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Publicado em 04/2019.
O art. 7º, da Lei Maria da Penha em cinco seus incisos, arrola de forma
demonstrativa as diversas formas de violência doméstica contra a mulher que o
diploma legal visa coibir. Para além da violência física prevista no inciso I, do
mencionado artigo, que pode ensejar a ocorrência dos crimes de lesão, feminicídio
e a contravenção penal de vias de fato, por exemplo, o inciso II, trata da violência
psicológica, podendo restar demonstrada a prática de crimes como a ameaça,
dentre outros. O inciso III trata da violência sexual[7], aqui exemplificados pelo
estupro e a exploração sexual. A violência patrimonial encontra-se estabelecida no
inciso IV, sendo o delito de dano bastante corriqueiro em casos de violência
doméstica (destruição de objetos, tais como celulares e computadores, são
bastante relatados). Por fim, o inciso V trata da violência moral, entendida como
qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
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Em âmbitoApenal,
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a renúncia significa não exercer o direito, abdicar do direito de
representar. Trata-se de ato unilateral que ocorre antes do oferecimento da
representação.
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182 do diploma legal, prevê a necessidade de prévia apresentação de representação
pela vítima, quando este for cônjuge desquitado ou judicialmente separado, irmão
legítimo ou ilegítimo, tio ou sobrinho com o autor do fato coabita.
O interesse em desistir pode ser apresentado pelo patrono da vítima, por meio de
petição, ou pela própria em cartório, mediante requerimento escrito ou declaração
verbal reduzida a termo pelo servidor da Secretaria Judicial, pratica bastante
corriqueira no dia a dia forense[15]. Em seguida, o requerimento é enviado ao
gabinete do Magistrado para despacho designando a data de audiência, e após,
vistas ao Ministério Público para ciência, e expedição de mandado para a
requerente.[16]
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O enunciado nº 19 do Fonavid assevera que o não comparecimento da vítima à
audiência prevista no art. 16 da Lei 11.340/2006 tem como consequência o
prosseguimento do feito.
Nessa audiência, ofendido e o autor do fato são acolhidos e ouvidos pelo Juiz e pelo
Promotor, podendo ser aberto um canal de diálogo entre as partes, observando-se
se o nível de animosidade permite, com vistas a evitar uma revitimização daquela
mulher. Na solenidade, detectado o cerne da questão são cabíveis alguns
encaminhamentos. Por exemplo, caso a violência tenha tido sua origem em abuso
de álcool ou drogadição, deve ser incluído entre as medidas protetivas o
encaminhamento do agressor a tratamento. Por sua vez, a vítima pode ser
encaminhada a serviços na área da psicologia e assistência social. Em casos de
dependência econômica da vítima em relação ao réu, cabe encaminhá-la a
programas de acesso ao mercado de trabalho.
Embora não seja essa a finalidade da audiência do art. 19, pode ocorrer de a vítima
manifestar seu interesse em retratar-se da representação anteriormente oferecida.
Nesse caso, é recomendável que o autor do fato seja encaminhado para outro
recinto, com vistas a garantir que a vítima externe sua vontade sem interferência
ocasionada pela presença do acusado na sala.
CONCLUSÃO:
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De todo o Aexposto,
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concluímos que o legislador fez uma escolha adequada ao
possibilitar à vítima de violência doméstica que em alguns casos manifeste seu
desejo de se retratar de representação anteriormente apresentada, após audiência
na qual esta possa manifestar sua vontade de forma consciente e livre, sem
interferência de novas ameaças e pressões do autor do fato ou quaisquer fatores
externos que viciem a sua vontade, sempre com o canal de diálogo com os
membros do sistema de justiça em aberto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
____. Violência Doméstica: uma nova lei para um velho problema! Boletim do
IBCCRIM. n. 168. p. 08. São Paulo: IBCCRIM, nov. 2006.
CUNHA, Rogério Sanches. Pinto, Ronaldo Batista. Violência Doméstica: Lei Maria
da Penha. Lei 11.340/2006. Comentada artigo por artigo. 7ª edição, revista,
ampliada e atualizada. Salvador: Editora Juspodivm, 2018.
GOMES, Luiz Flávio; Bianchini, Alice. Lei da Violência Doméstica contra a mulher –
renúncia e representação da vítima. Disponível em
(https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI30435,61044-
Lei+da+violencia+contra+a+mulher+renuncia+e+representacao+da+vitima).
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais para concursos, volume único. 11ª edição
revista, ampliada e atualizada. Salvador. Editora Juspodivm, 2019.
NOTAS
[2] Pereira, Sumaya Saady Morhy. O Ministério Público e a Lei Maria da Penha.
Leis e Letras, n. 06, p. 28-29, Fortaleza, 2007.
[4] Precedentes: STF ADI 4.424-DF, Dje 17/2/2012; STJ AgRg no REsp 1.166-
736-ES, Dje 8/10/2012 e HC 242.458-DF, Dje 19/9/2012.
[5] Súmula 542, do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
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[9] Enunciado 45, do Fonavid: As medidas protetivas de urgência previstas na
Lei 11.340/2006 podem ser deferidas de forma autônoma, apenas com base na
palavra da vítima, quando ausentes outros elementos probantes nos autos.
[10] Enunciado 41, do Copevid: Nos casos de violência prevista no artigo 7º da Lei
Maria da Penha, sem correspondente de tipicidade criminal, mesmo havendo
arquivamento do procedimento investigatório por insuficiência de provas,
ausência de condição de procedibilidade ou sentença com trânsito em julgado, é
possível a concessão ou manutenção de Medida Protetiva de Urgência,
independentemente de ação penal atual ou potencial, a perdurar pelo período de
tempo necessário à proteção efetiva à mulher.
[11] Luiz Flávio Gomes e Alice Bianchini, Lei da Violência Contra a Mulher:
renúncia e representação.
[12] http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-
1.pdf
[13] Art. 4º A Notícia de Fato será arquivada quando: I – o fato narrado já tiver
sido objeto de investigação ou de ação judicial ou já se encontrar solucionado; II –
a lesão ao bem jurídico tutelado for manifestamente insignificante, nos termos de
jurisprudência consolidada ou orientação do Conselho Superior ou de Câmara de
Coordenação e Revisão; III – for desprovida de elementos de prova ou de
informação mínimos para o início de uma apuração, e o noticiante não atender à
intimação para complementá-la.
[15] Manifestação por telefone – invalidade: “No caso dos autos, a vítima
declarou, por telefone, conforme a decisão de fl. 14 dos autos, não ter mais
interesse em prosseguir com o presente procedimento, renunciando o direito de
representar criminalmente contra o réu. Contudo, a redação dada ao art. 16 da Lei
Maria da Penha é bastante clara ao afirmar a possibilidade de renúncia à
representação antes do recebimento da denúncia é ato a ser viabilizado em
audiência.” (TJRS, RSE 70041397803, j. 19.05.201, Comarca de Santa Maria, rel.
Nereu José Giacomolli)
[17] Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. 5ª edição revista,
ampliada e atualizada. Salvador: Editora JusPodivm, 2018.
Autor
Aline Aline Cunha da Silva
Cunha da
Silva Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Pará,
respondendo pela Promotoria de Violência Doméstica de
Marabá-Pa. Graduada pela Universidade Federal do Pará. Pós-graduando em
Direito Penal e Criminologia pela Uninter.
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