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O objetivo deste artigo é descrever as estratégias das equipes de enfermagem para a identificação, avaliação e
intervenções da dor em recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Estudo
quantitativo, descritivo, com 62 profissionais das duas UTIN na cidade de Feira de Santana, Bahia, em 2010. Os
dados foram coletados mediante a aplicação de questionário estruturado. Para a análise, utilizou-se a estatística
descritiva. Os resultados apontaram que a estratégia mais referida para a identificação da dor foi a observação em
relação ao tipo de choro, todavia não foram utilizadas escalas para a avaliação da dor de forma sistematizada. Sobre
as intervenções de enfermagem para alívio da dor, predominou a solicitação da avaliação do profissional médico
antes de qualquer ação. Concluiu-se que a abordagem da dor pelos profissionais de enfermagem ainda não estava
sendo realizada de forma sistematizada nas UTIN estudadas e tampouco estava baseada em evidências científicas.
PALAVRAS-CHAVE: Cuidado do lactente. Dor. Enfermagem neonatal. Unidades de terapia intensiva neonatal.
The purpose of this article is to describe the strategies of nursing teams for the identification, assessment and
intervention of pain in hospitalized newborns in intensive care units (NICU). A quantitative, descriptive study, with
62 professionals from two intensive care units in the city of Feira de Santana, Bahia, in 2010. Data was collected from
the application of a structured questionnaire. Descriptive statistics were used for analysis. The results demonstrated
that the most referred to strategy to identify pain was observation regarding the type of crying; nevertheless scales are
not used to systematically assess the pain. In relation to nursing interventions for pain relief, the request for evaluation
by the medical professional prevailed before any action. It was concluded that the approach to pain by nursing
professionals is not yet being conducted in a systematic way in the studied NICU, nor is it based on scientific evidence.
KEY WORDS: Care of the newborn. Pain. Neonatal nursing. Neonatal intensive care units enfermagem neonatal.
El objetivo del presente artículo es describir las estrategias de los equipos de enfermería para la identificación,
evaluación e intervenciones del dolor en recién nacidos hospitalizados en unidades de cuidados intensivos (UCIN).
Estudio cuantitativo, descriptivo, con 62 profesionales de dos UCIN en la ciudad de Feira de Santana, Bahía,
1
Enfermeira Assistencial do Hospital Estadual da Criança, Feira de Santana, Bahia, Brasil. gabriellaaraujo@hotmail.com
2
Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia
(UFBA). julidefreitas@hotmail.com
3
Professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da UFBA. deisy@ufrb.edu.br
4
Doutoras. Professoras do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da UFBA. climenecamargo@hotmail.com; darcisantarosa@gmail.com
5
Professor Doutor da Universidade Estadual de Feira de Santana. mon.ica@terra.com.br
en 2010. Los datos se obtuvieron de la aplicación de un cuestionario estructurado. Para el análisis, se utilizó
estadística descriptiva. Los resultados apuntaron que la estrategia más referida para la identificación del dolor fue la
observación en relación al tipo de llanto, pero no se utilizan escalas para evaluar sistemáticamente el dolor. Acerca
de las intervenciones de enfermería para aliviar el dolor, predominó la solicitación de evaluación del profesional
médico antes de cualquier acción. Se concluye que el abordaje del dolor por los profesionales de enfermería aún no
está ocurriendo de manera sistemática en las UCIN estudiadas ni basada en evidencias científicas.
PALABRAS-CLAVE: Cuidado infantil. Dolor. Enfermería neonatal. Unidades de terapia intensiva neonatal.
INTRODUÇÃO
A dor, por ser um fenômeno subjetivo, pode Estudos têm mostrado a necessidade de siste-
ser conceituada como uma experiência pes- matização no processo de avaliação e tratamen-
soal, complexa, multidimensional, mediada por to da dor em neonatos por parte da equipe de
vários componentes sensoriais, afetivos, cog- enfermagem (BOTTEGA et al., 2014; CAETANO
nitivos, sociais e comportamentais. Relaciona- et al., 2013; PAIXÃO et al., 2011; SANTOS;
-se também com particularidades do ambiente RIBEIRO; SANTANA, 2012). Essa ação requer
onde o fenômeno nociceptivo é experimentado desses profissionais o desafio de pautar sua as-
(CHRISTOFFEL et al., 2009). sistência num conhecimento baseado em evi-
Os lactentes pré-verbais, especialmente os re- dências científicas.
cém-nascidos (RN), diferentemente das crianças, Assim, reconhecendo a necessidade da abor-
não são capazes de verbalizar a dor. Desta for- dagem da dor no recém-nascido com base na
ma, a manifestação da sensação dolorosa se dá sua singularidade, as repercussões que a dor
por meio de uma série de parâmetros físicos e pode causar a curto e longo prazo no seu desen-
comportamentais que se modificam diante do es- volvimento, o papel da equipe de enfermagem
tímulo doloroso (GUINSBURG; CUENCA, 2010). na assistência neonatal e a ausência de inves-
Logo, a necessidade de expressão verbal da dor, tigações sobre a temática da dor nas unidades
para sua identificação, é indispensável para que selecionadas para este estudo, estabeleceu-se a
o fenômeno não passe despercebido pelos pro- seguinte questão norteadora: Quais são as estra-
fissionais de saúde (SCOCHI et al., 2006). tégias utilizadas pelas equipes de enfermagem
A dor tem consequências a curto e longo para a identificação, avaliação e intervenções da
prazo no recém-nascido, tais como alterações dor em recém-nascidos internados em Unidades
fisiológicas e comportamentais que levam ao au- de Terapia Intensiva? Diante de tal questiona-
mento da morbimortalidade, alterações nocicep- mento, este artigo tem o objetivo de descrever as
tivas, cognitivas e psiquiátricas (MARGOTTO; estratégias das equipes de enfermagem para a
NUNES, 2006). identificação, avaliação e intervenções da dor
Desta forma, a prevenção da dor em re- em recém-nascidos internados em Unidades de
cém-nascidos deve ser o objetivo de todos os Terapia Intensiva.
profissionais de saúde, visto que exposições do-
lorosas repetidas têm potencial para consequên- MATERIAL E MÉTODOS
cias deletérias. Neste contexto, recomenda-se
avaliar a dor neonatal rotineiramente, antes e Trata-se de pesquisa quantitativa e descritiva
após procedimentos, por meio de ferramentas realizada em duas Unidades de Terapia Intensiva
multidimensionais escolhidas para direcionar a Neonatal na cidade de Feira de Santana, Bahia,
prestação de uma assistência eficaz para alívio Brasil, entre os meses de julho a setembro de 2010.
da dor (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS; No período do estudo, as equipes de en-
CANADIAN PAEDIATRIC SOCIETY, 2006). fermagem dos dois únicos serviços de terapia
Tabela 1 – Caracterização dos profissionais de enfermagem das UTIN – Feira de Santana, Bahia, Brasil
– 2010
Características N Frequências
Sexo (N = 62)
Masculino 02 3,2
Feminino 60 96,8
Faixa etária (N = 62)
20 – 29 anos 10 16,1
30 – 39 anos 30 48,4
40 – 49 anos 21 33,9
Mais de 50 anos 01 1,6
Formação profissional (N = 61)*
Enfermeira 15 24,6
Técnico de enfermagem 43 70,5
Auxiliar de enfermagem 03 4,9
*
Tempo de formação profissional (N = 61)
Menos de 1 ano 03 4,9
1 – 5 anos 13 21,3
6 – 10 anos 15 24,6
Mais de 10 anos 30 49,2
*
Tempo de trabalho em UTI Neonatal (N = 60)
Menos de 1 ano 08 13,3
1 – 5 anos 26 43,3
6 – 10 anos 21 35,0
Mais de 10 anos 05 8,4
Fonte: Elaboração própria.
* Dados válidos excluídos os ignorados (participantes que não responderam).
O Gráfico 1 descreve a distribuição das ca- em situação de dor que foram relatadas pelos
racterísticas fisiológicas (aumento da frequência profissionais do estudo como parâmetro obser-
respiratória, queda da saturação de oxigênio, vado para identificar a dor nos recém-nascidos.
temperatura corpórea e aumento da frequência As características mais observadas foram: o tipo
cardíaca) e comportamentais (tipo de choro, mo- de choro (90,3%), os movimentos corporais
vimentos corporais, alterações do sono, caretas (64,5%), as caretas (48,4%) e o aumento da fre-
e alterações no padrão alimentar) do neonato quência cardíaca (43,5%).
Ao serem questionados sobre a dor no RN, escalas de avaliação da dor no neonato, 39,3%
todos os entrevistados acreditavam que este sen- afirmaram conhecê-las, 60,7% não conheciam e
te dor e julgaram ser capazes de reconhecê-la. nenhum dos profissionais as utilizava. Alegaram
Entretanto, conforme os dados apresentados na que o uso dessas escalas não fazia parte da roti-
Tabela 2, em relação ao conhecimento sobre na da UTIN em que trabalhavam.
Tabela 2 – Distribuição de profissionais de Enfermagem das UTIN por categoria, segundo conhecimento
e uso das escalas de dor para RN – Feira de Santana, Bahia, Brasil – 2010*
Conhecimento e uso das escalas de avaliação da dor
Categoria profissional Conhece Não conhece Usa Total
N % N % N % N
Enfermeira 13 86,7 02 13,3 00 00,0 15
Técnico de Enfermagem 11 25,6 32 74,4 00 00,0 43
Auxiliar de Enfermagem 00 00,0 03 100,0 00 00,0 03
Total 24 39,3 37 60,7 00 00,0 61
Fonte: Elaboração própria.
* Dados válidos excluídos os ignorados (participantes que não responderam).
48,4% realizavam a mudança de decúbito, 46,8% massagens, 14,5% utilizavam anteparos no leito
utilizavam a glicose via oral durante estímulo para promover o conforto e a segurança, 4,8%
doloroso, 42,0% administravam medicamento colocavam o bebê no colo, 3,2% alimentavam
prescrito, 37,0% realizavam sucção não nutritiva, o neonato quando havia dieta liberada e 1,6%
32,2% conversavam com o bebê, 30,6% faziam realizavam banho nos recém-nascidos.
Gráfico 2 – Distribuição das intervenções adotadas pelos profissionais de enfermagem para o manejo
da dor em RN nas UTIN – Feira de Santana, Bahia, Brasil – 2010
semelhantes encontraram que, no momento de escala para avaliação da dor. Concluiu-se que a
avaliar a dor, apenas 1 (4,2%) (CAETANO et al., ausência do uso de instrumentos multidimensio-
2013) e 7 (29,2%) (SANTOS et al., 2012) informa- nais interfere diretamente no processo de enfer-
ram que utilizavam escalas próprias de avaliação magem, visto que a avaliação da dor faz parte da
da dor. Esta questão evidencia que a avaliação primeira fase desse processo, podendo compro-
da dor nesses serviços pode estar sendo feita de meter as demais. Desse modo, acredita-se que
maneira não sistemática e, provavelmente, ba- a realização de uma avaliação acurada sobre a
seada em critérios subjetivos, sem embasamento presença e a graduação de intensidade da dor
em evidências científicas. Entretanto, seria preci- pode interferir na qualidade do cuidado de en-
so realizar outras investigações para identificar as fermagem prestado ao neonato (PRESBYTERO;
possíveis causas dessa conduta. COSTA; SANTOS, 2010).
Para atuar terapeuticamente diante da dor, Analisando as intervenções adotadas para o
não basta saber que o neonato tem modos de manejo da dor pela equipe de enfermagem, a
manifestá-la; é preciso que se disponha de ins- maioria respondeu que solicita avaliação médi-
trumentos que decodifiquem a linguagem da dor, ca. Parte dos profissionais, porém, referiu realizar
capacitando o cuidador para identificá-la com mudança de decúbito, uso da glicose, adminis-
maior segurança, evitando manter esse tema no tração de medicamento prescrito, sucção não
nível da subjetividade. Com esse objetivo é que nutritiva, dentre outras. O pedido de avaliação
foram desenvolvidas as escalas unidimensionais, médica diante da dor no recém-nascido pode
que avaliam a resposta comportamental à dor, e estar revelando insegurança por parte da equi-
multidimensionais, que incluem parâmetros ob- pe na condução desse problema e no emprego
jetivos e subjetivos relacionados à resposta a dor de medidas para o alívio da dor. Evidencia-se,
expressa pelo RN (GUINSBURG; CUENCA, 2010). nessas unidades, que o papel do médico como
Sabe-se que a avaliação da dor é algo subjeti- responsável por tratar a dor com medidas far-
vo e abstrato, sendo necessário dispor de instru- macológicas ainda é predominante. Entretanto,
mentos que traduzam a linguagem da dor. Assim, em relação à dor neonatal, as intervenções não
a adequada avaliação da dor é fundamental, uma farmacológicas são tão importantes quanto as
vez que dela depende a tomada decisão, com des- farmacológicas, porém devem ser mais bem di-
taque para a implementação de medidas analgési- fundidas na equipe de enfermagem, por serem
cas. Avaliar a dor requer habilidade e experiência métodos de alívio e de prevenção da dor neo-
profissional, aliado ao conhecimento específico natal e também da desorganização e agitação
sobre a escala mais indicada para a idade gesta- desnecessária, além de serem de baixo custo
cional e o contexto (BUENO et al., 2013). (PRESBYTERO; COSTA; SANTOS, 2010).
Estudo sobre a discordância entre pais e pro- Dentre as medidas não farmacológicas para
fissionais de saúde quanto à intensidade da dor alívio da dor citadas na literatura, tem-se: uso de
no recém-nascido criticamente doente concluiu glicose/sacarose via oral, sucção não nutritiva,
que, em razão dos múltiplos fatores que podem amamentação, contato pele a pele, contenção,
contribuir para a heterogeneidade da avaliação colo, terapia do toque, massagens, musicotera-
feita por observadores adultos da dor neonatal pia, posicionamento/manuseio, enrolamento,
e da dificuldade de se controlar tais fatores, é diminuição de ruídos e luminosidade (AMARAL
recomendável o uso de instrumentos validados et al., 2014; AQUINO; CHRISTOFFEL, 2010;
para a avaliação da dor desses recém-nascidos CAETANO et al., 2013; CORDEIRO, COSTA,
(ELIAS et al., 2008). 2014; CRESCÊNCIO; ZANELATO; LEVENTHAL,
Investigação realizada na cidade de Maceió, 2009; MOTTA; CUNHA, 2015). Essas medidas
com 15 enfermeiras de Unidade de Cuidados são consideradas essenciais para a garantia de
Intermediários Neonatal (UCI NEO) e de UTIN, um cuidado qualificado e humanizado ao RN,
evidenciou que apenas uma entrevistada utilizou acrescido da prevenção de possíveis danos
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