, insististes em
conhecer a causa e razão de tudo que foi feito, especialmente do que
não vos agradava. Exigistes mesmo que se vos explicasse por
completo a razão porque vos fôra sido pedido para que viésseis a
Elberfeld.*

Isto é razoável, do ponto de vista oculto, bom amigo. Ou confiais em


mim ou não. E devo dizer-vos com franqueza, que a minha amistosa
consideração sofreu um choque ao ouvir o seu "ultimatum", que pode
assim ser resumido: "Ou a senhora H. passa uma semana mais ou
menos, em nossa casa ou eu abandono a Loja de Londres para que
continue como puder". Isso quase significava o seguinte: "Não obstante
os "Mestres" ou os que não são mestres se oponham a isso, devo
mostrar e mostrarei a L.L. que qualquer coisa que tenha ouvido sobre
esse assunto é falsa e que os "Mestres" jamais consentiriam em
qualquer ação danosa ao meu orgulho: este deve estar protegido a
todo custo". Amigo meu; isto é caminhar sobre terreno perigoso. Aqui,
em nossas montanhas, os Dugpas colocam em lugares perigosos, em
caminhos frequentados por nossos chelas, pedaços de farrapos velhos
e outras coisas bem escolhidas para atrair a atenção do descuidado,
tendo sido esses objetos impregnados com o magnetismo malígno
deles. Se por acaso se pisa num deles, pode passar ao viajante um
tremendo choque psíquico, de forma a perder o equilíbrio e cair no
precipício antes que possa recobrar-se. Amigo, tende cuidado com o
Orgulho e o Egoismo, duas das piores armadilhas para os pés daquele
que aspira ascender os elevados caminhos do Conhecimento e da
Espiritualidade. Abristes uma fissura na vossa armadura para os
Dugpas; não vos queixeis se eles a encontraram e vos feriram nesse
ponto. A senhora H. não queria, na verdade, ir à sua casa, pois como
vos dissera com muita sinceridade, eu lhe havia dito que não o fizesse
por razões que deveis conhecer agora; deveríeis também ter sabido
que, se nós valíamos algo como indivíduos, e não éramos meros
bonecos indefesos, não iríamos ser influenciados por H.P.B. nem
obrigados por meio de ameaças, a fazer algo contrário ao nosso
entendimento, e às necessidades do Karma. Lamento que não tenhais
lembrado destes fatos antes de falar, pois isso torna a minha posição
ainda mais embaraçosa diante o meu Chefe, já que, como é natural,
ele fez registrar o "ultimatum". Negais que houvésseis pedido alguma
vez para ser aceito como chela. Ah, meu amigo, não poderíeis ser nem
mesmo um "chela laico" com tais sentimentos ardendo no vosso
coração. Mas, mais uma vez digo, deixemos de lado o assunto. As
palavras não apagarão os fatos e o que está feito, feito está. Meu Irmão
M. que possue mais autoridade do que eu, acaba de escrever a carta
prometida ao "Círculo Interno". A vossa "honra", bom amigo, está a
salvo; a que preço! lêde e vereis.

Vós não encontrais algumas cartas e notas minhas mais recentes,


inclusive a enviada ao tesoureiro da L.L. "filosóficas e no meu estilo
usual". Dificilmente poderia ser evitado: escrevi apenas sobre os
assuntos do momento, como estou fazendo agora e não tive tempo
para filosofia. Com a L.L. e a maioria das outras Lojas ocidentais da
S.T. estão num estado deplorável, a filosofia poderia ser invocada para
conter a impaciência de alguém, mas a principal coisa que se necessita
neste momento, é algum esquema prático para resolver a situação.
Alguns, de maneira muito injusta, tratam de fazer de H.S.O. e H.P.B.
os únicos reponsáveis pelo estado de coisas. Ambos estão, em alguns
aspectos, longe de serem perfeitos; em outros, é bem o contrário. Mas
possuem aquilo, (perdoai-me a eterna repetição, que tem sido
constantemente esquecida de que, em qualquer outro lugar temos
encontrado muito raramente) A AUSÊNCIA DE EGOISMO, e uma
veemente disposição para o auto-sacrifício pelo bem dos outros. Que
"multidão de pecados" isso não anula! É uma verdade, e eu a repito,
que só na adversidade podemos descobrir o verdadeiro homem. É um
ato de verdadeira nobreza de caráter quando alguém corajosamente
aceita a sua parte do Karma coletivo do grupo onde trabalha, e não se
permite ficar amargurado, e ver os outros em situação mais difícil do
que estão na realidade, ou jogar toda a culpa em alguma "ovelha
negra", uma vítima, especialmente escolhida. Um homem verdadeiro
como esse nós sempre protejeremos e, a despeito de suas limitações,
ajudaremos a desenvolver o bem que existe nele. Alguém assim é
sublimamente inegoista; ele mergulha a sua personalidade na sua
causa, e não se preocupa com desconfortos ou com difamação pessoal
injustamente derramada sobre ele.

Já terminei, meu bom amigo, e nada tenho mais a dizer. Possuis


bastante inteligência para não ver com clareza, como os Americanos
diriam, o aperto em que me encontro, tal como vereis pela carta de M.,
foi criada de uma maneira gradual por todos vós, tanto quanto pelos
desditosos "Fundadores". Entretanto, sem um deles ao menos, quase
nada poderíamos fazer durante vários anos vindouros. Tratastes com
demasiada crueldade o velho corpo, e agora chegou o vosso dia.
Jamais concordareis plenamente comigo nisto, entretanto, isso é um
fato. Tudo que posso fazer por vós, pessoalmente, o farei, a menos
que tornais ainda pior a situação, não mudando a vossa política.
Aquele que deseja obter instrução superior deve ser um verdadeiro
teósofo em seu coração e em sua alma; não meramente em aparência.

Enquanto isso, recebei minhas pobres bençãos.

K.H.
Carta Nº 067

Escrita para o Coronel Olcott (dia 26 de Maio de 1883).

Esta carta é dirigida ao Cel. Olcott e recebida por ele quando chegou a
Adyar em 26 de maio de 1883, após uma longa viagem na qual realizou
muitas curas. Os Sinnetts, de acordo com o planejado, tinham viajado
para a Inglaterra em 30 de março, e é provável que ele recebeu esta
carta em meados de junho. Assim, pode-se ver que transcorreu um
certo tempo desde que ele tivera a última notícia do Mahatma K.H.

Fostes enviado para casa para um descanso que necessitais, de modo


que deveis recusar fazer novas curas até que tenhais a autorização de
M.3 O Maha-Chohan indicará quando deveis ir ao Punjab. Como o
barco correio inglês sai amanhã, faríeis bem em fazer uma advertência
amistosa ao senhor Sinnett, para que não se sinta surpreendido se o
seu projeto do periódico tenha contratempo após contratempos. O
estado da Índia é agora quase comparável a um grande corpo de
matéria seca no qual ardem chispas. Agitadores das duas raças têm
feito e fazem o que podem para fazer surgir uma grande chama. No
louco fanatismo da hora dificilmente há paciência suficiente para
pensar em sensatez sobre qualquer assunto, e menos ainda sobre um
como este, que chama a atenção dos homens conservadores. Os
capitalistas estão mais dispostos (como Holkar) a esconder as suas
rupias do que invertê-las em ações de empresas. E como os "milagres"
foram descartados, como vós e o senhor Sinnett sabem, vejo atrasos,
frustrações, provas de paciência, mas (por enquanto) não vejo
fracassos. O lamentável assunto da apressada ascenção de Bishenlal
aos Himalayas como presuntivo chela, complicou tristemente as
coisas, e seu eminente correspondente de Simla tornou-as pior ainda.
Embora sem o saber, ele ajudou a precipitar a loucura de Bishenlal e
(isto, de uma maneira consciente) está conspirando e tramando de
muitas maneiras para fazer um holocausto de todos nós cujos vapores
podem fazer aparecer o gigantesco espectro de Jakko. Ele já vos disse
que Sinnett é um crédulo imbecil que deve ser conduzido pelo nariz
(perdoe, meu bom amigo, o mal gosto que me obrigou a duplicar, para
meu "protegido" A.P. Sinnett essa última longa carta do senhor H. para
vós, e que guardais no fundo de vossa caixa de correspondência e da
qual não tinheis a intenção de que H.P.B. conhecesse todo o seu
conteúdo). Fiz com que fôsse copiada corretamente e eleb obteve uma
mina mortal, preparada faz tempo, para a vossa ardente colega. O
senhor Sinnett está agora em condições de verificar minha velha
advertência, de que ele tinha em mente a idéia de colocar todos os
vossos amigos em Londres contra a Sociedade. A vez do grupo
Kingsford-Maitland chegou. A diabólica malícia que exala através da
sua atual carta, vem diretamente dos Dugpas que provocam a sua
vaidade e cegam o seu coração. Quando abrirdes a carta de M. de
1881, encontrareis a chave de muitos mistérios, inclusive este. Apesar
de serdes naturalmente intuitivo, o chelado é, entretanto, um completo
enigma para vós como para meu amigo Sinnett, e os outros, eles ainda
têm apenas um vislumbre. Por que tenho, mesmo agora, (para por os
vossos pensamentos no reto caminho) de recordar-vos os três casos
de loucura entre os "chelas laicos", num período de sete meses, além
de um que se transformou em ladrão? O senhor Sinnett pode
considerar-se afortunado de que o seu chelado laico esteja somente
em "fragmentos" e que eu o tenha desencorajado de uma maneira tão
constante em seus desejos de uma relação mais estreita como um
chela aceito. Poucos homens conhecem as suas capacidades
inerentes, somente a prova do severo chelado as desenvolve.
(Recordai estas palavras; elas possuem um profundo significado).

M. vos envia, por meu intermédio, estes vasos como uma saudação de
boa vinda ao lar.

É melhor que digais com clareza, ao senhor Sinnett, que seu ex-amigo
de Simla, não importa sob que influência, fez um dano efetivo ao
projeto do jornal, não só com Maharajá de Cachemira, mas também
com muitos outros na Índia. Tudo o que ele vos insinua em sua carta e
ainda mais, fez ou está se preparando para fazer.
Esta é "uma carta de K.H." e podeis dizer isso ao senhor Sinnett.

K.H.
Carta Nº 068

(7 de Abril de 1884)

É provável que Sinnett ficou um pouco desanimado com os


acontecimentos na Loja de Londres e, talvez, tenha escrito ao
Mahatma a respeito disso. A Carta nº.123 é uma comunicação pessoal
de encorajamento e de atenção. É impossível dizer precisamente
quando foi escrita ou recebida, de modo que pode estar incorretamente
colocada na cronologia. Isto talvez não importa, dado que nenhum fato
é mencionado.

Acabo de retirar a vossa nota de onde foi colocada por ela, pois embora
eu pudesse tomar conhecimento do seu conteúdo de outra maneira,
preferireis que o papel mesmo passe às minhas mãos. Parece-vos
insignificante que o ano passado tenha sido empregado somente em
vossas obrigações familiares? Não, mas que melhor motivo de
recompensa, que melhor disciplina, senão a obrigação cumprida a
cada dia e a cada hora? Crêde-me, meu "discípulo", a mulher ou o
homem que é colocado pelo Karma em meio de pequenas e simples
obrigações, sacrifícios e atos de bondade, caso as cumpra fielmente,
se elevará à medida mais ampla de Dever, Sacrifício e Caridade para
com toda a Humanidade. Que melhor senda rumo à iluminação
buscais, senão a conquista diária do eu, a perseverança, apesar da
ausência de progresso psíquico visível, suportar a má sorte com aquela
serena fortaleza que torna aquela em superioridade espiritual, pois que
o bem e o mal não devem ser medidos por acontecimentos no plano
inferior ou físico. Não desanimeis porque a vossa prática não
corresponda às vossas aspirações, entretanto, não vos satisfazei com
isso, pois que reconheceis evidentemente que a vossa tendência é,
inúmeras vêzes para a indolência mental e moral, propenso a seguir
as correntes da vida, em vez de tornar um rumo inequívoco e próprio.
O vosso progresso espiritual é bastante maior do que conheceis ou
podeis conceber e fazeis bem em crer esse desenvolvimento é, em si
mesmo, mais importante que a comprovação do mesmo por meio de
vossa consciência no plano físico. Não vou entrar agora em outros
assuntos já que estas são apenas algumas linhas de reconhecimento
simpático de vossos esforços e de sincero estímulo para que
mantenhais no presente, um ânimo sereno e valoroso em relação aos
acontecimentos externos, e um espírito de esperança para o futuro em
todos os planos. Seu, na verdade.

K.H.
Carta Nº 069
(Escrita depois de 29 de Junho de 1882)

Nenhuma data está posta. Contudo, dado que o Mahatma está


obviamente respondendo a algumas questões de Sinnett, motivado
pela carta "Devachan", deve ter sido em sequência àquela.

Estou sinceramente satisfeito, meu "discípulo", de que me escreveis


como combinamos, tenhais ou não alguma questão especial para me
apresentar. É impossível,no vosso atual estado de saúde, de que
possais trazer para o vosso cérebro físico à consciência de planos mais
elevados de existência; entretanto, recordai, que a sensação de frescor
magnético não é uma verdadeira medida do benefício espiritual, e que
podereis mesmo alcançar um maior progresso espiritual, enquanto o
vosso desenvolvimento psíquico parece estar parado.

Agora respondo às vossas perguntas.

1) Nos ensinamentos esotéricos, "Brahma", "Pitri" e "Deva" lokas, são


estados de consciência pertencentes às várias hieraquias etéreas ou
classes de Dhyanis e Pitris (os "criadores"e "antepassados" da
Humanidade) e de Devas, alguns bastante mais elevados
espiritualmente do que o homem, outros, entre as classes de Devas,
mais atrasados no arco descendente da evolução, e destinados a
alcançar o estado humano somente em um futuro Manvântara.
Exotericamente, estes lokas representam o Nirvana, o Devachan e o
mundo Astral. O significado dos termos Devachan e Deva-loka é
idêntico; "chan" e "loka" significam igualmente lugar ou morada. "Deva"
é uma palavra usada muito indistintamente nos escritos do oriente, e
às vêzes é somente um véu.

2) Estais certo em relacionar o "Conhecimento Real" e a "Causa


Verdadeira" do verso citado, com o mais elevado plano de iluminação
espiritual; a "maior escuridão" na qual o "Siddha" perfeito se funde
finalmente: é aquela Absoluta Escuridão que é Luz Absoluta. O
Conhecimento Real do qual se fala, não é um estado mental, mas
espiritual, indicando um completa união entre o Conhecedor e o
Conhecido.

Espero que estas breves respostas possam derramar sobre estes


pontos toda luz que necessitas.

Com sincera boa vontade.

Vosso sinceramente.

K.H
Carta Nº 070
(Provavelmente recebida depois do dia 7 de Dezembro de 1882).

A data da carta não é conhecida com certeza, e assim não se pode


dizer quais eram as circunstâncias. Talvez a localização exata desta
carta na cronologia é menos importante do que o fato de que Sinnett,
evidentemente estava ainda ansioso para ter um contato pessoal com
o Mahatma e o Mahatma ainda tinha que dizer, "ainda não".

Já deveis ter entendido, meu amigo, que eu não estava surdo ao vosso
apelo, embora eu estivesse impossibilitado de responder, tal como vós,
e eu também, pudéssemos ter desejado, levantando, por um momento,
o véu sempre transparente entre nós. Perguntais: quando? Eu só
posso responder: "ainda não". A vossa provação não terminou ainda,
paciência um pouco mais. Enquanto isso conheceis a senda a ser
percorrida, ela se estende muito claramente ante vós no presente,
embora a escolha de uma senda mais fácil, porém, mais longa pode
estar à vossa espera no futuro distante.

Até a vista meu Irmão.

Sempre seu, com simpatia.

K.H.
Carta Nº 071

(De M. para Sinnett, fins de Setembro)

O Mahatma M. assumiu a correspondência. No "O Mundo Oculto",


Sinnett diz:

A mudança que se operou na característica de nossa correspondência,


quando o nosso mestre encarregou-se de nós, foi notável. Cada carta
que vinha de Koot Hoomi continuava a trazer a impressão de seu estilo
gentilmente suave. Escreveria metade de uma página em qualquer
ocasião em vez de correr o mínimo risco de, uma frase descuidada,
ferir os sentimentos de qualquer pessoa. A sua caligrafia, também, era
sempre muito legível e regular. O nosso novo mestre tratava-nos de
modo muito diferente; ele mostrava-se não habituado com a nossa
linguagem e escrevia uma caligrafia muito irregular que, às vezes, era
difícil de decifrar. De modo algum ele se preocupava com rodeios
conosco. Se escrevíamos um ensaio sobre algumas idéias ocultas que
tivéssemos captado e o mandássemos para ele, perguntando se
estava correto, às vezes vinha de volta com uma grossa linha vermelha
sublinhando de ponta a ponta e a palavra "não", escrita à margem. Em
uma ocasião um de nós tinha escrito: "Você pode aclarar as minhas
idéias a respeito disto e daquilo?". A anotação achada na margem,
quando o papel foi devolvido, era "Como posso aclarar o que você não
conseguiu captar?", e assim por diante. Mas com tudo isso,
progredimos com M. e, aos poucos, a correspondência, que começou
de sua parte com breves notas rabiscadas da maneira mais áspera em
pedaços de papel grosso tibetano, expandiu-se, às vezes, em cartas
muito grandes. E deve ficar compreendido que, enquanto os seus
modos ásperos e bruscos formavam um contraste divertido com a
gentileza terna de Koot Hoomi, nada havia neles que impedisse o
crescimento de nossa vinculação com ele, pois que começamos a nos
sentir aceitos com mais boa vontade por ele como discípulos do que
de início. Alguns dos meus leitores, estou certo, compreenderão o que
quero dizer por "vinculação" neste caso. Eu uso uma palavra menos
particularizada deliberadamente para evitar um desfile de sentimentos
que poderiam, geralmente, não ser compreendidos, mas posso
assegurar-lhes que, no curso de um relacionamento prolongado,
mesmo de uma natureza meramente epistolar, com uma personagem
que, apesar de a maioria dentre nós considerá-lo em seu nível natural
na criação, é tão elevada acima do homem comum, a ponto de possuir
alguns atributos comumente considerados divinos, os sentimentos que
surgem são tão profundos para serem descritos de modo ligeiro ou
fácil.

Meu amável Sinnett Sahib; muitos agradecimentos e reverências pela


máquina para tabaco. O nosso Pandit afrancesado e ocidentalizado
diz-me que a pequena parte curta tem de ser "curada" (temperada -
seja o que for o que queira dizer com isso), de modo que assim o farei.
O cachimbo é curto e meu nariz é comprido, assim é que, juntos vamos
nos acertar muito bem, espero. Obrigado, muito obrigado.

A situação é mais séria do que podeis imaginar e necessitaremos das


nossas melhores forças e mãos para trabalhar, afastando para longe a
má sorte. Mas o nosso Chohan querendo, e nos ajudando, sairemos
da dificuldade de uma maneira ou de outra. Há nuvens se adensando
em vosso horizonte e K.H. tem razão: a tempestade está ameaçando.
Basta irdes a Bombaim para o aniversário para prestardes a K.H. e a
mim um grande favor perdurável...mas quanto a isso sabeis melhor.
Esta reunião será o triunfo ou a queda da Sociedade e...um abismo.
Também estais equivocado sobre o Peling Sahib3, ele é perigoso tanto
como amigo como inimigo mau, muito mau das duas maneiras, pois eu
o conheço melhor. De qualquer maneira vós Sinnett Sahib, me
reconciliais com bastante coisas; sois verdadeiro e verdadeiro serei eu.

Seu sempre.

M.
Carta Nº 072

(Recebida em Outubro de 1882)


As cartas nº.95 e 96 são, na verdade, uma só carta; a carta nº.96 é um
post-scriptum à carta nº.95.

Meu bom Irmão:

O pequeno Doutor e o chela Mohini vos explicará o objetivo da visita


deles a de uma séria conferência que eu acredito necessária. As
objeções do ano passado estão surgindo também; tendes uma carta
minha na qual explico porque nunca guiamos os nossos chelas (nem
mesmo os mais avançados), nem os advertimos, deixando que os
efeitos produzidos por causas de sua própria criação lhes ensinem uma
melhor experiência. Por favor, guardai na memória aquela carta. Antes
que termine o ciclo devem ser varridas todas as interpretações
errôneas. Confio e conto convosco para aclará-las por completo nas
mentes dos membros do Prayag. É um grupo de pessoas
preocupantes, em especial Adityaram que influencia o grupo todo. Mas
o que eles dizem sobre a noite passada é correto. Deixastes vos levar
pelo vosso entusiasmo por ocultismo e o misturastes com muita
imprudência com a Fraternidade Universal. Eles vos explicarão tudo.

Seu,

K.H.
Carta Nº 073

(De M. para Sinnett. Outubro de 1881)

Trata-se da carta que o Mahatma K.H. evidentemente ditou para


Damodar antes que ele partisse para o seu retiro, e que Damodar
truncou.

Senhor Sinnett:

Recebereis do jovem Brahmin2 uma longa carta postada no correio,


em Bombaim. Koot-Hoomi foi vê-lo (pois ele é seu chela) antes de
entrar em "Tong-pa-ngi", estado em que se encontra agora e deixou
com ele certas ordens. O jovem confundiu algo na mensagem, assim
sêde muito cuidadoso antes que a mostreis ao Sr. Hume, para que ele
novamente não compreenda a intenção real do meu Irmão. Eu não
permitirei mais incompreensões ou sentimentos adversos contra ele,
senão eu me afasto imediatamente.

Fazemos o melhor que podemos.

M.
Carta Nº 074
De M. para Sinnett. Outubro?

Evidentemente, Sinnett havia recebido a carta e perguntou onde a


correção fôra feita. O Mahatma satisfaz a sua curiosidade.

Se estais tão ansioso de descobrir o trecho específico de onde apaguei


e precipitei outra frase à noite no posto dos Correios, posso satisfazer
a vossa curiosidade, senhor Sinnett: "mas era do CONHECIMENTO do
Chohan2 que nem vós nem outra pessoa se importava com o
verdadeiro objetivo da Sociedade, nem tinha respeito algum pela
FRATERNIDADE, mas, apenas um sentimento pessoal por alguns dos
Irmãos. Assim estáveis interessado por K.H., como pessoa, e pelos
fenômenos; o senhor Hume, por obter os segredos da nossa filosofia e
para asserar a si mesmo que os Mahatmas Tibetanos - os Lhas - caso
exisitissem na verdade fora da imaginação de Mme. B., estavam
relacionados, de alguma maneira, com certos Adeptos que ele tinha
em mente".

Tudo isto é o que K.H. disse, que eu tive de escrever e precipitar em


vez do que estava então escrito pelo jovem em uma fraseologia que
teria suscitado no Senhor Hume todo um caudal de finas palavras e a
palavra "ignorância" aplicada ao meu Irmão. Eu não deixaria nem que
o vento do deserto escutasse uma palavra, dita em voz baixa, contra
ele, que agora dorme. Tal é a causa e não outra tamacha produzido
por mim.

Vosso,

M.
Carta Nº 075

Esta carta pode referir-se à H.P.B. mas, também poderia referir-se à


Sra. Kingsford, com quem Sinnett tinha tantas diferenças e
desacordos.

O correto está do lado dela. As vossas acusações são extremamente


injustas, e vindo de vós, causam-me mais sofrimento se, depois dessa
clara declaração, ainda mantiverdes a mesma atitude, devo expressar
o meu mais profundo desgosto diante deste novo fracasso de nossa
parte - e desejar-vos de todo o meu coração melhor sucesso com
instrutores mais dignos. A ela certamente falta a caridade, mas na
verdade em vós falta - o dicernimento.

Lamentavelmente vosso,

K.H.
Carta Nº 076
Esta é a continuação dos comentários do Mahatma K.H. na carta nº.59
(CM-132) que, de algum modo, ficaram separados da primeira parte da
carta. O papel é diferente, o que pode explicar porque não foram
conservados juntos.

X......treinamento do CHELA. O pobre do Subba Row se encontra "num


aperto"; por isso é que ele não vos responde. De um lado ele tem a
indomável H.P.B. que faz a vida pesada para Morya pedindo-lhe que
vos recompense e o próprio Morya, que satisfaria, se pudesse, as
vossas aspirações; de outro, se encontra diante da intransponível
muralha Chineza de regras e da Lei. Creia-me, meu bom amigo;
aprendei o que puderdes sob as circunstâncias, a saber: a filosofia dos
fenômenos e nossas doutrinas sobre a Cosmogonia, homem interno,
etc. Subba Row vos ajudará a aprender, embora os seus termos, por
ser um Brahmin iniciado e apegar-se ao ensinamento esotérico
Brahmânico, serão diferentes dos da terminologia "Budista Arhática".
Mas, em essência são a mesma coisa, idênticos, em realidade.

Meu coração se enternece quando leio a nobre e sincera carta do Sr.


Hume; especialmente pelo que percebo entre as linhas, sim; para
quem, de cujo ponto de vista, nossa política deve parecer egoista e
cruel. Gostaria de eu ser o Mestre! Em cinco ou seis anos espero
tornar-me meu próprio "guia" e, então as coisas terão que mudar um
pouco. Mas mesmo Cesar acorrentado não pode livrar-se dos ferros e
com eles acorrentar Hippo ou Tharso, o carcereiro. Esperemos. Não
posso pensar no Sr. Hume sem recordar, cada vez, uma alegoria da
minha prórpia terra: o gênio do Orgulho que vigia um tesouro, uma
riquesa inesgotável de toda virtude humana, o divino dom de Brahmam
ao homem. Mas o gênio adormeceu sobre o seu tesouro, e uma por
uma as virtudes se estão escapando...Despertará ele antes que todas
elas se libertem das ataduras a que sempre estiveram presas?

Esta é a questão...

K.H.
Carta Nº 077

SEÇÃO IV

A AVENTURA "PHOENIX" E A SITUAÇÃO DA ÍNDIA

Recebida em Madras em Março de 1883.

A partir do início de 1883 as cartas começam a espaçar, com uma


crescente diminuição delas. Esta carta foi recebida por Sinnett quando
ele estava em Madras. Ele e a sua família tinham ido para lá em
conexão com os seus planos de voltar para a Inglaterra, e também,
provavelmente, para discutir a situação com respeito ao "O Fênix".
Adyar, onde a sede central estava localizada, é um subúrbio de
Madras, e tanto H.P.B. como Olcott estavam lá na ocasião.

Por favor, transmita ao Cel. Gordon a expressão de minha simpatia e


amistosa estima. Ele é, na verdade, um amigo leal e um aliado em
quem se pode confiar. Diga-lhe que, tomando em consideração os
motivos dados e a sua própria e tranquila modestia, eu creio, todavia,
que ele pode fazer muito bem à sua maneira despretensiosa. Uma Loja
em Howrah é verdadeiramente necessária e só ele pode criar o núcleo.
Por que não tentar? Ele não tem interesse por sua carreira e está
disposto a deixá-la em qualquer momento. Mas isso não é necessário
pois enquanto estiver nela, lhe proporciona certa força e autoridade
entre alguns membros do país, o que, de outra maneira, não teria. De
qualquer maneira ele será enviado à Simla e terá bastante tempo livre.
Por que não usar esta oportunidade para por em ordem a Eclética e a
Himalayana, naturalmente em sua posição oficial como membro do
Conselho e Vice-presidente da Eclética? Farei com que Olcott lhe envie
um documento oficial para esse fim e eu mesmo escreverei as
instruções para ele. Estou ansioso para transferir a "Eclética" Anglo-
Indiana para Calcutá e ter a sua Sede Central (ainda que seja nominal
por algum tempo) anunciada na revista como estabelecida, até agora,
na capital e os membros indianos da Eclética incorporados à
Himalayana e um parágrafo para comunicar a todos que quiserem
ingressar na Loja Anglo-India que, em vossa ausência, devem se dirigir
ao Coronel W. Gordon, presidente interino no vosso lugar. Alguns
nasceram para a diplomacia e a intriga, eu creio que essa não é a
minha função específica. Contudo, creio que o arranjo é o melhor para
impedir os desastrosos efeitos das intrigas do senhor Hume e de seus
esforços para deixar a Sociedade, (Eclética) morta e enterrada, e
demonstrar, assim àqueles que se interessam por ela, que ele foi seu
criador e preservador e que o seu afastamento foi o presságio para a
morte dela. Obrigado pela carta do Coronel G.

O dia 30 é tão bom como qualquer outro depois do 27. Não; uma Loja
em Madras não é absolutamente necessária inicialmente. Mas é
razoável que, se Madras há de fornecer a maior parte dos fundos,
tenha também a preferência, depois de Calcutá. Enquanto o dinheiro
não entrar, é inútil fixar qualquer data. Uma vez que o nosso periódico
esteja estabelecido, eu não me ocuparei mais de nenhum outro
empreendimento material. Sim, eu me preocupei e fiquei molestado,
indubitavbelmente, mas isso era de se esperar; e nenhum peixe que
esteja passeando nas margens do rio, fora do seu elemento, pode se
queixar se se machuca. Aproximamo-nos do final, agora, de uma
maneira ou de outra, e uma vez que eu me lance de novo na cristalina
onda, poucos terão a oportunidade de me ver assomar de novo. A
humanidade não é sempre o que aparenta ser e perdi muito do meu
otimismo no último conflito. A humanidade foi denominada, em algum
lugar, como a poesia da criação, e a mulher, a poesia da terrra. Quando
ela não é um anjo, tem que ser uma fúria. É nessa última caracterísctica
que sempre a encontrarei no meu caminho quando Rajás e Zemindars
estavam bastante dispostos a desembolsar os fundos necessários.
Bem; o conflito está ainda ardendo e poderíamos ganhar ainda
brilhantemente o dia.

Vosso afetuosamente

K.H.
Carta Nº 078

Recebida em Dezembro de 18821.

Esta carta relaciona-se bastante com a comunicação feita pelo


Mahatma K.H. sobre as opiniões do Mahachohan a respeito do
empreendimento do "Fênix". O último parágrafo refere-se a Hume, que
notadamente estava escrevendo cartas mordazes a respeito de H.P.B.,
dos Mahatmas, da Sociedade Teosófica, etc., para C.C. Massey e
Staiton Moses em Londres.

Meu caro amigo:

Não me acuseis de indiferença ou de esquecimento em relação a


nossa pequena especulação depois que eu mesmo a iniciei. Não se
pode consultar o Chohan2 a cada dia sobre tais assuntos "mundanos"
e essa é a minha desculpa pelo inevitável atraso.

E agora o meu venerável Chefe me permite vos transmitir um


memorandum de seus pontos de vistas e idéias acerca do sucesso e
destino de um certo periódico sobre o qual foi solicitada a sua previsão
pelo vosso humilde amigo e servidor. Colocando-as de forma prática,
eu anotei os seus pontos de vista como se segue:

I - Estabelecer um novo periódico da espécie descrita é desejável e


muito possível, com o esforço apropriado.

II - Esse esforço deve ser feito pelos vossos amigos no mundo, e por
todos os teósofos indianos que desejem, de coração, melhorar o seu
país e não temam gastar as suas energias e tempo. Deve ser feito
pelos profanos, isto é, por aqueles que não pertencem diretamente à
nossa ordem; quanto a nós:

III - Podemos orientar e inspirar os seus esforços e o movimento em


geral. Embora afastados do vosso mundo de ação, não estamos,
contudo, separados por completo dele enquanto existir a Sociedade
Teosófica. Assim, conquanto não possamos inaugurá-lo publicamente,
para o conhecimento de todos os teósofos e daqueles a quem isso diz
respeito, nós podemos dar e daremos, até onde seja praticável, a
nossa ajuda no empreendimento. De fato já começamos a fazê-lo.
Ademais, temos a permissão de recompensar aqueles que tenham
ajudado, da forma mais efetiva, a realizar esta grande idéia (que
promete, afinal, mudar os destinos de toda uma nação, caso seja
conduzida por alguém como vós).

IV - Ao propor aos capitalistas, especialmente aos do país, o risco


(como é provável que pensem) de uma soma tão grande como essa,
deveis oferecer-lhes atrativos especiais. Portanto, somos de opinião
que não deveis pedir mais compensação do que a recebida por vós
atualmente, até que os vossos esforços tenham tornado o periódico um
êxito inegável, algo que deve acontecer e acontecerá, se é que eu sirva
para alguma coisa. Por certo tempo pois, é desejável que este assunto
esteja livre, aos olhos dos futuros acionistas, de toda característica
objetável. Pode-se atualmente inverter o capital de várias maneiras a
fim de que produza um juro moderado com pouco ou nenhum risco.
Mas, para o especulador comum, há muito risco em fundar um novo
periódico de alto custo, que irá favorecer os justos interesses dos
indianos, naqueles casos demasiadamente frequentes de injustiça (os
quais dificilmente podem vos ser provados sob circunstâncias comuns,
mas que o serão) e que ocorrem sempre que um país é dominado por
conquistadores estrangeiros. Casos que, no que se refere a Índia,
tendem a multiplicar-se com a entrada gradual de funcionários de
origem social inferior, em decorrência de um sistema de nomeações
por concurso, e as crescentes fricções devidas ao ressentimento
egoista ante a admissão de indianos para o Serviço Público. Aos
vossos capitalistas, portanto, deveis apresentar-lhes o incentivo de que
ireis trabalhar altruisticamente pelo mesmo salário que agora recebeis,
para tornar este empreendimento mais proveitoso que o comum, e que
só reclamareis uma parte do lucro (como havíeis delineado, com uma
pequena mudança) quando se chegar a esse ponto. Eu me ofereço
como garantia de que se chegará rapidamente a isso.

V - Minha sugestão, portanto, está de acordo com a opinião do Chohan,


que devereis indicar que aceitais o pagamento mensal combinado que
mencionais (com os gastos pessoais usuais e necessários de viagem
quando de interesse do jornal) até que o capital esteja rendendo 8%.
Dos lucros entre 8% e 12% deveis receber 25% de comissão. De tudo
que passe de 12%, 50% vos corresponderá.

VI - Deveis ter, certamente, completo controle sobre o periódico com


alguma cláusula que garanta que esse poder não poderá ser
transferido a um sucessor sem o consentimento da maioria do capital
representado por seus donos, e que deve cessar quando ficar evidente
que o jornal estivesse sendo utilizado contra os interesses para cuja
promoção foi fundado. Sem uma ressalva como essa, o meu venerável
Chohan, e nós também, pensamos que os preconceitos e suspeitas
profudamente arraigados levariam os capitalistas nativos,
especialmente os rajahs, a hesitarem, não por temerem os riscos deste
empreendimento, mas por dúvidas quanto ao seu êxito. Toda a
comunidade anglo-européia sofre agora, na opinião dos indianos,
pelos pecados comerciais de casas desonestas que até aqui iludiram
a boa fé dos capitalistas, e há vários rajás que agora seguem com
melancólico desalento a figura muito distante de Sir Ashley Eden, que
se afasta com o seu bolso cheio de promessas nunca cumpridas, e o
outro cheio de recordações de várias centenas de milhares de rúpias
tomadas emprestadas e nunca devolvidas aos seus amigos, os rajás.
Ao mesmo tempo, essas cláusulas devem estar redigidas de tal
maneira, que protejam também, os vossos interesses. Deverá existir
algum oferecimento de vossa parte, espontâneo, naturalmente,
convidando a inspeção ocasional dos livros e documentos, a intervalos
razoáveis, para a verificação das contas apresentadas, já que a vossa
integridade pessoal não pode servir de garantia para todos os vossos
auxiliares. Mas isso não há de diminuir a vossa autoridade sobre a
administração do periódico em todas a dependências.

VII - É melhor que todo o capital seja integralizado antes que o jornal
surja, pois é sempre desagradável e embaraçoso pedir contribuições
enquanto se está sofrendo perdas iniciais. Mas deverá ser estipulado
que tudo que não seja imediatamente necessário, renda juros. E que
seja criado um fundo de amortização com a receitra do periódico para
atender a qualquer necessidade urgente e imprevista. Devem ser
distribuídos ocasionalmente o superavit, bem como os lucros.

VIII - Os contratos usuais e documentos de co-participação devem ser


legalizados desde o início, e entregues a depositários mutuamente
confiáveis e que não devem ser conhecidos, até que aconteça qualquer
contigência especial. Isto demonstrará boa fé de ambas as partes e
inspirará confiança.

IX - Não parece ser necessária nenhuma observação sobre as demais


partes do vosso projeto. Vejamos, portanto, agora outra coisa.

Há duas ou três noites escutei a seguinte conversação, ou melhor,


declaração de opinião independente, que aprovei dentro do âmbito de
um raciocínio mundano. Olcott estava conversando com vários
teósofos influentes envolvidos e interessados em nossas futuras
atividades jornalísticas. Vosso colega e irmão, o bom e sincero
Norendo Babu, do Mirror, disse sábias palavras a este respeito:

"Dos vários príncipes que os amigos do Senhor Sinnett na Índia tem


em vista, provavelmente nem um só será induzido a subscrever o
capital por motivos patrióticos. O de Nizan quer o Berars e tem a
esperança de que a Inglaterra será tão generosa em relação a ele
como o é em relação a Cetewayo. Holkar quer cem por cento ou o que
mais se aproxime disso. Kashmir teme a Gazete C. e M. e a cobiça que
tem desejado há muito tempo anexar a sua rica província (a isto o meu
conservador e patriótico amigo A.P.S. seguramente deverá objetar);
Benares é ortodoxo e estaria disposto a gastar livremente para abolir a
matança de vacas (não de bois). Baroda é uma criança com a
inquietude de um potro e sem uma clara idéia do que seja a vida. Com
os adequados agentes e discretas negociações, os 5 lakhs podem (?)
ser obtidos, mas não se pode dizer quando; (especialmente para
alguém que tem pouca ou nenhuma fé em nossa ajuda). H.P.B. enviou-
me, depois disto, a vossa carta. Caso o meu conselho se pedido, eu
sugeriria: (1) manter os vossos proprietários na espectativa de vossas
possibilidades efetivas, de modo a vos dar a escolha de fazer aquilo
que se apresente mais conveniente. Eu, de minha parte, confesso-vos
agora que faço duas conjecturas. Quando se consiga o novo capital,
mesmo no caso de que isso aconteça bem logo, não fará muita
diferença se o vosso jornal comece na próxima estação fria ou em
outra, contanto que vós estejais à frente do Pionner. Estaríeis em sua
direção até novembro, e enquanto isso os vossos amigos terão tempo
de desenvolver as suas negociações difícieis e delicadas e poderiam
tomar providências para que recebais uma porção equitativa de salário,
enquanto completais os vossos preparativos em vossa casa, para
começar com a estação fria de 1884. Por outro lado, caso o capital
possa ser conseguido em breve, poderíeis colocá-lo rendendo juros e
não retirar salário algum até que deixeis o Pionner. Naturalmente, sem
forçar os acontecimentos (violando as nossas leis, salvo que o Chohan
o permita) tudo isso é incerto e, de certo modo, um dilema. Mas eu
posso ajudar os vossos amigos e eles notarão prontamente, tão logo
comecem. Não; se eu estivesse em vosso lugar, não prometeria não
iniciar a publicação de outro periódico; pois, em primeiro lugar não
sabeis o que pode acontecer; e, além disso, é sempre útil ter uma
espada de Dâmocles pairando sobre cabeças como as de Rattigan e
Walker. Eles estão assustados mortalmente, asseguro-vos. Poderiam
mesmo tornar agradável e proveitoso para vós continuar na direção do
Pionner com poderes editoriais e salário maiores, pois lhes convêm
mais isso que ter-vos como competidor com 5 lakhs como apoio. Sobre
a conveniência disso o tempo dirá. Como foi aconselhado agora, apoio
firme o programa original. Deveis ser o dirigente único e pleno de um
jornal dedicado aos interesses dos meus compatriotas desorientados.
A nação indo-britânica é um impulso pelo qual me guio. Escreverei
mais proximamente.

Eu anexo uma carta que me foi bondosamente cedida (ainda sem o


conhecimento dele) pelo Coronel. Nosso amigo fica furioso da maneira
mais anti-yogi, e Subba Row tem razão em suas opiniões sobre ele.
Estas e outras cartas piores serão recebidas por C.C.M. e S.M. e
outros. E esse é o homem que jurou por sua palavra de honra, no outro
dia, que nunca prejudicaria a Sociedade, qualquer que fôsse sua
opinião sobre nós, pessoalmente! É o encerrar do ciclo, meu bom
amigo, os últimos esforços...Quem triunfará? Os Dugpas, sob cuja
influência ele se colocou agora por inteiro, aos quais de toda forma e
maneira: ou...

Mas isso basta!

Vosso sinceramente,

K.H.
Carta Nº 079

A sentença inicial desta carta indica que Sinnett respondeu à carta do


Mahatma contendo as sugestões do Mahachohan, com mais algumas
idéias dele mesmo.

Como não "esgotastes exaustivamente o caso" na vossa nota anterior,


eu disse só o que disse, pois não sou homem de negócios. Alguém
acostumado com assuntos mercantís teria deduzido, indubitavelmente,
o plano todo, baseando-se em fragmentos ainda menores do que
aqueles que possuis. Mas agora que expusestes o assunto, eu posso
dizer (mantendo, ao mesmo tempo, a minha opinião de aficionado
amador em bem pouca estima) de que o vosso esquema parece ser
razoável e bastante justo. O Sr. Dare, não menos do que vós, deve ser
substancialmente recompensado pelos seus valiosos e devotados
serviços. A vossa proposta para que os 4 dozeavos das ações
transferíveis não participem dos benefícios até que os seus respectivos
possuidores tenham obtido dos restantes 8 dozeavos uma razoável
remuneração de capital, é justa para as duas partes.

Se deveis terminar publicando um periódico de dois ou quatro


cadernos, eu continuo crendo que, se for prático, deve-se buscar o
maior capital possível, pois quando estiverdes por completo preparado
para qualquer emergência podereis adotar, deliberadamente, o plano
que uma análise fria e um cálculo equilibrado, indiquem como o melhor.

E agora, antes de deixar minha nova relação de conselheiro de


negócios, devo repetir que, ao mesmo tempo que ajudamos o
empreendimento, do princípio até o fim, dentro do possível pelas
nossas regras, a iniciativa deve ser tomada pelos vossos amigos e
deve ser orientada e compartilhada por vós e vos direi, justamente,
porque. Ainda que deva resultar o maior bem do exitoso
estabelecimento de um jornal como esse, a estrita lei de justiça nos
proibe de fazer qualquer coisa que diminua, no menor grau, o mérito a
quem tem direito, aquele que converta o sonho em realidade. Poucos
são os que conhecem o seu futuro ou o que é melhor para eles. Não
há dúvida de que a vida no continente europeu e na Inglaterra possue
encantos que faltam na pobre e apática Índia. Mas esta última, por
outro lado, oferece privilégios e atrações não sonhados pelo mísitico
comum. Eu não me atrevo a dizer mais; mas, estais equivocado, meu
amigo, muito equivocado ao consentir permanecer aqui SÓ por minha
causa. Eu, ao menos, não me sinto suficientemente egoista para
aceitar o sacrifício se não soubesse o que sei.

Por vossa complacente condescendência aos nossos desejos de que


assistisseis a celebração do aniversário, aceitai nossos melhores
agradecimentos. Os efeitos de vossa presença e palavra serão
maiores e melhores do que podeis agora conceber. E, como toda boa
ação, isso trará abundante recompensa para vós, aqui e no futuro. Que
vos seja um consolo ter ajudado em um grau positivo a neutralizar as
malignas influências que os inimigos da Verdade concentraram sobre
a Sociedade. O ponto inercial do ciclo giratório passou: um novo está
surgindo para a Sociedade Teosófica no dia 17 de Dezembro. Vigiai e
vêde. Sempre vosso amigo.

K.H.
Carta Nº 080

(Janeiro ou Fevereiro de 1883)

Esta pequena carta relaciona-se com os contínuos esforços para


subscrever capital entre homens de negócios indianos para o novo
empreendimento, "O Fênix". O Cel. Olcott tinha ido para Calcutá no
começo da segunda quinzena de fevereiro para procurar apoio para o
projeto. Ele havia apoiado entusiasticamente a idéia, desde o início,
mas apesar do seu zelo e entusiasmo, ele não era a pessoa mais hábil
ou diplomática no mundo.

Olcott era frequentemente chamado pelo Mahatma M. de "filho", e às


vezes, afetuosamente, de "Morya Junior".

Por não estar as lentes convexas do "filho" de M. perfeitamente polidas


ele apresenta o assunto em uma forma algo torcida. M. não quiz que
ele dissesse que havia algo como uma possibilidade de fracasso, mas
somente a possibilidade habitual de demora em cada transação de
negócios deixadas somente nas mãos dos nossos compatriotas, além
da maldosa ou se preferis, excêntrica, intromissão dos Rothney
Swendenborg3 e outros artistas em calamidades. Por tudo que sei da
situação, e eu considero que eu a vigio tão de perto quanto me é
permitido, há possibilidade de que se consiga o dinheiro para o final de
março; mas sendo a chance um cavalo estrábico velho, de acôrdo com
as informações, o tempo do pagamento ainda não foi escrito no livro
de registro do Destino. Muito depende do que pode acontecer, mas
ainda mais, de que o iogui de Simla nos deixe em paz por algum tempo.
Três lakhs de rúpias podem ser dados como perdidos devido a uma
carta que ele escreveu a um editor em Calcuta com uma descrição de
nosso verdadeiro caráter (jesuítas, feiticeiros, um grupo de impostores,
egoistas, etc.) e que foi mostrado por esse editor a um rajá, até então
bem disposto e pronto a concordar com o convite dos "Irmãos
Mahatmas", pois, de patriotismo, nessa transação, haverá muito
pouco, se é que havia algo. Eu vos enviarei, em um dia ou dois, fatos
que vos mostrarão as pessoas na sua verdadeira imagem.

Enquanto isso, se eu vos aconselho a atuar inteiramente de acôrdo


com o vosso próprio critério quanto a vossa renúncia, é devido ao falso
entendimento sob o qual são vistos todos os nossos atos pelos
europeus que, embora indiretamente, estão relacionados convosco.
Não desejo ser mal julgado por vós nem que seja por um momento.
Mas por extranhos e torcidos que nossos modos de proceder possam
parecer à primeira vista, tenho a esperança de que nunca permitireis
que a vossa mente européia fique influenciada pelo vosso amigo
Rothney. Bem mais proximamente.

Vosso sempre fielmente.

K.H.
Carta Nº 081

Recebida em Londres por volta de julho de 1883.

Esta é a carta mais pessoal que o Mahatma escreveu para Sinnett por
volta de meados de junho, e provavelmente mandada para ele junto
com a Carta nº.111 (CM-59).

Nesta carta, o Mahatma refere-se ao que ele chama de "desafortunada


inspiração do dia 17, de Sinnett, publicada no "Times", que obviamente
prejudicou a causa. Trata-se de uma carta escrita por Sinnett, embora
a natureza da mesma não seja clara.

PRIVADA, mas não muito confidencial.

Deixei, como podereis observar, para uma carta específica e privada,


no caso de desejardes ler a outra para os vossos "Irmãos e Irmãs"
britânicos, e para o final, qualquer referência sobre o novo jornal
proposto, sobre cujas probabilidades o Coronel Gordon vos escreveu
tão animadamente. Eu mal sabia, quão profundamente o meu pobre
povo havia se afundado, até que comecei a observar o
desenvolvimento deste esforço para erigir um baluarte para os
interesses dos hindus. Da mema forma que alguém observa os sinais
oscilantes de uma vida ao lado da cama de um moribundo, e conta as
débeis respirações para saber se há ainda lugar para a esperança,
assim nós, exilados ários em nosso refúgio nevado temos estado
atentos a esta questão. Impossibilitados de usar qualquer poder
anormal que pudesse interferir no Karma da nação, tratando, embora,
por todos os meios legais e normais, de estimular o zelo daqueles que
cuidam a nosso respeito, temos visto como as semanas passam a
mêses sem que se houvesse alcançado o objetivo. O êxito está mais
próximo que nunca, apesar de duvidoso. A carta de Govidan Lal, que
pedirei a Upasika que vos envie, mostra que existe progresso. Dentro
de poucos dias se realizará em Madras uma reunião de capitalistas
indianos, na qual o senhor Olcott estará presente e da qual poderão
sair frutos. Ele verá o Geikar em Baroda e Holkar em Indore, e fará o
melhor que possa, tal como fez em Behar e em Bengala. Nunca a ajuda
de um homem como vós foi tão necessária à Índia. Nós o previmos,
como sabeis, e patrioticamente tratamos de tornar o caminho mais fácil
para um rápido resultado. Mas, ah!, temos que reconhecer: a palavra
patriotismo não tem quase nenhum poder eletrizante sobre o coração
hindú. O país berço de Artes e Credos, fervilha de seres infelizes que
subsistem precariamente, atormentados por demagogos que tem tudo
a ganhar com a confusão e descaramento. Sabiamos que tudo isso
sucedia com o povo, mas nenhum de nós, arianos, tinhamos sondado
a profundidade da questão inidana como agora. Caso seja admissível
representar as coisas subjetivas por fenômenos objetivos, eu diria que,
para a visão psíquica, a Índia parece estar coberta com uma nevoa
opressora cinza, um meteoro moral, as emanações ódicas de seu
estado social enfermo. Aqui e ali cintila um ponto de luz que assinala
uma natureza ainda um pouco espiritual, uma pessoa que aspira e luta
pelo conhecimento superior. Se a tocha do ocultismo ário há de ser
alguma vez acesa de novo, essas chispas esparsas devem ser
combinadas para formar a sua chama. E este é o trabalho da S.T., esta
é a parte agradável de seu trabalho no qual ajudaríamos alegremente,
caso não fossemos impedidos e rechaçados pelos próprios aspirantes
e chelas.

Eu saí fora de nossos limites habituais para ajudar o vosso projeto em


particular, por estar convencido de sua necessidade e de sua utilidade
potencial; tendo começado, continuarei até que se conheça o
resultado. Mas nesta experiência destoante de ingerência em assuntos
comerciais, eu me aventurei até dentro da própria boca do forno do
mundo. Sofri muito com a forçada visão à curta distância, da condição
moral e espiritual de meu povo, e fui tão sacudido por esta visão mais
próxima do aspecto mesquinho e egoista da natureza humana própria,
sempre, da passagem da humanidade por este nosso estágio do
circuito evolucionário; vi tão distintamente a certeza de que isso não
pode ser remediado, que daqui por diante me absterei de qualquer
repetição da experiência insuportável. tenha o vosso periódico êxito ou
não, neste último caso, isso será devido a vós exclusivamente, por
causa da infortunada inspiração do dia 17, publicada no Times eu não
terei nada mais a ver com a parte financeira desses assuntos
mundanos e me limitarei ao nosso principal dever de ganhar
conhecimentos e de disseminar, por todos os canais possíveis, aqueles
fragmentos que a humanidade, como um conjunto, possa estar pronta
para assimilar. É claro que estarei interessado em vossa carreira
jornalística aqui, se eu for capaz de vencer e suavizar os sentimentos
amargos que despertastes exatamente naqueles que mais confiavam
em vós, com aquela confissão lamentável e inoportuna, conquanto o
seu objetivo tenha sido honesto; e sempre podereis contar com a
minha verdadeira simpatia. Mas o gênio do senhor Dare deve reinar
em vossa Contadoria, do mesmo modo que o vosso no escritório do
Editor. A grande dor que me inflingistes mostra claramente que, ou eu
não entendo nada da adequação das obrigações políticas e, portanto,
dificilmente poderia esperar ser um orientador sábio em negócios e
política, ou que o homem a quem eu considero um verdadeiro amigo,
conquanto honesto e bem intencionado, não se colocará jamais acima
dos preconceitos ingleses e da pecaminosa antipatia para com a nossa
raça e côr. "Madame" lhe dirá algo mais.
Embora não me "pedis para tratar de novo do assunto" no entanto, direi
duas palavras mais sobre a dificuldade do senhor Massey em relação
à carta de nosso irmão H.2 (então na Escócia) e que lhe foi enviada
indiretamente por intermedio de "Ski". Sêde justo e caritativo, ao menos
com um europeu. Se o senhor Massey tivesse declarado aos espíritas
ingleses que ele estava em comunicação com os IRMÃOS por meios
ocultos, teria dito a pura verdade. Pois não só uma e sim duas vêzes
manteve tal relação oculta - uma vez com a luva do seu pai, que M.3
lhe enviara por meio de "Ski" e, de novo com a nota mencionada, para
cuja entrega, foi empregado o mesmo meio prático, embora sem o
mesmo dispêndio de poder. No caso dele, vêdes, é mais um exemplo
da facilidade com que, mesmo um intelecto superior, pode enganar-se
em assuntos ocultos, pelo maya de sua própria criação. E, quanto ao
outro caso, não poderia considerar-se (eu não sou advogado, e
portanto, falo sob reserva) como uma circunstância atenuante para o
acusado, que o senhor Massey não está mesmo até hoje, seguro de
que o doutor Billing não interceptou a carta de Simpson para a sua
esposa, guardando-a para usá-la contra ela no momento oportuno e
precisamente neste caso? Ou ainda admitindo que a carta havia sido
entregue à destinatária, saber qual foi a resposta, caso tenha sido
escrita? Não ocorreu ao vosso vigilante amigo a idéia de que, naquele
mesmo instante existia um despeito de mulher, pior que isso, um
despeito de médium, muito pior que o Odium theologicum entre os
Simpson e Hollis-Billing, concernente as suas respectivas pretensões
aos favores mostrados por Ski? Que a senhora Billing chamou o Ski de
seu "amigo" Simpson um falso fantasma; que o doutor Billing queixou-
se amargamente a Olcott e a H.P.B. da fraude perpretada pelos
Simpson que trataram de enganar com um falso Ski como se ele fôsse
genuíno, o mais antigo e mais fiel "guia" de sua esposa? O escândalo
chegou até os jornais. Estranho que na ocasião em que ela era
repreendida publicamente pela senhora B. por alegar ser guiada por
Ski dela, a senhora S. tivesse lhe pedido um serviço tão delicado e
perigoso! Eu digo de novo (falo sob reserva), nunca considerei a
acusação seriamente e ser a respeito dela por ter captado um
vislumbre da situação na cabeça de Olcott, quando estava lendo a
carta do senhor C.C.M. Mas a insinuação pode, talvez, ser de alguma
utilidade. Mas aqui está o que conheço e digo; o assunto, de uma vez
por todas, é que seu amigo suspeitou apressadamente e condenou
injustamente o inocente, e fez a si mesmo um dano espiritual. Ele não
tem, na realidade, direito algum de acusar mesmo H.P.B. de engano
deliberado. Protesto com a maior energia pela forma pouco caritativa
como essa mulher é tratada. Ela não teve a intenção de enganar - a
menos que se sustente ser um fato, um engano direto e uma mentira,
segundo a teoria: supressio veri, suggestio falsi - uma máxima legal da
qual ela nada sabe. Mas, então, por esta teoria, nós todos (Irmãos e
Chelas), deveríamos ser considerados como mentirosos. A ela se
ordenou que observasse fôsse a carta entregue; e não tinha outro meio
para fazê-lo, nessa ocasião, senão por intermédio de "Ski". Ela não
tinha poder para enviá-la diretamente, como ocorreu com a luva; M.
não a ajudaria por certas razões próprias e também de muito peso -
como eu verifiquei mais tarde; ela sabia que o senhor C.C.M.
desconfiava de Ski, e foi bastante tola para crer que o senhor Massey
separava o médium do "espírito", como a sua carta o mostrou; ela
estava ansiosa, por pura e abnegada devoção em relação a ele, para
que ele visse que, afinal, era notado por um verdadeiro Irmão. Daí
porque ela procurou ocultar o fato de que Ski tinha algo a ver com isso.
Ademais, uma hora depois de haver enviado a sua carta a senhora B.
para ser entregue por Ski, uma carta lida na ocasião, não encontrada
acidentalmente, como alegado, ela equeceu tudo, como esquece
sempre. Nenhuma idéia, nenhum pensamento do menor engano de
sua parte, cruzou jamais a sua mente. Caso o senhor Massey lhe
tivesse pedido que dissesse a verdade depois que a Carta lhe fôra
mostrada, ela provavelmente ou o teria mandado para um lugar muito
quente e não teria dito nada, ou teria confessado honestamente a
verdade. Simplesmente achou melhor que o efeito benéfico pretendido
com a mensagem do Irmão não fôsse invalidado ao criar-se na mente
do senhor C.C.M. uma pré-disposição hostil, fruto de uma suspeita
injustificada como essa. Nós, meus estimados senhores, sempre
julgamos os homens por seus motivos e pelo efeito moral de suas
ações; falsas normas do mundo e os preconceitos, não nos importam
em nada.

K.H.
Carta Nº 082

(Agosto de 1883)

Esta carta bastante longa, e para nós, bastante confusa, a menos que
estejamos familiarizados com a história política indiana, é a tentativa
final do Mahatma K.H. para tentar reviver o projeto "Fênix",
evidentemente agonizante. A proposta que ele faz a Sinnett é muito
complicada e tão mesclada à emaranhada situação política, então
existente na Índia, que é difícil seguir o raciocínio. Entretanto, o
problema parece ter se relacionado com dificuldades entre os
proprietários de terra e os camponeses. A Lei de Arrendamento, de
Bengala, prevista para auxiliar os camponeses, estava sendo
discutida, mas a questão toda ficou confusa com a votação iminente
da Lei Ilbert, uma tentativa de Lorde Ripon, então Vice-Rei da Índia,
para instituir algumas reformas para desenvolver o governo autônomo
local; o Sr. (mais tarde, Sir) Courtenay Ilbert, membro do Judiciário do
Conselho, havia apresentado uma lei destinada a fazer algumas
mudanças na administração da justiça.

Até aquela ocasião nenhuma pessoa senão europeus ou, em uma


linguagem mais técnica, "súditos inglêses europeus", podiam ser
designados como juizes de paz com jurisdição sobre pessoas da
mesma categoria em distritos fora dos limites das cidades
subordinadas a um presidente da Companhia das Índias Ocidentais. A
Lei propunha remover a limitação do "Código de Processo Criminal",
"imediata e completamente" e, consequentemente, conferir a muitos
magistrados indianos autoridade para cuidar de casos de europeus,
como de qualquer outra pessoa. A proposta, embora aparentemente
razoável e justa, despertou a mais violenta oposição entre os
agricultores nas regiões de anileira e chá e entre outras classes da
população européia não-oficial em todas as partes da Índia. Eles
temiam, e não inteiramente sem razão, que a sua segurança em locais
do interior do país pudesse correr perigo em certas circunstâncias.
Uma forte agitação em contrário ocorreu entre os Indianos educados e
o resultado foi uma explosão de sentimentos raciais que até então não
tinha ocorrido, desde os dias do Motim. A excitação da opinião pública
tornou-se tão ameaçadora que o Governo foi obrigado a retirar a lei, e
se contentar com uma emenda muito menos drástica no Código, que
reservara aos presumíveis infratores europeus de reclamar julgamento
por juri. O mau estar causado pela malfadada Lei só desapareceu
depois de muito tempo.

O Mahatma faz uma sugestão a Sinnett que diz, antecipadamente,


acha que será repugnante aos inglêses. A decisão deve ter sido difícil
para Sinnett, mas, como veremos na carta seguinte, ele concordou em
adotar a sugestão do Mahatma, em meio à uma profunda revolta em
sua própria consciência, mas então estava liberado de sua promessa
pelo Mahatma.

Estritamente confidencial

O "quart d'heure de Rabelais" chegou. De vossa concordância ou


recusa, depende a ressurreição do Phoenix, prostrado em um Samadhi
parecido com a morte, senão na morte verdadeira. Se credes na minha
palavra, e estabelecido que os camponeses sob os nossos cuidados
estão preparados para um trabalho algo sujo (do ponto de vista
europeu) e se concordais em opor-vos aparentemente ao nosso
trabalho, servindo, na realidade, aos nossos fins e salvando assim os
nossos respectivos países de um grande mal que paira sobre ambos -
então concordai com a proposta que vos será feita da Índia.

Para todos os efeitos podeis vos opor à Lei de arrendamentos de


Bengala, pois, não importa o que vós ou outros façam, jamais sereis
capazes de impedir o nosso trabalho na direção oposta. Portanto um
escrúpulo a menos e uma confidência não permitida a mais. Um
enigma, uma verdade.

E agora, meu bom amigo, eu tenho que explicar. Somente tendes de


preparar as vossas noções culturais Européias de certo e errado para
receber um choque. Está posto a descoberto diante de vós um plano
de ação de caráter puramente asiático; dado que eu não posso mover
nem um dedo - nem o faria, se pudesse, neste caso - para guiar a vossa
compreensão ou sentimentos, talvez o acheis demasiado jesuítico para
o vosso gosto. Lástima para todos que sejais tão pouco versado no
conhecimento dos antídotos ocultos, a ponto de não poder perceber a
diferença entre o dito jesuítico "Tout chemin est bon que mène a Rome"
acresecentado ao astuto e malicioso "o fim justifica os meios", e a
necessidade da aplicação prática daquelas sublimes palavras de
nosso Senhor e Mestre; Oh, vós, Bhikkhu e Arhats, sêde amistosos
para com a raça dos homens, nossos irmãos! Sabei todos vós que
aquele que não sacrifica sua própria vida para salvar a dos outros seus
semelhantes; e aquele que vacila em dar mais que a sua vida - seu
bom nome e honra, para salvar o bom nome e honra de muitos, é
indigno do Nirvana, destruidor dos pecados, imortal e transcendente.
Bem, não pode se fazer nada.

Permitai-me que vos explique a situação. É muito complicada, mas


para aquele que, sem nenhuma preparação prévia, pôde assimilar tão
bem algumas das nossas doutrinas a ponto de escrever "o Budismo
Esotérico" os nossos recursos internos que temos de usar, devem se
tornar claros.

1) Os Chefes de Behar oferecem-me um lack e meio, de imediato, para


o Phoenix; outra quantia igual quando vos vejam de regresso a Índia,
caso o novo jornal combata o projeto de lei de arrendamentos de
Bengala e prometeis dar-lhes o vosso apoio. A menos que a proposta
seja aceita por vós, podemos já nos preparar para a cremação final do
nosso Phoenix - e para sempre. Além desta soma, Rs. 150.000,
podemos contar somente com Rs. 45.000 em ações, até agora. Mas
deixai que os proprietários de terra contribuam com dinheiro à vista e
todos os seguirão.

2) Caso recusais, eles buscarão outro editor; se houver algum perigo


para os lavradores e para o projeto de Lei, eles, os proprietários ou
Zemindars, não perderiam nada com isso, exceto no grau de habilidade
do editor deles; mas eles têm esperança e ignoram completamente que
estão perdidos com o correr do tempo. Os únicos e verdadeiros
perdedores no caso de recusa serão a Índia e o vosso próprio país,
com o tempo. Isto é profecia.

3) A resistência e as intrigas levantadas pelos Zemindars contra o


Projeto são infames em sua natureza, mas muito naturais. Aqueles que
examinam as coisas em sua essência, percebem o verdadeiro espírito
criminoso em Lord Cornwallis e na longa linha de seus sucessores.
embora possa ser infame, como digo, assim é e não há remédio, pois
é a própria natureza humana, e não há maior desonra em apoiar as
suas pretensões, de um ponto de vista legal, por parte de um editor
que sabe estarem condenados, do que haveria para um advogado ao
defender o seu cliente, um criminoso sentenciado à forca. Estou agora
procurando argumentar do vosso ponto de vista europeu por receio,
temendo que não sejais capaz de ver as coisas do vosso ponto de vista
asiático, ou melhor, do ângulo que nós as observamos, por estarmos
capacitados para perceber os acontecimentos futuros.
4) Um Editor conservador cujo campo de ação mostra-se marchando
em linhas paralelas com as de um vice rei conservador, verificará que
não perdeu nada, de fato, em consequência de uma ligeira oposição,
a qual, afinal, não pode durar muito tempo. Há grandes falhas no
presente projeto, examinado do ponto de vista legal, como lei em si.

5) Devido ao "Projeto de Lei Ilbert" estupidamente intempestivo, e ao


episódio ainda mais estúpido de rebeldia "Saligram-Surendro", a
agitação está levando a população da Índia à beira de sua própria
destruição. Não deveis crer que eu esteja exagerando se digo, além
disso, que os ingleses e especialmente os anglo-hindus, seguem o
mesmo caminho de direções opostas. Sois livre de rechaçar a minha
advertência; mostrareis ser sábio se não o fizerdes. Mas voltando ao
nosso principal assunto:

6) Existem vários ingleses de grande inteligência e capacidade que


estão prontos a defender e mesmo a se aliar com os Zemindars - em
oposição ao Projeto, contra os seus próprios princípios e sentimentos
- simplesmente porque os donos das terras odeiam e se opoem ao
homem a quem o resto dos Hindús professam, agora, adoração e a
quem estão exaltando com todo o ardor de selvagens de mente
simples e visão limitada. Deste modo os camponeses não podem
escapar à sua sorte senão por uns poucos mêses mais, não importa
que aceiteis ou não o oferecimento. Neste último caso, naturalmente,
o assunto do jornal chega ao seu fim.

7) Ao mesmo tempo é melhor que estejais preparado para conhecer os


resultados inevitáveis; existem noventa e nove probabilidades contra
uma que se o oferecimento dos Zemindars é rechaçado o Phoenix
jamais virá a existir, ao menos enquanto persistir a presente agitação.
E quando fracasse finalmente, como está fadado a suceder com o
projeto se não controlarmos a situação, então teremos que nos
separar. Para obter do Chohan a permissão para defender os milhões
de pobres e oprimidos da Índia, pondo em jogo todo o nosso
conhecimento e poderes, eu tive que prometer, que, no caso de
fracasso do Phoenix, não interviria mais em tais assuntos mundanos e
daria uma despedida eterna ao elemento europeu. M. e Djual Khool
teriam que ocupar o meu lugar. Por outro lado, caso concordais com o
oferecimento, a vossa oposição à Lei do Arrendamento não teria efeito
maior no nosso trabalho pelos camponeses, como o de uma palha para
salvar um barco em risco de se afundar; mas se um outro Editor for
escolhido, não teríamos motivo para exercer nossa influência pelo bem
deles. Tal é a situação. É uma curiosa miscelânia sem nenhuma razão
de ser, em vossa opinião. Dificilmente poderíamos esperar que a
vísseis claramente no presente, nem há muita probabilidade de que a
julgueis imparcialmente, devido a esta obscuridade egípcia de
propósitos opostos: nem tampouco há especial necessidade de que o
façais, se o oferecimento vai ficar sem efeito. Mas se a sua resposta é
favorável, creio que posso acrescentar alguns detalhes. Saiba, pois,
que apesar da oposição e justamente devido a ela, ireis levar o grande
fervor nacional a um ponto, crítico, mais rápido do que poderia ser
esperado de outra maneira. Assim, enquanto levardes a cabo
estritamente o vosso programa e a promessa feita aos proprietários de
terra, estáveis favorecendo os acontecimentos que devem produzir-se
para salvar a infortunada população que tem sido esmagada desde o
ano de 1793, o ano do grande erro político de Lord Cornwallis. Ao
mesmo tempo podeis fazer um imenso bem em todos os sentidos.
Recordai o passado e isso vos ajudará a ver com mais clareza as
nossas intenções. Quando tomastes Bengala dos governantes locais,
existia um número de homens que exerciam o cargo de Cobradores de
Impostos sob o governo daqueles. Esses homens recebiam, como
sabeis, uma porcentagem para cobrar os impostos. O espírito da letra
do dízimo e do tributo sob os governantes mussulmanos nunca foi
compreendido pela East India Company, menos ainda os direitos dos
camponeses de se oporem à uma mudança arbitrária da lei de
Wuzeefa e Mukassi-mah. Bem, quando os Zemindars verificaram que
os britânicos não compreendiam exatamente a sua função,
aproveitaram-se da situação, assim como os ingleses haviam se
aproveitado de sua força e reivindicaram para eles o título de
Proprietários. Mostrando debilidade, os ingleses concordaram em
reconhecer a reclamação e admití-la, apesar das advertências dos
mussulmanos que compreendiam a verdadeira situação e não foram
subornados como a maioria da Companhia; com isso favoreceram a
uns poucos em detrimento de muitos, sendo o resultado os Registros
de Ocupação Perpétua. É isso que conduziu a todos os males
subsequentes em Bengala. Vendo como os infortunados camponeses
são considerados por vossa orgulhosa nação, em pleno progresso do
século dezenove, sendo eles, para vós, de valor muito menor do que
cavalos e vacas, não é difícil imaginar-se como eram, então,
considerados pelos vossos compatriotas há um século, quando cada
inglês era um piedoso cristão de coração e a Bíblia lhe ordenava que
fizesse uma ampla distinção entre os descendentes de Ham e eles
mesmos, os herdeiros do povo escolhido. O acôrdo estabelecido entre
Lord Cornwallis e os donos de terra, que estipulava que "o gado negro
humano" deveria ser tratado pelo Zemindars bondosa e com justiça e
que não deviam elevar os aluguéis dos lavradores, etc., era uma farsa
legal. O Chohan4 estava, então, na Índia e foi testemunha ocular do
começo dos horrores. Nem bem tinham obtido o "Acôrdo de Ocupação
Perpétua", os donos de terra começaram a faltar com os seus
compromissos. Deixando de cumprir quaisquer destes, ano após ano
levaram a ruina e a fome aos miseráveis lavradores. Exigiram o tributo,
venderam os seus bens e forjaram falsos cargos contra eles debaixo
do nome de Abwab. Essas "aberturas" e "oportunidades" lhes
permitiram ir até onde desejavam e impuseram durante cinquenta anos
os mais extraordinários impostos. Tudo isso e muito mais os Zemindars
fizeram e a eles deve-se pedir que prestem contas de seus atos.
Coisas demasiado horríveis de mencionar foram feitas sob as vistas
dos funcionários da Companhia e muitas vêzes com a sanção deles,
até que o Motim colocou algum obstáculo, ao trazer, como resultado,
outra forma de governo. É para reparar a grande injustiça cometida,
para remediar o que até agora foi irremediável, que Lord Ripon se
propôs a apresentar o novo Projeto de Lei. Não acharam conveniente
os seus conselheiros (não aqueles que vós conheceis) eliminar o
sistema Zemindario sem conseguir ao mesmo tempo popularidade
entre a maioria em outra direção. Daí o "Projeto de Lei Ilbert" e outras
medidas menores. Podemos dizer que tudo indica ser o objetivo do
presente Projeto de Lei de Arrendamento reparar as injustiças do
passado. Meu amigo, sois um editor extraordinariamente inteligente e
um político observador e perspicaz, e é possível que ninguém em toda
a Índia, conheça com tanta profundidade a natureza interna dos coups
d'état6 anglo-hindús. Entretanto, não aprofundais o bastante, e os
níveis primitivos e originais do solo político, como gênesis de alguns
atos de Lord Ripon, eram e são terra incógnita para vós como para
tantos outros, possivelmente mais acostumados à política do que vós.
Nem Lord Ripon, nem os seus conselheiros, aqueles que ficam por trás
do véu, esperam quaisquer grandes resultados enquanto tiverem
poder na Índia. Eles são mais Ocultistas que vós imaginais. As suas
reformas liberais não estão destinadas à Índia, a cujo bem estar ou
angústias eles são totalmente indiferentes. Eles tem os olhos postos
em resultados futuros muito longínquos e leis de imprensa, projeto de
Lei Ilbert, projetos de Lei de Arrendamentos de Bengala e tudo o mais
está dirigido para a Inglaterra protestante, a qual, muito cedo, ou
demasiadamente cedo, se alguém ou algo não intervier, se verá
sufocada nos invisíveis anéis da Igreja Romana constringente. Amigo
e Irmão, o único da vossa raça que eu olho com cálido e sincero afeto,
cuidado! Não rejeiteis demasiado ligeiramente a minha advertência,
pois ela é solene e só me é permitido fazer uma insinuação. O
ceticismo político, como qualquer outro, desdenha e ridiculariza as
observações daqueles que não pertecem as suas fileiras. Dá-se conta
de seus erros quando se está numa fossa. Cuidado, pois não é uma
simples fossa, mas um abismo que vos está sendo preparado!*

Mas vejamos com que razões pode um inglês honesto opor-se ao


Projeto de Lei de Arrendamentos. Por maior que seja atualmente a
miséria dos lavradores, por mais justas que sejam as represálias que
estão acumuladas contra os Zemindars, por mais humano e generoso,
em resumo, que seja o Projeto de Lei de Arrendamentos em seu
aspecto externo, no entanto, nenhum governo honesto, falando
estritamente, tem o direito de romper à vontade e ao seu belprazer,
solenes promessas e compromissos. Por que se verifica que os donos
das terras não cumpriram sua parte do acôrdo, não dá direito à outra
parte de repudiar a sua assinatura e romper em pedaços o Acôrdo de
Ocupação Perpétua. Os pecados de uns poucos não podem cair sobre
os demais. Há grandes imperfeições no presente Projeto de Lei de
Arrendamentos, como havia no velho sistema, e não há cláusula
alguma nas velhas leis que estipule que o Acôrdo torna-se nulo pela
vontade dos britânicos. Não vou analisar os defeitos do significado da
letra morta em um ou em outro, mas me limitarei a dizer-vos que
existem tais imperfeições e que, enquanto não sejam modificadas,
tendes perfeito direito de objetá-las. Não se espera que consigais a
retirada do projeto de Lei, e sim simplesmente que apoieis os
Zemindars na análise dos seus defeitos. E isto podeis prometer
livremente. Entretanto, não devo dar a impressão de estar procurando
influenciar-vos neste ou naquele sentido. Algumas das pretensões dos
donos das terras são infames e nenhum homem honesto pode obrigar-
se a apoiá-las, enquanto que outras não deixam de ter uma forte base
legal em seu apoio. O poder governante, por exemplo, nunca foi, em
nenhum caso, o proprietário da terra Khirajee, nem mesmo sob a lei e
o governo dos mussulmanos. Tendes pois, o espírito do Khiraj e de
Ooshr para trabalhar com o fim de resgatar a promessa feita aos
Proprietários e entretê-los por alguns mêses, até o dia da "onipotente
bancarrota" que lhes está reservada. Tudo que se vos pede que façais
para o benefício, tanto do vosso, como do meu país é não se
importunar com a fachada feia do ecifício, tomando em consideração
somente a verdadeira natureza da situação e os futuros bons
resultados, no caso de que triunfais sobre a vossa escrupulosidade
muito natural. Dentro de poucos dias podereis receber uma proposta
definida. Reflitai bem acerca dela. Não vos deixeis influenciar por
nenhuma consideração relativamente aos meus desejos. Se acreditais
honestamente que o oferecimento é incompatível com as vossas
noções e critério europeus sobre a verdade e a honra, recusai aceitá-
la sem qualquer vacilação e permitai-me dar-vos uma despedida triste,
embora sempre agradecida e amistosa. Não posso esperar que vejais
as coisas do meu ponto de vista. Vêdes o exterior, eu vejo o interior.
Esta não é hora para sentimentalismos. Todo o futuro da mais
"brilhante (!) jóia" - oh, que negra sátira nesse nome!, da coroa da
Inglaterra está em jogo, e eu estou obrigado a dedicar todos os meus
poderes, tanto quanto o Chohan o permita, para ajudar o meu país
nesta hora angustiosa de sua miséria. Eu não posso trabalhar, senão
com aqueles que querem trabalhar conosco. Não me acuseis, amigo
meu, pois não conheceis, não podeis conhecer a extensão das
limitações sob as quais estou colocado. Não penseis que estou
tratando de por diante de vós uma isca, um atrativo para que aceiteis
aquilo que recusaríeis em outras circunstâncias, pois não é assim.
Tendo comprometido minha solene palavra de honra a Aquele com
quem estou em dívida por tudo o que sou e que sei, vejo-me
simplesmente impotente no caso de vossa recusa e termos que nos
separam. Caso o Projeto de Lei dos Arrendamentos não tivesse sido
acompanhado pelo alarido e entrechoque do Projeto Ilbert e do
episódio do desacato, eu teria sido o primeiro a aconselhar-vos que
recusasse. Entretanto, tal como permanece agora a situação e proibido
como estou de utilizar outra coisa que não sejam os poderes normais,
estou impossibilitado de fazer as duas coisas e me vejo obrigado a
escolher entre ajudar a minha desventurada mãe pátria e o nosso
futuro intercâmbio. Cabe a vós decidir. E se esta carta estiver destinada
a ser a última, rogo-vos que recordeis (pelo vosso bem, não pelo meu)
a mensagem que enviei para Simla, destinada a vós e ao senhor
Hume, por intermédio de H.P.B. - "Lord Ripon não é um agente livre; o
verdadeiro vicerei e governante da Índia não está em Simla e sim em
Roma; e a arma eficaz usada por esta última, é o confessor do Vicerei".

Rogo-vos, dai as minhas melhores saudações a sua senhora e ao


"Morsel". Estais certo de que exceto algumas omissões e equívocos
que passam inadvertidos, o vosso "Budismo Esotérico" é a única
exposição correta, conquanto incompleta, de nossas doutrinas
Ocultas. Não incorrestes em erros capitais e fundamentais; e seja o
que possa ser atribuido, posteriormente, não será antagônico com uma
única sentença do livro, mas ao contrário, explicará qualquer
contradição aparente. Até que ponto era equivocada a teoria do senhor
Hume, ficou evidenciado pelo "Chela" no Teosofista. Contudo, podeis
sentir-vos seguro de que, nem M. nem eu nos contradizemos
mutuamente em nossas respectivas afirmações. Ele falava da Ronda
Interna; eu, da Ronda Externa. Há muitas coisas que ainda não
aprendestes, mas podereis conhecê-las algum dia; nem podereis de
qualquer modo compreender o processo das obscurações até que
tenhais dominado o progresso matemático das Rondas internas e
externas e aprendido mais acerca das diferenças específicas entre as
sete. E assim, de acôrdo com as conclusões filosóficas do senhor
Massey, não temos um Deus? Ele tem razão, pois que aplica o nome
a uma anomalia extra cósmica, enquanto nós, não conhecendo nada
desta última, verificamos que cada homem é seu Deus, dentro de si
mesmo, em seu próprio avalokitesvara, ao mesmo tempo pessoal e
impessoal. E agora adeus, e se está decretado que não nos
escrevamos mais, lembrai-vos de mim com o mesmo sentimento de
bondade com que sereis sempre recordado por mim.

K.H.

Carta Nº 083

Recebida em Londres no dia 8 de Outubro de 1883.

Esta carta soa como o toque de finados de todo o empreendimento de


"Fênix" e encerra a discussão em torno do mesmo.

Uma ausência transitória por assuntos imperativos impediu-me durante


alguns dias, de saber qualquer coisa sobre os vossos negócios e só
me foi possível hoje ter um tempo livre para pensar neles. Depois de
ter lido a vossa carta, a situação se me apresentou com tal aspecto que
concluí que devíeis ter, imdediatamente, a vossa liberdade, e nesse
sentido vos enviei um telegrama. Isto foi feito com o objetivo de
remover de vossa mente qualquer sentimento de obrigação moral ou
de outra natureza e deixar-vos que aceiteis ou recuseis, à vossa
escolha, as propostas posteriores que possam vir, de qualquer parte
da Índia. Se algum motivo tivesse exigido um rumo diferente, teria sido
completamente eliminado pelo sentido de vossa carta de 16 de agosto.
Pensais que a defesa do Projeto de Lei de Arrendamentos em Bengala,
no estado atual dos assuntos, iria arruinar todo êxito comercial do
pretendido jornal, "O Phoenix" não pode ser um êxito comercial, tal
como está planejado agora. E um jornal que é um fracasso comercial
pode ter muito pouco peso político. Persistir então, significaria, como
vêdes, conduzir um grupo de pessoas a um gasto infrutífero de uma
grande quantia de dinheiro. Pois "o projeto, assim mutilado, fica
consideravelmente despojado de suas grandes possibilidades
financeiras". Entretanto, apesar de tudo isso, estais disposto a
prosseguir, se eu o desejar, descarregando a responsabilidade moral
sobre mim e "engolindo o compromisso algo repulsivo".

Amigo meu, não fareis nada disso. A responsabilidade, apesar de tudo


que eu poderia fazer, e estou disposto a fazer, cairia sobre vós, pois
que eu vos dei claramente a escolha em minha última carta. Se, daqui
por diante, tendes algo mais a ver com este infortunado assunto, deve
ser inteiramente sob o seu próprio critério e responsabilidade.
Compreendestes mal a Lei do Karma (e a minha carta), se pudésseis
ter imaginado que eu me atreveria a provocar as suas terríveis reações,
obrigando-vos, ou a qualquer um, a empreender uma linha de conduta
com tais sentimentos em seu coração. Conhecendo-vos, era fácil
prever a vossa repulsa (ainda mais tendo, os sentimentos de qualquer
homem honrado de enfrentar uma tal situação) pelo trabalho à vista.
Portanto, tomei bastante cuidado em chamar a vossa atenção, em
minha carta, de que estáveis inteira e absolutamente livre em vossa
escolha. Culpo a mim mesmo somente por uma coisa, isto é, por haver
insinuado como provável consequência de vossa negativa, como
estava implícito em minha promessa ao Chohan, de me abster, dai por
diante, de colaborar com os europeus até chegar um momento futuro
e mais favorável. Foi isso que vos fez "tragar a repulsiva promessa",
mais do que qualquer palavra dita. Isso vai para o meu karma. Mas
deixando isso de lado, e com referência à minha última carta, notareis
que se ressaltou firmemente a necessidade de que vossa ação fôsse
independente e imparcial. Eu esperava, mesmo apesar da desalentada
condição moral de meus compatriotas, e forçado a mim mesmo a crer
quase que era possível, um jornal, obviamente tão necessário nesta
grande crise, sobre uma base completamente satisfatória para vós e
para todos que tivessem relação com o mesmo. Eu havia esquecido
que as aparências externas é tudo em vosso mundo e que
simplesmente eu vos estava expondo a ser olhado com desprezo. Mas
ficai seguro: tivesse sido reunido o dinheiro, como se tentou de início e
nenhuma pressão para trabalhar em uma determinada direção tivesse
sido exercida sobre vós; e tivesse sido a linha de ação deixada
inteiramente à vossa decisão; apesar disso, nesta hora de amargos
ódios, de malícia e desprezo mútuos, o mero fato de que estáveis
defendendo a causa dos desprezados e dos "negros", agora mais do
que nunca odiados e oprimidos, teria tirado do Phoenix até a simples
sombra de "uma grande possibilidade financeira". Há apenas um mes
eu tinha tanta confiança, ao ver os mais profundos sentimentos
agitando-se na alma nacional, que eu vos prometi que entusiasmásseis
ainda mais do que eu. Outros, cuja intuição e previsão não haviam sido
cegadas pelos seus superiores, pensavam de forma diferente e alguns
teriam me dissuadido; mas, por ser o objetivo tão digno e a
possibilidade realmente existente, foi-me permitido cuidar do projeto e
usar meios naturais externos para ajudar a sua realização. Caso fôsse
factível para vós uma espera indefinida, poderia realizar-se o esquema
original; mas isso não é assim, e devo, portanto, retirar a última
aparência de coação sobre o vosso livre arbítrio e vos agradecer por
haver apoiado tão lealmente a tentiva de fazer o bem para a Índia,
ainda que à custa de vossos sentimentos e interesses pecuniários. Eu
sentiria muito relutante, além da regra da nossa Ordem no que se
refere ao Karma, a vos atrair à uma posição na qual não poderia
recompensar-vos de alguma maneira, pela perda de prestígio social e
transtornos financeiros. Fazer isso está além do meu poder. Não
poderia vos olhar, se sentísseis a cada hora não melhor do que um
"patife" e não tivésseis "mais influência política na sociedade, em geral,
por motivos de caráter. Se o seu destino tivesse de unir-se com o
nosso, tais considerações não seriam de peso em nenhum momento.
Para todos aqueles, sejam Chohans ou Chelas que se obrigaram a
trabalhar entre nós, a primeira e a última consideração é se podemos
fazer o bem ao nosso próximo, não importa quão humilde ele possa
ser; e não nos permitimos mesmo a pensar no perigo de qualquer
insulto, abuso ou injustiça que possam afligir-nos. Estamos prontos a
ser "cuspidos e crucificados", não uma vez, mas diariamente, se disso
possa resultar um verdadeiro bem para o outro. Mas o caso é
totalmente diferente convosco; tendes o vosso caminho para mais
trilhar no mundo mais "prático" e vossa posição social nele não deve
ser comprometida.

Os contribuintes de capital, por outra parte, além de vós, deveriam ser


justamente considerados. Entre eles há ricos Zemindars, mas há
também patriotas pobres que fizeram grandes esforços para contribuir
com suas pequenas somas por pura reverência a nós e amor pela mãe
pátria. Pelo menos, cinquenta desses estão esperando o último
desdobrar dos acontecimentos e economizando os seus recursos até
o último momento, antes de fazer as suas remessas para Calcuta. Em
várias partes da Índia, Teósofos devotados, têm estado solicitando
ativamente subscrições, considerando a possibilidade de possível
ganho sobre o capital, exposta nas circulares do senhor Morgan; o
projeto foi calorosamente recomendado por Olcott, o Coronel Gordon,
Norendro e outros conhecidos e desconhecidos por vós. Um desastre
financeiro para o Phoenix, da naturza que estais prevendo,
comprometeria a influência pessoal de todos eles. Com tais
perspectivas, ademais, o vosso último auxiliar, o senhor Dare, não teria
interesse em ajudar-vos, mesmo que o senhor Allen o permitisse. E,
por fim, a menos que a vossa fé pessoal em mim fôsse cega a ponto
de neutralizar os seus instintos de prudência, não iríeis arriscar o vosso
capital trabalhosamente adquirido em um fracasso já predestinado, de
modo que, em consciência, não poderíeis permitir que ninguém mais o
fizesse. Exceto, desde que vos fôsse permitido "jogar a
responsabilidade moral sobre mim"; em resumo, fazer com que eu, por
um milagre, forçasse o êxito. Se isso tivesse sido permitido, o jornal já
estaria fundado e a sua voz teria sido ouvida entre o ruidoso clamor
dos assuntos contemporâneos da Índia.

Eu teria sido mais enfático no meu cabograma de hoje, mas, nesse


caso, ao dizer-vos para abandonar a questão, eu assumiria novamente
a responsabilidade de obstruir o vosso livre arbítrio. É melhor que deis
ao grupo de Bengala a oportunidade de expor as suas condições de
uma maneira definida e decisiva, e em consequência, responder "sim"
ou "não". Para poupar-vos tempo e gastos, pedi a Olcott que faça com
que Norendro Babu envie a ele as propostas dos donos de terras, para
que ele possa, de imediato, conhecendo os vossos pontos de vista e
caráter, dizer se vale a pena vos serem expostas ou não. E se assim
não for, que ele se comunique imediatamente com os vossos
procuradores em Calcuta, como pedistes.

Esta é a situação atual dos assuntos e é muito mal para a Índia. Por
enquanto é prematuro dizer-vos mais sobre as influências secretas que
a causaram, mas poderíeis saber algo disso mais adiante. Nem posso
predizer o futuro, exceto no referente a chamar mais do que nunca a
vossa atenção para as nuvens negras que estão se agrupando no céu
político. Deveis recordar que vos disse há muito tempo para esperar
muitos e grandes distúrbios de todas as espécies, pois um ciclo estava
se encerrando e outro começando as suas consequências fatais.
Podeis ver uma prova nos fenômenos sísmicos ocorridos ultimamente
e dentro em pouco vereis muitas outras. E se temos que lamentar o
fracasso de um projeto humanitário, deve ao menos mitigar a
severidade de vossa desilusão ao sentir que numa época má como
esta, temos que lutar contra as influências visíveis e invisíveis da mais
hostil natureza.

E agora, umas palavras mais agradáveis, antes de concluir. A vossa


decisão de seguir a minha orientação no assunto Phoenix, mesmo com
a certeza, na vossa opinião, de queda social e perda pecuniária, já teve
a recompensa do karma. Assim eu creio, de qualquer modo, a julgar
pelos resultados. Embora não tenha existido a intenção de submetê-lo
a uma prova (tão odiosa para vós) entretanto e como se tivéseis sido
testado e não fraquejastes. A determinação da possível suspensão de
relação entre nós foi revogada parcialmente. A proibição em relação a
outros europeus é tão estrita como sempre, mas em vosso caso foi
levantada. E este consentimento tem, eu o sei, uma direta conexão
com o vosso consentimento: o grande sacrifício dos vossos
sentimentos pessoais na presente situação. "Este Peling" mosrou ter
"verdadeiras qualidades de redenção"! Mas estejais avisado, amigo
meu, que esta não é a última de vossas provas. Não sou eu quem as
cria, mas vós mesmo em vossa luta pela luz e a verdade contra as
influências tenebrosas do mundo. Sêde mais cauteloso no que
disserdes sobre temas proibidos. O mistério da "oitava esfera" é um
assunto muito confidencial e estais muito longe de compreendê-lo,
mesmo nos seus aspectos gerais. Fostes advertiddo várias vêzes e
não devíeis tê-lo mencionado. Trouxestes, sem intenção, o ridículo
sobre um assunto sério. Não tenho nada a ver com a Respostas ao
senhor Myers, mas podereis reconhecer nelas, possivelmente, a
incisiva influência de M.

K.H.

Sou recomendado a pedir que, para o futuro, as comunicações


destinadas a mim sejam enviadas por intermédio de Damodar ou Henry
Olcott. A discreção de Madame B. não melhora em proporção ao seu
debilitamento fisiológico.
Carta Nº 084

Os assuntos da Loja de Londres estavam ainda bastante tumultuados.


Aliás, o Mahachohan havia aconselhado o adiamento da eleição. Sem
dúvida, as duas facções, lideradas pela Sra. Kingsford e Sinnett,
estavam mais ou menos em colisão. Os acontecimentos não haviam
levado à "harmonia magnética" mencionada pelo Mahatma em sua
primeira carta à Loja. (Carta nº.120 - CM-85).

A LOJA DE LONDRES DA SOCIEDADE TEOSÓFICA

PRIVADA

Meu querido amigo:

O anexo desta é para ser transmitido a L.L.S.T. por vosso intermédio,


na vossa condição de Vice-presidente da Sociedade Matriz e, portanto,
representante do Presidente Fundador, não como membro da Loja em
Londres.

Os recentes acontecimentos nos quais tivestes uma parte não de todo


agradável, podem ser decepcionantes para alguns e fastidiosos para
outros, entretanto, é melhor assim do que tivesse continuado a velha
calma paralítica. Uma erupção de febre no corpo humano é sintoma de
que a natureza está tratando de expelir os germens da enfermidade, e
possivelmente da morte, anteriormente absorvidos. Tal como iam as
coisas, a Loja de Londres estava só vegetando e as vastas
possibilidades da evolução psíquica na Inglaterra estavam
abandonadas completamente. O Karma requereu, evidentemente, que
fôsse interrompido o repouso por intermédio do mais responsável por
isso: C.C.Massey, e assim foi ele quem trouxe a senhora K.2 para o
seu presente cargo. Ela não atingiu o seu propósito, mas o Karma
atingiu o seu; daqui por diante, o grupo londrino, desperto, estimulado,
e advertido, tem um campo livre para exercer as suas atividades. O
vosso próprio Karma, meu amigo, vos destina a desempenhar uma
parte mais ativa nos assuntos teosóficos europeus do que tivestes até
agora. A próxima visita de Olcott trará como resultado, acontecimentos
importantes, de cujo desenvolvimento deveis participar. O meu desejo
é que estareis reunindo todas as forças de reserva do seu ser para
assim elevar-vos à dignidade e importância da crise. Embora pouco
parece-vos realizar psiquicamente, neste nascimento, recordai que o
vosso crescimento interno prossegue a cada instante e que, até o final
da vossa vida, como em vosso próximo nascimento, o vosso mérito
acumulado trará para vós tudo aquilo que aspirais.

Não é prudente que H.S. Olcott seja exclusivamente o vosso hóspede


durante toda a sua permanência na Inglaterra. O seu tempo deve ser
dividido entre vós e outros de opiniões diferentes, se eles desejam
convidá-lo por um curto tempo. Ele estará acompanhado por Mohini, a
quem escolhi como meu Chela e com quem me comunico diretamente
às vêzes. Tratai o jovem com afeto, esquecendo que é um bengalês e
apenas recordando que ele agora é meu chela. Façai tudo o que
puderdes para engrandecer o cargo de Olcott, pois ele representa toda
Sociedade e em razão da sua posição oficial, se não por outra, situa-
se com Upasika, muito próximo de nós no conjunto do trabalho
teosófico. Asivadam.

K.H.
Carta Nº 085

(7 de Dezembro de 1883).

Esta carta é o anexo mencionado pelo Mahatma em sua última carta.


É uma das cartas mais importantes no livro, no que diz respeito à
Sociedade Teosófica, especialmente no Ocidente.

O Mahatma acabara de ordenar que se mandasse dois telegramas, um


para a Sra. Kingsford e um para o Sr. Sinnett, notificando a ambos que
a Sra. Kingsford deveria continuar como presidente da Loja de
Londres. O telegrama para Sinnett é curto e objetivo: "Kingsford deve
permanecer presidente."

Nesta carta o Mahatma sugere que a Loja de Londres deveria ser


administrada, pelo menos, por quatorze conselheiros, -"metade
claramente favorável ao Esoterismo Cristão, representado pela Sra. K.
e a outra metade seguindo o Esoterismo Budista, representado pelo
Sr. S.; todos os assuntos importantes devem ser decididos por maioria
dos votos".

Embora aparentemente um arranjo muito frágil, o plano poderia ter


dado certo, se não tivesse havido uma complicação posterior. No
começo de dezembro de 1883, a Sra. Kingsford e o vice-presidente da
Loja de Londres, Edward Maitland, divulgaram uma circular que
continha uma severa crítica aos ensinamentos constantes do novo livro
de Sinnett, "O Budismo Esotérico". Compreensivelmente, isto não
contribuiu para melhorar a harmonia da situação. No fim de janeiro de
1884, Subba Row, em colaboração com "um erudito ainda maior", o
qual, se crê, era o Mahatma M., divulgou, na forma de um panfleto,
uma "Resposta" a essa Carta Circular. Subba Row mandou-a para
H.P.B. junto com um envelope, pedindo-lhe que a mandasse para a
Loja de Londres. Ela assim o fez em 25 de janeiro de 1884. O texto
completo pode ser visto em "Escritos Esotéricos de T. Subba Row",
pp.316-56.

A algum dos Vice-presidentes ou Conselheiros da "Loja de Londres"


da Sociedade Teosófica, proveniente de K.H.

Aos membros da Loja de Londres, Sociedade Tesosófica.

Amigos e oponentes,

Acabo de ordenar que sejam enviados dois telegramas para a senhora


A. Kingsford e para o Sr. Sinnett a fim de notificar a ambos que a
primeira deve continuar sendo Presidente da "Loja de Londres" da
Sociedade Tesosófica.

Este não é apenas o desejo de qualquer um de nós dois, ou de ambos,


aos quais o senhor Sinnett conhece, senão o desejo expresso do
Chohan2. A escolha da senhora Kingsford não é uma questão de
sentimento pessoal entre nós e essa senhora, mas está baseada
totalmente, na conveniência de se ter à frente da Sociedade Teosófica,
em um lugar como Londres, uma pessoa muito adequada ao nível e
aspirações do público (até agora ignorante das verdades esotéricas) e
portanto, malicioso. Nem é questão da mais pequena consequência se
a prendada Presidente da "Loja de Londres" da Sociedade Teosófica
mantém sentimentos reverentes ou irrespeitosos para com os humildes
e desconhecidos indivíduos que estão à frente da Boa Lei Tibetana, ou
para com o autor desta carta, ou para com qualquer um dos seus
Irmãos, mas, mais exatamente se a citada senhora está capacitada
para o propósito que todos nós temos no coração, ou seja, a
disseminação da VERDADE por meio das doutrinas Esotéricas,
transmitidas por qualquer canal religioso, e a destruição do tremendo
materialismo, cegos preconceitos e ceticismo. Como observou
corretamente a senhora, o público ocidental deve entender que a
Sociedade Teosófica é "uma Escola Filosófica constituída sobre as
antigas bases Herméticas", já que esse público nunca ouviu falar do
Sistema Tibetano e possue noções muito pervertidas da Doutrina
Esotérica Budista. Portanto, e até esse ponto, estamos de acordo com
as observações contidas na carta escrita pela senhora K. a senhora B.,
tendo sido esta última solicitada a submetê-la a K.H."; e nós queremos
recordar aos nossos membros da Loja de Londres, a este respeito, que
a Filosofia Hermética é universal e não sectária, enquanto que a Escola
Tibetana será sempre considerada por aqueles que, se for o caso,
conhecem pouco dela, como colorida mais ou menos pelo sectarismo.
Não reconhecendo a Filosofia Hermética nem casta ou cor, nem credo,
nenhum amante da sabedoria Esotérica pode fazer objeção alguma ao
nome, o que, de outra maneira, poderia acontecer se a Sociedade a
qual pertence, fosse rotulada com uma denominação específica
relacionada com uma determinada religião. A Filosofia Hermética se
adapta a toda crença e filosofia e não se choca com nenhuma. É o
ilimitado oceano da Verdade, o ponto central para onde fluem e onde
se encontram cada rio, cada riacho, esteja a sua fonte localizada no
Este, Oeste, Norte ou Sul. E assim como o curso do rio depende da
natureza da sua bacia, também o canal para comunicação do
Conhecimento deve adequar-se às circunstâncias do ambiente, O
Hierofante Egípcio, o Mago Caldeu, o Arhat, e o Rishi, empreenderam
no passado a mesma viagem de descobrimento e chegaram por fim à
mesma meta, embora por diferentes caminhos. Há mesmo no presente
momento três centros da Fraternidade Oculta em atividade, tão
extensamente separadas, tanto geográfica como exotericamente; a
verdadeira doutrina esotérica sendo idêntica em substância, embora
difira em terminologia; todos visando o mesmo grande propósito; mas
diferindo aparentemente nos detalhes do procedimento. Ocorre todos
os dias encontrar-se estudantes pertencentes a diferentes escolas do
pensamento oculto, sentados lado a lado, aos pés do mesmo gurú.
Upasika (Madame B.) e Subba Row, embora discípulos do mesmo
Mestre, não seguiram a mesma filosofia: ela é Budista e o outro,
Adwaita. Muitos preferem chamar-se de Budistas, não porque a
palavra se vincula ao sistema eclesiástico construido sobre as idéias
básicas da filosofia de nosso Senhor Gautama Buda, mas devido ao
significado da palavra sânscrita "Buddhi", SABEDORIA, iluminação; e
como um protesto silencioso contra os inúteis rituais e cerimoniais
vazios que, em tantos casos, têm sido a causa das maiores
calamidades. Tal é, também, a origem do termo caldeu/Mage.

É pois, compreensível, que os métodos do Ocultismo, embora


inalteráveis em sua maior parte, tenham no entanto, que se adaptar às
épocas e circunstâncias que se alteram. O estado geral da Sociedade
da Inglaterra, muito diferente do da Índia, onde a nossa existência é
uma crença comum e, por assim dizer, inerente à população e, nalguns
casos, um conhecimento positivo, requer um sistema totalmente
diferente para a apresentação das Ciências Ocultas. O único objetivo
a ser buscado é a melhoria da condição do HOMEM mediante a difusão
da Verdade adequada aos vários estágios de seu desenvolvimento, e
aos do pais em que vive e a que pertence. A VERDADE não tem rótulo
e não sofre pelo nome sob o qual é promulgada, se o objetivo indicado
é atingido. A constituição da "Loja de Londres, Sociedade Teosófica"
permite alimentar a esperança de que antes que transcorra muito
tempo, seja posto em prática o método correto. É bem sabido que um
ímã deixa de ser um ímã caso os seus polos deixem de ser
antagônicos. O calor em um lado deve ser compensado pelo frio no
outro, e a temperatura resultante será saudável para todas as pessoas.
A senhora Kingsford e o senhor Sinnett ambos são úteis, ambos
necessários e apreciados por nosso reverendo Chohan e Mestre,
justamente porque são os dois polos destinados a manter todo o corpo
em magnífica harmonia, assim como a sensata disposição de ambos
formará um excelente meio ambiente que não pode ser alcançado por
outros meios, corrigindo-se e equilibrando-se mutuamente. A direção e
os bons serviços dos dois são necessários para o constante progresso
da Sociedade Teosófica na Inglaterra. Mas os dois não podem ser
presidentes. Os pontos de vista da senhora Kingsford são, no fundo
(deixando de lado os detalhes), idênticos aos do senhor Sinnett em
questões da Filosofia Oculta e devida à associação desses pontos de
vista com os nomes e símbolos familiares aos olhos e ouvidos Cristãos,
são mais apropriados do que o do Sr. Sinnett à atual corrente da
inteligência nacional inglesa e ao seu espírito conservador. A senhora
K. está, assim, mais adaptada para conduzir com mais sucesso o
movimento na Inglaterra. Portanto, se nosso desejo e conselho
representam algo para os membros da "Loja de Londres", ela terá que
ocupar a presidência, pelo menos no ano entrante. Que todos os
membros sob a sua direção, tratem, com resolução, de superar a
impopularidade que todo ensinamento esotérico e toda reforma
seguramente provocará no início e então eles obterão o êxito. A
Sociedade será de uma grande ajuda e um grande poder no mundo,
para prover o canal seguro pelo qual fluir a filantropia de sua
Presidente. Sua luta constante e não de todo infrutífera em prol da
antivivisecção e sua constante proclamação do vegetarianismo,
tornam-na merecedora da consideração de nossos Chohans, assim
como a de todos os verdadeiros budistas e Adwaitas; e daí a prioridade
de nosso Maha-Chohan nesta direção. Mas como os serviços do
senhor Sinnett pela boa causa são grandes, sem dúvida, muito
maiores, até agora, do que os de qualquer outro teósofo ocidental, por
isso, um novo arranjo foi considerado desejável.

Parece necessário para o estudo apropriado e a correta compreensão


da nossa Filosofia e para o benefício daqueles cuja inclinação os leva
a buscar o conhecimento esotérico na Fonte Budista do Norte, e para
que esse ensinamento não seja mesmo virtualmente imposto ou
oferecido àqueles teósofos que possam discordar de nossos pontos de
vista, que se forme um grupo privado composto daqueles membros que
desejem seguir totalmente os ensinamentos da Escola a qual nós, da
Fraternidade Tibetana, pertencemos, sob a direção do senhor Sinnett
e dentro da "Loja de Londres da S.T.". Esse é, de fato, o desejo do
Maha-Chohan. Nossa experiência do ano passado demonstra
amplamente o perigo de apresentar irresponsavelmente nossas
sagradas doutrinas ao mundo despreparado. Portanto, esperamos e
estamos resolvidos a exigir, de nossos seguidores, se necessário,
maior cuidado do que nunca na exposição de nossos ensinamentos
secretos. Por conseguinte, muitas das últimas que o senhor Sinnett e
seus companheiros estudantes receberam de nós, de quando em
quando, terão que ser mantidas inteiramente secretas para o mundo,
se eles querem que nós lhes demos nossa ajuda nesse sentido.

Quase não necessito salientar como se espera que o arranjo proposto


conduza a um progresso harmonioso da "L.L.S.T." É um fato admitido
amplamente que o maravilhoso êxito da Socidade Teosófica na Índia é
devido, totalmente, ao seu princípio de tolerância sábia e respeitosa
para com as opiniões e crenças de cada um. Nem mesmo o
Presidente-Fundador tem o direito de intervir, direta ou indiretamente,
na livre expressão de pensamento do mais humilde dos membros, e
menos ainda de procurar influir em suas opiniões pessoais. É somente
na ausência desta generosa consideração, que até mesmo a mais leve
sombra de diferença arma os buscadores da mesma verdade, antes
fervorosos e sinceros, com o chicote de ecorpião do ódio contra os
seus irmãos, igualmente sinceros e fervorosos. Vítimas enganadas de
verdades deformadas, esquecem ou nunca souberam que a
dissonância é a harmonia do universo. Assim, na Sociedade Teosófica,
cada parte, como nas gloriosas fugas do imortal Mozart, busca, sem
cessar a outra em dissonância harmoniosa nas sendas do Progresso
Eterno, para unirem-se e por fim fundirem-se no limiar da meta
desejada, numa harmoniosa totalidade, a nota tônica da natureza. A
Justiça Absoluta não faz diferença entre os muitos e os poucos.
Portanto, ao agradecer a maioria dos teósofos da "L.L." por sua
"lealdade" em relação a nós, seus instrutores invisíveis, devemos, ao
mesmo tempo, recordar-lhe que o seu presidente, a senhora Kingsford,
também é leal e fiel em relação ao que ela crê ser a Verdade. E como
ela é assim leal e fiel às suas convicções, não importa quão pequena
possa ser a minoria que esteja com ela no presente, a maioria
conduzida pelo senhor Sinnett, nosso representante em Londres, não
pode, com justiça, atribuir-lhe a culpa de que, tendo ela repudiado
enfaticamente toda intenção de infringir a letra ou o espírito do Artigo
VI dos Regulamentos da Sociedade Matriz (aos quais rogo que vejais
e leiais), somente se afigura aos olhos daqueles que tratam de ser
demasiado severos. Todo Teósofo Ocidental deveria aprender a
recordar, especialmente aqueles que desejam ser nossos seguidores,
que na nossa Fraternidade todas as personalidades se somam em uma
só idéia: direito abstrato e justiça prática e absoluta para todos. E ainda
que não digamos com os Cristãos "retribui o mal com o bem",
repetimos com Confúcio: "retribui o bem com o bem e o mal com
JUSTIÇA". Assim, os teósofos que pensam como a senhora K., mesmo
que se oponham a alguns de nós pessoalmente de uma maneira
terminante, fazem jús ao mesmo respeito e consideração (enquanto
forem sinceros) de nossa parte e dos seus companheiros que não
pensem como eles, como aqueles que estão dispostos, juntos com o
senhor Sinnett, a seguirem apenas o nosso ensinamento específico.
Uma atenção respeitosa a estas regras durante a vida sempre
beneficiará muito a todos os envolvidos. É necessário para o progresso
paralelo dos grupos sob a senhora K. e o senhor S., que ninguém
interfira nas crenças e direitos do outro. E se espera seriamente que
os dois atuem, levados por um desejo sincero e constante de respeitar
a independência filosófica de cada um, preservando ao mesmo tempo
sua unidade como um todo: ou seja, os objetivos da Sociedade Matriz
em sua integridade e os da Loja de Londres, com suas pequenas
modificações. Desejamos que a Sociedade em Londres conserve a sua
harmonia na diversidade, como ocorre nas Lojas da Índia, onde os
representantes de todas as escolas do Hinduismo procuram estudar as
Ciências Esotéricas e a Sabedoria antiga, sem necessariamente,
abandonar, com isso, as suas respectivas crenças. Cada Loja, muitas
vezes os membros da mesma Loja, incluindo Cristãos convertidos em
alguns casos estudam a filosofia esotérica, cada um à sua maneira,
mas tendo sempre todas as mãos unidas fraternalmente, para
promover os objetivos comuns da Sociedade. Para levar a cabo este
programa é desejável que a "Loja de Londres" seja administrada, por
pelo menos quatorze Conselheiros, uma metade de tendência clara
para o Esoterismo Cristão, representado pela senhora K. e a outra
pelos que seguem o Esoterismo Budista, representado pelo senhor S.,
e que todas as resoluções importantes sejam por maioria de votos.
Estamos bem conscientes e estamos bem atentos às dificuldades de
tal arranjo. Entretanto, parece absolutamente necessário para
restabelecer a harmonia perdida. O estatuto da "Loja de Londres" tem
que ser modificado e isso pode ser feito se os membros o quiserem;
assim se produzirá mais força nesta divisão amistosa do que numa
unidade forçada.

A menos, portanto, que a senhora Kingsford e o senhor Sinnett


concordem em estar em desacordo nos detalhes, mas trabalhando em
estrita união pelos principais objetivos, tal como foram fixados nos
Regulamentos da Sociedade Matriz, nós não poderemos estender
nossa mão para o desenvolvimento e progresso futuros da Loja de
Londres.

K.H.

7 de dezembro de 1883.
Carta Nº 086

Recebida em Janeiro de 1884 (em Londres, Inglaterra. Expedida em 7


de Dezembro de 1883 em Mysore, Índia).

A Sra. Kingsford foi presidente da Loja de Londres durante um ano.


Isto se deveu realmente aos esforços de C.C. Massey, que sentiu ser
ela a única pessoa que poderia manter o grupo ativo. Mas Sinnett já
havia retornado à Inglaterra há nove mêses e ele mesmo queria muito
assumir esse cargo no grupo de Londres. O resultado foi uma divisão
muito grande na Loja.

Bom, amigo, acredito em vossa palavra. Em uma das vossas recentes


cartas para a "Velha Dama" expressais a vossa presteza em seguir
meu conselho em quase tudo que possa vos pedir. Bem, chegou a
ocasião para provar a vossa boa vontade. E, considerando que neste
caso particular estou levando a cabo somente os desejos de meu
Chohan, espero que experimenteis demasiada dificuldade em
compartilhar a minha sorte procedendo como eu.
A "fascinante" senhora K.2 tem de continuar como Presidenta...
jusqu'au nouvel ordre: Nem posso conscienciosamente, depois de ler
a sua carta justificativa para H.P.B. que não estou do seu lado em muito
do que tem a dizer como desculpa, naturalmente, muito disso é produto
de posteriores reflexões; mas o seu próprio empenho em manter o seu
cargo implica em bons presságios para o futuro da Loja de Londres,
especialmente e me ajudardes a cumprir com o espírito de minhas
instruções. Assim, a Sociedade Teosófica em Londres, não continuará
sendo algo que ela possa manejar ao seu bel prazer e fantasia, mas
ela se tornará parte integrante dela e quanto mais ajude a movimentá-
la, melhor será para a Sociedade. Dar explicações detalhadas seria um
trabalho demasiado longo e tedioso. É suficiente que saibais que a sua
luta antiviviseccionista e sua estrita dieta vegetariana conquistaram
inteiramente o nosso austero Mestre. A ele importa menos do que a
nós qualquer expressão ou sentimento externo ou interno de falta de
respeito em relação aos "Mahatmas". Que cumpra o seu dever para
com a Sociedade, que seja sincera aos seus princípios e todo o resto
chegará ao seu devido tempo. Ela é muito jovem e a sua vaidade
pessoal e outras imperfeições femininas é problema do senhor
Maitland e do côro grego dos admiradores dela.

O texto anexo deve ser entregue por vós, em envelope lacrado, a um


dos Conselheiros ou Vice-presidentes de vossa Sociedade. Creio que
o senhor C.C. Massey seria a pessoa mais adequada para isso, pois é
um amigo sincero de ambas as partes. Entretanto, a escolha é deixá-
la a vosso cargo e critério. Tudo que vos peço é insistir em que o texto
deva ser lido diante de uma reunião geral com a presença do maior
número de teósofos que possais reunir e na primeira oportunidade. Ele
contém e carrega consigo, no papel e nas palavras, certa influência
oculta que deve atingir a maior parte possível dos teósofos. O que seja,
podereis, talvez, deduzir depois pelos seus efeitos, diretos e indiretos.
Enquanto isso, lêde-o e fechai-o e não permitais que ninguém pergunte
indiscretamnte se tomastes nota do seu conteúdo, pois tendes que
manter secreto o conhecimento. No caso de a situação vos parecer
perigosa, a ponto de necessitar uma negativa do fato - é melhor não
tocá-lo e não lê-lo. Não temais, eu estou aí para vigiar os vossos
interesses. De qualquer modo, o programa é como se segue: o
memorando escrito por vosso humilde correspondente, deve ser lido
para os teósofos convocados em reunião solene e registrado nas atas
da Sociedade. Contém uma apresentação de nossos pontos de vista
referente às questões levantadas a respeito da sua administração e
fundamento de trabalho. Nosso entrosamento com a Sociedade
dependerá de que se leve a cabo o programa alí contido, preparado
depois de muita cogitação.

Voltando a algumas de vossas perguntas filosóficas (estando para sair


de viagem, não posso responder a todas). É difícil perceber quais
relações quereis estabelecer entre os diferentes estados de
subjetividade no Devachan e os vários estados da matéria. Caso há de
se supor que no Devachan o Ego passa por todos esses estados de
matéria, então a resposta seria que a existência no sétimo estado de
matéria é uma condição Nirvânica e não Devachânica. A humanidade,
embora em diferentes estados de desenvolvimento, pertence,
entretanto, às três condições dimensionais da matéria. E não há razão
para que no Devachan o Ego deva variar as suas "dimensões".

É uma proposição inconcebível que as moléculas ocupem um lugar no


infinito. A confusão nasce da tendência ocidental de pôr uma
construção objetiva sobre o que é puramente subjetivo. O livro de Kiu-
te nos ensina que o espaço é o próprio infinito. É informe, imutável e
absoluto. À semelhança da mente humana, que é o inesgotável
gerador de idéias, a Mente Universal ou o Espaço, possue a sua
ideação, que é projetada na objetividade no momento determinado;
mas o espaço mesmo não é afetado por isso. Até o vosso Hamilton
demonstrou que o infinito não pode ser concebido mediante quaisquer
séries de adições. Sempre que falardes de LUGAR no infinito, vós o
destronais e degradais o seu caráter absoluto e incondicional.

Que tem a ver o número de encarnações com a astúcia, habilidades


ou estupidez de um indivíduo? Um forte apego pela vida física pode
governar uma entidade através de uma série de encarnações e, no
entanto, elas podem não desenvolver as suas capacidades mais
elevadas. A Lei de Afinidade atua por meio do impulso KÁRMICO
inerente ao Ego e governa a sua futura existência. Compreendendo a
Lei de Darwin da hereditariedade para o corpo, não é difícil perceber
como o ego em busca de nascimento pode ser atraído, no momento
do renascimento, para um corpo nascido numa família que possua as
mesmas tendências da Entidade reencarnante.

Não deveis lamentar que a minha restrição inclua o senhor C.C.


Massey. Um ponto corrigido e explicado levaria inevitavelmente a
outros ainda mais obscuros, que surgiriam sempre em sua mente
suspeitosa e inquieta. Seu amigo tem algo de misantropo. Sua mente
está enevoada por tenebrosas dúvidas, e seu estado psicológico é
lamentável. Todas as intenções mais brilhantes estão sufocadas, a sua
evolução Búdica (não Budista) está detida. Cuidai dele, se ele não
cuidar de si próprio! Presa de ilusões de sua própria criação, ele está
caindo em uma profundidade maior ainda de miséria espiritual e é
possível que busque refugiar-se do mundo e de si mesmo ao abrigo de
uma teologia que, em outra época, teria repudiado apaixonadamente.
Tentou-se todos os meios permissíveis para salvá-lo, especialmente
por Olcott, cujo amor cálido e fraternal levou-o a fazer ao seu coração
os apelos mais calorosos, como sabeis. Pobre, pobre homem
alucinado! Minhas cartas são escritas por H.P.B. e ele não tem dúvida
de que eu obtive as idéias enganosas do senhor Kiddle da cabeça dela!
Mas deixemos que continue assim.

O nosso amigo Samuel Ward lamenta a frustração do seu amigo Ellis;


isso me diz respeito e devo ver, suponho, quando eu regresse, se um
par de chifres, os "cobiçados chifres" podem não ter sido recolhidos por
alguma caravana, onde o animal os deixou cair naturalmente. A não
ser desta forma "Tio Sam" não poderá positivamente esperar que eu o
ajude a sair da dificuldade; pois não me faríeis colocar uma espingarda
no ombro e deixar o "Budismo Esotérico" atrás de mim ao pé dos
despenhadeiros das cabras!

Lamento que tivestes o trabalho de me escrever acerca de Bradlaugh.


Eu o conheço bem, assim como a sua companheira. Há mais de um
traço em seu caráter que estimo e respeito. Ele não é imoral e nada
que pudesse ser dito a favor ou contra ele pela senhora K.10, ou
mesmo por vós, iria mudar ou mesmo influenciar a minha opinião sobre
ele e a senhora Besant. Entretanto, o livro publicado por eles, "THE
FRUITS OF PHILOSOPHY"1, é infame e altamente pernicioso em seus
efeitos, sejam quais forem os objetivos filantrópicos que os levaram à
publicação da obra. Eu sinto muito profundamente, meu querido amigo,
ver-me obrigado a discordar completamente de vós acerca de tal
assunto. Preferia mais evitar tal discussão tão desagradável. Como
sempre faltou bastante tato a H.P.B. ao transmitir o que devia à Sra.
K.; mas no conjunto, ela deu a mensagem corretamente. Eu não li a
obra, nem o farei, mas tenho diante de mim o seu espírito impuro, a
sua aura brutal, e digo de novo que, para mim, os conselhos oferecidos
são abomináveis; eles são mais os frutos de Sodoma e Gomorra do
que da Filosofia, cujo próprio nome - o livro degrada. Quanto antes
deixarmos este assunto, melhor.

E agora tenho que ir. A jornada diante de mim é longa e tediosa e a


missão quase sem esperança. Entretanto, algum bem será feito.

Seu sempre sinceramente,

K.H.
Carta Nº 087

(16 de Janeiro de 1884)

Esta é a carta anexa à Carta nº.121(CM-84). Está assinada, em escrita


Devanagari, por Bhola Deva Sarma, em nome do Mahatma K.H., de
quem era discípulo. Foi escrita conforme instrução do Mahatma.

O telegrama inicial do Mahatma, dizendo que a Sra. Kingsford deve


permanecer como Presidente, parece ter complicado as coisas. Assim,
em 16 de Janeiro (quando escrevia esta carta), o Mahatma mandou
um segundo telegrama para Londres, cujo texto era "Adiem eleição,
segue carta". Também foi mandado de acordo com instruções do
Mahachohan.

Em concordância com a sugestão do Mahatma, a Loja de Londres


esperou que o Cel. Olcott chegasse e a eleição realizou-se em 7 de
abril de 1884, sob a presidência de Olcott. Um candidato de
conciliação, G.B. Finch, foi eleito Presidente; Sinnett, Vice-Presidente
e Secretário; e a Srta. Francesca Arundale, Tesoureira. Somente cinco
Conselheiros foram eleitos, sendo um deles o cientista, Sir. William
Crookes, descobridor da Matéria Radiante, a quem o Mahatma elogiou
em uma das suas cartas anteriores.

O Cel. Olcott descreve toda a situação e os acontecimentos na obra


"Velhas Páginas de um Diário".

Antes de sair de Nice para Londres, ele tinha distribuido uma carta
circular a todos os membros da Loja de Londres, pedindo que lhe
mandassem individualmente, para Paris e em confiança, os seus
respectivos pontos de vista sobre a situação. Ele trouxe essas cartas
consigo para ler no trem para Londres. Ele estava justamente lendo um
trecho na carta de Bertram Keightley (um dos membros mais leais da
Loja e que ajudou muito mesmo H.P.B. mais tarde quando ela estava
escrevendo a "Doutrina Secreta"), no qual ele afirmava a sua inteira
confiança de que os Mestres ordenariam bem todas as coisas, quando,
do teto do vagão, acima da cabeça de Mohini, uma carta caiu,
flutuando. Verificou-se que estava dirigida a Olcott e dava-lhe o
necessário conselho para a abordagem da dificuldade.

O Cel. Olcott comentou: "Era como se fosse uma resposta direta e


intencional para o pensamento leal do escritor da carta que eu estava
lendo no momento. Eu desejo que todos na Sociedade pudessem
compreender como é certo que aqueles Grandes Irmãos, que estão
por detrás de nosso trabalho, conservam um olhar vigilante sobre todos
aqueles de nós que, com um coração puro e mente inegoista, lançam
suas energias no trabalho. Que mais confortador do que saber que
nossos trabalhos não são em vão, nem as nossas aspirações ficam
ignoradas?"

O Coronel havia antes recebido uma carta do Mahatma


fenomenicamente quando ainda a bordo, a caminho da Índia para a
Inglaterra. Diz ele: "Se eu tivesse tido a mínima dúvida disso antes,
teria sido desvanecida (por esta carta)", que lhe dizia:

Ponde toda pudência em vossos sentimentos, de modo que possais


fazer a coisa certa neste imbróglio ocidental. Observai as vossas
primeiras impressões. Os enganos que fazeis derivam de vossa falha
em não fazê-lo. Não deixeis que vossas predileções, afetos,
desconfianças, nem antipatias pessoais atrapalhem a vossa ação.
Incompreensões têm surgido entre os Membros, tanto em Londres
como em Paris, que põem em perigo os interesses do
movimento...tentai remover esses equívocos à medida que os
encontreis, por meio de uma bondosa persuasão e um apelo ao
sentimento de lealdade à causa da verdade, se não a nós. Fazei com
que todas estas pessoas sintam que não temos favoritos, nem afeições
por pessoas, mas apenas por seus bons atos e pela humanidade como
um todo.

Esta carta trazia também a afirmação de que "um dos mais valiosos
efeitos da missão de Upasika (H.P.B.) é que leva as pessoas ao auto-
estudo e destroi nelas o servilismo às pessoas".

Josephine Ransom comenta que "o grupo Kingsford-Maitland estava


irritado durante a eleição, como a Dra. Kingsford, uma mulher de
grande força de caráter, desejava ser presidente, mas o grupo
permaneceu silencioso. O Sr. Sinnett estava falando quando,
subitamente em meio a esta reunião algo tensa, surpreendentemente
surgiu H.P.B., que todos pensavam estar em Paris. Houve muita
surpresa. Foi levada à tribuna e apresentada aos presentes".

O grupo Kingsford pediu uma carta constitutiva para formar um ramo


separado. O Presidente concordou, e a Sociedade Teosófica
Hermética foi formada. Mas o problema não estava ainda resolvido,
porque os membros do Ramo Hermético desejavam também pertencer
à Loja de Londres a fim de se beneficiarem da instrução dada ali. O
Cel. Olcott não concordou com isto e elaborou uma regra
estabelecendo a proibição de filiação múltipla, isto é, filiação em mais
de uma Loja Hermética. O Cel. sugeriu que a Sra. Kingsford
devolvesse a carta e formasse, com os seus amigos, uma Sociedade
independente, tornando, assim, viável para eles pertencerem a ambas.
Assim foi feito.

À Loja de Londres da Sociedade Teosófica - Saudações.

Dado que os telegramas para a Sra. Kingsford e o Sr. Sinnett e minha


carta de Mysore não foram plenamente entendidos, eu recebi ordem
do Maha-Chohan para aconselhar o adiamento da eleição anual, para
evitar tudo que significasse precipitação e dando tempo para o exame
da presente carta. Depois da fria acolhida dada pelos membros da L.L.
S.T. no dia 16 de dezembro, a proposta contida na página 29 da circular
confidencial e impressa da Sra. Kingsford e do Sr. Maitland (constante
do tópico "Observações e Propostas"), ou seja, a necessidade de se
formar um grupo distinto, dentro do grupo geral da L.L.S.T.; proposição
essa que, se bem não seja idêntica em seus métodos práticos
sugeridos, o é, em substância, à proposta que eu fiz em minha carta
de 7 de dezembro; sob um certo aspecto e levando em conta, também,
algumas interpretações errôneas, falsas esperanças e
descontentamente, achou-se absolutamente necessário o adiamento.

Como estava implícito na minha última carta, por ocasião da


comunicação (circular), a questão candente não se referia ao caráter
liberal ou alegórico do último livro do senhor Sinnett, e sim a lealdade
ou deslealdade da vossa Presidenta e sua colaboradora em relação a
nós a quem muitos de vós consideram conveniente escolher como
vossos Instrutores esotéricos. Deste ponto de vista, e não tendo sido
apresentada nenhuma outra queixa até aquele momento (21 de
outubro) surgiu uma necessidade imperativa de se manter, segundo as
sábias palavras da senhora Kingsford, elas mesmas um eco da própria
voz do Tathagata, a política de separar, "em relação a princípios
abstratos, a autoridade de nomes, seja do passado ou do presente".
(Discurso inaugural da Presidenta, em 21 de outubro de 1883). Sendo
a questão envolvida a da Justiça, a ignorância da senhora Kingsford
acerca de nosso verdadeiro caráter, doutrinas e posição (subjacente
em todas as suas desfavoráveis observações em relação a quem isto
escreve e seus colegas) não teve, nem mesmo, o peso de um floco de
algodão na questão de sua re-eleição. Isto, conjugado ao seu próprio
mérito pessoal e intrínseco e a caridade que ela mostra em relação aos
pobres animais e também o fato de haver pedido à senhora H.P.
Blavatsky "submeter a minha (dela) carta a Koothoomi", fez com que a
decisão anterior fosse a mais adequada.

E agora, o desenvolvimento dos acontecimentos desde o despacho


dos telegramas em questão, talvez tenha sugerido a alguns de vós as
verdadeiras razões para uma ação tão inusitada, para não dizer
arbitrária, como o de intervir nos direitos de eleição reservados a uma
Loja. O tempo, às vezes, neutraliza os males mais graves, precipitanto
uma crise. Ademais, e utilizando de novo a linguagem do seu discurso
(a vossa Presidenta, ao referir-se a uma carta reservada minha, dirigida
ao senhor Ward, que ela leu, no qual eu escrevi, segundo ela pensa)
evidentemente ignorando os fatos e isto não é de surpreender, podia
supor que nós também ignorávamos a publicação da próxima "Carta
Particular e Confidencial" que fiz circular entre os membros da L.L.S.T.
em 16 de dezembro. Assim, ela não deve sentir-se surpreendida ao
verificar que essa "Carta" modificou enormemente o caso. Sempre com
base no princípio de justiça imparcial em jogo, sentimo-nos obrigados
a não ratificar literalmente nossa decisão sobre a sua re-eleição, mas
a acrescentar certas cláusulas e tornar, daqui por diante, impossível
para a Presidenta e os membros interpretar mal a nossa mútua
posição. Longe de nossos pensamentos estará sempre a idéia de erigir
uma nova hierarquia para a futura opressão de um mundo já dominado
pelo sacerdócio, assim como o nosso desejo era, então, o de afirmar-
vos que uma pessoa poderia ser igualmente um membro ativo e útil da
Sociedade, sem considerar-se como nosso partidário ou
correligionário, assim o é agora. Mas, é justamente porque o princípio
tem de funcionar em ambos os sentidos que, não obstante o nosso
desejo de sua re-eleição, sentimos e desejamos tornar conhecido que
não temos direito algum de influir na livre vontade dos membros, neste
como em qualquer outro assunto. Tal interferência estaria em flagrante
contradição como a lei básica do esoterismo, de que o crescimento
pessoal psíquico acompanha pari passu o desenvolvimento do esforço
individual, e é a evidência do mérito pessoal adquirido. Ademais,
observa-se uma grande discrepância nos informes dados a nós, acerca
dos efeitos produzidos sobre os membros, pelo "episódio Kingsford-
Sinnett". Devido a isso, acho impossível ceder aos vários desejos
expressados pela senhora Kingsford em suas cartas à senhor
Blavatsky. Se o senhor Massey e o senhor Ward dão à dama "sua
inteira aprovação e simpatia", uma grande maioria dos membros
parece dar as suas ao senhor Sinnett. Portanto, se eu atuasse de
acordo com a sugestão do senhor Massey, tal como informa a senhora
Kingsford, em sua carta do dia 20 de dezembro, na qual ela diz que na
opinião dele "uma só palavra do Mahatma K.H. seria suficiente para
reconciliar o senhor Sinnett com o meu ponto de vista (dela) e
estabelecer entre ele e a Loja a mais perfeita cordialidade e
compreensão", eu estaria me tornando quase que um Papa que ela
reprova e, além disso, em alguém injusto e arbitrário. Eu e o Sr. Sinnett
ficaríamos, então, na verdade, expostos à justa crítica e, mais severa
mesmo do que a encontrada em seu discurso inaugural, em várias
afirmações notórias, onde ela expressa a sua "desconfiança em todo
recurso à autoridade". Alguém que acaba de dizer: "Observo com dor
e apreensão a crescente tendência da Sociedade Teosófica a
introduzir entre os seus métodos... a exagerada veneração por
pessoas e por autoridade pessoal... e cujo verdadeiro resultado é um
culto meramente servil ao herói... Fala-se de mais entre nós sobre os
Adeptos nossos "MESTRES" e coisas similares... Dá-se muita ênfase
ao que eles dizem e falam, etc..." Não deveria pedir-me essa
intervenção, mesmo que estivesse segura de que o meu fiel amigo, o
senhor Sinnett, não se tivesse ressentido com isso. Caso houvesse
acedido ao desejo da dama de nomeá-la "Apóstolo de Esoterismo
Oriental e Ocidental" e procurado forçar a sua eleição, mesmo que
fosse contra um só membro e, aproveitando-me do cálido apreço,
sempre firme, do senhor Sinnett em relação à minha pessoa, tivessse
influido em sua futura atitude em relação a ela e ao movimento, então,
mereceria, sem dúvida, ser chamado de "o oráculo dos Teósofos",
ficando na mesma categoria que de "Joe Smith" dos Santos dos
Últimos Dias e o "Thomas Lake Harris, o miscigenista transcendental
de dois mundos". Eu não posso crer que ela, que há apenas uns dias
sustentava que "nossa conduta sábia e verdadeiramente teosófica, não
é criar novos Papas e proclamar novos Senhores e Mestres" trataria
agora, em seu próprio caso, de buscar proteção e evocar a ajuda de
uma "autoridade", que poderia fazer-se valer somente na hipótese de
uma cega renuncia ao julgamento individual. E, como prefiro atribuir o
desejo da senhora Kingsford à sua ignorância do verdadeiro
sentimento de alguns de seus colegas, cuja natureza está talvez
disfaraçada agora sob a refinada insinceridade da vida civilizada
ocidental, eu recomendaria a ela e a outros interessados na presente
disputa, a apelar para a decisão do voto, por meio do qual todos podem
expressar os seus desejos sem expor-se hostilmente à acusação de
descortezia. Tal procedimento significaria somente utilizar o privilégio
que foi dado aos membros no final do Artigo 3 dos seus Regulamentos.

E agora, a outra questão. Conquanto pouco nos interesa a


subordinação pessoal em relação a nós, que somos os dirigentes
aceitos dos Fundadores da Sociedade Matriz, não podemos jamais
aprovar ou tolerar em nenhum membro de qualquer Loja, deslealdade
aos princípios fundamentais representados pela Organização Matriz.
Os regulamentos desta organização devem ser observados por
aqueles que compõem as suas Lojas, sempre é claro, que eles não
sejam diferentes dos três objetivos declarados da Organização. A
experiência da Sociedade Matriz mostra que a utilidade de uma Loja
depende em grande parte, se não inteiramente, da lealdade, discreção
e zelo de seu Presidente e Secretário e, por mais que os seus membros
façam para ajudá-los, a atividade eficiente de seu grupo se desenvolve
proporcionalmente com a daqueles dirigentes. E para concluir, devo
repetir que é para evitar que se atue na questão da re-eleição da
senhora Kingsford, até que desapareçam todas as falsas
interpretações produzidas por minhas comunicações anteriores, que
se adie a eleição anual dos dirigentes de vossa Loja até a chegada da
presente carta. Ademais, como o Presidente Fundador, que conhece
muito bem o nosso modo de pensar e tem a nossa confiança, é
esperado na Inglaterra muito em breve, nós não vemos a necessidade
de tomar nenhuma medida apressada neste assunto. A ele foi dada
uma idéia geral da situação, que lhe permitirá atuar imparcialmente
nesta e noutras questões quando da sua chegada, como
representante, ao mesmo tempo, de seu Mestre e dos melhores
interesses da Sociedade.

(Por ordem do meu Muito Venerado Gurú Deva Mahatma K. *, seguem-


se alguns caracteres sânscritos)0.

Será conveniente ler esta carta aos membros, incluindo a senhora


Kingsford, antes da vossa data de eleição. Quero que trateis de
prevenir, se possível, outro "coup de theatre"1. Por mais naturais que
sejam tais surpresas sensacionais na política, quando os partidos são
compostos de partidários cujas almas se alegram em intrigas
partidárias, são muito dolorosas de se ver numa associação de
pessoas que professam se devotar às mais solenes questões que
afetam o interesse humano. Deixai as disputas para as naturezas
mesquinhas, se o quiserem; os sábios acomodam as suas diferenças
num espírito de muita tolerância.

K.H.

As "Notas e Observações" do senhor Maitland sobre o "Budismo


Esotérico" são respondidas amplamente por Subba Row e por um outro
erudito ainda mais capacitado. Serão enviadas na próxima semana em
forma de folheto, pedindo-se ao senhor Sinnett que as distribua,
principalmente entre aqueles membros que foram influenciados pela
crítica.
Carta Nº 088

SEÇÃO VI

Espiritualismo e Fenômenos
Curta nota recebida em Allahabad durante a estadia de Olcott e
Bhavani Rao.

As três cartas que se seguem são consideradas uma só por causa das
datas e das circunstâncias sob as quais foram recebidas. Todas foram
recebidas em Allahabad durante a visita do Cel. Olcott e do chela
Bhavani Rao (Shankar).

Um dia antes de Sinnett receber esta carta, ele tinha escrito para K.H.
e deu a carta para Bhavani Rao. Na manhã seguinte Bhavani Rao
achou esta nota sob o seu travesseiro. Ele explicou que a carta de
Sinnett tinha sido remetida na noite anterior.

Aconteceu que no dia em que esta foi escrita, (11 de março), Sinnett
havia retornado para casa ao anoitecer e achou vários telegramas para
ele. Estes, disse, estavam todos encerrados do modo costumeiro em
envelopes firmemente fechados, antes de serem remetidos pelo posto
de telégrafo. Os telegramas eram todos de pessoas comuns.
Entretanto, dentro de um dos envelopes, ele achou uma pequena nota
dobrada, do Mahatma M. "O simples fato de que ela tenha sido assim
transferida, por métodos ocultos, para dentro do envelope fechado, era
um fenômeno em si", diz ele, mas o fenômeno sobre o qual a nota
dava-lhe informação era "mais ainda obviamente maravilhoso".

A nota fez-me procurar em meu escritório um fragmento de um baixo-


relevo em gêsso que M. há pouco tinha transportado instantaneamente
de Bombay. O instinto levou-me de imediato ao lugar onde eu senti que
era mais provável achar a coisa que tinha sido trazida - a gaveta de
minha escrivaninha reservada exclusivamente para correspondência
oculta; e ali, exatamente, eu achei um canto quebrado de uma placa
de gêsso, com a assinatura de M. aposta nele. Telegrafei
imediatamente para Bombaim, perguntando se algo especial tinha
acabado de acontecer, e no dia seguinte recebi resposta de que M.
tinha quebrado um determinado retrato em gêsso e sumido com um
pedaço. No devido tempo recebi uma declaração minuciosa de
Bombaim, atestada pelas assinaturas de sete pessoas, todas
concordes em todos os pontos essenciais. (The Occult World, pp. 164-
166).

Em resumo, a declaração era de que diversas pessoas estavam


sentadas na mesa de jantar, durante o chá, na varanda de H.P.B.
Todos ouviram uma pancada, como de algo caindo e quebrando,
detrás da porta do escritório de H.P.B., no qual não havia ninguém.
Isso foi seguido de um ruído ainda mais alto e todos correram para o
escritório. Ali, bem atrás da porta, elas acharam no assoalho uma
moldura em gêsso de uma pintura de Paris, quebrada em diversos
pedaços. A alça de arame de ferro da pintura estava intacta, e nem
mesmo entortada. As peças da moldura estavam espalhadas na mesa
e viu-se que uma peça estava faltando. Procurou-se, mas não foi
achada. Pouco depois, H.P.B. entrou no quarto e um minuto e pouco
depois mostrou às pessoas uma nota na caligrafia do Mahatma M. e
com a sua assinatura, declarando que o pedaço em falta tinha sido
levado por ele para Allahabad e que ele recolheria e preservaria
cuidadosamente as peças remanescentes.

Sinnett continua dizendo que o fato de a peça recebida por ele em


Allahabad ser "verdadeiramente a mesma peça que faltava no gêsso
quebrado em Bombaim" foi demostrado alguns dias depois, porque
todas as peças remanescentes em Bombay foram cuidadosamente
empacotadas e mandadas para mim, e os cantos fraturados de meu
fragmento coincidiam exatamente com os do canto incompleto, de
modo que pude montar os pedaços de novo e completar a moldura".

Depois que ele recebeu esta nota (Carta nº.50 - CM-88) através de
Bhavani Rao, ele escreveu de novo no dia seguinte para K.H., achando
que ele poderia aproveitar da situação decorrente da presença de
Olcott e do jovem. Ele deu essa carta para Bhavani Rao no anoitecer
de 13 de março. No dia 14 ele recebeu uma nota curta de K.H.,
dizendo: "Impossível: nenhum poder. Escreverei através de Bombaim".

Sinnett comenta que, quando, no devido tempo, recebeu esta carta


escrita através de Bombaim , ele entendeu que as facilidades limitadas
do momento tinham se exaurido e que as suas sugestões não
poderiam ser aproveitadas. Mas a importância do episódio em si, disse
ele, foi o fato de que trocou, afinal, correspondência com K.H. em um
intervalo de poucas horas, numa ocasião em que H.P.B. estava do
outro lado da Índia.

Entrementes, entre 11 e 13 de março, a Carta nº.51 (CM-120) foi


recebida pela Sra. Sinnett. Esta nota diz que o Mahatma K.H. havia lhe
mandado uma mecha de seu cabelo para usar como um amuleto. A
Sra. Sinnett não era robusta, deve-se lembrar, e por essa razão tinha
permanecido na Inglaterra durante algum tempo depois que o seu
marido tinha retornado para a Índia.

Algum tempo depois, O Mahatma mandou uma mecha de cabelo para


que Denny, o filho dos Sinnett, usasse e há também indicação de que
o próprio Sinnett tinha uma mecha de cabelo de K.H., que ele usava.

Meu bom amigo:

É muito fácil para dar-mos provas fenomênicas quando contamos com


as condições necessárias. Por exemplo: o magnetismo de Olcott, após
seis anos de purificação está intensamente em simpatia com o nosso;
física e moralmente está constantemente se tornando mais e mais
assim. Como Damodar e Bhavani Rao estão inatamente sintonizdos,
as suas auras ajudam, em vez de repelir e impedir experiência
fenomênicas. Depois de algum tempo podereis ser assim; isso
depende de vós. Apresentar fenômenos de uma maneira forçada na
presença de dificuldades magnéticas e outras está proibido, tão
estritamente como o é para o caixa de um banco gastar o dinheiro que
somente lhe foi confiado em custódia. O senhor Hume não pode
compreender isso e, portanto, está "indignado" por terem falhado as
diversas provas que preparou para nós em segredo. Elas exigiriam dez
vezes mais desgaste de força, pois que ele as envolveu com uma aura
das menos puras: a de desconfiança, irritação e zombaria antecipada.
Fazer isso, mesmo para vós, tão longe da Sede Central, seria
impossível, mesmo com o magnetismo que O. e B. trouxeram com
eles, e eu não poderia fazer mais.

K.H.

P.S. De qualquer modo, eu poderia registrar para vós a data de hoje,


11 de Março de 1882.
Carta Nº 089

Recebida em Allahabad em 24 de Março de 1882. (Escrita antes de


22)

Esta carta refere-se ao jovem médium inglês, William Eglinton (1857-


1933), que foi para a Índia com a finalidade declarada de investigar a
Teosofia. Ele tinha ouvido falar de Madame Blavatsky e dos "Irmãos" e
ele queria descobrir por si mesmo se ela merecia confiança e se os
Irmãos eram seres reais, ou se tudo era uma mistificação. Ele recusava
acreditar nos "Irmãos" porque o seu "Guia" (Ernesto) não o havia
informado da exitência deles, e ele considerava H.P.B. apenas mais
uma médium que pretendia ser algo mais elevada. Na Índia ele estava
nessa ocasião passando algum tempo com o Ten. Coronel e Sra. W.
Gordon, que moravam em Howrah, um suburbio de Calcutá. Os
Gordons eram espíritas, mas também membros da Sociedade
Teosófica, devotados à H.P.B. e Olcott e leais à Sociedade. Entretanto,
Eglinton não encontrou, nem o Cel. Olcott, nem H.P.B. durante todo o
tempo em que esteve na Índia e somente os encontraria dois anos mais
tarde, quando eles estavam em Londres. Hume interessou-se por ele
e pensou em convidá-lo para Simla; parecia que os próprios Mahatmas
tinham alguma idéia de levá-lo para lá para treinamento, dado que eles
estavam tentando achar alguém que pudesse atuar para eles no lugar
de H.P.B. Isso não deu certo e Eglinton permaneceu em Calcutá
enquanto esteve na Índia. Retornou para a Inglaterra embarcando em
15 de março de 1882, no vapor Vega, ainda cético quanto à existência
dos Mahatmas.

No dia 22, após o Vega ter deixado o Ceilão (sua primeira escala
saindo da Índia) K.H. visitou Eglinton em seu "Mayava rupa" (corpo
ilusório que os Mahatmas eram capazes de criar) e eles tiveram uma
longa conversa. Dois dias depois, a 24, quando o Vega estava a 825
Kilometros de viagem, foram transmitidas instantaneamente cartas (ou
praticamente instantaneamente) do Vega para Bombaim; e dali (junto
com alguns outros assuntos), de novo, quase instantaneamente, para
Howrah, para a casa do Cel. e Sra. Gordon.

A Sra. Gordon descreve o fenômeno da entrega da carta de Eglinton.


Ela afirmou que o Cel. Olcott havia deixado Bombaim em 17 de março,
rumo a outra cidade e dali foi para Howarah, de modo que ele estava
presente quando a carta de Eglinton foi recebida. No dia 22, H.P.B.
mandou um telegrama para a Sra. Gordon, e que chegou no dia 23,
dizendo que K.H. tinha visto Eglinton no Vega. Este telegrama
confirmou um anterior, mandado por Olcott na noite anterior. Um
telegrama ainda posterior pediu aos Gordons e Olcott para fixarem uma
hora em que estivessem juntos. Eles marcaram 9 da manhã, hora de
Madras, no dia 24. Os três sentaram-se em um triângulo, com o vértice
para o norte. Em alguns minutos, Olcott viu fora, pela janela aberta, os
Mahatmas M. e K.H. Um deles apontou para o quarto, por cima da
cabeça da Sra. Gordon, e uma carta caiu. Os Mahatmas se
desvaneceram. A Sra. Gordon relata o que aconteceu em seguida:

Agora voltei-me e peguei o que havia caido em cima de mim, e achei


uma carta na caligrafia do Sr. Eglinton, datada de 24, a bordo do Vega;
a mensagem de Madame Blavatsky, datada de 24 em Bombaim,
escrita no verso de três de seus cartões de visita; também um cartão
grande, dos quais o Sr. Eglinton tinha um pacote e usava em suas
sessões. Este último cartão continha a caligrafia de K.H. bem
conhecida para nós, e algumas palavras na caligrafia do outro "Irmão",
que estava com ele do lado de fora da janela e que era o superior de
Olcott. Todos esses cartões e a carta estavam enrolados juntos com
uma peça de fio de seda...

A carta de Eglinton traz e afirma a sua então "completa crença nos


Irmãos"!

Como uma nota adicional interessante, havia um post-scriptum


assinado por seis pessoas, afirmando que elas tinham visto a chegada,
em Bombaim, da carta de Eglinton.

Em uma carta escrita para Sinnett, por Eglinton, da Ingalterra, datada


de 28 de abril de 1882, Eglinton diz: "Estou certo de que, se eu
estivesse em qualquer outra situação do que a de um médium
ganhando a sua vida com os seus dons, os Irmãos teriam podido se
manifestar com grande clareza e certeza". O Mahatma K.H. inseriu
uma nota nesta carta, em trânsito, dizendo: "Isto - para provar que
homens vivos podem aparecer - através de médiuns assim excelentes
- em Londres, mesmo através deles em Tsi-gadze, Tibet".

CONFIDENCIAL

Bom amigo:
Eu não renovarei, ao enviar a carta, as muitas advertências que
poderiam ser feitas sobre várias objeções que temos o direito de
apresentar, contra os fenômenos espíritas e seus médiuns. Nós temos
cumprido o nosso dever, e porque a voz da verdade chegou por um
conduto que a poucos agradava, foi declarada falsa, e junto com ela o
Ocultismo. O tempo de persuadir já passou, e está próxima a hora em
que será provado ao mundo que a Ciência Oculta, em vez de ser nas
palavras do Dr. R. Chambers "a própria superstição"- como pode estar
inclinado a crer - será a explicação e será a extinção de todas as
superstições. Por razões que apreciareis embora, a princípio estareis
inclinado a considerar injustas (em relação a vós mesmo) estou
disposto a fazê-lo, desta vez, aquilo que até agora nunca fiz: isto é,
personificar-me sob outra forma e, talvez, caráter. Portanto, não deveis
invejar Eglington2 pelo prazer de me ver em pessoa, de falar comigo e
de que o deixe "assombrado", e com resultados da minha visita a ele,
a bordo do "O Vega". Isto será feito entre os dias 21 e 22 deste mês,e
quando lerdes esta carta, será uma "visão do passado", caso Olcott
vos envie a carta hoje.

Podereis talvez dizer que "todas as coisas estão envoltas em mistérios


e que explicamos mistérios por meio de outros mistérios". Bem, bem;
para vós e para alguém prevenido, não o será; pois, por várias razões,
uma mais plausível do que a outra, tomo-vos como confidente. Uma
delas é poupar-vos em sentimento de involuntária inveja (a palavra é
extranha, não é assim?) quando a conhecerdes. Como ele verá alguém
muito diferente de K.H., embora seja K.H., não necessitais sentir-vos
injustamente tratado por seu amigo transhimalaico. Outra razão é
poupar ao pobre homem a suspeita de jactância; a terceira e principal,
ainda que não seja a menor nem última, é que a Teosofia e seus
aderentes devem ser, por fim, reconhecidos. Eglington está a caminho
do seu país e caso, na sua volta, não soubesse nada dos Irmãos,
redundará num dia crucial de prova para a pobre H.P.B. e H.S.O. O
senhor Hume nos repreendeu por não termos aparecido para
Eglington. Ele se riu entre dentes e nos desafiou que o fizessemos
diante de Fern e outros. Por razões que ele pode ou não comprender,
mas que comprendereis, nós não podíamos fazer, ou melhor, não o
faríamos, enquanto E. estivesse na Índia. Nós tinhamos também
razões muito boas para proibir H.P.B., de se corresponder com ele ou
que o mencionasse muito no O TEOSOFISTA. Mas, agora que já se
foi e estará no dia 22 a centenas de milhas, no oceano, e que nenhuma
suspeita de fraude pode ser levantada contra qualquer um dos dois,
chegou o momento para a experiência. Ele pensa colocar a ela em
prova, mas é ele mesmo que será provado.

Assim pois, meu fiel amigo e meu apoio, mantende-vos preparado.


Como eu vou recomendar a Eglingtonn que, por sua vez, recomende
discreção à senhora Gordon, e como a boa senhora pode sentir-se
inclinada a levar demasiadamente longe a indicação e tomá-la a la
lettre (ao pé da letra), eu lhe forneço antes uma indicação para ela,
afim que fale.

Agora quanto ao Sr. Hume. Ele tem trabalhado para nós, e tem
certamente direito à nossa consideração, até agora. Eu estaria
disposto a lhe escrever, mas poderia ser que a visão das minhas
conhecidas letras produzisse um desvio em seus sentimentos para
pior, antes que se decidisse a ler o que tenho para dizer. Podereis, por
favor, empreender a delicada tarefa de notificá-lo do que agora vos
escrevo? Contai-lhe que existem pessoas, inimigos, que estão
ansiosos por surpreender a "Velha Dama" (H.P.B.) como se estivesse
cometendo FRAUDES, a fim de fazê-la cair numa armadilha, por assim
dizer, e por essa mesma razão, estou decidido a resolver essa questão
de uma vez por todas. Dizei-lhe que, aproveitando a sugestão dele, eu,
K.H., aparecerei diante de Eglington efetivamente em pessoa, no mar
entre os dias 21 e 22 deste mês, e que se tiver êxito em trazer ao bom
senso o rebelde que nega os "Irmãos", a senhora Gordon e seu esposo
serão notificados do fato imediatamente, isto é tudo. Esperamos de
propósito para provocar a nossa experiência até a sua partida, e agora
é NOSSA INTENÇÃO AGIR.

Sempre vosso,

K.H.

Até o dia 25 de março espera-se que o senhor Sinnett mantenha os


seus lábios tão fechados como estarão na sua morte, setenta dias a
partir de hoje. Nem uma só alma, salvo a senhora S., vossa boa
senhora, deve conhecer uma só palavra desta carta. Isto espero de
vossa amizade e agora demonstrai-o. Ao senhor Hume podereis
escrever agora mesmo, de modo que a carta possa ser recebida por
ele no dia 24, à tarde. O vosso futuro depende disto, de vosso silêncio.

K.H.
Carta Nº 090

University College, Londres, W.C. 26 de novembro de 1881.

Esta é uma carta de Staiton Moses, provavelmente recebida no


começo de janeiro de 1882, dado que esse deveria ter sido o período
de tempo necessário para ela chegar à Índia, vindo da Inglaterra.

Deve-se lembrar que a Carta nº.18 (CM-9) tratou mais ou menos


extensamente de Staiton Moses, salientando alguns dos seus erros e
idéias errôneas. Sinnett copiou longos trechos dela e mais tarde
mandou-os para Staiton Moses.

Esta carta (nº.38) relaciona-se principalmente com a resposta de


Moses a esses trechos e com a sua insistência de que Imperator (+)
(que ele afirmava ser seu espírito guia) nunca foi dos Irmãos, como o
Mahatma K.H. havia dito e nada sabia a respeito deles ou de sua
existência. Portanto, Moses não acreditava neles.

Um dos comentários do Mahatma refere-se a William Eglinton, um


médium inglês popular que veio para a Índia no começo de 1882 e
passou algum tempo em Calcutá. Sem dúvida ele era um excelente
médium mas tinha alguns defeitos pessoais. Há indícios de que K.H.
tencionava trazê-lo para Simla para um período de treinamento, de
modo que ele pudesse ser aproveitado no trabalho, porém, mais tarde,
ele decidiu em contrário. Eglinton permaneceu em Calcutá e partiu de
novo para a Inglaterra em março.

Esta carta de Staiton Moses está colocada assim cronologicamente


porque foi, provavelmente, recebida por Sinnett no começo de janeiro,
embora os comentários do Mahatma K.H. fossem inseridos mais tarde.

Meu caro Sinnett:

Eu devia ter respondido antes a vossa carta, mas esperei até que
tivesse tido o prazer de uma troca de idéias com a senhora Sinnett. É
o que fiz, para muita satisfação de minha parte. Ela está
completamente convencida, como me levastes a esperar, da realidade
do que viu e ouviu. Como eu, ela não sabe como interpretar o último
desdobramento, quero dizer, com respeito às minhas experiências
espíritas. Na verdade, não sei o que dizer disso. Não há maneira de
harmonizar os fatos com o que se pretendeu; e quanto à vossa crença
de que os "Irmãos não podem ser ignorantes... não podem estar
equivocados", eu só posso responder que indubitavelmente as duas
coisas ocorrem no que a mim se refere. Isto, entretanto, seria
meramente a minha opinião se eu não possuisse toda uma cadeia de
documentação e outras evidências, que se apresentam em absoluta
sequência desde o primeiro momento que Imperator apareceu, até
ontem. Todas elas são comunicações datadas, notas e registros que
falam por si mesmas e que, em resumo, podem ser testemunhadas
pelo conhecimento de meus amigos que têm me acompanhado em
toda essa questão. Quando a Velha Dama (H.P.B.), insinuou, pela
primeira vez, certa conexão entre a "Loja" e eu, abordei de imediato o
assunto com Imperator e expus o caso reiteradamente. Aqui está um
registro que transcrevo: 24 de Dezembro de 1876. "Fiz algumas
perguntas a respeito de uma carta de H.P.B. na qual diz, em resposta
a uma feita por mim: "Se tendes profunda certeza de que eu não vos
compreendi, tanto a vossa intuição como a mediunidade falharam... Eu
nunca disse que havíeis tomado Imperator por outro espírito. Não se
pode confundí-lo, uma vez que é conhecido. Ele conhece, e que o seu
nome seja abençoado para sempre. Desejais uma prova objetiva da
Loja. Não tendes Imperator e não podeis preguntar-lhe se eu digo ou
não a verdade?"
A resposta a essa pergunta foi longa e precisa. Dentre outras coisa
está isto: (I. sempre usa a primeira pessoa do plural) por que?

"Já vos dissemos que os vossos amigos americanos não comprendem


o vosso caráter, nem o vosso treinamento, e nem as vossas
experiências espirituais... Muito ao contrário de haver falhado a vossa
intuição, ela vos protegeu. Não estamos em posição de dizer até que
ponto (!) quem quer que esteja em comunicação com o vosso
correspondente, PODE dar a ela uma correta explicação sobre vós. É
duvidoso, até onde sabemos: no entanto, alguns tem o poder, na
condição de Mago. Mas, mesmo ele não compreende (!!)

Eu experimentarei outro médium mais honesto, Eglington, quando ele


tiver ido, e verei o que resulta disso. Farei isso apenas pela Sociedade.
Sua tarefa é outra, que não a nossa, e a ele não interessa a vossa vida
interna. Se alguém tem o poder, eles não pretenderam exercê-lo. Não
entendemos se alegam que nós tenhamos dado alguma informação.
PARECE que a insinuação é passada de maneira indireta. Podemos
dizer de uma vez e claramente que em nenhum momento tivemos
qualquer trato com a vossa amiga sobre o assunto. Ela não nos
conhece de modo algum, e nós não sabemos nada dessa Loja ou
Fraternidade"...

(Quanto a eu ter me enganado ao tomar um espírito que tratava de se


personificar como sendo Imperator, foi dito):

"Seguramente não confundirias nenhum outro espírito por nós. Seria


impossível. Nós somos o que já revelamos; ninguém mais; e nossos
nomes e presença não podem ser tomadas por qualquer outro. Nós
temos sido permanentemente o vosso guardião e ninguém pode tomar
o nosso lugar". (Não; os Sextos Princípios não podem ser trocados).

E assim, por diante, inequivocamente. Posso dizer aqui que Imperator


afirmou, quando veio até a mim, pela primeira vez, e muitas vezes
subsequentemente, que ele havia estado comigo toda a minha vida,
embora eu não fosse consciente de sua presença, até que o revelou -
seguramente que não no Monte Athos - mas em outro lugar e de outro
modo. O desenvolvimeto coerente da minha mediunidade tem sido
ininterrupto. Não há LACUNA. Agora a mediunidade objetiva
desapareceu e se abriu meu sentido interno espiritual. Somente ontem
pedi e obtive de Imper., que era claramente visível e audível para mim,
uma renovação exata e precisa do que tem tanto repetido, que eu estou
envergonhado de pedir uma repetição de sua afirmativa. Seja qual for
a explicação, esteja certo, sem lugar à dúvidas, que igualmente ele não
é um Irmão, como nada conhece em absoluto de tais seres.I

Tomando em consideração a vossa advertência de que eu estaria


numa pista errada se eu supuzesse que este é um conto inventado por
H.P.B., devemos acolher todo tipo de teoria que possa explicar essas
coisas, mas eu não teria passado anos defendendo-a contra toda
espécie de calúnia, se a achasse capaz de uma simples fraude vulgar.

Não escapará, todavia, à vossa mente crítica, que uma alegação como
esta, confrontada por um testemunho tão claro e perfeito como o que
apresento, deve ser capaz de provar algo, caso seja considerada
seriamente. É lamentável que não somente a alegação seja
incompatível com todos os fatos, mas que os fatos assim apresentados
sejam justamente aqueles, e somente aqueles que chegaram ao meu
conhecimento; e as suposições são tão ridiculamente distantes da
verdade, como pode ser demonstrado por uma evidência que não
dependa somente de mim, que fica muito claro serem elas muito
precárias.

Do lado negativo essa é uma crítica destrutiva. Agora, que prova


positiva é apresentada? Nenhuma. Pode ser dada alguma? Esse Irmão
que voltou os seus olhos sobre mim no Monte Athos e assumiu o estilo
e título de Imperator, o que alguma vez ele me disse ou contou?
Quando e onde apareceu e que prova pode ele dar do fato? Durante
uma longa comunicação como a que ele afirma, pode seguramente
produzir alguma evidência positiva para refutar a suposição acima
indicada.

Se não faz, qualquer pessoa equilibrada saberia qual conclusão tirar.

Perdoai-me por deter-me tão longamente neste assunto. Vejo, de fato,


que estou chegando a um ponto onde se encontram dois caminhos e
com tristeza temo que os "Fragmentos de Verdade Oculta" mostrem
que o Espiritismo e o Ocultismo são incompatíveis. Sentiria de todo o
coração se acabásseis perdendo o vosso tempo e esforços em algo
que se mostra indemonstrável com base na a Verdade. Daí o meu
desejo de que isto seja esmiuçado.

De outra maneira eu o deixaria de lado com muito desprezo. Tal como


dizeis da Velha Dama (H.P.B.) "considerai somente as oportunidades
que tive para formar uma opinião".

Com os melhores desejos de meu coração.

Vosso sempre,

W. Staiton Moses
Carta Nº 091a

Recebida em Allahabad, no inverno, 1882/83.

O destinatário desta carta não é identificado, mas era, seguramente, o


Cel. Olcott; aliás, isso está indicado na Carta nº.103B. Muito desta carta
é obscuro; parece não haver maiores informações dos episódios aos
quais o Mahatma alude, embora eles envolvessem, pelo menos em
parte, a honestidade da Sra. Billings.

Leia o incluso de C.C.M.; apelai à vossa memória e então contai a


Sinnett toda a verdade sobre a mensagem que eu vos dei em Londres,
acerca das £ 100 na presença da senhora Billing e Upasika. Não vos
esqueceis de expor as condições sob as quais eu falei. Não deixeis
que H.P.B. veja a carta de C.C.M., mas devolvei-a para Allahabad, com
os vossos comentários.

K.H.
Carta Nº 091b

(8 de Janeiro de 1883)

Eu separei a carta de C.C.M. e a vossa e dei a primeira ao senhor


Olcott para responder. Deste modo a metade da "danosa" acusação foi
resolvida e explicada de uma maneira bastante natural. Pobre mulher!1
Absorvida intensa e incessantemente por um só pensamento no seu
trabalho, a CAUSA e a Sociedade, mesmo o seu descuido, falta de
memória, esquecimentos e distrações, são todos interpretados como
atos criminosos. Eu "absorvi" de novo a sua resposta para devolvê-la
com algumas palavras a mais de explicação que deveriam proceder de
mim.

A dedução do senhor Massey de que "a previsão do Adepto não estava


disponível" em diversos e notórios casos de fracasso teosófico é
apenas a reafirmação do velho erro de que a escolha de membros e
as ações dos Fundadores e Chelas estão controladas por nós! Isto tem
sido negado inúmeras vezes, e segundo creio, suficientemente
explicado para vós na minha carta de Darjeeling, mas os opositores se
aferram a suas teorias apesar de tudo. Nós não nos interessamos, nem
guiamos os acontecimentos geralmente, no entanto, examinai a série
de nomes que ele cita e vereis que cada homem foi um fator útil para
produzir o resultado final. Hurrychund atraiu o grupo para Bombaim,
embora eles tivessem se preparado para ir para Madras, o que teria
sido fatal naquele estágio do movimento Teosófico; Wimbridge e a srta.
Bates deram um caráter inglês ao grupo, o que foi muito bom desde o
primeiro momento, ao provocar um encarniçado assedio jornalístico
sobre os Fundadores, o que produziu uma reação; Dayanand imprimiu
ao movimento a marca da nacionalidade Ária, e por último o senhor
Hume, que já é o inimigo oculto da causa e pode chegar a sê-lo
declaradamente, ajudou-a muito pela sua influência a promoverá,
apesar de si mesmo, devido aos efeitos posteriores da sua deserção.
Em cada caso foi dada ao indivíduo traidor inimigo a sua oportunidade,
e se não fosse a sua falta de retidão moral, teria advido um incalculável
bem para o seu Karma Pessoal.
A senhora Billing é uma médium, e isso diz tudo. Afora isso, entre os
médiuns, ela é a mais honesta, se não a melhor. Teria visto o senhor
Massey a resposta que ela deu à senhora Simpson, a médium de
Boston, de que os assuntos em discussão, muito comprometedores,
não há dúvida, para a proftiza e vidente da Nova Inglaterra devem, ser
trazidos ao público como evidência da sua culpa? Por que - se é
honesta, não expôs a bem do público todos esses falsos médiuns,
poderíamos perguntar? Ela procurou advertir os seus amigos repetidas
vezes, e o resultado foi que os "amigos" se afastaram dela, e ela
mesma foi considerada como uma caluniadora, um "Judas". Ela tratou
assim de atuar, indiretamente, no caso da senhorita Cook (a mais
jovem): Pedi ao senhor Massey que recorde quais eram os seus
sentimentos em 1879, na época em que estava investigando os
fenômenos de materialização dessa senhorita, quando a senhora
Billing lhe disse com cautela e a senhora H.P.B. abertamente, que ele
estava confundindo um pedaço de musselinha branca com um
"espírito". No vosso mundo de maya e mudanças caleidoscópicas de
sentimentos, a verdade é um fruto raramente desejado no mercado;
ela tem as suas épocas, muito curtas. A mulher tem mais virtudes
genuinas e honestidade em seu dedo mindinho, do que muitos dos
nunca suspeitados médiuns em conjunto. Ela tem sido um membro leal
da Sociedade desde o momento em que ingressou, e sua casa em
Nova Iorque é um animado centro onde se reúnem os nossos teósofos.
Além disso, a sua lealdade é daquelas que lhe custou a perda da
consideração de muitos dos seus consultantes. Também ela pode
tornar-se traidora, a menos que seja vigiada por "Ski", precisamente
porque é uma médium, embora é improvável de que se torne, porque
ao mesmo tempo, é incapaz, tanto de uma falsidade como de um
engôdo, em seu estado normal.

Não posso dominar certo sentimento de repugnância ao entrar em


pormenores sobre este, aquele e outros fenômenos que possam ter
ocorrido. Eles são os brinquedos do noviço e se nós, às vezes,
satisfazemos a sede por eles (como no caso do senhor Olcott e, em
um grau menor, o vosso próprio, no princípio, pois que conhecíamos o
bom fruto espiritual que resultaria deles) não nos sentimos obrigados a
explicar continuamente as enganosas aparições, devidas a uma
mescla de descuido e credulidade, ou ao cego ceticismo, seja qual for
o caso. Por enquanto oferecemos o nosso conhecimento, ao menos
certas partes dele, para que seja aceito ou rechaçado, com base em
seus próprios méritos, com absoluta independência da fonte de onde
emane. Como recompensa, não pedimos nem a fidelidade, nem a
lealdade, nem mesmo a simples cortesia; mais ainda, preferimos que
não se nos ofereça nada disso, pois teríamos que declinar do amável
oferecimento. Nós temos em vista o bem de toda a associação de
fervorosos teósofos britânicos e pouco nos interessa as opiniões
individuais ou a consideração deste ou daquele membro. Nossos
quatro anos de experiência delinearam suficientemente o futuro das
melhores relações possíveis entre nós e os europeus, para nos tornar
ainda mais prudentes e menos dispostos a favores pessoais. É
suficiente pois, que eu diga que "Ski" nos serviu, mais de uma vez,
como correio e ainda como porta-voz para vários de nós, e que, no
caso a que alude o senhor Massey, a carta de "um Irmão Escocês" era
autêntica para ser entregue, e que, misteriosamente para ele, nós, o
Irmão "Escocês" incluido, categoricamente recusamos a sua entrega,
apesar dos pedidos fervorosos de Upasika para que fizessemos
algumas exceções a favor de C.C. Massey, o seu "melhor e mais
querido amigo", a quem ela queria e confiava, tão implicitamente, que
realmente oferceu-se para aceitar um ano a mais no seu grande e triste
exílio, e trabalhar afastada da sua meta final, se apenas
consentíssemos em satisfazê-lo com a nossa presença e
ensinamentos; mas, apesar de tudo isso, eu digo que não nos foi
permitido desperdiçar nossos poderes com tal liberalidade. Deixou-se,
pois, que Madame B.3 enviasse a carta por correio, ou se o preferisse,
por "Ski", pois M. lhe havia proibido que usasse os seus próprios meios
ocultos. Seguramente não se lhe pode atribuir qualquer crime, a menos
que uma absoluta e frenética devoção à uma grande Idéia e àqueles
que ela considera como os seus melhores e mais fieis amigos possa
agora ser-lhe imputada como uma ofensa. E agora espero que me
dispensais da necessidade de entrar em explicações detalhadas sobre
o famosos assuntos da carta Massey-Billing. Permitai-me somente
assinalar-vos qual é a impressão que faria a qualquer pessoa com uma
mente sem preconcitos, se lesse a carta do senhor Massey e a pobre
evidência que ela contém. (1) Nenhum médium inteligente, resolvido a
levar a cabo um plano para enganar, preparado previamente, teria a
estúpida idéia de produzir e colocar diante dele, com suas próprias
mãos, qualquer objeto (um livro de atas, o caso dela) no qual
aconteceria o fraudulento "fenômeno". Se ela tivesse sabido que "Ski"
havia colocado a carta dentro do livro, há 99 por cento de probabilidade
de que ela não o teria trazido pessoalmente para ele. Há mais de 20
anos que ela fez da mediunidade a sua profissão. Tivesse ela fraudado
e enganado em uma coisa, ela o teria feito em muitas. Passou
triunfante e incólume entre centenas de inimigos e mesmo de céticos
em meio às provas mais severas, produzindo os mais extraordinários
fenômenos mediúnicos. Seu esposo é o único que a acusa com provas
documentais de ser uma embusteira, ele que a arruinou para agora
desonrá-la. H.P.B. escreveu-lhe as mais enérgicas cartas de
reprovação e insistiu na sua expulsão da Sociedade. Ela a odeia. Para
que buscar mais motivos? (2) O senhor Massey é só um meio profeta
quando diz que supõe que "vos será dito que essas coisas foram
falsificações ocultas!" Não; a mensagem no reverso da carta do doutor
Wyld é da mão dela, como também a primeira parte da carta copiada
e agora citada por ele para o vosso benefício, a parte mais danosa em
sua opinião, mas, até onde posso ver, não há dano nisso, como já foi
explicado. Ela não deseja que ele saiba que utilizou "Ski", entidade na
qual sabia-se que ele não confiava, pois as imperfeições e pecados de
outros "Skis" foram atribuidos ao verdadeiro "Ski", sendo o senhor
Massey incapaz de distinguir um do outro. Em sua maneira solta e
descuidada, ela diz: "Que ele pense o que quiser, mas não deve
suspeitar que estivestes próxima dele com Ski aguardando as suas
ordens". Em consequência, a senhora B. "a hábil impostora"
endurecida e experimentada em fraudes" faz precisamente o que se
lhe pede com clareza que não faça, aproxima-se dele e lhe dá o próprio
livro onde Ski havia colocado a carta. Muito habilidoso na verdade! (3)
Ele argumenta que "mesmo sendo concebível de outra maneira (a
falsificação oculta), o conteúdo posterior da carta era inconsistente com
o suposto objetivo, pois trata da S.T. e dos Adeptos com tão evidente
devoção, etc." Pelo que vejo, o senhor Massey não faz diferença entre
um fraudador "oculto" e um comum, tal como deve ter conhecido na
sua prática legal. Um fraudador "oculto", um dugpa, teria falsificado a
carta precisamente desse modo. Nunca se tornaria culpado por se
deixar levar por seu rancor pessoal, a ponto de retirar da carta a sua
característica mais brilhante. Não mostraria a S.T. como uma
"superestrutura em cima de uma fraude", e que é "justamente a
impressão oposta" que é a sua coroa. Digo é, pois a metade da carta
é uma falsificação e de caráter muito oculto. O senhor Massey pode
talvez acreditar em mim pois não é esta parte que lhe diz respeito que
é negado (tudo, com exceção das palavras "misterioso" e "um lugar
ainda mais misterioso") e sim, "a última parte", aquela mesma que o
próprio Billing admitiu relutantemente, que "dava impressão oposta".
"L.L." não é alguém vivo ou morto. Com certeza não é o Lord Lindsay,
pois ele não era conhecido de H.P.B., nem ela tinha e jamais teve algo
a ver com o seu título, desde então. Essa parte exibe tanto em si a
marca de uma fraude desajeitada que poderia ter enganado só aquele
cuja mente já estivesse propensa a ver a fraude na senhora Billing e
em seu "Ski". Termino e podeis mostrar esta carta ao vosso amigo, o
senhor Massey. Qualquer que seja a sua impressão sobre mim ou
sobre os Irmãos, isso não pode de nenhuma maneira influir nos
prometidos "ensinamentos" por meio da vossa amistosa intervenção.

Seu,

K.H.
Carta Nº 092

(23 de novembro de 1882)

O conteúdo da Carta nº.96 foi discutido nas notas à Carta nº.83 (CM-
125).

P.S. Pode acontecer que, para nossos propósitos, deixemos tranquilos


os médiuns e os seus cascões, livres não só para personificar os
"Irmãos" mas mesmo para falsificar nossa escrita. Tende isso em conta
e ficai preparado para isso, em Londres. A menos que a mensagem ou
comunicação, ou o que seja, esteja precedido pelas três palavras "Kin-
t-an, Na-lan-da, Dha-ra-ni" saibai que não sou eu e que não procede
de mim.

K.H.
Carta Nº 093

Recebida em Londres, 1883/84.

Para se compreender esta carta, é necessário retroceder à Carta nº.12


(CM-6). Os Sinnetts foram para a Inglaterra em 1881e, enquanto eles
estavam lá, "O Mundo Oculto" foi publicado. Antes de deixar a Índia, o
Mahatma K.H. disse a Sinnett para citar o que quisesse em seu livro; o
Mahatma tinha plena confiança em seu discernimento e julgamento.
Portanto, Sinnett citou de uma das cartas, a de número 12, a passagem
que começa "Platão estava certo, as idéias regem o mundo..."

Após a publicação do livro, aconteceu que, nos Estados Unidos, um


espírita chamado Henry Kiddle havia dado uma palestra numa reunião
de espíritas em Lake Pleasant, New York. Ele reclamou que a
passagem acima do "O Mundo Oculto" plagiava alguns comentários
que ele fez em sua palestra. Ele primeiro escreveu para Sinnett, assim
alegou, através do seu editor. É possível que esta carta não foi
recebida. Kiddle escreveu, então, para Staiton Moses (M.A. Oxon),
editor de "Light", o órgão espírita inglês, afirmando que a passagem
impressa no "O Mundo Oculto" foi transcrita literalmente de sua
palestra em Lake Pleasant. A sua carta foi publicada no número de 1º.
de setembro de 1883 daquele órgão. Nessa ocasião, os Sinnetts
estavam estabelecidos na Inglaterra. Sinnett respondeu imediatamente
a essa carta. Uma correspondência muito extensa resultou de tudo isso
(que veio a ser chamado de "Episódio Kiddle").

Por algum tempo o Mahatma não se incomodou em responder às


acusações de plágio, certamente dando pouca importância ao assunto.
Mas, vendo quão aflito estava Sinnett com toda a questão, ele resolveu
escrever. A Carta nº.117 contém essa explicação.

Meu bom e fiel amigo:

Nunca se daria a explicação aqui contida se eu não tivesse me dado


conta, ultimamente, de quão perturbado estáveis sobre a questão dos
"plágios", durante a vossa conversação com alguns amigos,
particularmente com C.C.M. Especialmente agora, que recebi a vossa
última carta, na qual mencionais com tanta delicadeza "esse
desagradável e pequeno episódio Kiddle", manter a verdade fora de
vosso conhecimento seria uma crueldade; no entanto, comunicá-la ao
mundo dos espíritas preconceituosos e malignamente predispostos,
seria uma loucura consumada. Portanto, devemos chegar a um acordo;
devo colocar aos dois, a vós e ao senhor Ward, que compartilhada
minha confiança, sob a promessa de que nunca explicarão a partir de
agora a nenhuma pessoa, sem permissão especial minha, os fatos aqui
expostos, nem sequer a M.A. Oxon e a C.C. Massey, inclusive, por
razões que mencionarei a seguir e que compreendereis prontamente.
Caso um deles insista, devereis responder, simplesmente, que o
"mistério psicológico" foi esclarecido para vós e algumas outras
pessoas; e, SE se mostra satisfeito podeis acrescentar que "as
passagens paralelas" não podem ser chamadas de plágio ou coisa
parecida. Dou-vos carta branca para dizer o que quiserdes, até mesmo
a razão pela qual prefiro manter os verdadeiros fatos fora do
conhecimento do público em geral e da maioria dos membros de
Londres; tudo, menos os detalhes que só vós e uns poucos
conhecerão. Como percebereis, nem vos obrigo a defender minha
reputação, a menos que vos sintais por completo satisfeito, e vós
mesmo tiverdes compreendido bem a explicação. E agora posso vos
dizer porque prefiro ser considerado pelos vossos amigos como um
feio "plagiador".

Já que fui chamado repetidas vezes de "sofista", um "mito" "uma


senhora Harris" e uma "inteligencia inferior" pelos inimigos, prefiro não
ser considerado como um deliberado enganador e um mentiroso por
falsos amigos; quero dizer, por aqueles que me aceitariam com
relutância, ainda que eu me elevasse em sua estima até seus próprios
ideais, em vez do contrário, como acontece agora. Pessoalmente me
sinto naturalmente, indiferente quanto ao assunto. Mas para o vosso
bem e o da Sociedade, posso fazer outro esforço para afastar do
horizonte uma das suas nuvens mais "escuras". Recapitulemos a
situação e vejamos o que dizem dela os vossos sábios ocidentais.
"K.H., decididamente, é um plagiário, podendo ser, afinal um problema
de K.H. e não dos "dois Humorisas Ocidentais". "No primeiro caso, um
pretenso "Adepto", incapaz de tirar de seu "pequeno cérebro oriental"
qualquer idéia ou palavras dignas de Platão, valeu-se desse amplo
reservatório de profunda filosofia que se chama O Estandarte da Luz e
extraiu daí as frases que melhor se prestavam para expressar suas
embrulhadas idéias, frases que caíram dos inspirados lábios do senhor
Henry Kiddle! Na outra alternativa, o caso se torna ainda mais difícil de
compreender, salvo pela teoria da mediunidade irresponsável do par
de palhaços ocidentais. Conquanto assombrosa e impraticável que
fosse a teoria de que duas pessoas, que tem sido bastante astutas para
levar a cabo durante cinco anos, sem ser descobertos, a fraude de
personificar a vários Adeptos, nenhum dos quais se assemelha ao
outro; duas pessoas das quais, uma pelo menos é um bom conhecedor
do idioma inglês e de quem não poderia suspeitar-se pobreza de idéias
originais, se valessem um pouco do plágio de uma revista como O
Estandarte, amplamente conhecida e lida pela maioria das pessoas de
fala inglesa que se interessam pelo espiritismo; acima de tudo, para
surripiar as frases emprestadas do discurso de um novo e proeminente
convertido, cujas declarações públicas eram nesse preciso momento
lidas e acolhidas por todo médium e espírita; por mais improvável que
tudo isso e muito mais possa parecer, entretanto, qualquer alternativa
parece ser melhor recebida que a simples verdade. A sentença foi
pronunciada: "K.H.", ou seja quem for, aproximou-se de trechos do
senhor Kiddle. E não só isso, mas como foi indicado por "um leitor
perplexo", ele omitiu palavras inconvenientes e desfigurou de tal
maneira as idéias tomadas de empréstimo a ponto de afastá-las de seu
sentido original para ajustá-las ao seu propósito próprio e "muito
diferente".

Bem, quanto a isso, se eu tivesse qualquer desejo de discutir a


questão, eu poderia responder que, no que se refere ao plágio, como
empréstimo de idéias, mais do que de palavras ou frases, nada houve
de fato, e considero-me absolvido pelos meus próprios acusadores.
Como disse Milton "esta espécie de apropriação, se não é melhorada
por aquele que dela se apropria, é considerada como sendo plágio."
Tendo desfigurado as idéias "apropriadas" e, como agora estão
publicadas, desviadas de seu sentido original para ajustá-las ao meu
próprio "propósito, muito diferente", nesse caso a minha pilhagem
literária não parece bastante respeitável, afinal de contas? E mesmo
que não houvesse outra explicação a tudo isso, o máximo que se
poderia dizer é que, devido à pobreza de palavras à disposição do
correspondente do senhor Sinnett e à sua ignorância da arte de
composição inglesa, ele adaptou algumas das efusões singelas do
senhor Kiddle, algumas de suas frases excelentemente construídas,
para expressar as suas próprias idéias contrárias. Esta é a única
argumentação que apresentei e permiti ser usada em um editorial pela
"talentosa editora" do Teosofista, que está fora de si desde que esta
acusação foi feita. Na verdade, a mulher é uma temível calamidade
nesta Quinta Raça! Entretanto, para vós e alguns poucos, aos quais
tendes a permissão de escolher entre os vossos mais confiáveis
teosofistas, dos quais tomareis de início o cuidado de fazê-los prometer
sob palavra de honra, em guardar a pequena revelação para si
mesmos, eu explicarei agora os fatos reais deste mistério psicológico
"muito enigmático". A solução é tão simples e as circunstâncias tão
divertidas, que confesso que ri quando a minha atenção foi atraída para
ele, há algum tempo. Na verdade, a tendência é fazer-me sorrir,
mesmo agora, não fosse saber da dor que ocasiona a alguns
verdadeiros amigos.

A carta em questão foi concebida por mim enquanto fazia uma viagem
a cavalo. Ditei-a mentalmente e a "precipitei" na direção de um chela
que ainda não era um perito nesta espécie de química psíquica e, que
teve de transcrevê-la de caracteres muito pouco visíveis. Portanto, o
"artista" omitiu metade dela e a outra metade ele a desfigurou mais ou
menos. Quando me perguntou na ocasião se eu a revisaria e corrigiria,
respondi imprudentemente, confesso: "de qualquer modo servirá, meu
filho; não é de muita importância se você omite certas palavras". Eu
estava cansado fisicamente depois de cavalgar por 48 horas seguidas,
e (fisicamente também) semi adormecido. Tinha ademais assuntos
mais importantes que atender psiquicamente, e portanto restava muito
pouco de mim mesmo para poder prestar atenção a essa carta. Já
estava condenada, suponho. Quando despertei, verifiquei que já havia
sido enviada, e como então eu não previa a sua publicação, não lhe
dei a menor atenção desde esse momento. Pois bem; eu não havia
nunca evocado a fisionomia epiritual do senhor Kiddle, nunca havia
sabido de sua existência e nem conhecia o seu nome. Tendo me
sentido interessado, devido a nossa correspondência e aos vossos
vizinhos e amigos de Simla, pelo progresso intelectual dos
Fenomenalistas, progresso que, a propósito, encontrei mais movendo-
se para trás, no caso dos espíritas americanos, dirigi a minha atenção,
dois mêses antes, ao grande acampamento anual do movimento
destes últimos, em vários lugares, entre outros no do Lago ou Monte
Pleasant. Algumas das idéias e frases curiosas, representativas das
esperanças e aspirações em geral dos espíritas americanos, ficaram
impressas na minha memória e apenas recordei essas idéias e frases
soltas, alheio por completo às personalidades que as tinham em sua
mente ou que as pronunciaram. Daí a minha total ignorância sobre a
existência do conferencista a quem defraudei de maneira inocente,
como se concluiria e que levanta agora um clamor público. Entretanto,
tivesse eu ditado a carta na forma que aparece agora impressa,
certamente pareceria suspeitosa e, conquanto longe do que
geralmente se denomina plágio, mas devido a ausência de quaisquer
aspas, pode dar origem à censura. Mas não fiz nada disso, como o
texto original agora diante de mim mostra com clareza. E antes de
prosseguir, devo vos dar uma explicação sobre este método de
precipitação. As recentes experiências da Sociedade de Pesquisas
Psíquicas vos ajudarão muito a compreender a base racional desta
"telegrafia mental". Observastes na Revista dessa sociedade como a
transferência do pensamento tem efeitos acumulativos. A imagem da
figura geométrica ou de outra qualquer que ficou impressa no cérebro
ativo, é impressa gradualmente no cérebro do sujeito passivo, como se
pode notar na sequência de ilustrações reproduzidas na revista. São
necessários dois fatores para produzir uma telegrafia mental perfeita e
instantânea: concentração fixa no operador e completa passividade
receptiva no indivíduo "leitor". Se se produz uma perturbação em
qualquer um dos dois, o resultado será proporcionalmente imperfeito.
O "leitor" não vê a imagem como ela ocorre no cérebro do "telegrafista",
mas sim, como ela surge no seu. Quando os pensamentos do último
vagueiam, a corrente psíquica se rompe e a comunicação fica
desarticulada e incoerente. Num caso como o meu, o chela tinha, por
assim dizer, que recolher o que pudesse da corrente que eu estava lhe
enviando, como indicado acima, e encadear os pedaços incompletos,
o melhor que pudesse. Não vêdes a mesma coisa no mesmerismo
comum: o maya impresso sobre a imaginação do sujeito pelo operador,
se mantém, ora mais forte, ora mais fraca, à medida que o operador
mantém a imagem ilusória mais ou menos forte, diannte da sua prórpia
imaginação? E quão frequentemente os clarividentes acusam o
magnetizador de afastar os seus pensamentos do sujeito sob exame!
E o curador mesmérico sempre vos declarará que se pensar em algo
que não seja a corrente vital que está canalizando para o seu paciente,
ele, de imediato se vê obrigado a restabelecê-la ou a abandonar o
tratamento. E assim eu, neste caso, tendo naquele momento de modo
mais vívido, em minha mente o diagnóstico psíquico do pensamento
espírita comum, do qual a conferência do Lago Pleasant era um
exemplo bem nítido, transferi inconscientemente aquela recordação
mais nitidamente que as minhas próprias observações sobre a mesma
e as minhas deduções tiradas de tudo isso. Ou seja, as declarações do
senhor Kiddle, a "despojada vítima", ficaram mais focalizadas e foram
fotografadas mais vivamente (primeiro no cérebro do chela e daí no
papel que tinha diante de si, um processo duplo e muito mais difícil que
a simples "leitura do pensamento"), tal como agora vejo, estão
dificilmente visíveis e bastante distorcidas nos fragmentos originais que
tenho diante de mim. Ponde entre as mãos de um sujeito mesmerizado
uma folha de papel em branco, diga-lhe que contém um certo capítulo
de algum livro que tenhais lido, concentrai os vossos pensamentos
sobre as palavras e vêde como, desde que o sujeito mesmo não leu o
capítulo mas só o retira da vossa memória, a sua leitura refletirá as
vossas recordações sucessivas, de uma maneira mais ou menos
nítidas, da linguagem do vosso autor. O mesmo quanto à precipitação,
pelo chela, dos pensamentos transferidos sobre (ou melhor dito dentro)
do papel: se a imagem mental recebida for débil, a sua reprodução
visível também o será. E mais o será na proporção do rigor de atenção
que ele prestar. Se fosse simplesmente uma pessoa de um verdadeiro
temperamento mediúnico, poderia ser empregado pelo seu "Mestre"
como uma espécie de máquina psíquica de imprimir, produzindo
impressões litografadas ou psicografadas do que o operador tenha na
sua mente, sendo a máquina o seu sistema nervoso, a sua aura
nervosa, o fluido que imprime; as cores seriam retiradas desse
inexaurível depósito de pigmentos (como de tudo o mais), o Akasa.
Mas o médium e o chela são diametralmente diferentes, e o último atua
conscientemente, exceto sob circunstâncias excepcionais durante o
seu desenvolvimento, o que não é necessário tratar aqui.

Bem, logo que me interei da acusação, pois a comoção entre os meus


defensores alcançou-me através das neves eternas, ordenei uma
investigação nos restos que ficaram da impressão. Imediatamente me
dei conta de que era eu a única parte bastante culpável, sendo que o
pobre rapaz só tinha feito o que lhe fôra pedido. Tenho restaurado
agora, em sua primitiva cor e lugares, os caracteres e as linhas,
omitidas e borradas, a ponto de não poderem ser reconhecidas por
outra pessoa que não fosse o seu elaborador original, vejo que agora
a minha carta se lê de uma maneira muito diferente, como observareis.
Voltando ao Mundo Oculto, o exemplar que me enviastes, na página
citada (a página 149 da primeira edição), após uma leitura cuidadosa,
me surpreendi com a grande discrepância entre as frases. Uma lacuna,
por assim dizer, de idéias, entre a primeira parte (da linha 1 a linha 25)
e a segunda parte, a chamada parte plagiada. Parece não haver
conexão alguma entre as duas; em que, de fato, tem a ver a
determinação de nossos Chefes (de provar a um mundo cético que os
fenômenos físicos são tão reduzíveis à lei como qualquer outra coisa)
com as idéias de Platão que "regem o mundo" ou com a "Fraternidade
prática da Humanidade"? Temo que é só a vossa amizade pessoal com
o escritor que vos cegou, ainda até agora, a respeito da discrepância e
da desconexão de idéias nesta abortiva "precipitação". De outra
maneira não poderieis ter deixado de notar que algo estava errado
nessa página; que havia um defeito óbvio em sua conexão. Além disso,
tenho que me declarar culpado de outra falta: não tenho sequer olhado
as minhas cartas já impressas, até o dia da investigação inevitável. Só
havia lido a vossa própria escrita original, considerando que era uma
perda de tempo examinar os apressados fragmentos de meu
pensamento. Mas agora tenho que vos pedir que leiais as passagens
como foram originalmente ditadas por mim, e que façais aí a
comparação com o Mundo Oculto.

Desta vez as transcrevo com minha própria letra, pois a carta que
possuis foi escrita por um chela. Peço-vos também que compareis esta
caligrafia com a de algumas das primeiras cartas que recebestes de
mim. Recordai também a enfática negativa da "Velha Dama" em Simla,
de que a minha primeira carta tinha sido escrita por mim mesmo. Senti-
me molestado por sua murmuração e comentários naquela ocasião;
agora pode ser útil para alguma coisa. Ah! Sem dúvida que todos nós
somos "deuses"; especialmente quando recordais que, desde os
florescentes dias das "impressões" e "precipitações", "K.H." surgiu em
uma luz nova e mais elevada, e mesmo esta, de forma alguma, é a
mais brilhante que pode ser atingida nesta terra. Na verdade, a Luz da
Onisciência e Infalível Previsão nesta Terra, que somente brilha para o
mais elevado CHOHAN, exclusivamente, ainda está bastante distante
de mim!

Incluo a cópia verbatin (literal) dos fragmentos restaurados, grifando


em vermelho as frases omitidas para uma comparação mais fácil.

(Página 149, Primeira Edição)

...elementos fenomenais não imaginados anteriormente...revelarão


finalmente os segredos de seu misterioso funcionamento. Platão tinha
razão ao readmitir cada elemento de especulação que Sócrates havia
descartado. Os problemas do ser universal não são inatingíveis nem
sem valor, caso sejam atingidos. Mas estes só podem ser resolvidos,
mediante o domínio desses elementos que estão agora assomando no
horizonte do profano. Mesmo os Espíritas, com os seus pontos de vista
e idéias grotescamente deturpadas, estão percebendo vagamente a
nova situação. Profetizam, e suas profecias não estão de todo
desprovidas de alguma ponta de verdade, de uma pré-visão intuicional,
por assim dizer. Ouvir alguns deles afirmando o velho, muito velho
axioma de que "as idéias regem o mundo"; e à medida que as mentes
dos homens recebam novas idéias, deixando de lado as velhas e
superadas, o mundo avançará; poderosas revoluções surgirão delas,
instituições (sim, e até credos e potencias, podem eles acrescentar),
se desintegrarão antes que a sua marcha para a frente seja esmagada
por suas próprias forças internas, e não pela força irresistível das
"nossas idéias" oferecidas pelos espíritas! Sim; eles estão igualmente
certos e errados Seguramente será tão impossível resisitir à influência
delas quando a época chegar, quanto deter o progresso da maré. Mas
o que os espíritas falham em perceber, eu vejo, e seus "Espíritos" em
explicar, (não sabendo os últimos mais do que podem encontrar nos
cérebros dos primeiros), é que tudo isso chegará gradualmente e que
antes que chegue, eles (os espíritas), como também nós, temos todos
um dever a cumprir, uma tarefa colocada diante de nós: a de varrer,
tanto quanto possível, as escórias que nos legaram os nossos
piedosos antepassados. Novas idéias tem que ser plantadas em
lugares limpos, pois essas idéias tocam assuntos da mais alta
importância. Não são os fenômenos físicos1, nem a doutrina chamada
de Espiritismo, mas essas idéias universais, e que temos precisamente
de estudar; o noumeno e não o fenômeno, pois, para compreender o
ÚLTIMO temos que compreender antes o PRIMEIRO. Os Espíritas
abordaram, sem dúvida, a verdadeira posição do homem no Universo,
mas só em relação aos seus FUTUROS nascimentos, não aos
ANTERIORES. Não são os fenômenos físicos, por mais
extraordinários, que poderiam explicar ao homem a sua origem e muito
menos o seu destino final, ou, como um deles se expressa, a relação
do mortal com o imortal, do temporal com o eterno, do finito com o
Infinito, etc., etc. Eles falam muito loquazmente do que consideram
novas idéias "mais amplas", mais gerais, maiores, mais abrangentes e,
ao memo tempo, reconheceem, em vez do reino eterno da lei imutável,
o reino universal da lei como expressão de uma vontade divina (!)
Esquecidos das suas primeiras crenças e de que "o Senhor se
arrependeu de ter feito o Homem", estes presuntivos filósofos e
reformadores quiseram inculcar nos seus ouvintes que a expressão
dessa Vontade divina não muda e não pode mudar, "em relação à qual
há um só ETERNO AGORA, enquanto que para os mortais (os não
iniciados?) o tempo é passado ou futuro no que se relaciona com a sua
existência finita neste plano material (do qual eles conhecem tão pouco
quanto de suas esferas espirituais) um grão de pó, em que eles
transformaram estas últimas, a semelhança da nossa terra, uma vida
futura que o verdadeiro filósofo mais evitaria do que buscaria. Mas eu
sonho com os meus olhos abertos...E de qualquer maneira, estes não
são ensinamentos exclusivos, próprios deles. A maioria dessas idéias
foram tiradas fragmentariamente de PLatão e dos Filósofos
Alexandrinos... É o que todos nós estudamos e o que muitos
solucionaram...etc., etc.

Esta é a verdadeira cópia do documento original como foi agora


restaurado, "Pedra de Rosetta" do espisódio Kiddle. E agora, se
compreendestes as minhas explicações sobre o processo, tal como
foram dadas em algumas palavras mais acima, não necessitáveis
perguntar-me como sucedeu que as frases transcritas pela chela,
embora algo desconexas, são em sua maioria aquelas que agora se
consideram como plagiadas, enquanto que os "elos perdidos" são
precisamente aquelas frases que teriam mostrado que as passagens
eram simplesmente remanescências, senão citações - a nota chave
em torno da qual vieram a se agrupar as minhas próprias reflexões
naquela manhã. Naqueles dias ainda hesitáveis em ver o Ocultismo,
ou os fenômenos da "Velha Dama" (H.P.B.), algo mais do que uma
variedade do Espiritismo ou mediunismo. Pela primeira vez em minha
vida prestei uma séria atenção às expressões dos "ambientes"
proféticos, da denominada oratória "inspirada" dos conferencistas
ingleses e americanos, às suas qualidades e limitações. Fiquei
impressionado com toda esta verbosidade brilhante, mas vazia, e me
dei conta pela primeira vez, de toda a sua perniciosa tendência
intelectual. M. conhecia tudo acerca deles, mas dado que eu nunca me
relacionara com qualquer um deles, interessaram-me muito pouco. Foi
o seu materialismo grosseiro e insípido, toscamente escondido atrás
da sombra de seu véu espiritual, que atraiu, então, os meus
pensamentos. E enquanto ditava as frases citadas (uma pequena parte
das muitas que estivera considerando por alguns dias) essas idéias e
que se projetaram mais em relevo, enquanto as minhas próprias
observações entre parentesis desapareciam na "precipitação". Tivesse
eu olhado sobre o negativo impresso (?) teria havido mais uma arma
quebrada na mão do inimigo. Tendo descuidado desta obrigação, meu
Karma atuou, produzindo o que os médiuns do futuro e O Estandarte
podem chamar do "triunfo Kiddle". As eras futuras dividirão a
Sociedade, à maneira de vossos Baconianos Shakesperianos
modernos, nos dois campos dos partidários em disputa, chamados
respectivamente de "Kiddlerianos" e os "Kuthumistas", que lutarão pelo
importante problema literário: quem dos dois plagiou o outro? "Podem
me dizer que, enquanto isso, os espíritas americanos e ingleses se
regozijam com Sedan14 "Sinnett-K.H.". Que eles e o seu grande orador
e campeão desfrutem seu triunfo em paz e felicidade, pois nenhum
"Adepto" lançará a sua himalayca sombra para obscurecer a inocente
felicidade deles. A vós e a alguns outros verdadeiros amigos, sinto que
é o meu dever dar uma explicação. A todos os demais deixo o direito
de considerar o senhor Kiddle, seja ele quem for, como o inspirador do
vosso humilde servidor. Já terminei, e podereis fazer o que quiserdes
com estes fatos, exceto usá-los impressos, ou ainda falar deles com os
oponentes, salvo em termos gerais. Deveis compreender as minhas
razões para isso. Meu querido amigo, ninguém cessa de ser
inteiramente um homem, nem perde a sua dignidade por ser um
Adepto. Não há dúvida que nesta última condição, a pessoa
permanece em qualquer caso totalmente indiferente à opinião do
mundo externo. O primeiro sempre estabelece um nexo entre as
suposições ignorantes e o insulto pessoal, deliberado. Não se pode
esperar que eu me escude por trás do primeiro para estar sempre
escondendo o problemático "Adepto" por trás do manto dos dois
supostos "humoristas"; e como homem, tive ultimamente demasiadas
experiências em insultos como os citados acima com os senhores S.
Moses e C.C. Massey, para lhes dar quaisquer outras oportunidades
de duvidar da palavra de "K.H.", ou de ver nele um vulgar réu, algo
assim como um Babu embusteiro e culpado diante de jurados e juiz
europeus severos.

Não tenho tempo agora para responder amplamente a vossa última e


longa carta de negócios, mas o farei em breve. Nem respondo ao
senhor Ward, pois que é inútil. Aprovo completamente a vossa vinda à
Índia, mas desaprovo, também, por completo, a vossa idéia de trazer
para cá o C.C. Massey. O resultado deste último seria danificar a causa
entre os ingleses. A desconfiança e os preconceitos são contagiosos.
A sua presença em Calcutá seria tão desastrosa, como benéfica e
geradora de bons efeitos seria a presença do senhor Ward e seus
serviços para a causa pela qual vivo. Mas insistiria que passe algum
tempo na Sede Central, antes que empreenda o trabalho a que se
propôs entre os oficiais.

É certamente muito lisongeiro saber por ele que a senhora K.16 "tem
tentado o melhor que possa para me encontrar em um ou mais dos
seus transes" e muito triste saber que "embora ela tivesse me invocado
com toda a sua determinação espiritual - ela não obteve resposta". É
muito ruim, realmente, que essa "gentil dama" tenha se dado ao
trabalho de buscar esterilmente através do espaço a minha
insignificante pessoa. Evidentemente, movemos-nos em "círculos
astrais diferentes e o caso dela não é o primeiro exemplo de pessoas
que se tornaram céticas acerca da existência de coisas fora do próprio
meio. Existem, como sabeis, "Alpes sobre os Alpes", e de dois picos
diferentes não se vê o mesmo problema. Entretanto, é como vos disse,
lisongeiro encontrá-la invocando-me pelo meu nome, enquanto
preparava para mim e os meus colegas um desastroso Waterloo. Para
dizer a verdade, eu não estava consciente do primeiro, embora
dolorosamente do segundo. Entretanto, mesmo que o triste plano não
tivesse entrado em sua mente espiritual, eu não penso, para ser
honesto, que pudesse ter respondido, nalgum momento, ao seu
chamado. Como o diria um espírita americano: parece haver muito
pouca afinidade entre as nossas duas naturezas. Para mim ela é muito
arrogante e imperiosa, demasiado enfatuada; além disso, é muito
jovem e "fascinante" para um pobre mortal como eu. Falando
seriamente, senhora Gebhard é outro tipo de pessoa muito diferente.
Ela é de uma natureza genuinamente sincera; uma ocultista nata em
suas intuições, e eu fiz algumas experiências com ela, embora isso
seja mais uma tarefa de M. do que minha e porque, como dirieis, não
fui encarregado de início com a tarefa de conhecer todas as sílabas e
sereias do sistema Teosófico. As minhas próprias preferências me
inclinam a me manter no lado mais seguro dos sois sexos em meus
contatos ocultos com eles, embora por certas razões, mesmo essas
visistas, fisicamente, devem ser extremamente restritas e limitadas.
Anexo um telegrama do senhor Brown à "Velha Dama". Em uma
semana estarei em Madras, de Singapura, Ceilão e Birmania. Irei vos
responder por intermédio de um dos chelas da Sede Central.

A pobre "Velha Dama" em desgraça? Oh! meu caro, não! Nada temos
contra a velha senhora, a não ser o fato de que ela é assim. Para evitar
que sejamos insultados, como ela o chama, está disposta a dar os
nossos endereços verdadeiros e assim produzir uma catástrofe. A
verdadeira razão é que a desventurada criatura se viu muito
comprometida e insultada muito amargamente, devido à nossa
existência. Tudo cai sobre ela e portanto, é muito justo que seja
resguardada nalgumas coisas.
Sim; se possível, gostaria de vê-lo, Presidente. A não ser que seja
permitido pelo Chohan20 (que lhe envia as suas bençãos) a atuar em
outro nível quanto a negócios, isto é, psicologicamente, eu renuncio a
acreditar no renascimento do Phoenix, contando com a boa vontade
de meus compatriotas. Os sentimentos entre as duas raças estão
agora intensamente amargos, e qualquer coisa que os indianos
empreendam agora, é seguro que terá a oposição sem tréguas dos
europeus na Índia. Vamos deixá-lo por algum tempo. Responderei as
vossas perguntas na minha próxima carta. Se encontrardes tempo para
escrever para o Theosophist, e se puderdes induzir a alguém mais a
fazê-lo, como o senhor Myers, por exemplo, vos agradecerei
pessoalmente. Estais equivocado ao desconfiar dos escritos de Subba
Row. Não escreveu intencionalmente, é certo, mas nunca faria uma
afirmação falsa. Vejai o seu último artigo no número de novembro. A
sua afirmação a respeito dos erros do general Cunnigham deveria ser
considerada como uma completa revelação conduzindo à uma
revolução na arqueologia indiana. Certeza quase total de que nunca
receberá a atenção que merece. Por que? Simplesmente porque as
suas afirmações contêm fatos verdadeiros, e o que vós, os europeus
preferem em geral, são as ficções, desde que elas se ajustem às
teorias preconcebidas, e a elas respondam.

K.H.

Quanto mais penso nisso, mais razoável parece-me o vosso plano de


uma Sociedade dentro da Sociedade de Londres. Tentai, pois pode ser
que algo saia disso.
Carta Nº 094

(Em Abril de 1884)

Na carta mais longa do Mahatma, dando explicação sobre o episódio


Kiddle (Carta nº.117 - CM-93), ele disse a Sinnett que poderia fazer
qualquer uso que desejasse da mesma, exceto publicá-la ou
compartilhá-la com outros.

O número de dezembro de 1883 do "The Theosophist" trouxe artigos


sobre o assunto pelo General Morgan, Dharani Dhux e Subba Row,
que, diz o Mahatma em sua carta, foram publicados com sua
permissão.

Na 4ª. edição inglesa do "O Mundo Oculto" (1884), Sinnett, explicando


o episódio Kiddle, menciona estes artigos e acresenta: "Um mês ou
dois após o aparecimento destas alusões fragmentárias, eu recebi uma
nota do Mahatma liberando-me de todas as restrições impostas
anteriormente na totalidade da carta explicatória que ele mandara".
Esta é a carta que remove aquelas restrições.
Meu querido amigo:

Em meio a vários e árduos trabalhos que foi grato ao Venerável


Chohan1 me confiar, eu tinha esquecido por completo "o episódio
Kiddle". Tendes a minha explicação. Ao vos pedir para que
guardásseis o segredo, só quiz dizer que retivésseis certos detalhes
aos quais os vossos e os meus oponentes, em sua ignorância do
processo científico, fariam objeções e tomariam como pretexto para
ridicularizar as ciências ocultas, para finalmente me acusarem de
grosseiras mentiras e a vós de credulidade, ou de "culto dos heróis",
como assim o expressa a ninfa de cabelos de ouro do Vicariato. Mas,
se estais preparado para resistir ao fogo da furiosa negação e da crítica
adversa, façais da minha carta e explicações o melhor uso que
puderdes. As diversas cartas e artigos publicados com a minha
permissão, nos últimos números do "Teosofista", pelo general Morgan,
Subba Row e Dharani Dhar, podem aplainar o vosso caminho. Eu não
desejo que a "propagação da Teosofia" seja obstaculizada por minha
culpa, para salvar o meu nome de alguns golpes a mais.

Seu apressadamente,

K.H.

Carta Nº 095

(Maio de 1882)

Veja Notas à Carta nº.61.

Esta carta está em duas folhas de papel diferente, em tinta azul fosca.
A primeira folha, em papel encorpado dobrado, traz o timbre "Governo
das Províncias de Noroeste e de Oudh", (o Sr. Hume tinha sido antes
Oficial Distrital das Províncias do Noroeste). A segunda folha é fina,
trazendo o timbre "The Pioneer, Allahabad". Como a questão do
transporte de papel escrito por meios ocultos foi levantada por Sinnett
na pergunta que se segue à Pergunta e Resposta nº.5, surge a
suposição de que K.H., tinha retirado uma folha de papel, igualmente
de Sinnett e de Hume, para nelas escrever este texto de Apêndice,
talvez exatamente para mostrar quão fácil era fazer isso.

de infâmia! Farei o melhor que puder para convertê-lo em vegetariano


e abstêmio. Abstinência total de carne e bebidas alcoólicas foi muito
sabiamente prescrita pelo senhor Hume, se ele quer obter bons
resultados. Em boas mãos, E.4 fará um imenso bem à S.T. na Índia,
mas, para isso, terá que passar por um treinamento de purificação. M.
teve que prepará-lo antes de sua partida durante seis semanas, pois
de outro modo teria sido impossível para mim projetar na sua
atmosfera, mesmo a imagem de meu "duplo". Já vos disse, meu
querido amigo, que o que ele viu não era eu. Nem eu poderia projetar
para vós essa imagem, a menos que ele esteja completamente
purificado. Portanto, do modo como estão as coisas, não tenho uma só
palavra a dizer contra as condições do senhor Hume, tal como foram
expressadas em sua última carta "oficial", exceto felicitar-lhe com todo
o meu coração. Pela mesma razão me é impossível responder a ele e
às suas perguntas agora. Que ele tenha paciência no assunto de
Eglington. Estão em andamento conspirações muito sujas que
germinam em Londres, entre os espíritas, e não estou completamente
seguro de que E. resistirá à maré que ameaça submergí-lo, a menos
que eles obtenham dele uma retratação parcial. Nós nos afastamos da
nossa política e se fez com ele uma experiência no "Vega" somente
em benefício de alguns teósofos anglo-hindús. O senhor Hume havia
expressado a sua promessa de que mesmo os "espíritos" de E. não
tivessem algum conhecimento a nosso respeito, e que apesar do
interesse que temos pela causa, não teríamos nos mostrado, mesmo
a ele. Por outro lado, os espíritas de Calcutá e a senhora Gordon com
eles, sentiram-se triunfantes e o coronel G. os seguiu. Os "queridos
desencarnados", durante o curto período de estadia de Eglington em
Calcutá, estavam em uma aura de santidade, e os "Irmãos, mais
exatamente em baixa na estima pública. Muitos de vós pensaram que
se aparecêssemos para Eglington, isso "salvaria a situação" e obrigaria
aos espíritas a reconhecerem as afirmações da Teosofia. Bem,
cumprimos com os vossos desejos. M. e eu estávamos determinados
a mostrar-vos que não havia base para tais esperanças. O fanatismo e
a cegueira dos espíritas, alimentados por motivos egoistas de médiuns
profissionais mostraram-se salientes e os oponentes estão agora
desesperados. Devemos deixar que se desenvolva o curso natural dos
acontecimentos e só poderemos auxiliar na crise vindoura dando uma
mão nos crescentes e frequentes desmascaramentos; não nos serviria
de nada forçar os acontecimentos, pois só se criariam "mártires" e
dando-lhes pretexto para uma nova onda de loucuras.

Portanto, rogo-vos paciência. Se o senhor Hume perseverar em suas


intenções, tem diante de si um trabalho grande e nobre: o trabalho de
um verdadeiro Fundador de uma nova era social, de uma reforma
filosófica e religiosa. É algo tão vasto e concebido com tanta nobreza
que se como espero, finalmente concordarmos, ele terá bastante o que
fazer durante o intervalo que me é necessário para provar e preparar
Eglington. Por estes dias escreverei ao senhor Hume e responderei
cada um de seus pontos, explicando a situação tal como a concebo.
Entretanto, fareis bem em mostrar-lhe esta carta. A vossa crítica
literária sobre a obra "O Caminho Perfeito", é mais perfeita que a
concepção de seus autores. Agradeço-vos, meu amigo, pelos vossos
bons serviços. Estais começando a atrair a atenção do Chohan. Se ao
menos soubésseis o que isso significa, não estaríeis imaginando com
toda exatidão a que recompensa tendes direito, por alguns serviços
recentes, já mencionados.
Vosso afetuosamente,

K.H.
Carta Nº 096

Recebido em Janeiro de 84?

Agora deparamo-nos com uma carta para Sinnett, do Mahatma K.H. e


a razão dessa carta é interessante. Igualmente interessante é como
surgiu. Estava anexa a uma carta de H.P.B. A primeira parte da Carta
nº.118 está numa folha dobrada de papel para anotações, com o
monograma de Sam Ward.

William Eglinton continuara as suas atividades mediunísticas, após o


seu retorno a Londres e esta carta (118), se relaciona em parte com
uma sessão que ele estava realizando nos aposentos de Sam Ward.

Minhas humildes saudações pranams, Sahib, a vossa memória não é


boa. Esquecestes o acordo feito em Prayag e as senhas que devem
preceder cada comunicação genuína que venha de nós por intermédio
de um ...3 Boot-dak ou médium? Que sessão a de 15 de dezembro:
cartão ornamentado, minha carta e tudo o mais! Muito comum, como
diria um pandit Pelling. Sim, primeiro uma carinhosa saudação da
Velha Dama para Lonie, grafado erroneamente Louis no cartão, depois
para C.C. Massey, cujo nome ela agora nunca pronuncia, e esta
saudação vinda depois da ceia, quando C.C. Massey já tinha ido.
Depois a minha mensagem escrita com uma letra imitada, quando a
minha é muito irregular; também me atribuem datar a minha suposta
mensagem de Ladhak, no dia 16 de dezembro, enquanto que eu juro
que estava em Ch-in-ki (Lhasa) fumando o vosso cachimbo. O mais
divertido foi eu pedir-vos que "vos preparásseis para a nossa chegada
tão logo tivéssemos conquistado o Sahib Sr. Eglington!!! Tendo
fracassado Lord Dunraven por que não tentar de novo num sábado?
Uma noite solene, aquele sábado em Picadilly, no andar de cima do
velho Sotheran, o bolorento livreiro. Eu conhecia bem o lugar e me
divertiu observar com a vossa autorização. Por que se sente tão
desgostoso? Os cascões trabalharam bastante bem sem sentirem-se
tolhidos por minha presença, da qual não se deram conta, nem W.E.,
nem o seu guardião. A minha atenção foi atraida quando falsificaram a
escrita de H.P.B. Então deixei de lado o meu cachimbo e vigiei.
Demasiada luz para as criaturas vinda de uma rua Picadilly, embora as
emanações de Sotheram auxiliaram muito. Eu gostaria de chamar a
atenção de vosso amigo, o Sr. Myers, para o fato psíquico das
putrefadas emanações. Produzem abundante Bhoot6. Sim; o quarto
com janelas que dão para Picadilly é um bom lugar para o
desenvolvimento do psiquismo. Pobre desgraçado, estava em estado
de transe!
"Desejamos afirmar, com o objetivo de prevenir qualquer futuro mal
entendido, que não somos responsáveis, de modo algum, nem temos
nada a ver com a produção de qualquer fenômeno que se vos
apresente esta noite". Isto é pura auto-abnegação; a palavra modestia
não basta para designá-lo. Ele andava pelo quarto e eu o segui à
distância. Dirigiu-se para a escrivaninha do senhor Ward e pegou uma
folha de papel com seu monograma, e eu permiti-me tirar outra para
vos mostrar que o vigiava. Quanto a todos vós, niguém observou bem
claramente enquanto era guiado para colocar papel e envelope entre
as folhas de um livro, ou quando o colocou sobre a mesa, pois teriam
observado algo muito interessante para a ciência. A língua de prata do
relógio soa as dez e quinze e a forma de K.H. desce uma colina
cavalgando (ele se encontra agora nos distantes bosques da
Cambodia) e deveria cruzar o horizonte da visão de Tio Samuel e
perturbar a atividade dos Pisachas. O distúrbio astral estorva o lento
progresso deles. Suas campainhas são admiráveis.

Bem, Sahib, não deveis ser muito severo com o pobre e desgraçado
jovem. Essa noite ele era um irresponsável absoluto. Naturalmente o
fato de pertencer à vossa Loja de Londres da Sociedade Teosófica é
uma tolice, pois um médium que cobra e de quem se suspeita, não está
à altura dos cavalheiros ingleses. Entretanto, é honesto ao seu modo
e por mais que K.H. o tivesse gracejado no seu cartão dirigido aos
Gordons, e que todos vós levaram a sério na ocasião, na verdade ele
é honesto à sua maneira e merece compaixão. Trata-se de um pobre
epilético sujeito a ataques, especialmente nos dias em que espera ser
convidado para ceiar conosco. Penso pedir a K.H. que solicite um favor
ao senhor Ward: que salve o pobre desgraçado dos dois elementais
que aderiram a ele como sanguessugas. É fácil para o bom "Tio
Samuel" conseguir para ele uma nomeação em alguma parte e salvá-
lo assim de uma vida de infâmia que o está matando; fará assim um
ato meritório de caridade teosófica. O senhor Ward está equivocado.
W.E. não é culpado de qualquer trapaça consciente e deliberada
aquela noite; ele tinha um desejo apaixonado de ingressar na Loja de
Londres, e como o desejo é pai da ação, os seus sanguessugas astrais
fabricaram aquela minha carta, usando meios próprios. Se ele mesmo
o tivesse feito, teria recordado que não era a minha letra, que ele já
conhece por intermédio dos Gordon. Ai dos espíritas! Seu karma pesa
com a ruina de homens e mulheres que incitam à mediunidade e que
depois abandonam para definharem como um cão desdentado. De
qualquer modo, peça-lhe o cartão de Upasika com a sua pretendida
escrita. É bom conservá-lo e mostrá-lo ocasionalmente aos Massey da
Loja de Londres que acreditam em simples mentiras e suspeitarão de
fraudes onde não há nenhuma. Estais livre para considerar-me como
um "negro" e um selvagem Sahib. Mas, embora eu seja o primeiro a
aconselhar a reeleição da senhora K.8, apesar disso confiaria mais na
clarividência de W.E.9 que na da senhora K., ou melhor, na
interpretação que ela dá de suas visões. Mas isso terminará logo.
Subba Row está vos inocentando. Escrevo uma resposta ao
australiano convertido.

M.
Carta Nº 097

Recebida no outono de 1885.

Por algum tempo não houve cartas, e a última, vinda do Mahatma K.H.,
não foi encorajadora. Na ocasião em que esta carta foi recebida, H.P.B.
havia deixado Adyar pela última vez em março e tinha ido para a
Alemanha, onde ela estava trabalhando na "A Doutrina Secreta". Um
outro chela indiano, Babaji ou Bawajee, tinha vindo com ela da Índia e
evidentemente Mohini tinha vindo para encontrá-los.

Sinnett havia acabado de publicar uma novela oculta intitulada Karma,


usando H.P.B. como figura central.

A pergunta nesta carta: "Não sois bastante político para suportar os


pequenos defeitos de jovens discípulos?" referia-se ao comportamento
de Babaji e Mohini. Babaji, verificou-se, era epilético e sujeito a
ocasionais acessos de comportamento excêntrico e desordenado, que
incluia denuncias desagradáveis de sua benfeitora, H.P.B. Mohini,
preso por laços de nacionalidade a chela mais jovem, tendia a tomar o
seu partido em adulação por parte de alguns membros europeus que
acabou ficando empolgado e estava mostrando um discernimento bem
pobre em suas relações com vários deles.

As "pessoas comuns" formaram a multidão tão diferente daqueles que


se sobressaem. Os vossos métodos não foram abandonados, somente
se buscou mostrar uma derivação da mudança cíclica, no que, sem
dúvida, ajudais também. Não sois bastante do mundo a ponto de
suportar os pequenos defeitos de discípulos jovens? A seu modo eles
também ajudaram, e muito. Também em vós está oculto um poder de
ajudar, de sua parte, porque a pobre Sociedade necessitará, mesmo,
tudo que possa conseguir. É bom que vistes o trabalho de uma nobre
mulher, que deixou tudo pela causa. Outros meios e ocasiões
aparecerão para vos ajudar, porque sois uma testemunha isolada e
bem conhecedora dos fatos que serão desafiados por traidores.

Não podemos alterar o Karma, meu "bom amigo", senão poderíamos


levantar a nuvem que paira sobre o vosso caminho. Mas fazemos tudo
que é possível nestes assuntos materiais. Nenhuma escuridão
permanece para sempre. Tende esperança e fé, e poderemos
dispersá-la. Não há muitos que permaneceram fieis ao "programa
original". E vós aprendestes muito e tendes muito que é e será útil.

M.
Carta Nº 098

Carta nº.98 (CM-105) Recebida em Dezembro de 1882.

(Provavelmente recebida depois de 17 de dezembro de 1882)

Esta carta é uma resposta a uma carta de Sinnett para o Mahatma K.H.
na qual ele contou ao Mahatma a respeito de um fato em sua vida que
haveria de ter grandes repercussões.

Deve-se lembrar que, durante a viagem de Sinnett à Inglaterra em


1881, ele teve o seu primeiro livro, "O Mundo Oculto", publicado. O
livro, conhecido da maioria dos estudantes de Teosofia, aborda
amplamente fenômenos produzidos por H.P.B. e inclui informações a
respeito dos Mahatmas com os quais Sinnett se correspondeu através
de H.P.B. O livro causou uma profunda impressão no público na época,
mas trouxe a Sinnett o desagrado da comunidade anglo-indiana e a
oposição dos proprietários do "The Pioneer", do qual ele era o editor.
As suas relações com eles, dai por diante, não foram fáceis. Depois
surgiu uma mudança da direção: um inglês, chamado Rattingan,
adquiriu o jornal. Ele era ainda menos simpático a Sinnett e, sem
dúvida, não tinha relutância (ou talvez poucas inibições) de se livrar de
Sinnett.

Finalmente, em novembro de 1882, Sinnett foi informado do término de


seus serviços como editor desse importante jornal, embora isso só
viesse a ocorrer após um ano. Este foi um acerto bastante satisfatório
porque deu a Sinnett um tempo para firmar uma nova situação.

Possivelmente ele escreveu para o Mahatma K.H. sobre os fatos e ele


pode ter sugerido o surgimento de um outro jornal para promover a
liberdade política na Índia. Naturalmente não temos a carta de Sinnett,
mas a correspondência subsequente indica que era esse o caso.
Assim, temos o começo do que foi chamado "A Aventura Fênix".

O assunto desagradável a que se refere no segundo parágrafo foi uma


reunião da Sociedade Eclética em Simla, provavelmente quando
H.P.B. e Sinnett estavam visitando os Humes ali, em 1881, para
debaterem uma carta vinda de um homem de nome S.K. Chatterji. A
carta era dirigida a Hume e continha observaçòes depreciativas a
respeito da Teosofia e de H.P.B.

Obviamente Hume mandou essa carta para o Mahatma K.H. para que
lesse, e a carta retornou através de H.P.B. Ao devolvê-la para Hume,
ela disse que o Mahatma tinha dado ordens "através dela para o
Conselho Geral" para convidar o Sr. Chatterji a renunciar. Isto
desagradou Hume, que declarou que o Mahatma não foi de modo
algum cavalheiro; de que a carta era privada. O Mahatma diz que a
carta não era privada, dado que Hume a circulara entre os membros.
O Mahatma soube de tudo isso através de Djual Khul que "tomou
conhecimento do fato pessoalmente e tem uma excelente memória".
Isto indica que Djual Khul estava lá em seu corpo sutil, porque ele não
figura entre as pessoas citadas pelo Mahatma como presentes.

Meu querido amigo:

Antes de vos dar uma resposta definitiva à vossa carta de negócios,


desejo consultar o nosso venerável Chohan. Temos diante de nós doze
mêses, como dizeis. Agora tenho uma pequena questão a resolver,
que é muito importante, pois gira ao redor de outra série de mentiras
deliberadas, cujo real caráter já é tempo de provar. Somos chamados
de "mentirosos" (sic) com todas as suas letras e somos acusados de
"baixa ingratidão". A linguagem é forte e, como nos sentimos desejosos
de adotar muitas coisas boas dos ingleses, não é polidez, receio, que
estaríamos inclinados a aprender da classe de cavalheiros a que
pertence o senhor Hume. O assunto em que agora estou interessado,
por si mesmo, pode ser considerado por vós como algo de muito pouca
importância: unido a outros fatos, a menos que seja demonstrado
mediante testemunho bom e irrefutável, de que é pelo menos, uma
perversão de fatos, tende a converter-se em uma causa que produzirá
efeitos desagradáveis e arruinará tudo o que foi construido. Portanto,
rogo-vos que não vos detenhais em argumentar a total insignificância
da pequena recordação, mas confiando em que podemos ver algo do
futuro, que para vós permanece oculto, rogo-vos responder à minha
pergunta, como amigo e como irmão. Quando tiverdes feito isso,
sabereis porque foi escrita esta carta.

H.P.B. acaba de ter uma discussão com Djual Khool, que sutentava
que o procedimento desagradável não foi anotado nas atas por
Davidson, enquanto que ela afirmava que sim. naturalmente, ele
estava certo e ela equivocada. Entretanto, se a sua memória lhe falhou
neste particular, serviu-a bem quanto ao fato em si. Certamente
recordais o fato. Reunião dos Ecléticos no salão dos bilhares.
Testemunhas: vós mesmo, os dois Hume, o casal Gordon, Davidson e
H.P.B. Assuntos: S.K. Chatterji, a sua carta a Hume expressando o seu
desprezo pela Teosofia e suspeitas da boa fé de H.P.B. Passando ao
senhor Hume a carta que eu devolvi a ela, disse que eu havia
determinado ao Conselho Geral, por seu intermédio, para que se
convidasse o Babu a renunciar. Em consequência, o senhor Hume
proclamou muito enfaticamente: "Em tal caso, o vosso Koot Hoomi não
é um cavalheiro. A carta é uma comunicação resevada e, em tais
circunstâncias nenhum cavalheiro pensaria em atuar como ele deseja".
Entretanto, a carta não era reservada, pois foi dada a conheceer entre
os membros pelo senhor Hume. Nesse momento não prestei nenhuma
atenção a essa insinuação, nem tampouco cheguei a saber dela por
intermédio de H.P.B., mas por D. Khool, que a ouviu mesmo e tem uma
excelente memória.
Agora, quereis fazer-me o favor de me escrever duas linhas, contando-
me o episódio tal como vós o recordais? Foram as palavras "não é um
cavalheiro" aplicadas ao vosso humilde servidor ou em geral? Eu vos
pergunto como um cavalheiro, e não como um amigo. Isto tem uma
importante relação com o futuro. Uma vez feito isso, eu vos farei ver os
últimos desenvolvimentos da infinita "fertilidade de recursos" ao serviço
de nosso mútuo amigo. Pode ser que, em quaisquer outras
circunstâncias, as fanfarronadas do senhor H. a respeito da alta opinião
que Lord Ripon tem do conhecimento teosófico de Hume, e da sua
falação de que os seus serviços que nos prestou, literários, monetários
ou de outra natureza, tivessem passado desapercebidos, pois todos
conhecemos as suas debilidades; mas no caso presente, devem ser
tratados de forma a não deixar para ele nenhum motivo em que se
aferre, porque a última carta que me dirigiu (que vereis) não só está
em desacordo com as reconhecidas regras de urbanidade, mas
também porque, a menos que se provém de fato as suas próprias
afirmações errôneas, ele se vangloriará daqui por diante, de ter dado
um desmentido direto a nossa Fraternidade, e isso nenhum membro
desta poderia nunca permitir. Não podeis deixar de notar o absurdo
contraste entre a sua aparente confiança nos seus maravilhosos
poderes e superioridade e o ressentimento que exibe, à menor
observação que faço sobre ele. Ele deve ser levado a entender que se
ele fosse tão grande como afirma, ou mesmo que estivesse totalmente
satisfeito com a sua grandeza e da infalibilidade do poder da sua
memória, permaneceria como agora, tão vulgarmente ofensivo. A sua
sensibilidade é, em si mesma, uma evidência das dúvidas emboscadas
na sua mente sobre a validade das pretensões que tão arrogantemente
apresenta; daí advém a sua irritabilidade excitada por qualquer coisa e
por tudo que possa perturbar as suas auto-ilusões.

Confio que não recusareis uma resposta direta e clara à minha


pergunta clara e direta.

Seu sempre afetuosamente,

K.H.
Carta Nº 099

(De A.O. Hume a K.H.). Simla, 20/11/80.

A Carta nº.8 (CM-99) e a de nº.9 (CM-98) devem ser consideradas


juntas. A Carta nº.8 está datada 20 de novembro de 1880, mas não foi
transmitida para o Mahatma senão depois de 1º. de dezembro de 1880
ou mais tarde. A Carta nº.9 foi recebida em 1º. de dezembro ou pouco
depois, na mesma data em que a Carta nº.8 foi transmitida para K.H.
A Carta nº.8 é de Hume para o Mahatma; a Carta nº.9 é uma resposta
a essa carta, mas é dirigida mais a Sinnett do que a Hume.
Isto pode parecer confuso. Em "O Mundo Oculto", p.122, Sinnett
menciona que Hume escreveu uma resposta longa à primeira carta do
Mahatma para ele, e em seguida, uma carta adicional a K.H. que ele
mandou para Sinnett, pedindo-lhe que a lesse e então, a fechasse e a
mandasse ou a desse para H.P.B., para ser transmitida, dado que ela
era logo esperada em Allahabad. A Carta nº.8 é esta carta adicional.

Meu querido Koot' Hoomi:

Enviei a Sinnett a vossa carta que me escrevestes, e ele,


atenciosamente, me enviou a vossa para ele. Desejo fazer algumas
observações sobre isto, não para sofismar, mas, porque estou muito
ansioso que me compreendais. É possível que isso seja presunção
minha, mas seja ou não, tenho uma profunda convicção de que eu
poderia trabalhar efetivamente, se tão somente soubesse como, e não
posso suportar a idéia de que me pondes de lado por desconhecimento
dos meus pontos de vista. E entretanto, cada carta vossa que vejo
mostra-me como ainda não entendeis o que eu penso e sinto. Para
explicar isso aventuro-me a anotar alguns comentários sobre a vossa
carta a Sinnett.

Dizeis que, se a Russia não consegue apoderar-se do Tibet, será


devido a vós, e que, ao menos nisto, merecereis a nossa gratidão. Não
estou de acordo com isso do modo como o entendeis. (1) Se eu
acreditasse que a Russia, de um modo geral, governaria o Tibet ou a
Índia de maneira a tornar os seus habitantes mais felizes do que são
sob os governos existentes, eu mesmo o saudaria e trabalharia para
esse fim. Mas, até onde posso julgar, o governo da Russia é um
despotismo corrompido, hostil à liberdade de ação individual, e
portanto ao verdadeiro progresso...etc.

E agora acerca do vaquil que fala inglês. Seria o homem tão culpado?
Vós e os que vos rodeiam nunca o ensinaram que existe algo na "Yog
Vidya". As únicas pessoas que se deram decididamente ao trabalho de
educá-lo, ao fazê-lo, ensinaram-lhe o materialismo; estais desgostoso
com ele, mas quem tem culpa?...Talvez eu julgue como um
estrangeiro, mas parece-me que o véu impenetrável de segredo com o
qual vos rodeais, as enormes dificuldades que opondes à comunicação
de vosso conhecimento espiritual, são a maior causa do desenfreado
materialismo que tanto deplorais.

Somente vós possuis os meios de demonstrar aos homens em geral


convicções desta natureza, mas parece que, presos a antigas regras,
em vez de disseminar com entusiasmo esse conhecimento, vós o
envolveis numa nuvem tão densa de mistério, que, naturalmente a
massa humana descrê de sua existência...não pode haver justificação
para não dar claramente ao mundo os aspectos mais importantes de
vossa filosofia, acompanhando o ensinamento com uma sequência de
demosntrações que atraissem a atenção de todas as mentes sinceras.
Compreendo muito bem que vacileis em conferir apressadamente
grandes poderes, passiveis provavelmente, de abuso; mas isso não
impede, de modo algum, a proclamação dogmática dos resultados de
vossas investigações psíquicas, acompanhadas por fenômenos
bastante claros e suficientemente repetidos para provar que conheceis,
na realidade, mais dos assuntos com que lidais do que a Ciência
Ocidental.

Provavelmente replicareis: que me dizeis do caso Slade? Mas não


esqueceis que ele estava recebendo dinheiro pelo que fazia, ganhando
a vida com isso. Muito diferente seria a posição de um homem que se
apresentava para ensinar gratuitamente, com evidente sacrifício de
seu próprio tempo, comodidade e conveniência, o que ele acreditava
fosse benéfico para que a humanidade conhecesse. Não há dúvida que
a princípio todos diriam que o homem estava louco ou era um impostor;
mas uma vez que fenômeno após fenômeno se repetiu, teriam que
admitir que havia algo neles, e dentro de três anos terieis as mentes
mais despertas de qualquer país civilizado voltadas com interesse para
essa questão, e dezenas de milhares de investigadores ansiosos, dos
quais uns dez por cento poderiam chegar a ser úteis trabalhadores e
possivelmente, um em mil desenvolveria as condições necessárias
para se tornar por fim um Adepto. Se desejais uma reação na mente
nativa por intermédio da mente europeia, essa é a maneira de efetuá-
la. Naturalmente, falo sujeito a ser corrigido e ignorando as condições,
possibilidades, etc., mas de qualquer maneira não sou culpado dessa
ignorância...3

Chego agora à passagem: "Não vos ocorreu que as duas publicações


de Bombaim, se não foram influenciadas, pelo menos podem não ter
sido evitadas por quem poderia fazê-lo, porque viram a necessidade
de toda essa agitação para atingir um resultado duplo: provocar um
necessário desvio das mentes em relação ao assunto da explosão da
"bomba do relicário", e, talvez pôr em prova a solidez do vosso
interesse pessoal pelo ocultismo e a teosofia? Não digo que foi assim,
eu apenas pergunto se essa eventualidade já se apresentou em vossa
mente". Ora, isso foi dirigido a Sinnett, mas ainda assim quero
responder à minha maneira. Primeiro eu deveria dizer, Cui bono (a
quem interessa) fazer tal insinuação? Deveis saber se foi assim ou não.
Se não foi, por que deixar-nos especulando sobre o que poderia ser
quando sabeis que não foi? Mas, se foi assim, então eu digo, em
primeiro lugar que, um assunto tolo como este, não poderia ser uma
prova para o interesse pessoal de qualquer homem nalguma coisa (há
naturalmente muitos seres humanos que somente são como macacos
educados)... Em segundo lugar, se os Irmãos permitiram
deliberadamente a publicação dessas cartas, eu só posso dizer que,
do meu ponto de vista mundano não iniciado, creio que eles
cometeram um triste equívoco... e sendo o objetivo declarado dos
Irmãos fazer com que a S.T. seja respeitada, dificilmente poderiam ter
escolhido meios piores que a publicação destas tolas cartas...mas,
mesmo, se a pergunta é colocada num sentido geral, se já pensastes
que talvez os irmãos permitiram essa publicação, eu não posso deixar
de responder que, no caso negativo, é inútil perder tempo
considerando o assunto, e no afirmativo, parece-me que foram
imprudentes ao fazê-lo.

Depois vem as vossas observações sobre o Coronel Olcott. O querido


velho Olcott, a quem todos que o conhecem devem amar. Eu simpatizo
plenamente com tudo o que dizeis a seu favor, mas não posso deixar
de objetar os termos com os quais o elogiais, que se baseiam em que
ele nunca pergunta, mas sempre obedece. Isto é novamente a
organização dos jesuitas, e para a minha maneira de pensar, esta
renuncia ao dicernimento próprio, esta abnegação da própria
responsabilidade pessoal, esta aceitação dos ditames de vozes
externas como um substituto da própria consciência, é um pecado de
não pouca magnitude...Mais ainda: sinto-me obrigado a dizer...se esta
doutrina de obediência cega é essencial no vosso sistema, duvido
muito que a luz espiritual que, por acaso proporcioneis, possa
compensar a humanidade pela perda dessa liberdade de ação própria,
desse sentido de responsabilidade pessoal, individual, de que seria
privada...5

...Mas caso se pretenda que eu receba instruções alguma vez para


fazer isto ou aquilo, sem compreender o porque ou para que, sem
perceber as consequências, às cegas e descuidado, cabendo-me
apenas fazer as coisas, então digo, francamente, que o assunto está
encerrado para mim; eu não sou uma máquina militar; sou inimigo
jurado da organização militar e defensor do sistema industrial ou
cooperativo, e não me unirei a nenhuma Sociedade ou entidade que
signifique limitar ou controlar o meu direito a julgamento pessoal.
Entretanto, não sou visionário e não desejo manejar princípio algum
como um cavalinho de brinquedo...

Voltando a Olcott, eu não creio que a sua conexão com a Sociedade


proposta será algum mal...

Em primeiro lugar, eu não faria nenhuma objeção à supervisão do


querido e velho Olcott, porque sei que seria nominal, e mesmo que ele
tentasse exercê-la de outra maneira, Sinnett e eu seríamos bastante
capazes para fazer com que se calasse, se ele interferisse sem
necessidade. Mas nenhum de nós dois poderia aceitá-lo como nosso
verdadeiro guia, porque nós dois sabemos que somos superiores a ele,
intelectualmente. Esta é uma maneira brutal de colocar as coisas, mas
que voulez vous? (o que quereis?). Sem uma cabal franqueza não se
chega a um entendimento....

Seu sinceramente,

A.O. Hume
Carta nº. 9 (CM-98) Recebida em 1 de Dezembro de 1880 (ou mais
tarde)

De K.H. a Sinnett (recebida depois do dia 1o de dezembro de 1880, ou


mais tarde)

Eu compreendo perfeitamente. Mas apesar de serem sinceros, esses


sentimentos estão profundamente cobertos por uma grossa crosta de
auto suficiência e teimosia egoista para despertar em mim algo como
a simpatia.

(1) Durante séculos tivemos no Tibet um povo digno e de coração puro,


simples, não contaminado pela civilização e, portanto, livre dos seus
vícios. Durante séculos o Tibet tem sido a última região do mundo não
corrompida a ponto de tornar por completo impossível a fusão das duas
atmosferas: a física e a espiritual. E ele queria que nós trocássemos
isso por seu ideal de civilização e governo! Isto é simplesmente
discurso para ele mesmo, uma intensa paixão para ouvir a si próprio e
para impor as suas idéias aos demais.

(2) Na verdade o senhor H. deveria ser enviado a um comitê


internacional de filântropos, como um Amigo da Humanidade
Moribunda, para ensinar sabedoria aos nossos Dalai Lamas.
Ultrapassa a minha pobre compreensão por que ele não se põe a
estruturar um plano para algo como a República Ideal de Platão, com
um novo esquema para tudo que faz sob o Sol e a Lua.

(3) É na verdade benevolência de sua parte dar-se tanto ao trabalho


de nos ensinar. Sem dúvida, isto é pura bondade e não o desejo de
estar por cima do resto da humanidade. Esta é a sua última aquisição
na evolução mental que esperamos que não se converta em
dissolução.

(4) AMEN! Meu querido amigo; a vós deve ser creditado por não iniciar
na sua mente a gloriosa idéia de oferecer os seus serviços como
Mestre-Escola Geral do Tibet, Reformador das antigas superstições e
Salvador das futuras gerações. Naturalmente, se ele lêsse isto,
mostraria imediatamente que eu argumento como um "macaco
educado".

(5) Agora escutai o homem, tagarelando acerca daquilo de que nada


conhece. Nenhum homem vivo é mais livre do que nós uma vez que
saimos do estágio de discipulado. Durante esse tempo nós devemos
ser dóceis e obedientes, mas nunca escravos; de outra maneira, se
passássemos o nosso tempo argumentando, nunca aprenderíamos
nada.

(6) E quem pensou em propô-lo como tal? Meu querido companheiro,


podereis realmente me culpar por esquivar-me de uma associação
mais estreita com um homem cuja vida parece depender de incessante
argumentação e críticas maledicentes? Diz que não é um doutrinário,
quando ele é a própria essência disso! É merecedor de todo respeito e
mesmo do afeto daqueles que o conhecem bem. mas, por minhas
estrelas! em menos de 24 horas ele paralizaria qualquer um de nós que
tivesse a desgraça de se encontrar a uma milha dele, só pela sua
monótona e estridente reafirmação de seus próprios pontos de vista.
Não, mil vezes não. homens como ele podem se tornar hábeis
estadistas, oradores, o que quiserdes, mas nunca Adeptos. Não temos
nenhum da sua espécie entre nós. E é por isso que nunca sentimos a
necessidade de um asilo para lunáticos. Em menos de três mêses teria
enlouquecido a metade da nossa população tibetana!

Outro dia coloquei no correio, em Umballa, uma carta para vós. Noto
que ainda não a recebestes.

Sempre seu afetuosamente,

Koot' Hoomi.
Carta Nº 100

(25 de Março de 1882).

Esta é, na verdade, um adendo pelo Mahatma K.H. a uma carta de


H.P.B. para Sinnett, datada de 25 de março de 1882. A carta de H.P.B.
tem a ver com o episódio do Vega; o assunto do adendo de K.H. não
tem nada a ver com o conteúdo da carta de H.P.B., exceto em uma ou
duas frases indiretas. A frase "o novo guia" refere-se a um comentário
feito por H.P.B. em sua carta: "Agora resta ver que espécie de "guias"
Eglinton aplicará a K.H.".

A carta de K.H. se refere a uma proposta de Hume de ir para o Tibet e


achar os Adeptos, uma idéia que K.H. considera "insana" e deseja que
Sinnett dissuada Hume de sustentá-la.

A sentença final refere-se às cartas relativas ao episódio do Vega, no


qual Hume evidentemente se incluiria, junto com a Sra. Gordon - com
o que não concordou o Mahachohan.

O novo guia tem, entretanto, que vos dizer algumas palavras. Caso vos
importeis com nossas relações futuras, então é melhor que trateis que
vosso amigo e colega, o senhor Hume, abandone a sua idéia louca de
ir ao Tibet. Pensa ele, realmente, a menos que o permitamos, que ele
ou um exército de Pellings, poderá nos encontrar ou regressar com a
notícia de que somos, afinal, apenas uma "ficção", como ele nos o
chama? Louco é aquele homem que imagine que mesmo o Governo
Britânico é bastante forte, rico e poderoso para ajudá-lo a realizar o seu
plano tão disparatado! Aqueles que desejamos que nos conheçam nos
encontrarão na própria fronteira. Aqueles que colocaram contra eles
mesmos o Chohans, como ele o fez, não nos encontrariam, ainda que
fossem até Lhasa com um exército. O seu intento de realizar o plano
assinalará a absoluta separação entre o vosso mundo e o nosso. A sua
idéia de pedir ao Governo permissão para ir ao Tibet é ridícula.
encontrará perigos a cada passo, e não ouvirá nem mesmo as mais
remotas notícias sobre nós ou sobre o nosso paradeiro. Na noite
passada uma carta seria transmitida para ele bem como para a
senhora Gordon. O Chohan o proibiu. Estais advertido, bom amigo, e
aji de acordo.

K.H.
Carta Nº 101

De M. para A.P. Sinnett. Outubro de 1881(?) Recebida em Simla.


Talvez, de novo, Sinnett tenha feito uma sugestão quanto a alterar
realmente a carta que Damodar escrevera. Recebida a sua carta. Seria
melhor, creio, que procurásseis ver se não poderíeis tornar as vossas
idéias menos polêmicas e áridas do que as dele. Começo a pensar que
deve haver algum conteúdo em vós, pois que sois capaz de apreciar o
meu querido amigo e Irmão. Eu me ocupei da carta do jovem brahmin3
e apaguei a frase ofensiva, substituindo-a por outra. Podeis agora
mostrá-la ao Maha Sahib4; ele, tão orgulho na sua pretensa humildade
e tão humilde em seu orgulho. Quanto a fenômenos não tereis nenhum,
já vos escrevi sobre isso por intermédio de Olcott. Bendito é aquele que
conhece o nosso Koothoomi e bendito é quem o aprecia. O que eu
quero dizer agora, compreendereis algum dia. Quanto ao vosso A.O.
Hume, eu o conheço melhor do que jamais o conseguireis. M.
Carta Nº 102

Sinnett questionou claramente o Mahatma M. sobre a possibilidade de


alterar a carta vinda de Damodar, de modo que Hume pudesse vê-la
(veja Carta nº.25 (CM-73)). Não está claro se Sinnett já tinha recebido
a carta ou se ela estava ainda na posse do Mahatma. Meu querido
jovem amigo, lamento discordar de vós em vossos dois últimos pontos.
Se ele pode suportar uma frase de reprovação, suportará muito mais
do que querieis que eu alterasse. Ou tout ou rien4, como o meu
afrancesado amigo K.H. me ensinou a dizer. Considerei boa a vossa
sugestão No 1 e aceitei-a plenamente, esperando que não recusareis
dar-me algum dia lições de inglês. Fiz que "Benjamin" colasse um
remendo na página e falsificasse a minha caligrafia, enquanto fumava
o cachimbo deitado de costas. Não tendo o direito de imitar K.H. eu me
sinto muito solitário sem o meu amigo. Esperando que me desculpeis
por escrever e pela recusa, confio que não retrocedereis em dizer a
verdade, se for necessário, mesmo diante do filho de "um membro do
Parlamento". Há muitos olhos que vos vigiam para permitir-vos
cometer erros agora. M
Carta Nº 103
Recebida em Allahabad, 1880-81 (antes de 11 de março de 1882) Esta
carta é outro exemplo de data evidentemente errada. Sinnett datou-a
em 1880-81, quando, na realidade, ela se relaciona com a sugestão do
novo jornal, "O Fênix". Isto remete o assunto em 1883, embora a sua
colocação precisa na série de cartas é problemática. Pode ter sido
escrita, mas não recebida por Sinnett, antes da Carta nº.105 (CM-80).
Olcott, com o seu costumeiro zelo e empenho, estava solicitando
fundos para o novo jornal. Não se sabe precisamente o que estava
perturbando H.P.B. no momento, mas "M. cuidará dela". Para executar
um plano como esse, muitos meios devem ser empregados, e o
fracasso em qualquer direção compromete os resultados, embora
possa não derrotá-lo. Temos tido vários obstáculos e poderemos ter
mais. Mas observai: primeiro, que há dois pontos auspiciosos, graças
à bondosa Providência; Allen se tornou amigo, e creio que um dos
vossos amigos, é residente em Cachemira. E, segundo, até o início
tenha sido sondado, o ponto vital não terá sido tocado. Ele, o primeiro
do programa, como digo, foi deixado para o fim! Não se esperava muito
dos outros, e até agora todos que foram consultados não responderam.
Por que os chelas(?) não respondem, como lhes foi pedido? Se os
chelas descuidam das ordens e um excessivo sentido de delicadeza
interfere, como podem ser esperados resultados sem um milagre? Eu
vos telegrafei para que esperasseis a chegada de Olcott, porque é
melhor que trabalheis juntos em Calcutá, tratando de por as coisas em
movimento. Uma palavra vossa ao Residente teria sido suficiente, mas
sois orgulhoso como toda a vossa raça. Olcott estará em Calcutá pelo
dia 20. Não presteis atenção à Velha Dama, ela se debilita
mentalmente quando é deixada sozinha. Mas M. se encarregará dela.
Seu, K.H.
Carta Nº 104

Recebida em outubro de 1881 (?). Carta de despedida, escrita antes


do retiro. Na Carta nº.21 (CM-27), o Mahatma deu o primeiro indício de
que ele ia para um retiro: "Muito em breve terei de deixar-vos entregues
a vós mesmos pelo período de três mêses. Se há de começar em
outubro ou janeiro, dependerá do impulso dado à Sociedade e seu
progresso". Devido a razões que veremos, o período de três mêses
começou provavelmente próximo de 1º. de outubro. Parece provável
que a carta foi escrita bem próximo a 27 de setembro. Meu querido
amigo: Vossa nota foi recebida. O que dizeis nela me demonstra que
tendes certos temores de que eu me senti ofendido pelas observações
do senhor Hume. Ficai tranquilo, por favor, pois eu nunca poderia me
ofender. O que me molestou não é nada que estava contido nas
observações, mas a insistência com a qual ele seguia uma linha de
argumentação que eu sabia estar repleta de futuros danos. Este
argumentum ad hominem, renovado e reiniciado de onde o haviamos
deixado no ano passado, é o menos indicado para fazer que o Chohan
se afaste de seus princípios ou persuadí-lo a fazer algumas
concessões muito desejadas. Eu temia as consequências e a minha
apreensão, posso-vos assegurar, tinha muito fundamento. Rogo-vos
que assegureis ao senhor Hume a minha simpatia e respeito pessoal
por ele e dai-lhe as minhas mais amistosas saudações. Mas não terei
o prazer de "por-me em dia" com as suas cartas, nem respondê-las
durante os próximos três mêses. Como nada do programa original da
Sociedade está já decidido, nem espero vê-lo resolvido em um futuro
próximo, tenho que abandonar a minha projetada viagem ao Bhutan, e
meu Irmão M. ocupará o meu lugar. Estamos no final de setembro e
nada poderia se fazer antes do primeiro de outubro, que pudesse
justificar a minha insistência em ir até lá. Os meus Chefes desejam que
eu esteja presente, especialmente, nas nossas Festividades de Ano
Novo, no próximo mês de fevereiro, e para estar preparado para isso,
tenho que aproveitar os três mêses que restam. Tenho, pois, que
despedir-me de vós, meu bom amigo, agradecendo-vos calorosamente
por tudo o que fizestes e tratastes de fazer por mim. Espero poder vos
dar notícias minhas no próximo mês de janeiro e, a menos que surjam
novas dificuldades no caminho da Sociedade, de vosso lado,
encontrar-me-eis precisamente no mesmo estado de ânimo com que
me despeço de vós dois. Não posso dizer agora se terei êxito em trazer
o meu muito amado, mas muito obstinado Irmão M. para a minha
maneira de pensar. Já tentei e tentarei uma vez mais, mas temo muito
que o senhor Hume e ele não se ponham nunca em acordo. Ele me
disse que responderia à vossa carta e pedido por intermédio de uma
terceira pessoa, não a senhora B. Enquanto isso ela sabe o suficiente
para fornecer ao senhor Hume o material para umas dez conferências,
bastasse ele desejar fazê-las, e que reconhecesse tão somente o fato,
em vez de abrigar em relação a ela, de um lado, uma idéia tão pobre
e, de outro, um conceito tão errôneo. M. prometeu-me, contudo,
refrescar a sua memória falha e a reavivar tudo que ela aprendeu com
ele, de uma maneira tão clara como se possa desejar. Caso o arranjo
não obtenha a aprovação do senhor Hume, tenho, apenas, que
lamentá-lo, pois é o que melhor posso pensar. Eu deixo ordens com o
meu "Deserdado" para vigiar tudo quanto lhe seja possível, dados os
seus escassos poderes. E agora tenho que terminar. Só me restam
algumas horas para preparar-me para a minha jornada, muito longa
mesmo. Confiando que nos separaremos tão bons amigos como
sempre e que voltemos a nos encontrar como melhores amigos ainda,
deixai-me agora apertar a vossa mão "astralmente" e assegurar-vos,
outra vez, os meus bons sentimentos. Seu como sempre, K.H.
Carta Nº 105

(Provavelmente recebida depois de 17 de dezembro de 1882) Esta


carta é uma resposta a uma carta de Sinnett para o Mahatma K.H. na
qual ele contou ao Mahatma a respeito de um fato em sua vida que
haveria de ter grandes repercussões. Deve-se lembrar que, durante a
viagem de Sinnett à Inglaterra em 1881, ele teve o seu primeiro livro,
"O Mundo Oculto", publicado. O livro, conhecido da maioria dos
estudantes de Teosofia, aborda amplamente fenômenos produzidos
por H.P.B. e inclui informações a respeito dos Mahatmas com os quais
Sinnett se correspondeu através de H.P.B. O livro causou uma
profunda impressão no público na época, mas trouxe a Sinnett o
desagrado da comunidade anglo-indiana e a oposição dos
proprietários do "The Pioneer", do qual ele era o editor. As suas
relações com eles, dai por diante, não foram fáceis. Depois surgiu uma
mudança da direção: um inglês, chamado Rattingan, adquiriu o jornal.
Ele era ainda menos simpático a Sinnett e, sem dúvida, não tinha
relutância (ou talvez poucas inibições) de se livrar de Sinnett.
Finalmente, em novembro de 1882, Sinnett foi informado do término de
seus serviços como editor desse importante jornal, embora isso só
viesse a ocorrer após um ano. Este foi um acerto bastante satisfatório
porque deu a Sinnett um tempo para firmar uma nova situação.
Possivelmente ele escreveu para o Mahatma K.H. sobre os fatos e ele
pode ter sugerido o surgimento de um outro jornal para promover a
liberdade política na Índia. Naturalmente não temos a carta de Sinnett,
mas a correspondência subsequente indica que era esse o caso.
Assim, temos o começo do que foi chamado "A Aventura Fênix". O
assunto desagradável a que se refere no segundo parágrafo foi uma
reunião da Sociedade Eclética em Simla, provavelmente quando
H.P.B. e Sinnett estavam visitando os Humes ali, em 1881, para
debaterem uma carta vinda de um homem de nome S.K. Chatterji. A
carta era dirigida a Hume e continha observaçòes depreciativas a
respeito da Teosofia e de H.P.B. Obviamente Hume mandou essa carta
para o Mahatma K.H. para que lesse, e a carta retornou através de
H.P.B. Ao devolvê-la para Hume, ela disse que o Mahatma tinha dado
ordens "através dela para o Conselho Geral" para convidar o Sr.
Chatterji a renunciar. Isto desagradou Hume, que declarou que o
Mahatma não foi de modo algum cavalheiro; de que a carta era privada.
O Mahatma diz que a carta não era privada, dado que Hume a circulara
entre os membros. O Mahatma soube de tudo isso através de Djual
Khul que "tomou conhecimento do fato pessoalmente e tem uma
excelente memória". Isto indica que Djual Khul estava lá em seu corpo
sutil, porque ele não figura entre as pessoas citadas pelo Mahatma
como presentes. Meu querido amigo: Antes de vos dar uma resposta
definitiva à vossa carta de negócios, desejo consultar o nosso
venerável Chohan. Temos diante de nós doze mêses, como dizeis.
Agora tenho uma pequena questão a resolver, que é muito importante,
pois gira ao redor de outra série de mentiras deliberadas, cujo real
caráter já é tempo de provar. Somos chamados de "mentirosos" (sic)
com todas as suas letras e somos acusados de "baixa ingratidão". A
linguagem é forte e, como nos sentimos desejosos de adotar muitas
coisas boas dos ingleses, não é polidez, receio, que estaríamos
inclinados a aprender da classe de cavalheiros a que pertence o senhor
Hume. O assunto em que agora estou interessado, por si mesmo, pode
ser considerado por vós como algo de muito pouca importância: unido
a outros fatos, a menos que seja demonstrado mediante testemunho
bom e irrefutável, de que é pelo menos, uma perversão de fatos, tende
a converter-se em uma causa que produzirá efeitos desagradáveis e
arruinará tudo o que foi construido. Portanto, rogo-vos que não vos
detenhais em argumentar a total insignificância da pequena
recordação, mas confiando em que podemos ver algo do futuro, que
para vós permanece oculto, rogo-vos responder à minha pergunta,
como amigo e como irmão. Quando tiverdes feito isso, sabereis porque
foi escrita esta carta. H.P.B. acaba de ter uma discussão com Djual
Khool, que sutentava que o procedimento desagradável não foi
anotado nas atas por Davidson, enquanto que ela afirmava que sim.
naturalmente, ele estava certo e ela equivocada. Entretanto, se a sua
memória lhe falhou neste particular, serviu-a bem quanto ao fato em si.
Certamente recordais o fato. Reunião dos Ecléticos no salão dos
bilhares. Testemunhas: vós mesmo, os dois Hume, o casal Gordon,
Davidson e H.P.B. Assuntos: S.K. Chatterji, a sua carta a Hume
expressando o seu desprezo pela Teosofia e suspeitas da boa fé de
H.P.B. Passando ao senhor Hume a carta que eu devolvi a ela, disse
que eu havia determinado ao Conselho Geral, por seu intermédio, para
que se convidasse o Babu a renunciar. Em consequência, o senhor
Hume proclamou muito enfaticamente: "Em tal caso, o vosso Koot
Hoomi não é um cavalheiro. A carta é uma comunicação resevada e,
em tais circunstâncias nenhum cavalheiro pensaria em atuar como ele
deseja". Entretanto, a carta não era reservada, pois foi dada a
conheceer entre os membros pelo senhor Hume. Nesse momento não
prestei nenhuma atenção a essa insinuação, nem tampouco cheguei a
saber dela por intermédio de H.P.B., mas por D. Khool, que a ouviu
mesmo e tem uma excelente memória. Agora, quereis fazer-me o favor
de me escrever duas linhas, contando-me o episódio tal como vós o
recordais? Foram as palavras "não é um cavalheiro" aplicadas ao
vosso humilde servidor ou em geral? Eu vos pergunto como um
cavalheiro, e não como um amigo. Isto tem uma importante relação
com o futuro. Uma vez feito isso, eu vos farei ver os últimos
desenvolvimentos da infinita "fertilidade de recursos" ao serviço de
nosso mútuo amigo. Pode ser que, em quaisquer outras circunstâncias,
as fanfarronadas do senhor H. a respeito da alta opinião que Lord
Ripon tem do conhecimento teosófico de Hume, e da sua falação de
que os seus serviços que nos prestou, literários, monetários ou de
outra natureza, tivessem passado desapercebidos, pois todos
conhecemos as suas debilidades; mas no caso presente, devem ser
tratados de forma a não deixar para ele nenhum motivo em que se
aferre, porque a última carta que me dirigiu (que vereis) não só está
em desacordo com as reconhecidas regras de urbanidade, mas
também porque, a menos que se provém de fato as suas próprias
afirmações errôneas, ele se vangloriará daqui por diante, de ter dado
um desmentido direto a nossa Fraternidade, e isso nenhum membro
desta poderia nunca permitir. Não podeis deixar de notar o absurdo
contraste entre a sua aparente confiança nos seus maravilhosos
poderes e superioridade e o ressentimento que exibe, à menor
observação que faço sobre ele. Ele deve ser levado a entender que se
ele fosse tão grande como afirma, ou mesmo que estivesse totalmente
satisfeito com a sua grandeza e da infalibilidade do poder da sua
memória, permaneceria como agora, tão vulgarmente ofensivo. A sua
sensibilidade é, em si mesma, uma evidência das dúvidas emboscadas
na sua mente sobre a validade das pretensões que tão arrogantemente
apresenta; daí advém a sua irritabilidade excitada por qualquer coisa e
por tudo que possa perturbar as suas auto-ilusões. Confio que não
recusareis uma resposta direta e clara à minha pergunta clara e direta.
Seu sempre afetuosamente, K.H.
Carta Nº 106

(Depois do dia 29 de outubro) Eu desejo responder à sua carta,


cuidadosa e explicitamente. Devo, portanto, pedir que me concedeis
alguns dias mais, quando estarei mais livre. Devemos tomar medidas
para proteger eficazmente o nosso país reinvidicando a autoridade
espiritual do nosso Rei Sacerdotal. Talvez nunca, desde a invasão de
Alexandre com as suas legiões gregas, encontraram-se tantos
europeus armados tão próximos de nossas fronteiras como estão
agora. Meu amigo, os vossos correspondentes parecem colocar-vos a
par das maiores notícias somente superficialmente no melhor dos
casos; talves porque eles mesmos não as conhecem. Não importa:
algum dia serão conhecidas. Contudo, tão logo disponha de algumas
horas livres, ireis encontrar o vosso amigo ao vosso serviço. Procurai
acreditar mais do que fazeis na "velha Dama". Às vezes ela fica fora
de si; mas é verdadeira e faz o quanto pode por vós. K.H.
Carta Nº 107

(Entre 11 e 18 de fevereiro de 1881) Meu querido Embaixador, Para


acalmar a ansiedade que vejo assediando a vossa mente e que tem
mesmo uma forma mais definida do que havieis expressado, deixai-me
dizer que empregarei os meus esforços para acalmar a nossa velha
amiga, altamente sensitiva e nem sempre sensata, e fazer com que ela
continue no seu posto. Sua má saúde, resultado de causas naturais, e
a ansiedade mental deixaram-na nervosa num grau elevado e
lamentavelmente prejudicou a sua utilidade para nós. Durante os
últimos quinze dias tem sido quase inútil, e suas emoções têm corrido
pelos seus nervos como a eletricidade através de um fio telegráfico.
Tudo tem sido um caos. Envio estas poucas frases por meio de um
amigo a Olcott, para que as receba sem conhecimento dela. Consultai
livremente os nossos amigos na Europa e retornai com um bom livro
em vossas mãos e um bom plano em vossa cabeça. Animai aos
sinceros irmãos de Galle a que perseverem em seu trabalho de
educação. Algumas palavras vossas animarão os seus corações.
Telegrafai a Nicolas Dias, Inspetor de Polícia de Galle, que vós,
membro do Conselho da S.T. está por chegar (data e nome do vapor)
e eu farei que H.P.B. faça o mesmo para outra pessoa. Pense durante
a viagem em seu verdadeiro amigo. K.H. e -
Carta Nº 108

(De M. a Sinnett. Provavelmente recebida em janeiro de 1882). Esta


carta tem a ver com filiação à Sociedade. Parece que alguém (não há
indício de quem era) tinha sido excluido da Sociedade. A última
sentença indica que Sinnett não tratou com o Mahatma sobre este
assunto, mas que o Mahatma estava ciente dos fatos. O homem
enviado por mim na noite passada era um chela de Ladake e não tinha
nada a ver convosco. O que dissestes sobre "iniciação" é verdade.
Todo Membro que se arrependa verdadeiramente e sinceramente deve
ser aceito de novo. Como vêdes, eu estou convosco constantemente.
Carta Nº 109

(De M. a Sinnett. Por volta de 14 janeiro de 1882). No livro de


Josephine Ransom, "Pequena História da Sociedade Teosófica",
p.165, ela relata que "Durante janeiro e fevereiro o Mestre M. apareceu
com frequência e foi visto por muitos...em uma tarde, quando um grupo
tinha se reunido na casa, o Mestre M. apareceu e foi distintamente visto
por Ross Scott, Bhavani Shanker, Damodar e outros". Ela não
menciona S. Ramaswamier, mas é evidente por esta carta, que ele
estava presente, dado que o Mahatma o menciona junto com Scott.
Ramaswamier era de Tinevelly e havia sido aceito pelo Mahatma M.
como chela. Há referência à celebração do aniversário em Bombaim
na qual é visível uma nota de pesar pela ausência de Sinnett. Não é
claro o que a referência a "risco pessoal" poderia significar. Pode ser
que os Mahatmas soubessem que a honestidade dos fundadores seria
posta em dúvida e sentiam que Sinnett teria que assumir algum "risco
pessoal" ao defendê-los. Não posso fazer um milagre ou eu teria me
mostrado por completo, pelo menos, à senhora Sinnett, apesar dos
fósforos da mulher francesa, e para vós, apesar das condições físicas
e psíquicas. Por favor, compreenda que o meu senso de justiça é tão
forte que não vos negaria uma satisfação que já dei a Ramaswami e
Scott. Se não me vistes, é simplesmente porque isso foi uma
impossibilidade. Se tivestes satisfeito assistindo à reunião, nenhum
prejuizo na verdade, teria vos acontecido, porque K.H. havia previsto e
preparado tudo, e o esforço mesmo que tivestes feito para se manter
firme, ainda com um suposto risco pessoal, teria mudado
completamente a vossa condição. Agora vejamos o que o futuro
reserva. M
Carta Nº 110

(Recebida antes de 8 de outubro de 1882). Esta carta está escrita em


três folhas diferentes de papel e parece ser composta de três notas
separadas, provavelmente escritas em dias diferentes, embora uma
bem após a outra. Sinnett estava ainda em Simla quando ela foi
recebida, e H.P.B. (que havia sido levada para Sikkim pelo Mahatma
M. devido a sua doença grave) estava descansando em um mosteiro
próximo ou em Darjeeling. Ela esteve no Sikkim apenas alguns dias. A
carta começa com uma referência ao chela Dharbagiri Nath,
provavelmente Babaji, porque foi na ocasião em que ele emprestara o
seu corpo para o uso pelo chela tibetano, Guala K. Deb, que usava o
nome místico Dharbagiri Nath. Aqui o Mahatma fala dele como "o
homenzinho" o que, certamente, indica tratar-se de Babaji - pelo menos
o corpo físico era o de Babaji. Ao mesmo tempo, o mistério se
aprofunda, pois Babaji era um chela probacionário e Deb era um chela
aceito. Pode ter acontecido a atuação de Deb através de Babaji, com
uma estranha mescla de identidade, que é muito difícil de
compreender. Também o Mahatma diz a Sinnett: "Meu amigo, receio
que fostes muito imprudente de novo". Deve-se lembrar que o
Mahatma mandara a Sinnett uma carta que ele escrevera para o Cel.
Chesney, em resposta a uma carta recebida deste. Ao mesmo tempo
o Mahatma recebeu uma carta de Sinnett pedindo-lhe que não se
correspondesse com o corenel. Sinnett estivera procurando torná-lo
interessado na Sociedade Teosófica e chegou mesmo ao ponto de
pedir ao Mahatma que mandasse àquele um retrato seu. De qualquer
modo, parece que Sinnett não lidou bem com o assunto, e o coronel
sentiu-se ofendido, com o resultado mencionado acima. Parece que o
Cel. Chesney se indispôs porque ele pensou que alguns artigos
publicados no "The Theosophist" eram anti-cristãos e que a Teosofia
era hostil somente ao Cristianismo. Meu querido amigo: Posso
incomodar-vos para entregar 50 Rs. que aqui vão anexas, a Darbhagiri
Nath2 quando o virdes? O homenzinho se acha em dificuldades, mas
tem que ser repreendido, o e melhor castigo para um chela aceito é
receber a reprovação por intermédio de um chela "laico". Em sua
viagem de Ghoom à Bengala, perdeu dinheiro devido a sua
imprudência e indiscreção, e em vez de dirigir diretamente a mim,
tratou de esquivar-se do "olho do Mestre" e pediu a um chela em prova,
sobre o qual não tem o menor direito, que o ajudasse a sair de sua
dificuldade. Rogo-vos, pois, que lhe diga que Ram S. Gargya não
recebeu o seu telegrama de Burdwan, mas que chegou diretamente às
mãos do Lama, que me avisou disso. Que seja mais prudente no futuro.
Vêdes, pois, o perigo que significa deixar de vigiar chelas jovens,
mesmo por uns poucos dias. A perda de dinheiro não é nada, mas o
terrível são os resultados e as tentações que isso implica. Amigo meu,
temo que também vós tenhais sido outra vez IMPRUDENTE. Tenho
uma carta do Coronel Chesney, muito cortez e bastante diplomática.
Várias destas mensagens poderiam servir como excelente
refrigerador. Seu, K.H. P.S. Alegro-me de ver que reimprimistes no
Pioneer "Um dia com meus Primos Indianos" por Atettjee Sahibjee,
etc., aparecido no Vanity Fair. No ano passado eu vos havia pedido
que desseis algum trabalho ao autor daquelas descrições, a ser feito à
maneira do outrora famoso Alí Babá, mas recusastes. Pensastes que
ele não escrevia suficientemente bem para o Pioneer. Desconfiastes
de um "indiano" e agora os seus artigos se publicam no Vanity Fair.
Alegro-me pelo pobre Padshah. É muito fogoso, embora de excelente
coração e sinceramente devotado à Teosofia e à nossa causa. Devo
consultar-vos. Hume escreve a H.P.B. (uma carta muito carinhosa).
Envio-lhe duas cópias corrigidas de uma carta dele publicada no
Pioneer do dia 20, observando que chegou o momento quando, se a
imprensa indiana em todo o país apenas seguir a sua liderança e
pressionar a questão fortemente, serão obtidas concessões materiais
e, ele acrescenta: "naturalmente reimprimireis isso no "Teosofista".
Como pode ela fazê-lo sem relacionar diretamente a sua revista com a
política? Eu ficaria extremamente satisfeito se a sua carta sobre
Educação, publicada em seu Pioneer, fosse reproduzida no
"Teosofista", mas hesitei em dizer isso a ela, temendo que desse um
novo colorido à revista. Alguns de seus artigos são sumamente bons.
Bem, e o que fareis acerca do aniversário da "Eclética" e da conclusão
do ciclo? Ela está melhor e a deixamos próximo de Darjeeling. Não
está segura no Sikkim. A oposição dos Dugpas é tremenda, e a menos
que nós dediquemos a totalidade de nosso tempo a protegê-la, a
"Velha Dama" sofreria as consequências, pois que agora é incapaz de
defender-se. Vêde o que aconteceu ao homenzinho; ele vos dirá.
Devereis hospedá-la durante outubro e novembro. Seu de novo, K.H.
Este pequeno fracassado obriga-me a envergonhar-me diante de vós,
devido à sua indiscreção "do ponto de vista europeu". Não posso estar
sempre vigiando os meus Chelas em suas viagens e o conhecimento
deles sobre vossas maneiras e costumes é nulo! Somente hoje soube
que ele vos pedirá emprestado 30 rúpias por intermédio de Djual Khool.
Não tinha nenhum motivo nem direito para fazê-lo, mas deveis perdoá-
lo porque não tem a menor idéia da diferença entre um chela tibetano
e um europeu, e vos tratou tão familiarmente como o faria com Djual
Khool. Devolvo para vós o dinheiro emprestado, com os meus
agradecimentos, esperando que não considerareis a todos nós como
selvagens! Estou vos escrevendo uma longa carta aos poucos, como
de costume. Quando essa carta de negócios estiver a caminho, eu vos
enviarei outra com as respostas às vossas perguntas. Algo ridículo
aconteceu em relação à carta de C.C.M., que relatarei em minha
próxima. Saúde e êxito ao "novo Presidente" por fim! Sou sempre
vosso afetuosamente, K.H. Perdoai-me o atraso inevitável. Esta carta
com seu anexo, não pode chegar a Darjeeling antes de 4 ou 5 dias.
Carta Nº 111

(Setembro de 1882) Esta é realmente uma carta introdutória para a


seguinte. Dhabagiri Nath era um nome místico de um dos chelas do
Mahatma K.H., Gwala K. Deb. Mas, há também uma estranha conexão
com outro indivíduo, um chela probacionário do Mahatma K.H.,
conhecido nas cartas como Babaji, ou, às vezes, Bawajee. Esta
situação muito esquisita é explicada por Sven Eek no livro "Damodar",
p.537 (veja também as Cartas de H.P.B. para Sinnett, de 135 a 140,
também p. 336 e seguintes). Veja as notas à carta nº.53 (CM-136). Por
ocasião desta carta e provavelmente em conexão com ela, o Mahatma
K.H. desejava mandar dois chelas para Sinnett, então em Simla. Ele
escolheu um dos seus discípulos, Gwala K. Deb, que era
provavelmente tibetano, e R. Keshava Pillai, um inspetor de polícia em
Nelore, que havia se tornado um chela laico probacionário e era
conhecido como Ghandra Cusho, um nome que o Mahatma K.H. lhe
dera. Deb estava no Tibet nessa época, desenvolvendo um
determinado treinamento oculto e estava impossibilitado de ir em seu
corpo físico. Babaji consentiu que Deb usasse o seu corpo na ocasião.
Para ele isto significava muito crédito e benefício espiritual. De
qualquer modo, Deb era o nome místico de Dharbagiri Nath, e parece
que Babaji continuou a usar o nome depois que o episódio terminou.
Esta mistura é estranha e, quando deparamo-nos com o nome
Dharbagiri Nath, como acontece muitas vezes nas cartas, é difícil saber
se é realmente Gwala K. Deb, o chela tibetano, ou Babaji. Contudo,
quando o Mahatma refere-se a ele como "o pequeno homem" ou "meu
homenzinho", provavelmente ele está se referindo a Babaji (seja ao
representar Deb ou ele mesmo), porque ele era de estatura pequena.
Chandra Kusho era um nome tibetano dado pelo Mahatma a R.
Keshava Pillai. Ele foi posto em provação pelo Mahatma, mas não
progrediu posteriormente. Mais tarde, ele perdeu o interesse na
Sociedade Teosófica. Ele recebeu diversas cartas do Mahatma, as
quais, mais tarde, ele deu para Olcott. Elas estão incluídas nas "Cartas
dos Mestres de Sabedoria", Série 2, pp.115-19. Uma delas tem alguma
ligação com a Carta nº.84. O Mahatma diz-lhe que ele está mandando
"Deb" para Simla com algumas cartas para o Sr. Sinnett (a quem ele
chama "o melhor de todos") e pergunta se o Irmão Keshu (Chandra
Kusho) o acompanhará e o auxiliará. "A tarefa é fácil", diz o Mahatma,
"e os dois não têm muito o que fazer senão ficarem silenciosos e
desempenhar com sucesso o que lhes cabe". O Mahatma promete-lhe
que, se ele desempenha bem esta missão, ele (K.H.) o tomará sob sua
proteção especial e permitirá que alguns segredos lhe sejam
ensinados. Sem dúvida que a missão era entregar as Cartas nº.84, 85A
e 85B. Meu querido amigo: A presente será entregue em vossa casa
por Darbhagiri Nath, um Chela meu, e por seu irmão Chela, Chandra
Cusho. Estão proibidos de entrar em qualquer casa sem que tenham
sido previamente convidados. Portanto, peço-vos que perdoai os
nossos costumes selvagens e, ao mesmo tempo, para adaptar-vos a
eles, enviai-lhes um convite em vosso nome, ou agora - se podeis
recebê-los privadamente e sem risco de se encontrarem em sua casa
com alguma pessoa estranha ou em qualquer outro momento durante
o entardecer ou quando a noite estiver avançada. Não tenho a menor
objeção a que a senhora S. sua esposa veja ambos; mas rogo a ela
que não lhes dirija a palavra, pois estão proibidos por nossas leis
reliogiosas de falar com qualquer dama (excetuando suas mães e
irmãs) e porque ela os pertubaria muito. Rogo a ela que assim proceda,
em meu nome e em consideração a mim. Também confio na vossa
amizade de que ninguém senão vós lhes falará. Eles têm a sua missão
que é tão somente (1) entregar em vossas mãos as minhas "respostas"
às famosas contradições, e (2) entrevistar o senhor Fern. Caso tenhais
uma resposta para mim, Darbhagiri Nath irá recolhê-la quando
estiverdes pronto. Também peço-vos encarecidamente que não as
imponha ao senhor Hume. Não pense no que se passou até que tudo
seja explicado Sempre seu, K.H. P.S. Também estão proibidos de
estreitar a mão de qualquer homem ou mulher, isto é, tocar em alguém;
mas podereis convidar o meu homenzinho para vir e falar convosco
quando quiserdes, sempre que sejais discreto.
Carta Nº 112

(Recebida em setembro de 1882) Sinnett estava muito ansioso em


interessar o Cel. Chesney em Teosofia e tinha pressionado muito o
Mahatma para prestar atenção nele, até o ponto de mandar-lhe o seu
retrato. Mas, Sinnett parecia ter mudado completamente de opinião.
Aqui o Mahatma dá a entender que o Coronel tinha perdido o interesse
na Sociedade e isto pode ter sido causado por Fern, pois parece que
ele teve algo a ver com a situação. Nas Cartas dos Mestres de
Sabedoria 3, pp.142-44, há uma carta de Fern, vinda do Mahatma, que
é uma obra-prima de ironia. Ele tinha recebido uma carta de Fern, a
qual, diz ele, "perturbou a minha serenidade habitual", acrescentando
que "duas ou três frases dela podem mesmo fazer um adepto coçar a
sua cabeça". Conclui-se desta carta que Fern havia dito ao Mahatma
M. que ele pertencia a uma determinada sociedade secreta "na qual
nenhum membro conhece o outro e onde ninguém pratica nem tolera
o engano". Isto, diz o Mahatma M., "encheu-o de espanto e admiração",
especialmente porque, embora não houvesse possibilidade alguma de
um membro conhecer um outro, Fern evidentemente conhecia vários
deles. O Mahatma deduz: como poderiam eles praticar o engano se
membro algum conhecia quem era membro? "Eu devo naturalmente
deduzir", diz o Mahatma para Fern, "que você tem um alto cargo nela,
seu presidente talvez, o !Sumo Venerável Mestre?". Ele comenta que,
sem dúvida, Fern não mais pretendia pertencer à uma Fraternidade
que igualmente praticava e tolerava o engano com respeito aos
probacionários. Contudo, diz o Mahatma M., ele supõe que Fern não
os tenha descartado totalmente e que tudo o que foi feito por ele (Fern)
não era para manter-se no lado digno de confiança da Fraternidade,
mas com o louvável motivo de "servir a causa". O Mahatma M. encerra
a sua carta com as palavras: "...não pense o pior a meu respeito se eu
encerro esta carta mandando-lhe uma SEGUNDA ADVERTÊNCIA".
Assim claramente Fern havia sido advertido antes que os seus
métodos não eram totalmente aprovados pelo Mahatma M. Há um
adendo à carta, que se relaciona com W. Oxley. Deve-se lembrar que
ele afirmava ter conversado astralmente com o Mahatma K.H. (Veja
notas na Carta nº.83 - CM-125), o que o Mahatma negou. A minha
resposta ao Coronel Chesney à sua carta já estava escrita e pronta
para ser enviada por meu homenzinho, quando recebi a vossa,
aconselhando-me a não me corresponder com ele. Portanto, remeto-a
para vós para ser lida e, caso achardes conveniente, entregá-la ao seu
destinatário. Parece-me descortez deixar a sua carta sem nenhuma
notícia de recebimento, esteja ele em simpatia ou não com o
movimento. Mas, bom amigo, deixo isso inteiramente em vossas mãos
e rogo-vos que apliqueis na questão o vosso próprio discernimento.
Deveis saber que, decididamente, o jovem Fern é um pequeno farsante
e pior ainda: um mentiroso congênito, e muitas vezes irresponsável.
Em sua última carta tenta enganar M. e fazê-lo crer que ele, Fern, é um
novo Zanoni em botão. Está pondo-nos em prova de toda forma e
maneira, e apesar dos constantes conflitos, tem uma definida influência
muito forte sobre Hume, a quem engana com "poderes" imaginários
cuja finalidade é a de suplantar os Irmãos. Ele o fez crer, indiretamente,
que pertencia a uma Sociedade cujo "nome não se pode mencionar",
uma Sociedade que não busca membros, e na qual nenhum membro
conhece o outro, nem o conhecerá até que a verdadeira natureza dos
"Irmãos" seja dada a conhecer, embora o sistema no qual funciona
impeça qualquer engano, etc., etc. Para M. ele escreve que ele (Fern)
confessa que não deveria ter colocado tentações no caminho de Hume,
pois tendo superestimado a sua força, ele havia sido,
"inconscientemente, a causa da sua queda". Esse indivíduo está por
trás de muita coisa que aconteceu. Vigiai e tende cuidado com ele.
Uma coisa é certa, entretanto. Estes não são momentos para punir
muito severamente as ofensas de "chelas laicos", demasiadamente
indiscretos e parcialmente fieis. Agora que o senhor Hume se indispôs
com o Chohan e M., fico sozinho para prosseguir o difícil trabalho.
Lestes a carta de Hume. Que vos parece este enorme simulacro de um
Yogui, com a mão solenemente estendida e os olhos altaneiros e
desafiantes, desmentindo com um gesto desdenhoso a intenção de
produzir danos na Sociedade? Deixai-me ser um eco de vosso suspiro
pela pobre Sociedade, e antes de desaparecer de novo na nebulosa
distância entre Simla e Phari Jong, asseguro-vos meus sentimentos
sempre amistosos. K.H. O senhor W. Oxley deseja se unir a Eclética.
Direi a ela que vos envie a carta dele. Rogo-vos escrever-lhe dizendo
que não deve sentir-se molestado pela minha negativa. Eu sei que ele
é totalmente sincero e tão incapaz de um engano ou de um exagero
como vós. Mas ele confia demasiado nos que o rodeiam. que seja
cauteloso e cuidadoso e, se entra na Sociedade eu posso ajudá-lo e
mesmo corresponder-me com ele por vosso intermédio. É um homem
valioso e, na verdade, mais merecedor de respeito sincero do qualquer
outro místico espírita que conheço. E embora nunca me aproximei dele
astralmente ou conversei com ele, inúmeras vezes o examinei em
pensamento. Não deixai de lhe escrever pelo primeiro navio. K.H.
Carta Nº 113

(Recebida antes de 18 de agosto de 1882) Edmund W. Fern estava


trabalhando como secretário para Hume e provavelmente vivendo em
sua casa. Ele era um pouco psíquico e os Mahatmas achavam que ele
poderia ter algum potencial valioso para a transmissão de mensagens.
Ele filiou-se à Sociedade Teosófica e foi eleito secretário da Sociedade
Teosófica Eclética de Simla. O Mahatma M. mostrou interesse nele e
o aceitou como um chela em provação. Evidentemente, Fern aborreceu
Hume, que escreveu a respeito ao Mahatma K.H. e decidiu informar
aos Mahatmas sobre o que eles deveriam fazer em relação ao assunto.
A sua carta ao Mahatma K.H. colocou este em uma situação algo
embaraçosa. O Mahatma K.H. responde a Hume (na próxima carta a
ser estudada) e manda a sua carta para Sinnett para ler, antes de
passá-la para Hume. Fern falhou mais tarde em sua provação e foi
excluido da Sociedade Teosófica. Em 18 de agosto de 1882, enquanto
Olcott estava em Ceilão, ele escreve: "Visita noturna de M....ordena-
me excluir Fern. Razões não foram dadas. O que aconteceu?" Em 6
de dezembro o próprio Fern veio ver Olcott e explicou certas questões
que o Cel. viu, requeriam a sua expulsão. Estas razões não eram de
natureza psíquica, mas relacionadas com transações de negócios,
talvez em conexão com a S.T. Eclética de Simla. Em uma ocasião,
antes da falha final de Fern, o Mahatma M. escreveu-lhe uma carta de
advertência, certamente a segunda advertência que ele lhe fazia.
(Cartas do Mestres de Sabedoria, Série II: pp.142-45). PRIVATIVA
Meu querido amigo: Rogo-vos que me desculpeis por molestar-vos
com os meus próprios assuntos, mas embora o Chohan2 me obrigue
a responder, não sei, realmente, se estou dentro dos limites do vosso
código de cortezia ou à margem dele. Tenho que vos escrever uma
longa carta sobre algo que me preocupa e desejo que me aconselheis.
Encontro-me numa situação muito desagradável, passível de trair um
amigo e o vosso código de honra; (o amigo não sois vós). Confio em
que posso por a minha inteira confiança na vossa amizade pessoal e,
sem dúvida, na vossa honra. Honra! Que idéias curiosas, muito
curiosas pareceis ter acerca dessa coisa sagrada! Não vos assusteis,
porque, na verdade, este assunto é mais ridículo do que perigoso.
Entretanto, há perigo de se perder o senhor Hume. Amanhã escreverei
mais detalhadamente. Fern é um pequeno asno, mas é clarividente e
também algo alucinado. Mas o senhor Hume é damasiado severo com
ele. O rapaz espera poder descobrir se somos mitos ou fraudes. Bem,
onde está o dano de tais alucinações? Entretanto, Hume trai a
confiança dele e me envia uma carta de um metro de comprimento,
com conselhos acerca de como sair de nossas dificuldades! Quer ser
o nosso benfeitor e colocar-nos debaixo de uma eterna obrigação por
salvar M. de cair mais uma vez na armadilha de Fern. Eu vos enviaria
a sua carta caso não estivesse marcada como "privativa e
confidencial", e eu não seria um cavalheiro aos seus olhos se soubesse
que quebrei a sua confiança. Bem, de qualquer modo, desejo que leiais
esta carta e deixo ao vosso critério que seja enviada ou destruída.
Caso desejeis que ele saiba que a lestes, colocai um selo no envelope
e jogai-o na caixa do correio. Não creio que ele vos tomará como
confidente, desta vez. Contudo, posso estar equivocado. Logo
sabereis mais. Vosso afetuosamente, K.H.
Carta Nº 114

(De M. a Sinnett. 14 de novembro de 1881). De novo incorretamente


datada por Sinnett, por se referir obviamente à visita de H.P.B. a
Allahabad. O Mahatma anexa uma carta de Bannerjee, de quem,
evidentemente, Sinnett não gosta. Bannerjee era proeminente
teosofista indiano nos primeiros dias da Sociedade. Ele era magistrado
e Agente Arrecadador de Barhampore, Bengala. A carta enviada é de
um Babu, um Bengalês que vos inspira náusea, de quem, em
consideração a K.H., rogo-vos dissimular o sentimento de repugnância
que pode vos provocar ao vê-lo, se ele vier. Lêde-a com atenção. As
linhas grifadas contêm o germe da maior das reformas, os mais
benéficos resultados obtidos pelo movimento Teosófico. Se o nosso
amigo de Simla fosse menos rabugento, eu teria tratado de influenciá-
lo para redigir as nossas regras especiais e uma promessa diferente,
com direitos e obrigações, para as mulheres Zenana da Índia.
Aproveitai a sugestão e vêde se podeis induzí-lo a fazê-lo. Escrevei-
lhe sem demora, para Bombaim, para que venha e se encontre com a
Velha Dama em vossa casa e depois com o seu compatriota e co-
associado, o Babú de "Prayag", a energia jovem de vossa Sociedade.
Então telegrafei a ela, para Meerut, para que venha, utilizando o meu
nome, pois de outra forma não o fará. Eu já respondi para ele em nome
dela. Não se surpreendeis; tenho uma razão para tudo, como podereis
comprová-lo dentro de alguns anos. E por que deveis estar tão ansioso
em ver meus bilhetes para outras pessoas? Não tendes já demasiado
trabalho em decifrar as minhas cartas? M.
Carta Nº 115

Recebida durante uma breve visita a Bombaim, em janeiro de 1882.


Esta foi recebida quando Sinnett estava em Bombaim em janeiro de
1882. Ambos os Mahatmas pareciam interessados em que Sinnett
estivesse na celebração do aniversário da Sociedade Teosófica. Isto
foi mencionado numa carta anterior (nº.24 - CM-71). Em uma carta
escrita pelo Mahatma K.H., pouco antes de ele sair para o seu retiro
(Cartas de H.P.B. para Sinnett 203, p.236), ele disse: Vossa presença
em Bombaim salvaria tudo, mas vendo como vós sentis tão relutante,
eu não insistirei". (Veja a carta completa no Apêndice). Nesta carta
(nº.39) o Mahatma M. diz: "Mas nenhum de nós forçaria o curso das
coisas - contra o vosso desejo, pressionando-vos". Esta reunião
ocorreu em 12 de janeiro de 1882. Sinnett não permaneceu em
Bombaim para esta reunião, dando como desculpa necessidades de
sua esposa e filho; também ele estava evidentemente incomodado com
o seu trabalho no "The Pioneer". K.H. e eu desejávamos grandemente
que, devido ao fato de Scott2 não poder assistir ao aniversário, devieis
fazê-lo - não para tomar qualquer parte em seu programa, mas
simplesmente para estar presente. Esta desventurada organização
fará, uma vez mais, a sua apresentação sem contar com um só
europeu de posição e influência. Mas nenhum de nós vos forçará a
uma linha de ação contrária aos vossos desejos. Portanto, o que digo
não deve ser interpretado como sendo uma ordem ou um pedido
urgente. Cremos que é bom, mas deveis obedecer ao vosso próprio e
sereno juizo, tanto mais quando talvez o dia de hoje marque uma crise.
Uma das razões para que eu vos chamasse foi o desejo de K.H. de
que devieis ser colocado sob certas influências magnéticas e ocultas
que atuariam favoravelmente sobre vós no futuro. Escreverei mais
amanhã, pois espero que nos deis um dia ou dois e tenhamos assim
tempo para ver o que pode se feito para vós por Koot Hoomi. M.
Carta Nº 116

(Provavelmente recebida entre 14 e 17 de agosto de 1882). Está


escrita na frente de um envelope de 10 por 12 cm, dirigido a Sinnett.
A.P. Sinnett Meu querido amigo: Estou cansado e desgostoso até não
poder mais com toda essa disputa. Rogo-vos que lêde esta antes de
dá-la ao senhor Hume. Se, como dívida de gratidão ele quisesse exigir
somente meio quilo de carne, eu não teria nada a dizer; mas meio quilo
de inútil verbosidade é realmente mais do que eu posso suportar!
Vosso sempre, K.H.
Carta Nº 117

(Outubro de 1882).

Este cartão destina-se a apresentar Mohini Chatterjee, um dos chelas


indianos. Mohini, como era costumeiramente chamado, nasceu em
Calcutá, de casta brâmane e descendente de Ram Roy, um reformador
bastante conhecido do Hinduismo.

Não se pode saber precisamente qual era a "missão" de Mohini junto


a Sinnett, mas parece que se relacionava com o fim do ciclo ao qual se
refereiu várias vezes no outono de 1882. Este fim de ciclo era o
atingimento dos primeiros sete anos da Sociedade Teosófica.

A presente é uma apresentação ao meu Chela (laico) no do meu Chela


laico no 2, Mohini Babu. As experiências deste último e o que tem a
dizer interessarão ao senhor Sinnett. Mohini Babu é enviado por mim
em certa missão relacionada com o fim do ciclo (teosófico) que se
aproxima carregado de ameaças, e ele não tem tempo a perder. Por
obséquio, atendeio-o de imediato e recebei o seu testemunho.

Vosso,

K.H.
Carta Nº 118

Eis um asunto inesperado na correspondência reservada. Não tenho


tempo para responder nem mesmo as vossas perguntas; eu o farei
amanhã ou no dia seguinte. Durante alguns dias notei algo assim como
ansiedade nos pensamentos de vossa senhora, acerca de "Den". As
enfermidades das crianças são raramente perigosas, mesmo quando
se descuida um pouco, se a criança possue uma constituição
naturalmente robusta. As muito mimadas são naturalmente vitimadas
pelo contágio.

Notei o seu temor outro dia, na casa do senhor Hume, de levar consigo
para o lar os gérmens da enfermidade, pois a minha atenção foi atraida
para ela pelo "Deserdado", que estava vigiando. Não temeis em
nenhum caso. Espero que me perdoareis se vos aconselho costurar
numa pequena bolsinha o que vos envio - uma parte dele bastará - e
que pendureis no pescoço da criança.

Impossibilitado como estou de levar ao vosso lar todo o magnetismo


de minha pessoa física, faço o que mais se aproxima dele enviando-
vos uma mecha de meu cabelo, como veículo para transmissão de
minha aura numa condição concentrada. Não permitais que ninguém a
toque, exceto a senhora Sinnett. Fareis muito bem não vos
aproximando do senhor Fern durante algum tempo.

Vosso,

K.H.

Não digais nada a ninguém sobre esta nota.


Carta Nº 119

A pessoa a quem esta carta (ou melhor, as duas pequenas notas e um


recorte de jornal) é destinada, não está indicada, embora possa ter sido
H.P.B., Damodar, ou Olcott, porque parece que o Mahatma vez ou
outra mandou mensagens através de todas estas pessoas. As duas
notas se destinam a transmitir um recorte de jornal e sugerir que seja
dado a Sinnett.

Sir John Lubbock, mencionado no recorte, viveu entre 1834 e 1913.


Ele era um banqueiro inglês e naturalista. Foi o primeiro a usar as
expressões "Era Paleolítica e Neolítica". Procyon é uma estrela
brilhante na constelação do Cão (o Cão menor), a Este de Orion, perto
de Gêmeos. Algol é uma estrela de brilho variável nas Perseidas. Ela
perde muito do seu brilho quando eclipsada pela sua companheira
escura. Na mitologia grega, Medusa era uma das três Gorgonas, morta
por Perseu.

Dai meus salams ao senhor Sinnett e pedi-lhe que comente sobre o


bilhete anexo. Ele pode saber o que desejo que escreva no editorial
sobre o assunto. Dizei-lhe também que o tempo é pouco e precioso e
não deve ser mau gasto.

K.H.

O que se segue pode levar posteriormente a uma curiosa confirmação


de nossa doutrina de "obscuração", que tanto intriga a meu amigo, o
editor do "Phoenix".

Rogo-vos que o comenteis igualmente e, assim vos agradeço.

Vosso,

K.H.

RECORTE DO JORNAL

A opinião de Sir John Lubbock confirma ou respalda as coclusões há


muito tempo expostas por alguns dos astrônomos mais eminentes, isto
é: que existem atualmente no sistema solar ou firmamento muitos
corpos obscuros, ou seja, corpos que agora não emitem luz ou,
comparativamente, muito pouca. Ele indica, por exemplo, que no caso
de Procion, a existência de um corpo invisível é demonstrada pelo
movimento das estrelas visíveis. Outro exemplo que cita se refere aos
notáveis fenômenos apresentados por Algoe, a brilhante estrela da
Cabeça da Medusa. Esta estrela brilha sem mudança durante dois dias
e treze horas; depois em três horas e meia, diminui o seu brilho de
estrela de segunda magnitude para o de uma de quarta, e depois, em
outras três horas e meia recupera o seu brilho anterior. De acordo com
a opinião sustentada pelo Professor Lubbock, essas mudanças devem
ser consideradas como indicadoras da presença de um corpo opaco,
que intercepta a intervalos regulares, uma parte da luz emitida por
Algoe.
Carta Nº 120

Veja Notas à Carta nº.50.

À esposa do senhor Sinnett:

Usai o cabelo que anexo, numa fita de algodão, (e se prefereir num bracelete
metálico) em vosso braço esquerdo, um pouco mais abaixo de sua axila. Segui
o conselho que vos será dado por Henry Olcott. É bom e nada temos a objetar.
Não guardeis maus sentimentos, contra um inimigo ou alguém que vos
produziu dano, pois o ódio atua como um antídoto e pode prejudicar até o efeito
deste cabelo.

Carta Nº 121

Esta carta se relacionava com o estabelecimento do ramo de


Simla da Sociedade Teosófica. H.P.B. tinha sido convidada pelos
Humes a estar lá e o Mahatma parecia interessado em que Sinnett
também estivesse presente. Na pág.156 de "O Mundo Oculto",
Sinnett comenta que ele foi para Simla em agosto de 1881, em
função deste empreendimento.

Grato. As pequenas coisas foram muito úteis, e agradecidamente


acuso o seu recebimento. Deveríeis ir à Simla. Procurai. Admito
uma fraqueza de minha parte ver-vos fazer isso. Devemos esperar
pacientemente os resultados, como eu vos disse, do livro. As
falhas são enervantes e "atormentam", mas não podemos ir contra
o inevitável. E como é sempre bom consertar um erro, eu já levei
ao conhecimento do Chohan o Mundo Oculto. Paciência,
paciência.

Vosso sempre,

K.H.
Carta Nº 122
Curiosamente, esta carta é datada de Londres, Inglaterra, em 27
de abril. Não há explicação para isso. No "Guia do Leitor das
Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett" de George Elinton e
Virginia Ranson, comenta-se que "pode-se talvez cogitar que ela
foi transmitida através de Eglinton como um teste de sua
habilidade e da possibilidade de ser aproveitado para essa
finalidade caso retornasse para a Índia. Isto está mencionado nas
Cartas de H.P.B. para Sinnett, 193 e 193A, p.361 (Veja o Apêndice
III deste livro)

Meu bom amigo: embora o senhor Eglington prometesse retornar


nos fins de junho, não pôde fazê-lo, depois do perigo que o
ameaçou em Calcutá no mesmo dia de sua partida, a menos que
seja eficazmente protegido contra a repetição de tão desgraçada
ocorrência. Se o senhor Hume está ansioso em tê-lo consigo, que
lhe ofereça o posto de secretário particular, a falta de algo melhor,
por um ano ou mais, agora que o senhor Davison está ausente. Se
vós ou o senhor Hume estão realmente ansiosos de me ver (ou
melhor ao meu Eu astral), existe uma oportunidade para vós.
H.P.B. está demasiadamente velha e não é bastante passiva.
Ademais, já prestou demasiados serviços para que a obriguemos
a isso. Com o senhor Eglington, a coisa se tornaria fácil, se ele
estiver disposto. Aproveitai, pois, a oportunidade oferecida; dentro
de um ano SERÁ DEMASIADAMENTE TARDE.

Vosso,

K.H.

Londres, 27 de abril.

Ao senhor A.P. Sinnett,

Editor do Pioneer, Allahabad


Carta Nº 123

Provavelmente apenas uma nota para acalmar a impaciência de


Sinnett, uma característica que ele nunca venceu totalmente.

Na primavera de 1888, Sinnett convenceu-se de que a


comunicação entre o Mahatma K.H. e ele havia se restabelecido
através de uma médium cujo nome ele nunca revelou, mas a quem
chamava de "Mary". Em sua autobiografia não publicada, ele
afirmou que "reuniu uma grande quantidade de informações
ocultas variadas" através deste contato; também que esta atividade
foi conservada "profundamente secreta para nossos amigos
teosóficos em geral - de acordo com os desejos do Mestre". Muito
ceticismo foi demonstrado pelos estudiosos a respeito deste
desdobramento.

A.P. Sinnett morreu em 27 de junho de 1921, com a idade de 81


anos.

Não fiqueis impaciente, bom amigo, responderei amanhã. Quando


souberdes um dia das dificuldades que estão no meu caminho,
vereis quão enganado estais, às vezes, em vossas suposições
acerca dos meus movimentos.

K.H.
Carta Nº 124

Carta C (CM-124) Sem data

Esta é uma carta muito curiosa, provavelmente escrita por ocasião


de uma das viagens de Sinnett para a Europa.

Não poderíeis providenciar para mim a coleta de três pedras?


Deverão proceder da margem do Adriático, preferencialmente de
Veneza, localizadas o mais próximo possível do palácio dos Doges;
(as que se encontram embaixo da Ponte dos Suspiros seriam as
melhores, se não fosse a lama acumulada durante séculos). As
pedras devem ser de três cores diferentes: uma vermelha, outra
negra e a terceira branca (ou acinzentada). Se chegardes a
conseguí-las, por obséquio, guarde-as afastadas de qualquer
influência e contacto a não ser os vossos, pelo que vos ficarei
sempre agradecido.

K.H.

Carta Nº 125

Esta carta é a nota ao pé da página, escrita por Djual Khul (aqui


Gjual-Khool) para o artigo de W. Oxley.

Antes H.P.B. havia escrito uma carta para Sinnett, datada de 3 de


agosto de 1882, na qual ela diz que recebeu:

um interminável artigo desse morcego cego, W. Oxley, contra


Subba Row, a quem ele chama de Brâmane ortodoxo intolerante!
Ele, Oxley, teve três visitas de K.H., "em forma astral" diz ele ao
público!!! e a doutrina filosófica nelas proposta...dificilmente se
espera que ilumine os pobres mortais ou fortaleça a sua estima
pelos poderes dos Irmãos. Eu ia rejeitar o manuscrito mas K.H.
ordenou-me não fazê-lo e nesse instante D.K. apresentou uma nota
de rodapé extensa, para ser incluida no artigo e do modo como me
foi dada, com cópia, eu a mando para vós, como foi ordenado. K.H.
diz para fazerdes as alterações que quiserdes nele, mandando-as
antes que o texto seja impresso.

Oxley era um inglês que havia escrito um livro intitulado "Filosofia


do Espírito", cuja crítica tinha sido feita por D.K. no "The
Theosophist". Oxley não gostou de algumas das coisas ditas na
crítica e, claramente em retaliação, fez a afirmativa acerca das
visitas que recebeu de K.H.

As "três senhas" mencionadas no último parágrafo da Carta nº.83


não estão nesta carta, mas surgem no que é evidentemente um
postcripto à alguma outra carta escrita um mês ou mais tarde pelo
Mahatma (Carta nº.96 - CM-92). Cronologicamente não se insere
aqui, mas o seu assunto, sim. O postscripto é o seguinte:

...copiar da carta 92.

Foi-me ordenado por meu muito amado Mestre, conhecido na Índia


e nos paises Ocidentais como Koot Hoomi Lal Singh, para fazer em
seu nome a seguinte declaração, em reposta a certa afirmação feita
pelo senhor W. Oxley e por ele enviada para ser publicada no
Teosofista afirma o citado cavalheiro que o meu Mestre Koot
Hoomi: (a) visitou-o três vezes em "forma astral", e (b) que teve uma
conversação com o senhor Oxley na qual, segundo alega, foram-
lhe dadas certas explicações referentes aos corpos astrais, em
geral, e a incapacidade de seu próprio Mayavi-rupa de manter a sua
consciência simultaneamente com o seu corpo, "em ambos os
extremos da linha". Portanto o meu Mestre, declara que:

1 Seja quem for o que Sr. Oxley tenha visto e com ele conversado
nas referidas ocasiões, não foi com Koot Hommi, o autor das cartas
publicadas no Mundo Oculto.

2 Que, apesar de o meu Mestre conhecer o cavalheiro em questão,


que uma vez o honrou com uma carta autografada, dando ao meu
Mestre, assim, a oportunidade de conhecê-lo e de admirar
sinceramente os seus poderes intuitivos e sua erudição ocidental,
entretanto, o meu Mestre nunca se aproximou dele, seja
astralmente ou de outra maneira; nem teve jamais qualquer
conversação com o senhor Oxley e, muito menos uma como essa,
na qual o sujeito e as afirmações, as premissas e as conclusões
estão todas erradas.

3 Em vista de tais alegações, cuja repetição destina-se a induzir


muitos de nossos teosofistas a cair em erro, meu Mestre decidiu
divulgar a seguinte resolução:
De hoje em diante todo médium ou vidente que se sinta propenso
a reivindicar que tenha sido visitado por meu Mestre, ou que tenha
tido conversação com ele, ou o tenha visto, terá que provar as suas
afirmações antecedendo a sua declaração com TRÊS PALAVRAS
SECRETAS que o meu Mestre, divulgará e deixará aos cuidados
dos senhores A.O. Hume e A.P. Sinnett, respectivamente
Presidente e Vice-presidente da "Sociedade Teosófica Eclética" de
Simla. A não ser que essas três palavras sejam corretamente
repetidas pelo médium ou encabecem uma declaração para esse
efeito, verbal ou impressa, emitida por quem afirme, ou em seu
nome, a afirmação será considerada como uma suposição gratuita,
a qual não se deve prestar atenção alguma. Para seu pesar, o meu
Mestre foi forçado tornar esta medida, pois lamentavelmente,
agora, esses auto-enganos têm sido demasiadamente frequentes e
requerem uma pronta interrupção.

Esta manifestação e declaração devem ser colocadas como um


adendo à afirmação pública do senhor Oxley.

Por ordem,

Gjual Khool. M. xxx.


Carta Nº 126

Esta é realmente um post-scriptum à Carta nº.5 (CM-4).


Evidentemente foi escrito em uma outra folha de papel e ficou
separada.

P.S. é excessivamente difícil conseguir um endereço no Punjab


para fins de correspondência.

Tanto B.1 como eu, haviamos contado muito com o jovem, cujo
sentimentalismo verificamos que o incapacita para o trabalho útil de
intermediário. Entretanto, não cessarei de buscar e tenho a
esperança de vos enviar o nome de um posto do correio, no Punjab
ou nas Províncias do Noroeste, por onde um dos nossos amigos
passará e voltará a passar uma ou duas vezes a cada mês.

K.H.
Carta Nº 127

Extratos de cartas de K.H. a A.O.H. e A.P.S. Recebidos por A.P.S.


em 13 de agosto de 1882.

Esta carta é uma cópia, na caligrafia de Sinnett, de trechos de uma


carta para ele e para Hume. Pode-se presumir que Sinnett passou
a carta original para Hume.
Uma das vossas cartas começa com uma citação tirada de uma das
minhas:..."Recordai que não existe no interior do homem nenhum
princípio permanente", e a esta frase segue-se uma observação
vossa: "O que me dizeis dos princípios Sexto e Sétimo?" A isso
respondo que nem Atma, nem Buddhi, nunca estiveram dentro do
homem; um pequeno axioma metafísico, que podeis estudar melhor
em Plutarco e em Anáxagoras. O último fez do seu Nous autokrates
o espírito auto potente, o NOUS que somente reconhece os
noumenos, enquanto que o primeiro ensinou, baseado na
autoridade de Platão e Pitágoras, que o demonium ou este nous,
permaneceu sempre fora do corpo, que flutuava como que pairando,
por assim dizer, sobre o topo da cabeça do homem e que somente
as pessoas vulgares são as que crêem que o espírito está dentro
delas. Disse o Buda: "tendes que vos libertar inteiramente de todos
os elementos de impermanência que está composto o corpo, para
que vosso corpo chegue a ser permanente. O permanente nunca se
funde com o impermanente, embora os dois sejam unos. Mas é só
quando todas as aparências externas tenham se desvanecido que
resta aquele princípio único da vida, que existe independentemente
de todos os fenômenos externos. É o fogo que queima na luz eterna
quando o combustível já se consumiu e a chama se extinguiu; pois
esse fogo não está, nem na chama, nem no combustível, nem
mesmo dentro de nenhum dos dois, e sim em cima, em baixo e em
todas as partes". (Paranirvana Sutra Kuan XXXIX).

Quereis obter dons. Ponde-vos a trabalhar e procurar desenvolver


a lucidez. Esta última não é um dom e sim uma possibilidade
universal para todos. Como disse Luke Burke: "os idiotas e os cães
a possuem e frequentemente em um grau mais extraordinário que
os homens mais intelectuais". Isto é devido por que nem os idiotas
e nem os cães usam as suas faculdades de raciocínio, mas deixam
que atuem com plena liberdade as suas percepções instintivas e
naturais.

...Usais demasiado açúcar em vossa alimentação. Consumi fruta,


pão chá, café e leite e usai-os tanto como desejardes, mas nenhum
chocolate, alimentos oleosos, massas, e bem pouco açúcar. A
fermentação por ele produzida é muito daninha, especialmente no
vosso clima: Os métodos usados para desenvolver a lucidez em
nossos chelas poderiam ser facilmente utilizados por vós. Cada
templo possue um quarto escuro, com a parede norte toda coberta
por uma folha de uma liga metálica, principalmente de cobre,
finamente polida e com uma superfície capaz de refletir imagens
como um espelho. O chela se senta num banco isolado, de três pés,
colocado numa vasilha de vidro grosso de fundo plano; o lama
operador se senta nas mesmas condições e os dois formam um
triângulo com a parede espelho. Um imãn com o polo norte para
cima e, pendurado sobre a coroa da cabeça do chela sem tocá-la.
Uma vez que o operador colocou em marcha o processo, deixa o
chela sozinho olhando para a parede e depois da terceira sessão a
sua presença não é mais necessária.
Carta Nº 128

Algumas horas mais tarde, Olcott mandou um segundo telegrama


explicando com mais detalhes, e incluindo a mensagem vinda de
Damodar, que ele achara junto com a do Mahatma. Olcott relatou
como, mesmo antes de mandar o telegrama para H.P.B., ele teve o
impulso de pegar a bagagem de Damodar, a sua mala e roupa de
cama e guardá-los envoltos em sua tenda.

Naquela tarde, ele recebeu em resposta, um telegrama de H.P.B.


Ela dizia que um Mestre havia lhe dito que Damodar retornaria, e ela
acrescentava que o coronel não deve deixar que ninguém toque na
bagagem de Damodar, especialmente na sua roupa

de cama. "Isso era estranho, não era?", pergunta o Coronel, "que


ela, em Madras, isto é, há uns 3.300 quilômetros distante, me
dissesse para fazer exatamente o que foi o meu primeiro impulso,
ao descobrir que o rapaz partira?"

No livro "Velhas Páginas de um Diário", Olcott faz os seguintes


comentários:

"Foi em 25 de novembro, em pleno dia, que Damodar nos deixou;


ele retornou ao entardecer de 27, após uma ausência de umas 60
horas, mas como mudou! quando saiu, um jovem de estrutura frágil,
pálido como um estudante, frágil, tímido, submisso; voltou com a sua
cor azeitonada bem mais bronzeada, aparentemente robusto, firme
e vigoroso, confiante e enérgico em seus modos: dificilmente
poderíamos entender que era a mesma pessoa".

Damodar descreve a sua experiência muito moderadamente,


embora lhe tenha sido permitido falar dela. Temos isso no "The
Theososphist", dezembro-janeiro 1883, pp. 333-36; e o relato é feito
por Geoffrey Barborka em seu livro "The Mahatmas and Their
Letters" (Os Mahatmas e suas Cartas), pp.247-50. Eis o trecho
pertinente:

...Eu tive a boa sorte de ser mandado, com a permissão de visitar


um Ashram Sagrado onde permaneci por poucos dias na companhia
abençoada de vários dos muitos inacreditados Mahatmas do
Himevat e Seus discípulos. Ali eu encontrei, não apenas o meu
amado Gurudeva e Mestre do Cel. Olcott (Morya), mas vários outros
da Fraternidade, inclusive um dos mais elevados. Lamento que a
natureza extremamente pessoal da minha visita àquelas regiões três
vezes abençoadas impeça-me de dizer mais sobre elas. Apenas que
o lugar que me foi permitido visitar está nos Himalayas, não em
qualquer imaginária Terra de Verão, e que O vi em meu prório sthula
sarira (corpo físico) e achei o meu Mestre idêntico à figura que eu
vira nos primeiros dias de meu Chelado.

Assim, conquanto estes dois telegramas estejam entre as inserções


mais breves no livro, eles contam uma história muito importante.

Telégrafo da Índia

Para: Estação Adyar, Madras Da: Estação Jammoo

Para a Pessoa: Madame Blavatsky Da Pessoa: Coronel Olcott

Editor do "O Teosofista"

Damodar partiu antes do amanhecer - às oito horas. Cartas dele e


de Koot Hoomi achadas na minha mesa. Não disse se volta ou não.
Damodar se despede de nós condicionalmente e diz que os irmãos
teósofos deveriam sentir-se animados sabendo que ele encontrou
os abençoados Mestres e que foi chamado por Eles. Os recentes
progressos do querido jovem são assombrosos. Homey pede-me
para aguardar ordens.

Madras, 25/11/83 Hora 17:30


Carta Nº 129

Estes telegramas trazem uma completa mudança de assunto. Em


lugar algum é explicado como eles vieram às mãos de Sinnett.

Em outubro e novembro de 1883, Olcott, acompanhado de Damodar


e W.T. Brown, estava viajando no noroeste da Índia. Um número
bastante grande de coisas surpreendentes aconteceu enquanto
Olcott e seus companheiros estavam nessa viagem. Esses fatos
estão relatados com pormenores, do capítiulo 2 ao 5 da obra "Velhas
Páginas de um Diário", volume 3, obra de Olcott.

Ainda em Lahore, Olcott e Brown receberam visitas do Mahatma


K.H. Com cada um deles, nesta visita, o Mahatma deixou uma carta
envolta em seda. As cartas foram simplesmente materializadas em
suas mãos. Muitas outras coisas interessantes aconteceram nesta
viagem, mas foi em Jamar que Damodar desapareceu. Damodar
tinha sido um chela do Mahatma K.H. durante alguns anos. Há muito
que ele era consciente da existência do Mestre. Quando ele era
menino, durante uma doença grave, ele recebeu uma visita do
Mahatma e mais tarde pode identificá-lo como o Mahatma K.H. Com
Damodar era "tudo ou nada". O seu temperamento era
singularmente forte.
"A sua vinda para junto de nós na presente viagem", diz o Coronel,
"foi por ordem do seu GuruX...e durante toda a jornada nós tivemos
muitas provas do progresso que ele estava fazendo na expansão
espiritual". Damodar esteve envolvido em diversos e surpreendentes
acontecimentos na viagem.

Quando Olcott despertou na manhã de 25 de novembro e descobriu


que Damodar tinha ido embora, sem nenhum indício para onde tinha
ido ou quando retornaria, ele (o coronel) procurou por todo o
pequeno bangalô onde eles estavam, mas não achou indício algum.
Quando ele voltou para o seu quarto, entretanto, havia notas, tanto
do Mahatma K.H. como de Damodar, em sua mesa. Olcott não diz
especificamente o que estava nas notas, mas na do Mahatma havia
algo no sentido de que eles (os Mahatmas) tinham levado Damodar,
pois, em essência, é o que está no telegrama que o Coronel mandou,
de imediato, à H.P.B., como mostra a hora, 10:15. As palavras ao
final, em tinta preta, são importantes: "Nós o devolveremos. K.H.".

Telégrafo da Índia

Classe P. Local No 48

Para: Estação Adyar, Madras Da: Estação Jummoo

Para a Pessoa: Madame Blavatsky De Pessoa: Coronel Olcott

Os Mestres levaram Damodar. Retorno não prometido.

Nós o enviaremos de volta.

K.H.

Adyar, 25/11/83 Hora 10:15


Carta Nº 130

Triplicane, Madras, 7 de maio de 82.

Esta carta é de T. Subba Row que foi o brilhante Brahmane Advaita


que se opôs à comunicação de qualquer um dos ensinamentos
ocultos aos ocidentais. H.P.B. e o Mahatma M. (que era o seu
Mestre) insistiam em que ele ajudasse a instruir o inglês.

Ao senhor A.P. Sinnett

Editor do Pioneer, etc., etc., etc.

Prezado Senhor,
Madame Blavatsky pediu-me várias vezes nos últimos três mêses
para vos dar aquelas instruções práticas de nossa Ciência Oculta
que me é permitido dar a uma pessoa na vossa posição: e agora...
me ordena...2 que vos ajude a levantar, até certo ponto, uma parte
do primeiro véu do mistério. A rigor, quase não é necessário dizer-
vos que dificilmente se pode esperar que os Mahatmas tomem ao
seu cargo a instrução e vigilância pessoal de principiantes como vós,
por mais sincero e sério que possais ser na sua crença na existência
deles e na realidade de sua ciência, assim como nos esforços que
fazeis para investigar os mistérios dessa ciência. Quando
reconhecerdes mais acerca deles e da vida peculiar que levam,
estou seguro que não vos sentireis inclinado a culpá-los por não vos
dar pessoalmente a instrução que estais tão ansioso de receber
deles.

Tomo a liberdade de informar-vos de que a ajuda aqui prometida vos


será, desde que deis o vosso consentimento às seguintes condições:

(1) Deveis dar-me a vossa palavra de honra de que nunca revelareis


a qualquer pessoa, pertença ou não à Sociedade, os segredos que
vos serão comunicados, a menos que obtenhais previamente meu
consentimento.

(2) Deveis levar uma vida de tal natureza, que guarde relação com o
espírito das regras que já vos foram dadas como orientação.

(3) Deveis reiterar a vossa promessa de promover, até onde estiver


em alcance, os objetivos da Associação Teosófica.

(4) Deveis proceder estritamente de acordo com a orientação que lhe


será dada junto com a instrução aqui prometida.

Devo também acrescentar que, qualquer dúvida quanto à realidade


da Ciência Oculta e a eficácia do processo indicado, pode impedir,
provavelmente, a produção do resultado desejado.

Ao me enviardes a resposta a esta carta, espero que tereis a


bondade de me dizer se estais familiarizado com o alfabeto sânscrito
e se podeis pronunciar correta e distintamente as palavras
sânscritas.

Tomo a liberdade de permanecer Vosso sinceramente,

T. Subba Row
Carta Nº 131

Esta é uma carta de T. Subba Row para Sinnett. Deve-se lembrar


que H.P.B. estivera tentando persuadí-lo a instruir Sinnett em alguns
ensinamentos esotéricos mais profundos. O Mahatma M. finalmente
disse a Subba Row para encarregar-se de alguma instrução para o
inglês.

Subba Row escreveu, então, uma carta para Sinnett (Carta nº.58),
estabelecendo as condições as quais o inglês deveria aceitar, caso
essa instrução fosse dada. Sinnett respondeu a Subba Row,
concordando de um modo um tanto relutante e com reservas e
estabelecendo algumas condições que os dois inglêses desejavam,
de sua parte, impor.

Subba Row mandou esta carta para o Mahatma M., dando a sua
opinião sobre as possibilidades quanto a essa instrução. Sinnett
escreveu ao Mahatma K.H. para saber o que Subba Row dissera a
respeito dele, opondo-se um pouco às condições estritas que tinham
sido impostas, caso os ensinamentos fossem prestados. O Mahatma
K.H. copiou alguns comentários da carta de Subba Row (então em
poder do Mahatma M.) com a permissão de M., e entregou-os a
Sinnett, ao mesmo tempo aconselhando a este não empreender uma
tarefa além de uas forças e capacidades e indicando que ele não
estava de acordo com a proposta do Mahatma M. de instruir Sinnett
na maneira verdadeira de chela - levando em conta as capacidades
de Sinnett (Veja Carta nº.59).

Coconada, 26 de junho de 1882.

Ao senhor A.P. Sinnett, Esq., etc.,etc.

Estimado senhor:

Por obséquio, desculpai-me por não haver respondido até agora a


vossa carta. O consentimento com reservas que aprouvestes dar às
condições que eu estabeleci, implicou em consulta aos Irmãos para
a sua opinião e ordens. E agora sinto muito ter que informar-vos que,
sob as condições que propondes, é impossível transmitir algo que
tenha o caráter de instruções práticas no ritual da Ciência Oculta.
Baseando-me em tudo que conheço, nenhum estudante de Filosofia
Oculta jamais conseguiu desenvolver seus poderes psíquicos sem
seguir a vida prescrita para tais estudantes, e não está no poder do
instrutor fazer uma exceção para qualquer estudante. As regras
instituidas pelos antigos instrutores da Ciência Oculta são inflexíveis
e não foi deixado à decisão de qualquer instrutor cumpri-las ou não,
de acordo com as circunstâncias existentes. Se considerais
impossível mudar a vossa maneira atual de viver, não tendes senão
que aguardar, para receber instruções práticas, até que vos achais
em condições de fazer os sacrifícios que a Ciência Oculta exige; por
hora, deveis conformar-vos com aquelas instruções teóricas que vos
seja possível dar.
A rigor não é necessário informar-vos agora, se as intruções
prometidas em minha primeira carta, dentro das condições ali
fixadas, desenvolveriam em vós aqueles poderes que vos
permitiriam ver os Irmãos, ou conversar com eles clarividentemente.
O treinamento Oculto, uma vez começado, necessariamente
desenvolverá, com o transcurso do tempo, poderes dessa natureza.
Estareis formando um conceito muito inferior da Ciência oculta, se
supuzésseis que a mera aquisição de poderes psíquicos é o
resultado mais importante e o único desejável no treinamento oculto.
A simples aquisição de poderes miraculosos jamais poderá
assegurar a imortalidade ao estudante da Ciência Oculta, a menos
que ele tenha aprendido a maneira de ir deslocando gradualmente o
seu sentido de individualidade, do seu corpo material corruptível para
o Não-Ser incorruptível e eterno, representado pelo seu Sétimo
Princípio. Rogo-vos que considereis isso como o verdadeiro objetivo
da Ciência Oculta e vêde se as regras a que sois exortado a
obedecer, são necessárias ou não para produzir esta tremenda
mudança.

Neste caso, os Irmãos me pediram para assegurar a vós e ao senhor


Hume, que eu estou perfeitamente em condições de transmitir a
ambos as instruções teóricas que possa dar em relação à filosofia da
Antiga Religião Brahmanica e ao Budismo Esotérico.

Estou me ausentando daqui para ir à Madras no dia 30 deste mês.

Asseguro-vos permanecer ao vosso dispor.

T. Subba Row
Carta Nº 132

As cartas nº. 59 e 60 devem ser consideradas juntas porque, na verdade, não


são duas cartas, mas apenas uma. A carta nº.59 consiste de citações de uma
carta de T. Subba Row ao Mahatma M. relativa a instruções para Sinnett.

Sinnett havia escrito para Subba Row e este remeteu a carta para o Mahatma
M. com estes comentários. O Mahatma K.H. copiou-os da carta de Subba
Row em proveito de Sinnett, dado que certamente ele acha que o Mahatma
M. pode não dar atenção imediata à carta.

Trechos que copiei, para vosso benefício, compadecido pela vossa


impaciência, da carta para o Rishi "M." Vide a minha nota.

É indubitável que causaria a ele muitos transtornos se ele fosse obrigado a


mudar por completo o seu modo de vida. Vereis pelas cartas que ele está
muito ansioso para conhecer de antemão a natureza dos Siddhis ou poderes
produtores de fenômenos que ele espera obter por meio do processo ou ritual
que eu tenciono prescrever-lhe.

A energia com a qual entrará em contato por meio do processo indicado,


desenvolverá nele, sem dúvida, poderes extraordinários de clarividência,
tanto no que se refere à visão como ao som em algumas de suas correlações
superiores; e o nosso Rishi-M. pretende que as mais elevadas dessas
correlações levem o candidato através dos três primeiros estágios de
iniciação, se ele estiver devidamente qualificado para isso.

Mas eu não estou em condições de assegurar agora ao Sr. Sinnett que lhe
ensinarei qualquer das correlações mais elevadas. O que pretendo ensinar-
lhe agora, é a preparação preliminar necessária para estudar tais correlações
..........................................................................................................................
............................

minha proposta em consideração.

Como tenho estado me deslocando daqui para ali desde a minha chegada
aqui, não pude completar o meu segundo artigo com referência ao livro do
Sr. Oxley.

Mas farei o melhor que possa para concluí-lo o mais cedo possível.

Por agora permito-me permanecer,

O vosso mais obediente servidor

T. Subba Row

A Madame H.P. Blavatsky, etc. Coconada, 3 de junho de 1882.

Meu querido amigo: Eu vos aconselho enfaticamente a que não empreendais


agora uma tarefa além de vossas forças e meios, pois uma vez
comprometido, se quebrásseis a vossa promessa, isso vos afastaria por
anos, senão para sempre, de qualquer progresso posterior. Desde o princípio
disse ao Rishi "M" que vossa intenção era boa mas o vosso plano era
absurdo. Como poderieis, na vossa situação, empreender tal trabalho? Com
o Ocultismo não se brinca. Exige TUDO ou nada. Li a vossa carta a Subba
Row que a enviou a Morya e vejo que não compreendeis os primeiros
princípios de.....X
Carta Nº 133

Esta carta é de H.P.B., escrita logo após 18 de julho de 1884. Ela


havia retornado a Londres por algum tempo. Tudo indica que
Sinnett lhe escrevera - ou reclamara para ela em pessoa - após o
recebimento da carta anterior (carta nº.126 - CM-62), na qual o
Mahatma K.H. disse que ele jamais se aproximara de Sinnett ou
de qualquer pessoa através da Sra. Halloway. Sinnett sentiu que
a carta podia não ser autêntica, pois ele acreditava implicitamente
que o Mahatma K.H. havia falado através da Sra. Holloway e
mesmo usado o seu corpo, em uma reunião de 6 de julho.

As cartas falam também do comportamento de Olcott. Isto


provavelmente se refere à roupa não convencional com a qual ele
apareceu quando os convidados estavam presentes e embaraçou
a todos. Sinnett estava propenso a querer somente a "elite" como
membros da Sociedade Teosófica; tanto homens como mulheres
formalmente vestidos para as reuniões da Loja de Londres. A
referência pode, contudo, se relacionar com afirmações feitas por
Olcott a representantes da Sociedade de Pesquisas Psíquicas,
dado que H.P.B. menciona essa organização. Na obra "Velhas
Páginas de um Diário", Olcott diz como sucedeu a reunião com
essas pessoas. Ele e H.P.B. estavam bastante amistosos com os
membros da S.P.P., encontravam-se com eles socialmente e com
toda cordialidade em numerosas ocasiões. Finalmente, Olcott
concordou em ser examinado por uma comissão da S.P.P., F.
W.X.H. Myers e o Sr. Herbert Stack. Havia muita curiosidade a
respeito dos Mahatmas e dos muitos fenômenos que tinham sido
realizados. Entretanto, diz-se que Olcott fez algumas afirmações
que os seus interlocutores consideraram não-científicas. Como
resultado disso, e depois de uma gafe cometida por Olcott, a
S.P.P. decidiu mandar um investigador a Adyar.

Meu querido Sinnett,

É muito estranho que estivésseis disposto a enganar-vos tão


decididamente. Eu vi na noite passada a pessoa que eu deveria
encontrar e, tendo conseguido a explicação que queria, agora
estou firme em questões nas quais estava não apenas em dúvida,
mas também refutante em aceitar. E as palavras na primeira linha
são tais, que tenho a obrigação de repeti-las para vós como uma
advertência, e porque eu vos considero, afinal, como um dos meus
melhores amigos pessoais. Estais iludindo e, falando comumente,
estais engando a vós mesmo a respeito da carta que recebi ontem
do Mahatma. A carta veio Dele, escrita ou não através de um
chela; e conquanto possa vos parecer desconcertante,
contraditória e "absurda", é a plena expressão dos seus
sentimentos e ele mantém o que disse nela. Para mim é
surpreendentemente extranho que aceiteis. Dele somente o que
se amolda aos vossos prórpios sentimentos e rejeiteis tudo o que
contraria as vossas idéias pessoais de adequação das coisas.
Olcott comportou-se como um asno, totalmente desprovido de
tato; ele o confessa e está pronto a reconhecê-lo e dizer mea culpa
diante de todos os Teosofistas - e mais de um inglês estará
disposto a fazê-lo. Eis porque talvez, com toda a sua falta de tato
e seus frequentes caprichos que justamente chocam as vossas
suscetibilidades e as minhas também, só Deus sabe, indo, como
ele faz, contra todo convencionalismo - ele é ainda tão querido
pelos Mestres, que não se preocupam com as flores da civilização
europeia. Se eu conhesse na noite passada o que aprendi agora,
isto é, que imaginais, ou melhor coagir a vós mesmo imaginar que
a Carta do Mahatma não é totalmente ortodoxa e foi escrita por
um chela para me agradar, ou coisa semenlhante, eu não teria
corrido até vós como a única tábua de salvação. As coisas estão
se tornando escuras e nebulosas. Consegui na noite passada
livrar a Sociedade de Pesquisas Psíquicas de seu pesadelo,
Olcott; posso esforçar-me para livrar a Inglaterra de seu bicho-
papão - Teosofia. Se vós, o mais devotado, o melhor de todos os
Teosófos, estais totalmente propenso a cair vítima de vossos
próprios preconceitos e crer em novos deuses de vossa própria
imaginação, destronando os antigos, então, apesar de tudo, a
Teosofia chegou cedo demais a este pais. Que a vossa Loja de
Londres da Soc. Teosófica prossiga, como o faz - eu não posso
ajudá-la, e o que pretendo, eu vos contarei quando nos
encontrarmos. Mas não terei nada a ver com a nova situação e me
afastarei inteiramente dela, a menos que concordemos em não
discordar mais.

Vossa,

H.P.B.

Carta Nº 134

Dehra Dun. Sexta-feira 4.

Esta é uma carta de H.P.B., datada em Dehra Dun. Ela tinha


deixado Simla e estava viajando pela parte norte da Índia. A carta
inclue, ditada por M., uma carta em resposta a uma de Sinnett,
que também tinha saído de Simla e ido para sua casa em
Allahabad.

Cheguei somente ontem, tarde da noite, de Saharanpur. A casa é


muito boa, mas húmida, fria e árida. Recebi uma montanha de
cartas e respondo primeiro a vossa.

Por fim vi M. e lhe mostrei a vossa última carta, ou melhor, a de


Benemadhab, na qual escrevestes uma pergunta. É essa que
Morya responde. Escrevi esta sob seu ditado e agora copio.

"Escrevi a Sinnett a minha opinião sobre os teósofos de


Allahabad, (embora não através de mim?), Adityaram B. screveu
uma carta tola a Damodar e Benemadhab escreve um pedido tolo
ao senhor Sinnett. Pelo fato de que K.H. tenha resolvido
corresponder-se com dois homens que demonstraram ser da
maior importância e utilidade para a Sociedade, todos eles, sábios
ou néscios, inteligentes ou obtusos, possivelmente úteis ou por
completo inúteis, fazem também os seus pedidos para manter
correspondência conosco diretamente. Dizei-lhe (a vós) que isso
deve terminar. Durante eras não temos mantido correspondência
com ninguém, e nem temos a intenção de fazê-lo. Que fez
Benemadhab ou qualquer outro dos muitos solicitantes para ter
direito a esse pedido? Nada absolutamente. Eles ingressaram na
Sociedade e permanecem tão aferrados como sempre às suas
velhas crenças e superstições, não abandonam os seus
preconceitos de casta ou um só de seus costumes, e em sua
egoista exclusividade, esperam nos ver e conversar conosco e
obter a nossa ajuda em tudo e em cada coisa. Agradar-me-ia que
o senhor Sinnett diga o seguinte a todos que se dirijam a ele com
pretensões semelhantes: "Os Irmãos" desejam que eu informe a
cada um de vós, indianos, que, a menos que um homem esteja
preparado para ser um teósofo em tudo, isto é, para proceder
como D. Mavalan-kar, (abandonar por completo a sua casta, as
suas velhas superstições e demonstrar ser um verdadeiro
reformador, em especial, no caso do casamento de crianças),
permanecerá simplesmente como um membro da Sociedade sem
esperança alguma de ter relação conosco. A Sociedade,
procedendo nisto completamente de acordo com as nossas
determinações, não obriga ninguém a ser um teósofo da Segunda
Seção. Isso é deixado, a cada um e a sua escolha. É inútil para
um membro argumentar: "Sou alguém que leva uma vida pura,
não tomo álcool e me abstenho de comer carne, e não mantenho
vícios. Todas as minhas aspirações são para o bem, etc.", e ao
mesmo tempo levante, devido aos seus atos e conduta, uma
barreira intrasnponível, no caminho entre ele e nós. Que temos
nós a ver, discípulos dos verdadeiros Arhats, do Budismo
esotérico e de Sanggyas, com os Shastras (escrituras) e o
Brahmanismo ortodoxo? Existem centenas de milhares de
Fakires, Sannyasis e Saddhus que levam vidas das mais puras e
entretanto, estando como estão na senda do erro, nunca tiveram
jamais uma oportunidade de nos encontrar, de nos ver ou sequer
saber de nossa existência. Os seus antepassados expulsaram da
Índia os seguidores da única e verdadeira filosofia existente sobre
a terra, e agora não são estes que venham a eles, mas eles é que
devem vir até nós se eles nos desejam. Quem entre eles está
disposto a se tornar um Budista, um Nastika, como eles nos
chamam? Ninguém. Aqueles que creram em nós e nos seguiram
obtiveram a sua recompensa. Os senhores Sinnett e Hume são
exceções. As suas crenças não são barreiras para nós, pois não
têm nenhuma. Eles podem ter tido influências ao seu redor, más
emanações magnéticas resultantes do beber, da sociedade
mundana e associações físicas promíscuas (resultantes mesmo
por dar a mão a homens impuros); mas todos esses impedimentos
são físicos e materiais, aos quais podemos nos opor com um
pequeno esforço, e mesmo eliminá-los sem muito esforço para
nós. Mas não é assim com o magnetismo e os resultados
invisíveis produzidos por crenças errôneas e firmes. A fé em
Deuses ou em Deus e outras superstições, atraem milhões de
influências extranhas, entidades vivas e poderosos agentes ao
redor das pessoas, e nós nos veríamos obrigados a exercer algo
mais que o poder comum para afastá-los. Nós decidimos não
fazê-lo. Não consideramos, nem necessário ou proveitoso, perder
o nosso tempo travando uma guerra com Planetários atrazados
que se deleitem em personificar deuses e, às vezes, personagens
bem conhecidos que viveram sobre a Terra. Existem "Dhyan-
Chohans", e "Chohans das Trevas", não o que eles denominam
de diabos, mas "Inteligências" imperfeitas que nunca nasceram
nesta ou em qualquer outra Terra ou esfera, da mesma maneira
que não o fizeram os "Dhyan-Chohans", as Inteligências
Planetárias puras que presidem cada Manvantara, enquanto que
os Chohans Tenebrosos presidem os Pralayas. Explicai isso ao
senhor Sinnett (EU NÃO POSSO), digai-lhe que leia de novo o
que disse a eles nas poucas coisas que expliquei ao senhor
Hume, e que ele se lembre que, assim como tudo neste universo
é um oposto (não posso traduzi-lo melhor), assim a luz dos Dhyan
Chohans e sua inteligência pura é contrastada pelos "Ma-Mo
Chohans" e sua destrutiva inteligência. Esses são os deuses que
os Hindús e cristãos, ou Mahometanos e todos os demais que
pertencem a religiões e ceitas fanáticas adoram; e enquanto a sua
influência se fizer sentir sobre os seus devotos, não nos ocorreria
associar-nos, nem opor-nos a eles, em seu trabalho, como não
fazemos com os Barretes Vermelhos na terra, cujos resultados
maléficos tratamos de minorar, embora não temos o direito de nos
imiscuir em seu trabalho, enquanto eles não se interponham em
nosso caminho. (Suponho que não compreendereis isso. Mas
meditai bem sobre isso e o compreendereis. Aqui M. quer dizer
que eles não têm o direito, nem o poder, de ir contra a ordem
natural das coisas, ou contra aquele trabalho que está ordenado
para cada classe de seres ou coisas existentes pela lei da
natureza. Os Irmãos por exemplo, poderiam prolongar a vida, mas
Eles não poderiam destruir a morte, nem mesmo para Eles
próprios. Podem até certo grau minorar o mal e aliviar o
sofrimento: mas não poderiam destruir o mal. Nem tampouco
poderiam os Chohans impedir o trabalho dos Mamo Chohans,
pois a LEI destes são as trevas, ignorância, destruição, etc., assim
como a dos primeiros são Luz, conhecimento e criação. Os
Dhyans Chohans respodem a Buddhi, a Sabedoria Divina e a Vida
em bem-aventurado conhecimento, e os Ma-mos são a
personificação na natureza de Shiva, Jehováh e outros monstros
inventados, com a ignorância como apêndice).
A última frase de M. que traduzo, diz assim: "Dizei-lhe (a vós),
pois, que, para o bem daqueles que desejam aprender e ter
informações, eu estou disposto a responder as duas ou três
consultas de Benemadhab sobre os Shastras, mas que não
estabelecerei correspondência alguma com ele ou qualquer outro.
Que faça as suas perguntas clara e distintamente ao senhor
Sinnett (por vosso intermédio) e, então, eu responderei (por vosso
intermédio).

Envio-vos a carta de meu tio que acabo de receber. Diz-me que


escreveu a mesma para vós (como mostra a minha tradução de
sua carta em russo). Não sei se a recebestes ou não, mas vos
envio esta. Se é idêntica à vossa, enviai-me de volta a minha.
Suponho que agora está bastante comprovado que eu sou eu e
não outra pessoa; que sendo meu tio agora adjunto (ou
assistente) do Ministro do Interior, é um personagem que, ao
assinar com o seu nome completo, pode ser certamente confiável,
a menos, na verdade, que C. e M. e o vosso amigo Primrose
inventem uma nova versão e digam que nós forjamos os
documentos. Mas meu tio me diz em sua carta oficial que o
Príncepe Dondoukoff me enviará um documento oficial para
provar a minha identidade, de maneira que esperamos. Não
posso traduzir a sua outra carta privada, porque a sua fraseologia
é bem pouco lisongeira ao senhor Primrose em particular, e aos
Anglo-indianos em geral, que me insultam e vilipendiam. Pedirei
ao Príncipe que escreva a Lord Ripon ou a Gladstone
diretamente.

Vossa no amor de Jesus,

H.P. Blavatsky

Por que diabo quer o "Chefe"0 que eu vá a Allahabad? Não posso


estar gastando dinheiro em ir e voltar, pois teria que ir por Jeypur
e Baroda, e ele o sabe. O que tudo isso significa é mais do que
posso dizer. Ele me fez ir até Lahore e agora é até Allahabad!!
Carta Nº 135

Nesta pequena carta, H.P.B. procura esclareceer Sinnett a


respeito da doutrina de cadeias e rondas. Não temos a carta de
Sinnett, da qual esta é a resposta, mas afortunadamente uma
outra carta de H.P.B., achada nas cartas dela para Sinnett,
esclarece algo sobre a questão.

Meu querido senhor Sinnett:

Com receio de que atribuisses a mim uma nova deslealdade,


permitai-me dizer-vos que eu nunca disse a Hubbe Schleiden e a
Frank Gabhard que a existência de nossos sete planetas
objetivos era uma alegoria. O que disse foi que a objetividade e a
realidade fenomenal da cadeia setenária nada tinha a ver com a
compreensão correta das sete rondas. Que, aparte os iniciados,
ninguém conhecia le mot final deste mistério. Que não poderíeis
compreendê-lo completamente, nem explicá-lo, porque o
Mahatma K.H. vos disse tantas vezes que não vos podia ser
comunicada toda a doutrina; que sabieis que Hume lhe havia feito
perguntas e mais perguntas até tornar grisalho o seu cabelo. Que
havia centenas de contradições aparentes justamente porque não
possuieis a chave do x777x, e que não vos podia ser dada. Em
resumo, que a vós fora transmitida a verdade, mas decididamente
não a verdade toda, especialmente sobre as rondas e anéis, o
que foi, no máximo, alegórico.

Vossa,

H.P.B.
Carta Nº 136

Esta é uma carta de H.P.B. para Sinnett. Olcott e Bhavani Rao


tinham acabado de deixar Allahabad, rumo a outras cidades em
seu giro, e os Sinnetts tinham convidado H.P.B. para visitá-los. A
carta parece basicamente relacionar-se com explicações de por
que ela não podia, ou não se dispunha, a aceitar o convite.

A carta faz referência a Deb cujo verdadeiro nome era Gwala K.


Deb. O seu nome místico era, na verdade, Dharbagiri Nath. Há
muito mistério conectado com o relacionamento entre este chela
e um outro mais jovem, chamado Babaji, ou Bawaji.

O nome verdadeiro de Babaji era S. Krisnamachári, mas ele


adotou o nome Babaji quando se juntou à equipe da sede central
da Sociedade Teosófica em Bombaim, entre 1880 e 1881. Nessa
época ele abandonou o seu nome original. Em uma ocasião, o
Mahatma K.H. desejava mandar dois chelas para Sinnett, que
estava, então, em Simla. K.H. escolheu um de seus discípulos,
Gwala K. Deb, que, (diz o autor de Damodar) era provavelmente
tibetano, e R. Keshava Pillai, um inspetor de polícia em Nelore,
que tinha se tornado num chela laico probacionário. Entretanto,
como Deb estava no Tibet recebendo um determinado
treinamento oculto e não podia ir em seu corpo físico, Babajee
consentiu que Deb usasse o seu corpo para a ocasião. O nome
místico de Deb era Dharbagiri Nath e parece que Babajee
continuou a usar esse nome ocasionalmente, depois que a
experiência mística tinha terminado.
Quando H.P.B. viajou para a Europa pela última vez, Babajee
pediu para acompnahá-la e cuidar dela. Ela finalmente consentiu.
Mais tarde, ele voltou-se contra ela e causou-lhe bastante
aborrecimento. O Mahatma K.H. escreveu: "O homenzinho
falhou". Assim, "pondo um ponto final na história de mais um
discípulo dos Mestres", Babajee recebeu dinheiro para retornar à
Índia, onde ele morreu na obscuridade depois de alguns anos.

Quando H.P.B. estava na Europa, a Condessa Wachtmeister,


que estava com ela quando estava escrevendo a "A Doutrina
Secreta", escreveu uma "carta particular e confidencial" para
Sinnett na qual ela dizia, "não se preocupe mais com os dois
Dharbagiri Naths - há dois - mas há também um Mistério.
Infortunadamente, minha lingua está impedida. Provavelmente,
se tudo fosse conhecido, Babajee ficaria louco ou cometeria
suicidio. Dharbagiri Nath é seu nome de mistério, como eu
suponho que poderia ser também o nome de mais uns
vinte...Babajee é um chela, embora não o chela superior que ele
pretende ser". (Veja Cartas de H.P.B. para Sinnett nº.40).

Mais surprendentemente, por essa ocasião, Sinnett recebeu uma


carta assinada "Dharbagiri Nath" (Veja as cartas acima, nº.177)
na qual o autor diz: "Não creio que haja alguém que traga o nome
"Dharbagiri Nath" senão eu mesmo, porque é um nome
puramente sânscrito, que eu não achei mencionado nos Purunas
ou surgido em qualquer parte da Índia. O nome refere-se a uma
colina secreta da qual nada se divulga - "o morador da colina da
grama Darbha". Darbha é uma grama sagrada indiana usada
diariamente por Brahmanes para cerimônias..." Seja esta carta
proveniente de Gwala Deb ou de Babajee - ou de alguém mais -
provavelmente jamais saberemos. A situação é confusa, com
toda probabilidade, pelo fato de que nada poderia ser dito a
respeito.

Meu querido senhor Sinnett,

Seu convite foi lido com surpresa.

Não foi "surpresa" que eu mesma fosse convidada, mas que


tenhais me convidado outra vez como se já não tivésseis obtido
bastante de mim! O que de bom posso eu fazer a qualquer um
neste mundo, exceto fazer que alguns me olhem surpreendidos,
outros se ponham a especular sobre a minha habilidade como
impostora e a pequena minoria me olhe com olhares de
assombro, geralmente reservados para os "monstros" exibidos
nos museus ou aquários. Isto é um fato, e eu já tive bastante
prova disso para não colocar outra vez o meu pescoço no laço,
se puder evitá-lo. A minha ida, para alojar-me em vossa casa,
mesmo por alguns poucos dias, seria somente causa de
desapontamento para vós e de tortura para mim.

Mas não deveis tomar estas palavras en mauvaise part1. Sou


simplesmente sincera convosco. Sois e tem sido sempre, em
especial a senhora Sinnett, os meus melhores amigos aqui; mas
é precisamente porque vos considero assim, que me sinto
obrigada, em vez de vos dar um aborrecimento prolongado, a
recusar o vosso bondoso convite. Além disso, como um meio
para comunicações entre vós e K.H. sou agora profundamente
inútil (pois suponho que não me convidais pour mes beaux yeus,
apenas). Há um limite para a resignação, para o maior dos
sacrifícios. Trabalhei para eles com fidelidade e desinteresse
durante anos e o resultado foi que arruinei a minha saúde,
desonrando meu nome ancestral, fui denegrida por cada
verdureiro da rua Oxford e por cada vendedor de peixe do
mercado de Hungerford que tenha se tornado um funcionário
público que, afinal, não fez nenhum bem para eles, muito pouco
para a Sociedade e nenhum ao pobre Olcott ou a mim mesma.
Creia-me, somos melhores amigos à distância de várias centenas
de milhas entre nós do que a uns poucos passos. Ademais disso,
o Chefe disse que está pendente sobre as nossas cabeças um
novo desdobramento. Ele e K.H. juntaram as suas sábias
cabeças e estão se preparando para trabalhar, segundo me
dizem. Restam-nos poucos mêses antes de novembro, e se as
coisas não se aclararem por completo até essa época e não se
infundir um novo sangue à Fraternidade e ao Ocultismo, a melhor
coisa a fazer é irmos dormir todos. Pessoalmente para mim, é um
assunto de muito pouca importância, seja como for. Também o
meu momento se aproxima com rapidez, quando há de soar a
minha hora de triunfo. Então poderei provar aos que especulavam
sobre mim, aos que acreditaram e aos que não acreditavam, que
nenhum deles se aproximou da verdade a menos de cem milhas.
Sofri o inferno na terra, mas antes de deixá-la prometo a mim
mesma um triunfo tal, que fará que os Ripons e seus Católicos
Romanos, e os Balys e o Bispo Sargeant com os seus asnos
protestantes, relinchem tão forte quanto os seus pulmões
permitam. E agora pensais, realmente que ME conheceis, meu
querido senhor Sinnett? Credes que por haverdes sondado -
como pensais, a minha crosta física e o meu cérebro: que, por
perspicaz analista que possais ser da natureza humana, será que
penetrastes mesmo alguma vez, além da primeira cutícula do
meu Verdadeiro Eu? Estaríeis enganado profundamente, se
acreditásseis assim. Todos vós me têm como mentirosa porque
até agora somente mostrei ao mundo apenas a verdadeira
Madame Blavatsky exterior. É precisamente como se vos
queixásseis da falsidade de uma rocha rústica e áspera, coberta
de musgo, herva e barro que tivesse uma inscrição externa,
dizendo: os vossos olhos se enganam porque não podeis ver de
baixo da crosta. Deveis compreender a alegoria. Não estou me
gabando, porque não digo se dentro desta rocha pouco atrativa
há uma residência palaciana ou uma humilde choça. O que digo
é isto: não me conheceis, pois tudo que exista dentro dela não é
o que pensam; portanto, julgar-me como sendo inverídica é o
maior erro do mundo, além de ser uma flagrante injustiça. Eu, (o
verdaeiro "EU" interno) encontro-me numa prisão e não posso
mostra-me tal como sou, por mais desejosa que esteja para fazê-
lo. Por que, então, eu deveria, ao falar de mim mesma ter que
prestar contas pela porta externa da prisão e a sua aparência, eu
não a construí, nem a decorei?

Mas tudo isso não deixará de ser para vós senão aborrecimento
do espírito. Direis: "A pobre Velha Dama está de novo
desequilibrada". E permita-me profetizar que chegará o dia em
que acusareis K.H. também de ter-vos enganado, apenas por
deixar de dizer-vos o que não tem o direito de dizer a niguém.
Sim, podereis blasfemar mesmo contra ele, pois sempre esperais
secretamente que ele possa fazer uma exceção a vosso favor.

Por que esta tirada extravagante, aparentemente inútil, contida


nesta carta? Porque a hora se aproxima; e uma vez que tenha
provado o que eu tenho que provar, farei uma reverência a esta
refinada Sociedade Ocidental, e não serei mais vista. Então
podereis todos chamar em vão os Irmãos como um
EVANGELHO.

Naturalmente foi uma piada. Não; vós não me odiais; somente


sentis um desprezo amistoso e indulgente, algo benevolente por
H.P.B. Nisso tendes razão, na medida em que conheceis aquela
que está prestes a se reduzir em pedaços. Talvez ainda podeis
descobrir o vosso erro acerca da outra pessoa, bem escondida.
Deb está agora comigo, "baixinho" como o chamais, que parece
um garoto de 12 anos, apesar de ter 30 ou mais. Um pequeno
rosto ideal, com traços finos e delicados, dentes de pérola,
grande cabeleira, olhos rasgados como amêndoas e que tem
sobre a sua cabeça um gorro chinês-tártaro de côr púrpura. Ele é
o meu "herdeiro de Salvação" e tenho trabalho a fazer com ele.
Não posso abandoná-lo e não tenho o direito de fazê-lo agora.
Tenho que lhe passar o meu trabalho. É a minha mão direita (e a
esquerda de K.H.) para os disfarces e falsas aparências.

E agora que Deus vos abençoe. É melhor que não fiqueis


aborrecido com coisa alguma que eu possa fazer ou dizer;
apenas como uma amiga, uma verdadeira amiga, digo-vos que,
enquanto não tiverdes mudado a vossa maneira de viver, não
esperai nenhuma exceção.
Vossa sinceramente,

H.P.B.

Meu sincero carinho a senhora Sinnett e um beijo ao querido


pequeno Dennie.
Carta Nº 137

Na verdade, H.P.B. datou esta carta como "Domingo, 8", mas


sucede que o domingo veio a cair no dia 9 de novembro daquele
ano. A carta foi escrita em Argel, quando H.P.B. estava de
viagem, da Inglaterra para a Índia. Ela retornou via Egito. Foi no
Cairo que H.P.B. soube dos fatos danosos a respeito dos
Coulombs.

Meu caro Sr. Sinnett,

Vedes que cumpro a minha palavra. Na última noite, enquanto


éramos inexoravelmente jogados e sacudidos nesta nossa
banheira, Djual K. fez-se presente e me perguntou, em nome do
seu Mestre, se eu poderia mandar-vos uma nota. Respondi-lhe
que sim. Pediu-me, então, para providenciar algum papel - que
eu não tinha. Disse-me, então, que qualquer um serviria. Puz-me
a pedir a algum passageiro, pois a senhora Holloway não tinha
nenhum para me dar. Na verdade, queria que esses passageiros
que reclamam conosco todos os dias sobre a possibilidade de
fenômenos, pudessem ver o que acontecia em minha cabine
junto ao meu leito! Que vissem como a mão de K.H., tão real
como viva, estava imprimindo a carta que lhe ditava o seu Mestre
e que surgia entre a parede e as minhas pernas. Disse-me que
eu lesse a carta mas não me cabia fazê-lo. Compreendo muito
bem que tudo isso era uma provação, feita com a melhor
intenção, mas é diabolicamente difícil para mim, compreender
por que isso deveria ser feito sobre as minhas costas, tão
sofredoras. Ela está em correspondência com Myers, os
Gebhards e muitos outros. Vereis que salpicos irei receber como
um efeito das causas produzidas por esse assunto de provação.
Queria nunca ter conhecido essa mulher. Jamais teria imaginado
uma deslealdade e decepção como essa. Eu também fui chela e
culpada por mais de uma negligência, mas teria pensado melhor
em assassinar um homem fisicamente do que assassinar
moralmente aos meus amigos como ela o fez. Se o Mestre não
tivesse proporcionado a explicação, eu teria me afastado,
deixando uma linda recordação nos corações da senhora Sinnett
e no vosso. Temos a bordo a senhora (do Prefeito) Burton de
Simla. Saiu um dia antes de eu chegar e esteve sempre ansiosa
por me conhecer. Deseja se juntar a nós e é uma encantadora
mulhersinha. Temos vários anglo-indianos, todos de muito
amável disposição. O barco é uma banheira que dá tombos e o
dispenseiro uma infâmia. Todos estamos passando fome e
vivemos do nosso próprio chá e biscoitos. Rogo-vos, escrevei
umas palavras a Porto Said, para posta restante. Provavelmente
permaneceremos uma quinzena no Egito. Tudo depende das
cartas de Olcott e das notícias de Adyar. Não posso escrever
devido aos balanços do barco. Amor para todos.

Vossa sempre sinceramente,

H.P. Blavatsky
Carta Nº 138

Esta é uma carta longa, de H.P.B. para Sinnett, escrita pouco


antes de ela deixar a Índia, por motivos de saúde, em 31 de
março de 1885. O Sr. Hodgson, da Sociedade de Pesquisas
Psíquicas, havia completado a sua investigação.

Meu querido senhor Sinnett:

Sinto muito que o Mahatma tenha me escolhido para travar esta


nova batalha. Mas obedeço, já que deve haver uma sabedoria
oculta mesmo no fato de escolherem uma pessoa já meia morta,
que acaba de se levantar depois de haver estado oito semanas
enferma de cama e que mal pode coordenar as suas idéias
dispersas para dizer aquilo que melhor seria que não se
dissesse.

Não podeis ter esquecido o que vos disse repetidamente em


Simla e que o próprio Mestre K.H. vos escreveu, ou seja: que a
S.T. é, acima de tudo, uma Fraternidade Universal e não uma
Sociedade para a produção de fenômenos e ocultismo. Este
último deve ser mantido em segredo, etc. Eu sei que, devido ao
meu grande fervor pela causa e a vossa certeza de que a
Sociedade jamais prosperará, a menos que se introduza nela o
elemento oculto e que os Mestres se mostrassem, eu sou mais
culpada do que ninguém por ter dado ouvido a isso. Entretanto,
todos vós tendes agora de sofrer o Karma. Bem, agora acharam
que todos os fenômenos são fraudes, segundo a evidência dos
padres e de outros inimigos, (segundo o Sr. Hodgson), do
fenômeno do "relicário" para baixo; e os Mestres são expostos
diante do público e seus nomes profanados por todo patife na
Europa.

Os padres gastaram milhares para conseguir testemunhas falsas


e outras, e a mim não se permitiu lançar mão da lei para que, ao
menos, pudesse prestar o meu depoimento, e agora Hodgson,
que outro dia parecia muito amigável e que quase diariamente
vinha nos ver, mudou radicalmente.

Ele foi a Bombaim e viu Wimbridge e todos os meus inimigos. Ao


voltar, assegurou a Hume (que está aqui e vem também todos
os dias) que, na sua opinião, a evidência de nossos jovens no
escritório e a de outras testemunhas é tão contraditória que,
depois de Bombaim, chegou à conclusão de que todos os nossos
fenômenos eram fraudes, Amém.

E agora, de que adianta escrever para tirar do seu erro o senhor


Arthur Gebhard? Tão logo o oráculo da S.I.P.2 me proclame
como uma "fraude" total e todos vós como meus otários (tal como
Hume o faz aqui, zombando com a maior indiferença), a vossa
Loja de Londres da S.T. fracassará seguramente. Mesmo vós, o
fiel e verdadeiro, poderieis resistir a essa tormenta? Feliz
Damodar! Foi-se para o país da Bem-aventurança, o Tibet, e
deve estar agora bem longe, nas regiões de nossos Mestres.
Espero que agora ninguém o verá jamais.

Bem, a isto nos conduziram os malditos fenômenos. Olcott


regressará de Burma dentro de três dias e encontrará belas
coisas. De início, Hume estava todo amistoso. Depois vieram as
revelações. Hodgson havia seguido o rastro do "relicário"! Foi lhe
dito que eu havia dado um broche ou relicário idêntico para ser
consertado por Servai, antes de ir para Simla, e era aquele
relicário. Não se recorda a senhora Sinnett que nessa época lhe
falei que possuia um alfinete com pérolas muito parecido com ele
que enviei aos filhos de minha irmã junto com outro que comprei
em Simla? Mencionei mesmo essa semelhança ao senhor
Hume. Eu pedi a este que enviasse o seu alfinente ao joalheiro
(ninguém soube disso senão Servai, o sócio de Wimbridge, meu
inimigo mortal), que o indentificará ou não. O mais provável é que
sim, por que não o faria, por cem rúpias ou algo assim?

O senhor Hume quer salvar a Sociedade e achou um meio.


Ontem convocou o Conselho para uma reunião com a presença
de Ragunath Row, Subba Row, Sreenavas Row, o ilustre
Subramanya Lyer e Rama Lyer. Todos líderes dos hindús.
Tendo, então escolhido Rag Row para presidir e estando a
audiência composta dos Oakley, Hartmann e dois chelas, deu a
ele um papel. Neste, Hume propunha, para salvar a Sociedade
(pois imagina e insiste que ela está se desagradando depois das
"revelações", embora nem um só membro renunciou), obrigar
Olcott, seu Presidente vitalício, Madame Blavatsky, Damodar
(ausente), Bowaji, Bhavani Row, Ananda, Rama Swami, etc., no
total de 16 pessoas a que renunciem, pois todos eram farsantes
cúmplices, pois que muitos deles asseguraram que conheciam
os Mestres independente de mim e que os Mestres não existiam.
A Sede Central deve ser vendida e no seu lugar deve ser criada
uma Sociedade Teosófica Científica-Filosófica-Humanitária. Eu
não estava presente na reunião, pois me encontrava confinada
em meu quarto. Mas os Conselheiros vieram me ver em grupo
depois da reunião. Entretanto, em vez de aceitarem a proposta e
proclamarem os fenômenos como fraudes, que, no entender de
Hume, todos eles assim procederam, Ragunath Row rechaçou a
proposta, jogando de lado o papel com desagrado. Todos eles
acreditavam nos Mahatmas, disse, e foram testemunhas
pessoais dos fenômenos mas não querem mais que seus nomes
sejam desrespeitados. Os fenômenos devem ser proibidos daqui
em diante, e se acontecerem independentemente, não devem
ser comentados, sob pena de expulsão. Negaram-se a pedir aos
Fundadores que renunciem pois não viram razão alguma para
isso. O senhor Hume é um "Salvador" excêntrico!

Portanto, fenômenos, não mais, ao menos aqui na Índia.


Enquanto isso Maskelyne e Cook3 produzem os seus, muito
melhor, e se fazem pagar por isso, somos relegados a um
segundo plano e somos chutados por isso.

O senhor Hume é mais liberal que os Padres. Estes chamam


Olcott "um crédulo tolo, mas indubitavelmente um homem
honesto"; e ele declara que, como Olcott jura ter visto os Mestres,
deve ser um homem desonesto, e tendo comprado o seu alfinete
de pérolas numa casa de penhores de Bombaim, deve ser (por
dedução) também um ladrão, embora Hume o negue.

Tal é, em resumo, a presente situação. Começou em Simla com


o primeiro ato e agora vem o prólogo que logo terminará com a
minha morte. Pois, apesar dos médicos, (que proclamaram os
meus quatro dias de agonia e de impossibilidade de
recuperação), melhorei rapidamente graças às mãos protetoras
do Mestre; tenho duas enfermidades que são incuráveis e
mortais, no coração e nos rins. O primeiro pode sofrer em
qualquer momento uma rutura, e os últimos produzirão a minha
morte em poucos dias. Não verei outro ano. Tudo isto se deve a
cinco anos de constante angústia, preocupações e emoções
reprimidas. A um Gladstone se pode chamar um "farsante" e ele
ri, mas eu não posso, não importa o que disserdes, senhor
Sinnett.

E agora aos vossos assuntos. Antes de começar o trabalho para


vós e para o senhor Hume, eu nunca havia transmitido nem
recebido cartas dos Mestres, a não ser para mim mesma. Se
tivésseis alguma idéia das dificuldades ou do modus operandi,
não teríeis consentido estar no meu lugar. E entretanto, eu nunca
recusei. Pensou-se no "santuário" para facilitar a transmissão,
como agora poderão vir dezenas ou centenas a rogar que se lhes
permita pôr as suas cartas dentro dele. Como sabeis e está
provado a todos, exceto ao senhor Hodgson, que encontra
contradições, todos receberam respostas sem eu deixar o meu
quarto e, muitas vezes em diversos idiomas. É isso o que,
incapaz de entender, o senhor Hume chama um engano coletivo,
pois, como pensa que os Mestres não existem, e que nunca
escreveram uma só das cartas já recebidas, então a conclusão
lógica é que todos da Sede Central: Damodar, Bwaji, Subba
Row, todos, todos eles são os que me ajudaram a escrever as
cartas e a passá-las através da abertura. Até mesmo Hodgson
julga a idéia ridícula.

E agora, quanto ao "engano" praticado com o senhor Arthur


Gebhard, do qual me inteirei pelo Mahatma e pela carta do
mesmo A.G., que me foi enviada. Este "engano", junto com as
revelações e insinuações sobre outros, insufladas pela maliciosa
senhora Holloway, deve ter deixado na pobre e querida senhora
Gebhard a imagem de uma H.P.B. de singular honorabilidade e
honestidade.

Bem, as pessoas que se encontram na véspera da morte


geralmente não inventam ou dizem mentiras. Eu espero que me
dareis crédito por dizer a verdade. A.G. não é o único que
suspeita de mim e me acusa de fraude. Dizei pois, aos "amigos"
que podem ter recebido cartas dos Mestres por meu intermédio,
que eu nunca enganei, que nunca brinquei com eles. Inúmeras
vezes facilitei os fenômenos de transmissão de cartas por meios
mais fáceis, embora ainda ocultos. Mas, devido a que nenhum
dos teósofos, exceto os ocultistas, nada conhece dos meios
difíceis ou fáceis de transmissão oculta, nem estão familiarizados
com as leis ocultas, tudo é suspeitoso para eles. Tomai por
exemplo, este caso como um exemplo: transmissão por
transferência mecânica do pensamento (diferente do
consciente). A primeira se produz chamando primeiro à atenção
de um chela ou do Mahatma. A carta deve ser aberta e cada linha
dela passa sobre a testa, retendo o alento, e não retirando nunca
essa parte da carta da testa, até que a "campainha" dá a notícia
de que a mensagem foi lida e anotada. A outra maneira consiste
em impressionar cada frase da carta (conscientemente, sem
dúvida) no cérebro, também mecanicamente, e então enviá-la,
frase por frase, à outra pessoa no outro extremo da linha. Isto,
naturalmente, se o rementente vos permite lê-la e crê na vossa
honestidade de que a lestes mecanicamente, apenas
reproduzindo a forma das palavras em linhas em vosso cérebro,
mas não o significado. Mas, em ambos os casos, a carta deve
ser aberta e então queimada com o que nós denominamos de
fogo virgem (queimada, não com fósforos, enxofre, ou qualquer
preparado, mas esfregando-a com uma pedrinha resinosa e
transparente, uma bolinha que nenhuma mão descoberta deve
tocar). Isto se faz pelas cinzas, que se tornam imediatamente
invisíveis enquanto o papel queima, o que não aconteceria se o
papel fosse queimado de outra maneira, porque as cinzas
permaneceriam na atmosfera circundante devido ao seu peso e
a densidade, em vez de serem transportadas instantaneamente
ao receptor. Este processo duplo se faz por segurança dupla,
pois algumas palavras transmitidas de um cérebro a outro, ou ao
akasa próximo do Mahatma ou do chela, poderiam ser omitidas,
frases inteiras poderiam escapar-se, etc., ou as cinzas não
serem transmitidas perfeitamente, e desta maneira, um
procedimento corrige o outro. Eu não posso fazer isso e,
portanto, falo dele somente para dar um exemplo de como o
engano pode ser facilmente gerado. Imagine A. dando a B. uma
carta para o Mahatma. B. vai ao quarto ao lado e abrindo a carta
(de cujo conteúdo não recordará nem uma só palavra, se é um
verdadeiro chela e um homem honesto) transmite-a ao seu
cérebro por um dos dois métodos, enviando frase após frase pela
corrente e então procede à queima da carta. Talvez tenha
esquecido a "pedra virgem" em seu quarto. Deixando,
inadvertidamente, a carta aberta sobre a mesa, ele se ausenta
por uns poucos minutos; durante esse tempo, A. impaciente e
provavelmente desconfiado, entra no quarto e vê a sua carta
aberta sobre a mesa. Fará duas coisas: ou a pegará e fará um
desmascaramento (!) ou a deixará e então perguntará a B.,
depois que este tenha queimado a carta, se já a enviou.
Naturalmente B. responderá que sim. Virá então o
desmascaramento com as consequências que podeis imaginar,
ou A. não dirá nada e faz como muitos fazem: considera B. para
sempre como um impostor. Este é um exemplo verdadeiro, entre
muitos, de tantos exemplos, real que o Mestre me deu para me
prevenir.

Há na carta do senhor A.G. algo muito cómico e sugestivo.


Voltando a recordar como ele me deu a carta e como seis horas
depois eu lhe disse "já se foi", ele acrescenta: "quatro dias mais
tarde, o Coronel escreveu a H.P.B. dizendo que o seu Mestre lhe
apareceu e disse que K.H. havia dito: (veja o original que vos
devolvi). Então o bom "Coronel deve também ser um impostor",
um aliado meu, um cúmplice? Ou é meu Mestre que o engana, o
senhor A.G. (Arthur Gebhard), ou o que? E logo outra
vez..."H.P.B. é uma impostora, ainda que eu nunca lhe negarei
suas excelentes qualidades". As "excelentes qualidades" de uma
impostora são algo assombroso e original, de qualquer modo.

Assim, por obséquio, dizei ao senhor Gebhard que nós somos


dois "impostores", se for o caso; e também isto: o Mahatma K.H.
recebeu, mas nunca leu a sua carta, pela simples razão de que
não podia, devido à promessa que havia feito ao Chohan4 de
não ler carta alguma de teósofo até voltar de sua missão na
China, onde então estava. Isto ele condescendeu agora em
contar para ajudar a minha justificação, como ele diz. Ele havia
proibido estritamente de que eu lhe enviasse mais outras cartas,
até uma nova ordem. Dado que o Mestre, devido aos constantes
rogos de Arthur G., assumiu pessoalmente o assunto, por razões
que Ele melhor conhece, eu não tinha nada a dizer, senão
obedecer. Peguei a carta e a puz numa caixa que estava cheia
de papéis. Quando fui procurá-la, já tinha ido, pelo menos eu não
a vi, e assim disse a ele. Mas antes de ir me deitar, ao retirar um
envelope, eu achei a carta ali, embora, pela manhã realmente
não estivesse lá. E se a minha recordação estiver certa, mostrei
à Madame Gebhard a carta de Olcott, na qual ele fala do que lhe
disse o Mestre. Eu não havia lido a carta de Gebhard e posso ter
tomado as palavras como uma resposta a essa carta. De
qualquer forma, agora não tenho a mínima recordação do
conteúdo da mensagem. Uma coisa eu sei e Madame Gebhard
a corroborará: ela me falou em Londres, antes de ir a Paris, e
para Olcott, em repetidas ocasiões, das terríveis discussões
entre Arthur G. e seu pai. Expressou a esperança de que o
Mahatma interviesse em seu favor, e estas palavras pode ser
que se refiram a isso e não à carta. Como posso relembrar?
Olcott pode ter ouvido imperfeitamente, ou eu misturado as
coisas. Centenas de combinações poderão ter acontecido. A
única fraude é, então, eu ter lhe dito uma inverdade inconsciente
sobre a remessa da carta, seis horas mais tarde, quando, na
realidade, foi apanhada somente pela manhã. Disto eu me
declaro "culpada".

Mas, no caso do "alfinete de pérolas" de Hume, há algo mais


envolvido do que uma mera fraude na produção de fenômenos.
Se enganei nisto Madame G. e ele próprio, então me converto
imediatamente em uma trapaceira, uma VIGARISTA. Recebi
hospitalidade na casa deles durante mêses; cuidaram de mim
durante toda a minha enfermidade e nem mesmo me deixaram
pagar o médico, cobriram-me de ricos presentes, honrarias e
afeto e eu pago tudo isso com um ENGANO. Oh, poderes do céu,
da Verdade e da Justiça! Que o Karma do senhor Arthur Gebhard
lhe seja leve. Eu o perdoo em consideração ao seu pai e a sua
mãe, a quem amarei e respeitarei até a última hora. Rogo-vos
que comuniqueis estas minhas palavras de despedida a Mad.
Gebhard; não tenho nada mais a dizer.

É inútil, senhor Sinnett. A Sociedade Teosófica viverá aqui na


Índia para sempre; parece estar condenada na Europa porque
eu estou condenada. Depende de vosso Budismo Esotérico e do
Mundo Oculto. E se os Mahatmas são mitos e eu, (a autora de
todas essas cartas), uma FARSANTE e algo pior, (segundo
proclama a S.I.P.) como pode sobreviver a Loja de Londres? Já
vos disse, pois o senti como sempre sinto que esta investigação
do senhor Hodgson será fatal. Ele é um jovem excelente, hábil e
sincero. Mas, como pode discernir entre a verdade e a mentira
quando há em torno dele uma espessa rede de conspirações? A
princípio, quando visitou a Sede Central, e os padres não o
haviam envolvido bem, ele parecia bem. Os seus relatos eram
favoráveis. E então ele foi envolvido. Nós temos os nossos
informantes, que seguiram cuidadosamente os passos dos
missionários. Vós, na Inglaterra podeis rir; nós não.

Sabemos que não se pode rir desta conspiração. Os 30.000


padres na Índia estão todos aliados contra nós. É a última carta
que eles jogam: ganham eles ou ganhamos nós. Em uma
semana foram recolhidas 72.000 rúpias em Bombaim para "levar
a cabo a investigação contra os denominados Fundadores da
S.T.". Todos os Juízes do país (pensai em Sir C. Turner) estão
contra nós. Para os cristão céticos e nominais, livres pensadores
e funcionários civis presunçosos e snobs C.S., só o meu nome
impesta os seus narizes. E agora despertam a antiga "bela
adormecida" para entrar novamente na cena. Eu sou, antes de
tudo, uma ESPIÃ RUSSA. Na última noite os Oakleys jantaram
com Hume no Garstins e nos disseram muito seriamente que o
Governo ia me vigiar outra vez; que possuiam informações
(seriam dos Coulomb?) e que eu tinha de "ser vigiada". Foi em
vão que Hume risse e que os Oakley protestassem. Isso era algo
"muito sério" tendo em vista que os russos haviam cruzado
Cabul, Afganistão ou algo parecido.

Uma mulher velha e moribunda, confinada em seu quarto,


proibida de subir alguns degraus para evitar que estoure o seu
coração; que nunca lê os jornais por receio de encontrar neles o
mais vil ataque pessoal; recebendo cartas da Rússia, mas dos
seus parentes - uma espiã, um tipo muito perigoso! Oh, ingleses
da Índia! Onde está a vossa coragem?

Apesar de Hume, de seu amigo Hodgson e de toda evidência, os


Oakley não me consideram uma farsante. Eles têm completa
confiança nos Mestres; nada, dizem eles, os fará duvidar da sua
existência, e aparte alguns pequenos aborrecimentos devido às
"fofocas" sobre assuntos particulares, eles são teósofos firmes,
como o dizem os meus melhores amigos. É bom que assim seja.
Eu creio, Oh, Senhor, amparai em minha descrença! Como
posso crer que alguém seja meu amigo nestas circunstâncias. É
só aquele que sabe, como sabe que vive e respira, que nossos
Mahatmas existem e os fenômenos são reais, que pode
simpatizar comigo e me contemplar como uma mártir.
Diariamente aparecem folhetos escritos por reverendos, livros e
artigos, que me denunciam de corpo inteiro. "A Teosofia sem
Véus", "Madame Blavatsky desmascarada", "A Fraude Teosófica
diante do Mundo", "Cristo contra os Mahatmas", etc., etc., vós,
Sr. Sinnett, que conheceis bem a Índia, pensais que é difícil achar
testemunhos falsos aqui? Eles têm todas as vantagens sobre
nós. Eles (os inimigos) trabalham noite e dia, inundando o país
com impressos contra nós, e nós ficamos sentados, imóveis, só
disputanddo dentro da Sede Central. Olcott é considerado como
sendo um tolo, detestado pelos hindús. E agora, com a chegada
de Hume, chega também a minha parte. Embora os meus
amigos, os Oakleys, me aconselham que renuncie, os indianos
dizem que se retirarão caso eu o faça. Eu devo renunciar porque,
sendo considerada uma "espiã russa", ponho em perigo a
Sociedade. Essa é a minha vida durante minha convalescência,
quando qualquer emoção, diz o médico, poderá me ser fatal. Se
é assim, tanto melhor. Então renunciarei de fato. Mas eles
esquecem, então, que sou o último elo entre os europeus e os
Mahatmas. O que não importa aos indianos. Há dúzias deles que
são chelas e centenas que os conhecem, mas que, como no caso
de Subba Row, morrerão primeiro antes de falar de seus
Mestres. Hume não pode obter nada de Subba Row, embora
todos sabem o que ele é. Na outra noite ele recebeu uma longa
carta de meu Mestre, na sala de reuniões, quando Hume votou
pela minha renuncia. Tinham acabado de votar que não
haveriam mais fenômenos e que não se falaria mais dos
Mahatmas; a carta estava escrita em telugu, dizem eles. Embora
eles me apoiem e me apoiarão até o final, acusam-me de haver
profanado a Verdade e os Mestres, por ter sido eu a causa de
que se escreveram as obras O Mundo Oculto e Budismo
Esotérico. Não conteis com os indianos, vós da Loja de Londres.
Estando eu morta, a Sociedade diga adeus aos Mestres. Dizei
mesmo agora - todos, talvez com uma exceção - pois eu
empenhei a minha palavra aos meus Irmãos Hindús, os
ocultistas, de nunca mencionar, exceto entre nós, os Seus
nomes, e isso cumprirei.

Provavelmente esta será minha última carta para vós, querido Sr.
Sinnett. Levou-me quase uma semana para escrevê-la, tão débil
estou, e não creio, então, que terei outra oportunidade. Não
posso dizer-vos por que; muito provavelmente não o sentireis.
Não podereis permanecer fiel por muito tempo mais, vivendo
como viveis no mundo. Myers e a S.I.P. rirão de vós até o
desprezo. Hume, que vai a Londres em abril, colocará todos
contra os Mestres e a mim. Necessita-se outra espécie de
homens e mulheres do que a que tendes na Loja de Londres, à
exceção da senhorita Arundale e dois ou três mais para resistir a
uma tal perseguição e tormenta. E tudo isso porque profanamos
a Verdade ao dá-la indiscriminadamente e esquecido o lema do
verdadeiro ocultista: Saber, Ousar e MANTER-SE EM
SILÊNCIO.
Despeço-me, pois queridos senhor e senhora Sinnett. É
indiferente que eu morra em alguns mêses ou permaneça dois
ou três anos em solidão, estou já um tanto morta. Esqueçam de
mim e tratem de merecer a comunicação pessoal com o Mestre.
Então podereis predicar a Sua existência e caso tenhais o êxito
que eu tive, sereis insultado aos gritos como eu fui, e vereis se
podeis resistir a isso. Os Oakley me incitam a escrever à minha
tia e à minha irmã, pedindo-lhes que enviem o desenho do
broche de pérolas que lhes enviei em 1880. Eu recuso. Por que
haveria de fazê-lo? Caso seja provado o fenômeno do broche,
aparecerão outros que, com a ajuda de falsos testemunhos,
serão mostrados como falsos e eu estou cansada, cansada, tão
cansada e tão desgostosa, que a própria morte, com suas
primeiras horas de horror, é preferível a tudo isso. Que todo
mundo creia que sou uma farsante, com exceção de uns poucos
amigos e dos meus ocultistas indianos. Eu não negarei isso,
mesmo em frente deles. Dizei isso ao senhor Myers e aos outros.

Adeus, outra vez. Que a vossa vida seja feliz e próspera e que a
velhice da senhora Sinnett seja mais saudável do que a sua
juventude. Perdoai-me os aborrecimentos que eu possa ter vos
causado... e esquecei.

Vossa até o fim,

H.P. Blavatsky
Carta Nº 139

Sinnett respondeu à carta anterior (140) e esta de nº.141 é uma


resposta àquela sua carta.

Meu querido senhor Sinnett:

Eu vos pedi (eu mesma) em minha carta: "Por obséquio, esforçai


e tende intuição". Tivestes êxito, mas apenas parcialmente.
Sentistes que uma página ou tanto tinha sido ditada para mim e,
que não havia sido feita por um falso K.H. Mas falhastes, de novo
em sentir com que puro espírito de bondade, simpatia e
apreciação por vós Ele ditou aquelas poucas frases.
Interpretastes equivocamente como crítica. Agora escutai-me.
Com exceção de uma vaga recordação de que estivera
escrevendo sob Seu ditado, eu não poderia, naturalmente,
recordar uma só linha corretamente, mesmo tendo-a lido com
cuidado antes de fechar a carta. Mas o que eu posso assegurar
é que não existiu nem uma sombra de crítica intencional contra
vós pessoalmente, no pensamento do Mahatma, ao comunicá-
la para mim. Eu estava escrevendo minha carta para vós e já
havia escrito três ou quatro páginas, quando entrou a condessa
e leu para mim, da vossa carta, aquelas frases desalentadoras
na qual dizeis que vos inclinais a suspeitar que os "Poderes
Superiores" não desejam que a Sociedade continue a existir, e
que era inútil que fizesseis algo nesse sentido. Nem tive tempo
para abrir a boca e protestar quando vi a Sua imagem sobre a
escrivaninha e ouvi as palavras: "Escreva, agora, por favor". Eu
não prestei atenção às palavras ditadas, exceto numa maneira
mecânica, mas eu sei com que atencão e intenso interesse eu
observava as "luzes de pensamento e sentimento" e a aura, se
é que compreendes o que digo. Suponho que o Mahatma
desejava que eu pudesse observá-las; do contrário, seus
pensamentos e íntimas reflexões teriam permanecido
impenetráveis. E eu digo que nunca, desde que o conheceis,
NUNCA houve tanta bondade e genuino sentimento para
convosco, assim como uma absoluta ausência de "crítica" ou
reprovação dirigida a vós como nesta ocasião. Não sejais
ingrato; não interpreteis mal. Abri inteiramente o vosso coração
e sentimentos íntimos e não julgueis através da vossa visão do
mundo e da fria razão. Perguntai à Condessa, a quem a carta foi
lida e a quem eu disse o que agora vos digo, e ouvireis que ela
estava muito contente convosco, pois simpatiza convosco e com
a vossa atitude, e aprecia, como eu, tudo o que fizestes. tudo o
que dizeis é perfeitamente certo e exatamente o que pensei,
percebi na aura do Mahatma. As fulgurações amarelo-
acinzentados eram todas dirigidas para Olcott, (período de
Londres, não agora), Mohini, Finch (mais avermelhadas) e a
outros que não citarei. A vossa imagem evocada completa, o
scin-lecca, recebia toda uma torrente de luz azul clara prateada
(o episódio de Kingsford no salão do Príncepe, e mesmo
Holloway, tudo isso estava muito, muito longe de vós numa
névoa), o que é prova inegável de que estivestes implicado
nisso, porém, não por sua culpa pessoal, mas atraído
irresistivelmente a isso pelo Karma geral. Onde está, pois, a
"crítica" ou a reprovação? Nenhum homem vivo pode fazer neste
mundo mais do que as suas próprias possibilidades. Não podieis
evitar a reunião no Salão do Príncipe, porque a Sociedade havia
escolhido um caminho no qual o episódio haveria de acontecer.
Mas se todos vós, vós em especial, houvessem vos preparado
para isso, como deveriam tê-lo feito muito antes, teriam salvado
a situação pronunciando uma palestra (mesmo lida teria sido
melhor), que teria podido chegar à compreensão do público, em
vez do que se fez. O vosso discurso foi o único contra o qual não
se pode argumentar nada, mas devido a vossa má vontade, pois
fostes arrastado à reunião, foi tão frio, com tanta falta de
entusiasmo ou mesmo sincero interesse, que foi como a nota
chave para os outros. O de Olcott foi uma peroração ianque,
vazia e comum, um dos piores. O do "angélico Mohini", foi algo
notavelmente tolo, com floretos retóricos ao estilo Babu, etc. Mas
essas são coisas do passado. Naturalmente, foi um fracasso,
mas poderia ter sido um sucesso apesar de tudo em contrário,
se houvesse sido preparado com antecedência. A recepção que
fez o público foi a que correspondia ao caminho escolhido e tinha
de ocorrer, pois teria sido ainda pior se nada tivesse sido feito.
Holloway foi enviada e formava parte do programa de provas e
destruição. Ela vos fez dez vezes mais dano do que para a
Sociedade, mas isso é inteiramente vossa culpa, e agora está
executando a dança guerreira em volta de Olcott, que está em
tão estreita relação com ela, mais do que estáveis. Mantém uma
correspondência semanal incessante e afetuosa, encantadora
de se observar; ela é sua "querida agente em Brooklyn para as
coisas ocultas", etc. Mas deixemos disso. Quanto a "chelas", o
assunto é mais sério. Nenhum dos dois é tolo. Eles sentem se é
que já não o sabem, que o abismo entre eles e os Mestres está
se tornando maior diariamente. Sentem que se encontram no
lado falso esquerdo, e sentindo-se assim, se voltarão para onde
se voltam todos os "fracassados". Se os Mestres lhes ordenarem
para voltar para Índia, não creio que o façam, agora que estão
sob a influência de Bowajee. Mohini está arruinado por ele, não
há dúvida sobre isso. E a senhorita...está se perdendo em
companhia deles. Tendes que agir independentemente deles,
não romper visivelmente, mas fazer o vosso próprio trabalho
como se eles não existissem: Anote, desejo que escreveis uma
carta séria a Arthur Gebhard, e contai-lhe tudo que sabeis de
Bowajee. Ele está em plena correspondência com os
americanos e envolvendo-os, como fez com os Gebhards. Eu lhe
escrevi e também a Condessa. Mas ele não nos dará crédito, a
menos que confirmeis. Seguramente já lhe foi dito que a
Condessa está completamente sob os meus poderes
psicológicos. Franz tem a certeza disso, pobre homem. A menos
que o advirtas, ambos os "chelas", ou um deles, irá seguramente
para a América. Se pudesseis conseguir que Leonard
reclamasse a sua carta para Índia, como um arranjo, então ele
não teria motivo para permanecer. Mas, como fazê-lo? Se eu
pudesse ao menos ver a pessoa velhaca ou aproximar-se dela,
estaria disposta a me sacrificar, fazer qualquer coisa com a
finalidade de limpar a Sociedade dessa herva venenosa. Mas
podeis trabalhar independentemente de todos eles; isso é
seguro.

Antes do dia 15 de abril estaremos próximos de vós, através do


Canal. A Condessa virá comigo e se arrisca até meados de maio.
Eu tenho que estar próximo de vós no caso que aconteça algo,
pois além dela, não creio ter um amigo, um amigo verdadeiro
neste amplo mundo, além de vós e da senhora Sinnett. O "duplo"
teosófico do senhor Hyde (o doutor Jekyll) fez o melhor das suas.
Eu poderia detê-lo em uma hora se pudesse cair sobre eles
inesperadamente. Isto eu juro. Mas como fazê-lo? Se tão apenas
eu pudesse chegar em Londres sem avisar, e lá ficar dois dias,
eu o faria. Iria até eles às 8 horas da manhã. Mas antes devo vos
ver e pensar bem em tudo. Se tivesse pelo menos a saúde que
me falta. Os "dois anos de vida, e não mais" que me disse o
doutor londrino trazido pelo senhor Gebhard e também o meu
médico em Adyar, se aproximam do seu fim. A menos que o
Mestre, uma vez mais, interfira, será o adeus.

Nada dissestes dos pequenos estratagemas de Gladstone. Não


crêdes neles? Curioso! Segundo me dizem, recebestes uma
carta sobre esta assunto, já na época em que ocorreram os
distúrbios pela Lei Ilbert. Bem, posso vos dizer belas coisas
sobre os jesuitas e suas façanhas. Mas, naturalmente, de nada
serviria. E entretanto, é coisa séria.

Bem, adeus, escrevei-me.

Vossa sempre fielmente.

Meu carinho para a Sra. Sinnett.

H.P.B.
Carta Nº 140

H.P.B. foi "influenciada" a dar a Sinnett uma informação. Ela


estava em Würzburg, Alemanha, onde estava trabalhando na "A
Doutrina Secreta". Em dezembro passou a fazer-lhe companhia
a Condessa Constance Wachtmeister, natural da Suécia e que
era membro da Sociedade Teosófica, clarividente natural e
amiga leal de H.P.B. Pouco depois da morte de H.P.B. ela
escreveu um pequeno livro intitulado "Reminiscências de H.P.
Blavatsky e a Doutrina Secreta". É um relato fascinante e pode
ser recomendado para quem esteja interessado nesta fase da
vida de H.P.B.

O relatório da Sociedade de Pesquisas Psíquicas sobre


investigações de Richard Hodgson tinha sido publicado em
dezembro de 1885. Ele arrasava H.P.B., que sabia no íntimo de
seu ser, quão falso ele era. Então a Condessa recebeu uma
carta do Dr. Hubbe Schleiden, presidente da Sociedade
Teosófica Alemã. Ele acabara de ler o relatório e escrevera para
dizer que, a menos que H.P.B. pudesse explicar como poderia
ser achada e provada uma semelhança entre o inglês de H.P.B.
e do Mahatma K.H., ela ficaria acusada para sempre de engano
e fraude. H.P.B. descreve o que a Condessa fez a respeito da
situação e o que aconteceu para ela própria, depois que leu o
Relatório.
Meu querido senhor Sinnett:

Recebo a instrução de vos comunicar o seguinte: primeiro


deixai-me dizer-vos que a Condessa foi para Munich, em
disparada, para tratar de salvar Hubbe de sua debilidade, e a
Sociedade de se desmoronar. Esteve toda a tarde em transe,
saindo e entrando em seu corpo. Viu o Mestre e o sentiu toda a
noite: ela é uma grnde clarividente. Bem, depois de ler algumas
páginas do Report4, senti-me tão desgostosa com as mentiras
gratuitas de Hume e com as deduções absurdas de Hodgson,
que, no meu desespero quase deixei tudo. O que poderia eu
fazer ou dizer contra um indício no mundo naturalmente
mundano! Tudo era contra mim e só me restava morrer. Meti-me
na cama e tive a visão mais extraordinária. Havia chamado em
vão os Mestres, que não me acudiram durante o meu estado de
vigília, mas agora, no meu sonho, vi os dois. Encontrei-me de
novo na casa do Mahatma K.H. (revivendo uma cena de anos
atrás). Eu estava sentada num canto, sobre uma esteira, e ele
estava caminhando pela casa, no seu traje de montaria, e o
Mestre falava com alguém detrás da porta. E ao responder-lhe
a uma pergunta Sua sobre uma tia morta, disse: "Eu recordar
não posso". Ele sorriu dizendo: "Curioso o inglês que falais".
Então me senti envergonhada, ferida na minha vaidade, e
comecei a pensar (notai bem, em meu sonho ou visão, que era
a reprodução exata do que ocorrera, palavra por palavra, há 16
anos): "agora estou aqui falando senão inglês em linguagem
fonética verbal: talvez possa aprender melhor com ELE". (Para
esclarecer, com o Mestre eu também usava o inglês, fosse bom
ou mau, pois tanto fazia para Ele, já que não o fala, mas
compreende cada palavra que digo, tomando-a na minha
cabeça; sou levada a compreendê-lo, como, jamais poderia
dizer ou explicar, ainda que me matassem, mas o compreendo.
Com D.K.6 também conversava em inglês, já que ele o fala
melhor que o Mahatma K.H.). Então, ainda em meu sonho, três
mêses depois (e esse transcurso de tempo senti no sonho)
encontrava-me de pé ante o Mahatma K.H., perto do velho
edifício cuja demolição ele obsevava, e como o Mestre não
estava em casa, levei-lhe algumas frases em Senzar, que eu
estava estudando no quarto de sua irmã, e pedi-lhe que me
dissesse se as havia traduzido corretamente, dando-lhe um
pedaço de papel com essas frases em inglês. Ele o pegou e as
leu, corrigiu a interpretação, leu-as de novo e disse: "Agora o teu
inglês está melhorando: procura captar de minha cabeça mesmo
o pouco que conheço dele". E pondo a sua mão na minha testa,
na região da memória, fez ali uma pressão com os seus dedos
(e até senti também a mesma dorzinha ali, e o calafrio que já
havia experimentado) e desde esse dia, Ele manipulou
diariamente com a minha cabeça, durante dois mêses. De novo
muda a cena e me afasto com o meu Mestre, que estava me
mandando de regresso à Europa. Vejo-me depedindo da irmã
do Mestre K.H. e do filhinho dela, assim como de todos os
Chelas. Escuto de novo o que dizem os Mestres. E então vêm
as palavras de despedida do Mahatma M.H. rindo-se de mim,
como sempre o fez, e dizendo: "Bem, se não aprendestes muito
das Ciências Sagradas e do Ocultismo prático (e quem poderia
esperar que uma MULHER o fizesse?) ao menos aprendestes
um pouco de inglês. Falais agora somente um pouco pior do que
eu!", e riu.

De novo muda a cena; encontro-me na rua 47, em Nova Iorque,


escrevendo Isis e a sua voz ditando para mim. Neste sonho ou
visão retrospectiva, escrevi outra vez toda Isis e poderia agora
indicar todas as páginas e frases que o Mestre K.H. ditou (assim
como as que o meu Mestre ditou), escrevendo-as no meu mau
inglês, enquanto Olcott arrancava punhados de cabelos,
desesperado de não poder compreender jamais o seu
significado. Vi-me de novo, noite após noite, deitada,
escrevendo Isis em meus sonhos, em Nova Iorque,
positivamente escrevendo em meu sonho, e senti as frases que
o Mestre K.H. impressionava em minha memória. E então, ao
despertar dessa visão (agora em Wurzburg) ouvi a voz do
Mahatma K.H.: "e agora soma dois e dois, pobre mulher cega:
O mau inglês e a construção das frases, conheceis, sem dúvida,
embora isso aprendestes de mim...afastai para longe o
menosprezo que vos arrojou esse homem mau aconsehado e
vaidoso(Hodgson): explicai a verdade aos poucos amigos que
acreditarão em vós, pois o público nunca o fará até o dia em que
apareça a Doutrina Secreta". Despertei e foi como um
relâmpago de luz, mas ainda não compreendia a que se referia.
Mas, uma hora depois, chega a carta de Hubbe Schleiden para
a Condessa, na qual ele diz que, a menos que eu explique
porque Hodgson encontra e prova essa semelhança entre o meu
defeituoso inglês e certas expressões do Mahatma K.H., a
construção de frases e galicismos peculiares, continuo sendo
acusada para sempre, de engano e falsificação e quem sabe do
que mais!! Naturalmente, eu aprendi o meu inglês com Ele!
Mesmo Olcott deve compreender isto. Sabeis, e eu o disse a
muitos amigos e inimigos que me foi ensinado o terrível inglês
de Yorkshire pela minha ama, que era chamada de
"Governante". Desde a época em que meu pai me levou a
Inglaterra, na idade de quatorze anos, achando que eu falasse
um belo inglês e as pessoas perguntavam se eu tinha sido
educada em Yorkshire ou na Irlanda, rindo-se de minha
pronuncia e da minha maneira de falar, abandonei
completamente o inglês, evitando falá-lo tanto quanto podia. Dos
quatorze até passados os quarenta anos, nunca o falei nem o
escrevi, tendo o esquecido por completo. Podia ler (o que fiz
muito pouco), mas não podia falar. Recordo como me foi difícil
entender um livro bem escrito em inglês, lá pelo longínquo ano
de 1867, em Veneza. Tudo o que sabia quando cheguei à
América em 1873, era falar um pouco, e isso pode ser
testemunhado por Olcott e Judge, assim como por todos que
então me conheceram. Gostaria que as pessoas vissem um
artigo que, certa vez, tentei escrever para o Estandarte da Luz,
no qual, em vez de temperamento sanguíneo, puz sanguinário,
etc. Aprendi a escrevê-lo por meio de Isis, isso é certo, e o
professor A. Wilder, que vinha semanalmente ajudar Olcott na
disposição dos capítulos e a escrever os índices, pode atestá-lo.
Quando concluí o livro (e o atual Isis é apenas a terça parte do
que escrevi e destruí), podia escrever como o faço agora, nem
melhor, nem pior. A minha memória e minhas faculdades
parecem terem desaparecido desde então.

Que tem de estranho então, que meu inglês e o do Mahatma


mostrem semelhanças? Também ocorre o mesmo com o de
Olcott e o meu em nossos americanismos, que eu peguei dele
nestes dez anos. Eu, traduzindo mentalmente tudo do francês,
não teria escrito cético com K, embora o Mahatma K.H. o fizesse,
e quando o escrevi com c, Olcott, Wildere o revisor das provas,
o corrigiram. O Mahatma K.H. conservou esse hábito, mas eu
não, desde que fui a Índia. Eu não teria posto carbólico em vez
de "carbônico" e fui a primeira em assinalar o equívoco quando
Hume me mostrou a carta do Mahatma, em Simla, onde ocorreu.
É sem sentido e tolice por parte dele, publicá-lo, pois, se ele diz
isso, referindo-se à uma frase encontrada em alguma revista,
então a palavra escrita corretamente estava ali, diante dos meus
olhos, ou dos de qualquer chela que precipitou a carta, e
portanto, é evidente um lapsus calami se houvesse algum calami
na precipitação. "Diferença na escrita" oh, que extraordinário!
Foi o Mestre K.H. que escreveu todas as suas cartas? Só o céu
sabe quantos chelas as precipitaram e as escreveram. Pois
bem, se existem diferenças tão marcadas entre as cartas
escritas mecanicamente pela mesma pessoa (como é, por
exemplo, o meu caso, que nunca tive uma caligrafia firme)
quanto mais será na precipitação, que é a reprodução fotográfica
proveniente do cérebro de alguém, e eu aposto qualquer coisa
que nenhum chela é capaz de precipitar sua própria escrita duas
vezes exatamente da mesma maneira (os Mestres podem);
sempre haverá uma diferença e bem marcada, assim como
nenhum pintor poderia pintar duas vezes a mesma semelhança
(veja-se Schmiechen com os os seus retratos do Mestre). Tudo
isso será facilmente compreendido pelos teósofos (nem por
todos) e por aqueles que meditaram profundamente e que
conhecem algo da filosofia. Quem pode crer em tudo que digo
nesta carta, a exceção de alguns poucos? Ninguém. E, no
entanto, exigem-me uma explicação, e quando ela é dada (caso
transcreveis de fatos que eu posso vos proporcionar) ninguém
irá crer. Entretanto, tereis que demonstrar, pelo menos, uma
coisa: que as comunicações ocultas, cartas escritas, etc., não
podem ser julgadas pelas normas comuns, nem por peritos. Não
existem três soluções, mas duas. Ou eu inventei os Mestres, sua
filosofia, escrevi as suas cartas, etc. ou não o fiz. Se eu os
inventei e os Mestres não existem, então os seus escritos não
poderiam igualmente ter existido: eu os teria inventado também;
nesse caso, como posso ser chamada de "falsificadora"? São os
meus escritos então e eu tenho o direito de usá-los se sou tão
hábil. Quanto a inventar a filosofia e a doutrina, a "Doutrina
Secreta" o demonstrará. Agora me encontro aqui só, com a
Condessa como testemunha. Não possuo livros, nem alguém
que me ajude. E eu vos digo que a "Doutrina Secreta" será vinte
vezes mais erudita, filosófica e superior à Isis, que ficará
obscurecida. Há agora centenas de coisas que tenho a
permissão de dizer e explicar. Mostrará o que pode fazer uma
espiã russa, uma falsificadora e plagiária, etc., declarada. A
"Doutrina", como um todo é mostrada como sendo a pedra
fundamental de todas as religiões, incluindo o Cristianismo,
apoiada na solidez dos livros exotéricos hindús publicados, com
os seus símbolos explicados esotericamente. Também se
mostrará a extrema lucidez do "Budismo Esotérico" e a correção
de suas doutrinas demonstrada de modo matemático,
geométrico, lógico e científico. Hodgson é muito hábil, mas não
obastante diante da verdade e ela triunfará, após o que, posso
morrer com tranquilidade.

E Babula também escrevendo as minhas cartas dos Mestres!


Hume descobre, cinco anos mais tarde, que o envelope da
Municipalidade que Babula me trouxe, havia sido "violado"! Que
boa memória deve ter esse seu portador mahometano, para
recordar-se que era precisamente esse envelope! E a carta para
Garstin, que Mohini levou-lhe, duas horas e meia depois que a
carta havia sido colocada no "santuário" e havia desaparecido
do mesmo. Sua carta fechada com cola com toda precaução,
não apresentando marcas como as que são agora descritas; e
transcorridos, agora dois anos, depois de ter passado por 1000
mãos, manuseada por Garstin, e pelos próprios peritos, tratando
de averiguar como poderia ter sido aberta! Agora todos se
voltam contra mim! E as mentiras de Hume. E esse papel
tibetano ou nepalês que ele soube que poderia ser encontrado
próximo a Darjeeling. Devéras. Eu anexo uma tira desse papel
para vosso exame e com a vossa boa memória, certamente o
reconhecereis. É o pedaço original no qual as primeiras lições
do Mestre foram dadas a vós e a Hume, em seu Museu em
Simla. Já o vistes muitas vezes. Por obséquio, quando o
reconhecerdes, devolvei-o. Isto é pessoal e confidencial e rogo-
vos por vossa honra, que não o deixeis escapar de vossas mãos,
nem o deis a pessoa alguma. Nenhum perito ou orientalista
encontraria ou compreenderia algo no papel senão letras que
têm um significado para mim, e para ninguém mais. Mas o que
quero que vejais e recordeis é que fui a Darjeeling um ano depois
que Hume discordou de K.H. e eu consegui esse papel em Simla
quando começaram as primeiras lições. E ao longo de todo o
esse relatório se multiplicam as mesmas mentiras, falsos
testemunhos, etc.

Vossa. Já não mais aflita.

H.P. Blavatsky
Carta Nº 141

Madame Coulomb espalhou a história de que, além de ser uma


espiã russa, H.P.B. era bígama; de que ela se casara com um
homem chamado Agardi Metrovitch, um revolucionário húngaro
ou russo a quem ela salvou da morte na Turquia e que ajudou
mais tarde no Egito. A história era totalmente falsa,
naturalmente, mas causou muito aborrecimento para H.P.B.

Sinnett estava nessa época escrevendo ou se propondo a


escrever, o seu livro, "Episódios na Vida de Madame Blavatsky".
Ele desejava incluir a verdade a respeito da personagem
Metrovitch, que Madame Coulomb torcera e distorcera o
suficiente para tornar H.P.B. uma criminosa. Ele achava que
poderia neutralizar os efeitos das mentiras de Coulomb e o
relatório da S.S.P. Ela prometeu ajudá-lo e procurar lembrar o
que pudesse do passado.

Meu querido Sinnett:

Fazei o que quiserdes. Estou em vossas mãos. Apenas não


posso ver que mal poderia haver se fosse dito aos advogados
que é uma mentira que eu seja Madame Metrovich, ou qualquer
outra Madame, senão eu mesma. Isso os satisfaria e faria com
que eles parassem de me enviar cartas com esse nome, pois
seguramente não são tão tolos a ponto de não saber que essa
acusação ostensiva é contra a lei. É porque a Bibiche confunde-
os com a crença de que eu era na verdade uma bígama e eles
me tornaram uma trigama. Bem, muito em breve posso receber
alguma carta, a mim dirigida, com o nome de senhora
Leadbeater ou senhora Damodar, ou talvez ser acusada de ter
um filho com Mohini ou com Bowajee. Quem pode dizer, a
menos que algo SEJA refutado?

Mas tudo isso são pequenas coisas sem importância. Há algo


que me produz indizível desgosto e me põe enferma, é a idéia
do ocultamento de nomes. Odeio o incógnito e a troca de
nomes. Por que eu vos daria mais problemas além dos que já
tem comigo? Por que deverieis perder tempo e dinheiro para vir
me ver? Não façai isso. Enviarei a minha bagagem
adiantadamente e chegarei com Luisa, tranquilamente, e em
segunda classe, passando a noite em Bonn ou em Achen (Aix
la Chapelle), ou em algum lugar na estrada. Os alojamentos
serão caros em Ostende durante junho, mas não antes. Além
disso, posso ir a algum lugar próximo. Eu não sei quando vou
sair daqui. Pode ser que seja no dia 1º. ou 15. Já paguei até
essa data.

Por que a senhora Sinnett não viria com Dennie? Onde está o
mal e por que não deverá ficar comigo se encontro um bom
alojamento? Não me sentiria feliz se ela não estivesse comigo,
assim por que alojar-se em outra parte? Somente seria um
incômodo para ela e um aborrecimento de espírito para mim.

Escrevi à minha tia e irmã dando-lhes o endereço de Redway.


Todas as cartas vos serão dirigidas, aos cuidados dele, dizendo
debaixo de vosso nome: somente para Madame B. Entretanto,
pouco me importa receber cartas ou não. Nos jornais russos
apareceu um artigo longo, em meu louvor e glorificação, no qual
sou chamada de "a mártir da Inglaterra". É reconfortante e me
faz sentir como se realmente fosse uma grande espiã russa!
Escutai, se souberdes, mas, nesse caso, jamais acreditareis.
Bem, podeis não crer, mas, algum dia, sereis obrigado a crer.
Gladstone é um católico romano, secretamente convertido. Isto
é certo. Entendei como quiserdes, mas não podeis alterar os
FATOS. Ah, pobre Inglaterra; e loucos e cegos são aqueles que
procuram destruir a Sociedade Teosófica!

Bem, devo dizer algumas palavras a respeito. Dizeis, "nós


estamos quase sem esperanças... paralizados desamparados.
As seções francesa e alemã encontram-se praticamente mortas.
O movimento em Londres só poderá ser revivificado nalgum
futuro longíquo, etc." E vos é perguntado: como é isto? Vós não
estais morto. A Condessa vive. Ao vosso redor há dois ou três
companheiros que ainda respiram. A Sociedade na Índia
progride e NUNCA pode morrer. Na América está se tornando
um grande movimento. O doutor Buck, o Professor Goues,
Arthur Gebhard, com alguns mais, são auxiliados porque eles
se movimentam e demonstram o seu maior desprezo por tudo o
que se diz, se imprime ou se fala nas ruas. Oh, esforçai e sede
intuitivo!; por uma questão de piedade, não fechei os olhos e
porque não podeis ver objetivamente, não paralizeis a ajuda
subjetiva que aí está viva, respirando, evidente. Acaso tudo o
que se encontra ao vosso redor não mostra a indestrutibilidade
da Sociedade se virmos como as furiosas ondas levantadas pelo
mundo dos Dugpas tem, nos últimos dois anos, se avolumado,
espalhando-se e batendo furiosamente em torno da Sociedade
para quebrar o que? apenas a estrutura carcomida da "Arca do
Dilúvio". Acaso elas levaram de roldão alguém realmente digno
do movimento? Nenhum. Suspeitais que os "Mestres" querem
terminar com o movimento? Eles vêem que não compreendeis
o que eles estão fazendo, e o lamentam. Eles é que devem ser
culpados pelo que aconteceu ou nós mesmos? Se o Fundador
da Sociedade e os Fundadores ou os Presidentes das Lojas
tivessem sempre tido em conta o fato de que não é tanto a
quantidade que necessitamos, mas a qualidade, para o êxito da
Sociedade, a metade dos desastres teriam sido evitados. Dois
caminhos se apresentavam para a Loja de Londres como se
apresentam diante de qualquer outra Loja, quando recolhestes
os seus fragmentos dispersos e reconstruistes com eles o corpo
próspero que foi: aquele que conduzia à formação de uma
Sociedade secreta e arcana, de ocultistas práticos estudantes;
o outro que levava a um grupo social e aberto. Sempre
preferistes esta última. A todos vos foi dada a oportunidade para
a formação de um grupo interno: não quisestes utilizar a vossa
autoridade e a delegou ao Presidente nominal, que oscilava
cada vez que soprava uma brisa suave, tanto interna como
externa, arruinando e abandonando a Loja. Cada vez que se fez
uma tentativa dessa natureza, era, ou repelida ou, se realizada,
continha em si um elemento tão forte de impostura, que
resultava em um fracasso. Constatou-se que era impossível
auxiliá-la e foi deixada à sua sorte. Existe um provérbio asiático:
"Podeis cortar a serpente da sabedoria em centenas de
pedaços; enquanto o seu coração, que está na sua cabeça,
permanecer intocado, a serpente unirá os seus pedaços e viverá
de novo". Mas quando o coração e a cabeça parecem estar em
todas as partes e não estão em nenhuma, o que se pode fazer?
Pelo fato da Loja de Londres ter tomado o seu posto e lugar
entre as instituições públicas teria que ser julgada por suas
aparências. Não é bastante elogiar o Corpo e as suas Lojas
escolas de moralidade, sabedoria e benevolência, pois o mundo
externo sempre as julgará pelo que fazem. A Loja esteve
sempre necessitada de trabalhadores eficientes, e como em
qualquer outra organização, o trabalho recaiu sobre muito
poucos. E desses poucos, só um tinha um objetivo definido em
vista, buscando-o firme e determinadamente: VÓS. Entretanto,
a vossa cautela natural e o vigoroso elemento de sociedade
mundana dentro do Corpo Oculto, o sentido de individualidade
e correção inglesas em cada membro, impediu-vos por um lado,
de fazer valer os vossos direitos como devieis ter feito, e levou
os outros a se separarem de vós completamente, cada um
determinado a agir como ele ou ela achasse melhor, para
assegurar a sua própria salvação e satisfazer as suas
aspirações para "esgotando Karma num plano mais elevado",
na frase tola que agora circula entre eles. Tendes razão ao dizer
que "os golpes que foram assestados contra o movimento"
surgiram todos das consequências das delegações da Índia";
estais errado ao pensar que: (1) essas consequências não
teriam sido tão desastrosas, se o elemento hindú não se tivesse
ajudado e empurrado fortemente para o dano; e (2) que "os
poderes superiores desejam deter o crescimento da
Sociedade". Mohini foi enviado e, a princípio, ganhou todos os
corações e verteu uma nova vida na L.L. Ele se perdeu pela
adulação masculina e feminina, a incessante lisonja e sua
própria debilidade; a vossa reserva e orgulho deixaram-vos
passivo quando deverieis ter intervido. O primeiro projétil do
mundo Dugpa veio da América; vós o acolhestes e destes o
calor do vosso coração; levastes a que escreve, mais de uma
vez, quase ao desespero; os vossos cuidadosos passos, e o
vosso sincero esforço, vossa devoção à verdade e aos
"Mestres" foram ineficazes nesses momentos para discernir a
verdade real, para receber o que se deixou de dizer no lugar do
que não podia ser dito, deixando assim a mais ampla margem
para a suspeita. A última não era sem fundamento. O elemento
Dugpa triunfou amplamente em um dado momento. Por que?
Porque acreditastes numa pessoa que foi enviada pelas forças
oponentes para a destruição da Sociedade, e permitiu que
atuasse como se ela e os outros representassem os "poderes
superiores", como os chamais, cujo dever não era de intervir na
grande probação, salvo no último momento. Até hoje, sois
incapaz de dizer o que foi verdadeiro e o que foi falso, porque
não existe um lugar aparte, separado da Sociedade e
consagrado ao elemento único puro nela, amor e devoção à
verdade, seja ela abstrata ou concentrada nos "Mestres" - um
lugar no qual nenhum elemento de individualidade ou egoismo
penetrasse - um verdadeiro grupo interno, é o que quero dizer.
O Grupo Oriental demonstrou ser uma farsa. A senhorita...tem
mais interesse nos chelas (?) do que nos Mestres; está cega
ante o fato de que aqueles que eram (e ainda pensa que são)
mais devotados à Causa, aos Mestres e à Teosofia, chamai-o
por qualquer nome, são os mais provados; que ela está sendo
provada agora, que é sua última prova e parece que ela não
surge da prova como conquistadora. Dizeis: "Na ausência de
quaisquer meios de comunicação direta com eles, somente
posso julgar pelos indícios," dizeis. Os indícios são evidentes. É
a grande prova suprema para todos. Aquele que permaneça
passivo não perderá nada, mas não ganhará nada quando tudo
estiver concluido. Ele pode mesmo fazer com que o seu Karma
o atrase com suavidade na senda por onde já ascendia. O que
vos falta lastimosamente é a abençoada auto-confiança de
Olcott, e perdão, a sua audácia, vulgar, mas a mais potente. Não
necessitamos abandonar o tato nem a cultura para possui-la. É
um Proteu de muitas faces que pode voltar qualquer uma delas
para o inimigo e obrigá-lo a se resguardar. Se a L.L. está
composta apenas de seis membros (sendo o Presidente o
sétimo) e essa "vielle garde" enfrenta serenamente o inimigo,
não o permitindo saber quantos sois e impressionando-o com a
aparência externa de uma multidão mediante a utilização de
folhetos, convocatórias e outras provas materiais claras de que
a Sociedade não foi abalada, que não sentiu os golpes, que se
mostra totalmente indiferente ao inimigo, logo ganhareis a
batalha, tereis esgotado o inimigo antes que ele consiga cansar
até o último membro da Sociedade. Tudo isso pode ser
alcançado com facilidade e nenhum "desastre demolidor"
afetará realmente a Sociedade, se os seus membros têm
bastante intuição para ver o que "os poderes superiores"
querem realmente, e o que podem ou não impedir. O que mais
se necessita é o discernimento espiritual. "Não é tanto a questão
de salvar o que resta da Sociedade, quanto recomeçar o
movimento em outro momento futuro". Esta é uma política fatal.
Segui-a e tereis rompido, por essa época (futura), cada fio
invisível, mas poderosamente vital, que liga a L.L. com os
ashrams, além das grandes montanhas. NADA PODE MATAR
A L.L., exceto uma só coisa; a passividade. Sabei isto, vós que
reconheceis, "não se sentir agora com ânimo para dar
conferências e discursos. "TRABALHAI OCULTAMENTE", é o
melhor que podeis fazer, mas não em silêncio, se não quereis
destruir a Sociedade e as vossas aspirações pessoais com a
vossa própria mão. Nem todos são oradores da L.L., e
felizmente, porque seria uma torre de Babel. Nem todos são
sábios, mas os que o são deveriam compartilhar com os demais.
Arranjai para tornar as coisas completas. Façai com que as
vossas atividades estejam em proporção com as vossas
oportunidades e não desviei o vosso rosto destas últimas,
mesmo das que são criadas por vós mesmo. "Arremessai os
ardentes tições separados e logo se apagarão; juntai-os e se
inflamarão numa chama que subirá até o firmamento com um
fulgor avermelhado". Assim, a Loja de Londres reluzirá se a
perturbação for mantida à distância, se não se deixa suas
chamas queimarem e se esgotarem como pontos de luz,
isolados e intermediários, mas são reunidas e focalizadas em
um amplo resplendor pela mão do seu Presidente, e se essa
mão não deixa cair a bandeira que lhe foi confiada. O barro
humano nunca se adere, nem mancha a chama contra a qual se
arremessa. Só adere com firmeza no mármore, ao coração frio
que perdeu a última chispa da Chama Divina. Na verdade, os
"Mestres" e os "Poderes que sejam", chamariam e guiariam
muitos daqueles tristes, solitários e fatigados nesta bela terra da
Teosofia oculta e psíquica para se reunirem com eles ao redor
de seus altares. Dois, em corpo físico, triunfaram e encontraram
os declarados "Invisíveis", cada um por sua própria senda.
Porque os ensinamentos da "Ordem" são como pedras
preciosas: para qualquer lado que sejam giradas, a luz, a
verdade e a beleza lançam os seus raios e guiarão o fatigado
caminhante que as busca, desde que ele não se detenha em
seu caminho para seguir os fogos-fátuos do mundo ilusório e
permaneça surdo ao rumor público. Agora, por piedade, tratai
de despertar de uma vez as vossas intuições, se puderdes.
Sofro mesmo por vós e faria qualquer coisa para ajudar-vos.
Mas vós me impedis. Perdoai esta carta e tratai de reconhecer
o que há por trás das minhas palavras.

H.P.B.
Carta Nº 142a

A Carta 14A está escrita por Damodar Mavalankar, que era uma
figura importante nos primeiros dias da S.T. Ele era um chela do
Mahatma K.H. e finalmente juntou-se ao Mestre
permanentemente.

Sinnett, que estava sinceramente interessado no bem-estar da


S.T., havia pedido algumas sugestões. A Carta 14A contém as
sugestões de Damodar.

A SOCIEDADE TEOSÓFICA

Com referência às Regras e Organização da Sociedade


permito-me fazer as seguintes sugestões. Os pontos que eu
enfatizo, parecem-me muito necessários, pois eu tenho
conversado com muitos hindús e julgo conhecer melhor o
caráter hindú do que qualquer estrangeiro.

Uma impressão geral que parece prevalecer é a da Sociedade


ser uma seita religiosa. Essa impressão tem a sua origem,
penso, em uma crença comum de que a Sociedade é totalmente
devotada ao Ocultismo. Até onde posso julgar, esse não é o
caso. Se assim for, o melhor curso a se adotar seria tornar a
Sociedade secreta, e fechar as suas portas para todos, exceto
àqueles muito poucos, que possam ter mostrado uma
determinação para devotar todas as suas vidas ao estudo do
Ocultismo. Caso não seja assim, e estiver sobre o princípio
amplo e Humanitário da Fraternidade Universal, que o
Ocultismo, uma das suas várias ramificações, seja inteiramente
um estudo secreto. Desde tempos imperiais esse conhecimento
sagrado tem sido guardado do vulgo com grande cuidado, e
porque uns poucos de nós tiveram a grande ventura de entrar
em contato com algunss dos guardiães desse tesouro
inapreciável, é correto de nossa parte tirar vantagem da
bondade deles e vulgarizar os segredos que eles consideram
mais sagrados, mais do que as suas vidas? O mundo ainda não
está preparado para ouvir a verdade acerca desse assunto.
Colocando os fatos diante do público em geral, não preparado,
somente ridicularizamos aqueles que foram tão bondosos
conosco e que nos aceitaram como seus colaboradores para
fazer o bem à humanidade. Ao tocarmos demais sobre este
assunto, tornamo-nos, em certa medida, odiosos aos olhos do
público. Avançamos tanto que, inconscientemente para nós
mesmos, levamos o público a acreditar que a nossa Sociedade
está sob a direção única dos Adeptos, quando que toda a
direção está nas mãos dos Fundadores, e os nossos Instrutores
nos dão conselhos, somente em raros casos excepcionais, da
maior urgência. O público viu que os Fundadores - devem ter
compreendido mal os fatos, dado que erros na Administração
da Sociedade - muitos dos quais poderiam bem ter sido evitados
pelo exercício de um bom senso normal - se tornaram, às vezes,
conhecidos. Portanto, o público ou chegou à conclusão que

(1) Ou os Adeptos não existem de modo algum; ou

(2) Se existem, eles não têm conexão alguma com a nossa


Sociedade, e portanto, nós somos impostores desonestos; ou

(3) Se eles têm qualquer conexão com a Sociedade, deve ser


apenas com os de um grau muito inferior, pois, sob a sua
orientação, tais erros ocorreram.

Com as poucas e nobres exceções daqueles que têm inteira


confiança em nós, nossos Membros hindús chegaram a uma
dessas três conclusões. É, portanto, necessário na minha
opinião, que prontas medidas devam ser adotadas para
remover essas suspeitas. Para isso, eu vejo somente uma
alternativa: (1) ou a Sociedade toda deveria ser devotada ao
ocultismo, e nesse caso, seria completamente secreta, como
uma Loja Maçonica ou Rosacruciana ou, (2) Ninguém poderia
conhecer nada acerca do ocultismo, exceto aqueles muito
poucos que, pela sua conduta mostraram a sua determinação
de se devotar a esse estudo. Como a primeira alternativa foi
considerada não recomendável pelos nossos "Irmãos" e
positivamente proibida, resta a segunda.

Uma outra questão importante é da admissão de Membros. Até


agora, qualquer um que expressasse um desejo de se filiar e
pudesse conseguir dois patrocinadores, podia filiar-se à
Sociedade, sem que pesquisássemos mais profundamente
sobre os seus motivos. Isto levou a dois resultados maléficos.
As pessoas pensaram ou pretenderam pensar que nós
queremos Membross simplesmente para recebermos as suas
Taxas de Iniciações, das quais vivemos; e muitos se filiaram por
simples curiosidade, pois eles pensaram que, pagando uma
Taxa de Iniciação de Dez Rúpias, eles poderiam ver fenômenos.
E quando eles ficaram desapontados nisso, eles se voltaram
contra nós, e começaram a insultar a nossa CAUSA para a qual
nós temos trabalhado e compromissado as nossas vidas. A
melhor maneira para remediar este mal seria excluir essa classe
de pessoas. Surje, naturalmente, a questão de como isso pode
ser feito, desde que as nossas Regras são tão liberais a ponto
de se admitir qualquer um? Mas, ao mesmo tempo, nossas
Regras prescrevem uma Taza de Iniciação de Dez Rúpias. Isso
é muito pouco para impedir os buscadores curiosos, que, pela
chance de serem satisfeitos, sentem que podem muito bem
despender essa modesta soma. A taxa poderia, portanto, ser
muito aumentada a fim de que somente se filiassem os que
sejam realmente sinceros. Necessitamos homens de princípio e
de finalidade séria. Um desses homens pode fazer mais para
nós do que centenas de caçadores de fenômenos. A taxa
deveria, no meu julgamento, ser aumentada para 200 ou 300
rúpias. Poderia ser argumentado que assim podemos excluir na
verdade, pessoas muito boas, que sejam sinceras e ardorosas,
mas impossibilitadas de pagar essa taxa. Mas penso que é
preferível arriscar a possível perda de uma boa pessoa do que
ter uma multidão de inativos, sendo que um desses pode
arruinar o trabalho de todas as pessoas sinceras. E, no entanto,
mesmo esta situação pode ser evitada. Pois, como agora
admitimos alguém como membro, que parece merecê-lo
especialmente, sem ter que pagar os seus próprios
emolumentos, assim a mesma coisa poderá ser feita na
mudança proposta.

DAMODAR K. MAVALANKAR, M.S.T.

Respeitosamente submetida à consideração do Sr. Sinnett.


Carta Nº 142b

Respeitosamente submetida à consideração do Sr. Sinnett, sob


as ordens diretas do Irmão Koot Hoomi.

DAMODAR K. MAVALANKAR

Com a exceção da taxa - muito exagerada - os seus pontos de


vista são completamente corretos. Essa foi a impressão
causada na mente dos hindús. Eu espero, meu caro amigo, que
incluais um parágrafo mostrando a Sociedade no seu
verdadeiro aspecto. Escutai a vossa voz interna, e obrigado
uma vez mais.

Vosso muito fielmente,

K.H.
Carta Nº 143

Esta é uma carta muito curta e uma das poucas da coleção


onde ambos os lados do papel foram usados.

O Cel. Olcott e H.P.B. deixaram Simla em 21 de outubro, indo


para Amritsar e para um giro no noroeste da Índia. Os Sinnetts
retornaram a Allahabad, a sua residência permanente, em 24
de outubro.

O fenômeno probatório do episódio do travesseiro parecia tão


perfeito ao Sr. Sinnett que, antes que deixasse Simla, ele
escreveu uma nota pequena perguntando ao Mahatma se ele
desejava que a história fosse descrita no "Pioneer". A resposta
chegou depois que os Sinnetts atingiram Allahabad.

O Mahatma aprovou a publicação da história "em consideração


a nossa amiga muito maltratada" (H.P.B.) que ficara sujeita à
uma crítica contrária muito grande depois da publicação da
história do broche nº.1. E também como resultado de um outro
episódio envolvendo um zêlo excessivo por parte do Cel. Olcott,
que será examinado mais adiante.

Sinnett diz no "O Mundo Oculto" que as pessoas que


inundaram a imprensa com os seus comentários (ele os chama
"simples comentários"), querendo, obviamente, dizer
"comentários estúpidos" porque alguns deles eram
ridiculamente forçados; ele menciona alguns deles) nada
tinham a dizer a respeito do "episódio do Travesseiro".

Gostarieis que o fenômeno do travesseiro fosse descrito no


jornal? Com toda a satisfação eu seguirei a vossa sugestão.

Sempre vosso,

A.P. Sinnett

Certamente seria a melhor coisa a fazer, e eu pessoalmente


me sentiria sinceramente agradecido a vós em consideração ao
nosso amigo muito iludido. Tendes toda a liberdade para
mencionar meu primeiro nome se isso vos ajudar nalguma
coisa.

Koot Hoomi Lal Sing

Carta Nº 144
Veja Notas à Carta nº.50

Impossível: sem poder. Escreverei através de Bombaim.

K.H.
Carta Nº 145

Esta é a última carta a ser recebida diretamente do Mahatma.

Coragem, paciência, e esperança, meu irmão.

K.H.

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