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“Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar” –
Hc 2.14
6 de julho de 2013
Introdução:
Em um artigo recente escrevi sobre a suficiência da Escritura, esta é uma doutrina que
realmente acredito. Porém não tem possibilidade de ser um pregador da Bíblia,
acreditando na suficiência e não ser adepto do método expositivo de pregação. Por
isso, venho por meio deste, mesmo sendo um pouco longo, pois é a introdução de uma
monografia, divulgar uma defesa explícita e convicta do único método que
verdadeiramente honra a Escritura como palavra de Deus.
O conhecido “príncipe dos pregadores” Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era
especialista na pregação textual, porém sua pregação textual era baseada em uma
aplicada exegese e na explicação de algum texto específico. Percebe-se que até
mesmo suas características temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns
chamam hoje de pregação expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver
claramente um grande cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon tinha uma habilidade muito grande nos estudos e
na oratória, algo que não se aplica à maioria das pessoas e principalmente aos
pregadores brasileiros. Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por
esse brilhante pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de
Deus existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da Psicologia,
Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos da oração,
exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das Escrituras.
A pregação expositiva se baseia no labor e na busca intensa de expor um texto mais
extenso de acordo com o contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os
tópicos oferecidos pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta
aos ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese
sobre Pregação Bíblica diz:
A pregação deve ser em sua essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas
um instrumento a ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador
deve ser explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e
transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece
que esse é o desejo de Deus, quando declara : “...assim será a palavra que sair da minha
boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que
a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em
anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto das
Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que
pregação expositiva é simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua
estrutura se limita às porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a autoridade de inserir seu próprio tema e suas
idéias ao texto, pois o próprio lhe concede todas as partes do sermão e toda a
estrutura necessária para que seja explicado.[1]
Cada porção exegética em nossas Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os
temas e tópicos necessários para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo
com que o pregador se atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o
contexto e não tome o lugar do próprio texto.
A pregação nos dias atuais está sendo deixada de lado ou alguns meios de
comunicações a têm substituído, vários são os argumentos e alguns até convincentes
diante de uma análise sociológica de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma
declaração que revela o que alguns pastores têm pensado em relação à pregação:
“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na
sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o
livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas
novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e
recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o
ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente
e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele...”(Lc 4:16-20-
NVI).
Segundo o costume judaico lê-se uma porção da Escritura, explica e aplica a porção,
foi isso que Jesus fez. A diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto
profético se deu no fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato
bíblico o cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na
vida de Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus continua ministrando e faz uma exposição mais longa para
provar sua Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-
los e aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no
Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a esse método deixando claro que a exposição fiel
da palavra de Deus é a palavra de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos
como em Atos dos Apóstolos 2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação dirigida pelos Apóstolos
e discípulos eram exposições das Escrituras, toda estrutura do discurso era tirada das
Escrituras e apresentadas com aplicação direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas
responsabilidades como verdadeiros dispenseiros.
Os reformadores foram os homens que mais elaboraram conceitos profundos sobre a
palavra de Deus. Sempre quando alguém escreve ou fala de pregação esse não pode
deixar de lado uma das afirmações teológicas mais importantes para reforma
protestante e posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura
– a supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente
todos os reformadores pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando
toda a Bíblia ou expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João
Calvino (1997, p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta
por excelência: “A nossa única necessidade é a de não ter em vista nenhum outro
objetivo além do desejo sincero de só fazer o bem. Assim devemos também proceder no
tocante à exposição da Escritura”.
Em seu livro Creio na Pregação no capítulo um, John Stott (2003, p. 15) faz um esboço
histórico sobre a pregação mostrando que todos os homens poderosos nas mãos de
Deus foram homens que acreditavam que Deus agia através da pregação e que esses
homens quando pregavam estavam anunciando a palavra de Deus e unicamente isso.
O Rev. Hernandes Dias Lopes falando sobre o pensamento de Calvino sobre a
pregação declara:
A pregação expositiva é Deus falando através das Escrituras, usando os homens para
cumprir seus propósitos de resgatar as ovelhas perdidas e edificar sua igreja, a fim de
apresentá-la perfeita e transformada.
Essa pequena argumentação sobre pregação e palavra é um pouco perigosa, hoje há
muitos falsos mestres que se dizendo pregadores da Palavra usurpam a autoridade
divina, dizem que são inspirados por Deus e uns poucos até afirmam serem
“apóstolos” e que suas igrejas são a continuação do livro de Atos.
Os textos bíblicos sobre pregação deixam claro que a pregação é a palavra de Deus,
somente quando ela é bíblica e expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica
queremos dizer que todo seu conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto.
Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...
(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas
idéias ou formular uma pregação temática com versos isolados fora de contexto.
Paulo está tendo em vista o que tinha dito anteriormente na carta ao escrever no
terceiro capítulo, que: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a
palavra que deve ser pregada é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-
gramatical e de seu propósito para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus
evitando que o mesmo tire suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem
volta, deixando de lado o que Deus quer falar.
O Rev. Hernandes Dias Lopes (2004, p. 46) faz uma afirmação sobre o pensamento de
Lutero em relação à pregação e palavra de Deus:
“Martinho Lutero cria que a pregação era o meio de salvação, por não ser
uma simples atividade humana, mas a própria Palavra de Deus
proclamando a si mesma mediante o pregador”.
O pregador é apenas canal, vaso e arauto. O Rev.John Stott (2005, p. 12) trabalha muito
bem o texto de Pedro para deixar claro que a responsabilidade do pregador é expor e
fazer sua exposição ser a própria Palavra:
“... sua tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada. E embora
pregue no poder do Espírito Santo, ele não é inspirado pelo Espírito no
sentido em que os profetas o foram. Certo, se alguém fala, deve falar de
acordo com os oráculos de Deus, ou como se pronunciasse palavras de
Deus” (1Pe 4:11).
Conclusão:
A pregação expositiva é sem dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de
Deus, a Bíblia continua sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e
conduzí-los à vida eterna.
A Palavra nos fornece todas as técnicas de crescimento e princípios de liderança que
precisamos, o homem de Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou
informações empresariais para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é
que cuida de sua igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala
na Escritura.
O que a liderança atual precisa na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira
pregação e amor por essa Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.
[1] Precisamos ser honestos em dizer que nem todos os textos fornecem essas facilidades, alguns
textos são mais bem explicados se forem usados outros métodos, mas mesmo assim o pregador
não tem o direito de usar o texto como quer. Sempre é necessário uma interpretação e uma
aplicação correta e digna do próprio texto. O Pregador não pode esquecer que está diante da
palavra de Deus e que ele como um arauto é servo da Palavra.
[2] Essas áreas tem seu valor e importância, mas muitos têm usado essas ferramentas para
intimidar e
persuadir as pessoas para que acreditem sem questionar em suas idéias e pregações.
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Unknown às 00:20
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