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Ano I - N.° 2 - 22 Dez./20 Março 2002- 2.

50 E IVA incluído

O frio, o jardim e as aves


Bosques portugueses
Congressos: conservar e educar
Áreas naturais para o século XXI
6 Região Porto: Áreas Naturais Revista
“Parque biológico”
Director
Nuno Gomes Oliveira
Colóquio-exposição em Janeiro, os organizadores afirmam Editor
Jorge Gomes
que estamos ainda a tempo de proteger uma porção de
Fotografias
áreas naturais Arquivo Fotográfico do Parque Biológico
de Gaia, E. M.
Revisão
Fernando Pereira
8 Mais calorias Maquetagem
ORGALimpressores
Propriedade
Parque Biológico de Gaia, E. M.
O Inverno ataca, as aves ressentem-se! Há que apoiá-las Pessoa colectiva
com algum alimento... 504888773
Tiragem
3000 exemplares
ISSN
1645-2607
16 Bosques portugueses
N.º Registo no I.C.S.
123937
Dep. Legal
170787/01
Um património rico a proteger, mas pouco divulgado.
Execução Gráfica
Conheça-o para perceber por que é importante preservá-lo. ORGALimpressores
Rua do Godim, 272
4300-236 Porto
Administração e redacção
30 Tempo de congressos: Parque Biológico de Gaia, E. M.
Estrada Nacional 222
Educação Ambiental e 4430-757 AVINTES – Portugal
Conservação da Natureza Telefone: 22 7878120
E-mail: pbmgaia@mail.telepac.pt
Página na internet:
http://www.parquebiológico.pt
Fim do ano, tempo de balanço. Decorreu em Lisboa o
Conselho de Administração
Congresso Nacional de Educação Ambiental o do Instituto
Fernando de Sousa
de Conservação da Natureza e ainda houve uma oficina na César Oliveira
Aguda Nuno Gomes Oliveira

Secções
Geologia: Pedagogia da Terra 11
Colectivismo: Alberto Andrade – «Ver mais que o umbigo» 12
Histórias de liberdade 14
Habitat: Carvalhal 27
Flora: Azevinho 28
Fauna: Esquilo 29
Acontece no Parque 40
Infância: O coelho Nicolau 46
Foto da estação: Primeira cheia do rio Febros 48
FOTO DA CAPA
O esquilo-vermelho está a reaparecer em
Portugal. No Parque Biológico há algumas
dezenas em liberdade.
Visite o site da revista “Parque Biológico”: Foto cedida por Orion Press und Premium
(direitos reservados)
http://planeta,clix.pt/parquebiologico
E-mail: revistaparquebiologico@clix.pt
editorial

Cumpre-se neste final de ano 2001 o segundo número co e de manutenção de grande qualidade e dedicação.
da revista "Parque Biológico", com maior número de Ao nível das actividades para o público, esta revista
páginas, grafismo e conteúdo melhorados. anunciou já no primeiro número, e continua agora a
Este periódico publica-se num momento em que o divulgar, um amplo programa de actividades que se dese-
Parque Biológico acabou de atingir os 18 anos de vida ja potenciar e alargar e cuja concretização é possível gra-
e a Empresa Municipal do mesmo nome termina o seu ças à excelência da equipa de animação existente.
primeiro ano integral de actividade; é, pois, altura de No que diz respeito a grandes projectos, o Parque
balanço(s). desenvolveu durante 2001 os projectos de recuperação
O balanço que se pode fazer do Parque Biológico, e adaptação a "hotel rural" de uma casa agrícola em
enquanto projecto de "educação ambiental e conser- ruínas (a casa do Chasco), a recuperação do núcleo
vação da natureza em meio urbano" é, sem dúvida, rural da Quinta do Santo Tusso e sua adaptação a
altamente positivo, como facilmente verificará quem espaço museológico e procedeu à efectiva recuperação
acompanhou o seu desenvolvimento. de outra casa rural (a casa do Bogas), onde está em
Em 18 anos o Parque passou de 2 hectares, três cola- curso a instalação de mais uma exposição permanente.
boradores e ausência de instalações adequadas para Ao Programa Operacional de Economia (POE) o Parque
35 hectares, cerca de cem colaboradores e um centro candidatou o projecto de ampliação do actual Centro
de acolhimento de visitantes e outras instalações de de Acolhimento de Visitantes, no sentido de o dotar de
grande qualidade e funcionalidade. novas áreas administrativas, de reuniões e exposições
Mas, o mais importante é que, ao contrário do que fre- e de construir uma sala de refeições ainda mais capaz
quentemente acontece em equipamentos similares, as que a existente. Entregue em 31 de Janeiro de 2001,
prioridades foram sempre a gestão do habitat "Parque" esta candidatura aguarda há quase um ano a delibera-
e a Educação Ambiental, e não as instalações ou os ção da Unidade de Gestão do POE!
equipamentos, que apenas foram surgindo como coro- O Parque Biológico continuou a… cuidar do habitat
lário da obra que se ia fazendo. Parque: toda a área florestal foi preparada para
O número crescente de visitantes e de actividades, o replantação e mais de 750 árvores (carvalhos, sobrei-
aumento da biodiversidade do Parque e a sua requali- ros, oliveiras, etc.) e arbustos (medronheiros, azevi-
ficação constante são os melhores indicadores da vita- nhos, loureiros, etc.) foram plantados em 2001.
lidade deste projecto. O percurso de visita foi alargado e repavimentado, ins-
Contributo importantíssimo para o desenvolvimento do talados novos cercados para animais, novos observató-
Parque Biológico foi a decisão do Presidente da Câmara rios e totalmente remodelado o sistema de informação.
Municipal de Vila Nova de Gaia, Dr. Luís Filipe Menezes, Não se fechando em si próprio, o Parque Biológico
de dotar o Parque de autonomia administrativa e apoiou e está a apoiar outros projectos-irmãos como a
financeira, transformando-o numa Empresa Municipal. Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S.
Este passo, aparentemente simples, mas que outras Pedro de Arcos (ver n.º 1 da revista "Parque Biológico")
lideranças autárquicas recusaram, permitiu introduzir e o Parque Ambiental de S. Pedro de Rates (Póvoa de
profundas modificações e melhoramentos no Parque e, Varzim).
simultaneamente, reduzir os custos que o Município Continuaram diversas formas de colaboração com o
tem de suportar para o seu funcionamento. A Empresa Jardim Botânico da Universidade do Porto, entre elas a
Municipal permitiu uma gestão mais racional, encur- apresentação de uma candidatura ao Programa de
tando e fluidificando os processos de decisão. Iniciativa Comunitária LIFE, para estudo e protecção
Apesar da legislação rigorosa que rege os procedimen- do Narciso endémico do Norte de Portugal.
tos de, por exemplo, contratação de pessoal e aquisi- Balanço muito incompleto aqui feito, continua esta
ção de bens e serviços na Administração Pública, com revista comprometida com a defesa do meio ambiente
a transformação do Parque em Empresa Municipal e conservação da natureza. Algumas das cartas envia-
esses procedimentos passaram a ser ainda mais rigo- das pelos Leitores serão publicadas em breve.
rosos e, essencialmente, mais rápidos. Reiteramos ainda a participação dos amigos do Parque
Graças a isso, durante 2001 o Parque Biológico conse- com fotografias, artigos, opiniões abertas, para que
guiu realizar uma série de trabalhos e obras que o este órgão de informação se veja cada vez mais dinâ-
melhoraram significativamente e reunir um staff técni- mico e participado.

Inverno 2001 Parque Biológico 3


notícias

OBSERVAÇÃO DE AVES
NO ESTUÁRIO DO RIO DOURO
NOTÍCIAS PBG
A 2 de Fevereiro, sábado, comemora-se o Dia Mundial das
Zonas Húmidas. Por isso, o Parque Biológico de Gaia orga- Clínica Veterinária e Zootécnica
niza, de manhazinha, uma actividade de observação de
A partir de Janeiro, a Clínica Veterinária e Zootécnica do
aves no Cabedelo do rio Douro, do lado de Vila Nova de
Parque Biológico de Gaia estará aberta ao público no
Gaia. Ao longo do dia serão montados vários telescópios.
seguinte horário: terças e quintas-feiras, das 17h00 às
Com esses olhares, será fácil avaliar quão importante é
20h00. Este horário justifica-se para que essa disponibili-
proteger essa área para que os empurrões tendentes ao
dade não entre «em conflito com o serviço normal do
desaparecimento desse património faunístico cada vez
Parque Biológico». Note-se que esta clínica já existe há
mais sejam sustidos.
muito para cuidar da recuperação de animais e dos irre-
DAR ASAS ÀS RAPINAS cuperáveis que ficam no Parque para fins de educação
ambiental.
O Parque Biológico de Gaia vai libertar águias e mochos
entretanto recuperados na sua enfermaria no próximo dia Certificação de Qualidade
21 de Março, quinta-feira, Dia Mundial da Floresta. As
O Parque Biológico de Gaia está a trabalhar também para,
primeiras serão lançadas no Parque às 10h00. As noctur-
em 2002, obter a certificação de qualidade. «Com vista à
nas seguirão o mesmo caminho às 17h30. Mais informa-
racionalização e uniformização dos procedimentos inter-
ções através do telefone: 227878120.
nos da Empresa Municipal, temos vindo a desenvolver um
MÁSCARAS DA NATUREZA trabalho de compilação de todos os procedimentos e
aspectos de funcionamento do Parque num volume a que
Não existe Carnaval sem máscaras. O ser humano usa-as
se chamou Manual Interno do Parque Biológico». Este
e copia o mundo ao sabor da sua imaginação. A Natureza,
dossier, além de outras vantagens, será simultaneamente
por sua vez, constrói-as no fluxo da evolução, e sur-
mais uma memória do Parque.
preende!
Há cactos que se protegem imitando a textura das rochas Sócios da Associação dos Amigos do Parque Biológico
do seu habitat. Um insecto imita um pauzito. Um peixe Todos os produtos e serviços vendidos pelo Parque
parece mais uma pedra do fundo do mar coberta de algas Biológico de Gaia, E. M., excepção feita ao bar/self-servi-
e outros organismos. Uma coruja não se mexe e parece ce, sofrerão um desconto de 10%, caso venham a ser
pertencer à textura de um tronco. E por aí fora! adquiridos por sócios da Associação dos Amigos do Parque
No Parque Biológico, de 5 a 9 de Fevereiro, as crianças Biológico com as quotas em dia, funcionários e colabora-
vão saber isto e muito mais, a ponto de, em atelier, faze- dores do Parque Biológico, membros dos órgãos sociais
rem as Máscaras da Natureza. Caso o tempo permita, desta empresa municipal, bem como por funcionários da
prevê-se a realização de um desfile de máscaras. Só para Câmara Municipal de Gaia e de todas as empresas muni-
turmas escolares, inscrição obrigatória. Mais informa- cipais e fundações do município gaiense.
ções: 227878120.

Mamíferos voadores elogiados


Através do PNVA (Programa das Nações Unidas para o ginação teceu sobre eles, os morcegos são animais
Ambiente), as Nações Unidas classificaram o ano 2001 geralmente minúsculos, hoje em perigo pela destrui-
como Ano Internacional dos Morcegos. Ter-se-á aler- ção de habitat e pelo uso abusivo de pesticidas.
tado a população, mas são necessários reforços suces- Medidas que ajudam a proteger os morcegos passam,
sivos para que se desmistifiquem por exemplo, por fazer com que os exploradores
ideias erradas sobre este extraordiná- de grutas se instruam a ponto de saberem
rio animal alado. como respeitar essas colónias e inclusive
Portugal conta ainda cerca do dobro das reduzir ao máximo incursões meramente
espécies de morcego inventariadas em facultativas. Quanto ao cidadão comum, na
Inglaterra. Cá, são 26 espécies de morce- sua moradia pode instalar as chamadas cai-
gos. Mais ameaçadas, registam-se nove, xas-abrigo(1) que, além de proporcionarem
curiosamente as que tendem a abrigar-se em aos morcegos um descanso diurno, são boas
grutas. «camas» de hibernação, agora que o Inverno, severo,
Estes bichos alimentam-se de insectos que captu- domina.
ram durante o voo, sendo, assim, muito úteis ao ser (1) – O FAPAS – Fundo para a Protecção dos Animais
humano, uma vez que ajudam a controlar as suas Selvagens editou o livro «A casa-ninho» que ensina a cons-
populações. Apesar das lendas fantásticas que a ima- truir abrigos para a fauna selvagem em nossa própria casa.

4 Parque Biológico Inverno 2001


caderno de bolso

Ameaçadas
Serras de Valongo
"Todos os anos o planeta Terra perde alguns dos seus mais belos ornamentos...
modelados sabiamente no decurso de milhares de anos, através da evolução"
A pouco mais de 5 Km da cidade do Porto, há um patri- Ministério do Planeamento e Administração do
mónio natural que urge preservar. Não foge à regra: Território (1984), e mais recentemente a proposta de
encontra-se seriamente ameaçado! Abrangendo os Projecto-lei para a Criação da Área Protegida das Serras
concelhos de Valongo, Gondomar, Paredes e Penafiel, o de Santa Justa, Pias, Castiçal, Flores e Banjas (2000).
conjunto montanhoso formado pelas serras de Santa A importância do património geológico e paleontoló-
Justa, Pias, Castiçal, Flores e Banjas, juntamente com gico das serras de Pias e Santa Justa, e a necessidade
os vales dos rios Ferreira e Sousa, enfrenta um de preservar o que ainda resta, levou à criação do
momento decisivo. Parque Paleozóico de Valongo.
A importância desta área é um dado adquirido. Não só ...
pelo seu valor científico, didáctico e educativo mas
Não será de todo descabido recuar até ao mês de Abril
também pela importância que lhe é atribuída como
de 1990, em que José Sócrates, então porta-voz do
zona dedicada ao lazer.
Partido Socialista para as questões ambientais no
Sítio emblemático no que toca à relação entre o Parlamento, reclamava em conferência de imprensa a
Homem e a Natureza, ao longo de gerações estas ser- criação de um Parque Natural para as "Serras de
ras foram refúgio para as primeiras noites de campo de Valongo".W
muitos jovens que assim tiveram os primeiros contac-
tos com a natureza, aprendendo a respeitá-la e a pro- Texto: Joaquim Peixoto
tegê-la.
Apesar de todo o tipo de atentados a que tem estado
sujeita — desde incêndios naturais ou criminosos,
desde o desbaste indiscriminado da vegetação natural
para eucaliptizar até à destruição de linhas de água e
consequente redução de habitat e de biodiversidade —
não lhe é retirada importância à riqueza da paisagem,
da flora, da fauna, da arqueologia, da etnografia, da
geologia ou da paleontologia que aquelas serranias, ao
longo de milhares e milhares de anos, guardaram para
que fôssemos fiéis depositários de tanta riqueza para
as gerações vindouras. Por isso a convicção de que
ainda é possível, com o empenho de todos, assistir a
uma reflorestação adequada e ao regresso de algumas
espécies outrora abundantes.
Inúmeras foram as tentativas com vista à criação de
uma área protegida para as serras de Santa Justa Pias
e Castiçal que, apesar de todas terem fracassado os
seus objectivos, não nos inibe de, uma vez mais, lutar
pela defesa desta região.
Recordemos alguns passos importantes: em 1975, o
Plano da Região do Porto previa ali a criação de um
Parque Natural, proposta da criação do Parque Natural
do Baixo Sousa (1978); projecto para a criação de uma
Reserva Natural que englobava as Serras de Santa
Justa, Pias e Castiçal (1981); estudo realizado pelo

Inverno 2001 Parque Biológico 5


entrevista

Região do Porto: Áreas naturais


Enviado o convite ao ministro do Ambiente, o colóquio-exposição «Região do Porto:
Áreas Naturais para o Século XXI» decorre em 2 e 3 de Fevereiro no auditório do
Parque Biológico de Gaia
No dealbar do novo século, um viragem de milénio, importa salva-
grupo de 2001 cidadãos subscreve guardar para que as gerações do
um documento* em defesa de várias século XX não sejam acusadas de
áreas naturais da região do Grande não terem compreendido a moder-
Levar os Porto. À frente, nomes conhecidos
na defesa do ambiente: Nuno
nidade e de terem hipotecado o
século XXI. Muitos desses espaços
poderes Gomes Oliveira, mestre de Ecologia
Social, Serafim Riem, economista,
naturais pertencem à memória
colectiva da cidade e concelhos
públicos a Joaquim Peixoto, técnico de contas, limítrofes: serras de Santa Justa,
e João Loureiro, biólogo. Face a esta Pias e Castiçal, Reserva Ornitológica
preservar os iniciativa, eis as perguntas-chave. de Mindelo, Barrinha de Esmoriz,
— Ainda se vai a tempo de salvar Estuário do Rio Douro, Vale do Rio
espaços e a algumas áreas naturais da região Paiva, Serra da Freita e Serra da
com interesse ecológico? Aboboreira ou até áreas mais
instituir uma Nuno Gomes Oliveira — Sim, na
pequenas como os parques urbanos.
Sobre muitos destes espaços, por
rede regional de região do Porto sobrevivem ainda
indefinição e abandono, pende o
alguns espaços de grande valor
áreas naturais natural e patrimonial que, nesta
perigo de degradação e destruição,

O Cabedelo do rio Douro, visto do lado de Vila Nova de Gaia, em Setembro passado. Área que, a ser
protegida quanto antes, sem perturbação, será um apoio importantíssimo para a avifauna em migração

6 Parque Biológico Inverno 2001


roubando aos vindouros as zonas verdes de lazer, texto final e uma proposta de intervenção, a incluir
recreio, desporto e conservação da natureza de que, nas actas.
cada vez mais, esta região necessita. Após o colóquio será impresso um volume de actas que
— Mas isso é o que tem acontecido ao longo de incluirá todos os textos sobre as áreas naturais em
todo o país? debate, actuais e antigos, que nos queiram enviar para
João Loureiro — Repare: ao contrário do que acontece publicação, fotografias antigas e actuais das áreas
na região de Lisboa, onde foram já tomadas medidas naturais em debate, as conclusões do colóquio e uma
de protecção das principais áreas naturais (reservas proposta de intervenção. Este volume de actas será
naturais dos estuários do Tejo e do Sado, Paisagem distribuído aos participantes no colóquio-exposição e
Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, par- entregue, em audiências a pedir para o efeito, às enti-
ques naturais de Sintra-Cascais e da Serra da Arrábida, dades com responsabilidade na gestão dos espaços
etc.), no Porto, nada disso foi feito. naturais em questão.
Foi por isso que, com o objectivo de levar os poderes — Além do colóquio há também uma exposição,
públicos a preservarem esses espaços e a instituírem correcto?
uma rede regional de áreas naturais, 2001 cidadãos Joaquim Peixoto — O que se quer é reunir, numa expo-
convocam um grande debate sobre o tema Região do sição, material informativo sobre as várias áreas natu-
Porto: Áreas Naturais para o Século XXI. rais. A exposição será livre, isto é, cada participante
— Ou seja, o evento que se prepara tem o formato poderá expor o que quiser e como quiser, devendo
de colóquio, não é? combinar com a Comissão Promotora as característi-
cas do seu espaço. Aqui, serão privilegiados pequenos
Serafim Riem — Exacto. Nesse colóquio vamos reunir
stands montados por associações locais de defesa do
painéis temáticos sobre os vários espaços naturais. A
ambiente e do património. Quanto ao resto, em função
Comissão Promotora está, naturalmente, aberta à
do material reunido, a exposição será montada no
inclusão no programa de painéis sobre outros espaços
Parque Biológico ou noutro local mais amplo. A expo-
naturais além dos referidos. Pretende-se que partici-
sição estará patente ao público pelo menos um mês,
pem na mesa dos painéis pessoas com bom conheci-
prevendo-se a possibilidade de a fazer circular por
mento actual dos espaços naturais em discussão, de
outros locais. No que toca aos expositores, devem
modo a poder ser feito um ponto da situação de cada
assegurar a montagem dos seus materiais na semana
um deles. As conclusões dos painéis serão recolhidas
de 14 a 18 de Janeiro de 2002. W
por uma comissão de conclusões, que elaborará um
* Publicado no «Jornal de Notícias» em 28 de Julho de 2001

Programa do colóquio
2 de Fevereiro - sábado 3 de Fevereiro – domingo
Início às 10h00 – recepção 10h00 PAINEL 5 – Vale do Rio Paiva
10h15 – abertura e exposição de motivos 11h00 PAINEL 6 – Estuário do Rio Douro
10h30 – abertura da exposição 12h00 almoço no Parque Biológico
13h00 almoço no Parque Biológico 14h00 PAINEL 7 – Serra da Freita
14h00 PAINEL 1 – Serras de Santa Justa, Pias e 15h00 PAINEL 8 – Quintas e parques urbanos
Castiçal 16h00 PAINEL 9 – Outros espaços naturais
16h00 PAINEL 2 – Barrinha de Esmoriz 17h00 – elaboração de conclusões
17h00 PAINEL 3 – Reserva Ornitológica do Mindelo
18h00 PAINEL 4 – Serra da Aboboreira Mais informações: Apartado 3070 — 4431-801 AVINTES
21h30 Convívio Telef.: 227878120

Inverno 2001 Parque Biológico 7


quinteiro

Mais calorias
O Sol está fraco. O dia encurtou. O frio aperta, os bém ali passam. Até aí, para a maioria, nada demais, já
pássaros pedem mais alimento. Mas, afinal, quem que julgam estar fartas de ver essas espécies e nada
come o quê? nelas as surpreenderá, o que não é verdade.
Identificar logo de início as aves que costumam pou- A partir daqui — isto é pacífico — tudo começa a ficar
sar no seu jardim pode ser complicado, isto se não tem mais interessante. Isso porque chegou o momento dos
aquele olho clínico típico dos observadores da passa- vários chapins aparecerem, sobretudo o de poupa, o
rada. Mesmo assim, não erraremos se apontarmos para carvoeiro, ou o azul e até o real. Estas aves são um
a maioria das espécies que, com certeza, o visitam à espectáculo quando vistas a saltitar nos ramos, em
espreita de alguma oportunidade. busca de petiscos. Mas também o tentilhão acabará
Vamos olhar para o jardim de uma casa no subúrbio de por visitá-lo, sem esquecer os gulosos verdilhões.
Gaia e apontar os amigos de bico que ali surgem. À Posto isto, nos seus tempos livres resta apenas ficar
partida, os pardais pululam. Nos fios que unem poste a atento algumas vezes, de forma discreta, para verificar,
poste, ali estão eles pousados, como notas de música com a ajuda de um guia de campo e de uns binóculos,
irrequietas numa pauta. cada uma das aves que estão a brindá-lo com essa
Afinal, bem mais difícil seria saber onde é que esta visita.
espécie deixa de aparecer! Os pombos e as rolas tam-
Recantos
Para atrair mais aves, há que ficar atento
aos espaços de que dispõe no jardim para,
de forma estética e segura, instalar os
comedouros. Cuidado com os felinos! Os
alimentadores devem ser colocados de
modo que os gatos não os transformem
em isco para matar aves. Isso passa pela
colocação dos alimentadores fora do
alcance de plataformas de salto e escon-
derijos. Aplicar uma coleira de guizos nos
gatos também facilita a detecção dos
movimentos furtivos pelo ouvido. Para que
os ratos, por sua vez, não subam aos
comedouros, se estes são de poste, con-
vém aplicar uma gola descendente a 2/3
de altura, para que não trepem a partir
desse limite e não o possam usar como
degrau, caso contrário virava-se o feitiço
contra o feiticeiro.
É preferível que as aves disponham de
vários comedouros, ao invés de apenas
um. Isso porque a concorrência entre a
passarada pode pontualmente criar a
monotonia de ver muitas vezes as domi-

«Também quero!...», dirá o


chapim-carvoeiro que espreita o
pintassilgo-verde

8 Parque Biológico Inverno 2001


nantes em desfavor de outras, perdendo o espectáculo agrada aos tentilhões.
de presenciar o petiscar de uma maior diversidade de Outros alimentadores mais elaborados podem ser
espécies. construídos ou comprados. Existem também as cha-
madas mesas de madeira para aves que consistem
Comedouros
numa plataforma aberta pelos lados com rebordo
Os alimentadores de aves silvestres, regra geral, obe- alteado e tecto. Podem ser suspensas ou coroar um
decem a preocupações estéticas, para que os jardins poste. Para além do design atractivo, estes comedou-
mantenham um aspecto agradável segundo os gostos. ros servem uma variedade grande de espécies, inclusi-
Contudo, em termos práticos para a passarada isso não ve os pombos, que são grandes comensais assim que os
é relevante. Há alturas em que até um copo de iogur- descobrem.
te de pernas para o ar atravessado por um fio e sus-
Há ainda os alimentadores que podem ser aplicados ao
penso numa árvore, cheio de bolo-de-sementes — leia-
beiral de uma janela virada para o jardim. Os mais ela-
se bola de banha incorporada de sementes diversas —
borados incluem aplicações de vidro de visualização
é um êxito junto dos vários chapins. Isso para não falar
unidireccional que permite olhar as aves a poucos
de uma garrafa de plástico, com uma janela rasgada
decímetros de distância sem que elas nos vejam.
lateralmente para os pássaros, com algumas sementes.
Outra: um frasco de vidro sem tampa e boca larga sus- Mas atenção: assim que criar o hábito de oferecer
penso ou atracado na horizontal numa árvore com comida às aves, elas passarão a contar consigo. São
sementes. Um simples cepo com uma covinha no meio animais de hábitos. Não as decepcione, sobretudo no
cheia de grão também vem a calhar para a maior Inverno, a época mais dura, quando o frio cria maior
parte. Ou então pendurar um coco cortado ao meio dificuldade e a escassez de comida abunda.
com o seu maior diâmetro para o solo: os chapins, Na edição de Primavera, época de reprodução, vamos
bicada a bicada, acrobacia atrás de acrobacia vão abordar os ninhos artificiais e saber, entre outros por-
esvaziá-lo. Depois, é enchê-lo de bolo-de-sementes. menores, que tipos de ninho existem, bem como as
Até o simples saco de avelãs pendurado numa árvore espécies que os costumam ocupar. W

Quem come o quê?


Quadro das espécies residentes mais habituais no seu jardim
Espécie Alimento Comedouro mais aconselhado Escala de frequência
provável nos comedouros
De 1 a 5

Pardal-comum Sementes e outros alimentos Mesa, rede, bolo-de-sementes 5

Pombo Sementes Mesa 4

Verdilhão Sementes, bagas e insectos Mesa, rede, bolo-de-sementes 4

Tentilhão Sementes, insectos e fruta Mesa, rede, bolo-de-sementes 4

Chapim-azul Insectos, fruta, sementes Mesa, rede, bolo-de-sementes 4

Chapim-real Insectos, sementes, fruta Mesa, rede, bolo-de-sementes 4

Chapim-carvoeiro Sementes, insectos, nozes Mesa, rede, bolo-de-sementes 4

Chapim-de-poupa Insectos, larvas, sementes Mesa, rede, bolo-de-sementes 4

Pardal-montês Sementes e insectos Mesa, rede, bolo-de-sementes 3

Tordos * Fruta, larvas, restos de cozinha, Mesa 3

Rola-turca Sementes e fruta Mesa 2

Estorninhos Sementes, fruta, insectos Mesa 2

Gaio Sementes, insectos, fruta Mesa 2

Pega-rabuda Sementes, fruta, vísceras, insectos Mesa 1

* Há espécies residentes (presentes no território o ano inteiro) e invernantes.

Inverno 2001 Parque Biológico 9


quinteiro

Migalhas e alimentadores
Poucos resistem à tentação de alimentar a passara- douros de jardim. Chegado a casa, com a autoridade
da. Saltitando entre muros e telhados, sebes e dos seus 9 anos, pediu ao pai um pedaço de tronco.
pátios, num golpe de asa, as aves cativam corações Feitos furos em vários sítios, «enchemos os buracos
com banha e grão (bolo-de-sementes) e pendurámo-lo
no tal poste de iluminação pública. Chegámos a ver
Alexandre é professor e tem dois filhos, Francisco e
pássaros empoleirados no tronco a debicar».
Clara. Vivem numa casa com um terraço que dá para o
jardim. Já é rotina atirar para ali as migalhas das refei- Na mesma onda dos comedouros, outra experiência.
Esta mal sucedida: «Usando uma garrafa cheia de
ções. «Em minutos desaparece tudo. É vê-los chegar e
sementes, num suporte virámo-la para baixo.
fazer a limpeza», diz.
Comprámos um saco de sementes, mas acho que era
Saber quem é quem, isso nem sempre é fácil: «Os par- de uma só espécie. Aquilo foi caindo e a garrafa esva-
dais e os melros são os mais fáceis de identificar». Mas ziou-se, acredito que com o vento, que foi atirando as
há outros pássaros que debicam as migalhas. O nome sementes».
destes passa ainda ao lado. Remete: «O meu filho
As experiências têm sido estas, mas vão continuar.
Francisco tem um livro sobre pássaros e a tarefa de os
Porque «uma coisa que encanta é, naqueles primeiros
nomear está com ele».
momentos da manhã, ouvir aquela chilreada do des-
«Outro bicharoco que aparece lá é o mocho. Naquelas pertar. Penso que são os estorninhos, que aparecem em
noites mais agradáveis, a rapina costuma até aproxi- bandos enormes, para dormir, e de manhã, ao partirem,
mar-se e fica ali, num poste de iluminação pública» ao fazem aquela sinfonia».
alcance da vista. «Fica lá muito pousadinho, olha para O filho, Francisco, esteve no campo de férias de Verão do
nós, vai e vem. Verificamos que, nos voos, ele apanha Parque Biológico e trouxe para casa um ninho de madei-
insectos». ra. «Esse já lá está pousado no terraço para ser pendura-
Voltando às aves que se alimentam de grão, «fizemos do numa árvore do jardim. Tenho esperança de ver uma
há um tempo a tentativa de instalar no jardim uns ave a ocupar o ninho. Isso seria uma vitória!». Depois,
comedouros». Isso porque, na escola do Francisco, como as janelas de casa dão para o jardim, é ir olhando.
houve uma aula, no 4.º ano, em que se falou dos come- Trata-se de um ponto de observação excelente.

CLUBE DOS AMIGOS DAS AVES

Os bons projectos estão no meio: antes e depois


ficam as boas ideias. Uma delas consiste em criar o
Clube dos Amigos das Aves de jardim. O que é isso?
É simples: quem tem — ou pretende vir a ter — este
passatempo (apoiar as aves no seu próprio jardim)
contacta a revista Parque Biológico, secção
Quinteiro, que passa a unir os Amigos das Aves. E
isso ao ponto de fornecer dados a respeito deste
saudável passatempo e, até, de atribuir um diploma
que certifica o registo do sócio no Clube.
É facultativo, para cada membro inscrito, associar-se
à Associação dos Amigos do Parque Biológico.
Que tal? Gostou? Ficamos à espera das suas novida-
des, venham elas por carta (Parque Biológico de Gaia
- Revista "Parque Biológico" - 4430-757 AVINTES) ou
por correio electrónico revistaparquebiologico@clix.pt

10 Parque Biológico Inverno 2001


geologia

Pedagogia da Terra
Visto de forma crítica, o segredo do "desenvolvimento sustentável" assenta numa
componente educativa de grande intensidade.
Trata-se de um conceito prospectivo que permite às parceria com o Departamento de Minas da Faculdade
gerações presentes sentir que devem satisfazer as suas de Engenharia da Universidade do Porto, tentou conse-
necessidades sem pôr em risco a possibilidade das guir ao montar a exposição "À Mão de Semear?".
gerações futuras virem também a satisfazer as suas. Os grandes processos geológicos (medidos em escalas
A preservação do ambiente da Terra depende de uma de espaço e de tempo longe do senso comum) que
consciência ecológica, e a formação da consciência interagem como característica do Globo e aqueles
depende da educação. mais conhecidos por processos de Geologia Ambiental
Assim, há que lançar mão de uma Pedagogia da Terra (que ocorrem em espaços e tempo compatíveis com o
que promova a aprendizagem do sentido e significado período de vida humana) terão de começar a ser con-
do planeta a partir da vida quotidiana. tados aos cidadãos do mundo com vista à adopção de
princípios, valores, atitudes e comportamentos que
Mais do que nunca, é a altura de promover uma ree-
demonstrem uma nova percepção da Terra.
ducação do Homem, que o leve a sentir a Terra como
um "lar", como uma toca, não somente para seu sus- Tarefa árdua, principalmente pela dose de imaginação
tento mas como espaço a contemplar, a descobrir. que acarreta. Mas não é impossível.
A Pedagogia da Terra não pode ser mais uma pedago- Vamos dar uma ajuda!
gia, mas sim um projecto utópico que permita mudar
as relações humanas, sociais e ambientais que hoje Texto: Aurora Futuro*, Alexandre Leite*, Telma Cruz**.
imperam na nossa sociedade, dominada pela globali- * Faculdade de Engenharia da Univ. do Porto – Dep. Minas
** Parque Biológico de Gaia
zação, pelo consumismo e uma pressa cega.
Por isso ela terá de partir do real, do quotidiano, da Bibliografia: "Pedagogia da terra e cultura da sustentabilida-
Terra. de" de Moacir Gadotti, Instituto Paulo Freire – S. Paulo –
Brasil
Aprende-se a amar a Terra, olhando-a, tocando-a,
interpretando-a e vendo nela o que está mal.
Nesta intenção, talvez tenha signi-
ficado adoptar como ponto de par-
tida a possibilidade de uma forma
nova de contacto com o conheci-
mento — mesmo que efémero —
das características e história deste
planeta. Olhando-o, tocando-o e
interpretando-o.
E por que não começar pelos recur-
sos naturais, todos os dias subtraí-
dos à frágil crusta terrestre e que
estão na base da nossa civilização?
Foi o que o Parque Biológico, em

José Carlos Silva, mestre em Geologia


no Ensino, conduz uma visita guiada à
Foz do Douro, na Semana da Ciência e
Tecno-logia. Eis uma actividade que
promove a aprendizagem do sentido e
significado do planeta a partir da vida
quotidiana
Foto: Henrique N. Alves/Arquivo PBG

Inverno 2001 Parque Biológico 11


colectivismo

Ver mais que o umbigo


Alberto Andrade foi e é um dos mais antigos Amigos do Parque. Sem a sua acção,
talvez a área ocupada hoje pelo Parque Biológico de Gaia estivesse pejada de pré-
dios há anos. Para satisfação de uns poucos, a área do Grande Porto perderia um
singular equipamento ambiental
Há mais de 20 anos, quando os temas de carolas que se batiam. Hoje é fácil. Meia
ambiente eram algo incompreensível dúzia de amigos juntam-se, vão ao notá-
para quase todos, já Alberto Andrade e rio e fazem uma associação… mas não
alguns outros abriam caminhos. Desse há aquele empenhamento! Era uma das
pioneirismo, que se estendeu aos Amigos formas das pessoas combaterem o
do Parque, o resultado mais nítido é o Salazarismo. E, então, criavam-se grupos
Parque Biológico de Gaia. de interesse cívico e cultural. O entusias-
Como encara hoje a Associação dos mo geral que tomou conta do país no 25
Amigos do Parque Biológico de Gaia de Abril, com algum exagero nalguns
(AAPBG)? pontos, deixa-me saudade. Hoje pouca
gente vê mais do que o próprio umbigo.
Alberto Andrade — Ao nível da AAPBG,
penso que na altura — na década de 80 — Desde há pouco mais de um ano, o
teve um papel interessante. Acho que, ao Parque Biológico transformou-se em
longo do tempo, tem tido uma actuação empresa municipal. Até há quem defen-
com altos e baixos. da que a AAPBG já não é necessária...
Há umas décadas a vida associativa era A. A. — A AAPBG continua a ter interesse
diferente? enquanto associação autónoma, como
qualquer associação comprometida com
A. A. — Sou do tempo em que era um pro-
temas do ambiente. Agir como apoio ao
blema criar uma associação. E a vida
Parque Biológico não será necessário.
quotidiana associativa também era com-
Agora, ajudar colateralmente o Parque,
plicada. Fui sócio do Cineclube do Porto.
sobretudo ao
Havia muita dificuldade — a Censura, era
nível da
preciso ir ao beija-mão ao Governo Civil
educa-
—, mas na verdade apareciam sempre os

Em Portugal estas coisas


do ambiente ainda são
uma espécie de peninha
para pôr no chapéu

Alberto Andrade:
«Pensei que a
experiência acu-
mulada no Parque
se fosse multipli-
cando em n muni-
cípios por todo o
país»
ção ambiental, penso que a Associação pode ter inicia- arranjar uma quinta? Resolvemos contactar um inter-
tivas. Depende um bocado da criatividade, não é? Mas, mediário de uma empresa imobiliária. Algo na proxi-
tem de se dizer, durante a vida da AAPBG, a determi- midade da cidade. Surge a hipótese de aquisição da
nada altura chegava-se à conclusão de que as iniciati- Quinta da Cunha de Baixo, onde está instalado o
vas eram do Nuno Oliveira. Depois a Direcção ia a rebo- Parque Biológico. Na altura custou cerca de 3000 con-
que. Era uma associação de 30 ou 50 amigos. Tenho tos. Eu, particularmente, e o eng.º Cid Doroteia, ofi-
recordações óptimas de vivências aqui no Parque! cialmente, encaminhámos o processo. Aí, acho que se
Havia muita dedicação. Umas vezes eram os pirilam- comete uma injustiça: não lembrar que a proposta de
pos, outras vezes — conforme as épocas do ano — eram estudo para aquisição da Quinta da Cunha de Baixo foi
as enchentes do rio Febros. As pessoas juntavam-se. feita por ele. Pronto, a Câmara aprovou, comprou-se a
Limpávamos o mato. Éramos entre uma e duas deze- quinta.
nas, entusiasmados pelo Nuno. Ele arrastava muita É uma coisa curiosa: a quinta quando foi adquirida
gente! As pessoas vinham por curiosidade e as coisas lá estava semiabandonada. Na altura achou-se o espaço
se iam fazendo. Há um animal no Parque, depois era grande só para o horto, o Nuno veio ver a quinta.
pôr o moinho a moer, e a confecção da broa de Avintes: Pensou-se. Chamar-se-ia qualquer coisa como Centro
chegou a vir uma padeira explicar como se fazia. No de Educação Ambiental. Era já isso que nos preocupa-
princípio a eira era o cerne do Parque. Era o magusto, va de facto. Lidar com as escolas...
as petiscadas... Houve encontros de educação ambien-
Depois fez-se um protocolo com o Núcleo no sentido
tal, ainda sem que o Parque tivesse as instalações que
de ele utilizar uma parcela do terreno, com o aprovei-
tem hoje, de centenas de pessoas, de todo o país.
tamento das instalações existentes. Havia aqui a casa
Nesse aspecto, o Parque tem tido uma actividade dos caseiros, a recuperação do moinho... Cid Doroteia
notável. Estas características, até pensei que a expe- terminou o mandato e foi trabalhar para o Alentejo, e
riência aqui acumulada se fosse multiplicando em n o Nuno de facto é que deitou mãos a isto e, de etapa
municípios por todo o país. em etapa, chegou-se ao que é hoje.
Como ocorre o seu contacto com a temática da O que é que ficou para o Núcleo? Ficou sobretudo o
ecologia? espaço mais arborizado, porque os terrenos de cultivo
A. A. — Vem do meu relacionamento com Nuno seriam para estufas do horto. Preservar as espécies que
Oliveira, através do Núcleo Português de Protecção da existiam, aproveitar o que fosse de recuperar para
Vida Selvagem, que é uma das instituições mais anti- resistir ao avanço selvático dos prédios. Próximo de
gas da área associativa do ambiente. Havia gente que Mafamude, por aqui, era tudo campos e montes. Hoje
vinha de antes do 25 de Abril, como o Nuno, como eu, é só prédios. Se bem que haja espaços muito curiosos
e como indivíduos que tiveram um papel importante no concelho: o trilho de interpretação da natureza, em
na difusão dos conceitos ecológicos: o Afonso Sandim, há um outro na beira-rio centrado nos moinhos.
Cautela (jornalista, penso que trabalhava no «Diário O que se conseguiu com a implantação do Parque?
Popular», através dos seus artigos, na organização de
A. A. — Conseguiu-se uma reserva notável para a
encontros de educação ambiental, de discussão de
região. Susteve-se a expansão urbanística. É o proble-
problemas ecológicos) e o José Carlos Marques (escri-
ma do lucro. Era uma questão de os municípios reser-
tor, publicava na Afrontamento). Isso foi enraizando
varem espaços para áreas verdes! Prevendo-se a cons-
essas relações.
trução de um hospital, seria de reservar uma área
Como se oficializou a existência do Parque? envolvente de certa dimensão para floresta. Agora vêm
A. A. — Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, dediquei- as construções em condomínio fechado, as vivendas,
-me à actividade autárquica. Nomearam-me então não é? Uma série de coisas. É a única maneira, num
para a Comissão Administrativa da Câmara de Gaia. As país em que há uma cultura a nível da propriedade que
tarefas que nos empenhavam mais eram as da conso- é a nossa – quem é proprietário entende que pode
lidação da democracia, como fazer os cadernos eleito- fazer na sua propriedade tudo o que quiser, o que lhe
rais, etc. Os problemas do ambiente eram transversais... der na real gana, não é verdade? Há direitos sociais! O
Na Câmara discutia-se a exiguidade das dimensões vizinho não pode pagar pelos erros que consumamos
do horto municipal. Por sugestão do vereador do na nossa propriedade. Nos municípios onde não houve
Ambiente, que era o eng.º técnico agrário Luís Cid vontade de criar grandes bolsas de terrenos municipais
Doroteia, concluiu-se ser urgente um espaço para não se conteve a pressão urbanística. É muito difícil! A
ampliar o horto. Precisávamos de mais plantas. Como nossa cultura não está educada para isso. W

Inverno 2001 Parque Biológico 13


enfermaria

Histórias de liberdade
Aprende-se a vida inteira. E é por isso mesmo que
muitas vezes se interpreta mal as circunstâncias
naturais da vida animal. Por exemplo, quando um
Ouriços-cacheiros
transeunte depara com um mocho juvenil no chão de «Todas as histórias começam por era uma vez, mas esta
uma mata, crê de imediato que a rapace está perdida história que vamos contar é realidade.
dos pais. O que é errado: os mochos e corujas parti-
Nós tínhamos um ouriço-cacheiro na nossa sala desde
lham essa característica — quando as crias atingem
12 de Março, só que morreu no dia 8 de Agosto.
um certo desenvolvimento, saem do ninho, acabam
Pensamos que foi com saudades nossas.
por ir para o solo, mas os pais continuam a alimentá-
los nessa fase de transição. Assim, estando tudo sobre Passados uns dias, o avô de um colega nosso foi passear
controlo, o melhor é não interferir. Isto, claro, se não os cães à mata e encontrou uma ouriça com quatro crias.
se der o caso de encontrar um juvenil de mocho- Levou-os para casa, onde permaneceram três dias,
galego no início da noite, na berma do passeio da tendo o André tomado conta deles enquanto faziam um
Avenida da Boavista, no Porto, a correr o risco de ser barulho estranho: i, i, i.
atropelado, como já aconteceu em Junho!... Levou-os ao professor que esperou que começassem as
Saltando das aves para os mamíferos, o mesmo se aulas para os vermos e depois levá-los ao Parque
aplica aos ouriços-cacheiros: ver no bosque ou nas Biológico de Gaia, o que aconteceu no dia 11 de
dunas um espécime com algumas crias à volta, não Setembro. Foi acompanhado pelos colegas André,
quer dizer que estejam perdidos – pelo contrário! Márcio e Tozé e depois tiraram fotografias.
Andam na vida deles. Apanhá-los e levá-los para casa Todos ficámos tristes, mas também contentes. Ficámos
não é, decididamente, prestar-lhes auxílio. tristes porque nos separámos deles e ficámos contentes
porque eles assim viverão em liberdade no seu meio
ambiente sem terem o risco de morrerem depressa».

Por E. B. 1/Jardim da Praia de Esmoriz, prof. António José e


alunos: Delfim, Joel, Tiago, Filipe, Diana, Anthony, Alexis,
Ana, Ségoléne, Hugo, Joana, Sara, Marta, Diogo, André,
Angélica, Nuno, Liliana, Rui, Bruno, Márcio, Cristiana,
Adriana, Tatiana, Rafael, Fernanda, Tozé e António José

Fotos cedidas pelo prof. António José

Fernando Cerqueira, funcionário do Parque


Biológico de Gaia, liberta os ouriços-cacheiros
na área do Parque em 24 de Setembro

Foto: JG/Arquivo PBG

14 Parque Biológico Inverno 2001


Cabeçada de verdilhão
Numa tarde de Agosto, um patusco verdi-
lhão quis entrar, pelo vidro, na cantina do
Parque Biológico. Atraiçoado pela vista,
chocou. Um casal de visitantes, atento,
pegou na pequena ave inanimada e levou-
-a até ao Toni, segurança do parque, que
de imediato, o conduziu à enfermaria,
pensando: "Será que sobrevive?".
No que me toca, ao olhá-lo, na verdade
achava que não. Surpreendentemente, no
dia seguinte, passada a dor de cabeça, o
pequeno verdilhão estava recuperado, e
até estava pronto para ser solto. No
momento do regresso à liberdade, a viva-
cidade era tanta que fugiu das mãos do
Toni, voando de volta à vida.

Por Ana Mafalda

Foto: JG/Arquivo PBG

Os dias do noitibó
O noitibó é uma bela ave nocturna, com cabeça gran- através do Instituto de Conservação da Natureza.
de e achatada, bico pequeno e uma enorme boca. Quando chegou ao Parque, estava assustado, fraco,
Alimenta-se de insectos durante o voo, com a ajuda de com saudades dos pais e, como todas as aves insectí-
bigodes rígidos que possui nos cantos do bico. Os olhos voras, recusava-se a comer sozinho. Foi obrigado a
são grandes e redondos, quase sempre fechados duran- engolir uma papa especial, tomou umas vitaminas e
te o dia. Plumagem castanha, matizada, camufla-o tão ficou hospedado na enfermaria do Parque até ao dia
bem que é difícil detectá-lo ao longo de ramos de árvo- seguinte. Assim que o Sol brilhou por entre a folhagem
re, onde permanece achatado como um galho. das árvores, o nosso jovem noitibó abriu as asas e
Este ternurento juvenil foi encontrado no início de voou... com uma pequena ajuda.W
Setembro deste ano, caído do ninho na Serra da Estrela
e foi encaminhado até ao Parque Biológico de Gaia Por Ana Mafalda

Inverno 2001 Parque Biológico 15


património

Bosques: esses desconhecidos


Em muito pouco tempo o ser humano pode destruir o que a natureza levou milhões
de anos a edificar. A floresta é a moldura que sustenta a vida. Conheça-a para a
proteger

As paisagens vegetais observadas hoje em se desenvolve em solos mais húmidos


dia são fruto de uma série de aconteci- (edafo-higrófila) ou mais secos (edafoxe-
mentos que sucederam ao longo do rófila) do que a média da região (margens
tempo e que originaram alterações impor- de cursos de água, depressões, escarpas,
tantes à estrutura, composição e distri- etc.).
buição dos bosques. O termo bosque aqui utilizado deve ser
Esses acontecimentos, de variadas ori- entendido como um conjunto vegetal em
gens, magnitudes e persistência no que as árvores são o elemento distinto e
tempo, vão desde os fenómenos à escala repetido na fisionomia da formação
global como sejam os movimentos geoló- vegetal, e em que o estrato — ou estratos
gicos das placas (deriva continental) e as — arbóreo domina um ou vários estratos
alterações globais do clima até a fenó- herbáceos e/ou arbustivos, independen-
menos mais localizados e mais recentes temente do tamanho e densidade das
como sejam os resultantes da actividade árvores.
humana, sobretudo desde o neolítico A grande maioria da vegetação potencial
(principalmente o fogo o pastoreio e a de Portugal Continental é constituída por
desflorestação, etc.). bosques dominados por cinco árvores do
Grande parte da história dos nossos bos- género Quercus: o carvalho-alvarinho, o
ques actuais começa há cerca de 18 mil carvalho-negral, o carvalho-cerquinho, o
anos, quando os glaciares ocupavam sobreiro e a azinheira.
grande parte da Europa estando os bos- Assim, actualmente podemos identificar
ques reduzidos ao mínimo. Estes deveriam os seguintes tipos principais de bosques:
apenas ocupar as partes mais baixas e
CLIMATÓFILOS
abrigadas junto da costa e na base das
montanhas, onde os rigores do clima Bosques que, como foi dito, se desenvol-
menos se faziam sentir. Nos últimos 10 mil vem em estrita ligação com os factores
climáticos, constituindo a vegetação cli-
anos (holocénico) os bosques temperados
mácica potencial.
começaram a recuperar. Nesta época os
carvalhos (Quercus), sobretudo os carva- Caducifólios (de folha caduca)
lhos de folha caduca, predominaram.
Como é sabido, a queda da folha consti-
Contudo, durante o holocénico, as altera-
tui uma adaptação a estação fria e só a
ções dos bosques não estão só relaciona- presença de verões relativamente húmi-
das com as alterações climáticas e come- dos, solos profundos e com grande capa-
çam também a estar relacionadas com a cidade de retenção de água explica a
acção do homem e da cultura neolítica. existência dos bosques caducifólios, já
Como foi dito a vegetação desenvolve-se que isso exige um habitat muito favorá-
na estrita dependência do clima e do vel para os vegetais cumprirem as fun-
solo. A vegetação que se desenvolve na ções de crescimento e reprodução nas
dependência dos factores climáticos e estações propícias, compensando não só
que representa portanto a potencialidade o período de repouso vegetativo como a
do território chama-se vegetação clima- enorme perda energética que a queda da
tófila. Diz-se edafófila a vegetação que folha pressupõe.

16 Parque Biológico Inverno 2001


Carvalho-negral (Quercus pyrenaica )
no Parque Nacional da Peneda-Gerês
Foto: Henrique Nepomuceno Alves/Arquivo PBG
património

Do ponto de vista adaptativo estes bosques estarão, entre os 1200 metros e os 1500 metros de altitude
em Portugal e na Península Ibérica, no limite geográfi- em solos ácidos, frescos e soltos. Estes bosques
co onde esta estratégia é imprescindível, já que, devi- ocorrem na Serra da Estrela e nas montanhas mais
do à posição da Península, o rigor do Inverno não é elevadas do Norte de Portugal.
muito acentuado. Assim sendo, estes bosques distri-
buem-se principalmente pela região Eurossiberiana, a Perenifólios
qual se caracteriza por uma aridez estival nula ou Bosques dominados por árvores cuja folha é persisten-
muito ligeira mas nunca superior a dois meses em que te e geralmente coriácea e pequena, como sejam a azi-
a precipitação média mensal é inferior ao dobro da nheira (Quercus rotundifolia), o carrasco (Quercus coc-
temperatura média mensal, de modo a que a precipi- cifera), o sobreiro (Quercus suber), o zambujeiro (Olea
tação estival compense a evapotranspiração, evitando europaea var. sylvestris), a alfarrobeira (Ceratonia sili-
um esgotamento das reservas hídricas nos solos. qua), etc. Estas espécies adaptaram-se muito bem aos
De carvalho-alvarinho (Quercus robur L.): Este car- climas mediterrânicos. É na Península Ibérica que este
valhal dominado pelo carvalho-alvarinho instala- tipo de bosque atinge o seu expoente máximo: o azi-
se preferentemente em solos graníticos ou xistosos nhal, em Espanha, e o sobreiral, em Portugal. Estes bos-
profundos e frescos de vales e encostas com decli - ques, plenamente adaptados ao rigor do clima, têm de
ve pouco acentuado. Este carvalho, pouco toleran- suportar o frio invernal, bem como a coincidência do
te ao frio invernal, prefere locais com clima húmi- período de maior seca com o de maior temperatura.
do, oceânico, onde não se faça sentir a secura esti- De sobreiro (Quercus suber L.): O sobreiro foi e é,
val. Normal-mente vive na parte baixa até aos 600 desde longa data, cultivado, aparecendo por isso
metros de altitude, podendo subir até aos 1000 em locais bastante diferentes da sua área natural e
metros. substitui muitas vezes o local natural da azinheira
Nos carvalhais de carvalho-alvarinho (Quercus (Quercus rotundifolia Lam.) e do carvalho-cerqui-
robur L.) aparecem também outras árvores e arbus- nho (Quercus faginea Lam.). Aparece de modo mais
tos como o pilriteiro (Crataegus monogyna Jacq.) e notório em zonas onde a influência atlântica se faz
o azevinho (Ilex aquifolium L.). Estes bosques, sentir, desde o rio Tejo até às serras de Caldeirão,
muito produtivos, foram muitas vezes transforma-
dos em pastos e cultivos nas regiões nortenhas.
Estes carvalhais distribuem-se pelo Noroeste de UMA CLASSIFICAÇÃO
Portugal, sendo a Serra da Estrela e a Lousã o seu
limite Sul; as serras da Peneda, Amarela, Gerês, BOSQUES CLIMATÓFILOS
Cabreira, Marão, Montemuro e Caramulo o seu Caducifólios (de folha caduca)
limite para Leste. De forma mais pontual pode apa-
De carvalho-alvarinho
recer mais a Sul, em locais onde a humidade o per-
mita. De vidoeiro

De vidoeiro (Betula celtiberica Rothm. & Vasc.): Os Perenifólios


vidoais são formações arbóreas dominadas pelo De sobreiro
vidoeiro (Betula celtiberica). Em Portugal, os vidoei- De azinheira
ros formam bosques mais ou menos puros em De zambujeiro
encostas sombrias e muito chuvosas das monta-
Marcescentes
nhas mais elevadas (bosques climatófilos), em mar-
gens de cursos de água (bosques ribeirinhos), em De carvalho-negral
fundos de vale ou em ambientes turfosos (bosques De carvalho-cerquinho
edafo-higrófilos); no entanto, estes bosques puros
BOSQUES EDAFÓFILOS
são hoje muito raros. O vidoeiro é uma árvore pio-
Edafo-higrófilos
neira na sucessão ecológica, ocupando muitas
vezes zonas onde os carvalhais foram destruídos De salgueiros e amieiros
(bosques secundários). O vidoeiro é uma espécie De freixos, choupos e ulmeiros
que gosta de luz e consegue colonizar a orla das Edafo-xerófilos
turfeiras, sendo a primeira árvore a instalar-se na
De zimbros
sua orla. O vidoeiro, espécie muito resistente ao
frio, vive normalmente em encostas inclinadas

18 Parque Biológico Inverno 2001


Monchique e Espinhaço de Cão. Existem também
extensos sobreirais na Terra Quente transmontana.
O sobreiro é uma árvore pouco resistente ao frio e
às geadas, algo exigente em precipitações, que
prefere os solos siliciosos soltos e arenosos, desde
o nível do mar até aos 800 metros.
De azinheira (Quercus rotundifolia Lam.): A azi-
nheira é a árvore predominante nas zonas mais
secas de Portugal, desde o vale superior do Douro e
seus afluentes até ao Algarve. Os bosques de azi-
nheira atingem o seu expoente máximo em
Portugal no Alentejo interior onde foram muitas
vezes convertidos em montados.
A azinheira é uma árvore indiferente ao substrato,
estando bem adaptada ao clima mediterrânico
continental, resistindo bem ao frio e à seca. Esta
espécie ocupa muitas vezes posições edafoxerófi-
las em escarpas.
Há ainda outros bosques: os de zambujeiro (Olea
europaea L. var. sylvestris Brot.). Árvores resisten-
tes a altas temperaturas, seca e vento, é sensível às
geadas e indiferente ao substrato, preferindo o
clima mediterrânico. Geralmente acompanha as
azinheiras, o sobreiro e o carvalho-cerquinho, for-
mando poucas vezes autênticos bosques, apare-
cendo mais frequentemente em matos resultantes
da degradação de bosques de quercíneas. Muitas
vezes não passa de um pequeno arbusto, e a sua
área de distribuição foi claramente alargada devi-
do à acção humana, já que é usado como porta-
enxerto para a oliveira.

Marcescentes
As espécies que conservam as suas folhas secas nos
ramos durante o transcurso do Inverno dizem-se mar-
cescentes ou semicaducifólias. A marcescência é uma
estratégia mal conhecida. O atraso da queda das
folhas será sobretudo uma adaptação no sentido de
rentabilizar ao máximo os nutrientes reabsorvendo-os
juntamente com a água das folhas, ficando estas ape-
nas ligadas à árvore por questões mecânicas. Este
comportamento — a reabsorção dos nutrientes das
folhas — é diferente de espécie para espécie, e mesmo
dentro da mesma espécie. Outra hipótese para a mar-
cescência passaria pela optimização do ciclo dos
nutrientes no solo. Assim, as folhas caídas no Outono
poderiam ser arrastadas pelo vento para longe, per-
dendo a árvore esses nutrientes; por sua vez, as que
ficariam não seriam decompostas devido ao frio inver-
nal. A queda das folhas na Primavera seguinte permi-
tirá o melhor aproveitamento desses nutrientes, já que
Bosque de carvalhos as condições serão ideais para decomposição e poste-
Foto: Henrique Nepomuceno Alves/Arquivo PBG rior reabsorção, a qual coincide com o surgir de novas

Inverno 2001 Parque Biológico 19


património

folhas e o crescimento, altura em que a árvore neces- cerquinho prefere solos ricos, frescos e profundos;
sita de mais nutrientes. é uma árvore calcífuga, ocupando solos de nature-
De carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.): Os za siliciosa ou derivados de calcários descarbona-
carvalhais de carvalho-negral ocupam as zonas tados, aparecendo normalmente desde o nível do
montanhosas de Portugal mais para leste da zona mar até aos 700 metros. O local mais bem conser-
dominada pelo carvalho-alvarinho. Estes carvalhais vado deste tipo de bosque é sem dúvida a Mata do
distribuem-se normalmente em altitudes com- Solitário, no Parque Natural da Arrábida.
preendidas entre os 400 e os 1600 metros e a Este carvalho, fora dos fundos de vale mais húmi-
maioria da área ocupada coincide com zonas onde dos, mostra-se geralmente como companheiro de
chove entre 650 e 1200 mm por ano. O carvalho- outras árvores (sobreiro, azinheira, carvalho-
negral prefere solos siliciosos e soltos de textura negral, etc.) não chegando a formar bosques den-
arenosa, é bastante resistente à continentalidade, sos, já que possui uma fraca capacidade para
suportando temperaturas médias de –5º C, sendo excluir as outras espécies. Ainda que a sua área de
um dos carvalhos que melhor suporta o frio. Tolera distribuição seja grande, as formações puras são já
melhor a seca que outros carvalhos, aguentando raras, encontrando-se as mais importantes em
bem temperaturas até 22º C, mas é exigente quan- Montemor-o-velho, Caneças, Minde e Alcobaça.
to à humidade, necessitando que chova pelo menos EDAFÓFILOS
100 a 200 mm na estação seca. Este carvalho é um
Chama-se vegetação edafófila, como foi dito, à flora
excelente criador de solo. Estes terrenos eviden-
que se desenvolve na dependência de características
ciam uma acidez praticamente nula. Nas áreas pla-
do solo (factores edáficos) relacionadas com situações
nas, este bosque muitas vezes foi sacrificado para
topográficas especiais (depressões, escarpas, margens
obtenção de terrenos para a agricultura. É também
de rios, etc.).
um excelente fixador de solo em encostas e escar-
pas devido ao seu sistema radicular entrelaçado Edafo-higrófilos
superficial. É uma árvore excelente para evitar a Bosques que colonizam solos com humidade superior à
erosão. média desse território, como sejam zonas encharcadas
De carvalho-cerquinho (Quercus faginea Lam. ou alagadiças nas margens de linhas de água. Nestes
subsp. broteroi (Coutinho) A. Camus): O carvalho- locais a humidade do ar é também maior e as tempe-

Prados de lima ladeados por carvalhal e vidoal

Foto: Henrique Nepomuceno Alves/Arquivo PBG

20 Parque Biológico Inverno 2001


raturas extremas são atenuadas pela presença do
curso de água, factores que, ainda que pouco impor-
tantes na zona atlântica, assumem grande relevância
na zona mediterrânica pelas condições particulares de
humidade que criam.
De salgueiros (Salix atrocinerea Brot.) e amieiros
(Alnus glutinosa Gaertn.): Os amiais e os salguei-
rais arbóreos são bosques característicos de planí-
cies aluvionares e das margens dos cursos de água
permanentes, ocupando solos profundos, perma-
nentemente encharcados ou muito húmidos, mui-
tas vezes inundáveis. Quando densos os bosques de
margem criam as chamadas galerias ripícolas nas
quais as copas de uma e outra margem se entrela-
çam. Os bosques destes salgueiros e amieiros são
característicos da região Atlântica.
De freixos (Fraxinus angustifolia Vahl), choupos
(Populus spp.) e ulmeiros (Ulmus spp.): Os bosques de
freixos, choupos e ulmeiros ocupam solos profundos e
frescos, por vezes inundados durante a época das
cheias, mas tendem a evitar as margens dos cursos de
água. Os freixiais praticamente desapareceram e
foram transformados em lameiros para pastagem e
fenagem. As galerias ripícolas mediterrânicas na lezí- Quercus robur L.

Q. pyrenaica Willd.
ria do Tejo, com choupo-branco (Populus alba) e
Q. canariensis Willd.
ulmeiros (Ulmus minor), são ainda um exemplo destes
Q. faginea Lam.
bosques edafo-higrófilos. Nos rios tipicamente medi-
Q. suber L.
terrânicos com águas eutrofizadas existem ainda
Q. rotundifolia Lam.
choupais-salgueirais, com Salix neotricha Goerz.

Vidoeiros... com um pé na água

Foto: JG/Arquivo PBG

Inverno 2001 Parque Biológico 21


património

(Juniperus turbinata Guss.), a comunidade perma-


nente edafoxerófila relíctica dos alcantis quartzíti-
cos do Tejo dominada pelo zimbro-galego
(Juniperus oxycedrus L.) e o zimbral de arribas cos-
teiras com sabina-da-praia (a sul do Cabo
Mondego) são exemplos deste tipo de bosque.
Muito fica por dizer, num campo em que a deteriora-
ção deste património é mais que muita. Depende dos
órgãos estatais legislar melhor e melhor fazer cumprir
Antigos bosques converteram-se em pastagens a lei. Depende ainda das próprias entidades privadas e
do cidadão comum, no que lhe toca, conhecer e valo-
rizar os bosques portugueses, que são a arca do tesou-
Edafo-xerófilos ro que a natureza nos entrega, como resultado de um
apuramento de milhões de anos de evolução. Como em
Vegetação que vive em solos que dispõem de uma
tudo, há que conhecer para preservar. W
menor quantidade de água do que os solos típicos do
território, normalmente por razões topográficas. Estas
Texto de Henrique Nepomuceno Alves e de João Honrado,
comunidades funcionam muitas vezes como comuni-
botânicos.
dades permanentes, já que o stress provocado pela BIBLIOGRAFIA:
falta de água condiciona o normal desenvolvimento COSTA, J.C., AGUIAR, C., CAPELO, J.H., LOUSÃ, M. & NETO, C.
das sucessões ecológicas. Esta vegetação desenvolve- (1998) – Biogeografia de Portugal Continental. Quercetea
se normalmente em alcantis, sítios arenosos, etc., ocu- vol. 0: 5-56.
pando habitates extremos. TENÓRIO, M. C., JUARISTI, C. M. & OLLERO, H. S. (2001) - Los
bosques ibéricos. Planeta, Barcelona, 597pp.
De zimbros (Juniperus sp.): Os zimbrais edafoxeró- RIBEIRO, O.& LAUTENSACH, H. (1987). Geografia de Portugal:
filos reliquiais no Guadiana de sabina-da-praia II. O ritmo climático e a paisagem. Edições João Sá da Costa.

Montado de sobro e azinho, típico do Alentejo

Foto: JG/Arquivo PBG

22 Parque Biológico Inverno 2001


habitat

No reino dos carvalhos


Manchas de arvoredo, ao longe, maciças, juntam carvalhos e afins. Árvores de folha
caduca que, no Inverno, em muitos casos aparecem despidas, como se tivessem
morrido. Ainda assim, a vida, por dentro da madeira, espera dias mais temperados

A luz cai pela ramagem da floresta. Passa o emaranha- Albergaria. No Sul a Serra de S. Mamede. O carvalhal
do de ramos quase já sem folhas, de onde fogem os vai de espécies adaptadas a condições húmidas (exem-
pássaros que nos receiam. plo: Quercus robus) a habitates mais secos (Quercus
Os pés afundam suavemente, passo a passo, na terra coccifera). O carvalho-roble coexiste com o castanhei-
negra protegida por mantos de folhagem. Agastado, o ro, a cerejeira-brava e o azevinho.
ar invernal toca as folhas pardas que já foram verdes, Se é facto ser o carvalhal a jóia da coroa de um habi-
antes de caírem. No solo fofo, desfazem-se sob a tat saudável, na teia complexa e frágil da vida, preser-
acção de fungos e insectos. Os nutrientes, que subiram vá-lo é sustentar o horizonte de um futuro melhor.W
pelas raízes e vitalizaram os ramos, retornam à fonte
primeira no refluxo perene das estações. No cenário,
abrigam-se salamandras e sapos, ratos e rapinas, texu-
gos, javalis, corços e outrora os lobos, hoje a raposa,
coelhos, pica-paus, trepadeiras e chapins, entre outros.
E tudo sob aquele arvoredo, cujos braços enormes se
cruzam lá no alto. Até parecem despedir-se. Mas não:
muitos dos carvalhos protegem-se dos ventos gélidos,
adaptados ao compasso biológico que regula os ritmos
da hibernação. Diante das temperaturas mais baixas,
entram em letargia, desprendem as folhas aos sinais
do tempo e defendem-se da congelação da seiva que
lhes destruiria os tecidos.
Mas nem toda a família é assim. Portugal apresenta
fronteiras climáticas, entre o Mediterrâneo e a Europa:
as quercíneas que evoluíram mais a sul mantêm folhas
nos seus ramos, usando anticongelantes naturais que,
mesmo em letargia, funcionam como defesas eficazes.
Por isso, se com o frio pode bem este habitat, pouco
resiste à acção humana. Séculos atrás, a necessidade
de pastagens e campos para agricultura iniciaram o
desbaste do carvalhal. Também a construção dos cami-
nhos-de-ferro utilizou essa madeira robusta. Somando
a violência dos incêndios, que arrasa em poucas horas
o trabalho que a Natureza levou séculos a levantar,
não é difícil perceber que se destruiu o carvalhal sem
um desenvolvimento sustentável. E com agravantes: o
incêndio abre campo fácil e fértil à infestação dos ter-
renos por espécies exóticas — como o eucalipto e as
acácias — muito difíceis de erradicar e que destroem
um ecossistema rico e adaptado, incluindo na pancada
não só a flora como a fauna que dela depende e o pró-
prio solo, sem esquecer o clima.
As regiões que acolhem mais carvalhal são as serras de
Trás-os-Montes e Gerês, em especial as matas de

Inverno 2001 Parque Biológico 27


flora

Vítima do desejo
Este arbusto das florestas ibéricas, o azevinho, por ser tão bonito, tem sido objecto
de cobiça para ornamentos, sobretudo na época natalícia. Hoje, a lei protege esta
espécie e proíbe a colheita dos seus ramos

No início do Inverno o azevinho amadurece as suas ros, este arbusto de folhagem densa verde-escura pro-
bagas num vermelho-vivo, aviso de toxicidade para duz bagas vermelhuscas que atraem o apetite dos mel-
vários animais mas muito atractivo para enfeites nata- ros e tordos. Bem adaptadas a essa forma natural de
lícios. O problema é que essa atracção pode matar o guerra química, estas aves entram assim no processo
arbusto pelo corte excessivo da ramagem. Por isso, em de dispersão das sementes, com evidentes vantagens
Portugal a lei proíbe colher o azevinho dos bosques. mútuas.
Dado os poucos espécimes espontâneos, aconselha-se Se o solo, as condições de luz e o restante meio é pro-
a compra desta planta em pício, o azevinho reproduz-se bem por sementeira.
explorações comerciais. O Porém, o património mais
azevinho é um importante das popula-
espécime ções deste arbusto nas
vegetal que florestas portuguesas
tem muito que se localiza-se em pequenas
lhe diga, e não é cumeadas, entre roche-
só porque lhe dos, escassos resquícios da
chamam tam- antiga floresta nativa que
bém zebro, pica- escaparam à acção humana,
folha ou visqueiro. Cada tais como queimadas de arvore-
espécime do para aumento de pas-
tagens e sobreexplo-
apenas ração de madeiras.
produz gâme-
O Ilex aquifo-
tas femi-
lium, uma
forma mais
comprida para
designar com
exactidão o
azevinho, é
um arbusto
ninos
de rapidez de
ou, por
crescimento
exclusão,
intermédia.
masculinos. Assim, um
Vulnerável como
arbusto isolado fica alienado do
todos os seres vivos,
processo de polinização e por
para quem gosta de cuidar de
isso, apesar de fértil, não
plantas, é uma opção de grande
consegue reproduzir-
interesse para ter no jardim de sua
se.
casa.W
Enquadrado em bosques
de carvalhos e castanhei-
ros, de faias e pinhei-

28 Parque Biológico Inverno 2001


fauna

O regresso do esquilo
O esquilo-vermelho vive em florestas portuguesas a norte do rio Douro e expande-
se em distritos como os de Bragança, Vila Real ou Viana do Castelo
Lá está ele! Na imagem do monitor, nítida, é só vê-lo Primavera ou, se o alimento escasseou, apenas no
em pleno alimentador de mesa da passarada. Orelhas Verão. Estudos sobre as populações do Reino Unido que
espetadas com tufos de pêlo, focinho patusco e pela- ocupam floresta de caducifólias apontam para uma
gem ruiva, o esquilo junta as patas e rói sementes, maior taxa de sobrevivência de juvenis se estes nasce-
sentado, olhos nervosos atentos a uma rapina que ram na Primavera, ao invés do que ocorre com os nas-
surja de supetão ou a uma doninha esfomeada. Não cidos no Verão, época em que as avelãs e as bolotas não
desconfia é que, no refeitório do Parque Biológico, abundam tanto. Os juvenis aventuram-se fora do ninho
uma multidão o olha, em vídeo directo, surpreendida. por volta das 7 semanas e tornam-se independentes
Até aqueles poucos que, ao almoço, dizem que o filme após 10 a 16 semanas. Nessa altura, já deixaram de
que ali passa é sempre o mesmo — distraídos! — não mamar, o que pode ocorrer umas 8 semanas após o
despregam o olhar. nascimento. Entre os pais, destaca-se o esmero da mãe:
Quem não gosta de esquilos desde as histórias de é ela que, se perturbada, trata de se mover com as crias.
infância? Mas hoje o esquilo faz parte da fauna das Ao passear na floresta, se nem sempre vemos os esqui-
nossas florestas de pinheiros, carvalhos, faias e soutos. los, podemos detectar os vestígios da sua presença:
Roedor que se alimenta de frutos, bagas e sementes, marcas abundantes das suas unhas na casca das árvo-
entra na cadeia alimentar de um ecossistema que se res onde fazem ninho, num ramo ou em buracos no
deseja saudável, sendo predado por mustelídeos, aves tronco, e restos de comida como pinhas muito roídas,
de rapina, raposas e gatos. Outras causas de morte são cascas de castanhas e de nozes, etc.
atropelamento por automóveis e a fome, sobretudo no Quando andam nas árvores, fascinam. Leveza, agilida-
Inverno, altura em que não hiberna, mas pode perma- de, rapidez. Parece magia, conseguida através dos
necer abrigado durante dias no ninho. ossos leves, de uma cauda equilibradora e de unhas
Durante o período mais favorável do ano, estes ani- eficazes. São acrobatas espantosos. Vi um passear num
mais aprovisionam comida, vital para a sobrevivência tronco de árvore, de cabeça para baixo, parar, saltar de
no tempo frio. Há até quem aponte o esquilo como um um só impulso para outro tronco vizinho e seguir como
agente protector da floresta, na medida em que dis- se não tivesse feito nada de especial.
persa sementes de algumas espécies de árvores. Se a floresta for protegida, o seu futuro está assegu-
É de Janeiro a Março que o comportamento reproduti- rado. W
vo dos esquilos atinge o clímax. Curiosamente, as
fêmeas ficam receptivas apenas um dia por ano! Bibliografia: livro «Mamíferos de Portugal e Europa», editado
Depois, pode surgir uma ninhada de cerca de 3 crias na pelo FAPAS

Inverno 2001 Parque Biológico 29


congressos

Mais conservação
da natureza
0rganizado pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN), teve lugar nos dias 2,
3, 4 e 5 de Outubro, em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, o 2.º Congresso
Nacional de Conservação da Natureza

Abordar a temática da conservação e do uso sustentá- lado, o reforço do nível orçamental previsto que,
vel da diversidade biológica foi o principal objectivo segundo o membro do Governo, duplicou para mate-
deste evento. Aliás, este é, sem dúvida, um dos maio- riais de conservação da natureza e encontra-se já à
res e mais difíceis desafios que o ser humano tem de disposição do ICN; por outro lado, o actual estado de
enfrentar e solucionar. conhecimento, fruto do esforço de entidades, institui-
Os graves problemas ambientais — os seus efeitos — ções, associações e individualidades, etc., que em
despertaram nas populações do nosso planeta algo muito têm contribuído para a salvaguarda do patrimó-
que hoje integra o vocabulário do nosso dia-a-dia: nio natural português. Como exemplo deste esforço, o
consciência ambiental. No entanto, e apesar dos efei- nosso país foi dos primeiros a apresentar a Lista
tos directos sobre a humanidade, são constantes os Nacional de Sítios, enquanto outros mais desenvolvi-
atentados sobre o ambiente. O homem é apenas um dos vêem a possibilidade de sofrer as consequências do
dos muitos elos de uma corrente sem fim. Mas, ao incumprimento das directivas comunitárias.
contrário de outros seres, é o único com poder de os 0 segundo ponto alto resultou do amplo conjunto de
quebrar e o responsável pelo actual estado de dese- comunicações apresentadas. Ao abordarem os sub-
quilíbrio ambiental. temas As Áreas Classificadas e a Conservação da
A sessão de abertura do congresso, primeiro ponto Diversidade Biológica, Conservação e Recuperação de
alto, contou com a presença de membros do Governo, Espécies e Habitats, Utilização Sustentável da
como o ministro do Ambiente e Ordenamento do Diversidade Biológica permitiram trocar experiências e,
Território e do ICN e o presidente deste Instituto. desta forma, encaminhar futuras acções rumo à meta
Ficaram expressas basicamente duas ideias: por um pretendida.

Dois auditórios serviram o 2.º Congresso Nacional de Conservação da Natureza

30 Parque Biológico Inverno 2001


Um amplo conjunto de comunicações foram apresentadas neste congresso

O último ponto alto centrou-se na visita à Reserva Monte do Paio, onde se encontrava a exposição alusi-
Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, uma va àquela zona húmida.
zona húmida cuja importância natural lhe conferiu Os congressistas saíram enriquecidos deste evento.
vários estatutos de protecção: Reserva Natural, Zona Oxalá cada vez mais se viabilize a conservação da
de Protecção Especial segundo a Directiva das Aves, natureza com todos os benefícios daí decorrentes.W
Sítio Ramsar e de Interesse para a Conservação.
Durante esta visita realizaram-se dois percursos
pedestres, explicou-se a evolução geológica da Lagoa
Texto: Gonçalo Rodrigues e Sandra Pereira (eng.ºs da
de Santo André e procedeu-se à apresentação do futu- Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de
ro Centro de Educação Ambiental da Herdade do Arcos)

O homem é apenas
um dos muitos elos
de uma corrente
sem fim. Ao
contrário de outros,
Participaram neste congresso cerca de 550 congressistas é o único com poder
e as conclusões podem ser consultadas, segundo informa a
organização, em www.icn.pt de os quebrar
Inverno 2001 Parque Biológico 31
congressos

Educação ambiental
em congresso
De 3 a 6 de Outubro, juntaram-se no Fórum Lisboa cerca de 300 pessoas para
debaterem a educação ambiental. O evento — o 12.º congresso — foi organizado
pelo Instituto de Promoção Ambiental, pela Câmara Municipal de Lisboa e pelo
Parque Biológico de Gaia
Mesa formada pelo IPAMB, representado deixar de referir que ainda se verificam
por Gabriela Borrego, pelo vereador do algumas barreiras que lançam desafios
Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa para outros níveis etários: são níveis que
e pelo representante do Parque Biológico não sofreram ao longo de 30 anos talvez
de Gaia, Henrique Alves, os trabalhos a sensibilização directa que tem chegado
abriram pelas 15h30. à escola. Essa massa mais idosa precisa
Usando da palavra, o vereador destacou a de ser convidada a consciencializar-se
importância do tema. Seguiu-se o impro- mais para a parte ambiental numa apli-
viso do representante da instituição cação quotidiana». E complementa:
gaiense que, por sua vez, salientou o «Ainda há muito a fazer. A acção das
quão gratificante é verificar que, se o pri- autarquias é fundamental. O papel dos
meiro congresso tinha sido organizado educadores é também, através da cons-
por uns poucos (apesar de muito partici- ciencialização das crianças (os netos),
pado) em Gaia, hoje já se conta uma consciencializar os mais velhos (avós),
dúzia de eventos, e com a participação de penetrar pela criança na sua própria
muita gente, em grande parte jovens. A família. Esta é a bandeira com que se
representante do IPAMB, cuja abordagem deve avançar, para que possamos ter um
se centrou nas boas-vindas, disse ainda ambiente mais saudável, mais agradável,
que é importante que haja o envolvimen- mais limpo», conclui.
to das autarquias e da sociedade civil em Com o intervalo surge a oportunidade de
todo o processo de educação ambiental, apreciar os painéis afixados, bem como
particularmente as escolas. «Não quero recolher materiais diversos sobre educa-

Mesa formada pelo


IPAMB, pelo vereador do
Ambiente da Câmara
Municipal de Lisboa e
pelo representante do
Parque Biológico de
Gaia, Henrique Alves

32 Parque Biológico Inverno 2001


ção ambiental, ali disponibilizados por diversas instituições.
A conferência-debate «viVer a Cidade», que se seguiu, consistiu
na participação de Ribeiro Telles, Roque Amaro, J. M. Palma
Oliveira, Rui Godinho.
Os restantes três dias foram preenchidos com percursos, oficinas
e circuitos.
O congresso do próximo ano será na Maia. W

Ribeiro Telles é um pioneiro das temáticas do ambiente

Parcerias multi-institucionais Por Rita Valente

Outubro, dia 4, quatro oficinas: Educação mo, Ana Loureiro falou sobre a relação que a
ambiental/integração curricular, Experiências em Valorsul tem estabelecido com algumas escolas do
meio urbano, Hortas pedagógicas e Parcerias concelho de Lisboa.
multi-institucionais Após a apresentação e discussão passou-se a um
O dia começou às 8h30. Sol brilhante e céu azul, é o trabalho prático. O grupo total foi dividido em três
Outono com cheiro de fim de Verão. Viagem até ao tendo cada um como coordenador um dos convida-
edifício Central do Campo Grande. Calhou-me a ofi- dos. Integrei o grupo coordenado por Ana Loureiro,
cina das Parcerias multi-institucionais. Diante de que nos propôs o seguinte trabalho: cada um rece-
uma trintena de pessoas, o painel de convidados — beu um envelope no qual constavam dados sobre a
Ricardo Santos (SONAE), Maria da Graça Robles simulação do projecto de educação ambiental rela-
(Interfileiras) e Ana Loureiro (Valorsul) — apresentou tivo à separação do lixo no concelho de Lisboa —
experiências de concretização de projectos em ter- cada um apresentava-se como representante ou de
mos de parcerias estabelecidas. uma associação ambiental, ou de uma autarquia, ou
Ricardo Santos falou, entre outros, sobre o projecto de uma empresa, ou de uma universidade...
REUSO que consistia basicamente na reutilização ou O objectivo centrava-se em conjugar esforços con-
reciclagem das cruzetas utilizadas nos artigos de vergentes e conseguir uma acção concreta e com
confecção. A apresentação seguinte coube a Maria resultados. As ideias foram engraçadas, embora um
da Graça e versou sobre a reciclagem do vidro, pouco díspares das possibilidades económicas. O
madeira, metal, plástico e papel/cartão, tendo a tempo, traiçoeiro, não dilatou, proporcionando con-
Interfileiras uma percentagem de responsabilidade clusões sob pressão. W
sobre o tratamento dos mesmos materiais. Por últi-

Inverno 2001 Parque Biológico 33


congressos

Percurso
Parque Ecológico
de Monsanto
«Vêem ali um esquilo?», aponta Jorge Figueira, o técni-
co que se encarregou de um dos quatro grupos de visi-
ta, no dia 4. Neste percurso, vista tacteante, só uma
minoria distingue o roedor. Insiste: «Ali, naquele
pinheiro!». Bem, mas será naquele ou num dos outros?!
Por fim, todos o localizam: cauda típica, movimentos
rápidos, saltitante, viu-se o bicho castanho, mesmo
antes de desaparecer. Engraçado, simpático como o
vemos desde a infância.
Laboratório
«Hoje, sem predadores, estes esquilos estão por todo o
lado». As muitas estradas de Monsanto matam as «Este laboratório pretende familiarizar as crianças com
raposas e as ginetas. De início, foram libertados 15 os materiais que lhe estão associados», diz Ana Romão.
esquilos, hoje contam-se centenas. Os pinheiros-man- Não se trata de um laboratório completamente ape-
sos e os sobreiros dominam como árvores de maior trechado, mas permite que a criançada ensaie algumas
porte. O Parque de Monsanto mostra uma floresta experiências: os primeiros passos no universo fasci-
jovem, que foi ali plantada. Conta uns 60 anos. Nas nante da ciência.
árvores vêem-se ninhos de madeira para aves. Olha-se Olho pela janela, nas costas de Ana. Dois esquilos, a 20
e vê-se uma emenda redutora no orifício de entrada: metros, andam no chão da floresta. As caudas treme-
«Os esquilos conseguiam entrar e faziam despensa, licam, nervosas, num instinto preparado para a fuga de
quer houvesse ali ovos ou crias». predadores também ágeis, que ali não existem.

Carla apresenta a estação experimental de tratamento de águas residuais

34 Parque Biológico Inverno 2001


Não é um laboratório completamente apetrechado, sua condição, são libertados. «É uma experiência muito
mas permite que a criançada ensaie algumas expe- feliz libertar um animal que tratámos!», afirma.
riências: os primeiros passos no universo fascinante Pega na asa negra da gralha, coloca o estetoscópio
da ciência. perto do coração: «Alguém quer ouvir os batimentos
A técnica pega num saco com uma proveta no fundo. cardíacos?». Vaidosa, no bom sentido, diz a doutora:
Passando-o por um lago, é possível recolher amostras «Este é o ponto da visita de que os miúdos mais gos-
de plâncton e depois visualizá-lo em pormenor com a tam: todos saem daqui a quererem ser veterinários!».
lupa electrónica e até com o microscópio. Uma outra
ferramenta de trabalho é o disco medidor da limpidez Parque de irrecuperáveis
da água, um aparelho redondo, branco, a lembrar Nuno Ventinhas recebe o grupo no caminho que leva ao
Saturno e os seus anéis de asteróides. Parque de Irrecuperáveis. Olhando à volta, vêem-se
rapaces e corvos. Entre todos, o grandalhão é o amisto-
ETAR biológica so grifo, o minorca é o peneireiro, os intermédios são a
Uns passos e sai-se do prefabricado do laboratório. No águia-calçada e restantes. Estas aves não sobreviveriam
bosque, um pouco adiante, Carla apresenta a estação se fossem libertadas. Com lesões — como sofrer tiros ou
de tratamento de águas residuais. Tudo funciona por voar contra fios ou carros — ou criadas em cativeiro,
gravidade e segundo processos naturais. Sistema pró- sem saberem como procurar e caçar alimento ou prote-
prio para «aglomerados populacionais pequenos, não ger-se de predadores, morreriam com facilidade.
recorre a energia, tem baixos custos de manutenção e Nuno fala de reprodução de aves irrecuperáveis, atra-
é de fácil integração paisagística». Com paciência — já vés de um intercâmbio com a França e a Espanha.
é o terceiro grupo a que explica a mesma coisa —, des- Juntando reprodutores que estavam separados, surgi-
tapanços sucessivos, começa por mostrar o filtro de riam crias. Estas seriam depois treinadas — de prefe-
retenção dos resíduos sólidos maiores, parece um rência sem qualquer presença humana — para serem
cesto. Segue-se a fossa séptica tricompartimentada e libertadas num habitat apropriado, salvaguardadas as
depois a bacia depuradora, esta sobre a conduta de questões territoriais da própria espécie. Lembro-me que
drenagem perfurada. Aqui é uma fartura de canavial. em Portugal, há meia dúzia de anos, na Ria Formosa,
Neste reduto, as minúsculas bactérias consomem os Daniel estava a fazer isso com bufos-reais, eu vi a cria.
nutrientes dos líquidos residuais, libertando a água
«Utilizar as aves irrecuperáveis para educação ambien-
agora limpa, que se reúne no lago, escorrendo depois tal» é polémico, diz. Algumas crianças poderão sentir
para a ribeira de Alcântara. despertado o desejo de possuírem uma ave em casa,
Centro de recuperação um afecto opressor. Seja como seja, é difícil proteger
aquilo que se ignora. Um petiz, conta Nuno Ventinha,
Mesa metálica levemente aquecida, tapa a cabeça da
diante de codornizes vivas, garantiu-lhe: «As codorni-
gralha com um pano para a acalmar: «A maior parte
zes não são assim, já as vi no supermercado!». Depena-
dos animais que nos chegam às mãos são fruto de
das, claro!
pilhagem», explica a veterinária Ana Albuquerque.
Esses bichos, sem a aprendizagem de sobrevivência, O tempo urge, escurece. Está a ficar frio. O Parque
são com frequência irrecuperáveis, o que equivale a Ecológico de Monsanto vai chamar-se Espaço Monsanto.
dizer que, se forem libertados no seu habitat, não sabe- Para isso, desde Outubro passado, as visitas exteriores
rão alimentar-se nem proteger-se. Estes casos ficam terminaram, por um tempo. Durante essa pausa, serão
classificados como irrecuperáveis. Alguns outros — uns avaliados os últimos cinco anos de actividade. Quem ali
«25%» — recebem tratamento e depois, bem avaliada a trabalha propõe melhorias no futuro próximo.W

Ana Albuquerque,
veterinária Centro de aves irrecuperáveis de Monsanto

Inverno 2001 Parque Biológico 35


congressos

Percurso
Quinta Pedagógica dos Olivais
Por Filipe Vieira

Ao verificar que os jovens que nasciam e cresciam na cozinha: um grupo confeccionou um doce, outro o pão
cidade não tinham noção da vida rural e da actividade e outro manteiga. De seguida, realizou-se actividade
agrícola das quintas, a Câmara Municipal de Lisboa agrícola nas hortas biológicas, incorporação de com-
criou, em 1995, numa área de viveiros municipais, a posto e preparação do terreno para sementeira.
Quinta Pedagógica. Depois todo o grupo fez uma visita guiada pelos cerca
Assim, além de um plano anual de festividades e de dois hectares da quinta, onde foi possível ver as ins-
comemorações, decorrem na quinta várias actividades talações dos animais. Galinhas, patos, coelhos, porcos,
de carácter pedagógico que têm ao mesmo tempo uma burros e cavalos, os prados e pomares e a zona dos
componente lúdica. compostores. Aí houve lugar para uma troca de ideias
Fala-se de visitas guiadas, trabalhos de culinária (para sobre as vantagens do uso de composto.
o efeito existem três cozinhas: padaria, doçaria e quei- No final, tivemos oportunidade de provar os produtos
jaria), veterinária, hortas biológicas, cerâmica e ate- por nós confeccionados e de ouvir um pouco do balan-
liers com vários temas. ço, bastante positivo, dos últimos anos de trabalho
A visita, dia 4 à tarde, iniciou no celeiro da quinta. Aí realizado na quinta e da ideia de criar uma rede nacio-
escutou-se um pouco da sua história e, de seguida, nal de quintas pedagógicas. W
o grupo foi dividido em três para as actividades de

Oficina
Oficina dos Olivais Por Filipe Vieira

No espaço municipal Quinta da Flamenga, na Bela Primeiro houve um período de divulgação de todo o
Vista, Lisboa, realizou-se durante a manhã do dia 4 projecto, sobretudo nas escolas, seguido de uma fase
de Outubro a oficina Hortas pedagógicas. Uma vez que de candidaturas. O apoio técnico e logístico era dado
este é um tema muito abrangente, contou com a par- por técnicos presentes no local. Distribuíram manuais
ticipação de quatro técnicos com diferentes experiên- a todas as famílias durante a fase de candidatura.
cias de trabalho que, na primeira parte da manhã, Esta iniciativa foi elogiada e hoje o espaço é escasso
apresentaram os seus projectos a todos os participan- para todos os interessados em participar. Está em estu-
tes: 30 pessoas. No final, abriram as inscrições para as do a possibilidade de alargar a ideia a outras áreas.
secções de trabalho que iriam decorrer na segunda
O segundo interveniente foi José Silvério da empresa
parte da manhã, em três espaços diferentes, e onde
Climaverde — equipamentos e produtos ecológicos. Esta
esses mesmos temas seriam mais desenvolvidos; cada
apresentação apoiou-se, durante um breve período de
um dos participantes escolhia o seu e, assim, forma-
tempo, num CD-ROM desenvolvido pela empresa, so-
ram-se três pequenos grupos com seis, 11 e 13 pessoas.
bretudo alusivo à compostagem.
O início da manhã decorreu num pequeno auditório. A
A terceira apresentação, feita por Margarida Gonçalves,
primeira apresentação — a única que não teve secção
da escola EB 23, Dr. Joaquim de Barros Paço de Arcos,
de trabalho — foi feita por Josep Manel Ballestero i
foi relativa à criação de um projecto de hortas biológi-
Rossel, do Ayuntamiento de Barcelona, sector de áreas
cas para avaliação dos alunos. Com o envolvimento de
verdes e jardins. Consistiu na mostra (através de dia-
colegas de outras disciplinas e alunos foi possível,
positivos) da área de uma antiga quinta privada (±
numa área já degradada da escola, construir com uma
11000 m2), que tem a particularidade de se situar
orientação ecológica várias hortas de plantas aromáti-
dentro da cidade, onde o ayuntamiento instalou um
cas e hortícolas; ao mesmo tempo, nas aulas teóricas
equipamento de hortas biológicas. É um espaço desti-
falava-se de assuntos relacionados com a agricultura,
nado a famílias residentes em Barcelona onde vários
o solo, as associações de plantas e construíam-se ninhos
técnicos destacados fornecem as ferramentas e
artificiais.
manuais necessários para um óptimo desempenho.
Havia vários objectivos a atingir com este projecto ori- Todos os alunos envolvidos foram avaliados pela sua
ginal: fazer uma área de passeio, educação ambiental, dedicação e pelos resultados obtidos. Um exemplo de
dar noções de agricultura biológica em meio rural e persistência com bons resultados.
promover a comunicação entre as pessoas de diferen- A quarta apresentação consistiu na divulgação de um
tes gerações. projecto, da Câmara Municipal de Lisboa, iniciado em

36 Parque Biológico Inverno 2001


1992, de apoio a escolas da Grande Lisboa que quei- jovens da cidade o contacto com a prática de agricul-
ram montar hortas biológicas dentro das suas instala- tura biológica e o trabalho de equipa. A AGROBIO
ções. Primeiro houve uma divulgação do projecto, (associação de agricultura biológica) forneceu os
depois a selecção de candidaturas e distribuição de manuais técnicos e a Câmara Municipal os logísticos.
material e, no final, a avaliação de todos os projectos. Hoje são 50 as escolas apoiadas, e mais seriam se a
A ideia surgiu com o objectivo de possibilitar aos Câmara disponibilizasse mais meios. W

Circuito
Parque Natural Sintra/Cascais
Dia 5, sexta-feira, os circuitos tomaram todo o pro- tente Norte da serra de Sintra. No Convento dos
grama. Começou cedo, pelas 8h30. As áreas distri- Capuchos um historiador explica um pouco do muito
buídas foram Estuário do Tejo, Parque Natural que sabe. E cativa.
Sintra/Cascais, Arriba Fóssil da Costa da Caparica, De tarde, a chuva continua. O ordenamento do PNSC
Arrábida, Circuito Radical de Monsanto «não é fácil de gerir». «Grupos político-económicos
Os lugares sobram no autocarro. Feriado, trânsito fácil. fortes criam problemas, uma gestão coerente e justa é
Pela janela nuvens cinzentas distantes, chuva perto, difícil de ser mantida. Quem mais paga é quem ali
em catadupa. Virá hoje sol? Resposta longínqua. Olha- vive». Onde é que já ouvi isto?
se a precipitação e uma encosta queimada. Os pinhei- Pela janela vêem-se canaviais alinhados nos campos.
ros são cadáveres negros que morreram de pé, sem Muros de rocha isolam os rectângulos de terreno.
fuga possível, e os seus compinchas de vigília, os euca- Assim limpavam os antigos o terreno cultivável das
liptos, apesar de tostados, já mostram vigorosos reben- pedras esparsas. Hoje, são monumentos: proibido
tos em plena regeneração. estragar. Protegem ainda as culturas do vento, impe-
Abeiramo-nos do ponto mais a oeste de toda a Europa: dem os coelhos de roerem rebentos. Também maciei-
o Cabo da Roca. «Já estamos na envolvente do Parque ras e videiras dependem deles.
Natural Sintra/Cascais», diz o guia. A erva-das-pampas é outra praga a agravar os proble-
No Cabo da Roca, saída, pausa mínima de chuva. Das mas do Parque. Viram-se espécimes que não permitem
espécies de flora endémica cuja existência ali se regis- duvidar disso. Uma visita a repetir. Com sol. W
ta, nada foi possível ver, vento a
zunir, chuva a ameaçar e a cair em
força. Entre o consolo de um café e
de um abrigo, o chorão-africano –
outra infestante —, vindo da África
do Sul, vai resistindo até ao piso-
teio turístico, perto do chão que
desaparece em precipício. Ao fundo
o mar.
Estrada fora a caminho do
Convento dos Capuchos. As acácias
atacam e o êxito é crescente.
Introduzida, hoje é uma infestante
que não deixa vaga para as outras
espécies. Monocultura, monotonia,
perda de diversidade biológica.
Uma fartura. Solução difilicíssima
como diria nos seus alegres 5 ani-
tos o meu amigo João. Cabo da Roca: o ponto mais a oeste da Europa
Coroa de nevoeiro no pico da ver-

Inverno 2001 Parque Biológico 37


evento

Educação ambiental na Aguda


Juntar quem trabalha no campo em educação ambiental, trocar experiências.
Pensado, dito e feito, a Estação Litoral da Aguda realizou em 16 de Novembro um
Workshop de Educação Ambiental

O auditório da Estação Litoral da Aguda de Gaia e a Quinta da Gruta (Maia), o


lotou, logo ao início da manhã, tendo a projecto Delfim, o Zoo de Lisboa e o
abertura sido feita pelo vereador do Zoomarine (Algarve).
Ambiente da Câmara Municipal de Vila Por volta das 10h00, divididos os partici-
Nova de Gaia. Os objectivos deste certa- pantes em vários grupos, Jaime Prata pôs
me centraram-se em «promover uma tudo na rua. Isto é, na areia e depois nos
troca de experiências entre os represen- rochedos, para a visita à zona entre-
tantes das diversas instituições convida- marés da praia da Aguda. Formados
das que promovem a educação ambien- vários minigrupos, houve um que ficou a
tal», bem como «articular modos de inter- seu cargo. Aprendeu-se muito, sob uma
venção» e «divulgar junto do público o atmosfera peculiar: assim quase como se
que se faz em educação ambiental». Entre estivéssemos a visitar um outro planeta
as instituições convidadas contaram-se o onde a vida se organizasse segundo
Oceanário de Lisboa e o Aquário Vasco da padrões inovadores. Mediu-se também a
Gama, o FAPAS e o IPAMB (Instituto de acidez/alcalinidade da água retida nas
Promoção Ambiental), o Parque Biológico poças, a temperatura, falou-se de alguns

Jaime Prata orienta a visita de um minigrupo à zona entre-marés da Aguda, nalguns momentos olhada
por crianças. Fazia-se a medição do pH da água de três poças

38 Parque Biológico Inverno 2001


dos organismos especializadíssimos que ali
vivem e dos estratagemas concebidos pela
evolução para os viabilizar. Palavras novas
como barroeira e cracas, ou mais conheci-
das como mexilhão e lapas, são apenas uma
amostra do universo complexo dos organis-
mos que vivem tanto emersos como imer-
sos. Complicado, não acha?
Num salto ao Parque de Dunas da Aguda,
sítio sob gestão do Parque Biológico de
Gaia, Jaime Prata destacou a importância
dessas zonas vitais, por exemplo, para as
aves migradoras quando estas precisam de
reabastecer e descansar após longas viagens
ou de se reproduzir na época própria, para
além da beleza própria da flora e protecção
Os aquários da Estação Litoral da Aguda permitem conhecer alguma da fauna
do litoral, incomparavelmente superiores e flora do litoral
aos caros esporões em moda.
De regresso à Estação Litoral da Aguda, uma
volta pelo Museu das Pescas e pelos seus lam um espectáculo de luz, cor e movimento de que é
aquários. Alguns animais que costumamos ver mortos difícil desprender o olhar.
na peixaria, entre outros, ali, vivinhos da silva, ganham De tarde, cada um dos representantes das instituições
um encanto singular. Os robalos e as tainhas, os sargos presentes falou das suas experiências pessoais no
e os polvos, as solhas, as anémonas e os bivalves reve- campo da educação ambiental. W

O Parque de Dunas da Aguda, gerido pelo Parque Biológico de Gaia, ilustrou um momento do evento ao fim da
manhã, e foi um argumento de peso para uma melhor compreensão do litoral

Inverno 2001 Parque Biológico 39


espigueiro

Acontece no Parque
As notícias são mais que muitas. Face ao espaço disponível, faz-se aqui um apa-
nhado. Em todas elas um denominador comum: aprender é um processo contínuo
que não pára, qualquer que seja a idade...
«Venha descobrir o apelo da Terra» foi o mote.
Geologia no Verão Muitas instituições responderam. Os cidadãos
também. De Julho a Setembro, decorreram visitas
instrutivas a sítios de interesse geológico durante
uma semana que, no que tocou ao Parque
Biológico de Gaia, incluiu também a vertente bio-
lógica, englobando — dia 14 de Setembro — acti-
vidades como «O meu primeiro herbário» e — no
dia seguinte — o programa «Dunas: conhecer e
conservar», que o Parque também realiza ao longo
de todo o ano.

Fernando Noronha, professor catedrático da Faculdade de Ciências


da Universidade do Porto, chefiou uma visita ao percurso de desco-
berta do Parque Biológico no âmbito da geologia

Na sala polivalente, o botânico Henrique Alves


coordena «O meu primeiro herbário»

Em Lavadores, início do programa «Dunas: conhecer e con-


Fotos: JG/Arquivo PBG

servar», que contou com a participação de Alexandre Leite


Pausa no percurso em S. Jacinto para e de Aurora Futuro, docentes da Faculdade de Engenharia
explicações botânicas

40 Parque Biológico Inverno 2001


Campos de Verão
O Parque Biológico de Gaia realiza actividades pedidas Verão passado, há programas especiais. Foi o caso dos
pelas escolas que o visitam, envolvendo os alunos nos Campos de Verão — ao todo três —, onde, aproveitan-
seus ateliers. do o sol e as temperaturas amenas, essas actividades
Para além disso, em certas épocas do ano, como no cativaram a garotada!

Rita Valente coordenou todos os Campos de Verão do Sandra explica às crianças o que é envasar, sob o olhar
Parque Biológico atento de Joaquim Costa

Cursos de jardinagem
O Parque Biológico de Gaia acolhe e promove cursos financiamento do Fundo Social Europeu e do
nas suas instalações. Há técnicos do Parque, segundo Ministério do Trabalho e da Solidariedade. Também
as diversas disciplinas, que se envolvem neles. Neste decorrem acções de formação da Câmara Municipal de
momento decorrem vários de jardinagem. Mas esse V. N. de Gaia sobre temas diversos: introdução ao Euro,
tema não retém a exclusividade: a empresa municipal Autocad, Processamento de texto e folhas de cálculo,
Águas de Gaia e a Factor Segurança promovem o curso entre muitos outros.
de Formação de Auxiliares Técnicos de Ribeiras, com

Aula de botânica no
laboratório do Parque
Cláudia Vilares aborda aspectos de
design de jardins

Telma Cruz analisa, através de experiências, as


José Luís elucida sobre detalhes características geológicas da terra
práticos de jardinagem
Inverno 2001 Parque Biológico 41
espigueiro

A alegria de vindimar, uma novidade

Vindimas
O Parque Biológico de Gaia recriou a faina das vindi- nicos que os acompanharam. A broa feita por Manuel
mas no passado dia 15 de Setembro. Apanhar uvas tin- Costa, no forno a lenha, com pedaços de chouriço foi a
tas nas ramadas do Parque, juntá-las em cestos gran- iguaria que se destacou no lanche de fim de tarde. Para
des, levá-los para a pisa e pisar com os próprios pés a animar, não houve quem deixasse de rodopiar com as
fruta – um contentamento para os pequenitos e os téc- moças e os moços do Rancho Folclórico de Crestuma.

Ao sol da tarde, miúdos e graúdos na desfolhada Já noite, o Rancho Folclórico e Etnográfico «Os Irmânicos»
da Marmeleira animou a festa

Desfolhada rocas nas cestas a brilhar ao sol da tarde. Tudo feito


O 5.º E da Escola EB2 de Canelas, sob o cuidado do sobretudo pela criançada que rejubila com a experiên-
prof. Jorge, no passado dia 13 de Outubro, fez a feita cia sazonal. O Rancho Folclórico e Etnográfico «Os
da colheita das douradas espigas de milho. O descas- Irmânicos» da Marmeleira com as suas danças e dize-
car das cépalas e ver o grão amarelo alinhado, maça- res fechou com chave-de-ouro a desfolhada.

Curso de
Fotografia da Natureza Oficinas de Primavera
De 1 a 3 de Fevereiro o Parque Biológico de Gaia vai
acolher o IV Curso de Fotografia da Natureza.
O Parque Biológico de Gaia vai organizar, para o
Da responsabilidade de Jorge Nunes, o curso está
período de férias de Páscoa, Oficinas de Primavera.
limitado a 15 inscrições, devendo os participantes
enviar a taxa de inscrição no valor de 10 mil escu- Poderão inscrever-se pessoas desde os 7 aos 15
dos, que inclui oferta de um rolo de diapositivos, anos de idade, formando dois grupos: 7/10 e 11/15.
safaris fotográficos, documentação e certificado de As inscrições poderão ser feitas até ao dia 4 de
participação. Março através do telefone 227878120 ou pelo fax
Mais informações: Parque Biológico de Gaia – 4430 227833583.
Avintes – Telefone 227878120

42 Parque Biológico Inverno 2001


Espalha-se adubo fumegante

Os campeões dos
Henrique Bastos, à esquerda,
orientou os trabalhos morangueiros
Uma tira de terreno no Parque foi arada, fresada.
Adubou-se a terra. Os alunos do 5.º E da Escola EB2 de
Canelas, acompanhados pelo prof. Jorge, com a graça
dos seus 11 anitos, fizeram um cartaz onde dizem ter
dividido o «terreno em cinco camalhões de 1,8 por 7
metros», isto em 2 de Outubro. Em 23 do mesmo mês,
«marcámos o terreno de 40 em 40 centímetros, em três
faixas, e estendemos uma corda para alinhar a planta-
ção. Tratámos dos morangueiros arrancando as folhas
velhas, cortámos as raízes mortas e dividimos a touça em
várias plantinhas». E concluem: «Este camalhão passou a
O fascínio de plantar morangueiros chamar-se Os campeões dos morangueiros».

Uma barba de meio metro


Francisco Oliveira e
O grande barbo nas mãos de
António Martins
António Martins
limpam o lago
(foto: H. Alves, 6/9/2001)

Não se chegou a apurar se era um rapaz ou uma rapa-


riga — eu cá diria que era uma — mas o certo é que
tudo começou porque o lago dos gansos assoreava. As
lamas das enchentes do rio Febros, ocorridas no
Inverno de há um ano, assaparam, e a profundidade
diminuiu. Curiosamente, apesar do elevado trânsito
anterior de palmípedes, quando desassoreavam,
Francisco Oliveira, António Martins e Fernando Nunes
descobriram que as cheias tinham deixado algo mais
do que lama: peixes e peixinhos. E muitos! Os barbos
de todos os tamanhos foram devolvidos ao rio.
Fernando Nunes em
plena missão de desbaste Inverno 2001 Parque Biológico 43
espigueiro

Semana da ciência
e tecnologia

O sexo das tartarugas explicado às crianças por Ana Mafalda

Os cogumelos vistos à lupa no laboratório

O meu primeiro herbário visto pela reportagem da RTP2,


programa «2010» A semana de 19 a 25 de Novembro englobou
muitas actividades no Parque Biológico.
Cogumelos à lupa, herbários, geologia em
laboratório e em exposição («À Mão de
Semear», uma parceria com o Departamento
de Minas da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto), uma viagem ao patri-
mónio geológico da faixa litoral da cidade do
Porto e até o sexo das tartarugas foram temas
fortes que atraíram os meios de comunicação
social. O primeiro a aparecer foi o «Jornal de
Notícias», que publicou no segundo dia uma
reportagem de Helena Norte e de J. Paulo
Coutinho. Depois, apareceram repórteres da
RTP2, Magazine «2010», e a TV Galicia fez
Ainda é possível visitar a exposição «À Mão de Semear» transmissões directas a partir do Parque
Biológico no dia 21 de manhã.W

44 Parque Biológico Inverno 2001


Aniversariante
O Parque Biológico de Gaia comemorou
o seu 18.º aniversário no passado dia 1 de Dezembro
À entrada um realejo. Uma surpresa, desde as 15h00. existem como ruína e que esta empresa municipal pre-
A música, codificada a partir de cartões perfurados, foi tende recuperar no porvir.
uma experiência nova tanto para miúdos como para Depois, seguiu-se a apresentação de várias edições do
graúdos. Alguns, inclusive o autor do livro «A História Parque Biológico. Primeiro, a apresentação do livro de
de Dona Lavandisca Alvéola» — obra apresentada ao Manuel Mouta Faria, «A História de Dona Lavandisca
público nessa tarde — confessaram nunca ter visto
Alvéola». Falou Nuno Oliveira, administrador do Parque
uma destas máquinas ao vivo. No caso, esta peça é
Biológico, e o autor. Decorreu a seguir a apresentação
propriedade da Associação Ilha Mágica, que se juntou
de um videograma sobre desenvolvimento sustentável
de corpo e alma à comemoração.
e a visualização de um CD-ROM «À Descoberta do
Enquanto alguns repetiam o prazer de calcorrear os Parque Biológico».
caminhos do Parque, outros, pelas 16h00, começaram
Ao final, pelas 17h30, chegou a vez dos contadores de
a visitar a exposição «Parque Biológico 18 anos depois:
Passado e Futuro». A mostra, ao lembrar as origens, histórias da Associação Ilha Mágica encantarem
foca alguma coisa do que se faz no Parque e termina pequenos e grandes, ao sabor de um chá e de um cho-
com vários projectos arquitectónicos de casas que colate quente, como convém em dias frios.W

Manuel Mouta Faria, autor de


«A História de Dona Lavandisca Alvéola»,
explica os pontos de aderência entre o
conteúdo do livro e a realidade,
escutado por um público atento que
acorreu ao auditório do Parque Biológico
de Gaia. Ao lado do autor, Nuno Gomes
Oliveira, e Telma Cruz, técnica de
educação ambiental da casa

A Ilha Mágica, associação cultural avin-


tense, deliciou os presentes com os seus
contadores de histórias

Inverno 2001 Parque Biológico 45


infância

46 Parque Biológico Inverno 2001


R D F H I O L L Descobre qual dos sentidos não é referido
S T Q O T N U P nesta sopa de letras.
Ú G U N E P Z T
M A C I S Ú M U
E O Ç S E H V B Falta o
S O R I E H C O
A T O Q U E Z H
H J S Ç A B P N 1. Abraço 6. Música
E T N E U Q X A 2. Amarelo 7. Quente
T E S D D H U T 3. Castanho 8. Sino
Ç A B R A Ç O S 4. Cheiros 9. Toque
L O L E R A M A 5. Luz 10. Verde
P O Ç V P I R C Autoria: Rita Valente

Inverno 2001 Parque Biológico 47


O rio Febros passa pelo Parque Biológico. Quando a chuva se
Foto da Estação
tribui a Águas de Gaia, E.M., que o ajuda a despoluir, ao colocar
demora, logo se agiganta. Resultado: ameaça transbordar, e por os tubos que recolhem os diversos efluentes e os conduzem a uma
vezes chega a fazê-lo! No passado dia 22 de Outubro, a ponte Estação de Tratamento de Águas Residuais (em construção) para
granítica do percurso submergiu. Mas só por um dia. posterior tratamento antes de serem lançados no rio. No Parque
A despoluição deste rio é um sonho em andamento. Para isso con- há uma vitrina que ilustra esse processo.

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