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METODOLOGIA FILOSÓFICA
PAULO A. F. MOTTA
3 A CIÊNCIA NO SÉCULO XX
1 Ver nota 3.
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seus inimigos. . São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Os Pensadores), p. VI-VII.
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3 Extraído de ASSIS, J. P. Filósofo Popper morre de cancêr aos 92 anos. Folha de São
Paulo, São Paulo, 18 set. 1994. Mundo, p. (3)-8.
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No início de sua carreira, nos anos 1930, [Karl Popper] foi o mais rigoroso
crítico dos filósofos do chamado “Círculo de Viena”, cujo programa visava a encontrar
uma base sólida para fundar as ciências naturais. (...) Os filósofos do Círculo de Viena
tentavam encontrar uma base para as ciências naturais partindo da idéia de
corroboração. O plano consistia em tornar rigorosa uma suposição do senso comum: a
de que, quanto mais casos particulares confirmam uma teoria, mais chance ela tem de
ser verdadeira (por exemplo, quanto mais cisnes brancos encontramos, mais próxima
da verdade estaria a teoria que afirmasse que todos os cisnes são brancos).
Bom para o senso comum, mas mau para a filosofia, como Popper se
encarregou de mostrar. Uma vez que as teorias científicas lidam com conjuntos
infinitos de objetos (a teoria dos cisnes deve valer para todos os infinitos cisnes que
tenham existido, existam ou venham a existir sobre o planeta), por mais que achem
casos “bons”, a probabilidade de que a teoria seja verdadeira continua virtualmente
nula.
Dessa forma, Popper propôs um novo critério para demarcar afirmações
científicas. Embora seja impossível provar que uma teoria seja verdadeira, sempre é
possível provar que ela é falsa. No exemplo acima, bastaria encontrar um cisnezinho
que não fosse branco, para que a teoria afundasse. Assim, o projeto popperiano de
separar ciência de não-ciência funda-se na idéia de que asserções científicas não
podem ser jamais provadas.
Dessa reflexão resulta toda sua filosofia. As teorias científicas não são
sugeridas pelos fatos. São produtos da livre imaginação humana (grifo nosso).
Depois de formuladas, devem passar por testes que visem a refutá-las. O sucesso em
testes sucessivos marca a qualidade da teoria, o que não quer dizer que ela seja
verdadeira, mas apenas melhor que suas concorrentes. Enfim, [teorias científicas são
constituídas por] “conjecturas e refutações”, par de conceitos que deu nome a um de
seus livros, publicado em 1963, [e que se tornou uma das obras fundamentais da
epistemologia do século XX].
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1990, p. 103-127.
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3.5 INTERDISCIPLINARIDADE
3.5.1 O que a interdisciplinaridade não é7
Em primeiro lugar, a interdisciplinaridade não é uma moda, pois corresponde
a uma nova etapa do desenvolvimento do conhecimento e de sua repartição
epistemológica. Em segundo lugar, não pode ser considerada uma panacéia, porque a
ciência pode adotar outros caminhos, utilizar outros métodos e empregar outros
procedimentos. Não se trata também de uma simples questão de instaurar novos
programas educativos. Por outro lado, não se confunde com a pluridisciplinaridade.
Esta se apresenta como uma prática de ensino, ao passo que a interdisciplinaridade
reivindica as características de uma categoria científica, dizendo respeito à
pesquisa (grifo nosso). Nesse sentido, corresponde a um nível teórico de
assacar a um Ente Perfeito é imputar-lhe a criação do homem." (Camilo Castelo Branco, Perfil do
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“multi-especialista”, mas sim compreender que sua área de saber poderá ser
enriquecida ao se aproximar de outras disciplinas; e estar disponível para a troca de
experiências e vivências de seus colegas pesquisadores. Enfim, a interdisciplinaridade
não implica em um “vale-tudo” epistemológico, mas sim na percepção de que apenas
haverá um conhecimento científico verdadeiramente amplo e abrangente se houver a
aproximação das “especialidades científicas” próprias de cada área.
FEYERABEND8
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diferenças expressivas não podem ser arbitradas a partir de um background [de uma
“base comum”) evidencial compartilhado(a).
[Nas palavras de Feyerabend]:
Existindo a ciência, a razão não pode reinar universalmente, nem a desrazão pode ver-se
excluída. Esse traço da ciência pede uma epistemologia anárquica. A compreensão de que o
debate entre ciência e mito se encerrou sem vitória para qualquer dos lados empresta maior
força ao anarquismo.9 Sem freqüente renúncia à razão não há progresso (...) Temos,
portanto, de concluir que, mesmo no campo da ciência, não se deve e não se pode permitir
que a razão seja exclusiva, devendo ela, freqüentes vezes, ser posta de lado ou eliminada
em prol de outras entidades.10
“Contudo a ciência continua soberana. Reina soberana porque seus praticantes são
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incapazes de compreender e não se dispõem a tolerar ideologias diferentes, porque têm
força para impor seus desejos. 13 (...) Combinando essa informação com a percepção de que
a ciência não dispõe de método especial (grifo nosso), chegamos à conclusão de que a
separação entre ciência e não-ciência não é apenas artificial, mas perniciosa para o avanço
do saber. Se desejamos compreender a natureza, se desejamos dominar a circunstância
física, devemos recorrer a todas as idéias, todos os métodos e não apenas a reduzido
número deles.
13 Ibidem, p. 453.
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A diferença entre ciência e metodologia, que é fato óbvio da história, indica, portanto,
insuficiência da metodologia (grifos nossos) e, talvez, também das “leis da razão”. 14 A
idéia de conduzir os negócios da ciência com o auxílio de um método que encerre
princípios firmes, imutáveis e incondicionalmente obrigatórios vê-se diante de
considerável dificuldade quando posta em confronto com os resultados da pesquisa
histórica. Verificamos, fazendo um confronto, que não há uma só regra, embora plausível e
bem fundada na epistemologia, que deixe de ser violada em algum momento." 15
Ora, há, naturalmente, perceptível diferença entre as regras de teste, nos termos em que são
“reconstruídas” por filósofos da ciência, e os procedimentos de que se valem os cientistas
na pesquisa efetivamente realizada. 16 (...) A enorme distância que existe entre várias
imagens de ciência e a “coisa mesma” (...) - a tentativa de reformar as ciências fazendo
com que se aproximem da imagem - está fadada a prejudicá-las e poderá talvez destruí-
las.17
14 Ibidem, p. 278.
15 Ibidem, p. 29
16 Ibidem, p. 260.
17 Ibidem, p. 287.
18 Ibidem, p. 450
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...As diferenças entre Ciência, Arte e Filosofia são creditáveis aos seus
distintos projetos de interação interpretativa com a realidade, à obediência a propósitos
sócio-intelectuais distintos. Já não há lugar para a atribuição de superioridades
explicativas, fundamentadas num método especial, à ciência... No fundo, o ceticismo
metodológico não tem como ser dissociado do ceticismo substantivo: a descrença
quanto à possibilidade de fazermos nítidas diferenciações entre os conteúdos de
verdade e os de falsidade das teorias científicas se vincula à crença metacientífica na
impossibilidade de estabelecermos a separação entre regras profícuas e
regulamentações burocráticas cerceadoras da criatividade interpretativa.
19 Ibidem, p. 387.
20 Ibidem, p. 279.
21 Ibidem, p. 303.
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