SOBRE O LIVRO “MARANHÃO SOBRINHO – POESIA ESPARSA”

A POESIA ESPARSA DE MARANHÃO SOBRINHO

José Neres
Dino Cavalcante

Há exatos 136 anos nascia em Barra do Corda um jovem com nome (de) gigante:
José Américo Augusto Olímpio Cavalcante de Albuquerque Maranhão Sobrinho e há
exatos 100 anos falecia, nos arredores de Manaus o poeta e gênio Maranhão Sobrinho,
então com 36 anos de uma vida construída pela e na poesia.
Desde a infância mostrou o poeta cordino uma alma irrequieta, sedenta de novos
ares e saberes, considerou pequena a cidade para o seu grandedesejo de descobrimento.
Assim, em meados de 1900, transfere-se para a capital do Maranhão, para continuar a
sua árdua busca pelo conhecimento, matriculando-se na Escola Normal. Porém pouco
durou essa fase, tendo que, por motivos diversos, deixar a escola regular e se matricular
numa outra – esta mais ampla e livre – a escola da vida, da boemia, do jornalismo, da
literatura, da viagem, etc.
Viajou ao Pará e ao Amazonas, sempre colaborando em todos os veículos de
informação e cultura que encontrou as portas abertas, deixando em dezenas de jornais,
artigos, visões de cultura, artigos, poemas, etc. Dessa forma, foi Maranhão Sobrinho um
autor com uma obra muito esparsa, tendo textos seus em jornais de vários Estados,
como Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pará Amazonas, entre outros.
O problema que ocorre numa situação como essa é que o pesquisador terá sempre
muitos problemas para analisar a obra, uma vez que não dispõe, facilmente, de uma
parte significativa de sua produção intelectual, causando sempre interpretações mais ou
menos superficiais ou apressadas.
Foi para dirimir essas interpretações apressadas da obra do poeta cordino
Maranhão Sobrinho que o pesquisador e membro da Academia Cordina de Letras
Kissyan Castro, lançou-se ao encalço da produção esparsa do poeta de Papéis Velhos...
Roídos pela Traça do Símbolo. E o resultado desse fecundo e imenso de trabalho de
resgatar inúmeros poemas quase perdidos pelo tempo é o livro Maranhão Sobrinho:
Poesias Esparsas, publicado pela ABCL (Sigla da Academia) e pela 360º. Graus
Editora, no simbólico ano de 2015.
O livro traz algumas informações preciosas para estudantes e pesquisadores da
obra deste grande poeta maranhense, como a discussão sobre as três possíveis datas de
nascimento do poeta, um percurso biográfico que privilegia episódios relevantes da vida
do autor de Estatuetas, além, o que é o principal objetivo do livro, uma reunião de
poemas que a sociedade maranhense ainda não conhecia e que saíra do mesmo gênio
literário que os seus contidos nos três livros publicados por Maranhão Sobrinho. E esses
poemas, antes perdidos, mas agora devolvidos à sociedade pelo jovem poeta e
pesquisador Kissyan Castro, revelam a genialidade desse cordino de 1879, com uma
capacidade criadora que vai muito além da média de nossos poetas da época.
Com a leitura de poemas, pode-se depreender algumas questões até então
obscuras para os pesquisadores, como por exemplo, a relação entre o nosso poeta e os
poetas românticos, da segunda e terceira gerações, isto é, de que maneira a poética de
um Álvares de Azevedo, de um Casimiro de Abreu, de um Castro Alves aparace nos
versos do poeta cordino. E isso se verifica com a leitura de poemas, como A Escola
(publicado em 1903, em São Luís), Necrópole (publicado em 1906, em Manaus), em
que emergem vozes dos poetas românticos nos versos do nosso simbolista.
Com essa pesquisa e consequentemente com essa publicação, Kissyan Castro
presta um relevante trabalho à sociedade leitora do Maranhão, pois devolve a ela um
trabalho de um dos nossos mais importantes nomes de nossa fecunda literatura.
Podemos dizer que, neste centenário de morte de Maranhão Sobrinho, é o Maranhão
que recebe o maior presente.

José Neres é Mestre em Educação, Professor, Crítico Literário, Ensaísta, Escritor e Poeta. É membro da
Academia Maranhense de Letras.

Dino Cavalcante é Doutor em Literatura Brasileira. Crítico Literário e Ensaísta. Professor do

Departamento de Letras da UFMA, membro permanente do Mestrado em Letras.