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23/04/2019 Animal que fala - ζῷον λόγοϛ ἔχων: O petróleo é nosso?

A lógica de lawfare na privatização e o não-saber político do brasileiro

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Animal que fala - ζῷον λόγοϛ ἔχων


Blog do Prof. Wécio - Ensaios de filosofia crítica

SEXTA-FEIRA, 1 DE JUNHO DE 2018 SUBSCRIBE BY EMAIL

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O petróleo é nosso? A lógica de lawfare na privatização e o não-saber
político do brasileiro
PROFESSOR NA UFPB E DOUTOR
(Série Movimento dos Caminhoneiros - Parte II) EM FILOSOFIA BRASIL/ALEMANHA
(HGB-LEIPZIG).
Prof. Wécio
por Wécio Pinheiro Araújo
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“Quem, de três milênios, não conhece a própria história, vive
na escuridão e na ignorância”
Goethe, poeta alemão.
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No cotidiano de toda movimentação política neste final de maio, talvez
o único elemento uníssono no discurso dos caminhoneiros, foi
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enxergar o problema da alta recorde no preço do diesel, nos impostos
que financiam serviços vitais como educação e saúde públicas – ► 2019 (3)
serviços dos quais suas próprias famílias dependem. Com a luta ▼ 2018 (11)
política focada apenas contra o governo e os impostos, o Capital mais ► Novembro (2)
uma vez sai ileso para assistir de camarote o quebra pau interno entre
► Agosto (1)
os brasileiros. Sem esquecer que no caso de conquistada a pífia
redução no preço do diesel, a sociedade brasileira é que pagará a ► Julho (1)
conta: mais uma vez o Capital intocado; o não-Sujeito da política ▼ Junho (1)
prossegue protegido em seu movimento autônomo de auto- O petróleo é nosso? A lógica de
valorização. Digam-me lá se o poeta alemão citado em nossa epígrafe lawfare na privati...
não tem razão em seus versos? Se na conjuntura global, o Capital
► Maio (1)
determina o conteúdo da nossa vida social (como esboçamos na Parte I
desta análise); para completar, internamente o brasileiro ainda é vítima ► Abril (1)
da própria ignorância política. Enquanto o Capital é o não-Sujeito da ► Fevereiro (2)
O presidente Getulio Vargas em 1952,
política, a ousadia da ignorância nacional representa o não-saber
► Janeiro (2)
fotografado por Renato Pinheiro. político, a exemplo das vozes que pedem intervenção militar.

Reação do capital financeiro à atual situação política


brasileira: segundo o jornal Valor Econômico[1], no
dia 18 de maio último, a Petrobrás possuía valor de
mercado em torno de R$ 368 bilhões; mas desde que
foi iniciada a greve dos caminhoneiros, a empresa vem
despencando no mercado financeiro e já perdeu mais
de R$ 120 bilhões em seu valor de mercado. Ou seja,
se no início deste mês, as ações da “estatal” vinham em
crescente valorização impulsionada pelo balanço
trimestral da companhia, incluindo o anúncio de
retomada dos pagamentos dos dividendos ao capital
financeiro - os chamados acionistas, verdadeiros donos
da Petrobras; agora, na segunda metade de maio, diante
da instabilidade política interna, o capital
simplesmente "se retira" de onde "nunca esteve", tendo O presidente Lula visitando
a Bacia de Campos em 2006.
em vista que a própria “valorização” da Petrobras no
período de alta tem uma natureza fictícia no caráter
especulativo do movimento do Mercado. Embora, mesmo como um movimento virtual e hoje
majoritariamente digital – pois não move uma cédula de moeda tangível –, essa fuga de capitais tem
implicações reais para uma economia subjugada como a brasileira.

Me parece que Marx tinha razão quando escreveu em O Capital que “O nome de algo é totalmente exterior à
sua natureza. Não sei nada de um homem quando sei apenas que ele se chama Jacó”[2] – ou de uma empresa
se apenas sei que se chama Petrobras, podemos complementar em analogia. Quero dizer que, nesta direção, é
preciso se elevar do vazio abstrato do nome em sua imediatez, e buscar as mediações capazes de revelar a
realidade efetiva e concreta da coisa. Apesar do nome tão brasileiro, será que a Petrobras realmente pertence
ao povo brasileiro? Mais uma vez, parece ser inevitável recorrermos à história.

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23/04/2019 Animal que fala - ζῷον λόγοϛ ἔχων: O petróleo é nosso? A lógica de lawfare na privatização e o não-saber político do brasileiro
O afamado slogan "O petróleo é nosso!" foi a máxima que, segundo historiadores, se popularizou ao ser
proferida pelo então presidente Getúlio Vargas, por ocasião da descoberta de reservas de petróleo na Bahia.
Mais tarde, a frase ganha ampla estatura ideológica e se torna bandeira nacionalista da Campanha do
Petróleo, patrocinada pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo (CEDPEN), e promovida por nacionalistas
contra a abertura da exploração do petróleo ao capital estrangeiro. Na esteira desse movimento, em 1953 foi
criada a empresa chamada Petróleo Brasileiro S.A, mais conhecida como Petrobras.

1ª Convenção de Defesa do Petróleo (1948).


Na mesa, os generais Horta Barbosa, Leitão de Carvalho e Raimundo Sampaio.

Nesse ínterim, o heterogêneo campo das disputas políticas se constitui em uma amálgama nacionalista que
mistura, tanto militares de direita como partidos e movimentos de esquerda, ambos defendendo, apesar de
suas diferenças, o monopólio estatal da exploração do petróleo sob a bandeira “O petróleo é nosso!”. Neste
cenário já teríamos uma contradição importante desenhada na disputa entre perspectivas nacionalistas
polarizadas em extremos do espectro ideológico, mas a história também registra um outro grupo: os
defensores do capital estrangeiro, que foram tachados por seus opositores pela alcunha de “entreguistas”. O
próprio Partido Comunista Brasileiro (PCB) fez panfletagem contra o "entreguismo".

Guardadas as devidas proporções e particularidades de cada momento histórico, é possível identificar a


generalidade do Frankenstein político brasileiro, desde a campanha “O petróleo é nosso!” até a atual confusão
a que chegou o “Fora Temer!”, situação agravada pela “greve” dos caminhoneiros, que são apoiados por
setores da direita, da esquerda e até dos militares; de bolsonaros a lulistas – segundo matéria da Folha de São
Paulo publicada nesta sexta (01/06), 87% da população brasileira demonstrou apoio aos caminhoneiros. O
folclore do caos político brasileiro é tão doido que tem caminhoneiro nas redes sociais xingando o governo
Temer de comunista. Pode? Nem Freud explica; e Marx, coitado, estaria se remexendo no túmulo se ainda
restasse alguma coisa dele no cemitério londrino de Highgate. Uma coisa é certa: o Brasil não permite a
aplicação vertical de esquemas teóricos engessados.

Resultado daquela primeira quadra histórica: a campanha “O petróleo é nosso!” saiu "vitoriosa" por cerca de
quatro décadas, levando à consolidação da Petrobras e à institucionalização do monopólio estatal da
exploração, do refino e do transporte; pelo menos em tese, mas por que? Vejamos.

Em 1997, foi promulgada a Lei do Petróleo (Lei nº. 9.478) e foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP)
como aparato jurídico-institucional para derrubar o monopólio estatal por dentro dos próprios limites do
Estado de Direito, e assim aderir a grande parte das recomendações dos “entreguistas” sob a defesa da
privatização como medida para conter o excesso de Estado que significaria um obstáculo para o crescimento
do Brasil neste setor. De lá pra cá, a Petrobras passou a integrar o carro de frente do projeto neoliberal iniciado
pelo governo FHC já desde o Plano Real, no sentido de preparar o Brasil para a financeirização da sua
economia, ou seja, para entregar tudo ao capital financeiro. Também a gestão petista tem sua culpa no
cartório, pois foi em outubro de 2010 que a Petrobras bateu o recorde de maior capitalização em capital aberto
da história mundial, com R$ 127 bilhões, quase o dobro da até então recordista, a empresa japonesa Nippon
Telegraph and Telephone (NTT). Será que ainda poderíamos chama-la efetivamente de estatal depois de tudo
isso?

Em 2011, a portentosa financeirização lulista colocou a Petrobras em quinto lugar entre as maiores petrolíferas
de capital aberto do planeta. A exploração do petróleo brasileiro estava então colonizada pelo capital
financeiro. Mas não basta só entregar a exploração, o refino seria um setor estratégico para o projeto de
bloqueio da política. É importante ressaltar que quanto mais uma empresa está capitalizada no mercado
financeiro, mais dividendos ela terá que pagar aos seus “investidores”, que compraram suas ações na busca
por fazer do seu dinheiro, mais dinheiro; estes são os verdadeiros donos da Petrobras. Neste caso, isso
representa o movimento do capital fictício a se multiplicar por meio da especulação financeira sobre a
exploração do trabalho e dos recursos naturais do nosso país. E mais: envolvendo cifras abundantes em zeros
à direita. Isso foi comemorado em 2010. Pergunto: alguém se revoltou?

Chegou a vez do governo Temer. O recorde agora é de alta nos preços dos combustíveis. Graças à estratégia
de mercado entreguista que exporta o petróleo para ser refinado fora do país, para em seguida comprar de
volta mais caro e sob o câmbio do dólar. Isso porque nosso parque de refino não dá conta da demanda interna
– situação que já vem de outros carnavais. Mas ao invés de todos esses governos realizarem investimentos em
novas refinarias, se FHC preparou o terreno e Lula capitalizou o nosso petróleo no mercado financeiro, o

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governo Temer deu o golpe final: a desestatização das poucas refinarias que ainda restam sob a gestão da
quase-estatal Petrobras.

A seguinte situação me chama atenção, pelo que a nomeio de atualização da lógica privatista: mesmo que de
início não deliberadamente, a lógica da lawfare (sobre este assunto, ver ensaio publicado neste blog em
21/01/2018), isto é, do uso político-institucional da lei como maneira de bloquear a política como um todo,
tem sido uma tática eficiente, e que tem seu papel na estratégia de consolidação da fase financeira do projeto
neoliberal como entrega de um setor estratégico da nossa economia ao capital fictício. Não se trata mais de
explicitamente vender estatais, como na era FHC. É mais complexo e sofisticado: a política de privatização
das refinarias brasileiras carrega uma mediação de lawfare como uma estratégia política que objetiva bloquear
a participação pública a longo prazo e assim garantir a neocolonização do capital fictício. A nova expressão da
privatização é a financeirização. Funciona assim: primeiro o governo entrega o parque de refino da Petrobras
para um monopólio privado ligado ao mercado financeiro – o que já vem sendo acelerado por Temer. Feito
isso, mesmo que a médio ou longo prazo tenhamos um governo eleito contrário à privatização do refino de
petróleo para produção de combustível (gasolina e diesel), este nada poderá fazer para reassumir o controle
público da produção de combustível, pois as refinarias já estarão todas nas mãos do capital estrangeiro. Desse
modo, a participação pública por meio da ação do Estado através de um governo eleito democraticamente
estará bloqueada por meio do uso político da lei através da aprovação de medidas no congresso nacional que
legitimam politicamente a privatização das refinarias, agravando ainda mais a situação em face do refino
colonizado pelo capital estrangeiro.

Caso ainda não esteja claro a gravidade da situação: não há estatal. Tenho a impressão que
vivemos um período de disruptura (disruption) que consolida a mundialização do Capital por meio
do seu despertar digital, e aponta para uma era "pós-neoliberal". Que não significa o literal
desaparecimento do neoliberalismo, mas, ao contrário, trata-se do seu aprofundamento dialético:
este se conserva historicamente quando é suprassumido (aufgehoben) à medida que se afirma
pela sua própria negação atualizante rumo a um novo estágio global. Ocorre a suprassunção da
estratégia neoliberal - que se mantém como tática política - por um fenômeno, inicialmente singular,
mas que adquiriu estatura global a partir da sua consolidada autonomia que, por um lado, subjuga
a dinâmica econômica mundial em sua totalidade, enquanto por outro, atualiza dialeticamente a
lógica da privatização como financeirazação fictícia no movimento de auto-valorização do não-
sujeito da política. Em sua ubiquidade consolidada, o despertar digital do Capital nos cerca por fora
estabelecendo o conteúdo das relações sociais, ao mesmo tempo que preenche por dentro o nosso
modo de ser regendo a maneira como vivenciamos esse conteúdo sob a lógica social da
mercadoria.

[1] Matéria publicada na edição de 28/05/2018, intitulada “Petrobrás perdeu 120 bilhões de valor de mercado desde início
da greve”. Disponível em: << http://www.valor.com.br/empresas/5555179/petrobras-perdeu-r-120-bi-em-valor-de-
mercado-desde-inicio-da-greve >>. Acesso em 28. maio. 2018.
[2] Assim escreveu Marx em O Capital, mais precisamente no terceiro capítulo do livro I, intitulado “O dinheiro ou a
circulação de mercadorias”.

às junho 01, 2018

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