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Domingo, 21 de Julho de 2019 ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 10.

ARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 10.681 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

RICARDO CAMPOS

Dos Prides
às marchas
críticas
O Orgulho
também
se vende?
P18 a 21

Lisboa ainda não


é uma cidade para
as mulheres P4 a 9
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2 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

4 10 12 18
Lisboa ainda Entrevista Também há mulheres Dos Prides
Índice não é uma
cidade para
Beatrice Mautino
Cosméticos: “Não estamos
debaixo das latadas e
dentro das adegas de
às marchas,
o Orgulho
as mulheres protegidos em termos de vinho Madeira também se
marketing e promessas” vende?

Envelhecer é giro, Desalinho


Cristina Sampaio
mas só com aplicativo

O que é meu é teu


Vítor Belanciano

“S
abe, estou exausto, mor, ao olhar para as fotos não re-
já não consigo mais, sistiu: “Sabe quando tentam ser
desisto.” Foi assim simpáticos com os velhotes e excla-
que o sr. Rosário, mam: ‘Ai, está muito bem conser-
dono de um restau- vado!’ como se fosse o maior elogio
rante a que vou há do mundo? É assim que vejo essas
anos, me comunicou que já não fotos. Está tudo com ar embalsa-
aguentava, que regressava à terra, mado. Mortos-vivos, mas de sorriso
deixando Lisboa, onde reside há doirado.”
mais de 50 anos. Como tem aconte- Num mundo onde cada vez mais
cido a tantas outras pessoas, a renda se valoriza o consumo, o sucesso, o
do prédio foi descongelada e vai ser dinheiro fácil e a sobrevivência a
despejado. Durante meses resistiu, qualquer preço, envelhecer não é
advogados, tribunais, enÆm, o habi- certamente fácil. Há quem diga não
tual. Agora não está para mais. se importar. Ou os que se preocu-
Tem quase 70 anos e um prazer pam em excesso. E ainda os que
no que faz — “Servir bem e barato, envelhecem sem darem por isso, em
coisa que vai rareando”, diz com negação, e não são nada poucos.
orgulho — que se lhe vê no brilho Para cada um dos casos existem
dos olhos. “Mas, sabe, estou velho, muitos exemplos, embora a velhice
já passei por muita coisa, não estou não seja deÆnível por simples cro-
para mais.” E é isto. O sr. Rosário nologia. Há as condições físicas,
vai-se embora. A cidade vai Æcar funcionais, mentais e de saúde.
mais pobre. Menos diversa. Com Como acontece ao longo da vida,
menos opções. Algumas pessoas, também no envelhecimento existem
como eu, vão lamentar-se. E passa- desigualdades, reÇexo de um soma-
do algum tempo toda a gente se tório de factores históricos, econó-
esquecerá. “Quem é que quer saber micos, socioculturais, psicológicos
de gente antiquada e de restauran- ou biológicos, perceptível até no
tes como este fora de moda?” acesso a asilos, casas de repouso ou
E é aqui que estamos. Cada vez sanatórios, para onde mandamos os A seguir
mais gente desprotegida, à mercê seres humanos que tiveram a sua
do lucro fácil. Quem tem ou ganha utilidade e cuja data de validade Boris Johnson
bem dá mais e compra tudo, por num determinado momento a so-
vezes nem visita o que adquire, de- ciedade pede para conferir.
legando a especulação. É o domínio Nas últimas décadas a experiên- Só se alguma coisa tempos de jornalista,
do capital rentista, explorador, so- cia múltipla, humana, do decorrer extraordinária acontecer é Johnson esmerou-se a
bre o trabalho, a habitação, a digni- do tempo foi sendo substituída pelo que Boris Johnson não será escrever artigos jocosos que
dade de existir. Fechar casas e co- tempo exclusivo do capital. A mo- escolhido, nesta terça-feira, ajudaram a criar a imagem
mércio e mandar gente para o sítio dernidade instaurou o tempo único pelas bases do Partido da União Europeia como uma
de onde vieram, remunerando fun- da produção, da tecnologia, da con- Conservador britânico como burocracia estúpida, da qual
dos imobiliários, num país onde tinuidade e da velocidade. Um tem- seu novo líder, o que o torna os britânicos fariam bem em
tudo é mercantilizado, assente na po único que elimina a espera, a automaticamente, no dia se afastar. Enquanto político,
desigualdade e no esmagamento da transição, o intervalo, a reÇexão, o seguinte, primeiro-ministro é conhecido pela
vida. “Agora o que vou fazer? É envelhecer com alguma serenida- do Reino Unido, substituindo improvisação, por se
como os elefantes: vou morrer à de, a possibilidade de encontrar Theresa May. A “bomba comportar de uma forma
terra”, graceja, com amargura. outras formas de viver o tempo que loura” do eurocepticismo apalhaçada, pouco séria —
Foi isto na semana passada, temos para viver. “Durante muito britânico, bem conhecido em parecida com a sua escrita,
quando a redes sociais se encheram tempo achei que o pior da velhice Bruxelas pelos tempos que lá mas bem diferente do decoro
de fotos de caras envelhecidas, a seria não ser desejado. Agora per- passou como correspondente formal de Bruxelas. É difícil
nova onda viral por via de um apli- cebi que existe uma coisa ainda De jornalista na UE do jornal Daily Telegraph, fazer previsões optimistas
cativo digital (app). O sr. Rosário, pior que é não ser respeitado.”
que mesmo em momentos de aÇi-
a primeiro-ministro chega ao Governo a meio do
atribulado processo de saída
para o “Brexit”, que está
marcado para 31 de Outubro.
ção nunca perde o sentido de hu- Jornalista anti-Europa da União Europeia. Nos seus Clara Barata
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Ficha técnica

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A Internet Estar bem Crónica Ensaio
(ainda) não É possível ter o Meta o turbo Lugares não Director Manuel Carvalho
Directora de Arte Sónia Matos
matou o mesmo corpo e medite. cultivados Editor Sérgio B. Gomes
teletexto que tinha antes Rápido, até a Designers Marco Ferreira e Sandra
da menopausa? abrandar Silva Email sgomes@publico.pt

A União vira o disco

C
omeçou a preparar-se falar de Æcção, não de realidade. negociações à esquerda, contra o erros, acusam os inimigos da
o próximo governo Alguém pensa que os anteriores Grande angular PPE e contra a Alemanha, Europa, os fascistas, os racistas,
da Europa. Nada é presidentes da União tiveram um António Barreto eventualmente contra a Itália, a os xenófobos, os “soberanistas” e
seguro, mas o início vestígio de democracia? Esta Polónia e a Hungria, obrigando os nacionalistas. Como sempre,
está aí. Vão ser senhora foi eleita como os Macron, que não é de esquerda, a cometem um dos mais velhos
necessárias semanas anteriores, Juncker, Barroso, portar-se como se fosse, vícios da política e dos jogos: a
para completar a Comissão. Santer, Delors e outros: os sonhavam com noites de Verão à culpa é dos outros. Contra os
Ofendido, o Parlamento tentará Estados, os poderes mais fortes e beira mar. virtuosos, os outros são bandidos.
vingar-se. O mais provável é que as economias mais robustas Contra os democratas

A
não seja capaz de resolver o que ditaram as soluções. Custa, aliás, s negociações para a imaculados, os outros são
alguns esperam dele e da imaginar que deveria ser de outro distribuição dos nacionalistas. A culpa dos
Comissão. As tarefas importantes modo. Num continente como o despojos foram populismos, por exemplo, é dos
dependem dos Estados, não destes europeu, com a sua história e a fenomenais. Falou-se fascistas, do capitalismo e dos
organismos vistosos e impotentes. sua diversidade, não se vê como de pessoas, racistas. A culpa do nacionalismo
A escolha de Von der Leyen poderia funcionar a democracia negociaram-se é do populismo. A culpa dos
para presidente da Comissão tal como os querubins desejariam, pessoas. Falou-se de partidos, problemas de imigração é do
cumpre vários requisitos. É com eleições directas e globais. negociaram-se lugares. Discutiu-se populismo e do nacionalismo. Já
mulher. É alemã. Faz a ponte entre Não existe uma democracia distribuição, repartição e se percebeu que a qualidade e o
este e oeste e entre esquerda e europeia, muito menos uma benefícios partidários. Nunca, que rigor dos debates que resultam
direita. É protestante, depois de cidadania europeia. se saiba, se discutiu a Europa, as destes pontos de partida estão
vários católicos. E garantiu uma estruturas de decisão, a federação, abaixo de zero.

N
manutenção barata do bloco ão foi possível virar a uniformidade, a imigração, os

O
central europeu. a página, ainda refugiados, as relações com a nde nasce, o que
Segue-se o arranjo macedónico bem. Pior ainda é se China ou os Estados Unidos. Não faz o populismo?
da Comissão. A solução agora a União vira o disco se debateu a defesa. Houve umas Os populistas, com
tentada desagradou às esquerdas, e toca o mesmo – o vagas alusões às questões de certeza. Os seus
que acreditavam ser possível que já não é direitos humanos. E discutiram-se interesses, lícitos
cozinhar um arranjo “à possível. Depois do “Brexit”, dos as longínquas mudanças ou não, com o
portuguesa”. Também desagradou gestos persecutórios dos governos climáticas. A Europa e a UE objectivo primordial de destruir
aos seráÆcos europeus que italiano e húngaro e das ameaças acabam de dar ao mundo um sinal os sistemas de governo e afastar
esperam que a União se do grupo de Visegrado, o que vem de que não se libertarão tão cedo: os partidos que os alimentam.
transforme numa instituição a seguir não se sabe se é igual ou é este é um negócio de Estados! Mas têm ajudas decisivas. A
democrática. Merkel entrou diferente. Mas pode ser mais um A Europa e a União foram longe confusão entre União e
vencida e saiu vencedora, apesar passo na direcção da implosão. De de mais. Furtivamente. Durante democracia é uma delas. A
de fraca. Macron provou existir, qualquer modo, a principal lição a anos, foram pequenos passos, incapacidade de olhar com
sem mais. Costa começou como retirar desta eleição é a de que as muitos pequenos passos, mas realismo para as migrações é um
ganhador, acabou derrotado. eleições europeias ou federais não acabou por ser um enorme sólido contributo para a
Sánchez mais ou menos. são a solução para nenhum percurso, demasiado, como se vê. xenofobia. O globalismo também.
Húngaros, polacos e italianos problema real da Europa ou da Não existe uma coisa chamada A permanente tentativa de
saíram felizes. União. É aos Estados, aos governos “cidadania europeia”. Existem liquidar as identidades nacionais e
Como é sabido, os eleitores e aos parlamentos nacionais que cidadanias nacionais na Europa. E promover o federalismo é um dos
portugueses e europeus votaram compete encontrar soluções. é assim que deve ser. A União não principais factores de promoção
com entusiasmo: tinham de A eleição da presidente tem força suÆciente para evitar ou do nacionalismo de direita ou de
escolher entre Weber, resultou de discussões secretas, tratar das forças centrífugas. Estas esquerda, sobretudo do primeiro.
Timmermans, Zahradil, Vestager, intrigas, relações de força e aumentam com a integração. E vale a pena recordar um velho
Cué e Keller, como se fossem seus soluções de recurso. Como A União não enveredou por uma princípio: os nossos erros são
conhecidos. E foram enganados,
porque lhes saíram na rifa outros,
sempre! O facto de terem sido
anunciados, previamente, nomes Não existe uma via democrática pela simples
razão que não podia nem devia.
alimento e força dos nossos
inimigos. Mas os anjos europeus
combinados entre partidos, como
deve ser. A solução adoptada não
de candidatos nada muda. Na
União, foi sempre assim: as democracia Felizmente que assim é. Outra
coisa é pensar que a União está
não acreditam nisso. Não vêem os
seus erros.
estava prevista na campanha
eleitoral. Como antes.
soluções são negociadas e a força
dos principais Estados é decisiva. europeia, bem. Não está. Encontra-se em
crise essencial. Os próximos anos
Não há muitas dúvidas: está-se
melhor na Europa do que fora.
Os descontentes não têm razão
de queixa. Fez-se o que sempre se
A estrutura da União não é
democrática, nunca foi. Resulta muito menos podem facilmente ser a
oportunidade para mais uma ou
Mas é necessário ter presente que
a Europa não protege, integra.
fez. Nem pior nem melhor. da democracia, mas não é outra ruptura, um ou outro Reforça, mas não legitima. Ajuda,
Representatividade?
Transparência? Direitos do
democrática. Os que sonhavam
com uma solução “portuguesa”
uma cidadania abandono. Os fanáticos, os
aÆcionados e os crentes não
mas não defende.

Parlamento Europeu? Estamos a para a União, um arremedo de europeia reconhecem os seus próprios Sociólogo
Lisboa, men
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ainda não é uma cida


Na sua génese, as cidades “não
foram desenhadas a pensar nas
mulheres”. Contudo, o urbanismo
com intervenção de género pode
ajudar — e sete mulheres que se
esforçam por viver em espaço
público mostram como
Por Andreia Friaças

TINHA
FA

ODIVELAS STA CLARA

OLIVAIS
LUMIAR

ÁUDIA INÊS PARQUE


CL FAELA DAS
CARNIDE
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ENTRE- ALVALADE
CAMPOS ENTRE-
CAMPOS MARVILA
DE BENFICA
BENFICA
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NESSA FRANÇA
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CAMPO
SÃO
ALCÂNTARA OURIQUE

AJUDA ROSSIO
CAIS DO
SODRÉ
ESTRELA
BELÉM
nina e moça
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 5

ade para as mulheres


ANDREIA GOMES CARVALHO

S
e há décadas as mulheres eram
educadas a preservarem-se em
casa, hoje têm o direito de recla-
mar a cidade como cenário fun-
damental do seu quotidiano. Mas
a que custo? Enfrentam as mes-
mas violências e riscos do que um
homem? Têm a liberdade plena
de mobilidade em espaço público? Circulam
pela cidade como, onde e quando querem?
“A cidade é o espaço mais democrático que
temos, a casa de todos e todas, mas continua
a não ser desenhada a pensar nas mulheres”,
defende a arquitecta e professora Patrícia
Santos Pedrosa. “Surgiu para servir a comuni-
dade, mas sempre muito centrada na visão
masculina de como gerir uma cidade porque
eram os homens os decisores urbanísticos e
também quem ocupava e tinha voz na cidade”,
acrescenta.
Os arquitectos, urbanistas, projectistas e
técnicos — que, diz a professora, continuam a
ser, na maioria, homens — ainda “pensam, pro-
jectam e decidem cidade a partir do topo da
pirâmide e para uma Ægura neutra”, descuran-
do a diversidade de problemas, experiências,
quotidianos e necessidades de vida urbana das
mulheres. O que ajuda a que a “feminilidade
continue a ser especialmente perseguida e vio-
lentada em espaço público”, reforça Patrícia
Santos Pedrosa. Para a arquitecta, no pro-
cesso complexo e dinâmico que é a cidade, é
“cada vez mais inaceitável” que a organização
e gestão urbanística — que envolve a escolha
dos pavimentos, iluminação, o desenho e as
distâncias dos percursos, a localização e con-
cepção dos serviços — estejam destituídas da
perspectiva de género.
Em 2017, a equipa do Plano de Acessibilida-
de Pedonal (PAP) da Câmara Municipal de Lis-
boa (CML) considerou que as mulheres eram
as que sofriam mais consequências do medo
de estar nos espaços públicos e disse querer
eliminar os recantos tenebrosos de Lisboa. O
plano pretendia desenvolver um projecto-pi-
loto de urbanismo de género — que já existe
em várias cidades de Espanha, como Barcelo-
na, Valência ou Madrid — para deÆnir uma me-
todologia capaz de ser aplicada em vários locais
da cidade. Contudo, contactada pelo PÚBLICO,
a equipa do PAP não clariÆca o que já foi rea-
lizado nos últimos três anos.
Para Patrícia Santos Pedrosa, é urgente que
a urbanização de género ganhe espaço na agen-
da da CML. “Se não podes circular ou viver em
cidade, se não tens direito à mobilidade efec-
tiva que concretiza as necessidades, vontades
e desejos da mulher, se transformas aqui- c
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DANIEL ROCHA

RUI GAUDÊNCIO
lo que é a tua decisão primeira para te salva-
guardares de microviolências e riscos na rua,
tens, em última análise, uma liberdade parcial
da cidade e uma reclusão da plena cidadania”,
justiÆca. “Em Lisboa ainda não há nenhum
espaço público, rua ou bairro que tenha sofri-
do uma intervenção com perspectiva feminis-
ta. O que existe são acções de consciencializa-
ção de colectivos”, acrescenta.
Neste mês de Julho é completada a redacção
do I Plano Municipal para a Igualdade de Gé-
nero em Lisboa — já existente em vários muni-
cípios de norte a sul do país —, onde se prevê
a coordenação das políticas do município para
questões de discriminação e desigualdade de Mobilidade
género. O assessor da CML Rodrigo Rivera diz Inês Marinho e o seu bebé (na
ao PÚBLICO que “o diagnóstico é central nes- pág. anterior); Cláudia Carmo
te programa”, mas não avança que problemas (em cima, à esq.) e Rafaela Neves
e necessidades das mulheres no espaço públi- (em cima, à dta.) receiam andar
co estão a ser considerados. “Se os técnicos na cidade; Fatinha Vera Cruz (ao
não vão aos bairros, não sabem o que as pes- lado) lamenta a falta de mais
soas têm como prioridades para que o seu di- horários nos autocarros
reito à cidade seja concretizado em plenitude,
não podemos depois ter uma ideia média e pé”. Mas quando o Ælho Zico nasceu, o mapa sempre é fácil, principalmente se o tiver de toridades locais de Hanói, no Vietname, que
macro da cidade que funcione, porque é abs- da cidade mudou. “A cidade para mim, en- fazer na estação de comboio mais próxima, a queriam incluir a perspectiva das mulheres na
tracta”, alerta a professora. quanto mãe, muda. O mapa Æca mais reduzido. de Entrecampos. Inês Marinho não consegue escolha da nova linha de metro.
A importância de ter vozes femininas no pla- Dá para perceber quais são as zonas da cidade descer na saída da estação de comboio junto Inês Marinho, natural de Coimbra, conside-
neamento da cidade está reÇectida no quoti- que são pensadas para crianças porque dou às Águas de Portugal, que Æca mais perto da ra que Lisboa a tem tornado “mais protectora
diano das mulheres: Cláudia, que não consegue por mim a repetir sempre os mesmos sítios e sua casa. “Não há elevador e as escadas ro- do que gostava de ser”. “Eu ia a pé para a es-
visitar os jardins da cidade por não terem piso a excluir outros”, explica Inês, de 29 anos. lantes só sobem, não descem. Houve uma vez cola primária, mas é mais difícil imaginar o
táctil; Fatinha, que não sai de casa antes de A Graça ou o Chiado são alguns dos locais que Æquei quase uma hora a tentar sair da meu Ælho a fazer isso em Lisboa”, conta. Por
pensar em como vai regressar; Rafaela e as onde a vida “não é nada facilitada” para uma estação com o carrinho. No limite, para con- enquanto, e nos próximos anos, os pais levam
duas mudas de roupa para enfrentar um dia; mãe com carrinho de bebé. “Eu ia muitas vezes seguir descer, tiro o meu Ælho do carrinho, o Zico à creche. A rotina ainda é fresca, come-
Odete, silenciada em espaço público para con- ao Chiado, mas deixei de ir desde que o Zico desmonto-o, levo o meu Ælho num braço e o çou em Março, e Inês não esquece o primeiro
seguir viver nele; Inês, cujo carrinho de bebé nasceu. Não é que seja impossível, mas, às ve- carrinho noutro”, explica. Desde então, tem dia de infantário do Ælho, mas pelas más ra-
a faz excluir zonas da cidade; Vanessa, que zes, é mesmo complicado”, explica. “Os cai- de sair no lado da Avenida 5 de Outubro, que zões. “Fui assediada por um taxista à porta do
muda constantemente de percurso para se xotes do lixo mal-arrumados, as trotinetas mal- tem elevador. “Depois atravesso quatro vias infantário. O homem não saiu dali até eu ter
proteger; e Lia, que nunca saiu de casa sozinha estacionadas e as esplanadas que se estendem rápidas até chegar à minha saída das Águas uma reacção quase violenta.”
desde que vive em Lisboa. pelo passeio obrigam-me a fazer uma coisa de Portugal e vou para casa.”
nada cívica que é usar a ciclovia ou a berma da Na sua opinião, era importante que os trans-
estrada para conseguir andar com o carrinho”, portes da cidade estivessem preparados para
Cláudia Quando Lisboa não vê uma
Inês Quando a cidade, para uma conta Inês, que considera a calçada portugue- “outras realidades”, como já acontece noutros mulher cega
mãe, é reduzida sa o bicho-papão dos pais. “Não deixa que ne- países. Em 2013, a aplicação Safetipin, que per- Cláudia Carmo vive em Lisboa há 18 anos,
Inês Marinho vive em Alvalade, “a aldeia dos nhum carrinho sobreviva”, explica. mite às mulheres classiÆcarem as ruas por cri- mas nunca viu a cidade — a doença glaucoma
bebés de Lisboa”, onde “tudo dá para fazer a Sair de Alvalade para o resto da cidade nem térios de segurança, foi contactada pelas au- levou-lhe a visão quando era jovem. Depois
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RUI GAUDENCIO

de e me disserem ‘ vem a tal sítio’, eu não


vou. Sendo mulher, tenho outros riscos.”
Durante o dia, sente-se mais segura, mas tem
o cuidado de andar “pelos sítios mais públi-
cos”. Ainda assim, a experiência dos anos na
cidade fez de Cláudia uma pessoa mais des-
conÆada e cautelosa. “As pessoas, com in-
tenção de me ajudar, pegam-me no braço
sem dizer nada. Eu Æco assustada. Às vezes,
penso que é para outras coisas.”
Apesar de reconhecer os avanços que a
capital sofreu, Cláudia lamenta que Lisboa
esteja “30 anos atrasada” em comparação
com Luxemburgo ou Bruxelas. Agora, deixou
de esperar pelo acertar dos ponteiros da ca-
pital. “Já não suporto viver aqui. Sinto-me
excluída todos os dias. Vou viver para o outro
lado do rio e só venho a Lisboa se for mesmo
necessário”.

Fatinha Quando em Odivelas,


ir ao centro é ir “a Lisboa”
Às 5h, antes de o dia romper com a primeira
luz da manhã, várias mulheres negras espe-
ram o autocarro na paragem perto de casa
de Fatinha Vera Cruz , em Odivelas. “DiÆcil-
mente vejo homens”, diz a mulher de 49
anos, natural de São Tomé. “São mulheres
que saem de casa às 4 e tal da manhã para
trabalhar no sector da limpeza ou trabalhos
domésticos”, explica. Para Fatinha, a cidade
não está pensada para estas mulheres, desde
logo porque não oferece transportes que res-
pondam aos seus horários e necessidades.
“Nós percorremos grandes distâncias para
chegar a uma paragem onde passe um auto-
carro por volta das 5 e pouco. A Carris, sen-
do pública, não se pode esquecer de que nem
toda a gente entra às 9h”, diz.
O desassossego dos transportes era o dia-a-
dia de Fatinha Vera Cruz quando trabalhava
no Campo Grande. “Na altura, só tinha auto-
carro às 5h30, e entrava às 6h. Se não houves-
se trânsito, conseguia chegar a horas, senão
tinha de gastar aquilo que não tinha e apanhar
um táxi.” Quando começou a trabalhar em
Odivelas, no Centro Comercial Strada Outlet,
decidiu que ia a pé para o trabalho nos dias em
que entrava às 6h da manhã. “Era a 20 minutos
de terminar o ensino secundário, deixou a porque me virei de lado e caí bem”, conta. de casa. A ideia não me agradava muito porque
sua aldeia de Ucanha, perto de Lamego, para Cláudia ganha o dia se conseguir aprovei- passava por zonas pouco habitadas. Mas pen-
ir estudar Tradução na Faculdade de Letras tar o sol na rua, mas não o consegue fazer sava: ‘Seja o que Deus quiser...’”, conta. Em
da Universidade de Lisboa. A aventura, que nos jardins da cidade, que não têm piso tác- poucos meses, desistiu. “Era muito abordada
se adivinhava complicada, tornou-se “um til. Quando teima em ir à Quinta das Conchas, por homens que passavam por mim de carro.
terror” quando Cláudia se apercebeu de que os desaÆos começam logo pelo caminho. Perguntavam-me se eu queria ir com eles. Às
a cidade também não a vê. “Lisboa não é “Contornar os carros e as árvores no meio vezes, chegavam a seguir-me, a buzinar atrás
concebida a pensar em mim, enquanto mu-
lher que não vê. Nunca me senti incluída ou
do passeio ou os caixotes do lixo mal colo-
cados fazem com que muitas vezes ande na
Em Lisboa ainda de mim. Eu Æcava cheia de medo. Punha-me
a correr e chegava ao trabalho com o coração
ouvida aqui”, conta, aos 37 anos, sentada
num banco junto à Faculdade de Letras, aon-
berma da estrada.” O percurso piora quando
há obras na cidade. “Há falta de sinalização
não há nenhum a sair pela boca.” Acabou por comprar um car-
ro, que avariou passado pouco tempo. “Agora
de regressa sempre “que tem vagar”, apesar
de nunca o conseguir fazer em segurança.
da protecção das obras. Já fui contra andai-
mes e os buracos, se não estiverem protegi-
espaço público que peço a colegas minhas para me irem buscar.”
Fatinha Vera Cruz vive em Odivelas há mais
A passadeira à frente da faculdade é rebai-
xada e não tem piso táctil, o que faz com que
dos, são muito perigosos. Conheço uma ra-
pariga que caiu dentro de um”, explica. tenha sofrido uma de 20 anos e esforça-se por não cair no quoti-
diano de “nunca sair do bairro”. Vai várias ve-
Cláudia não perceba que a está a atravessar
— já reportou “há meses” o caso à CML, mas a
Mas Cláudia não tem só medo de cair num
buraco ou de ser atropelada. Vive num “duplo intervenção com zes “a Lisboa”, como costuma dizer, embora,
para si, signiÆque ir ao centro da cidade, onde
resposta ainda não chegou. Pela cidade, há
tantas outras passadeiras sem piso táctil nem
perigo”, porque, além de cega, é mulher. “En-
quanto mulher, eu não tenho apenas medo de perspectiva “há actividades culturais, de lazer, onde se
pode passear”. Mas antes de Fatinha sair de
sinais sonoros. Em 2014, o inventário feito em cair. Tenho medo que me façam mal. As mu- casa para ir ver uma peça de teatro ou um con-
Lisboa mostrava que apenas um em cada 20
semáforos tinham sinais sonoros. “Há também
lheres são as que mais sofrem violência na rua”,
considera. Cláudia não se esquece quando, “há
feminista certo, é preciso pensar em como vai regressar.
“A certa hora, já não existem autocarros de
passadeiras só com som de um dos lados e
outras em que o som continua a tocar mesmo
uns anos”, a caminho da faculdade, um ho-
mem a perseguiu. “Eu ouvia-o, estava cheia de
Patrícia Santos regresso, só as redes de madrugada, em que
não gosto de andar sozinha.”
quando Æca intermitente”, conta. Foi precisa-
mente esta última situação, em que o aviso
medo.” Também no metro, com a carruagem
“a abarrotar”, um homem sussurrou-lhe co-
Pedrosa Quando veio para Lisboa, ainda tentou viver
no centro da cidade. “Foi muito complicado.
sonoro continuou a tocar depois de o sinal ver- mentários ao ouvido. “Na altura, não consegui Não era só os altos preços. Cheguei a ver uma
de cair, que levou Cláudia, em 2010, a ser atro- reagir. Hoje, daria um berro”, garante. casa onde me disseram: ‘Não queremos pessoa
pelada. Aconteceu “à porta de casa”, na pas- Para Cláudia, as situações de assédio cons- dessa cor aqui’”. Em Odivelas, já tinha lugar.
sadeira entre a Avenida 5 de Outubro e a Ave- troem uma percepção de medo de Lisboa “A cidade reÇecte o racismo”, analisa.
nida das Forças Armadas. “Eu não morri que impede a plena mobilidade: “Se for tar- Contudo, seja “em Lisboa” ou em c
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Odivelas, Fatinha diz ser “muito medrosa” a Eu levava uma camisola grande só para fazer
andar pela cidade, principalmente de noite. o caminho até à escola, e depois tirava a ca-
“Fico sempre com aquele frio na barriga.” Não misola e Æcava com a minha roupa normal.
se consegue abstrair das histórias de assédio Mesmo que tivesse de correr para o comboio
ou violação que já ouviu, e também não há cheia de calor ou suada, nunca despia a ca-
nada nos caminhos que atravessa que faça misola.”
estes pensamentos desvanecer. “Nós não en- Esta prática brotava dos vários episódios
contramos polícias nem seguranças nos locais de desconforto que foi amealhando na ado-
que são conhecidos por serem violentos para lescência — como quando encontrou um ho-
as mulheres.” mem a masturbar-se a olhar para si e para a
Para Fatinha, este medo tem género. Em sua mãe numa praia em Peniche. Ainda hoje
2017, o primeiro Inquérito Municipal sobre a há momentos em que continua a adequar a
Violência de Género em Lisboa, do Observató- roupa à rua. “Quando sei que vou passar mais
rio Nacional de Violência e Género, mostrava tempo na rua, vou mais tapada. Se estiver me-
que 52,9% das mulheres já mudou as suas ro- nos tempo na rua, vou mais à vontade, a pro-
tinas depois de ter sofrido um acto de violên- babilidade de me sentir incomodada é mais
cia e 29,1% Æcaram com medo de se deslocar pequena”, conta.
sozinhas. “Eu não vou aonde quero, como No dia-a-dia, continua a substituir percursos
quero, às horas que quero. Se Æzer esta per- curtos mas tenebrosos por caminhadas mais
gunta a um homem, se ele se desloca por todo longas, que tenham mais luz e ruas mais am-
o lado como quer, é provável que ele diga que plas — duas das principais reivindicações das
sim. O meu marido, por exemplo, gosta mui- mulheres espanholas às administrações locais
to de andar, e quando lhe apetece vai. Nem de Barcelona ou Madrid nos últimos anos. Mas
pensa em mais nada.” há também vivências na cidade que são des-
Depois de duas décadas em Lisboa, Fatinha cartadas — o primeiro inquérito municipal
gostaria de ser ouvida na cidade. “Quem pro- sobre a violência de género em Lisboa partilha
jecta a cidade não inclui outras realidades no que, em 2017, apenas 22,8% das mulheres
plano urbanístico. Aquilo que as mulheres saem de casa para actividades de lazer, desde
negras vivem na cidade podia acrescentar eventos culturais a bares e discotecas.
imenso às estratégias de mobilidade em Lis- “Há coisas que me apetece fazer e não faço
boa. A mulher negra é uma parte integrante, porque sei que podem ter implicações para
deve sentir que cidade pensa nas suas neces- mim enquanto mulher. Se quiser ir só com
sidades, que oferece qualidade de vida cultu- uma amiga para o bairro, celebrarmos alguma
ral, de segurança, de lazer. A cidade só ganha coisa e apanharmos uma bebedeira, não va-
se nós sentirmos que isto também é nosso.” mos”. “Lisboa não é para todos. Nem todos
temos a mesma satisfação em estar na cida-
de”, acrescenta.
Rafaela Quando pensa num perigo, A experiência em cidade, que Rafaela diz Discrimi-
NUNO FERREIRA SANTOS

pensa num homem se ter tornado cada vez “menos prazerosa”, nação
Há um monólogo silencioso que acompanha foi moldando também a sua personalidade. Vanessa
Rafaela Neves, de 21 anos, quando sai das au- “Eu sinto que sou uma pessoa muito mais ne- Lopes (ao
las na Faculdade de Ciências Sociais e Huma- gativa, chateada. É uma raiva constante. Pas- lado) sente
nas, onde estuda no período nocturno, e se sa a ser uma coisa minha. É quase um traço que há
dirige ao parque de estacionamento do Hos- de personalidade, porque é uma dimensão espaços
pital Curry Cabral, onde deixa o carro esta- presente, não é só uma coisinha. Não é um que não a
cionado: “Olhar para o lado direito. Olhar piropo ontem. Não consigo pensar em mim querem por
para o lado esquerdo. Ver o que se está a pas- na cidade sem pensar nessa parte. Não existe ter origem
sar na rua e pensar no que faria se aparecesse o outro lado sem este.” cigana
um homem a abordar-me. Para onde devo
fugir? É mais inteligente correr para o carro
ou voltar para trás?” O seu medo não é ser
Odete Quando a pior parte é o
assaltada, mas que um homem a aborde. silêncio a que se sujeita
“Quando penso num perigo na rua, não é um A vida na cidade para Odete Ferreira, enquan-
perigo abstracto. Eu penso num homem. Não to mulher ‘trans’, cose-se de constantes situa-
tenho medo de ser assaltada, mas sim que um ções de assédio, intimidação e perseguição.
homem me agarre, me leve para algum lado, A jovem de 23 anos destaca um episódio no
que me toque.” Rossio em que um homem lhe bateu no rabo
O caminho leva menos de dez minutos, mas, à frente da polícia. “Eu até tropecei. Olhei para
quando é percorrido de noite, é meticulosa- a polícia do género: ‘Vão fazer alguma coi-
mente ponderado. “Vou pela Avenida de Ber- sa?’”, conta. Odete ainda encarou as pessoas
na, que já acho escura, mas tem mais luz do da esplanada que estavam “mesmo à frente”,
que o caminho pelo lado da Gulbenkian”, ex- mas ninguém interveio. Pelo contrário, riram-
plica. Já de dia, quando vai para a faculdade se “como se fosse entretenimento”.
à hora de almoço ou no Ænal da tarde, a Ave- “Estas são tentativas de me diminuírem em
nida de Berna “está cheia de gente”, o que espaço público”, diz Odete, que garante se
não signiÆca maior descanso. “Ouço sempre terem tornado mais frequentes nos últimos
um conjunto de comentários, piropos, como dois anos de transição. “Eu não sou capaz de
se estivesse numa parada. Acontece todos os existir numa forma igual às outras pessoas
dias. Não me lembro de fazer esta rua sem um em espaço público. Saio à rua e sinto que
único comentário”, conta. “E não me venham tenho menos direito ao espaço do que os ou-
com a conversa da roupa”, diz, apontando tros.” Para viver a cidade, é forçada a apagar-
para a camisola preta e as calças de ganga que se. “Cada vez mais tenho cuidado com o que
traz vestidas. visto, calculo mais as minhas expressões, e
Rafaela vive desde pequena no Cacém, em tento passar despercebida no meio das pes-
Sintra. Quando estudava na Escola Secundá- soas. Às vezes só me apetece vestir um fato
ria Pedro V, em Sete Rios, andava muitas vezes de treino e sair à rua, sinto que não vale a
sozinha pela cidade, o que a fez construir me- pena investir em nenhum tipo de expressão,
canismos de defesa. “Saía de casa sempre com Æco tão desmotivada que desisto de conviver,
duas mudas de roupa. Do comboio em Sete de me expressar e de existir em espaço pú-
Rios até à escola ia a pé pelo terminal dos blico. Tento apagar-me o máximo possível. A
autocarros e havia muitos homens motoristas. pior parte de tudo isto é o silêncio a que me
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 9

NUNO FERREIRA SANTOS DANIEL ROCHA

submeto em espaço público”, acrescenta. Direito bares, pela rua de cor-de-rosa, que Æcava mais lização e adaptabilidade de transportes”, apon-
No seu entender, há uma “higienização da Odete Ferreira (em cima, do lado rápido para mim, dou sempre a volta pelo jar- tando para o metro de Lisboa, em que a maior
cidade”, que relaciona a perspectiva de clas- esq.) e Lia Ferreira (em cima, do dim. Faço sempre assim, é a minha rotina, parte das estações não está adaptada para pes-
se e da identidade de género. “Quem tem lado dto.) andam na cidade com porque já sei como funciona”, conta. soas com mobilidade reduzida. E a tudo isto,
acesso à cidade é quem tem dinheiro para muito cuidado. Odete por ser Para Vanessa, contar os cinco anos desta acresce a dimensão de ser mulher. “Eu andava
chegar até aqui, ou para viver aqui. E quem ‘trans’, Lia porque a cidade não “nova vida” é contar as cinco casas onde viveu. sozinha no Porto ou em Santa Maria da Feira,
tem acesso a mais dinheiro e ao melhor tra- está adaptada a quem se desloca Morou no Parque das Nações, em Santa Apo- mas não o faço em Lisboa porque tenho receio
balho são pessoas cisgénero. A maior parte de cadeira de rodas lónia, Arroios, Santo Antão do Tojal e agora no de não conseguir ultrapassar os obstáculos. Ai,
das pessoas ‘trans’ que conheço não conse- Cais do Sodré. “Ainda não consegui Æcar no as minhas fragilidades estão mais expostas a
gue sequer chegar ao centro da cidade, vivem mesmo sítio mais de um ano. As casas onde terceiros, que podem ajudar ou poderão apro-
na periferia, que muitas vezes não tem o que estava foram vendidas para alojamento local”, veitar-se da minha exposição.”
há aqui: jardins, espaços de leitura ou con- explica. Este ano, um relatório da agência de Lia Ferreira, arquitecta de formação e pro-
vívio.” notação Ænanceira Moody mostra que Lisboa vedora municipal de Cidadãos com DeÆciên-
“Impedir o acesso à cidade é impedir o aces- é a cidade europeia que mais tem perdido po- cia na Câmara Municipal do Porto entre 2012
so à vida. A vida acontece na cidade, não é tro de Lisboa, onde se voltou a sentir uma pulação desde 2011. “Há jovens como eu que e 2018, diz que a urbanização pode ajudar a
fechada numa casa”, defende. Por esta razão, criança, com “medo de tudo”. A pouco e pou- estão sozinhas, que não têm ajuda dos pais, reduzir o perigo da cidade. “Um espaço escu-
esforça-se para viver o espaço público, ainda co, o medo abstracto da cidade foi amadure- que lutam para ter uma escolaridade e que não ro, escondido, vai potenciar um tipo de uso,
que com custos. “As vezes, acabo por ter uma cendo e ganhando rostos e vozes. “As situações conseguem encontrar um lar estável para fazer como situações de violação, que não poten-
pequena paranóia. Esta coisa ‘macro’ que é de assédio tornaram-se constantes, principal- a sua vida em Lisboa.” ciaria se ele fosse um espaço arejado, ilumi-
a cidade acaba por se expressar nas minhas mente quando vinha tarde do trabalho. Come- nado, onde as pessoas se sentissem vistas a
relações pessoais. Há um certo medo que se cei a andar com uma faca de manteiga na mala, tempo inteiro”, explica.
instala na minha vida. Às vezes, quando co- que não aleija muito mas é uma ferramenta de
Lia Quando não é possível Na sua opinião, Lisboa tem sido planeada e
nheço alguém, Æco com medo, porque a ex- defesa”, conta. andar sozinha distribuída do ponto de vista económico e or-
periência que tenho é andar na rua e me acha- Por ter “a pele branquinha” Vanessa diz não Lia Ferreira, de 39 anos, foi atropelada à porta ganizacional: o comércio e empresas estão nos
rem um nojo.” parecer cigana, o que faz com que sofra menos de casa com quatro anos de idade, em Santa melhores locais da cidade, que também são os
preconceito. Mas continua a sentir que não é Maria da Feira, onde nasceu. Começou a lidar mais iluminados. “A cidade não é pensada para
bem-vinda na cidade. “Estou sempre a ver com a rejeição quando saiu do hospital numa as pessoas, nem para permitir vivências ne-
Vanessa Quando começou a andar sapos à porta das lojas. Sinto que aquele es- cadeira de rodas. “Mas agora já nem penso so- nhumas”, acrescenta. Ainda assim, considera
com uma faca de manteiga na mala paço não me quer ali.” Por outro lado, as “ra- bre isto, já sei que é assim”, garante. Há um que vivemos “num momento de mudança” a
A família esperava que fosse doméstica, es- parigas que são ciganas e não parecem” tor- ano que vive em Lisboa, em São Domingos de caminho da humanização das cidades – através,
posa e mãe. Era difícil ir à escola, por isso, nam-se objecto de fetiche: “Já ouvi muitos BenÆca, e nunca saiu de casa sozinha. Nem por exemplo, dos modelos suaves de transpor-
terminou o 9.º ano já era maior. “Até aos 18 homens a dizer ‘nunca comi uma cigana’ e acha que vai conseguir fazê-lo nos próximos te, como as trotinetas — mas as motivações
anos, eu não tinha nenhuma imagem de Lis- depois quando vêem uma mulher cigana que anos. “A mobilidade é muito má para quem continuam a ser económicas: “Não é a condição
boa. Nunca tinha visto a Torre de Belém. Vi- acham gira não a largam.” anda com uma cadeira manual”, justiÆca. “Os feminina que está a ser tida em conta na forma
via em Loures, mas era como se fosse numa Quando Vanessa Lopes saía tarde do traba- passeios são muito irregulares, deformados e como a câmara está a adaptar a cidade. É a
redoma”, conta Vanessa Lopes, de 24 anos. lho, no Prior Velho, era um tormento Æcar na mesmo muito inclinados, não é apenas uma perspectiva da oportunidade económica.”
Quando completou a maioridade, fugiu de paragem à espera do autocarro.“Não acho que inclinação ligeira.” “Faz parte da cultura urbana em Portugal as
casa, à revelia dos pais, “para não ter de se- a paragem esteja bem ali. Está numa rua onde É certo que não é possível mudar a inclinação pessoas terem de se adaptar à cidade. Mas te-
guir a tradicional vida cigana”. só passam carros, mas completamente isolada, da cidade, mas é urgente melhorar a forma mos de mudar isso. Fala-se muito que a mulher
Saiu sem dinheiro, sem casa, sem amigos e só se vê mato ao fundo. Devia estar mais perto como os espaços são concebidos. “A cidade quer uma cidade para andar de saltos, mas não
sem escolaridade. Fugiu para Peniche, duran- do local onde estão as empresas, onde há mais não está desenhada para me receber, está de- creio que seja isso. O que as mulheres querem
te dois meses, enquanto explicava aos pais, à luz, movimento”. Depois de apanhar o auto- senhada para me afastar. Precisava de encon- é segurança e conforto”, conclui.
distância, que “queria outra vida”. Quando “as carro, sai na paragem do Cais do Sodré, perto trar respostas a nível de distâncias possíveis
coisas acalmaram”, decidiu ir viver para o cen- de casa. “Em vez de fazer o percurso pelos de cadeira de rodas, ou relativamente à loca- andreia.friacas@publico.pt
10 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Cosméticos
“Não estamos
protegidos
em termos
de marketing
e promessas”
Entrevista Beatrice Mautino
Escreveu As Mentiras da Cosmética para
traduzir o “cientiÄquês” das embalagens dos
produtos de cosmética e para ajudar os
consumidores a serem mais perspicazes
Por Catarina Lamelas Moura

N
ão vamos encontrar os ditos “produtos sem”, aqueles
conselhos sobre qual é o que anunciam a inexistência de
melhor creme para peles parabenos apresentam-se como a
oleosas ou que tipo de alternativa segura. Mas escondem na
champô usar para os mensagem de marketing uma falta de
cabelos estragados pelo provas cientíÆcas.
Verão. Longe disso. O alarmismo criado a partir de estudos
Beatrice Mautino — com falta de Æabilidade cientíÆca — e com a
formada em Biotecnologias Industriais e conivência de alguns membros da
jornalista de ciência —, escreveu As Mentiras comunidade cientíÆca — leva as marcas a
da Cosmética para munir os consumidores criar produtos aproveitando-se do medo
das ferramentas necessárias para navegar das pessoas. Chega-se a cair no ridículo de
nos corredores dos cosméticos. O livro, ver uma substância cujo risco não foi ainda
lançado em Janeiro de 2018, chega agora a provado substituída por outra que, essa
Portugal, pela Bertrand Editora. sim, faz parte da lista dos cancerígenos
Por que é que vemos etiquetas “certos” da Agência Internacional de
a indicar “cruelty free”, quando há anos Investigação do Cancro. Depois de lido,
que a União Europeia proíbe a corre-se o risco de o livro deixar o leitor
comercialização de produtos testados em com ainda mais dúvidas. Mautino não se
animais? O que é que o número de SPF nos contenta com explicações demasiado
cremes protectores nos diz realmente simples porque as coisas são mesmo assim
sobre a sua acção? Os parabenos causam — complexas. E porque, como escreve, não
cancro e por isso devemos fugir de há na realidade produtos ou ingredientes
produtos com este ingrediente? É à volta com “risco zero” — nem mesmo a água. Há,
deste tipo de temas que a autora italiana sim, um nível de risco que tem de ser
guia os leitores. Em relação ao último calculado. Essa é uma tarefa que cabe a
exemplo, explica que, como acontece com cada um.
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 11

DR
Precisamos de uma curso de que nos permitem sentir seguros a comprar regulamentação.
Biotecnologia para evitar sermos cosméticos. As empresas também são Porquê?
enganados pelas mensagens de responsáveis pela segurança. É possível que Porque a UE está a mexer-se. Em Junho, [a
marketing dos produtos de beleza? encontremos alguns produtos no mercado Comissão Europeia] publicou documentos
(Risos) Não, de todo! Acho que precisamos que não são seguros, mas é difícil. Se isto técnicos sobre as promessas dos cosméticos.
de fazer perguntas e ser cépticos. Ter acontecer, a UE trava [a produção]. Nós, Dizem que se uma empresa continuar a
dúvidas em relação a promessas e milagres enquanto consumidores, temos escrever que um produto é “sem algo” está a
que as empresas nos tentam vender. Não é responsabilidade, porque, quando fazer publicidade enganosa. Não é um
importante ter uma base cientíÆca, mas compramos um cosmético e o abrimos, conselho, mas um ultimato: “Ou mudam a
algumas ferramentas cientíÆcas. começamos a permitir que esse Æque forma de comunicar o vosso produto, ou
Vê muitas pessoas a falar ou a fazer infectado por bolores e bactérias. A forma decidimos [regular].”
perguntar sobre os temas que aborda como preservamos os cosméticos faz parte Acredita que as empresas vão
no livro? do sistema de segurança. responder a este aviso da UE?
Não. Há muita desinformação, Isso é a nível de legislação. E quanto à Não sei. É importante que este pedido
particularmente sobre alguns ingredientes, fiscalização? venha dos consumidores. Se exigirem mais
como os parabenos. Não há informação Há milhares de novos cosméticos a entrar transparência e se tivermos massa crítica,
muito boa. É muito difícil encontrar no mercado todos os meses e há muita os nossos legisladores poderão ouvir. De
independência cientíÆca. importação de países fora da Europa. Este é outro modo, as empresas são mais
Também falta tempo para tomar um sector que provavelmente poderia ser importantes do que os consumidores,
decisões informadas? melhorado em cada país. É importante que porque têm uma actividade de lobbying
Sim, temos uma vida, um trabalho... e os os consumidores que encontrem algo muito intensa. Precisamos que os
cosméticos não são a prioridade. São algo estranho no produto ou na lista de consumidores comecem a exigir
que compramos por prazer. Não são ingredientes alertem as autoridades. transparência.
medicamentos, por isso, temos tendência a Podemos fazer a nossa parte. Na moda, é algo que está a acontecer.
ser menos cépticos em relação a eles. No livro critica alguns dos mecanismos Na indústria cosmética não?
Além da sua formação em legais, nomeadamente a etiqueta Mais ou menos. [Os consumidores] fazem
Biotecnologia, trabalha como jornalista “cruelty free”. A este nível, identifica algumas exigências — por exemplo,
— escreve com regularidade para o Le problemas com a legislação? embalagens sem plásticos e cosméticos
Scienze. Vê muitos colegas neste nicho Sim. Como disse, temos uma forte amigos do ambiente. As empresas
cruzando o conhecimento científico legislação sobre a segurança dos atendem estes pedidos. Não sei se há
com a indústria de cosméticos? cosméticos, mas não temos uma forte exigência de transparência neste
Em Itália e na Europa penso que é raro. legislação sobre as promessas [que as momento.
Escrevo sobre ciência, em particular sobre marcas fazem sobre os seus produtos]. Quando escreve sobre parabenos, diz
cosméticos, mas também sobre comida, por Temos só alguns conselhos da UE, mas não que temos de ser menos alarmistas.
exemplo. Nunca li jornalismo de leis. As empresas podem não ligar aos Não é possível argumentar que “mais
investigação sobre cosméticos na Europa. conselhos. Por isso, temos muitas vale prevenir do que remediar”?
Nos EUA, na Austrália, na Nova Zelândia há promessas. Em teoria, não são autorizados, (Risos) Sim, e já usamos essa abordagem
alguns jornalistas ou escritores de ciência mas todas as empresas usam: “Sem na Europa. Há milhares de ingredientes
que tentam investigar a indústria dos parabenos, sem sulfatos, sem que não são permitidos no mercado,
cosméticos ou o sistema de produção dos conservantes.” Estamos cheios de porque não temos a certeza de que são
cosméticos. Mas somos poucos — cinco ou “produtos sem”. A etiqueta de cruelty free seguros. É diferente da abordagem dos
seis no mundo, acho. Não é muito fácil não é proibida, mas a UE sugeriu que não se EUA, onde a tendência é a de pedir
escrever, porque há poucos artigos escrevesse que um produto é cruelty free, desculpa depois de venderem algo.
cientíÆcos. E há muita pressão da indústria porque todos os produtos o devem ser. Porque diz que não existe “risco zero”?
cosmética; por isso, é muito difícil A nossa pele está protegida, mas não a Cada ingrediente tem os seus riscos. Não
encontrar fontes independentes. nossa carteira? existe um ingrediente que seja totalmente
Faz ideia por que razão há esta Sim. O legislador concentra-se na inócuo. Até a água pode ser nociva para
diferença entre a Europa e os restantes segurança. Provavelmente é muito difícil algumas pessoas. É importante avaliar o
países? fazer leis para o marketing, para as risco. É uma mudança de perspectiva —
Os produtos cosméticos não são essenciais. promessas, para o que se pode ou não estamos habituados a pensar em bom e
Acho que os meus colegas têm receio de escrever na embalagem. Mas acho que, no mau. Não é uma comunicação transparente
não serem vistos como [jornalistas] sérios, próximo ano, vamos ter melhorias nesta e [as empresas] tentam forçar as nossas
se escreverem sobre cosméticos. Também é escolhas. Acho que é uma boa ideia
difícil encontrar boas fontes e ser-se começarmos a pensar que tudo pode ser
independente. Se escrever sobre química arriscado.
em geral é mais fácil. [A cosmética é] algo É optimista em relação ao futuro?
fortemente ligado à indústria e com Sim, tenho uma crença forte na
conÇitos de interesses. É difícil manter humanidade. Neste ano e meio — ao falar
independência neste mundo. Recebi muitas com milhares de leitores, maioritariamente
propostas de patrocínios. E é difícil dizer: jovens —, comecei a pensar de uma forma
“Não, não quero o seu dinheiro.” (Risos) Há optimista em relação ao futuro. São muito
muitos tópicos por investigar. Tento
convencer os meus colegas a começar a
Cada ingrediente reactivos e abertos a mudar a mente.
Como tem sido recebido o livro?
escrever sobre isto, porque é interessante
para as pessoas.
tem os seus riscos. O lado positivo ou negativo?
Ambos!
Sente-se aceite pelos outros jornalistas?
Sim, absolutamente. Aceitam o meu
Não existe um que Recebo correspondência todos os dias com
feedback positivo [de leitores]. Das
trabalho e escrevem sobre ele. Seguem-me
nas redes sociais — Instagram e YouTube
seja totalmente empresas, tive uma resposta sobretudo
positiva. Tentaram comprar-me,
[onde tem 50 mil seguidores]. Os meus
colegas olham para mim como uma espécie
inócuo. Até a água oferecer-me presentes, propor-me
trabalhos. Com boa intenção. Quando
de modelo para crescer no ambiente das
redes sociais. Quem é responsável pela pode ser nociva disse que não queria nada, foram justas.
Tive alguns problemas com uma
segurança dos cosméticos e pelas
escolhas informadas — o Governo, as para algumas associação de defesa dos animais. Não
Æcou contente com o que escrevi sobre a
empresas, os jornalistas ou os próprios
consumidores? pessoas. É etiqueta cruelty free. Foram meses de troca
intensa de correspondência com eles e o
Primeiro é a União Europeia (UE). Como
escrevi, a Europa é o local mais seguro no importante seu advogado. Acho que foi o único
problema que tive.
mundo para comprar cosméticos, porque
temos um bom sistema de controlo e regras avaliar o risco catarina.moura@publico.pt
12 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Também há
mulheres
debaixo das
latadas e dentro
das adegas de
vinho Madeira
A cultura vitivinícola aÄrmou-se no século XVII. Nas últimas décadas,
as mulheres foram assumindo maior protagonismo. Agora,
representam mais de 40% dos viticultores registados e respondem
por uma nova marca
Por Ana Cristina Pereira texto e Ana Marques Maia fotografia
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 13

E
nquanto o pai de Águeda ajudar à santa missa. Tudo o que é preciso na Vinha para norte, com climas mais húmidos e decli-
Ribeiro foi vivo, ela nunca fez igreja, eu estou presente. E tenho a minha casa, As primeiras videiras chegaram ves mais abruptos, como tão bem se vê aqui,
a poda. Quando morreu, em a casa do meu irmão e temos a nossa fazenda.” às ilhas com os primeiros na freguesia do Seixal, no concelho do Porto
1980, não lhe restou outro re- Não se queixa da fadiga. “É bom sinal. A gente povoadores. As castas, com os Moniz. Hoje, a vinha é a cultura predominante
médio. “Fiquei eu mais minha trabalhando está sempre alegre. Em casa não anos e as crises, são muitas e as da vertente norte. “A nossa freguesia é peque-
mãe – sozinhas. Se não fosse a tem ninguém. Só se for com um vizinho que a videiras são suspensas para que, na, mas em São Vicente e em Santana há uma
gente a cuidar, o que é que a gente fale.” por baixo, se plante batatas vinhaceira que é uma coisa de admirar”, enfa-
gente comia?” Ainda naquela tiza Águeda. Um concelho tem 122 hectares de
manhã, andara com a tesoura da poda, que na vinha e o outro 84. Mais, com 125, só Câmara
Madeira se chama “podão”.
Do princípio do povoamento
de Lobos, na vertente sul.
Durante séculos, fazer a poda foi trabalho Aquele pequeno objecto, formado por duas As vinhas, na Madeira, estendem-se quase
de homens. Cortar videiras exige alguma força. lâminas articuladas, um cabo duplo e uma Tesoura da poda sempre na horizontal, sobre latadas de ara-

A
As mulheres só pegavam no podão nas vindi- mola, ainda que com aparência distinta ao lon- me, suspensas por estacas de madeira, para
mas. Usavam-no para cortar os cachos de uvas, go dos séculos, faz parte da história destas tesoura da poda na Madeira chama-se que em baixo se possam plantar batatas –
que os homens carregavam às costas, em ces- ilhas. As primeiras videiras vieram com os pri- “podão”. Este instrumento de e semilhas, no falar do arquipélago. Cobrem
tos de vime, por caminhos improváveis, não meiros povoadores, que desembarcaram no trabalho, formado por duas lâminas
uas lâmina até os mais pequenos socalcos, os chamados
raras vezes à beira de precipícios. primeiro quartel do século XV. Uma inevitabi- articuladas, ainda quee feito “poios”, sustentados por emparelhados de
Falecido o pai, Águeda fez como vira fazer. lidade no mundo cristão, não fossem o pão e de diferentes materiaiss e com basalto. Formam grandes manchas, que vão
“O tempo ensina.” Outras mulheres Æzeram o o vinho elementos essenciais na prática reli- aparência distinta ao longo dos do mar à serra, mas dividem-se por muitos
mesmo, perdidos que estavam os seus pais, giosa e na dieta alimentar, como costumava séculos, faz parte
arte da história donos. A área média das explorações era de
irmãos ou maridos para a emigração e a cons- dizer o historiador Alberto Vieira. das ilhas desde
esde 0,4 hectares aquando do Recenseamento
0,
trução. E agora há 866 viticultoras registadas Não se Æcaram pelas castas do reino. Expe- o início.. Agrícola de 2009.
Agrí
no Instituto do Vinho, do Bordado e do Arte- rimentaram plantar Malvasia, vinha da Cândia, A di
dispersão de propriedade obriga os agri-
sanato da Madeira (IVBAM), num total de 2078 hoje Heraclião, capital de Creta, Grécia. Trans- cultores a andar de um lado para outro por
inscritos, o que quer dizer que quatro em cada portavam o mosto das lagariças para os arma- estradas ín
íngremes e veredas estreitas. “É aqui
dez viticultores são do sexo feminino. zéns às costas, em odres ou borrachos, reci- um pedaço,
ped acolá outro e por aí adiante”,
Os olhos verdes de Águeda Ribeiro sobres- pientes feitos de pele de cabrito tratada que se suspira Águeda, que produz Verdelho e Ser-
susp
saem na pele curtida pelo sol. Aos 76 anos, ajustavam ao dorso de cada um. cial, duas das mais nobres castas utilizadas
sente-se capaz de tudo. “Tenho a igreja por O cultivo começou no Sul, com climas mais na produção de vinho Madeira, a par do Boal,
minha conta. Tenho de limpar a igreja e de secos e declives mais suaves. E disseminou-se da Malvasia, do Terrantez e da Tinta c
14 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Na Madeira também se faz vinho tranquilo

H
á mulheres entre produtores de vinho regional “Terras Madeirenses”. A graduação alcoólica não é grande.
vinhos de mesa com denominação Mas algo está a acontecer. A produção “Muitas pessoas acham que um vinho
de origem Madeirense ou vinho passou de 81.564 litros em 2009 para com pouca graduação alcoólica não
regional Terras Madeirenses. Uma 130.120 em 2018. presta”, observa Dina. “Um bom vinho não
delas veio de Lisboa, escolheu a casta Aproveitou o enólogo da adega. “O João tem de ter 14 graus. Se querem vinhos
Tinta Negra, a mais abundante na ilha, Pedro é o meu braço direito. Para com 14 graus, quentes, com volume, não
vinificou um branco, um tinto e um rosé consultoria, estou eu!” Ele distingue-a dos escolham um Madeirense. Se estão à
e chamou-lhe Ilha. outros produtores pela casta eleita. O procura de frescura, acidez,
A Madeira não tem história de vinhos Tinta Negra usa-se muito nos lotes de diferenciação, então provem um
tranquilos. Só no final da década de 1970 vinho Madeira. Só há pouco algumas Madeirense, bebam.”
começou a estudar a possibilidade de casas experimentaram fazer licorosos Na vindima de 2017, vinificou 11 mil
adaptar castas. Em 1984, desenvolveu as apenas com esta casta. Apenas litros. Na de 2018, 18 mil. Este ano, há-de
primeiras experiências. Quase uma recentemente, uma delas experimentou fazer ainda mais. Só no primeiro ano
década depois, surgiram as primeiras fazer um vinho de mesa — a Madeira Wine produziu apenas Tinta Negra. No
plantações. A pequena dimensão Campany usa-o há 27 anos para fazer o segundo, já experimentou Verdelho, uma
complicava a aposta em adegas. Em 1999, Atlantis rosé. das castas mais antigas da ilha. Não
o governo regional construiu uma em São A Tinta Negra representa cerca de vende barato o seu Ilha. Cada garrafa de
Vicente. É ali que é armazenada, em 80% dos vinhedos do arquipélago. Diana litro e meio chega ao consumidor a 19,90
barrica ou caixa de estágio, uma boa parte julga-a desdenhada por ser tão comum. euros. Parece-lhe que tem de ser assim.
do vinho de mesa produzido na ilha. João Pedro não faz juízos de valor. “É a “O vinho tranquilo Madeirense é um
Todos os anos abrem vagas para única tinta usada nos vinhos Madeira, foi nicho. Não há competição possível com
prestação de serviços. Em 2017, Diana introduzida após a praga de filoxera, é o Alentejo ou o Douro.”
Silva agarrou uma. resistente, tem boa acidez, o grau chega Quem mais produz nesta adega são as
É uma produtora improvável. Nasceu no aonde se quer. Como não é muito empresas Quinta do Barbusano (vinhos
seio de uma família formada por uma pintada, permite fazer quase a gama Barbusano) e Duarte Caldeira (vinhos
doméstica e um empregado de mesa, há completa”, diz. Terras do Avô). E Diana não é a única
33 anos, no Funchal. Estudou mulher. Elsa Ferreira, de Machico, foi
Comunicação e Turismo. Preparou-se para mesmo a primeira a produzir vinho de
ser guia-intérprete. Interessou-se por mesa na região. Orgulha-se de fazer tudo.
vinho ao fazer estágio nas Adegas de São “Do vinhedo à garrafa.” Tem dois hectares
Francisco, no Funchal. Já a estagiar no de vinhas — Touriga Nacional, Tinta
Palácio da Bolsa, no Porto, viu abrir a loja Barroca e Cabernet Sauvignon — no
Essência do Vinho e lançar a revista Blue Parque Agrícola do Caniçal, na vertente
Wine, actual Revista de Vinhos. sul da ilha. E é com o que dali tira que faz o
Nesse embalo, fez uma pós-graduação seu Pedra de Fogo.
em Marketing de Vinho. Trabalhou como Quando se juntam produtores, Negra. “Antes era Jacquez, mas o Jacquez foi
escanção. Tornou-se comercial. “Andava sobressai outro nome feminino: Elsa proibido.”
de um lado para o outro a activar marcas.” Franco. Quando esta engenheira civil se
Em Lisboa, onde fixara residência, o virou para a agricultura, em Machico,
marido queixava-se das ausências. Se era houve quem manifestasse dúvidas quanto
O domínio inglês
para aquilo, mais valia criar a sua própria à sua capacidade. “Só faltava aquela No último quartel do século XVI, com o negó-
marca. Sentiu-se desafiada. “Vou para a boneca de canudo”, desdenhou um cio do açúcar a agonizar, os ilhéus desataram
minha terra, onde acredito que está a ser vizinho. Estava encontrado o nome para o a trocar canas por videiras. O negócio aÆrmou-
pouco valorizada a casta mais vinho produzido a partir das castas se no século seguinte, imbricado nas rotas do
abundante.” Touriga Nacional, Merlot e Syrah, na costa tráÆco de pessoas e do comércio de especiarias,
Sabe que “não houve muito ensaio”. sul, nas terras de Tentilhão e do Cordas na ouro e prata. E consolidou-se, a seguir, por
“Temos vinte e tal anos de exploração.” zona de Machico. O negócio é familiar. O impulso dos britânicos. No embalo deste novo
Só em 1999 foi publicada a portaria que vinho Boneca de Canudo está registado ciclo económico, desenvolveu-se a burguesia
define os requisitos da denominação de em nome de Juvenal Franco. nacional, instalou-se a burguesia estrangeira,
origem “Madeirense”. Só em 2006 Para Diana, isto de ser mulher no cresceu a cidade.
surgiu a possibilidade de usar o rótulo mundo dos vinhos “ajuda e desajuda”. Escreveu o historiador Alberto Vieira, num
Ajuda na divulgação. “Como há poucas, artigo que integra o livro Os Vinhos Licorosos e
há alguma curiosidade.” Desajuda na a História: “Os tratados luso-britânicos, a de-
negociação. “Há uma descrença na Ænição da Madeira como escala segura e privi-
capacidade. A mulher chega a uma vinha legiada para os veleiros ingleses ditaram esse
e diz que é assim e não é assado e o promissor destino do vinho Madeira. O vinho
viticultor fica a olhar. ‘É jovem. É mulher. da ilha sai dos horizontes do mundo português
Não pode carregar caixas de uvas. Não e alarga o seu mercado ao ascendente mundo
vai ensinar nada!’” colonial britânico.”
Tudo se complica num sítio com grande Era como se a Madeira fosse uma colónia de
tradição de vinhos. Há viticultores que dupla pertença. A feitoria britânica controlava
vendem as uvas ao mesmo produtor há o comércio do vinho e abastecia a ilha de arte-
20 anos. “Mesmo que eu ofereça mais factos, alimentos e outros bens. E os ilhéus
dinheiro, alguns não querem vender. Têm gemiam. O negócio sofreu um forte abalo no
medo. ‘Quem é esta? Chegou agora. século XIX. Houve muita baldeação nos Açores
Quanto tempo vai durar?’” No ano e nas Canárias. Cresceu a concorrência de vi-
passado, em que houve uma quebra de nhos licorosos do Porto, de França, de Espanha
produção, Diana viu-se aflita para ou do Cabo da Boa Esperança. Depois, veio o
encontrar uvas com a graduação e a oídio, a que os agricultores chamam “mangra”,
qualidade que desejava. “Pedi ajuda à e destruiu grande parte dos vinhedos. E logo
Justino’s, que é um dos produtores que a seguir a Æloxera. Com a moléstia das vinhas,
mais compram uvas na Madeira. a ruína e fome disseminaram-se com uma se-
Trabalhamos em parceria. O sonho dela, veridade nunca vista.
quando decidiu fazer vinho, era ver os Era um tempo de recomposição. Sem pers-
produtores unirem-se para elevar o nome pectiva de lucro, centenas de britânicos parti-
da ilha A.C.P ram. Procurando sobreviver, milhares de ilhéus
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 15

“Meu pai era feitor. A vindima durava 15 dias.” cado a liderança na produção de vinho Ma-
A autonomia (1976) e a criação do Instituto do deira. Podemos dar um valor acrescentado
Vinho Madeira (1979) trouxeram uma maior ao contar uma história sobre o vinho e não
valorização das vinhas e do vinho. Com a en- tem de ser uma história muito do passado,
trada de Portugal na União Europeia (1986), pode ser recente. Isto é uma área muito com-
vários programas foram pensados para recon- petitiva e cada vez mais é preciso arranjar algo
verter as vinhas. E combateram-se as falsiÆca- que distinga.”
ções feita nos Estados Unidos, na União Sovié- Os primeiros vinhos chegaram ao mercado
tica ou na África do Sul. em 2016. Então, o meio-seco e o meio-doce
A dor de cabeça, agora, são as alterações foram distinguidos em Madrid, no Vino y Mu-
climáticas. “No ano passado, ai senhores, foi jer, patrocinado pela Organización Internacio-
uma desgraça.” A chuva atrasou-se. A vinha nal de la Viña y el Vino, com o apoio da Aso-
precisa de frio nos gumes para Çorir. Sem frio, ciación Española de Periodistas y Escritores
há menos Çores. Quando a chuva chegou, del Vino. No ano seguinte, os galardões foram
quanta Çor terá apodrecido? Havendo menos para o doce e o seco. Já em 2018, surgiram os
Çor, há menos uva. “Não deu nada!” primeiros vinhos de cinco anos nas versões
Águeda anda todo a ano debaixo das latadas doce, meio-doce, seco e meio-seco. Está pro-
a acompanhar, passo a passo, a desenvolvimen- vado, suscitam curiosidade. Contam-se pelos
to das suas videiras, que nos anos bons podem dedos da mão as mulheres que Æzeram história
dar cinco toneladas e nos maus nem um terço. no vinho Madeira.
“Com o Jacquez era: de 15 em 15 dias, enxofre.
Com esta vinha, se não for a tratar de oito em
oito dias, é … uma podridão.”
Uma espécie de dona Ferreirinha
Tem vários podões. Serve-se deles várias ve- Ainda haverá quem se lembre de Manuela
zes no ano. Em Novembro, a seguir à vindima, Vasconcelos. Preparou-se para ser uma espo-
com as videiras já despidas, pega num podão sa e mãe devotada. Foi em 1976 desaÆada pelo
para fazer a poda de Inverno, que aqui se cha- pai, Mário Vasconcelos, fundador da Barbei-
ma “espoldra”. Em Março, quando as videiras to, a trabalhar no negócio da família. Como
já têm folhas, torna a pegar para fazer a poda. falava outras línguas, acabou por representar
Em Setembro, pega para as vindimas. “Faço a empresa nas mais relevantes feiras interna-
tudo! Só chamo gente para apanhar. Tem de cionais. Com a morte do pai, em 1985, a Bar-
ser. Não dá para entregar um bocadinho de beito sobreviveu graças a ela, aos Ælhos e à
cada vez.” parceria com a família Kinoshita, distribuido-
ra no Japão.
Poucos, todavia, conhecerão o nome de
Um vinho feito por mulheres Guiomar de Sá Vilhena, grande proprietária
Águeda não se convenceu de que tudo sabe. dos últimos quartéis do século XVIII, uma es-
Gosta de ouvir a opinião de “quem estudou”, pécie de dona Ferreirinha. Bernardete Barros
como Cristina Nóbrega, que faz parte da Ma- fez uma investigação que deu um livro e aí
deira Vintners, uma marca de vinho produzida conta que Guiomar herdou a fortuna dos pais,
apenas por mulheres. A engenheira agrónoma, de um irmão, que morreu jovem, e de um
de 28 anos, é a mais nova. Além dela, há Lisan- primo, que era padre. E foi a morte do irmão,
dra Gonçalves, a enóloga residente; Regina sem descendência, que a levou a assumir os
Pereira, a enóloga consultora; Micaela Martins, negócios.
outra engenheira agrónoma, mas focada na Naquele tempo, tudo o que se esperava de
logística; Jacinta Pedra, que presta apoio jurí- uma mulher era que se dedicasse a Deus ou
dico; Gabriela Pestana, a responsável pela par- ao marido e aos Ælhos. Ela não fez uma coisa
te comercial; e Susana Pedro, à frente do de- nem outra. Presume-se que tenha aprendido
partamento Ænanceiro. a ler, escrever e a fazer contas com familiares.
Não é um projecto feminista. É um acaso, E que o mecenato e assistência lhe tenham
mas é um acaso que reÇecte a democratização permitido andar fora de casa. Com essa edu-
do ensino e a entrada generalizada das mulhe- cação, assumiu a gestão da sua fortuna e con-
res no mercado de trabalho. seguiu acrescentá-la.
Trabalham para a Cooperativa Agrícola do O momento era de grande dinamismo. Dona
Funchal (CAF). O seu negócio é o comércio por de diversas embarcações, a “ilustríssima se-
grosso de produtos e serviços agrícolas e, aos nhora” enfrentou os comerciantes ingleses.
60 anos, a organização decidiu diversiÆcar a Chegou a ser responsável por cerca de meta-
sua actividade. “A produção de Madeira podia de das exportações de vinho, “sendo a sua e
sustentar ainda mais a nossa área”, explica Su- a de Pedro Jorge Monteiro as duas maiores
sana Pedro, numa alusão ao aconselhamento casas comerciais portuguesas na ilha, concor-
técnico e aos descontos nos produtos agrícolas rentes dos ingleses”.
oferecidos a quem lhes vende uvas. Hoje, o mercado é liderado pela Madeira
O projecto avançou em 2012, então com ho- Wine Company, controlada pela família
mens e mulheres. Recorrendo às instalações Blandy. Além desta, há a Henriques & Henri-
da Adega de São Vicente, trataram da primei- ques, a Justino’s Madeira Wine, a H. M. Borges
emigraram. Muitos dos que Æcaram viraram-se Vindima ra vindima. Já depois, houve uma reformulação Sucrs, a Pereira d’Oliveira, que junta cinco
para outras culturas ou experimentaram va- A Madeira Vintners (no topo) é da equipa e perceberam estar apenas entre famílias portuguesas, a Barbeito, a J. Faria &
riedades americanas, como Herbemont, Cun- uma marca de vinho que tem a mulheres. Cabe perguntar se isso fará diferen- Filhos e, agora, a CAF. Todas, diz Paula Jardim
ningham e Jacquez. particularidade de ser produzida ça no vinho que produzem, agora nas instala- Duarte, “empenhadas na constante melhoria
exclusivamente por mulheres. ções da CAF, em São Martinho, na parte alta da qualidade do vinho”. Juntas produzem
Águeda Ribeiro (em cima) é uma do Funchal. Regina Pereira julga que sim. “É mais de três milhões de litros por ano. E, no
Reestruturar as vinhas
das 866 viticultoras do um vinho mais elegante, mais leve, mais sub- campeonato da inovação, destacam-se os enó-
No início do século XX, algum desse vinho foi arquipélago. Diana Silva (à til.” Tem um dos mais baixos graus de álcool logos Francisco Albuquerque (Blandy), Juan
usado na composição do vinho licoroso. A fama esquerda) é enóloga de permitidos por lei – Æca-se pelos 17,5 graus, Teixeira ( Justino’s Madeira) e Ricardo Diogo
do Madeira tremeu. Até porque, ao mesmo formação e produz, desde 2017, quando o Madeira pode ir até 22. (Barbeito).
tempo, diminuiu-se a quantidade de aguarden- o vinho madeirense (DOP) “Ilha” O acaso também ajuda a promover a marca. Talvez este seja um sinal. “O vinho Madeira
te usada em cada lote. E desenvolveu-se a con- “O vinho Madeira é um vinho com história. teve muitos anos sem ver um novo produtor”,
trafacção de Madeira em Espanha, França, Nós estamos a fazer a nossa história”, resume sublinha Gabriela Pestana. O que se via era de-
Alemanha. Micaela Martins. A presidente do IVBAM, Pau- saparecer. “De repente, aparecemos nós. Não
Quando Águeda era nova, ainda havia mui- la Jardim Duarte, reconhece a estratégia de queremos ser mais um produtor. Queremos
to Jacquez, que aportuguesaram para Jaquê. marketing: “Os homens têm ocupado um bo- ser um novo produtor.” Para garantir um c
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“O futuro passa
bom ponto de partida, Cristina Nóbrega anda
pela ilha, o ano inteiro, a acompanhar viticul-
tores que vendem uvas à casa.
A engenheira agrónoma observa que cada
viticultor tem as suas manias. “Uns gostam de
podar com a lua certa, outros com a maré cer-
ta.” Vai ouvindo uns e outros e certiÆcando-se
de que cada um faz o que é preciso. Quando
começa o fecho do cacho, há que tirar a folha.
por vinhos
Mais perto da maturação, há que fazer a des-
ponta. “Isso é importante, porque a uva é con-
trolada pelo grau Brix”, ou seja, pela quanti-
dade de açúcar ou sacarose da fruta. No Ænal
Madeira mais
de Agosto, Cristina começa a andar pelo cam-
po a medir o grau das uvas, a ver se está na
altura de apanhar.
Entre os agricultores Cristina conta várias
caros. O stock é
mulheres que tudo fazem, algumas já entradas
na idade, como Águeda. Já foi bem mais difícil
tratar da vinha. “Não tem nada que ver”, ex-
clama a viticultora. “Agora, tenho uma máqui-
na. Aquilo tem uma bateria. É um brinco, à
sempre limitado”
vista do que já foi. Se fosse com as máquinas
antigas, uma mulher via-se e desejava-se. Mui-
tas não iam. Era muito pesado!”
Às vezes, Águeda vislumbra troça. “Fazem
pouco das mulheres que trabalham muito. Às
vezes, dizem-me: ‘Não tem vergonha de traba-
lhar?!’ Vergonha de trabalhar nunca tive. Te-
Christopher Blandy faz parte da sétima
mos de trabalhar! Quem não estudou… Dei a
4.ª classe com 10 anos. Se não saísse da escola,
geração de uma família britânica associada à
era um avião. Um aviador! Os meus pais não
tinham posses. A minha mãe teve seis Ælhos.
história do vinho Madeira e entende que é
Não era como agora. Agora, quem não pode o
Governo ajuda.”
preciso conservar vinho para as gerações
Tudo parece ter mudado. Dantes, a pisa era
tarefa dos agricultores. Fazia-se com pés des- vindouras
calços ou botas de água em lagares rudimen-
tares. Nem todos os tinham, é certo. Os maio-
res emprestavam aos outros. E quem se punha Por Ana Cristina Pereira
a escolher os bagos maus ou a lavar os bons

Q
antes de os pisar? Só as operações vinárias, na uando o primeiro Blandy manter. anos.
adega, eram coisa do produtor. Agora, vai tudo desembarcou, no início de Teve a educação tradicional de um rapaz Estas são as suas raízes?
para as adegas. As uvas são pesadas. Um téc- 1808, a Madeira era uma de uma família abastada inglesa. Aos 40 Exactamente. Eu gostava muito que eles
nico tira o grau. As uvas são seleccionadas. Só espécie de colónia britânica. anos, identifica-se mais como português fossem para a escola em Inglaterra, mas com
depois começam a espremer. As tropas de Napoleão ou como inglês? 17 anos.
tinham invadido Portugal e Depende de quem está a jogar [risos]. Cada Para a universidade?
João IV tinha fugido para o vez me sinto mais português, aliás, mais Sim, embora tenha gostado de fazer o
Um vinho diferente
Brasil. Os madeirense. secundário lá. Adorei jogar râguebi e fazer
O vinho Madeira tem as suas particularidades. britânicos controlavam a ilha. Entre o dia 26 Sempre foram enviados para Inglaterra amigos de várias partes do mundo. Isso acho
“É um vinho diferente”, realça Regina Pereira. de Dezembro de 1807 e o dia 17 de Agosto de para estudar em colégios internos? importante. As pessoas conseguem, se têm
“Este não é um vinho de cave. É um vinho de 1808, até hastearam a sua bandeira no Sim, sim. Acontece com ingleses em várias oportunidade, Æcar com uma visão mundial.
sótão. É um vinho que gosta de calor, ao con- torreão do palácio de S. Lourenço, no partes do mundo. Muita gente manda os Saiu de um colégio interno para uma
trário dos outros.” Funchal. Ælhos estudar em Inglaterra para manter universidade inglesa?
O método tradicional de envelhecimento, o John Blandy tinha um problema de saúde aquela ligação inglesa, aquela formação Estive em dois colégios internos, vivi um ano
canteiro, exige muitos anos de armazenamen- para resolver. Uma estadia na Madeira era a inglesa. Isso também ajuda a criar uma rede na Nova Zelândia, a fazer outra coisa
to. Os vinhos envelhecem em pipas que repou- receita de vários médicos ingleses e de de contactos, o que é importante para os tradicional dos ingleses, o chamado gap year
sam nos andares superiores e mais quentes outros países para diversos males. Bateu à negócios. (entre a escola e a universidade, passei
dos armazéns. E vão descendo de andar à me- porta de Newton, Gordon & Murdoch, com Como é que uma criança processa essa praticamente um ano a trabalhar como
dida que vão Æcando mais velhos. No Ænal do uma carta de recomendação. Procurava mudança? professor de desporto). E depois voltei para
século XVIII, notou-se que, sujeitos a grande emprego. Em 1811, já estava estabelecido Falando por mim, não pelas minhas irmãs e Inglaterra. Estudei [História e Línguas] na
viagens marítimas, no calor dos porões, os vi- com exportador. A feitoria inglesa controlava pelos meus amigos, foi uma aventura. Universidade de Newcastle.
nhos Madeira não Æcavam estragados como os a exportação de vinho e a importação de Obviamente, havia dias em que estava Teve a sua primeira experiência laboral
outros, mas mais aromatizados. Anos depois, artefactos e alimentos. Por força dos tratados mesmo triste, mas tinha uma irmã que vivia no Porto?
para responder à grande procura, os produto- luso-britânicos, viviam uma situação de perto e tinha aquilo a que nós chamamos um Nós temos uma regra interna na família:
res estavam a aquecer o vinho. Uns aproveita- privilégio desde o século XVII. Aproveitaram “guardian”, um amigo da família que vivia a temos de trabalhar pelo menos quatro anos
vam o sol, outros serviam-se de fornalhas. a sua curta administração para a reforçar. uns 20 minutos. Se estava mesmo aÇito, ia fora das empresas do grupo. Trabalhei dois
Hoje, usam cubas fechadas para estufar vinhos As pragas que destruíram as videiras ter com um deles. Quero dizer uma coisa: os anos no Porto, com a família Symington, no
novos ou melhorar os velhos. afastaram muitos. Não a família Blandy. Essa meus Ælhos não vão para Inglaterra estudar! departamento de marketing; e dois anos em
Águeda gosta de tomar o seu cálice de Ma- comprou um grande stock de vinhos velhos e Vai quebrar a tradição? Washington DC, no Willard Inter Continental
deira. “Ai, senhores, quem é que não gosta? continuou o negócio e diversiÆcou-o. Ainda Eu fui para Inglaterra com oito anos. Gostei Hotel, como diplomatic liaison manager.
Não se bebe é muito, que faz mal.” E ela não hoje ocupa um papel de destaque na imenso, mas tenho pena de ter saído tão A família Symington era a vossa grande
se tarda no que faz mal. Não toma um único economia da região autónoma da Madeira. novo. Sinto que perdi as minhas ligações parceira?
medicamento. Levanta uma mão e, apoiando- Christopher Blandy faz parte da sétima naturais. Só voltei a começar a falar É. Foi um pouco de batota [risos]. Não foi
se na latada, solta um suspiro. À sua volta qua- geração. O presidente da Madeira Wine português como deve de ser quando vivi no 100% fora do grupo, mas com uma empresa
se só há pessoas com muita idade. Não põe as Campany dispõe-se a ter uma conversa Porto, e isso já foi depois da universidade. externa do grupo. Hoje em dia, a Symington
mãos no fogo pelo futuro do vinho. “Gente descontraída sobre a vida e sobre o vinho, Sei que não vou fazer isso aos meus Ælhos. Family Estate tem 10%, mas na altura tinha a
nova não trabalha nada disto. ” Alguns nunca não nas históricas Adegas de São Francisco, Aliás, a minha mulher, que é da Madeira, maioria da Madeira Wine Company.
pegaram num podão. Blandy’s Wine Lodges, no Funchal, mas na também não deixa. Como é que via a ilha, à distância?
zona industrial do Caniçal, nas novas adegas. Quantas crianças têm? Adorava. Quando estava fora, falava muito
acpereira@publico.pt AÆnal, nem todas as tradições são para Duas. Um rapaz e uma rapariga. Têm sete na Madeira. Contava que nasci numa ilha
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 17

Ainda têm garrafas dos primeiros anos? estável [segundo o Instituto do Vinho, do
Sim, sim. O vinho Madeira é algo quase Bordado e do Artesanato, na campanha
indestrutível. É impressionante. Uma pessoa vinícola 2017/2018, produziu-se 3,95 milhões
consegue abrir uma garrafa e beber ao longo de litros de vinho licoroso com denominação
de anos. de origem Madeira; na campanha de
Quanto tempo é aconselhável deixar 2018/2019, 3,22 milhões]. O que vejo
respirar? acontecer é o preço destes vinhos mais
Nós temos uma regra: um dia para cada dez velhos começar a aumentar. A empresa vai
anos que o vinho está na garrafa, ou seja, se ter de fazer um controlo do stock.
o vinho foi engarrafado em 1919, nós vamos Não vender tanto?
ter de abrir dez dias antes. Nós estamos a Temos de dizer não para deixar para o
preparar agora um vinho especial para futuro.
assinalar os 600 anos do descobrimento da O futuro passa por vinhos mais caros?
Madeira. O futuro passa por vinhos Madeira mais
Quando é que vão lançar? caros. O stock é sempre limitado.
Em Setembro. E como é que se garante que as uvas
Qual é a casta? continuam a ser produzidas com uma
Várias castas, vinhos de três séculos. população tão envelhecida?
O que explica que a Blandy tenha Isto é um desaÆo grande. Há menos jovens. E
sobrevivido estes 200 anos e que as há mais oportunidade do que antigamente
outras empresas de famílias britânicas de trabalhar num bar, num restaurante ou
tenham sido engolidas? noutra empresa qualquer ou até de emigrar.
No início do século XX, foi criado uma Depois temos a lei da herança em que cada
associação, a Madeira Wine Association. Ælho recebe uma parcela. O terreno aqui já é
Nós juntámo-nos em 1952 com a família muito limitado. Não são vinhas. São jardins
Leacock. Nesse início de século, as coisas na com vinha.
Madeira estavam mal, mesmo muito mal. Cada filho tem de ser o seu “poio”
Havia vários problemas fora do nosso [parcela de terra]?
controlo – a Primeira Guerra, a Revolução Sim. Esta fragmentação também é
Russa, a Lei Seca nos Estados Unidos. complicada, porque muitos terrenos estão
Estamos a falar de grandes mercados e nós abandonados. Muitos Ælhos já não vivem cá,
somos pequenos produtores, uma gota no já não querem saber do terreno. E existe
oceano dos vinhos. Juntaram-se vários grande pressão imobiliária. Tem havido
produtores pequenos, famílias portuguesas muitas expropriações por causa das estradas
e inglesas, para criar esta Madeira Wine novas. Isto tudo está a pôr a vinha sob
Association [e reduzir custos e aumentar enorme pressão e, infelizmente, os grandes
visibilidade]. Ao longo dos anos, fomos produtores nunca tiveram assim tanta vinha.
comprando acções. [Em 1989, aliaram-se à Nós compramos quase 100% da nossa uva
Symington, uma família luso-britânica aos agricultores. Esse é o risco.
detentora de diversas empresas de vinho do Têm comprado terras?
Porto.] Sobrevivemos, mas foi complicado Estamos a tentar investir na nossa própria
subtropical, no meio do Atlântico, falava da com vários accionistas, várias marcas e vinha. Temos neste momento seis hectares.
nossa História, não só do vinho, mas da vários lugares no mundo. Os últimos dez ou Eu sei que as outras empresas estão a fazer o
própria ilha, e as pessoas Æcavam a ouvir-me 15 anos foram de crescimento do vinho mesmo. Se vamos investir na vinha, temos
falar e sonhavam com este sítio. No Verão, Madeira. O ano passado foi mais um ano de encontrar uma área suÆcientemente
trazia amigos para cá. Passávamos umas record. grande para justiÆcar o investimento. E
semanas na Madeira e no Porto Santo. Vivi Em termos de vendas, não de produção. temos procurado.
fora com muita saudade. Em termos de vendas foi um dos melhores O preço da uva não devia estar em cima
De que tinha mais saudades?
Primeiro, da família. Segundo, dos amigos.
O vinho Madeira é anos do sector. Agora é mais complicado,
porque um dos nossos melhores mercados
da mesa? Os viticultores queixam-se,
sobretudo os que produzem Tinta Negra.
Terceiro, daquilo que nós chamamos em
inglês “lifestyle”. Aqui uma pessoa tem tudo:
quase indestrutível. era Inglaterra e, com o “Brexit”, as grandes
superfícies já estão a fazer menos operações
Dizem que o baixo preço afasta os
jovens.
montanha, mar, cultura.
No regresso à ilha, pertencendo a uma
É impressionante. e os vinhos frutiÆcados levaram um corte
muito grande. Nos últimos anos, esse
Sim, mas não podemos esquecer que esta
parte do sector está muito associada ao
família ligada ao sector do vinho, não foi
por aí que começou... Uma pessoa mercado baixou radicalmente.
Agora qual é o mercado mais forte?
Instituto do Vinho, do Bordado e do
Artesanato da Madeira. Houve choques
A família sabia quem era líder dentro da
parceria. Eles [Symington Family Estate] consegue abrir uma O mercado da ilha continua a ser muito
importante. Depois temos a França, que nos
durante muitos anos. Estávamos de costas
viradas. Não havia castas brancas suÆcientes
tinham a maioria. Quando me juntei à
família, entrei nas empresas de viagens garrafa e beber ao últimos anos tem Æcado em primeiro lugar.
Só em 2017 foi ultrapassada pelos Estados
e andámos anos a alertar o governo para a
necessidade de as replantar. Havia Tinta
[Blandy Travel] e de navegação [Blandy Unidos, que tem muito potencial, mas Negra a mais no mercado e houve um
Shipping]. Tinha 27 anos. Estávamos com
um projecto de expansão. Depois, com a
longo dos anos recuperou em 2018.
Há margem para o vinho Madeira
esforço muito grande dos viticultores, do
instituto, dos produtores para encontrar um
crise, tivemos de fazer uma remodelação continuar a crescer? equilíbrio. Obviamente, que quando há falta
muito grande. Focámo-nos na Madeira e Isso é uma pergunta que estamos a fazer de algum produto, os preços sobem. Nas
Æquei responsável por essas duas agências. diariamente. Tenho um director comercial castas brancas, houve quase uma duplicação
Em 2010, entrei para a administração da que acaba de assinar um contrato na China. de preço nos últimos cinco anos. Os
Madeira Wine Company. E em 2011 O que isso implica em termos de stock temos viticultores tinham pouca vontade de plantar
recuperámos a maioria da empresa. Tinha 32 de ver muito bem. O negócio de vinho castas brancas, porque requerem mais
anos. Isto era a minha primeira Madeira é uma pirâmide invertida. Nós atenção, mais produto e dão menos uva.
responsabilidade grande. estamos a comprar uvas e temos de Houve um aumento de subsídio para casta
Era uma questão de honra celebrar os envelhecer o vinho durante cinco, dez, 20, branca, o que fez com que fosse vista como
200 anos com o controlo da empresa? 50, 150 anos. Quando chegamos ao pico da mais vantajosa. A Tinta Negra continua a ser
Sim. Mesmo com diÆculdades, havia aquela pirâmide, os vinhos mais velhos, mais uma das mais importantes, sem ela o sector
sensação positiva: estamos na Madeira há valiosos, têm uma procura enorme. Também cai. O último ano foi atípico, não foi um ano
200 anos e o objectivo é estar mais 200 anos. as colheitas, os 20 anos, os 15 anos, os dez bom para as vinhas, aliás, para a agricultura.
Nunca havia, pelo menos da minha parte, anos. A minha diÆculdade não é tanto agora, Houve um equilíbrio entre oferta e procura,
aquele stress: isto tudo vai acabar. Foi uma é daqui a cinco ou dez anos. É a próxima até queríamos ter comprado mais e não
oportunidade de mostrar o que é que valia e geração que tiver de cuidar da empresa que conseguimos. Nos anos anteriores,
o que valíamos em termos de equipa, de vai sentir uma pressão enorme em termos de comprámos aquilo que precisávamos e havia
empresas, de marcas. stock. O volume tem sido mais ou menos mais no mercado. É o mercado a funcionar.
18 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Dos Prides
às marchas
críticas
O Orgulho
também se
vende? N
o ano em que se completam
50 anos desde a revolta de
Stonewall, a marcha do
Orgulho LGBTI+ (lésbicas,
gays, bissexuais, transgéne-
ro, intersexo e outras iden-
tidades) de Nova Iorque
dividiu-se. De um lado man-
teve-se a gigantesca NYC Pride March, organi-
zada pela Heritage of Pride; do outro, a nova
Queer Liberation March, uma proposta do co-
lectivo Reclaim Pride Coalition, que seguiu o
No ano em que Lisboa abriu a marcha LGBT ao apoio de empresas, percurso original de 1970. No ano em que a
cidade recebe também os eventos do
o Orgulho do Porto saiu à rua sob o lema: “O Porto não se rende e o Worldpride, esta coligação de associações acu-
sa a Pride de se ter tornado uma montra pu-
Orgulho não se vende.” Noutros países, há cada vez mais marchas blicitária para grandes marcas, deixando de
espelhar as reivindicações mais urgentes da
alternativas. Animar ou libertar a malta — o que faz falta? população LGBT e desviando-se da mensagem
original altamente politizada dos primeiros
protestos, em 1969.
Por Aline Flor O debate sobre o “capitalismo rosa” — a apro-
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JEENAH MOON/REUTERS

priação de símbolos LGBT para Æns comerciais de Madrid deste ano, um cartaz denunciava: Desfile nicho de mercado apetecível”, ironiza.
— é antigo e já motivou a cisão de Prides nou- “Um Orgulho gay, branco e burguês não é um As marchas nasceram para A presença de empresas nas marchas do Or-
tros países. Em Espanha, em Madrid, uma se- Orgulho, é uma vergonha.” reivindicar direitos das gulho LGBT tem contrapartidas Ænanceiras que
mana antes da MADO oÆcial, saiu à rua a Mar- Eduarda Ferreira, uma das fundadoras da populações LGBT, mas com a permitem à respectiva organização ter mais
cha do Orgulho Crítico, cuja plataforma nasceu Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa (MOL) passagem das décadas algumas recursos logísticos e de divulgação do evento
enquanto bloco reivindicativo no ano em que — onde fez parte da comissão organizadora tornaram-se desfiles cada vez e, espera-se, das causas. Este ano, depois da
a cidade acolheu o gigantesco Europride, em como representante do Clube Safo e, mais menos politizados e mais aprovação do regulamento da MOL (a maior
2007, até se tornar uma manifestação à parte. tarde, da UMAR — esteve no Europride em festivos. As marcas têm feito um marcha do país) que possibilita que empresas
Em França, as Prides de Nuit também se insur- Madrid. “Uma loucura”, descreve: uma festa aproveitamento que não é bem “cuja prática não contradiga os princípios” da
gem contra as marchas invadidas por empre- memorável, com música alta e horas de des- visto por muitos dos que marcha estejam presentes, a Microsoft foi a
sas; o mesmo na Alemanha, em cidades como Æle exuberante. Por outro lado, menos des- continuam a desfilar primeira gigante a embarcar na onda arco-íris.
Berlim ou Colónia. Estes movimentos alterna- taque para as palavras de ordem. “Há visibi- No Arraial Pride, organizado pela ILGA-Portu-
tivos queixam-se da despolitização e mercan- lidade, mas não há trabalho de mudança de gal (que agrega cerca de 1500 pessoas, entre
tilização das Prides, reivindicando um Orgulho mentalidades. Que mensagem é que se quer associadas e voluntárias), constam nomes como
mais radical e combativo. Defendem de forma passar?” Não se opõe a esse modelo, mas a farmacêutica Gilead, a Google e a Fujitsu.
intransigente os direitos das populações LGBT, nota que “já é outra coisa”, deixa de ser uma Surge a preocupação de os apoios comerciais
com particular atenção para grupos discrimi- marcha do Orgulho no seu sentido original serem vazios, posicionando as empresas en-
nados de forma mais agressiva, como as pes- — uma ocupação do espaço público para ce- quanto aliadas ou defensoras de uma causa
soas trans e intersexo, e pessoas com outras lebrar vivências e identidades muitas vezes social, mas sem escrutínio da aplicação desses
características que agravam a discriminação invisíveis e protestar contra a discriminação. princípios na relação com trabalhadores e con-
— negras, pobres, mulheres, com diversidade Onde estavam as marcas quando o Orgulho sumidores. Muitos salientam que este tipo de
funcional, imigrantes, etc. No Orgulho Crítico surgiu em Portugal? “Não éramos ainda um apoio é apenas mais uma forma de pu- c
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blicidade para as marcas conquistarem um


nicho de mercado. O debate interno sobre a
abertura das principais marchas a entidades
comerciais tem-se mantido reservado. Ao con-
trário do que acontece noutros países — em
que a presença de animados autocarros patro-
cinados “engole” as pessoas que trazem carta-
zes e palavras de ordem —, em Portugal, as
marchas ainda são predominantemente reivin-
dicativas.

Variações de negócios
Em 2018 nasceu a Variações — Associação de
Comércio e Turismo LGBTI, reunindo dezenas
de empresas e empresários portugueses com
negócios destinados a estes grupos. A associa-
ção tem colaborado com o Governo na deÆni-
ção de estratégias para fomentar o turismo
LGBT e tenta trabalhar com outras entidades
de comércio e turismo para promover serviços
LGBT friendly.
Para Diogo Vieira da Silva, director executi-
vo da Variações, é melhor ter as empresas ao
lado das causas, assumindo compromissos que
possam ser acompanhados. Sobre as delicadas
negociações de patrocínios para Prides obser-
va que é possível introduzir “medidas inteli-
gentes”, como traçar limites para as manchas
visuais de publicidade dos autocarros (estra-
tégia aplicada na Alemanha). Se, por um lado,
o autocarro da Variações tem desÆlado na MOL
sem impedimentos, a marcha do Orgulho do
Porto, com regras diferentes, impediu-o de
participar o ano passado.
Reconhecendo a desconÆança em relação à
participação de empresas, a associação pro-
cura “colmatar a sensação de que os negócios
estão desligados da preocupação social”, refe-
re Vieira da Silva, relembrando que o envolvi-
mento das entidades empregadoras também
é importante para o bem-estar dos trabalha-
dores LGBT. “Como é que lido com um homo-
fóbico? Quero que ele mude o comportamen-
to.” AÆnal, “todas as pessoas LGBT fazem ac-
tivismo pela forma como vivem e se expõem
publicamente”, justiÆca.
Mas qual deve ser o lugar das empresas numa
marcha reivindicativa? Nem todas as pessoas
que participam nestes eventos têm problemas
com a sua presença, e algumas, diz o também sa, mas que, em simultâneo, contribuem com lidade que é positiva.” Além disso, diz, uma vezes confundida com a festa e ofuscada pelo
director de marketing do hostel Late Birds, não milhões de dólares para Ænanciar políticos com falsa imagem de prosperidade pode esconder grande evento que sugava a atenção da impren-
gostam tanto das partes mais politizadas, como propostas anti-LGBT. Outro exemplo muito a discriminação que ainda existe: em Portugal, sa. A decisão de fazer os eventos em dias dife-
discursos e palavras de ordem. “O mercado citado — e controverso — é o do Governo de grande parte dos direitos estão conquistados, rentes acabou por se consumar há dez anos,
existe e vai continuar a existir” — e, para o em- Israel, que publicita ostensivamente a promo- mas ainda há um “aprofundamento social” por quando a organização do Arraial terá diÆcul-
presário, a preocupação deve ser controlar o ção dos direitos LGBTI, mas que alguns acusam concretizar. “A não-discriminação exige uma tado a subida ao palco das associações que
capitalismo “desenfreado”. de ser uma forma de desviar a atenção da vio- revisão de uma série de práticas.” organizam a Marcha para lerem o manifesto e
A Variações é uma das promotoras — a par lação dos direitos humanos dos palestinia- Sérgio Vitorino vê outros perigos. Em breve, fazerem as suas intervenções.
da ILGA-Portugal e da Rede Ex-aequo — da can- nos. prevê, quem se queira juntar livremente à mar- Este ano, quem marchou no Orgulho de Lis-
didatura portuguesa ao Europride 2022, que Mesmo os bares gay ou negócios voltados cha poderá não conseguir fazê-lo e assistir ape- boa descreve uma separação entre os blocos
será oÆcialmente apresentada este mês. O gi- para as comunidades são, por natureza, voca- nas ao desÆle de marcas. No caso do Europri- das associações e um segundo grupo, encabe-
gantesco Pride poderá trazer centenas de mi- cionados para o lucro. É esse o risco de apostas de, Diogo Vieira da Silva explicou anteriormen- çado pelo autocarro da ILGA, que levava atrás
lhares de turistas a Lisboa e ao Porto, num país como as da Variações: o nicho de “mercado te que quem quiser marchar terá de fazer uma um mar de gente. Ao todo a marcha terá tido
onde muitos negócios ainda não arriscam LGBT” corresponde, na realidade, “ao mito do pré-inscrição, justificando-o como uma “me- cerca de 20 mil pessoas (50 mil, nos números
apoiar eventos e causas como esta. casal gay, sem Ælhos e com duplo rendimento” dida de segurança”. “As pessoas que vão na da organização). A ILGA-Portugal decidiu não
— que, alerta Sérgio Vitorino, é uma imagem rua podem assistir e acompanhar de fora”, subir ao palco no Ænal da MOL.
estereotipada, “importada” e vendida na óp- disse. Só que imagens de Prides como a de Lon- Nuno Pinto, presidente da ILGA-Portugal,
“O Orgulho não se vende” tica do turismo e que não corresponde às con- dres ou Nova Iorque, onde se vêem grades a desdramatiza: já houve outros anos em que
Para Sérgio Vitorino, um dos fundadores da dições de vida da maioria das pessoas LGBT separar a parada da multidão em partes do não discursou e outros até em que esteve au-
MOL e membro da comissão organizadora em portuguesas. “Estes eventos não são feitos para percurso, destoam do convite que se ouve em sente das reuniões de organização. “Há um
representação do colectivo Panteras Rosa, abrir nós.” tantas marchas em Portugal: “Sai do passeio e manifesto da marcha em que não nos revemos
o Orgulho a entidades comerciais é um cami- O foco no turismo para pessoas com “renta- vem para o nosso meio”. totalmente”, justiÆca. A associação assinou o
nho espinhoso. “Há uma apropriação comer- bilidade acima da média”, como referia o co- manifesto, depois de participar activamente
cial das marchas e dos símbolos LGBT, na maior municado de lançamento da Variações no Ænal no processo de discussão colectiva, mas man-
parte das situações por questões de marketing de 2017, pode alimentar problemas como a
O que faz falta é animar tém reservas quanto à linguagem usada e a
para serem usadas como plataformas publici- especulação imobiliária que, a jusante, afasta ou libertar a malta? algumas posições que entram na esfera do de-
tárias”, considera. E há ainda o pinkwashing, as pessoas dos centros das cidades — incluindo A primeira Marcha do Orgulho LGBTI do país bate sobre modelos económicos.
ou seja, promover direitos LGBTI para ocultar as largas franjas da população LGBT que, por teve lugar em Lisboa, em 2000, três anos de- A linguagem “muito difícil” é uma das críti-
más práticas em relação a essas pessoas. Nos conta da discriminação, vive com diÆculdades pois do início do Arraial Pride, organizado pela cas comuns aos manifestos deste e de outros
EUA, por exemplo, foi divulgada uma lista de económicas, recorda Sérgio Vitorino. “Que tipo ILGA-Portugal. Nos tempos em que a MOL ter- movimentos. Sérgio Vitorino explica que “há
empresas que apoiam publicamente esta cau- de visibilidade querem? Não é qualquer visibi- minava o seu percurso no arraial, era muitas muito tempo que o manifesto [da MOL] não é
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ESTELA SILVA/LUSA SHANNON STAPLETON/REUTERS


em 2006 da indignação com o brutal assassi-
nato de Gisberta Salce Júnior, uma mulher
transgénero. “A marcha do Porto é e deve con-
tinuar a ser reivindicativa, e não apenas fes-
tiva”, defende João Paulo, fundador do site
PortugalGay, da MOP e da MOL, organizador
da extinta festa Porto Pride e membro da co-
missão organizadora do Orgulho do Porto até
ao ano passado.
A lente da “interseccionalidade” (o cruza-
mento de discriminações) traz ainda uma ou-
tra forma de olhar para a homofobia: não dei-
xa esquecer que grande parte das pessoas
afectadas por questões como a especulação
imobiliária ou precariedade são mulheres, po-
bres, negros, migrantes e, claro, LGBTI — pes-
soas que, pela discriminação que sofrem em
várias dimensões, estão numa posição tenden-
cialmente mais vulnerável do ponto de vista
económico. Aliás, numa marcha com uma co-
missão organizadora sempre heterogénea
como a do Porto — incluindo partidos como o
BE, PAN e PS (através da JS) —, as alianças com
as lutas feminista e anti-racista também têm
somos diversos em todas as outras facetas.” estado presentes.
Lendo os textos e comentários publicados Nuno Pinto, presidente da ILGA, que teve
em artigos de opinião, blogues e redes sociais, apenas uma mulher presidente em 25 anos,
Æca a questão: o Orgulho só pode ser anticapi- reconhece que também as organizações po-
talista? “O ideal seria um espaço de equilíbrio, dem ser mais Ærmes a integrar uma perspec-
de negociação”, responde Eduarda Ferreira, tiva interseccional: a predominância de ho-
da UMAR, propondo ressalvas quanto à parti- mens em cargos de decisão da associação é
cipação de empresas mas sem uma “posição explicada pela falta de disponibilidade de
essencialista contra o capital”. Nuno Pinto, da mulheres, seja por questões de tempo, pre-
ILGA, rejeita com mais Ærmeza “uma política cariedade laboral, exposição pública. Há
radical em que qualquer entidade com Æns lu- também poucas pessoas transgénero envol-
crativos seja excluída”. vidas nas direcções, assim como negras. “So-
Sérgio Vitorino reconhece que a marcha, mos uns privilegiados”, reconhece João Pau-
enquanto “expressão de uma comunidade que lo, do PortugalGay. Talvez não seja por acaso
reivindica direitos na sociedade portuguesa”, que os protagonistas destas discussões sejam
tem de ter espaço para diferentes visões. Des- quase sempre masculinos, uma “luta de ga-
creve uma tensão entre dois modelos: um rei- los” em que nem sempre há espaço para a
vindicativo, ainda que com uma componente participação de mulheres nos seus termos.
de festa, e outro “que é só festa”. É preciso “As mulheres têm outras formas de convívio
encontrar um equilíbrio para que a marcha e de estar”, opina Eduarda Ferreira.
continue a ter espaço para todos. “É a expres- As associações com perspectivas mais radi-
são de um movimento, e esse movimento é cais não criticam apenas a presença de marcas
diverso.” ou a invisibilidade de outras discriminações;
E os grupos de funcionários LGBTI das em- pedem também uma defesa mais Ærme do di-
presas podem marchar juntos? Um dos mo- reito à dissidência sexual e de género. Para
mentos críticos da MOL em 2017 foi quando Patrícia Martins, que representa A Colectiva
um documento para o grande público”, mas um grupo de trabalhadores de um banco de (da organização da Greve Feminista em Portu-
antes uma “súmula das reivindicações co- investimento teve de descer do autocarro da gal) na comissão organizadora da MOP, a pre-
muns”. ILGA. A organização argumentou que as pes- sença de marcas fomenta a “ocupação do es-
Ao longo dos anos existiram outras diferen- soas são bem-vindas, mas as marcas têm de paço público com imagens muito normaliza-
ças, desde posições mais radicais, defendidas seguir as regras. Dois anos depois, o novo re- das”. “Querem fazer uma liberdade com
por colectivos como Panteras Rosa, Não Te gulamento da MOL faz a distinção entre grupos limites”, considera João Paulo, recordando a
Prives e Clube Safo, e outras como a da ILGA, formais e informais e as marcas, indicando que discussão sobre o “mercado LGBT” que culti-
que aposta em vias institucionais descritas cabe à organização “evitar a desproporção en- va o estereótipo do “casal gay burguês”, sem
como de “assimilação”. Visões antagónicas tre os meios próprios da Marcha e os de enti- aceitar a diversidade de identidades, expres-
sobre os meios, mas que têm convergido à vol- dades participantes”, assim como “garantir a sões e comportamentos. “Também há gays que
ta de Æns comuns, contribuindo em conjunto salvaguarda do espaço próprio e visibilidade recebem o ordenado mínimo e vivem num
para conquistas importantes como a união de de todas as entidades participantes”. bairro social”, diz. E esses também têm de se
facto (2001), a inclusão da orientação sexual sentir representados.
no Art.º 13.º da Constituição (2004), o casa- Esta questão pode motivar um separar de
mento (2010), a adopção (2016), e a autodeter-
“Liberdade com limites” águas, à semelhança de outros países? O ac-
minação de género (2018). No Porto, este ano, ocorrem três eventos: a tivismo português é um meio pequeno, que
Marcha do Orgulho LGBT+ do Porto (MOP), o tem conseguido conciliar agendas. Nuno Pin-
Arraial Matosinhos Pride (que decorre pela to sublinha que a ILGA continua disposta a
“Comunidade”? primeira vez a 20 de Julho), e o renovado Por- colaborar com todas as associações “dentro
Comunidades diversas to Pride, agendado para Setembro pela Varia- do limite do diálogo democrático”. Mas é pre-
Para Nuno Pinto, é importante realçar a di- Divergências ções. A 6 de Julho, a MOP terminou na Cordoa- ciso abertura para compromissos, já que “não
versidade no movimento, a começar por que- Sérgio Vitorino (em cima), um dos ria, onde os manifestantes tinham à sua espe- é uma discussão a preto e branco”. Para João
brar a ideia de homogeneidade: é preciso fundadores da marcha de Lisboa, ra o “Arraial mais orgulhoso do Porto”, com Paulo, já fora da organização da MOP — que
distinguir entre activistas, comunidades (gru- teme que estas manifestações um palco improvisado onde houve a leitura do recorda que nas primeiras marchas, “muito
pos de pessoas que se organizam para com- possam tornar-se desfiles de manifesto e depois a festa. políticas”, a “questão mercantilista” não não
bater o isolamento) e população LGBT. Esta, marcas. Já Nuno Pinto (em baixo), Este ano, a MOP teve como lema “O Porto era vista como um problema —, não é impos-
que em geral “continua invisível” e nem sem- presidente da ILGA-Portugal, não se rende e o Orgulho não se vende”, numa sível que em Portugal uma das duas marchas
pre é “politizada”, partilha percursos de vida desdramatiza mensagem clara contra a mercantilização do mais antigas se divida. “Não vejo mal. Mas não
semelhantes, na medida em que a sua sexua- arco-íris LGBT. Cada cidade tem a sua história, contem comigo nas duas.”
lidade ou identidade de género contraria a e a marcha do Porto é naturalmente politiza-
“heteronormatividade” da sociedade. “Mas da: numa cidade conservadora, a MOP nasceu aline.flor@publico.pt
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Antes da Wikipédia, este serviço conseguiu ser uma pequena enciclopédia dentro
de cada televisão. Hoje o teletexto vive no limbo entre os chats eróticos das
privadas e um serviço público utilizado “sabe-se lá por quem”
Por Ruben Martins texto e Filipe Ribeiro ilustração

J
á a Internet batia à porta reclaman- “Ainda no outro dia recebemos uma men- primeiro introduziu a possibilidade de trans-
do o seu espaço, quando Portugal
o viu, pela primeira vez, no Ænal
sagem de um rapaz, na casa dos 30 anos, que
estava em casa dos pais, numa zona sem In-
Actualmente, formar a televisão numa sala de chat acessível,
literalmente, em dois cliques no comando.
dos anos 1990. O RTP Texto apare-
ceu nos ecrãs quando o serviço da
ternet, e foi pelo teletexto que viu o resulta-
do do futebol”, conta Mário Sequeira, coor-
mantém-se como Mas o operador público acabou por abando-
nar o serviço em 2004, três anos depois de
britânica BBC (o Ceefax, do inglês
“see facts”, ver factos) enchia as
denador das acessibilidades do operador
público, ao PÚBLICO. Pode parecer uma so-
um importante ter começado, muito por causa da linguagem
utilizada pelos seus utilizadores.
noites de programação na emissora
pública britânica há duas décadas. O serviço
lução de último recurso, mas também há uma
geração para quem a Internet diz pouco.
serviço para Desde então Æcaram apenas as televisões
privadas com essa forma de ganhar dinheiro.
informativo, que nasceu para informar o
Reino Unido rural, dava notícias e falava do
O teletexto, porém, diz muito: “É gratuito,
entra pela casa adentro e está sempre dispo-
quem é surdo e Ainda assim a Entidade Reguladora para a
Comunicação Social (ERC) nunca teve uma
tempo ou de resultados desportivos, mas
também informava os alunos da Play School
nível.”
Numa pequena sala no edifício que agrega,
lê, pelo teletexto, relação fácil com estes serviços de chat, pelo
teor das mensagens que por lá circulavam.
(a telescola da BBC) sobre qual o material
escolar para a semana de aulas. À noite o
em Lisboa, a rádio e a televisão públicas, es-
tão seis pessoas que trabalham na equipa de
as palavras que Salas com pouca (ou nenhuma) regulação
Æzeram com que estes espaços fossem inun-
Ceefax tinha espaço em antena, num progra-
ma em que as páginas iam passando automa-
acessibilidades. É ali que trabalham os res-
ponsáveis pelo teletexto, mas também pela saem da boca dados de mensagens enviadas por SMS com
conteúdo erótico. Em 2009, com Azeredo Lo-
ticamente, uma por uma, ao som daquilo que
hoje conhecemos por “música de elevador”:
audiodescrição.
Actualmente, o teletexto é mais automáti- dos jornalistas, pes à frente do regulador dos media, a ERC
queixava-se ao Ministério Público do conteú-
era a televisão que nunca dormia.
As letras coloridas sobre fundo preto são
co do que manual, e, por isso, também está
mais actualizado do que nunca. A RTP ofe- apresentadores e do das mensagens destes dois serviços. Justi-
Æcava a ERC que as salas de chat “incluem
imagem de marca de um serviço que facil- rece notícias, resultados desportivos (e não ostensiva descrição de órgãos genitais e de
mente a nostalgia associa ao já ultrapassado apenas de futebol), informação meteoroló- actores práticas sexuais, promoção de práticas de
ZX Spectrum. O graÆsmo básico, a facilidade gica, programação de televisão, frequências prostituição e aliciamento a práticas sexuais
de utilização e o facto de ter a mesma velo- de rádios e até resultados eleitorais. “É ser- com menores”. Esta não foi a primeira vez
cidade de carregamento, quer esteja uma viço público”, não têm dúvidas em aÆrmar que o regulador apontou o dedo a estes ser-
pessoa ou um milhão a usar o serviço, são o responsável. viços, tendo inclusive os canais desactivado
outras características que Æzeram o teletex- Nos corredores da RTP defende-se que temporariamente os chats.
to ganhar fama. “enquanto houver uma pessoa a aceder a este Há também vários relatos de encontros
O serviço foi descoberto quase por aciden- serviço, faz sentido continuar com ele”, mas combinados a partir deste serviço que corre-
te, quando uma equipa de engenheiros da que a decisão de o manter “está sempre de- ram mal. Em 2013, um homem de 40 anos
emissora britânica procurava uma forma de pendente da administração da empresa”. acreditou que ia ter um encontro com uma
transmitir legendas para surdos. Como per- A legendagem através deste serviço, por jovem, mas, quando chegou ao sítio combi-
ceberam que o espectro de emissão de um exemplo, faz também parte das obrigações nado, foi vítima de uma emboscada. Um gru-
canal por via analógica suportava mais in- da concessão de serviço público. Semanal- po forçou-o a levantar dinheiro numa caixa
formação do que aquela que o televisor re- mente, os canais 1 e 2 da RTP têm de emitir multibanco. Como o saldo estava a zeros, dei-
cebia, resolveram incluir nas “linhas” que 20 horas de programação legendada, mas os xaram-no fugir. Caso semelhante tinha acon-
sobravam informação sob forma de palavras números do Relatório das Contas da empre- tecido três anos antes, mas com o roubo con-
e números. sa, referente a 2017, mostram que o operador sumado.
Quando o teletexto apareceu na BBC, pro- público emite mais de cinco dezenas de ho- Tirando a parte da programação, hoje o
metia ser um jornal sempre actualizado. A 11 ras com recurso a esta tecnologia. serviço da SIC está pouco actualizado, embo-
de Setembro de 2001, com as redes móveis e É no estrangeiro que este serviço é mais ra estejam prometidas mudanças “para bre-
a Internet sobrecarregadas na sequência dos valorizado – “especialmente em França e na ve”. Quanto ao da TVI está moribundo. Sal-
ataques às Torres Gémeas, em Nova Iorque, Alemanha”, diz Mário Sequeira –, uma vez vam-se duas páginas de chat activas – uma
o teletexto revelou-se como o serviço infor- que, através da RTP Internacional, uma nova para encontros, com o nome “festa para to-
mativo de referência nuns EUA em estado de geração de luso-descendentes pode aprender dos”; e outra “arco-íris”, usada por pessoas
choque. Mas a partir daí podemos dizer que a língua através das páginas de legendagem que procuram relacionamentos LGBT.
se foi tornando antiquado e, por consequên- que o serviço disponibiliza. Por cá, não se conhecem relações, amoro-
cia, menos usado. Mas se a Internet e os canais de notícias sas ou proÆssionais, que tenham nascido no
podem (ainda) não ter matado o teletexto, o teletexto. Mas lá por fora houve um jogador
mesmo não se diz das próprias operadoras que foi contratado graças ao serviço da BBC.
Para quem a Internet diz pouco de televisão por assinatura. Algumas forne- Sem avançados no plantel por causa de uma
No Reino Unido, em 2012, o teletexto analó- cedoras de TV não estão a disponibilizar o vaga de lesões, o treinador do Wycombe Wan-
gico foi substituído por um serviço digital. Em teletexto nos seus aparelhos, por concorrer derers, da III divisão inglesa, não tinha equipa
Portugal nem com a migração para a televisão com as aplicações digitais que as boxes já têm. para defrontar o Leicester City nos quartos-
digital, o teletexto viu o Æm dos seus dias, pelo Esta é agora a principal ameaça à continui- de-Ænal da Taça de Inglaterra. Em último re-
menos no operador público. Nas privadas, o dade do serviço, que a Internet ainda não curso, Lawrie Sanchez recorreu ao Ceefax.
serviço — moribundo — Æcou entregue aos dizimou. Depois de ver o anúncio, um empresário con-
chats de cariz erótico. seguiu pôr o desconhecido Roy Essandoh a
Não há números nem dados sobre quem jogar no clube com um promissor contrato
utiliza, mas na RTP sabe-se, que “provavel-
Casos de amor de duas semanas. Essahdoh marcou nesse
mente” há sempre alguém do outro lado do “Alguma 50tona casada quer quebrar a rotina mesmo jogo e foi o herói, embora tenha sido
ecrã. Hoje mantém-se como um importante e trocar umas sms com casado 50tão?” Na despedido e o Wycombe acabou por cair nas
serviço para quem é surdo e vê no teletexto segunda era do teletexto, a imagem de marca meias-Ænais com o Liverpool.
as palavras que saem da boca dos jornalistas, são as salas de conversação (chat) à distância
apresentadores e actores. de um comando. Em Portugal foi a RTP que ruben.martins@publico.pt
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Media&Tecnologia
DR

Tecnologia Televisão
Já começou a
Aventuras no corrida para
mundo do Unicode ver Curfew?

e Microsoft Word (ou com a alterna- Joana Amaral Cardoso


João Pedro Pereira tiva Libre Oêce) é relativamente sim-
ples ver o Unicode em acção. Basta Sem querer, Curfew é a nova série
Para a grande maioria das pessoas, abrir um novo documento, escrever que simboliza a corrida em que o
:) já não é suÆciente. É preciso uma “1F600”, premir a tecla Alt e, man- streaming transformou o acto de ver
carinha amarela a rir até às lágri- tendo-a pressionada, premir a tecla televisão para simultaneamente fugir
mas. X. Voilà, a sequência de números e aos spoilers e chegar à meta, que é o
Os emojis fazem parte dos teclados letras é substituída pelo familiar emo- momento em que Ænalmente se pode
virtuais dos telemóveis e tornaram-se ji sorridente (numa versão mais sim- A Corrida conversar sobre ela. “Já viste o Stran-
omnipresentes nas conversas online. ples do que desenho dos telemóveis). Mais Louca do ger Things?” “Já acabaste o Dark?”
Há emojis para copos de cervejas, Faça-se o mesmo com “1F3C4” e sur- Mundo com Ou, este Æm-de-semana: “Já estão a
Çamingos e beringelas (que, pelo seu ge um surÆsta. Com “1F00” obtemos zombies, Ned ver a Casa de Papel?”
desenho, passaram a ser um símbo- uma letra grega. E a sequência “A9C1” Stark e a A febril e viciante Curfew nasceu
lo fálico).
Nesta semana, a líder do CDS, As-
transforma-se num bonito símbolo
usado na ilha de Java.
O Consórcio peritagem de
Top Gear
em Fevereiro na televisão tradicio-
nal, na Sky One britânica, mas tam-
sunção Cristas, partilhou no Insta-
gram uma fotomontagem com qua-
Na quarta-feira, coincidindo com
o Dia Mundial do Emoji, o Consórcio
Unicode tem existe. Veio da
Sky para a HBO
bém foi logo posta online na íntegra.
Chegou este mês a Portugal via HBO,
tro penteados diferentes, pedindo Unicode renovou parte do seu site, como objectivo Portugal para onde tem oito episódios que são, li-
aos seguidores que a ajudassem a cujo aspecto remontava à década de entrar na prova teral e Ægurativamente, uma corrida.
escolher. A pergunta foi acompanha- 1990. Um dos objectivos, explicou a definir um de velocidade Nesta série corre-se para fugir a uma
que hoje é ver
da por dois emojis sorridentes e um
emoji de uma mulher a cortar o ca-
organização, era tornar a página
mais atraente para quem procurava código para uma série
Londres em que o curfew, que dá tí-
tulo à série, é um recolher obrigató-
belo.
De tão usados, os emojis passaram
informação sobre emojis: “Os emojis
já foram usados por 92% da popula- cada uma das rio de direitos civis e liberdades em
nome da protecção da normalidade
a ter um peso social e a reÇectir preo-
cupações de inclusão. Foram criados
ção online. E, apesar de a codiÆcação
e padronização de emojis ser apenas
letras, números e e contra uma praga que, claro, não
é estranha ao governo.
emojis para braços prostéticos, pes-
soas em cadeiras de rodas, cegos com
uma pequena parte do trabalho do
consórcio na padronização de texto,
outros símbolos É bom chegar a ela sem grande in-
formação, mas uns pozinhos não
bengalas e — após muitos pedidos —
uma gota de sangue para simbolizar
a crescente popularidade e procura
por emoji puseram a organização sob
de cada um dos fazem diferença, sobretudo quando
o poster sugere em vão a imagética
a menstruação. Também existem
várias versões das mesmas Æguras
os holofotes internacionais.”
No site, é possível adoptar carac-
sistemas de anos 80 e os néones sonoros e visuais
do genérico a conÆrmam (e, sim, é
humanas, mas com tons de pele di-
ferentes.
teres (dando assim um donativo ao
consórcio) e propor novos emojis —
escrita do normal pensar nos créditos hipnóti-
cos de Stranger Things). Pense-se n’A
As empresas que desenvolvem sis-
temas operativos (Microsoft, Apple,
mas as regras são apertadas. mundo. Emojis Corrida Mais Louca do Mundo (sim,
a série de animação com Mutley e
Google) e as redes sociais criam emo- jppereira@publico.pt incluídos companhia) e em 28 Dias Depois, de
jis para as necessidades de expressão VCG/ GETTY IMAGES
Danny Boyle, e o espírito da coisa
dos seus utilizadores. Mas há uma Æca vagamente resumido. A crítica
entidade responsável por manter Lucy Mangan, do britânico The Guar-
uma espécie de repositório de emo- dian, prefere cruzar Death Race e The
jis, garantindo uma correspondência Walking Dead como referências, e o
e compatibilidade entre sistemas. New York Times arruma a coisa com
Chama-se Consórcio Unicode e tem um “Ned Stark num muscle car”.
muito mais em mãos do que estes Sean Bean, um dos actores com
desenhos. mais mortes signiÆcativas na fanta-
O consórcio foi criado em 1991 e é sia, Miranda Richardson e Billy Zane
uma organização sem Æns lucrativos, são os nomes famosos de um elenco
cujo objectivo é deÆnir um código extenso que nem por isso lhes dá to-
para cada uma das letras, números tal protagonismo. Criada e escrita
e outros símbolos de cada um dos por Matthew Read (Happy Valley, Ta-
sistemas de escrita do mundo, esteja boo) e Ælmada por Colm McCarthy
ainda em uso ou seja uma língua (Peaky Blinders), os números com
morta. Graças a esta codiÆcação, os carros são coordenados pelo homem
sistemas informáticos têm um pa- que vivia sob o capacete de Stig em
drão para representar caracteres. Top Gear, Ben Collins. O ecrã trans-
Outra vantagem é que cada pessoa borda de distopias e o Ælão dos zom-
pode escrever na sua língua (ou na bies parecia já ter começado a estag-
que quiser), mesmo que não tenha nar — eis senão quando aparece Cur-
um teclado com os caracteres neces- few, uma miscelânea a 100 à hora.
sários.
Num computador com Windows jcardoso@publico.pt
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 25

Semana de lazer
Por Sílvia Pereira
lazer@publico.pt

Humor VILA DO CONDE Teatro Municipal


Dia 26 de Julho, às 21h30.
Conversas queridas Bilhetes de 15€ a 20€
Já partilharam palcos. Num deles, até fizeram conchinha. São colegas de profissão enquanto escribas,
animadores e, no limite (e ao estilo de cada um), referências do humor em Portugal. Une-os ainda o
facto de não terem dançado no casamento de um amigo famoso (!). São também conversadores natos.
É nesta qualidade que Ricardo Araújo Pereira (na foto) e Nuno Markl partem para um espectáculo
conjunto, já ensaiado numa ou noutra tertúlia ocasional, a que candidamente chamaram Duas Pessoas
Muito Queridas do Público Português Conversam sobre Temas. Não tem guião: é da plateia e do
momento que vêm os temas para serem debatidos, como eles diriam, ao calhas.

Festival pianistas argentinos Diego Schissi


e Leo Genovese, a contrabaixista
norte-americana Esperanza

Um Mimo de festival Spalding (na foto) e a cantora


brasileira Mônica Salmaso como
convidada do Trio de Jazz de
Loulé.
Produto original brasileiro, o Mimo Festival estendeu-se à LOULÉ Cerca do Convento
cidade portuguesa de Amarante em 2016 e não demorou a Espírito Santo
criar raízes na sua paisagem cultural. Extravasando mais De 25 a 28 de Julho, às 22h.
Bilhetes de 10€ a 15€ (dia) e 30€
uma vez o eixo Brasil-Portugal, o seu concentrado de festa Jazz (passe)
e diversidade artística leva este ano à margem do Tâmega Em Loulé, por Laginha
nomes como Lívia Nestrovski & Fred Ferreira (na foto),
Seun Kuti & Egypt 80, Violons Barbares, Stefano Bollani & Com Mário Laginha novamente na
Hamilton de Holanda, Délia Fischer, Criolo, Salif Keita, direcção artística, o Festival
Internacional de Jazz de Loulé
Mayra Andrade, 47Soul, Rubel, Samuel Úria, DJ Ride ou celebra este ano a sua 25.ª
Stereossauro (com Camané e Capicua). Tanto podem ser edição. No cartaz alinham o
apanhados a tocar em parques como em museus ou saxofonista e compositor
igrejas. Para juntar à música, há cinema, debates, oÆcinas, canadiano
canadian
ano
o Be
Ben Wendel,
n We
Wendn el, os
masterclasses, palestras, visitas guiadas ao património
o
local, exposições e a já habitual “chuva de
Teatro
poesia”, desta vez a pôr Amor em Versos.
M
Malfadadas
Música
representadas
AMARANTE Distopia
Di
istopia rock Lê-se no texto de apresentação
De 26 a 28 de Julho. que Malfadadas é um encontro do
Programa completo em De
Depois
epois da passagem pelo Rock teatro e do fado “num território de
www.mimofestival.com/portugal. in Rio Lisboa em 2018, os Muse confluências, presságios,
Grátis regressam com o seu rock maldições e quase-retratos
épico dirigido às massas — fraccionários de figuras de ficção
com pose e espectáculo que há muito tempo [as]
visual a combinar —, agora já acompanham”. Essas figuras são
com o novo álbum nos quatro personagens femininas:
escaparates (foi editado em Eurídice, Medeia, Mary Tyrone e
Novembro desse ano). Blanche DuBois. Cabe à fadista
Chama-se Simulation Theory Aldina Duarte e à actriz Isabel
e investe ainda mais no uso Abreu darem vida a estas
de sintetizadores e nos Malfadadas. Além de intérpretes,
enredos distópicos que têm são co-criadoras, juntamente com
pautado os últimos trabalhos. o pianista e compositor Filipe
Maatt Bellamy e comparsas
Matt Raposo e com o encenador e
estão cada vez mais longe das dramaturgo Miguel Loureiro.
comparações iniciais a uns LISBOA Teatro Nacional D. Maria II
Radiohead e mais perto da Até 28 de Julho. Domingo, às 16h;
influência (confessa) de uns quarta e sábado, às 19h; quinta e
Queen, sem deixar de lado as sexta, às 21h.
citações à música clássica. Bilhetes de 9€ a 16€
ALGÉS Passeio Marítimo
Dia 24 de Julho, às 20h.
Bilhetes de 60€ a 80€
26 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Dia de Äcar

aterrador quando os militares e


CINEMA Os mais vistos da TV RTP1 13,8% toda a população se apercebem de
Sexta–Feira, 19 de Julho que, aÆnal, a Terra está a ser
Mile 22
TVC1, 21h30 Golpe de Sorte II SIC
% Aud. Share
11,1 23,0
RTP2 2,0 invadida por naves alienígenas. Um
thriller de Æcção cientíÆca,
A Divisão de Actividades Especiais Amar Depois de Amar TVI 9,1 19,1 SIC 18,4 realizado por Jonathan Liebesman.

Televisão
da CIA lida com operações secretas,
TVI
Jornal da Noite SIC 9,0 22,1
13,7
DESPORTO
que não existem nos registos Alma e Coração SIC 8,6 21,6
oÆciais. Uma equipa de
Cabo
lazer@publico.pt Quem Quer Namorar... SIC 7,8 23,8
paramilitares dessa unidade,
FONTE: CAEM
37,7
liderada por James Silva (Mark Ciclismo: Volta a França
Wahlberg), tem como missão RTP1, 14h10
transportar, ao longo de 35 RTP 1 8 21.40 A Tua Cara Não me É Estranha AXN WHITE Directo. Transmissão da 15.ª etapa
quilómetros, até um avião, um 6.07 Todas as Palavras 6.30 Espaço Zig 0.22 Querido, Mudei a Casa! 1.22 1000 13.59 Jantar de Idiotas 15.54 A Casa do Tour, uma das provas mais
polícia indonésio que tem Zag 8.00 Bom Dia Portugal Fim de à Hora 3.00 Remédio Santo 3.58 Saber Fantasma (VO) 17.28 Eddie 19.08 emblemáticas do ciclismo de
informações preciosas sobre como Semana 10.30 Eucaristia Dominical Amar 4.44 TV Shop Sobrenatural 22.00 Manhattan estrada, com 185 quilómetros de
evitar a morte de milhares. Um 11.38 Feira Raiana 13.00 Jornal da Nocturne 23.50 Os Estagiários 1.49 um percurso montanhoso, entre
thriller de acção, ainda com John Tarde 14.10 Ciclismo: Volta a França Sommersby, o Regresso de um Limoux e Foix Prat d’Albis. A meta
Malkovich, Lauren Cohan, Iko 2019 16.54 Feira Raiana 19.59 TVC1 Estranho 3.39 Supercondríaco é cruzada no próximo domingo,
Uwais e Ronda Rousey. Telejornal 21.10 La Banda - Concerto 9.40 LBJ 11.20 12 Indomáveis 13.35 O nos Champs-Élysées, em Paris.
23.31 Hell or High Water - Custe o Que Quebra-Nozes e os Quatro Reinos (VP)
O Jogo da Imitação FOX
DOCUMENTÁRIO
Custar! 1.29 MEO Marés Vivas 3.39 15.20 Homem-Formiga e a Vespa 17.20
Hollywood, 22h Ciclismo: Volta a França 2019 - Meg: Tubarão Gigante 19.10 A Agente 11.40 Missão Impossível 13.43 Missão
Realizado pelo norueguês Morten Resumos 4.12 Televendas 5.59 Vermelha 21.30 Mile 22 23.10 Artemis: Impossível 2 16.12 Missão Impossível 3
Tyldum, um Ælme dramático sobre Manchetes 3 Hotel de Bandidos 0.45 Ponto Sem 18.45 Missão Impossível: Operação Os Mistérios da Alunagem
a vida de Alan Turing, o lendário Retorno 2.20 Crucificada 3.50 Vidas Fantasma 21.20 Movie TBA 3 0.00 Discovery, 21h
génio da matemática que decifrou Frágeis 5.45 A Melodia Pronto a Matar 1.47 Infiltrado 3.52 Sob A chegada à Lua em 1969 é tema de
códigos nazis e que acabou RTP 2 Suspeita numerosas teorias da conspiração
perseguido pela sua orientação 7.00 Euronews 7.55 Espaço Zig Zag que questionam se tal realmente
sexual. O elenco conta com os 12.07 Chovem Almôndegas 12.29 FOX MOVIES aconteceu. Poderá o evento ter sido
actores Benedict Cumberbatch, Porto Papel 12.39 Animais Quase 9.48 Stallone Prisioneiro 11.33 O FOX LIFE forjado? Que indícios sustentam tais
Keira Knightley, Matthew Goode e Despidos 12.53 Animais Bebés - Mini Dragão Ataca 13.10 Rambo: A 13.28 Bridal Wave 15.14 A Gaiola teorias? Uma equipa de
Mark Strong, entre outros. Album 13.07 Sangue de Lobo 13.38 O Vingança do Herói 14.40 Trinitá - Dourada 17.09 The Convenient Groom especialistas apresenta as suas teses
Escolhido pelo público como o Bairro 14.25 Os Segredos dos Cowboy Insolente 16.30 Continuaram 18.49 À Segunda Não Me Escapas sobre o acontecimento e mostra
melhor Ælme em competição no Super-Heróis 14.51 Folha de Sala 15.00 a Chamar-lhe Trinitá 18.23 O Regresso 20.35 His Perfect Obsession 22.20 quais as provas que mostram como
prestigiado Festival de Cinema de Desporto 2 16.58 Voz do Cidadão 17.15 do Ninja Americano 19.46 Um Ninja Olha Que Duas 0.06 A Chefe 1.56 Lei & de facto foi concretizada, ou não, a
Toronto (Canadá), recebeu ainda Caminhos 17.43 70x7 18.08 Folha de Americano 21.15 Ninja Americano 4 Ordem: Unidade Especial alunagem há 50 anos.
cinco nomeações para os Globos de Sala 18.15 Grandes Quadros 22.50 Rambo III 0.22 Perseguição Sem

MÚSICA
Ouro, nas categorias de melhores Portugueses 18.42 Rota da Flor 19.02 Tréguas 1.50 Diário Secreto de um
Filme, Actor (Cumberbatch), Actriz Ao Serviço da França 19.30 Escola de Caçador de Vampiros 3.25 Carrie DISNEY
Secundária (Knightley), Argumento Enfermagem 20.12 De Lisboa a (1976) 15.25 Bizaardvark 15.48 Phineas e Ferb
(Graham Moore) e Banda Sonora Helsínquia 20.33 Madeira Prima 21.00 16.35 Mickey Mouse - Edição Especial Gilberto Gil no Baloise Session
Original (Alexandre Desplat). Medicinas do Mundo 21.30 Jornal 2 17.26 Patoaventuras 18.13 Rua RTP2, 22h46
21.51 Folha de Sala 21.57 Os Durrells CANAL HOLLYWOOD Dálmatas 101 19.01 Gravity Falls 19.47 O cantor, guitarrista e compositor
Hell or High Water - Custe 22.46 Gilberto Gil no Baloise Session 10.05 Horton no Mundo dos Quem? Os Green na Cidade Grande 20.10 brasileiro, conhecido pela sua
o Que Custar! 0.11 Viagem a Espanha 0.41 Olhar o (VP) 11.35 À Dúzia é mais Barato 2 13.10 Miraculous - As Aventuras de Ladybug inovação musical e compromisso
RTP1, 23h31 Mundo 1.18 Inesquecíveis Viagens de Pan: Viagem à Terra do Nunca (VO) político (de 2003 a 2008, foi
Toby é um pai solteiro que faz os Comboio 2.14 Euronews 15.00 Moonrise Kingdom 16.40 Percy ministro da Cultura do Brasil),
possíveis para assegurar o sustento Jackson e o Mar dos Monstros 18.25 O DISCOVERY incorpora uma gama ecléctica de
dos seus Ælhos; Tanner, um Tesouro 2: Livro dos Segredos 20.30 17.10 Apollo 11: os Ficheiros Esquecidos inÇuências, incluindo rock, samba
ex-presidiário com um sentido de SIC Wild Card - Jogo Duro 22.00 O Jogo da 19.05 NASA, Ficheiros Secretos 21.00 ou reggae. Figura chave da
justiça muito próprio. Mas os dois 6.05 Os Malucos do Riso 6.35 Sonic Imitação 23.55 A Idade da Loucura Os Mistérios da Alunagem 2.15 A Febre Tropicália, movimento cultural que
irmãos têm um objectivo em Boom 6.45 Dragões: Em Busca do 1.35 Transe (2013) 3.20 Anna Karenina do Ouro 3.00 Já Estavas Avisado! 4.30 transformou a música popular
comum: salvar a casa da família. E, Desconhecido 7.10 Uma Aventura... Em 5.30 Hollywood News Feed Negócio Fechado brasileira nos anos 1960, ao lado de
para conseguirem a quantia Evoramonte 8.05 Uma Aventura... artistas como Caetano Veloso,
necessária para conservar a Fantástica 9.15 Olhó Baião! 12.15 Vida Gilberto Gil apresenta-se no no
propriedade, resolvem assaltar as Selvagem: Earth Great Rivers 13.00 AXN HISTÓRIA Baloise Session.
várias sucursais do banco que os Primeiro Jornal 14.05 Fama Show 13.24 Dia da Independência 15.49 17.10 O Preço da História 20.52 A

INFANTIL
ameaça com a penhora. De David 14.30 Eu Quero Arrumar 14.55 Anel de Decisão de Risco 18.10 O Tesouro Maldição de Oak Island 22.15 O Ouro
Mackenzie, um western com Chris Fogo 18.15 Ladrões Com Estilo 19.57 Encalhado 20.09 Senhor do Crime Perdido da II Guerra Mundial 23.38
Pine, Ben Foster, Jeè Bridges, Dale Jornal da Noite 21.45 Quem Quer 21.55 Invasão Mundial: Batalha Los Alienígenas 1.00 Estação Apolo 2.26 A
Dickey e Gil Birmingham. Namorar com o Agricultor? 23.55 Angeles 23.56 Águas Perigosas 1.29 Alunagem e os Nazis Horton no Mundo dos Quem?
Levanta-te e Ri 2.00 Cabaret da Coxa Killing Season - Temporada de Caça (V. Port.)
Invasão Mundial: Batalha Especial 3.20 Televendas 2.57 Riddick - A Ascensão 4.55 Hollywood, 10h05
Los Angeles Investigação Criminal ODISSEIA Imaginativo e extravagante, Horton
AXN, 21h55 19.17 Os Melhores Amigos dos Cães é um elefante que um dia ouve um
Na base militar de Camp Pendleton, TVI 20.03 América do Norte Vista do Céu: pedido de ajuda de um grão de pó
em Los Angeles, um grupo de 6.15 Os Batanetes 6.30 Campeões e AXN BLACK Cidades 24H 20.56 Aviões de que Çutua no ar. E convence-se
fuzileiros é chamado para uma Detectives 7.22 Detective Maravilhas 14.00 A Barreira Invisível 16.50 O Combate 21.40 Airbus A400, que, mesmo sem se ver, pode haver
missão urgente de resgate de civis 8.24 O Bando dos Quatro 9.19 Caminho do Guerreiro 18.26 Heat - Tecnologia Militar de Ponta 22.30 Voos vida naquele grãozinho, que é na
na zona costeira de Santa Mónica, Querido, Mudei a Casa! 10.19 Selfie Cidade Sob Pressão 21.14 L.A. Perigosos 23.14 Slutever 0.01 Resgate verdade um planeta minúsculo,
ameaçada por uma violenta chuva 11.12 Missa - Ribamar, Lourinhã 12.31 Confidencial 23.32 Desperado (1995) na Praia 0.47 Airbus A400, Tecnologia onde existe uma cidade chamada
de meteoritos. Porém, o que Somos Portugal 13.00 Jornal da Uma 1.15 Lobo 3.19 O Beijo 5.08 The Militar de Ponta 1.37 Voos Perigosos “Quem Vila” habitada por
parecia uma luta contra os 14.00 Somos Portugal 19.57 Jornal das Mechanic - O Profissional 2.22 Slutever 3.09 Airbus A400 pequenos seres chamados “Quem”.
elementos, transforma-se em algo Mas, claro, ninguém acredita nele!
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 27

Dia de sair

16h, 18h50, 21h40, 00h30 (V.Orig./IMAX M12. 13h55; A Vida Secreta dos Nossos Aladdin 11h10, 16h (V.Port./2D); A Vida Santarém
CINEMA 3D); Rastejantes M16. 16h10, 18h25, 21h25,
23h40; Stuber M16. 22h, 00h15; Her Smell:
A Música nas Veias M16. 13h10; O Boneco
Bichos 2 M6. 11h30, 13h25, 15h25 (V.P./2D);
As Vigaristas M12. 20h; Annabelle 3 - O
Regresso a Casa M16. 19h30, 22h, 00h20;
Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 11h20,
15h30 (V.Port./2D) O Sol Também É Uma
Estrela M12. 19h55; O Corvo Branco M12.
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
Lisboa Diabólico 13h, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, Toy Story 4 M3. 11h25, 13h40, 15h30, 15h50, 17h30; Toy Story 4 M3. 11h15, 15h35, 17h45, Pokémon: Detective Pikachu M12. 11h (V.
00h10; Anna - Assassina Profissional M16. 17h40, 18h, 19h50, 24h (V.Port./2D) 11h20 (V. 21h55 (V.P./2D) 11h35 (V.O./2D); Yesterday Port./2D); Aladdin 11h, 14h30 (V.Port./2D); A
Cinema City Alvalade 12h40, 15h45, 18h30, 21h20, 24h O./2D); Campeões M12. 19h10; Homem- M12. 22h; Campeões M12. 13h10 (V.P./2D); Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 11h,
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040 Cinemas Nos Vasco da Gama Aranha: Longe de Casa M12. 13h15, 15h55, Homem-Aranha: Longe de Casa M12. 13h10, 15h15 (V.Port./2D); As Vigaristas M12.
A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. Parque das Nações. T. 16996 17h20, 18h35, 21h35, 00h15; O Rei Leão M6. 11h20, 18h50, 21h35; O Rei Leão M6. 11h15, 17h15; Annabelle 3 - O Regresso a Casa
11h10 (V.Port./2D); O Corvo Branco M12. A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 11h20, 13h30, 15h20, 16h, 17h50, 21h30, 13h45, 15h20, 16h15, 17h50, 21h20 (V. M16. 21h45; Toy Story 4 M3. 11h, 17h15, 19h30
13h25, 16h10; Toy Story 4 M3. 11h15, 15h35, 11h15, 13h20 (V.Port./2D); Annabelle 3 - O 23h50 (V.Port./2D) 11h15, 13h10, 15h40, Port./2D) 11h30, 13h15, 15h45, 18h40, 19h, (V.Port./2D); Homem-Aranha: Longe de
17h45 (V.Port./2D); Yesterday M12. 19h55; Regresso a Casa M16. 16h40, 19h10, 21h50, 18h40, 19h20, 21h10, 21h50, 00h20 (V. 21h30, 21h50 (V. Casa M12. 13h10, 15h55, 18h45, 21h35; O Rei
Campeões M12. 22h10; Homem-Aranha: 00h20; Toy Story 4 M3. 10h45, 13h30, Orig./2D); Rastejantes M16. 21h55, Orig./2D); Rastejantes M16. Leão M6. 11h, 13h40, 16h20 (V.Port./2D)
Longe de Casa M12. 18h50, 21h30; O Rei 16h10, 18h30 (V.P./2D) 21h20 (V.O./2D); 24h; Stuber M16. 20h10, 22h10, 00h15; O 20h10; Stuber M16. 14h, 20h; O Boneco 10h40, 19h, 21h40 (V.Orig./2D); Stuber M16.
Leão M6. 11h30, 13h10, 15h20, 17h50, 21h20 Homem-Aranha: Longe de Casa M12. Boneco Diabólico 11h30, 13h30, 15h30, Diabólico 15h55, 17h55, 22h10; Anna - 19h20, 21h25; O Boneco Diabólico 13h40,
(V.Port./2D) 11h, 13h30, 16h, 19h10, 21h40 (V. 12h40, 15h30, 18h20, 21h10, 24h; O Rei 17h30, 21h45, 00h05; Anna - Assassina Assassina Profissional M16. 13h50, 16h20, 15h40, 17h45, 19h45, 21h50; Anna - Assassina
Orig./2D) Leão M6. 11h, 13h, 15h50, 18h40 (V.Port./2D) Profissional M16. 13h45, 16h15, 18h45, 18h55, 21h40; Duas Caudas: Uma Profissional M16. 13h20, 15h50, 18h30, 21h20
Cinema Ideal 21h30, 00h10 (V.Orig./2D); Stuber M16. 21h40, 00h10; Duas Caudas: Uma Aventura Aventura Espacial M6. 11h25 (V.Port./2D)
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295 13h10, 16h30, 18h50, 21h, 23h30; Na Espacial M6. 11h50, 13h45 (V.P./2D) Castello Lopes - Fórum Sintra
Ran - Os Senhores da Guerra 16h05, 21h; Sombra da Lei M16. 23h40; Anna - UCI Dolce Vita Tejo Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Setúbal
Os Olhos de Orson Welles M12. 14h; Assassina Profissional M16. 13h40, 16h20, Estrada Nacional 249/1, Venteira. Pokémon: Detective Pikachu M12. 11h (V. Auditório Charlot
CinemaCity Campo Pequeno 19h, 21h40, 00h30 Aladdin 11h30, 16h15, 19h05 (V.Port./2D); A Port./2D); A Vida Secreta dos Nossos Av. Dr. António M. Gamito, 11. T. 265522446
Centro de Lazer. T. 217981420 Medeia Monumental Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. Bichos 2 M6. 11h, 19h30 (V.Port./2D); O Rei Leão M6. 16h (V.P./2D) 21h30 (V.O./2D)
Pokémon: Detective Pikachu M12. 11h25 (V. Av. Praia da Vitória, 72. T. 213142223 11h30, 14h, 16h30 (V.Port./2D); Plano de Annabelle 3 - O Regresso a Casa M16. Cinema City Alegro Setúbal
Port./2D) Aladdin 21h40 (V.Orig./2D); A Vida Sicilia! M12. 17h; O Homem do Oeste M12. Fuga 3 M16. 21h50; Annabelle 3 - O 16h50, 21h30; Toy Story 4 M3. 11h, 13h50, C. C. Alegro Setúbal. T. 265239853
Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 11h30, 21h30; Casa de Lava 19h15; O Grande Regresso a Casa M16. 21h55; Toy Story 16h20, 18h40 (V.Port./2D) 21h (V.Orig./3D); A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6.
13h30, 15h25 (V.Port./2D); O Sol Também É Mestre M12. 14h 4 M3. 11h30, 13h40, 16h20, 19h (V.Port./2D) Homem-Aranha: Longe de Casa M12. 11h40, 13h35, 15h35 (V.Port./2D); Plano de
Uma Estrela M12. 00h05; Annabelle 3 - O Nimas 21h25 (V.Orig./2D); Campeões M12. 18h40, 13h10, 15h50, 18h50, 21h35; O Rei Leão M6. Fuga 3 M16. 00h20; Annabelle 3 - O
Regresso a Casa M16. 23h55 Toy Story Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362 21h25; Homem-Aranha: Longe de Casa 11h, 13h30, 16h, 18h40, 21h20 (V.Port./2D) Regresso a Casa M16. 22h10, 00h30; Toy
4 M3. 11h30, 13h10, 15h35, 17h45 (V.P./2D) As Aventuras de Robinson Crusoe M12. M12. 13h20, 16h10, 18h55, 21h40; O Rei 11h, 14h, 16h30 (V.Port./3D) 11h, 19h, 21h40 Story 4 M3. 11h25, 13h40, 15h25, 17h45,
19h55 (V.Orig./2D); Campeões M12. 19h25; 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30; Leão M6. 11h30, 13h25, 14h, 16h05, 16h40, (V.Orig./2D); Stuber M16. 14h30, 19h10; O 19h35, 23h55 (V.Port./2D); Homem-Aranha:
Homem-Aranha: Longe de Casa M12. UCI Cinemas - El Corte Inglés 18h40 (V.Port./2D) 19h15 (V.Port./3D) 11h30, Boneco Diabólico 14h, 16h, 18h, 20h, 22h; Longe de Casa M12. 13h20, 16h, 17h35,
13h35, 16h15, 18h55, 21h35, 00h15; O Rei Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. 13h40, 16h20, 19h, 21h35, 21h15 (V.O./2D); Anna - Assassina Profissional M16. 14h15, 18h50, 21h35, 00h15; O Rei Leão M6. 11h15,
Leão M6. 11h15, 13h45, 15h20, 16h20, 17h50, Segunda Vida M12. 18h55, 21h15, 23h40; Stuber M16. 13h50, 16h45, 19h25, 21h55; Na 16h50, 21h30 13h45, 15h20, 16h15, 17h50, 21h20, 23h50 (V.
21h30, 24h (V.Port./2D) 11h10, 13h10, 15h40, Coração Aberto M16. 11h30, 14h20, 16h45; Sombra da Lei M16. 14h15, 17h45, 21h10; O Port./2D) 11h30, 13h15, 15h45, 18h40, 19h,
18h30, 19h20, 21h10, 21h50, 23h50 (V. As Vigaristas M12. 19h20, 21h40, 23h55; O Boneco Diabólico 14h05, 16h40, 19h10, 21h30, 21h50, 00h10 (V.O./2D); Rastejantes
Orig./2D); Rastejantes M16. 17h30, 20h10, Corvo Branco M12. 13h20, 16h10, 19h, 21h45; Anna - Assassina Profissional M16.
Leiria M16. 15h50, 19h55, 21h55, 24h; Stuber M16.
00h30; Stuber M16. 13h40, 22h; O Boneco 21h40, 00h20; Toy Story 4 M3. 11h30, 14h, 13h50, 16h35, 19h15, 21h45; Duas Caudas: Cinema City Leiria 17h30, 20h15, 21h45; O Boneco Diabólico
Diabólico 11h15, 13h40, 15h45, 17h45, 16h35 (V.Port./2D) 19h10, 21h20, 23h45 (V. Uma Aventura Espacial M6. 11h30, 13h55 (V. Rua Dr. Virgílio Vieira da Cunha, Ponte das 11h55, 13h55, 15h55, 17h55, 20h, 22h,
19h45, 21h45, 00h20; Anna - Assassina Orig./2D); Yesterday M12. 19h, 21h30, Port./2D) Mestras. T. 244845071 00h05; Anna - Assassina Profissional M16.
Profissional M16. 13h15, 15h30, 17h50, 00h10; Campeões M12. 21h25, 24h; O Rei A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 11h10, 13h40, 16h10, 18h45, 21h40, 00h10;
21h55, 00h25 Leão M6. 11h30, 13h25, 16h05, 18h45 (V. 11h25, 13h20, 17h55 (V.Port./2D) Plano de Duas Caudas: Uma Aventura Espacial M6.
Cinemas Nos Alvaláxia Port./2D) 13h40, 16h20, 19h05, 21h25, 21h45,
Cascais Fuga 3 M16. 19h50; Toy Story 4 M3. 11h20, 11h45, 13h30 (V.Port./2D)
Estádio José Alvalade. T. 16996 00h05, 00h25 (V.Orig./2D); Stuber M16. Cinemas Nos CascaiShopping 15h25, 17h35, 22h05 (V.Port./2D); Homem-
Gru - O Maldisposto 3 M6. 11h20 (V.P./2D); 11h30, 14h10, 16h55, 19h25, 21h55, 00h10; CascaiShopping-EN 9. T. 16996 Aranha: Longe de Casa M12. 15h15, 17h20,
Vingadores: Endgame M12. 20h40, 23h30; Na Sombra da Lei M16. 13h55, 17h30, 21h05, A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 21h45; O Rei Leão M6. 11h15, 13h45, 15h20,
Faro
Aladdin 10h45, 13h45, 17h (V.Port./2D) 00h15; Her Smell: A Música nas Veias M16. 11h, 13h40, 16h10 (V.Port./2D); Annabelle 3 - 16h15, 17h50, 21h20 (V.Port./2D) 11h30, Cinemas Nos Fórum Algarve
20h50, 23h45 (V.Orig./2D); A Vida Secreta 13h30, 16h15; O Boneco Diabólico 11h30, O Regresso a Casa M16. 13h30, 16h05, 13h15, 15h45, 18h40, 19h, 21h30, 21h50 (V. C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
dos Nossos Bichos 2 M6. 11h10, 13h30, 14h15, 16h40, 19h10, 21h35, 24h; O Perfeito 18h40, 21h30, 24h; Toy Story 4 M3. 10h30, Orig./2D); Rastejantes M16. 11h15, 20h10; Toy Story 4 M3. 10h50, 13h05, 15h30 (V.
15h45, 17h50 (V.Port./2D); Annabelle 3 - O Gigolô M12. 11h30, 13h50, 16h20, 18h50, 12h50, 15h10, 17h30 (V.Port./2D); Homem- Stuber M16. 13h30, 19h45; O Boneco Port./2D); Yesterday M12. 21h10, 23h30;
Regresso a Casa M16. 13h25, 15h55, 18h25, 21h30, 23h50; Pavarotti M12. 11h30, 14h05, Aranha: Longe de Casa M12. 12h30, 15h30, Diabólico 11h20, 13h20, 15h20, 20h, Homem-Aranha: Longe de Casa M12.
20h55, 00h35; Toy Story 4 M3. 10h50, 16h30, 18h55; Anna - Assassina 18h25, 21h20, 00h15; O Rei Leão M6. 10h15, 22h; Anna - Assassina Profissional M16. 12h45, 15h40, 18h35, 21h30, 23h40; O Rei
13h20, 15h40, 18h (V.Port./2D); Yesterday Profissional M16. 13h45, 16h35, 19h15, 12h40, 15h20, 18h (V.Port./2D) 20h40, 23h20 13h10, 15h30, 17h50, 21h40 Leão M6. 10h40, 13h15, 15h50, 18h25 (V.
M12. 13h50, 16h30, 19h, 21h40, 00h15; 21h50, 00h25 (V.Orig./2D) 13h,16h,18h30, 21h10, 23h50 (V. Cineplace - Leiria Shopping Port./2D) 21h20, 23h55 (V.Orig./2D);
Campeões M12. 21h25, 24h; Homem- Orig./IMAX 3D); Rastejantes M16. 18h20, CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516 Stuber M16. 13h25, 16h, 18h15, 21h, 00h15;
Aranha: Longe de Casa M12. 14h30, 17h30, 20h50, 23h40; Stuber M16. 20h30, A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. Stuber M16. 13h25, 16h, 18h15, 21h; Na Sombra
21h, 00h05; O Rei Leão M6. 11h, 13h15, 14h,
Almada 23h10; O Boneco Diabólico 13h50, 16h30, 13h20, 15h20, 17h20 (V. da Lei M16. 17h55; O Boneco Diabólico 12h55,
16h05, 16h40, 18h55, 19h20 (V.Port./2D) Cinemas Nos Almada Fórum 18h50, 21h, 23h30; Anna - Assassina Port./2D); Annabelle 3 - O Regresso a 15h20, 17h30, 19h40, 21h45, 00h05
21h45, 00h30 (V.Orig./2D); Rastejantes Estr. Caminho Municipal, 1011. T. 16996 Profissional M16. 12h30, 15h05, 17h50, Casa M16. 21h50; Toy Story 4 M3. 13h10,
M16. 13h40, 16h, 18h20, 21h15, 00h20; A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 21h40, 00h20 15h20, 17h30 (V.Port./2D) 19h40 (V.
Stuber M16. 22h, 00h15; O Boneco 11h20, 14h, 16h20, 18h40 (V.Port./2D); As O Cinema da Villa - Cascais Orig./2D); Homem-Aranha: Longe de
Portimão
Diabólico 14h20, 16h50, 19h, 21h30, 23h50; Vigaristas M12. 15h50, 18h10, 20h40, Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla Casa M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h20; O Rei Cineplace - Portimão
Anna - Assassina Profissional M16. 13h10, 23h20; Annabelle 3 - O Regresso a Casa Shopping Center). T. 215887311 Leão M6. 13h40, 14h10, 16h10, 16h40 (V. Quinta da Malata, Lote 1.
15h50, 18h35, 21h10, 23h55; Duas Caudas: M16. 13h20, 16h10, 19h10, 21h40, 00h10; Toy Ran - Os Senhores da Guerra 13h10, 18h35; Port./2D) 19h10, 21h10, 21h40 (V.Orig./2D) A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6.
Uma Aventura Espacial M6. 11h15, 13h25 (V. Story 4 M3. 10h50, 13h10, 15h40, 18h10 (V. Aladdin 11h (V.Port./2D); A Vida Secreta dos 18h40 (V.Port./3D); Rastejantes M16. 14h35; Annabelle 3 - O Regresso a Casa
Port./2D) Port./2D) 21h, 23h40 (V.Orig./2D); Nossos Bichos 2 M6. 11h (V.Port./2D); O 19h20; Stuber M16. 21h20; O Boneco M16. 23h45; Toy Story 4 M3. 13h10, 15h20,
Cinemas Nos Amoreiras Yesterday M12. 13h40, 16h15, 18h45, 21h25, Corvo Branco M12. 19h, 21h30; Toy Story Diabólico 19h10, 21h40; O Perfeito 17h30, 19h40 (V.Port./2D); Homem-Aranha:
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996 24h; Campeões M12. 21h40, 00h30; 4 M3. 10h50 (V.Port./2D); Yesterday M12. Gigolô Longe de Casa M12. 13h, 13h40, 15h40,
Rocketman M16. 12h20, 15h, 17h40, 20h50, Homem-Aranha: Longe de Casa M12. 14h20, 16h40; Homem-Aranha: Longe de M12. 12h40, 14h50, 17h; Anna - Assassina 16h20, 18h20, 21h, 21h20, 23h40, 23h55;
23h30; O Corvo Branco M12. 12h40, 15h30, 12h20, 15h20, 18h15, 21h15, 00h20; O Rei Casa M12. 13h10, 16h, 18h40, 21h20; O Rei Profissional M16. 16h30, 19h, 21h30; Duas O Rei Leão M6. 13h40, 14h10, 16h10,
18h20, 21h10, 00h05; Toy Story 4 M3. Leão M6. 10h40, 12h40, 13h, 15h30, 15h50, Leão M6. 11h, 13h35, 16h10, 18h45, 21h20 (V. Caudas: Uma Aventura Espacial M6. 12h40, 16h40 (V.Port./2D) 21h10, 21h40, 00h10
13h30, 16h10, 18h50 (V.Port./2D) 21h30, 18h20, 18h40 (V.Port./2D) 21h20, 00h10 (V. Port./2D) 11h, 14h30, 16h55, 19h20, 21h40 (V. 14h35 (V.Port./2D) (V.Orig./2D) 18h40 (V.Port./3D) 19h10
23h55 (V.Orig./2D); Yesterday M12. 13h20, Orig./2D) 13h20, 16h, 18h50, 21h30, 00h10 Orig./2D); Pavarotti M12. 16h15, 21h40 (V.Orig./3D);
16h, 19h, 21h40, 00h20; Homem-Aranha: (V.Orig./3D 4DX); Rastejantes M16. 14h10, Rastejantes M16. 19h20; Stuber M16.
Longe de Casa M12. 12h30, 15h20, 18h10, 16h30, 19h, 21h20, 23h45; Stuber M16.
Loures 21h50, 00h05; Anna - Assassina
21h, 23h50; O Rei Leão M6. 10h40, 13h, 12h50, 15h10, 18h, 21h10, 23h50; Na Sombra Cineplace - Loures Shopping Profissional M16. 16h30, 19h, 21h30, 24h;
15h40, 18h30 (V.Port./2D) 21h20, 24h (V. da Lei M16. 20h50, 24h; Her Smell: A
Sintra Quinta do Infantado, Loja A003. Duas Caudas: Uma Aventura Espacial M6.
Orig./2D); Na Sombra da Lei M16. 18h; O Música nas Veias M16. 17h50; O Boneco Cinema City Beloura Aladdin 19h20 (V.P./2D); A Vida Secreta dos 12h40 (V.Port./2D)
Perfeito Gigolô M12. 13h10, 15h50, 21h50, Diabólico 125h50, 15h15, 17h30, 19h45, 22h, Beloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9, Nossos Bichos 2 M6. 13h10, 15h10, 17h10
00h10 00h15; O Perfeito Gigolô M12. 13h, 15h25, Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643 (V.P./2D); Annabelle 3 - O Regresso
Cinemas Nos Colombo 21h05, 23h30; Anna - Assassina a Casa M16. 21h50; Toy Story 4 M3. 13h,
Tavira
Av. Lusíada. T. 16996 Profissional M16. 13h, 15h45, 18h30, 21h30, 15h10, 17h20, 19h30 (V.P./2D); Homem- Cinemas Nos Tavira
A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2 M6. 00h15; Duas Caudas: Uma Aventura Aranha: Longe de Casa M12. 13h20, 16h, R. Almirante Cândido dos Reis. T. 16996
11h, 13h40 (V.Port./2D); Annabelle 3 - O Espacial M6. 11h10, 13h50 (V.Port./2D) 18h40, 21h20; O Rei Leão M6. 13h40, 14h10, Annabelle 3 - O Regresso a Casa M16. 21h,
Regresso a Casa M16. 15h50, 18h20, 20h50, 16h10, 16h40 (V.Port./2D) 18h40, 21h10, 23h40; Toy Story 4 M3. 11h, 13h20, 16h,
23h30; Toy Story 4 M3. 11h, 13h30, 16h15, 21h40 (V.Orig./2D) 19h10 (V. 18h40 (V.P./2D); Homem-Aranha: Longe de
18h40 (V.Port./2D) 21h, 23h20 (V.Orig./2D);
Amadora P./3D); Rastejantes M16. 22h; Stuber M16. Casa M12. 12h30, 15h20, 18h10, 21h10,
Homem-Aranha: Longe de Casa M12. CinemaCity Alegro Alfragide 19h10; O Boneco Diabólico 19h10, 00h05; O Rei Leão M6. 10h40, 13h10,
12h30, 15h40, 18h35, 21h30, 00h20; O Rei C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030 21h40; Anna - Assassina Profissional M16. 15h50, 18h30 (V.P./2D) 21h20, 24h (V.O./2D);
Leão M6. 12h50, 15h30, 18h10 (V.Port./2D) John Wick 3 - Implacável M16. 00h10; 14h, 16h30, 21h30; Duas Caudas: Uma Stuber M16. 13h30, 15h40, 18h, 21h40,
21h10, 23h50 (V.Orig./2D); O Rei Leão M6. Aladdin 11h15, 16h25 (V.Port./2D) 21h30 (V. Aventura Espacial M6. 13h20, 15h20, 17h20 23h55; Anna - Assassina Profissional M16.
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CRUZADAS 10.681 SUDOKU TEMPO PARA HOJE


HORIZONTAIS: 1. Demasia. Grande Problema
doçura (fig.). 2. Sorteio por meio de
bilhetes numerados. Postura. 3. 9138
Atinge. Lugar de paragem (palavra Dificuldade: Viana do Bragança
inglesa). 4. Tomar parte num jogo.
Regra. 5. Terceira divisão do Fácil Castelo 16º 35º
estômago dos ruminantes. Senão. 6. 15º 26º
Braga
Véu, mantilha com que as mulheres
cobrem o rosto para mostrar 14º 32º Vila Real
austeridade. Parlamento Europeu. 7. Solução do
15º Porto 15º 33º
Aposentação. Naquele lugar. 8. Grupo problema 9136
circular de ilhas de coral. Berrar 15º 24º
(veado e outros animais). 9. Ir
descendo pouco a pouco. Espécie de Viseu
padiola para transporte de doentes. 13º 31º Guarda
1-1,5m Aveiro
10. Camareira. Agrupamento de gado 15º 32º
graúdo. 11. Repreendo em voz alta. 16º 23º Penhas
Pateta (gíria). Douradas
VERTICAIS: 1. Vestuário habitual.
Coimbra 15º 29º
Técnica de localização através de
ondas de rádio. 2. Abastado. Brinquedo 15º 28º
de crianças. 3. Respiração acelerada, Castelo
ruidosa ou difícil. Relativo ao foco ou Branco
que lhe pertence. 4. Bola vermelha do Problema Leiria 18º 37º
bilhar. 5. Ser infiel a. O âmago. 6. 16º 24º
Redução das formas linguísticas “de” e 9139
“a” numa só. Espaço que o sol não Dificuldade:
ilumina. 7. Prefixo (repetição). Alugar. Solução do problema anterior: Santarém
Sódio (s.q.). 8. Biscoito com a forma de HORIZONTAIS: 1. Fadiga. Mano. 2. INE. Are. Sã. 3. Musal. Muito difícil 16º 32º
Portalegre
letra. Gostar muito. 9. Tumulto popular. Motor. 4. VELHO. Fu. 5. Gimbo. Meter. 6. Rapa. Gagosa. 7. Ara. 17º 35º
Querida. 10. Eternidade. Tornar ou SECO. Pl. 8. Trela. PÉ. 9. Apear. Craca. 10. Tanoaria. 11. Lisboa
tornar-se plácido, acalmar. 11. Provida Rebolo. Moer.
de mina de plumbagina, é utilizada para VERTICAIS: 1. Fim. Graxa. 2. Anuviar. PÕE. 3. Desempate. 4. Solução do 17º 28º
escrever ou desenhar. Alba. Rato. 5. GALHO. Seral. 6. Ar. Gel. No. 7. EM. MACACO. 8. problema 9137
Depois do problema resolvido Ofego. Ram. 9. Astuto. Paro. 10. NÃO. Espécie. 11. Rural. Aar. Setúbal
encontre o título de um filme com Évora
16º 30º
Mel Gibson e Don Johnson PROVÉRBIO: Macaco velho não põe pé em galho seco.
(4 palavras). 14º 37º
AMANHÃ

CRUZADAS BRANCAS 16º Sines


Beja
15º 36º
16º 25º
Horizontais: 1. Corajoso. Um
certo. 2. Conjunto de pessoas à
© Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com 1m
roda da lareira. Salto. 3.
Alternativa (conj.). Relativo a
lobo. Mulo. 4. Resistir. 5. Meia Sagres
dúzia. Mulher de Abraão, mãe de
Isaac (Bíbl.). 6. Servir-se de. FARMÁCIAS 16º 24º
Faro
22º 32º
Crivo. 7. Damas de companhia.
Plano. 8. Dar cor a. 9. O espaço 19º
Lisboa - Serviço Permanente Martins Loures - do Fanqueiro , Santa Bárbara
aéreo. Vasilha de aduelas, de Aurélio Rego (Estrela) - Calçada da Estrela, 139 (Moscavide) Lourinhã - Correia Mendes (Moita 0,5m
grande lotação, para vinhos. A
mim. 10. Apoio. Espécie de
- Tel. 213961758 Normal de Lisboa (Baixa) - Rua
da Prata, 220 - Tel. 218878342 Valle (Próximo à
dos Ferreiros) , Leal (Rio Tinto) Mação -
Saldanha Mafra - Ericeirense (Ericeira) , Rolim
Açores
linguado. 11. A pessoa ou coisa Igreja de Fátima) - Av. Visconde Valmor, 60 - B - (S. Cosme) Marinha Grande - Duarte Marvão - Corvo
masculina de que se fala. Tel. 217973043 Exposul (Santa Maria dos Roque Pinto Mértola - Pancada Monchique - Graciosa
Glorificar. Olivais) - Alameda dos Oceanos, Lote 2.06.05, Higya Monforte - Jardim Montemor-o-Novo - Terceira
VERTICAIS 1. Azebre. Termine. Flores
Loja H - Tel. 218967033 Novalentejo Montijo - Nova Circular Mora - S. Jorge 21º 25º
2. Grande embarcação. A minha Outras Localidades - Serviço Permanente Canelas Pais (Cabeção) , Falcão, Central (Pavia) 21º 27º
pessoa. Verbal. 3. Haver de Abrantes - Ondalux Alandroal - Santiago Moura - São Miguel Mourão - Central Nazaré -
23º 22º
distância, de diferença. Planta de Maior , Alandroalense Albufeira - Albufeira Silvério , Maria Orlanda (Sitio da Nazaré) Nisa - Pico
fibra têxtil da família das Alcácer do Sal - Alcacerense Alcanena - Ferreira Pinto Óbidos - Vital (Amoreira/Óbidos) 1-2m
Amarilidáceas. A si mesmo. 4. Ramalho Alcobaça - Epifânio Alcochete - , Senhora da Ajuda (Gaeiras), Oliveira Odivelas Faial
Doença. Saia curta que as Cavaquinha , Póvoas (Samouco) Alcoutim - - Central Odivelas , de Caneças (Caneças)
21º 26º
mulheres usam por baixo de Caimoto Alenquer - Nobre Rito Aljustrel - Oeiras - Pargana (Paço de Arcos) Oleiros - 1,5-2m S. Miguel
outra saia. 5. Perfume. Escasso. Pereira Almada - Galeno Almeirim - Central Martins Gonçalves (Estreito - Oleiros) , Garcia
Almodôvar - Ramos Alpiarça - Aguiar Alter do Guerra, Xavier Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão 20º 25º
6. Tens conhecimento de.
Chão - Alter , Portugal (Chança) Alvaiázere - - Brito Ourique - Nova (Garvão) , Ouriquense Ponta
Vestígio. 7. Dar asas a. Resmungo
Ferreira da Gama , Castro Machado (Alvorge), Pedrógão Grande - Baeta Rebelo Penamacor - 22º Delgada
(fig.). 8. Diz-se do número
gramatical que indica mais de Pacheco Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D. Melo Peniche - Higiénica Pombal - Vilhena
Louro, Olear.
1-1,5m
um. Recitar. 9. A tua pessoa. Rezo. 8. Plural, Ler. 9. Tu, Talim, Vi. 10. Alma, Os, Mia, 11. Maria) Alvito - Nobre Sobrinho Amadora -
Campos , Central Ansião - Medeiros (Avelar) ,
Ponte de Sor - Varela Dias Portalegre - Romba
Portel - Misericordia Porto de Mós - Lopes
Madeira Sta Maria
Boldrié. Assisti. 10. Espírito. Se. 4. Mal, Saiote. 5. Odor, Raro. 6. Sabes, Sinal. 7. Alar,
Pires (Santiago da Guarda) Arraiolos - Vieira Proença-a-Nova - Roda , Daniel de Matos
Ósmio (s.q.). Minha (ant.). 11. VERTICAIS: 1. Aloés, Acabe. 2. Nau, Eu, Oral. 3. Ir, Sisal,
Papagaio. Untar com óleo. Gloriar. Arronches - Batista , Esperança (Esperança/ (Sobreira Formosa) Redondo - Xavier da Cunha Porto Santo
Arronches) Arruda dos Vinhos - Da Reguengos de Monsaraz - Paulitos Rio Maior -
Liso. 8. Colorir. 9. Ar, Tonel, Me. 10. Base, Azevia. 11. Ele,
Misericórdia Avis - Nova de Aviz Azambuja - Ferraria Paulino Salvaterra de Magos - Costa
19º 25º
Lobal, Mu. 4. Relutar. 5. Seis, Sara. 6. Usar, Ralo. 7. Aias, 22º
HORIZONTAIS: 1. Animoso, Tal. 2. Larada, Pulo. 3. Ou, Nova , Peralta (Alcoentre), Ferreira Camilo (Foros de Salvaterra/Salvaterra de Magos)
(Manique do Intendente) Barrancos - Santarém - Verissimo Santiago do Cacém -
Solução:
Barranquense Batalha - Ferraz , Silva Corte Real São Brás de Alportel - São Brás
Fernandes (Golpilheira) Beja - J. A. Pacheco Sardoal - Passarinho Seixal - São Bento Serpa Funchal
0,5-1m
Belmonte - Costa , Central (Caria) Benavente - - Central Sertã - Lima da Silva , Farinha 1-1,5m 21º 27º
23º
Batista Bombarral - Franca Borba - Central (Cernache do Bonjardim) Sesimbra - de

XADREZ Cadaval - Central Caldas da Rainha - Branco


Lisboa Campo Maior - Campo Maior Cartaxo -
Pereira Suc. Cascais - Alvide (Alvide) , de
Santana (Santana) Setúbal - Higiene , Portugal
Silves - Algarve , Cruz de Portugal, Sousa
Coelho Sines - Monteiro Telhada (Porto Covo) ,
Sol Lua Minguante
Carcavelos (Carcavelos) Castelo Branco - Central Sintra - Rodrigues Garcia (Agualva) , Nascente 06h28
G. Telbis Rodrigues dos Santos (Sarzedas) Castelo de Baião Santos (Queluz), De Fitares (Rinchoa)
Poente 20h57 25 Jul. 02h18
1. cl., 1975 Vide - Roque Castro Verde - Alentejana Sobral Monte Agraço - Costa Sousel - Mendes
(As brancas empatam) Chamusca - Joaquim Maria Cabeça Dordio (Cano) , Andrade Tavira - Central Tomar
Constância - Vila Farma Constância , - Alfa (Porto da Laje) Torres Novas - Higiene
Carrasqueira (Montalvo) Coruche - Higiene
Covilhã - Parente Cuba - Da Misericórdia Elvas
Torres Vedras - Quintela Vendas Novas -
Santos Monteiro Viana do Alentejo - Nova
Marés
- Moutta Entroncamento - António Lucas Vidigueira - Pulido Suc. Vila de Rei - Silva
Leixões Cascais Faro
Estremoz - Carapeta Irmão Évora - Domingos Vila Franca de Xira - Nova Alverca ,
Misericórdia Faro - Almeida , Da Penha Ferreira Quinta da Piedade (Quinta da Piedade),
do Alentejo - Salgado Ferreira do Zêzere - Higiene Vila Nova da Barquinha - Tente Preia-mar 18h41 3,1 18h17 3,2 18h22 3,1
Graciosa , Soeiro, Moderna (Frazoeira/Ferreira (Atalaia) , Carvalho (Praia do Ribatejo),
07h04* 2,9 06h40* 2,9 06h41* 2,8
do Zezere) Figueiró dos Vinhos - Campos Oliveira Vila Real de Santo António -
1/2 - 1/2
(Aguda) , Vidigal Fronteira - Vaz (Cabeço de Carmo Vila Velha de Rodão - Pinto Vila Viçosa
6.gxh8=D+ Rxh8 7.Bxe5+! Dxe5 afogado Baixa-mar 12h24 1,0 11h57 1,1 11h47* 1,0
Vide) Fundão - Avenida Gavião - Mendes - Torrinha Alvito - Baronia Ansião - Moniz
2.d5! e5 3.d6 cxd6 4.Bb8 a2 5.Bxd6 a1=D
(Belver) , Gavião Golegã - Salgado Grândola - Nogueira Ourém - Avenida Portimão - 00h54* 1,0 00h28* 1,1 00h18* 1,0
[1...e3? 2.d5 e2 3.Bd4 e1=D 4.gxh8=D+]
Pablo Idanha-a-Nova - Andrade (Idanha A Rio Redondo - Alentejo
1.Rh6 a3
Nova) Lagoa - Lagoa Lagos - Neves Loulé -
Solução: Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
30 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Estar bem

É possível ter o mesmo corpo


que tinha antes da menopausa?
Ao contrário do que se possa por vezes pensar, as mulheres após a menopausa não precisam da mesma quantidade de proteína
que em idade jovem. Precisam de mais… até do que os homens
Pedro Carvalho
A menopausa pode ocorrer entre os de todos os macronutrientes foi di- da vida. A menopausa é uma certeza. ganhar massa gorda, há que ir pre- se mesmo as mulheres que se cuidam
40 e os 60 anos, sendo a média de minuindo até à menopausa, mas não E como sabemos que irá acontecer parando esse cenário desde cedo. e treinam com uma boa frequência
idades os 51, e é “decretada” oÆcial- o suÆciente para compensar a redu- inevitavelmente, quanto mais cedo Falando de questões nutricionais, semanal acabam por ver a sua massa
mente quando a mulher não tem ção na actividade física. Para além nos prepararmos para isso melhor. ao contrário do que se possa por ve- óssea diminuir, o que dizer de quem
nenhuma menstruação em 12 meses disso, no Ænal destes quatro anos di- Existem muitas mulheres que conti- zes pensar, as mulheres após a me- se mantém sedentário uma vida toda.
consecutivos como consequência das minuiu a oxidação de gordura e au- nuam a encarar o treino como uma nopausa não precisam da mesma Apesar deste efeito da creatina na
mudanças hormonais que ocorrem mentou a oxidação de proteína. Tudo opção, dizendo que “não gostam de quantidade de proteína que em ida- massa óssea não ser consensual em
neste período. Além dos sintomas isto quer dizer que estas mulheres treinar” ou que não fazem muscula- de jovem. Precisam de mais… até de todos os estudos, o seu potencial efei-
típicos desta fase (afrontamentos, de forma consciente ou inconscien- ção porque “não querem Æcar muito que os homens (sempre ajustado lo- to positivo noutros indicadores como
transpiração excessiva, distúrbios do te foram Æcando mais sedentárias. A grandes” ou “muito masculinas”, o gicamente ao peso corporal). É que condição física e massa muscular e
sono, irritabilidade, dores de cabeça, espiral negativa de conforto e como- que denota que para elas o treino a diÆculdade em formar nova massa até na diminuição dos níveis de de-
redução da líbido, etc.), está igual- dismo baseada em coisas tão simples ainda tem um Æm principalmente muscular a partir da proteína alimen- pressão e ansiedade tornam-na um
mente associado um aumento de como escolher o elevador/escadas estético e não de saúde. Ora, tar (a chamada “resistência suplemento a considerar nesta po-
peso na ordem de 1 a 2kg, valores que rolantes em vez de escadas, deixar o se uma mulher sabe que anabólica”) é maior nas pulação especíÆca. A vitamina D tem
logicamente variam de mulher para carro à porta dos sítios onde se vai, por volta dos 45-50-55 mulheres pós-meno- também um papel importante, sendo
mulher, sobretudo dependendo do os trabalhos de secretária e inexis- anos terá uma mu- páusicas do que em recomendável a ingestão/suplemen-
estilo da vida e hábitos de cada uma. tência de treino estruturado estive- dança hormonal homens idosos. Ape- tação de 800 UI/dia ou mais de forma
Ainda assim, é uma realidade que a ram na base destes resultados, mes- que fará com que sar de existirem a garantir níveis sanguíneos acima
oxidação de gordura e gasto energé- mo tendo existindo um certo ajuste seja mais fácil guidelines que dos 50 nmol/L, bem como uma in-
tico em repouso diminuem após a na alimentação à medida que estas perder massa apontam para gestão de cálcio na ordem dos
menopausa e que a distribuição de mulheres foram vendo o peso au- muscular e uma ingestão de 1 1000mg/dia, que se atinge com rela-
gordura sofre alterações com uma mentar. massa óssea a 1,2g/kg proteína/ tiva facilidade com três porções de
maior deposição na zona visceral que Um ponto que merece re- e também dia, num contexto lacticínios dia fora os restantes ali-
como todos sabemos está associada Çexão a todas as mulheres é real percebemos mentos. Por isso mesmo as mulheres
a hipertensão, diabetes tipo 2, doen- que a menopausa não é um que uma quantida- que por razões de intolerância, aler-
ça cardiovascular, cancro entre ou- “cancro” ou outra doença de um pouco acima gia ou outras questões morais e am-
tras patologias. que nos apanha de sur- desta produzirá cer- bientais pretendam excluir os lacti-
Um estudo interessante feito em presa e nos “tira o tamente melhores re- cínios da sua alimentação deveriam
mulheres portuguesas constatou que chão” a determina- sultados. na mesma procurar cálcio nas bebi-
nem todas as mulheres ganharam do momento Do ponto de vista da su- das vegetais (os Ætoestrogénios pre-
peso nesta transição pré/pós meno- plementação, para além da sentes nos produtos de soja podem
pausa (apenas 69%) e que aquelas proteína whey ser uma boa e até ser úteis na diminuição da fre-
que mais ganharam peso foram as barata alternativa à falta de ou- quência dos afrontamentos) ou fazer
que menos exercício praticavam, as tras opções em alimentos, tam- essa suplementação.
com menor nível educacional, as que bém a creatina pode ser bastan- Concluindo, um dado interessan-
tinham tido um problema psicológi- te útil, sendo importante desmis- te que se vê na prática clínica é que
co recente e as que possuíam uma tiÆcar que é apenas um suplemento por norma quem mais se queixa da
maior preocupação com a imagem de “homem” em contexto de menopausa, da tiróide, do metabo-
corporal. Isto traça um cenário bem “musculação”. Também em mu- lismo, da retenção de líquidos ou até
real de que nem todas as mulheres lheres pós-menopáusicas (média da pílula são as mulheres com exces-
passam pela menopausa da mesma de idades de 57 anos) a ingestão so de peso. O que quer dizer que por
forma e que este carrossel hormonal de creatina durante um ano au- norma quem consegue manter o
deixa mais marcas numas do que mentou ligeiramente a força e peso e massa gorda estáveis ao longo
noutras. atenuou o declínio de massa da vida deve já ter interiorizado que
Um outro estudo interessante que óssea face a quem não a to- independentemente dos obstáculos
acompanhou mulheres em perime- mou (-1,2% vs -3,9% na densi- que a idade, as hormonas ou a gené-
nopausa durante quatro anos dade mineral óssea do colo do tica colocam as variáveis mais impor-
veriÆcou o seguinte: todas fémur). É interessante perceber tantes estão nas nossas mãos e na
as mulheres engorda- neste estudo que todas estas mu- deÆnição das nossas prioridades.
ram, mas só as pós- lheres faziam o mesmo programa Procurar apoio especializado junto
menopáusicas engor- de treino de força três vezes por do seu médico e encontrar um nu-
O
ZO
dam na zona visce- AG
E semana e mesmo assim no grupo tricionista e um local onde se sinta
/IM
ral, a actividade I CK que não fez esta suplementação a confortável a treinar é meio caminho
DW
HA
física diminuiu de KA
TC perda de densidade mineral óssea andado para tornar a menopausa
forma signiÆcativa dois foi bastante signiÆcativa (uma dimi- uma simples página da vida que se
anos antes da menopausa e nuição de 5% de densidade mineral virou e não num pesadelo.
manteve-se baixa no restante tempo. óssea está associada a um aumento
A quantidade de calorias ingeridas e de 25% do risco de fractura). Por isso, Nutricionista
Público • Domingo, 21 de Julho de 2019 • 31

Crónica

Meta o turbo e medite. Rápido, até a abrandar

A
minha amiga já não ainda a ideia de que muito do que das nossas sociedades, é sucesso, para a produtividade, em
se lembra se o conseguimos ou não conseguimos Maria João Lopes responder ao sistema com mais nome de mais tempo livre, de
anúncio no qual na vida depende sobretudo de eÆcácia. Usar certas práticas menos resultados, de menos notas
tropeçou, e em que nós. E, normalmente, para se apenas como maneira de e rankings.
se apregoava um vender melhor, essa ideia sobreviver ao ritmo actual E acredito que essa proposta
compacto de promete-nos que, se quisermos também não é uma forma de pode mudar muita coisa à nossa
meditação em 20 minutos, em vez muito, teremos riqueza, sucesso, e combater esta pressa asÆxiante do volta. É nesse sítio que poderia
de uma hora, se chamava “turbo produtividade. mundo contemporâneo e de meditar ou dedicar-me a qualquer
zen” ou “zen expresso”, mas creio O indivíduo tem nas mãos um construir um sistema mais outra prática que nos mostre um
que qualquer um dos nomes
expressa bem a incoerência da
raio de acção considerável, mas
não depende tudo dele — há muito
Se praticar próximo das pessoas e do
ambiente. Pode querer-se mais do
mundo com outra respiração. Não
quero ser mais produtiva, nem a
ideia.
Sinto um espanto, ou uma
(e matéria muito importante) que
depende do todo, do colectivo, do
mindfulness que isso.
A desaceleração, o
melhor em nada.
Se praticar mindfulness ou
desilusão, quando vejo que
práticas que, à partida,
tal sistema. E nesse lugar fora de
nós, mas do qual fazemos parte,
ou meditar, abrandamento, em todas as suas
formas e extensões, seja nas
meditar, não quero fazê-lo em
modo turbo ou expresso, mas no
pertenceriam a um lugar mais
respirável, de desaceleração e de
também há lutas a travar.
Acreditar que podemos viver não quero empresas, no trabalho, na
indústria, na produção e no
tempo que me apetecer. No tempo
vagaroso de um passeio a pé, de
abrandamento em relação ao
ritmo imposto por um sistema
num sítio à parte, apolítico,
sozinhos ou com alguns que fazê-lo em consumo, na escola, no
quotidiano, é uma consciência
olhar para nada, de fazer nada, de
me deitar ao lado da minha Ælha
amigo da pressa se colocam,
aÆnal, no pólo oposto.
pensam, ou sentem, como nós, é
alienarmo-nos do sistema. modo turbo ou que começa a surgir, em algumas
sociedades, movida sobretudo
bebé e de Æcar só a ouvir a
respiração dela a dormir. Só isso.
Já tropecei em vários anúncios e
artigos sobre como a meditação
Permitir que algumas formas de
desaceleração sejam colonizadas expresso, mas pelo ambiente.
Acredito nessa proposta de
E isso é muito mais do que a
ÆlosoÆa do sucesso que contamina
ou o mindfulness são óptimos para pela lógica da produtividade e dos desaceleração, de abrandamento, tudo em que toca. Até o que pode
aumentar a produtividade, para
fazer mais em menos tempo, para
resultados não é ajudar a construir
um mundo diferente — é alinhar
no tempo que em nome do planeta, de outro
vagar, de outro lazer. Em nome
ser bom, como estas práticas.

potenciar resultados. Por outras


palavras: para responder melhor
na forma de vida e de organização me apetecer também de menos pressão para o mjlopes@publico.pt
DR
ao sistema. A reÇexão sobre esta
contradição já mereceu outras
linhas, como estas que li no
Guardian e que se chamavam The
mindfulness conspiracy.
Não acontece sempre, mas
tropeço mais vezes do que
esperaria no apregoar do
mindfulness, da meditação e do
ioga como excelentes para serem
postos em prática em empresas,
para aumentar a concentração de
empresários e de trabalhadores,
para alcançar ainda mais
resultados, para melhorar as notas
das crianças.
Se não forem óptimos para
potenciar resultados num sistema
altamente competitivo, são, pelo
menos, eÆcientes para ajudar a
sobreviver ao sistema. Para baixar
os níveis de stress antes de se Æcar
stressado outra vez. E, se nem
uma hora do dia tiver para uma
paragem, alguém lhe venderá a
experiência em 20 minutos. O
sistema parece capaz de
canibalizar tudo, tudo pode ser
um negócio.
Como bónus, em alguns casos
(felizmente não todos), vende-se
32 • Público • Domingo, 21 de Julho de 2019

Ensaio

Lugares não cultivados

Por vezes representam-se na desordem. Todas as figuras que se cientíÆco. Hoje, a razão e a emoção Se fosse uma ilha, terras planas,
paisagem lugares não cultivados e veem, representam o seu Metamorfoses conciliaram-se novamente. a foz do rio Hudson por perto, a
desabitados para se poder ter a personagem segundo o estado de Álvaro Domingues Contudo, como as razões e as ponte de Brooklyn…, podia ser o
liberdade de pintar os efeitos tempo; uns fogem através da poeira, emoções estão sempre a mudar, primeiro dia dos arranha-céus de
bizarros da natureza entregue a si empurrados pelo vento que os continuamos no desassossego das Manhattan. Aqui é do outro lado
própria e às produções confusas e impele; outros, ao contrário, paisagens trovejadas. Ainda bem. do mar oceano. Faltam referentes
irregulares de uma terra não caminham contra o vento e andam Se a paisagem fosse apenas minimamente consensuais acerca
cultivada. (…) Em tais com dificuldade colocando as mãos contemplação ou um fundo de pôr das relações entre ordem,
representações não há nada, por diante dos olhos… [3] do sol para uma selfie, estava o proporção, unidade, utilidade ou
assim dizer, que verdadeiramente Com o desenvolvimento das tema deÆnitivamente derretido. conveniência.
nos chame à atenção... Os pintores ciências naturais, Alexander von Sem qualquer tempestade A torre está terrivelmente só e
inteligentes sentiram tão bem esta Humboldt recuperaria a paisagem ameaçadora, estamos então não há poética que a consiga
verdade que raramente compuseram como um dispositivo visual capaz perante uma paisagem, um largo resgatar dessa condição. Dos
paisagens desertas e sem figuras. Por de sintetizar a interligação vale rodeado de montanhas que se mundos a que podia pertencer –
isso povoaram as suas telas; por isso complexa entre os elementos e perde no esfumaçado das neblinas um farol solitário, uma atalaia, um
introduziram nas suas composições dinâmicas naturais, quer da ao longe, onde se destaca, grande campanário, sinos em
temas compostos por uma variedade
de personagens cuja acção fosse
paisagem exterior, a da Æsionomia
da terra, quer da paisagem interior,
A torre está centrada, uma grande torre
oscilando entre a completude, o
todas as janelas – falta-lhe uma
composição, um jogo de partes e
capaz de nos emocionar e de nos
prender a atenção. Foi isso que
aquela que convocaria as matérias
do espírito e da sensibilidade
terrivelmente inacabado, ou o abandono. No
sopé da montanha, rodeiam-na
de relações entre partes que se
possa entender no acordo de um
Poussin, Rubens e outros grandes
mestres fizeram e que não se
humanas, elas próprias
pertencentes a um comum e só e não há caminhos de terra ou gravilha que
a vegetação invade, uma pequena
todo, faltam-lhe sentimentos belos
e nobres que alguém lhe associe.
contentaram em figurar nas suas
paisagens um homem que segue o
grande universo, a uma harmonia
cósmica. Está tudo descrito no poética que a casa pintada de fresco e uma outra
de telhado em bico e mansarda.
Sobra a gritaria. Em vez da
composição, desprende-se uma
seu caminho ou uma mulher que
leva fruta para o mercado; esses
Cosmos, Ensaio de Uma Descrição
Física do Mundo, 1845-47 (os dois consiga Não há Ægura humana, drama ou
tragédia que Poussin ou Rubens
compilação informe de
barbaridades: fora do sítio, fora de
mestres introduziram figuras primeiros volumes). quisessem aqui pôr em cena; nem escala, fora de sentido. De entre os
pensantes para que nós também Esta fusão entre paisagem resgatar dessa Babel destruída, nem pastores e animais de Noé, as aves e os
pensemos [1]. material e metafísica diÆcilmente rebanhos, mulheres com cestos, morcegos não regateiam as
sobreviveu ao positivismo condição arcádias ou infernos. qualidades deste abrigo perfeito

É
a imaginação que faz a ÁLVARO DOMINGUES para uma família de
paisagem, dizia corujas-das-torres, espécie
Baudelaire [2] — se esta cosmopolita, de silencioso voo:
ou aquela composição tantas vidas, votadas a breve
com árvores, deperecimento, hão-de encontrar
montanhas, águas e aqui saluberrimas condições, que as
casas… a que chamamos paisagem é tornarão prolongadas, alegres e
bela, não é por causa de si própria, productivas, dizia Sousa Martins [4]
mas por mim, graças a mim, à ideia a propósito da tuberculose
ou sentimento que eu lhe associo. pulmonar, da serra da Estrela e dos
Tinham passado cem anos desde a sanatórios (que não eram altos).
deÆnição de “paisagem” na
Enciclopédia e continuava-se no [1] Louis de Jaucourt (1757) «Paysage», in
Diderot et d’Alembert, Encyclopédie. URL
registo estético e artístico: http://xn--encyclopdie-ibb.eu/index.php/
paisagem era, acima de tudo, um non-classiÆe/732710352-PAYSAGE
género pictórico. Nicolas Poussin, [2] Charles Baudelaire (1859) Curiosités
aqui citado, foi um excepcional esthétiques, Salon de 1859, lettres à M. le
virtuoso na criação de atmosferas e Directeur de la Revue Française, VIII - Le
Paysage, p.326. URL https://fr.wikisource.
ambiências paisagísticas que, mais org/wiki/Salon_de_1859
do que cenários, faziam parte do
[3] Palavras de Nicolas Poussin a propósito
jogo de dramatização das Æguras da obra Paisagem tempestuosa com Píramo e
humanas ou sobre-humanas; nas Tisbe, 1651, in M. Pierre Rosenberg (2006),
suas próprias palavras: Tentei Poussin et la Nature, Canal Académie,
Académie Française, http://www.academie-
representar uma tempestade a francaise.fr/poussin-et-la-nature
desabar sobre a terra, imitando o
[4] Sousa Martins (1890), A Tuberculose
melhor que pude o efeito de um vento Pulmonar e o Clima de Altitude da Serra da
impetuoso, de uma atmosfera Estrela. Lisboa: Impr. Nacional, p.42
obscura, chuva, relâmpagos caindo
em vários lugares, causando Geógrafo. Professor da FAUP

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